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“ISSO É COISA DE MENINO/A.” Ou, como se constroem desigualdades de gênero e de sexualidade. As desigualdades podem começar e serem naturalizadas com os estereótipos expressos nos jargões Isso é coisa de menino e Isso é coisa de menina. Refletindo na perspectiva dos Estudos Culturais, os binarismos são disjunções que expressam oposição e hierarquia. Assim, disjunções como masculino–feminino, homem–mulher, heterossexual–homossexual, branco–preto, adulto–criança expressam uma relação de MAIOR–menor, de SUPERIOR– inferior. Gênero e sexualidade são conceitos construídos em processos histórico-sociais. A construção dos sentidos e dos significados de masculinidade e feminilidade decorre da compreensão e das práticas de mundo vivido. Inicialmente, é preciso esclarecer os conceitos de gênero e sexualidade considerados neste estudo. Conforme Scott (1995), gênero é uma categoria de análise histórica que engloba símbolos culturais (representações), conceitos normativos (interpretações dos símbolos), noção de política (instituições e organizações sociais) e identidade subjetiva (relações objetivas). Para De Lauretis (1994), gênero é um produto de tecnologias sociais, discursos, epistemologias e práticas, constituindose de representações e processos de construção-desconstrução. Carloto (2001) conceitua gênero como “[...] instrumento teórico que permite uma abordagem empírica e analítica das relações sociais.” (p. 201). Ou seja, a noção de gênero funciona como categoria descritiva da realidade social e, ao mesmo tempo, como categoria analítica, como um outro olhar sobre os fenômenos sociais. Com base na visão psicanalítica freudiana da sexualidade humana, Bearzoti (1994) conclui: Sexualidade é a energia vital instintiva direcionada para o prazer, passível de variações quantitativas e qualitativas, vinculada à homeostase, à afetividade, às relações sociais, às fases do desenvolvimento da libido infantil, ao erotismo, à genitalidade, à relação sexual, à procriação e à sublimação (p. 117). Portanto, sexualidade extrapola a noção de ato ou relação sexual, situando-se na dimensão de psicossexualidade, isto é, entendida como energia vital. Ao mesmo tempo, constitui-se em um fenômeno social e histórico. Daí a necessidade de interpretar o corpo num contexto cultural e de relações de poder, pois a construção da sexualidade aproxima-se das especificidades contidas nas relações de gênero, carregadas de tensões e contradições. Sintetizando, gênero e sexualidade devem ser compreendidos como construções e relações histórico-sociais, pois apresentam variações de um contexto para outro, de uma cultura para outra. Ninguém nasce pronto como homem ou mulher. Cada ser humano constrói-se ao longo de toda a vida no seio da cultura. Para Louro (2008), “Gênero e sexualidade são construídos através de inúmeras aprendizagens e práticas, empreendidas por um conjunto inesgotável de instâncias sociais e culturais, de modo explícito ou dissimulado, num processo sempre inacabado.” (p. 17). É por meio da cultura que se pode compreender as diferenças e/ou semelhanças entre os sexos, as desigualdades sociais, as relações de dominação e de poder, bem como as formas de padronização de comportamentos. Para Foucault (2014), os corpos não são uma dádiva da natureza, são construídos em contextos histórico-sociais. A sexualidade, entendida como uma forma de poder, integra os mecanismos de dominação dos sujeitos e dos grupos pelas relações de saber-poder. A construção dos gêneros e das sexualidades, em cada cul- EDIÇÃO: ANO 25 - Nº 65 - DEZEMBRO/2014 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA tura, ocorre por meio de aprendizagens e práticas desenvolvidas nas e pelas instituições sócio-culturais, como a família, a escola, o Estado e a igreja. Normas de conduta são impostas, explícita ou dissimuladamente, pelas sociedades de todos os lugares e tempos. Formas de regulação, de vigilância e de controle dos sujeitos pelas instâncias de poder caracterizam essas sociedades. Conceitos normativos legitimam as diferenças de gênero e de sexualidade em todas as instâncias e dimensões, produzindo desigualdades. No mundo ocidental, em especial, produziu-se a desigualdade de gênero com base na supremacia do homem, caracterizado como branco, heterossexual, culto, com alto status social, cristão e europeu. A regulação, o controle dos indivíduos por parte das instituições sociais, tem servido mais à padronização e à sua naturalização do que ao simples regramento da vida social. Pedagogias culturais, no entendimento de Louro (2008), reproduzem conceitos, crenças, certezas, forjando sujeitos segundo modelos hegemônicos e naturalizando desigualdades. Essa naturalização das desigualdades fundamenta-se nas crenças, estrutura-se no imaginário social a partir de construções hegemônicas e materializa-se nas relações, nas atitudes e no poder. Historicamente, as sociedades, em diferentes mundos culturais, produzem a subjetivação dos estereótipos de gênero por meio de processos sociais, culturais e linguísticos. Tais estereótipos decorrem de crenças estruturadas sobre supostos atributos naturais de homens e mulheres, condicionando condutas, forjando comportamentos e estilos, interiorizando valores e papéis marcados, perpetuando desigualdades e estigmatizando diferenças e/ou diversidades. Para Louro (2008), a norma é onipresente, sendo capaz de naturalizar, padronizar. Assim, a diferença tende a ser normalizada, naturalizada e ensinada, pois é tomada a partir de uma identidade referência, uma posição considerada “normal”. “[...] a diferença não é natural, mas sim naturalizada. A diferença é produzida através de processos discursivos e culturais. A diferença é ‘ensinada’.” (LOURO, 2008, p. 22). Na mesma perspectiva posiciona-se a pesquisadora Quaresma da Silva (2014), enfatizando que através dos discursos pedagógicos meninos e meninas aprendem sobre como devem agir e se comportar. Esse enquadramento “[...] confirma que as masculinidades e as feminilidades são construídas e produzidas nas relações de poder de uma sociedade e estão marcadas pelas particularidades do contexto histórico cultural onde elas emergem.” (QUARESMA DA SILVA, 2014, p. 46). Os estereótipos de gênero podem ser identificados sob as mais diferentes representações. É o caso, por exemplo, das cores. O azul representa infinitude (céu e mar) e identifica o masculino. A cor rosa representa fragilidade, delicadeza, identificando o feminino. Na instância escolar, a chamada pedagogia do privilégio rotula os meninos como independentes, seguros, travessos, criativos e naturais, preparando-os para a vida pública (o trabalho e a sociedade). Já as meninas são consideradas dependentes, inseguras, responsáveis, tranquilas, detalhistas e sensíveis, sendo preparadas para a vida privada (a casa). Portanto, naturalizam-se os jargões do tipo Isso é coisa de menino e Isso é coisa de menina. Gênero não pode ser pensado como uma construção social de papéis masculinos e femininos. Papéis são padrões definidos por uma sociedade, que podem produzir desigualdades de gênero e sexualidade. Gênero deve ser pensado como constituinte da identidade dos sujeitos (LOURO, 2014). A sociedade atual, especialmente a ocidental, passa por transformações significativas, desconstruindo “verdades” até então naturalizadas quanto às relações de gênero e sexualidade. Louro (2013) traz: “‘Novas’ identidades culturais obrigam a reconhecer que a cultura, longe de ser hegemônica e monolítica, é, de fato, complexa, múltipla, desarmoniosa, descontínua.” (p. 44). Considerações reflexivas Meninos e meninas são diferentes porque são construções histórico-sociais. Na sociedade, em sentido amplo, a família e a escola, por meio de múltiplos mecanismos, separam, ordenam, classificam e hierarquizam os sujeitos. Isso é coisa de menino. Isso é coisa de menina. Para Connel (1995), “Se o gênero é um produto histórico, então ele está aberto à mudança histórica.” (p. 189). Portanto, mudar é possível. É preciso desestabilizar e desconstruir a naturalidade, a unidade e a estabilidade do centro. É preciso desconstruir as “verdades” da lógica hegemônica. As reflexões apontam para as seguintes considerações (ainda reflexivas): a) é essencial pensar mecanismos (sociais, curriculares e pedagógicos) de desconstrução da oposição binária; b) é preciso, e possível, romper a lógica dicotômica, que naturaliza desigualdades; c) é preciso problematizar as oposições binárias; d) é preciso adotar um pensamento plural que questione as representações sociais e o pensamento hegemônico; e) é preciso adotar novos paradigmas e mudanças epistemológicas em relação às identidades de gênero e sexualidade; f) a pedagogia e o currículo precisam tratar a identidade e a diferença como questões políticas; g) os currículos escolares devem incluir as contribuições de culturas diferentes (subordinadas); h) a educação sexual precisa discutir como as marcas identitárias produzem binarismos; i) a educação sexual deve desestabilizar as “verdades únicas” e os modelos hegemônicos de normalidade sexual; j) a educação sexual precisa problematizar o modo como a sexualidade é significada e como interfere na existência das pessoas. Referências BEARZOTI, Paulo. Sexualidade: um conceito psicanalítico freudiano. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, São Paulo, v. 52, n. 1, p. 113-117, mar. 1994. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/anp/v52n1/24.pdf . Acesso em: 28 nov. de 2014. CARLOTO, Cássia Maria. O conceito de gênero e sua importância para a análise das relações sociais. Serviço Social em Revista, Londrina, v. 3, n. 2, p. 201-213, jan./jun. 2001. CONNEL, Robert. Políticas da masculinidade. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 2, n. 20, p. 185-206, jul./dez.1995. DE LAURETIS, Teresa. A tecnologia do gênero. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque (Org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 1: a vontade de saber. 1. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014. LOURO, Guacira Lopes. Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Pro-Posições, Campinas, v. 19, n. 2 (56), p. 17-23, maio/ago. 2008. ______. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 16. ed. Petrópolis: Vozes, 2014. LOURO, Guacira Lopes. Currículo, gênero e sexualidade: o “normal”, o “diferente” e o “excêntrico”. In: LOURO, Guacira Lopes; FELIPE, Jane; GOELLNER, Silvana Vilodre. (Orgs.). 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2013. QUARESMA DA SILVA, Denise Regina. Gênero, psicologia e educação: notas sobre subjetivação/construção da sexualidade normal/anormal. In: CALVETTI, Prisla Ücker; QUARESMA DA SILVA, Denise Regina (Orgs.). Psicologia, educação e saúde: temas contemporâneos. Canoas: Ed. Unilasalle, 2014. SCOTT, Joan Wallace. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 71-99, jul./dez. 1995. Diretor Operacional: Paulo Henrique Pinto de Jesus - Diretor Editorial: João Alberto Steffen Munsberg Diretor de Comercialização: Ademir Balestro - Redator-chefe: Maria Helena Corso – Reg. 5103 Editoração Gráfica: Alessandro Graff ENGENHO – Editora, Publicidade e Propaganda Ltda. - Rua Brasil, 839 – CEP: 93010.030 – Centro – São Leopoldo – RS. Fones: (51) 3592.5900 * E-mail:[email protected] * www.pvsinos.com.br A prova de Língua Portuguesa costuma seguir sempre o mesmo padrão estrutural: são apresentados três textos, que mesclam questões de interpretação, preenchimento de lacunas, ortografia, léxico (troca vocabular) e gramática. São frequentes questões que exijam do aluno a substituição de expressões presentes nos textos por outras, perguntando se há ou não alteração de significado. É de praxe, também, exigir do candidato que faça a transcrição de trechos do texto para outro discurso (do discurso direto para o indireto, ou o contrário). É, ainda, comum perguntarem quantas palavras seriam alteradas, se o sujeito de uma frase passasse do singular para o plural, ou processo inverso. Veja exemplos: UFRGS 2014 Instrução: As questões de 01 a 11 estão relacionadas ao texto abaixo. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. O que havia de tão revolucionário na Revolução Francesa? Soberania popular, liberdade civil, igualdade perante a lei – as palavras hoje são ditas com tanta facilidade que somos incapazes de imaginar seu caráter explosivo em 1789. Para os franceses do Antigo Regime, os homens eram desiguais, e a desigualdade era uma boa coisa, adequada à ordem hierárquica que fora posta na natureza pela própria obra de Deus. A liberdade significava privilégio – isto é, literalmente, “lei privada”, uma prerrogativa especial para fazer algo negado a outras pessoas. O rei, como fonte de toda a lei, distribuía privilégios, pois havia sido ungido como o agente de Deus na terra. Durante todo o século XVIII, os filósofos do Iluminismo questionaram esses pressupostos, e os panfletistas profissionais conseguiram empanar a aura sagrada da coroa. Contudo, a desmontagem do quadro mental do Antigo Regime demandou violência iconoclasta, destruidora do mundo, revolucionária. Seria ótimo se pudéssemos associar a Revolução exclusivamente à Declaração dos Passada a prova do Enem, partimos agora ao encontro de novos desafios: os vestibulares de verão. Cada universidade apresenta características específicas que norteiam a elaboração da prova de Redação, regra seguida pela UFRGS. Para entendermos um pouco mais sobre como é corrigido o texto e o que será exigido nessa instituição, segue um modelo de Redação nota 10, do ano de 2010. O tema exigia que o aluno explorasse incivilidades e infrações cometidas cotidianamente e abordasse a forma como elas afetam a sociedade. Um mundo de cegos Já afirmava Claude Levi-Strauss que “o mundo começou sem o homem e poderá acabar sem ele”. Nessa perspectiva, a sociedade atual demonstra um paradoxo, visto que, apesar de a tecnologia corroborar a capacidade técnica e intelectual do homem, continuamos cometendo infrações e incivilidades diariamente. Lamentavelmente, muitas pessoas praticam incivilidades no cotidiano, as quais atestam o caráter egocêntrico do homem: ocupar assentos especiais em transportes coletivos, poluir o meio ambiente e não coletar as fezes de nosso animal de estimação são algumas das atitudes inconsequentes que manifestamos no dia a dia, as quais contribuem para uma realidade hostil e desagradável. Nesse sentido, a construção de uma sociedade sadia consiste em ter discernimento de que o espaço de nosso próximo co- 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. Direitos do Homem e do Cidadão, mas ela nasceu na violência e imprimiu seus princípios em um mundo violento. Os conquistadores da Bastilha não se limitaram a destruir um símbolo do despotismo real. Entre eles, 150 foram mortos ou feridos no assalto à prisão e, quando os sobreviventes apanharam o diretor, cortaram sua cabeça e desfilaram-na por Paris na ponta de uma lança. Como podemos captar esses momentos de loucura, quando tudo parecia possível e o mundo se afigurava como uma tábula rasa, apagada por uma onda de comoção popular e pronta para ser redesenhada? Parece incrível que um povo inteiro fosse capaz de se levantar e transformar as condições da vida cotidiana. Duzentos anos de experiências com admiráveis mundos novos tornaram-nos céticos quanto ao planejamento social. Retrospectivamente, a Revolução pode parecer um prelúdio ao totalitarismo. Pode ser. Mas um excesso de visão histórica retrospectiva pode distorcer o panorama de 1789. Os revolucionários franceses não eram nossos contemporâneos. E eram um conjunto de pessoas não excepcionais em circunstâncias excepcionais. Quando as coisas se desintegraram, eles reagiram a uma necessidade imperiosa de dar-lhes sentido, ordenando a sociedade segundo novos princípios. Esses princípios ainda permanecem como uma denúncia da tirania e da injustiça. Afinal, em que estava empenhada a Revolução Francesa? Liberdade, igualdade, fraternidade. ao se compreender o sentido de “exclusividade” da expressão “especial”, fica-se apenas com duas possibilidades: C e D. O sentido de “empanar” não pode ser “anular”, considerando-se que algo que foi empanado não desapareceu, apenas está encoberto, obscuro. Ainda na letra C, “descrentes” é sinônimo de “céticos”. Logo, o gabarito é a letra C. UFRGS 2014 Instrução: As questões de 20 a 25 estão relacionadas ao texto abaixo. Analisando-se a questão que exigia conhecimento vocabular, percebe-se que, 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. meça onde termina o nosso espaço. Assim, quando prejudicamos o nosso entorno, estamos impedindo que a cooperação minimize as mazelas latentes da sociedade moderna. As infrações que cometemos também prejudicam muito a construção de uma sociedade sadia: a sonegação de impostos é uma atitude tão condenável quanto o ato do político se valer das finanças públicas; a compra de produtos piratas engendra um tráfico que se conecta a tantos outros, como o tráfico de drogas e de armas, os quais aliciam desassistidos e vitimam inocentes; a ultrapassagem do sinal vermelho é uma infração grave, uma vez que recrudesce o trânsito violento que verificamos atualmente. Além disso, é imprescindível que mudemos o nosso “mundo particular”, porque tal mudança se reflete no “mundo coletivo”, do qual todos nós fazemos parte. Caso contrário, só confirmaremos o que Manuel Bandeira escreveu “a existência humana é uma aventura, de tal modo inconsequente”. O escritor português José Saramago, em seu livro “Ensaio sobre a Cegueira”, descreve uma sociedade que, paulatinamente, se torna cega. Metáforas à parte, é exatamente isso o que acontece com nossa sociedade, já que ignoramos que, não só infrações, mas também incivilidades prejudicam a construção de uma sociedade sadia, pois abdicamos de atitudes abnegadas para sermos completamente egoístas, cegos. Portanto, o mundo só atenuará suas mazelas quando percebermos que tudo depende de esforços coletivos, ou, como Saramago registrou, “se podes olhar, vê; se podes ver, repara”. (Fonte: caderno Vestibular de Zero Hora) Autora do texto: Clarissa Both Pinto Alguns comentários: Assim como em outros vestibulares que nos cercam, a UFRGS também exige que seja seguida a ordem estrutural de um texto dissertativo: Introdução – apresenta-se, com clareza e objetividade, o tema que será abordado (...apesar de a tecnologia corroborar a capacidade técnica e intelectual do homem, continuamos cometendo infrações e incivilidades diariamente.); Desenvolvimento – exploram-se argumentos consistentes e bem embasados, que sejam capazes de defender a tese apresentada pelo autor do texto. Faz-se importante a presença de exemplos que comprovem as ideias defendidas (...As infrações que cometemos também prejudicam muito a construção de uma sociedade sadia: a sonegação de impostos é uma atitude tão condenável quanto o ato do político se valer das finanças públicas; a compra de produtos piratas engendra um tráfico que se conecta a tantos outros, como o tráfico de drogas e de armas, os quais aliciam desassistidos e vitimam inocentes; a ultrapassagem do sinal vermelho é uma infração grave, uma Questão 07. Assinale a alternativa que apresenta sinônimos para as palavras especial (l. 12), empanar (l. 20) e céticos (l. 45), no contexto em que ocorrem. (A) notável – anular – descrentes (B) maravilhosa – embaçar – desfavoráveis (C) exclusiva – obscurecer – descrentes (D) exclusiva – anular – incrédulos (E) notável – obscurecer – desfavoráveis Entre as situações linguísticas que o português já viveu em seu contato com outras línguas, cabe considerar uma situação que se realiza em nossos dias: aquela em que ele é uma língua de emigrantes. Para o leitor brasileiro, soará talvez estranho que falemos aqui do português como uma língua de EMIGRANTES, pois o Brasil foi antes de mais nada um país para o qual se dirigiam em massa, durante mais de dois séculos, pessoas nascidas em vários países europeus e asiáticos; assim, para a maioria dos brasileiros, a representação mais natural é a da convivência no Brasil com IMIGRANTES vindos de outros países. Sabemos, entretanto, que, nos últimos cem anos, muitos falantes do português foram buscar melhores condições de vida, partindo não só de Portugal para o Brasil, mas também desses dois países para a América do Norte e para vários países da Europa: em certo momento, na década de 1970, viviam na região parisiense mais de um milhão de portugueses – uma população superior à que tinha então a cidade de Lisboa. Do Brasil, têm ........ nas últimas décadas muitos jovens e trabalhadores, dirigindo-se aos quatro cantos do mundo. A existência de comunidades de imigrantes é sempre uma situação delicada para os próprios imigrantes e para o país que os recebeu: normalmente, os imigrantes vão a países que têm interesse em usar sua força de trabalho, mas qualquer oscilação na 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. economia faz com que os nativos ........ sua presença como indesejável; as diferenças na cultura e na fala podem alimentar preconceitos e desencadear problemas reais de diferentes ordens. Em geral, proteger a cultura e a língua do imigrante não é um objetivo prioritário dos países hospedeiros, mas no caso do português tem havido ........ . Em certo momento, o português foi uma das línguas estrangeiras mais estudadas na França; e, em algumas cidades do Canadá e dos Estados Unidos, um mínimo de vida associativa tem garantido a sobrevivência de jornais editados em português, mantidos pelas próprias comunidades de origem portuguesa e brasileira. Adaptado de: ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O português como língua de emigrantes. In:___. O português da gente: a língua que estudamos a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006. p. 42-43. Questão 20. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas das linhas 25, 35 e 43, nesta ordem. (A) imigrado – incarem – exceções (B) emigrado – incarem – exceções (C) emigrado – encarem – exceções (D) imigrado – encarem – excessões (E) emigrado – encarem – exceções Nesta questão, que exigia conhecimento ortográfico, inicialmente trabalhou-se a diferença entre “imigrar” e “emigrar” (Imigrar quer dizer entrar em um país estranho, a fim de morar nele. Ao contrário de emigrar que significa sair de um país e ir morar em outro.). Como o texto trata da saída do Brasil para outros países, o correto é empregar a expressão “emigrar”. As outras expressões são corretamente escritas nas formas: “encarem” e “exceções”, portanto, letra C. Fique de olho: Conjunções; Pronomes; Artigos; Tempos verbais; Voz passiva; Pontuação; Regência. vez que recrudesce o trânsito violento que verificamos atualmente.) Conclusão – ratifica-se o tema abordado, bem como deve ser feito o fechamento do texto, reafirmando a tese anteriormente comprovada (...já que ignoramos que, não só infrações, mas também incivilidades prejudicam a construção de uma sociedade sadia, pois abdicamos de atitudes abnegadas para sermos completamente egoístas, cegos.); Observe que a linguagem utilizada apresenta um equilíbrio entre leveza, clareza e rebuscamento: o uso da 1ª pessoa do plural (continuamos, cometemos...) torna o texto mais leve e inclui o autor nas ideias abordadas; a utilização de conjunções e pronomes, todos corretamente empregados (além disso, já que, nesse sentido...), torna os enunciados coesos, por isso claros e coerentes; a seleção lexical bem elaborada tornou a escrita rebuscada, sem prejuízo à clareza (paradoxo, corroborar, realidade hostil, engendra...). Além do mais, tem-se nessa produção textual um exemplo de correta abordagem de tema, respeitando todos os limites da proposta. O desenvolvimento carrega argumentos suficientemente exemplificados, tornando comprobatória a defesa da tese. Para que o texto se tornasse mais atrativo, foram empregadas, corretamente, citações que realmente contribuíam com a argumentação pretendida. I - QUINHENTISMO: SÉCULO XVI III - ARCADISMO: SÉCULO XVIII 1 1 CONTEXTO HISTÓRICO: Grandes navegações; Pré-Capitalismo Comercial; Reforma Protestante; Contrarreforma Católica. 2 2 CARACTERÍSTICAS: A) LITERATURA DE VIAGEM (INFORMATIVA) Expansão comercial = Descritivismo. B) LITERATURA DE CATEQUESES (JESUÍTICA) Expansão religiosa: Autos de conversão. 3 3 AUTORES: A) LITERATURA DE VIAGEM Pero Vaz de Caminha – Carta a El-Rei D. Manuel: Descrição da paisagem humana e natural; metalismo. Hans Staden – Duas viagens ao Brasil: Etnocentrização sobre os costumes indígenas; prisioneiro dos tupinambás. Jean de Lery – Viagem a terra do Brasil: Relativização dos costumes indígenas; conviveu harmoniosamente com os tupinambás. CONTEXTO HISTÓRICO: Iluminismo; Revolução Francesa; Inconfidência Mineira. AUTORES: A) POESIA AMOROSA Cláudio Manuel da Costa (Glauceste Satúrnio e Nise) – Obras poéticas: Transição entre barroco (conteúdo) e Arcadismo (forma). Tomás Antônio Gonzaga (Dirceu e Marília) – Marília de Dirceu: Parte I = Galanteio; Parte II = Confessional; Parte III = Autoria questionada. Silva Alvarenga (Alcindo Palmireno e Glaura) – Glaura: Forma = Rondós e madrigais. Conteúdo = Amor galante. 2 CARACTERÍSTICAS: Bifrontismo histórico; dualidade humana; fugacidades da vida; formas tortuosas; emoção X razão. 3 AUTORES: A) LITERATURA CULTISTA: Linguagem exagerada. Gregório de Matos Poesia religiosa: Pecado Pecador Penitência Poesia lírica: Mulher branca = anjo e flor X Mulher negra = Misoginia e inversão de poder. Poesia política: Linguagem licenciosa, vocabulário “abrasileirado” e tipificações sociais. B) LITERATURA CONCEPTISTA: Linguagem enxuta. Padre Antônio Vieira Forma: Alegorias por meio de passagens bíblicas, método dialético de exposição de ideias. Conteúdo: Defesa da moral católica; defesa de tratamento mais humano aos escravos negros; contra a escravidão indígena; absorção dos novos cristãos; nacionalismo português. 6 AUTORES (PROSA): Joaquim Manuel de Macedo – A moreninha. José de Alencar – Lucíola; O guarani. Bernardo de Guimarães – A escrava Isaura; O seminarista. Visconde Taunay – Inocência. Franklin Távora – O cabeleira. Manuel Antônio de Almeida – Memórias de um sargento de milícias. 1 2 IV - ROMANTISMO: SÉCULO XIX 1 CONTEXTO HISTÓRICO: Era Napoleônica; Vinda da Família Real; Independência do Brasil; Segundo Reinado. 2 CARACTERÍSTICAS: Individualidade; subjetivismo; culto à natureza; evasão constante; liberdade formal. 3 4 AUTORES (POESIA): A) PRIMEIRA GERAÇÃO (NACIONALISTA) Poetas: Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias. Temas: Índio, natureza, saudades de pátria, religiosidade, amor impossível. CARACTERÍSTICAS DO REALISMO: Impessoalidade ; objetividade; racionalismo; verossimilhança; contemporaneidade; pessimismo; análise psicológica; objetividade linguística. CARACTERÍSTICAS DO REALISMO NO BRASIL: Antimonarquismo; anticlericalismo; antirromantismo. 4 AUTORES: Manuel de Oliveira Paiva – Dona Guidinha do Poço. Domingos Olímpio – Luzia-homem. Machado de Assis – Memórias póstumas de Brás Cubas. Forma: Personagens esféricas, microrrealismo, quebra da objetividade e da estrutura linear, fina ironia, extremo refinamento linguístico. Conteúdo: hipocrisia, egoísmo, vaidade, interesse, investigação da loucura, poder absoluto, parasitismo social total relativização de verdades absolutas, intenso pessimismo (niilismo), universalismo. VI - NATURALISMO: SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX 1 B) SEGUNDA GERAÇÃO (ULTRARROMÂNICA, EGÓICA, MAL DO CONTEXTO HISTÓRICO: II Revolução Industrial; Revolução Científica. 3 ROMANTISMO NO BRASIL: Indianismo; sertanismo; natureza brasileira (cor local); construção da identidade da nação. A) LEIS SOCIOLÓGICAS Determinismo histórico Determinismo do meio B) LEIS BIOLÓGICAS Determinismo biológico Determinismo dos instintos 3 CARACTERÍSTICAS DO NATURALISMO NO BRASIL: Antimonarquismo; anticlericalismo; antirromantismo. 4 AUTORES: Aluísio Azevedo –Casa de pensão (1884); O cortiço (1889). Inglês de Souza – O missionário (1888). Júlio Ribeiro – A carne (1888). Adolfo Caminha – A normalista (1893). AUTORES (TEATRO): Martins Pena: Linguagem coloquial; Comédias de costumes; Dilemas urbanos da época; Humor burlesco no universo rural. V - REALISMO: SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX II - BARROCO: SÉCULO XVII CONTEXTO HISTÓRICO: Contrarreforma Católica; Ciclo do Ouro na Bahia. 5 CONTEXTO HISTÓRICO: II Revolução Industrial; Revolução Científica. CARACTERÍSTICAS DO NATURALISMO: NATURALISMO = Características do Realismo — Análise psicológica e Objetividade linguística + Determinismo e Descritivismo científico D) CASO À PARTE: Autor: Sousândrade. Forma: Poeta experimental; Conteúdo: Filosofia existencial. B) POESIA SATÍRICA (POLÍTICA) Tomás Antônio Gonzaga – Cartas chilenas: C) POESIA ÉPICA Basílio da Gama (Termindo Sipílio) – O Uraguai: Banimento dos jesuítas pelas tropas lusoespanholas. Frei Santa Rita Durão – Caramuru: Intervenção civilizatória e religiosa. 2 C) TERCEIRA GERAÇÃO (CONDOREIRA) Autor: Castro Alves. Temas: Abolicionismo e amor erótico. CARACTERÍSTICAS: Mímesis; Locus amoenus; Fugere urbem; Carpe diem; Aurea mediocritas; Inutilia truncat. B) LITERATURA DE CATEQUESE Padre José de Anchieta – Autos de conversão: Plasticidade estética; simplicidade formal; maniqueísmo e cromatismo. 1 SÉCULO) Autores: Álvares de Azevedo; Casimiro de Abreu; Fagundes Varela e Junqueira Freire. Temas: Tédio existencial, orgia, morte, infância, medo do amor, sofrimento. VII - PARNASIANISMO: SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX 1 CONTEXTO HISTÓRICO: II Revolução Industrial; Revolução Científica. 2 CARACTERÍSTICAS: Torre de marfim; objetivismo; impessoalidade; arte pela arte:temática greco-romana;culto à forma: metrificação rigorosa; rimas ricas; predileção por sonetos; descritivismo de quadros plásticos e/ou estáticos. 3 AUTORES: Olavo Bilac: Antiguidade clássica, perfeição formal, lirismo existencial, ufanismo. Alberto de Oliveira: Pragmatismo parnasiano. Raimundo Correa: Niilismo, plasticidade, hipocrisia e falsidade da sociedade. VIII - SIMBOLISMO: SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX 1 CONTEXTO HISTÓRICO: II Revolução Industrial; Revolução Científica. 2 CARACTERÍSTICAS: Torre de marfim; rompimento entre artista e sociedade; subconsciente e inconsciente; irracional, ilógico, sonho, loucura. 3 AUTORES: Cruz e Sousa: Musicalidade, sinestesia, culto à brancura, filosofia meditativa, resistência racial, vida terra X vida supraterrena. (continuação item VIII) Semana de Arte Moderna: Ruptura com os princípios estéticos do passado, amostragem geral da prática modernista. Contra o academicismo plástico, o romantismo musical e o parnasianismo literário. Alphonsus de Guimarães: Morte da amada Constança, nostalgia, morbidez, solidão. Eduardo de Guimarães: Atmosfera fugidia, amada idealizada/divinizada. IX - PRÉ-MODERNISMO: 1900-1920 XI - MODERNISMO PRIMEIRA FASE: 1922-1930 1 1 2 3 CONTEXTO HISTÓRICO: Pacto Oligárquico; imigração européia; I Guerra Mundial. CARACTERÍSTICAS: Ruptura com o passado; linguagem coloquial; denúncia da realidade brasileira; regionalismo; tipos humanos marginalizados. 2 AUTORES: A) PROSA Euclides da Cunha – Os sertões (1902). Graça Aranha – Canaã (1902). Simões Lopes Neto – Contos gauchescos (1912). Lima Barreto – Triste fim de Policarpo Quaresma (1915). Monteiro Lobato – Urupês (1918). X - MODERNISMO SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922 1 2 CONTEXTO HISTÓRICO: Pacto Oligárquico; imigração européia; I Guerra Mundial; revoltas tenentistas; criação do Partido Comunista. CARACTERÍSTICAS DO REALISMO: A) ANTECEDENTES EUROPEUS Expressionismo: Reação ao impressionismo, ao naturalismo e ao Positivismo por meio do afastamento da realidade em expressões subjetivas. Futurismo: Exaltação ao mundo moderno, ruptura com o passado, eliminação dos sinais de pontuação. Cubismo: Vários pontos de vista representados por traços geométricos no mesmo plano. Dadaísmo: Oposição ao equilíbrio, ceticismo, improvisação, anarquia de gêneros na produção artística. B) ANTECEDENTES BRASILEIROS Poemas de 1917: Entre os autores, Manuel Bandeira e Mário de Andrade. Exposição de Anita Malfatti: Repudiada pela crítica de Monteiro Lobato. CONTEXTO HISTÓRICO: Revoltas tenentistas; criação do Partido Comunista; Crise de 29; Revolução de 30. CARACTERÍSTICAS: Absorção das vanguardas; liberdade de expressão; incorporação do cotidiano; linguagem coloquial; busca da expressão nacional. A) MOVIMENTOS PRIMITIVISTAS: Pau-Brasil (1924): Tamanduá – Composição ingênua, busca do Brasil arcaico, repúdio ao academicismo. Verde-Amarelo (1294): Índio – Composição ufanista, e retomada da tradição naturalista. Antropofágico (1928): Abaporu – Radicalização teórica do Movimento Pau-Brasil. Anta (1928): Anta – Consolidação do conservadorismo do Movimento Verde-Amarelo. B) POESIA Augusto dos Anjos – Eu (1912). 3 3 4 AUTORES: Oswald de Andrade – Serafim Ponte Grande. Mário de Andrade – Macunaíma. Raul Bopp – Cobra Norato. AUTORES (POESIA): Manuel Bandeira: Iconoclastia, infância, musicalidade, morte, erotismo, felicidade utópica, tristeza, solidão, desamparo, cotidiano, cultura popular, engajamento social. Cecília Meireles: Transcendência, religiosidade, tonalidades filosóficas, temática marítima, universalismo. Carlos Drummond de Andrade: Poesia metalinguística, infância, cotidiano, existencialismo sartriano, temática da guerra, engajamento social, amor vencendo o nonsense, desencontros do amor, amor erótico, humor sofisticado. Mário Quintana: Poesia versificada – Influência simbolista, influência surrealista, tom crepuscular, solidão urbana, morte. Quintanares – Ecletismo, infância, prosaísmo. Vinícius de Moraes: Poesia – Primeira fase = Religiosa; Segunda fase = Materialista. Dessacralização do amor, engajamento social. Música: Bossa Nova. Dramaturgia: Orfeu da Conceição. AUTORES (PROSA): Antônio de Alcântara Machado – Brás, Bexiga e Barra Funda. José Américo de Almeida – A bagaceira. Graciliano Ramos – São Bernardo; Vidas secas. Dyonélio Machado – Os ratos; O louco do Cati. José Lins do Rego – Fogo morto; Riacho doce. Érico Veríssimo – O tempo e o vento. Cyro Martins – Trilogia do gaúcho a pé. Raquel de Queiroz – O quinze. Jorge Amado – Capitães de areia; Jubiabá; Tocaia grande; Gabriela, cravo e canela; Dona Flor e seus dois maridos; Tieta do agreste. XII - MODERNISMO SEGUNDA FASE: 1930-1945 XIII - MODERNISMO TERCEIRA FASE: 1945-1960 1 1 2 CONTEXTO HISTÓRICO: Era Vargas; Guerra Civil Espanhola; II Guerra Mundial. CARACTERÍSTICAS: A) POESIA: NEOSSIMBOLISMO Inadequação social; necessidade de transcendência; metafísica existencial; linguagem coloquial; misto de métrica rígida e verso livre. B) PROSA: NEORREALISMO REGIONALISTA Verossimilhança; linguagem simples; denúncia social; abrangência social por tipificações; retomada do regionalismo. 2 CONTEXTO HISTÓRICO: Guerra Fria; fim da Era Vargas; Nova Constituinte; governos populistas. CARACTERÍSTICAS: A) POESIA: NEOPARNASIANISMO Valorização das formas fixas; Retomada da mitologia greco-romana; Enaltecimento das cidades europeias. B) POESIA: CONCRETISMO Reação contra a lírica discursiva e frequentemente retórica da Geração de 45, o Concretismo procurou filiar-se às experiências mais ousadas das vanguardas do século XX. Linguagem sintética, valorização da palavra solta. O poema ganha o espaço gráfico como agente estrutural, em função de que deverá ser lido/visto. Uso de recursos tipográficos, visuais e plásticos. C) PROSA: NEORREALISMO E REALISMO MÁGICO Rural: Retomada do regionalismo prémodernista. Urbana: Introspecção e análise psicológica. 3 AUTORES (POESIA): A) POESIA: NEOPARNASIANISMO: João Cabral de Melo Neto: Reflexão do fazer poético, reflexão da realidade; tonalidades filosóficas. B) POESIA: CONCRETISMO: Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos. 4 AUTORES (PROSA): A) VERTENTE RURAL Guimarães Rosa: Manuelzão e Miguilim; Sagarana. João Ubaldo Ribeiro: O sargento Getúlio; Viva o povo brasileiro. B) VERTENTE URBANA Clarice Lispector: Laços de família; A hora da estrela. Lygia Fagundes Telles: Antes do baile verde; Ciranda de pedra. Antônio Callado: Quarup. Dalton Trevisan: O vampiro de Curitiba. XIV - PÓS-MODERNISMO: 1960-HOJE 1 CONTEXTO HISTÓRICO: Golpe de 64; Tropicália; abertura política; Constituição de 1988; Impeachment de Fernando Collor; Plano Real. 2 CARACTERÍSTICAS/AUTORES/ NOVAS ABORDAGENS: A) CRÔNICA: Registra a vida diária, entretanto somente os acontecimentos que são marcantes no dia-a-dia. Fernando Sabino definiu-a como a “busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um”. Rubem Braga: A borboleta amarela; O conde e o passarinho. Fernando Sabino: O homem nu. Luiz Fernando Veríssimo: Comédias da vida privada; Ed Mort. B) TEATRO: Nelson Rodrigues Peças psicológicas: Vestido de noiva. Peças míticas: Senhora dos afogados. Tragédias cariocas: Perdoa-me por me traíres; Beijo no asfalto; Bonitinha, mas ordinária; Toda nudez será castigada. 1 – CAETANO VELOSO, GILBERTO GIL, MUTANTES E OUTROS TROPICÁLIA OU PANIS ET CIRCENSIS (álbum/ disco) No ano de 1968, teve início o movimento musical mais importante de todo esse contexto: o Tropicalismo. Este se trata de uma legítima retomada dos ideais vanguardistas e antropofágicos de Oswald de Andrade, trazendo, portanto, um caráter extremamente iconoclasta e experimental. Propondo uma mescla de ritmos latinoamericanos, do pop internacional e de todo tipo de ritmos brasileiros, o LP TROPICÁLIA OU PANIS ET CIRCENSIS, coletânea composto por Caetano Veloso, Gilberto Gil e Mutantes, entre outros artistas da época, encontrou anteparo nas mais variadas formas de cultura, colaborando para que o movimento se tornasse conhecido pela utilização, em larga escala, da paródia e do deboche para promover uma síntese crítica da realidade nacional de então. Interessante observar que um fenômeno musical que se pretendia popular como a MPB, tomado genericamente em quaisquer tendências, acabaria por se tornar, nas décadas seguintes, e, sobretudo atualmente, símbolo de erudição e alta cultura. (Professor Júnior “Argentino”) 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. Guerras Greco-Pérsicas Majestic Hotel Não chore, papai Café Paris A dama do bar Nevada Um aceno na garoa No tempo do trio Los Panchos Conto do inverno Dançar tango em Porto Alegre. DANÇAR TANGO EM PORTO ALEGRE, de Sérgio Faraco, dividido em três partes - Contos fronteiriços, Contos Juvenis, e Contos urbanos – traz, entre suas características relevantes, o fato de que o autor registra em sua literatura os hábitos locais rio-grandenses, pautados pela miscigenação cultural, sobretudo por se tratar de uma região de fronteira com países de língua espanhola, o que fica claro na oralidade empregada nos contos. Outro detalhe que se pode observar é o movimento de deslocamento do campo para a cidade, marcando a transição do Rio Grande do Sul tradicional para o moderno, conforme já citado por outros autores, como os Contos gauchescos, de Simões Lopes Neto, e a Trilogia do gaúcho a pé, de Cyro Martins. (Professora Andreia Raupp) ___________________________________________ ___________________________________________ 2 – LÍDIA JORGE A NOITE DAS MULHERES CANTORAS O romance A NOITE DAS MULHERES CANTORAS, da escritora portuguesa Lídia Jorge, publicado em 2011, é um livro que fala sobre ambições, e como para atingi-las podemos abandonar parte da nossa identidade. Conta a história de um grupo de cantoras da década de 1980, em Portugal, que tem como líder e financiadora Gisela Batista, e como ela influencia na vida das outras quatro integrantes na sua busca pelo sucesso e a gravação de um disco. A personagem-narradora é Solange de Matos, que através de monólogo interior (narração em primeira pessoa), conta a história da banda e o seu relacionamento amoroso com o coreógrafo do grupo, João de Lucena. Destaque para dois aspectos: a admiração que Solange nutre por Gisela; e o aspecto histórico para volta dos “retornados”, portugueses que voltaram da África após esta adquirir sua independência em relação a Portugal. (Professor Pablo Kmohan) ___________________________________________ 3 – TABAJARA RUAS O AMOR DE PEDRO POR JOÃO O AMOR DE PEDRO POR JOÃO, de Tabajara Ruas, é um romance em que histórias se entrelaçam pela dor e pela resistência ao regime político ditatorial, no Brasil, na década de 1970. Narra a história dos amigos Marcelo, Hermes e Micuim, colegas de faculdade. Bia, a irmã de Marcelo, logo se envolve com Hermes; e Marcelo, por sua vez, apaixona-se por Mara, uma guerrilheira que ele e Micuim tentam livrar da perseguição. Josias é um velho comunista, influenciado por seu amigo Degrazzia, e carrega a mágoa de não ter reencontrado o filho Sepé Tiaraju, que deserta do exército em favor da guerrilha. O romance é publicado apenas na década de 1990, mesmo tendo sido escrito durante o exílio do autor, na Dinamarca, nos anos 1970. Era uma época de nova fase, pautada pelo individualismo e pela derrocada dos costumes patriarcais/conservadores. Os escritores passaram a uma fase de desmoronamento da realidade, por vezes beirando o caos. Com a queda do muro de Berlim a intelectualidade brasileira entrou em uma fase ceticismo, são os “órfãos de utopia”, que ora abriam mão de suas ideologias, deixando-se envolver pelo capitalismo liberal, ora entregavam-se a mais profunda melancolia, marcada pelo extremo saudosismo, caso da maioria das personagens do romance. (Professora Andreia Raupp) ___________________________________________ 4 – SERGIO FARACO DANÇAR TANGO EM PORTO ALEGRE Relação de contos do livro: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Dois guaxos Travessia Noite de matar um homem Guapear com frangos O vôo da garça-pequena Sesmarias do urutau mugidor A língua do cão chinês Idolatria Outro brinde para Alice 5 – JORGE AMADO TERRAS DO SEM FIM Sobre o romance TERRAS DO SEM FIM, de Jorge Amado, percebemos marcas que determinam os comportamentos dos personagens. Esses estão representados a partir do gênero, da raça e da sua classe social. Parte-se do pressuposto que o romance citado revela o homem do campo, como sujeito que modifica sua maneira de pensar, bem como suas expectativas quanto ao trabalho neste espaço social e sua transformação moral e ética através do espaço em que se encontra. O espaço determinando o caráter moral. Verificamos, ainda, questões relacionadas à identidade e à cultura, no contexto ficcional, que o autor da obra constrói, uma vez que há uma multiplicidade de identidades dos seres que estão em constante movimento, oriundos de diversos lugares, e, portanto, possuidores de marcas culturais diversas, onde o dominador negocia seu poder com o dominado Assim, questionam-se as diferentes maneiras de experimentar o mundo dos personagens, suas expectativas, necessidades, sua opção pelos modos de vida, suas transformações culturais, sociais e morais. (Professora Cláudia Fernandes) PARTE 1: O NAVIO – Chegada de JOÃO MAGALHÃES, lembrando-se do anel de engenheiro que ganhou em um jogo. JUCA BADARÓ escolhe e contrata alguns homens para trabalhar para ele. João Magalhães é apresentado por Juca ao coronel MANECA DANTAS e ao coronel FERREIRINHA. Coronel TOTONHO. Um caixeiro-viajante alerta MARGOT do perigo de se envolver com Juca Badaró. Ela diz que seu interesse é visitar VIRGÍLIO CABRAL, advogado do coronel Horácio. FERNANDO anda pelo navio praticando pequenos furtos entre os passageiros. O comandante e o imediato atravessam o navio e confessa ao imediato que se sente com em um navio negreiro, transportando escravos. PARTE 2: A MATA – Conta-se histórias sobre as maldades do coronel Horácio, da fazenda Bom Nome, inclusive um pacto com o diabo. ESTER, esposa do coronel Horácio, compara a mesquinhez de sua vida ao glamour da vida de sua amiga Lúcia na Europa. As disputas pelas terras do Sequeiro Grande fazem com que Juca mande os jagunços DAMIÃO e Viriato aguardam de tocaia para matar Firmo. Damião pela primeira vez tem remorsos pelos crimes que cometera. Ester está encantada com a educação e sofisticação de Virgílio. Antônio Vítor está interessado na mulata RAIMUNDA, filha de Risoleta, a finada ama de leite de DON’ANA, filha de SINHÔ BADARÓ. Firmo aparece apavorado, fugiu quando Damião errou o tiro destinado a ele. Na casa dos Badaró estão reunidos para a leitura da bíblia, e enquanto Don’Ana lê, Sinhô procura respostas para seus conflitos do cotidiano. No mato do Sequeiro Grande vive JEREMIAS, um curandeiro que sempre emite várias profecias negativas quanto à derrubada da floresta. Damião chega desesperado pedindo ajuda, pois acha ser vítima de feitiço. Jeremias invoca seus deuses em uma longa profecia sobre os horrores que se aproximam e morre. PARTE 3: GESTAÇÃO DAS CIDADES – O povoado de Tabocas por ser um território político de Horácio, porém o governador, apoiado pelos Badaró, nega-se a ceder a emancipação. Os moradores já se portavam como se fosse uma cidade, deram-lhe o nome de ITABUNA. Os Badaró conseguem a nomeação de um delegado para irritar Horácio. O prefeito de Ilhéus nomeia VICENTE CARANGAU, com fama de valente, ex-capanga de Juca. Morre em uma perseguição a um empregado de Horácio, arrancam-lhe a pele, as orelhas e os testículos e mandam ao prefeito de Ilhéus. O DR. JESSÉ antedia aos doentes apoiadores dos Silveira, enquanto DR. PEDRO atendia aos doentes dos Badaró. TESOURA DE PARIS, a alfaiataria de TONICO BORGES é o local onde se comenta todas as novidades. Dr. Jessé dedica-se ao grupo de teatro Amadores Taboquenses. Vai à casa de Margot para avisar Horácio, que conversa com Virgílio, sobre o agrônomo. Fica sabendo do caxixe: as terras do Sequeiro Grande já foram registradas em nome de Horário e seus associados a partir de uma medição antiga. O comerciante AZEVEDO manda o negro MILITÃO levar uma carta a Sinhô contando o que ocorrera. Juca e Sinhô estão em Ilhéus, mas Don’Ana recebe a carta e fica furiosa com a notícia. Teodoro e seus jagunços colocam fogo no cartório de VENÂNCIO. PARTE 4: O MAR – MANUEL OLIVEIRA é diretor de O COMÉRCIO, jornal dos Badaró. Juca convence João Magalhães a fazer a medição das terras do Sequeiro Grande. João, que não é nem militar, nem engenheiro reluta em aceitar. Virgílio vai ao encontro que tinha marcado com Ester e ela se entrega a ele. João apresenta formalmente Juca a Margot. A cidade prospera sem conhecer diferença de classe ou raça, a posse de terras era o fator de distinção. FILEMON ANDREIA mesmo sem saber escrever era o diretor do jornal A FOLHA DE ILHÉUS, jornal dos Silveira, mas quem realmente escreve é DR. RUI FONSECA. DR. GENARO também escrevia no O COMÉRCIO. No caminho para a cidade, João fica com medo de que os Badaró descubram suas mentiras, mas está interessado demais em Don’Ana para desistir de tudo e fugir. FREI BENTO E CÔNEGO FREITAS jogam da melhor forma possível entre a rivalidade dos Silveira e dos Badaró. Na procissão de São Jorge todos riem quando o andor de São Jorge sai às ruas, de um lado carregado por Horário, de outro lado carregado por Sinhô. PARTE 5: A LUTA – Em meio à verdadeira guerra, as pragas do negro Jeremias são cantadas por Damião pelas ruas. Virgílio dança com Margot a pedido dela, mas são surpreendidos por Juca. Virgílio, Maneca e Horário conversam sobre os boatos de que Virgílio se acovardou diante de Juca. Horácio insiste para que Virgílio mande matar Juca. Na tocaia contra Juca, Antônio Vítor mais uma vez salva a vida do patrão. Juca fala do pedido de casamento de Antônio Vítor a Raimunda e pede que o irmão esqueça o passado de João e o case com Don’Ana. Sinhô aceita e manda registrar um pedaço de terras em nome de Antônio Vítor e Raimunda. Horácio está contaminado com a febre (tifo), mas não morre. Ester contrai a febre, mas consegue conversar com Virgílio antes de morrer. Don’Ana se casa com João Magalhães no mesmo dia em que Raimunda se casa com Antônio Vítor. Juca leva um tiro enquanto almoça com um amigo e morre. Antes ainda pede a Sinhô que ampare Margot. O governo federal intervém na Bahia e os Silveira deixam de ser oposição. Dr. Jessé é nomeado prefeito de Ilhéus e Braz delegado. Horácio é avisado de que parte de sua plantação tinha sido incendiada. Inicia o cerco à casa dos Badaró onde Teodoro está escondido. Teodoro foge e Antônio Vítor escolta toda família que vai embora. Dentro da casa um tiro recebe Braz e Horácio, é Don’Ana que havia voltado. Horácio a expulsa dizendo que não mata mulheres e eles colocam fogo na casa. O julgamento decide que as terras ficarão com Horácio e seus associados. Os Badaró economicamente estão mal e não são mais adversários a altura dos Silveira. DR. FAUSTO AGUIAR vem ajudar Dr. Genaro na promotoria, mas o promotor faz uma acusação fraca por ser apoiador político de Horácio. Um menino é chamado para sortear os jurados e acompanha atentamente o julgamento. Dr. Virgílio desbancou a testemunha dos Badaró, o homem de anelão falso, Fernando, que segundo todos sabem, não passava de um ladrão que já roubara muitos. Horácio é absolvido por unanimidade. PARTE 6: O PROGRESSO – Horácio chega à casa de Maneca e conta que descobriu umas cartas em que confirma que Ester o havia traído com Virgílio, e avisa o amigo que vai mandar matar Virgílio. Maneca tenta impedir a tocaia contra Virgílio, que se recusa a ficar e sai sozinho. Ilhéus está reunida em grande festa para a chegada do primeiro bispo após a paróquia da cidade ser promovida a diocese. Nas eleições seguintes Dr. Jessé é eleito deputado, e um decreto cria o município de Itabuna. A sede fica no ex-arraial de Tabocas, com uma ponte ligando os dois lados da cidade. Horácio apoia a eleição de Azevedo, que é eleito o primeiro prefeito de Itabuna. É construído um prédio para a prefeitura, e as obras do trem são concluídas. Na festa de comemoração pela emancipação de Itabuna, o promotor faz uma homenagem a Horácio. Brindam em memória de Ester e de Virgílio, esse, segundo o promotor, morto por inimigos políticos. Os cacaueiros do Sequeiro Grande deram seus frutos precocemente no início de quarto ano, ao contrário dos cinco anos mínimos para uma árvore de cacau dar seus frutos. ___________________________________________ 6 – NELSON RODRIGUES BOCA DE OURO Em BOCA DE OURO, de Nelson Rodrigues, encontramos o disfarce dos sentimentos e dos desejos, além da infinidade de ângulos de que se pode ver a personalidade do bicheiro de Madureira, mais dissolvendo-a do que a reconstituindo. A relevância da peça consiste em chamar a atenção ao papel ambíguo reservado à imprensa que promove o sensacionalismo, preferindo diluir a história do bicheiro a revelar para a sociedade as ligações do crime e da contravenção com a alta sociedade. (Professor André Alfama) PRIMEIRO ATO: Boca de Ouro, que ainda não tinha esse apelido está em uma consulta no dentista, que comenta a perfeição de seus dentes. Sendo um banqueiro de jogo do bicho com muito dinheiro, pede ao dentista que arranque seus dentes e coloque uma dentadura de ouro. Mediante suborno o dentista aceita. Duarte, repórter do jornal “O dia”, liga para a redação e avisa que Boca de Ouro fora assassinado. Como Duarte já estava cobrindo o local do crime, o secretário pede a Caveirinha e a um fotógrafo para irem conversar com Guigui, examante de Boca, mas antes entra em contato com Dr. Pontual, diretor do jornal, para saber a posição do jornal sobre o defunto. Eram contra Boca de Ouro e procuravam alguma história terrível contra ele. Chegando à casa de Guigui são recebidos por Agenor, marido dela, que fica desconfiado, mas chama a mulher. Mesmo com o medo do marido, de levar um tiro do bicheiro, Guigui quer falar o que sabe. Caveirinha pede que ela conte um grande crime, e ela começa a contar a história de Leleco e sua esposa, Celeste. Celeste acorda o marido para ir trabalhar, mas ele conta que perdeu o emprego. Ela pede o dinheiro da indenização, e Leleco conta que perdeu seus direitos, pois agrediu o chefe que falara mal de seu time. Guigui avisa que Leleco está ali para falar com Boca. Leleco pede dinheiro para o enterro da sogra. Pede dez mil, mas Boca oferece cem, mas apenas se Celeste viesse buscá-lo sozinha. Boca tenta agarrar Celeste a força, mas ela ameaça gritar dizendo que o marido daria um tiro nele. Boca de Ouro debocha, vai ao corredor e chama Leleco. Dá uma arma e conta o que aconteceu ameaçando que ou matava, ou morreria. Leleco não tem coragem, e Boca continua debochando deles, dizendo para o marido mandar Celeste para o quarto do bicheiro. Ele implora, e a mulher vai. Boca diz que não vai dar o dinheiro e o jovem fala do episódio do nascimento de Boca em uma pia de gafieira. Boca de Ouro mata Leleco a coronhadas. SEGUNDO ATO: Caveirinha interroga sobre o destino do corpo e Guiomar conta que Boca largou em um matagal na Tijuca. Eles se lembram da notícia no jornal, e do crime que não fora solucionado, ainda pensam se havia o corpo de uma mulher também, mas não conseguem lembrar. Agenor aparece contando que sabe que será morto quando a notícia for publicada. Caveirinha afirma que Boca de Ouro fora assassinado. Guigui logo começa a lamentar e chorar a morte do bicheiro e afirma que tudo que disse foi por dor de cotovelo e prepara outra versão para a história. Boca conversa com um homem a quem chama de Preto. Ele havia conhecido a mãe do bicheiro e responde ao interrogatório desse, que soube da amizade de ambos através de um vidente (Zezinho). Preto conta que ela era gorda, teve bexiga, suava muito e morreu de tanto rir. Boca dá 500 cruzeiros ao homem que pediu que o bicheiro cuidasse de seu enterro quando morresse. Celeste chega da rua afirma que passou a tarde no dentista, mas o marido diz que jogou o número da placa do Chevrolet onde viu a esposa com um velho barrigudo. Ela diz que teve um caso com o velho porque ele prometera levá-la a Europa para que Celeste conhecesse Grace Kelly. O marido fica enfurecido e diz que foi demitido e que viverão à custa do amante. Celeste conta que eles terminaram, e Leleco afirma que tem outro, cheio do dinheiro que eles podem procurar, é Boca de Ouro. Celeste vai à casa de Boca, tentando seduzi-lo, mas é interrompida pelo aviso de Guigui que as granfas (mulheres ricas) chegaram. Foram pedir doações para famílias de doentes de câncer. A mulher que já o conhecia pede que conte a história da pia de gafieira, ao que Boca avisa que se a pergunta tivesse partido de um homem, teria dado um tiro. Ele conta que nasceu em uma pia, e que a mãe logo voltou à pista de dança da gafieira, abandonando-o. Resolve humilhar as mulheres oferecendo um colar de pérolas a quem tivesse os seios mais bonitos. Fez cada uma mostrar os seios, repudiando cada uma delas e terminou por dar o colar a Celeste. Ela disse que fugiu do marido, que a mãe estava morta, Boca a abraça. Leleco aparece e exige que a esposa vá com ele. Boca pega um punhal, e Leleco saca o revólver mandando o bicheiro soltar a arma. Boca de Ouro solta, mas não se acovarda. Diante disso, Celeste pega o punhal e crava nas costas do marido, matando-o. TERCEIRO ATO: O fotógrafo bate alguns retratos enquanto Agenor aparece com as malas dizendo que vai embora. Conta que Guigui, após tê-lo abandonado com os três filhos para ficar com Boca, quando foi chutada por ele virou do casal, resolveu buscá-la. Caveirinha tenta a todo custo reconciliar o casal, propondo que ambos se desculpem pelas ofensas trocadas. O casal se abraça emocionado com a reconciliação enquanto o fotógrafo bate mais retratos. Com os ânimos mais calmos, Caveirinha tenta retomar os detalhes da conversa, mas Guigui inicia uma nova versão para a história. Leleco, de revólver em punho, insiste para que Celeste assuma a traição. Ela conta que era amante de Boca de Ouro. Ele debocha da esposa, dizendo que jogou no bicho o número da placa do carro em que viu a esposa com o amante e que, caso não ganhe, vai matá-la, suicidando-se depois. Leleco questiona os motivos da traição e Celeste começa a contar uma história de quando era menina, com bolsa de estudos em uma escola particular, onde era obrigada a fazer trabalhos domésticos no recreio, enquanto as colegas se divertiam. Leleco perde o jogo, mas Celeste afirma que mesmo assim ainda pode conseguir o dinheiro. Celeste chega e conta que o marido está armado e vindo falar com Boca, e esse a manda esperá-lo em seu quarto. Leleco chega indagando se o caixão de Boca está pronto, e pergunta se é verdade que ele derrete as alianças das mulheres que papa para seu caixão de ouro. O marido então diz que apostou o número da placa do carro em que viu sua traição e diz que ganhou. O bicheiro confere que o rapaz não ganhou. Leleco puxa a arma e ameaça Boca, enquanto Celeste sai do quarto, distrai sua atenção e o bicheiro tem tempo para pegar a arma e derrubá-lo com uma coronhada. Ela pede o dinheiro do prêmio a Boca, que muda de assunto e diz que ambos matarão Leleco para que ela não o acuse depois. Ele desfere golpes com o revólver e Celeste com um punhal. Boca chama por Guigui e a manda limpar o sangue. Boca pede que Celeste vá embora, que depois ele se livra do corpo, pois precisa receber uma visita. Enciumada ela resolve ficar, mesmo Boca de Ouro avisando que se trata de uma mulher que vai entrar para uma ordem religiosa. Maria Luísa chega e Celeste a reconhece, era a colega de colégio que tanto odiava. Maria Luísa tenta conversar com Celeste que responde de modo ríspido, sentindo ciúmes da amizade dos dois. Boca de Ouro afirma que Maria Luísa queria apenas batizá-lo, ao que ela confirma, dizendo que Boca é um santo que nunca matou ninguém como diziam. Celeste mostra o corpo do marido morto atrás de um móvel e conta o que fizeram. Boca diz que agora precisa eliminar mais alguém. Celeste grita para a mulher dizendo que antes que Boca de Ouro a mate, saiba que ela nunca mais andará de ônibus. Boca vira-se para Celeste e diz que quem morrerá e ela, e a golpeia com uma navalha. Maria Luísa assusta-se e fica indignada com ele. Boca diz que depois largará os dois corpos na Tijuca, e manda que ela saia, mas ela entra no quarto dele. Diante do Instituto Médico Legal, o locutor César fala da morte de Boca de Ouro. Caveirinha chega descobre que o corpo de Boca fora encontrado desdentado, decepcionado muitas pessoas que foram lá para vê-lo. O locutor informa que ele morreu com 29 facadas, assassinado por Maria Luísa e encerra a transmissão. ___________________________________________ 7 – MURILO RUBIÃO CONTOS SELECIONADOS A escolha dessa obra visa uma reflexão sobre os CONTOS SELECIONADOS, de Murilo Rubião, e tem como intuito principal conhecer a literatura fantástica, bem como a capacidade de trazer um pensamento sobre as atitudes contemporâneas. O tom melodramático dos contos, pontuados, certamente, pela ironia, que dá lugar ao riso, à piada, e ao tom jocoso que substitui a atmosfera anterior, com relação à semelhança com um mundo maravilhoso onde tudo pode acontecer. No que diz respeito à conceituação do fantástico, a partir de sua construção dentro da narrativa, vai deixando de lado a reação do leitor, a afirmativa de que a narrativa fantástica partia de uma situação perfeitamente natural para alcançar o sobrenatural. Sua obra é definida até hoje como pertencente ao fantástico, ao realismo mágico, ao absurdo, ao sobrenatural. Com isso, podemos perceber que o conto fantástico nos leva a ver o nosso mundo de maneira mais critica ,analisando assim a conduta do homem moderno. (Professora Cláudia Fernandes) ** NARRAÇÃO EM PRIMEIRA PESSOA O PIROTECNICO ZACARIAS: Zacarias anda pelas ruas, enquanto uns acreditam que seja o defunto pirotécnico, outros acreditam que se trata de alguém muito parecido. Fora atropelado por um grupo de jovens que ia a uma festa. Enquanto discutiam o destino para o cadáver, Zacarias resolver interferir, o que fez um dos rapazes, Jorginho, desmaiar de susto. Abandonaram o desmaiado na estrada e levaram o defunto para a festa. Sentiu a ressaca do dia seguinte e seguiu sua vida normalmente, sentindo-se mais vivo do que antes. O EX-MÁGICO DA TABERNA MINHOTA: Foi atirado à vida sem nenhuma transição de infância para a idade adulta em frente ao espelho da Taberna Minhota. Passou a divertir os fregueses da taberna, tirando as mais improváveis coisas dos bolsos sem nenhuma lógica ou explicação. Foi trabalhar no Circo Parque Andaluz e ficou famoso perdendo a paz. Tentou várias vezes se suicidar sem nenhum êxito, até que ouviu dizer que ser funcionário público era morrer aos poucos e resolveu tentar. Apaixonou-se por uma datilógrafa que o desprezava. Foi ao chefe e reclamou sua estabilidade já que tinha dez anos de trabalho. O chefe riu-se dele por estar no serviço há apenas um ano. O exmágico tentou sacar uma prova em seu bolso, mas perdera seus poderes mágicos. Passou os anos a suspirar e lastimar um mundo encantado onde pudesse fazer suas mágicas. BÁRBARA: Bárbara gostava de fazer pedidos da mesma forma que o narrador, seu esposo, gostava de atendêlos. Quanto mais pedidos eram realizados, mais engordava. Certa vez ele se recusou a atender um pedido de Bárbara e ela deixou de falar com ele, emagreceu tanto que o marido teve medo que ela morresse. Estava grávida. Pediu o oceano, o marido veio com apenas uma garrafinha com água do mar, com a qual ela esteve satisfeita até que o bebê nasceu, magro e feio, e Bárbara estava ainda mais gorda do que antes. Foi então que ela lhe pediu uma árvore de dez metros, mas não se contentou com um galho e o marido comprou o terreno com a árvore toda. Depois pediu um navio e ficou lá por largo tempo. O marido buscava recursos para alimentar o bebê que ela repeliu, pois não havia pedido por ele. Olhando para o céu, ela pediu uma estrela ao que ele atendeu prontamente e foi buscar. OFÉLIA, MEU CACHIMBO E O MAR: O narrador gostava de sentar em frente ao mar todas as noites e contar histórias a Ofélia. Contou que quando seu pai morreu foi morar no litoral, mas que um acidente ao desembarcar inutilizou seu pé impedindo-o de ser marinheiro. Era neto de José Henrique Ruivãs, comandante de navio negreiro que se entediou após a abolição dos escravos. O avô do narrador contentou-se em apenas fazer barcos de madeira, e o pai nem isso quis. No litoral havia conhecido sua esposa, Alzira, que mesmo sendo uma rica viúva, não se casou com ela por sua beleza ou fortuna, mas por ter cheiro de lagosta. Ofélia late e o narrador que reclama a falta de paciência do animal em aceitar as histórias dele, já que ele desejava tanto que elas tivessem acontecido. OS DRAGÕES: Dragões chegaram a uma cidade e sofreram muito com seus costumes retrógrados. Um velho professor sem filhos tempos depois, quando sobraram apenas dois dragões, ficou encarregado de cuidar da educação deles. Os dois sobreviventes eram os mais corrompidos, fugiam todas as noites para beber. Odorico, o mais velho enrabichava-se pelas moças e uma delas largou o marido para ir viver com ele. Algum tempo depois ele foi morto, provavelmente pelo marido traído. O professor e sua esposa, Joana, canalizaram toda sua atenção para cuidar do mais novo, João. Começou a vomitar fogo, atraindo a atenção dos outros jovens. Quando um circo passou pela cidade, deram pouca importância aos espetáculos, dizendo que o dragão era mais interessante. Algum tempo depois que o circo foi embora, João desapareceu. E nunca mais nenhum dragão passou pela cidade e ficou por lá. TELECO, O COELHINHO: O narrador estava em frente ao mar quando ouviu alguém lhe pedir um cigarro e que se afastasse da frente do mar. O narrador observou que se tratava de um coelhinho. Conversou com Teleco e o convidou para morar com ele. Teleco sente medo, pensando que o homem estava interessado em comer carne de coelho e se transforma em uma girafa. Teleco vai morar com o narrador e tornam-se grandes amigos, até que, certo dia, Teleco transforma-se em um canguru, dizendo que era homem, acompanhado de Tereza, sua namorada. O narrador fica irritado, mas por ter se apaixonado pela mulher, permite que Teleco, agora Antônio Barbosa, fique em sua casa até conseguir um trabalho e se mudar com Tereza. Durante uma briga, bateu em Teleco e o casal foi embora. Certo dia Teleco saltou pela janela, transformado em cachorro, e começou a surtar transformando-se em diversos animais. Passou dias doente, com febre, o amigo entendeu que fora traído por Tereza. Em uma noite, nos braços do amigo Teleco parou de se transformar, era uma criança morta. O HOMEM DO BONÉ CINZENTO: O narrador conta que sua cidade era muito sossegada até a chegada da mudança de um velho magro a um antigo hotel em ruínas. Artur, irmão do narrador, ocupou-se em cuidar os movimentos do velho Anatólio que todas as tardes, às 5 horas ia ao alpendre acompanhado de um cachorro, fumava e voltava para dentro. Artur ainda comenta que cada dia o velho estava mais magro, ao que o narrador debocha dizendo não ser possível que emagrecesse ainda mais. Perceberam que o homem começou a ficar transparente, até que um dia vomitou fogo, escorrendo uma baba em chamas pelo corpo, incendiando o velho ficando apenas o boné cinzento. O narrador olhou para o irmão e percebeu que ele encolheu tanto que virou uma pequena bolinha e escorreu-lhe pelas mãos. ** NARRAÇÃO EM TERCEIRA PESSOA A CIDADE: O trem parou e Cariba, irritado, foi perguntar o funcionário o que acontecia. Esse mostrou a Cariba um povoado no morro e o viajante resolveu ir até lá. Quando perguntou onde estava, prenderam-no e levaram-no ao delegado, dizendo se tratar do homem que procuravam. Levaram-no a julgamento com testemunhas que nem o conheciam, como a prostituta Viegas, que forjou respostas comprometedoras para o forasteiro. Cariba vai preso, segundo o delegado, até que apareça alguém que atenda melhor às características enviadas por telegrama pelo chefe de polícia, dizendo que o delinquente tinha o mal-hábito de fazer perguntas. Meses depois, ele pergunta a um guarda se havia aparecido o procurado, e o rapaz responde que apenas ele fazia perguntas naquela cidade. A FLOR DE VIDRO: Eronides estava entediado em sua fazenda, quando recebeu a notícia de que Marialice estava chegando. Ao encontrar seu grande amor na estação de trem, sua venda desapareceu dos olhos e Marialice parecia mais jovem. Passaram a noite juntos e no dia seguinte a mulher parecia uma moça de dezoito anos. Saíram a passear pelo campo, abraçados e ele corre em direção ao mato e traz a ela uma flor azul. Cada vez que tinha a impressão de ver a flor de vidro no alto de uma das árvores, abraçava Marialice ainda mais. No final das férias ele levou a mulher à estação de trem e, no retorno furou um dos olhos em um galho. O EDIFÍCIO: O engenheiro João Gaspar é avisado pelo conselho de velhos que dirige a obra, que não tentasse termina-la, pois morreria antes do prédio ser concluído. A cada 50 andares concluídos oferecia uma festa aos funcionários e assim ia envelhecendo. Houve enorme briga na festa do 800º andar, onde até João saiu ferido. Ficou alguns dias em casa, mas logo os trabalhadores vieram buscá-lo para dar continuidade às obras. Próximo aos 900 andares não encontrou mais o conselho dos velhos, pois estavam todos mortos. Resolveu dispensar os empregados, mas eles se recusaram a parar, e vinham voluntariamente, tendo ajuda, inclusive, de moradores de outras cidades. A obra nunca parou. O LODO: Galateu pensava se encontrar uma depressão comum quando procurou a clínica do terapeuta Dr. Pink, mas desistiu do tratamento. A secretária liga para Galateu informando dos horários marcados e do pagamento mensal, mesmo contra sua vontade. O médico insistia telefonando e perseguindo Galateu, dizendo que havia dentro de seu paciente um imenso lodaçal. Lembranças do passado insistem e Galateu tem medo de que o médico descubra. Teve um pesadelo que sua irmã, Epsila, e o médico estavam debruçados sobre ele, enquanto Dr. Pink operava-lhe com uma faca. Brotou em seu mamilo esquerdo uma ferida como pétalas de Rosa sangrando. O farmacêutico receitou-lhe uma pomada que curou o ferimento. Meses depois Pink retorna a ligar dizendo que era “o tempo das amoras vermelhas”. Na manhã seguinte surgiu novamente a ferida, agora do lado direito. Recebeu a intimação de um oficial de justiça, pois estava sendo processado pelo médico por não pagar as consultas, disponíveis mesmo que ele não fosse. Durante um mês foi cuidado pela empregada e pelo farmacêutico, sendo tratado a base de morfina para conter as dores. Epsila chegou com o pequeno Zeus e expulsou todos da casa. O menino, com a aparência de doente mental o chamava de pai. Tentou fugir, mas a irmã havia escondido as chaves. Ela insistiu para que ele falasse com Dr. Pink, ao que ele aceita. Com o bisturi, debruçado sobre o corpo do moribundo, limpou as feridas podres ao lado de Epsila. O CONVIDADO: José Alferes recebeu um convite para uma festa, mas que não lhe agradou, não trazia nenhuma informação sobre data, local, apenas o traje a vestir. Procurou a portaria do hotel onde morava e foi indicado a procurar Faetonte, o taxista que costumava levar os moradores às festas. Foi a festa levado pelo taxista, é bem recebido por todos, mas informado de que a festa não iniciaria sem a chegada de um convidado especial. Conheceu Astérope, por quem se sentiu atraído e, conversando com ela no jardim, descobriu que ela conheceria o convidado especial naquela noite, pois dormiria com ele por ter sido escolhida pelo conselho dos anfitriões. Cansado de esperar e não conseguir conversar os assuntos dos convidados, criação e corrida de cavalos, resolveu ir embora. Faetonte nega-se a levá-lo de volta. Decidiu ir sozinho, perdeu-se no caminho, machucouse, rasgou toda a roupa, rolou um barranco e, quando deu por si, estava outra vez em frente a mansão da festa. Astérope surgiu dizendo que conhecia o caminho, mesmo desconfiado decidiu acompanhá-la. ___________________________________________ 8 – LYA LUFF AS PARCEIRAS No vestibular da UFRGS de 2015, entre os Livros que compõem as Leituras Obrigatórias, foram escolhidas duas obras de escritoras que trazem como características em comum: livros que trabalham com monólogos interiores e com o plano da memória. O romance AS PARCEIRAS, de Lya Luft, publicado 1980, tem como personagem-Narradora Anelise, essa personagem vai para o chalé da família após uma crise no casamento. Durante sete dias Anelise, revisita o passado, lembrando-se das mulheres da sua família que são parceiras na dor, essas memórias começam pelo único encontro que ela teve com a vó Catarina, e como isso marcou a sua vida; e suas relações com a mãe, tias e a irmã. Anelise tem uma vida marcada por tragédias e felicidades; e por sua tentativa de gerar uma vida. Destaque especial para dois pontos da obra: primeiro o “sótão” que cada personagem usa para se proteger da realidade; e o segundo ponto é a obra ter um final aberto. (Professor Pablo Kmohan) Anelise, em torno de 35-40 anos vai passar alguns dias no chalé da família na praia para repensar sua vida e, segundo ela, descobrir onde tudo começou e onde tudo acabou. Através da identidade das mulheres da família, vai construindo sua própria trajetória. Os capítulos da enunciação percorrem sete dias (de domingo a sábado), enquanto o tempo da memória de Anelise percorre a história de sua família desde a avó. Catarina Von Sassen havia casado aos 14 anos sem a família por perto. A violência emocional e sexual que o marido lhe impunha faz com que perca a lucidez e refugie-se no sótão todo pintado de branco, assim como seus móveis, objetos e roupas. Com o tempo Catarina perde completamente a sanidade, suicidando-se após a demissão de uma enfermeira de quem havia se aproximado. Atirou-se de costas pela porta da sacada no meio do jardim. As filhas eram cuidadas por uma governanta. Norma, mãe de Anelise permaneceu meio infantil, sempre dependente do marido e pouco atenciosa às filhas. O pai, por sua vez, envolvia-se mais no cuidado da esposa. Anelise encontra na amiga Adélia uma grande companheira, visto que sua irmã é mais velha e não se interessa por ela. Adélia morre caindo de um penhasco na praia onde veraneavam no chalé. Quando Anelise tem 12 anos os pais morrem em um acidente de avião. As meninas vão morar no antigo casarão da avó com a tia Beata (Beatriz), que transforma a vida delas em um inferno aprisionando-as com inúmeras regras. Vânia, irmã de Anelise, logo se casa para ficar livre da tia, deixando-a ainda mais sozinha. Anelise não gosta da presença de Bilinha (Sibila), a tia caçula, retardada e anã, fruto do último estupro do avô em Catarina. Otávio, filho de Dora, também tia de Anelise, vai passar uma temporada com elas. É a primeira paixão da menina, sua primeira relação sexual, a companhia que transforma sua vida. Logo depois que Otávio vai embora Bila morre, Anelise faz 18 anos e vai morar com a tia Dora. Beata vai para o convento e vira uma freira sem votos. Otávio volta da Europa para a casa da mãe com sua noiva Mariana, e Anelise a surpreende traindo Otávio, mas não conta nada a ninguém. Eles brigam o tempo todo, Mariana volta para a Europa e Otávio vai atrás dela, deixando Dora desolada. Dora pintava quadros que se alternavam entre monstros e pequenas nuances de anjos. Anelise conhece Tiago e, durante os preparativos para o casamento, Vânia se aproxima e ela descobre que a irmã não vivia bem no casamento. Era proibida pelo marido de engravidar, pois ele tinha medo que nascesse uma suicida, retardada, deprimida ou anã. Anelise vive feliz os primeiros tempos de casamento, mas sua obsessão em engravidar faz com que, aos poucos seu casamento fracasse também. Sofreu três abortos, o quarto filho ela perde no sétimo mês de gestação. Exames atestam que ela não tem nenhuma doença ou esterilidade. Engravida pela quinta vez, nasce Lauro, o Lalo, que segundo os médicos não passaria de 2 anos, era pouco mais que um vegetal. Anelise vive para o menino, cria um sótão igual ao de Catarina, mas dentro de si mesma. Recebe algumas visitas de Otávio, já divorciado, e encontra na antiga paixão um amigo companheiro que tenta ajudá-la. Lalo realmente morre em torno dos 2 anos. Anelise, meses depois, escreve uma carta ao marido dizendo que passaria alguns dias no chalé da praia. No chalé apenas Nazaré, a empregada que, devido ao filho ter sido violentado na praia, precisa deixar Anelise sozinha. Anelise por vezes conversava com o cachorro Bernardo, que na noite anterior havia sumido. Sai para procurar o cachorro e observa em cima do morro, de frente para o mar, a suposta veranista que ela observou por lá durante todo o tempo em que esteve no chalé naquela semana. Decide subir e se surpreende, questionando como não havia percebido antes quem era e ambas descem juntas. O final é enigmático, pois não fica explícito de quem Anelise está falando, por mais que as características levem a crer que seja de Catarina. Também não sabemos o que o verbo “descer” significa nesse contexto, se caminharam de volta pelo morro ou jogaram-se do penhasco. ___________________________________________ 9 – GREGÓRIO DE MATOS SELETA DE POEMAS Nesta SELEÇÃO DE POEMAS, vemos o maior representante da literatura barroca no Brasil, Gregório de Matos – nosso Boca do Inferno – foi um poeta polêmico, crítico de seu tempo e de caráter popular. Sua vasta produção oscilava constantemente entre temáticas que iam da questão religiosa e filosófica ao lirismo amoroso (idealizado) e às vezes também erótico. O forte apelo ao sensorial e a aposta no jogo de palavras e ideias são motes recorrentes a sua estética. Seu viés satírico e corrosivo o tornou famoso, por fim, como relevador preciso da sociedade baiana do século XVII. (Professor Diego Lock Farina) Seleta: 1. A Nosso Senhor Jesus Christo com actos de arrependimento e suspiros de amor (Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade) 2. A Jesus Cristo Nosso Senhor (Pequei, Senhor, mas não por que hei pecado) 3. Inconstância dos bens do mundo (Nasce o sol, e não dura mais que um dia) 4. À cidade da Bahia (2) (soneto) / (Triste Bahia! ó quão dessemelhante) 5. A Maria dos povos, sua futura esposa (Discreta e formosíssima Maria) 6. Epílogos (Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da república...) / (Que falta nesta cidade?................... Verdade) 7. A uma dama (Vês esse Sol de luzes coroado?) 8. A instabilidade das cousas no mundo (Nasce o Sol, e não dura mais que um dia) 9. A certa personagem desvanecida (Um soneto começo em vosso gabo) 10. Aos principais da Bahia chamados caramurus (Um canção de pindoba, a meia zorra) 11. À procissão de cinza em Pernambuco (Um negro magro em sufulié justo) 12. Milagres do Brasil São (Um branco muito encolhido) 13. Retrato/Dona Ângela (Anjo no nome, Angélica na cara!) 14. Contemplando nas cousas do mundo (Neste mundo é mais rico o que mais rapa) 15. E pois coronista sou / Se souberas falar também falaras 16. Ao padre Lourenço Ribeiro, homem pardo que foi vigário da freguesia do Passé (Um branco muito encolhido) 17. Define a sua cidade (De dous ff se compõe) 18. Descreve a vida escolástica (Mancebo sem dinheiro, bom barrete) 19. À cidade da Bahia (2) / (A cada canto um grande conselheiro) 20. Aos vícios (Eu sou aquele que os passados anos) 21. Descreve a confusão do festejo do Entrudo (Filhós, fatias, sonhos, mal-assadas) 22. Solitário em seu mesmo quarto à vista da luz...( Ó tu do meu amor fiel traslado) 23. Aos afetos e lágrimas derramadas (Ardor em firme coração nascido) 24. Admirável expressão que faz o poeta de seu atencioso silêncio (Largo em sentir, em respirar sucinto) 25. Definição do amor – romance (Mandai-me, Senhores, hoje) Nota de esclarecimento: A obra de Gregório de Matos Guerra tem muitas variantes editoriais. Assim, para evitar equívocos, disponibilizamos abaixo um arquivo que contém a Seleta do autor. Cabe esclarecer que os títulos “Inconstância dos bens do mundo” (número 3) e “A instabilidade das cousas no mundo” (número 8) referem-se a um mesmo poema, como se pode ver pelo primeiro verso, “nasce o sol e não dura mais que um dia”. O mesmo ocorre com “Milagres do Brasil são” (número 12) e “Ao padre Lourenço Ribeiro, homem pardo que foi vigário da freguesia do Passé” (número 16), cujo primeiro verso é “Um branco muito encolhido”. Em termos formais, o poeta é considerado pela crítica um seguidor do estilo cultista. Em relação à temática, sua obra é normalmente dividida em três tendências: poesia sacra (religiosa), poesia amorosa e poesia satírica. POESIA SACRA A forma rebuscada que caracteriza a poesia religiosa (cultista) de Gregório de Matos é fixada através de uma linguagem bastante figurada; cujo requinte encontra-se nas imagens evocadas e em um obscuro simbolismo, não sendo raro o poeta incorrer em um estilo retórico. A imagem do homem (o sujeito poético) que, ajoelhado diante de Jesus Cristo crucificado, confessa-se pecador, pede perdão e jura redimir-se é o tema recorrente da poesia religiosa gregoriana. Baseando-se na tríade pecado, pecador e penitência, esse modelo tem uma explicação histórica: o homem do século XVII estava ainda “deslumbrado” com a possibilidade de absolvição de seus pecados, realidade instituída a partir do Concílio de Trento. Segue abaixo um exemplo claro do que fora dito anteriormente: A Jesus Cristo, Nosso Senhor Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa piedade me despido, Porque quanto mais tenho delinqüido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto um pecado, A abrandar-nos sobeja um só gemido, Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida, e já cobrada Glória tal, e prazer tão repentino vos deu, como afirmais na Sacra História: Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória. O poema traz a típica visão contra-reformista barroca, através do contraste entre a onipotência de Jesus e a pequenez humana. Note a subserviência de um homem que se vê abandonado diante da mesquinhez de sua vida terrena, depositando a esperança de uma possível salvação na sua fé e na proteção e bondade e divina. POESIA AMOROSA A mulher é encarada basicamente de duas maneiras (opostas) na poesia dita amorosa de Gregório: a idealização da mulher branca e a erotização crua das negras ou mestiças. No primeiro caso, vemos o amor idealizado, sublimado. A mulher branca é tratada com total respeito por um eu-lírico que se esforça por sublimar seus instintos sexuais. Louvada a beleza da mulher branca, o eu poético acaba por refletir sobre a transitoriedade da vida humana, incidindo no tema clássico do Carpe diem. Sob um viés barroco, às vezes, a mulher é comparada a um anjo (símbolo de eternidade) e a uma flor (metáfora da fugacidade): Dona Ângela Anjo no nome, Angélica na cara! Isso é ser flor, e Anjo juntamente: Ser Angélica flor, e Anjo florente1 Em quem, senão em vós, se uniformara? Quem vira uma tal flor, que a não cortara, De verde pé, da rama florescente? A quem um Anjo vira tão luzente Que por seu Deus o não idolatrara? Se pois como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu custódio2, e minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares. Mas vejo que tão bela, e tão galharda, Posto que3 os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. __________ 1 Florente: florido; 2 Custódio: defesa; 3 Posto que: ainda que. COMENTÁRIOS Ainda que idealize a figura feminina, o soneto mantém a dubiedade barroca: a tensão alma x corpo, esquematizado da seguinte maneira: Angélica é dona de uma enorme e casta beleza, indicada por seu próprio nome. Logo, possui algo de divino, daí o eu-lírico adorá-la e projetar nela sua possível salvação. Entretanto, mantém sua essência humana, dialogando com o mundano, simbolizado no fato dela ser uma flor. Em suma, o poema funde tortuosamente o transcendente (alma) e o efêmero (corpo): Ser Angélica flor, e Anjo florente. Por sua vez, as negras ou mestiças contam com um tratamento diametralmente oposto à idealização reservada à mulher branca na lírica gregoriana, sendo descritas pelo sujeito poético unicamente como um objeto sexual, uma mera genitália. Interpretados historicamente, tais poemas desnudam a visão de mundo de uma elite branca: fidalgo e filho de proprietário de engenho de açúcar, Gregório corrobora a típica relação de posse entre senhores e escravos. Prova disto é que, depois da posse física (relação nunca ultrapassava o caráter sexual), o sujeito poético costuma experimentar uma espécie de misoginia (aversão ao contato sexual feminino) para com a escrava, sentindose aviltado e diminuído por ter mantido relações com uma criatura que acredita inferior a si. Todavia, há poemas onde ocorre o reverso: o contato sexual entre o eu-lírico (suposto senhor-de-engenho) e a mulatinha (escrava) acaba fazendo com que a ordem social seja subvertida. Agora é o homem branco a ser “escravizado” pelos dotes da mulher negra, a subserviência racial é burlada. A abordagem de Gregório para o tema sexo não se dá sob a sofisticação do erotismo, mas é apenas agressiva, contundente, galhofeira. Sua linguagem mostra-se ofensiva, ferina, licenciosa, cheia de termos vulgares e de extremo mau gosto. Esta poesia promove uma desclassificação da mulher que nunca se tomaria por esposa, situação que a cor negra potencia, e à qual corresponde uma violência ímpar de tom, de léxico, em suma, de estilo (BOSI, 1992). POESIA SATÍRICA Através do deboche, do escárnio e de uma fina ironia, o poeta demonstra um indiscutível senso crítico em relação à sociedade de seu tempo. Não por acaso Gregório fora apelidado de Boca do Inferno, pois desde eminentes governadores, advogados e clérigos, até populares, como prostitutas e negros forros, ninguém podia vangloriar-se de estar livre de ser ridicularizado por seus versos mordazes. Sua lírica satírica veicula algum moralismo e uma forte tendência à caricatura e à tipificação. Deste modo, os padres/ freiras pecam pela luxúria; as negras pela prostituição; os escravos pela subserviência e luxúria; os governantes pelo despotismo ou mesmo pela burrice; os milicianos pela corrupção; os fidalgos pela soberba; os mestiços/ mulatos pelo ex-tremo oportunismo e, por fim, os ingleses/ comerciantes pela usura. A linguagem da poesia satírica de Gregório é simples e licenciosa, às vezes, pornográfica. Porém, essa aparente simplicidade esconde extrema sofisticação, já que se utiliza em larga escala de ironia. Destaque-se se nativismo linguístico ou, digamos, um abrasileiramento linguístico. Fugindo por ora do típico léxico europeizado do Barroco, o poeta promove uma tropicalização da linguagem, chegando a utilizar termos indígenas, africanos e gírias. Ora nomeando diretamente a figura vilipendiada, ora praticando um ataque velado, seus poemas satíricos constituem um amplo e lúcido painel crítico de indivíduos e instituições da Bahia de seu tempo. O poeta denunciava com realismo e coragem os vícios pessoais e coletivos da carnavalizada sociedade baiana (segundo ele, a canalha infernal), pintando-a como uma total inversão de todos os valores edificantes, um verdadeiro palco dos horrores. Define tua cidade De dois ff se compõe Esta cidade a meu ver: Um furtar, outro foder. Se de dous ff composta Está a nossa Bahia, Errada a ortografia, A grande dano está posta: Eu quero fazer aposta E quero um tostão perder, E o furtar e o foder bem Não são os ff que tem Esta cidade ao meu ver. Provo a conjetura já, Prontamente como um brinco: Bahia tem letras cinco Que são B-A-H-I-A: Logo ninguém me dirá Que dous ff chega a ter, Pois nenhum contém sequer, Salvo se em boa verdade São os ff da cidade Um furtar, outro foder. [...] COMENTÁRIOS Gregório de Matos pinta um quadro nada lisonjeiro da Bahia (Salvador) seiscentista. Ressalte-se a atitude moralista do eu poético e o fato de que, por não apontar exatamente o(s) alvo(s) de sua crítica, acaba por fazer uma verdadeira tábula rasa da sociedade baiana, cujo fio condutor a unir as duas possíveis filosofias de vida (“furtar” e “foder”) é a corrupção. Genericamente, pode-se dizer que cabe a todos os que estão investidos de qualquer forma de poder (clero, governantes, milicianos, mestiços e ingleses/ comerciantes) a primeira postura e àqueles alijados do poder ou esmagados por ele (escravos e clero) a segunda atitude ou mesmo a indiferença. Note que o clero, investido de poder obviamente, figura em ambas as atitudes. Por um lado, “furta” ao fazer jogo de influências (simonia); por outro, “fode”, dando vazão à conduta luxuriosa historicamente característica da maioria dos clérigos e freiras. ___________________________________________ 10 – ALBERTO CAEIRO (heterônimo de Fernando Pessoa) O GUARDIÃO DE REBANHOS O GUARDADOR DE REBANHOS é a obra mais relevante de Alberto Caeiro, mestre dos heterônimos criados por Fernando Pessoa. Pelos versos do poeta, destacam-se qualidades ímpares de seu estilo espontâneo e de sua percepção contemplativa do mundo: sua serenidade e equilíbrio, seu sensacionismo, a relação intensa com a natureza e a inquietante recusa perante quaisquer métodos de pensamento filosófico, teológico ou metafísico, pois “pensar é estar doente dos olhos”. O conhecimento pela experiência e o neopaganismo são características típicas de Caeiro. (Professor Diego Lock Farina) POESIA ORTONÍMIA E HETERONÍMIA Antes de tratarmos em específico da poesia de Alberto Caeiro, é preciso que se saibam algumas informações sobre a obra de seu criador: Fernando Pessoa, uma das figuras exponenciais no Modernismo português. Em boa medida, a incontestável importância que a crítica atribui à sua poesia pode ser explicada por seu caráter absolutamente original, pois que o poeta não se limitou a criar uma apenas obra, mas várias e diferentes, tanto sob o ponto de vista formal, quanto temático e ideológico. Além de sua própria obra – a poesia ortonímica (ou Fernando Pessoa “ele mesmo”) veiculada, sobretudo, em Mensagem (1934) –, Fernando Pessoa metamorfoseou-se em outros poetas: os heterônimos. São os poetaspersonagem para quem Fernando Pessoa criou não apenas obras poéticas autônomas, mas, também diferentes personalidades, biografias e mesmo mapas astrais completamente distintos. Alberto Caeiro (1889-1915) praticamente não teve instrução formal, motivo pelo qual seus versos trazem uma linguagem simples e um vocabulário reduzido. Morava em um sítio, logo mantinha contato direto com a natureza, fonte de sua poética avessa a qualquer racionalização e calcada nos sentidos como forma de apreensão da realidade. Embora pratique o verso livre, sua concepção de mundo assemelhase muito a do homem clássico, no que pese ser totalmente pagão. CARACTERÍSTICAS Mestre dos outros heterônimos e do próprio Fernando Pessoa Ortônimo porque, ao contrário desses, consegue submeter o pensar ao sentir, o que lhe permite viver sem dor; envelhecer sem angústia e morrer sem desespero; não procurar encontrar sentido para a vida e para as coisas que lhe rodeiam; sentir sem pensar; ser um ser uno (não fragmentado). Poeta do real objetivo, aceita a realidade e o mundo exterior como são com alegria ingênua e contemplação, recusando a subjetividade e a introspecção. O misticismo foi banido do seu universo. Através da temática da natureza, anda pela mão das estações e integra-se nas leis do universo como se fosse um rio ou uma árvore, rendendo-se ao destino e à ordem natural das coisas. Caeiro remete ao que chamamos de temporalidade estática, vive no presente, não quer saber do passado ou do futuro. Cada instante tem igual duração ao dos relâmpagos, ou à das flores, ou ao do sol e tudo o que vê é eterna novidade, é um tempo objetivo que coincide com a sucessão dos dias e das estações. Antimetafísico, deseja abolir a consciência dos seus próprios pensamentos (o vício de pensar), pois deste modo todos seriam alegres e contentes. Acredita que as coisas não têm significação: têm existência, a sua existência é o seu próprio significado. Poema V Olá, guardador de rebanhos, Ai à beira da estrada, Que te diz o vento que passa? Que é vento, e que passa, E que já passou antes, E que passará depois, E a ti o que te diz? Muita cousa mais do que isso. Fala-me de muitas outras cousas. De memórias e de saudades E de cousas que nunca foram. Nunca ouviste passar o vento. O vento só fala do vento. O que lhe ouviste foi mentira, E a mentira está em ti. O sentido do poema acaba por ser o sentido íntimo de todo o livro: a ausência de pensamento deve reger a maneira de pensar dos homens que se querem libertar e encontrar a natureza. Para Caeiro, metafísica tem um sentido extremamente restrito, muito menor do que o seu sentido original e etimológico – é tudo o que vai além da simples sensação –. Toda e qualquer análise do que é visto pelos sentidos é metafísica, e é uma ilusão, porque o pensamento afasta o homem do seu destino, que é ser natural, ser apenas mais um ser vivo na natureza. O paradoxo, no entanto é inegável. Caeiro recusa o pensamento, mas usa o pensamento, analisa a sua própria maneira de pensar. É uma armadilha a que Caeiro não pode escapar, a não ser caindo nela e libertando-se de seguida das suas presas. A extrema negatividade do poema serve de contraponto a esta tarefa enorme. Nega tudo o que é positivo para os outros homens, como que confirmando a sua personalidade única e o seu desafio original. Mas por detrás deste despir da metafísica, da simplicidade, escondem-se múltiplas interpretações. A menor das quais não será o objetivo egoísta do “mestre do mestre”; que inventa para si mesmo um templo e um deus menor para que se sinta livre do compromisso de viver. É Pessoa afinal que justifica a presença de Caeiro a si próprio, na medida em que Caeiro o permite viver um novo e extasiante período da sua própria vida. ___________________________________________ 11 – MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS Embora o título do romance sugira o foco narrativo de 1ª pessoa, MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS, de Manuel Antônio de Almeida apresenta um narrador onisciente de 3ª pessoa, mas que não mantém a imparcialidade, tomando o partido de algumas personagens com as quais se identifica, como o de Leonardinho. Já a linguagem ora é humorística ora irônica, e vale assinalar o coloquialismo da prosa de Manuel Antônio de Almeida, que traz um registro bastante próximo do português falado à época, deixando de lado o adjetivismo artificial dos demais escritores românticos. Apesar de ser escrito em plena vigência do Romantismo, as apresentam um modus vivendi irreverente e não raro um raro tanto amoral, funda o chamado “jeitinho brasileiro” como essência de nosso povo. Neste sentido, saliente-se a figura de Leonardinho, um verdadeiro anti-herói que introduz na literatura brasileira a figura do malandro, muito valorizada posteriormente em obras como Macunaíma, de Mário de Andrade, e O auto da compadecida, de Ariano Suassuna, entre tantas outras. (Professor Júnior “Argentino”) BREVE BIOGRAFIA DO AUTOR Manuel Antônio de Almeida nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 17 de novembro de 1831. Concluiu a Faculdade de Medicina em 1855, mas nunca exerceu a profissão. Dificuldades financeiras o levaram ao jornalismo e às letras. Logo que entrou no curso superior começou a escrever para o Correio Mercantil, publicando seus primeiros poemas aos dezoito anos. Em 1852, passou a publicar semanalmente, em um suplemento humorístico do Correio mercantil chamado A pacotilha, as Memórias de um sargento de milícias, com o pseudônimo “Um brasileiro”. Em 1858, foi nomeado diretor da Tipografia Nacional, onde conheceu o jovem aprendiz de tipógrafo Machado de Assis. Foi professor do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, e no ano de 1863, Memórias de um sargento de milícias foi publicado com o nome real de seu autor. Tentou ingressar na carreira na política, mas quando ia fazer suas primeiras consultas entre os eleitores, morreu no naufrágio do navio Hermes, em 1861, na costa fluminense. SINOPSE DO ENREDO As aventuras de Leonardo, herói das Memórias de um sargento de milícias, filho de Leonardo Pataca e de Maria da Hortaliça, são o núcleo da narrativa. Seus pais, imigrantes portugueses, conheceram-se a bordo do barco que os trouxe ao Brasil, depois de uma pisadela no pé direito e de um beliscão. Sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. Aos sete anos, quebrava e rasgava tudo que lhe vinha à mão. Tinha uma paixão decidida pelo chapéu armado do Leonardo; se este o deixava por esquecimento em algum lugar ao seu alcance, tomava-o imediatamente, espanava com ele todos os móveis,punha-lhe dentro tudo que encontrava, esfregava-o em uma parede, e acabava por varrer com ele a casa. Maria da Hortaliça não era fiel ao seu companheiro. Depois de flagrá-la com alguém que escapara pela janela, Leonardo Pataca, em um assomo de raiva, chuta o pequeno Leonardo para fora de casa e perde Maria, que foge. Mas, apesar de abandonado pelos pais, Leonardinho conta, não só nesse momento, mas ao longo de toda sua vida, com a proteção e o afeto de várias personagens: expulso de casa passa a viver com o padrinho, que era barbeiro e que cuida dele durante anos. Sua madrinha, parteira e “papa-missas”, também o ajudará. Afeiçoado pelo menino, o barbeiro fazia vistas grossas às suas malandragens. O plano do padrinho era que Leonardo fosse clérigo. Porém, na escola, ele era o aluno que mais “matava” aulas, que diariamente tomava bolos do professor; na Igreja, como coroinha, com outro pequeno sacristão, fazia todo o tipo de travessuras. Na primeira parte do livro, embora o narrador afirme que o herói é Leonardo filho, também as trapalhadas de Leonardo, o pai, são relatadas. Metido em problemas amorosos com a cigana, que também tinha um caso com o reverendo da Sé, Pataca é preso em um ritual de Fortuna (macumba) pelo Major Vidigal, temida autoridade policial da época do reinado de Dom João VI no Brasil. Para conseguir a soltura, Leonardo Pataca é ajudado por um tenentecoronel que lhe devia um favor. Fora da prisão, envia a uma festa na casa da cigana um valentão que batia por dinheiro, o Chico Juca, para arrumar uma briga. É nessa confusão que o caso da cigana com o reverendo acaba revelado de fato. Depois de reatar brevemente suas relações com a cigana, Leonardo Pataca relaciona-se com Chiquinha, com quem se casa. As aventuras de Leonardinho tornam-se, nesse momento, o único núcleo e uma importante personagem surge: Dona Maria, velha rica que também protege o protagonista. É na casa de D. Maria que Leonardo, já jovem e ainda absolutamente desocupado, encanta-se por Luisinha, sobrinha abastada da velha. No entanto, há um entrave para a paixão de Leonardo: é José Manuel, rival que usa de todos os artifícios para conquistar Luisinha. Depois da morte do padrinho barbeiro, o herói da narrativa é obrigado a ir morar com seu pai e Chiquinha, uma meia-irmã já nascida e a parteira. O convívio com a madrasta é insuportável, e Leonardinho abandona a casa. Enquanto os desentendimentos ocorriam, a parteira tenta afastar José Manuel de Luisinha, mas a distância de Leonardinho dá espaço ao rival, que acaba conseguindo casar-se com a jovem graças à influência, junto à D. Maria, de um mestre de reza, velho e cego, que ensinava a rezar a criadagem da velha. Longe de casa, Leonardo reencontra seu velho amigo de travessuras da igreja. É esse rapaz que lhe faz conhecer um novo amor, Vidinha, moça bonita de voz encantadora, de uma família composta de duas viúvas, a mãe de Vidinha e sua irmã; e seis jovens, três filhos de uma, empregados no exército e três filhas de outra. Apaixonado, Leonardo agrega-se a essa família para conquistar a mais bela das irmãs, mas encontra a resistência de dois dos primos, que tinham a mesma finalidade. Prestes a abandonar a casa, depara-se com a madrinha, que o havia localizado. Rapidamente ela ganha a amizade e a simpatia das viúvas. Em uma patuscada (festa familiar), os rivais do memorando arranjam que ele seja preso pelo Vidigal, por vadiação, porém ele escapa das garras do policial e retorna ao convívio da casa. Para livrá-lo da acusação dos dois irmãos e da perseguição de Vidigal, que jurava vingança por ter perdido uma presa, a comadre lhe arruma emprego na ucharia-real, o depósito de mantimentos do rei, perdido à custa de um flerte com a mulher do toma-largura (apelido que se dava a criados do rei). Enciumada por causa desse e pisódio, Vidinha vai à ucharia fazer escândalo; acompanhando-a para persuadi-la do contrário, Leonardinho acaba finalmente preso pelo Vidigal, que fará dele um granadeiro de sua patrulha. Aliviada, Vidinha retorna a casa, não sem encantar o toma-largura que, espertalhão e conquistador, se aproxima da família das duas viúvas Em uma patuscada acaba é preso por beber demais, sendo Leonardo quem se encarrega dessa tarefa. Mesmo ligado à tropa de Vidigal, Leonardo não deixa de ser malandro e prega peças em seu superior; livra da perseguição o Teotônio, um piadista, o que lhe rende a prisão definitiva, da qual só sai depois da intervenção de D. Maria, da comadre e de Maria Regalada, amor antigo de Vidigal, que intercede junto a ele em nome do herói. Em troca da liberdade de Leonardo, Maria Regalada cede ao desejo de Vidigal e mora em sua companhia. Livre e com o cargo de sargento da companhia de granadeiros, Leonardo casa-se com Luisinha após a morte de José Manuel. Como sargentos da ativa não podiam casar-se, o jovem ganha o título de sargento de milícias, que dá título ao texto. ___________________________________________ 12 – MACHADO DE ASSIS ESAÚ E JACÓ ESAÚ E JACÓ, de Machado de Assis, destaca-se pela narrativa consciente e segura, aliando o tom irônico e despretensioso à análise da condição humana dos gêmeos Pedro e Paulo. Sua maior importância se deve ao fato de ser o romance em que o autor examina as transformações políticas e sociais de modo mais denso. Nele, Machado compõe uma síntese do Brasil na transição de império para república, consistente retrato do espírito da época. (Professor André Alfama) BREVE BIOGRAFIA DO AUTOR Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, no dia 21 de junho de 1839. Filho de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade. Os biógrafos notam que, interessado pela boemia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. É considerado o introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas (1881). Este romance é posto ao lado de todas suas produções posteriores, entre as quais Esaú e Jacó, ortodoxamente conhecido como pertencente a sua segunda fase, em que se notam traços de pessimismo e ironia, embora não haja rompimento de resíduos românticos. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império, sendo comentador e relator dos eventos políticosociais de sua época. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras. Morreu no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. SINOPSE DO ENREDO Natividade Santos procura uma adivinha, pois quer saber o futuro de Pedro e Paulo, seus filhos gêmeos. A adivinha pergunta-lhe se os meninos haviam brigado ainda no ventre materno. A gravidez fora tardia e sofrida nas semanas finais. Os gêmeos nasceram no dia 7 de abril de 1870 e tiveram os nomes inspirados nos apóstolos. Consultado pelo pai, o capitalista Agostinho Santos, um espírita prevê rivalidade entre os irmãos. Apesar dos esforços maternos os meninos brigam sem parar. Já adolescentes, a semelhança física aumenta, estendendo-se até às notas e distinções escolares. Pedro revela tendências monarquistas, enquanto Paulo opta pelo republicanismo. Eles conhecem Flora Batista, um ano mais jovem do que ambos. Inicialmente, a menina, de beleza ímpar e qualidades variadas, serve como um elo entre eles, que lhe amam sem, entretanto, sentir ciúmes. Paulo vai para São Paulo estudar Direito e seu irmão fica no Rio cursando Medicina. Chegam a trocar cartas louvando os predicados da moça. Todavia, a alegria de Natividade dura bem pouco e eles retomam as antigas rusgas. Entristecida, a mãe dos gêmeos pediu ajuda a um amigo da família, José da Costa Marcondes Aires, o Conselheiro Aires, para que lhes inspirasse alguma amizade. O respeito e a admiração deles pelo diplomata possibilita uma trégua temporária entre ambos. Os jovens cortejam Flora, mas ela não consegue definirse por nenhum dos irmãos, está sem ação. A esperança do amor da bela jovem fazia-os outra vez viver uma paz momentânea. A pressão da escolha está acima das forças de Flora, que começa a adoecer. Ela é cuidada por Rita, uma bondosa senhora irmã de Aires. Deseja optar e, não conseguindo, piora de saúde. Os irmãos cortam relações por essa época. Flora piora muito e, embora cercada de cuidados, acaba morrendo em meio à agitação da Revolta da Armada (1893). Os gêmeos juram paz. Um mês após a morte da amada, ambos visitam seu túmulo. A surpresa pela presença alheia e o sentimento de traição mútua restaura o antigo ódio. Tanto Pedro quanto Paulo alcançam êxito profissional, contudo não podem ver ou mesmo ouvir falar um do outro. As convicções dos irmãos passam a se confundir: Paulo faz críticas ao governo republicano, já Pedro aceita o regime com singular serenidade. São eleitos deputados e, pouco depois da posse, Natividade falece. Em seu leito de morte, tem uma conversa com os filhos cujo conteúdo eles somente revelam ao Conselheiro Aires: a pedido da mãe, haviam, aos prantos, dado as mãos e jurado amizade dali em diante. Aos poucos começaram a discordar na política e as diferenças pessoais eclodiram com força. Detestavam-se e juramento nenhum seria capaz de mudar isto. QUESTÕES DE HISTÓRIA NO VESTIBULAR DA UFRGS As questões de História do vestibular da UFRGS, assim como o restante das questões do vestibular, não podem ser previstas. Entretanto, acredito que o estudo dos vestibulares passados, aliado ao estudo do que vem sido produzido no campo da historiografia, aliado a uma observação atenta dos eventos do presente podem nos dar algumas indicações. Para isso, gostaríamos de abordar quatro características que são ao mesmo tempo marcantes, e, portanto, merecem atenção dos vestibulandos. A primeira é que o vestibular da UFRGS prima por cobrir um vasto período histórico, normalmente dos períodos neolítico ou paleolítico ate a História Contemporânea. Segundo, apesar de os fatos atuais ocuparem pouco espaço na prova, de alguma forma as questões de História são influenciados por eles. Terceiro, o vestibular da UFRGS muitas vezes é detalhista, tem perguntas muito específicas de um determinado assunto, e quarto, a UFRGS por vezes utiliza o popularmente chamado “pega-ratão”. Quando dissemos que a prova da UFRGS procura cobrir um vasto período temporal de acontecimentos históricos, é porque, de modo geral nos últimos 16 vestibulares, somente em 4, não ocorreram perguntas do período chamado de “pré-história” ou de história oriental antiga (Fenícia, Israel (Hebreus), Egito, Mesopotâmia). De modo geral, entretanto, raramente ocorreu de haver mais de uma pergunta sobre o assunto. Outro assunto que tem sempre sido contemplado é antigüidade clássica Ocidental (Roma e Grécia), de modo geral uma questão. A Idade Média vi- nha sendo sempre abordada em duas questões, em 2014, entretanto, três questões foram sobre esse período. No que diz respeito a questões de Idade Moderna, de modo geral a UFRGS traz, de modo geral, entre 3 e 4 questões.A quantidade de questões relativas ao período que vai da Revolução Francesa até o início da I Guerra tem recebido pouca atenção nos últimos vestibulares (entre 1 e 3 questões). O período que vai da I Guerra até o início da II Guerra, e que contempla a Primeira Guerra, a crise de 29 e todo período no Nazi-facismo, por sua vez, não tem merecido mais que uma ou duas questões por vestibular. Já o período restante do século XX (que inclui a II Guerra, tão apreciada pelos alunos, mas pouco contemplada pelo vestibular) tem recebido, de modo geral, cerca de 3 questões. Quanto à História do Brasil, a tradição é que as questões se concentrem do período imperial em diante. Os temas referentes ao período colonial geralmente se relacionam as questões econômicas e escravidão. As questões políticas referentes ao período do Segundo Império e período republicano também são uma característica dos vestibulares da UFRGS. Os governos de Vargas, JK e a ditadura militar também são temas recorrentes nas provas da UFRGS. Devemos lembrar que em 2015 comemoramos os 30 anos da redemocratização com a eleição indireta de Tancredo Neves para a presidência da República (que faleceu antes de tomar posse e foi substituído por José Sarney). Quanto à influência dos assuntos atuais sobre as questões escolhidas para a prova, acreditamos que os historiadores que criam as questões são, de alguma forma, influenciados pelos acontecimento atuais e podem refletilos, ainda que indiretamente. Um exemplo é a questão 9 de 2014 que ao tratar da História do jesuítas estabelece a seguinte relação: “Considere as seguintes afirmações sobre a Companhia de Jesus, ordem fundada em 1534, pelo ex-militar espanhol Ignacio de Loyola, e à qual pertence o papa Francisco. “ Outros temas atuais que podem inspirar questões são as revoltas que ocorreram ou estão ocorrendo no oriente médio e norte da África, a crise Rússia-Ucrânia, ou ainda, o surgimento do Estado Islâmico. Pouco provável que o vestibular contemple uma pergunta sobre o fato em si, mas uma questão inspirada nesses movimentos, e que se reporte ao período das independências destes países (ou descolonização da África e da Ásia) não está descartada. Quanto às perguntas muito específicas, que ocorrem por vezes no vestibular da UFRGS, não há dúvidas de que elas funcionam como um recurso para a eliminação de candidatos. Não há muito o que fazer em relação a elas a não ser muita leitura e estudo. Um exemplo a esse respeito é a questão 8 do vestibular de 2010 que exigia que o candidato soubesse que nunca, em solo brasileiro, houve a atuação do tribunal do santo ofício (responsável pela inquisição portuguesa). Finalmente, mas não menos importante, é que o candidato deve estar muito atento a leitura do enunciado e das alternativas do vestibular da UFRGS. O “pega-ratão” é um dos recursos utilizados para a eliminação de candidatos. Um exemplo bastante significativo é uma alternativa em que a conquista do Brasil pela Holanda havia sido realizada através da “Companhia das Índias Orientais”, quando o correto é “Companhia das Índias Ocidentais”. Ou seja, para um bom resultado não é necessário somente muita dedicação e estudo, mas também tranquilidade e atenção! BRICS Em 2001, o economista Jim O-Neill, do banco de investimentos Goldman Sachs, publicou um estudo sobre grandes economias emergentes, com índices de crescimento promissores e poucos riscos. Com as iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China, criou a sigla BRIC, que ainda remetia à palavra tijolo em inglês, num paralelo com essa nova arquitetura econômica mundial em construção. Anos depois, os BRICS saíram do papel e ganharam mais um integrante, a África do Sul (o S da sigla vem de South Africa). Ao longo do tempo, o grupo estabeleceu um calendário de encontros de diversos níveis, envolvendo o mundo acadêmico, empresários e governos. http://especial.g1.globo.com/globo-news/BRICS/ Durante a V Cúpula do BRICS, em 27 de Março de 2013, os países do eixo decidiram pela criação de um Banco Internacional do grupo, o que desagradou profundamente os Estados Unidos e a Inglaterra, países responsáveis pelo FMI e Banco Mundial, respectivamente. A decisão sobre o banco do BRICS ainda não foi oficializada, mas deve se concretizar nos próximos anos. A ideia é fomentar e garantir o desenvolvimento da economia dos países-membros do BRICS e de demais nações subdesenvolvidas ou em desenvolvimento. Outra medida que também não agradou aos EUA e Reino Unido foi a criação de um contingente de reserva no valor de 100 bilhões de dólares. Tal medida foi tomada com o objetivo de garantir a estabilidade econômica dos 5 países que fazem parte do grupo. http://www.brasilescola.com/geografia/bric.htm PROBLEMAS AMBIENTAIS Dentre os problemas sociais urbanos, merece destaque a questão da segregação urbana, fruto da concentração de renda no espaço das cidades e da falta de planejamento público que vise à promoção de políticas de controle ao crescimento desordenado das cidades. A especulação imobiliária favorece o encarecimento dos locais mais próximos dos grandes centros, tornando-os inacessíveis à grande massa populacional. Além disso, à medida que as cidades crescem, áreas que antes eram baratas e de fácil acesso tornamse mais caras, o que contribui para que a grande maioria da população pobre busque por moradias em regiões ainda mais distantes. Essas pessoas sofrem com as grandes distâncias dos locais de residência com os centros comerciais e os locais onde trabalham, uma vez que a esmagadora maioria dos habitantes que sofrem com esse processo são trabalhadores com baixos salários. Incluem-se a isso as precárias condições de transporte público e a péssima infraestrutura dessas zonas segregadas, que às vezes não contam com saneamento básico ou asfalto e apresentam elevados índices de violência. Muitos dos problemas ambientais urbanos estão diretamente ligados aos problemas sociais. Por exemplo: o processo de favelização contribui para a agressão ao meio ambiente, visto que as ocupações irregulares geralmente ocorrem em zonas de preservação ou em locais próximos a rios e cursos d’água. Ademais, sabe-se que os problemas ambientais, sejam eles urbanos ou não, são produtos da interferência do homem na natureza, transformando-a conforme seus interesses e explorando os seus recursos em busca de maximização dos lucros sem se preocupar com as consequências. As zonas segregadas, locais mais pobres da cidade, costumam ser palco das consequências da ação humana sobre o meio natural. Problemas como as enchentes são rotineiramente noticiados. E a culpa não é da chuva. Em alguns casos, o processo de inundação de uma determinada região é natural, ou seja, aconteceria com ou sem a intervenção humana. O problema é que, muitas vezes, por falta de planejamento público, loteamentos e bairros são construídos em regiões que compõem áreas de risco. Em outras palavras, em tempos de seca, casas são construídas em locais que fazem parte dos leitos dos rios e, quando esses rios passam pelas cheias, acabam inundando essas casas. Em outros casos, a formação de enchentes está ligada à poluição urbana ou às condições de infraestrutura, como a impermeabilização dos solos a partir da construção de ruas asfaltadas. A água, que normalmente infiltraria no solo, acaba não tendo para onde ir e deságua nos rios, que acumulam, transbordam e provocam enchentes. http://www.brasilescola.com/brasil/problemas-ambientais-sociais-decorrentes-urbanizacao.htm CONFLITOS NO MUNDO ÁRABE O levante contra o regime de Bashar al-Assad teve início em 15 de março de 2011, durante a insurreição da Primavera Árabe, período em que as populações de países árabes, como Tunísia, Líbia e Egito se revoltaram contra os governos de seus países. O levante começou pacífico nos primeiros quatro meses, mas, a partir de agosto, manifestantes fortemente reprimidos passaram a recorrer à luta armada. Um dos pontos altos da guerra se deu em 21 de agosto de 2013, quando um ataque químico - realizado nos arredores de Damasco e atribuído pela oposição e países ocidentais a Bashar al-Assad - deixou mais de 1.400 mortos. Apesar de toda a comoção e condenação internacional, um acordo entre Moscou e Washington cancelou qualquer tipo de ataque ocidental à Síria após Assad se comprometer a destruir suas armas químicas. Até agora, a Síria destruiu um terço de seu arsenal químico. Em 23 de janeiro de 2012, a Síria anunciou que rejeitava a proposta da Liga Árabe para que Al-Assad se afastasse do cargo e para que fosse criado um governo de unidade nacional. Além da Liga Árabe, ONU, União Europeia e Estados Unidos sempre condenaram a violência e a repressão impostas pelo regime sírio, mas nunca intervieram no conflito. A União Europeia e os Estados Unidos impuseram sanções econômicas unilaterais contra a Síria, mas nunca agiram de forma mais enérgica. Países como Irã, China e Rússia são aliados declarados do regime de Bashar Al-Assad e se manifestaram contra qualquer tipo de imposição de sanção internacional ao país. A Rússia, que tem uma base naval militar no país, condenou o uso da violência pelos opositores ao regime, aos quais chamou de ‘terroristas’ e votou contra o estabelecimento de uma missão humanitária no país na Conferência de Paz GenebraII, em fevereiro de 2014. A China chegou a acusar os países ocidentais de instigar uma guerra civil na Síria. O Brasil retirou seu embaixador da Síria em janeiro de 2013. Em junho do mesmo ano, foi a vez de o Egito romper relações com o país. http://noticias.terra.com.br/mundo/guerra-civil-da-siria/ GLOBALIZAÇÃO O processo de globalização surgiu para atender ao capitalismo e, principalmente, os países desenvolvidos; de modo que pudessem buscar novos mercados, tendo em vista que o consumo interno encontrava-se saturado. A globalização é um fenômeno social que ocorre em escala global. Esse processo consiste em uma integração em caráter econômico, social, cultural e político entre diferentes países. PONTOS POSITIVOS: * Tecnologia * Comunicação * Conforto * Relacionamento * Fácil acesso à tudo * Praticidade * Agilidade * Conexão * Visão ampla do mundo * Valorização * Economia * Crescimento. PONTOS NEGATIVOS: * Expansão (impacto no meio ambiente) * Poluição * Conflitos (econômicos, políticos e concorrência) * Competição * Desunião * Preconceito/discriminação * Irresponsabilidade (valorização do material). http://sociolog1a.blogspot.com.br/2012/11/pontos-positivos-e-negativos-da.html I - NOTAÇÃO CIENTÍFICA no desconto, o valor original eqüivale a 100 % enquanto que no lucro quem eqüivale a 100 % é o valor de compra. A notação científica serve para expressar números muito grandes ou muito pequenos. O segredo é multiplicar um numero pequeno por uma potência de 10. A forma de uma Notação científica é: TÉCNICA AVANÇADA Valor final após um aumento de 60% → 160% do valor m . 10n Onde m significa mantissa e n, significa ordem de grandeza. A mantissa sempre será um valor em módulo entre 1 e 10. Valor final após um desconto de 60% → 40% do valor Coordenadas do vértice: Resolução: Imagem da função quadrática Transformando em notação científica: Para transformar um numero grande qualquer em notação cientifica, devemos deslocar a vírgula para a esquerda até o primeiro algarismo desta forma: 1 bilhão = 1.000.000.000 = 109 1 trilhão = 1.000.000.000.000 = 1012 5 mil = 5.000 = 5.103 II - FUNÇÃO QUADRÁTICA (Função 2º Grau) Forma: f(x) = ax2 + bx + c, com a ≠ 0 • ∆>0 Custo das unidades Unidade 1: A (sem desconto) Unidade 2: 0,9A (desconto de 10%) Unidade 3: 0,8A (desconto de 20%) Total pago na compra : 2,7A Total sem descontos: 3A Desconto total: O que corresponde a um desconto de 10%. Alternativa B Para com valores muito pequenos, é só mover a virgula para a direita, e a cada casa avançada, diminuir 1 da ordem de grandeza, desta forma: 0,000000075 = 7,5 . 10-8 -33.000.000.000.000 » -3,3 . 1013 0,46 = 4,6 . 10-1 Vejamos agora um exemplo em vestibulares: UFGRS 2013 – 26. Um adulto humano saudável abriga cerca de 100 bilhões de bactérias, Somente em seu trato digestivo. Esse número de bactérias pode ser escrito como (A)109. (B) 1010. (C) 1011. (D) 1012. (E) 1013 . Resolução: 100 bilhões = 100 x 1.000.000.000 = 102 x 109 =1011 Alternativa: C __________________________________ V - GEOMETRIA ESPACIAL __________________________________ IV - GEOMETRIA PLANA Resolução: f(x) = - f(x) → 2f(x) = 0 → f(x) = 0 ∴ UFRGS/2014 - 46. A área de um quadrado inscrito na circunferência de equação Alternativa B x2 - 2y + y2 = 0 é Resolução: Resolução: Temos uma circunferência de centro de coordenadas (0,1) e raio igual a 1. O diâmetro da circunferência é igual a diagonal do quadrado, logo temos que: Alternativa:A Resolução: A alternativa correta é D, porque o módulo de é sempre um valor positivo. Sendo assim, o que é positivo continuará positivo e o que é negativo ficará positivo. Portanto, temos que: __________________________________ III - PORCENTAGEM Normalmente os problemas de percentagem são resolvidos através de uma regra de três simples, não esquecendo jamais de atribuir 100 % ao valor referencial. Por exemplo, CINEMÁTICA - Paralelo: mais de um caminho. Corrente elétrica → se divide proporcionalmente. Voltagem → igual. M.R.U. – Velocidade constante são de elétrons ao incidir luz. - Pelo eixo: ωA = ωB. ONDAS - Aparelhos de medida: Voltímetro (V): conecta-se em paralelo com o circuito. Amperímetro (A): Conecta-se em série com o circuito. -Tempo de meia-vida = tempo para que o número de desintegrações se reduza à metade. M.R.U.V – Aceleração constante GRAVITAÇÃO Lei de Newton da atração gravitacional “Todo corpo do universo atrai qualquer outro corpo com força que é diretamente proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre seus centros.” CALORIMETRIA Energias Calor sensível REAÇÕES NUCLEARES Calor Latente -Fusão: união de dois elementos menores formando um maior. Há liberação de energia. Não há resíduos radioativos Movimento Circular Uniforme Velocidade Linear (Tangencial) CIRCUITOS Velocidade Angular ACOPLAMENTO DE POLIAS. - Série: um caminho só. Corrente elétrica → mesma. Voltagem → se divide proporcionalmente. -Fissão: desintegração de um núcleo grande em outros menores. Há liberação de energia. Há resíduos radioativos. Reação em cadeia. - Pela borda: VA = VB. Física Moderna EFEITO FOTOELÉTRICO Incidir radiação eletromagnética sobre um material pode o fazer emitir elétrons. Emis- A prova de química apresenta questões de dificuldades variadas, então, dê uma olhada inicial antes de começar a prova e faça as mais fáceis antes. MASSA MOLECULAR A massa das moléculas podem ser calculadas pela soma das massas atômicas de cada um dos átomos. ESTEQUIOMETRIA - Sempre necessário! Nunca esquecer as relações estequimétricas 1 mol – 6,02.1023 – massa molar – 22,4 L (se for gás) SAIS Formados por reações de neutralização ÁCIDO + BASE → SAL + ÁGUA MODELOS ATÔMICOS Tema recorrente nas provas, enfoque principal nos modelos mais atuais. RUTHERFORD ELETROQUÍMICA As reações de REDOX, se caracterizam por serem reações em que uma substância perde elétrons e outra ganha. OXIDAÇÃO Utilizando o experimento de bombardeamento de partículas alfa em uma lâmina de ouro, foi descoberto: • Uma região pequena e densa, denominada núcleo. • Que os elétrons são muito pequenos comparados aos prótons. • A maior parte da matéria é vazia. BOHR • Perde elétrons. • Aumenta o NOX. • Se o elemento OXIDOU, logo ele é o AGENTE REDUTOR. REDUÇÃO • Ganha elétrons. • Diminui o NOX. • Se o elemento REDUZIU, logo ele é o AGENTE OXIDANTE. EQUILÍBRIO No momento em que as concentrações de produtos e reagentes tornam-se constantes, o equilíbrio químico é atingido e somente a partir daí que pode se estudar as reações. Modelo que explicou através da quantização da energia, ideias de Max Planck, que os elétrons absorvem energia, sendo promovidos a níveis mais energéticos e, quando retornam, essa diferença energética é emitida como luz. Galera a prova da UFRGS cobra bastante sobre célula, CITOLOGIA. Então ai vai uns quadros resumos pra vocês se lembrarem das principais organelas e do metabolismo da célula. EXERCÍCIOS (UFRGS 2011) A coluna da esquerda, abaixo, apresenta diferentes fases da meiose; as da direita, fontes de variabilidade genética de duas dessas fases. Associe adequadamente a coluna da direita à da esquerda. 1 - prófase I ( ) permutação 2 - anáfase I ( ) segregação dos homólogos 3 – prófase II 4 – metáfase II 5 – anáfase II A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é (A) 1 e 2. (B) 2 e 3. (C) 3 e 4. (D) 4 e 5. (E) 5 e 1. ________________________________________________________________________ (UFRGS 2014) A rota metabólica da respiração celular responsável pela maior produção de ATP é (A) a glicólise, que ocorre no citoplasma. (B) a fermentação, que ocorre na membrana externa da mitocôndria. (C) a oxidação do piruvato, que ocorre na membrana externa da mitocôndria. (D) a cadeia de transporte de elétrons, que ocorre na membrana interna da mitocôndia. (E) o ciclo do ácido cítrico, que ocorre na matriz da mitocôndria.
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