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Anestesia para Cesariana em doente com Malformação Arnold-Chiari Tipo I e Siringomielia Fonseca S.*, Leão A.**, Bessa T.*, Fuentes E.***, Tavares J.**** 24 * Sara Fonseca, Interna Complementar - Hospital de São João EPE, Porto - Serviço de Anestesiologia - Tel. 917 505 831 - [email protected] ** Ana Leão, Interna Complementar - Hospital de São João EPE, Porto - Serviço de Anestesiologia ***Eduarda Fuentes,Assistente Hospitalar - Hospital de São João EPE, Porto - Serviço de Anestesiologia ****Jorge Tavares, Chefe de Serviço - Hospital de São João EPE, Porto - Serviço de Anestesiologia - Professor Catedrático - Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Resumo A malformação de Arnold-Chiari (MAC) é caracterizada pela descida de estruturas mesencefálicas através do buraco magno, alterações esqueléticas e disfunção neurológica. Na maioria dos doentes ocorre alteração do fluxo de líquido céfalo-raquidiano, com dissociação da pressão crânio-espinhal. Estão descritas 4 classes: Na tipo I ocorre alongamento e deslocação descendente, ≥ 5 mm, das amígdalas cerebelosas1. Em 65 a 80% destes doentes ocorre secundariamente siringomielia (SRG) ou degeneração quística da medula espinhal2, preferencialmente a nível cervical baixo e torácico superior, associada a perda assimétrica das sensações dolorosa e térmica. Pode-se estender superiormente, com desenvolvimento de siringobulbia. As alterações fisiológicas da gravidez e do parto acarretam um risco adicional de herniação do tronco e de compressão da medula espinhal3 Apresenta-se o caso clínico de uma grávida de 26 anos, I Gesta 0 Para, com MAC I, corrigida cirurgicamente, e SRG, proposta para cesariana electiva sob anestesia geral. Não se conhecem recomendações para o manuseamento anestésico destes doentes. A anestesia geral obriga a cuidados especiais. Muitos destes doentes apresentam escoliose torácica, doença do neurónio motor, fraqueza muscular, hipercaliémia e siringobulbia com diminuição ou ausência dos reflexos de protecção da via aérea. Não está documentada contra-indicação para o bloqueio subaracnoideu (BSA) principalmente nos doentes submetidos a correcção cirúrgica da malformação. No entanto podem desnvolver-se alterações da pressão do liquor (LCR) de forma imprevisível, que são agravadas com a punção de dura mater4 Com o bloqueio epidural de início gradual, para evitar as alterações hemodinâmicas do bloqueio sim expansão rápida do espaço epidural, evitam-se os riscos relacionados com a via aérea, a função respiratória é menos comprometida e a relação de pressão cranio-espinhal (PCE) é melhor preservada. Contudo existe o risco do punção acidental da dura mater, com todas as implicações associadas ao BSA. Palavras-chave: Malformação Arnold-Chiari; Siringomielia; Gravidez; Parto; Anestesia Revista SPA ‘ vol. 16 ‘ nº 2 ‘ Maio 2006 Introdução Abstract CAESAREAN ANAESTHESIA IN PATIENT WITH TYPE I ARNOLD-CHIARI MALFORMATION AND SYRINGOMYELIA Arnold-Chiari malformation (ACM) is a downward displacement of mesencephalic structures through the foramen magnum. Most patients have cerebrospinal fluid pression fluctuation with craniospinal relationship dissociation. Four types are described: in type I (ACM I) there is a ≥ 5 mm downward displacement of cerebellar tonsils1. Syringomyelia (SRG) or cystic degeneration of spinal cord2, dissociated sensory impairment of pain and temperature are present in 65 to 80% of ACM patients. When it develops cephalad into the medulla results in syringobulbia. Brain stem herniation and spinal cord compression are additional risks of pregnancy in these patients3. We report a case of a pregnant, 26 years old, I gesta 0 Para, with surgically corrected ACM I and SRG, scheduled to undergoe elective ceasarian section performed general anaesthesia. No firm recommendations regarding management of these patients are stablished. General anaesthesia needs some special care. Many of these patients have thoracic scoliosis, lower motor neuron disease, muscular weakness, hiperkaliemia and syringobulbia, which can jeopardise protective airway reflexes. Subarachnoide blockade is not absolutely contraindicated, specially in those patients with a malformation previously corrected by surgery. Impredictable craniospinal pressure gradient fluctuations can develop specially in an inadvertent dural puncture 4 . A gradual onset epidural anaesthetic, to avoid haemodynamic alteration due to sympathetic block and sudden expansion of the epidural space, avoids potencial hazards of securing the airway, respiratory function being less compromised and the existing craniospinal pressure relationship better preserved. However, an inadvertent dural puncture risk is probable. KeyWords: Arnold-Chiari Malformation; Syringomyelia; Pregnancy; Delivery; Anaesthesia; A malformação de Arnold-Chiari (MAC) foi identificada pela 1ª vez por Cleland em 18831. Mais tarde, em 1891 Hans Van Chiari descreveu-a entre um grupo de malformações que envolvem vários graus – tipos I a III, sendo o tipo IV descrito mais tarde. Estes 4 tipos são numerados por ordem crescente de gravidade e não parecem estar relacionados embriologica ou anatomicamente. Os tipos II, III, IV podem ser identificados antes ou ao nascimento e podem ser letais2. O Tipo I (MAC I) é geralmente diagnosticado pelas 3ª ou 4ª décadas de vida, sendo por isso chamado tipo adulto. A sua prevalência é difícil de definir (sintomática é rara, assintomática é frequente). Existem muitos casos assintomáticos, o que torna escassa a informação epidemiológica2,3. O padrão de hereditariedade é complexo. Parece existir uma contribuição genética para um considerável número de casos, provavelmente por subdesenvolvimento do osso occipital e da fossa posterior (segmento mesoblástico da mesoderme para-axial – defeito neuroectodérmico), o que é suportado pela sua coexistência com doenças mendelianas (associadas a anomalias ósseas). Os casos adquiridos resultam de trauma, tumores crâniocervicais ou outras lesões cerebrais e medulares cervicais. È muito mais frequente nas mulheres5. Em termos fisiopatológicos consiste na herniação caudal da porção amigdalina cerebelosa (e por vezes de parte do tronco) ≥ 5 mm através do buraco magno, geralmente associada a fossa posterior volumetricamente diminuída, o que condiciona a formação de adesões aracnoideias e a obstrução do fluxo de líquido céfalo-raquidiano (LCR) e do 4º ventrículo, com potencial hidrocefalia e aumento da pressão intra-craniana (PIC). Pode estar associado a envolvimento dos pares cranianos. Em 65% a 80%, as alterações do fluxo de LCR condicionam desenvolvimento de siringomielia (SRG), doença neurológica rara caracterizada pela formação progressiva de cavidades na medula espinhal (termo derivado do grego utilizado pela 1ª vez em 1827 por Olliver d’Angers)4, com prevalência de 8.4/100 000 25 Revista SPA ‘ vol. 16 ‘ nº 2 ‘ Maio 2006 26 (Inglaterra). Esta associação indica que a MAC I tem significado fisiopatológico (o que não significa necessidade de tratamento cirúrgico). A sintomatologia da siringomielia depende da localização e tamanho da cavidade siringomiélica. Resulta do estiramento do tecido nervoso e da dissecção do tecido parenquimatoso da medula espinhal por cavidades do canal centro-medular. O tipo de MAC, o seu estádio de desenvolvimento e a sua associação a SRG condicionam a escolha da técnica anestésica. Objectivos Anestesia para cesariana electiva em primípara com MAC I e SRG corrigidas cirurgicamente. Caso Clinico Grávida, caucasiana, 27 anos, 70 Kg, primípara, com idade gestacional de 38 semanas e 04 dias, proposta para cesariana electiva. Diagnóstico imagiológico de MAC I e SRG há 6 anos por apresentar cervicobraquialgia, parésia braquial e hemihipostesia com nível T4 esquerda. Foi então submetida a correcção cirúrgica (craniectomia occipital, remoção do arco posterior do atlas com descompressão do foramen magno, duroplastia após desbridamento da aracnóide espessada). As avaliações seriadas posteriores revelaram boa descompressão do foramen, ausência de cavidades siringomiélicas (em exames imagiológicos posteriores) e melhoria significativa dos sintomas. A parturiente foi referenciada para a consulta de obstetrícia do Hospital São João às 36 semanas. A avaliação neurológica aconselhou a realização de cesariana electiva e a limitação de outros esforços que promovessem o aumento da pressão intra-craniana. Com o acordo da doente foi decidido realizar cesariana electiva sob anestesia geral. O exame neurológico revelou hemihipostesia esquerda a nível de T4 e alguma limitação funcional motora do membro superior esquerdo. Não foram detectados sinais de envolvimento dos pares cranianos nem de envolvimento dos membros inferiores. A via aérea foi avaliada: boa abertura da boca, índice Mallampati 2, Revista SPA ‘ vol. 16 ‘ nº 2 ‘ Maio 2006 com distância tiro-mentoniana ~ 6 cm e boa mobilidade cervical. Foi efectuada profilaxia do vómito com metoclopramida 10 mg e ranitidina 50 mg, via endovenosa. Préoxigenação durante 5 min. Indução de sequência rápida com tiopental 500 mg EV e succinilcolina 75 mg EV, seguida de intubação orotraqueal. Até à uterotomia, a manutenção da anestesia foi efectuada com sevoflurano 1% em mistura de O2 (35%) e ar . Após o nascimento de Recém-Nascido (RN) (5 min após início da anestesia) foram administrados fentanil 0,20 mg EV e cisatracúrio 4 mg EV. O procedimento teve uma duração de 40 minutos. O RN era do sexo feminino, com índice APGAR 9 e 10, aos 1º e 5º minutos, respectivamente. Foi monitorizado o bloqueio neuro-muscular, os níveis séricos de potássio pré e pós indução e a temperatura esofágica. A doente manteve-se hemodinâmicamente estável e não se observaram alterações da temperatura ou da duração do bloqueio neuromuscular. A cesariana decorreu sem intercorrências, não sendo necessários cuidados específicos no pós-operatório. O RN era do sexo feminino, com índice APGAR 9 e 10, aos 1º e 5º minutos, respectivamente. Alta ao 5º dia. A avaliação da doente realizada ao 1º mês não revelou agravamento do estado neurológico. Discussão Nos doentes com MAC I todos os tipos de anestesia podem ser usados5. Está descrita evolução favorável e desfavorável com AG6 e bloqueio do neuro-eixo (BNE)4,7. Não existem recomendações específicas para o seu manuseamento anestésico e são poucos os casos publicados6. Nos doentes com MAC I, a execução de qualquer acto anestésico deve ser precedida por uma avaliação cuidada, para detectar a existência prévia de défices ou neuropatia autonómica (cardíaca mais frequente se coexiste siringobulbia), provas funcionais respiratórias para detectar alterações da função respiratória, exame da via aérea (Intubação OroTraqueal que pode ser difícil pelas alterações esqueléticas associadas), pesquisa de associação a cifoescoliose, pé cavo, costelas cervicais, síndrome de Klippel-Feil (fusão de vértebras cervicais), hidrocefalia e espinha bífida e pesquisa de sinais de PIC aumentada. Podem ocorrer alterações tróficas acentuadas com desenvolvimento de osteoartropatia maciça (articulação de Charcot) e limitação dos acessos venosos periféricos. Na siringomielia, a formação da cavidade resulta da obstrução intermitente ao efluxo de LCR do 4º ventrículo por anomalia do buraco magno (84% associada a malformação da junção crânio-espinhal). Como consequência pode ocorrer dissociação da PCE (maior pressão no crânio do que na medula espinhal), propagação intermitente da onda de pulsatilidade sistólica exageradamente aumentada no espaço subaracnoideu espinhal, derivação do LCR através dos espaços anatómicos intersticial e perivascular contínuos para o canal centro-medular espinhal e disseção dos tecidos neurais adjacentes. Daí que as cavidades se formem preferencialmente a nível cervical inferior ou torácico superior. A expansão das cavidades siringomiélicas é lenta e atinge inicialmente os cordões anterior e lateral. Está associada à perda assimétrica da sensação dolorosa e térmica (feixe espino-talâmico lateral) por destruição da substância cinzenta medular e lesão das fibras nervosas (com preservação do toque e precisão). Pode envolver os neurónios motores inferiores (células do corno anterior), com consequente paralisia flácida e progressão para atrofia muscular. Como atinge frequentemente a região cervical inferior e torácica superior, os défices sensitivos e motores observamse nos membros superiores, mas também pode atingir os neurónios motores superiores nos membros inferiores (feixe corticoespinhal). A presença de sinais da coluna posterior significa doença avançada. Esta doente melhorou ligeiramente dos sinais de atingimento dos cordões anterior e lateral após a cirurgia, mas ainda apresenta hemihipostesia esquerda a nível de T4 e alguma limitação da mobilidade do membro superior esquerdo. A extensão superior das cavidades, com desenvolvimento de siringobulbia, é frequente. Esta é avaliada por disfunção do nervos trigémio ou vago, mascara os reflexos protectores da via aérea e aumenta o risco de aspiração, pelo que na anestesia geral é importante efectuar uma adequada profilaxia do vómito e uma indução de sequência rápida. O aumento da PIC provocada por vómitos, manobras ou fármacos aumenta o risco de deterioração neurológica, extensão das cavidades siringomiélicas ou até herniação cerebelosa. A hiperextensão do pescoço pode provocar tracção dor nervos cranianos com compressão do tronco cerebral, paralisia das cordas vocais ou estridor e não deve ser efectuada. Para contrabalançar possíveis aumentos da PIC deve-se manter um grau adequado de profundidade anestésica e permitir hiperventilação. As flutuações da TA devem ser evitadas. Nalguns casos, a vasodilatação provocada pelos anestésicos gerais combinada com as pressões positivas podem ser muito mal toleradas tornando-se mandatória a medição contínua da TA por cateterização arterial4. A fraqueza das musculaturas paraespinhal e torácica pode levar a cifoescoliose e consequentemente doença respiratória restritiva. Nestes casos as provas funcionais respiratórias são mandatórias. Muitas vezes, para além de um síndrome respiratório, revelam paralisia de uma corda vocal, na presença de achatamento da fase inspiratória da curva fluxo-volume. Os bloqueadores neuromusculares devem ser utilizados com cuidado e com monitorização: pode ocorrer resposta exagerada aos não despolarizantes4, pela fraqueza muscular associada. Esta associada a escoliose e a siringobulbia obriga ao estabelecimento de ventilação adequada antes da extubação. A hipercaliémia pode surgir secundariamente à utilização de succinilcolina, devido à presença de doença neurológica. Nesta doente foi utilizada succinilcolina e monitorizados os valores de potássio sérico pré e pós-indução anestésica, não se verificando alterações significativas. Não é raro a disautonomia associada com diminuição da resposta cardiovascular à hipovolemia e ao aumento da pressão intra-torácica e aumento do risco de hipotermia. Assim, a temperatura deve ser monitorizada. Não está documentada contra-indicação para o BSA, principalmente nos doentes submetidos previamente a correcção cirúrgica6. Também a presença de doença neurológica activa deixou de ser considerada contraindicação absoluta para esta anestesia, pois as complicações observadas eram neuropatias assintomáticas desconhecidas e não verdadeiras complicações da anestesia regional8. No entanto, na maioria dos doentes com SRG tem sido utilizada anestesia geral6. Uma eventual punção da dura mater (independentemente do diâmetro da agulha), pode 27 Revista SPA ‘ vol. 16 ‘ nº 2 ‘ Maio 2006 28 causar herniação amigdalina, aumento da PIC ou hidrocefalia obstrutiva e síndrome da medula cervical intra-medular, por se criar uma pressão espinhal negativa que se associa às flutuações da pressão de LCR presentes nestes doentes, habitualmente com pressão intracerebral elevada acima do buraco magno. O bloqueio epidural de início gradual, lento e com pequenos volumes de anestésico local, para evitar as alterações hemodinâmicas do bloqueio simpático e a expansão rápida do espaço epidural (com aumento da pressão LCR) permite que se evitem os riscos relacionados com a via aérea, a função respiratória e a relação de PCE. Parece ser a técnica de eleição em doentes não submetidos a correcção cirúrgica e sem aumento da PIC. Contudo, como existe o risco de punção acidental da dura mater, nos doentes com sinais de PIC aumentada é preferível recorrer a anestesia geral. No caso particular da grávida, a avaliação neurológica deve orientar também o tipo de parto em função do risco/benefício. Na ausência de sinais de aumento da PIC ou défices neurológicos não existe contra-indicação para o parto vaginal. Caso contrário deve-se programar uma cesariana electiva ou diminuir o 2º estadio do trabalho de parto, uma vez que as contracções uterinas aumentam a PCE, o que pode contribuir para o agravamento da doença. Conclusão Nesta grávida com malformação de Arnold-Chiari tipo I corrigida cirurgicamente e siringomielia, proposta para cesariana electiva, a anestesia geral foi uma técnica segura e eficaz. A possibilidade de bloqueio neuromuscular residual associada a escoliose, com alterações da capacidade funcional, e a siringobulbia obriga a um especial cuidado na recuperação de ventilação adequada antes da extubação. Bibliografia 1. Sicuranza GB, Steinberg P, Figueiroa R, Arnold-chiari malformation in a pregnant woman, Obstetrics and gynecoloy 2003; 102 (5): 1191-93 2. Speer MC, Enterline DS, Mehltretter L, Chiari Type I Malformation with or without Syringomyelia: Prevalen and genetics, Journal of Genetic Counseling 2003; 12(4): 297-311; 3. 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