Baixar
Transcrição
Baixar
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIVERSIDADE FEDERAL DE FORTALEZA PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA RASTREABILIDADE MOLECULAR DE Staphylococcus spp. NO BENEFICIAMENTO DE PRODUTOS LÁCTEOS CAPRINOS FRANCISCA GEOVANIA CANAFÍSTULA DE SOUSA AREIA – PB Novembro - 2013 i UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIVERSIDADE FEDERAL DE FORTALEZA PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA RASTREABILIDADE MOLECULAR DE Staphylococcus spp. NO BENEFICIAMENTO DE PRODUTOS LÁCTEOS CAPRINOS FRANCISCA GEOVANIA CANAFÍSTULA DE SOUSA Bióloga AREIA – PB Novembro – 2013 ii FRANCISCA GEOVANIA CANAFÍSTULA DE SOUSA RASTREABILIDADE MOLECULAR DE Staphylococcus spp. NO BENEFICIAMENTO DE PRODUTOS LÁCTEOS CAPRINOS Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado de Pós-graduação em Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal Rural de Pernambuco e Universidade Federal do Ceará como requisito parcial para obtenção do titulo de doutora em Zootecnia Comitê de orientação Celso José Bruno de Oliveira – Orientador principal Patrícia Emília Navez Givisiez Paulo Sérgio de Azevedo AREIA – PB Novembro – 2013 iii Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada à fonte. Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos da Biblioteca Setorial do CCA, UFPB, Campus II, Areia – PB. S586r Sousa, Francisca Geovânia Canafístula de. Rastreabilidade molecular de Staphylococcus spp. no beneficiamento de produtos lácteos caprinos. / Francisca Geovânia Canafístula de Sousa. - Areia: UFPB/CCA, 2013. 78f. : il. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2013. Bibliografia. Orientador (a): Celso José Bruno de Oliveira. Coorientador (a): Patrícia Emíia Naves Givisiez e Paulo Sérgio de Azevedo. 1. Leite de cabra – Cariri paraibano 2. Leite caprino – Contaminação microbiológica 3. Segurança alimentar – Staphylococcus I. Oliveira, Celso José Bruno de (Orientador) II. Título. UFPB/CCA CDU: 637.17(043.3) iv v DADOS CURRICULARES DO AUTOR FRANCISCA GEOVANIA CANAFÍSTULA DE SOUSA – Filha de Augustinho Ferreira de Sousa (in Memória) e Fátima Canafístula de Sousa, nasceu em 1 de fevereiro de 1983, na cidade de Sobral no estado do Ceará. Em 2003 ingressou no curso de Licenciatura plena em Biologia da Universidade Estadual Vale do Acaraú, na cidade de Sobral-CE, concluindo o curso de graduação no ano de 2007. Durante a graduação, estagiou na Embrapa caprinos-CNPC entre os anos de 2005-2007 no Laboratório de Bacteriologia da unidade. No ano de 2008 ingressou no curso de mestrado em Zootecnia, do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, no município de Areia-PB, na área de produção animal e defendeu a dissertação de mestrado em fevereiro de 2010. Em março de 2010 ingressou no curso de doutorado pelo Programa Integrado em Zootecnia no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, na cidade de Areia e defendeu a tese em novembro de 2013, na área de produção animal. vi A tribulação produz perseverança; A perseverança, experiência; E a experiência, esperança. Romanos 4: 3-4 vii Dedico Com imenso carinho as minhas avós materna, Lindelmira Canafístula e paterna, Maria Gomes (In Memória) pelo exemplo que são para mim de humildade, fé, caridade e amor ao próximo. E pela serenidade que sempre cultivaram em seus rostos, mesmo nos momentos de dificuldade. À amiga Candice Maria Cardoso Gomes de Leon por todas as orações e momentos partilhados. viii AGRADECIMENTOS A Deus por toda a benção derramada sobre mim e como reconhecimento de que sem Ele eu nada poderia ter feito e de que minhas conquistas seriam em vão. Ao Programa de doutorado Integrado em Zootecnia pela oportunidade a mim concedida. Ao Conselho Nacional de Amparo a Pesquisa (CAPES) pela concessão da bolsa. À minha mãe, irmãos e avô materno por todo o amor, carinho e respeito a mim dedicado. À Rodrigo Pereira Leite por seu companheirismo, paciência e amor. Os Meus mais sinceros agradecimentos, aos professores Celso José Bruno de Oliveira e Patrícia Naves Givisiez pela orientação, amizade, confiança e oportunidades a mim concedidas. Ao professor Paulo Sérgio de Azevedo e demais professores do programa de pósgraduação pelo carinho. A Lea Chapaval com enorme carinho, sempre, por todo o incentivo e apoio para que eu ingressasse na carreia acadêmica. Aos Companheiros de pós-graduação e estudantes de graduação que fazem parte do grupo de pesquisa do Laboratório de Avaliação de Produtos de Origem Animal (LAPOA/CCA/UFPB). Obrigada! A Noádia Priscila, Ariana Meira e Élcio Santos por todo o conhecimento partilhado. As amigas, Ana Paula Gomes, Anaiane, Jailma Santos, Jussara Telma, Luana Paula, Luziana Pollyana Agra e Rosana pelos momentos de muita alegria no dia-adia e na hora do café. A todos que contribuíram direta e indiretamente para a construção desta obra, os meus mais sinceros agradecimentos. ix LISTA DE SIGLAS blaz – gene para produção de β- lactamases fem –A – gene fator essencial de resistência a meticilina mec A – gene para produção da proteína alvo modificada de ação da meticilina sea – gene para produção de enterotoxina estafilocócica A seb – gene para a produção de enterotoxina estafilocócica B sec – gene para a produção de enterotoxina estafilocócica C sed – gene para a produção de enterotoxina estafilocócica D see – gene para a produção de enterotoxina estafilocócica E seg – gene para a produção de enterotoxina estafilocócica G seh – gene para a produção de enterotoxina estafilocócica H sei – gene para a produção de enterotoxina estafilocócica I ica- D – gene para produção de biofilme REP – elementos palindrômicos repetidos Housekeeping – genes envolvidos com a produção de proteínas essenciais para a manutenção da célula e metabolismo microbiano arcC – gene carbamato quinase aroE – gene chiquimatodesidrogenase glK – gene glycerol kinase gmK – gene para a produção da enzima guanilato quinase pta – gene para a produção da enzima fosfato acetil transferase tip – gene para a produção da enzima triose fosfato isomerase yqiL – gene para a produção da enzima Acetil CoA acetil transferase MIC – Concentração inibitória mínima OD – densidade óptica ODC – ponto de corte da densidade óptica Pb – pares de bases Kb – Kilobases SCP - Staphylococcus coagulase positivo SCN – Staphylococcus coagulase negativo TAE – Tris, Acetato e EDTA x SUMÁRIO Páginas LISTA DE TABELAS LISTA DE FIGURAS RESUMO ABSTRACT CONSIDERAÇÕES INICIAIS x xi xii xiii 1 Capítulo I Investigação ecoepidemiológica de Staphylococcus spp. em sistema de produção de leite de cabra Resumo Abstract 1. Introdução 2. Material e métodos 2.1 Coleta de amostras 2.2 Isolamento de Staphylococcus spp. 2.3 Extração de DNA genômico 2.4 Genotipagem por REP-PCR 2.5 Multilocus sequence typing (MLST) 3. Análise dos dados 4. Resultados e discussão 5. Conclusão 6. Referências Bibliográficas 3 4 5 6 6 6 7 7 8 9 9 14 14 Capítulo II Similaridade genética, genes enterotoxigênicos e produção de biofilme em Staphylococcus spp. multirresistentes isolados de queijo caprino Resumo Abstract 1. Introdução 2. Material e métodos 2.1 Isolamento de Staphylococcus spp. 2.2 Avaliação da susceptibilidade antimicrobiana 2.3 Produção fenotípica de biofilme 2.3.1 Determinação da produção de biofilme em ágar Congo Red 2.3.2 Determinação de biofilme em microplaca 2.4 Extração do DNA genômico 2.5 Pesquisa do gene ica-D 2.6 Pesquisa de genes enterotoxigênicos 2.7 Pesquisa de genes de resistência (fem A, mec A e blaZ) 2.8 Genotipagem 3 Análise de dados 4 Resultados e discussão 5 Conclusão 6. Referências Bibliográficas 17 18 19 20 20 21 21 21 22 23 24 24 24 25 26 26 33 33 xi Capítulo III Vias de contaminação de Staphylococcus spp. na linha de produção de queijo coalho caprino Resumo Abstract 1. Introdução 2. Material e métodos 2.1 Coleta de amostras 2.2 Isolamento de Staphylococcus spp. 2.3 Avaliação da susceptibilidade antimicrobiana 2.3.1 Método de disco difusão 2.3.2 Determinação da concentração inibitória mínima por microdiluição 2.4 Produção fenotípica de biofilme 2.4.1 Determinação da produção de biofilme em ágar Congo Red 2.4.2 Determinação de biofilme em microplaca 2.5 Extração de DNA genômico 2.6 Pesquisa do gene ica-D 2.7 Pesquisa de genes enterotoxigênicos 2.8 Pesquisa de genes de resistência (fem A, mec A e blaZ) 2.9 Genotipagem 3. Análise de dados 4. Resultados e discussão 5. Conclusão 6. Referências Bibliográficas 38 39 40 40 41 41 41 42 42 43 44 44 44 45 46 46 47 47 48 49 57 57 CONSIDERAÇÕES FINAIS 60 ANEXO 61 xii LISTA DE TABELAS Páginas Capítulo II Tabela 1. Resistência a antimicrobianos em Staphylococcus (n=81) isolado de leite de cabra produzido com leite pasteurizado ou cru nos Estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte Tabela 2. Perfil de resistência a antimicrobianos em Staphylococcus spp. (n=81) isolados de queijos fabricados com leite de cabra nos Estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte 27 28 Capítulo III Tabela 1. Frequências de resistência avaliadas pelo método de discodifusão em Staphylococcus coagulase positivos e negativos isolado de pontos da linha de produção de queijo coalho fabricado com leite de cabra pasteurizado Tabela 2. Perfis de resistência a antimicrobianos em Staphylococcus spp. (n=93) isolado de pontos da linha de produção de queijo coalho fabricado com leite de cabra pasteurizado Tabela 3. Concentração inibitória mínima de Staphylococcus spp. (n=79) de pontos da linha de produção de queijo coalho fabricado com leite de cabra pasteurizado Tabela 4. Presença de genes associados a fatores de virulência em Staphylococcus spp. (n=56) isolado de pontos da linha de produção de queijo coalho fabricado com leite de cabra pasteurizado. 50 50 52 54 ANEXO Descrição dos oligonucleotídeos utilizados na identificação de fatores de virulência e na genotipagem de Staphylococcus spp. 61 xiii LISTA DE FIGURAS Páginas Capítulo I Figura 1. Dendrograma gerado a partir da análise de perfis moleculares obtidos por REP-PCR em Staphylococcus coagulase positiva isolado do leite cru e pasteurizado, mão de manipulador e equipamento de usinas de beneficiamento de leite de cabra em Monteiro, Sumé e Cabaceiras. 12 Figura 1. Dendrograma gerado a partir da análise de perfis moleculares obtidos por REP-PCR em Staphylococcus coagulase negativa isolado do leite cru e pasteurizado, mão de manipulador e equipamento de usinas de beneficiamento de leite de cabra em Monteiro, Sumé e Cabaceiras 13 Capítulo II Figura 1. Dendrograma gerado a partir da análise de perfis moleculares obtidos por REP-PCR em Staphylococcus spp. isolado em queijo coalho fabricado com leite de cabra cru e pasteurizado em queijarias dos Estados do Ceará, Paraíba e Rio grande do Norte 32 Capítulo III Figura 1. Dendrograma gerado a partir da análise de perfis moleculares obtidos por REP-PCR em Staphylococcus spp. isolado de leite cru e pasteurizado, utensílios, equipamentos, mão de manipulador e queijo coalho fabricado com leite de cabra pasteurizado 56 xiv RESUMO Staphylococcus spp. são microrganismos ubiquitários presentes na produção de leite de cabra e importantes para a saúde publica do ponto de vista da segurança alimentar. Por esta razão, objetivou-se identificar clones epidemiológicos através da REP-PCR com Rw3A em Staphylococcus spp. isolado de leite, queijos e em pontos da produção de queijo coalho caprino. Adicionalmente foi avaliado o perfil de resistência fenotípica antimicrobiana, a produção de biofilme por métodos fenotípicos, a presença de genes de resistência, enterotoxigênicos e para a produção de biofilme (ica-D). Observou-se que Staphylococcus coagulase negativo são as principais espécies encontradas na linha de produção de queijo coalho e que MRSA foram ausentes entre os isolados que participaram do estudo. Pelo método de disco-difusão e pelo método de microdiluição foi possível verificar que Staphylococcus isolados de queijos e pontos da produção foram resistentes principalmente a antibióticos β-lactâmicos. Os métodos de MtP e CRA mostraram-se pouco eficiente na determinação da produção de biofilme em Staphylococcus spp. na produção de queijo coalho caprino. Entre os isolados do estudo, apenas 5 (15,6%) isolados foram positivos para a presença de genes de virulência (blaZ, IcaD, fem, seg e sei) em Staphylococcus spp. isolados de queijos produzidos com leite cru e pasteurizado em queijarias do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Uma frequência maior de genes de virulência foi observada em Staphylococcus spp. isolados de diversos pontos da linha de produção de queijo coalho elaborado com leite de cabra em usina da Paraíba. Os resultados do presente estudo indicaram ainda que a manipulação do leite e a contaminação residual em equipamentos podem ser importantes vias de contaminação do leite de cabra. Staphylococcus aureus do leite de cabra cru e pasteurizado avaliados por mlst foram identificados como ST 133, um complexo clonal associado a animais ungulados e nunca isolado de casos clínicos humanos. Outro fato importante observado no estudo é a similaridade entre Staphylococcus multirresistentes distribuídos em diferentes queijarias dos Estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Pela analise de perfis de similaridade foi possível observar que a mão do manipulador é uma importante fonte de contaminação no beneficiamento do leite de cabra e na produção de queijo coalho. Palavras-chave: leite de cabra, qualidade e segurança alimentar xiii ABSTRACT Staphylococcus spp. are ubiquitous microorganisms present in the production of goat milk and important to public health from the point of view of food security. Therefore, this study aimed to identify epidemic clones by REP- PCR with Rw3A in Staphylococcus spp. isolated from milk, cheese and goat’s cheese production . Additionally, we evaluated the antimicrobial profile of phenotypic resistance to biofilm production by phenotypic methods, the presence of resistance genes and enterotoxigenic for the production of biofilm (ica -D). It was observed that Staphylococcus coagulase negative are the main species found in the production of the cheese production and MRSA were absent among the isolates in the study. By disk diffusion and the microdilution method was verified that Staphylococcus isolates from cheeses and cheese production were mainly resistant to β -lactam antibiotics. The methods MtP, and CRA proved to be inefficient in determining the production of biofilm in Staphylococcus spp. in the production of goat cheese. Among isolates of the study, only 5 (15.6 %) isolates were positive for the presence of virulence genes (blaZ, icaD, sei, seg and fem A) in Staphylococcus spp. isolated from cheeses made with raw milk and pasteurized dairy products of Ceará, Paraíba and Rio Grande do Norte. A higher frequency of virulence genes was observed in Staphylococcus spp. isolated from different parts of the production of cheese made with goat’s milk plant in Paraiba . The results of this study also indicated that the handling of milk and residual contamination in equipment may be important pathways of contamination of goat milk. Staphylococcus aureus from raw goat milk and pasteurized evaluated by MLST were identified as ST 133 clonal complex associated with ungulates and never isolated from human clinical cases. Another important fact observed in the study is the similarity of multiresistant Staphylococcus distributed in different dairies in the states of Ceará, Paraíba and Rio Grande do Norte. For the analysis of profiles of similarity was observed that the hand of the handler is an important source of contamination in the processing of goat milk and production of cheese. Keywords: food quality and safety, goat’s milk CONSIDERAÇÕES INICIAIS Staphylococcus aureus são microrganismos ubiquitários associados a doenças de origem alimentar, principalmente através da produção de toxinas em produtos lácteos. Em animais de produção de leite, é também um dos principais agentes da mastite ou mamite, uma infecção da glândula mamária responsável por grandes prejuízos econômicos em todo o mundo. Em cabras, outras espécies de Staphylococcus, principalmente coagulase negativas, apresentam grande importância na etiologia da mastite, podendo também contaminar o ambiente de produção, equipamentos, instalações e o leite após a pasteurização. Esses microrganismos causadores da mastite podem ser transferidos para o leite durante a ordenha e para derivados lácteos através da contaminação cruzada ao longo das etapas de produção. A maioria do conhecimento produzido relaciona-se a S. aureus na espécie bovina e muito pouco se sabe sobre a importância da contaminação por Staphylococcus coagulase positivos e negativos em leite e derivados de origem caprina. Objetivou-se, com esse estudo, investigar fatores de patogenicidade (produção de biofilme, resistência antimicrobiana e presença de genes enterotoxigênicos) e a similaridade genética de Staphylococcus spp. isolados de diferentes etapas de beneficiamento de leite e produção de queijo de origem caprina. Espera-se, com isso, que as informações geradas possam contribuir para a avaliação do real impacto da contaminação estafilocócica em leite e queijo de origem caprina e identificar possíveis fontes e pontos de contaminação que possibilitem implementar medidas de controle e redução da contaminação. Esses conhecimentos são fundamentais para o desenvolvimento da caprinocultura leiteira regional, uma vez que a produção de alimentos seguros é ponto-chave no sucesso da indústria de alimentos. 1 Capítulo I Investigação ecoepidemiológica de Staphylococcus spp. em sistema de produção de leite de cabra INVESTIGAÇÃO ECOEPIDEMIOLÓGICA DE Staphylococcus spp. EM SISTEMA DE PRODUÇÃO DE LEITE DE CABRA RESUMO GERAL O objetivo do presente estudo foi investigar a similaridade genética de Staphylococcus spp. isolados de diferentes pontos durante o beneficiamento de leite caprino em três usinas da região do Cariri Paraibano. Staphylococcus spp. foram obtidos de leite de conjunto in natura, leite pasteurizado, swabs de superfície do tanque de recepção de leite, embaladora, tanque pré-pasteurização, tanque pulmão e mãos dos manipuladores. Foi realizada genotipagem de 79 isolados coagulase positivos e negativos através da Rep-PCR utilizando-se iniciadores RW3A. Adicionalmente, alguns isolados da espécie S. aureus foram tipificados por multilocus sequence typing (mlst). O método de Rep-PCR foi eficiente (valor D=0,99) na discriminação de Staphylococcus spp. isolados de usinas de beneficiamento de leite caprino. Dos 5 agrupamentos produzidos, três apresentaram Staphylococcus com perfil genotípico similar obtidos de diferentes pontos e diferentes usinas. Em cada um dos clusters foi identificado pelo menos um isolado da mão de manipulador com perfil genético similar a isolados de leite cru. O fato dos isolados obtidos da mão dos manipuladores terem apresentado maior similaridade genética com isolados de origem láctea do que os isolados de casos clínicos humanos indicam que os manipuladores podem atuar na contaminação cruzada de Staphylococcus em usinas de leite caprino. Os resultados do presente estudo indicaram ainda que a manipulação do leite e a contaminação residual em equipamentos podem ser importantes vias de contaminação do leite de cabra. Staphylococcus aureus do leite de cabra cru e pasteurizado avaliados por mlst foram identificados como ST 133, um complexo clonal associado a animais ungulados e nunca isolado de casos clínicos humanos. De fato, de acordo com a genotipagem por Rep-PCR, não foram identificadas similaridades entre os isolados das usinas e aqueles cultivados de infecções em humanos, inseridos nesse estudo como controle. Por fim, a presença de isolados geneticamente similares de leite cru e leite pasteurizado pode indicar falhas no processo de pasteurização. Palavras-chave: qualidade de leite, Rep-PCR e segurança alimentar 3 INVESTIGAÇÃO ECOEPIDEMIOLÓGICA DE Staphylococcus spp. EM SISTEMA DE PRODUÇÃO DE LEITE DE CABRA ABSTRACT The aim of this study was to investigate the genetic relatedness of Staphylococcus spp. isolates from different points during the processing of goat milk in three goat dairy plants located in Cariri region, Paraiba . Staphylococcus spp . were obtained from fresh whole milk, pasteurized milk , swabs from bulk milk tank, pre- and post-pasteurization tanks, packing machine and hand swabs from handlers. Genotyping was performed by Rep -PCR using primers RW3A and some isolates confirmed S. aureus species were typed by multilocus sequence typing (MLST). The method of Rep- PCR was efficient ( D value = 0.99) in the discrimination of Staphylococcus spp. isolated from goat dairy plants. Isolates were grouped in five different clusters and three of them included Staphylococcus from different points and different plants sharing similar genotypic profilings obtained. In each of those clusters there was at least one isolate from handlers related genetically to raw milk staphylococci. The fact that the isolates obtained from the hand of the handlers presented greater genetic relatedness with isolates of dairy origin than those from human clinical cases indicate that handlers may play a key role in the cross-contamination of goat milk by Staphylococcus as well as residual contamination in equipments Staphylococcus aureus from raw and pasteurized goat milk evaluated by MLST were identified as ST 133, which belongs to a clonal complex associated with ungulates and still not reported as a pathogen associated with disease in humans. In fact, according to the Rep- PCR genotyping, there was no relatedeness between the isolates from the dairy plants with those isolates associated with infections in humans included in this study as a control. Finally, the presence of strains sharing similar genotipic profilling from raw and pasteurized milk may indicate problems in the pasteurization process. Keywords: qualidade de leite, Rep-PCR e segurança alimentar 4 1.Introdução Staphylococcus aureus são reconhecidos como agentes causadores de doenças de origem alimentar em todo o mundo. A contaminação do leite de cabra por Staphylococcus pode ter origem a partir de infecções na glândula mamária (JORGENSEN et al. 2005; SPANU et al. 2013) e contaminar o ambiente após a ordenha, implicando na manutenção e circulação da bactéria nos sistemas de produção. Staphylococcus coagulase negativos são patógenos oportunistas comumente isolados de leite caprino e as espécies que mais comumente identificadas são coagulase negativas, tais como Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus caprae e Staphylococcus simulans (KOOP et al. 2012). Em sistemas de produção de leite de cabra, não há informações sobre a dinâmica da contaminação estafilócica de Staphylococcus nesse ambiente, de forma que a tipificação dos isolados pode fornecer informações importantes para o controle de Staphylococcus spp. no ambiente de produção e no leite de cabra beneficiado. Diferentes métodos de genotipagem têm sido utilizados em investigações epidemiológicas de Staphylococcus spp. em sistemas de produção de leite caprino, com objetivo de comparar S. caprae isolado de infecções humanas e mastite caprina (VANDERNESCH et al. 1995), identificar S. aureus subespécie anaerobius isolados de infecções em rebanhos caprinos (SZALÚS-JORDANOW et al. 2013), tipificar Staphylococcus aureus resistentes a meticilina (MRSA) em mastite caprina (ARAS et al. 2012) ou mesmo avaliar comparativamente Staphylococcus aureus envolvidos na mastite caprina, bovina e ovina (MORK et al. 2005), Dentre os métodos de genotipagem, a REP-PCR com iniciadores RW3A tem sido utilizada com sucesso em investigações epidemiológicas de Staphylococcus aureus e S. coagulase negativos com diferentes propóstitos, representando alternativa mais eficiente e de menor custo em relação a outros métodos genotípicos e fenotípicos de tipificação. Portanto, esse estudo objetivou investigar a similaridade genética de Staphylococcus spp. isolados de diferentes pontos durante o beneficiamento de leite caprino em usinas da região do Cariri Paraibano. De acordo com nosso conhecimento, esse é o primeiro estudo para caracterização genotípica de 5 Staphylococcus em sistemas de produção de leite de cabra. utilizando Rep-PCR com RW3A. 2. Material e métodos 2.1 Coleta de amostras Foi realizado um estudo longitudinal em três mini usinas de beneficiamento de leite de cabra localizadas nas cidades de Monteiro, Cabaceiras e Sumé, todas na região do cariri da Paraiba. As amostras foram colhidas durante um período de 12 meses, sendo que o intervalo de colheita para cada usina foi de 15 dias. O número de colheitas em cada uma das usinas foram 16, 14 e 5 nas usinas de Monteiro, Cabaceiras e Sumé, respectivamente. Amostras de leite de conjunto in natura (35), leite pasteurizado (35), swabs de superfície do tanque de recepção de leite (35), tanque de expansão (35), tanque pulmão (35) e mãos dos manipuladores (35) foram adquiridas e transportadas em caixa isotérmica com gelo ao Laboratório de Avaliação de Produtos de Origem Animal, do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba UFPB/CCA. Para a coleta do leite, foram utilizados frascos de vidro estéreis e swabs em meio semi-sólido Stuart (COPAN, Itália) para amostragem das mãos de manipuladores. Nas superfícies dos equipamentos e paredes, foram utilizadas esponjas de celulose previamente hidratadas com 10 mL de caldo Letheen e polisorbato 80 e armazenadas em embalagens plásticas estéreis (Whirl-Pak, Nasco, U.S.A). As amostras de equipamentos, ambiente e mão dos manipuladores foram colhidades antes do início processo de beneficiamento e posteriormente aos procedimentos de limpeza e desisfecção rotineiramente empregados em cada uma das usinas. 2.2 Isolamento de Staphylococcus spp. As amostras de leite foram diluídas em tubos de 9mL de solução de Ringer (2,25g/mL de NacL;0,105g/mL de KCl; 0,12g/mL de CaCl; 0,05g/mL de bicarbonato). As diluições seriadas foram semeadas sobre a superfície do ágar Baird-Parker 6 (Himedia, Índia) e incubadas a 35°C por 24 - 48 horas de acordo com recomendações de BENETTE E LANCETTE, (2001). A presença ou ausência de Staphylococcus spp. foi avaliada pelas características das colônias. As colônias com coloração negra ou cinza, bordas lisas e côncavas, com bordas lisas ou irregulares, formadoras de halo ou não foram repicadas em ágar infuso cérebro coração (BHI, Difco, U. S. A) e incubadas a 37ºC por 24 horas. Após incubação, as colônias foram submetidas aos testes de coloração de Gram, catalase e coagulase. Os swabs das mãos foram semeados diretamente sobre a superfície do ágar Baird Parker. As soluções utilizadas para umidificar as espojam de celulose foram semeadas em estrias na superfície do ágar Baird-Parker. As condições de incubação e a identificação das colônias obtidas da superfície de equipamentos foram realizadas conforme descrito para as amostras de leite. 2.3 Extração de DNA genômico Staphylococcus spp. isolados de leite cru (41), leite pasteurizado (19), tanque de expansão (4), tanque pulmão (3) e mãos de manipuladores (11) foram selecionados para a genotipagem de acordo com o resultado do teste de coagulase e o ponto de origem, totalizando 79 isolados. O DNA bacteriano foi extraído a partir de uma alíquota de 1,5 mL do cultivo bacteriano preparado em caldo triptona de soja (TSB, Himedia, Índia) suplementado com 0,06% de extrato de levedura (Himedia, Índia), incubado por 18-24 horas. O kit NucleoSpin Tissue (Macherey-Nagel, Alemanha) foi utilizado com lisozima (Research Organics, U. S. A) na concentração de 20 mg/mL de acordo com as recomendações do fabricante. A quantidade e qualidade do DNA foram avaliadas em espectrofotômetro plus (Eppendorf, Alemanha) e o DNA diluído para uma concentração final de 50 ng/ µL. 2.4 Genotipagem por REP-PCR Cada reação de PCR foi preparada pela mistura de tampão 1x concentrado, 3mM de MgCl2, 1µM do primer RW3A (E-OLIGOS), 0,2 µM de DNTP, 2U de taq polimerase (LGC bio) e 130ng de DNA em um volume final de 25µL. A cepa 7 Staphylococcus aureus ATTCC 25923 foi utilizada como controle positivo das reações. As condições de reação e amplificação foram utilizadas de acordo com VAN DER ZEE et al. (1999) com modificações. A amplificação foi realizada em termociclador TC-3000 (TECHNE TC3000, Reino Unido) programado para uma desnaturação inicial de 94ºC por 3 minutos seguidos por 30 ciclos com 94ºC por 1 minuto, 50ºC por 1 minuto e 72ºC por 2 minutos. Uma extensão final foi realizada a 72ºC por 5 minutos. A eletroforese foi realizada a 70V em tampão TAE 1x concentrado (LGCBiotecnologia, Brasil). Um volume de 10 µL de cada amplificado foi aplicado nos poços do gel. Antes da aplicação, o amplificado foi misturado a 2 µL do tampão de carreamento da amostra (4g de glicose;0,025g de azul de bromofenol; 0,025g de xileno de cianol; 10ml de água deionizada autoclavada). Marcadores moleculares de 100pb e 1kb (LGC biotecnologia) foram inseridos nas extremidades dos géis preparados com agarose 1,5% (LGCbiotecnologia) diluída em tampão TAE 1x concentrado. A coloração dos géis foi realizada por 30 minutos em agitação mecânica utilizando se produto comercial (Gel red, Biotium) 3X concentrado, de acordo com as recomendações do fabricante. A presença e a ausência de bandas foram utilizadas como critério para avaliar a similaridade entre Staphylococcus spp. e gerar uma matriz de similaridade utilizandos-e programa comercial (BioNumerics versão 7.1, Applied Maths, Belgium). O coeficiente de similaridade de Dice a 2% foi utilizado para gerar a matriz de similaridade e o agrupamento obtido pelo método de UPGMA (Unweighted Pair Group Method, Arithmetic Mean). Um grupo controle de perfis genotípicos de Staphylococcus spp. de origem humana e de um isolado de swab nasal de suíno foram inseridos junto as amostras no dendrograma. 2.5 Multilocus sequence typing (MLST) Dentre os coagulase positivos, alguns isolados foram aleatoriamente selecionados (n=10) e submetidos à caracterização por MLST, realizado junto ao 8 Laboratório de Doenças Infecciosas e Epidemiologia Molecular (IDMEL) da Universidade do Estado de Ohio (OSU), Estados Unidos. Fragmentos especificos de 7 genes housekeeping (400-450pb) arcC, aroE, glp, gmk, pta, tip e yqiL foram amplificados e sequenciadas. Perfis alélicos e sequências genotípicas foram comparados com outros perfis genéticos disponíveis em uma base de dados disponível em http://saureus.mlst.net. 3. Análise dos dados O poder discriminatório do método foi calculado conforme descrito por HUNTER E GASTON, (1998) pela equação abaixo: Em que: D = Índice discriminatório, N = O número total de isolados , S = O numero total de genótipos descritos e Nj = O número total de isolados pertencentes ao genótipo j 4. Resultados e Discussão O elevado poder discriminatório (valor D=0,99) indicou eficiência do método REP-PCR na tipificação de Staphylococcus coagulase positivos em usinas de beneficiamento de leite. A Figura 1 mostra o dendrograma gerado pelo método UPGMA a partir de Staphylococcus coagulase positivos isolado em amostras de leite de cabra cru e pasteurizado, equipamentos e mão de manipulador das usinas de Monteiro, Sumé e Cabaceiras no Cariri Paraibano. Considerando o coeficiente de similaridade de 70%, observaram-se cinco agrupamentos (clusters I a V). Os clusters I, II, e III apresentaram isolados similares de diferentes pontos e diferentes usinas. Em cada um dos clusters foi identificado pelo menos um isolado da mão de manipulador com perfil genético similar a isolados de leite cru. O fato dos isolados obtidos da mão dos manipuladores terem apresentado maior similaridade genética com isolados de origem láctea do que os isolados de casos clínicos humanos (cluster IV) indicam que os manipuladores podem atuar na contaminação cruzada de Staphylococcus em usinas de leite caprino. 9 A análise desses clusters permite ainda identificar isolados similares obtidos do leite cru e do tanque pós-pasteurização (isolados NS8 e P3S8, cluster II) ou mesmo de leite cru e leite pasteurizado (isolados NS4 e PS9, cluster III e isolados CPM04 e CCM04, cluster V). Apesar de não haver menção de níveis de contaminação do leite caprino pasteurizado por Staphylococcus coagulase positivos na legislação brasileira (IN 37, MAPA), a presença dessas bactérias é indesejada e os resultados indicam a existência de falhas no processo de pasteurização e problemas de recontaminação dos equipamentos, de natureza residual ou cruzada, causada pelos manipuladores. O cluster IV foi composto exclusivamente por isolados controle (outgrouping), de infecções em humanos e um isolado de origem suína. Não foi detectada qualquer indicação de relação clonal entre isolados clínicos humanos com isolados do leite, dos manipuladores ou ambiente das usinas. O cluster V foi formado por isolados de leite cru e pasteurizado apenas, mesmo que originados de municípios distintos. Esses resultados são interessantes, pois grupo apresentou-se bastante distante geneticamente de isolados das mesmas usinas identificados nos clusters I, II e III. De acordo com os resultados do multiloccus sequence typing (MLST), quatro isolados de leite cru (NS9 e CC2a) e leite pasteurizado (PS09), identificados como S. aureus, foram confirmados como ST133. Esse sequence typing está associado a animais ungulados e ainda não foi descrito em casos de infeções em humanos. De acordo com Smith et al. (2009), algumas linhagens de Staphylococcus aureus associadas a ruminantes podem ter sua origem genética em divergências ocorridas a partir de linhagens associadas a humanos, incluindo a linhagem ST 133 adaptadas a animais ruminantes como bovinos, caprinos e ovinos. Em relação aos isolados coagulase negativos (Figura 2), houve menor similaridade genética entre os mesmos, ou seja, o dendograma apresentou um número maior de genótipos distantes geneticamente. O poder discriminatório da Rep-PCR para Staphylococcus coagulase negativos foi elevado (valor D= 0,99) e, assim como ocorrido para S. coagulase positivos, pode ser utilizado com sucesso em estudos epidemiologicos envolvendo isolados coagulase negativos. Isso é esperado, uma vez que existe maior variabilidade fenotípica entre isolados coagulase negativos. Muitos isolados apresentaram perfil genotípico único 10 utilizando-se coeficiente de similaridade de 70%. Foram identicados 13 clusters e tendência de formação de agrupamentos por origem das amostras, ou seja, três clusters apresentaram isolados de uma única localidade. Nesses clusters, identificou-se isolados similares geneticamente oriundos de amostras diferentes, o que sugere possíveis vias de contaminação microbiológica. Assim como ocorrido no caso dos isolados coagulase positivos, similaridade genética foi observada entre amostras de mão de manipulador e leite cru (isolados P6S2 e NS8, cluster III; P7S9 e CS22, cluster V), mão de manipulador e leite pasteurizado (P6M11 e PM11, cluster IV), mão de manipulador e tanque de recepção de leite (P2M3 e P8M3 cluster VI). Esses achados confirmam a possibilidade de circulação de Staphylococcus coagulase negativos entre diferentes pontos no beneficiamento do leite de cabra. Ressalta-se a importância do manipulador nos ciclos de contaminação por Staphylococcus em usinas. Manipuladores são fontes em potencial de contaminação de alimentos por terem as superfícies da pele, garganta e narinas colonizadas por Staphylococcus aureus. Ao contrário do que observado para Staphylococcus coagulase positivos, ocorreu menor similaridade entre isolados de leite cru e leite pasteurizado. Nesse sentido, a presença de Staphylococcus em leite pasteurizado parece estar relacionada principalmente à contaminação residual dos equipamentos e à contaminação cruzada pelo manipulador. Os Staphylococcus coagulase negativos são microrganismos comuns no leite caprino pois além de serem ubíquos e colonizarem o teto de cabras sadias (KOOP ET AL. 2012a), são também os principais causadores de mastite nessa espécie (KOOP ET AL. 2012b). O consumo de leite de cabra contaminado por Staphylococcus pode representar um risco para a saúde dos consumidores, pois muitos isolados tem a capacidade de produzir enterotoxinas termoresistentes, leucocidinas, hemolisinas e toxina da síndrome do choque tóxico (SPANU ET AL. 2013). Há uma carência de estudos sobre a caracterização de Staphylococcus no leite caprino e em seu sistema de produção, tornando difícil avaliar o real impacto em saúde pública da contaminação do leite de cabra por esses microrganismos. Sabe-se, no entanto, que Staphylococccus coagulase negativos isolados de leite caprino também são capazes de produzir enterotoxinas (LYRA et al. 2013), justificando a necessidade de maiores 11 investigações sobre o tema. Os resultados apresentados nesse estudo sugerem que a contaminação do leite caprino por S. aureus e espécies coagulase negativas pode estar associadas a práticas higiênicas inadequadas ou pasteurização ineficiente. 12 100 90 80 70 60 50 REP-PCR 40 30 REP-PCR I 72.7 47.2 II 81.8 61.8 90.2 79.4 96.0 77.2 58.6 94.2 88.3 34.5 84.9 72.9 91.7 70.5 90.0 III 56.3 82.4 AMOSTRA ORIGEM TIPO DE AMOSTRA CM36b Monteiro leite cru P6M3 Monteiro swab de mão Secreção de pele (Humano) S. haemolyticus NS8 Sumé leite cru P3S8 Sumé tanque pulmão P8S2 Sumé swab de mão CC1 cabaceiras leite cru CC2a cabaceiras leite cru CC10 cabaceiras leite cru NS9 Sumé leite cru NS9 Sumé leite cru NM10 Monteiro leite cru NS8 Sumé leite cru NS4 Sumé leite cru PS9 Sumé leite pasteurizado NS4 Sumé leite cru P6M3 Monteiro swab de mão CCC03 cabaceiras leite cru CCC03 cabaceiras leite cru NM11 Monteiro leite cru ATTCC25923 ATCC 25923 66.6 85.7 Orofaringe (Humano) S. auricularis Lesão de pele (Humano) S. aureus (b) Lesão de pele (Humano) S. aureus (a) Orofaringe (Humano) S. saprophyticus Nasal suíno Staphylococcus spp. PS03 Sumé leite pasteurizado PS03 Sumé leite pasteurizado PS03 Sumé leite pasteurizado NM12 Monteiro leite cru NM12 Monteiro leite cru NS03 Sumé leite cru NS03 Sumé leite cru NM11 Monteiro leite cru NM11 Monteiro leite cru CPM04 Monteiro leite pasteurizado CPM04 Monteiro leite pasteurizado CCM04 Monteiro leite cru NS03 Sumé leite cru CM30 Monteiro leite cru 76.9 IV 73.5 66.7 29.1 ATCC 25923 Infecção nosocomial (Humano) S. aureus (c) 47.3 83.3 77.9 90.9 76.0 89.5 80.8 73.7 V 86.7 Figura 1. Dendrograma gerado a partir da análise de perfis moleculares obtidos por REP-PCR em Staphylococcus coagulase positivos isolados de leite cru e pasteurizado, mão de manipulador e equipamento de usinas de beneficiamento de leite de cabra em Monteiro, Sumé e Cabaceiras 13 100 90 80 70 60 REP-PCR 50 40 REP-PCR 88.9 I 83.3 66.7 AMOSTRA ORIGEM TIPO DE AMOSTRA P3S10 Sumé tanque de pulmão P6S4 Sumé leite pasteurizado P3S10 Sumé tanque pulmão p6s4 Sumé mão de manipulador Infecção nosocomial (Humano) S. aureus (c) Orofaringe (Humano) S. auricularis Lesão de pele (Humano) S. aureus (a) Lesão de pele (Humano) S. aureus (b) NS8 Sumé leite cru P6S2 Sumé swab de mão NM3 Monteiro leite cru ATTCC25923 ATCC 25923 ATCC 25923 PM11 Monteiro leite pasteurizado P6M11 Monteiro swab de mão P6M11 Monteiro swab de mão PM11 Monteiro leite pasteurizado PM12 Monteiro leite pasteurizado P7S9 Sumé swab de mão P7S9 Sumé swab de mão CS22 Sumé leite cru NS2 Sumé leite cru P2M3 Monteiro tanque de expansão P8M3 Monteiro swab de mão CCC03 cabaceiras leite cru CPC03 cabaceiras leite pasteurizado CC8 cabaceiras leite cru NS9 Sumé leite cru Nasal suíno Staphylococcus spp. Monteiro swab de mão Orofaringe (Humano) S. saprophyticus PS4 Sumé leite pasteurizado CM29 Monteiro leite cru CC6 cabaceiras leite cru CCC02 cabaceiras leite cru CC7 cabaceiras leite cru P8S4 Sumé leite pasteurizado CM35 Monteiro leite cru CM36a Monteiro leite cru CC2b cabaceiras leite cru CPC03 cabaceiras leite pasteurizado P2M3 Monteiro tanque de expansão P2S9 Sumé tanque de expansão P2S9 Sumé tanque de expansão PM10 Monteiro leite pasteurizado PM10 Monteiro leite pasteurizado CPC02 cabaceiras leite pasteurizado CS23 Sumé leite cru NM3 Monteiro leite cru PS08 Sumé leite pasteurizado CCC02 cabaceiras leite cru CPC02 cabaceiras leite pasteurizado CS29 Monteiro leite cru Secreção de pele (Humano) S. haemolyticus 57.5 85.7 76.9 II 73.5 91.7 87.1 III 79.8 70.2 66.1 55.5 IV 84.2 64.2 62.9 93.3 85.2 V 69.0 94.1 60.9 85.6 VI 88.9 46.4 75.3 VII 69.3 VIII 77.8 77.8 IX 73.2 62.3 58.2 X 83.3 67.0 42.7 90.9 XI 84.5 P8M3 56.2 85.7 83.3 XII 38.5 71.4 88.9 33.1 66.7 64.9 66.7 XIII Figura 1. Dendrograma gerado a partir da análise de perfis moleculares obtidos por REP-PCR em Staphylococcus coagulase negativo isolado de leite cru e pasteurizado, mão de manipulador e equipamento de usinas de beneficiamento de leite de cabra em Monteiro, Sumé e Cabaceiras 14 5. Conclusões A manipulação do leite e a contaminação residual em equipamentos são importantes vias de contaminação do leite de cabra. A genotipagem por Rep-PCR e a presença de Staphylococcus aureus ST 133 no leite de cabra cru e pasteurizado indicam que a contaminação do leite de cabra por Staphylococcus spp.está associada primariamente a microrganismos de origem de origem láctea caprina. A presença de isolados geneticamente similares de leite cru e leite pasteurizado pode indicar falhas no processo de pasteurização. 6. Referências bibliográficas ARAS, Z.; AYDIN, I.; KAV, K. Isolation of methicillin-resistant Staphylococcus aureus from caprine mastitis cases. Small Ruminant Research, v. 102, n. 1, p. 68–73, 2012. HUNTER, P. R.; GASTON, M. A. Numerical index of the discriminatory ability of typing systems: an application of Simpson’s index of diversity. Journal of Clinical Microbiology, v. 26, n. 11, p. 2465–2466, 1988. BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária. Regulamento Técnico de Produção, Identidade e Qualidade do Leite de Cabra. Instrução Normativa nº 37. Brasília, 2000. JØRGENSEN, H. J. et al. Genetic variation among Staphylococcus aureus strains from Norwegian bulk milk. Applied and Environmental Microbiology, v. 71, n. 12, p. 8352–8361, 2005. KOOP, G. et al. Identification of coagulase-negative staphylococcus species from goat milk with the API Staph identification test and with transfer RNA-intergenic spacer PCR combined with capillary electrophoresis. Journal of Dairy Science, v. 95, n. 12, p. 7200–7205, 2012. KOOP, G. et al. Differences between coagulase-negative Staphylococcus species in persistence and in effect on somatic cell count and milk yield in dairy goats. Journal of Dairy Science, v. 95, n. 9, p. 5075–5084, 2012. LYRA, D. G. et al. Enterotoxin-encoding genes in Staphylococcus spp. from bulk goat milk. Foodborne Pathogens and Disease, v. 10, n. 2, p. 126–130, 2013. 15 MØRK, T. et al. Comparison of Staphylococcus aureus genotypes recovered from cases of bovine, ovine, and caprine mastitis. Journal of Clinical Microbiology, v. 43, n. 8, p. 3979–3984, 2005. BENNETT, R. W.; LANCETTE, G. A. Laboratory Methods - BAM: Staphylococcus aureus. WebContent. Disponível em: <http://www.fda.gov/Food/FoodScienceResearch/LaboratoryMethods/ucm071429.ht m>. Acesso em: 10 out. 2013. SMYTH, D. S. et al. Molecular genetic typing reveals further insights into the diversity of animal-associated Staphylococcus aureus. Journal of Medical Microbiology, v. 58, n. 10, p. 1343–1353, 2009. SPANU et al. Population structure of Staphylococcus aureus isolated from bulk tank goat’s milk. Food Pathogens and Disease, v. 10, n. 4, p. 310-315, 2013. SZALUŚ-JORDANOW, O. et al. PFGE and AFLP genotyping of Staphylococcus aureus subsp. anaerobius isolated from goats with Morel’s disease. Archives of Microbiology, v. 195, n. 1, p. 37–41, 2013. VAN DER ZEE, A. et al. Molecular genotyping of Staphylococcus aureus strains: comparison of repetitive element sequence-based PCR with various typing methods and isolation of a novel epidemicity marker. Journal of Clinical Microbiology, v. 37, n. 2, p. 342–349, 1999. VANDENESCH, F. et al. Identification and ribotypes of Staphylococcus caprae isolates isolated as human pathogens and from goat milk. Journal of Clinical Microbiology, v. 33, n. 4, p. 888–892, 1995. 16 Capitulo II Similaridade genética, genes enterotoxigênicos e produção de biofilme em Staphylococcus spp. multiresistentes isolados de queijo caprino Similaridade genética, genes enterotoxigênicos e produção de biofilme em Staphylococcus spp. multiresistentes isolados de queijo de leite de cabra RESUMO A emergencia de patógenos resistentes a antimicrobianos em alimentos tem despertado interesse da comunidade científica internacional, pois as causas desse fenômeno ainda são desconhecidas. O objetivo desse estudo foi avaliar a similaridade genética e identificar a capacidade de produção de biofime e enterotoxinas em Staphylococcus spp. isolados de queijo coalho produzido com leite de cabra cru e pasteurizado em diferentes queijarias nos estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. A resistência antimicrobiana pelo de método Kirby-Bauer identificou 43 fenótipos de resistência distribuídos entre Staphylococcus coagulase positiva (12) e Staphylococcus coagulase negativos (65) isolados de queijo fabricado com leite de cabra. Os resultados demonstraram níveis elevados de resistência antimicrobiana, principalmente a β- lactâmicos, em Staphylococcus isolados de queijo coalho fabricados a partir de leite de cabra, cru e pasteurizado, em queijarias do Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba. Não foi identificado MRSA dentre os isolados e a freqência de genes enterotoxigênicos foi bastante baixa, sendo identificados apenas os genes seg e sei em Staphylococcus coagulase positivo. Os isolados apresentaram baixo potencial de produção de biofilme quando avaliados por três métodos distintos. A elevada similaridade genética e de perfil de resistência observadas entre isolados de áreas geográficas diferentes pode indicar a existência de linhagens associadas ao leite de origem caprina. Dessa forma, a elevada resistência a antimicrobianos observada no Estudo sugere a necessidade de investigação de fatores associados a produção do leite. Palavras-chave: antimicrobiano, fingerprinting, qualidade de leite e segurança alimentar 18 ABSTRACT The emergence of antimicrobial-resistant pathogens in foods has aroused the interest of the international scientific community, because the causes of this phenomenon are still unknown. The aim of this study was to evaluate the genetic similarity and identify the capacity of biofime e enterotoxins in Staphylococcus spp. isolated from curd cheese produced with raw goat milk and pasteurized at different dairies in the states of Ceará, Paraíba and Rio Grande do Norte. Antimicrobial resistance by Kirby - Bauer method identified 43 resistance phenotypes distributed among coagulase-positive staphylococci (12) and coagulase-negative Staphylococcus (65) isolated from cheese made from goat milk. The results showed high levels of antimicrobial resistance , especially β - lactam antibiotics in Staphylococcus aureus isolates from curd cheese made from goat milk, raw and pasteurized dairy products in the Rio Grande do Norte, Ceará and Paraíba. MRSA was not identified among the isolates and the frequency of enterotoxigenic genes was very low, being only identified genes sec and sei know in Staphylococcus coagulase positive. Isolates showed low potential for biofilm production when assessed by three different methods. The high genetic similarity and resistance profile observed among isolates from different geographical areas may indicate the existence of strains associated with caprine milk. Thus, the high antimicrobial resistance observed in the study suggests the need for research on factors associated with milk production Keywords: antimicrobial, fingerprinting, milk quality e food safety 19 1. Introdução A emergência de bactérias resistentes a antimicrobianos em sistemas de produção de alimentos tem gerado grande preocupação, mas pouco se conhece sobre o perfil de resistência antimicrobiana em Staphylococcus presentes em produtos lácteos. Staphylococcus aureus estão entre os principais microrganismos responsáveis por infecções causadas pelo consumo de alimentos, principalmente leite e seus derivados. O grande temor é de que o consumo de alimentos contendo patógenos resistentes possa limitar opções de tratamento em caso de infecções humanas ou mesmo que ocorra disseminação de genes de resistência entre microrganismos de diferentes gêneros. Recentemente, o envolvimento de Staphylococcus spp. resistentes à meticilina em alimentos em surtos de doenças de origem alimentar (CRAGO et al 2012) demonstra a necessidade de caracterização de Staphylococcus em sistemas de produção de alimentos. A importância dos Staphylococcus está associada à capacidade de alguns isolados produzirem enterotoxinas (LYRA et al. 2013; AKINEDEN et al. 2008; MORANDI et al. 2007; CREMOSI et al. 2006). Enterotoxinas estafilocócicas produzidas por Staphylococcus aureus são toxinas com atividade superantigênica apontadas como a causa mais comum de intoxicação alimentar no mundo (ARGUDIN et al. 2010; KÉROUANTON et al. 2007; CHENG CHIANG et al. 2008). Embora a produção de genes enterotoxigenicos em Staphylococcus spp. seja determinante para intoxicação estafilocócia de origem alimentar, outros fatores de patogenicidade podem ter um papel chave e contribuírem decisivamente na ocorrência de Staphylococcus spp. em derivados lácteos e no risco desses microrganismos causarem agravo à saúde Nesse contexto, a produção de biofilme tem sido associada à capacidade de manutenção de Staphylococcus no ambiente de produção e resistência a desinfetantes e agentes antimicrobianos (STEWART E COSTERTON, 2001; SIMÕES et al. 2010). O biofilme é uma estrutura formada em superfícies de equipamentos pela produção de diversas proteínas da classe das adesinas, incluindo a adesina polissacaridica intercelular (PIA), codificada pelo operon ica. Uma questão chave, que necessita ser melhor compreendida é se a resistência de Staphylococcus em biofilme deve-se primariamente a menor penetração da droga no 20 biofilme, em função de uma fator de proteção mecânico, ou se há maior resistência de Staphylococcus associados aos biofilmes. Há uma carência de informações sobre fatores de patogenicidade associados a Staphylococcus resistentes a antimicrobianos em leite e derivados lácteos de origem caprina. Portanto, o objetivo desse estudo foi avaliar a similaridade genética e identificar a capacidade de produção de biofime e e enterotoxinas em Staphylococcus spp. isolados de queijo coalho produzido com leite de cabra cru e pasteurizado em diferentes queijarias nos estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte 2. Material e métodos 2.1 Isolamento de Staphylococcus spp. Staphylococcus spp. (n =81) obtidos a partir de 43 queijos coalho fabricados com leite de cabra cru e pasteurizados foram selecionados no banco de microrganismos do laboratório de Avaliação de Produtos de Origem Animal CCA/UFPB para avaliação do perfil de resistência fenotípica antimicrobiana. Os queijos fabricados com leite cru (28) e pasteurizados (15) foram obtidos em três, uma e cinco queijarias nos estados do Ceará, Paraíba e Rio grande do Norte, respectivamente. Entre todas as queijarias, uma de cada estado produziu queijos fabricados com leite pasteurizado. As amostras cedidas por laticínios foram obtidas embaladas a vácuo enquanto que as amostras de queijos fabricados com leite cru foram doadas pelos fabricantes, envolvida em papel alumínio ou plástico filme. Inicialmente, diluições seriadas do queijo foram preparadas em água peptonada a 0,1% a partir de uma diluição inicial composta pela mistura de uma alíquota de 25 gramas da amostra em 225 mL de água peptonada a 1% e homogeneizada em Stomacher (Marconi, Brasil) durante 60 segundos. O isolamento de Staphylococcus spp. foi realizado em ágar Baird Parker (Himedia, Índia) suplementado com telurito e gema de ovo, de acordo com as recomendações de BENNETT E LANCETTE, (2001). A partir de cada diluição uma aliquota de 0,01 mL foi espalhada na superfície do ágar e as placas incubadas por 48 horas a 37ºC em estufa bacteriológica. 21 As colônias com coloração negra ou cinza, bordas lisas, providas ou não de halo foram semeadas em ágar triptona de soja suplementado com 0,06% de extrato de levedura (TSAYE, Himedia, Índia) e posteriormente a incubação durante 18-24 horas a 37ºC. Colônias com características de Staphylococcus spp. foram submetidas aos testes de gram, catalase e coagulase. 2.2 Avaliação da susceptibilidade antimicrobiana O teste de sensibilidade in vitro a antimicrobianos foi realizado pela técnica de difusão em disco descrita por Kirby-Bauer. As colônias foram semeadas em ágar triptona de soja com extrato de levedura (TSAYE) e incubadas a 37ºC por 24 horas para a obtenção de colônias isoladas. A quantidade de células inoculadas no ágar Mueller Hinton foi ajustada com a diluição de 2 a 3 colônias em 2 mL de solução salina a 0,85% e a turbidez ajustada para a concentração de 1,5 x 108 UFC/mL que corresponde a 0,5 na escala de Mc Farland. A suspensão bacteriana foi espalhada em todas as extensões na superfície do ágar Mueller-Hinton com um swab estéril. Para o antibiograma foram utilizados antimicrobianos (CECON, Brasil) recomendados pelo Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI, 2012) para testes de susceptibilidade antimicrobiana em Staphylococcus spp., representados pela Oxacilina (1µg), Penicilina G (10 UI), Sulfazotrim (25 µg), Tetraciclina (30 µg), Norfloxacina (10 µg), Gentamicina (10 µg), Eritromicina (15 µg), Clorofenicol (30 µg), Amicacina (30 µg), Ampicilina (10 µg), Cefalotina (30 µg) e Clindamicina (2 µg). A cepa ATTCC (25923) de Staphylococcus aureus foi utilizada como controle positivo. Os discos de antibióticos foram retirados para uso trinta minutos antes do uso e distribuídos nas placas 5 minutos após o inoculo. As zonas de inibição em torno de cada disco foram aferidas com paquímetro digital após 18-24 horas de incubação a 37ºC. Os dados de resistência foram interpretados de acordo com as recomendações do fabricante dos discos de antibiograma e CLSI, (2012). De acordo com o resultado do antibiograma, resultado do teste de coagulase e a origem do isolado, 32 Staphylococcus spp. foram selecionados para a detecção 22 da produção de biofilme em ágar vermelho congo, aderência em microplacas de poliestireno, pesquisa dos gene ica-D, mec-A, fem-A, blaZ, sea, seb, sec, sed, see, seg, sei e seh. Os mesmos isolados foram submetidos a REP-PCR com o primer RW3A. 2.3 Produção fenotípica de biofilme 2.3.1 Determinação da produção de biofilme em ágar Congo Red Os isolados foram semeados na superfície do ágar vermelho congo (1L de caldo BHI, 0,8g de corante vermelho congo e 36 gramas de sacarose) pela técnica de esgotamento em estria e incubados a 35ºC por 24horas, de acordo com a metodologia descrita por FREEMAN et al. (1989). A cepa de Staphylococcus aureus 25923 foi utilizada como controle positivo e a leitura das placas realizada após 24 horas de incubação em estufa bacteriológica. As características das colônias foram avaliadas ainda, após 48 e 72 horas de incubação a temperatura ambiente. Uma escala de três cores foi adotada para a interpretação da coloração das colônias em ágar vermelho congo: vermelho, bordo e preto. As colônias de coloração negras e rugosas produzidas por Staphylococcus spp. foram consideradas como produtores de biofilme e como não produtoras as colônias avermelhadas. 2.3.2 Determinação de biofilme em microplaca O estudo de biofilme em microplaca foi realizado de acordo com CHRESTENSEN et al. (1985). Staphylococcus spp. foi cultivado no ágar triptona de soja suplementado com 0,06% de extrato de levedura (TSAYE) e incubados a 37ºC por 18-24h. Em seguida, uma suspensão bacteriana foi preparada em solução salina a 0.85% a partir de 2 a 3 colônias isoladas e o ajuste da quantidade de células realizado em aparelho Turbidimetro para a concentração de 0.5 na escala de McFarland (1,5 x 108 UFC/mL). Um volume de 20µL de cada suspensão bacteriana foi distribuído em seis poços de uma microplaca de 96 poços de poliestireno, previamente preenchida com 180 µL de caldo triptona de soja suplementado com 1% de glicose. Após incubação por 18h a 37ºC, as células não aderentes foram removidas cuidadosamente dos 23 poços e a placa submetida a três lavagens sucessivas com 200 µL de solução salina. A fixação da massa aderente foi realizada com 150 µL de metanol em temperatura ambiente por 30 minutos. Após o descarte do metanol, as placas foram invertidas sobre papel aderente por aproximadamente 30 minutos e submetidos à coloração com 150 µL de cristal violeta a 1% por 1 minuto. Em seguida, as placas foram lavadas em água destilada e secas a temperatura ambiente por 30 minutos. A absorbância foi determinada a 450nm em leitor de placas (Bio-rad, Brasil). Poços contendo apenas caldo TSB com glicose foram utilizados como controle negativo do teste. O teste foi repetido nas mesmas condições em outro espaço de tempo não relacionado. As colônias foram consideradas como produtoras de biofilme no teste de microplacas de acordo com os pontos de corte estabelecidos pelo cálculo da ODC (média do caldo não inoculado + 3x o desvio padrão do controle positivo – ATTCC 25923) e da OD (média da massa produzida por cada isolado – ODC), ambos os valores obtidos conforme (Stepanovic et al. 2007). Desta forma, quando a OD 450 ≤ 0,05= não produtor; (0,05˂OD450≤0,1) = fraco produtor; (0,1˂OD450≤0,2)= produtor moderado; (0,2˂OD450)=forte produtor. 2.4 Extração de DNA genômico O DNA dos isolados de Staphylococcus spp. foi extraído pelo método de Fenol: Clorofórmio: Álcool isoamílico, descrito por FRITSCH et al. (1989). Staphylococcus spp. semeados em caldo triptona de soja suplementado com 0,06% de extrato de levedura, incubados sob agitação por 18-24 horas foram utilizados na fase inicial da extração. Uma alíquota de 1,5 mL de caldo foi centrifugada por 15 minutos, a 4ºC. O sobrenadante foi descartado e a massa de células bacterianas no fundo do tubo foi diluída em 500 µL tampão TE 10:1, 10 µL de lisozima (Research Organics, U. S. A) na concentração de 10mg/ml e 10 µL de proteinase K a 5mg/ml. A solução foi submetida à temperatura de 60ºC em agitação mecânica durante um período overnight. Em seguida, 100 µL do Tampão STE (2,5% de SDS; 10mM Tris-HcL, pH 8,0; 0,25M de EDTA) foram adicionados ao tampão de lise. A solução foi novamente 24 incubada por 15 minutos nas condições anteriormente relatadas. Decorrido o tempo, a solução foi incubada a temperatura ambiente por 5 minutos e depois por 5 minutos no gelo. A reação foi neutralizada com 130 µL de acetato de amônio a 7,5M e mantida no gelo por 15 minutos. Após este período as amostras foram centrifugadas por 8 minutos e aproximadamente 400 µL do sobrenadante foi transferido para outro tubo. O sobrenadante foi misturado com igual volume de fenol:clorofórmio:álcool isoamílico 25:24:1 (LGC biotecnologia, Brasil) e centrifugado por 5 minutos. Aproximadamente 400 µL de sobrenadante contendo o DNA foram transferidos para um novo microtubo. O DNA foi precipitado com 420 µL de etanol absoluto a -20ºC por 24 horas. A solução foi centrifugada, o sobrenadante foi descartado e os tubos invertidos sobre uma folha de papel toalha por 30 minutos. Após este procedimento, o DNA foi recuperado em 30 µL de água deionizada autoclavada. A quantidade e qualidade do DNA foram avaliadas em espectrofotômetro plus (Eppendorf, Alemanha) e o DNA diluído para uma concentração final de 50 ng/ µL. 2.5 Pesquisa do gene ica-D A presença do gene ica-D foi avaliada com modificações conforme ARCIOLA et al. (2001) e SZWEDA et al. (2012). A reação foi preparada por uma mistura de tampão 1x concentrado, 4mM de MgCl2, 1 U de Taq polimerase (Life, E. U. A. ), 0,2mM de DNTPs (Life, E. U. A.), 0,4µM de cada primer (Life, E. U. A.) e 100 ng de DNA em um volume final de 25 µL. A amplificação foi realizada em termociclador TC-3000 (TECHNE, Reino Unido) nas condições de desnaturação inicial de 94ºC por 4 minutos, seguidos de 30 ciclos com anelamento inicial a 94ºC/4 minutos, 56ºC/30 segundos e 72ºC/1minuto. Uma extensão final foi realizada a 72ºC por 10 minutos. 2.6 Pesquisa de genes enterotoxigênicos. As reações de PCR foram realizadas para pesquisa dos genes enterotoxigênicos sea, seb, sec, sed, see, seg, seh e sei, com os primers 25 recomendados por JOHNSON et al. (1991) e BLAIOTA et al. (2004) com modificações nas condições de reação. Para cada conjunto de reação, uma cepa padrão de Staphylococcus aureus foi utilizada como controle positivo ou negativo: ATCC 13565 (sea), ATCC 14458(seb), ATCC 19095(sec), ATCC 23235 (sed), ATCC 27664 (see), ATCC 19095 (seg) e ATCC 19095 (seh e sei). Os amplificados foram obtidos em reações de PCR com volume final de 25µL e cada reação de PCR foi preparada por uma mistura dos seguintes reagentes: tampão 1X concentrado, 2 mM de MgCl2, 200µM de cada dNTPs, 1U de Taq polimerase, 0.4µM de cada Primer e 100ng de DNA molde. A amplificação foi realizada a partir de um ciclo inicial de 95°C por 3 minutos seguidos por 30 ciclos com etapas de desnaturação a 94°C/ 60 segundos, anelamento a 50°C/60 segundos e uma extensão a 72°C/ 2 minutos. Uma extensão final foi realizada a 72ºC por 5 minutos. 2.7 Pesquisa de genes de resistência (fem A, mec A e blaZ) As mesmas condições de reação e amplificação dos genes enterotoxigênicos foram utilizadas para a pesquisa do gene fem A e o primer escolhido conforme MEHROTRA et al. (2000). A escolha do primer para pesquisa do gene mec A foi realizada conforme JONAS et al. (1999) e os amplificados obtidos conforme ADALETI et al. (2007), com modificações. A cepa padrão utilizada como controle positiva foi a Staphylococcus aureus ATTCC 25923. O termociclador obedeceu a uma programação de desnaturação inicial de 94ºC por 5 minutos seguidos por 30 ciclos com desnaturação de 94ºC/30 segundos, 53ºC/30 segundos e 72ºC/ 30 segundos. Uma extensão final de 72ºC por 10 minutos finalizou a amplificação. A escolha do primer para a pesquisa do gene blaz foi realizada conforme HANAA et al. (2011). O aparelho obedeceu a uma programação de desnaturação inicial de 94ºC por 4 minutos seguidos por 35 ciclos com desnaturação de 94ºC/60 segundos, 55ºC/60 segundos e 72ºC/60 segundos. Uma extensão final de 72ºC por 10 minutos finalizou a amplificação. 26 2.8 Genotipagem Cada reação de PCR preparada com uma mistura de tampão 1x concentrado, 3,5 mM de MgCl2, 1µM de primer RW3A, 200 µM de DNTP, 1U de taq polimerase e 100 ng de DNA em um volume final de 25µL. Staphylococcus aureus ATTCC 25923 foi utilizada como controle positiva das reações. O primer Rw3A e as condições de PCR foram utilizados conforme VAN DER ZEE et al. (1999), com modificações. A amplificação foi realizada em termociclador com uma desnaturação inicial de 94ºC por 3 minutos seguidos por 30 ciclos com 94ºC/1 minuto, 50ºC/1 minuto e 72ºC/2 minutos. Uma extensão final foi realizada a 72ºC por 5 minutos. Para todos os géis gerados nos estudos moleculares, as condições de eletroforese e coloração foram às mesmas. A eletroforese foi realizada a 70 V em tampão TAE 1x concentrado (LGCBiotecnologia, Brasil). Um volume de 10 µL de cada amplificado foi aplicado nos poços do gel. Antes da aplicação, o amplificado foi misturado a 2 µL do tampão de carreamento da amostra (4g de glicose;0,025g de azul de bromofenol; 0,025g de xileno de cianol; 10ml de água deionizada autoclavada). O tamanho dos fragmentos observados no DNA de isolados de Staphylococcus spp. foi conferido pela aplicação de marcadores moleculares de 100pb e 1kb (Amresco, Canadá) nos géis de agarose a 1,5%. A coloração dos géis foi realizada por 30 minutos em agitação mecânica utilizando se produto comercial (Gel red, Biotium) 3x concentrado, de acordo com as recomendações do fabricante. A presença e ausência de bandas foram utilizadas como critério para avaliar a similaridade entre Staphylococcus spp. e gerar uma matriz de similaridade pelo Software BioNumerics versão 7.1 da Applied Maths. O coeficiente de similaridade de Dice a 2% foi utilizado para gerar a matriz de similaridade e o agrupamento obtido pelo método de UPGMA (Unweighted Pair Group Method, Arithmetic Mean). Um grupo controle de perfis genotípicos Staphylococcus spp. não relacionados com os isolados do estudo foram inseridos junto as amostras no dendrograma. 27 O poder discriminatório do método foi calculado conforme descrito por HUNTER E GASTON, (1998) pela equação abaixo: D = Índice discriminatório N = O número total de isolados na populacional bacteriana S = O numero total de genótipos observados Nj = O número total de isolados dentro do genótipo j 3. Análise de dados A concordância entre os métodos utilizados para avaliar a produção de biofilme foi cálculado pelo índice Kappa. O índice foi interpretado de acordo com Altman (1991) como pobre (<0,2), razoável (0,21 a 0,40), moderado (0,41 a 0,60), bom (0,61 a 0,80) e muito bom (0,81 a 1). Os dados de resistência foram avaliados por estatística não-paramétrica pelo teste do qui-quadrado a 0,05% de significância pelo programa estatístico SAS versão 9.3. 4. Resultados e discussão As frequências de resistência de Staphylococcus aos antimicrobianos avaliados no presente estudo são mostradas na Tabela 1. As maiores frequências de resistência foram observadas em relação à penicilina 66 (81,5%), ampicilina 60 (74%), oxacilina 51 (63%), amicacina 36 (44,4 %), clindamicina 26 (32,1%), cefalotina 26 (32,1%), gentamicina 25 (30,8%), norfloxacina 17 (21%), eritromicina 14 (17,3 %), tetraciclina 9 (11,1%), sulfazotrim 2 (2,5%) e cloranfenicol 1 (1,2%). 28 Tabela 1. Resistência a antimicrobianos em Staphylococcus (n=81) isolado de leite cabra produzido com leite pasteurizado ou cru nos Estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Queijo Elaborado com Leite pasteurizado Queijo Elaborado com Leite cru Antimicrobiano Penicilina Ampicilina Oxacilina Amicacina Clindamicina Cefalotina Gentamicina Norfloxacina Eritromicina Tetraciclina Sulfazotrim Cloranfenicol Resistência absoluta Resistência Intermediária Resistência absoluta Resistência Intermediária 41 (83,6%) 40 (81,6%) 31 (63,2%) 23 (47%) 20 (40,8%) 16 (32,6%) 17 (34,6%) 13 (26, 5%) 10 (20%) 5 (10,2%) 0 1 (2%) 0 0 1 (2%) 4 (8,2%) 16 (32,7%) 8 (16,3%) 5 (10,2%) 16 (32,7%) 18 (36,7%) 4 (8,1%) 2 (4%) 5 (10,2%) 25 (78,1%) 20 (62,5%) 20 (62,5%) 13 (40,6%) 6 (18,7%) 10 (31,3%) 8 (25%) 4 (12,%) 4 (12,5%) 4 (12,5%) 2 (6,3%) 0 0 0 0 5 (15,6%) 8 (25%) 3 (9,4%) 9 (28,1%) 8 (25%) 17 (53,1%) 3(9,4%) 0 2 (6,3%) A Tabela 2 mostra a distribuição dos fenótipos de resistência de Staphylococcus spp. isolados de queijos de cabra produzidos com leite cru ou pasteurizado nos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará no Nordeste do Brasil. Um total de 43 fenótipos distintos foram observados. Os resultados do antibiograma pelo método de disco-difusão mostrou que 100% (49) e 90,6% (30) dos isolados de leite cru e pasteurizado foram resistentes a antimicrobianos, respectivamente. Mutiresistência, ou seja, resistência a três ou mais classes de drogas, foi identificada em 53 (64,2%) isolados, o que pode ter ocorrido inicialmente devido a hiperprodução de β-lactamases associadas a outros mecanismos de resistência, diferentes do gene blaZ . A combinação de mecanismos de resistência diferentes também explicaria uma associação positiva ocorrida entre multirresistência e a baixa frequência do gene blaZ entre os isolados (P>0,05). Os genes blaZ e fem A foram observados em apenas 3 (9,4%) e 2 (6,3 %) isolados, respectivamente. Nenhum isolado foi positivo para gene mec-A. 29 Tabela 2. Perfil de resistência a antimicrobianos em Staphylococcus spp. (n=81) isolados de queijos fabricados com leite de cabra nos Estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte Staphylococcus coagulase positiva (SCP = 15) Staphylococcus coagulase negativa (SCN= 66) Perfil fenotípico Perfil fenotípico Origem do isolado n. Leite cru Leite pasteurizado TOTAL 49 R 49 (100%) Até duas classes 0 Acima de duas classes AmiAmpCliGenOxaPen AmiAmpCflCliGenOxaPen (2) Até duas classes Eri Nor Cli (3) Pen (2) AmpPen (6) AmpNor PenNor 32 30 (90,6%) Oxa Pen (2) AmpPen AmpPenTet AmiAmpCflCliGenOxaPentetNor AmiAmpCflEriGenOxaPen AmiCflCliGenOxaPen AmiAmpCflOxaPen AmiCliGenOxaPen AmiCliCloEriTet Amp (2) AmpPen (2) OxaPen AmpOxaPen 81 75 4 8 11 Acima de duas classes AmiAmpCflCliGenOxaPenTet (2) AmiAmpCflCloGenOxaPenNor AmiAmpCflCliGenOxaPenNor AmiAmpCflGenOxaPenNor (2) AmiAmpCflCliGenOxaPen AmiAmpCliGenOxaPenNor AmiAmpCliEriOxaPenNor AmiAmpCliGenOxaPen (6) AmiAmpCflEriOxaPen (2) AmpEriOxaPenNor (3) AmpCflCliOxaPen AmpCflEriOxaPen AmiAmpCliOxaPen AmpCliEriOxaPen AmpEriPenTetNor AmiAmpCflOxaPen (2) AmiAmpCflOxaPen AmpCliOxaPen AmpCflOxaPen AmpCliTet GenOxaTet AmiAmpOxaPen AmiOxaPenNor (2) AmpCflOxaPen (3) AmpCflEriOxa AmiAmpCflCliEriOxaPen AmiAmpCliGenOxaPenTet AmiAmpCflCliEriOxaPen AmiAmpCflOxaPenSut AmiAmpGenOxaPen 30 30 Com base no perfil de resistência apresentado pelos 81 isolados analisados, 32 foram utilizados para avaliação de produção fenotípica de biofilme e investigação de genes associados à resistência (blaZ, fem A, mec A), produção de biofilme (icaD) e enterotoxinas (sea, seb, sec, sed, see, seh, sei e seg). Dos 32 isolados avaliados, 5 (15,6%) foram positivos para o teste MtP. Dos isolados positivos para MtP, apenas 1 (3,1%) apresentou o gene ica-D e 1 (3,1%) foi positivo para o método ACR. Dos 10 isolados positivos pelo método CRA, apenas um foi positivo para o gene ica-D. Esses resultados explicam o fato da concordância entre os métodos MtP e PCR-icaD ter sido considerada pobre (K=0,2) e indicam que o método CRA é bastante limitado na identificação de produção de biofilme em Staphylococcus spp. (K=0,07). O biofilme é uma estrutura complexa, composta de polissacarídeos e proteínas, cuja formação envolve a participação de diversos genes que induzem a formação de biofilme a partir de condições ambientais favoráveis (RODE et al. 2007). Os genes do operon ica estão relacionados à produção de um polissacarídeo envolvido na adesão de células bacterianas as superfícies (GOTZ, 2002). A baixa concordância entre a presença de ica-D e a produção de biofilme em microplaca sugere a existência de outros mecanismos independentes do operon ica. De fato, a produção de biofilme pode ser afetada pela disponibilidade de nutrientes (MORETRO et al. 2003) ou ainda pela atividade de genes reguladores da atividade dos genes do ica-operon (O’GARA, 2007). De acordo com SCHLEGELAVÁ et al. (2008), Staphylococcus aureus ica-operon negativo podem produzir biofilme por mecanismos ica-independentes. Dentre os 32 isolados avaliados, apenas um 1 (3,1%) foi positivo para os genes seg e sei. São escassas as informações sobre perfil enterotoxigênico de Staphylococcus spp. em queijo de leite caprino. Ressalta-se que a baixa frequencia observada pode estar associada à predominância de Staphylococcus coagulase negativos, pois alguns estudos indicam que a frequência de genes enterotoxigênicos é menor nas espécies coagulase negativas do que em Staphylococcus coagulase positivos e que a competição com outras bactérias no queijo possam suprimir o crescimento de Staphylococcus spp. enterotoxigenicos (SCHELIN et al. 2011). O isolado positivo identificado nesse estudo, com presença simultânea dos genes seg e sei, foi também positivo ao teste da coagulase e para o gene ica-D, além de demonstrar forte aderência em microplaca. Apesar de ter sido detectada associação 31 positiva (p˂0,05) entre a presença de genes enterotoxigênicos seg e sei e produção de biofilme pelos métodos MtP e ica-D, a baixa ocorrência de Staphylococcus coagulase positivos na investigação limita a discussão desses achados, uma vez que a associação significativa pode ter ocorrido apenas em função do isolado ser coagulase positivo. A importância de Staphylococcus spp. isolados em alimentos para a saúde pública está relacionada ao fato de que algumas espécies produzem fatores de virulência como o biofilme que pode proteger as células bacterianas da ação de antibióticos, proteger o patógeno de células do sistema de defesa do organismo ou facilitar a permanecia do microrganismos em ambientes (YAO et al. 2005), sobretudo em ambientes de produção e processamento de alimentos. No presente estudo, no entanto,um número reduzido de isolados resistentes a antimicrobianos apresentou genes enterotoxigênicos ou capacidade de produção de biofilme. A Figura 1 apresenta um dendrograma gerado a partir da genotipagem por RepPCR de Staphylococcus spp. (n=32) isolados de queijo coalho fabricado com leite cru e pasteurizado em queijarias da Paraíba (1), do Ceará (3) e Rio Grande do Norte (4). Um total de 30 genótipos foram identificados e o método apresentou poder discriminatório elevado (valor D=0,97). O método Rep-PCR utilizando os primers RW3A demontrou ser eficiente na discriminação de Staphylococcus de origem alimentar. Quatro agrupamentos principais (clusters) foram obtidos considerando coeficiente de similaridade total. A análise dos genótipos produzidos indica não ter havido agrupamento por local (queijaria) ou mesmo região (Estado de origem das amostras). Por outro lado, houve agrupamento de isolados com perfiis de resistência similares. Assim, os isolados multiresistentes foram agrupados nos clusters B e C, indepententemente da queijaria ou Estado de origem. Um isolado de queijo (ST 1425, cluster B) apresentou similaridade elevada com um isolado de infecção nosocomial em humanos (S. aureus C), do mesmo Estado. Esses resultados podem indicar a possibilidade de contaminação do queijo por Staphylococcus patogênicos e reforçam a necessidade de investigação dos perigos associados à contaminação microbiológica dos produtos lácteos de origem caprina. De maneira geral, no entanto, os isolados de queijo não apresentaram 32 similaridade genética com Staphylococcus isolados de infecções em humanos, os quais foram agrupados nos clusters A e B. Staphylococcus coagulase negativa do cluster C apresentaram o mesmo perfil molecular e foram isolado em queijos fabricados com leite cru e pasteurizado, em queijarias do Ceará e Rio Grande do Norte. O cluster D foi composto por isolados apresentando perfil de resistência a um número menor de drogas quando comparado a outros clusters. A presença isolados apresentando perfil genético e de resistência antimicrobiana similares, originados de diferentes queijarias de três Estados diferentes da região Nordeste, indicam a possibilidade existência de linhagens de Staphylococcus adaptados à espécie caprina e os achados de resistência antimicrobiana ligados a fatores associados aos sistemas de produção de leite. 33 85.7 73.3 A 55.0 43.7 87.5 68.6 64.8 80.0 63.8 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 REP-PCR 40 35 REP-PCR Identificação leite para fabricação coagulase + Lesão de pele (humano) coagulase + Nasal suíno coagulase (-) leite cru coagulase (-) leite cru S. haemolyticus coagulase + Secreção de pele (humano) S. aureus S. aureus (a) coagulase + Lesão de pele (humano) S. saprophytiucs S. saprophyticus coagulse + Orofaringe (humano) St. 1424 PB Coagulase (+) St. 1425 PB Coagulase (+) S. aureus (C) S. aureus (c) coagulase + Infecção nosocomial (huma. Key Estado S. aureus (B) S. aureus (b) genes Staphylococcus spp. Staphylococcus spp. St. 0901 RN Blaz St. 0906 RN Blaz S. haemolyticus IcaDBlazFem ATCC 25923 75.0 94.7 56.9 87.5 79.9 90.9 76.4 30.6 64.1 49.8 B 88.9 85.3 perfil antimicrobiano queijaria 1 AmpPen 2 leite pasteurizado AmpPen 1 leite pasteurizado AmiAmpCflEriGenOxaPen 1 ATCC 25923 St. 0928 RN fem coagulase (-) leite cru AmiAmpCliGenOxaPen 3 St. 0914 RN coagulase (-) leite cru AmiAmpCliGenOxaPen 2 St. 0919 RN coagulase (-) leite cru AmiAmpCliGenOxaPen 2 St. 0909 RN coagulase (-) leite cru AmiAmpCliGenOxaPen 2 St. 1427 PB coagulase (-) leite pasteurizado AmiAmpCliGenOxaPen 1 St. 1029 CE Coagulase (+) leite pasteurizado AmiAmpCflCliGenOxaPen. 1 St. 1042 CE Coagulase (+) leite cru AmiAmpCliCflOxaPen 2 St. 1421 PB Coagulase (+) leite pasteurizado AmiCflCliGenOxaPen 1 St. 1028 CE Coagulase (+) leite pasteurizado St. 1032 CE coagulase (-) leite pasteurizado AmiAmpOxaPen 1 St. 1037 CE Coagulase (+) leite pasteurizado AmiAmpCflOxaPen 1 St. 1041 CE Coagulase (+) leite cru AmiAmpCliCflOxaPen 2 St. 0925 RN coagulase (-) leite cru AmiAmpCflOxaPen 3 St. 1030 CE Coagulase (+) leite pasteurizado Oxa 1 St. 1044 CE coagulase (-) leite cru AmiAmpCflEriOxaPen 3 St. 1046 CE coagulase (-) leite cru AmpCflOxaPen 3 St. 1048 CE coagulase (-) leite cru AmiAmpCflEriOxaPen 3 St. 1050 CE coagulase (-) leite cru AmpCflEriOxaPen 3 St. 1054 RN coagulase (-) leite pasteurizado AmpCflEriOxaPen 6 St. 1056 RN coagulase (-) leite pasteurizado AmiAmpCflCliEriOxaPen 6 St. 1058 RN coagulase (-) leite pasteurizado AmpOxaPen 6 St. 0951 PB coagulase (-) leite pasteurizado AmiAmpCflCliEriOxaPen 1 St. 0903 RN coagulase (-) leite cru AmiAmpCflOxaPenNor 1 S. auricularis S. auricularis coagulase + Orofaringe (humano) St. 1060 RN coagulase (-) leite pasteurizado Amp 6 St. 1062 RN coagulase (-) leite pasteurizado OxaPen 6 St. 0931 RN coagulase (-) leite cru St. 1039 CE coagulase (-) leite pasteurizado AmiAmpCflOxaPenSut 1 St. 1423 PB coagulase (-) leite pasteurizado AmpPen 1 IcaDSegSeiFem 1 45.8 98.3 71.4 C 43.8 64.1 55.1 70.6 64.2 56.1 D 94.7 3 Figura 1. Dendrograma gerado a partir da análise de perfis moleculares obtidos por REP-PCR em Staphylococcus spp. isolado em queijo coalho fabricado com leite de cabra cru e pasteurizado em queijarias dos estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. 34 5. Conclusão Staphylococcus spp. apresentando níveis elevados de resistência, principalmente a β- lactâmicos, estão amplamente distribuídos em queijo coalho fabricados a partir de leite de cabra, cru e pasteurizado, em queijarias do Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba. Houve maior frequência de resistencia à clindamicina em isolados de queijo produzido com leite cru quando comparado ao leite pasteurizado. Não foi identificado MRSA dentre os isolados e a freqência de genes enterotoxigênicos foi bastante baixa, sendo identificados apenas os genes seg e sei em Staphylococcus coagulase positivo. Os isolados apresentaram baixo potencial de produção de biofilme quando avaliados por três métodos distintos. A elevada similaridade genética e de perfil de resistência observadas entre isolados de áreas geográficas diferentes pode indicar a existência de linhagens associadas ao leite de origem caprina. Dessa forma, a elevada resistência a antimicrobianos observada no Estudo sugere a necessidade de investigação de fatores associados a produção do leite 6. Referências Bibliográficas ADALETI, R. et al. Comparison of polymerase chain reaction and conventional methods in detecting methicillin-resistant Staphylococcus aureus. Journal of Infection in Developing Countries, v. 2, n. 1, p. 46-50, 2008. AKINEDEN, O. et al. Enterotoxigenic properties of Staphylococcus aureus isolated from goats' milk cheese. International Journal of Food Microbiology, v. 124, n. 2 p. 211-216, 2008. ALTMAN, D. G. Practical statistics form medical research. London: Chapman and Hall. ARCIOLA, C. R.; BALDASSARRI, L.; MONTANARO, L. Presence of ica-A and ica-D genes and slime production in a collection of staphylococcal strains from catheterassociated infections. Journal of clinical microbiology, v. 39, n. 6, p. 2151–2156, 2001. ARGUDÍN, M. A. et al. Genotypes, Exotoxin Gene Content, and Antimicrobial Resistance of Staphylococcus aureus Strains Recovered from Foods and Food Handlers. Applied and Environmental Microbiology, v. 78, n. 8, p. 2930–2935, 2012. BAUER, A. W. et al. Antibiotic susceptibility testing by a standardized single disk method. American journal of clinical pathology, v. 45, n. 4, p. 493–496, 1966. 35 BENNETT, R. W.; LANCETTE, G. A. Laboratory Methods - BAM: Staphylococcus aureus. WebContent. Disponível em: <http://www.fda.gov/Food/FoodScienceResearch/LaboratoryMethods/ucm071429.ht m>. Acesso em: 10 out. 2013. BLAIOTTA, G. et al. Detection of Staphylococcal enterotoxin genes in Staphylococcus spp. strains isolated from meat and dairy products. Evidence for new variants of seg and sel in S. aureus AB-08802. Journal of Applied Microbiology, v.97, n. 4, p.719-730, 2004. CHENG CHIANG, Y. et al. PCR detection of Staphylococcal enterotoxins (SEs) N, O, P, Q, R, U, and survey of SE types in Staphylococcus aureus isolates from foodpoisoning cases in Taiwan. International Journal of Food Microbiology, v. 121, n.1, p. 66–73, 2008. CHRISTENSEN, G. D. et al. Adherence of coagulase-negative staphylococci to plastic tissue culture plates: a quantitative model for the adherence of staphylococci to medical devices. Journal of Clinical Microbiology, v. 22, n. 6, p. 996–1006, 1985. CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE. Performance Standards for Antimicrobial Susceptibility Testing; Twenty-Second Informational Supplement. CLSI document M100-S22. Wayne, 2012. CRAGO, B. et al. Prevalence of Staphylococcus aureus and methicillin-resistant S. aureus (MRSA) in food samples associated with foodborne illness in Alberta, Canada from 2007 to 2010. Food Microbiology, v. 32, n. 1, p. 202–205, 2012. CREMONESI, P. et al. Identification of Enterotoxin Genes in Staphylococcus aureus Isolates from Bovine and Caprine Milk. Veterinary Research Communications, v. 30, n. 1, p. 241–243, 2006. FREEMAN, D. J.; FALKINER, F. R.; KEANE, C. T. New method for detecting slime production by coagulase negative Staphylococci. Journal of clinical pathology, v. 42, n. 8, p. 872–874, 1989. FRITSCH, E. F.; MANIATIS, T.; SAMBROOK, J. Molecular cloning: a laboratory manual. New York: Cold Spring Harbor Laboratory, 1989. 235 p. GOTZ, F. Staphylococcus and biofilms. Molecular Microbiology, v.43, n. 6, p. 13671378, 2002. HANAA, A. E.; SAMAH, F. D. Phenotypic and Genotypic detection of both mec-A and blaZ-genes mediated β-lactam resistance in Staphylococcus strains isolated from bovine mastitis. Global Veterinaria, v. 6, n. 1, p. 30-50, 2011. HUNTER, P. R.; GASTON, M. A. Numerical index of the discriminatory ability of typing systems: an application of Simpson’s index of diversity. Journal of Clinical Microbiology, v. 26, n. 11, p. 2465–2466, 1988. 36 JOHNSON, W. M. et al. Detection of genes for enterotoxins, exfoliative toxins, and toxic shock syndrome toxin 1 in Staphylococcus aureus by the polymerase chain reaction. Journal of Clinical Microbiology, v. 29, n. 3, p. 426–430, 1991. JONAS, D. et al. Evaluation of the mec A fem-B Duplex Polymerase Chain Reaction for Detection of Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus. European Journal of Clinical Microbiology and Infectious Diseases, v. 18, n. 9, p. 643–647, 1999. KÉROUANTON, A. et al. Characterization of Staphylococcus aureus strains associated with food poisoning outbreaks in France. International Journal of Food Microbiology, v. 115, n.3, p. 369–375, 2007. LYRA, D. G. et al. Enterotoxin-encoding genes in Staphylococcus spp. from bulk goat milk. Foodborne pathogens and disease, v. 10, n. 2, p. 126–130, 2013. MEHROTRA, M.; WANG, G.; JOHNSON, W. M. Multiplex PCR for detection of genes for Staphylococcus aureus enterotoxins, exfoliative toxins, toxic shock syndrome toxin 1, and methicillin resistance. Journal of Clinical Microbiology, v. 38, n. 3, p. 1032–1035, 2000. MORANDI, S. et al. Detection of classical enterotoxins and identification of enterotoxin genes in Staphylococcus aureus from milk and dairy products. Veterinary Microbiology, v. 124, n.1-2, p. 66–72, 2007. MORETRO, T. et al. Biofilm Formation and the Presence of the Intercellular Adhesion Locus ica among Staphylococci from Food and Food Processing Environments. Applied and Environmental Microbiology, v. 69, n. 9, p. 5648–5655, 2003. MORONI, P. et al. Characterization of Staphylococcus aureus Isolated from Chronically Infected Dairy Goats. Journal Dairy Science, v. 88, n.10, p. 3500-3509, 2005. O’GARA. J. P. Ica and beyond: biofilm mechanisms and regulation in Staphylococcus epidermidis and Staphylococcus aureus. Federation of European Microbiological Societies. v. 270, n.2, p. 179–188, 2007. RODE, T. M. et al. Different patterns of biofilm formation in Staphylococcus aureus under food-related stress conditions. International Journal of Food Microbiology, v. 116, n. 3, p. 372–383, 2007. SAS. SAS/STAT 9.3 User’s Guide. Cary, NC: SAS Institute Inc. 2011, 8621p. SCHELIN, J. et al. The formation of Staphylococcus aureus enterotoxin in food environments and advances in risk assessment. Virulence, v. 2, n. 6, p. 580-592, 2011. SCHLEGELOVÁ, J. et al. The biofilm-positive Staphylococcus epidermidis isolates in raw materials, foodstuffs and on contact surfaces in processing plants. Folia Microbiologica, v. 53, n. 6, p. 500–504, 2008. 37 SIMÕES, M. et al. A review of current and emergent biofilm control strategies. LWT Food Science and Technology, v. 43, n. 4, p. 573–583, 2010. STEPANOVIĆ, S. et al. A modified microtiter-plate test for quantification of staphylococcal biofilm formation. Journal of Microbiological Methods, v. 40, n. 2, p. 175–179, 2000. STEWART, P. S.; COSTERTON, J. W. Antibiotic resistance of bacteria in biofilms. Lancet, v. 358, n. 9276, p. 135-138, 2001. SZWEDA, P. et al. Biofilm production and presence of ica and bap genes in Staphylococcus aureus strains isolated from cows with mastitis in the eastern Poland. Polish journal of microbiology, v. 61, n. 1, p. 65–69, 2012. VAN DER ZEE, A. et al. Molecular genotyping of Staphylococcus aureus strains: comparison of repetitive element sequence-based PCR with various typing methods and isolation of a novel epidemicity marker. Journal of clinical microbiology, v. 37, n. 2, p. 342–349, n. 2, 1999. YAO, Y.; STURDEVANT, D. E.; OTTO, M. Genomewide Analysis of Gene Expression in Staphylococcus epidermidis Biofilms: Insights into the Pathophysiology of S. epidermidis Biofilms and the Role of Phenol-Soluble Modulins in Formation of Biofilms. Journal of Infectious Diseases, v. 191, n. 2, p. 289–298, 2005. 38 Capitulo III Vias de contaminação de Staphylococcus spp. na linha de produção de queijo coalho caprino Vias de contaminação de Staphylococcus spp. na linha de produção de queijo coalho caprino RESUMO A identificação de pontos de contaminação por Staphylococcus spp em queijos produzidos com leite de cabra é importante do ponto de vista da segurança alimentar. O objetivo desse estudo foi avaliar a ecoepidemiologia da contaminação do queijo coalho elaborado com leite caprino por Staphylococcus através da genotipagem. Adicionalmente, investigou-se o perfil de resistência antimicrobiana e a presença de fatores de patogenicidade. As espécies de Staphylococcus identificadas nos pontos foram predominantemente coagulase negativas. Entre as espécies coagulase positiva foram observadas a presença de S. aureus, S hyicus e S. intermedius. A resistência antimicrobiana pelo método de Kirby Bauer identificou 26 fenótipos de resistência distribuídos entre Staphylococcus spp. isolados da mão dos manipuladores, utensílios, leite cru, leite pasteurizado, soro e queijos com 24 e 30 dias de fabricação. Os resultados demonstraram níveis elevados de resistência antimicrobiana, principalmente a β-lactamicos. Dos isolados avaliados, 8 (14,3%) foram positivos para Mtp, 2 (3,5%) para ica-D-PCR e 2 (3,5%) para ACR. Não houve concordância entre os métodos para a identificação da produção de biofilme. A presença de genes de virulência foi identificada em 31(55,4%) isolados. A presença de mais de um gene de virulência foi observado em 12 (21,4%) isolados. Não houve similaridade genética entre isolados de queijo e Staphylococcus spp. de outros pontos da produção de queijo. Entretanto, a similaridade com isolados das mãos de manipuladores distintos confirma a importância dos mesmos na contaminação de queijos por Staphylococcus spp. Palavras-chave: antibiótico, genotipagem, marcadores moleculares e pontos críticos de controle 40 ABSTRACT The identification of Staphylococcus spp contamination in cheeses made from goat's milk is important from the point of view of food security. The aim of this study was to evaluate the contamination ecoepidemiology cheese curd made with goat milk Staphylococcus through genotyping. Additionally, we investigated the antimicrobial resistance profile and the presence of pathogenicity. The species identified in points were predominantly Staphylococcus coagulase negative. Among the coagulasepositive species were observed the presence of S. aureus, S. hyicus and S. intermedius. Antimicrobial resistance by the method of Kirby Bauer identified 26 profile of the resistance phenotypes distributed among Staphylococcus spp. isolated from the handlers' hands, utensils, bulk tank milk, pasteurized milk and cheese at 24 hours and 30 days of manufacture. The results showed high levels of antimicrobial resistance, especially β - lactams. Isolates were positive for Mtp (8; 14.3% ), for icaD-PCR (2; 3.5 %) and for ACR (2; 3.5 %). There was no agreement between the methods for the identification of biofilm production . The presence of virulence genes was identified in 31 ( 55.4%) isolates. The presence of more than one virulence gene was found in 12 (21.4%) isolates. There was no genetic similarity among isolates of cheese and Staphylococcus spp. from cheese production. However, the similarity with isolates from the hands of manipulators distinct confirms their importance in contamination of cheese by Staphylococcus spp. Keywords: antibiotic, critical control points, genotyping and molecular markers 41 1. Introdução A ubiquidade dos Staphylococcus e as inúmeras possibilidades de contaminação do leite caprino durante o seu processamento tornam comum à presença desses microrganismos no queijo. Adicionalmente, mecanismos de patogenicidade contribuem para sua capacidade de permanecer no ambiente de produção e nas superfícies de equipamentos. Dentre esses mecanismos, destaca-se a capacidade de produção de biofilme, tornando os microrganismos resistentes a ação de sanitizantes e contribuindo para sua disseminação no leite pasteurizado e em derivados lácteos. A formação de biofilme em superfícies envolve a aderência, o acumulo de células de Staphylococcus spp. em múltiplas camadas e estágios de disseminação. Nas fases de colonização e disseminação, os microrganismos aparecem na forma planctônica ao passo que no biofilme são caracterizadas como um aglomerado de células (YAO et al. 2005) que podem ser liberados pelo fluxo continuo do leite de cabra sobre a superfície dos equipamentos nas usinas de beneficiamento. O biofilme é uma estrutura formada na superfície de equipamentos que pode colaborar com a disseminação de Staphylococcus enterotoxigenicos. Entretanto, alguns autores têm relatado que as mãos e outras superfícies de manipuladores são as principais fontes de contaminação de derivados lácteos por Staphylococcus produtores de enterotoxinas (HOLECKOVÁ et al. 2002). Staphylococcus enterotoxigenicos contaminam principalmente queijos de cabra produzidos em pequenas propriedades leiteiras (AKINEDEN et al. 2008). Apesar das Boas Práticas de Fabricação (BPFs) representarem alternativa eficiente na redução da contaminação estafilocócica na linha de produção de queijos, tanto artesanais quanto industriais, surtos de doenças atribuídas aos Staphylococcus ocorrem em todo o mundo (KÉROUANTON et al. 2007). A melhor compreensão da dinânima da contaminação, através da identificação das principais fontes da bactéria pode representar avanço significativo para que medidas eficientes de recudão e controle da contaminação estafilocócica possam ser alcançados. O objetivo do presente estudo foi estudar a ecoepidemiologia da contaminação do queijo coalho elaborado com leite caprino por Staphylococcus através da genotipagem dos isolados obtidos em diferentes períodos e pontos do 42 sistema de produção. Adicionalmente, investigou-se o perfil de resistência antimicrobiana e a presença de fatores de patogenicidade nos isolados. 2. Material e métodos 2.1 Coleta de amostras As coletas foram realizadas em uma usina de beneficiamento de leite de cabra localizada no município de Amparo no Cariri paraibano. As amostras foram adquiridas durante os meses de setembro de 2011, fevereiro e março de 2012. Amostras de leite cru (27), leite pasteurizado (3), porções de coalho inicial e coalho final (6), soro do leite (3), Swabs de mão do manipulador (4), tanque de recepção do leite (3), tanque de pasteurização (3), swabs de utensílios (20), seladora (3), queijos com 24 horas (3) e 30 dias (3) de fabricação. As amostras foram transportadas em caixa isotérmica com gelo ao laboratório de Avaliação de Produtos de Origem Animal na Universidade Federal da Paraíba (CCA/UFPB). As amostras de leite cru foram obtidas individualmente em tubos cônicos de 50 mL (tipo Falcon) a partir de latões selecionados aleatoriamente na plataforma de recepção. Uma alíquota de igual volume de leite foi retirada do tanque após a pasteurização e do soro liberado durante a fabricação dos queijos. O coalho inicial formado uma hora após a adição de ingredientes para a coagulação e a massa final foram armazenadas em embalagens plásticas estéreis tipo Whirl-Pak. Uma amostra de queijo para análise com 24 horas de fabricação foi adquirida envolvida em plástico de polietileno e a amostra para análise com 30 dias, depois de embalada a vácuo. Amostras de Swabs das mãos de manipuladores e utensílios foram coletadas e armazenadas em tubos com 5mL de água peptonada a 0,1%. Swabs umedecidos em água peptonada a 0,1% foram friccionados nos quatro lados de cada equipamento e armazenados em 10 mL da mesma solução. Para cada lado, de um mesmo equipamento, um swab foi utilizado em um espaço delimitado por um molde de 25 cm2, totalizado um espaço de 100 cm2. Os swabs foram friccionados nas superfícies avaliadas antes do inicio do processo de produção de queijo coalho 43 com leite de cabra pasteurizado e as demais amostras coletadas ao longo de todas as etapas de produção. 2.2 Isolamento de Staphylococcus spp Diluições seriadas da coalhada e do queijo foram preparadas em água peptonada a 0,1% a partir de uma diluição inicial composta pela mistura de uma alíquota de 25 gramas da amostra em 225 mL de Citrato de Sódio a 2% e homogeneizada em Stomacher (Marconi, Brasil) durante 60 segundos. A diluição das amostras de leite e soro foram realizadas pela mistura consecutiva de 1 mL da amostra em 9 mL de água peptonada a 0,1%. O isolamento de Staphylococcus spp. foi realizado em ágar Baird Parker (Himedia, Índia) suplementado com telurito e gema de ovo, de acordo com as recomendações de BENNETT E LANCETTE, (2001). A partir de cada diluição uma aliquota de 0,01 mL foi espalhada na superfície do ágar e as placas incubadas por 48 horas a 37ºC em estufa bacteriológica. O liquido diluente dos swabs de equipamentos, utensílios e mãos de manipuladores foi semeado diretamente na superfície do meio de cultura pela técnica de esgotamento e incubadas sob as mesmas condições de temperatura. As colônias com coloração negra ou cinza, bordas lisas, providas ou não de halo foram semeadas em ágar triptona de soja suplementado com 0,06% de extrato de levedura (TSAYE) e posteriormente a incubação durante 18-24 horas a 37ºC. Colônias com características de Staphylococcus spp. foram submetidas aos testes de gram, catalase e coagulase. Os isolados obtidos foram armazenados a -20ºC em caldo triptona de soja suplementado com 0,06% de extrato de levedura (TSBYE) e 2% de glicerol. Um total de 93 isolados de Staphylococcus spp. foram selecionados entre as bactérias armazenadas no banco de microrganismos do laboratório de Avaliação de Produtos de Origem Animal (CCA/UFPB) e submetidos ao teste de sensibilidade antimicrobiana. Entre os microrganismos, 79 isolados foram submetidos à determinação da concentração inibitória mínima por microdiluição por sistema semiautomático e identificação das espécies de Staphylococcus spp. Isolados de Staphylococcus spp. (56) foram submetidos ao teste da concentração a pesquisa de genes de virulência e a genotipagem por Rep-PCR com 44 RW3A. Os microrganismos foram escolhidos de acordo com os resultados dos testes de coagulase, sensibilidade antimicrobiana e a origem dos microrganismos. 2.3 Avaliação da susceptibilidade antimicrobiana 2.3.1 Método de disco difusão O teste de sensibilidade in vitro a antimicrobianos foi realizado pela técnica de difusão em disco descrita por Kirby-Bauer. As colônias foram semeadas em ágar triptona de soja com extrato de levedura (TSAYE) e incubadas a 37ºC por 24 horas para a obtenção de colônias isoladas. A quantidade de células inoculadas no ágar Mueller Hinton foi ajustada com a diluição de 2 a 3 colônias em 2 mL de solução salina a 0,85% e a turbidez ajustada para a concentração de 1,5 x 108 UFC/mL que corresponde a 0,5 na escala de Mc Farland. A suspensão bacteriana foi espalhada em todas as extensões na superfície do ágar Mueller-Hinton com um swab estéril. Para o antibiograma foram utilizados antimicrobianos (CECON, Brasil) recomendados pelo Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI, 2012) para testes de susceptibilidade antimicrobiana em Staphylococcus spp., representados pela Oxacilina (1µg), Penicilina G (10 UI), Sulfazotrim (25 µg), Tetraciclina (30 µg), Norfloxacina (10 µg), Gentamicina (10 µg), Eritromicina (15 µg), Clorofenicol (30 µg), Amicacina (30 µg), Ampicilina (10 µg), Cefalotina (30 µg) e Clindamicina (2 µg). A cepa ATTCC (25923) de Staphylococcus aureus foi utilizada como controle positivo. Os discos de antibióticos foram retirados para uso trinta minutos antes do uso e distribuídos nas placas 5 minutos após o inoculo. As zonas de inibição em torno de cada disco foram aferidas com paquímetro digital após 18-24 horas de incubação a 37ºC. Os dados de resistência foram interpretados de acordo com as recomendações do fabricante dos discos de antibiograma e CLSI, (2012). 45 2.3.2 Determinação da concentração inibitória mínima por microdiluição A concentração inibitória mínima (CIM) foi definida em 79 isolados de Staphylococcus spp. em sistema semi-automatizado (Micro Scan, Siemens Healthcare, cidade). As cepas de Staphylococcus spp. inoculados em um painel desidratado para microrganismos gram-positivos (pos combo painel tipo 33) e incubados por 24 horas a 37ºC foram identificadas de acordo com as recomendações descritas no encarte do produto. A concentração inibitória mínima foi interpretada a partir dos pontos de corte obtidos para antibióticos associados a inibidores de β lactamase, Ampicilina com Sulbactan, Amoxilina com Ácido Clavulanato, Trimetropim com sulfametoxazol e outros antibióticos distribuídos Clindamicina, Ciprofloxacina, Nitrofurantoina, Levofloxacina, individualmente: Daptomicina, Linezolid, Ampicilina, Eritromicina, Moxifloxacina, Ceftriaxona, Gentamicina, Oxacilina, Penicilina, Rifampina, Sirnecid, Tetraciclina e Vancomicina. 2.4 Produção fenotípica de biofilme 2.4.1 Determinação da produção de biofilme em ágar Congo Red Os isolados foram semeados na superfície do ágar vermelho congo (1L de caldo BHI, 0,8g de corante vermelho congo e 36 gramas de sacarose) pela técnica de esgotamento em estria e incubados a 35ºC por 24horas, de acordo com a metodologia descrita por FREEMAN et al. (1989). A cepa de Staphylococcus aureus 25923 foi utilizada como controle positivo e a leitura das placas realizada após 24 horas de incubação em estufa bacteriológica. As características das colônias foram avaliadas ainda, após 48 e 72 horas de incubação a temperatura ambiente. Uma escala de três cores foi adotada para a interpretação da coloração das colônias em ágar vermelho congo: vermelho, bordo e preto. As colônias de coloração negras e rugosas produzidas por Staphylococcus spp. foram consideradas como produtores de biofilme e como não produtoras as colônias avermelhadas. 46 2.4.2 Determinação de biofilme em microplaca O estudo de biofilme em microplaca foi realizado de acordo com CHRISTENSEN et al. (1985). Staphylococcus spp. foi cultivado no ágar triptona de soja suplementado com 0,06% de extrato de levedura (TSAYE) e incubados a 37ºC por 18-24h. Em seguida, uma suspensão bacteriana foi preparada em solução salina a 0.85% a partir de 2 a 3 colônias isoladas e o ajuste da quantidade de células realizado em aparelho Turbidimetro para a concentração de 0.5 na escala de McFarland (1,5 x 108 UFC/mL). Um volume de 20µL de cada suspensão bacteriana foi distribuído em seis poços de uma microplaca de 96 poços de poliestireno, previamente preenchida com 180 µL de caldo triptona de soja suplementado com 1% de glicose. Após incubação por 18h a 37ºC, as células não aderentes foram removidas cuidadosamente dos poços e a placa submetida a três lavagens sucessivas com 200 µL de solução salina. A fixação da massa aderente foi realizada com 150 µL de metanol em temperatura ambiente por 30 minutos. Após o descarte do metanol, as placas foram invertidas sobre papel aderente por aproximadamente 30 minutos e submetidos à coloração com 150 µL de cristal violeta a 1% por 1 minuto. Em seguida, as placas foram lavadas em água destilada e secas a temperatura ambiente por 30 minutos. A absorbância foi determinada a 450nm em leitor de placas (Bio-rad, Brasil). Poços contendo apenas caldo TSB com glicose foram utilizados como controle negativo do teste. O teste foi repetido nas mesmas condições em outro espaço de tempo não relacionado. As colônias foram consideradas como produtoras de biofilme no teste de microplacas de acordo com os pontos de corte estabelecidos pelo cálculo da ODC (média do caldo não inoculado + 3x o desvio padrão do controle positivo – ATTCC 25923) e da OD (média da massa produzida por cada isolado – ODC), ambos os valores obtidos conforme (STEPANOVIC et al. 2007). Desta forma, quando a OD450 ≤ 0,05= não produtor; (0,05˂OD450≤0,1) = fraco produtor; (0,1˂OD450≤0,2)= produtor moderado; (0,2˂OD450)=forte produtor. 47 2.5 Extração de DNA genômico O DNA dos isolados de Staphylococcus spp. foi extraído pelo método de Fenol: Clorofórmio: Álcool isoamílico, descrito por FRITSCH et al. (1989). Staphylococcus spp. semeados em caldo triptona de soja suplementado com 0,06% de extrato de levedura, incubados sob agitação por 18-24 horas foram utilizados na fase inicial da extração. Uma alíquota de 1,5 mL de caldo foi centrifugada por 15 minutos, a 4ºC. O sobrenadante foi descartado e a massa de células bacterianas no fundo do tubo foi diluída em 500 µL tampão TE 10:1, 10 µL de lisozima (Research Organics, U. S. A) na concentração de 10mg/ml e 10 µL de proteinase K a 5mg/ml. A solução foi submetida à temperatura de 60ºC em agitação mecânica durante um período overnight. Em seguida, 100 µL do Tampão STE (2,5% de SDS; 10mM Tris-HcL, pH 8,0; 0,25M de EDTA) foram adicionados ao tampão de lise. A solução foi novamente incubada por 15 minutos nas condições anteriormente relatadas. Decorrido o tempo, a solução foi incubada a temperatura ambiente por 5 minutos e depois por 5 minutos no gelo. A reação foi neutralizada com 130 µL de acetato de amônio a 7,5M e mantida no gelo por 15 minutos. Após este período as amostras foram centrifugadas por 8 minutos e aproximadamente 400 µL do sobrenadante foi transferido para outro tubo. O sobrenadante foi misturado com igual volume de fenol:clorofórmio:álcool isoamílico 25:24:1 (LGC biotecnologia, Brasil) e centrifugado por 5 minutos. Aproximadamente 400 µL de sobrenadante contendo o DNA foram transferidos para um novo microtubo. O DNA foi precipitado com 420 µL de etanol absoluto a -20ºC por 24 horas. A solução foi centrifugada, o sobrenadante foi descartado e os tubos invertidos sobre uma folha de papel toalha por 30 minutos. Após este procedimento, o DNA foi recuperado em 30 µL de água deionizada autoclavada. A quantidade e qualidade do DNA foram avaliadas em espectrofotômetro plus (Eppendorf, Alemanha) e o DNA diluído para uma concentração final de 50 ng/ µL. 48 2.6 Pesquisa do gene ica-D A presença do gene ica-D foi avaliada com modificações conforme ARCIOLA et al. (2001) e SZWEDA et al. (2012). A reação foi preparada por uma mistura de tampão 1x concentrado, 4mM de MgCl2, 1 U de Taq polimerase (Life, E. U. A. ), 0,2mM de DNTPs (Life, E. U. A.), 0,4µM de cada primer (Life, E. U. A.) e 100 ng de DNA em um volume final de 25 µL. A amplificação foi realizada em termociclador TC-3000 (TECHNE, Reino Unido) nas condições de desnaturação inicial de 94ºC por 4 minutos, seguidos de 30 ciclos com anelamento inicial a 94ºC/4 minutos, 56ºC/30 segundos e 72ºC/1minuto. Uma extensão final foi realizada a 72ºC por 10 minutos. 2.7 Pesquisa de genes enterotoxigênicos. As reações de PCR foram realizadas para pesquisa dos genes enterotoxigênicos sea, seb, sec, sed, see, seg, seh e sei, com os primers recomendados por JOHNSON et al. (1991) e BLAIOTA et al. (2004) com modificações nas condições de reação. Para cada conjunto de reação, uma cepa padrão de Staphylococcus aureus foi utilizada como controle positivo ou negativo: ATCC 13565 (sea), ATCC 14458(seb), ATCC 19095(sec), ATCC 23235 (sed), ATCC 27664 (see), ATCC 19095 (seg) e ATCC 19095 (seh e sei). Os amplificados foram obtidos em reações de PCR com volume final de 25µL e cada reação de PCR foi preparada por uma mistura dos seguintes reagentes: tampão 1X concentrado, 2 mM de MgCl2, 200µM de cada dNTPs, 1U de Taq polimerase, 0.4µM de cada Primer e 100ng de DNA molde. A amplificação foi realizada a partir de um ciclo inicial de 95°C por 3 minutos seguidos por 30 ciclos com etapas de desnaturação a 94°C/ 60 segundos, anelamento a 50°C/60 segundos e uma extensão a 72°C/ 2 minutos. Uma extensão final foi realizada a 72ºC por 5 minutos. 2.8 Pesquisa de genes de resistência (fem A, mec A e blaZ) As mesmas condições de reação e amplificação dos genes enterotoxigênicos foram utilizadas para a pesquisa do gene fem A e o primer escolhido conforme MEHROTRA et al. (2000). A escolha do primer para pesquisa do 49 gene mec A foi realizada conforme JONAS et al. (1999) e os amplificados obtidos conforme ADALETI et al. (2007), com modificações. A cepa padrão utilizada como controle positiva foi a Staphylococcus aureus ATTCC 25923. O termociclador obedeceu a uma programação de desnaturação inicial de 94ºC por 5 minutos seguidos por 30 ciclos com desnaturação de 94ºC/30 segundos, 53ºC/30 segundos e 72ºC/ 30 segundos. Uma extensão final de 72ºC por 10 minutos finalizou a amplificação. A escolha do primer para a pesquisa do gene blaz foi realizada conforme HANAA et al. (2011). O aparelho obedeceu a uma programação de desnaturação inicial de 94ºC por 4 minutos seguidos por 35 ciclos com desnaturação de 94ºC/60 segundos, 55ºC/60 segundos e 72ºC/60 segundos. Uma extensão final de 72ºC por 10 minutos finalizou a amplificação. 2.9 Genotipagem Cada reação de PCR preparada com uma mistura de tampão 1x concentrado, 3,5 mM de MgCl2, 1µM de primer RW3A, 200 µM de DNTP, 1U de taq polimerase e 100 ng de DNA em um volume final de 25µL. Staphylococcus aureus ATTCC 25923 foi utilizada como controle positiva das reações. O primer Rw3A e as condições de PCR foram utilizados conforme VAN DER ZEE et al. (1999), com modificações. A amplificação foi realizada em termociclador com uma desnaturação inicial de 94ºC por 3 minutos seguidos por 30 ciclos com 94ºC/1 minuto, 50ºC/1 minuto e 72ºC/2 minutos. Uma extensão final foi realizada a 72ºC por 5 minutos. Para todos os géis gerados nos estudos moleculares, as condições de eletroforese e coloração foram às mesmas. A eletroforese foi realizada a 70 V em tampão TAE 1x concentrado (LGCBiotecnologia, Brasil). Um volume de 10 µL de cada amplificado foi aplicado nos poços do gel. Antes da aplicação, o amplificado foi misturado a 2 µL do tampão de carreamento da amostra (4g de glicose;0,025g de azul de bromofenol; 0,025g de xileno de cianol; 10ml de água deionizada autoclavada). 50 O tamanho dos fragmentos observados no DNA de isolados de Staphylococcus spp. foi conferido pela aplicação de marcadores moleculares de 100pb e 1kb (Amresco, Canadá) nos géis de agarose a 1,5%. A coloração dos géis foi realizada por 30 minutos em agitação mecânica utilizando se produto comercial (Gel red, Biotium) 3X concentrado, de acordo com as recomendações do fabricante. A presença e ausência de bandas foram utilizadas como critério para avaliar a similaridade entre Staphylococcus spp. e gerar uma matriz de similaridade pelo Software BioNumerics versão 7.1 da Applied Maths. O coeficiente de similaridade de Dice a 2% foi utilizado para gerar a matriz de similaridade e o agrupamento obtido pelo método de UPGMA (Unweighted Pair Group Method, Arithmetic Mean). Um grupo controle de perfis genotípicos Staphylococcus spp. não relacionados com os isolados do estudo foram inseridos junto as amostras no dendrograma. O poder discriminatório do método foi calculado conforme descrito por HUNTER E GASTON, (1998) pela equação abaixo: D = Índice discriminatório N = O número total de isolados na populacional bacteriana S = O numero total de genótipos observados Nj = O número total de isolados dentro do genótipo j 3. Análise de dados A concordância entre os métodos utilizados para avaliar a produção de biofilme foi cálculado pelo índice Kappa. O índice foi interpretado de acordo com ALTMAN, (1991) como pobre (<0,2), razoável (0,21 a 0,40), moderado (0,41 a 0,60), bom (0,61 a 0,80) e muito bom (0,81 a 1). Os dados de resistência foram avaliados por estatística não-paramétrica pelo teste do qui-quadrado a 0,05% de significância pelo programa estatístico SAS versão 9.3. 51 4. Resultados e discussão As espécies de Staphylococcus spp. identificadas na linha de produção de queijo coalho fabricado com leite de cabra indicam a predominância de espécies coagulase negativas S. saprophyticus (18,99%), S. hominis var hominis (17,72%), S. lugdunensis (12,66%), S cohnii var. cohnii (10,13%), S. epidermidis (7,59%), S sciuri (5,06%), S. warneri (3,80%), S. cohnii-urea (2,53%), S. auriculares (1,27%), S. capitis (1,27%) e S. haemolyticus (1,27%). As principais espécies coagulase positivas identificadas foram S. aureus (8,86%), S. hyicus (7,59%) e S. intermedius (1,27%). Staphylococcus aureus foi identificado da mão do queijeiro, na peneira plástica, em duas amostras de leite cru e coalhada final. As frequências de resistência em Staphylococcus coagulase positivos e negativos, isolados de pontos da linha de produção de queijo coalho, aos antimicrobianos avaliados pelo método de disco-difusão estão apresentadas na Tabela 1. Em Staphylococcus coagulase positivos, as maiores frequências de resistência foram observadas para penicilina, oxacilina, norfloxacina e clindamicina. Todos os Staphylococcus coagulase positiva foram sensíveis a ampicilina e ao cloranfenicol. As maiores frequencias de resistência em Staphylococcus coagulase negativos foram observadas para penicilina (39,5%), ampicilina (35,8%), oxacilina (17,2%), eritromicina (14,8%), norfloxacina (13,5%), clindamicina (9,8%), cefalotina (8,6%), amicacina (7,4%), cloranfenicol (6,2%). gentamicina (4,9%), tetraciclina (4,9%) e sulfazotrim (3,7%). A resistência antimicrobiana a pelo menos um antimicrobiano foi observada em 15 (16,1%) isolados e a resistência fenotípica a pelo menos um β-lactâmico foi observada em 13 (13,9%) isolados. Considerando os isolados resistentes (n=46), 26 perfis fenotípicos de resistência foram observados (Tabela 2). Resistência a antibióticos de duas ou mais classes foi observada em 17 (38,6%) isolados. Dois isolados apresentando resistência aos 12 antimicrobianos e foram identificados em leite pasteurizado. Considerando a origem das amostras, Staphylococcus spp. resistentes foram identificados no leite cru (10/21; 47,6%), no leite pasteurizado (5/7; 71,4%), na coalhada (5/9; 55,5%), no soro (4/4; 100%) em queijos com 24 e 30 dias de fabricação (5/12; 71,4%), mão de manipulador (5/6; 83,3%), utensílios (10/27; 37%) e equipamentos (2/7; 28,5%). 52 Tabela 1. Frequências de resistência avaliadas pelo método de disco-difusão em Staphylococcus coagulase positivos e negativos isolados de pontos da linha de produção de queijo coalho fabricado com leite de cabra pasteurizado Antimicrobiano Penicilina Ampicilina Oxacilina Eritromicina Norfloxacina Clindamicina Cefalotina Amicacina Cloranfenicol Gentamicina Tetraciclina Sulfazotrim Staphylococcus coagulase positivos (SCP) Resistência Resistência absoluta Intermediária 2 (16,6%) 0 0 0 2 (16,6%) 0 0 1 (8,3%) 0 2 (16,6%) 0 2 (16,6%) 1 (8,3%) 0 1(8,3%) 0 0 0 0 1 (8,3%) 1 (8,3%) 1(8,3%) 0 1 (8,3%) Staphylococcus coagulase negativos (SCN) Resistência Resistência absoluta Intermediária 32 (39,5%) 0 29 (35,8%) 0 14 (17,2%) 8 (9,8%) 12 (14,8%) 6 (7,4%) 11 (13,5%) 3 (3,7%) 8 (9,8%) 18 (22,2%) 7 (8,6%) 0 6 (7,4%) 4 (4,9%) 5 (6,2%) 3 (3,7%) 4 (4,9%) 5 (6,1%) 4 (4,9%) 3 (3,7%) 3 (3,7%) 3 (3,7%) Tabela 2. Perfis de resistência a antimicrobianos em Staphylococcus spp. (n=93) isolado de pontos da linha de produção de queijo coalho fabricado com leite de cabra pasteurizado Origem da amostra n. Resistência Mão de manipuladores 6 5 (83,3%) Equipamento 7 2 (28,5%) Perfil genotípico Até duas classes Acima de duas classes Pen (2) AmpPen AmpCliEriPen AmpOxaPenSutNor AmpPen Gen 0 27 10 (37%) Eri Amp Oxa (2) AmpPen OxaPen (2) Leite cru 21 10 (47,6%) Pen Amp AmiAmp EriPen AmpCliPen AmpCliCloOxa AmpCloPenNor (2) AmiAmpCflGenOxaPen AmpCflCliEriOxaPenTetNor Leite pasteurizado 7 5 (71,4%) Pen EriPen AmpEriOxaPen AmiAmpCflCliCloEriGenOxaPenSutTetNor (2) soro 4 4 (100%) Coalhada 9 5 (55,5%) Amp (3) PenNor AmpPenNor 0 queijo 12 5 (71,4%) Pen (2) AmpEri CflOxaNor AmpPenTetNor TOTAL 93 46 11 15 Utensilio AmpPen (2) OxaPen AmpCloPenNor AmiCflCliOxaPen AmiAmpCflCliOxaPenNor AmpEriPen 53 A Tabela 3 apresenta os valores de concentração inibitória mínima de 79 isolados de Staphylococcus ssp. obtidos em diferentes pontos da linha de produção de queijo coalho elaborado com leite de cabra. Todos os isolados foram resistentes a ampicilina e susceptíveis a amoxilina com clavulanato, gentamicina e moxifloxacina. As maiores frequências de resistência foram observadas para penicilina (32; 40,5%), oxacilina (25; 31,7%), eritromicina (14; 17,7%), clindamicina (13; 16,5%) e daptomocina (9; 11,4%). Os isolados apresentaram frequências baixas de resistência a ampicilina associada ao sulbactan (5; 6,33%), tetraciclina (5; 6,3%), levofloxacina (5; 6,3%), sinercid (2; 2,5%), nitrofurantoína (2; 2,5%), linezolid (2; 2,5%), ceftriaxona (3; 3,8%), rifampina (3; 3,8%) e vancomicina (5; 6,3%). Os resultados mostram resistência antimicrobiana elevada para Staphylococcus spp isolados de linha de produção de queijo de cabra tipo coalho, o que pode ser reflexo da ocorrência de isolados resistentes no leite caprino. Sabe-se que Staphylococcus apresentando multiresistência, incluindo espécies coagulase negativas, podem colonizar a superfície da pele de caprinos, prevalecem em infecções ocorridas na glândula mamária e consequentemente no leite produzido (CHU et al. 2012). A partir do leite contaminado, S. aureus e outras espécies podem disseminar para outros ambientes de produção e contribuem com a permanência de Staphylococcus spp. no processamento de derivados lácteos (SOARES et al. 2011). A ampla presença de Staphylococcus spp. resistentes a antibióticos β-lactâmicos no leite caprino, em queijos e na mão de manipuladores de alimentos, observada no presente estudo, podem representar um risco a saúde pública (ABULREESH E ORGANJI, 2011). Isso porque microrganismos multirresistentes de origem animal contribuem com a resistência em microrganismos de origem humana e surgem principalmente a partir do uso de antibióticos em animais (LEVY E MARCHALL, et al. 2004). Durante a produção de alimentos muitos fatores podem contribuir com a resistência em microrganismos (McENTIRE et al. 2006). De acordo com Resch et al. (2008), em Staphylococcus coagulase negativos, os mecanismos de resistência associados a alimentos podem ser diferentes dos mecanismos de Staphylococcus patogênicos de natureza clínica, e surgem como resultado de uma resistência intrínseca ou de genes de resistência ainda não conhecidos. 54 Tabela 3. Concentração inibitória mínima de Staphylococcus spp. (n=79) de pontos da linha de produção de queijo coalho fabricado com leite de cabra pasteurizado Antibióticos Ponto de MIC 50% MIC 90% Número de corte isolados (µg/mL) resistentes (%) ≥ 32/16 ≤ 8/4 8/4 5 6,3 Ampicilina ≥ 0,5 ≤2 4 79 100 Amocilina/ K. clavulanato ≥ 8/4 ≤ 4/2 4/2 79 0 Ceftriaxona ≥ 64 ≤8 8 3 3,8 Clindamicina ≥4 0,5 4 13 16,5 Ciprofloxacina ≥4 ≤1 1 3 3,80 Daptomocina >1 ≤ 0,5 4 9 11,4 Eritromicina ≥8 ≤ 0,5 >4 14 17,7 Nitrofurantoína ≥ 128 ≤ 32 32 2 2,5 Gentamicina ≥ 16 ≤4 4 79 0 Levofloxacina ≥8 ≤1 1 5 6,3 Linezolid ≥4 ≤2 2 2 2,5 Moxifloxacina ≥8 ≤ 0,5 0.5 79 0 Oxacilina ≥ 0.5 ≤ 0,25 0,5 25 31,7 Penicilina ≥ 0,25 0,12 >8 32 40,5 Rifampina ≥4 ≤1 1 3 3,8 Sinercid ≥4 ≤ 0,5 0.5 2 2,5 ≥ 4/76 ≤ 0,5/9,5 0,5/9,5 4 5,0 ≥ 16 ≤4 4 5 6,3 ≥ 32 0,5 2 5 6,3 Ampicilina/Sulbactan Trimetropim/ sulfametoxazol Tetraciclina Vancomicina A manutenção desses isolados no ambiente de produção pode estar relacionada à capacidade dos isolados produzirem biofilme. Do total de isolados avaliados, 8 (14,3%) foram positivos para MtP, 2 (3,5%) para o icaD-PCR e 2 (3,5%) para o CRA. Os resultados de concordância mostraram que ambos os métodos fenotípicos foram limitados na identificação de biofilme (K<0,2). Associações entre a presença do gene icaD e outros genes de virulência, ou ainda a resistência antimicrobiana não foram observadas na analise estatística. O que pode ser explicada pela baixa frequência do gene icaD em relação aos outros genes estudados. De acordo com TANG et al. (2013) o padrão de produção fenotípica de biofilme pode ser influenciado pela atividade de genes envolvidos na produção de 55 proteínas adesinas, nucleases e hemolisinas. Staphylococcus spp. positivos para a presença de genes de virulência podem ser disseminados na produção de leite devido a formação de biofilme por Staphylococcus spp. nas superfícies de equipamentos e ambientes. Considerando que a produção de biofilme dá-se também pela atividade de outros genes diferentes dos genes do ica-operon e que ocorre principalmente em S. aureus (CUCARRELA et al. 2004; RODE et al. 2007), não podemos descartar a possibilidade de o padrão fenotípico apresentado pelas espécies, encontradas na mão do manipulador e do queijo, não seja verdadeiramente de um microrganismo produtor de biofilme. A Tabela 4 apresenta a distribuição de Staphylococcus spp. positivos para a presença dos gene ica-D, enterotoxigênicos e de resistência em 57,1% (32) de espécies de Staphylococcus spp. isolados em pontos da linha de produção de queijo coalho fabricado com leite de cabra. De acordo com análise estatística realizada, não foi possível identificar associação entre os fatores investigados (genes enterotoxigênicos, capacidade de produção de biofilmes e resistência). A produção de biofilme pode contribuir com a disseminação de Staphylococcus enterotoxigenicos no leite e em queijo. Pelo menos um gene enterotoxigênico foi observado em 18 (32,1%) isolados. A presença dos genes sea (3; 5,4%), seb (1; 1,8%), sec (4; 7,1%), seg (3; 5,4%), seh (3, 5,4%) e sei (5, 8,9%) foi observada em Staphylococcus spp. isolado de mão de manipulador, leite cru e pasteurizado, queijo, utensílios e equipamentos. A presença do gene em isolados obtidos de diversas amostras, inclusive mão do manipulador, indica que medidas de controle devem ser implementadas, pois a pasteurização é um tratamento térmico que não elimina toxinas estafilocócicas no leite (BARTOLOMEOLI et al. 2009). Outras combinações da presença de genes foram observadas em Staphylococcus spp. (Ica-D/fem A/ sec) isolado de leite cru, Staphylococcus aureus (ica-D/fem A) de leite cru, S hominis e S. cohnii (seh/sei) de coalhada e leite pasteurizado, S. cohnii (sea/seb/seg) de leite pasteurizado e S. epidermidis (seg/sei/mec A/) em queijo com 24 horas de fabricação. O gene sei foi observado em Staphylococcus spp. de queijo com 24 horas de fabricação. A presença dos genes fem A (3; 5,4%) e mec A (2; 3,6%) foi observada em poucos isolados. Por outro lado, 25 (44,6%) foram positivos para o gene blaZ. 56 O gene blaZ é responsável pela produção de β- lactamases (CHAMBERS et al. 2009) e a frequência encontrada nesse estudo justifica a correlação estatitistica com os pontos avaliados (p>0,05). Tabela 4. Presença de genes associados a fatores de virulência em Staphylococcus spp. (n=56) isolado de pontos da linha de produção de queijo coalho fabricado com leite de cabra pasteurizado Ponto de origem Número de isolados Isolados positivos Genes mão de manipulador 7 (71,4%) 5 blaZ (3) sec, seg e blaZ sea e blaZ tanque de pasteurização 2 (100%) 2 blaZ bacia de plástica seladora recipiente dos dessoradores dessorador de plástico 2 (100%) 1 (100%) 2 (50%) 1 (100%) 2 1 1 1 blaZ blaZ Seg, sei, mec A e blaZ Sec, seh e blaZ mesa de aço inoxidável 2 (50%) 1 blaZ lira de aço inoxidável 1 (100%) 1 blaZ faca 2 (50%) 1 blaZ panela de alumínio 1 (100%) 1 peneira de plástico 3 (100%) 3 leite pasteurizado 6 (100%) 6 blaZ blaZ sea e blaZ sec e blaZ Blaz (3) Sei e blaZ Sea, seb e seg Seh e sei leite cru 6 (33,3%) 2 coalhada inicial 3 (66,6%) 2 coalhada final 1 (100%) 1 queijo 24 horas 3 (66,6%) 2 blaZ ica-D e fem A ica-D, sec e fem A Fem A Seh e sei blaZ seg, sei e mec A sei 0 queijo 30 dias soro prensa de aço inoxidável tanque de recepção do leite forma plástica geladeira de maturação balde plástico TOTAL PERCENTUAL POSITIVO 6 2 1 1 1 1 1 56 100% Negativo 0 0 0 0 0 0 32 57.1% Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Negativo Espécie S. saprophyticus S. warneri S. aureus S. cohnii S. sciuri S. hominis S. hyicus S. saprophyticus S. sciuri S. saprophyticus S. saprophyticus S. cohnii S. hyicus S. hominis S.cohnii S. hyicus S. saprophyticus S. lugdunensis S. aureus S. sciuri s. cohnii S. haemoliticus S. hominis S. aureus Staphylococcus spp. S. hominis S. aureus S. epidermidis Staphylococcus spp. Staphylococcus spp. S. saprophyticus S. warneri S. saprophyticus S. lugdunensis S. saprophyticus S. saprophyticus S. lugdunensis A Figura 1 mostra o dendrograma construído a partir da genotipagem em Staphylococcus spp. isolado de leite de cabra cru, leite de cabra pasteurizado, 57 coalhada, soro, queijo, mão de manipulador, utensílios e equipamentos envolvidos na fabricação de queijo coalho em uma usina de beneficiamento no cariri paraibano. O método de Rep-PCR utilizando primer RW3A apresentou poder discriminatório elevado (valor D=0,99). Considerando uma similaridade de 70% pôde-se observar a formação de treze clusters distintos e 59 genotipos. Houve uma tendência de agrupamento por espécie. No entanto, a Rep-PCR foi capaz de discriminar isolados de uma única espécie. De forma geral, todos os clusters apresentaram isolados obtidos de diferentes fontes. Os resultados da genotipagem indicam a presença de isolados geneticamente semelhantes, pertencentes à espécie S. saprophyticus da mão de manipuladores e de queijo com maturação de 30 dias (Cluster C, Figura 3). Esses resultados demonstram a importância do manipulador como fonte de Staphylococcus no produto final. Outras espécies identificadas de queijo, como S. epidermidis e S. aureus, não apresentaram similaridade com demais isolados avaliados. Identificou-se Staphylococcus aureus semelhantes obtidos do leite cru, peneira e da coalhada final, indicando a possibilidade de falha no processo de pasteurização ou contaminação cruzada pós-pasteurização. Os resultados indicam relação clocal entre isolados obtidos de diferentes amostras de equipamentos, ratificando a importância das práticas de higiene e desinfecção sobre a qualidade microbiológica final do queijo. 58 66.7 92.3 55.2 82.9 77.2 A 68.0 50.5 94.7 91.5 80.2 71.6 B 43.1 83.3 66.7 54.8 100 95 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 REP-PCR 40 35 30 REP-PCR Origem Identificação mão 01 Staphylococcus hominis leite cru Staphylococcus spp. leite cru Staphylococcus hominis leite cru Staphylococcus hominis tanque de captação do leite na usina S. lugdunensis queijo 24 horas Staphylococcus spp. SEI leite pasteurizado S. cohnii Blaz bacia S. hyicus Blaz panela de aluminio S. hyicus Blaz bacia S. hyicus Blaz coalho após adição dos ingredientes S. haemolyticus SEI/Blaz peneira S. aureus SEC/Blaz leite cru S. aureus coalhada final S. aureus Blaz peneira S. lugdunensis SEA/Blaz tanque de pasteurização S. sciuri Blaz mão 01 Staphylococcus spp. Genes Blaz Swab da geladeira - maturação de que. S. saprophyticus 91.2 88.1 94.7 78.9 C 72.4 90.0 81.8 67.9 41.3 80.1 queijo 30 dias S. saprophyticus queijo 30 dias S. saprophyticus queijo 30 dias S. saprophyticus queijo 30 dias S. saprophyticus MÃO 01 S. saprophyticus Blaz MÃO 02 S. saprophyticus Blaz dessorador S. saprophyticus SEC/SEH/Blaz mesa de aço inoxidável S. saprophyticus Blaz prensa de aço inoxidável S. saprophyticus peneira S. saprophyticus Blaz seladora S. saprophyticus Blaz faca (ponto de corte) S. hominis homin Blaz Lesão de pele (humano) S. aureus (b) Nasal suíno Staphylococcus spp. queijo 24 horas S. aureus queijo 30 dias Staphylococcus spp. Infecção nosocomial (humano) S. aureus (c) Orofaringe (humano) S. saprophyticus 60.3 D 76.9 50.7 71.4 F 76.9 48.4 67.6 85.7 61.3 82.4 56.2 G H 64.3 37.4 I 76.2 47.8 70.6 83.9 64.7 82.8 J 59.9 78.6 72.1 37.1 56.7 L 66.4 78.3 M 66.1 50.0 29.5 N 76.9 55.8 L 57.1 94.1 ATCC 25923 leite cru Staphylococcus spp. Lesão de pele (humano) S. aureus (a) Ica-D/SEC/femA formas S. saprophyticus mão 01 Staphylococcus warneri Blaz leite cru S. aureus Ica-D/femA faca (ponto de corte) S. cohnii leite pasteurizado S. cohnii SEH/SEI mão 02 S. cohnii SEA/Blaz mesa de aço inoxidável S. cohnii tanque de pasteurização S. hominis homin Blaz lira para corte da coalhada S. hyicus Blaz MÃO 02 S. aureus SEC/SEG/Blaz balde preto S. lugdunensis recipiente dos dessoradores S. hominis homin queijo 30 dias Staphylococcus spp. soro S. warneri leite pasteurizado S. cohnii SEA/SEB/SEG queijo 24 horas S. epidermidis SEG/SEI/MecA Orofaringe (humano) S. auricularis soro S. warneri recipiente dos dessoradores S. sciuri SEG/Mec /Blaz leite pasteurizado após adds do coalho Staphylococcus sciuri Blaz coalhada S. hominis homin FemA coalhada S. hominis homin SEH/SEI coalhada S. hominis homin Secreção de pele (humano) S. haemolyticus leite pasteurizado S. cohnii Blaz Figura 1. Dendrograma gerado a partir da análise de perfis moleculares obtidos por REP-PCR em Staphylococcus spp. isolado de leite cru e pasteurizado, utensílios, equipamentos, mão de manipulador e queijo coalho fabricado com leite de cabra pasteurizado 59 5. Conclusão Staphylococcus coagulase negativa multirresistentes colonizam diversos pontos na linha de processamento de queijo coalho produzido com leite de cabra, incluindo o queijo pronto para consumo com 24 horas e 30 dias de fabricação. Genes de resistência e enterotoxigênicos estão presentes em Staphylococcus aureus e em Staphylococcus coagulase negativo isolado de pontos da produção de queijo coalho elaborado com leite de cabra. Considerando os pontos avaliados, a REP-PCR mostrou perfis moleculares distintos para os isolados no estudo. Staphylococcus spp. de espécies identificadas em queijos não foram similares a outras espécies observadas em outros pontos avaliados. Por outro lado, Staphylococcus saprophyticus identificados em mãos de manipuladores diferentes foram similares a isolados do queijo coalho. 6. Referências Bibliográficas AKINEDEN, O. et al. Enterotoxigenic properties of Staphylococcus aureus isolated from goats' milk cheese. International Journal of Food Microbiology, v. 124, n. 2 p. 211-216, 2008. ABULREESH, H. H.; ORGANJI, S. R. The Prevalence of multidrug-resistant staphylococci in food and the environment of Makkah, Saudi Arabia. Research Journal of Microbiology, v. 6, n. 6, p. 510–523, 2011. . ADALETI, R. et al. Comparison of polymerase chain reaction and conventional methods in detecting methicillin-resistant Staphylococcus aureus. Journal of Infection in Developing Countries, v. 2, n. 1, p. 46-50, 2008. ALTMAN, D. G. Practical statistics form medical research. London: Chapman and Hall. ARCIOLA, C. R.; BALDASSARRI, L.; MONTANARO, L. Presence of ica-A and ica-D genes and slime production in a collection of staphylococcal strains from catheterassociated infections. Journal of clinical microbiology, v. 39, n. 6, p. 2151–2156, 2001. BARTOLOMEOLI, I. et al. Occurrence and characterization of Staphylococcus aureus isolated from raw milk for cheesemaking. International Journal of Dairy Technology, v. 62, n. 3, p. 366–371, 2009. BAUER, A. W. et al. Antibiotic susceptibility testing by a standardized single disk method. American journal of clinical pathology, v. 45, n. 4, p. 493–496, 1966. 60 BENNETT, R. W.; LANCETTE, G. A. Laboratory Methods - BAM: Staphylococcus aureus. WebContent. Disponível em: <http://www.fda.gov/Food/FoodScienceResearch/LaboratoryMethods/ucm071429.ht m>. Acesso em: 10 out. 2013. BLAIOTTA, G. et al. Detection of Staphylococcal enterotoxin genes in Staphylococcus spp. strains isolated from meat and dairy products. Evidence for new variants of seg and sel in S. aureus AB-08802. Journal of Applied Microbiology, v.97, n. 4, p.719-730, 2004. CHAMBERS, H. F.; DELEO, F. R. Waves of Resistance: Staphylococcus aureus in the Antibiotic. Nature Reviews Microbiology, v.7, n. 9, p.629–641, 2009. CHRISTENSEN, G. D. et al. Adherence of coagulase-negative staphylococci to plastic tissue culture plates: a quantitative model for the adherence of staphylococci to medical devices. Journal of Clinical Microbiology, v. 22, n. 6, p. 996–1006, 1985. CHU, C.; YU, C.; LEE, Y.; SU, Y. Genetically divergent methicillin-resistant Staphylococcus aureus and sec-dependent mastitis of dairy goats in Taiwan. BMC Veterinary Research, v. 8, n.39, p. 2-10, 2012. CUCARELLA, C. et al. Role of Biofilm-Associated Protein Bap in the Pathogenesis of Bovine Staphylococcus aureus. Infection and Immunity, v. 72, n. 4, p. 2177–2185, 2004. CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE. Performance Standards for Antimicrobial Susceptibility Testing; Twenty-Second Informational Supplement. CLSI document M100-S22. Wayne, 2012. CONSTANTIN, O. E.; TOFAN, C. The influence of temperature and material type in biofilm formation in food industry. Journal of Agroalimentary Processes and Technologies, v. 8, n. 1, p. 113-118, 2007. FREEMAN, D. J.; FALKINER, F. R.; KEANE, C. T. New method for detecting slime production by coagulase negative Staphylococci. Journal of clinical pathology, v. 42, n. 8, p. 872–874, 1989. FRITSCH, E. F.; MANIATIS, T.; SAMBROOK, J. Molecular cloning: a laboratory manual. New York: Cold Spring Harbor Laboratory, 1989. 235 p. HANAA, A. E.; SAMAH, F. D. Phenotypic and Genotypic detection of both mec-A and blaZ-genes mediated β-lactam resistance in Staphylococcus strains isolated from bovine mastitis. Global Veterinaria, v. 6, n. 1, p. 30-50, 2011. HOLECKOVÁ, B. et al. Occurrence of enterotoxigenic Staphylococcus aureus in food. Annals of agricultural and environmental medicine: AAEM, v. 9, n. 2, p. 179–182, 2002. 61 HUNTER, P. R.; GASTON, M. A. Numerical index of the discriminatory ability of typing systems: an application of Simpson’s index of diversity. Journal of Clinical Microbiology, v. 26, n. 11, p. 2465–2466, 1988. JOHNSON, W. M. et al. Detection of genes for enterotoxins, exfoliative toxins, and toxic shock syndrome toxin 1 in Staphylococcus aureus by the polymerase chain reaction. Journal of Clinical Microbiology, v. 29, n. 3, p. 426–430, 1991. JONAS, D. et al. Evaluation of the mec A fem-B Duplex Polymerase Chain Reaction for Detection of Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus. European Journal of Clinical Microbiology and Infectious Diseases, v. 18, n. 9, p. 643–647, 1999. KÉROUANTON, A. et al. Characterization of Staphylococcus aureus strains associated with food poisoning outbreaks in France. International journal of food microbiology, v. 115, n. 3, p. 369–375, 2007. LEVY, S. B.; MARSHALL, B. Antibacterial resistance worldwide: causes, challenges and responses. Nature Medicine, v. 10, n.12, p. S122–S129, 2004. MEHROTRA, M.; WANG, G.; JOHNSON, W. M. Multiplex PCR for detection of genes for Staphylococcus aureus enterotoxins, exfoliative toxins, toxic shock syndrome toxin 1, and methicillin resistance. Journal of Clinical Microbiology, v. 38, n. 3, p. 1032–1035, 2000. RESCH, M.; NAGEL, V.; HERTEL, C. Antibiotic resistance of coagulase negative Staphylococci associated with food and used in starter cultures. International Journal of Food Microbiology, v.127, n.1-2, p.99-104, 2008. RODE, T. M. et al. Different patterns of biofilm formation in Staphylococcus aureus under food-related stress conditions. International Journal of Food Microbiology, v. 116, n. 3, p. 372–383, 2007. SAS. SAS/STAT 9.3 User’s Guide. Cary, NC: SAS Institute Inc. 2011, 8621p. SOARES, J. C. et al. Biodiversity and characterization of Staphylococcus species isolated from a small manufacturing dairy plant in Portugal. International journal of food microbiology, v. 146, n. 2, p. 123–129, 2011. STEPANOVIĆ, S. et al. A modified microtiter-plate test for quantification of staphylococcal biofilm formation. Journal of Microbiological Methods, v. 40, n. 2, p. 175–179, 2000. SZWEDA, P. et al. Biofilm production and presence of ica and bap genes in Staphylococcus aureus strains isolated from cows with mastitis in the eastern Poland. Polish journal of microbiology, v. 61, n. 1, p. 65–69, 2012. TANG, J. et al. Characterization of adhesin genes, staphylococcal nuclease, hemolysis, and biofilm formation among Staphylococcus aureus strains isolated from different sources. Foodborne pathogens and disease, v. 10, n. 9, p. 757–763, 2013. 62 VAN DER ZEE, A. et al. Molecular genotyping of Staphylococcus aureus strains: comparison of repetitive element sequence-based PCR with various typing methods and isolation of a novel epidemicity marker. Journal of clinical microbiology, v. 37, n. 2, p. 342–349, n. 2, 1999. YAO, Y.; STURDEVANT, D. E.; OTTO, M. Genomewide Analysis of Gene Expression in Staphylococcus epidermidis Biofilms: Insights into the Pathophysiology of S. epidermidis Biofilms and the Role of Phenol-Soluble Modulins in Formation of Biofilms. Journal of Infectious Diseases, v. 191, n. 2, p. 289–298, 2005. 63 CONSIDERAÇÕES FINAIS A produção de leite de cabra é uma atividade economicamente importante para a agricultura familiar desenvolvida em algumas regiões do Nordeste, principalmente para a região do cariri paraibano. Produtos fabricados com leite de cabra com características regionais podem atuar como uma estratégia de marketing para incentivar o consumo de queijos, por consumidores de paladar refinado. Alguns atributos como a qualidade microbiologia do leite de cabra pode interferir na transformação do leite em outros produtos como queijos, ou ainda tornar-se prejudicial à saúde humana, do ponto de vista da segurança alimentar. Desta forma, métodos de genotipagem rápidos e de baixo custo podem ser utilizados na identificação de pontos críticos de controle na produção de leite de cabra e derivados. A partir da análise de perfis de similaridade gerados pela REP-PCR com Rw3A será possível traçar medidas de controle simples que possam garantir um leite de cabra com melhor qualidade, do ponto vista microbiológico, e que atenda aos padrões requeridos para a produção de um alimento seguro. Staphylococcus spp. com potencial para a produção de enterotoxinas e para resistência antimicrobiana estão amplamente distribuídos no ambiente de produção de queijos produzidos com leite de cabra pasteurizado, e portanto, medidas de controle devem ser providenciadas. A mão dos manipuladores, utensílios e equipamentos são fontes importantes na disseminação de microrganismos resistentes principalmente a antibióticos βlactâmicos do grupo das penicilinas. Igualmente, Staphylococcus spp. produtores de biofilme estão presentes na linha de produção de queijo de cabra. Contudo, os mecanismos pelos quais a estrutura do biofilme pode ser produzida em superfícies envolvidas na produção de queijos fabricados com leite de cabra necessitam ser investigados. Os fatores de patogenicidade em Staphylococcus spp. favorecem a colonização, adaptação e disseminação do microrganismo em tecidos e ambientes. Dessa forma, a presença de Staphylococcus spp. em distintos pontos da produção de queijo coalho são relevantes para a saúde pública visto que apresentam genes de virulência que até então eram atribuídos apenas a Staphylococcus aureus. 64 ANEXO Descrição dos oligonucleotídeos utilizados na identificação dos fatores de virulência e na genotipagem de Staphylococcus spp. Oligonucleotídeos iniciadores Tamanho Sequência do Referência fragmento ATGGTCAAGCCCAGACAGAG ica-D sea seb sec sed see seg seh sei CGTGTTTTCAACATTTAATGCAA TTGGAAACGGTTAAAACGAA GAACCTTCCCATCAAAAACA TCGCATCAAACTGACAAACG GCAGGTACTCTATAAGTGCC GACATAAAAGCTAGGAATTT AATCGGATTAACATTATCC CTAGTTTGGTAATATCTCCT TAATGCTATATCTTATAGGG TAGATAAAGTTAAAACAAGC TAACTTACCGTGGACCCTTC AATTATGTGAATGCTCAACCCGATC AAACTTATATGGAACAAAAGGTACTAGTTC CAATCACATCATATGCGAAAGCAG CATCTACCCAAACATTAGCACC CTCAAGGTGATATTGGTGTAGG AAAAAACTTACAGGCAGTCCATCTC 198pb (2012) 120pb 478pb 257pb 317 pb 170 pb 642 pb GCTTGACCACTTTTATCAGC CCAATTCCACATTGTTTCGGTCTAAA (1991) Blaiotta et al. (2004) com modificações 577pb Vesterholm517 pb Nielsen et al. (1999) GTAGAAATGACTGAACGTCCGATAA mec A Johnson et al. 376 pb AAGAGATTTGCCTATGCTTC blaz Szweda et al. Jonas et al. 310 pb (1999) Adaleti et al. (2007) AAAAAAGCACATAACAAGCG Fem A GATAAAGAAGAAACCAGCAG Mehrotra et al. 132pb (2000) Blaiota et al. (2004) Rw3A TCGCTCAAAACAACGACACC - Van Der Zee et al. 1999 65