TCC – O Estudo Lexical e a Equivalência do Inglês
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TCC – O Estudo Lexical e a Equivalência do Inglês
CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO FACULDADE ADVENTISTA DE EDUCAÇÃO CURSO DE TRADUTOR E INTREPRÉTE. TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO O ESTUDO LEXICAL E A EQUIVALÊNCIA DO INGLÊS VERNACULAR AFRO-AMERICANO/ EBONICS ANALISADO NA LEGENDAGEM DO FILME 8 MILE – RUA DAS ILUSÕES 2 MÔNICA CECÍLIA SANCHEZ DA SILVA SIMONE FRANCO DE ANDRADE ENGENHEIRO COELHO - SP 2007 MÔNICA CECÍLIA SANCHEZ DA SILVA SIMONE FRANCO DE ANDRADE 3 O ESTUDO LEXICAL E A EQUIVALÊNCIA DO INGLÊS VERNACULAR AFRO-AMERICANO/ EBONICS ANALISADO NA LEGENDAGEM DO FILME 8 MILE – RUA DAS ILUSÕES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade Adventista de Educação do Centro Universitário Adventista de São Paulo como requisito parcial a obtenção da graduação em Tradutor e Intérprete sob a orientação da Profª. Cecília Nascimento ENGENHEIRO COELHO - SP 2007 Eller Rodrigues 4 Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado em 04 de dezembro de 2007, pela banca examinadora constituída pelas professoras: _________________________________________________________ Profª. Cecília Eller Rodrigues Nascimento - Orientadora _________________________________________________________ Profª. Ms. Ana Maria de Moura Schäffer 5 6 Dedicamos este trabalho à Deus pelo dom da sabedoria e à minha irmã (da Simone) Ângela por ter contribuído com a minha formação acadêmica. AGRADECIMENTOS • A Deus por ter cuidado de nós durante estes quatro anos de luta e estudo, e nos ajudar a desenvolver nossas faculdades mentais e espirituais. E pela oportunidade 7 de estudarmos nesta instituição de ensino. E por nos dar força para realizar este trabalho; • A nossa orientadora Profª. Cecília Eller por ter aceitado a orientação deste trabalho, e ter dedicado o seu tempo tão curto nos ajudando e dando as orientações necessárias para a realização deste trabalho científico; • A Profª. Ana Schäffer por ter nos incentivado com o tema e por aceitar a participar da nossa banca e dedicar seu precioso tempo de doutorado, para avaliar o nosso trabalho; • Aos nossos familiares pelo apoio e paciência nos momentos de stress e dificuldade que passamos, os conselhos dados e as viagens feitas da casa de uma para outra. Obrigada sem o apoio de vocês não teríamos conseguido; • As minhas companheiras de quarto (da Mônica) Suellen, Liege e Manu, vocês são especiais para mim, obrigada mesmo, pelo apoio de vocês ao me ajudarem quando eu mais precisei. Aos nossos corretores Liege e Danilo obrigado por dedicar o tempo escasso de vocês para corrigem nossos capítulos e abstract; • Enfim, a todos aqueles que nos apoiaram direta e indiretamente e nos ajudaram a realizar este trabalho, MUITO OBRIGADA a todos. 8 SUMÁRIO LISTA DE SIGLAS ....................................................................................................... vii RESUMO ..................................................................................................................... viii ABSTRACT .....................................................................................................................ix INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1 CAPÍTULOS I. INGLÊS VERNACULAR AFRO-AMERICANO: EBONICS ..................................... 3 1.1. A Origem do Inglês Vernacular Afro-Americano/Ebonics ................................... 3 1.2. O Ebonics e a Polemica Atual ............................................................................... 7 1.3. Um Pouco Sobre os Aspecto Fonológico e Gramatical do Ebonics...................... 8 II. LEGENDAGEM O QUE É? ...................................................................................... 11 2.1. Legendagem e suas Regras .................................................................................. 12 2.2. Legendagem Também é uma Questão Cultural .................................................. 16 III. O Estudo Lexical e a Equivalência do Ebonics na Legendagem do Filme 8 Mile Ruas das Ilusões ................................................................................................... 19 3.1 Neologismo ......................................................................................................... 20 3.2 Omissão e Adaptação ......................................................................................... 21 3.3 Estruturas Gramaticais e Uso de Língua Padrão ................................................ 27 3.4 Aspectos cognitivos e culturais .......................................................................... 29 3.5 Uso de Gíria ........................................................................................................ 31 IV. CONCLUSÃO.................................................................................................35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 37 9 LISTA DE SIGLAS IP – Inglês Padrão IVAA – Inglês Vernacular Afro-Americano LC - Língua de Chegada LP – Língua de Partida NT- Nossa Tradução 10 RESUMO Este trabalho tem como objetivo analisar o léxico da língua de ebonics e sua equivalência no Português na legendagem do filme 8 Mile: Rua das Ilusões. Cientes de que a tradução de legendagem é regida por regras estabelecidas pelas agências de tradução, e das características próprias da linguagem usada no trabalho audiovisual a ser legendado, consideramos também o aspecto cultural, que é um fator importante na tradução de legenda, pois não concebemos a 11 tradução dissociada da cultura. E essa precisa ser transmitida para o espectador, de modo que ele entre em contato com a realidade da língua de partida. A metodologia incluiu uma pesquisa bibliográfica a fim de levantar dados que nos auxiliaram no estudo, com o intuito de descobrir quais as contribuições já feitas sobre o ebonics e suas características, bem como elucidar questões referentes à tradução para legendas. Também procedemos a uma análise das legendas do filme supra-mencionado, utilizando material audiovisual e dicionários on-line como ferramentas de apoio para a mesma. É importante dispor o conhecimento do ebonics para os profissionais da área de tradução, a fim de mostrar-lhes como os falantes dessa língua atuam na sociedade, oferecendo, a partir de então, condições de reconhecer as marcas de sua forte cultura. Levar os tradutores a traduzirem o ebonics para o português como uma língua especial e não apenas como o português padrão, apresentar novos meios de tradução para a essa língua, por meio do olhar sobre um trabalho já realizado, é a intenção de nossos esforços com esse trabalho. Sua valia se estende desde uma tradução mais consciente das variáveis e, portanto, mais fidedigna, até a contribuição para a preservação dessa variante lingüística. Palavras-chave: Ebonics, legenda, tradução, equivalência, cultura. ABSTRACT This paper has aimed to analyze the Ebonics language lexicon and its equivalence into Portuguese in the subtitles of the movie 8 Mile’s. Knowing that the translation of subtitles has guidelines and rules established by translation agencies, and considering the peculiar characteristics of the language used at the audiovisual work which is submitted to subtitling, we considered the cultural aspect, that constitutes an important factor in the subtitling process, for we can’t conceive translation detached from culture. And it must be transmitted to the viewer, in order to put him/her in contact with the reality of the original language. The 12 methodology included a bibliographic research in order to raise useful data for this research, aiming to find out which contributions scholars have already made in what concerns Ebonics, its characteristics and issues regarding subtitling. We have analyzed the movies subtitles using online dictionaries and other audiovisual material as tools which supported our analysis. It is important to show the knowledge of this language called Ebonics to the professionals of the translation field, so that it can become clear how Ebonics speakers act in the society as well as give to translators conditions to acknowledge traits of their strong culture. It is our intention as we present this research to convey to the translator that the Ebonics must be translated into Portuguese as a special language, and not only as the standard Portuguese, presenting a new ways to translate into this language. The value of this study extends from a bigger awareness of the translation differences, what implies in a more authentic work, to a wider contribution to preserve this specific linguistic variant. Key-words: Ebonics, subtitle, translation, equivalence, culture INTRODUÇÃO O mundo hoje vive em uma época em que a comunicação é importante. Há muitas variações lingüísticas, e uma delas é a língua de ebonics que faz parte do conhecimento humano presente em algumas situações do cotidiano. Originária dos escravos negros que vieram para os Estados Unidos e pelas circunstâncias que viviam, criaram variantes lingüísticas que utilizavam como o seu meio de comunicação. Essa linguagem atualmente é falada nos guetos e está presente nas músicas de hip-hop e em filmes sendo bastante divulgada juntamente com a língua, a cultura do povo também está se expandindo. Um dos meios pelo qual essa língua está sendo disseminada é o cinema. E 13 é através da legendagem que essa língua é transmitida para o espectador, pois a mesma é uma forma de comunicação entre o filme e o espectador, pois nela o mesmo apreende novas expressões, conhece uma nova cultura ou costume de um povo que não tinha entendimento anteriormente. Contudo o tradutor tem um papel importante que não é só passar de uma língua para outra, mas sim desverbalizar essas diferenças lingüísticas presentes. Diante disso é importante mostrar o conhecimento dessa nova linguagem chamada ebonics para os profissionais da área de tradução mostrando como os falantes dessa língua atuam na sociedade deixando marcas de sua forte cultura. Este estudo pretende levar os tradutores a traduzirem o ebonics para o português como uma língua especial e não apenas como o português padrão, apresentar novos meios de tradução para a essa língua, de maneira que não comprometa o sentido do original e preserve a cultura dos povos falantes dessa língua, fazendo com que o receptor aceite e seja influenciado por ela. O interesse por este estudo surgiu no primeiro semestre de 2005, ao lermos um artigo em sala de aula que falava sobre a língua do gueto, no caso o ebonics, nesse momento tivemos conhecimento dessa linguagem que até então, pensávamos ser gírias do inglês padrão. A partir desse momento nos dedicamos a pesquisar sobre o ebonics e ver as diferenças existentes entre o inglês padrão e qual foi a origem dessa língua. Nossa intenção nesse trabalho é analisar a maneira como essa língua é traduzida para o português, se a língua perde a suas características próprias ou se existe uma maneira de retratá-la no processo de tradução utilizando recursos lingüísticos e técnicas de tradução a fim de transmitir a mensagem. Para realização deste trabalho fizemos pesquisas bibliográficas, a fim de levantar dados que nos auxilie no estudo e com a intenção de descobrir qual a contribuição que outros teóricos e estudiosos tem a dizer sobre a língua de ebonics e suas características, e o que já realizaram na tradução para legendas. Também utilizamos um material audiovisual e dicionários on-line para a análise quantitativa das legendas. O trabalho se divide em três capítulos o primeiro introduz a linguagem de ebonics, suas características e origem, a maneira como essa língua conquistou espaço nos Estados Unidos a polêmica que a rodeia e como está se difundido no mundo através do cinema e da música. O segundo capitulo esclarece um pouco sobre o que é a legendagem seus conceitos e as regras regidas pelas empresas audiovisuais e a influência da cultura na legendagem a partir do momento que o espectador vê o filme e recebe a informação. No terceiro é realizado uma análise lexical e a equivalência em português na legendagem do filme 8 Mile – Rua das Ilusões e como o aspecto cultural é importante na 14 tradução da legenda. A análise foi divida em cinco tópicos sendo estes: neologismo, omissão e adaptação, estrutura gramatical e uso de língua padrão, aspecto cognitivo e cultural e uso de gíria. Com este trabalho pretendemos mostrar que há possibilidade de transmitir a linguagem de ebonics e suas diferenças e aspectos lingüísticos para Língua de Chegada. I - INGLÊS VERNACULAR AFRO-AMERICANO: EBONICS Nesse capítulo, falaremos sobre a linguagem African-American Vernacular English/Ebonics, ou inglês vernacular afro-americano. Comentaremos como se deu o surgimento dessa variante lingüística do inglês e a maneira como vem se desenvolvendo através da história. Atualmente existe muita polêmica nos Estados Unidos na área acadêmica e social com respeito ao inglês vernacular afro-americano. Muitos lingüistas não o reconhecem como dialeto e muito menos como linguagem. Acreditam que essa seja uma gíria, por estar associada à linguagem de rua, de gangues e por ser gramaticalmente incorreta, se comparada à norma culta. Essa linguagem teve seu surgimento com o comércio de escravos nos Estados 15 Unidos. Então reservamos todo o capítulo 1 para explicar o que é IVAA e aproveitamos para apresentar a maneira como essa linguagem é conhecida popularmente e mostrar mais de perto essa polêmica que a rodeia. Achamos interessante o estudo do IVAA porque é uma língua que está se expandindo a cada dia nos Estados Unidos e no mundo, através da música e do cinema. Contudo quando muitos de nós entramos em contato com essa língua não a reconhecemos, pensamos ser essa algum tipo de expressão idiomática ou de gíria, e não nos damos conta que se trata de uma variante lingüística do inglês. Posteriormente neste trabalho analisaremos como é feita a tradução de legendas de filmes nos quais essa linguagem se faz presente. Pretendemos ponderar sobre a maneira como o IVAA é traduzido para o português, se o tradutor ao traduzir essa linguagem consegue transmitir também as suas características peculiares de forma que fique explícito para o telespectador as diferenças lingüísticas existentes no audiovisual. Isso será feito no terceiro capítulo, dedicado a análise. Por ora nos deteremos em importantes considerações sobre o IVAA e seu status (ou não) de variante lingüística. 1.1 - A Origem do Inglês Vernacular Afro-Americano/Ebonics O inglês vernacular afro-americano, também chamado de inglês negro e de inglês negro vernacular, é conhecido coloquialmente como ebonics. Esse nome surgiu a partir da junção dos termos ebony (ébano, madeira escura) e phonics (sons). Tal termo foi criado em 1973 por um grupo de estudantes negros que não gostavam da conotação negativa do nome inglês negro não padrão (nome pelo qual o ebonics era chamado até 1973). Era assim chamado por ser uma linguagem falada pela comunidade negra e também porque possui sua própria forma gramatical, a qual difere da norma culta. Daqui pra frente iremos nos referir a essa linguagem utilizando seu nome coloquial: ebonics. Duas questões principais estão presentes na discussão da origem do ebonics. A primeira trata do surgimento do crioulo, buscando entender se essa linguagem foi a base para o surgimento do ebonics há duzentos ou trezentos anos. A segunda discute se o ebonics se originou de dialetos falados por povos britânicos. Lingüistas como Krapp (1924, 1925) e Brooks (1935, 1985:9-13), entre outros, discordam da teoria de que o ebonics tenha surgido do crioulo e apontam fatos da linguagem ter se derivado de dialetos falados por britânicos e outros imigrantes brancos daquela época, o que pode ser percebido pela semelhança existente entre o ebonics e os dialetos britânicos atuais; no entanto, reconhecem que o ebonics pode ter sofrido influências de línguas crioulas, como por exemplo, o gullah, falado 16 por habitantes do lado oeste da África. Entretanto, ainda é importante focalizar a questão da origem do crioulo, pois segundo lingüistas como Salikoko, Rickford e Baugh (1998:1-2) essa é a melhor e mais antiga hipótese de surgimento do ebonics, que continua a inspirar muitas controvérsias e novas pesquisas. Antes de tudo é necessário saber que o pidgin e o crioulo foram novas variedades de língua criadas em situações nas quais diferentes línguas entraram em contato. Como no caso dos escravos que foram trazidos do oeste da África para as colônias no sul dos Estados Unidos. Esses escravos, quando ali foram postos, entraram em contato com os habitantes daquela região. Os donos das plantações precisavam se comunicar com os escravos. No entanto, um não entendia a língua do outro, dessa forma tentavam manter um tipo de comunicação entre si; esse foi o primeiro contato de línguas que houve, no caso o gullah e o inglês. Dessas duas línguas surgiram variantes que esses dois grupos diferentes de pessoas utilizavam para se comunicarem. Nessas circunstâncias ocorre o pigdin, ou seja, os pidgins são as variantes lingüísticas que surgem do contato entre duas línguas distintas por haver necessidade de comunicação. Rickford (1992: 224) contribui para maiores esclarecimentos: Um pidgin possui um papel social altamente restrito, usado para comunicação limitada entre falantes de duas línguas ou mais que entram em contato um com o outro repetidas vezes, através do comércio, escravização ou migração. Um pidgin de forma habitual combina elementos das línguas nativas de seus usuários e é tipicamente mais simples do que essas línguas nativas, à medida que adquire menos palavras, menos morfologia e opções fonológicas e sintática mais restritas. 1(Nossa Tradução, doravante NT). Podemos notar que o pidgin é a mistura de duas ou mais línguas diferentes que foram adaptadas à situação para que houvesse um entendimento entre os falantes dessas línguas. No entanto, é importante esclarecer que o desenvolvimento do crioulo ocorre à medida que o pidgin passa por um processo de transformação. Tal processo é possível a partir do momento que os falantes nativos – até então usando o pidgin como meio de comunicação primário – passam a utilizá-la como primeira língua. A partir daí temos um crioulo. Os estudos realizados por Hall (1996) corroboram a autenticidade desse 1 A pidgin is sharply restricted in social role, used for limited communication between speakers or two or more languages who have repeated or extended contacts with each other, for instance through trade, enslavement, or migration. A pidgin usually combines elements of the native languages of its users and is typically simpler than those native languages insofar as it has fewer words, less morphology, and a more restricted range of phonological and syntactic options (Rickford 1992a:224). 17 mecanismo, pois o crioulo já possuía um vocabulário típico e uma fonte gramatical mais complexa e extensa do que o pigdin. O ebonics foi um distanciamento relativo e uniforme do crioulo que conseqüentemente levou a descrioulização2, aproximando-se mais do inglês. Esse processo de variações do crioulo foi uma significante mistura de contanto das línguas, em especial no sul, onde um processo gradual de descrioulização quantitativa tomou lugar nos Estados Unidos. Naquela época poucos falantes usavam as variantes do crioulo e a maior parte utilizava variantes mais próximas do inglês padrão, como declara Winford (1997: 51-76). Uma das evidências que o ebonics se originou do crioulo são as condições sóciohistóricas. Os escravos vindos do oeste da África foram postos em colônias no sul dos Estados Unidos e entraram em contato com poucos falantes nativos. Assim, mantiveram um contato limitado com o modelo gramatical do inglês. Muitos escravos que ali foram postos já falavam algumas variações do inglês, ou seja, o crioulo, tendo em vista a necessidade de comunicação entre eles e os falantes nativos do inglês; isso ocasionou o processo de descrioulização. O ebonics foi desenvolvido durante esse processo. Em relação a esse assunto Stewart (1967), Rickford (1997: 331) e Schneider (1991: 30-31) declaram: As hipóteses de que muitos escravos vindos para as colônias americanas e caribenhas já falavam alguma variante inglês pidgin oeste-africano ou o inglês crioulo da Costa da Guiné Bissau. (...) O caso de importação crioula significativo da região do Caribe nesse período tem sido apoiado por recentes evidências que escravos que vieram das colônias do Caribe onde o inglês crioulo é falado, foram os segmentos predominantes da antiga população negra em muitas colônias americanas incluindo Massachussetts, Nova York, Carolina do Sul, Geórgia, Virginia e em especial Maryland. (NT) 3 Esses escravos que ali foram deixados passaram por uma mistura de línguas e de descrioulização e aprenderam o inglês rapidamente, dando à língua uma característica 2 3 Processo de mudança das línguas crioulas. The hypothesis that many slaves arrived in the American colonies and the Caribbean already speaking some variety of West African Pidgin English (WAPE) or Guinea Coast Creole English (GCCE).. However, the case for significant creole importation from the Caribbean in the founding period has been bolstered by recent evidence that slaves brought in from Caribbean colonies where creole English is spoken were the predominant segments of the early Black population in so many American colonies, including Massachussetts, New York, South Carolina, Georgia, Virginia and Maryland in particular." (Rickford 1997:331) (Stewart 1967) e (Schneider 1991: 30-31). 18 peculiar; porque nessas regiões o inglês falado não era o puro4, mas sim um inglês cheio de misturas e características das línguas de origem dos escravos. Os cativos da África Ocidental falavam muitas línguas além dos dialetos. Durante a viagem eles desenvolveram o que hoje é chamado de pidgin, que é a mistura de duas ou mais línguas diferentes como já mencionamos anteriormente. Através do contato próximo de falantes de tribos de línguas diversas se formaram os pidgins, que os ajudaram a se comunicar, pois mantinham a característica das línguas de origem, ou seja, usavam variantes dessas linguagens para que houvesse entendimento entre eles e seus captores, porém, muitos donos de escravos mantinham preferência por uma tribo em particular, sendo assim, a mistura de linguagem no navio algumas vezes era mínima. Vimos o que é pidgin e crioulo e como se deu o surgimento do ebonics, o qual ocorreu pelo contato de línguas diferentes por haver necessidade de comunicação entre os escravos e seus captores. Podemos notar que a origem dessa língua está diretamente ligada com o comercio de escravos e com a escravidão em si. Hoje em dia existe muita polêmica relacionada ao ebonics veremos mais adiante qual foi a causa dessa polêmica e o que os dois lados do debate dizem sobre todo esse acontecimento em relação à linguagem do ebonics. 1.2 – O Ebonics e a Polêmica Atual A polêmica mais atual que envolve o ebonics é a discussão quanto à decisão tomada pela cidade de Oakland, no estado da Califórnia, concernente ao ebonics. O Distrito Escolar da Oakland (the Oakland Unified School District Board of Education) decidiu no dia 18 de setembro de 1996 reconhecer o ebonics como uma língua e aderi-la como idioma oficial juntamente com o inglês padrão. Esse seria um meio para ensinar o inglês Padrão (doravante IP) aos falantes de ebonics5. Para muitos, principalmente a sociedade leiga no assunto, essa atitude é errada, pois acreditam que o ebonics seja apenas uma gíria ou um dialeto para preguiçosos. Há profissionais da área, como o lingüista John McWhorter, que consideram extremamente 4 Inglês puro ou inglês padrão segundo o dicionário Merriam-Webster é o inglês que diz respeito a ortografia, gramática, pronúncia, e o vocabulário é substancialmente uniforme, embora não seja destituído de diferenças regionais. É bem estabelecido pelo uso em discurso e escrita formais e informais de pessoas instruídas, e é altamente reconhecido e aceitável em qualquer lugar onde o inglês é falado e entendido. 5 A decisão do Distrito Escolar de Oakland realizada em 18 de dezembro de 1996 foi publicada pelo San Francisco Chronicle no dia 02 de janeiro de 1997, numa terça-feira. O artigo se encontra na página A18. E também está disponível no site do Distrito Escolar de Oakland. http://webportal.ousd.k12.ca.us/. 19 preconceituoso tratar os jovens negros como bilíngües, pois segundo ele isso os segrega, os diferencia dos brancos e os estigmatiza mais ainda6. Já para muitos lingüistas como Fillmore, Ervin-Tripp e Clark (1997:1-5) entre outros é um sinal positivo, pois existe um senso comum (sendo esse um meio de introduzir o IP nas escolas através do uso Ebonics) no plano do distrito escolar de Oakland. Um fator importante que está diretamente ligado a essa discussão é o modo como os lingüistas se referem à palavra língua. Fillmore (1997: 1 e 2) argumenta que ambos os lados no debate da decisão de Oakland usam a palavra língua para facilitar a comunicação, enquanto poderiam introduzir alguns esclarecimentos necessários sobre o significado dessa palavra, pois língua e dialeto são palavras ambíguas e isso causa uma grande confusão na sociedade, porque enquanto os lingüistas estão acostumados com essa ambigüidade existente entre língua e dialeto, os leigos no assunto não conseguem fazer distinção alguma entre uma e outra e isso abre margens para especulações e idéias precipitadas, como observa Fillmore (1997: 1 e 2). A decisão tomada pelo Distrito Escolar de Oakland não deseja estabelecer parâmetros que definam o ebonics como língua, e sim conscientizar a sociedade. Enquanto lingüistas, leigos e a mídia debatem essa questão, vinte e sete mil crianças afro-americanas enfrentam problemas com a linguagem adquirida em casa. O distrito de Oakland encontrou um meio de solucionar a situação enfrentada por essas crianças, introduzindo o ebonics como língua nas escolas com a finalidade de ensinar o Inglês Padrão. A intenção é que cada criança reconheça a diferença entre a língua materna e a língua padrão utilizada, dessa forma poderá distinguir onde e como melhor usar cada uma das linguagens. Ervin-Tripp (1997), através de uma experiência, observou que as crianças não são capazes de ouvir e entender a diferença entre shit e sheet, bitch e beach. As crianças enfrentam tanto dificuldades fonéticas quanto gramaticais. Esse problema não é revelado pela mídia, a qual tem uma idéia errônea sobre a decisão de Oakland. Sendo assim fazem uma falsa interpretação da real situação enfrentada pelos professores e pela sociedade afroamericana, afirmam assim que o distrito educacional de Oakland excluiu o Inglês padrão como forma de ensino e aprendizagem. Perry (1998:4-5) argumenta que tal atitude por parte da mídia agride diretamente e desorienta os educadores e os militantes políticos que estão preocupadíssimos com o bem-estar das crianças afro-americanas. Podemos notar que a polêmica está diretamente ligada à decisão do distrito de Oakland, que com o objetivo de aderir o ebonics como método para ensinar o IP acabou 6 Entrevista realizada com o professor John McWhorter pelo jornal Black Issues In Higher Education em 10 de maio de 2001. 20 causando rivalidade entre os lingüistas que não apóiam esse método, pois não aceitam que o ebonics seja reconhecido como língua, mesmo sendo um método de ensino, e os que são a favor porque através dele as crianças afro-americanas poderão ter um desempenho maior ao se depararem com o IP em sala de aula, e não encontrarão dificuldades se a língua utilizada como método de ensino for a mesma que falam em casa. E o que torna a discussão entre ambas as partes mais acirrada é a posição da mídia. 1.3 - Um Pouco Sobre o Aspecto Fonológico e Gramatical do Ebonics Considerando a forma fonológica e gramatical podemos notar as características peculiares da linguagem de ebonics, dedicamos um espaço para comentar sobre a gramática e o aspecto fonológico dessa língua são detalhes curiosos e importantes para serem observados que iremos comentar. Na pronúncia existe a omissão das consoantes do final das palavras, por exemplo, ‘past' é pronunciado pas' e hand, han’. Na pronuncia de palavras terminadas em th tira-se o “h” como podemos notar na palavra “bath” (bat) ou simplesmente troca-se o th pelo “f” (baf). Em palavras terminadas em vogais ou com o “y” como o “my” e “ride” acrescenta-se um longo “ah” (mah, rahd). Essas pronúncias não são usadas unicamente no ebonics, pois os falantes do sul dos Estados Unidos também a utilizam. Existem ainda pronúncias que são unicamente utilizadas pelos falantes de ebonics como, por exemplo: as letras B, P e G, quando utilizadas no começo de verbos auxiliares como “don’t” e “gonna, são retiradas, ficando da seguinte forma 'on know de "I don't know" e “ama do it” de "I'm going to do it." Nesse caso acrescenta-se o ah. Existem mudanças também nos tempos verbais. Em alguns casos o verbo To Be é totalmente removido: Inglês: He is working Ebonics: He workin’ Inglês: You are crazy Ebonics: You Crazy, Inglês: She is my sister Ebonics: She my sister. Para enfatizar a ação terminada: Inglês: He worked. Ebonics: He done worked. Nas sentenças negativas, usa-se o ain’t: Inglês: You are no hero, friend. 21 Ebonics: You ain’t no hero, man. Podemos notar que a forma negativa ain’t é seguida pelo no que está negando a frase, esse aspecto gramatical é chamado de double negative (dupla negativa). Essa é uma característica exclusiva do ebonics. Segundo Pink (2005:15), muitas formas do ebonics ficaram estagnadas por algum tempo, caindo em desuso, em especial os tempos verbais como o Present perfect progressive, como mostrado no exemplo abaixo: Inglês: He has been running for a long time, and still is. Ebonics: He bin runnin’. Pink (2005:15) ressalta ainda que essas formas não se desenvolveram pela discriminação e ficaram estagnadas no passado, pois o ebonics era visto como uma linguagem incorreta, e por tal motivo essas formas são utilizadas apenas em bairros de predominância negra. Podemos dizer que essa é uma verdade parcial, pois o ebonics atualmente não é uma linguagem restrita apenas aos negros americanos, é utilizada também por muitos brancos que habitam nas regiões onde o ebonics é falado. E existem negros nos Estados Unidos que nunca entraram em contato com o ebonics. Como o ebonics está se desenvolvendo rapidamente, já existem dicionários do ebonics para o inglês e sites criados para explicar a gramática, a fonética e novos termos, pois a cada dia novos vocábulos são criados por meio de simplificações da língua inglesa, algo que aconteceu na origem da língua e que se repete nos dias atuais.7 Isso mostra que essa língua, apesar dos preconceitos, tem sido tratada com seriedade e recebido atenção sistematizada. Este capítulo apresentou a origem do Inglês Vernacular Afro-Americano/Ebonics, a confusão e polêmica causadas pela decisão do distrito educacional de Oakland, a atual situação da língua e seus aspectos fonológicos e gramaticais. O próximo capitulo trará o que é legendagem e o que envolve essa atividade tradutória com o objetivo de apresentar suas regras, o sistema que as empresas desenvolvem através desta atividade e como o aspecto cultural está intimamente ligado a este recurso tradutório. No terceiro capítulo, será feita a análise do filme 8 Mile Rua das Ilusões, onde essa linguagem de ebonics se faz presente, mostrando como o seu significado na língua de chegada na legendagem é importante para a tradução. Através dessa análise verificaremos se o tradutor levou em conta os aspectos 7 Como exemplos de sites dedicados ao ebonics, destacamos os seguintes: www.urbandictionary.com; http://www.ebonics-translator.com/. php; http://www.angelfire.com/ak2/nsyncountryusa/ebonicsdictionary.html; http://joel.net/EBONICS/translator.asp; 22 culturais e característicos do ebonics, a fim de localizar o telespectador na realidade que o filme transmite. II - LEGENDAGEM O QUE É? No capítulo I discorremos a respeito do ebonics, sua origem, a polêmica referente a esta linguagem, aceitação para com a mesma e um pouco das regras gramaticais que ela possui. Neste capítulo abordaremos o que é a legendagem ou legendação, seus conceitos e como esta forma constitui um dos recursos de tradução utilizados pelos meios de comunicação através dos filmes. A legendagem pode ser encontrada em quatro suportes diferentes: o cinema, a televisão tanto aberta quanto fechada, vídeo e DVD. A legendagem e dublagem podem ser divididas em dois grupos principais: a primeira é a interlingual. Para Pinho (2005:14) ”este é o processo que se origina de um diálogo oral de uma língua de partida (LP), fornecendo a informação numa língua de chegada (LC), possibilitando assim ao espectador, que não 23 compreende determinada LP, ler e entender o material audiovisual”, mas o espectador que conhece bem a LC acaba se concentrando mais no que é dito na LP, sendo assim e preocupando mais com o que foi traduzido. A segunda é a intralingual. Este recurso segundo Pinho (idem) “é utilizado especialmente por pessoas com deficiência auditiva, ou por imigrantes e pessoas que querem aprender uma nova língua”. Quando assistimos a um filme com a legendagem intralingual, é possível aprender novas expressões e palavras novas dentro de um contexto. E isso ajuda ao telespectador a entender essas novas expressões e ter um interesse para aprender mais sobre a LP. Carvalho apresenta outros tipos de tradução audiovisual além das categorias citadas acima, por exemplo: “interpretação simultânea ou consecutiva, transmitida em eventos ao vivo; voice over no qual a voz de um intérprete se sobrepõe ao áudio original, mas sem apagá-lo; closed caption, semelhante à legendagem, porém feito na mesma língua do produto. Este recurso auxilia deficientes auditivos e pessoas que possuem alguma dificuldade de compreensão da língua oral; surtiling similar a legendagem, porém é exibido sobre o palco de peças teatrais e óperas como um auxilio ao ator na hora de falar os textos que são interpretados; áudio vision é um tipo de dublagem onde são feitos comentários e descrições das cenas, auxiliando deficientes visuais” (2006:19). Estes recursos tradutórios ajudam ao legendista no desenvolvimento de seu trabalho, podendo assim transmitir de várias maneiras ao espectador. Ao receber um novo projeto para o cinema o tradutor recebe roteiro-guia com uma marcação chamada “pietagem”. Este termo técnico se refere à indicação das partes que o rolo de filme é divido, como se fossem camadas, enquanto a cópia-vídeo se situa no decorrer da história pela contagem do tempo que é chamada de time-code. Os roteiros das falas são dividas em feets (pés), facilitando os diálogos para o tradutor. Os números de caracteres para cinema podem variar de 35 a 40 por linha, com um máximo de duas linhas por legenda. No caso do vídeo e televisão, o material chega em forma de vídeo, DVD ou CD e, se houver o roteiro que também é gravado em time-code, a legenda é exibida na parte superior ou inferior da tela, que é registrado pelo segundo em que aparecerá em cada fala. Caso o tradutor passe do tempo determinado no espaço no subtitle box, a legenda não é validada. No DVD, televisão e vídeo as regras são as mesmas. O que difere o DVD dos outros é o acréscimo de materiais extras, dublagem e formato da tela, em widescreen - na maioria das vezes. 2.1– Legendagem e Suas Regras 24 A legendagem e a dublagem existem desde os primórdios do cinema, que, como outros meios de comunicação, acabou se familiarizando com este método de tradução, tão utilizado ainda hoje (Gorovitz, 2006:64). Podemos ver nos filmes antigos, conhecidos como filmes mudos, uma tela com o fundo preto e a legenda com letras brancas maiores do que estamos acostumados. Após cada cena aparecia esta tela com as legendas. Gorovitz (2006: 64) ressalta que a legenda acompanha o mesmo tempo que a imagem e o som, e ao assistirmos a um filme nossa atenção tem de ser redobrada, pois o espectador não lê em seqüência livre e sim pausadamente; são como idas e voltas: “este vai e vem solicita atividades simultâneas, nas quais diferentes sentidos são colocados em uma interação inusitada” (idem). Muitas vezes, o espectador se concentra demasiadamente no que está sendo falado na língua de origem e, ao observar a legenda, cria um conceito que o tradutor nunca traduz tudo o que foi dito de fato, mas a finalidade da legendagem é transmitir o essencial para o espectador. Gorovitz ressalta que: Trata-se de um processo de transformação de discurso e, portanto, existem descompassos temporais e desproporções que marcam incessantemente rupturas na assimilação da mensagem. A fala é acompanhada de uma pluralidade de elementos, de ordem formal e de conteúdo, que podem, entretanto, ser apreendidos pelo público ao assistir ao filme legendado (inflexões, entoações, gestualidade, expressões faciais e certa melodia). No entanto, não tem acesso a uma série de elementos, como jogos de palavras, variações dialetais, pressupostos e subtendidos, elementos culturalmente marcados e portadores de sentidos específicos de uma cultura e de uma dada língua. Portanto, é preciso evidencias de que a legendagem, para superar a sua marginalidade, incorpora certos traços, mas rejeita outros por querer se assemelha o discurso oral. (Gorovitz, 2006:65) O autor mostra que a legendagem não é somente transmitir o que está sendo dito naquela língua, mas sim o sentido, pois o espectador necessita entender também o que acontece, e como o aspecto cultural em um determinado filme é importante. O legendista tem o papel de transmitir esse entendimento de uma maneira clara sendo que muitas vezes acaba ocultando alguns destes pelo limite que lhe é imposto. Em muitas ocasiões, o tradutor tem de restringir a pontuação, omitir palavras, utilizar palavras menores que transmitam o sentido e não se limitar à literalidade, omitido assim expressões idiomáticas, gírias, etc. A legenda deve ter uma sincronia com a imagem aparecendo e desaparecendo a cada novo diálogo. É preciso lembrar que isso ocorre porque o tempo de leitura é maior do que o tempo gasto para escutar enunciados orais. Assim, o legendista precisa possuir capacidade de síntese. 25 No manual de regras de legendagem “General Subtitling Rules” elaborado pela empresa Softitler (2007:01) orienta-se ao tradutor a obedecer às regras que são estabelecidas pelas empresas tais como sugerir o título ao filme, evitar repetições de nomes, prestar atenção quanto à pontuação, etc. Como também “Não utilizar-se do uso de regionalismos ou expressões que podem dificultar o entendimento do espectador8” NT (2007:03). O manual ressalta ao tradutor que: “A legendagem é um processo de tradução, é transmitir de uma língua falada de um determinado filme para a outra. Isso requer assistir ao filme enquanto se traduz. A tradução de um filme leva de três a quatro dias” 9 NT (2007:01) É de responsabilidade do tradutor honrar o compromisso de entregar o produto no prazo estipulado pelas empresas, mostrando assim uma das facetas do trabalho do tradutor além do seu conhecimento da língua de partida e de chegada. O manual orienta, entre estas regras, outras mais específicas como o limite de palavras que devem ser colocadas em cada parte de um diálogo (idem). O objetivo do tradutor é prover a interpretação mais concisa e precisa do texto original em inglês. A despeito da língua, a tradução não deve ser mais longa do que o texto em inglês. Traduza o sentido do texto original com o mínimo de palavras possível. (General Subtitling Rules:03) 10(NT) Evitando assim repetições desnecessárias, como as narrativas que nem sempre precisam ser traduzidas literalmente, e se por acaso houver alguma expressão não muito comum em nossa língua, no caso o português, e de nossa cultura como neologismos, jargões profissionais, é preciso fazer adaptações. Dessa maneira o manual orienta que o tradutor deve estar mais concentrado e não se alongar muito em diálogos, como já foi citado, há um limite de palavras estabelecidas pelas empresas conforme o filme exibido. Muitas palavras ou expressões não podem ser deixadas de lado, por exemplo, “score” (pontuação em jogos beisebol, basquete, futebol americano etc.) nomes, sobrenomes, apelidos, endereços, abreviações e sigla. O tradutor também deve se utilizar de dicionários destas determinadas áreas, glossários e corpus lingüístico, ajudando assim a melhor compreensão para a língua que está sendo traduzida. Do not use regionalisms or expressions that may impede the viewers’ full understanding. Subtitling is the process of translating the meaning of the original spoken language of a film into another language. T must be done while watching the film. The translation of a film up to three or four days. 10 The objective of the translator is to give the most accurate and concise interpretation of the original English text. Regardless of the language, the translation should not be longer than the English text. Translate the meaning of the original text in the fewest number of words possible (General Subtitling Rules:01) 8 9 26 As maiorias dos manuais de legendagem fornecidos pelas empresas audiovisuais impõem estas regras, as quais devem ser cumpridas. No entanto, há muitas falhas neste sistema e mais e mais vezes os tradutores são criticados pelo seu trabalho. Isso ocorre porque nem sempre o público está ciente das limitações existentes na tradução audiovisual, quando não se pode recorrer a paráfrases ou notas explicativas, como na tradução de material impresso. Amaral (2007) afirma que: “todo tradutor de cinema precisa ser um bom contador de histórias”. Concordamos com a afirmação, pois o tradutor que é legendista não reduz seu trabalho a somente saber escrever ou falar a LP e LC, ou passar de uma língua para a outra, pelo contrário, é um trabalho que requer muita atenção. O tradutor legendista precisa ter agilidade criativa necessária para surpreender com diálogos que sejam aptos ao filme, como comédias, romances, drama, musicais, inglês arcaico (um exemplo são as obras de Shakespeare) e também “o tradutor precisa ler o texto escrito no original para que o expectador que não domina a língua estrangeira, na qual a obra original foi produzida, possa entendê-la 100%” (idem). Gambier (2005) compara a legendagem à interpretação simultânea: A legendagem é um tipo de interpretação simultânea escrita: ambas são limitadas pelo tempo (tempo de leitura para primeira e tempo de fala para a segunda); ambas enfrentam densidade de informação (densidade produzida) pelas imagens, som e língua; densidade transmitida por conhecimento e dados especiais); ambas lidam com a relação entre o escrito e o oral (o legendista deve escrever o que foi dito num espaço limitado; o intérprete transforma em discurso oral o que foi escrito e dito); finalmente, ambas levam em consideração os receptores (os espectadores podem ficar inseguros quando não há legendas sem que ninguém esteja falando, da mesma forma que a audiência pode se surpreender pelo silencio do intérprete, enquanto o orador continua falando (p. 97)). Gambier compara as duas formas de tradução mostrando aqui que o espectador tem essa idéia de simultânea, que para o legendista é como uma interpretação intermitente, em que cada diálogo fica dentro de uma subtitlle box e com o vídeo acompanha esse diálogos que está na LP e a traduz para LC, e assim por diante até que tenha feito todos os diálogos. Legendagem não é somente passar de uma língua para a outra, ou um trabalho que possa ser feito por qualquer pessoa que saiba falar fluentemente a LP e LC, pelo contrário, é um trabalho que requer muita atenção do tradutor como um intérprete de intermitente ou de simultânea, pois ele transmite o que é essencial para o público. Ao colocarmos as informações 27 na tela para o espectador temos que ser concisos para que o mesmo possa entender as cenas com os diálogos ao mesmo tempo. Percegueiro (2007) sugere que os tradutores audiovisuais precisam entrar em contato com “... elementos básicos para citação de um roteiro traduzido para a legendagem: uma sessão de exibição do filme em película, com o som original, em seu ambiente apropriado, isto é, no escurinho da cabine de projeção do distribuidor; o roteiro na língua original, pietado em feet & frames nossos “faróis” no alto mar de nossa escolha; e uma versão do título do vídeo ou DVD” (idem). Dessa maneira o tradutor sente à vontade em poder colocar suas idéias e traduzir com calma. A empresa deve disponibilizar ao tradutor os recursos necessários tanto para obra escrita como em vídeo. Deve fornecer também tempo para pesquisas do contexto do discurso, investigações e pré-produções dos roteiros que serão traduzidos. O tradutor pode praticá-los e examinar de forma intensa com o roteiro preliminar do filme e sua imagem e áudio, o qual é uma das etapas mais difíceis. Há também as correções, omissões, falhas, cortes de cenas e às vezes remontagem da legenda que foi traduzida. O tradutor adapta a estilística da tradução à riqueza de informações extralingüísticas chamados de recursos semióticos, que estão presentes em: imagens, encenações, vestuário etc. “O tradutor necessita ter conhecimento das regras de editoração eletrônica a legendagem de cinema.” (idem) A autora do artigo mostra que o tradutor tem todos os recursos disponíveis para poder executar o seu trabalho, pois é necessário que o tradutor e a empresa interajam de forma harmônica, trabalhem como um time que produz um trabalho sério e prestigioso. Ainda segundo Pecegueiro (2007), esse time é composto por tradutores, distribuidores, revisores, equipe de produção, laboratórios etc. Enfim, todas as pessoas envolvidas no projeto precisam ter um grande conhecimento sobre o que é a tradução e o que é legendagem. A empresa, ao contratar o tradutor, coloca toda sua confiança e credibilidade nele, pois o legendista ao fazer o seu trabalho expõe seu conhecimento tanto gramatical como cultural. Pois o mesmo tem uma tarefa muito difícil que é se concentrar para poder captar o que está sendo dito, uma vez que boa parte das empresas disponibiliza ao tradutor o roteiro das falas. O tradutor tem conhecer também expressões idiomáticas e termos que variam de um país ao outro. A tradução é como uma transposição de uma produção audiovisual para uma forma escrita que é a tradução de filmes, o trabalho do tradutor é transpor esta forma de uma maneira segura e consciente do seu trabalho. 28 2.2 – Legendagem Também é uma Questão Cultural Vimos que a legendagem não é somente o conhecimento da LP e da LC, mas envolve também as exigências das empresas as quais o tradutor deve seguir para produzir um bom trabalho, além das peculiaridades da própria tradução audiovisual, já debatidas na seção anterior. Em algumas situações o tradutor recebe críticas, pela legendagem. Ouvimos falar de um erro ou outro que o mesmo tenha feito como, por exemplo: perdas lingüísticas devido à aspectos culturais, cotidiano, personalidades etc. Isso pode ocorrer por causa das limitações que são impostas pela empresa, seguindo o tempo e espaço disponível da legenda na tela. Com isso alguns desses itens acabam sendo deixados de lado ou o seu sentido não completo. Dentre os itens mencionados, o aspecto cultural constitui uma das formas lingüísticas mais difíceis e desafiadoras para o tradutor. Gorovitz afirma que “a legendagem da obra, deve ser a priori, produzida no país que irá exibir o filme, pois o tradutor precisa estar impregnado de sua cultura e língua”. Significa que o tradutor deve ter o conhecimento tanto da cultura da LP quanto da Língua LC, pois quando o tradutor está executando seu trabalho, pode encontrar alguma expressão ou palavra que não faz parte de sua cultura. Assim, o tradutor precisa adaptar ou omitir certas palavras ou expressões. Teixeira (2007) enfatiza: Outra explicação para a necessidade de adaptação se dá pela própria natureza do texto legendado. Diferentemente de outros formatos de texto escrito, não há como retroceder a leitura para uma tentativa de se entender melhor o que foi dito (pode-se voltar ao início de um parágrafo de um texto impresso, mas não pode fazê-lo ao assistir a um filme na TV ou no cinema). Trabalha-se com um tipo de texto que requer compreensão imediata, sob pena de ficar o espectador sem captar a comunicação realizada entre as personagens. A boa legenda constitui uma forma de leitura que não desvie a atenção do espectador do filme, senão passará ele a maior parte do tempo tentando decodificar o que se pretendeu dizer, tirando-lhe o prazer de assistir a um produto feito, no caso a TV, do cinema e do DVD, precipuamente para entretenimento. Teixeira mostra que a legendagem é um tipo de tradução mais reduzida, permeada de regras e limites necessários. O tradutor, ao se basear em um contexto cultural, tem que emitir esta mensagem de uma forma mais simples, precisa ser conciso e apresentar com precisão a informação passada, se adequando ao texto e ao tempo da leitura. Se assim proceder, apresentará uma boa tradução - fácil de entender - e coerente para quem está lendo e com o que está sendo dito. 29 Os filmes norte-americanos, por exemplo, retratam diversos assuntos, tais como: romances, musicais, máfias, gangues negras, latinas, esportes como beisebol, hockey, futebol americano etc. Os filmes esportivos exibem muitos esportes praticamente desconhecidos em nossa cultura. “Há uma diversidade de informações que o tradutor pode encontrar ‘facilitada’ por roteiros anotados, que trazem explicações a respeito de expressões e referências culturais” (Soares: 2007). Em alguns casos o tradutor recebe um roteiro onde não são fornecidas as informações a respeito de uma determinada expressão lingüística no seu contexto cultural. Essa é a situação de trabalho mais desejável. Em outras situações ele não tem disponível o roteiro e tem de captar o som do que está sendo dito e pesquisar para poder realizar uma boa tradução, e, por conseguinte transmitir o seu significado de maneira simplificada ao telespectador. O aspecto cultural na legendagem se faz importante porque através dele o espectador tem a oportunidade de conhecer determinado país, suas crenças, sua maneira de agir, hábitos alimentares etc. O tradutor tem um papel fundamental de passar isso de uma maneira fácil de entendimento. Gorovitz (2006: 66 e 67) tem a seguinte opinião a respeito da tarefa do tradutor diante do aspecto de cultura: Diante das dificuldades mais práticas do sincronismo elementar os obstáculos ligados às diferenças lingüísticas, como aqueles que colocam em jogo noções de cultura, sensibilidade e estética, o legendador terá que optar e atender às múltiplas exigências reunidas. Ao procurar retratar na escrita o discurso oral, depara com a dupla tarefa de encontrar correspondências entre línguas e registros, subordinados as variações de diversas ordens: geográfica, temporal, social, individual, de canal e ao contexto de produção da mensagem. Ocorrem, igualmente, interações entre cada uma dessas variáveis. Levando em conta esses fatos, concluímos que a configuração específica de cada um desses conjuntos de variáveis e seu modo de interação produzem um número de determinações teoricamente infinito. (idem) O tradutor, ao atender essas “múltiplas exigências reunidas”, contempla todos os traços de cultura que o texto tem. Como na legendagem, o tradutor não pode se utilizar de uma nota de rodapé para explicar determinadas expressões como siglas, gírias, determinados lugares etc, muitas dessas adaptações culturais que são feitas acabam se perdendo, pois não há como explicar ao expectador o seu significado real. Como algumas produções não vêm acompanhadas de um roteiro, isso acaba dificultando o trabalho do tradutor. Decorrem daí as críticas do público por muitas incompletudes que acabam acontecendo. Soares (2007) argumenta que “... o ato de se utilizar uma linguagem mais coloquial dá uma falsa impressão 30 de simplicidade. Por trás dessa simplicidade há, na verdade, domínio da técnica, que é tão importante quanto o domínio do idioma. Esse é o ”plus” dessa atividade”. Isso é verdade, pois o tradutor, dependendo do contexto cultural, tem de transpor ao expectador o sentido do que está sendo dito, pois não adianta traduzir uma palavra ou expressão por ser bonita e ou se encaixar bem no português se o público não a entende e não absorve as informações propostas pelo filme. A tradução de cultura é um dos grandes desafios para o tradutor, pois este tipo de trabalho exige do mesmo um conhecimento das estruturas lexicais presentes no texto e como certas expressões farão sentido ao expectador. Mesmo traduzindo no seu sentido literal a cultura presente no filme tem de ser transmitida, em algumas ocasiões faz-se necessário fazer uma “adaptação”, para que assim possa se manter a graça e o estilo de um diálogo ou uma narração. Este capítulo apresentou o que é a legendagem, suas regras, seu relacionamento entre o legendador, tradutor e a empresa, como se harmonizam e o aspecto cultural, um dos grandes desafios do tradutor. No próximo capítulo será feita uma análise da legendagem do filme “8 mile – Ruas das Ilusões” . Refletiremos sobre como a presença do ebonics foi tratada na legendagem, que recursos foram usados, tendo em vista as especificidades da tradução audiovisual e do ebonics como variação lingüística. III - O ESTUDO LEXICAL E A EQUIVALÊNCIA DO EBONICS NA LEGENDAGEM DO FILME 8 MILE – RUA DAS ILUSÕES Abordamos no capítulo anterior o conceito de legendagem e a forma como esta constitui uma das modalidades de tradução. Utilizamos o meio de comunicação através dos filmes, vimos um pouco sobre as regras estabelecidas pelas empresas e como o aspecto cultural está ligado com o processo de tradução para legendagem. Neste capítulo analisaremos a maneira como o ebonics foi traduzido na legendagem do filme 8 Mile: Rua das Ilusões. Será feito um estudo lexical a fim de avaliar se houve uma preocupação do tradutor em mostrar as diferenças lingüísticas existentes no meio audiovisual para o telespectador, o trabalho foi divido em cinco tópicos de análise quantitativa – neologismo, omissão e adaptação, estrutura gramatical e uso de língua padrão, 31 aspecto cognitivo e aspecto cultural e uso de gíria. Pretendemos com esse trabalho mostrar se há uma maneira de traduzir o ebonics para a LC retratando as diferenças lingüísticas utilizando os recursos de linguagem como auxílio no ato tradutório. É importante ressaltar que nosso objetivo não é criticar a tradução realizada, e sim analisar se existe uma forma de traduzir o ebonics mostrando suas diferenças tanto lingüísticas quanto culturais sem ser através do uso desse recurso. Antes de tudo é preciso saber o que se entende por léxico. Segundo Vilela (1979: 0911), léxico é entendido como o conjunto de unidades lingüísticas básicas (morfemas, palavras e locuções) próprias de uma língua. É considerada como conjunto de palavras lexicais. Neste estudo iremos analisar as palavras lexemáticas, pois pretendemos verificar quais as estratégias usadas para traduzir o ebonics, e quais delas é capaz de retratar melhor o contexto de usos dessa linguagem. Primeiramente, queremos situar os leitores quanto ao filme que será analisado. O filme conta a história da vida de Jimmy, mais conhecido por Rabbit, um garoto branco que vive em uma comunidade negra no subúrbio de Detroit 313, lugar considerado perigoso, onde mora em um trailer com sua mãe Stephanie e irmã mais nova na rua 8 Mile. Ele tem um grupo de amigos: Cheddar, Future (melhor amigo), DJ Iz e Sol George. Rabbit escreve e canta músicas no estilo hip hop e tem o sonho de gravar um CD. Mas a única diferença é que ele é branco e isso causa conflito com uma das gangues da região que é a Free World (Mundo Livre). O lugar mais freqüentado por Rabbit e seus amigos é o The Shelter onde acontecem as batalhas de hip hop. Essas batalhas são muito comuns nos guetos americanos. Normalmente os cantores de hip hop marcam um duelo, no qual cada um tem 40 segundos para criar uma rima. As palavras na batalha são as armas, pois eles as usam para ofender diretamente o adversário. É interessante notar que quando alguém perde a batalha é como se tivesse perdido algo muito importante. Iremos nos focalizar no momento final do filme, a partir da cena 16, analisando alguns diálogos em que se faz presente o ebonics. Dos 302 diálogos presentes na parte selecionada do filme faremos a análise de 23 deles, sendo que nos focaremos nas palavras grifadas em negrito apenas o que for relevante será analisado. No filme há presença de ebonics, contudo o inglês padrão é que predomina a fala dos personagens, pois se a língua do audiovisual fosse apenas o ebonics grande parte da sociedade norte americana não entenderia a mensagem, porque mesmo o ebonics sendo uma variante do inglês padrão, este possui características próprias e específicas. Então quando falamos que iremos analisar o que for relevante, estamos querendo dizer que existem falas em que há apenas um termo em ebonics e o restante é inglês padrão e não faria sentido analisar apenas uma palavra. 32 Contudo haverá casos em que analisaremos somente um termo porque o sentido deste compromete todo o sentido da sentença. Agora passaremos a analise. 3.1 Neologismo Este tópico apresenta os diálogos nos quais foi utilizado como recurso lingüístico o neologismo tanto na LP quanto na LC. Rabbit começa a suas rimas contra o adversário e no meio delas insulta LC: • To spiggy, spiggity split lickety A primeira palavra em destaque acima é específica do ebonics e quer dizer “chewing gum”, em português significa “mascar chiclete” e a segunda é um termo que foi criado na hora por Rabbit para que houvesse rima com a primeira palavra, este termo não existe em ebonics nem no inglês padrão. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • Spiggy explique Lyckety light O legendista não encontrou um equivalente para a palavra “spiggy’” e manteve o original só acrescentando o “explique” que não existe na cena, mas ele fez isso a fim de situar o leitor. A palavra “light” que foi acrescentada é o que acompanha o nome do rapper. Ele se preocupou com a fonética e procurou um termo próximo da palavra foneticamente no caso: “spiggity” e “explique”, “split” e “light”. Nesse caso poderia ser traduzida por “cuspir as palavras”, se fosse traduzida desta maneira o espectador não conseguiria acompanhar, porque o ritmo do cantor é rápido e o leitor não acompanharia o tempo da legenda na tela. Lotto termina suas rimas e o publico aplaude, depois disso Rabbit começa com suas rimas ofensivas quando em um momento diz: • I ain´t hear a word you say Hippety hoo-plah As palavras em destaque não têm definição no ebonics e nem no inglês padrão Trata-se de uma expressão inserida por fins fonéticos, que entra no contexto musical. 33 A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • Não ouvi nada do que disse. Repete, anda. O legendista fez uma assimilação da palavra no original porque o ebonics muda a estrutura e o sentido das palavras no caso acima o tradutor fez uma assimilação de “Hippety hoo-plah” por “repeat” “repete”, ambas tem semelhança na pronuncia e na escrita, e o legendista procurou dar sentido à frase dita anteriormente. Nessa seção vimos como o legendista trabalhou com neologismos presentes na legenda, em alguns ele assimilou a fonética em outros criou neologismos similar aos vocábulos em português e também manteve o original. Na próxima apresentaremos omissão e adaptação como um auxilio no processo de tradução para legendagem. 3.2 Omissão e Adaptação. Nesta seção será mostrado os diálogos em que o legendista utiliza a omissão e a adaptação na tradução das legendas. Um diálogo analisado apresenta os dois recursos, seis apresentam apenas adaptação e quatro apresentam omissão. Rabbit acaba ganhando a disputa e passa para a última etapa com Papa Doc. Todos estão empolgados com a próxima etapa, então Future se vira para o público e diz: • Future: Okay, lotta love, lotta love A expressão acima é uma abreviação da frase “a lot of” que quer dizer “um monte de amor”, no ebonics o artigo “a” e a preposição “of” foram removidos e um “ta” foi acrescentado o final da palavra que deixa de ser frase e fica “lotta”, isso é também uma característica intrínseca do ebonics de modificar toda uma sentença ou palavra, alterando assim a gramática do inglês. O tradutor aproveitou os recursos da língua portuguesa para aperfeiçoar o original. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • Tudo bem “lottado” de amor, “lottado” de amor Aqui o legendista conseguiu fazer uma adaptação de alteração na gramática do inglês, criando um neologismo em português, similar ao vocábulo “lotado”, já existente. Transmitiu o mesmo sentido do original dando a frase uma característica peculiar, bem criativa. 34 Na cena em que a gangue Free World bate em Rabbit, o mesmo leva um soco e é derrubado, quando um deles diz: • Get your faggot ass up and fight! A palavra aqui destacada é comum no inglês padrão que significa “feixe de madeira”, já em ebonics o sentido é outro, no caso, “homossexual man” que em português é “ homossexual”. A tradução para a frase acima ficou da seguinte forma: • Levanta esse rabo de veado e vem lutar! O legendista transmitiu o sentido, e conseguiu transmitir a diferença lingüística, pois rabo normalmente significa a parte traseira de um animal, o que não é ofensivo (dizer, por exemplo, o rabo do gato). Mas ao se referir a uma pessoa, é vulgar e ofensivo. Rabbit continua a apanhar e não reage às ofensas até que um dos componentes da gangue o puxa e diz: • Fight me, you punk-ass bitch! A palavra destacada “punk-ass” é específica do ebonics e tem um equivalente no inglês padrão que significa “homossexual”. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • Vem lutar, sua bicha punk! Na cena que se segue o personagem queria simplesmente chamá-lo de gay o desafiando para lutar. Pois a palavra “punk-ass” em si quer dizer: “gay”. Neste caso a palavra punk poderia ter sido omitida, pois ele não estava fazendo referencia a um determinado grupo de pessoas, a uma tribo urbana específica. Rabbit entra no The Shelter para participar das batalhas, mas antes de começar pede desculpas ao seu melhor amigo Future, que responde: • I didn´t even trip. A palavra destacada no inglês padrão significa: “voyage”, “journey”, “stumble”, “fall”, “error”, “blunder” que em português é: “viajar”, “jornada”, “cair”, “tropeçar”, 35 “errar”. Mas esta palavra em ebonics significa “to overreact” que em português se traduz: reagir muito além do normal, ficar nervoso. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: Não estou puto. • Nesse caso o legendista não foi tão literal ocultando o “even”, isso não alterou o sentido da frase transmitindo o sentido e a diferença lingüística, pois a palavra “puto” é uma gíria utilizada para dizer que se está revoltado com alguma situação. Se outra tradução fosse feita para esta mesma palavra como, por exemplo: “Nem mesmo fiquei bravo”, teria transmitido o sentido, mas não retratado o aspecto lingüístico. Future prossegue com a apresentação quando chama Rabbit para o palco, antes que este suba diz: • It´s gonna be blazin´ In this bitch tonight Na palavra “blazin’”, no ebonics, o “g” é omitido sendo acrescentado o apóstrofo, o seu significado em português é: “incendiar”, “pegar fogo”. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • Vamos incendiar isto aqui hoje à noite. O legendista omitiu a palavra “bitch”, pois na frase ela não tinha muita importância, e também no contexto não é um palavrão é muito comum que uma comunidade utilize essas expressões para se referir a algo ou à alguém. O “isto aqui” está contido no significado de “bitch”. Logo Future se dirige ao publico: • We got lot of dope rappers, and at the end of the night… A palavra “dope” no inglês padrão é o mesmo que “silly” que em português significa “tolo”, já no ebonics é ”cool”, “legal” em português. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: 36 • Os rappers são do caralho. E o melhor... O tradutor ao traduzir “dope” utilizou de palavrão o que poderia ter sido evitado, mesmo dentro do contexto do filme acreditamos que não é necessário, sugerimos utilizar “irado”, pois transmite o mesmo significado. Na segunda linha o legendista fez uma omissão da expressão que se fosse traduzido ficaria: “e no final da noite...” o que não comprometeria o tempo proposto na legenda. LC o primeiro a enfrentar Rabbit e no meio de tantas ofensas diz: • ´bout to get smacked back to the boondocks A palavra “bout” é uma abreviação de “about” que quer dizer nesse caso prestes a. A segunda palavra no inglês padrão significa “rural country” que em português é cidade do interior. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • Fadado A voltar ao seu povoado A tradução para palavra “fadado” não foi bem colocada poderia ter colocado “destinado a” que tem o mesmo significado, daria uma melhor compreensão para o expectador. Pois a linguagem do filme é informal e a palavra não se adequa ao linguajar do ambiente em que ocorre a cena, o legendista quis incluir a rima e com isso acabou deixando o registro bem mais formal que o original. Além disso, a tradução para “boondocks” é um termo usado para se referir as crianças da comunidade afro-americana que tentam se ajustar no subúrbio onde vivem as pessoas brancas. Rabbit continua a disputa com Lotto quando diz: • Matter of fact. Dawg here´s a pencil. A palavra em destaque é Ebonics e em português significa “cara”, “mano”, é definida como: “word to be used in place of a name, or other personal noun or pronoun to be used in place of a name”. Uma palavra a ser usada no lugar do nome ou outro pronome pessoal. 37 A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: Tome a caneta • A primeira frase do dialogo foi omitida, pois o dialogo é rápido e o espectador não conseguiria acompanhar a legenda na tela, acontece muita omissão no filme devido à rapidez da fala dos personagens. Na segunda frase o tradutor fez uma adaptação da palavra "pencil" traduzindo para "caneta" por questão de estética e de forma de uso, com isso ele simplificou a sentença transmitindo o sentido do original. Logo após Rabbit dizer a Lotto para escrever uma música que seja boa o suficiente para enfrentá-lo diz: Don´t come back • ´til something dope this you Ambas as palavras em destaque são específicas do ebonics a primeira é uma adaptação da palavra “until” do inglês padrão, houve uma remoção das duas primeiras sílabas ficando “‘til” é também uma abreviação da já abreviada palavra “till” que em português é a preposição “até”. A segunda palavra “dope” significa “awesome”, “impressionante” em português como já foi dito anteriormente na seção 3.1 neologismo também significa “tolo” e “cool” em ebonics. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: Vá para casa • Escrever algo excitante A frase acima se fosse traduzida literalmente seria: “vá para casa e só volte quando tiver algo excitante” só que o legendista fez adaptação que não era necessária, pois Rabbit quer dizer a Lotto que vá e volte com algo que seja melhor para eles continuarem batalha. Esta tradução mostra de uma maneira mais desafiadora, deixando claro que Rabbit é melhor do que Lotto e pode vencer a batalha de qualquer maneira. As duas formas de tradução cabem no tempo proposto na legenda, porém a palavra excitante no português do Brasil tem uma conotação sexual, por isso sugerimos o uso da palavra “desafiador” em vez de “excitante”. Future pede ao público que escolha o melhor para disputa com Papa Doc e começa apontando para Lotto e diz: 38 • This shit is about to be crackolatin´in here. A palavra em destaque é uma mistura de dois termos “cracking” que é o mesmo que “Something sensational, excellent or cool” e “percolating” que usada apenas entre amigos de gangue, no inglês padrão possui outro significado” to be diffused through : penetrate.” A junção dessas duas palavras formam o termo “crackolatin’” e não temos um equivalente no português para essa palavra. Uma sugestão seria “algo sensacional está para acontecer aqui”. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • E a batalha está para acontecer. Como foi dito acima, não há um corresponde para o termo analisado, então o legendista adaptou a palavra no seu significado, sendo assim delimitou o espaço da legenda, para que fosse de bom entendimento para o espectador. Uma sugestão que daríamos seria “algo sensacional está para acontecer aqui”, o que não comprometeria o tempo da legenda. Nessa seção vimos um pouco sobre omissão e adaptação como recurso lingüístico no processo de tradução. Pudemos notar através das análises acima que esses dois processos nem sempre retratam as diferenças lingüísticas presentes no filme, muitas vezes as características da linguagem foram omitidas e o fator principal não foi transmitido. A próxima seção trará a estrutura gramática e o uso da língua padrão como auxílio para tradução de legenda. 3.3 Estruturas Gramaticais e Uso de língua padrão Nesta seção estudaremos a estrutura gramatical a qual está presente em um diálogo e os outros três analisa o uso da língua padrão. No final da disputa Rabbit ganha de LC, então há um intervalo de 15 minutos para a próxima batalha. Rabbit sobe ao palco e começa a disputa com Lotto que também faz parte do “Mundo Livre”. • I´ll spit a racial slur, honky Sue me A primeira expressão “a racial slur” “a derogatory or disrespectful nickname for a racial group, used without restraint” em português apelido depreciativo e desrespeitoso para um grupo racial usado sem restrições. Faz parte das duas línguas em questão, mas tem mais 39 ocorrência no ebonics. A segunda palavra se refere às pessoas brancas em forma de insulto, este termo só é encontrado em ebonics e não existe no inglês padrão. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • Vai ser insulto racial, branquelo Me processe O legendista traduziu de forma coerente e colocou “insulto racial”, pois no português não tem equivalente para esta expressão. A segunda palavra tanto no ebonics quanto no português tem o mesmo sentido com intenção de ofender. Rabbit está fazendo seus versos quando diz: • But I know something about you Não há nenhuma ocorrência de ebonics nessa fala, porém queremos analisar a tradução para o português. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • Mais numa coisa eu tô ligado sobre você O legendista faz compensação, pois no decorrer do filme há muitas falas com presença de ebonics, contudo não tinha equivalente no português, sendo necessária uma tradução na língua padrão. Mas o mesmo compensou isso traduzindo em forma de gíria, as sentenças que estão no inglês padrão e que podem ser traduzidas com esse recurso a fim de retratar o aspecto lingüístico presente no audiovisual e também se baseou no aspecto cultural que é muito presente no filme, talvez se ele tivesse traduzido da forma padrão não faria sentido para quem já estivesse vendo o filme com a legenda, pois o espectador tem que fazer parte do filme também e o tradutor aqui passa isso com segurança. Rabbit continua com suas rimas quando diz: • Cause ain´t no such thing As hafway crooks. A primeira palavra em destaque é característica do ebonics, como foi dito no primeiro capítulo da dupla negativa chamada de double negative. A segunda palavra é do inglês padrão “halfway” “midway between two points” em português “incompleto”, “parcial”. No ebonics houve uma síncope retirando o “L” ficando então “hafway”, contudo 40 o sentido permanece o mesmo. A terceira e última palavra existe tanto no ebonics quanto no inglês padrão, na primeira língua “crooks” quer dizer “someone who has committed (or been legally convicted of) a crime”, ou seja, alguém que esteja envolvido em algo errado que é contra a lei, no inglês padrão o seu significado é bem diferente “bend”, “curve” seu significado em português é “gancho” algo curvado ou arqueado. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • Porque não existe isso De meio-bandido No português não tem como retratar a dupla negativa porque não há um equivalente. O legendista transmitiu o sentido do original na tradução da frase traduzindo “hafway crooks” por “meio-bandido” porque em português utilizamos muito a expressão “não existe meio termo”, não transmitiu a diferença lingüística existente porque não faz parte de nossa realidade nem mesmo em gírias encontramos essa diferença. Essa seção mostrou a dificuldade que o tradutor enfrenta ao se deparar com as peculiaridades do ebonics, porque por não temos uma linguagem variante do português e por tal motivo pudemos notar a ausência de um equivalente que transmitisse a mensagem num todo, e ainda no aspecto gramatical o legendista não encontrou meios de alterar a gramática do português a fim de retratar o original, traduzindo assim para o português padrão o que ocultou a presença do ebonics. Na próxima será analisado o aspecto cognitivo e cultural dos diálogos e da tradução das legendas. 3.4 Aspectos cognitivos e culturais A seção seguir analisa cinco diálogos sendo dois o aspecto cognitivo e três culturais. LC continua com seus versos quando diz: • When you acted up, You got jacked up – No inglês padrão a palavra em destaque significa “fuck up”, “screwed up” que em português quer dizer “estragar tudo”, mas de maneira bem vulgar. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • Quando fez coisa errada Levou uns tapas. 41 “Acted up” e “jacked up” possuem o mesmo significado, a primeira é usada no inglês padrão e a segunda no ebonics, nesse caso o legendista utilizou como recurso a construção do sentindo para fazer a tradução. Rabbit entra no The Shelter para participar das batalhas, mas antes de começar pede desculpas ao seu melhor amigo Future, que responde: • You flip the script on this shit tonight. Uma das características do ebonics é omitir verbos, na frase acima para dar o mesmo sentido do inglês padrão teria que ter o auxiliar “up” após do verbo “flip” que seria o mesmo que “turn over”, que em português significa “virar”. A outra palavra em destaque é “script” que quer dizer “escrita“, “ manuscrito”, “roteiro”. A união dessas duas palavras lexemática no inglês padrão não tem sentido algum, já no ebonics tem vários significados que podem ser traduzidos como: “Fazer algo inesperado”, “fugir da normalidade”. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • …de virar a mesa esta noite. O legendista desverbalizou bem e mesmo omitindo a palavra “shit” transmitiu a frase de uma forma que o espectador em português pudesse entender. Essa expressão é muito utilizada nas batalhas de rap que significa usar contra o adversário as palavras que ele utilizou contra você, e isso fica subentendido no momento da cena quando Future expressa este sentimento querendo que o amigo ganhe a disputa e “dê a volta por cima” e também pode ter sido uma sugestão para o legendista ter traduzido a frase acima. Após a disputa com Lotto o público empolgado começa a gritar pela disputa que está acontecendo. Neste momento Future olha para o público e diz: • It´s real as it feels! A expressão acima é específica do ebonics, no inglês padrão existe uma palavra que tem o mesmo significado. No português “confusão”, “agitação”. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • A reação diz tudo. 42 O legendista passou o sentido da frase seguindo o contexto do audiovisual mostrando que a reação do público mostra que Rabbit foi bem melhor do que Lotto, mesmo que a disputa tenha sido difícil para os dois, e o publico terá de escolher o melhor para a próxima batalha. A batalha vai se iniciar e o primeiro a enfrentar Rabbit será LC, o qual, antes de começar, vira para o público e diz: • Free World nigga. A Palavra em destaque é derivada do termo “nigger”, como explicamos no primeiro capitulo a alteração que acontece com palavras terminadas em vogais ou com o “y” no final se acrescenta um “ah”, ocorre na palavra “nigga” troca-se o “er” por “a”, esse termo só existe no ebonics. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • “Mundo livre”, negão. Nesse caso tem um correspondente na LC que transmite o mesmo sentido da LP. Contudo o aspecto cultural é diferente, LC usa esse termo para se referir aos negros e excluir Rabbit porque na comunidade em Detroit todos, tanto negros quanto brancos utilizam esse termo para se dirigir a um amigo, porém se uma pessoa branca se referir a outra pessoa branca utilizando esse termo e uma pessoa negra estiver presente ela se sente ofendida. LC começa a batalha fazendo os seus versos e diz: • You ain´t Detroit, I´m the D You the New Kid on the Block A frase aqui destacada mostra que a população negra de Detroit se refere à cidade como uma cidade negra, então para eles o branco não está inserido nela. O rapper se refere a “D” que é mencionando no decorrer do filme se referindo a Detroit, neste caso ele está querendo dizer que ele é Detroit porque é negro. Dessa forma ofende Rabbit o chamando de “New Kids on the Block” que era uma banda dos anos 80 cujos componentes eram brancos. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: 43 • Você não é Detroit Mas um New Kid on the Block O legendista omitiu a sentença “I´m the D”, pois não caberia no espaço da legenda e o espectador não conseguiria acompanhar. A partir do momento em que o espectador assistir ao filme e ler a legenda, observar as cenas, ele será capaz de construir o sentido do filme. E automaticamente subentende o aspecto cultural inserido no audiovisual. Por todos estes motivos já comentados não há necessidade (nem espaço disponível na legenda) de explicar a situação. Nessa seção vimos que o legendista utilizou um pouco sobre aspecto cognitivo o qual exige que o espectador subentenda o que não foi dito e o cultural utilizando a cultura do povo brasileiro para explicar a situação da cultura presente no filme, em outra ocasião omitiu falas referentes à cultura do povo que estava retratada no filme, a fim de facilitar o entendimento do espectador. A próxima seção trará o uso de gíria como recurso de linguagem. 3.5 Uso de Gíria Nessa ultima seção mostraremos o uso de gíria como recurso de linguagem na legenda traduzida. Na primeira parte da cena 16 Rabbit vai buscar sua irmã na casa da vizinha, porque teve uma briga com sua mãe. Ao sair da casa com sua irmã no colo a gangue Mundo Livre está chegando para bater nele. • Papa Doc: Ready to get knocked out. Dawg? A palavra knocked out em seu significado no inglês padrão é “tap” que em português é: bater e golpear de leve. E a palavra Dawg no inglês padrão significa: “friend” ou “close friend” e em português: “amigo” ou “companheiro”. A conotação tanto em inglês como em português tem um sentido negativo ou positivo, dependendo do contexto situacional. A tradução para a frase acima ficou da seguinte forma: • Pronto para ser derrubado, maluco? O legendista passou o sentido transmitido pelo audiovisual, mostrou a diferença do ebonics utilizando a gíria. Se fosse traduzido de outra maneira, por exemplo: “Preparado pra 44 apanhar, amigo” também transmitiria o sentido, porém não retrataria a diferença lingüística existente. A próxima cena já acontece dentro do The Shelter onde rappers começarão a disputa. Antes, Future, que apresenta as batalhas olha para a multidão agitada e diz: • How y´all felling out there? You felling all right? A palavra em destaque em inglês padrão é escrita “you all” como dito anteriormente no capitulo 1 o ebonics tem suas próprias características; podemos notar a clara mudança que ocorre com essas duas palavras lexemáticas, houve omissão das duas ultimas vogais e a apóstrofe une as duas palavras dando assim uma característica peculiar à língua. Essa expressão “Y’all” é muito comum no ebonics e ocorre com muita freqüência no filme. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • Como é que estão as coisas aí? Beleza? O legendista não fez uma tradução literal da primeira frase, pois se o tradutor se prendesse na literalidade não transmitiria a diferença do aspecto lingüístico. A palavra traduzida da segunda frase é uma gíria para dizer que está de acordo ou para perguntar se está tudo bem com o interlocutor, que foi utilizada para transmitir a expressão do original ”you felling all right”. • This shit will be off the hook , so stick around. A palavra destacada em inglês padrão é “out of trouble”, em português “se livrar de problemas”, no ebonics “cool” há outras definições deste termo, mas neste contexto a tradução ficou mais coerente. A tradução para frase acima ficou da seguinte forma: • Vai ser o bicho, fiquem por aqui. A palavra traduzida “bicho” em forma de gíria significa algo que irá acontecer, essa tradução transmite que algo que está para acontecer próxima cena será legal, assim transmite o sentido de “cool” na forma que ele é em ebonics. 45 Nessa seção vimos um pouco sobre o uso de gírias como recurso lingüístico na legendagem, nas análises feitas no decorrer do trabalho notamos que esse recurso é a melhor forma de retratar a língua de ebonics, pois ambas são faladas por povos que possuem estilo de vida, costumes e amtes semelhantes, e percebemos que isso facilita o entendimento do espectador, porque esse assimila a semelhança e entre as culturas envolvidas e captando logo a diferença lingüística existente. Através da análise realizada nesse estudo podemos notar que o tradutor não se baseou apenas nas falas para fazer a tradução, utilizou também o contexto situacional. Se ele dependesse apenas das falas não conseguiria transmitir a mensagem de forma clara e coerente, um fato importante que tentamos mostrar com esse estudo é o papel que o aspecto cultural exerce sobre a tradução principalmente de audiovisual porque o tradutor muitas vezes recorreu à cultura pertencente a língua de chegada para retratar a situação, pois como é de nosso conhecimento cada língua tem sua própria cultura e se explica por si só, como por exemplo, no caso da expressão “lotta of love” o tradutor manteve a estrutura do original aproveitando o que o português lhe oferece em questão de recursos de linguagem. Por mais que o tradutor seja fiel à tradução, ao contexto situacional e ao aspecto cultural, nunca irá transmitir a mensagem que a LP transmite porque cada língua tem características intrínsecas que são intraduzíveis, por outro lado essas mesmas línguas nos oferecem recursos de linguagem diversos que podemos utilizar de forma a retratar a realidade, pois como diz Gorovitz, “a competência lingüística do telespectador contemporâneo é toda assimilada pela prática, tanto quanto a competência lingüística de qualquer usuário de língua materna (2007:17), isso ajuda muito o tradutor no processo de tradução mesmo com tantas regras e ordens estabelecidas pelas empresas de legendagem”. 46 CONSIDERAÇÕES FINAIS: Na introdução apontamos como objetivo analisar se há uma forma de traduzir a língua de ebonics para o português sem que essa perca suas características peculiares e se a diferença lingüística existente no audiovisual pode ser transmitida sem que o tradutor utilize as gírias como um recurso lingüístico. Para tanto nos propusemos a analisar algumas cenas e falas do filme 8 Mile Rua das Ilusões a fim de percebemos em que realidade o tradutor se encontra no ato tradutório, quais os recursos que estão a seu favor levando em consideração as regras estabelecidas pelas empresas audiovisuais. Durante o estudo vimos que o ebonics é uma língua enraizada nas línguas do oeste da África e é também uma variante lingüística do inglês que está se difundindo muito rápido 47 através da música e do cinema. Com a globalização, não apenas os Estados Unidos entram em contato com essa variante peculiar, mas todo o mundo. Constatamos também que a legendagem é um trabalho realizado desde os primórdios do cinema e que por sua vez tem as suas regras estabelecidas, as quais devem ser seguidas. O profissional deve estar ciente de que nem tudo pode ser traduzido e que o tempo da legenda é marcado, dependendo do filme e para qual meio de comunicação audiovisual a legenda é produzida. Na legendagem o importante não é apenas transmitir o que está sendo falado e sim o sentido, o aspecto cultural. Ao analisarmos a legendagem do filme 8 Mile Rua das Ilusões vimos que esse aspecto cultural é influente porque retrata o preconceito racial e a diferença lingüística, dessa maneira ao tradutor ao fazer a legenda buscou o uso da gíria para transmitir a diferença lingüística, pois se o ebonics fosse traduzido como português padrão não teria retratado a realidade do filme e nem a diferença ali presente, pois como vimos no estudo não existe um equivalente do ebonics para o português, se fosse traduzido de forma usual o aspecto cultural não faria sentido para o espectador. Como já é de nosso conhecimento, não temos uma variante lingüística dessa natureza provinda do português isso não faz parte da nossa realidade. Entretanto um aspecto da nossa cultura que se encaixa com a mensagem transmitida no filme é a linguagem da periferia e a realidade que eles vivem que são bem parecidas e muitos dos termos presentes no filme possuem equivalente nas gírias, embora isso não seja regra geral, conforme mostrado no capítulo 3. Através da análise realizada neste estudo podemos dizer que muitos recursos foram usados pelo legendista para transmitir a diferença lingüística presente no audiovisual, como vimos no capitulo três. Dos recursos lingüísticos utilizados o mais adequado para se traduzir o ebonics é o uso de gírias, pois este é o único meio de retratar a diferença existente no audiovisual em nossa realidade lingüística e também a cultura que envolve o filme, observamos que se a legenda em que se possui a língua de ebonics fosse traduzida para o português padrão não transmitiria a realidade do filme e isso não influenciaria o espectador ao assistir ao filme, pois o mesmo tem a função de receber a informação e através dela conhecer uma determinada cultura que é enfocada e uma linguagem do qual não tinha conhecimento, se as legendas não fossem traduzidas em formas de gírias não faria sentido o filme em seu todo. Concluímos esse estudo através de pesquisa bibliográfica e pesquisas on-line pudemos identificar que a linguagem de ebonics é uma língua que não é muito difundida em nosso meio, mas através dela podemos entender que um determinado grupo a utiliza como meio de comunicação e através dela pode-se conhecer uma nova cultura e expressões que 48 não são do nosso entendimento como foi apresentado no filme analisado. Verificamos que não há expressões em nossa língua que sejam equivalentes a do ebonics, neste caso foi a legendagem do filme transpassada em forma de gíria, para que o espectador brasileiro pudesse entender um pouco do que a língua deseja transmitir e se envolver com o mesmo. Acreditamos que se essa língua tivesse estudos mais aprofundados facilitaria a dificuldade dos trabalhos realizados na área lingüística, e tanto o tradutor quanto o espectador conheceria um pouco mais sobre essa forma lingüística tão polêmica e discutida na América do Norte. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1997. 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