bordados de tibaldiho

Transcrição

bordados de tibaldiho
Bordados de Tibaldinho
1º Concurso de Projectos de Produção de Conteúdos Educativos
Trabalho elaborado por alunos e professores da Escola de Tibaldinho
Ano Lectivo 2005/2006
http://www.eb1-tibaldinho.rcts.pt/monumentos/index.htm
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ALDEIA – TIBALDINHO
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
TIBALDINHO ANTIGO (Alcafache antigo)
TIBALDINHO REGIONAL
TIBALDINHO MODERNO OU RECENTE
O TIBALDINHO ACTUAL
DIVULGAÇÃO
ASPECTOS ECONÓMICOS
POR CONTA PRÓPRIA
POR ENCOMENDA
POR CONTA DE OUTRÉM
ASPECTOS SOCIAIS
ASPECTOS TÉCNICOS E ARTISTICOS
MATERIAIS E UTENSÍLIOS
CONCLUSÃO
INTRODUÇÃO
O acto de fazer e guardar objectos é a primeira manifestação que distingue o homem dos outros animais. O homem é por
natureza um fazedor de artefactos. É também um artista, dado que ao sentido útil dos objectos aliou sempre a sua sensibilidade
e estética.
Por todo o país, dos mais pequenos aos maiores aglomerados populacionais, foi surgindo o artesanato especializado.
A pitoresca aldeia de Tibaldinho, pertencendo à freguesia de Alcafache não fugiu a esta regra.
Assim, a par da fabricação da grande parte dos artefactos de que cada um ou a própria comunidade necessitava,
desenvolveram-se nesta aldeia dois tipos de artesanato especializado: a olaria e os bordados.
Quanto à olaria esta desapareceu e não se sabe quando, como e porquê.
Quanto aos bordados, eles são o tema deste nosso trabalho, no qual iremos fazer um estudo no que diz respeito à sua origem e
evolução histórica, aos seus aspectos económicos e sociais, às suas características técnicas, estéticas e artísticas e à sua
divulgação. E ainda incluímos um estudo sobre o linho por ser o suporte dos Bordados de Tibaldinho.
CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ALDEIA – TIBALDINHO
Tibaldinho é uma das mais importantes aldeias que compõem o concelho de Mangualde, distrito de Viseu e, portanto, na região
da Beira alta, principalmente pelo seu potencial máximo – os bordados.
Faz parte da freguesia de Alcafache juntamente com as povoações de Banho, junto ao rio Dão, nome local das termas de
Alcafache, Casal Sandinho, Peso, Casal Mendo, Aldeia de Carvalho, Mosteirinho e Tibaldinho.
Esta tradicional aldeia fica situada no extremo Nordeste do concelho de Mangualde com uma altitude de 230 metros, latitude
40º 36’ 18” Norte e longitude 01º 15’ 51” Este de Lisboa. Integrada na freguesia de Alcafache, limita a Ocidente com a freguesia
de Santar, concelho de Nelas, a Norte, já na outra margem do rio, com S. João de Lourosa, concelho de Viseu, a Sul com Lobelhe
do Mato e a Oriente com Fornos de Maceira Dão. Dista cerca de 6Km da sede do concelho.
A freguesia de Alcafache e consequentemente Tibaldinho é servida pela linha da Beira Alta, cuja estação tem o nome de
Moimenta Alcafache; é uma ligação de caminho de ferro internacional. É também servida por uma via rápida – IP5 – que liga a
Espanha ao litoral do país.
Situa-se numa região recheada de monumentos de interesse e valor arquitectónico inquestionável.
Tibaldinho é um daqueles lugares onde as casas novas se dispõem ao longo de uma das estradas que de Mangualde se dirige a
Viseu, atravessando a freguesia. O núcleo antigo é formado por um conjunto denso de pequenas casas de granito, com ruas e
becos estreitos e escuros, contrastando com as cores claras e o tamanho a que as novas construções dão lugar.
Além dos conhecidos Bordados de Tibaldinho, também a actividade da população se reparte pela agricultura com extensões de
vinha, de onde provém bom vinho da Região Demarcada de Vinhos do Dão, de pomares da afamada fruta da Beira Alta, com
alguns rebanhos de ovinos e pequena cultura de subsistência – batata, feijão, cenoura, hortaliça,...
Reparte-se também pela indústria, localizada maioritariamente nos parques industriais de Mangualde e no parque industrial de
Coimbrões que lhe é vizinho.
A sua densidade populacional situa-se abaixo do limiar dos 500 habitantes, dos quais cerca de 25% da população activa
feminina são bordadeiras.
É uma zona de relevo pouco acidentado, solos férteis num ambiente e clima moderados que lhe são próprios, por se tratar de
um vale abrigado, de curso de água de natureza hipertermal, sulfúrea, alcalina, dotada de radioactividade curativa. Esta riqueza
foi aproveitada e deu origem às tão afamadas Termas de Alcafache.
Tibaldinho só é nome de lugar para aqueles que aí habitam, ou nas suas imediatas proximidades. Para a grande maioria das
pessoas que conhece a designação, ela evoca sobretudo, uma das artes mais tradicionais e características da Beira: O Bordado
de Tibaldinho
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Perde-se no tempo a tradição dos bordados a fios de algodão, conhecidos por Bordados de Tibaldinho, embora até hoje apenas
se conheçam exemplares que remontam aos princípios do séc. XIX (1810-1830).
Estes Bordados, tanto no risco como nos processos de execução, apresentam características muito próprias que permitem
identificá-los imediatamente..
Para fazermos a análise da evolução histórica dos Bordados de Tibaldinho, seguiremos as três fases detectadas pelo Professor
Fernando Louro de Almeida e que foram aprofundadas mais recentemente pelo Professor Doutor José Manuel Azevedo e Silva.
A partir dos exemplares conhecidos e estudados, podemos, pois, classificar estes bordados em três tipos distintos.
TIBALDINHO ANTIGO (Alcafache antigo)
Nesta altura ainda não é legítimo falar de Bordados de Alcafache, muito menos em Bordados de Tibaldinho, na medida em que
eles estão enquadrados numa área geográfica muito ampla em forma de triângulo, cujos vértices eram Viseu, Mangualde e
Nelas.
Vindo posteriormente esta área geográfica a reduzir-se às freguesias de São João de Lourosa, Fragosela, Fornos de Maceira Dão
e Alcafache.
A maior concentração em quantidade e em qualidade verifica-se nas aldeias da freguesia de Alcafache, que são: Aldeia de
Carvalho, Casal Sandinho, Casal Mendo, Mosteirinho, Banho (Termas) e Tibaldinho.
Os exemplares mais antigos contam com cerca de 200 anos, embora se acredite que possam mesmo remontar à Idade Média.
Esta fase, segundo o Professor Louro de Almeida, que termina com a Primeira Grande Guerra, é aquela que fornece as peças
mais ricamente bordadas. Foi também (e deverá continuar a sê-lo) a verdadeira fonte de inspiração das gerações de bordadeiras
das fases seguintes.
TIBALDINHO REGIONAL
Tibaldinho surge como centro da zona triangular atrás referida. Embora estes bordados estivessem espalhados por toda a
freguesia de Alcafache, os trabalhos saídos da agulha das bordadeiras de Tibaldinho (mulheres do campo) foram sempre
considerados, muito justamente, os mais belos e os mais perfeitos.
Talvez este facto tenha sido um estímulo para que as habilidosas bordadeiras desta aldeia se inspirassem nos exemplares do
“Alcafache Antigo” ou “Tibaldinho Antigo”, criando um novo estilo, com um novo ritmo decorativo a que se passou a chamar
“Tibaldinho Regional”. Este ritmo é constituído pela sucessão de enleios e outros elementos decorativos.
O Professor Louro de Almeida situa historicamente esta fase entre as duas Grandes Guerras Mundiais.
TIBALDINHO MODERNO OU RECENTE
Nesta fase há uma maior liberdade de composição ou de supressão e de substituição de motivos característicos, com vista à
diminuição do tempo de execução de cada peça.
Há uma mistura de outros tipos de bordados, mais ao gosto das “senhoras”, segundo as bordadeiras de Tibaldinho, também se
empregam novos materiais, chegando mesmo a ser utilizadas linhas tipo “perlé” (brilhantes ou de lustro) não só de cor branca,
mas também beje, cinza claro, azul pálido, rosa desmaiado e até linhas matizadas.
Algumas bordadeiras tibaldinhenses mais antigas (com cerca de 70/80 anos) referem-se a este aspecto com uma certa tristeza
cravada no rosto. Dizem que muitas vezes aceitavam os riscos que as “Senhoras” lhes mandavam e estavam sujeitas a tudo isto
para ganhar alguns tostões.
O “tibaldinho moderno ou recente” não é propriamente uma fase autónoma. Não sucede à fase anterior mas coexiste com ela
no tempo.
Não é, pois legítimo afirmar que a Segunda Guerra Mundial funcionou como baliza para a passagem do tibaldinho regional ao
tibaldinho moderno.
Segundo Azevedo e Silva não terá sido este evento que influenciou, directa e imediatamente a evolução dos bordados de
Tibaldinho de uma forma negativa. Mas sim, a introdução do bordado dos tapetes tipo “arraiolos”, por volta dos anos 50, pelas
senhoras Sacadura Botte, com casa solarenga na Quinta de Santa Eufémia, na povoação de Tibaldinho.
A partir da introdução dos “tapetes”, a aprendizagem por parte das jovens voltou-se quase exclusivamente para o bordado a fio
de lã (os tapetes) e cada vez havia menos bordadeiras a fio de algodão (os bordados regionais). Só as pessoas de uma faixa
etária mais alta se mantiveram nos bordados regionais. O bordado dos tapetes é de rápida aprendizagem e de fácil execução. A
única ciência está no “contorno” ou seja, no bordado do desenho. Os tapetes são mais convidativos uma vez que são bem
remunerados e pouco morosos. Com a introdução dos tapetes a mão de obra feminina tornou-se mais cara, e as “Senhoras”
para dispenderem menos dinheiro, aligeiravam os bordados eruditos mandando executar as suas encomendas com motivos
tirados de revistas que nada têm a ver com os bordados de Tibaldinho. E ainda foram substituindo o linho pelo algodão
chegando mesmo a usar fibras artificiais, e a linha foi durante muito tempo a linha baça de alinhavar por ser mais barata.
E assim se caiu no “bonitinho” maneirista em prejuízo dos verdadeiros bordados tradicionais.
O TIBALDINHO ACTUAL
Toda a situação descrita anteriormente, começou a ser motivo de preocupação de pessoas e entidades “para quem o
desaparecimento do bordado de Tibaldinho é entendido como uma perda”. Inicia-se assim, no fim da década de 80, em
Tibaldinho, uma nova fase de intervenção sobretudo ao nível da formação profissional, que deixa de ser informal e familiar para
ser organizada e orientada por pessoas e instituições, exteriores ao local.
Em 1988 desenvolve-se uma acção mas ainda com resultados muito limitados. Em 91/92, promove-se uma outra acção de
formação profissional, ao abrigo do programa “Conservação do Património Cultural” do Instituto do Emprego e Formação
Profissional, através da Extensão Educativa a funcionar em Mangualde.
Esta acção foi bastante positiva, uma vez que foi a partir dela que um grupo de mulheres jovens constituiu a oficina a que deram
o nome de “Borboto” com vista a promoverem os bordados.
Ainda na década de 90, foram lavadas a cabo pela CEARTE – Centro de Formação Profissional de Artesanato,algumas acções de
formação nomeadamente ao nível da recuperação de desenhos, da reintrodução de motivos antigos, entre outros.
DIVULGAÇÃO
A divulgação dos bordados tem sido feita através de diversos meios, embora nem em todas as fases tenha sido feita da forma
mais correcta.
Nas duas primeiras fases, o contacto entre as bordadeiras e as clientes (as senhoras) fazia-se directamente nos dois sentidos: ou
as bordadeiras faziam chegar a sua obra às compradoras, criando o seu próprio mercado, ou as clientes procuravam as
bordadeiras através da encomenda. Na terceira fase (Tibaldinho moderno ou recente), quase só o segundo sentido funciona,
pelo que se tornam necessários novos meios de divulgação.
Por volta de 1940, o Dr. Sacadura Botte organizou uma exposição de bordados de Tibaldinho, na Feira de S. Mateus, em Viseu,
que muito contribuiu para a sua divulgação.
Na Casa-Museu Almeida Moreira, existe uma magnífica e valiosa colecção destes bordados. Inclui toalhas de Páscoa, toalhas de
jantar, vários aventais, almofadões, panos decorativos, e algumas dobras de lençol muito antigas.
A par das várias exposições realizadas por todo o país para promover e divulgar os bordados de Tibaldinho, destacamos a
exposição patente em 1998, no Museu Nacional do Traje.
ASPECTOS ECONÓMICOS
Para além de outras compensações que não são contabilizáveis, os bordados proporcionam compensações económicas.
Os bordados típicos executados pelas bordadeiras de Tibaldinho, foram e continuam a ser adquiridos por muitas famílias da
região.
Há alguns anos atrás, no Verão, as bordadeiras iam vendê-los às termas de Alcafache, Felgueiras, Luso e S. Pedro do Sul. Visto a
estes locais acorrerem pessoas de diferentes partes do país, era uma forma dos bordados chegarem mais longe. Alguns desses
bordados chegavam mesmo a ultrapassar as fronteiras do nosso país por intermédio de emigrantes que os levavam para si
próprios ou para oferecer.
Actualmente as pessoas que os pretendem adquirir deslocam-se a Tibaldinho, nomeadamente a casas da especialidade que
existem nesta localidade.
Dentro do aspecto económico podemos distinguir três processos de produção e de venda.
POR CONTA PRÓPRIA
Este processo implicava que cada bordadeira comprasse o pano e as linhas, bordasse várias peças e depois se dirigisse para os
centros populacionais a fim de os comercializar. Estas bordadeiras vendedoras tinham já as suas clientes certas em cada
localidade e estas por sua vez punham-nas em contacto com outras clientes. Por vezes colocavam os bordados à consignação
em algumas casas comerciais.
Hoje em dia, algumas bordadeiras que trabalham por conta própria já não necessitam de se deslocar para vender os seus
trabalhos, pois são as pessoas interessadas que as procuram nas suas casas.
POR ENCOMENDA
Este processo era o mais preferido pelas bordadeiras, pois dentro desta modalidade a bordadeira não tem tanto empate de
capital nem tem que se preocupar com a venda. As senhoras que encomendavam as peças, forneciam o pano e as linhas,
escolhiam o risco e combinavam o preço a pagar à bordadeira no acto de entrega da obra.
Como é natural as bordadeiras mais afamadas é que recebiam as encomendas, logo, tornava-se uma honra trabalhar nesta
modalidade.
Assim quando estas bordadeiras tinham muitas encomendas, e lhes era estipulado um prazo de entrega das mesmas, elas
tornavam-se pequenas empresárias contratando outras bordadeiras que trabalhavam à tarefa.
Para se ver a evolução dos preços, numa exposição de artesanato regional, em Viseu, em 1961 foram vendidos jogos de cama e
toalhas de mesa entre 120 e 220 escudos e pequenos panos decorativos entre 20 e 30 escudos. Hoje em dia, um jogo de cama
custa à volta dos 200 a 250 euros e uma toalha vulgar fica à volta dos 400 euros.
Actualmente continuam a existir encomendas por parte das senhoras às bordeiras mais afamadas,só que por vezes são as
próprias bordadeiras que compram a linha e o pano.
POR CONTA DE OUTRÉM
Aqui as bordadeiras recebem o serviço de outra pessoa, que pode ser segundo duas modalidades:
A) Na própria casa
Isto acontece quando uma bordadeira recebe serviço de outra, sendo esta última a fornecer o pano e o risco já no
pano. A bordadeira depois de ter o pano bordado leva-o a casa da outra para que esta lhe pague o serviço. Neste
processo quem borda não tem qualquer despesa nem qualquer encargo. A pessoa que vai vender a obra, tem que
proceder à sua lavagem e tem de a engomar.
B) Trabalho em casa das senhoras
Quando as senhoras da região queriam fazer os enxovais das filhas casadoiras ou dos bebés, com bordados de
Tibaldinho, contratavam para isso raparigas de Tibaldinho, que bordassem, a quem davam cama e mesa e o salário
combinado. Só as moças solteiras e as mais habilidosas é que prestavam este tipo de serviços, pois não tinham
responsabilidades familiares.
Nos dias de hoje já não se verifica este processo.
ASPECTOS SOCIAIS
Os bordados de Tibaldinho influenciaram o modo de vida dos naturais desta aldeia. Participavam nos bordados quase todas as
mulheres dos diferentes estratos sociais.
Nem todas as mulheres de Tibaldinho se dedicavam exclusivamente aos bordados, por norma participavam nas lides do campo
ao lado dos maridos, ficando ainda a seu cargo a casa e os filhos. Quando o tempo não permitia ir trabalhar no campo, a agulha
e o pano lá as esperava. Para estas mulheres os serões eram passados a bordar.
ASPECTOS TÉCNICOS E ARTISTICOS
Afinal o que é o bordado?
Após termos feito tanta referência ao bordado, chegou a altura de o definir.
Denomina-se de bordado o trabalho que é executado com agulha e fios têxteis sobre um tecido que lhe serve de suporte, dando
origem a uma ornamentação, segundo um determinado desenho ou risco.
Baseando-nos nesta definição, podemos considerar a tapeçaria como uma forma de bordado, embora entre os bordados típicos
e os tapetes que se fazem em Tibaldinho haja diferenças muito profundas.
Os bordados típicos de Tibaldinho, empregam linhas brancas de algodão e branquíssimos tecidos de algodão ou de linho,
enquanto que a tapeçaria tipo “arraiolos” é bordada com fios de lã grossa sobre tela de linho, estopa, linhagem grossa,
canhamaço (serapilheira) ou outro tecido forte, no qual se possam facilmente contar os seus fios transversais e longitudinais.
Bordar é uma arte e como tal requer um domínio de técnicas próprias, de muita imaginação, poder criativo e sentido estético e
artístico das bordadeiras. Para que se consigam criar ou recriar belos e autênticos exemplares desta arte é necessário que se
reunam certas condições nomeadamente a concepção do desenho ou risco, a harmoniosa distribuição dos motivos a perfeição
na execução dos pontos e o sentido estético e artístico que já atrás referimos.
Os elementos decorativos empregues nos bordados de Tibaldinho são os seguintes: ilhós simples, espirais de ilhós (enleios),
arcos de ilhós (cadeias), arcos ogivais, quadrados de nove ilhós, espirais de cordão, espirais de borbotos, círculos simples e
concêntricos, rodízios, estrelas, óculos de rede, óculos em cruz, corações simples, corações floridos e corações com chave,
hastes, flores, pétalas, malmequeres, girassóis, cravos, botõezinhos, folhas abertas e fechadas, folhas redondas, alongadas,
pontiagudas e serrilhadas, folhas de feto, folhas de carvalho, trevos de quatro folhas, composições florais, laços, silvas, bolotas,
tranças, pevides, pássaros, borboletas, cruz de Cristo, dois oitos em cruz, crivos simples e de duas pernas, recorte ondeante,
bainha aberta, machocos redondos, machocos alongados (de pevide), machocos bicudos (serrilha ou dentes de rato), curvas
espiraladas, cordão ondeante, canutilhos, pompons, letras maiúsculas, monogramas.
Cada peça executada leva em si um pouco do amor e do carinho da sua executante. As bordadeiras de Tibaldinho bordam o
próprio amor. Este aparece muitas vezes como tema central dos bordados. São exemplo disso as peças em que a decoração se
baseia nos corações.
Assim, os corações são a fonte e o abrigo do amor; os enleios e as cadeias prendem; os serrilhados e os pontiagudos ferem (o
amor é dor); os crivos filtram (o trigo do joio, o bem do mal, o amor do ódio); as flores saúdam os noivos em festa. Os motivos
da flora, harmoniosamente distribuídos, são um hino de amor à Natureza e à Vida..
Muitos destes motivos são comuns a outros tipos de bordados, outros há que são característicos dos bordados de Tibaldinho.
De tal modo assim é que o emprego de certos motivos e pontos, a sua disposição no conjunto decorativo e a técnica utilizada
permitem identificar imediatamente estes bordados.
As barras das toalhas e de outros panos decorativos aparecem constantemente trabalhadas com enleios acompanhados de
outros motivos. As espirais de enleios nos bordados de Tibaldinho são espirais esquerdas ou sinistras, isto é, evoluem no sentido
dos ponteiros do relógio.
Na bissectriz dos quatro ângulos dos panos e toalhas há normalmente grandes corações, circundados por pétalas estilizadas
(alongadas ou arredondadas). Por vezes, e esses corações são substituídos por flores circulares (girassóis ou malmequeres) ou
por conjuntos florais.
Os centros são quase sempre trabalhados com ponto aberto ou crivo que outrora era pequeno, mas que, posteriormente, foi
aumentando as suas dimensões. A combinação do crivo com outros pontos e motivos faz nascer maravilhosas composições
centrais.
Os lençóis são bordados apenas na barra da cabeceira e, tal como nas almofadas, nos almofadões, nos travesseiros e noutras
peças, aparecem as séries de ilhós combinadas com variadíssimos motivos, dando lugar a formosas e artísticas composições
decorativas.
O lavor dos bordados de Tibaldinho utilizam os seguintes pontos: ponto lançado, ponto entrançado, ponto espinhado, ponto de
recorte (vulgo caseado), ponto de cordão, ponto de nós, ponto pé-de-flor (ponto a fugir), ponto de cadeia, ponto de formiga,
ponto de canutilho e vários pontos de fantasia.
Com bordados de Tibaldinho, nas suas três fases, aprecem toalhas de mesa, toalhas de Páscoa, toalhas de altar, toalhas de
mãos, guardanapos, lençóis, almofadas, almofadões, travesseiros, enxovais de bebé, aventais, panos de mesinha de cabeceira e
outros panos decorativos.
Ao contrário do que acontece com outros tipos de bordados, raramente aparecem saias e blusas decoradas com bordados de
Tibaldinho. Surpreende - nos, sobremaneira, como é que as belas moças de Alcafache e redondezas não resolveram decorar
com bordados regionais as suas características blusas brancas domingueiras. Talvez a necessária utilização de motivos abertos
(ilhós, crivos ou redes) as tenha retraído.
MATERIAIS E UTENSÍLIOS
Como tecido de suporte dos bordados de Tibaldinho geralmente utilizam-se panos de algodão e tecidos alinhados.
Muitos dos bordados de Tibaldinho, essencialmente os mais antigos, eram executados em linhos finos ou mais grosseiros,
brancos ou crus. Os bordados que se conhecem mais antigos foram bordados sobre linho criado e tecido na região. Embora de
fabricação caseira, estes linhos eram de excelente qualidade. Reconhecem-se facilmente pela sua estreiteza e tipo de urdidura.
Estes panos estreitos eram ligados à mão, por costura, a ponto de luva, e a sua execução era tal que, passado em muitos casos
mais de um século, essas costuras se conservam intactas.
Na execução dos bordados utilizam-se linhas de algodão branco e baço de dois e três fios (cabos), usadas conforme os motivos a
usar. Assim, os ilhós, os óculos de rede, os rodízios, os crivos e as folhas abertas são executados com a linha de dois cabos; nos
outros motivos, bordados a cheio, como folhas, machocos, pastas, recorte, etc. emprega-se a linha de três cabos.
Quanto aos apetrechos da bordadeira de Tibaldinho encontramos: a almofada-luva, as agulhas, o lápis (para as riscadoras), o
dedal e a tesoura.
A almofada-luva é de pequenas dimensões, de forma oval, feita de trapos pelas próprias bordadeiras, possui uma bolsa num
dos lados onde se guardam os restantes utensílios. Esta é colocada sobre os joelhos para sobre ela trabalharem.
Quanto às agulhas estas são vulgares, mas de preferência devem ser de tipo mais curto e grosso.
Também o dedal é vulgar não existindo diferença dos dedais de costureira.
A tesoura que a bordadeira utiliza para abrir os ilhós e outros motivos e para cortar a linha, é de pequenas dimensões e está
presa por um ourelo (fita) de cerca de 60 cm atado a um dos anéis e cosido ao rebordo da bolsa da almofada-luva.
CONCLUSÃO
Com a elaboração deste pequeno trabalho pretendemos transmitir às crianças do 1º CEB e às pessoas em geral a importância da
preservação das tradições da sua região.
Verificámos que os Bordados de Tibaldinho, tiveram os seus pontos altos, no entanto com o passar dos tempos, das modas e do
poder económico, houve uma certa desvalorização deste trabalho. Contudo em boa hora, houve quem considerasse que esta
tradição era importante para a região e tudo fez para a preservar.
Numa época em que a produção em série transformou o homem numa simples peça da máquina produtiva, desligando-o
afectivamente do objecto do seu trabalho, o artesanato tem uma dupla função social: a humanização do trabalho e a produção
de objectos simultaneamente úteis e artísticos.
A maravilhosa arte de bordar, como artesanato que é, é uma actividade com as suas compensações. Proporciona uma
recompensa material a quem a produz e transmite uma sensação de alegria e de prazer não só a quem a executa, mas também
a quem a adquire ou simplesmente a contempla.
Há, pois, que preservar esta tradição, estimulando e acarinhando todas as iniciativas nesse sentido.
Consideramos muito importante que as crianças desde cedo tomem conhecimento da realidade envolvente para que nela se
possam integrar de uma forma plena, para que mais tarde, não se verifique a desvalorização e o desinteresse pelos usos,
costumes, tradições e pelo património que vai fazer parte da sua cultura, com os quais vai estar em contacto permanente.

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