TRACIONAMENTO ORTODÔNTICO DE CANINOS SUPERIORES

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TRACIONAMENTO ORTODÔNTICO DE CANINOS SUPERIORES
Revisão de Literatura
TRACIONAMENTO ORTODÔNTICO DE CANINOS SUPERIORES
IMPACTADOS POR PALATINO
TRACIONAMENTO ORTODÔNTICO DE CANINOS
SUPERIORES IMPACTADOS POR PALATINO
Orthodontic traction of the impacted maxillary canines
Tassiana Mesquita SIMÃO1, Marina de Jesus Gomes das NEVES2, Edson
Minoro YAMATE3, Marcus Vinicius CREPALDI4, Renato Carlos BURGER5
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão de literatura sobre o tracionamento
ortodôntico de caninos superiores impactados elucidando a etiologia, diagnóstico bem
como as formas de tratamento. Sendo que, é fundamental diagnosticar a exata localização
do canino impactado para estabelecer um correto planejamento do tratamento que tem
como objetivo uma oclusão balanceada, estética e harmonia facial. Dentre as formas de
tratamento, ressalta o tratamento orto-cirúrgico, sendo esse bastante eficiente quando
bem diagnosticado e realizado com a técnica correta. Portanto, devido à importância do
canino no arco e diante da presença de impactação, é necessário conhecer os dispositivos
e as técnicas com intuito de corrigir sua condição clínica inadequada e, principalmente,
manter o dente no arco evitando sua extração.
Palavras chaves: Ortodontia Corretiva. Dente Impactado. Dente Canino.
ABSTRACT
The objective of this work was to carry out a literary review about orthodontic traction of
the impacted maxillary canines showing the etiological, diagnosis, as well as the treatment
protocols. Being that, it is crucial to have a diagnosis that defines an accurate localization
of the impacted canine for allowing a correct treatment plan, which has as aim to have an
equilibrated occlusion, esthetic and facial harmony. Amongst the treatment protocols, it
points out the orthodontic-surgical treatment which is very efficient when it is well
indicated and performed with correct technique. Therefore, due to the importance of the
canine in the arch and in front of the impaction presence, it is necessary to be aware of
the devices and techniques used to correct its already incorrect clinic condition and mainly,
maintain this tooth in the arch avoiding its extraction.
Keywords: Orthodontics, Corrective. Tooth, Impacted. Cuspid. Surgery, Oral.
1
Mestre e Doutora em Ortodontia, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; Research
Fellowship em Ortodontia, Universidade de Toronto, Canadá; Professora do Curso de Especialização em
Ortodontia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia; Filiada as World Federation of Orthodontists e American
Association of Orthodontists; Revisora da Revista American Journal of Orthodontics and Dentofacial
Orthopedics.
2
Especialista em Ortodontia, Instituto de Pesquisa e Ensino, Universidade de Maringá – Unidade Palmas.
3
Mestre em Ortodontia pela São Leopoldo Mandic; Coordenador e Professor dos cursos de especialização em
Ortodontia UNINGÁ TO, FAISA e IPEODONTO.
4
Doutor em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia de Bauru Universidade de São Paulo; Coordenador e
Professor dos cursos de especialização em Ortodontia UNINGÁ TO, MS; FAISA e Faculdade FAIPE; Revisor dos
Periódicos Revista da Uninga e Revista FAIPE; Membro do Grupo Brasileiro de Professores de Odontopediatria e
Ortodontia; Membro da ABOR; Filiado a Word Federation of Orthodontists.
5
Doutor em Dentística pela Faculdade de Odontologia de São Paulo, Universidade de São Paulo; Coordenador
do curso de especialização em Implantodontia da UNINGÁ TO e Faculdade FAIPE.
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INTRODUÇÃO
O canino é considerado um dente muito importante na constituição da arcada
dentária, tanto pela sua função como por sua estética, e apresenta alto índice de
impactação devido ser um dos últimos dentes a irromperem na arcada dentária superior
(BISHARA, 1976).
Um dente é considerado impactado quando não se encontra no arco dental na
época de sua irrupção normal, e sua raiz se encontra completamente formada e não
apresenta mais potencial de irrupção ou quando seu homólogo apresenta raiz completa e
já está irrompido há pelo menos seis meses (ALMEIDA, 2001).
Os caninos impactados se não diagnosticados e tratados adequadamente podem
ocasionar alterações sistêmicas e dentárias. Portanto, diante dos diversos métodos de
tratamento motivou-se realizar uma revisão de literatura visando elucidar os vários
aspectos relacionados ao tracionamento ortodôntico dos caninos superiores e,
principalmente, ressaltar uma forma eficaz de realizar esse procedimento.
REVISÃO DE LITERATURA
Considerando a natureza deste trabalho, o tracionamento ortodôntico de caninos
superiores impactados, a revisão de literatura basear-se-á em uma perspectiva histórica
dos estudos e artigos concernentes ao assunto desde os fatores etiológicos até os
protocolos de tratamento de caninos superiores retidos.
Etiologia
A etiologia da impactação dos caninos superiores não é totalmente esclarecida. De
um modo geral as etiologias podem ter causa local ou generalizada. As causas gerais
incluem distúrbios endócrinos, doença febril e irradiação. As causas locais podem se
isoladas ou combinadas como discrepâncias de tamanho dentário, retenção prolongada,
perda precoce, posição anormal do germe dentário, anquilose, neoplasia, dilaceração,
origem iatrogênica, causa idiopática e ausência do incisivo lateral superior (BECKER et al.,
1982).
Segundo Britto (2003) há alguns fatores responsáveis pela impactação dos caninos
como: síndrome de Down, disostose cleidocraniana, hipotireoidismo, hipopituitarismo,
raquitismo, desnutrição, síndrome de Crouzon e exposição intra-uterina ao tabaco como
sendo as causas prováveis da impactação. Já Lappin (1951) relata a etiologia de
impactação de canino superior como um longo e tortuoso trajeto de irrupção, desde seu
local de formação, lateral a fossa piriforme, até sua oclusão no arco dental (Fig. 1).
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Figura 1 - Trajetória complexa dos caninos.
Fonte: Van der Linden (1976).
Diagnóstico
O diagnóstico é realizado pela interação entre aspectos clínicos e radiográficos. Em
pacientes adultos com dentadura permanente completa, a ausência de um ou ambos os
caninos permanentes, com presença ou não de caninos decíduos, indica provavelmente a
impactação do canino permanente. (GARIB, 1999).
Dentre as técnicas utilizadas no diagnóstico por imagem que podem auxiliar na
posição do dente incluso, destacam-se: radiografias oclusais, panorâmicas, teleradiografias
norma lateral e tomografia computadorizada. Os sinais clínicos também auxiliam no
diagnóstico do dente impactado, tais como: presença da bossa do canino na região palatina;
presença prolongada do canino decíduo ou atraso na irrupção do canino permanente.
(MARTINS et al., 1998).
Exame clínico
O exame clínico pode ser realizado pela inspeção visual e pela palpação. A inspeção
é um método no qual se observa a saliência na região do canino não irrompido ou pode se
observar a posição do incisivo lateral adjacente. (TANAKA, 2000). A palpação deve ser
realizada utilizando os dedos indicadores de ambas as mãos (Fig. 2). O dente só é palpável
por vestibular, acima do canino decíduo dois ou três anos antes da sua irrupção. (TORMENA,
2004).
Figura 2 - Exame de palpação para evidenciar caninos impactados.
Fonte: Almeida (2001).
Alguns sinais clínicos são indicativos de caninos impactados, tais como: 1) Atraso na
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irrupção do canino permanente ou retenção prolongada de canino decíduo além dos
quatorze anos de idade; 2) Ausência da proeminência de canino; 3) Presença de
protuberância palatal e 4) Migração do incisivo lateral para distal. (BISHARA, 1992).
Silva Filho et al. (1994) ressaltaram a importância da palpação digital a partir dos
nove anos de idade na região de caninos superiores para a verificação da presença destes
elementos e observaram que sua ausência na dentadura permanente está relacionada
diretamente com a impactação, já que a agenesia dos mesmos quase nunca é observada.
Exames radiográficos
O exame radiográfico é imprescindível na elaboração do diagnóstico, comprovando
a presença do canino impactado no maxilar nos sentidos vestíbulo-lingual, cérvico-oclusal e
mésio-distal, além de sua relação com suas estruturas adjacentes. Nos exames
radiográficos devem ser observados aspectos inerentes ao canino como formação e
morfologia radicular, presença de reabsorções radiculares, cistos entre outros. Podem ser
realizadas a telerradiografia lateral, panorâmica, oclusal, periapical (Princípio da técnica
de Clark, Fig.3) e as tomografias computadorizadas quando necessário. (JACOBS, 1999).
Figura 3 - Técnica de Clark para a localização de caninos impactados.
Fonte: Almeida (2001).
A. Radiografias periapicais
As radiografias periapicais (Fig. 4) associada ao exame clínico são suficientes para
determinar a posição exata dos caninos em 92% dos casos. (ERICSON; KUROL, 1987).
Figura 4 - Radiografias periapicais mostrando os caninos superiores permanentes impactados.
Fonte: Britto et al. (2003).
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B. Radiografias oclusais
As radiografias oclusais indicam a posição da coroa e ápice radicular do canino
impactado em relação aos dentes adjacentes, assim como sua localização vestíbulopalatino. (TANAKA, 2000). Mullick (1979) indicou a radiografia oclusal para definir a
posição transversal do longo eixo do canino (Fig. 5).
Figura 5 - Radiografia oclusal.
Fonte: Marchioro (2002).
C. Radiografia panorâmica
Em aproximadamente 90% dos casos consegue-se a localização dos caninos
impactados apenas com o uso das radiografias panorâmicas. Quando sua localização está
por palatino apresenta imagem maior e mais definida. (TORMENA, 2004).
Figura 6 - Radiografia Panorâmica.
Fonte: Almeida (2001).
D. Teleradiografia em norma lateral e frontal
As telerradiografias em norma lateral (Fig. 7) auxiliam na determinação da posição
do canino impactado, principalmente sua relação com outras estruturas adjacentes como o
seio maxilar e o soalho da cavidade nasal (BISHARA, 1992; MARTINS et al., 1998).
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Figura 7 - Telerradiografias em norma lateral e frontal mostrando a impactação de caninos.
Fonte: Almeida (2001).
E. Tomografias computadorizadas
A tomografia determina a posição real do canino impactado. É um recurso que pode
ser utilizado no caso de suspeita de anquilose do canino. (MAAHS, 2004).
Segundo Jacobs, a tomografia computadorizada (TC) é o método mais preciso de
localização radiográfica, porém, a sua dose de radiação relativamente alta limita as
indicações para seu uso.
Prognóstico
O prognóstico dos caninos impactados depende de muitos fatores como: posição,
angulação e possibilidade de haver anquilose. (TANAKA, 2000). Também depende da idade
do paciente e do espaço presente no arco dentário (TORMENA, 2004). Quanto maior for à
extensão do deslocamento do dente impactado e o trauma cirúrgico causado pela etapa
cirúrgica pior será o prognóstico (BRITTO, 2003).
Quanto mais mesial e horizontal estiver o dente pior será o prognóstico. (GARIB et
al.,1999). Dentes anquilosados ou horizontais reduzem a chance de sucesso no tratamento.
(BISHARA, 1992).
Protocolos de tratamento
A literatura descreve várias opções para o tratamento dos caninos superiores
impactados. Esses procedimentos podem ser desde o conservador até procedimentos
cirúrgicos com posterior tracionamento. (BISHARA, 1992).
Os tipos de tratamento do canino impactado dependem da idade do paciente, do
estágio de desenvolvimento de sua dentição, da posição do canino impactado, se há
reabsorção radicular dos incisivos permanentes e da disposição do paciente ao tratamento.
(MAAHS, 2004).
Em virtude da importância das funções dos caninos superiores e sua permanência no
arco, o ortodontista deve considerar as várias opções de tratamento disponível, incluindo
os seguintes:
Nenhum tratamento
Aguardar a irrupção espontânea do canino retido. Para que ocorra a irrupção
espontânea tem sido descritos na literatura a remoção de interferências mecânicas como
extranumerários, patologias e até recuperação de espaço. (DUNCAN, et al., 1983). Se o
paciente assim desejar; neste caso é importante que se faça um controle radiográfico
periódico para avaliar alterações patológicas. (TORMENA, 2004).
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Segundo Jacoby (1983), caninos por palatino raramente irrompem espontaneamente
e por vestibular podem irromper espontaneamente em uma posição ectópica.
Transplante autógeno
O transplante autógeno (Fig. 8) é o método que consiste em procedimento
exclusivamente cirúrgico onde é realizada a extração do canino retido e imediatamente
transplantado para um alvéolo artificial realizado no rebordo alveolar. Nesta manobra a
necrose pulpar e a reabsorção radicular são freqüentes, havendo risco de perda do dente
transplantado. (BOYD, 1982; NOGUEIRA, 1997).
Figura 8 - Transplante Autógeno.
Fonte: Consolaro (2008).
Extração do canino decíduo
Nos casos de paciente entre dez e treze anos de idade, Maahs (2004) sugere a
remoção dos caninos decíduos para guiar o canino permanente não irrompido ao
alinhamento, visto que seu prognóstico é ruim, pois sua raiz eventualmente sofrerá
reabsorção. (TORMENA, 2004).
Extração do canino impactado
A extração pode ser considerada nas seguintes situações: dentes com anquilose que
não podem ser transplantados; reabsorção radicular interna ou externa; dilaceração;
impactação grave (canino entre as raízes do incisivo central e incisivo lateral); quando o
primeiro pré-molar ocupa o lugar do canino com uma oclusão funcional aceitável; quando
houver alterações patológicas como, por exemplo, formações císticas ou infecções.
(BISHARA, 1992).
Exposição cirúrgica e tracionamento ortodôntico
Quando for realizada a exposição cirúrgica seguida de tracionamento, a ancoragem
pode ser no próprio arco ortodôntico ou aparelhos removíveis (Fig. 9).
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Figura 9 - Aparelho ortodôntico removível.
Fonte: www.ortoperfil.com.br/casosclinicos
Caninos impactados por palatino raramente irrompem sem intervenção cirúrgica. O
tratamento geralmente consiste na exposição cirúrgica (Fig. 10) seguida de tracionamento
ortodôntico. Este procedimento consiste em acessar o canino impactado para a fixação do
acessório ortodôntico e utilizar na mecânica até seu posicionamento no arco dentário.
Atualmente a colagem direta de braquetes, ganchos, botões ou fios diretamente nos
dentes impactados é o procedimento mais utilizado. (BISHARA, 1992).
Figura 10 - Exposição cirúrgica com colagem de acessório ortodôntico.
Fonte: Bastos (2003).
Segundo Tanaka et al. (2000) quando há dificuldade em se fazer uma adequada
colagem do acessória ortodôntico na coroa do canino impactado para o tracionamento,
pode se realizar perfurações na coroa do canino (Fig. 11). Porém essa manobra é pouco
indicada, pois pode haver danos pulpares pela dificuldade do acesso ideal. A perfuração da
coroa no sentido vestíbulo palatino está mais indicada quando o dente impactado
encontra-se muito alto e a colagem torna-se difícil e poderá exigir uma nova intervenção
cirúrgica no caso de descolamento do acessório (SILVA FILHO et al., 1994).
Figura 11 - Perfuração na coroa do canino.
Fonte: Barros (2001).
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A. Sistema “Ballista”
O Sistema “Ballista” (Fig. 12) é um sistema ortodôntico simples onde o dente
impactado é tracionado pela ação de uma mola que libera força contínua, pela ativação
por meio do seu longo eixo. A aplicação desse sistema pode causar a intrusão ou inclinação
vestibular dos primeiros pré-molares, para se evitar este efeito colateral a barra
transpalatina pode ser entendida mesialmente e soldada às bandas dos pré-molares.
(JACOBY, 1979).
A mola “Ballista” pode ser confeccionada com fio de aço inoxidável .014”, .016” ou
.018”, cuja a extremidade será inserida no tubo do molar, e para evitar sua rotação no
tubo faz-se amarração com fio de amarrilho 0,25mm. A extremidade anterior da mola se
direciona mesialmente, passando pelas ranhuras dos braquetes dos pré-molares. A porção
final da mola se dobra verticalmente para baixo terminando com uma dobra em forma de
gota. Quando se leva a porção vertical de encontro ao dente impactado, liga-se a parte
horizontal da mola que acumula a energia por meio de um fio de amarrilho 0,25mm ou
elásticos ao referido dente a ser tracionado. Assim, completa-se o sistema que irá
movimentar o dente impactado. (JACOBY, 1979).
Figura 12 - Sistema “Ballista”, unindo-se ao canino em linguoversão.
Fonte: Almeida (2001).
B. Técnica do Arco Segmentado
A técnica do arco segmentado idealizado por Burstone (1962) apresenta benefícios
no sentido de obter um sistema de força eficiente ao dente ao ser movimentado,
minimizando os efeitos colaterais indesejáveis. O cantilever (Fig. 13) é uma das opções de
tracionamento para o canino impactado por palatino (BASTOS, 2003).
A principal vantagem dessa técnica é a possibilidade de aplicar os princípios
biomecânicos, controlando melhor os efeitos colaterais gerados pelos aparelhos
ortodônticos, criando sistema de forças individuais para cada caso. O cantilever é indicado
para ser feito o tracionamento, intrusão, inclinação vestibular e lingual dos dentes,
utilizando-se o segmento posterior como unidade reativa (SAKIMA, 2003).
Figura 13 - Cantilever.
Fonte: Bastos (2003).
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Para o tracionamento do canino com o cantilever, após a fase final do alinhamentonivelamento, a arcada deve ser estabilizada com fio rígido .019” x .025” por vestibular,
com alívio na região do canino, e com uma barra transpalatina. (ALMEIDA, 2001).
O cantilever é confeccionado com um alicate 350 tweed para ômegas, com um loop
completo a doze milímetros da extremidade de um fio .017” X .025” de aço. Após a
confecção o cantilever é posicionado no tubo lingual do primeiro molar superior e a
ativação é realizada com o mesmo alicate, de modo que o gancho de encaixe do cantilever
fique a dez milímetros (Fig. 14) abaixo do gancho de amarrilho que está adaptado no
canino incluso e este deve ser amarrado (Fig. 15).
Figura 14 - Gancho de encaixe a dez milímetros.
Fonte: Bastos (2003).
Figura 15 - Amarração do cantilever.
Fonte: Bastos (2003).
Encaixar o cantilever (Fig. 16) e aguardar a exposição do canino incluso, tracionar
com elástico ou amarrilho metálico no sentido distal até que se permita a movimentação
direto à vestibular sem tocar na raiz do incisivo lateral. (BASTOS, 2003).
Figura 16 - Encaixe do cantilever.
Fonte: BASTOS, 2003.
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A magnitude de força utilizada para a extrusão do canino pode ser medida
diretamente com um tensiômetro, não devendo exceder oitenta gramas (PATEL, 1999). O
cantilever pode também ser confeccionado com fio de aço inoxidável redondo de .018”,
soldada à barra transpalatina (Fig. 17). (MARCOTTE, 2001).
Figura 17 - Cantilever posicionado na barra transpalatina.
Fonte: Gandini (2009).
CONCLUSÃO
Com base nos aspectos avaliados na literatura e evidenciados pelos estudos e casos
clínicos pode-se concluir que é muito importante a detecção precoce de dentes
impactados para prevenir suas más consequências. No tratamento dos caninos impactados,
a terapêutica mais utilizada é o tracionamento ortodôntico que envolve a exposição
cirúrgica, o condicionamento ácido e a colagem de acessório ortodôntico. Sendo assim, é
necessário um planejamento adequado da mecânica utilizada durante o tracionamento do
canino impactado para não comprometer as unidades de ancoragem. A força de
tracionamento é variável, porém não deve exceder cem gramas. Em razão do prognóstico,
o paciente e/ou responsável devem estar cientes quanto ao resultado a ser alcançado no
tratamento.
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