Guia de Espécie e de campo Açai

Transcrição

Guia de Espécie e de campo Açai
Açaí -
Euterpe precatória
Guia da Espécie
1. Descrição genérica popular da espécie - discrição geral da planta, seus
nomes e informações sobre a origem do seu uso.
O Açaí (Euterpe precatória) ocorre em vários habitas, em terrenos alagados e
também em terras não alagadas. Do estado do Acre ao Amazonas,
encontramos a espécie Euterpe precatória e no Amazonas, surge a Euterpe
oleracea. Do Amazonas a Rondônia, novamente as populações de E. oleracea
são substituídas pelas populações de E. precatória. A diferença entre as duas
espécies é que o E. precatoria não perfilha, sendo o manejo realizado em cada
indivíduo, diferentemente da outra espécie que se maneja à touceira. O Açaí é
muito versátil, observamos pneumatóforos (raízes acima do solo) como
estratégia básica para solos alagados e um sistema radicular com 80%
aproximadamente das raízes na primeira camada, para solos rasos permitindo
uma adaptação tanto em terras altas como terras baixas. Uma limitação grave
para a expansão das populações de Açaí é o tipo de solo. Observa-se que a
produção e a recomposição dos estoques em manchas de solo distróficos e
solos com a camada inicial pobre em matéria orgânica, tendem a não obter os
níveis iniciais, ao longo do tempo. Na floresta o Açaí ocupa o sub-dossel, isto é,
encontra-se abaixo da camada superior da floresta.
As populações de Açaí são manchas extensas, facilitando o manejo ao
concentrar os indivíduos produtivos. A origem do uso desta planta remonta da
ocupação da Amazônia, onde era consumida pelos índios, sendo coletados e
utilizados pelos seringueiros desde a expansão da borracha no começo do
século (Fearnside, 1992) se caracterizando um prato típico da Amazônia.
Possuí grande potencial econômico (Kanh, et al. 1993), agregando valor aos
mercados locais, regionais e mais atualmente nacionais (Alho, 1999). O
produto que leva o mesmo nome da planta: “O Açaí”, ou “Vinho de Açaí” é o
mais consumido e o que popularizou a espécie, que hoje já é usada para
diversos fins inclusive nos mercados internacionais. O açaizeiro (Euterpe
oleracea Mart) gênero Euterpe proposto em 1788 com duas espécies que
depois foram excluídas desta categoria taxonomica. Martius (1823-1837)
utilizou o nome Euterpe para uma espécie amazônica coletada por ele perto de
Belém, sendo depois este nome aceito na comunidade taxonômica 256.O
açaizeiro (Euterpe oleracea Mart) tem como centro de origem a Amazônia
Oriental Brasileira, mais precisamente a região do estuário do rio Amazonas
justo no centro de um dos refúgios pleistocenicos indicados por Van Der
Hammen em 1992257 e um dos centros de alta diversidade biológica propostos
por Haffer em 1969258 e que poderia ser considerado um centro de alta
agrobiodiversidade de Vavilov em 1951.
No estuário do grande rio, são encontradas densas e diversificadas populações
naturais, com variações bem acentuadas no que concerne às características
morfológicas, fenológicas, fisiológicas e agronômicas das plantas. O fruto - é
uma drupa globosa, apresentando resíduos florais, com diâmetro variando
entre 1 cm e 2 cm e peso médio de 1,5 g. O epicarpo, nos frutos maduros,
apresenta coloração arroxeada quase preta ou verde, dependendo do tipo. O
mesocarpo é polposo e delgado, com espessura quase sempre igual ou inferior
a 1 mm e envolve o volumoso e duro endocarpo o qual contém em seu interior
uma semente, com embrião diminuto e abundante endosperma ruminado.
Usos - Com relação a os usos desta palmeira, a EMBRAPA publica pela
primeira vez um manual de cultura do açaí no ano de 1995 passando uma serie
de fatos destorcidos sobre esta planta. Segundo a EMBRAPA o açaizeiro
fornece dois importantes produtos para a agroindústria da Amazônia Brasileira:
o fruto e o palmito, passando uma borracha sobre sua ampla utilização
artesanal e popular. O principal produto oriundo do fruto é uma bebida de
consistência pastosa, denominada açaí. A consistência pastosa da bebida é
devido aos elevados teores de amido (9,30%) e pectina (0,67%) encontrados
na parte comestível do fruto. A bebida - açaí é obtida com a adição de água
durante o processamento dos frutos. Para cada quilograma de fruto
processado, obtém-se de 450 g a 500 g de açaí. É provável que estas
qualidades do suco de açaí não obedeçam a critérios de lucratividade
econômica, e sim a formas de consumo deste suco do açaí grosso como
refeição com peixes, o médio como lanche com farinha e açúcar, e o fino como
refresco como suco ou sorvete.
Importância na segurança alimentar - Na Amazônia Brasileira, em particular
nos Estados do Pará e Amapá, a bebida açaí constitui-se em importante item
da manufatura e alimentação dos ribeirinhos e mesmo da população urbana.
Nessa região, é consumido, na maioria dos casos, na refeição principal, puro
ou misturado com farinha de mandioca e peixe. Dependendo, principalmente,
da quantidade de água usada durante o processamento dos frutos, a bebida
açaí recebe a seguinte classificação: Açaí grosso ou especial, quando
apresenta teor de sólidos totais superior a 14%; Açaí médio ou regular,
quando apresenta teor de sólidos totais entre 11% e 14%; Açaí fino ou
popular, quando apresenta teor de sólidos totais entre 8% e 11%; e Açaí
integral, quando o produto é obtido sem adição de água e contém no, mínimo,
40% de sólidos totais.
2. Descrição Botânica da espécie - inclui a descrição da espécie (ou
espécies) incluindo ficha botânica quando existente.
E. precatoria é uma palmeira do sub-dossel que possui um estipe único cinza
claro com uma altura média de 17.8 +3.2 e 19.8 + 2.8 e diâmetro a altura de
1.3 m do peito (DAP) médio de 15.0 + 1.2 e 15.5 +1.8 na floresta de Baixio e de
Terra Firme respectivamente dos Seringais Dois Irmãos e Caquetá. Outros
autores (Henderson et al. 1995, e Kuchmeister et al. 1997) encontraram uma
altura média de E. precatoria de aproximadamente 20 m. As inflorescências se
desenvolvem da axila das folhas, depois da senescência da folha mais velha e
são protegidas por envolturas (ferófilos). Os frutos de Euterpe precatoria são
globosos, medem de 0.9 a 1.3 centímetros em diâmetro, púrpuro escuro
quando amadurecidos, com um mesocarpo suculento. Há uma semente por
fruto, com um endosperma sólido e homogêneo (Henderson et al. 1995). Bovi
& de Castro, 1993 descreveram a espécie como aquela que possui raízes
adventícias formadas continuamente na base do estipe, nas quais formam um
anel espesso (1.5 cm), de raízes aéreas purpúreas ao redor da sua base que
pode alcançar 80 cm do nível do solo. Segundo as autoras, o sistema de raiz é
muito grande e bastante superficial, podendo ser encontrado 80% do volume
da raiz total nos primeiros 20 cm de solo. No E. precatoria se desenvolvem as
inflorescências da axila das folhas, depois da senescência da folha mais velha
estas são protegidas por envolturas (ferófilos). Bovi e de Castro (1993)
encontraram que a inflorescência é composta de um raquis duro central
aproximadamente com 56 cm de comprimento, com uma média de 54 ráquilas.
E. precatoria é uma palmeira que possui flores masculinas e femininas na
mesma planta. Os indivíduos adultos produzem de 1 a 4 inflorescências
bissexuais por periodo de floração (Kuchmeister, et. al., 1997). Cada
inflorescência possui numerosas flores masculinas e femininas com tamanhos
de 4.5 x 2.7 mm (macho) e 3.2 x 2.6 mm (fêmea). As flores masculinas abremse e disponibiliza o pólen antes das flores femininas estarem receptivas. Assim
sendo a espécie é predominantemente alógama (faz fecundação cruzada). A
viabilidade do pólen varia de 30 a 83% (Bovi & de Castro, 1993. “Ela pode ser
comum na várzea, mas também ocorre em rampas andinas íngremes a 2000 m
de altitude (Kahn &. Henderson, 1999). A presença de pneumatóforos na
planta, que ajudam o sistema de raiz a respirar em solos inundados, sugere
que ela é bem adaptada a terrenos periodicamente inundados (Bovi & De
Castro, 1993). Kanh & Henderson (1999) sugerem que a adaptação de Euterpe
precatoria para terras inundadas parece ser fisiológica em lugar de
morfológica.” (Rocha 2000).
E.oleraceae - É uma palmeira multicaule, com até 25 estipes por touceira. Os
estipes, nos indivíduos adultos, apresentam altura e diâmetro variando entre 3
m e 20 m e entre 7 cm e 18 cm, respectivamente. Cada estipe sustenta, em
sua porção terminal, um conjunto de 8 a 14 folhas compostas, pinadas e de
arranjo espiralado, com 40 a 80 pares de folíolos, opostos ou subopostos. A
inflorescência do açaizeiro é infrafoliar, protegida do sol a diferença das outras
espécies do gênero Euterpe, e disposta quase horizontalmente. Nos dois
primeiros terços de cada ráquila as flores estão dispostas em tríades, com cada
flor feminina ladeada por duas flores masculinas. No terço terminal das ráquilas
encontra-se, normalmente, somente flores masculinas. As inflorescências
apresentam, em média, 80,5% de flores masculinas e 19,5% de flores
femininas.
3. Descrição dos produtos – incluí a descrição dos produtos obtidos da
espécie, sua utilização e definição das suas características morfológicas,
físicas e químicas e suas implicações para o manejo.
Basicamente hoje o açaí conquistou e esta firmado no mercado alimentício,
mesmo com variantes em produtos de higiene pessoal e cosmético, estes são
derivados da forte presença e popularidade como alimento. Vale ressaltar que
o artesanato com sementes de açaí é tão remoto quanto como alimento. Na
região amazônica, o fruto do açaizeiro, importante na alimentação diária das
populações locais por seus altos valores nutricionais, O “vinho de açaí” ou suco
de açaí, como é conhecido nas regiões nordeste e sudeste do Brasil, tornou-se
uma febre entre os adeptos da cultura da saúde e freqüentadores de
academias. Do Açaí E. oleracea proveniente da Amazônia ocidental vem o
grande volume de polpa para os mercado nas regiões Sudeste e Sul do Brasil
devido às suas excepcionais qualidades nutritivas. Já conhecida e consumida
em diversos estados, seu modo de preparo é variado, porém possui uma
receita básica a partir da qual são elaboradas uma série de supervitaminas de
sabores diversos refrescante, é uma fonte energética de altíssima qualidade
em micro-nutrientes. Propriedades Nutritivas - Além da alta concentração de
ferro, rico em cálcio, potássio, fibras, lipídios e vitaminas B1 e E contidas no
Açaí, o creme tem mais energia com o extrato de Guaraná e a vitamina C ajuda
o organismo a absorver maior quantidade de ferro contida no creme. (ver
tabela valor nutricional).
INFORMAÇÃO NUTRICIONAL
Porção de 100 gramas (medida caseira)
NUTRIENTE
VALOR
% VD
Valor calórico (kcal)
247,0
9,9
Carboidratos (g)
36,60
9,76
Proteínas (g)
3,80
7,60
Gorduras totais (g)
12,20
15,25
Gorduras saturadas (g) 0,00
0,00
Colesterol (mg)
0,00
0,00
Fibra alimentar (g)
16,90
56,33
Cálcio (mg)
118,0
14,75
Ferro (mg)
3,3
26,6
Sódio (mg)
0,0
0,0
Fonte: Tabela nutricional IBGE
** Valores Diários de referência com base em uma dieta de 2.500 calorias.
4. Ocorrência da espécie/gênero/grupo - região de ocorrência da
espécie/grupo.
A subfamília Arecoideae é uma das 6 pertencentes a família Palmae. Contém
15 subtribos e aproximadamente 86 gêneros, entre eles o gênero Euterpe. A
maioria dos gêneros se concentra no Velho Mundo Tropical em especial nas
ilhas do Oceano Indico (Madagascar, Mascarenhas e Seychelles) e do Pacifico
Ocidental (Nova Guiné, Nova Caledônia, Fiji e Samoa), o que indica uma
origem cretácea para este grupo. No Neotropico existem duas subtribos, uma
delas Euterpinae que contem 6 gêneros com 32 espécies que são distribuídas
amplamente da América Central até a Mata Costeira Atlântica do Brasil. O
açaizeiro (Euterpe oleracea Mart) pertence a um destes gêneros. O gênero
Euterpe foi proposto em 1788 com duas espécies que depois foram excluídas
desta categoria taxonômica. Martius (1823-1837) utilizou o nome Euterpe para
uma espécie amazônica coletada por ele perto de Belém, sendo depois este
nome aceito na comunidade taxonômica. O açaizeiro (Euterpe oleracea Mart)
tem como centro de origem a Amazônia Oriental Brasileira, mais precisamente
a região do estuário do rio Amazonas justo no centro de um dos refúgios
pleistocênicos indicados por Van Der Hammen em 1992257 e um dos centros
de alta diversidade biológica propostos por Haffer em 1969258 e que poderia
ser considerado um centro de alta agrobiodiversidade de Vavilov em 1951. No
estuário do grande rio, são encontradas densas e diversificadas populações
naturais, com variações bem acentuadas no que concerne às características.
No Brasil, ocorrem em estado nativo no Pará, Amapá, Maranhão, Tocantins e
Mato Grosso (figura 4). É também encontrado, espontaneamente, na Guiana,
Guiana Francesa, Suriname, Venezuela, Panamá, Equador e Trinidad. Nesses
países, a espécie é pouco explorada, por ocorrer em baixa frequência e com
poucos indivíduos por hectare.
5. Aspectos Ecológicos e Silviculturais - descrição do comportamento da
planta em relação à luz, umidade e temperatura, suas característica em
relação à estrutura populacional, capacidade de regeneração, cicatrização
e rebrota e as implicações destas características no manejo florestal.
Conforme verificado na descrição botânica do gênero, existem 108 espécies de
euterpe. O foco deste trabalho esta no Euterpe precatoria, mas no decorrer dos
temas será comentado a titulo de informação e comparação, o Euterpe
oleraceae. As espécies que oferecem um bom manejo são aquelas que
possuem na sua estrutura populacional o conhecido “J invertido”. Essas
espécies se caracterizam pela grande quantidade de indivíduos nas primeiras
fases de desenvolvimento decrescendo a poucos indivíduos adultos
reprodutivos. No princípio das teorias tropicais que tentavam explicar a
organização espacial das plantas, a hipótese de (Janzen & Conew 1991)
deduzia que um índice de predação alto próximo à planta mãe, resultava em
uma distancia entre indivíduos da mesma espécie, uma vez que o
estabelecimento destes próximos era menos viável. É fácil imaginar que uma
grande quantidade de sementes ou plântulas pode ser devorado em minutos
por porcos do mato ou veados respectivamente abaixo de uma arvore em
evento reprodutivo. O resultado será um alto índice de mortalidade versus
baixo índice de recrutamento, que significa a passagem de um estagio de
crescimento ao outro subsequente.
Na floresta como o açaí ocupa o subdossel, isto é, a parte abaixo das copas,
ele tem uma relativa insolação quantidade e na qualidade da luz. Este filtro
determina uma situação que pode ajudar ou prejudicar o crescimento de uma
determinada espécie. Dessa maneira o açaí, geralmente, abaixo do dossel,
apresenta uma relação de produção de acordo com a quantidade e qualidade
de luz que o atinge chegando às suas folhas. Em níveis de maior insolação há
uma resposta mais favorável à produção, em alguns locais foram observados
que para o manejo de touceiras (E.oleraceae) os manejadores derrubam as
arvores. O motivo que alegam é a menor luz do sol nos açaís, mais
especificamente nos cachos. Mesmo não sendo indicado como um manejo
mais ecologicamente adequado, em relação aos índices de biodiversidade das
florestas tropicais, o abate de arvores é indicado para aumentar o numero de
touceiras, no caso do manejo do E. Oleraceae no estuário amazônico. Esse
sistema não deve ser isolado e sim, integrado com outras ações como no
projeto sobre tecnologias para os açaizais aumentarem a produção de
frutos, considerando aspectos sociais e ecológicos.
Alguns resultados, segundo os diversos experimentos de manejo e
recuperação de açaizais resultaram na geração da tecnologia de um: “manejo
de mínimo impacto para a produção de frutos em açaizais nativos” (Queiroz e
Mochiutti, 2001). Segundo resultado as principais características são “á
manutenção da diversidade florestal do açaizal, com o aumento em até cinco
vezes da produção de frutos e dos rendimentos dos produtores e baixo
investimento para a implementação, sendo seu maior custo a mão-de-obra do
próprio produtor”. Assim de acordo com o sistema de produção o dossel exerce
um filtro na quantidade e quantidade de luz sendo passível de manejo. Há
diferentes situações de manejo, mas retomando o comportamento geral do
E.precatoria, foco de nosso estudo a sua curva de frequência de tamanho (J
invertido) é típica das espécies climaxicas ou tolerante (Denslow, 1980) e
(Budowski, 1965), ou seja, a sua germinação, crescimento, alcance da
maturidade reprodutiva acontece à sombra. Se a espécie não possui a luz
como um fator limitante: “esta pode ser uma característica vantajosa em um
ambiente florestal onde existe uma alta competição por este fator, já que a luz
interfere na germinação e no desenvolvimento de plântulas e estágios juvenis.
(Gomes-Pompa, e Vazquez-Yanes, 1985; Martinez- Ramos, 1985; Del Amo e
Nieto de Pascual, 1985) citados por (Rocha 2000).
6. Biologia Reprodutiva e Fenologia descrição das características e
calendário de floração açaí- frutificação, dispersão de sementes e
germinação e suas implicações para o manejo florestal.
O Açaí possui uma biologia reprodutiva com três tipos básicos de
polinizadores, sendo abelhas, moscas e “besouros” (coleópteros) que visitam
suas flores dispostas em inflorescências que surgem nas axilas das folhas,
desenvolvem-se em cachos. De maneira geral a frutificação do E.oleraceae
ocorre no verão amazônico, de junho a dezembro, enquanto que a produção do
E.precatoria ocorre principalmente no inicio do ano ate maio junho. A
diversidade de situações de solo e declividade também interfere.
Genericamente tratamos aqui de dois tipos básicos: baixio e terra firme. Temos
que baixios são definidos como áreas na floresta que inundam em épocas do
ano com o nível da água atingindo alturas maiores que o normal. Com a água
acima da normalidade, outra faixa de terra fica sob esta influência. A soma de
terra influenciada pelo nível mais alto, descendo ao nível mais baixo considerase baixio. As áreas de baixo podem ser profundas ou espaçadas, variando a
relação de luminosidade nos açaís. Por exclusão as áreas com solos bem
drenados em qualquer época do ano, e que não estão sob influência de veios e
corpos d’água, denominamos terra firme. Estas florestas são dominadas por
árvores grandes e caracterizam-se por estrutura vertical bem desenvolvida e
diversidade de espécies arbóreas
7. Produção e Produtividade - inclui dados de produção por indivíduo ou
área, taxas de crescimento/recuperação e fatores que influenciam a
produção e produtividade da espécie.
O E precatoria é uma palmeira da Amazônia Ocidental, que ocorre de forma
individual em grandes populações em diferentes níveis de agrupamentos nos
baixios e terra firme, atingindo 30m de altura, com troncos de até 40 cm de
diâmetro. Com frutificações em épocas alternadas o Açaí-solteiro produz
primeiro semestre do inverno amazônico. O E oleraceae é uma palmeira da
Amazônia Oriental, que ocorre em agrupamentos densos em áreas de várzea,
igapó e terra firme. Chega a alcançar 25 m de altura, com troncos de 9 a 16 cm
de diâmetro. No estuário do rio Amazonas encontra-se açaizais na várzea alta
com quase 10.000 troncos ou 2.000 touceiras por hectare. Em áreas de solo
pobre varia de 200 a 600 touceiras por hectare. Um açaizeiro produz de 4 a 8
cachos por ano, cada cacho com aproximadamente 4 kg de fruta. Uma touceira
produz cerca de 120 kg de fruta por safra. A capacidade produtiva também
varia entre as palmeiras de açaí. Um exemplo é o caso do Euterpe precatoria
em área nativa, no amazonas, com cerca de 50 a 100 plantas de açaí/ha,
podem produzir 900 a 2.000 kg/de frutos/ha/ano. Com boas práticas de
manejo, com 200 a 500 plantas de açaí/ha pode chegar a produzir 6.000 a
10.000 kg de frutos/ha/ano. A produtividade do açaí-do-pará (Euterpe oleracea)
em plantio planejado, em condições adequadas (calagem, adubação, desbaste
de perfilhos e controle de ervas daninhas), utilizando espaçamento de 5m x 5m
ou 4m x 5m, com 300 a 500 plantas/ha, pode-se produzir 6.000 a 12.000 t/ha.
No entanto quase toda a produção do açaí é extrativista. Cerca de 98% do açaí
produzido vêm da floresta (Euterpe precatoria) e somente 2% vêm de plantios
mistos (Euterpe precatoria e Euterpe oleracea) fonte - I CEPTAM, 2004. Além
disso, a produção vai de janeiro a dezembro devido à grande variação da
época de produção das palmeiras de açaís. Por exemplo, a coleta de açaí-doamazonas (Euterpe precatoria) ocorre de dezembro a junho, já a coleta de
açaí-do-pará (Euterpe oleracea) ocorre de julho a novembro.
8. MEDIDAS RECOMENDADAS DE PRECAUÇÃO - BASEADO NAS
INFORMAÇÕES
TÉCNICAS
APRESENTADAS
SÃO
PROPOSTAS
RECOMENDAÇÕES PARA O MANEJO BASEADAS NO PRINCÍPIO DA
PRECAUÇÃO.
Os efeitos danosos provocados pela colheita intensiva podem se manifestar de
várias maneiras. Em relação à população de Euterpe precatoria, a extração de
seus frutos para a comercialização, poderia implicar em uma retirada de
grandes quantidades de sementes, e em uma diminuição do fluxo de sementes
no habitat (Cordova, 1985), o que ocasionaria uma diminuição da regeneração
e de adultos em longo prazo. Além disso, a abundância desta espécie pode ser
controlada por pressões seletivas que agem na germinação, estabelecimento
de plântulas, polinização, maturação de frutos ou qualquer outra fase do ciclo
de vida. A colheita em excesso de sementes e frutos pode diminuir a
disponibilidade de comida para as populações de animais frugívoros, alterando
o número de organismos, possivelmente diminuindo a diversidade da
comunidade alterando outras relações tróficas (Hal & Bawa, 1993) e o próprio
potencial de dispersão de Euterpe precatoria. Estas mudanças podem afetar
negativamente a espécie manejada, assim como outras espécies na
comunidade, comprometendo a sustentabilidade da extração, já que E.
precatoria possui uma alta densidade e provavelmente seus frutos são um
importante item na dieta de vários animais.Um exemplo deste tipo de impacto
foi dado por Bodmer, et. al., (1999) que estudaram sobre as relações entre as
palmeiras, os ungulados (veados, antas, porquinhos, queixadas), e as pessoas.
Segundo estes autores a capacidade de crescimento (densidade) da população
de ungulados provavelmente depende da disponibilidade de frutos das
palmeiras. Caso estes animais estejam contando com os mesmos frutos que
as pessoas e a prática de exploração seja o corte do caule da palmeira para a
colheita de frutos, tanto as pessoas, como as populações da palmeira e as de
ungulados estariam prejudicadas em longo prazo. Para as populações das
palmeiras o corte de indivíduos reprodutivos ocasionaria grandes alterações na
estrutura das suas populações, e isto, futuramente diminuiria a disponibilidade
local de frutos o que consequentemente abaixaria o número de indivíduos de
ungulados e a caça para as pessoas. As populações das palmeiras perderiam
populações de ungulados que ajudam a manter a sua produtividade
dispersando as suas sementes (Bodmer, 1991; Fragoso, 1994, citados por
Bodmer, et. al. 1999) e caso nenhum passo fosse dado para restringir as
derrubadas das palmeiras, os residentes locais em médio prazo necessitariam
andar distâncias maiores nas florestas tanto para colher os frutos quanto para
caçar. Desta forma, a extração com a manutenção da palmeira reprodutiva
permite que os animais consumam seus frutos ocasionando assim maiores
chances da colheita de frutos ser sustentável. Ao contrário, se as derrubadas
das palmeiras continuam para se ter benefícios em curto prazo, então o
recurso pode se esgotar e os benefícios ao longo prazo deste e de outros
recursos não estarão disponíveis. Outra medida a ser adotada com o objetivo
de redução de impacto da extração é o cuidado para evitar que plântulas e
jovens sejam pisados no momento da extração. No Seringal Caquetá Rocha
(dados não publicados) encontrou que 12% dos indivíduos (n=25) de Euterpe
precatoria produziram três cachos que estavam maduros ao mesmo tempo.
Considerando-se que o Açaí na maioria das vezes não possui mais do que 2
cachos maduros ao mesmo tempo (Emperaire 2000; Rocha n publicado), uma
outra medida que pode reduzir o impacto é a prática de não voltar no mesmo
indivíduo em uma mesma safra para coletar o cacho que ficou porque estava
verde na época da colheita. Esta prática poderia contribuir tanto em termos
demográficos quanto genéticos para a manutenção do recurso. Após o
beneficiamento do vinho de Açaí para o consumo doméstico a prática de jogar
as sementes em clareiras dentro da floresta próxima a casa pode ser outra
forma de tentar minimizar o impacto da colheita tanto para as populações da
palmeira quanto para as de animais relacionados a ela. A avaliação da
estrutura da população ao longo dos anos de extração, e a sua manutenção
(descrito na pergunta anterior) pode ser um indicador de que o rendimento da
extração de frutos da população local de Açaí está sendo sustentável (Peters,
1996), como também pode servir como indicador indireto se os níveis de
interação (dispersão, polinização) estão sendo mantidos, já que este parâmetro
demográfico é altamente dependente das interações com outras espécies.
Finalmente, as avaliações periódicas da regeneração e os ajustes de
aproveitamento, caso forem necessário, descritos na seção anterior podem ser
efetivos para o controle da manutenção da estrutura da população.
9. Pauta de Necessidades para Pesquisa - uma série de indicações das
perguntas que precisam de respostas para aprimorar o manejo florestal
da espécie/grupo.
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Estudar a biologia floral e polinização;
Avaliar o sistema reprodutivo da espécie;
Verificar os aspectos da germinação;
Acompanhar áreas com exploração para verificar a dinâmica
populacional em resposta as taxas de exploração de sementes;
Monitorar periodicamente as classes de tamanho com relação ao
estabelecimento e taxa de sobrevivência das plântulas e jovens,
verificando os efeitos da exploração das sementes da população
(portanto acompanhar áreas com e sem exploração)
Avaliar a Produtividade (acompanhar a espécie durante o período de
frutificação para avaliar sucesso reprodutivo, número de frutos por
árvore, número de amêndoas por fruto);
Monitorar as inter-relações planta-animais (polinizadores, dispersores);
Mapeamento por imagem de satélite a fim de criar metodologia para
identificar potenciais áreas de ocorrência de andiroba.
10. Referências - incluindo instituições que trabalham
espécie/grupo, bibliografia, abreviações e glossário.
com
a
ACRE. Governo do Estado do Acre. Programa Estadual de Zoneamento
Ecológico-Econômico do Estado do Acre. Zoneamento Ecológico-econômico:
Recursos Naturais e Meio Ambiente – documento final. Rio Branco: SECTMA,
2000. VI.
BAWA, K. S. Plant-pollinator interactions in tropical rain forest. Ann. Ver. Ecol.
Syst. 21:399-422. 1990.
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Açaí -
Euterpe precatória
GUIA DE CAMPO
Identificação Botânica –
2. Descrição da estrutura populacional em áreas com e sem exploração –
3. Descrição da metodologia de estabelecimento de parcelas de
monitoramento para verificação de impacto ambiental ao longo do tempo,
incluindo indicadores para o acompanhamento da regeneração,
mortalidade, crescimento das espécies exploradas;
Peters, (1996) propôs um modelo de estratégia básica de manejo de recursos
florestais não madeireiros que engloba os seguintes procedimentos básicos:
seleção de espécies, inventário florestal, estudos de rendimento, diagnósticos
periódicos da regeneração, avaliações de aproveitamento e ajustes de
aproveitamento. O início do processo de manejo aqui proposto começa com os
inventários florestais que devem ser feitos com o objetivo de estimar o número
total de palmeiras reprodutivas por hectare em diferentes tipologias florestais,
através de dados de densidade. A distribuição de classes de tamanho (figura 4)
dos indivíduos de Euterpe precatoria deve ser feita para fazer o levantamento
das populações de Açaí e ter uma avaliação preliminar da regeneração da
espécie. Assim os indivíduos de Euterpe precatoria podem ser divididos em
quatro estágios do desenvolvimento segundo o tamanho e caracteres
vegetativos, conforme descrito abaixo e ilustrado na figura 4.
(1) Plântulas: indivíduos abaixo de 50 cm de altura;
(2) Jovem1: indivíduos acima de 50cm de altura, sem estipe;
(3) Jovem2: indivíduos com estipe aparente (desprovida de bainha), nãoprodutivos;
(4) Adultos: indivíduos produtivos (aqueles que possuem ferófilos aparentes,
cachos novos e/ou restos de cachos velhos, na planta ou no solo debaixo do
indivíduo).
Figura 4. Classes de tamanho de Euterpe precatoria . a e b – Plântulas; c e d - Jovem 1; e - Jovem 2; f – Adulto, com
plântula e fruto. (Sem escala). a, b, c, d, e – classes de tamanho de Euterpe edulis segundo Reis, 1995 * ; f – classe de
tamanho de Euterpe precatoria, segundo Henderson, 1995. *
O esquema das classes de tamanho a, b, c, d, e de Euterpe edulis foi utilizado
para Euterpe precatoria pela semelhança vegetativa das espécies. Um método
para amostrar uma área de floresta grande e heterogênea é estabelecer
transectos múltiplos, preferentemente paralelos, que correm ao longo de
qualquer topografia (Hall & Bawa 1993 e Peters 1995). Para fazer um desenho
simples em cada colocação deve ser feito três transectos nas florestas de
Baixio e 3 transectos na floresta de T .Firme de 100X20 cada (figura 5),
preferencialmente paralelos a uma distância de 150 a 200 m um do outro. A
linha central (transecto) deve ser dividida de 20 em 20 metros com estacas de
madeira. A área a partir da linha central até 10 m de largura (20 X 10 m) de
cada lado do transecto (figura 5), deve ser percorrida para a amostragem dos
indivíduos adultos e jovens 2, sendo que cada indivíduo deve ser etiquetado e
medido o tamanho (diâmetro à altura de 1.3 m e/ou altura do estipe). Para os
indivíduos adultos é importante que seja registrado a condição reprodutiva
(número de inflorescências ou cachos). Ao final teremos uma área total de
2000 m2 (0,2 ha) por transecto, 6000 m2 (0.6 ha) por tipo floresta (visto que são
três transectos) e 12000 m2 (1.2 ha) por Colocação (Baixio e T. Firme). Os
jovens 1 devem ser contados e etiquetados em 5 parcelas intercaladas de
20x10 ao longo do transecto (figura 5). Ao final teremos uma área total de 1000
m2 (0.1 ha) por transecto, 3000 m2 (0.3 ha) por tipo de floresta e 6000 m 2 (0.6
ha) por Colocação. As plântulas devem ser contadas e etiquetadas em 2
parcelas distantes e intercaladas de 20 x 10 m ao longo do transecto (figura 5).
Ao final teremos uma área total de 400 m 2 (0.04 ha) por transecto, 1200 m2
(0.12 ha) por tipo de floresta e 2400 m2 (0.24 ha) por Colocação (Baixio e T.
Firme). Existem outros métodos na literatura correspondente, como por
exemplo, o método de parcelas aleatórias, muito adequados para detectar
variações em áreas heterogêneas de florestas, porém, de difícil adequação às
condições de manejo comunitário, tempo e dinheiro que requerem. Um método,
cujo desenho experimental é simples, é fundamental para que os próprios
moradores locais façam as avaliações da densidade de Euterpe precatoria em
suas áreas de florestas e, portanto, adequado para propor o manejo de PFNM
feito pelos moradores extrativistas. Embora conceitualmente frágil (do ponto de
vista estatístico), o método apresentado aqui tem maior probabilidade de ser
realmente aplicado. De nada adianta a proposta de um método perfeito
(estatisticamente), mas que não será aplicado pelo seu maior custo e mão de
obra necessária.
Todo transecto (100 x 20 m) amostragem
de adultos e jovens 2
20 x 10 m – amostragem de jovens 1
20 x 10 m – amostragem de plântulas
Figura 5. Croqui do transecto proposto para o seringueiro fazer o monitoramento da extração em suas áreas
de Baixio e Terra Firme (fora de escala). Transecto de 100 x 20 m dividido com estacas de 20 em 20 metros.
O estudo de rendimento deve ser feito com os indivíduos adultos marcados
distribuídos na floresta de Baixio e T. Firme. Este estudo fornece uma
estimativa da quantidade total de frutos produzidos por palmeira em diferentes
tipos de florestas. A análise da produção de frutos/palmeira/ano (rendimento)
pode ser feita em alguns indivíduos reprodutivos amostrados aleatoriamente,
como por exemplo, 15 na floresta de Baixio e 15 na de Terra Firme. Para cada
indivíduo adulto então deve ser avaliado: (1) o número de cachos; (2) peso (kg)
dos cachos; (3) peso (kg) médio dos frutos sem o cacho; (4) peso (kg) médio
de frutos por cacho. Como a variação na produção de frutos entre indivíduos e
cachos é grande (Rocha n publicado), para se ter estimativas mais precisas, a
quantificação do rendimento deve ser feita em indivíduos de diferentes
tamanhos, durante vários anos para conhecer a variação do rendimento com o
passar do tempo. Esta avaliação deve ser feita pelos próprios extrativistas a
partir do treinamento para a pesagem dos cachos conforme método descrito
acima. A estimativa da produção junto a densidade em diferentes tipos de
florestas podem fornecer informações sobre qual tipo de floresta é mais
produtiva, e, portanto, mais propícia ao bom manejo.
No caso da extração de frutos ou sementes, os efeitos da super exploração são
percebidos nos estágios iniciais de desenvolvimento muito claramente, ou seja,
em plântulas e jovens (Peters, 1996). Feito o inventário inicial, deve-se
construir um histograma que representará a estrutura da população medida
antes da extração dos frutos para a comercialização. Esta quantificação inicial
da densidade de plântulas e jovens (estrutura da população) pode ser usada
como padrão para o monitoramento (comparação) das flutuações das
densidades conforme o grau de aproveitamento do recurso. Desta forma, com
as contagens de plântulas e jovens na mesma área do inventário de cinco em
cinco anos e a construção de histogramas de densidade populacional, torna-se
possível a avaliação do impacto causado pela intensa retirada de frutos (figura
6). Os ajustes de aproveitamento regulam o número de plantas a serem
exploradas ou as áreas totais de onde se extraem os recursos. Devem ser
realizados após os diagnósticos periódicos da regeneração. Caso nesta última
avaliação sejam detectados uma redução da densidade de plântulas em
relação às contagens iniciais (Figura 6A) é alta a probabilidade de que os
níveis de exploração estejam acima do limite suportado pelas populações.
Como a variância do número de plântulas é maior do que a variância do
número de jovens1 de ano para ano (Rocha, dados não publicados), os ajustes
periódicos de aproveitamento deveriam ser feitos apenas no caso de se
detectar a redução do número de jovens 1, para não se ter dúvidas se a
alteração é devido ao impacto provocado pela extração, ou se é devido a
variação, naturalmente muito grande, do número de plântulas.
Os ajustes de aproveitamento têm o objetivo de alcançar um nível de
exploração que seja sustentável ao longo do tempo. Os níveis de
aproveitamento podem ser ajustados reduzindo o número de palmeiras
coletadas por hectare, ou ainda reduzindo a área de colheita de frutos, quando
necessário. Caso o ajuste de aproveitamento seja necessário, a melhor forma
seria a primeira opção, ou seja, a redução do número de palmeiras colhidas.
Isto pode ser feito da seguinte forma: No momento da extração, quando os
seringueiros estão andando na floresta atrás dos indivíduos reprodutivo para a
extração de frutos, coleta-se de uma palmeira e não coleta-se da palmeira
reprodutiva seguinte. A avaliação da estrutura da população ao longo dos anos
de extração, e a sua manutenção (figura 6C) pode ser um indicador de que o
rendimento da extração de frutos da população local de Açaí está sendo
sustentável (Peters, 1996), como também pode servir como indicador indireto
se os níveis de interação (dispersão, polinização) estão sendo mantidos, já que
este parâmetro demográfico é altamente dependente das interações com
outras espécies.
TEMPO 0
TEMPO 1
A
B
450
Nú me r o d e in d ivíd u o s/h a
400
350
300
250
200
150
100
50
0
Plânt ula
Jovem 1
Jovem 2
Adult o
C
Figura 6. Diagrama do efeito da intensidade de colheita sobre a distribuição de classes de tamanho para ilustrar o
processo de avaliações periódicas da regeneração. Fonte: Adaptado de Peters, 1996.
O tempo 0 representa o histograma da distribuição de classes de tamanho de
uma população hipotética de plantas, feito com o inventário inicial das parcelas
de regeneração. O tempo 1 mostra a estrutura da população depois de cinco
anos de extração anual. (A) Representa a exploração excessiva do recurso
com efeito na diminuição de plântulas e jovens abaixo do valor quantificado no
inventário inicial. (B) Representa baixa exploração de recursos com efeito na
pouca mudança do número de plântulas e nenhuma mudança no número de
jovens. (C) Representa a extração com rendimento sustentável. Estes
procedimentos podem prover informação diagnóstica constante sobre a
resposta da espécie para graus variados de exploração. A sustentabilidade
pode ser alcançada por este processo ininterrupto onde a reação demográfica
da espécie manejada tem que resultar em um ajuste correspondente nos níveis
da colheita. A natureza exata deste “processo” dependerá do local, da precisão
dos dados diagnósticos colecionados, da efetividade dos controles de colheita
e, talvez o mais importante, do comportamento ecológico da população de
Euterpe precatoria (Peters, 1995).
4. Quadro resumo com informações de número médio de indivíduos
reprodutivos por (ha), produção e produtividade por (ha);
Tabela 2. Estatística descritiva do número de indivíduos adultos reprodutivos
de Euterpe precatoria por hectare em florestas de Baixio (N = 26) e de T. Firme
(N = 28) no Vale do Rio Acre.
Estatistica
Total
Média
Desvio padrão da média
Máximo
Mínimo
Variância
Total
Floresta
Baixio
Baixio
Baixio
Baixio
Baixio
Baixio
Terra
Firme
Terra
Firme
Terra
Firme
Terra
Firme
Terra
Firme
Terra
Firme
Média
Desvio padrão da média
Máximo
Mínimo
Variância
Adulto
959
36.9
21.9
118
7
861.6
638
22.8
10.6
55
2
167.4
Tabela 3. Média, Desvio padrão, Máximo e Mínimo do número de cachos,
peso em kg dos frutos por cacho, peso em kg dos frutos por palmeiras e
número de frutos por palmeira de 15 indivíduos de Euterpe precatoria avaliados
na Floresta de T. Firme da Colocação S. Pedro em junho de 1999. O peso (kg)
médio de frutos/cachos medido em junho de 1999 foi utilizado para alguns
cachos de indivíduos que não puderam ser pesados. Número total de cachos
avaliados = 27.
Num.
cachos
Média
Desvio
padrão
Máximo
Mínimo
1.8
0.4
Peso(kg)
frutos/cach
o
4.6
1.3
Peso
(kg) Num.
de Num.
de
frutos/palmeir frutos/cacho frutos/palme
a
ira
8.5
4269.5
7449.1
2.7
1337.0
235.3
3
1
11
2
13.0
2.5
9649.1
2192.9
11482.5
2192.9
Tabela 4. Média, Desvio padrão, Máximo e Mínimo do número de cachos, peso
em kg dos frutos por cacho, peso em kg dos frutos por palmeiras e número de
frutos por palmeira de 10 indivíduos de Euterpe precatoria avaliados na
Floresta de T. Firme da Colocação S. Pedro em junho de 2000. O peso (kg)
médio de frutos/cachos medido em junho de 1999 foi utilizado para alguns
cachos de indivíduos que não puderam ser pesados. Número total de cachos
avaliados = 18
Num.
Cachos
Média
Desvio
padrão
Máximo
Mínimo
1.8
0.5
Peso(kg)
frutos/cach
o
3.6
1.3
Peso
(kg) Num.
de Num.
de
frutos/palmeir frutos/cacho frutos/palme
a
ira
6.2
3221.0
5477.2
2.0
970.5
1750.2
3
1
7.5
1
9
3
6578.9
1315.8
7894.7
2631.6
Tabela 5. Média, Desvio padrão, Máximo e Mínimo do número de cachos, peso
em kg dos frutos por cacho, peso em kg dos frutos por palmeiras e número de
frutos por palmeira de 10 indivíduos de Euterpe precatoria avaliados na
Floresta de Baixio da Colocação S. Pedro em junho de 2000. O peso (kg)
médio de frutos/cachos medido em junho de 1999 foi utilizado para alguns
cachos de indivíduos que não puderam ser pesados. Número total de cachos
avaliados = 24
Num.
Cachos
Média
Desvio
padrão
Máximo
Mínimo
2.4
0.6
Peso(kg)
frutos/cach
o
3.1
1.1
Peso
(kg) Num.
de Num.
de
frutos/palmeir frutos/cacho frutos/palme
a
ira
7.5
2672.8
6599.7
2.9
1086.2
2610.8
3
1
6.0
1
15.1
1.5
4424.0
877.2
13271.9
1315.8
Tabela 6. Estimativa do potencial produtivo de Euterpe precatoria por hectare
na floresta de Baixio utilizando o peso médio de frutos por palmeira da tabela 6
e 5 e a média de indivíduos reprodutivos por hectare no Baixio e na T. Firme da
tabela 3. A estimativa da quantidade de frutos (em kg) produzida por hectare foi
obtida da multiplicação do número de indivíduos adultos reprodutivos por
hectare vezes o peso médio por palmeira. O número de latas foi estimado
considerando que uma lata de Açaí pesa 15 kg. O valor em Real $ por hectare
estimado foi obtido pela multiplicação do número de latas produzidas por
hectare vezes o preço de R$ 4. 50 a lata.
Peso * número de indivíduos Tipo
de Kg/hectar
reprod.
floresta
e
Média* Média
Baixio
276
Média* Média
Terra Firme 142
lata/hecta
re
18.4
9.7
R$/hectar
e
82.8
42.6
5. Descrição do cálculo do volume médio a ser explorado por tipologia
florestal/ha, descrevendo as tipologias existentes no local do estudo;
O Estado do Acre possui uma vegetação de - Floresta Ombrófila Aberta das
terras baixas com Cipó, Bambu ou Palmeira, compreendida dentro de uma
bioclima de 30 a 90 dias secos (Veloso, 1991) - com algumas manchas de
Floresta Ombrófila Densa. (Mapa IBGE, 1993). Em todas as áreas de estudo
pode-se reconhecer tipologias florestais distintas, entre elas, as florestas
chamadas de Baixio e de Terra Firme (figura 3). Os Baixios são florestas que
inundam sazonalmente (Nov-Mar) e/ou que sofrem influência direta dos
igarapés. Estas florestas, devido à topografia possuem um lençol freático mais
superficial, que em épocas chuvosas, aflora e inunda estas áreas. Possuem
ainda um dossel mais aberto, em relação as florestas de Terra Firme, pela
predominância de palmeiras arborescentes tais como Mauritia flexuosa,
(Goulding, 1985), Oenocarpus bataua e uma grande abundância de palmeiras
de subosque. As florestas de Terra Firme são áreas com dossel mais fechado,
subosque “limpo”, com solos bem drenados em qualquer época do ano, e que
não inundam (figura 3). Estas florestas se caracterizam por uma estrutura
vertical bem desenvolvida e uma diversidade de espécies muito alta (Prance,et.
al. 1976)
Figura 3. Esquema das florestas de Baixio e de T. Firme no Vale do Rio Acre.
O potencial produtivo de frutos ou a estimativa da produção de frutos por
hectare de floresta foi calculado a partir da média do número de
palmeiras/hectare de Baixio e de T. Firme (tabela 2) multiplicada pela média do
peso total de frutos (kg) / palmeira (tabela 4 e 5) assim:
Baixio  36.9 palmeiras/ha X 7.5 kg/palmeira = 276 kg/ha
Terra Firme  22.8 palmeiras/ha X 6.2 kg/palmeira = 142 kg/ha
Desta forma, a produção média encontrada em 1 hectare de floresta de Baixio
foi de aproximadamente 276 kg de frutos/ha e na floresta de T. Firme foi de
aproximadamente 142 kg por hectare (Tabela 7). Considerando que uma lata
de Açaí pesa 15 kg o potencial produtivo em latas pode ser calculado assim:
Baixio 
1 lata ------------------ 15 kg de frutos
x latas----------------- 276 kg de frutos
x = 18.5 latas de frutos/ha
Terra Firme 
1 lata ------------------- 15 kg de frutos
x latas ------------------ 142 kg de frutos
x = 9.5 latas de frutos/ha
Desta forma o potencial produtivo pode ser calculado em Real ($)
considerando que 1 lata de frutos seja vendida por R$ 4.50
Baixio 
1 lata ---------------------R$4.50
18.5 latas ---------------R$ X
x = R$ 82.80/ ha de Baixio
Terra Firme 
1 lata ---------------------R$4.50
9.5 latas ------------------R$ x
x = R$42.60/ha de T. Firme
Como existe uma variação do peso total de frutos por palmeira de ano para
ano, a avaliação da produção deve ser feita em indivíduos marcados ao longo
do tempo para que se tenha estimativas precisas do rendimento de frutos por
hectare de floresta. A partir do encontrado nos vários estudos descritos na
seção de Biologia reprodutiva, fica evidenciado os níveis de interação de E.
precatoria com a fauna para que ocorra a dispersão de suas sementes, e a
importância destas interações na manutenção da espécie. Desta forma,
propõe-se aqui que seja coletado 60% do estoque por hectare de floresta de
Baixio que representa uma renda média de R$ 41.40 e 60% do estoque por
hectare de floresta de T. Firme o que representa R$ 21.30. Após cinco safras
de colheita (cinco anos) recomenda-se fazer o monitoramento da extração
(descrito na pergunta posterior).
6. Descrição da forma de exploração e biologia reprodutiva da espécie;
Euterpe precatoria é utilizado no Vale do Rio Acre pelos seringueiros para a
construção de casas, fins medicinais e principalmente para a fabricação do
“vinho” do Açaí (Kanh e de Granville, (1992) e depoimentos de moradores do
Caquetá e RECM, 1997, 1998, 1999, 2000). Existem duas técnicas que são
praticadas pelas comunidades extrativistas do vale do Rio Acre para a colheita
dos frutos de Euterpe precatoria, (1) escalar a palmeira e cortar os cachos e
/ou (2) cortar o estipe (Wallace 1999 e depoimento dos moradores dos
seringais Caquetá e Dois Irmãos). Como Wallace (1999) comenta a extração
de frutos para o mercado é uma atividade muito diferente da extração para uso
doméstico porque a extração para o mercado requer frutos de muito mais
palmeiras. O corte intensivo de indivíduos adultos de Euterpe precatoria para
prover o mercado devastaria a população, desta forma, as famílias que
esperam participar na economia de comercialização do açaí, teriam que extrair
escalando. Esta afirmativa corrobora com Zuidema & Boot (2000) que
estudando a extração intensiva de adultos de Euterpe precatoria para a
comercialização do palmito na Bolívia, encontraram que esta exploração
poderá provocar a extinção local da espécie nestas florestas. Outro exemplo da
devastação de populações de palmeiras devido ao manejo com o corte de
indivíduos adultos foi registrado por Vasques & Gentry (1989) onde o corte
intensivo da palmeira Mauritia flexuosa (Buriti) para a coleta de frutos diminuiu
populações e o potencial de colheita futura em algumas partes da Amazônia
peruana. Desta forma, o método sustentável para a coleta dos frutos é então
escalar a palmeira. Para fazer a coleta dos frutos na floresta a divisão de
trabalho para a atividade produtiva é feita mediante afinidade de cada pessoa a
certa etapa do trabalho. Se a colheita sustentável deve ser feita escalando as
palmeiras, pessoas na comunidade qualificadas para tal atividade são
necessárias.
Os coletores trabalham em grupos de dois ou três (ou em família). Eles sobem
pelos estipes, com a ajuda de um instrumento rústico de escalada chamado
localmente de peconha, que consiste de um anel torcido em oito, feito com um
saco de estopa ou com fibras da mata, a qual, passada ao redor dos pés,
permite o apoio sobre o estipe. Eles levam o terçado (facão) entre os dentes,
ou enfiado em uma bainha no cinto e sobem a palmeira apoiando o pé e
puxando o corpo com os braços. Para descer, o coletor desliza os pés pelo
estipe afrouxando as mãos da palmeira. Geralmente trazem dois cachos por
vez, cada um apoiado em uma perna. (foto A do Anexo). O uso de
equipamentos para escalar as palmeiras, como cintos de segurança e bainhas
para carregar a faca ou terçado e a observação de cada indivíduo a ser
escalado com minúcia para detectar se o mesmo não está “envergado” (torto)
ou “brocado” (estipe quebrado em algum ponto) são medidas de segurança
imprescindíveis para a diminuição de riscos no trabalho. Os debulhadores são
responsáveis pela retirada dos frutos dos cachos, e para ensacar os frutos para
o transporte. O transporte da floresta até a casa geralmente é feito pelo
debulhador, mas dependendo da quantidade colhida os coletores e outras
pessoas da família são chamadas para auxiliar o transporte (foto B e C do
Anexo). Uma alternativa para diminuir o tempo de transporte e aumentar a
quantidade de frutos transportada da floresta até a casa é através da utilização
animais de carga. Provavelmente esta prática diminuiria o tempo gasto para a
atividade produtiva compensando o trabalho dos extrativistas de atrelarem e
desatrelarem os animais no mesmo dia, caso o transporte até os pontos de
venda não fosse feito no mesmo dia. Como o transporte dos frutos do Seringal
Caquetá até o ponto de comercialização é feito nas costas de animais de carga
(Bois, cavalos) os responsáveis pelo transporte geralmente é um pai de família
que consegue lidar com animais. Os frutos são transportados em sacos de
nylon de 50 kg. Um saco pode embalar 8 latas (120 kg) de Açaí. Um boi
grande com uma gangalha pode transportar esta quantidade de Açaí por
viagem. Para fazer o transporte os frutos são distribuídos em dois sacos e
estes são amarrados em cada lado da cangalha. A biologia reprodutiva,
polinização e dispersão de Euterpe precatoria foram avaliadas através da
revisão da literatura e do conhecimento tradicional dos moradores do Seringal
Caquetá e do Seringal Dois Irmãos. As inflorescências de E. precatoria se
desenvolvem da axila das folhas, depois da senescência da folha mais velha e
são protegidas por envolturas (ferófilos). Bovi e de Castro (1993) encontraram
que a inflorescência é composta de um raquis duro central aproximadamente
com 56 cm de comprimento, com uma média de 54 ráquilas. E. precatoria é
uma palmeira que possui flores masculinas e femininas na mesma planta. Os
indivíduos adultos produzem de 1 a 4 inflorescências bissexuais por periodo de
floração (Kuchmeister, et. al., 1997). Cada inflorescência possui numerosas
flores masculinas e femininas com tamanhos de 4.5 x 2.7 mm (macho) e 3.2 x
2.6 mm (fêmea). As flores masculinas abrem-se e disponibiliza o pólen antes
das flores femininas estarem receptivas. Assim sendo a espécie é
predominantemente alógama (faz fecundação cruzada). A viabilidade do pólen
varia de 30 a 83% (Bovi & de Castro, 1993). A floração pode aumentar com a
luz solar. Dentro da floresta tropical, o começo da floração está diretamente
relacionado com a insolação. (Bovi & de Castro, 1993). Os frutos de Euterpe
precatoria são globosos, medem de 0.9 a 1.3 centímetros em diâmetro, púrpura
escuro quando amadurecidos, com um mesocarpo suculento. Há uma semente
por fruto, com um endosperma sólido e homogêneo (Henderson et al. 1995).
Nas regiões tropicais muitos biólogos têm estudado as interações complexas
entre diferentes componentes do ecossistema, por exemplo, entre as flores e
seus visitantes (em parte polinizadores), ou entre frutos e os seus comedores
(em parte dispersores). Estas interações sugerem que plantas e animais têm
prováveis influencias sobre a evolução um do outro e a isto se chama
coevolução (Kubitzki 1985). A interação planta - animal pode ser específica,
com um só tipo de inseto responsável por polinizar as flores de uma espécie
particular, ou gênero, de árvores da floresta, ou ser generalista, a espécie pode
ser polinizada por vários vetores. O uso de vetores bióticos para transferir o
pólen é aparentemente a norma em florestas tropicais, e estudos na Costa Rica
(Bawa et. al. 1985) sugerem que mais de 96% das espécies de árvores locais
são polinizadas exclusivamente por animais. Os animais também representam
um papel muito importante na dispersão das sementes produzidas por árvores
tropicais. Estudos no Equador (Gentry 1982), citado por Peters (1995), por
exemplo, mostraram que 93% das árvores do dossel produzem frutos
adaptados ao consumo por pássaros e mamíferos, enquanto Croat (1978),
citado por Peters (1995) estima que 78% das árvores de dossel e 87% das
árvores de subdossel na Ilha de Barro Colorado (Panamá) têm seus frutos
dispersados por animais. Silberbauer-Gottsberger (1990) citado por Henderson,
1995 afirma que a polinização em muitas palmeiras é um processo bastante
não especializado. Henderson (1995) cita que há três polinizadores comuns às
palmeiras, besouros, abelhas e moscas e Kuchmeister, et. al. (1997) estudando
Euterpe precatoria próximo de Manaus, encontrou que a palmeira parece ser
geralmente entomófila com uma predominância de besouros e abelhas como
polinizadores potenciais. A maioria dos visitantes constantes foram besouros
das famílias Curculionidae, Chrysomelidae, Staphylinidae, e abelhas da familia
Halictidae. Os autores afirmam que a real composição do espectro de insetos
depende de fatores climáticos e bióticos e que a polinização pelo vento pode
ocorrer. Bovi & de Castro, (1993) encontraram a polinização feita
principalmente por moscas e abelhas. Jardim (1991) estudando a polinização
de Euterpe oleracea encontrou que os coleópteros (Curculionidae) são os
prováveis polinizadores da espécie. Tanto o estudo de Kuchmeister, et. al.
(1997) como o de Jardim (1991) corroboram o de Bawa et. al. (1985)
estudando o sistema de polinização das palmeiras tropicais e neotropicais que
encontrou que 80% das palmeiras são polinizadas por coleópteros. A distância
média entre adultos de Açaí encontrada por Rocha, (dados não publicados) na
floresta de Baixio foi de 14.7+ 3.2 m e na floresta de T. firme foi 23.2+ 7.4 m.
Kuchmeister, et. al. (1997) encontrou próximo de Manaus em uma floresta de
Baixio a distância média de indivíduos de Euterpe precatoria de 7.8 ± 2.8 m e
na floresta de T. Firme uma distância média de 15.4 ± 9.6 m. A alta densidade
de Euterpe precatoria nas áreas de florestas estudadas, a pequena distância
média entre os indivíduos adultos e o grupo de animais encontrados por
polinizar a espécie sugerem que o Açaí possui polinizadores que voam a curta
distância, diferente das espécies de baixa densidade que superam o problema
da polinização através de relações co-evolutivas com animais como pássaros,
morcegos, que agem como vetores de pólen a longa distância (Kageyama &
Gandara, 1993). Como o encontrado para Euterpe edulis as espécies arbóreas
comuns teriam os vetores de pólen com vôo à curta distância (Kageyama &
Gandara, 1993).Espécies vegetais, com polinizadores generalistas tem um
potencial de manejo mais alto do que espécies que possuem polinizadores
específicos (Peters,1996). Os estudos descritos sugerem que Euterpe
precatoria pode ser considerada uma espécie generalista (Kuchmeister, 1997;
Bovi & de Castro,1993) Estudos realizados na América do Sul e central
mostram que mais de 90% das árvores de dossel produzem frutos adaptados
para o consumo e subsequente dispersão por animais (Peters, 1996). Um dos
itens mais comuns da dieta dos cervídeos são os frutos de Euterpe precatoria e
de Iriartea sp. Estes frutos ocorreram na dieta de 80% dos veados cinzentos e
na dieta de 59% dos veados vermelhos amostrados. [Bodmer, (1989) citado
por Bodmer et. al. (1999)]. Segundo o depoimento de moradores dos Seringais
Dois Irmãos e do Seringal Caquetá, os principais animais consumidores
dispersores de frutos de Euterpe precatoria no pico da frutificação são
pássaros da família Psitacidae (papagaios, araras) Rhamphastidae (tucanos),
Crasinae (jacus). Assim como o encontrado por Reis, (1995), estudando a
dispersão de Euterpe edulis1 na Floresta Ombrófila Densa em Santa Catarina,
os frutos de Euterpe precatoria são consumidos e dispersados por um grande
número de animais. Zimmermann 1991 encontrou que a dispersão de
sementes de E. edulis à curta distância é feita por ratos e outros roedores. A
dispersão da semente a longas distâncias é feita por tucanos (Ramphastidae),
jacus (Cracinae), arapongas Cotingidae, e sabias (Turdus). Bovi & de Castro
(1993) sugerem que a dispersão de sementes de E. oleracea e E. precatoria
pode ser feita através da água (inundações), principalmente ao longo das
margens dos rios. Os frutos de Euterpe precatoria são derrubados das
infrutescências (observação pessoal e depoimento de seringueiros das áreas
de estudo) por pássaros da família Psitacidae (papagaios, araras) que tem um
papel importante na dispersão primária. Como observado por Reis (1995) para
E. edulis e Kuchmeister, et. al. (1997) para E. precatoria, os frutos do Açaí são
consumidos por tucanos (Rhamphidae) que regurgitam as sementes logo
abaixo da planta mãe ou distante dela e então dispersam as sementes.
Características particulares de Euterpe precatoria, apoiam complexos níveis de
interação com a fauna nos processos de dispersão de sementes. A espécie é
alimento de vários tipos de animais que possuem padrões de comportamento
distintos de forrageamento. Assim os padrões espaciais das sementes são o
resultado da dispersão por pássaros, e a dispersão é resultante de processos
interativos entre diferentes padrões comportamentais do forrageamento de
animais (Reis, 1995). Do ponto de vista da planta, sabe-se que a dispersão
oferece pelo menos três benefícios para as suas populações, sendo eles: uma
maior probabilidade de escapar a mortalidade do que uma semente que caí
próxima à árvore mãe; permitir a espécie estender-se a novos habitats; e ainda,
pode colocar a semente em um local preciso, para que a sua germinação e
crescimento se realizem com êxito (Janzen, 1970). Então uma característica
das árvores tropicais que pode representar um obstáculo para a
sustentabilidade se refere ao modo que elas movem os seus pólens e
dispersam as suas sementes porque a produção de frutos, sementes e
plântulas nas florestas tropicais necessariamente envolve a colaboração de
animais e o uso sustentável do recurso em florestas tropicais depende em
última instância da disponibilidade ininterrupta de polinizadores e dispersores
de sementes. “Nenhuma polinização significa nenhum fruto, nenhum, fruto e/ou
nenhum dispersor significam nenhuma plântula estabelecida, e nenhuma
plântula estabelecida significa nenhuma próxima geração, nenhum produto,
nenhum lucro e nenhuma sustentabilidade” (Peters, 1995). A partir do
encontrado nos vários estudos descritos acima, ficam evidenciados os níveis
de interação de E. precatoria com a fauna para que ocorra a dispersão de suas
sementes, e a importância destas interações na manutenção da espécie. O
Açaí pode ser considerado uma espécie com vetor biótico generalista na
dispersão de seus frutos e semelhantemente à polinização, espécies
generalistas na dispersão tem um potencial mais alto de manejo do que
espécies com vetores bióticos específicos (Peters, 1996).
1
Parente próximo de Euterpe precatoria, com estipe único, que ocorre na floresta Atlântica.