A economia não pode desconsiderar os serviços prestados pela

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A economia não pode desconsiderar os serviços prestados pela
A economia não pode desconsiderar os serviços
prestados pela natureza
Artigo de Marcus Eduardo de Oliveira e Volmir Meneguzzo
[Ecodebate] Partindo do pressuposto básico que o meio ambiente é a fonte
de todos os recursos utilizados no processo produtivo, não é apenas temeroso, mas
sim também improdutivo e mesmo autodestrutivo, que parte do pensamento
econômico tradicional – não obstante aos constantes apelos das mais altas vozes
que representam a economia ecológica – continue desconsiderando os serviços
prestados pela Mãe Natureza em prol do sistema econômico.
Já se torna quase consenso que para a execução de boas políticas públicas, é de
fundamental importância que a economia e o meio ambiente caminhem
necessariamente juntos.
Nesse pormenor, entendemos que também cabe à economia, enquanto
ciência social, dentro do estabelecimento de uma visão pluralista que contemple o
social e o ecológico, que se desenvolva junto ao seu público, em especial à
comunidade, a disseminação da necessária idéia da preservação dos recursos
naturais. Para isso, é mister fazer e promover a integração dos conhecimentos
econômicos e ecológicos, divulgando-os em larga escala.
Definitivamente, o relacionamento entre a Terra e a Economia tem de ser
harmonioso, visto que a segunda é parte da primeira. Nesse pormenor, reforça-se a
idéia de que a economia nada mais é que um subconjunto do meio ambiente. É
necessário, portanto, criar-se, em todos os aspectos, a boa sincronia entre a
economia (atividade produtiva) e o ecossistema (a base dos recursos naturais).
Dito isso, é importante reiterar que o crescimento da economia não pode acontecer
sobre as ruínas do sistema conhecido por capital natural. No entanto, é exatamente
isso que temos presenciado. Vejamos que em apenas 50 anos, de 1950 a 2000, a
economia global foi multiplicada por sete, aumentando a produção de bens e
serviços de US$ 6 trilhões para US$ 43 trilhões (dados de 2000). Conquanto, o que
não foi respondido nesse mesmo período é a que “preços” ecológico e social esse
crescimento elevado foi alcançado.
De nossa parte, nos arriscamos a tentar encontrar as respostas. O preço
desse “falso” crescimento sem limites foi (e tem sido), assim acreditamos, o
completo desequilíbrio ambiental. Os exemplos disso estão por aí. Enquanto lençóis
freáticos caem assustadoramente de um lado, principalmente nas três maiores
áreas produtoras de alimentos (China, Índia e EUA), do outro se queima florestas,
expandem-se desertos e aumentam-se consideravelmente os níveis de dióxido de
carbono. Os rios estão ficando às mínguas. O principal rio dos Estados Unidos (o
Colorado) mal chega ao mar. O Nilo já apresenta enorme dificuldade em atingir o
Mediterrâneo.
O fato inexorável, entrementes, é que todo esse crescimento produtivo foi,
em essência, muito conflitante e pouco (quase nada) sensível às causas da
preservação natural. Na base, promoveu e incentivou a expansão econômica à
custa da mais brutal agressão ambiental.
Dito de outra forma, o que esse crescimento fez em ritmo voraz foi destruir
sobremaneira as bases de apoio que sustentam a própria economia. Abusando do
expediente das metáforas, podemos explicar isso da seguinte forma: a economia
atirou (e está atirando) uma flecha que, em breve, lhe voltará para o próprio rosto.
Assim, a economia agride o ecossistema e por ele, no futuro, será agredida. O
resultado disso? Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), na terceira
edição do Global Biodiversity Outlook, o GBO-3, “alguns ecossistemas estão
próximos de atingir um ponto preocupante, tornando-se cada vez menos úteis à
humanidade. Alguns fatores agravantes seriam a rápida diminuição das florestas, a
dificuldade de recuperação dos cursos de rios e a morte em massa de arrecifes de
corais”.
A natureza, como é fartamente perceptível, vem demonstrando ao homem
ao longo da história que sua força é muito superior a capacidade de prevenção dos
seres vivos. As enchentes do Rio Amarelo na China em 1887 e 1931 já
comunicaram pelas estimativas de mortes que necessário se faz produzir com
respeito aos recursos naturais. Ainda na China, a pretensão de promover o
desenvolvimento por meio da intervenção na natureza provocou outro grande
desastre que foi “a falha na barragem de Banqiao”, com mais de 230 mil mortos.
Segundo Malthus (1798), em “Ensaio Sobre o Princípio da População”, a produção
de alimentos e a população crescem de forma desproporcional. Crescem de forma
aritmética e geométrica respectivamente. Para estudiosos da atualidade a produção
de alimentos atende a proporcionalidade do crescimento da população, porém, a
distribuição de renda e de alimentos no mundo desencadeia a fome e a miséria
existentes.
A busca por soluções relativas à fome e a miséria no mundo vem de
encontro com as propostas de promover o desenvolvimento com base sustentável.
As formas como este processo está sendo conduzido proporciona discussões
constantes, principalmente pelo contínuo descuido nos sistemas produtivos de
matérias primas, sistemas industriais e modelos de consumo. O modelo de
produção a qualquer custo sem a adequada preocupação dos impactos ambientais
foi ao longo dos anos deixado de lado. Atualmente a preocupação vem
proporcionando grandes discussões, porém pequenas ações.
Incentivos para a produção agroecológica, orgânica e a redução do
desmatamento vêm compondo temas de debates e promovendo políticas que
podem ao longo dos próximos anos amenizarem os impactos maléficos sobre os
recursos naturais e ao mesmo tempo produzindo alimentos. As propostas voltadas
para a agricultura de baixo carbono são importantes, mas não retornam no curto
prazo os prejuízos nos rios e mares do mundo, principalmente em assoreamento e
poluição. No contexto dos impactos gerados pela indústria e pelos hábitos e
consumo, a poluição e os impactos por resíduos são desastrosos, como são os
casos dos depósitos de lixo pelo mundo e a contaminação e assoreamento dos rios.
O desenvolvimento por si já exige que seja sustentável; portanto, cabe destacar
que em muitos casos pelo mundo estamos falando de crescimento econômico.
Gerar riquezas com base em energia captada nos recursos naturais tem provocado
desastres voltados contra a própria vida humana no planeta. Assim, a economia
precisa ser conduzida de forma equilibrada e com preocupação maior em impactar
menos nos recursos naturais, sejam renováveis ou não renováveis. Gerar menor
volume de resíduos, sensibilizar-se para novos modelos de consumo com equilíbrio
no consumo de calorias pelo mundo pode ser a base de um processo produtivo e
industrial menos maléfico aos recursos naturais e, por conseqüência, aos habitantes
do planeta.
(*)Marcus Eduardo de Oliveira, Economista brasileiro. Especialista em Política
Internacional e Mestre em Integração da América Latina (USP). Professor de
economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. Articulista do Portal
EcoDebate, da Agência Zwela de Notícias (Angola) e do jornal Diário Liberdade
(Galiza)
[email protected]
twitter.com/marcuseduoliv
http://blogdoprofmarcuseduardo.blogspot
(**)Volmir Meneguzzo Economista brasileiro. Especialista em Gestão Empresarial
Estratégica de Agribusines (FGV). Mestre em Desenvolvimento Local (UCDB).
Professor de gestão estratégica, qualidade e meio ambiente e negociações da
Faculdade e Tecnologia do SENAI em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
[email protected] [email protected]
EcoDebate, 23/03/2011