Editorial - AFAGO - Associação dos Filhos e Amigos de Gouveia

Transcrição

Editorial - AFAGO - Associação dos Filhos e Amigos de Gouveia
BOLETIM INFORMATIVO DA AFAGO - ASSOCIAÇÃO DOS FILHOS E AMIGOS DA GOUVEIA ANO IV N° 04 -JULHO- AGOSTO 2011
Editorial
Palavras do Presidente
A Afago foi criada sob o idealismo de doutor Waldir de
Almeida Ribas. Nós o perdemos em junho passado.
Ficamos sem nosso líder maior, mas doutor Waldir criou a
Afago em bases sólidas capaz de resistir às intempéries
da vida.
Ele soube juntar em torno de si um grupo de gouveianos
que absorveu os seus ensinamentos e os seus ideais e se
propôs a continuar sua obra. Em março passado eu fui
elevado à honrosa posição de Presidente da Afago, função
até a data ocupada por doutor Waldir. Pesei a
responsabilidade, quase recuei, mas percebi que aquele
grupo se mantinha coeso e disposto a continuar a obra do
mestre. Afinal, eu também fazia parte do grupo e não podia
abandonar o barco, agora, quando minha participação era
cobrada.
Nestes seis meses, a Afago vem dando continuidade ao
seu programa, seguindo com passos firmes a direção
traçada. A Assembléia, órgão máximo da entidade aprovou
novo estatuto com alterações substanciais. O novo estatuto
traz cravado no artigo 1º. “O objetivo maior é promover a
integração da comunidade gouveiana da RMBH
fortalecendo os laços de união com Gouveia e propugnar
pelo desenvolvimento do município” esta é nossa primeira
orientação. Neste estatuto, a composição do conselho de
administração e do conselho fiscal foram, ambas,
reduzidas. O conselho consultivo foi eliminado e criou-se
o título de Presidente de Honra da Afago e o atribuiu ao
doutor Waldir de Almeida Ribas, nesta data, já debilitado,
lutando pela sua saúde..
A documentação da Afago está, agora, toda regularizada
junto à Receita Federal e junto à Prefeitura Municipal,
resultado de elogiável trabalho de doutor Milton Ferreira
de Miranda, presidente do Conselho Fiscal.
O site www.afagouveia.org.br, órgão de divulgação da
Afago e de Gouveia, tem disponibilizado textos e fotos das
comunidades rurais e da sede do município, vale citar A
Escolinha do Adauto; o Turismo de Vilarejo de Cuiabá; o
Jubileu do Cemitério do Peixe; as comunidades de Espinho,
Engenho da Bilia e Engenho da Raquel, belo trabalho
produzido pela Escola Municipal Profa. Zezé Ribas ao
desenvolver o projeto “Valorização da Cultura Histórica do
Município”; Literatura de Cordel, trabalho dos alunos das
escolas de Camilinho e de Pedro Pereira; divulgação da
Kobufest e fotos de obras civis sendo realizadas em
Gouveia: Creche, Unidade Básica da Saúde e Farmácia
de Minas.
Reunião de Congraçamento, acontecimento relevante
porque marca a hora do encontro, do abraço, da
confraternização, quando se fala de Gouveia, quando se
relembra dos tempos de mocidade ali vividos.
Normalmente, se faz duas reuniões por ano. Neste ano
far-se-ão três. A primeira realizou-se nos salões do
PizzaBar. A segunda será realizada no próximo dia
dezessete no sitio de doutor Manoel Luiz Ferreira de
Miranda, diretor jurídico da Afago. O churrasco será
oferecido pelos irmãos Miranda – Manoel Luis e Milton
– Dois garotos originários de Camilinho e que se
tornaram, hoje, respeitados advogados e empresários.
O concurso Premio Afago de Literatura, lançado com
sucesso em 2010, será realizado, também, em 2011. O
edital do concurso foi publicado, as diretoras de escolas
contatadas. A edição 2011 do concurso foi ampliada
para incluir as Escolas Rurais. O desejo da Afago é
alcançar as seis escolas do município que ensinam o
ciclo final do ensino fundamental, e conseguir a maior
participação de estudantes e professoras. Para isto,
conta com a cooperação e apoio da Secretaria Municipal
de Educação.
A receita da Afago continua pequena, suficiente para
as despesas rotineiras, mas continuamos com cessão
gratuita da sede, concessão especial da Dona Elena
Berenice. As despesas com impressão gráfica e prêmios
são custeadas graças ao esforço de diretor de
comunicação Professor José Moreira de Souza que
consegue tirar leite de pedras.
Finalmente, o Boletim Informativo distribuído
graciosamente aos associados da Afago, à autoridades
municipais, às escolas e ao comércio de Gouveia, segue
a rotina traçada, periodicidade bimestral. Agora, com
melhoria substancial na impressão e na qualidade do
papel. Editou-se número especial lembrando doutor
Waldir, trazendo artigos e mensagens mantendo o foco
no querido mestre. Editou-se folheto em cores,
transcrevendo mensagens de admiração e carinho,
distribuído aos parentes e amigos do mestre reunidos
para rezar a missa de sétimo dia. E ainda, livreto, em
cores, contendo o Testamento do Sua Excelência
Reverendíssima Dom Paulo Lopes de Faria. Três mil
copias impressas e entregues ao pároco de Gouveia
para distribuição.
O número do Boletim Informativo, agora, distribuído trás
três artigos sobre o Cemitério do Peixe, que precisam
ser lidos. É um lugar místico que mexe com as pessoas.
O jubileu anual que ali se realiza é um evento
extraordinário engrandecido pela dedicação e coragem
do Reverendíssimo Padre Carvalhaes. O artigo sobre
empreendedorismo de Adilson Nascimento, autor
brilhante, é uma lição para todos nós. Eu dei minha
contribuição ao escrever, em parceria com Dona Ildete,
sobre Theodulo Prado, gouveiano por adoção, mas que
amou e trabalhou por Gouveia tanto quanto o melhor
dos gouveianos.
Raimundo Nonato de Miranda Chaves
Notícias
¾ ENCONTRO DE CONFRATERNIZAÇÃO
– 17 de setembro de 2011
Adilson do Nascimento: “A diretoria da AFAGO decidiu, por
sugestão do diretor jurídico Manoel Luiz de Miranda e do
presidente do conselho fiscal Milton Ferreira de Miranda, que o
encontro de confraternização será realizado no sítio do Manoel,
nos arredores de Belo Horizonte, no dia 17 de setembro de
2011, um sábado, durante o dia. Os associados que estiverem
propensos a comparecer deverão fornecer os seus e-mails para
[email protected] para que lhes sejam passados
os convites e um mapa com o roteiro de como chegar ao local.
Somente após recebermos os e-mails é que teremos condições
de orientar os anfitriões e patrocinadores a respeito de quantos
bois eles haverão de abater para o churrasco. Como já se sabe,
desta feita, os comes e bebes serão pelo sistema de boca livre.
Ao fornecer o seu e-mail seria interessante, também, que o
associado dissesse se tem interesse em fazer o trajeto por
transporte coletivo. Essa é uma preocupação com as penalidades
da “Lei Seca”, porém a Afago irá estudar a possibilidade de
contratar uma ou mais vans, dependendo da demanda, sem,
contudo, financiar o seu custo que deverá ser repassado entre
os ocupantes. Oportunamente poderemos retornar ao assunto.
Para os dois próximos encontros já temos oferta de dois outros
diretores que colocaram as suas propriedades à disposição, o
que bem demonstra o espírito de congraçamento da equipe”
¾ Gouveano e Gouveiano
Adilson do Nascimento: “Falando sério, eu ficaria imensamente
agradecido se algum órgão da administração municipal gouveana,
não sei se alguma secretaria municipal ou a própria secretaria da
câmara municipal, me conseguisse uma cópia de um instrumento
legal, não sei se Resolução da Câmara, ou Ato Legislativo, ou Lei
Municipal, que estabelece que o cidadão que nasce em Gouveia é
GOUVEANO (sem o I). Se alguém conseguir poderá informar-me
por esta via que eu decido a melhor forma de apanhá-la. Saudações”.
Nota: com todo o respeito da AFAGO aos vereadores que votaram a
lei da grafia de “Gouveano” em respeito ao grande Ragosino Alves
Ribeiro, nós preferimos a grafia de “Gouveiano”. Motivo: o nome
oficial desde as primeiras cartas de sesmaria, em 1739 é Gouveia e
não Gouvea. Por isso não se justifica o adjetivo toponímico de
“Gouveano”, mesmo que alguns documentos oficiais do século XIX
e XX tenham grafado “Gouvea”.
Acontece algo semelhante com o que se deu com a leitura equivocada
do historiador Augusto de Lima Júnior, respeitadíssimo no meio
acadêmico. Ele leu o f. [efe minúsculo] em um documento em Portugal
e interpretou que esse efe era de Francisca. Disso resultou que todos
os historiadores de renome passaram a copiar o erro. Até mesmo
aqueles especializados em paleografia não se deram conta de que o
efe era minúsculo, e não autorizava qualquer interpretação de nome.
Esse equívoco é tão pouco justificável porque o historiador ao ler
um manuscrito e ver grafado Roiz, não se aventura a dizer que é
Rodrigues, mesmo sabendo que o costume resume Rodrigues como
Roiz.
Boletim Informativo da AFAGO página 2
¾ CENTENÁRIO DE THEÓDULO
ALVES PRADO
Em momento oportuno, nosso presidente traz à
memória de Gouveia a figura de Theódulo Alves
Prado. Exemplo de servidor público para
Gouveia. Vejam artigo redigido em parceria com
Ildete, filha do grande homenageado. No artigo
foram inseridas fotos cedidas pela família. As duas
últimas foram acrescentadas pelo diretor de
Comunicação e exibem Theódulo na
comemoração dos 80 anos de Flora Moreira e
como prefeito de Gouveia juntamente com a
Câmara Municipal. Os créditos dessa última se
devem a Lucíola Gomes Rocha e consta no
acervo de Efigênio Gomes Pereira. Note-se que
Theódulo ocupa o centro da primeira fila e
Efigênio está posicionado na segunda fila cujo
centro é ocupado por Francisco Dória Alves
Pereira do Cuiabá.
¾ Mais alegria para Guido e
Marisa: “Aleluia! Aleluia! A famíliia
Afago crescendo! O mais novo associado
chegou hoje,06 de julho, chama-se
BRUNO. Filho de Ana Luisa e Rodrigo.
Rodrigo, por sua vez, filho de Marisa e Guido.
Registro, nesta mensagem, por mim e pela
Afago, boas vindas ao Bruno, parabéns
aos orgulhosos pais, cumprimentos aos
avós corujas e um abraço especial ao
nosso dedicado diretor: Dr. Guido de
Oliveira Araújo” Ass. Raimundo Nonato de
Miranda Chaves.
Confiram em destaques em
www.afagouveia.org.br
¾
¾
¾
¾
Obras da Prefeitura em Gouveia
Escolinha do Adauto
Engenho da Bilia e Engenho da Raquel.
Comunidade do Espinho.
¾ Sala da AFAGO receberá placa
com o nome do Doutor Waldir
de Almeida Ribas.
Em seção solene, por iniciativa e patrocínio do
Diretor de Finanças, Adilson Nascimento, a
família do Doutor Waldir foi convidada para
descerrar a placa em sua homenagem no dia 15
de setembro próximo.
Notícias
¾ Doutor Waldir: Mensagem de Dona Elena
Berenice B. Ribas: em 11/07 “Aos afagouveanos
Queremos externar nossa gratidão pelo tanto de
mensagens e deferência à vida de
Waldir.Agradecemos agora porque se assim não
o fizemos foi por contingências alheias a minha
vontade.Associada à dificuldade de me expresar
nesse pequeno espaço de tempo, onde a falta fisica,
companheira e amiga do Waldir me tem colocado
num vazio existencial muito grande.Sei que ele está
bem na dimensão que ora experimenta. Obrigada,
em meu nome e de nosso filho Marcos, a todos
vocês. Sei que, se ele não viu maiores resultados
na AFAGO, em seu curto espaço de fundação até
o presente momento, deve-se ao fato,certamente,
pela dificuldade de agregar tantas pessoas
(gouveianos,amigos) numa grande cidade como é
Belo Horizonte, Gouveia e outras...Associados aos
labores de cada um. Tenho certeza que ele se
realizou por ver que -antes de sua partida- viu sua
idéia (semente) estar germinando dentro do seu
tempo e por certo os frutos surgirão
vindouramente. Obrigada novamente em meu nome
e de meus familiares! Elena(esposa)
¾ À dona Auxiliadora que, com tanto carinho,
escreveu tantas mensagens poéticas e
graciosamente ofereceu seu valiosíssimo Prêmio
Literário, auferido em Portugal em homenagem a
Waldir!
Nosso
eterno
agradecimento.Obrigada,obrigado... Que Deus
proteja você e seus familiares e toda a sua vida e
jornada literária. Elena
¾ À dona Lindeia e seu Alberone Nossos
agradecimentos pelo tão expressivo gesto cristão
e de amizade dedicados a Waldir pela realização
da missa de 30° dia, mandada celebrar por vocês
na matriz de Santo Antonio. Obrigada e que Deus
os proteja e abençoe a suas vidas! Elena
¾ Ao padre Silvio Moreira (Santo Antonio de
Itambe,MG) e demais pessoas que mandaram
celebrar missa de 7°dia em intenção de Waldir,
nossos agradecimentos.Sei que muitas foram as
missas celebradas -IGREJA DO CARMO,SÂO
JOSE,SÃO SEBASTIÃO entre outras..- e
tambem agradeço! Obrigada a todos! Que Deus
os abençoe! Quem faz o bem recebe o bem! Elena
(esposa)”
Boletim Informativo da AFAGO página 3
¾ Luciola Gomes Rocha – em 27 de julho: “Acabei de
ler agora o boletim que faz uma merecedora homenagem
ao “pai” da AFAGO: Dr. Waldir. Sua voz mansa e suas
palavras sábias estão aqui registradas. Como é
importante deixar um rastro luminoso neste mundo! Foi
tão atencioso com meu pai visitando-o todos os dias no
CTI. Atendendo ao pedido do grande amigo dele e nosso,
Zé de Flora, também repito: “Dorme, menino Waldir,
dorme! Repousa o sono iluminado., Dorme, menino
Waldir, dorme! Dorme na mão de Deus, eternamente!”
Lucíola”
¾ Academia Mineira de Pediatria presta
homenagem póstuma ao Doutor Waldir.
Raimundo Nonato de Miranda Chaves: “Comunico aos
associados da AFAGO e aos gouveianos em geral que
a Academia Mineira de Pediatria realizará homenagem
póstuma ao Doutor Waldir de Almeida Ribas.
A homenagem será às 18:30 horas, do dia 11 de agosto,
quinta feira, à Av. João Pinheiro, 161 (sede da
Associação Médica de Minas Gerais).”
¾ Homenagem: Aconteceu em 11 de agosto,
conforme programado, na sede da Associação Médica
de Minas Gerais, a reunião da Academia Mineira de
Pediatria. Dita reunião fora programada para
homenagem póstuma ao Doutor Waldir de Almeida
Ribas – fundador e presidente de honra da Afago.
Da tribuna, diversos oradores enalteceram as virtudes e
comentaram suas relações com o homenageado.
Colegas de turma na faculdade, discípulos do mestre
Waldir, companheiros de consultório e de hospital,
gente que se irmanou com nosso presidente de honra
na luta pela pediatria.
Solenidade simples, sincera e emotiva. Ponto alto, o
discurso da sobrinha Daniela, interrompido pela
emoção; também, o presidente da mesa que lutou com
as lágrimas quando do seu discurso.
Auditório lotado de acadêmicos da pediatria e convidados,
Dona Elena Berenice o filho Marcos, irmãos de doutor
Waldir e de Dona Elena; de Gouveia a prima Margareth.
A Afago se fez presente com pequena representação,
mas desde algum tempo deixei de preocupar-me com
quantidade.
Ao final D. Elena e Marcos agradeceram a homenagem
prestada. Encerrou-se a sessão e os presentes
passaram ao hall para os comes e bebes
¾ Sala da AFAGO receberá placa com o
nome do Doutor Waldir de Almeida
Ribas. Dia 15 de setembro
Notícias
¾ Espinho Comunidade Quilombola:
Mensagem da professora doutora Miriam Virginia
Ramos Rosa:
“Olá,
Zé tudo bem?
Fiquei muito feliz ao saber que a Fundação Palmares
reconheceu como quilombola a comunidade de Espinho. A
publicação saiu em 04/11/2010.
Há muito tempo que não tenho notícias do pessoal de
Espinho. Em 2009 e 2010 eu havia entrado em contato
com a Palmares para saber do pedido de certificação que
eles haviam encaminhado por volta de 2004 e da última vez
me disseram que haviam problemas na documentação e que
isto tinha embargado o processo.
Não sei se eles sabem desta conquista. Se puder, quando
for à Gouveia, avisar alguém deste fato eu lhe agradeceria
muito.
Abraços,
Muito
Miriam Virgínia Ramos Rosa/Antropóloga
Gerente de Projeto/Projeto TICS Educação e Graduação
na UnB”
Mensagem de Roberto Alves Nunes: “Primeiramente
quero parabenizar o Prefeito de Gouveia e sua equipe, pelo
ótimo trabalho que vem fazendo na área rural, em especial, na
comunidade do Espinho, doando uma patrulha mecanizada,
dentre outras ações. Em 2010 solicitei ajuda, utilizando este
espaço, com a finalidade, juntar esforços para a busca da
Regularização Fundiária daquela comunidade. A maior
dificuldade de todos os moradores das áreas rurais, é ter o
seu título da terra, para assim poderem exercer a sua cidadania.
Infelizmente ter apenas o Reconhecimento como
Remanescente de Quilombola (apesar de ser o primeiro
passo), não irá mudar em nada, a atual situação destes.
Contudo a ida à comunidade do diretor da Federação Mineira
de Quilombolas, do prefeito municipal, do presidente da
Câmara Municipal, da Secretária Municipal de Educação e
de outras autoridades de Gouveia, foi um reconhecimento de
que aquela comunidade necessita de ajuda. Devemos
aproveitar este momento para juntarmos esforços. A título de
informações, acho muito interessante navegar nos site do
Ministério da Cultura – MINC >>regularização de terras
quilombolas.MHT, ou pelo site Titulação terras
quilombolas.MHT. Lá vocês terão os detalhes, passo a passo,
e em que momento cada um poderia ajudar. Parabenizo
também a AFAGO, pela cobertura. Roberto “
Boletim Informativo da AFAGO página 4
¾ Festejos de Nossa Senhora das
Dores: Correspondência de 23
de julho
“Temos a alegria de participar aos nossos amigos que
de 11 a 18 de setembro estaremos festejando Nossa
Senhora das Dores, este ano como festeiros, Alberone
e família. Queremos sugestões e participação de todo
gouveiano em especial a sua que sempre acompanhou
com tanto carinho todos os feitos desta comunidade.
Temos saudades da caixa roca batida nesta ocasião e
seria tão bom se pudéssemos lembrar dos tempos idos
e da tradição dos mais antigos! Com sua memória
fantástica e conhecimento em que pode nos ajudar?
Teremos esta semana uma reunião com os moradores
da rua para envolvê-los nos festejos e seria uma boa
oportunidade para resgatarmos algum feito da época
antiga.
(...)
O envolvimento da comunidade na Festa de Santo
Antônio foi o ponto alto da festa, e estamos tentando
repetir este feito o que leva muito tempo para
convidarmos e fecharmos o programa.
O tema central deste ano é “Maria e os Dons do
Espírito Santo e no decorrer do septenário estaremos
refletindo os Sete dons.
No dia 31 de julho teremos a benção e envio de oito
Imagens que visitarão as famílias do município
No dia 07 de agosto Almoço no Casa Velha em
comemoração aos pais, pois no próximo é festa do
peixe.
Durante todo o mês de agosto, após as celebrações
dos finais de semana barraquinha, e quermesse ao
lado da Matriz, e à partir de 01 de agosto estará
sendo rifada uma colcha de retalhos, em beneficio da
Festa,
No dia 07 de setembro grande sorteio de prêmios
estamos esperando confirmação do Ginásio
Poliesportivo;
Dia 11 de setembro alvorada festiva às 06:00 horas e
as 18:00 horas procissão introdutória da festa saindo
da Matriz até a Capelinha sendo o trajeto a Rua
Nossa Senhora das Dores.
As camisetas da Festa estarão à venda à partir de 06
de agosto.
Manterei contato e gostaria que nos ajudasse a
divulgar os festejos.
Um abraço carinhoso. Lindeia e Alberone”
Notícias
¾ Notícias do padre Sílvio: “1 Prestei
vestibular e passei, vou cursar SERVIÇO
SOCIAL, se Deus quiser começo em
AGOSTO minha faculdade. Já sou
calouro............... rsrssrsrsrrsrsrrsrs
2 Fui transferido de paróquia, estou indo para a
cidade de Tres Marias, para a paroquia de N
Senhora de Fátima, minha posse será nesta
Sexta dia 1 de julho, reze por nós.”
¾ “Ars in Scena”, Arcena
“ Barão de Guacuí, 18/06/2011.
Querida Arcena, muita saúde e paz!
Mais de oitenta motivos me trouxeram até aqui. Dezesseis
razões, já devidamente encaminhadas na vida, me prendem
a esta data. E duas criaturas – que nos deixaram há pouco
tempo – sopraram nos meus ouvidos que não faltasse a
este momento: Mamãe e Gilu.
Não sei exatamente onde minha madrinha, “titia Maria de
Pedro de Gina” foi buscar o nome Arcena. Tentei pesquisar
e não encontrei referências. Também não constou dentre
os milhares de alunos com quem trabalhei. Bom, mas se
consegui ajudar a criar quatro filhos, não custa nada gerar
uma explicação para mim mesmo, pelo menos. Talvez, numa
visão profética, minha madrinha já antevia em você alguém
fora de série, então: “Ars in Scena”, ou seja, a arte em
Boletim Informativo da AFAGO página 5
ação, em cena, Arcena. Sim, minha prima, ao lado do seu
(e de todos) querido Efigênio, vocês dois, tal qual Moisés,
alimentaram, educaram e conduziram uma grande prole por
caminhos nem sempre fáceis, em busca de uma Canaã onde
a vida fosse melhor. Quantas pedras, quantos espinhos,
quantas lágrimas para chegar até aqui. Quanta experiência,
quanto valores adornando essas mais de oito décadas de
vida! Quanta sabedoria e arte em cena!
Existe, contudo, em sua vida, Arcena, um fio condutor, nunca
quebrado, desde o seu endereço da Rua das Dores, em
Gouveia, que se chama Fé. A Sagrada Família sempre
capitaneou a nau de sua família. Seus filhos podem até não
ser tão praticantes, mas religião nunca lhes faltou no lar.
Quantos pais, hoje em dia, às voltas com a educação dos
filhos! É que além de presença, colo e limite, falta Deus.
Sim, Arcena, o shopping virou templo onde as “sacerdotisas
da beleza” celebram o culto do consumo. Os valores
humanos e cristãos estão sendo arquivados. Esquecem-se
de ensinar aos filhos que tudo que temos nos é emprestado
por Deus; que temos um Deus maravilhoso presente nos
momentos de alegria, como este, mas também um Deus
que desce às profundezas do abismo para de lá nos retirar.
Que bom, Arcena, que você tenha criado sua família à
sombra da cruz! Receba o carinho de todos nós e, de uma
forma especial, de mamãe e Gilu que, lá de cima, também
estão comemorando com toda a família Tameirão este
precioso momento. Que o manto sagrado de Jesus e da
Mãe de Misericórdia cubram de bênçãos a você e toda a
sua descendência. Parabéns.
Gil e família.
SOLIDÃO X FIRMAMENTO!
Maria Auxiliadora de Paula Ribeiro
Pinta de encantamento
A tua amarga solidão!
Procura, a cada momento,
Fantasiar de ternura,
Teu solitário coração!
Na festa da Natureza,
Busca tua ventura,
Matizando de beleza,
Toda tua desventura!
Do anoitecer de tua vida,
Expulsa o tédio e a agonia,
Buscando no espaço sideral,
Suave e doce alegria
E uma paz sem igual!
Contempla os raios do sol poente
E...
Com a languidez de seu brilho,
A se despedir do firmamento,
Que pergunta é esta?
Geraldo Pinto de Carvalho –
Ponteiro – Gouveia 12 – maio
– 2011
Até hoje em Diamantina
Muito amigo me rodeia
Perguntando pela faca
Eta história feia.
Meus filhos quando criancinhas
De lá voltavam intrigados
Papai, que pergunta é esta
Que faziam tão interessados?
Filhos, este é o caso de um
zagueiro
Que não suportava desaforo
Os inimigos gratuitos
Me juraram dar um coro.
No escrete eu estava escalado
Para enfrentar o campeão
Aquela era a data
Da prometida tentação.
Quando o jogo começou
Meu sangue não cabia na veia
Eu só lembrava da faca
Que estava guardada na meia.
Despede, também, tua tristeza!
Entrega ao passear da lua,
Todos os teus sonhos!
Com a estrela cadente,
Faze terna amizade
E no seu cair indolente,
Afoga a tua saudade!
Para teu acalento,
Faze por compainha,
Dos astros, a magia,
No esplendor do firmamento!
Os despeitados me fitavam
Lá no meio da torcida
Meu coração só pedia
Que a bomba fosse logo
explodida.
Meu companheiro recebeu
Uma entrada violenta
Eu gritei com toda minha força
Quebra desse rapaz a venta.
Pelos apaixonados e torcida
O campo foi logo invadido
Me tendo como alvo
Disso até hoje não duvido.
Da perna saquei a faca
Encostado em um canto
Foi água fria na fervura
Pra todos um grande espanto.
Boletim Informativo da AFAGO página 6
Muitos, assustados, correram
Aconteceu logo grande espalho
Eu, semelhante a um cascavel,
No canto batia chocalho.
Assim terminava o jogo
Promessa de grande emoção
Mas esqueceram que o jovem zagueiro
Era fruto do respeitado sertão.
Papai, se a verdade é esta,
Estamos todos a seu lado
E lhe damos parabéns
Por não ter apanhado.
HOMENAGEM
Theódulo Alves Prado
Raimundo Nonato de Miranda Chaves e
Ildete da Conceição Prado Lacerda
Sebastião Lopes, melhor, professor Lopes, em Viçosa, mais
conhecido do que moeda de dez centavos, mais querido do que
nota de cem reais.
Professor Lopes, no meio da tarde, pouco movimento, adentra
a agência bancária, cumprimenta a todos, bancários e clientes,
conforme seu costume; dirigindo-se, em seguida, ao caixa.
Professor Lopes, em frente ao caixa, aguarda. Do outro lado
do blindex, está a jovem, elegante e inteligente; funcionária
recém contratada e já aprovada no concurso para caixas; com
todas as normas e regras bancárias bem fresquinhas na
memória; apenas levanta os olhos e exclama, pouco mais alto
do que um murmúrio
— A cédula de identidade!
Professor Lopes, quase gritando:
— O que?
A jovem, impassível, sem alterar a voz, repete
— A cédula de identidade, por favor!
Professor Lopes, agora, com raiva – sentimento raro.
— Moçoila, preste atenção! eu sou o professor Lopes; estou à
sua frente em carne, osso e espírito. E você pedindo este pedaço
de plástico enrugado acreditando que ele vai lhe dizer: que eu
sou eu? As coisas estão totalmente invertidas. Eu dou aval a
este plástico, eu mandei fazê-lo, eu existia muito antes dele!
Você quer que ele me avalize?
A bancária nem fé
deu.
Pois é, hoje me sinto
como a carteira de
identidade, o RG de
Theódulo Alves
Prado. Ele, no seu
tempo, muito mais
conhecido, mais
admirado e mais
votado. Então, eu é
que vou falar, melhor,
escrever sobre ele?
Sim! Vou fazê-lo, porque nós gouveianos temos o dever de
passar aos mais jovens a história que vivemos, não podemos
deixar que vultos do quilate de Theódulo fiquem esquecidos.
Em dezembro de 2010, Gouveia em peso celebrou o centenário
de nascimento de Efigênio Gomes Pereira. Tudo muito bem
feito, homenagem merecida, Efigênio foi um grande gouveiano.
E Theódulo? Nascido em 1º. de julho de 1910, portanto
completou o centenário de nascimento seis meses antes de
Efigênio. Nenhuma comemoração, nem um jornal nem uma
frase sobre a ocorrência.
E quem foi Theódulo Alves Prado?
Boletim Informativo da AFAGO página 7
Para começar, gouveiano por adoção, foi eleito cinco
vezes: vereador, inclusive, presidente da Câmara
Municipal; vice-prefeito, duas vezes; prefeito, duas
vezes. Bem! Um homem, eleito cinco vezes numa
cidade, é pessoa respeitada, admirada e querida.
Para escrever sobre Theódulo eu pedi ajuda a pessoas
que conviveram com ele: a filha Ildete, o ex-vereador
João de Miranda Chaves, Zico, colega da primeira
Câmara Municipal, Geraldo Bitencourt, amigo e
correligionário; Guido das Dores de Oliveira,
funcionário da prefeitura, aposentado, escudeiro do
prefeito Theódulo.
Ildete escreveu um artigo sobre o pai ilustre, pronto
para publicar, mas eu não quis me privar do prazer de
escrever sobre Theódulo. Então, decidi fazer
comentários, enquanto, apresento o artigo de Ildete.
É uma espécie de diálogo ou talvez um jogral, sem
música, com cada um escrevendo a seu tempo: A filha,
e, o admirador de Theódulo Prado escrevendo a duas
mãos. Fica combinado, a partir de agora, textos em
itálico são da lavra de Ildete.
Theodulo Alves Prado, nascido em 1º. de julho de
1910 em Corinto, criado na cidade de Buenópolis,
até a sua adolescência. Veio para Diamantina bem
jovem para trabalhar, aí se casou com Áurea Leão
Prado, onde também nasceu o 1º .filho do casal:
Dirceu Alves Prado.
Dirceu é a senha para mudar de autor. Convivi, com
Dirceu, em Diamantina de forma muito fraterna.
Dividíamos, nós dois e mais Valmy de Mimi, um quarto
no Hotel Central. Eles bancários, eu estudante.
Durante o dia cada qual com a sua tarefa, mas à
notinha nos reuníamos para jantar, no próprio hotel, e
logo depois para o cinema Trianon, a menos de cem
metros do hotel. Isto ocorria um dia sim e o outro
também. Depois do cinema, bem! a zona boemia no
quarteirão em frente! Nós jovens! Nível elevado de
testosterona! Vamos? Eu recuava, tenho provas
amanhã. Dirceu de um lado Valmy do outro me
tomavam pelos braços e garantiam não vamos
demorar e ainda vamos pagar as despesas. Eles
bancários eu estudante. Fazer o que? De volta ao
hotel, eles iam dormir e eu sentava na escadaria para
rever a matéria da prova, sem incomodar os
companheiros de quarto. O primeiro ano foi mais difícil
porque chegando ao hotel eu já vestia minha garbosa
farda verde oliva; o glorioso exército me chamava.
Eu era o atirador cinqüenta e oito.
Theódulo, na década de 40, mudou-se para Barão
de Guaicui para trabalhar com seu sogro, lá
nascendo o 2º. Filho Ildeu Alves Prado. Foi lá
que conheceu Chiquinho de Nelo, que trouxe a
família de Theódulo para Gouveia, para trabalhar
com ele na sua transportadora.
A senha, agora, é Chiquinho, Francisco Xavier de
Oliveira, conhecido como Chiquinho de Nelo ou
Chiquinho do Padre. Gouveiano empreendedor a
HOMENAGEM
quem temos, também, que fazer justiça. A sede da transportadora
era em um galpão, na rua da frente, um imenso galpão para os
padrões de construção que eu conhecia. Ali se depositavam
mercadorias a serem transportadas, guardavam, quando em
Gouveia, os caminhões de Chiquinho e ainda havia um escritório
improvisado, á direita da entrada. Ali reinava Theódulo, ali eu o
conheci. Pequena estatura, mas vigoroso e enérgico se fazia
grande; movendo-se, rapidamente, de um lado para outro, vendo
e fiscalizando tudo. Andava rápido para compensar as pernas
curtas. Nada passava despercebido àquele nariz aquilino e olhar
penetrante. Ali ele administrava, era o braço direito de Chiquinho,
documentos, contas, e pessoas: motoristas, ajudantes,
carregadores e clientes. Eu, então, moleque de ginásio, e recebia
dele a mesma atenção, estando sozinho ou acompanhando meu
pai.
Em Gouveia nasceram as filhas Ildete da Conceição Prado
Lacerda e Arlete Alves Prado Dória.
Em pouco tempo Theódulo tornou-se gouveiano de coração,
ajudando no engrandecimento da cidade. Foi um dos
fundadores do Hospital Aureliano Brandão, sendo o seu
1º. Provedor, saindo depois de algum tempo para
trabalhar na farmácia.
Trabalhou na Farmácia Auxiliadora com seu
compadre e amigo Efigênio Gomes Pereira por
muitos e muitos anos, lá cuidando com dignidade,
caridade e carinho dos pacientes que ali por ele
procuravam.
Quando Gouveia foi emancipada Theódulo elegeuse vereador, fazendo parte da 1ª. Câmara
Municipal. Chegando a ser presidente da mesma.
Daí pra frente não abandonou a política. Foi viceprefeito de Efigênio Gomes de 1963 a 1966. Foi
prefeito em 1967 a 1970 e de 1977 a 1982 sendo
seu vice o senhor Cupertino Pinto Ribas e de 1993
até seu falecimento foi vice de seu grande amigo
Geraldo Bitencourt.
Em todos os seus mandatos deixou sua marca em
todas as comunidades como pontes, escolas,
estradas, iluminação dentre outras inúmeras obras
que não preciso citar.
Assim também foi na sede do município, como a 1ª
Feira de Produtor,
Prédio da Ruralminas, hoje Prefeitura Municipal,
a famosa Festa do Alho que chegou a ter fama
nacional e tantas outras obras de que um prefeito
tem obrigação de fazer. .
Em qualquer lugar em que chegamos somos
recebidos com agradecimentos, elogios e
saudosismo pelo homem que Theódulo foi, honesto,
trabalhador, humilde, ele foi um homem do povo.
Agradecemos à Afago pela oportunidade de poder
falar um pouco sobre Theódulo Prado.
Chiquinho de Nelo organizou uma empresa de
transporte, muito eficiente, e lutou com as estradas
precárias e os atoleiros, a administração entregue a
Boletim Informativo da AFAGO página 8
HOMENAGEM
Theódulo e contando com a parceria dos irmãos:
Antônio, José e Joãozinho. Todos, inclusive, Chiquinho
dirigiam os caminhões. Final da década de quarenta,
talvez, inicio dos anos cinqüenta Chiquinho dissolveu a
empresa e mudou de atividades, adquirindo grande
fazenda nas margens do Rio Pardinho – Fazenda do
Bueno – tornando-se pecuarista. Neste tempo, Theódulo
passou a trabalhar na Farmácia Auxiliadora. Ali, sempre
conseguia ajudar, com seu dinheiro, às pessoas que não
dispunham de crédito por se acharem endividadas.
Além dos nomes, citados no inicio, ouvi outros e conclui
que Theódulo é unanimidade como homem caridoso,
sempre preocupado com pessoas pobres. Alguém
comentou que ele, doava o salário de prefeito para
pessoas necessitadas. Esta informação foi corrigida: Ele
não distribuía o salário; ele doava dinheiro aos
funcionários com dificuldades financeiras que lhe pediam
vales – adiantamentos de salários - Theódulo era mão
aberta com seu dinheiro, mas com o dinheiro público
era rigoroso. Contam que, certa vez, procurado por uma
produtora rural, com a lista de coisas que pretendia
receber da Prefeitura Municipal, Theódulo respondeu:
— A única coisa, da prefeitura, que tenho autorização
para distribuir é Formicida Isca, do programa de combate
à Saúva
Boletim Informativo da AFAGO página 9
– e mandou que um auxiliar entregasse dois envelopes à
senhora.
Theodulo, vice prefeito de Geraldo Bitencourt, aposentado
pelo INPS de onde recebia um salário mínimo, esposa D.
Áurea doente, mesmo assim ele, logo que recebia o salário
de vice prefeito, doava uma percentagem fixa para o Asilo,
doava a cota reservada para cada neto e ajudava algumas
famílias pobres. informação de Geraldo Bitencourt, então
prefeito.
Theódulo também é unanimidade quando se trata de zelo com
a administração pública. Onde houvesse frente de obra da
prefeitura, na cidade ou no campo, lá estava ele, vistoriando
e orientando a tudo e a todos.
Theódulo sabia da importância dos pagamentos da prefeitura
para o comércio da cidade. Assim pensando é que
compareceu, juntamente com Efigênio Gomes Pereira, em
Camilinho, na fazenda de João Baiano, meu pai, em busca de
recursos financeiros para cumprir compromissos da prefeitura.
Meu pai não tinha, disponível, a quantia pedida. Então, mandou
Zico, à fazenda de Francisco Rodrigues dos Santos –
Chiquinho Teles –, em busca de auxilio. Meia hora depois,
contando o tempo de saborear a deliciosa compota de figo
com queijo minas, voltaram a Gouveia para cumprir os
compromissos.
Algumas ocorrências podem dizer muito da personalidade
de uma pessoa. Theodulo era espírito atilado, resposta rápida.
Certa vez, caminhando pela Av. Afonso Pena, surge,
inesperadamente, à sua frente o cambista que lhe apresenta
parte do bilhete de loteria e grita:
—Tira do Galo — Theodulo, com o polegar apontando o
cambista pergunta::
— E põe aonde?
HOMENAGEM
Theodulo era amável e gentil, mas às vezes se irritava. Era
estopim curto. Abordado por uma mulher, com menino
nos braços, a pedir-lhe
— Seu Theodulo! O senhor ...- ele, cortou a fala da mulher
e respondeu:
— Já lhe disse, hoje não posso ajudar, já te ajudei na
semana passada — a mulher insistiu:
—— Mas seu Theodulo ... – ele, novamente, sem esperar
a argumentação da mulher, falou:
— Não posso! Já disse, não posso! —— a mulher,
persistente, agora apontando o menino, questionou
— Seu Theodulo o que eu faço com o menino? — e ele,
irritado, pergunta:
— Na hora de concebê-lo você me chamou?
A família hoje?
Dirceu reside em Cuiabá – Mato Grosso, casado com
Antonieta (falecida) tem quatro filhos e três netos. Ildeu
casado com Lourdinha (ambos
falecidos) tem
dois filhos, apenas um deles vivo.
Ildete reside em Gouveia casada
com José Batista Lacerda
(falecido) tem quatro filhos e sete
netos. Arlete casada com José
Dória tem dois filhos. Residem em
São Roque – São Paulo.
Boletim Informativo da AFAGO página 10
ESPECIAL - FOLCLORE
Folclore
Raimundo Nonato de Miranda Chaves
Agosto é mês do folclore, então, mestre Moreira
pediu que eu escrevesse sobre folclore. É mais fácil
escrever sobre “Como mentir com estatística”, mas
Moreira mandou. Fazer o que?
Na década de quarenta, minha idade próxima dos
dez, meu pai estava construindo sua fazenda em
Camilinho. Casa de tirar leite, currais de réguas,
galpão: para máquinas, para carros de boi, para
tralha de tropa. E mais, reforma na casa sede.
Muitos peões, alguns com profissão definida como
Manoel Saraiva que era carpinteiro, na época e no
local, diziam Carapina. Manoel era sistemático e
uma de suas idiossincrasias era manter pequena
fogueira de cavacos, ali, no local de trabalho. Volta
e meia ele atiçava o fogo, colocava mais lenha e
acendia o cigarro de palha. À noite, sempre frias
nos meses de seca, aumentava-se a fogueira, e os
peões, acocorados ou sentados no que
encontravam ao redor, se aqueciam.
Este é o cenário, mas devo apresentar, ainda, o
personagem: José Lopes. caboclo esperto, daqueles
que enrolam água e dão nó, bem falante e ladrão
como rato. Meu pai tinha venda de secos e
molhados, ali na venda, José Lopes me convenceu
que em se plantando um prato de amendoim era
possível colher até um alqueire; considerando minha
receptividade à conversa ele fez a proposta que foi
imediatamente aceita: Eu lhe entreguei o prato de
amendoim em troca de meia saca, na colheita,
quatro meses depois. Bom negócio!, mas depois,
ele me explicou: o amendoim era velho e poucas
sementes germinaram, apareceram as saúvas e a
seca. Meu consolo é que não fiquei com o saco
cheio, mas José Lopes, certamente, saiu da venda
já saboreando o amendoim e rindo da minha
inocência.
Meu pai e meu primo, Antônio Baiano, perceberam
que alguém estava surripiando fubá lá no moinho
de pedras. Desconfiaram de José Lopes, e ficaram
atentos para dar o flagra. Antônio notou menos fubá
do que o devido e deu busca nos possíveis
esconderijos, encontrando o produto do roubo no
pequeno canavial ao lado do curral. Combinou com
meu pai e, à noitinha, ficaram num ponto de
observação. José Lopes, esperto, percebeu a
Boletim Informativo da AFAGO página 11
manobra e foi direto para sua casa. Dia seguinte, horário
combinado, os pseudo detetives no ponto de observação e,
para surpresa deles, o saco de fubá já havia desaparecido.
Muito bem! reunidos, em volta da fogueira, José Lopes falava:
—”Meia noite é hora das águas mortas” – e continuava –
“Fica tudo paralisado, as águas só voltam a correr quando o
galo cantar”. Eu ficava amedrontado, queria confirmar, mas
como me levantar à meia noite e verificar? E se a entidade
que determina a paralisação das águas não gostasse? Ficava,
então, sob as cobertas, suando e rezando para que algum
galo cantasse. Tinha o lobisomem que, durante a quaresma,
ficava solto, quase sempre sob uma goiabeira, comendo
goiabas. A história do lobo preto, feiticeiro, astuto, afirmava
ele –”As galinhas que dormem na laranjeira e não no galinheiro,
ali perto do curral, certamente, serão comidas pelo lobo; para
ele não tem problemas com altura. O lobo preto vê a galinha
no alto e, com o poder de feitiço, faz com que a penosa lhe
caia na boca”. – naquela região não tem lobo preto, apenas,
o guará que é vermelho, mas na minha imaginação de criança
eu via lobos de todos os tamanhos e sentia todos os medos.
São Cipriano, conhecido pelas fortes orações. José Lopes
sabia muitas delas, dizia ele – “Para atravessar um rio, não
importa quão largo e quanto está cheio de água, deve se dar
as costas para o rio, fechar os olhos e fazer a oração de São
Cipriano. Ao abrir os olhos já se está na margem oposta do
rio”.— são coisas da religião, São Cristovão faz imenso
esforço para ajudar os viajantes nas travessias dos rios e
São Cipriano resolve o mesmo problema com facilidade. A
moça que teve um romance com um padre e foi transformada
em mula sem cabeça. Pergunto: e o padre ficou ileso nesta
história ou quem sabe foi transformado no cavalo das patas
de fogo? Ela, a mula sem cabeça trotava pelas estradas,
conforme informava José Lopes, e assim perturbava mais os
meus sonos. A fala de José Lopes não tinha limites, dizia ele
—: “Exatamente, à meia noite, uma mulher, muito alta, toda
vestida de branco, sai da Capela de N.S. das Dores e desce,
vagarosamente, até o cruzeiro, ajoelha-se e reza. Volta, então,
para a Capela e desaparece”. — terminada a reunião eu
percorria os cem metros, até minha casa, mas sem olhar na
direção da capela. E se a mulher tivesse saído mais cedo?
As lendas quase sempre traziam a figura do demônio, pintado
de diversas formas, e acontecia muitas vezes na casa de roda.
Casa de roda é uma pequena fábrica de farinha, normalmente,
de propriedade do fazendeiro. A fabricação da farinha era
responsabilidade do meeiro que mudava, com a família, para
um ou dois quartos anexos à fábrica. A fabricação de farinha
tinha ação social interessante. Moças: filhas, sobrinhas e
vizinhas do meeiro participavam e, os trabalhos se estendiam
noite adentro. Os rapazes da vizinhança, terminada a tarefa
ESPECIAL - FOLCLORE
diária, iam para a fábrica e, ali, num ambiente alegre
ajudavam no trabalho. A fase inicial da fabricação caseira
de farinha é a raspagem da mandioca, a retirada da película
externa, de cor marrom escuro. As pessoas gostavam
de fazer esta tarefa atuando em dupla: o primeiro raspava
metade e atirava a mandioca aos pés do parceiro que
raspava a metade restante. Quando o primeiro era mais
rápido as mandiocas, semi raspadas, acumulavam se aos
pés do outro. Caso contrário o parceiro batia com a faca
no toco reclamando pela moleza do primeiro. Em qualquer
situação sempre havia gozação de todos que estavam em
volta do monte de mandioca por raspar. Assim,
estabelecia-se relacionamento de moças e rapazes e a
brincadeira continuava.
As crianças da fazenda também participavam, quase
sempre apareciam, enquanto torravam as últimas fornadas
do dia, trazendo queijo e rapadura e a senhora do meeiro,
já esperando com a goma, fazia delicioso beiju, apreciado
por todos. Ai vem a história de José Lopes: Nesta noite
três rapazes levaram violão, cavaquinho e sanfona e
proporcionaram momentos de alegria, mas a noite
envelhecendo, as pessoas se cansando, alguns saíram
outros se deitaram, apenas o trio permaneceu acordado
e solando seus instrumentos> Um deles, o do violão,
adormeceu, ali mesmo, sobre um couro de boi. Meia
noite, certinha, entra no ambiente um frango pelado, sem
uma pena sequer. Dois instrumentistas apavorados
observam o grande frango caminhando lentamente na
direção da prensa de massa, subiu na prensa olhou para
os dois apavorados e falou – vai cair uma aza. O do
cavaquinho, apavorado, — se perguntava: o que vai
acontecerr? Meu Deus! E o frango: — vai cair outra aza.
O da sanfona, quase morto de medo, se lembrou que
assombração não aparece para três pessoas e sacudiu o
dorminhoco do violão. O dorminhoco, em sono profundo,
não acordava. E o frango, com voz lúgubre — vai cair
uma perna.— Criava aquele suspense para a dupla de
instrumentistas e para mim, imaginando a cena, vendo a
prensa da fábrica de farinha de meu avo e o frango sobre
ela, aquilo era o demônio, sem dúvida. Como isto vai
acabar? Eu me perguntava. Finalmente, José Lopes
terminava a história: o rapaz do violão acordou e o frango
desapareceu.
Boletim Informativo da AFAGO página 12
A Cerzideira
Maria de Lourdes Camelo – Lorena – São Paulo
Há quase cem anos, Maria das Neves abria as janelas
coloniais e contemplava o vale florido. Sem que adivinhasse,
fincava, em solo mineiro, o destino de uma família. Quando
se fala dela, a boca tem mel. Quando se pensa nela, repousase. Quando se reza por ela, plantam-se esperanças.
Boa Vista, distrito de Mariana, foi seu universo. Ali, bordou
crivos e pontos de cruz. Cerziu roupas e vidas. Teceu mantas
e toalhas, fiel ao gesto milenar de quem espera e confia. De
sua casa se avistava, numa encosta, o pequeno cemitério
onde estavam seus pais e avós. Por perto, alguns regatos de
águas claras. Ao redor, brincos de princesa, parreiras de
uva, uma horta, galinhas soltas. Majestosamente, no quintal,
um pé de jatobá. Teve três filhas e um filho. Não chegou a
envelhecer. Muito cedo deixou apenas seus rastros de luz.
Ainda hoje, quando penso nos relatos de família, perco-me
no devaneio. Uns diziam que era como uma manhã de
outono; outros que tinha mãos de fada e os mais próximos
lembravam-se da nobreza de sua alma.
Quanto à sua vida, conheceu-se o trivial, o tangível; poucos
souberam dos pequenos gestos, das sutilezas, da força de
seu espírito. Bem cedo precisou assumir a casa, depois da
viuvez. Aprimorou-se na arte de cerzir e ficou conhecida
nas redondezas. Tinha mãos mágicas. As roupas voltavam
perfeitas e restauradas. Não se achavam vestígios do estrago,
pois, ela sempre usava a linha certa, no ponto certo. Havia
arte em seu trabalho e em tudo o que fazia. Esta foi a face
conhecida. Mas, para os mais íntimos, Maria das Neves não
escondia alguns projetos. E duas eram suas prioridades. Já
há algum tempo, mantinha em sua casa, num quarto limpo e
arejado, sua irmã mais nova que chegara doente, com o corpo
em feridas. Maria das Neves a acolheu com o coração cheio
de amor. Cuidou das feridas com zelo de mãe. Lavava uma
por uma, fazia chás de picão e camomila. Refrescava o
corpo da irmã com folhas de bonina e, à noite, servia sopa
de inhame. Ouviu seu choro, acalentou seu sono, ensinoulhe a bordar, à sombra das parreiras. Restaurou Nenzinha
para o trabalho e para o amor. Guardou o segredo da irmã.
Só ela sabia da paixão pelo viajante de armarinhos que nunca
mais voltou. Inexplicavelmente, depois de curada, Nenzinha
exalava perfume suave de sândalo que atraia pessoas, até
mesmo as que antes a evitavam.
Mas o projeto mais audacioso foi uma toalha de mesa, grande,
de puro linho dos Açores. Minuciosamente planejada.
Delicadamente sonhada. Cenas domésticas compunham o
desenho:
um vale florido, bangalôs, bichos e crianças saltitantes.
Pensaríamos: inspiração divina? Profecia? Sabedoria de
mãe?
Diziam que era visível o prazer daquela hora em que todas
as tardes, de frente para o vale florido, Maria das Neves
ajeitava o linho branco no bastidor e perfurava-o como se
ESPECIAL - FOLCLORE
Agosto, mês do Folclore
preparasse a terra para o plantio. Muitos e muitos meses,
para transformar aquela estimada peça portuguesa, trazida
pelos pais, em obra de arte. Depois de pronta, lavada,
engomada e passada, fez-se uma reunião de família, na
sala de jantar, com muitos bolos, tarecos, café e pão de
queijo. Maria das Neves, pela primeira vez, pedia que lhe
fizessem uma vontade. Abriu a bela toalha e expôs seu
desejo: “esta toalha é para vocês. O primeiro que se casar
deverá levá-la consigo. Quando for a vez do segundo, deverá
ir para ele, e assim por diante. Meu desejo é que ela visite
todas as casas, como se faz com os santos.”
O desejo foi cumprido por várias gerações. De muitas
formas a toalha foi exibida e cobiçada por sua beleza. Cobriu
muitos altares em missas solenes, reverenciou o Santíssimo
Sacramento, de muitas janelas, cobriu mesas de aniversários
e jantares formais. Testemunhou todas as emoções
familiares. Se fosse gente, dir-se-ia que era a mais feliz das
criaturas. Humanizou-se sem o saber. Afinal, representava
um projeto de amor.
Como a percepção varia como variam os seres humanos, a
bela toalha, em algum ponto de sua existência, sofreu as
avarias do tempo e caiu em mãos insensíveis. Para nada
mais serviu. Chegou a ser usada, dobrada ao meio, num
almoço improvisado, foi emprestada para formaturas, voltou
suja de vinho e tinta de caneta, amontoada com outros
trapos. Assim, desapareceu do meio humano e familiar.
Maria das Neves morria ali.
Certo dia, pela providência divina, fui chamada para abrir
uns sacos de roupas que iriam para o lixo. A velha
empregada, de profundos sentimentos, sabia que os ares
eram outros, que não mais contavam o passado e a memória.
Eis que me deparo com a bela toalha de Maria das Neves,
minha bisavó. Extasiei-me. Ela entraria em minha casa,
definitivamente.
Repetindo o gesto quase secular, lavei, alvejei, engomei e
passei a toalha, como num ritual sagrado.
Hoje, toda minha família ao redor da mesa, inauguro um
novo tempo. Com a melhor louça, brindo à saúde de todos.
Impecável, a toalha de crivo, cuidadosamente estendida,
compartilha de nossa alegria. Na cabeceira, minha filha mais
nova acaricia o bordado e esboça um sorriso, entretida.
Estaria ela adivinhando um vale florido?
Boletim Informativo da AFAGO página 13
José Moreira de Souza
O mês de agosto é considerado como mês do Folclore.
Nosso Boletim tem dedicado inúmeras matérias a esse
assunto, visando a oferecer subsídio aos professores, aos
alunos e também aos leitores em geral sobre o que deve
ser de interesse do estudo do saber popular.
Nosso saudoso Doutor Waldir – aqui o Doutor se
incorporou ao nome e deve ser grafado com maiúscula se emocionou quando leu o artigo “Das muitas comidas
que se fazem de milho” que reproduz um manuscrito
originado por volta de 1749, no qual um autor anônimo
dá conta da variedade de alimentos produzidos a partir
do milho como alimento básico dos mineiros.
Do mesmo modo, sem qualquer intenção de privilegiar o
Folclore em Gouveia, em novembro de 2010, a comissão
de avaliação do Prêmio Afago de Literatura conferiu o
primeiro e o segundo lugares a dois contos que narram
lendas locais de que são personagens o padre José da
Mata – “Um milagre” - e a Cruz das Almas – “O cavalo
de patas de fogo”. Embora o conto vencedor em primeiro
lugar atribua ao padre José casos que se deram com o
padre Afonso, vigário das Datas, a comissão atribuiu o
prêmio maior ao conto que narra o milagre que converteu
o farmacêutico ateu em virtuoso sacerdote.
Ainda no ano de 2010, este Boletim dedicou duas edições
a comentários e debates sobre lendas e crenças populares,
nos quais se tomou como diretriz a lenda de “Cipriano o
capador”. Esse assunto deu origem aos artigos sobre o
lugar das mulheres e seu papel de líder nas comunidades.
Além disso, basta ao leitor acessar nosso sítio
WWW.afagouveia.org.br e se direcionar à coluna
“Gouveia rural”, pressionar cada um dos pontos dispostos
no mapa para ter acesso às informações sobre cada uma
das localidades que compõem o município com suas
características, história e peculiaridades.
Eventualmente, no Boletim, foram apresentadas resenhas
e notícias de obras e feitos de alguns autores ligados a
uma ampla rede de pesquisas e estudos que interessam
ao saber popular, ou seja ao Folclore. Nosso leitor já se
familiarizou com nomes importantes como o do
premiadíssimo Tião Rocha, fundador do CPCD – Centro
Popular de Cultura e Desenvolvimento -, Frei Chico –
Frei Francisco Van der Poel e seu aguardado “Dicionário
da Religiosidade Popular” -, Dêniston Diamantino –
produtor de vídeos de primeira importância sobre a vida
em Minas e nos sertões -, Domingos Diniz – um moço de
Pirapora apaixonado pelo Rio de São Francisco e sua
navegação -, Antônio de Oliveira Melo – o maior
estudioso das comunidades do Sertão Noroeste de Minas
cuja obra é lida em todo o Brasil.
ESPECIAL - FOLCLORE
Esta edição, como se vê, exibe vários artigos sobre
Folclore. Começa com o da lavra de nosso presidente,
professor doutor Raimundo Nonato de Miranda Chaves,
prossegue com três artigos sobre a romaria e o jubileu do
Cemitério do Peixe e encerra com a apresentação de dois
autores estudiosos da cultura popular, da história local e
regional: Antônio de Oliveira Mello, um moço de Paracatu,
residente na cidade de Patos de Minas, e Maria Agripina
Neves, pesquisadora e escritora da cidade de Ouro Preto
.
de Paracatu – 685 páginas –, Memória Cultural (A
cultura em Paracatu) – 218 páginas –, De volta ao
Sertão – Afonso Arinos e o Regionalismo Brasileiro –
215 páginas –, e Minha terra: suas lendas e seu folclore
- 545 páginas.
Antônio de Oliveira Mello
Acompanhar a obra de Oliveira Mello é uma grande
aventura. Esse autor começou a publicar livros no ano de
1960 e não parou mais. A cada ano surge pelo menos
mais uma publicação. Centrado em Paracatu e o sertão
noroeste de Minas, o autor produz alguns textos de
interesse universal e é lido em todo o Brasil por leitores
de primeira linha. Basta conferir comentários de
personagens do porte de Alceu Amoroso Lima, Carlos
Drummond de Andrade, Luiz da Câmara Cascudo,
Francisco Iglésias, Mário Mendes Campos, Fábio Lucas
e centenas de outros, até do exterior.
Nada escapa à pesquisa atenta desse ilustre professor.
Como professor, quer deixar seu legado para as crianças
e os jovens. Para tal convenceu algumas prefeituras a
editarem obras sempre atualizadas a cada nova edição e
já lembradas neste Boletim, como Paracatu meu bem
querer e Patos de Minas meu bem querer. São obras
em que o aluno estuda a cidade, os povoados e os lugarejos
inseridos na história e na geografia de Minas, do Brasil e
do mundo. Preciosidades didáticas.
Timidamente, mas com os devidos méritos, Gouveia
ensaiou algo parecido no ano de 1997 com a publicação
do Atlas escolar de Gouveia. Disse timidamente porque
a elaboração dessa obra envolveu uma equipe enorme e
o resultado ficou numa edição com enfoque exclusivo na
geografia; não foi ampliada nem atualizada. O mérito está
em ter inaugurado o gênero.
Oliveira Mello realiza um feito pouco esperado. O leitor
habituado a escolher obras segundo interesse temático,
em dado momento, passa a receber contribuições para o
estudo de sua própria cidade. Alguns exemplos, na obra
de Oliveira Mello, encontram-se correspondências
enviadas de Diamantina e que relatam o viver em nossa
região; depara-se com discursos pronunciados na cidade
do Serro sobre personagens que viveram entre nós; lêem
–se crônicas de autores que editaram obras no jornal
Estrela Polar de Diamantina e casos que poderiam ter
acontecido em Gouveia.
Entre as muitas dezenas de obras desse autor, seleciono e
recomendo ao leitor gouveiano com prioridade, A Igreja
Boletim Informativo da AFAGO página 14
A Igreja de Paracatu. É uma contribuição
fundamental para a compreensão da formação do
Noroeste de Minas, através da Igreja. Com efeito, todos
os povoados de Minas se consolidaram em torno de uma
capela. Mas, Paracatu tem uma história bastante diferente
de capela que se transforma em sede de paróquia e,
depois, catedral de diocese. Como capela e paróquia, a
vila e, depois, a cidade tornaram-se desafio à
administração eclesiástica. Embora distante, a região
manteve- sua história muito próxima de Diamantina. A
dificuldade administrativa cria uma instância anterior à
diocese: a prelazia, algo como reconhecimento de uma
região de missão.
No Brasil, a história da Igreja se confunde com a do
Estado e Paracatu é um exemplo sem par. A história da
Igreja em Paracatu ajuda a esclarecer as peripécias do
Grande Sertão, assunto presente em outras obras de
Oliveira Mello. Padres proprietários de terra, padres
comerciantes, padres em conflito direto com outros
poderes do Estado, padres que constituem família, padres
bandoleiros. Tudo isso se torna desafio à hierarquia
eclesiástica e justifica a criação de uma prelazia. Afinal, o
que é uma prelazia? É uma meia diocese. A opção
encontrada para Paracatu foi a de criar essa instância
vinculada ao que se pode chamar de abade-bispo. Tomar
a região como terra de missão. Disciplinar, em primeiro
lugar, o clero.
Oliveira Mello narra com detalhes as peripécias na região.
Melhor ainda, ao invés de fazer uma pura história dos
bispos, desce aos pormenores de casos anedóticos, dando
à obra um sabor próprio à leitura. Além disso, ocupa-se
da formação regional e chama a atenção do leitor para a
ESPECIAL - FOLCLORE
formação de cada lugar que se torna paróquia a partir de
pequenas capelas.
Memória Cultural (A
cultura em Paracatu).
Esta obra fixa um
contribuição que pode ser
tomada como paradigma
para todos os municípios
elaborarem planos de
desenvolvimento da
cultura. É, de fato, um
diagnóstico da Cultura em
Paracatu e sua dinâmica.
Após uma introdução
bastante esclarecedora, o
autor divide a obra em três partes. Na primeira apresenta
os “Escritores de Paracatu”. São lembrados 38 escritores
a partir do ano de 1755. Não se trata, como acontece em
outras obras, de apenas mencionar nomes. Oliveira Mello
vai fundo, traça biografias, comenta gêneros literários e
exibe textos redigidos pelos autores selecionados. Nessa
peripécia, chega até o ano de 1990.
A segunda parte reúne “Viajantes estrangeiros e escritores
de fora que falam de Paracatu”. São enumerados,
examinados e exibidos 16 autores. Apenas para dar um
saborzinho ao leitor gouveiano, transcrevo uma nota de
Saint-Hilaire sobre um topônimo que ocorre em Paracatu
e também em Gouveia: “Córrego do Menino Diabo”.
Escreve Saint-Hilaire: “Eis, por fim, a origem do nome
Menino Diabo, que recebeu ainda [e de córrego Pobre
ou Superbo]. Nos primórdios de Paracatu, houve grande
rivalidade entre os jovens que habitavam a parte baixa da
vila, perto da igreja de Santana, e os que moravam no
alto, perto da igreja. Uns e outros banhavam-se à tarde
no córrego Pobre que se tornava teatro de suas disputas,
e foi isto o que fez darem o nome ao riacho de Córrego
do Menino Diabo” (p.174). Penso que Saint-Hilaire ouviu
a primeira explicação e se deu por satisfeito. Vou me
aventurar na existência de possíveis lendas, a partir do
nome coincidente “Córrego do Menino Diabo” que
aparece nas escrituras de Sesmarias do século XVIII em
Gouveia. Em Paracatu, conforme registra o viajante, havia
dois córregos com nomes contrários, o “Córrego Rico” e
o “Córrego Pobre”. Esse último tinha também a designação
de “Córrego Superbo”. A oposição entre rico e pobre se
interpõe o superbo, dando origem ao “Menino Diabo”.
Imagino que alguns garimpeiros, ao encontrarem ouro no
que ficou sendo chamado “Córrego Rico”, o mesmo grupo,
ou um grupo rival, esperava encontrar mais ouro no outro
córrego o “Superbo”. Enganados, atribuíram a uma criança
Boletim Informativo da AFAGO página 15
lendária a peripécia e o córrego passou a ter o nome de
“Menino Diabo”.
Veja-se a lenda conservada em Gouveia. No córrego
do Menino Diabo aparecia uma criança, ou o diabo em
forma de menino, que intrigava os garimpeiros
aventureiros. Esses foram chamar o padre para exorcizar
o menino diabo. Por mais que o padre jogasse água
benta, exibisse a cruz e rezasse orações poderosas, o
menino nem se movia. Intrigado, o padre arguiu a criança:
“Você não teme a cruz?” e o menino respondeu
prontamente: “Eu sou um diabo batizado”.
Com essa eu me aventuro a interpretar a lenda de
Gouveia. Certamente, esse menino da lenda era um
indiozinho já catequizado. E isto traz muita fogueira para
a compreensão da chegada das bandeiras em busca de
ouro e, depois, de diamantes. Há que postular um
trabalho de catequese de índios, anterior à chegada dos
aventureiros em busca de ouro. Há que acreditar que a
história de ocupação da região se vincula ao sertão do
São Francisco, antes das Minas. A lenda do menino
diabo favorece esta conjectura. Para ajudar mais ainda,
o autor das Efemérides do Arraial do Tejuco a
Diamantina – uma obra publicada sem qualquer estudo
crítico – acusa a existência de Gouveia como povoado
com lojas e vendas, já no ano de 1702 e a chegada dos
primeiros escravos para a fazenda do português Joaquim
Gonçalves Lopes, no ano de 1708.
A terceira e última parte – “Paracatu evocada pelo
paracatuense” – é uma pequena conclusão de percurso.
Acredito que a obra editada por Adriles Ulhoa e Kleber
Pereira e que já foi apresentada neste Boletim configura
plenamente as intenções de Oliveira Mello.
Paracatum.com. Um encontro virtual é exatamente
a “Evocação de Paracatu”.
De volta ao Sertão –
Afonso Arinos e o
Regionalismo
Brasileiro Essa é a obra
mais prezada pelo
próprio autor; é a filha
predileta. Eu lhe darei
apenas meia razão. No
conjunto, toda sua obra é
preciosa, mas em “De
volta ao sertão”, Oliveira
Mello se dedica à obra de
um único autor, o paracatuense mais consagrado, o que
inaugura o tema Sertão como gênero literário, com
orgulho, Afonso Arinos, o homem do “Buriti Perdido”,
a prosa-poema mais reproduzida nas antologias
escolares.
ESPECIAL - FOLCLORE
Há mais motivos para orgulho. Uma das apresentações é
assinada por ninguém menos do que Tristão de Atayde –
Alceu Amoroso Lima.
Após a leitura dessa obra, o leitor sente-se obrigado a
retornar aos Sertões de Euclides da Cunha, ao Grande
Sertão Veredas de Guimarães Rosa, à Vila dos Confins
de Mário Palmeiro e a todas narrativas e teses sobre o
imaginário do Sertão como mote para compreender este
“Sertão chamado Brasil”.
Minha terra: suas lendas e seu folclore
Deixei por último
essa obra. É a
obra máxima do
folclorista
Antônio
de
Oliveira Mello.
Penso que, tanto
quanto o “De
volta ao Sertão”,
deveria
ser
publicada por
uma editora de
porte nacional,
como Martins
Fontes ou Companhia das Letras. Mas não, os folcloristas,
com raríssimas exceções publicam obras importantes como
se fossem cordéis. Edição restrita de pequena circulação,
chegam às mãos de uns poucos amigos. É mania. Hermes
de Paula, de Montes Claros, publicou seu Montes Claros,
sua gente e seu folclore em três volumes em edição
independente. Outro grande ícone dos estudos folclóricos,
o professor doutor Oswaldo Rodrigues Cabral da
Universidade Federal de Santa Catarina, fez o mesmo com
os quatro volumes de Noticia Histórica, Authentica,
Sincera, Pictoresta e Sentimental da Villa, depois
Cidade de Nossa Senhora do Destêrro da Ilha de Sancta
Catharina, também conhecida e chamada dos Casos
Raros Alcunhada Escripta por Oswaldo Rodrigues
Cabral Douctor em Medicina, Licenciado em Cirurgia
e Escriptor Publico da mesma cidade, na rua Esteves
Junior, antiga Formosa, também chamada do Passeio,
no Anno da Graça de Nosso Senhor Jesus Christo de
MCMLXXI. Composta e Públicada com todas as
Licenças Necessarias, ie, nenhumas
E Memoria histórica pictoresta e sentimental de
Muitos Factos Autehenticos Havidos (mas não de
todos) e de Muitas Outras Coisas que se passaram na
Villa, depois Cidade de Nossa Senhora do Destêrro da
Ilha de Sancta Catharina, também conhecida e
chamada dos Casos Raros recolhidos Narrados e
Comentados por Oswaldo Rodrigues Cabral Auctor
Boletim Informativo da AFAGO página 16
da Noticia Historica de Muitos outros, quem nem com
estes se completam. Anno da Graça de Nosso Senhor
Jesus Christo de MCMLXXI. Composta e públicada
com as mesmas licenças do primeiro
Mania de folclorista de obedecer à tradição da literatura
de cordel. Contrasto a importância dessas obras com uma
que se tornou clássica e que foi traduzida e editada no
Brasil no ano de 2005. Título orignal: Street Cornel Society.
Título da tradução da Jorge Zahar: Sociedade de esquina.
Fico com a pergunta: o que explica essa modéstia de
folcloristas de renome publicarem suas obras em círculo
restrito?
No caso dessa de Oliveira Mello, Minha terra: suas
lendas e seu folclore prima pela originalidade no
tratamento do tema, pela linguagem atraente, pela
universalidade das questões locais exibidas e pelo apreço
dos leitores selecionados que a apresentam.
A leitura da obra de Oliveira Mello desperta o leitor
gouveiano para muitas questões, entre elas a presença de
alguns topônimos comuns, além do já referido Córrego do
Menino Diabo. Na obra Unaí, rumo às veredas
urucuianas encontramos topônimos Cafundó, Bocaina,
Chapadinha e Manda Saia. Há que perguntar pela
coincidência com os de Gouveia, mesmo que se desprezem
outros muito difundidos em diferentes lugares de Minas
Gerais, como Lages, Quebra, Palmital, Olhos D’água e
Água Fria.
Maria Agripina Neves
Maria Agripina Neves é uma professora da cidade de Ouro
Preto e membro da Comissão Mineira de Folclore. Dentre
as suas obras três merecem destaque; Segredos e
Mistérios da arte de partejar, Engenho D’Água: sua
gente e sua história e Do Monte Carmelo a Vila Tica:
Aspectos históricos da
Ordem Terceira e da
Igreja do Carmo de
Ouro Preto.
Segredos e Mistérios
receberam amplos
elogios do professor
doutor Saul Alves
Martins,
membro
fundador e presidente de
honra da Comissão
Mineira de Folclore. No
prefácio, Saul destaca a
contribuição para um assunto pouquíssimo estudado, bem
como o empenho da autora em conduzir uma pesquisa
séria. Esse mesmo assunto, como sabemos foi objeto de
ESPECIAL - FOLCLORE
um belíssimo documentário de autoria de Dêniston Diamantino,
no qual o autor recupera o saber das parteiras e acompanha todo
o trabalho de parto, contracenando com o percurso das folias de
Santos Reis.
Em Engenho D’Água, Agripina se dedica a um pequeno povoado
pertencente ao distrito de São Bartolomeu, município de Ouro
Preto. A obra está dividida em duas partes. Na primeira, a autora
apresenta as origens da comunidade, a escola local as
manifestações culturais e religiosas, as tradições alimentares,
Artesanato e costumes, causos e lendas; na segunda, recupera a
História de Santo Antônio, a Festa do Divino e História do Rio
das Velhas.
Num município turístico e histórico como o de Ouro Preto a
contribuição de Agripina se reveste de grande importância, posto
que revela aos visitantes aspectos pouco enfatizados pelas políticas
culturais.
Do Monte Carmelo a Vila Tica comporta em 380 páginas toda
a história da Ordem Terceira do Carmo de Ouro Preto. Nessa
obra, o leitor obtém informações detalhadas desde o ano de 1744
até o de 2010. Este estudo se torna padrão para aprofundar a
temática das associações e irmandades religiosas em Minas.
Boletim Informativo da AFAGO página 17
Do ponto de vista deste leitor, se nós estudarmos com
o devido cuidado o papel e a trajetória das Irmandades
do Santíssimo, das Ordens Terceiras do Carmo e das
Irmandades de Nossa Senhora do Rosário teremos
desvendado a maioria dos segredos da formação das
Minas Gerais.
Agripina deu um mergulho profundo em uma dessas
associações. O cuidado em recuperar as fontes
primárias e expô-las para interpretação do leitor
merece rasgados elogios. Para isso a autora estudou
e sistematizou os arquivos da Ordem dedicando mais
de cinco anos intensivos à pesquisa e à transcrição
paleográfica. A relação das fontes consultadas tornase um guia importante para outros estudos. Ressaltese também que a autora, após os esforços de busca
de fontes, tratamento e organização das informações,
elaboração de plano de redação, contou com a
colaboração de Augusta de Castro Cotta, a qual
aborda, no primeiro capítulo, os primórdios da
formação da tradição carmelitana até sua fixação na
Europa e que redigiu em parceria o capítulo IX que
apresenta os símbolos do Carmelo. Generosamente,
Agripina conferiu à colaboração de Augusta o posto
de co-autora.
ESPECIAL - FOLCLORE
AQUELAS MÃOS
Getulino do Espírito Santo Maciel – Lorena – São Paulo
Eu tinha medo de passar em frente ao cemitério, à noite, e dos fogos fátuos que, terrivelmente, rolavam estalando o
pasto seco de capim gordura. Mas, eu tinha mãos firmes apertadas às minhas enxugando-me os pavores;
Tinha fome das “ patuléias” - um mexido de ovos fresquinhos com farinha de milho de moinhos de pedra - e mãos
saborosas me serviam em um esfolado prato de ágate;
Tinha machucados de espinhos de unha de gato e mãos milagrosas me curavam as feridas;
Chegava sedento do futebol de bola de meia e, com uma caneca de limonada, aquelas mãos me saciavam;
Eu tinha sono, abrindo a boca, à luz da lamparina e aquelas contas silvestres do terço me cantavam ave-marias e salverainhas deslizando suavemente por entre aquelas mãos.
Estava sem rumo pelas incertezas e aquelas mãos postas, silentes, me indicavam o caminho.
Ah! aquelas mãos ágeis mexendo tachos fumegantes e cheirosos de cravo e canela de doces de goiaba, limão
vermelho, cidra, mamão ou cozinhando milhos verdes e embrulhando cuidadosas pamonhas de indeléveis aromas;
Mãos lisas de seda me afagavam e, junto ao coração, amorosamente me apertavam;
Mãos de jutas calejadas me silenciavam brandamente com um leve gesto nos lábios;
Mãos, quais lenços alvejados, me enxugavam as lágrimas da última e merecida surra;
Mãos com agulhas a costurar nossos destinos e a remendar nossas esgarçadas emoções;
Mãos sempre abertas que um dia se fecharam definitivamente rodeadas pelo mesmo rosário de contas silvestres e se
foram... não, não se foram...estão aqui, redivivas, leve, suave e eternamente. As mãos de minha mãe, a mãe de minhas
mãos!
Boletim Informativo da AFAGO página 18
ESPECIAL - FOLCLORE
O Cemitério do Peixe.
Luiz Dumont
Quando se fala em Cemitério do Peixe, quem sabe, sabe e
quem não sabe pergunta, o que é e onde fica.
É um lugarejo, com uma Capela dedicada a São Miguel e
Almas, um Cemitério e inúmeras casas, mais de 100, não
habitadas, pertencentes aos moradores, fazendeiros e
pequenos proprietários da região.
De inabitada durante o ano, na época da festa, fica
intransitável de tanta gente.
Faz parte do Município de Conceição do Mato Dentro,
ficando bem ao norte da sede Municipal, junto ao Rio
Paraúna.
O nome deriva do seguinte fato :
Na primeira metade do século 19, esta região era ponto de
passagem de mercadorias que iam para o sertão em lombo
de burro. As famosas tropas.
No ponto, hoje conhecido como Quartel do Peixe, foi
estabelecido um pelotão de soldados, para fiscalização.
Alguns desses soldados teriam se alimentado de uns peixes
apanhados no rio Parauna, e que se estragaram.
Sem recursos para tratamento, vieram a falecer e aí foram
enterrados.
Daí a região ficou sendo conhecida como – “Cemitério
onde foram enterrados os soldados que morreram por causa
dos peixes” - “ Cemitério dos que morreram por causa do
peixe”, etc. até chegar à denominação de “Cemitério do
Peixe”.
Todos os sepultamentos da região passaram a ser feitos
também no pequeno cemitério.
Assim, as famílias tinham, ali bem perto, sepultados seus
entes queridos.
Por serem parentes e, sobretudo antepassados, criou-se tal
devoção e confiança nas almas do Cemitério do Peixe que
era comum, em qualquer dificuldade, exclamar “almas do
Cemitério do Peixe valei-me”. E não raro, a ajuda vinha
mesmo.
A Dona Clodiana, esposa de Antônio Feliciano Coelho,
fazendeiro da região, tinha muita pena daqueles que ali se
encontravam enterrados.
Mandou cercar a área dos sepultamentos e, anualmente,
trazia de Diamantina, um Padre para celebrar Missa, por
aquelas almas.
Com a morte de Dona Clodiana, Antônio Francisco Pinto o famoso Caniquinho –( 1860 – 1941 ) então dono da
Fazenda do Vassalo, em cujas terras se dera o sepultamento
dos soldados e de falecidos da região, continuou a promover,
junto com o Padre Ernesto, de Congonhas do Norte, a
celebração de uma missa, que se dava ao ar livre, na data
de 15 de agosto.
Estima-se que isto se deu em torno do ano de 1890.
Antônio Francisco Pinto – o Caniquinho – era um fazendeiro
muito inteligente, astuto, de muita visão de negócios que
amealhou grande fortuna. Era conhecido e respeitado em
toda a região e tinha negócios até no Rio de Janeiro, onde ia
com freqüência.
Boletim Informativo da AFAGO página 19
Em 1910, Caniquinho pediu licença ao bispo de Diamantina
para chamar os Padres Redentoristas de Curvelo para
promoverem a celebração de Missões, no local, o que foi
feito.
Inicialmente, os Padres vinham a cavalo de Curvelo.
Depois, com a construção do ramal férreo Corinto/
Diamantina, ele vinham até o Barão de Guacui, e
acabavam de chegar a cavalo.
Para tanto, construiu a Capelinha que dedicou a São Miguel,
a casa para hospedar os Padres. Construiu também
hospedagem para a Polícia, para as cantoras, para o
barbeiro e outras instalações.
Montou, inclusive, uma iluminação a carbureto, o que era
usado na época.
O povo simples e humilde da região, os trabalhadores nas
fazendas, os pequenos proprietários e até os fazendeiros
gostaram tanto da celebração que Caniquinho se viu
obrigado a programar novas Missões para o ano seguinte
e não teve como deixar de realizá-las nos demais.
A data central da festa era 15 de agosto, começando uma
semana antes.
Sabendo disto, o povo, pela falta de padres, pela dificuldade
de ir à cidade e pelo gostoso que era a festa, passou a
marcar os casamentos, os batizados, a primeira comunhão
para a data da festa que passou a ser conhecida como a
Festa do Cemitério do Peixe ou, simplesmente, a Festa
do Peixe.
Caniquinho, em documento entregue ao Bispo de
Diamantina, doou as terras vizinhas o Cemitério para as
almas, indo do alto da porteira até a barra do Rio. Incluiu
a nascente do córrego que forneceria água para os
Romeiros, e o chamado “pasto das almas”, porque nele
poderiam ficar os animais durante o jubileu, pagando um
aluguel que era destinado à manutenção do Cemitério.
O Jubileu do Peixe, como passou a ser chamado, se tornou
uma festa de presença obrigatória, não só e sobretudo pela
devoção, mas também como oportunidade de encontro de
parentes e amigos, o que se dá até hoje.
Nossos antepassados transpunham quaisquer dificuldades
para estarem no Peixe, no 15 de agosto - Juca Rodrigues,
Luiz da Serra, Levindo Pinto, Antonico Dumont, João
Baiano, Cubertino Ribas, Gustavo Alves, os Vieira, o
próprio Caniquinho, e muitos outros.
Também os comerciantes de gado, de animais, de arreios,
fotógrafos e tudo mais, aqui compareciam, pelas dimensões
e quantidade de Romeiros participantes, e muitos negócios
eram realizados.
Muitos namoros e casamentos aqui nasceram.
Caniquinho, o fundador do Jubileu do Peixe, morreu em
1941, mas a tradição da Festa do Peixe continuou, e
continuará em sua homenagem e em homenagem às almas
de todos os nossos antepassados, amigos e parentes aqui
enterrados, sob a proteção de São Miguel e Almas.
Texto escrito por Luiz Dumont, em 01/08/2004, mas pode
ser usado, e reproduzido.
ESPECIAL - FOLCLORE
JUBILEU do CEMITÉRIO do PEIXE!
Maria Auxiliadora de Paula Ribeiro
Nascida em Gouveia, onde passei a mais feliz infância,
como me lembro das pessoas se organizando em
romaria para o Jubileu do Cemitério do Peixe!
Na minha mente infantil, questionava sobre o nome e
chegava, mesmo, a pensar que o local era assim
chamado pelos peixes lá enterrados.
Meus pais, Sr. Manoel/D.Antônia e Vina (nossa mãe
por afeição ao lado de minha mãe biológica), quanto
me contaram do Cemitério do Peixe, carinhosamente
me ensinando que o nome nada tinha a ver com o que
eu pensava, apesar de lá estarem sepultadas,
pessoas eminentes e piedosas do lugar, o que nada
tinha a ver com a romaria que se fazia todos os anos
em louvor a São Miguel!
Com que riqueza de detalhes eles me falaram dos
padres redentoristas que, para celebrar as festividades
do Jubileu, partiam de Curvelo de trem e paravam em
Barão de Guaicuí de onde, montados em lindos e
possantes cavalos, se dirigiam para o Camilinho.
No Camilinho se hospedavam em casa do Sr. João
Baiano/D.Zenília (falecidos), que deixaram nos seus
filhos João (Zico), Amélia, Dr. Raimundo Nonato,
emérito presidente da AFAGO, Maria José, e em
memória de Maria Luiza, o seu legado de amor, paz,
iniciativa, cultura e religiosidade.
Como me era gratificante imaginar a capela de São
Miguel Arcanjo e as casas por meus pais descritas,
todas branquinhas à espera dos ocupantes, no Jubileu.
Realmente, as casas do Cemitério do Peixe ficam
vazias até hoje, o ano inteiro, à espera da data festiva,
quando os moradores-romeiros para lá partem pra
habitá-las nos dias da novena a São Miguel!
Porém, antes mesmo da festa, o Cemitério do Peixe
se transforma num vai e vem constante de pessoas
munidas de instrumentos para o conserto e pintura
das casas que dali a poucos dias se transformam no
habitat dos romeiros, em busca das bênçãos de São
Miguel.
Quem não tem casa, arma barracas nos dias do
tradicional evento.
No meu tempo de criança, punha-me a imaginar toda
essa movimentação e tinha uma vontade enorme de
adentrar as casinhas.
E, também, de rezar na Capela.
Aos 11 anos, nos mudamos para Curvelo, cidade em
que, me entretendo com o cantar das cigarras, julgava
ter chegado, mesmo, ao sertão de que tanto, também,
ouvira falar!
Entretanto, na terra de São Geraldo, continuei ouvindo
muito sobre o Jubileu do Peixe e quantas vezes admirei
no Pe Mauro Carvalhaes, a dedicação não apenas aos
Boletim Informativo da AFAGO página 20
romeiros de São Geraldo, mas a todas outras
romarias!
Com um desejo enorme de participar, acompanhei
de longe a romaria por ele liderada a Rio Vermelho,
sua terra natal, levando a imagem da Virgem
Santíssima.
Mas Padre Mauro Carvalhaes ainda guardava um
atributo muito especial: era é até hoje o é, arauto de
Deus em sua dedicação ao Jubileu do Cemitério do
Peixe!
O nosso Pe Carvalhaes, sim, nosso, pois o fizemos
curvelano de coração e ainda não nos habituamos à
idéia de que fora transferido para Juiz de Fora, sempre
se dedicou inteiramente à causa do Cemitério do
Peixe!
E...
Não se limita só à romaria, mas se integra a todo o
trabalho, para trazer maior conforto aos romeiros de
São Miguel.
É da índole do Pe Carvalhaes se entregar,
apaixonadamente, às tarefas que nos falam de DEUS
enquanto nos tornamos cristãos, católicos praticantes
e fervorosos pelo exemplo que dele emana!
Artífice por excelência, carismático, piedoso e
inovador, Pe Carvalhaes se dedica totalmente ao seu
ministério, acolhendo com amor e dedicação a todos
que o procuram!
Saudade de ver o seu vulto a percorrer as ruas,
praças e avenidas de nossa Curvelo!
Saudade de ouvir a sua voz aveludada a discorrer
sobre o evangelho e a fazer de suas homilias
verdadeiras lições de vida, a partir da palavra de
DEUS!
Padre Carvalhais partiu, mas deixou nos curvelanos
a marca de sua presença, a magia do seu conforto
espiritual, a lembrança do seu sorriso acolhedor, a
delicadeza do cavalheiro, a história de um cidadão!
Eis que ele está de volta...
O sol radiante pinta de mil cores o firmamento, o
calor se faz sentir e os pássaros em debandada
anunciam que agosto chegou.
Com a chegada de agosto, chega, também, o Pe
Carvalhaes para o Cemitério do Peixe.
Com seu jubileu repleto de magia e encantamento,
mas principalmente, de fé no anjo São Miguel, mais
uma tradição se repete.
Nesse ano de 2011, a festa ocorrerá entre os dias 07
e 15 de agosto, com outros piedosos e eloqüentes
padres e com o Pe Carvalhais a liderar as orações,
as bênçãos e as homilias!
Não deixemos que tão maravilhosa tradição
sucumba ao peso da nossa indiferença!
Que participemos do Jubileu do Cemitério do Peixe!
Que veneremos em São Miguel, o nosso Arcanjo!
Curvelo, 29 de junho de 2011.
ESPECIAL - FOLCLORE
Cemitério de Muitas Lendas
José Moreira de Souza
Em atenção aos estudos publicados neste sítio pelo nosso
presidente, professor doutor Raimundo Nonato de Miranda
Chaves, acabo de retornar do Jubileu do Cemitério do Peixe
(dia 15 de agosto). Retornei encantado. Fui acompanhado por
minha esposa, Adélia e pela senhorita Lúcia Tânia. Tânia está
interessada em estudar a romaria e o jubileu como objeto de
sua dissertação de mestrado em Ciências Sociais.
Ao longo de dois dias de visitas e conversas, pudemos
vislumbrar a riqueza do estudo e a contribuição que poderá
trazer para um melhor conhecimento da trajetória histórica do
jubileu e do culto às almas.
A memória das inúmeras lendas: guardas envenenados por
peixes estragados, escravos enterrados vivos como lição para
que os outros soubessem aceitar a escravidão, lugar privilegiado
de culto às almas dos escravos, até chegar ao culto de São
Miguel, a construção da capela e a aprovação pelo papa de
um jubileu anual, tudo isto se põe como desafio a estudos
aprofundados.
- Não é São Miguel e Almas, como querem alguns, é Almas e
São Miguel. Primeiro as almas, depois, São Miguel – afirmaram
algumas pessoas entrevistadas.
Privilegiamos entrevistar pessoas que visitaram o cemitério
em diferentes épocas e cuidamos de estimular a memória
remota e recente.
O cemitério é cercado de cruzes. Ali a cruz substitui o
pelourinho. Há um culto genérico às almas dos escravos, vindo
depois o culto às almas dos mortos ilustres, ancestrais de
famílias, sepultados após a construção da capela consagrada
a São Miguel.
Ao longo do dia pudemos acompanhar a chegada de quase
uma dezena de cavalgadas provenientes de locais como Serra
do Cipó, Camilinho, Mandaçaia, Pedro Pereira, Gouveia, Vila
Alexandre Mascarenhas, Congonhas do Norte, Tombador,
Fechados; além de ônibus, caminhões, automóveis e motos.
A centralidade do Cemitério é chave para entender grandes
segredos. Por exemplo, a formação do mercado moderno:
- “Fomos ao Cemitério por volta de 1950. Em torno do cruzeiro,
as pessoas depositavam: uma réstia de alho, outros, lata com
andu, rapadura, prato de fubá, prato de feijão, de café limpo...
Quem chegava trocava alho por rapadura, andu por fubá, café
por feijão, assim por diante; e depositava no cofre uma
importância para as almas”.
No interior dessa prática do saber popular esconde-se o
segredo da taxa de câmbio. Há duas operações: a troca de
uma mercadoria por outra equivalente – o conhecido escambo
-, e pagamento às almas pela possibilidade dessa troca.
Um dos sacerdotes presentes – havia três – narrou que há
mais tempo, a romaria possibilitava também o comércio de
cavalos. Como grande número de romeiros se deslocava a
cavalo, o lugar era ideal para isso. Não era, porém, o comércio
semelhante ao que acontece nas exposições agro-pecuárias.
Era o comércio abençoado pelas almas.
Isto foi celebrado ao longo do dia 13 de agosto – sábado –
deste ano de 2011. A chegada de cada grupo de cavaleiros
Boletim Informativo da AFAGO página 21
era anunciada pelo padre Carvalhaes e encerrada com
a benção aos cavaleiros e aos fogosos animais. O padre,
ao final, se molhava com a água benta espargida sobre
cada par – cavalo e cavaleiro – que se aproximava. Se
alguém negociou algum cavalo nessa feira santa, não
levou apenas um animal, mas um cavalo bento.
Pesquisar o Cemitério do Peixe é brindar a academia
com uma pérola de elevado brilho. A moça de Itabira,
Lúcia Tânia, que está se propondo este estudo, mal
suspeita da contribuição que trará à história cultural de
Minas, e à nossa formação histórica.
Com efeito, os primeiros levantamentos dão conta de
que o Conde de Assumar, Dom Pedro de Almeida,
concedeu uma sesmaria no ano de 1719 a “Manuel Pinto
Chaves – [na] Parada onde faz barra o Rio Congonhas
no Rio Paraúna”. Essa parada é exatamente onde se
localizou posteriormente o Cemitério e as fazendas
conhecidas como Vassalo e Capitão Felizardo. No ano
de 1740, o governador de Minas, Gomes Freyre de
Andrade, concedeu mais uma sesmaria nessas
imediações a “João Bauptista Coelho – na Serra Grande
dos Galheiros com Rio Congonhas”. São duas datas
importantes e os nomes das famílias originais, Pinto
Chaves e Coelho, fixam a marca de uma tradição que
se institucionaliza a partir de meados do século XIX.
A sesmaria de Manuel Pinto Chaves foi concedida antes
da Capitania de Minas Gerais ser desmembrada da de
São Paulo. Muito antes, portanto, da oficialização da
descoberta dos diamantes por Bernardo Fonseca Lobo.
Fixe-se o antes. Antes da demarcação do Distrito
Diamantino. A sesmaria de João Bauptista Coelho é
concedida poucos anos após a demarcação do Distrito
dos Diamantes. Nas proximidades dessa última será
instalado o registro da Contagem do Galheiro, plenamente
visível para quem chega ou sai de Gouveia na grande
reta da rodovia nas proximidades da Usina Eólica do
Camilinho.
Infelizmente, nenhum viajante ilustre percorreu as
estradas que, saindo dos arraiais das Congonhas – hoje
Congonhas do Norte –, de São Francisco do Paraúna –
hoje Costa Sena –, até o povoado do Camilinho,
localidade na qual se encontrava a estrada do sertão –
leia-se Curvelo – com a do Serro e Conceição rumo à
Gouveia e ao arraial do Tijuco. Nesse percurso o arraial
mais importante que se formou foi o de São Gonçalo do
Tombador, cuja capela era assistida pelo vigário de
Gouveia logo que foi criada a paróquia em 1841. A
convergência dessas estradas conferiu ao povoado do
Camilinho uma importância como entroncamento dos
estafetas que conduziam malas dos correios.
A atenção para as lendas aponta para a pesquisa
histórica. Localização de um quartel, em ponto altamente
estratégico – ponto de ultrapassagem do rio Paraúna –
primeira lenda -; local de enterro de escravos inicialmente
punidos pelos senhores – segunda lenda -; local de
reverência às almas dos escravos – terceira lenda. Local
ARTIGOS
onde foi enterrado um sacerdote que não resistiu aos rigores da
jornada – quarta lenda que aponta para o início da sacralização do
cemitério. A partir de 1850, a memória popular insere o Cemitério
do Peixe nos registros históricos. Dona Clodiana, Antônio
Feliciano Coelho, Antônio Francisco Pinto – o Caniquinho –; padre
Ernesto de Costa Sena e Congonhas e os padres redentoristas do
santuário de São Geraldo de Curvelo são figuras históricas.
A visita ao cemitério dá conta de que a criação da capela em 1915
confirmou a sacralização progressiva do local. O exame das
inscrições tumulares mostra que, a partir de 1920, pessoas ilustres
foram enterradas no campo santo. Aconteceu com o cemitério
do Peixe algo semelhante já antecipado pelo cemitério da cidade
do Serro. Até 1850, naquela cidade, o lugar conhecido como
“Morro da Forca” era utilizado como depósito dos corpos de
escravos não filiados às irmandades. A partir dessa época a elite,
juntamente com o vigário, começa a se preocupar com o cemitério
e aponta como local mais adequado “o cemitério onde são
enterrados os pobres e os escravos, vendo-se com dor as cinzas
dos mesmos espalhadas na superfície do solo”.Trinta anos depois
foi inaugurado o cemitério paroquial como se vê hoje.
Note-se, além disso, que mais ou menos nessa mesma época foi
construído o cemitério do Tigre, visitado por Richard Burton no
ano de 1867. A preocupação maior com cemitérios se deu em
toda a região com a notícia de surtos de cholera morbus. Esta é
também uma senda importante para o estudo.
Planejando O Amanhã
Adilson do Nascimento
O Boletim Informativo da Afago 03 – Maio/Junho 2011
– traz o Editorial Palavras do Presidente intitulado “Projeto
Gouveia – uma sugestão”, onde descreve uma série de atividades
que constituem o Projeto Turismo de Vilarejo Cuiabá e
comunidades do entorno. Nós, gouveanos, deveríamos aplaudir
esse tipo de iniciativa? Com certeza sim! Não só isso!
Deveríamos parabenizar a Associação dos Moradores, liderada
por Geraldo Arcanjo de Oliveira e ainda, deveríamos verificar
como uma experiência comunitária desse tipo poderá ser
utilizada em benefício da cidade. Congregar as entidades de
classes, a administração municipal e a sociedade civil, para
buscar e orientar possíveis empreendedores, não
necessariamente gouveanos ou moradores do município, para
o fortalecimento do empreendedorismo nas comunidades; não
importando se urbana ou rural é um primeiro caminho. Procurar
apoio do SEBRAE na orientação de pesquisa de mercado, ou
seja, na melhor forma de investir em atividade lucrativa que
proporcione resultado sustentável é o segundo.
O eminente sociólogo José Moreira de Souza, gouveano
de larga experiência e vasto prestígio, tem um exemplo que muito
bem demonstra a falta de clareza de investimentos e de orientação
para o empreendedorismo em Gouveia. Imaginemos um cidadão
que tenha economizado certa quantia resolva investi-la em algum
empreendimento e sem qualquer orientação e conhecimento do
mercado abra um estabelecimento comercial para a venda de secos
e molhados. Tão logo a vizinhança perceba que o empreendimento
está apresentando algum retorno outros pseudos investidores virão
Boletim Informativo da AFAGO página 22
a reboque do primeiro de forma que em pouco tempo todos
estarão vendendo cachaça uns para os outros e assim teremos
uma comunidade de bêbados e falidos, sem qualquer
suprimento de caixa para honrar os seus compromissos. Outro
exemplo, esse na contra mão do primeiro, que nos mostra
como é ser um empreendedor e como se faz um
empreendimento tem como pano de fundo a Companhia
Industrial São Roberto, um investimento 100% gouveano,
que tendo acumulado lucros expressivos, nos idos de 1940, a
permitiu tornar-se sócia majoritária da Companhia Industrial
de Estamparia, sediada em Contagem, nos arredores de Belo
Horizonte.
Isso hoje seria viável? Não acredito nessa
possibilidade! Sabemos que a fábrica de tecidos atualmente,
mesmo agregada das confecções, não representa para a
economia do município o mesmo percentual de outros tempos.
Em 1977, quando eu me mudei de Gouveia, a fábrica
proporcionava empregabilidade para mais de mil famílias, não
só da cidade, como também e, principalmente, da zona rural,
além de outras localidades do seu entorno, como Datas e
Presidente Kubitschek. Hoje, de acordo com a fonte que tenho
esse número não passa de quatrocentas famílias. Poder-se-ia
dizer com toda segurança que essa redução seja fruto da
evolução tecnológica que possibilitou grande automação das
tarefas manuais de outros tempos. Nada mais verdadeiro!
Porém, também é verdade que a tecnologia aplicava em São
Roberto até os dias de hoje não foi “essa Coca Cola toda” o
que a torna um pouco inferiorizada em relação às suas
principais concorrentes do mercado interno, quando podemos
citar a título apenas de comparação a Cedro e Cachoeira e a
Coteminas, além de sabermos dos conflitos que são impostos
às três pela concorrência internacional, a exemplo da China.
Eu iniciei a minha vida profissional na Fábrica São
Roberto e ali cheguei a ocupar o segundo cargo da hierarquia
local e por isso tenho para com ela um carinho muito especial
e uma dívida de gratidão por ter sido onde adquiri meus
primeiros conhecimentos que me proporcionaram, depois de
alguma especialização, prosseguir na carreira de gestor de
recursos humanos que escolhi. Esse reconhecimento e essa
gratidão não podem, todavia, cegar-me da visão que tenho
da possibilidade de que a fábrica possa vir cada vez mais a
reduzir a sua representatividade econômica no nosso
município, podendo, até mesmo, extingui-la. A direção da
Estamparia S.A. poderia decidir, para dar equilibro aos seus
custos de produção, pela transferência da sua linha de
produção de tecidos em Gouveia para a fábrica instalada na
Cidade Industrial. De imediato ela deixaria de contabilizar como
despesa operacional os seus altos custos de transporte entre
Gouveia e Contagem, feito por meio de veículo automotivo,
ao longo dos mais de 230 quilômetros de rodovia.
Sabemos que plantar uma indústria de tecidos em
Gouveia naqueles primeiros tempos, tendo que adquirir
maquinário europeu e depois de retirá-lo do porto conduzi-lo
até São Roberto com a escassez e precariedade de transporte
da época, tinha algumas determinantes como mão de obra
barata, água em abundância para o funcionamento das
máquinas movidas por força motriz, que foram fundamentais,
além do idealismo dos gouveanos, seus fundadores. Num
segundo momento, quando de sua arrematação e reforma, já
nas mãos do mais expressivo gouveano adotivo, Alexandre
Diniz Mascarenhas, além da mão de obra, também a
ARTIGOS
possibilidade, agora de geração de energia elétrica falaram alto. Hoje,
sabemos, nenhuma das duas são expressivas. A mão de obra está
equiparada aos valores dos centros maiores, embora o salário mínimo
nacional seja uma excrescência, e a geração de energia elétrica já não é
mais compatível com a exigência de consumo da fábrica.
Alguém poderia dizer que seria desumano se os atuais
administradores da fábrica concentrassem todos os seus investimentos
em Contagem,
deixando em Gouveia apenas um “elefante branco”
representado pela Vila Operária de São Roberto, principalmente quando
sabemos que ali está concretizado o sonho maior do grande Capitão da
Indústria. Aprendi e sempre coloquei em prática que o bom
administrador é aquele que administra com a cabeça. Se colocarmos o
coração o negócio estará fadado ao fracasso. Por isso a possibilidade
de transferência e desativação não é uma utopia, nem um agouro, e sim
uma visão capitalista perfeitamente viável.
Nessa hipótese quantos gouveanos ficariam sem sustento?
Estatisticamente, sabe-se, que para cada trabalhador, em média, há
mais quatro dependentes, de forma que o número de pobres miseráveis
chegaria facilmente a dois mil com essa decisão. Será que a ASCIASGO,
a Prefeitura, a Câmara Municipal, os sindicatos, a sociedade civil, a
AFAGO, têm esse medo e se preocupam com isso? Se preocupam
estão se preparando para uma solução que amenize o impacto da tragédia
na economia do município? Haveria a possibilidade de transformar a
vila operária em atração turística? E a Gouveia estaria preparada para
atuar nesse tipo de turismo? Ou será que estamos todos a dormir em
“berço esplêndido”, sonhando com um Brasil sem fome, sem miséria e
sem corrupção? Não sei! Sinceramente não sei! Fica, no entanto, o
alerta de quem, mesmo não servindo de exemplo, está preocupado com
o futuro de tantos gouveanos que haverão de viver em Gouveia e
conviver com o que ela possa lhes proporcionar. Estabelecer os estudos
e a viabilidade de solução para esse tipo de situação é o que chamamos
em administração empresarial de Planejamento Estratégico, o que se
adapta também para a administração pública, e não deve restrita apenas
à responsabilidade do prefeito e o do seu secretariado, devendo ser
também uma atribuição da sociedade como um todo.
Já ouvi dizer que em Gouveia não existe capital disponível
para investimento, uma vez que todos aqueles que tinham uma
disponibilidade já a investiu em alguma atividade proporcionando
emprego e renda aos seus conterrâneos. Isso não passa do “efeito
avestruz” que para fugir do perigo enterra a cabeça na areia. Será que
a rentabilidade desses investimentos não comporta uma melhoria de
forma a ser reinvestida no negócio? Por que não averiguar, por meio de
pessoal e entidades especializadas, se empresas que exploram matéria
prima nata de Gouveia e a industrializam em outras regiões poderiam
investir em alguma atividade lucrativa em Gouveia, gerando emprego e
renda para o pessoal da cidade?
Recentemente ouvi de um comerciante gouveano, mas com
atividade em Diamantina, que preferira se estabelecer ali para obter
melhor retorno do seu investimento. Em minha mais recente visita a
Gouveia encontrei um comerciante que vendia farta variedade de
legumes e frutas e quando procurei saber de quem e de onde era a
propriedade fui informado de que os produtos eram adquiridos na
CEASA, em Contagem. Como pode! Gouveia, uma comunidade
tipicamente rural adquirindo seus produtos agrícolas na central de
abastecimento do estado. Nessa mesma ocasião procurei pelo molho
de pimenta que era fabricado na Vila Alexandre Mascarenhas e me
disseram que a fábrica havia encerrado as suas atividades, por questões
familiares. Será que alguma entidade gouveana se mobilizou para, pelo
menos, tentar solucionar o conflito e evitar que a indústria sucumbisse?
Gouveia tem a maioria dos seus empreendimentos constituída por
famílias. Essas famílias estão sendo orientadas para a sucessão? Já
Boletim Informativo da AFAGO página 23
sugeri, na condição de executivo de RH, a um empresário
já idoso, para que ele providenciasse a sua sucessão, pois
eu temia que na hipótese da sua ausência a concorrência
familiar, principalmente entre os primos, fosse prejudicial à
saúde das suas empresas. Ele, em princípio, me questionou
se eu o estava agourando. Eu então lhe disse: não senhor!
Eu tenho certeza de que o senhor foi escolhido para
semente. Pouco tempo depois lá estava ele convocando
os seus herdeiros para uma assembléia e transferindo toda
a administração dos seus negócios, para executivos não
familiares, inclusive eu, e transformando a sua filha em
acionista majoritária, não deixando qualquer possibilidade
de questionamentos no futuro.
Outra coisa que eu infelizmente não vejo é uma
Gouveia envolvida em qualquer movimento que vise à
melhoria da qualidade de ensino dos seus cidadãos. Todo
gouveano que se dispôs ou foi dele exigida uma
especialização, até o ano de 1958, acima do primário,
de 1958 a 1972, acima do ginasial e daí para frente,
acima do secundário, antigo científico ou colegial, não
lhe restou alternativa que não fosse procurar outras
paragens, ou então fazer um deslocamento diário
cansativo e dispendioso para cidades vizinhas, como
Diamantina e Serro e às vezes nem tão vizinhas como
Sete Lagoas. Buscar uma escola de terceiro grau, ainda
que pelo regime de extensão, do tipo franquia em uma
universidade já existente em um centro maior poderia
ser classificada como quase impossível. Porém, como
canta Roberto Carlos “quase é só mais um detalhe”.
Gouveia tem excelente “know how” na arte de criação,
instalação e manutenção de novos estabelecimentos de
ensino. Basta que retrocedamos a nossa visão para os
idos de 1958 quando um grupo de abnegados,
incomodados com, a falta de possibilidade das crianças
gouveanas prosseguirem os seus estudo para além da
quarta série primária, decidiu trazer para a cidade o
Ginásio Santo Antônio, de grata lembrança, quando a
cidade não dispunha de qualquer estrutura física para
seu funcionamento, nem de profissionais disponíveis
para a prática do ensino. Sobre esse assunto já produzi
um artigo intitulado Ginásio Santo Antônio e que está
publicado no site Portal Gouveia. Naqueles tempos até
o quadro de alunos era deficitário. Fiz parte da sua
terceira turma e chegamos à quarta série com um grupo
de apenas dez formandos. As desistências, ao longo do
caminho, tinham origem no sonho maior dos formandos
do quarto ano primário de completar quatorze anos e
arranjar serviço na fábrica. Se empregado estava, estudar
para quê?
Algumas dessas deficiências hoje talvez
persistam, mas com certeza, serão infinitamente
menores e muito mais fáceis de serem solucionadas.
Depois, o prejuízo de se tentar será apenas a frustração
de não haver conseguido. Porém, na hipótese de que
alguém consiga haverá de ter o seu nome e o seu feito
marcados indelevelmente na história da faculdade, assim
como estão marcados Efigênio, Dôca e Raimundo
Benedito, na história do Ginásio.
No Roseiral da Esperança
Aniversariantes
Agosto
José Raimundo Monteiro 1
Zayde Miranda Gomes Pereira 3
Adélia da Conceição Ribas – 7
Elza Dornas A.Martins – 7
Serafim Fernandes de Araújo (Dom) – 13
Adélia Anis Raies de Souza – 14
Diva Maria de Miranda – 15
Marcone Miranda Ribas – 20
Lívia Somalle Sai dos Santos – 21
Zuleima Buitrago de Miranda – 22
Alisson Wander Paixão – 23
Juliana Gomes – 24
Francisca Aparecida Lopes Bello – 27
Boletim da AFAGO
Órgão Informativo da Associação do Filhos e Amigos
da Gouveia
Ano IV – N ° 04-11 - JULHO- AGOSTO 2011.
Diretor Responsável – Raimundo Nonato de Miranda
Chaves
Editoração Gráfica: José Moreira de Souza
Crédito das Fotos: Acervo de Theódulo Alves Prado,
Efigênio Gomes Pereira, José Moreira de Souza
Diretoria da AFAGO
Presidente de Honra: Waldir de Almeida Ribas in
Memoriam
Presidente: Raimundo Nonato de Miranda Chaves
Secretário: Guido de Oliveira Araújo
Diretor de Finanças: Adilson Nascimento
Comissão Editorial
Guido de Oliveira Araújo.
José Moreira de Souza
Raimundo Nonato de Miranda Chaves
Lynna Oliveira Santos – 28
Milton M. Ferreira de Miranda – 29
Nilton Bechara de Miranda - 29
Stela Carvalho Oliveira – 31
Setembro
Magda Maria Gomes Monteiro – 1
Silvia Aparecida de Ávila Lacerda – 8
Dáfnis Raies Moreira de Souza – 8
Manoel Luiz Ferreira de Miranda – 9
Jadir José Ferreira de Miranda – 11
IMPRESSO
Roseno Sergio Cordeiro Matos – 13
Maria Luiza Carvalho – 21
“Zé Gato” - 23
REMETENTE
AFAGO - Associação dos Filhos
e Amigos da Gouveia
Avenida Amazonas 115 - sala
1709
CEP: 30.180 - 000 - BELO HORIZONTE - MG

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