courrier/courrier 19-01-07

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courrier/courrier 19-01-07
c onvidado
COURRIER INTERNACIONAL
6
GENTE D’AMANHÃ
VIKTOR LUKACHENKO
WWW.COURRIERINTERNACIONAL.COM.PT
Como o papá
Pró-americanismo
ção que o Congresso não tolerará o alargamento da guerra do
virulência de alguns ataques contra mim, por causa da
Iraque aos vizinhos.
investigação sobre os voos da CIA em Portugal, não
Sou pró-americana quando leio um extenso artigo no «Heme surpreende. Nem desanima.
rald Tribune» (13/14 de Janeiro), do eminente especialista ameriComo aconteceu em 2003, quando me opus à invacano em questões de segurança e defesa Anthony Cordesman,
são do Iraque — e merecerei algum crédito por ter
que desconstrói o novo «plano para a vitória» no Iraque dos
contribuído para essa posição do PS —, há duas acusaneoconservadores que restam a Bush. Cordesman sublinha que,
ções que sempre são tiradas da cartola por quem tem falta de
tendo em conta a negligência a que os EUA votaram o Afeganisargumentos: o meu passado maoísta entre 73 e 75 (que nunca
tão e a Al-Qaeda a nível global, «a Administração Bush parece
escondi); e um suposto «antiamericanismo».
não ter nenhuma estratégia para a ‘outra’ guerra no AfegaOra a verdade é que, apesar de muito crítica e alarmada pela
nistão, ou mesmo para a guerra global contra o terrorismo».
catástrofe global em que a Administração Bush ajudou a merguSou pró-americana quando partilho a angústia do colunista
lhar todo o mundo, «ich bin eine New Yorkerin», como escreFrank Rich («Herald Tribune»,
vi em 12 de Setembro de 2001 ao
ANA GOMES
15 de Janeiro), sobre o perigo de
meu colega e amigo Bob GelEurodeputada socialista e ex-dirigente do PS
esta ofensiva de Bush no Iraque
bard, então embaixador americacom Ferro Rodrigues, nasceu em Lisboa há 52 anos.
só adiar o inevitável e visar pasno em Jacarta. Fui «americana»
Diplomata formada em Direito, foi consultora
sar a derrota para um próximo
quando o horror de 11 de Setemde Eanes em Belém e representou Portugal
Presidente — provavelmente,
bro se abateu sobre Nova Iorna ONU, Tóquio e Londres. Destacou-se na secção
um democrata.
que, sentindo que aquele ataque
de interesses de Portugal na Indonésia (e tornou-se
Na minha última contribuiera não só contra os EUA, mas
embaixadora), pela defesa do povo de Timor-Leste.
ção para esta coluna (ainda em
também contra a Europa e o
2006), reiterei aquilo que tenho
mundo civilizado.
por fundamental: «Os EUA precisam da Europa e vice-versa».
Sou pró-americana quando leio as conclusões do Grupo de
A Europa sozinha não consegue lidar com os desafios globais
Estudo sobre o Iraque, liderado por James Baker e Lee Hamildefrontados pela nossa geração (terrorismo, proliferação e deton, que apela a uma ofensiva diplomática séria no Médio
sarmamento de armas de destruição maciça, genocídio, crime
Oriente, envolvendo o Irão, a Síria e o conflito israelo-árabe.
organizado) e não vejo outras grandes potências, como a Rússia
Em resposta, esta Administração fugiu para a frente e, tal como
ou a China, mais dispostas a tomar decisões e acções acertadas.
largou o Afeganistão para mergulhar no atoleiro iraquiano, atiGuantánamo, as «rendições extraordinárias», a invasão irra-se, agora, para uma perigosa escalada com o Irão. A imprenresponsável do Iraque e outros crimes desta Administração já
sa israelita revelou, esta semana, que israelitas e sírios conduconstituem um capítulo negro na História dos EUA. E a Histózem há dois anos contactos informais para um acordo de paz
ria julgará severamente aqueles que até ao fim pactuaram com
sobre a questão dos Montes Golã, mas qualquer possibilidade
eles. Só se os aliados dos EUA lhes falarem com franqueza e
de negociações formais tem esbarrado na luz vermelha de Wasem subserviência acrítica é que os ajudarão a regenerar-se dos
shington.
tremendos erros desta Administração. Só assim se reforça a
Sou pró-americana quando leio as declarações do senador
Aliança transatlântica, só assim se defendem os valores em que
Joe Biden, presidente da Comissão de Relações Externas, sobre
ela se funda. E só assim é que a Aliança vale a pena.
a escalada de confrontação com o Irão, lembrando à Administra-
DR
A
OM apenas
31 anos, o filho primogénito
do ditador bielorrusso está a ascender aos píncaros do poder, em
Minsk. Acaba de
ser cooptado para membro do Conselho de Segurança
da República, obviamente presidido pelo seu pai, Alexandre Lukachenko. Embora haja quem pense que este jovem padece de uma confrangedora falta de carisma — não basta ter um bigode igual ao
do progenitor —, a sua promoção não é
uma verdadeira surpresa. É que o tirano,
que governa a Bielorrússia desde 1994,
começa a preparar a sua sucessão. Sabe-se muito pouco sobre a vida de Viktor. Formado na Faculdade de Relações
Internacionais da Universidade de
Minsk, prestou serviço militar nas unidades especiais encarregues de proteger
as fronteiras e trabalhou como diplomata
no Ministério dos Negócios Estrangeiros
do seu país. Casou com uma amiga de
infância, oriunda do mesmo «kolkhoze»
[cooperativa agrícola soviética] onde Viktor viveu com os pais. Têm uma filha. Há
anos, uma entrevista ao diário russo
«Komsomolskaia Pravda» deu a conhecer um homem que afirmava ter uma vida simples, «como a maioria dos bielorrussos». Não, não tinha um automóvel
próprio. Sim, as suas opiniões eram, por
vezes, diferentes das do seu pai. Feitas
as contas, porém, Viktor admitiu nessa
ocasião que era sempre Alexandre quem
acabava por ter razão... Gazeta Wyborcza, Varsóvia
C
MASSIMILIANO LUSTRI
Para os sem-abrigo
PALAVRAS DITAS
l Paciente
No Verão passado,
o casal assistiu a
um serviço religioso
numa igreja de Barbados, cujo pastor
veio agradecer a
Tony Blair por este
ter lido passagens Íx Ilustração
da Bíblia. Reacção de Taylor Jones, EUA
de Cherie: «Ele adora ouvir-se falar». The Independent on
Sunday, Londres
HANS-ULRICH WEHLER,
historiador alemão
l Sério
«É preferível que personagens como Lenine, Estaline ou Hitler sejam objecto de
estudos científicos do que de zombaria». Reacção ao filme humorístico sobre
Hitler, Mein Führer, do realizador Dani
Lévy, estreado na Alemanha a 11 de Janeiro. O filme suscitou uma intensa polémica
ainda antes de estar em cartaz. Handelsblatt, Dusseldorf
WALID JUMBLATT,
líder druso libanês
l Conceptual
«O Presidente sírio Hafez al-Assad era
um criminoso civilizado, que cumpria a
sua palavra perante a opinião pública
árabe e internacional. Quanto ao filho
Bashar, não passa de um mentiroso. A
Turquia não deve negociar com ele, porque ele só entende os argumentos da
força». Palavras proferidas numa conversa com o primeiro-ministro turco Recep
Tayyip Erdogan, de visita a Beirute. An-Nahar, Beirute
nomeação foi adiada. The Jerusalem Post,
Jerusalém
SYLVESTER STALLONE,
actor e produtor de Hollywood
l Inspirado
DR
CHERIE BLAIR,
esposa de Tony Blair
Nos comandos do país há cerca de 20
anos, está convencido de que ainda tem
muito a fazer na política. É por isso que se
recandidata ao cargo de primeiro-ministro
«até aos 90 anos». Cambodge Soir, Phnom Penh
O futebolista britânico David Beckham vai passar a viver em Los Angeles e isso agrada a
Stallone: «Não o
conheço pessoalmente, mas posso pô-lo a representar o Rambo e
persegui-lo na selva durante meses». The Independent, Londres
ESTERINA TARTMAN,
deputada israelita de extrema-direita
ZBIGNIEW ZIOBRO,
ministro da Justiça da Polónia (direita)
l Profética
l Demagogo
«A destruição do povo judeu começará
por este acto». Reacção da representante
do movimento Israël Beitenu [Israel, a nossa casa, direita nacionalista], que agrupa a
comunidade russófona, à nomeação do
deputado árabe israelita Ghaleb Majadlé
como novo ministro das Ciências, Cultura
e Desporto. Este devia ter tomado posse
no passado dia 14 de Janeiro, mas a sua
«Sou a favor da pena de morte no caso
dos crimes mais horríveis». Reacção do
ministro à descoberta do corpo de uma
menina assassinada. Sabendo-se, porém, que a pena de morte não pode ser
reinstituída nos países da União Europeia,
o governante propõe «prisão perpétua,
sem possibilidade de libertação». Fakt,
Varsóvia
HUN SEN,
primeiro-ministro cambojano
l De pedra e cal
considerado o
benfeitor dos
sem-abrigo italianos. O diário madrileno El Mundo não
o compara a um
Dom Quixote com
filhos [ver Courrier
n.º 92, de 5 de Janeiro], antes a Robin dos Bosques. Audaz, desafia a lei
sem pestanejar e infiltra-se em casas desabitadas, para oferecer alojamento aos
mais desfavorecidos. Massimiliano Lustri deu início a este combate solitário há
dez anos. O herói do bairro popular de
Testaccio, em Roma, sabe o que significa a pobreza. Estreou-se na vida profissional a roubar, para satisfazer as necessidades mais básicas. Em 2001, depois
de ter conseguido um emprego de restaurador de móveis, decidiu tomar a seu
cargo a resolução dos problemas de habitação das pessoas sem recursos. Os
preços do imobiliário não param de aumentar na capital italiana. A actividade
de Lustri, embora certamente popular,
não está livre de riscos. Em 2003, foi detido por ter entrado pela janela de um
apartamento onde vivia uma pessoa de
idade: enganara-se! Profissional da militância, Massimiliano não está, aos 33
anos, disposto a desistir da sua batalha.
Longe disso! «Já consegui instalar 15
famílias e sinto-me orgulhoso disso»,
garante.
É
Íx Ilustração de Nicola
Jennings, Londres

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