Linfoma em bovinos
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Linfoma em bovinos
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA LABORATÓRIO DE PATOLOGIA VETERINÁRIA PROJETO DE PESQUISA Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária - Mestrado Área de concentração: Patologia e Patologia Clínica Aspectos epidemiológicos, clínicos, anatomopatológicos e imunohistoquímicos do linfoma em bovinos (1965-2014) Aluno: Welden Panziera Orientador: Rafael Almeida Fighera Santa Maria – RS Maio – 2013 RESUMO O objetivo deste estudo é analisar os casos de linfoma em bovinos que foram diagnosticados no Laboratório de Patologia Veterinária (LPV) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) entre 1965 a 2014. Serão analisados os aspectos epidemiológicos, clínicos, anatomopatológicos e imuno-histoquímicos, dos casos de linfoma em bovinos, com o objetivo de melhor direcionar clínicos e patologistas para o diagnóstico. Os aspectos histológicos e imuno-histoquímicos permitirão classificar os linfomas de bovinos com base no sistema REAL (Revised European-American Classification of Lymphoid Neoplasms). Para isso, os arquivos de necropsia e biópsia serão revisados em busca dos referidos casos e se procederá uma reavaliação histológica e uma categorização imuno-histoquímica quanto à origem dos linfócitos neoplásicos (B ou T). Com base nos dados epidemiológicos, clínicos e anatomopatológicos obtidos a partir dos casos de linfoma em bovinos, esperamos fornecer subsídios, principalmente aos clínicos de grandes animais, para que possam, a campo, realizar com propriedade o diagnóstico presuntivo, tanto in vivo com postmortem, dessa, que é a terceira forma mais comum de tumores em bovinos de nossa região. Além disso, esperamos auxiliar os patologistas veterinários na utilização da classificação atual dos linfomas, já há anos utilizada para tumores linfoides de humanos. Palavras-chave: linfossarcoma; tumores linfoides; leucose; sistema REAL 1) IDENTIFICAÇÃO 1.1 IDENTIFICAÇÃO DA PROPOSTA 1.1.1. Título do projeto Aspectos epidemiológicos, clínicos, anatomopatológicos e imuno-histoquímicos do linfoma em bovinos (1965-2014). 1.1.2. Período Março de 2013 a dezembro de 2014. 1.1.3. Instituição envolvida Laboratório de Patologia Veterinária (LPV), Centro de Ciências da Saúde (CCS), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 1.1.4. Equipe de trabalho a. Coordenador: Rafael Almeida Fighera, Médico Veterinário, Doutor (SIAPE 2583800). Professor Adjunto 3 do Departamento de Patologia Veterinária da UFSM – CCS, LPV, ramal: 8168, e-mail: [email protected] b. Executor: Welden Panziera, Médico Veterinário, aluno de mestrado do Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária da UFSM, área de concentração Patologia e Patologia Clínica (matrícula 201360421), LPV, ramal: 8168, e-mail: [email protected] c. Colaboradores: Glaucia Denise Kommers. Médica Veterinária, PhD (SIAPE 0382851). Professora Associado 1 do Departamento de Patologia Veterinária da UFSM – CCS, LPV, ramal: 8168, e-mail: [email protected] Claudio Severo Lombardo de Barros, Médico Veterinário, PhD (SIAPE 0378502). Professor Titular do Departamento de Patologia Veterinária da UFSM – CCS, LPV, ramal: 8168, e-mail: [email protected] 1.2 REVISÃO DE LITERATURA As expressões “neoplasias linfoides”, “distúrbios linfoproliferativos” e “leucose linfoide” denotam um grande grupo de entidades neoplásicas malignas que se manifestam com diferentes aspectos clínicos e anatomopatológicos, mas que tem em comum originar-se dos linfócitos. Linfoma (previamente linfossarcoma) é uma forma de apresentação do distúrbio linfoproliferativo em que o tumor linfoide se origina mais frequentemente em órgãos hematopoiéticos sólidos, como linfonodo, baço ou tecido linfoide associado à mucosa (MALT), e, menos frequentemente, em órgãos não linfoides, porém sempre fora da medula óssea (FIGHERA; GRAÇA, 2010). É um neoplasma hematopoiético descrito em várias espécies de animais, e em bovinos, dependendo do local do mundo, é considerado o neoplasma mais frequentemente incriminado como causa de morte (JACOBS et al., 2002). Em um estudo retrospectivo recente, realizado no Rio Grande do Sul, de 6.706 necropsias de bovinos, 586 casos correspondiam a neoplasias. Desses 586 casos, 101 eram linfomas (17,2% de todos os tumores) (LUCENA et al., 2011). Diferentemente de outras espécies de mamíferos domésticos, bovinos possuem uma classificação anatômica própria para os linfomas. Ao contrário da tradicional subdivisão em multicêntrico, alimentar, mediastínico e extra-nodal, os linfomas bovinos são divididos em dois grandes grupos: esporádicos e enzoóticos (FIGHERA; GRAÇA, 2010). Linfomas enzoóticos são causados pelo vírus da leucemia bovina (BLV, bovine leukemia virus) (VALLI, 2007), um retrovírus da família Retroviridae, subfamília Orthoretrovirinae (RAVAZZOLO; COSTA, 2012). Já linfomas esporádicos não têm nenhuma relação com essa infecção viral. Linfomas enzoóticos ocorrem basicamente em bovinos adultos, com idade entre 2 a 15 anos, mas mais frequentemente entre cinco e sete anos, e em rebanhos em que técnicas de manejo propiciem a disseminação do BLV. Por outro lado, linfomas esporádicos ocorrem em bovinos entre um mês e quatro anos de idade, ou seja, em uma faixa etária inferior aos afetados pelos casos enzoóticos. Linfomas enzoóticos são agrupados sob a denominação “leucose enzoótica bovina” (LEB), uma expressão comumente utilizada em veterinária para se referir à doença causada pela presença dos tumores, independentemente de suas localizações ou do aspecto anatomopatológico (FIGHERA; GRAÇA, 2010). 1.2.1. Linfoma enzoótico O linfoma enzoótico que afeta bovinos é causado pelo BLV, que é transmitido principalmente de forma horizontal através de fômites sujos de sangue, principalmente instrumentos cirúrgicos, luvas de palpação e agulhas hipodérmicas. Outras formas de transmissão horizontal do BLV incluem hematofagia por insetos, transfusão sanguínea, descorna, tatuagem e colocação de brincos (WERLING et al., 2004; BARROS et al., 2006; BARROS, 2007). A prevalência do linfoma enzoótico é alta em áreas onde o BLV ocorre de forma enzoótica e baixa nos rebanhos livres de infecção. Os bovinos afetados são adultos, com idade entre 2 a 15 anos, mas mais frequentemente entre cinco e sete anos. Essa forma apresenta maior prevalência nas raças leiteiras de alta produção devido ao tipo de criação, que por ser intensiva permite uma maior proximidade entre os animais e requer práticas de manejo constantes, o que influencia muito na disseminação do BLV. Entretanto, quando bovinos de corte são criados em confinamento, os índices de infecção podem assemelhar-se aos observados em vacas leiteiras (FIGHERA; GRAÇA, 2010). No mesmo estudo retrospectivo descrito anteriormente, que identificou 101 casos de linfoma em bovinos, 57% dos bovinos afetados eram de raças leiteiras, e a maioria dos linfomas foi interpretada como enzoótico (LUCENA et al., 2011). No Brasil, vários estudos epidemiológicos sobre a prevalência da LEB foram realizados, todos utilizando avaliação sorológica de rebanhos. Embora em algumas regiões do país a prevalência da infecção pelo BLV seja muito alta, é importante resaltar que apenas 1 a 5% dos bovinos sorologicamente positivos desenvolverão linfoma (FIGHERA; GRAÇA, 2010). Vários sinais clínicos são associados com o linfoma enzoótico, e dependem da localização das massas tumorais e das funções vitais afetadas (BARROS, 2007). A apresentação mais comum é o aumento de volume dos linfonodos (linfadenomegalia), principalmente dos pré-escapulares e pré-crurais, que às vezes podem atingir tamanhos gigantescos (FIGHERA; GRAÇA, 2010). Os linfonodos ilíacos geralmente são acometidos, e pode ser facilmente detectados por palpação retal (BARROS et al., 2006; BARROS, 2007). Outros sinais clínicos importantes incluem: perda de peso, queda da produção leiteira, anorexia, febre, dispneia, constipação (devido ao aumento dos linfonodos do trato gastrointestinal), exoftalmia (devido ao aumento dos linfonodos da região retrobulbar), incoordenação, paresia/paralisia progressiva dos membros pélvicos (devido à compressão da medula espinhal por massas neoplásicas epidurais), insuficiência cardíaca direita (devido à presença de massas neoplásicas no átrio direito) e distocia (JACOBS et al., 2002; BARROS et al., 2006; BARROS, 2007; VALLI, 2007; FRY; MCGAVIN, 2009; FIGHERA; GRAÇA, 2010) Hematologicamente, cerca de dois terços dos bovinos adultos com linfoma enzoótico apresentam hemogramas normais, e o restante desenvolvem anemia não regenerativa leve e/ou leve a moderada mudança no número de leucócitos. Alguns bovinos desenvolvem uma linfocitose reativa, que em alguns pode ser persistente (linfocitose persistente) (JACOBS et al., 2002). Na necropsia, os órgãos mais comumente acometidos são os linfonodos, o abomaso, o coração e o útero. Outros órgãos/tecidos em que massas neoplásicas são frequentes incluem: rins, intestinos e canal vertebral (BARROS et al., 2006). O achado de necropsia mais frequente é um aumento generalizado dos linfonodos superficiais e internos. Ao corte eles são macios, por vezes friáveis. A superfície de corte é homogênea, branco-amarelada, não sendo possível realizar uma delimitação corticomedular (padrão difuso) (JACOBS et al., 2002; BARROS et al., 2006; BARROS, 2007; VALLI, 2007; FRY; MCGAVIN, 2009; FIGHERA; GRAÇA, 2010). Nos linfonodos maiores são comuns áreas necróticas amareladas ou avermelhadas, multifocais ou focalmente extensas. Raramente, um padrão caracterizado por múltiplos nódulos brancos e multifocais (padrão folicular) pode ocorrer (FIGHERA; GRAÇA, 2010). No coração, as massas ocorrem sempre no átrio direito, mas podem infiltrar outras áreas, de acordo com a evolução de cada caso. Quando o coração é afetado, lesões de insuficiência cardíaca congestiva direita, como ascite, fígado de noz-moscada, edema subcutâneo e edema cavitários, são comuns (BARROS et al., 2006; BARROS, 2007). No abomaso, observam-se grandes massas, nódulos ou placas, recobertas por mucosa íntegra ou ulceradas. Na medula espinhal, os tumores correm principalmente na região lombar e estão dispostos extraduralmente ao longo do canal vertebral, o que leva a compressão da medula espinhal e, consequentemente, sinais neurológicos (BARROS, 2007; FIGHERA; GRAÇA, 2010). Na histologia, o linfoma enzoótico pode apresentar múltiplos padrões, mas o mais comum é o padrão difuso, no qual se observa uma obliteração de toda a arquitetura nodal. As células neoplásicas são grandes linfócitos que possuem citoplasma abundante e núcleo redondo a oval, formado por cromatina frouxa a vacuolizada. O número de nucléolos varia de um a três, e há muita mitose e apoptose. Ocasionalmente células com núcleos multilobulados podem ser observadas (FIGHERA; GRAÇA, 2010). 1.2.2. Linfoma esporádico Sob a expressão “linfoma esporádico” encontram-se todos os casos de linfoma de bovinos que não são associados à infecção pelo BLV. Esses linfomas são raros e dificilmente ocorre mais de um caso em um mesmo rebanho (BARROS et al., 2006; FIGHERA; GRAÇA, 2010; LUCENA et al., 2011). Linfomas esporádicos ocorrem basicamente de três formas: multicêntrica, tímica e cutânea (FIGHERA; GRAÇA, 2010). Linfoma multicêntrico, também chamado de linfoma de bezerro ou linfoma juvenil, ocorre em bezerros de um a seis meses de idade (FIGHERA; GRAÇA, 2010). Os principais sinais clínicos observados são depressão, perda de peso e fraqueza. Hematologicamente observa-se anemia e linfocitose (BARROS et al., 2006; BARROS, 2007). A doença progride para a morte em 2-8 semanas. Na necropsia, há linfadenomegalia simétrica dos linfonodos superficiais e profundos e infiltração de células neoplásicas no fígado, no baço e na medula óssea, e, menos comumente, outros órgãos também podem estar afetados (FIGHERA; GRAÇA, 2010; VALLI, 2007). Linfoma tímico, também chamado de linfoma adolescente, acomete bovinos com seis a dois anos e meio de idade (FIGHERA; GRAÇA, 2010). Bovinos da raça Hereford parecem apresentar uma maior predisposição em desenvolver essa forma de linfoma (BARROS et al., 2006). Clinicamente, linfoma tímico é caracterizado pela presença de massas grandes e únicas no pescoço (região ventral) e no mediastino anterior, podendo ocorrer compressão do esôfago e traqueia. Os bovinos acometidos podem apresentar disfagia, timpanismo, tosse e dispneia. A evolução é de 2-9 semanas (BARROS et al., 2006; BARROS, 2007). Ocasionalmente, linfonodos e músculos da região da cabeça, e ossos (mandíbula e maxilar) podem ser acometidos devido à infiltração neoplásica (JACOBS et al., 2002; FIGHERA; GRAÇA, 2010). Linfadenopatia não é comum (BARROS, 2007). Linfoma cutâneo afeta bovinos com um a quatro anos de idade (FIGHERA; GRAÇA, 2010). As lesões iniciais aparecem como urticas, e em seguida evoluem para lesões elevadas, circulares e sem pelos. Algumas lesões podem ser ulceradas com necrose na região central (JACOBS et al., 2002). Geralmente a pele do pescoço, região das escápulas, região do períneo e membros posteriores são as mais acometidas (JACOBS et al., 2002; BARROS et al., 2006; BARROS, 2007). Na histologia, a invasão da pele pelos linfócitos tumorais lembra a micose fungoide de humanos (BARROS et al., 2006). Eventualmente, os bovinos desenvolvem a forma multicêntrica de linfoma (JACOBS et al., 2002), e vários outros órgãos podem estar afetados, como coração, medula espinhal, pulmão e abomaso (BARROS, 2007). As lesões aparecem e depois regridem por meses, e por algum tempo a pele pode ficar livre de lesões (JACOBS et al., 2002). A imuno-histoquímica é comumente utilizada em linfomas bovinos para confirmar a origem das células neoplásicas (JACOBS et al., 2002). Os linfomas enzoóticos (forma que está associada à infecção pelo BLV) originam-se, predominantemente, de linfócitos B maduros, já os linfomas esporádicos (forma que não está associada à infecção com o BLV) originam-se tanto de linfócitos B como de linfócitos T (ISHIGURO et al., 1994; TANI et al., 1997; VERNAU et al., 1997; STEP et al., 2001; JACOBS et al., 2002; HARBO et al., 2004). O uso de anticorpos para a imuno-marcação de linfócitos B e T já foi padronizado há vários anos e diversos são aqueles que têm sido utilizados para a imunomarcação de linfócitos tumorais em bovinos (ISHINO et al., 1990; VERNAU et al., 1992; ASAHINA et al., 1995; TANI et al., 1997; SATO et al., 2002; OTROCKA-DOMAGALA et al., 2012). Preconiza-se para linfócitos B a utilização do anticorpo primário monoclonal anti-humano CD79αcy, produzidos em camundongos, e para linfócitos T, a utilização do anticorpo policlonal anti-humano CD3, produzidos em coelhos (HARBO et al., 2004; BUCZINSKI et al., 2006; ANJIKI et al., 2009; OTROCKADOMAGALA et al., 2012). 1.3 QUALIFICAÇÃO DO PRINCIPAL PROBLEMA A SER ABORDADO Linfoma é o terceiro tumor mais diagnosticado em bovinos da nossa região, atrás apenas de tumores do trato alimentar, basicamente carcinoma de células escamosas (CCEs) induzidos pela ingestão continuada de Pteridium aquilinum (samambaia), e tumores cutâneos, principalmente CCEs (LUCENA et al., 2011). No entanto, apesar da alta prevalência, não há quase estudos sobre linfoma bovino no Brasil. A prevalência desse tumor em nosso laboratório sugere que ele ocorra com elevada frequência nas propriedades rurais de nossa região. Assim, com base na falta desses dados, julgamos importante um estudo completo, que nos forneça dados relacionados à epidemiologia (sexo, raça, idade e tipo de manejo), à clínica (sinais clínicos e métodos de diagnóstico in vivo) e à anatomopatologia (achados macroscópicos, aspectos histológicos e comportamento imuno-histoquímico). Diferentemente do que ocorre com bovinos intoxicados por P. aquilinum e que desenvolvem CCEs (SOUTO et al., 2006; ANJOS et al., 2008; MASUDA et al., 2011) por exemplo, nenhum estudo foi conduzido em nossa rotina acerca de linfoma, o que, consequentemente, não permite saber se os nossos casos demonstram ou não os mesmos aspectos clínicos, epidemiológicos e anatomopatológicos daqueles descritos na literatura internacional, que é embasada em trabalhos científicos produzidos nos Estados Unidos, Canadá, África do Sul e parte da Europa. Além disso, observamos que cada vez que abordamos um determinado assunto, isso não apenas gera informação científica relevante, mas, principalmente, leva os clínicos de grandes animais da região a se interessarem mais pelo tema em questão, o que acaba por melhorar os diagnósticos por eles realizados. Isso pode ser notado pelo aumento no número de diagnósticos de uma determinada doença em nossa rotina após realização de um estudo prévio. Isso ocorre porque esses estudos são frequentemente publicados em periódicos aos quais os clínicos de campo têm fácil acesso e isso, finalmente, faz com que eles reciclem-se ou aprendam a diagnosticar doenças que não estão acostumados. Com base no fato de que em nossa rotina atualmente é comum clínicos de campo não conseguirem reconhecer casos típicos de linfoma em bovinos, consideramos justificável um estudo acerca do tema, visando encontrar possíveis diferenças que podem ser a causa dessa baixa prevalência de diagnósticos clínicos quando comparada a alta prevalência de diagnóstico na necropsia. 1.4 ALTERNATIVAS Estabelecer os aspectos epidemiológicos, clínicos e anatomopatológicos do linfoma em bovinos é possível desde que os casos sejam previamente confirmados através de exame morfológico dos tecidos afetados, ou seja, realmente sejam casos de linfoma. Dessa forma, os estudos acerca do tema são feitos basicamente com a rotina de laboratórios de patologia. Uma alternativa a essa prática seria a realização desse mesmo estudo através de inquéritos epidemiológicos e avaliações físicas em bovinos a partir de exames sorológicos para o vírus da leucemia bovina (VLB), a causa básica desses tumores em bovinos adultos, realizados, por exemplo, por laboratórios de virologia. Entretanto, sabe-se que no máximo 5% dos bovinos infectados pelo VLB desenvolverão linfoma, o que inviabiliza utilizar os dados obtidos estudando uma população de bovinos infectados para categorizar os achados epidemiológicos e clínicos em bovinos como linfoma, uma minoria que está realmente doente no rebanho. Além disso, ao ser conduzido em um laboratório de patologia, é possível se estudar casos antigos de linfoma, pois os tecidos contidos em blocos de parafina se prestam perfeitamente para reavaliações e reclassificações histológicas e, principalmente, para avaliação imuno-histoquímica. Isso é bem menos oneroso e arriscado, já que por ser um estudo parcialmente retrospectivo, o material a ser estudado está disponível e independe da necessidade em buscar novos casos. 2) OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL Estudar os casos de linfoma em bovinos diagnosticados no LPV-UFSM entre os anos de 1965 e 2014. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Estabelecer os aspectos epidemiológicos em bovinos com linfoma; Determinar a prevalência dos sinais clínicos em bovinos com linfoma; Determinar os achados anatomopatológicos (macroscópicos) em bovinos com linfoma; Classificar histologicamente os linfomas bovinos através do sistema REAL (Revised European-American Classification of Lymphoid Neoplasms), utilizando para isso a imuno-histoquímica. 3) RESTRIÇÕES Para execução desse estudo, as seguintes restrições podem ser previamente identificadas: - Disponibilidade de recursos financeiros para aquisição de materiais de consumo; - Ausência de blocos de parafina no arquivo do LPV-UFSM referentes aos casos de linfoma em bovinos, devido a ser um estudo retrospectivo de 50 anos; - Viabilidade dos blocos de parafina encontrados; - Viabilidade dos tecidos imersos nesses blocos de parafina, principalmente no que se refere à possibilidade ou não de recuperação antigênica, pois no passado, aspectos como tempo de fixação dos tecidos não eram tão importante quanto após o advento da imuno-histoquímica; 4) HIPÓTESE CIENTÍFICA Em relação aos aspectos epidemiológicos, clínicos e anatomopatológicos a principal hipótese é que esses tumores ocorram de forma semelhante ao descrito na literatura internacional. Entretanto, com base no fato de que estudos recentes têm demonstrado diferenças clínicas e anatomopatológicas, principalmente em relação à imuno-histoquímica, acreditamos ser válida a investigação. Além disso, com base na dissociação entre diagnósticos clínicos e de necropsia, é possível que haja diferenças clínicas entre os casos clássicos descritos na literatura e aqueles vistos na rotina da clínica de bovinos no RS. 5) MATERIAL E MÉTODOS Inicialmente serão procurados e identificados os casos de linfoma em bovinos no Sistema de Arquivo de Laudos do LPV-UFSM. Esse levantamento de dados retrospectivo será realizado da seguinte maneira: 1) localizando-se os casos de linfoma diagnosticados entre 1965 e 2012 através do banco de dados de cada ano, 2) localizando-se os laudos dos respectivos casos e (3) revisando individualmente cada laudo. Os dados coletados nessa revisão incluirão aspectos relacionados à epidemiologia, à clínica e à anatomopatologia. Os aspectos epidemiológicos incluirão sexo, raça, idade e também as técnicas de manejo rotineiras que cada bovino afetado havia sido submetido. Os aspectos clínicos serão baseados no histórico relatado pelos clínicos e que consta nos laudos de necropsia. Os aspectos anatomopatológicos incluirão apenas os achados macroscópicos, pois serão incluídos nos estudos apenas casos em que há blocos de parafina viáveis a ponto de se poder reavaliar a histologia de cada caso. Na avaliação dos dados de macroscopia será levado em conta não apenas a descrição feita pelo patologista na época e registrada no laudo, mas também, sempre que possível, uma reavaliação do padrão macroscópico com base em nosso arquivo fotográfico. Esses mesmos aspectos serão avaliados prospectivamente durante os anos de 2013 e 2014. De todos os casos de linfomas bovinos encontrados, serão procurados os blocos de parafina presentes no Arquivo de Blocos de Parafina do LPV-UFSM. A partir dos casos encontrados serão confeccionados cortes histológicos, a fim de validar o diagnóstico de linfoma através de critérios histológicos estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (JARRET; MACKEY, 1974) e pela Armed Forces Institute of Pathology (AFIP), ambos para tumores do tecido linfoide e hematopoiético (VALLI et al., 2002). Casos em que os blocos de parafina não forem encontrados serão excluídos. A técnica de imuno-histoquímica (IHQ) empregada será a imunomarcação para linfócitos B (CD79 αcy) e T (CD3) em tecidos embebidos em parafina, conforme protocolo descrito a seguir e baseado em Gocke (2006). Será realizada a desparafinização e reidratação dos tecidos, e para a recuperação antigênica a utilização de solução tampão de Tris–EDTA pH 9,5 no microondas por 10 minutos. O bloqueio das peroxidases e avidinas endógenas será realizado com H 202 comercial a 3% por dois tempos de dez minutos e leite em pó comercial diluído em tampão fosfato salino com detergente Tween 20 (PBST) por 15 minutos respectivamente. Como anticorpo primário será utilizado anticorpo policlonal antihumano CD3 e anticorpo monoclonal anti-humano CD79αcy produzidos em coelhos e camundongos respectivamente. Para o CD3 será utilizada a diluição de 1:800 e para o CD79αcy a diluição de 1:200, ambos diluídos em PBST, e incubados por 1 hora a 37°C. O anticorpo secundário (polímero) 1 será utilizado consecutivamente, incubado a 25ºC por 30 minutos e marcado através da adição do cromógeno de tetracloreto de 3-3’ diaminobenzidina (DAB)2 por cinco minutos. As lavagens entre as etapas da técnica serão feitas com PBST em pH 7,6. A contra-coloração será realizada com hematoxilina de Harris3. Como controles positivos serão utilizados órgãos linfoides de bovinos. Como controle negativo, as mesmas secções serão utilizadas, com substituição do anticorpo primário por PBST. Por fim, serão considerados como linfoma de células B, todos os linfomas que tiveram suas células neoplásicas imunomarcadas para CD79αcy, mas não para CD3, e 1 Easy Path EP-12-20502®, Erviegas, Rua Lacedemonia, 268, Jardim Brasil, São Paulo, SP, Brasil. Dako Cytomation K3468®, Dako Cytomation, 6392 Via Real, Carpinteria, CA, USA. 3 ® Easy Path EP-101071 , Erviegas, Rua Lacedemonia, 268, Jardim Brasil, São Paulo, SP, Brasil. 2 como linfomas de células T, todos os linfomas que tiverem suas células neoplásicas imunomarcadas para CD3, mas não para CD79αcy. 6) RESULTADOS E IMPACTO ESPERADOS Com base nos dados epidemiológicos, clínicos e anatomopatológicos obtidos a partir dos casos de linfoma em bovinos da nossa região, esperamos fornecer subsídios principalmente aos clínicos de grandes animais, para que possam, a campo, realizar com propriedade o diagnóstico presuntivo, tanto in vivo como post-mortem, dessa comum forma de neoplasia de bovinos. Além disso, esperamos que os patologistas veterinários que trabalham com diagnóstico de doenças de bovinos possam, através dos nossos resultados histológicos, melhor compreender a heterogeneidade da apresentação microscópica do linfoma. Com isso, eles poderão diagnosticar com mais propriedade científica esse neoplasma, bem como para diferenciar alguns padrões menos agressivos (de baixo grau, por exemplo) para com desordens linfoides benignas (como por exemplo, hiperplasias linfoides atípicas). 7) METAS Gerar conhecimento acerca do tema (linfoma em bovinos) a ponto de auxiliar clínicos de grandes animais e patologistas veterinários no diagnóstico dessa doença. 8) CRONOGRAMA Atividades para 2013 Atividade Mês 1 1 2 3 4 5 x x 6 7 8 9 10 11 12 2 x 3 x 4 x 5 x x x x 6 x x x x 7 x x x x 8 9 10 11 12 x x x x x Atividades para 2014 Atividade Mês 1 2 3 4 8 x x x x 9 x x x x 10 5 6 7 x x x 11 1. Confecção do projeto. 2. Procura dos casos de linfoma bovino no Sistema de Arquivo de Laudos do LPVUFSM. 3. Procura dos laudos dos respectivos casos. 4. Revisão dos laudos e coleta de dados. 5. Procura dos blocos de parafina. 6. Realização de cortes histológicos. 7. Validação dos diagnósticos de linfoma através da análise de cortes histológicos. 8. Realização da imuno-histoquímica 9. Avaliação das imunomarcações. 10. Classificação dos linfomas pela associação dos aspectos histológicos e imunohistoquímicos. 11. Confecção do artigo científico. 9) ORÇAMENTO Quanti Unidade Discriminação Valor dade Total (R$) unitário (R$) 01 Frasco 100g Eosina Y 45,00 45,00 01 Frasco 50 g Hematoxilina 270,00 270,00 10 Frasco 1L Xilol 30,00 300,00 01 Frasco 1L Formol 37,00 37,00 10 Pacote 1 Kg Parafina 10,00 100,00 01 1 ml Anticorpo anti-linfócito B (CD79αcy) 2.400,00 2.400,00 01 1 ml Anticorpo anti-linfócito T (CD3) 1.600,00 1.600,00 01 1 kit (100 ml) Kit LSAB +Sys, HRP, Lg Vol (Ac 3.000,00 3.000,00 secundário biotinilado – estreptavidina-peroxidade) 01 1 kit (100 ml) Kit LSAB +Sys, AP, Lg Vol (Ac secundário biotinilado – 3.000,00 3.000,00 3,90 39,00 estreptavidina-fosfatase alcalina) 10 Caixa 50 unid. Lâmina para microscopia 03 Caixa 75 unid Lâminas para microscopia c/ carga 140,00 420,00 elétrica 05 Caixa 100 unid Lamínula 24x50 6,20 31,00 01 Frasco 100 ml Entellan New 85,00 85,00 01 Caixa 100 unid. Navalhas descartáveis 200,00 200,00 02 500 unid Pipeta Pasteur (3ml) 45,00 90,00 02 Caixa 100 unid. Luvas para procedimentos 9,50 19,00 01 Caixa 38,50 38,50 1000 Ponteiras para micropipetas 100- 38,50 38,50 unid. 01 Caixa unid 1000 Ponteiras para micropipetas 20200ul 1000ul Total 11.713,0 10) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANJIKI, T. et al. Immunohistochemical study on cutaneous B cell lymphoma in two cows. Japan Agricultural Research Quarterly, v. 43, n. 1, p. 33-36, Apr. 2009. ANJOS, B. L. et al. Intoxicação aguda por samambaia (Pteridium aquilinum) em bovinos na região central do Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v. 28, n. 10, p. 501-507, Out. 2008. ASAHINA, M. et al. 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Também auxiliará patologistas veterinários que trabalham principalmente, ou apenas, com diagnóstico de doenças de grandes animais a reconhecer os diversos padrões morfológicos do linfoma nessa espécie.
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