Leia - Associação Brasileira de Angus
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Impresso Março/Abril de 2009 Especial 1 2219/03 – DR/RS Associação Brasileira de Angus CORREIOS 2 Março/Abril de 2009 Associação Brasileira de Angus Diretoria Biênio 2009/2010 Diretoria Executiva Diretor Presidente Joaquim Francisco Bordagorry de Assumpção Mello Diretor 1º Vice-Presidente Fábio Luiz Gomes Diretor vice-presidente Mariana Franco Tellechea Diretor vice-presidente José Roberto Pires Weber Diretor vice-presidente Paulo de Castro Marques Diretor Financeiro Marco Antônio Gomes da Costa Diretor Administrativo Angelo Bastos Tellechea Diretor de Marketing João Francisco Bade Wolf Diretor de Núcleos Ignacio Silva Tellechea Diretor sem Designação Específica Ronaldo Zechlinski de Oliveira Conselho de Administração Membros Eleitos Afonso Motta Antônio dos Santos Maciel Neto Cristopher Filippon Renato Zancanaro Washington Humberto Cinel Membros Natos – (Ex-Presidentes da ABA) Angelo Bastos Tellechea Antonio Martins Bastos Filho Fernando Bonotto Hermes Pinto João Vieira de Macedo Neto José Roberto Pires Weber José Paulo Dornelles Cairoli Reynaldo Titoff Salvador Conselho Fiscal Membros Efetivos Eduardo Macedo Linhares Roberto Soares Beck Ruy Alves Filho Membros Suplentes Elizabeth Linhares Torelly Carla Sandra Staiger Schneider Roberta Riemke Leon Conselho Técnico Susana Macedo Salvador – Presidente [email protected] Antônio Martins Bastos Filho [email protected] Luis Felipe Ferreira da Costa [email protected] Luiz Alberto Muller [email protected] Sérgio Tellechea [email protected] Ulisses Amaral [email protected] Amilton Cardoso Elias - Representante ANC [email protected] Coordenação Tânia Gomes Ferraz [email protected] Jornalistas Responsáveis Eduardo Fehn Teixeira - MTb/RS 4655 e Horst Knak - MTB/RS 4834 Colaboradores: jorn. Nelson Moreira e jorn. Luciana Radicione Apoio: Assessoria de Imprensa da ABA - jorn. Luciana Bueno Diagramação: Jorge Macedo Departamento Comercial: Daniela Manfron 51 3231.6210 // 51 8116.9784 Edição, Diagramação, Arte e Finalização Agência Ciranda - Fone 51 3231.6210 Av. Getúlio Vargas, 908 - conj. 502 CEP 90.150-002 - Porto Alegre - RS www.agenciaciranda.com.br [email protected] Associação Brasileira de Angus Av. Carlos Gomes, 141 / conj. 501 CEP 90.480-003 - Porto Alegre - RS www.angus.org.br [email protected] Fone: 51 3328.9122 * Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores. Fotos de capa: ABA / Divulgação EDITORIAL Responsabilidade e desafios Prezados amigos da raça Angus, sócios e parceiros. Reforço os agradecimentos da indicação do meu nome pelos associados e diretoria, em especial ao Dr. José Paulo Dornelles Cairoli, nosso ex-presidente, neste início de gestão na Associação Brasileira de Angus para o biênio 2009/2010. É com muita responsabilidade, e desafio, que assumo a Associação Brasileira de Angus em um momento de expansão, tanto da entidade quanto da raça, no país. Nos últimos anos, a Associação Brasileira de Angus galgou patamares expressivos de reconhecimento nacional, com um forte trabalho técnico HUMOR e de divulgação, sobretudo no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Através desses resultados obtidos, e do apoio de uma diretoria forte e competente, temos, daqui para a frente, a missão de fomentar ainda mais a carne Angus e exaltar seu conjunto de características – como o marmoreio, que lhe confere maciez e sabor inigualáveis –, que a fazem nobre, única e diferenciada em relação às demais. ciado, de severa crise nos mercados produtores, exportadores e compradores de carne, precisamos estar atentos, ainda mais, à gestão rural, pois a organização dentro da propriedade pode ser a chave de ouro do nosso negócio, nesse período de instabilidade global. Os cortes Angus são reconhecidos nos mercados mais exigentes, nacional e internacionalmente, e é esse potencial que precisamos explorar e manter como foco do nosso trabalho. O pecuarista tem de seguir atuando e dando atenção especial aos custos de produção, encarando sua propriedade como uma verdadeira empresa para manter qualidade e produtividade. Os investimentos fundamentais devem ser mantidos e a estrutura da propriedade usada ao máximo, aliando à compra de sêmen de qualidade e a boa alimentação para o gado. Como estamos em um ano diferen- Nesta edição do Angus@newS va- mos mostrar, entre outros, como está a demanda nacional da carne Angus, através de uma entrevista com um dos nossos parceiros, o Frigorífico Mercosul; a preferência do gado Angus nos embarques de gado em pé, ao Líbano, e o valor diferenciado pago à raça; como também a importância comercial da rastreabilidade. Com os melhores votos de um ano repleto de realizações, convido a que participem das nossas atividades em 2009. Boa leitura a todos! Joaquim Francisco Bordagorry de Assumpção Mello Presidente da Associação Brasileira de Angus Março/Abril de 2009 MOVIMENTO 3 EXPOSIÇÕES RANQUEADAS 2009 Angus na Expolondrina 2009 ABRIL 49º EXPOSIÇÃO DE LONDRINA 07/04/2009 a 12/04/2009 JULGAMENTO MACHOS: 10/04 – SEXTA – TARDE JULGAMENTO FÊMEAS: 11/04 – SÁBADO – MANHÃ E TARDE 40º EXPOAGRO ITAPETININGA 16/04/2009 a 26/04/2009 7º EXPOSIÇÃO DE OUTONO DE URUGUAIANA 06/05/2009 a 10/05/2009 MAIO 5º OUTONO ANGUS SHOW 27/05/2009 a 31/05/2009 JULGAMENTO DE RÚSTICOS: 28/05 - 9H JULGAMENTO MACHOS: 29/05 – SEXTA – MANHÃ E TARDE JULGAMENTO FÊMEAS: 30/05 – SÁBADO – MANHÃ JUNHO 15º FEICORTE 16/06/2009 a 29/06/2009 JULHO 50º EXPO ARAÇATUBA A Associação Brasileira de Angus – ABA coordena a participação da raça Aberdeen Angus no segundo turno da 49ª Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina, que se realiza de 7 a 12 de abril, no Parque de Exposições Ney Braga, na cidade de Londrina, PR. O zootecnista Roberto Vilhena Vieira irá julgar os machos da raça no dia 10 de abril. Já a escolha das melhores fêmeas da exposição será realizada no dia 11 de abril. Vilhena já atuou como jurado da raça em outras ocasiões, como na Exposição de Araçatuba em 2008. Ele relata que conhece a raça Aberdeen Angus no exterior e fica satisfeito ao ver como a raça no Brasil está competitiva, com um excelente nível de apresentação nas exposições. A novidade deste ano será a realização do Curso de Jurado Jovem Introdução ao julgamento na raça Angus, no dia 9 de abril, durante a exposição. O curso terá aulas teóricas sobre padrão racial, preparo e avaliação dos animais, características importantes da raça para observar e premiar nas pistas, programas da ABA, além de aulas práticas durante o julgamento oficial da Angus na mostra. O objetivo é a maior integração dos estudantes com a raça e a entidade, mostrando aos futuros criadores os benefícios e qualidades da raça. Outra inovação será um restaurante Angus dentro do parque de exposições, que irá comercializar Carne Angus Certificada. A Expolondrina 2009 contará com dois leilões chancelados pela ABA. No dia 9 de abril será o 2º Leilão Conexão Angus, no Abdelkarim Janene. Já no dia 10, acontece o 1º Leilão GB Corticeira, no Recinto Garcia Molina. Inscrições para Uruguaiana estão abertas até 26 de abril AGOSTO EXPOINTER 29/08/2009 a 06/09/2009 JULGAMENTO FÊMEAS ARGOLA – 01/09 – TERÇA – MANHÃ JULGAMENTO MACHOS ARGOLA – 02/09 – QUARTA – MANHÃ GUARAPUAVA SETEMBRO 73º EXPOSIÇÃO DE URUGUAIANA 28/09/2009 a 04/10/2009 OUTUBRO 59º FEAPEC – EXPOSIÇÃO DE CACHOEIRA DO SUL 01/10/2009 a 11/10/2009 EXPOSIÇÃO DE PELOTAS 02/10/2009 a 15/10/2009 48º EXPO RIO PRETO EXPOFEIRA DE BAGÉ EXPOFEIRA DE DOM PEDRITO 67° EXPOSIÇÃO AGROPECUÁRIA DE ALEGRETE 12/10/2009 a 31/10/2009 EXPOFEIRA DE RIO GRANDE 13/10/2009 a 19/10/2009 EXPOSIÇÃO DE LIVRAMENTO 15/10/2009 a 16/10/2009 43° EXPOSIÇÃO AGROPECUÁRIA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS 22/10/2009 a 26/10/2009 Exposição de Outono é uma promoção da ABA e Núcleo Angus Três Fronteiras Já estão abertas as inscrições para a 7ª Exposição de Outono de Uruguaiana, que será realizada de 4 a 9 de maio de 2009, no parque de Exposições de Uruguaiana, RS, numa promoção da Associação Brasileira de Criadores de Angus e Núcleo Angus Três Fronteiras. Até o dia 26 de abril, os animais podem ser inscritos di- retamente na associação, telefone 51.33289122. A programação da raça na exposição tem prevista a admissão dos animais em 6 de maio. No dia 7 de maio acontece o julgamento de rústicos, seguido do Remate Gado Rústico, agendado para as 18 horas. O dia 8 de maio é destinado ao julgamento de classificação dos animais de argola e às 19 horas do mesmo dia ocorre a entrega de prêmios. Ainda no mesmo dia, às 20 horas, será realizado o Remate Raça e Tradição, com oferta de animais de elite Angus e Brangus. No sábado, dia 9, será realizada uma feira de terneiros. EXPOSIÇÃO DE SANTA VITÓRIA DO PALMAR 30/10/2009 NOVEMBRO EXPOVEL - CASCAVEL OUTROS EVENTOS 103ª EXPOSIÇÃO DO PRADO 10 A 21/09/2009 EXPOSIÇÃO DE PALERMO 23/07/2009 A 04/08/2009 XXXVIII EXPOSIÇÃO RURAL DE SÃO BORJA 03/10 4 Março/Abril de 2009 CARNE ProSafeBeef: Investigando as atitudes e as preferências dos consumidores europeus em relação à carne bovina Por Marcia Dutra de Barcellos No início de 2007, a Comissão Européia aprovou o ProSafeBeef, um projeto integrado de cinco anos que envolve o estudo de aspectos competitivos de produção e processamento de carne bovina. O projeto é financiado pelo 6th Framework Programme, dentro da área temática prioritária de Qualidade e Segurança dos Alimentos. A expectativa é que, ao final do projeto, em 2012, a cadeia produtiva de carne bovina na Europa possa oferecer produtos mais seguros, nutritivos e com maior valor agregado, atendendo as demandas do seu exigente consumidor (Miles & Caswell, 2008).. E ntre as diversas áreas de pesquisa, existe um módulo dedicado aos consumidores, chamado Pilar 5. Neste módulo de pesquisa procura-se basicamente investigar as percepções, atitudes, expectativas e a aceitação ou a rejeição de tecnologias de processamento aplicadas à carne bovina. Assim, para a realização da primeira etapa de pesquisa com consumidores foram realizados oito grupos de discussão nas capitais da Alemanha, Espanha, França e Inglaterra. No total 65 pessoas participaram ativamente das discussões, que seguiram um roteiro pré-determinado que abrangeu as opiniões dos participantes sobre segurança da carne bovina, aspectos de saúde e informações sobre o consumo de carne, além de obter a opinião dos entrevistados sobre sistemas de garantia de qualidade de carne bovina. Finalmente, foram investigadas as atitudes dos participantes quanto à inovações tecnológicas em carne bovina. Antes das discussões, os participantes responderam a um questionário onde foram investigadas: 1) sua propensão à inovação, 2) sua atitude geral em relação à carne bovina, 3) seu envolvimento em relação à carne bovina, e 4) sua atitude em relação ao bem-estar animal. Especificamente quanto às inovações tecnológicas em carne bovina, foram avaliadas suas atitudes (aceitação / saudabilidade / segurança / nutrição) em relação a quatro tecnologias de processamento: 1) Carne marinada por submersão em temperos/conservantes/palatabilizantes; 2) Carne marinada por injeção de temperos/conservantes/palatabilizantes; 3) Carne com adição de ômega 3 para melhoria nutricional, e finalmente; Agregar valor aos produtos através de melhorias tecnológicas não é tarefa fácil, face à postura relativamente negativa apresentada pelos consumidores de carne bovina. O consumidor aceita tecnologias aplicadas à carne bovina desde que mantida a naturalidade e qualidade do produto 4) Carne com adição de enzimas ou microorganismos para aumentar a vida de prateleira do produto. Assim, serão apresentados a seguir os resultados obtidos através deste questionário preliminar, que nos fornece uma visão inicial sobre a percepção do consumidor europeu em relação à inovações tecnológicas na cadeia da carne. Os resultados obtidos nas discussões dos grupos de foco estão sendo analisados e serão apresentados em futuras publicações. Resultados Preliminares Questionário Adicional Os resultados indicam que os participantes apresentam atitudes bastante positivas em relação à carne bovina, seguido por atitudes também fortes e positivas em relação ao bemestar animal. Possuem grau moderadamente elevado de envolvimento com o produto e ainda podem ser considerados relativamente favoráveis quanto ao consumo de alimentos inovadores. Veja Tabela 1. rejeitada (médias abaixo de 3.5) por serem excessivamente “invasivas” ou “arriscadas” em termos de contaminação, segundo relataram os participantes na discussão que seguiu ao preenchimento do questionário. Nesse sentido, houve uma preferência pelo “natural” e pela menor intervenção tecnológica possível no produto carne bovina. Assim, “marinar através de submersão” e “melhorar nutricionalmente a carne bovina através da adição de ômega 3” obtiveram a aceitação dos participantes, sendo consideradas ainda tecnologias seguras, saudáveis e nutrivas, enquanto que “marinar através de injeções” e “adicionar enzimas ou microorganismos para aumentar a vida de prateleira da carne bovina” foram rejeitadas. Esta última, segundo os participantes, somente beneficiaria a indústria processadora de carne e os varejistas, que acabariam vendendo produtos “não frescos” aos consumidores. Veja Tabela 2 abaixo: Em relação à aceitação de tecnologias aplicadas à carne bovina, os participantes mostraram-se bastante céticos, sendo que a metade das tecnologias propostas nesta etapa foi Considerações finais Os resultados preliminares aqui apresentados e aqueles que estão em análise e desenvolvimento implicam em grandes desafios para a indústria processadora de carne bovina. Agregar valor aos produtos através de melhorias tecnológicas não é tarefa fácil, face à postura relativamente negativa apresentada pelos consumidores de carne bovina. O que fica claro, no entanto, é que os consumidores aceitam tecnologias aplicadas à carne bovina desde que se mantenha a proposta de “naturalidade” e qualidade do produto. O excesso de manipulação não é aceito pelos consumidores europeus. No Brasil, pretende-se investigar também estas questões, dando continuidade a pesquisas em andamento e já publicadas sobre o tema (vide De Barcellos et al., 2009, 2008). Aqui também é fundamental que melhor compreenda as necessidades do mercado consumidor. Vale lembrar que independente dos tempos de crise e dólar alto, mais do que nunca a indústria processadora brasileira deve bem tratar de seus consumidores do mercado doméstico, oferecendo produtos inovadores, seguros e com garantia de qualidade. Aos produtores, continua o desafio de produzir com sustentabilidade, mantendo os olhos sempre abertos às demandas do mercado. Agradecimentos Este trabalho foi realizado pela UE FP6 Projeto Integrado ProSafeBeef, contrato n. FOOD-CT-2006-036241. Agradecemos o financiamento deste trabalho pela União Européia. A visão expressa nessa publicação é de responsabilidade exclusiva da autora e não necessariamente expressa a visão da Comissão Européia. Referências De Barcellos, M.D., Aguiar, L.K., Ferreira, G.C. & Vieira, L.M. Willingness to Try Innovative Food Products: A Comparison between British and Brazilian Consumers. Brazilian Administration Review, vol. 6, n.1, p. 50-61, Jan-Março de 2009. De Barcellos, M. D., Ferreira, G.C., Vieira, L.M. & Aguiar, L.K. Food Innovation: Perspectives for the Poultry Chain in Brazil. Em: International Agri-Food and Chains Network Management Conference, Wageningen, Holanda, Maio de 2008. Miles, L. & Caswell, H. Advancing beef safety and quality: ProSafeBeef. Nutrition Bulletin, vol. 33, p. 140-114, 2008. Marcia Dutra de Barcellos (Professora da Faculdade de Administracao, Contabilidade e Economia da PUCRS) é Médica Veterinária, Mestre e Doutora em Agronegócios (UFRGS), ex-Coordenadora e ex-Diretora do Programa Carne Angus Certificada. Em 2008 realizou seu Pós-Doutorado na Dinamarca e teve a oportunidade de trabalhar como pesquisadora no projeto ProSafeBeef, entre outros projetos financiados pela União Européia. CARNE Março/Abril de 2009 5 Exportação de gado em pé Mercado de gado vivo é um novo filão para Angus Fotos: Alan Bastos/Divulgação Os mais de 380 mil bovinos vivos exportados em 2008 confirmam a viabilidade do negócio: vender gado em pé se tornou uma excelente opção para os criadores brasileiros em momentos de preços “achatados”. Venezuela e Líbano são os maiores compradores dos animais, e embora a perspectiva hoje não seja tão animadora como no passado recente – reflexo da crise que tomou conta das economias mundiais -, tem muita gente apostando e produzindo, visando colocar seus animais nos porões dos navios rumo a esses mercados. Por Luciana Radicione Que o diga Ronaldo Zechlinski de Oliveira, da Estância Campos da Barra, localizada em Rio Grande, RS. Desde 2005 ele comercializa cabeças de gado por meio desta operação. Foi o primeiro a negociar o embarque de 100 terneiros através de uma empresa exportadora. “Tenho a nota fiscal número 001”, conta. Na época, a venda foi paga à vista, diferentemente do que ocorre hoje com a comercialização dos animais para o mercado interno, quando muitas vezes o pagamento é feito em “prazos esticados”. Preferência por Angus Zechlinski conta que o negócio se tornou uma opção muita atrativa para ele (e por certo para vários outros), especialmente porque os compradores internacionais remuneram melhor – de 5% a 10% mais do que à venda doméstica -, não exigem animais acabados e, o diferencial, valorizam muito o sangue das raças britânicas. “Eles têm preferência pelos britânicos, especialmente o Angus. Pagam mais e não carregam quando Quando a exportação de gado vivo é bem remunerada, torna-se uma válvula de escape ao produtor há sangue zebu”, afirma o criador. Preto ou vermelho, a preferência é mesmo grande pelo gado Angus, confirma André Crespo, da Casarão Remates, com sede em Pelotas, RS, corretora autorizada para a exportação de bovinos no Rio Grande do Sul. O fato de esse tipo de negócio começar a ganhar espaço entre os pecuaristas (já foram vários embarques) tem, de uma certa forma, “aquecido” o mercado interno também. Quando os criadores não conseguem embarcar seus animais até mesmo em função da grande oferta, os compradores locais acabam remunerando o gado não embarcado pelo mesmo preço dos navios, que normalmente atracam a cada 70 dias no porto do Rio Grande. Todos ganham Terneiros, bois, novilhas. Os embarques são bem diferenciados e obedece a demanda dos mercados compradores, mas nada que os criadores não possam ofertar. Para Zechlinski, esse tipo de negócio tem muitas vantagens, e lista: “os compradores têm o produto que procuram, os embarques enxugam o mercado, valorizam internamente o que fica e pagam mais pelo sangue Angus e suas cruzas”, garante, satisfeito, o criador, que em quatro anos deixou de vender animais em apenas uma ocasião. “Os produtores perceberam essa janela de mercado e veem nela uma oportunidade de aumentar seus rendimentos”, constata o pecuarista. a expectativa é de um certo recuo nos preços pagos pelo gado vivo. Se no ano passado, por exemplo, foram pagos R$ 3,00 pelo kg, neste ano o valor está em R$ 2,40. “O Brasil segue a tendência dos mercados internacionais, mas a cotação atual continua compensadora”, afirma ela. É o que confirma um levantamento da Scot Consultoria, para quem os preços médios de bovinos exportados pelo Brasil, para engorda e abate, recuou entre fevereiro de 2008 e fevereiro de 2009, em dólares: o valor médio de fevereiro ficou em US$ 635,00/ cabeça contra US$ 827,00/cabeça em fevereiro de 2008. Já o valor médio da arroba em fevereiro do ano passado era US$ 50,42 contra US$ 44,25 em fevereiro deste ano. No entanto, mesmo com a diminuição do preço de exportação em dólares e a valorização do boi gordo no mercado interno, a diferença entre os preços é, hoje, maior do que em fevereiro de 2008. Isso significa que continua interessante a exportação de bovinos vivos se analisados os preços. Tendo Angus, ganha De acordo com a Scot Consultoria, o mercado do boi gordo está em baixa desde outubro do ano passado – quando a crise foi deflagrada, e o mercado seguirá sob pressão de baixa. O cenário, no entanto, não desanima quem tem produtos que se encaixam no perfil do comprador. Segundo Denise, em fevereiro passado foram negociados 7 mil terneiros e agora outro carregamento está sendo feito, com previsão de navio cheio. Embora não tenha vendido sequer um exemplar para o Oriente Médio, o presidente do Sindicato Rural de Rio Grande, Eduardo Braga Cardoso, conhece bem as vantagens do negócio, especialmente quando o mercado interno não remunera adequadamente o criador. “É uma válvula de escape do produtor, especialmente em nossa região, onde há poucos invernadores”, constata. Cardoso acompanha a lógica do mercado: se não está bom vender para o mercado interno, é preciso arranjar alternativas mais compensadoras. “Se a exportação de gado vivo é melhor remunerada, então vamos incentivar”, diz o criador e proprietário do escritório de remates Querência Negócios Rurais. Cardoso é taxativo ao analisar o mercado da pecuária e as oportunidades que se abrem com a demanda dos mercados do Oriente Médio. “Quando a cadeia da carne estiver organizada não haverá mais margem para esse tipo de negócio, pois o produtor vai se dedicar a vender cortes selecionados e de maior valor agregado”, afirma. G ir eloz iroo mais vveloz Outro aspecto importante – e válido – das exportações de gado em pé, é a possibilidade de passar adiante uma grande quantidade de terneiros, o que enxuga os campos e abre espaço para os ventres. “Há um melhor aproveitamento da atividade já que com a venda de terneiros, o criador não precisa mandar para o gancho suas fêmeas”, salienta o dirigente. “É melhor vender 10 terneiros, do que 4 novilhas pelo mesmo valor”, exemplifica. Embar ques dev em continuar mbarques devem As oscilações do mercado internacional podem comprometer um pouco os ganhos e a frequência desse tipo de operação, mas nada que deva afetar a continuidade dos embarques. De acordo com Denise Afra, de uma das empresas exportadoras que faz a compra dos animais no Rio Grande do Sul, entretanto, Navios atracam a cada 70 dias no porto de Rio Grande, RS 6 Março/Abril de 2009 CARNE Qual a percepção do consumidor de carne sobre as indicações geográficas? Por Fernanda Scharnberg Brandão Para suprir as necessidades de consumidores cada vez mais exigentes por qualidade e variedade de produtos, os diferentes setores da economia buscam centrar esforços que os diferenciem e possibilitem explorar essas demandas do mercado. Diante desse contexto, selos de certificação de produto e/ou processo, cuja reputação seja idônea - como as indicações geográficas (IG) - são alternativas para dar credibilidade às informações transmitidas nos rótulos dos produtos e reforçar a imagem do produto (e de sua marca) junto aos consumidores. E sse tipo de certificação constitui uma forma especial de apropriação ao produto através da diferenciação, visando distinção por meio da identificação do seu território de produção. Tais certificações têm apresentado uma crescente demanda, sendo utilizadas como ferramenta de marketing, oferecendo maior segurança ao consumidor e garantia de qualidade e procedência ao produto. Entretanto, para efetivar o aumento da competitividade desses produtos com IG no mercado, é necessário verificar o que o consumidor pensa a respeito desse produto e sua disposição em valorizar e pagar por essa diferenciação. Nesse sentido surgiram algumas questões que foram centrais para realização de uma recente pesquisa acadêmica: o consumi- dor tem consciência do conceito de IG? Existe interesse do consumidor de carne por produtos com IG? O consumidor pagaria a mais por esse atributo de IG? Para responder a tais questionamentos foram realizadas entrevistas com consumidores de carne bovina, a fim de avaliar suas percepções sobre as IG, abordando especificamente o caso da Indicação de Procedência (um tipo de IG) da Carne do pampa Gaúcho da Campanha Meridional. Por que a Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional? Primeiramente pela tradição cultural da campanha gaúcha na produção pecuária, que é o objeto de estudo desta pesquisa. A produção de bovinos está fortemente associada, portanto, a imagem da cultura gaúcha. Em segundo lugar pela exclusividade da região, proporcionada pelo Bioma Pampa. São poucas regiões no mundo que apresentam uma diversidade de espécies campestres como as encontradas no Pampa Gaúcho da Campanha Meridional. Segundo o IBAMA (2007), no bioma pampa ocorrem formações campestres e florestais distintas de outras formações existentes no Brasil. O Bioma Pampa é caracterizado como um ambiente diferenciado pela oferta de alimentação natural, num ecossistema preservado e ligado à tradição, história e cultura gaúcha, condicionantes do reconhecimento da região no Brasil e no mundo pela produção de bovinos, de carne e derivados (VARGAS, 2008). Em terceiro lugar, pelo recente reconhecimento da carne com a Indicação de Procedência chamada “Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional”, pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (BRASIL, 2008), como uma estratégia competitiva para a pecuária gaúcha. Há interesse especial para os produtores de gado Angus, já que esta é uma das raças aceitas entre os pré-requisitos do programa. Localização Região da Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional, Rio Grande do Sul. Fonte: Carne do Pampa Gaúcho (2008) Qual é a hierarquia da percepção ? Foi realizada uma pesquisa para identificar a possível valorização e disposição a pagar pelo atributo da IG pelos consumidores de carne bovina. Os dados foram obtidos entre setembro e novembro de 2008, através de um questionário disponibilizado via internet. A partir dos resultados foi possível avaliar que a percepção do consumidor sobre as indicações geográficas em carnes é bem positiva, sendo este atributo reconhecido como um indicador de qualidade. No entanto, mais de 60% dos consumidores não conheciam a indicação geográfica e justificaram que não consumiram esse produto porque não o conheciam. Mesmo assim, fica clara a intenção de compra do consumidor pelas carnes com selo de indicação geográfica. Outra percepção importante refere-se aos atributos de qualidade associados à carne com IG, que foram hierarquizados da seguinte maneira pelos consumidores: 1º - Qualidade sensorial, 2º - Manejo, 3º - Corte da car- ne, 4º - Preço do produto, 5º - Sistema de produção, 6º - Embalagem, 7º - Raça do animal, 8º - Marca do produto. Como sugestão ao quadro apresentado, além do estímulo ao marketing no mercado nacional, seria oportuno utilizar esses produtos com selo de indicação geográfica para impulsionar a exportação de produtos nacionais dotados de diferencial competitivo. Desse modo, a IG poderia ser considerada como uma ferramenta bem sucedida para o desenvolvimento dos produtos alimentares. Entretanto, a IG não deve ser considerada isoladamente. Isso porque a IG se insere no mercado com um sentido mais amplo: tanto como estratégia de diferenciação, visando aumentar a competitividade, como de promoção de uma característica coletiva no desenvolvimento rural, que é o apelo à origem. Médica Veterinária – Ufrgs (2006) Mestre em Agronegócios – Cepan/Ufrgs (2009) Doutoranda em Agronegócios – Cepan/Ufrgs Foto: JG Martini Março/Abril de 2009 7 8 Março/Abril de 2009 CARNE Programa Carne Angus é apresentado no I-UMA De 3 a 5 de março, o diretor de marketing da Associação Brasileira de Angus, João Francisco Bade Wolf, juntamente com o técnico do Programa Carne Angus, Fábio Medeiros e o gerente Carne Angus Certificada, Fernando Velloso participou do curso Marketing aplicado à comercialização de bovinos, promovido pelo Instituto Universal de Marketing em Agribusiness – I-UMA, em Porto Alegre, RS. Fábio Medeiros realizou apresentação do Programa Carne Angus para um grupo de alunos do curso Mulheres no Agronegócio. Participaram também os proprietários das casas de carne Moussale e Angus da Gruta. Ministrado pelo professor Júlio Otávio Barcellos, o curso teve o objetivo de proporcionar aos participantes uma visão sistêmica sobre os mecanismos de comercialização de bovinos no Brasil, enfatizando a utilização das ferramentas do marketing, além de criar estratégias específicas destinadas à formulação de programas de marketing especializado para leilões de bovinos. Wolf ficou bastante satisfeito com o curso e acredita que seu conteúdo poderá ser utilizado no planejamento estratégico da ABA, especificamente para remates e outros eventos. “A idéia é ver o que podemos inovar, conhecendo cada vez melhor nosso cliente, e escolhendo certo os SERVIÇO CARNE ANGUS ONDE VENDER O GADO (Frigoríficos com Certificação Carne Angus) Estado Frigorífico Telefone RS RS SP GO MERCOSUL (RS) NOSSA SENHORA DA GRUTA MARFRIG VPJ BEEF (53) 3240.5700 (53) 3267.1717 (14) 3541.0099 (19) 9159.3839 ONDE COMPRAR A CARNE ANGUS (P ontos de comercialização de Carne Angus Certificada) (Pontos Comercialização de bovinos foi o tema principal do curso canais de venda”, prospecta o diretor de marketing da ABA, destacando que o programa de leilões da entidade funciona muito bem, mas que ainda assim é possível estabelecer uma relação mais forte com os clientes durante o ano todo. O dirigente acredita que as perspectivas de negócios para 2009 são bastante reais. Para ele o “Terneiro Angus Certificado” e o Programa Carne Angus Certificada crescerão e se consolidarão ainda mais neste período em que é preciso um foco de atuação bem definido. João Wolf relatou ainda que entre os participantes do curso, surgiram muitos interessados em obter informações sobre a raça Aberdeen Angus o que qualificou ainda mais o investimento. ESTADO RS RS RS RS SP SP SP SP SP SP RJ EMPRESA PRODUTO/MARCA CIA ZAFFARI (RS) MARCA ZAFFARI ANGUS - Zaffari Bordini (Porto Alegre) - Zaffari Ipiranga (Porto Alegre) - Zaffari Higienópolis (Porto Alegre) - Zaffari Cristóvão Colombo (Porto Alegre) - Zaffari Otto Niemeyer (Porto Alegre) - Bourbon Assis Brasil (Porto Alegre) - Bourbon Ipiranga (Porto Alegre) - Bourbon Country (Porto Alegre) - Bourbon Novo Hamburgo (Novo Hamburgo) RESTAURANTE BARRANCO MARCA MERCOBEEF ANGUS Porto Alegre, RS BOUTIQUE MOUSSALLE MARCA MERCOBEEF ANGUS Porto Alegre, RS CASA DE CARNES ANGUS DA GRUTA MARCA ANGUS DA GRUTA Porto Alegre, RS CALL CENTER VPJ BEEF Marca VPJ ANGUS PRIME FONE - 0800 77 11 875 BOUTIQUE CARNE ANGUS VPJ Marca VPJ ANGUS PRIME Jaguariúna, SP VARANDA FRUTAS Marca VPJ ANGUS PRIME São Paulo, SP SUPERMERCADO WALLMART STEAKBURGUER VPJ ANGUS PRIME Lojas Tamboré, Granja Viana, Osasco, Pacaembu, Indianápolis REDE NATURAL DA TERRA STEAKBURGUER VPJ ANGUS PRIME (São Paulo, SP) EMPÓRIO SÃO PAULO STEAKBURGUER VPJ ANGUS PRIME (São Paulo, SP) REDE HORTIFRUTI STEAKBURGUER VPJ ANGUS PRIME (Rio de Janeiro, RJ) FEIRAS DE TERNEIROS ANGUS CERTIFICADOS 1º Remate de Produção PAP Vilamill de Castro Data: 24 de abril Contato: 53 32433045 Local: Sindicato Rural de Dom Pedrito - RS Feira de Terneiros Angus de Uruguaiana Data: 9 de maio Local: Sindicato Rural de Uruguaiana - RS Feira de Terneiros e Ventres Angus Data: 16 de maio Leiloeira: Balcão Contato: 55 32412000 Local: Parque Sindicato Rural de Livramento - RS Transmissão: Agrocanal Março/Abril de 2009 9 10 Março/Abril de 2009 CONSELHO TÉCNICO Relembrando algumas alterações do regulamento para 2009 Fotos: Divulgação/ABA Aproveitando a primeira edição do Angus@newS de 2009, o Conselho Técnico alerta para mais algumas modificações do Regulamento da ABA que estará em vigor no ano de 2009. Na edição passada abordamos o assunto das alterações nas categorias de julgamento, nesta edição iremos falar das modificações para registros de filhos de fêmeas “AD”, além de frisar como serão distribuídas as categorias de julgamento para animais rústicos, e também a respeito das alterações das avaliações do Promebo. Machos filhos de vacas AD Esta alteração já constava no Regulamento do ano de 2008 da ABA, onde dizia que filhos (machos) de vacas AD nascidos a partir de Julho de 2008, não poderão mais ser registrados como PC (CA). A justificativa para esta decisão é qualificar os touros comercializados nos remates. Como as vacas mães não possuem gerações controladas (mães e pais registrados) estas podem não possuir a consistência genética de vacas que já possuem um controle como é o caso das CA ou PO. Sabemos que para manter a qualidade genética da raça temos que trabalhar com os melhores animais, assim estaremos sempre aumentando o nível dos rebanhos. Baseado nisto, estamos diminuindo a oferta de touros para rebanho comercial, sendo mais rigorosos na sua seleção, mas ao mesmo tempo oferecendo animais mais qualificados ao mercado. Os touros nascidos anteriormente a esta data ainda podem ser registrados? Sim, estes poderão ser registrados deste que estejam dentro do padrão da raça e apresentem desempenho superior da avaliação genética (DECA 1 a 4). E para registrar filhos de vacas CA? Para os filhos de vacas CA serem registrados, tanto machos como fêmeas, as vacas tem que ser acasaladas com touros PO (P ou PP) ou CA (somente CACA), além disso o criador não pode esquecer de enviar os comunicados de cobertura e nascimento destes animais à ANC. E o touro CA? Quando posso utilizá-lo? Os touros CA são indicados somente para padreação de rebanhos comerciais, onde não se trabalhe com rebanhos controlados (registrados). Lembre-se: Fêmeas marcadas AD são animais base para iniciar uma boa criação de Aberdeen Angus, pois foram selecionadas pelos critérios fenotípicos da raça. No ano de 2008, estes animais tiveram uma valorização importante nos remates mostrando que são um produto muito procurado e valorizado pelo mercado. ABA aumenta rigor na seleção de reprodutores PC O objetivo da ABA é elevar o nível de seleção, para que o criador ofereça ao mercado animais sempre melhores Categorias de julgamento de animais rústicos Para 2009, houve uma alteração nas categorias de julgamento para exposições de argola e rústicos. Nos rústicos a idade final para participação também foi alterada, agora animais de até 1.170 dias de vida poderão participar e não somente até 1.140 como nas exposições de argola. Veja na Tabela 1 as categorias para animais rústicos. Não esqueça de preparar seus animais para participarem das exposições, e disponibilizar ao mercado sempre animais superiores, com avaliação genética!!! Mudança nas avaliações do Promebo Por decisão do Comitê de Melhoramento Genético, junto ao Conselho Técnico,para estimular o incremento nas avaliações das fêmeas, para este ano haverá uma alteração na emissão de Relatório de Recursos Genéticos do Promebo. A partir do ano de 2010, só poderão participar do Relatório de Recursos Genéticos (o qual gera informação dos animais que deverão receber a dupla marca), os criadores que avaliarem machos e fêmeas em seus rebanhos. Não esqueça que no ano de 2009, deverão ser realizadas, também nas fêmeas, as avaliações no desmame. Março/Abril de 2009 11 12 Março/Abril de 2009 CONSELHO TÉCNICO Fêmeas doadoras: manejo é aliado dos bons resultados A melhoria dos índices reprodutivos é essencial para a viabilização econômica da bovinocultura no Brasil. Mas é preciso considerar que a muito que investir nas propriedades em gerenciamento, nutrição, sanidade, manejo e processos de seleção. As biotecnologias da reprodução – Transferência de Embriões (TE) e Fertilização in Vitro (FIV) somente poderão gerar resultados desejados quando a propriedade está estruturada em seu sistema de produção. Mas trabalhar com genética é utilizar todos os conhecimentos e ferramentas disponíveis na área de seleção, buscando estreitar ao máximo as margens de erro. Mas vale lembrar que, em genética, dois mais dois pode não ser necessariamente quatro. Fotos: Divulgação/ABA Em sumário, a ABA já contabiliza 50 fêmeas PO e 50 PC de diversos rebanhos brasileiros Foto: Horst Knak/Agência Ciranda A Associação Brasileira de Angus (ABA) vem investindo na identificação das fêmeas superiores do rebanho nacional. Uma boa doadora é avaliada pela sua precocidade sexual, pela sua capacidade em produzir bons terneiros – para que no futuro seus descendentes Susana Macedo Salvador s e j a m b o n s re p r o d u t o r e s o u mães-, e pela capacidade de repetição de cria. Todos esses aspectos são tradicionalmente avaliados pelo Promebo, programa de avaliação genética da raça. No entanto, as fêmeas que se sobressaem nas pistas de julgamento em suas categorias também podem apresentar condições de se tornar uma boa doadora. Se g u n d o L u í s M ü l l e r, d o Conselho Técnico da ABA, o fato de os animais de julgamento serem preparados muito cedo para frequentar exposições, dificulta uma comparação com os indivíduos avaliados em programas genéticos. “Para isso, a ABA vem aplicando ferramentas de avaliação e de multiplicação de fêmeas que mereçam ir à transferência de embriões, seja por meio de julgamentos, seja por meio de avaliação de performance. O que se quer é identificar essas vacas produtivas”, explica. Atualmente, constam em sumário 50 fêmeas PO e outras 50 PC de diversos rebanhos brasileiros aptas à reprodução. Müller informa que ainda neste ano o Comitê de Melhoramento Genético do Conselho Técnico da ABA vai lançar um programa de promoção de embriões viáveis que serão disponibilizados aos sócios. “Esse será mais um canal com vistas á promoção do melhoramento genético do rebanho Angus”, afirma Müller. “A transferência de embriões ( TI) e a fer tilização in vitro (FIV) podem ser excelentes ferramentas de seleção ou apenas um meio rápido de multiplicação de animais. Tudo vai depender do critério utilizado na escolha das doadoras”, posiciona a Vacinação contra a Febre Aftosa no RS A Secretaria da Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio do RS, através de seu Departamento de Produção Animal/Divisão de Fiscalização e Defesa Sanitária Animal - DFDSA, informou no início de março que a solicitação de mudança das datas da etapa de vacinação contra a Febre Aftosa no RS foi aprovada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e assim, as etapas de vacinação contra a doença no Estado ocorrerão nos meses de maio e novembro. A partir de maio ocorrerá a vacinaçãode todos os bovinos e bubalinos e no mês de novembro ocorrerá a vacinaçã de bovinos e bubalinos até 24 meses de idade. As feiras oficiais de bovinos (terneiros) que ocorrerem durante as etapas de vacinação contra a Fe- bre Aftosa deverão respeitar as regras estabelecidas pela Instrução Normativa nº 44/2007, em que é obrigatório que os animais estejam vacinados para realizar a movimentação animal, e no caso de animais primovacinados ou com duas vacinas, além da vacinação, deverão respeitar os prazos de carência de 15 e 17 dias, respectivamente, para a realização da movimentação animal. presidente do Conselho Técnico d a A s s o c i a ç ã o Br a s i l e i r a d e Angus (ABA), veterinária e criadora Susana Macedo Salvador. O uso de tecnologias capazes de disseminar a genética de fêmeas de alta produção no Brasil é fato. Seja por meio da Transferência de Embriões (TE) ou da Fertilização in Vitro (FIV), os resultados obtidos por alguns criadores superam expectativas e dinamizam ainda mais a pecuária nacional, com a produção de animais de qualidade genética comprovada. Atualmente é a forma mais rápida de obter filhos de animais superiores, caso contrário, a natureza se encarregaria de viabilizar a produção de apenas um terneiro por ano. Embora a aplicação dessas biotecnologias esteja dominada, - o Brasil é líder mundial em produção de embriões e no uso das tecnologias de reprodução animal como TE e FIV -, ainda são poucos os criadores beneficiados por essas técnicas. “Ainda temos muito a crescer”, afirma Rednilson Moreli Góis, médico veterinário especializado em Reprodução de Ruminantes pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). As tecnologias de reprodução em bovinos, segundo ele, que é técnico credenciado d a A s s o c i a ç ã o Br a s i l e i r a d e Angus (ABA), devem ser usadas para que o criador consiga explorar ao máximo o potencial de suas doadoras. Gois frisa, no en- Luis Alberto Müller tanto, que a ânsia por resultados muitas vezes pode atropelar esse processo e resultar em desempenhos não-esperados. De acordo com ele, os principais erros cometidos no processo de manejo são a utilização de doadoras superalimentadas (para regime de exposição), excesso no número de coletas, utilização de doadoras novas ou com idade muito avançada, além da realização de coletas em períodos do ano com clima desfavorável. “A grande maioria das doadoras é mal manejada e pouco explorada. Com isso temos um desperdício de genética de animais com grande potencial, e isso ocorre por vários motivos e muitas vezes inclui a falta de informação sobre as técnicas de TE ou FIV”, afirma o especialista e técnico de campo. >>> Ciranda Março/Abril de 2009 13 14 CONSELHO TÉCNICO Março/Abril de 2009 Quando a pressa atropela a ciência Foto: Divulgação/ABA O desconhecimento do poder multiplicador que essas tecnologias têm, quando utilizadas de maneira sistemática em programas de melhoramento genético, está associado à maior parte dos equívocos cometidos por quem faz uso da técnica de reprodução. “A pressa em iniciar esses programas e a busca por resultados imediatos são as causas mais comuns de fracassos nos programas de TE”, avalia o doutor em Reprodução Animal e professor da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio grande do Sul (UFRGS), João Batista Borges. a outra ponta, diz, o uso de TE ou FIV em rebanhos com baixos índices reprodutivos ou problemas sanitários apresenta também resultados desastrosos. Embora a tecnologia esteja consolidada, a maior parte dos criadores ainda não tem critérios claramente definidos para o aproveitamento das doadoras nos programas de TE. “O uso das doadoras fica condicionado à produção de embriões e histórico nas pistas, não considerando índices de avaliação genética dos indivíduos ou sua progênie”, aprofunda Borges. Na seleção de fêmeas doadoras recomendam os técnicos - os criadores devem optar por exemplares geneticamente superiores, com desempenho comprovado através de provas individuais (fenótipo, exemplo exposições) e prova de avaliação de progênie (CDP, Promebo, etc). “ Temos que lev ar em consideralevar ção aspectos impor tantes para importantes cada raça e suas características de p rrodução odução odução.. Boas doadoras são também boas pr odutoras, com produtoras, N habilidade materna e sem pr prooepr odução eprodução odução”” , enumera blemas de rrepr Gois. Para Rednilson Góis, o Brasil tem valorizado muito animais de grande desempenho e com isso a tendência é de continuidade de um mercado aquecido para doadoras. Sempre haverá interesse em fêmeas de qualidade superior. O fato é que a possibilidade de multiplicar o potencial reprodutivo de animais comprovadamente superiores permite ganhar tempo na formação dos planteis para Foto: Felipe Ulbrich/ABA Ulisses Amaral produção de reprodutores ou para a participação em feiras, em busca de premiações de pista. No entanto, na avaliação de João Batista Borges, da UFRGS, o uso da TE para produção de animais de pista ainda é o mais frequente porque, economicamente, se mostra mais interessante para o criador no curto prazo. “Por outro lado, os programas de avaliação genética no Brasil ainda contam com um pequeno número de criadores participantes, o que restringe a possibilidade de selecionar os animais mais produtivos e, conseqüentemente, reduz a eficiência do melhoramento genético”, afirma. Se por um lado alguns produtores conseguem bons resultados com a seleção de fêmeas jovens para o trabalho, por outro ainda se preconiza o uso apenas de fêmeas com uma vida reprodutiva mais longa (a partir da segunda cria). “Na minha opinião, o uso de novilhas como doadoras pode se tornar um loteria”, destaca Artur Cademartori, veterinário e proprietário da Central Gaúcha de Reprodução Bovina (CRB), As vacas que são boas doadoras são também boas produtoras, com habilidade materna e sem problemas de reprodução com sede em Porto Alegre. Na lista de procedimentos que podem afetar os resultados, segundo o técnico, aparece ainda a escolha incorreta dos reprodutores e a opção por fêmeas com condição corporal acima do normal (animais de cabanha). “Boas doadoras fornecem de cinco a seis embriões viáv eis por viáveis coleta e uma taxa de concepção de 50% a 60% dos embriões i m p l a n t a d o ss”” , explica Cademartori. Mérito genético O criador de Angus Ulisses Amaral, da Cabanha Santa Joana, de Santa Vitória do Palmar, RS, acrescenta que antes de partir para a reprodução assistida, é importante que as fêmeas comprovem a sua superioridade genética e de alguns descendentes. “É essencial avaliar se ela produz dentro das características raciais e se seus filhos vão carregar o mesmo mérito genético”, salienta. O número de embriões viáveis, segundo o criador, depende de muitas variáveis, como época em que foi feita a coleta, a condição corporal das fêmeas e até mesmo o tipo de pasto utilizado. Na Santa Joana, o índice de viabilidade de embriões já chegou a 80%, embora normalmente esteja na média de 50% a 60%. Seleção rigorosa para pista e produção Se as biotecnologias da reprodução somente podem gerar os resultados desejados quando a propriedade está estruturada em seu sistema de produção, podemos dizer que no Brasil não faltam bom exemplos nesse quesito, especialmente entre os criadores de Angus. Com os dois olhos na progênie, a GAP Genética, de Uruguaiana, RS, define quais indivíduos têm condições de transmitir a seus descendentes as suas melhores características. A tualmente a cabanha possui 10 animais em coleta, incluindo vacas com idade de seis a sete anos – todas apresentando os melhores dados de produtividade do rebanho. “Cada uma vai nos deixar até 40 filhos, animais com genética superior que vão também imprimir suas características aos seus descendentes”, afirma a veterinária e uma das proprietárias, Ângela Linhares. Dos muitos nascidos por meio da biotecnologia, ela cita a fêmea PC Angus tatuagem L574, ranqueada em sumário da raça. Além de a comercialização dos terneiros se manter aquecida, ela percebe um aumento na demanda por embriões incentivada pela restrição da venda de animais vivos para Santa Catarina. De Paranapanema, interior de São Paulo, vem outro bom exemplo. A Agropecuária Fumaça mantém um plantel de doadoras que varia entre 30 a 40 animais, que geram anualmente entre 150 e 180 filhos de alto padrão genético. Segundo o proprietário, selecionador Elio Sacco, as fêmeas são mantidas em regime de campo, sendo submetidas a duas coletas de embriões por ano. “Uma das grandes características que a raça Angus tem é sua precocidade na reprodução. É isso que nos possibilita um grande e rápido aproveitamento deste potencial, em torno dos 14 meses. As técnicas disponíveis hoje nos ajudam muito na reprodução e, consequentemente, na rápida seleção”, constata o criador. A Agropecuária Fumaça mantém o foco na produção, mas alguns são levados periodicamente às pistas de julgamento. “Dessa forma podemos avaliar o trabalho que estamos desenvolvendo com a seleção permanente da raça”, afirma Elio Sacco. Atualmente com 80 matrizes Angus em trabalho, a ABN Agropecuária, de Santiago, RS, seleciona suas fêmeas a partir do segundo ou terceiro cio para iniciar na reprodução. Junto, faz uso de touros excepcionais visando garantir ótimos filhos que são direcionados tanto para a produção de campo quanto para as pistas de exposição. Fernando Bonotto, titular da ABN, não dispensa critérios rigorosos na seleção das doadoras. “É fundamental apresentar as melhores notas em marcadores moleculares e as melhores notas dentro do Promebo”, destaca. O manejo – e a gestão - desenvolvidos na ABN faz que com a cabanha mantenha hoje 14 touros em central de inseminação artificial. Fruto de transferência de embriões, figura com o primeiro, o segundo e o quarto lugar no ranking dos 10 animais com maior número de filhos nascidos no Brasil. Ranking da ANC - Vacas com maior número de filhos nascidos Animal Ottono B349 TEI Heavenly Miss Franco’s 840 de Sanbará Bela Vista 246 Águia Angélica da Reconquista 100 Mombo Independence Red Meadow Ck Umpirette 12H Admiral Gold Maverick 17 Del Paraná São Bibiano Lucky Ida 4416 Carlota da Reconquista 194 Stryker Play Don Pancho 52 Tarzan Harrison Aurora da Corticeira A029 Propriedade ABN Agropecuária Cabanha Santa Bárbara Fazenda São Francisco Agropecuária Fumaça Itacumbí Agrícola e Pastoril Estância Del Paraná Cabanha São Bibiano Cabanha Santa Eulália Angus Bela Vista Cabanha da Corticeira Filhos 71 69 52 48 46 42 41 40 39 37 Março/Abril de 2009 15 16 MOVIMENTO Março/Abril de 2009 Angus com blindagem anticrise Foto: Divulgação/ABA Os criadores do centro do País garantem que a raça Angus está literalmente blindada contra qualquer tipo de crise. Falando sobre as perspectivas para a raça neste 2009, o presidente do Núcleo de Criadores de Angus de São Paulo (Angus São Paulo), Renato Segura Ramires Júnior, não tem dúvidas de que a crise que começou nos Estados Unidos e Europa e que já atinge certos segmentos mundo afora e também no Brasil, simplesmente não fará diferença para a raça Angus, que seguirá liderando e com demanda ativa. “O momento para a Angus segue ótimo. E depois que a cadeia produtiva descobriu os ganhos em qualidade e produtividade da utilização da genética Angus, todo o que precisamos é produzir mais reprodutores para podermos atender a toda a demanda do mercado”, define o dirigente. Na mesma balada argumenta o vice-presidente do Núcleo Angus São Paulo, criador Paulo de Castro Mar- Renato Ramires Júnior Paulo de Castro Marques Elio Sacco Valdomiro Polizelli Júnior ques. Vice-presidente da Associação Brasileira de Angus (ABA) e considerado um dos pioneiros na criação de Angus em São Paulo, Castro Marques se diz um otimista por natureza. “A julgar pelos resultados obtidos em 2008, especialmente na comercialização de machos, este ano será mais um período promissor para a genética Angus”, avalia. Segundo ele, na temporada de 2008, os criadores de São Paulo sim- plesmente venderam todos os touros em idade reprodutiva que possuíam em suas propriedades. “Eu mesmo lamentei, mas perdi negócios por não ter mais produtos em oferta”, disse. Paulo Marques observa que o Angus do Sul do Brasil já tem larga tradição. Mas que os criadores do Brasil Central dão preferência aos animais já nascidos em São Paulo. “Aqui somos desbravadores, mas a cada momento a genética Angus ga- nha mais admiradores”, comentou. Outro criador que também está na lista dos que desde o início apostaram na genética Angus em São Paulo é Elio Sacco. E, a exemplo de seus companheiros, ele também crê num 2009 totalmente favorável à raça Angus. “A pecuária, de modo geral, não deverá sofrer os efeitos desta crise. E a raça Angus, então, muito menos, porque à medida que criadores e investidores passam conhecer melhor as qualidades e os ganhos de se produzir com Angus, mais aumenta a demanda por nossos animais”, revela o criador. Outro que desde o início aposta firme em Angus é o criador Valdomiro Poliselli Júnior. “Angus é a melhor saída para qualquer crise”, garante ele, que inclusive já produz e comercializa carne Angus certificada pelo programa de carne de qualidade da ABA em São Paulo. ABA lançou Anuário Angus e mostrou performance da raça Em almoço na churrascaria Barranco, em Porto Alegre, RS, no dia 6 de março, a diretoria da Associação Brasileira de Angus – ABA reuniu a Imprensa especializada para apresentar os dados de desempenho da raça em 2008, assim como flashes a agenda de eventos para este ano. Na ocasião foi distribuído o Anuário da raça Aberdeen Angus durante a 97ª Expofeira de Bagé, RS. Lançada em 2008, a mostra de rústicos tem como objetivo valorizar os animais comerciais assim como o produtor que prioriza reprodutores com destino à produção de carne. A Associação Brasileira de Angus já tem dez leiImprensa e convidados prestigiaram o lançamento do Anuário lões chancelados agendados para o O novo presidente da entidade, primeiro semestre do ano. O primei2008/2009 aos particiJoaquim Francisco Bordagorry de ro ocorre na Expo Londrina 2009, pantes. A raça Aberdeen Assumpção Mello conduziu a apre- no dia 10 de abril. Angus começou o ano com a respon- sentação das atividades da raça em Sobre a comercialização de anisabilidade de seguir liderando o mer- 2009, com destaque para as dispu- mais, a expectativa de Joaquim cado das raças europeias (taurinas), tas do 10º Ranking Oficial de Ex- Mello é de superar os números do a exemplo de 2008. Segundo o Anu- positores e Criadores da ABA. No Terneiro Angus Certificado obtidos ário DBO 2009, publicado no iní- total serão 21 exposições, entre ar- em 2008, quando 3.220 terneiros cio do ano, a raça movimentou R$ gola e a campo, que pontuarão nas foram certificados. O programa bus23,256 milhões com a venda de categorias “A” e “B” do ranking. ca fomentar e promover a Também está confirmada para ou- comercialização de terneiros dos 5.094 lotes no ano passado. O preço médio obtido nas pistas foi R$ 5,979 tubro de 2009 a realização da II Expo- usuários da genética Angus, além de sição Nacional de Rústicos – Angus, ser foco do produtor do Programa mil para os touros. Carne Angus Certificada e daquele que busca atuar como novo fornecedor de carne de qualidade. Nas pistas de feiras de outono e primavera, os terneiros Angus certificados fixaram médias entre 3% a 5% superiores ao preço médio pago por outros terneiros nos recintos de leilões. Já o Programa Carne Angus Certificada entra para seu sexto ano com parceiros no Rio Grande do Sul e Centro do País. Além do Frigorífico Mercosul e do Grupo Marfrig, o programa de carnes da Associação Brasileira de Angus certifica carnes Angus no Frigorífico Nossa Senhora da Gruta, RS, e na VPJ Beef (VPJ Pecuária), no Brasil Central. No varejo, a carne Angus é encontrada na rede de supermercados Zaffari-Bourbon, Casa de Carnes Angus da Gruta, Moussalle Boutique de Carnes, ambas em Porto Alegre, RS e na rede Wall Mart, na capital paulista, via VPJ Beef. A carne Angus também é servida na Churrascaria Barranco, Porto Alegre, RS e em restaurantes de São Paulo e do Rio de Janeiro. Março/Abril de 2009 17 18 Quando a prevenção é o melhor investimento Março/Abril de 2009 INFORME PUBLICITÁRIO Foto: Divulgação Por Octaviano Alves Pereira Neto É comum ainda se observar produtores desesperados atrás de soluções para o controle do carrapato de seus bovinos, mesmo com os avanços que a indústria veterinária ofereceu no transcorrer dos anos para o combate dos carrapatos. O uso intenso destes princípios ativos acabou desenvolvendo mecanismos de resistência no carrapato e a perda de eficácia da grande maioria das moléculas. E sta situação foi vista para os produtos arsenicais, organoclorados, carbamatos, organofosforados, piretróides sintéticos, amidinas e, mais recentemente, também para o fipronil. Nem mesmo os endectocidas, como as avermectinas, foram capazes de superar em definitivo estes mecanismos de sobrevivência dos parasitos. As causas apontadas como predis- No controle de carrapatos, não há espaço para empirismo ou amadorismo ponentes à formação da resistência parasitária dos carrapatos e demais parasitos da pecuária são: o uso contínuo e sem orientação de uma mesma molécula, as formulações de “fundo de quintal” (caseiras) e falhas na estimativa de peso ou momento ideal de aplicação (permitindo infestações excessivas). O assunto é muito sério para ser tratado com empirismo e amadorismo. Na atualidade, o princípio ativo que ainda apresenta resultados satisfatórios e contundentes contra os carrapatos é o fluazuron (Acatak®), membro do grupo das benzoil fenil uréias, o qual possui um mecanismo de ação distinto aos demais princípios ativos. No entanto, uma parcela dos produtores ainda considera seu uso como a última opção, quando os outros produtos não funcionarem mais. Essa prática é um sério equívoco, pois, em primeiro lugar, enquanto o produtor espera “o fim” da molécula que está usando, acaba sofrendo perdas produtivas pela constante infestação; perdas essas jamais recompensadas. Em segundo lugar, é sabido que o rodízio entre moléculas é a melhor alternativa para retardar o avanço da resistência parasitária, portanto, variar princípios enquanto ainda funcionam é a recomendação correta para controle dos parasitas e preservação dos princípios ativos em uso. Quando um produto “não funciona mais” significa que, em poucas palavras, aquela molécula não deve mais ser usada naquele estabelecimento e que as alternativas para o controle do carrapato se reduzem definitivamente. Como não há previsão de lançamento de novos princípios ativos carrapaticidas para os próximos anos, os produtos em uso são as formas conhecidas de controle e o produtor fica cada vez mais dependente de apenas um ou dois princípios ativos. O correto, portanto, é alternar as moléculas em uso (não confunda com variar marcas comerciais), pois cada uma tem mecanismos de ação diferentes. Assim, famílias de parasitos que são resistentes a um tipo de produto, podem seguir sensíveis a outro, sendo afetadas e reduzindo sua incidência. A maioria das moléculas carrapaticidas convencionais, descritas acima, agem no sistema nervoso do parasita. Por outro lado, o fluazuron bloqueia a síntese da quitina, principal componente da cutícula externa que reveste o parasito. Sem esta estrutura o carrapato morre, impedindo que larvas e ninfas atinjam a fase adulta. Além de eliminar a espoliação do bovino não há indivíduos para realizar a ovopostura, que formaria as novas gerações, e ainda, pelo longo poder residual da formulação, o bovino tratado age como “aspirador” de larvas da pastagem, re- duzindo a infestação da mesma. O tratamento no momento adequado e os benefícios do frio ou seca observados no inverno cooperam para a redução natural da infestação da pastagem. Assim, quando chega a estação da primavera grande parte das larvas foram eliminadas e há menos capacidade de infestação do rebanho. A adoção de medidas preventivas contra doenças infecciosas e parasitárias no Brasil se encontra abaixo do esperado. É um hábito tomarmos medidas corretivas quando os problemas se avolumam ou assumem impactos exagerados. Assim sendo, quando é o melhor momento de combater os parasitos que afetam a produtividade do rebanho? O mais coerente é sempre tratar quando o problema tem dimensões menores e, portanto, melhores condições de impactar sobre a população de parasitos em fase de vida livre. Méd. Vet., Mestre em Zootecnia Gerente Técnico - Bovinos ® Marca Registrada da Novartis, AG, Basiléia, Suíça. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo desta publicação sem a autorização da Novartis Saúde Animal Março/Abril de 2009 19 20 ENTREVISTA Março/Abril de 2009 Joaquim Mello assume presidência da ABA Fotos: Divulgação/ABA Como já é tradição no Angus@newS, o novo presidente da ABA foi entrevistado com exclusividade pelo editor, jornalista Eduardo Fehn Teixeira. Vejam o que pensa e quem é Joaquim Francisco Bordagorry de Assumpção Mello. Joaquim Mello assume a ABA com honra, emoção, prazer, comprometimento e enorme responsabilidade. “Sou um criador que escolheu a raça Angus para produzir. E agora, anos depois, fui indicado para dirigir esta raça. Isto me traz, a um só tempo, muita emoção e um enorme prazer”, sintetiza o agrônomo e experiente agropecuarista Joaquim Bordagorry de Assumpção Mello, falando sobre seu novo desafio como presidente da Associação Brasileira de Criadores de Angus (ABA). Titular da Estância Santa Eulália, em Pelotas, na zona Sul do Rio Grande do Sul, ele também se sente altamente comprometido com esta atividade e cargo, que classifica como “uma enorme responsabilidade”. ocupado com esta responsabilidade, ao formar sua equipe, Mello convidou um grupo de pessoas competentes e experientes. Carne Angus: a base da raça “Hoje a Associação de Angus é uma entidade cujo porte acompanha a importância que a raça Angus conquistou no cenário da pecuária nacional”, define. E não deixa por menos: lembra que no Brasil a Angus é a raça mais criada, só perdendo para o zebuínos Nelore. E entre as européias é, disparado, a raça mais criada no Brasil. Palmas para Cairoli Empossado oficialmente no dia 4 de dezembro de 2008, durante o V Leilão Angus Nora Era e a concorrida festa de confraternização de final de ano do mundo Angus, no Country Club, em Porto Alegre, RS, Joaquim Mello faz questão de enfatizar que recebe a direção da ABA das mãos de José Paulo Dornelles Cairoli, “que foi um excelente presidente, que colocou a ABA num patamar de grande destaque, o que aumenta ainda mais a minha responsabilidade, juntamente com minha diretoria e equipe. Mas também nos motiva para trabalharmos no sentido de elevar ainda mais a raça Angus”, faz questão de registrar. Pre- Os que têm boa memória, certamente lembram que lá em dezembro, ao tomar posse na presidência da ABA, ao lado de Cairoli, Joaquim Mello, quando deu sua primeira declaração na condição de presidente da entidade, disse, em alto e bom som: “a qualidade da carne é o pilar mestre de nossa raça, e por isto vamos cuidar muito bem do Programa Carne Angus Certificada”. Na verdade, com este foco, Mello deixa muito bem entendido que a grande meta é explorar ao máximo esta qualidade da raça Angus (a sua capacidade de produzir uma carne diferenciada, superior), buscando uma expansão máxima para os reprodutores Angus em todos os cantos do território nacional. Qualidades precisam ser mais conhecidas Mello não tem dúvidas de que entre todos os diferenciais dos animais Angus, a qualidade da carne, com seu marmoreio, maciez e sabor únicos, é o ponto alto da raça. Mas também para que aqueles que ainda não sabiam possam tomar conhecimento, ele vai bem mais além, até de forma didática, falando de forma incansável sobre o perfil Angus. “A fêmea é muito precoce, é uma Empresário e campeiro: o novo presidente da ABA fala com propriedade sobre as qualidades da raça Angus excelente mãe, que cuida de seu terneiro, não apresentando problema algum em distocia de partos. Angus é um bezerro que nasce pequeno de uma fêmea que emprenha com baixa idade, mas este terneiro cresce muito rápido, transformando-se num novilho que engorda e se apronta com velocidade, estando apto ao abate entre 18 a 24 meses, atingindo peso de carcaça que atende às exigências do mercado, de 230 kg a 250 kg”, sintetiza o novo presidente da ABA, acrescentando que os touros, ao redor dos 14 meses de idade já podem trabalhar em rebanhos a campo. pido, gerando reflexo imediato na maior rentabilidade do negócio”, resume. Programa Carne Angus é top Voltando ao Programa Carne Angus Certificada, segmento que Joaquim Mello teve a oportunidade de dirigir durante a primeira gestão de José Paulo Cairoli, ele ressalta que hoje este trabalho já alcança âmbito nacional e conta com uma estrutura operacional muito bem montada e que se de- Desbravando novas fronteiras Perseverando e mesmo deixando transparecer sua verdadeira paixão pelo gado Angus, Joaquim Mello enfatiza que “essas informações sobre o perfil e a performance da genética Angus não podem circular somente entre os criadores da raça, e sim serem declamadas, repetidas, para a conquista de novas fronteiras, incentivando criadores e investidores de todo o Brasil, tanto para a formação de planteis puros, como para uso em cruzamentos. Para Mello, todo esse desempenho da genética Angus reúne as mais eficientes condições de contribuir de forma marcante para o melhoramento genético dos rebanhos nacionais, caminhando rumo à solução de um dos maiores problemas da pecuária nacional, que é a produção de carcaças de maior qualidade de carne em menor tempo. “O giro fica mais rá- senvolve com eficiência na produção e certificação da afamada Carne Angus. “Temos como parceiros para os abates, no RS, os Frigoríficos Mercosul e da Gruta e em São Paulo o Marfrig, além da VPJ Pecuária, onde trabalham, contratados pelo Programa Carne Angus, uma rede de técnicos que realizam a certificação da carne. E a Carne Angus é comercializada nos supermercados Zaffari e em mais duas casas de carnes em Porto Alegre – a Angus da Gruta e a Moussale, além de a carne estar sendo servida em vários cortes especiais pela churrascaria Barranco, um ponto quase único na capital gaúcha”, revela Mello. “Aqui no Barranco, os clientes já pedem a Carne Angus, apesar de ser mais cara”, comprova o diretor da churrascaria e ponto de encontro da cidade, Elson Furini. Além desses pontos, em São Paulo e também no Rio de Janeiro, a VPJ Pecuária já fornece a Carne Angus a alguns bem frequentados restaurantes. Ao fomentar a expansão da raça Angus no cenário nacional, Joaquim Mello primeiramente lembra que esta é uma das principais missões da Associação Brasileira de Angus – fazer com que as pessoas tomem conhecimento de todas as qualidades que a raça tem e pode transferir a rebanhos comerciais. Mas ele argumenta que a genética Angus já tem e terá cada vez mais um papel de crescente importância para o mercado brasileiro da carne bovina. Expansão da genética Angus é remuneração ao produtor “O Brasil já é o maior exportador do mundo em quilos de carne, mas ainda não tem os melhores preços pelo produto, o que está nas mãos de países como Estados Unidos, Austrália, Uruguai e Argentina. Mas à medida que o gado Angus vai sendo utilizado em programas de cruzamentos, a carne gerada ganha cada vez mais qualificação e assim os melhores preços pela carne brasileira também virão. É só uma ques- >>> Março/Abril de 2009 ENTREVISTA 21 Fotos: Divulgação/ABA tão de tempo. E isso vai resultar em melhores remunerações ao produtor desta carne”, garante o dirigente. terneiros, que nas feiras alcançam sobrepreços pagos aos seus produtores. Terneiro Angus Certificado: o novilho de amanhã Conselho Técnico: o cuidado com a seleção Pois para Mello, justamente aí está a importância do Programa Terneiro Angus Certificado, lançado pela ABA em 2007 e que ano passado já apresentou crescimento fantástico, ultrapassando a marca dos 3 mil terneiros certificados. “O terneiro (ou bezerro) Angus certificado é um forte candidato a ser o novilho abatido logo adiante pelo Programa Carne Angus Certificaca”, diz Mello, apontando a importância do incremento cada vez maior deste programa de certificação de O novo dirigente da ABA igualmente enfatiza a importância do trabalho que vem sendo implementado pelo Conselho Técnico da entidade, que hoje tem na presidência a veterinária e criadora Susana Macedo Salvador. “Esse seleto grupo de profissionais é que determina, a cada momento, como trabalhar para aprimorar cada vez mais a seleção genética de nossos animais e vai determinar qual o tipo ideal de Angus para o Brasil”, valoriza. Nas pistas, a genética que dá show Joaquim Mello não tem dúvida de que o reprodutor de pista, seja macho ou fêmea, hiperselecionado e bem nutrido é, a um só tempo, a base da genética da raça e também uma das mais eficientes vitrines para atrair criadores e novos investidores. E sobre as críticas que alguns fazem, de dizer que os exemplares de show não Em evento do Programa Carne Angus Certificada, seu estabelecimento foi visitado pelos produtores integrantes do programa representam a realidade de campo da raça, porque estão supercuidados e superalimentados, Mello contrapõe: se esses animais não tivessem uma excelente genética, não responderiam positivamente a uma superalimentação”. Para ele, os produtos de pista vão produzir sêmen ou filhos que serão utilizados pelos criadores como ferramentas para o melhoramento de plantéis ou rebanhos, de olho na geração de novilhos cada vez melhores. “O aprimoramento de nosso gado nas pistas das exposições é um estágio importantíssimo da cadeia produtiva, cujos reflexos precisam, cada vez mais rapidamente, chegar na outra ponta, que é o campo, Joaquim Mello num flash Casado com a Sra. Anna Helena e pai de quatro filhos, Joaquim Francisco Bordagorry de Assumpção Mello reside em Pelotas, RS e opera suas propriedades naquela região, do Sul do Rio Grande do Sul. Em pecuária, ficou conhecido como competente selecionador, em sua Estância Santa Eulália. É também produtor de gado comercial, fazendo o ciclo completo. Paralelamente, desenvolve lavouras comerciais de soja e de arroz é também é criador de cavalos Crioulo. Em sua bagagem pessoal, Mello já exerceu cargos como diretor da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos, presidente da Associação Rural de Pelotas, é vicepresidente da Associação Nacional de Criadores – Herd Book Collares e membro do Conselho Superior da Associação Comercial de Pelotas. Ele foi pioneiro em sua região na utilização da técnica do plantio direto e é um dos agropecuaristas brasileiros que ostenta a enorme distinção representada pela Comenda Assis Brasil. Joaquim Mello representa a quinta geração de uma família dedicada ao campo. No Brasil, já em 1840, os Assumpção se destacavam no segmento e em 1905, os Bordagorry já criavam Angus no Uruguai. 22 Março/Abril de 2009 MOVIMENTO Março/Abril de 2009 Reconquista arrasa em Avaré Realizado dia 14 de março, durante a 44ª Exposição Municipal Agropecuária de Avaré (Emapa), em Avaré, SP, o julgamento de classificação consagrou a Reconquista Agropecuária, em Alegrete, RS, como grande favorita da mostra. A propriedade de José Paulo Dornelles Cairoli faturou os campeonatos tanto nos machos como nas fêmeas. O jurado, criador e ex-diretor de Núcleos da ABA Flávio Montenegro Alves destacou a disputa acirrada e a evolução da raça nas pistas após ter avaliado também a mostra de Avaré em 2008. Entre os animais escolhidos, observou a pureza racial da grande campeã e o volume carniceiro do grande campeão. “A grande campeã é uma vaca impecável com tamanho ideal, bom úbere, carniceira e habilidade materna. Já o gran- de campeão impressiona, tem 800 quilos, genética apurada e pode ser um futuro doador de sêmen.” A exposição abriu o Ranking Oficial de Expositores e Criadores da Associação Brasileira de Angus (ABA) de 2009. Ao final do evento, os criadores e expositores participantes, técnicos e a equipe Angus presente foram recepcionados pelo associado Vicente Júlio Costa, morador de Avaré, para a entrega de prêmios. A confraternização ocorreu com um jantar oferecido por Costa. A participação da raça, em Avaré, foi organizada pela Associação Brasileira de Angus com apoio do Núcleo de Criadores de Angus de São Paulo. Confira abaixo a relação dos campeões de Avaré 2009: 23 Ronaldo Camargo foi escolhido melhor cabanheiro Ronaldo Camargo, da GB Agropecuária, em Porecatu, PR, foi eleito o Melhor Cabanheiro da 44ª Emapa Avaré. A premiação foi entregue no dia 13 de março, durante churrasco de confraternização que a Associação Brasileira de Angus ofereceu aos cabanheiros. A escolha do “Melhor Cabanheiro” é realizada pela equipe técnica da ABA em todas as exposições de categoria A e os mesmos recebem um “kit” de presentes além de uma placa de homenagem. Grande Campeã - Reconquista 1220 Marca Payador Reservada de Grande Campeã - Reconquista 1290 Nair Beef G Canyon Terceira Melhor Fêmea - Rincon Esfinge 1092 Del Sarandy Grande Campeão - Reconquista 1301 Naco Cachafaz Reservado Grande Campeão - Reconquista 1292 Zorzal G. Canyon 3º Melhor Macho - Rincon Intruso 1248 Del Sarandy EXPOSIÇÃO ANGUS DE AVARÉ - DADOS DOS ANIMAIS CAMPEÕES Grande Campeã RECONQUISTA 1220 MARCA PAYADOR HBB: 116167 Pel: P Tatuagem: 1220 Nascimento: 02/07/2006 Idade: 984d Pai: TRES MARIAS 6241 PAYADOR TE HBB: IA848 Mãe: ANGUS DA RECONQUISTA 146 HBB: 73015 Peso: 781 Frame: 6.04 Expositor: José Paulo D. Cairoli, Reconquista Agropecuária Ltda, Alegrete/RS Criador: José Paulo Dornelles Cairoli Reservada Grande Campeã RECONQUISTA 1290 NAIR BEEF G CANYON HBB: 120729 Pel: V Tatuagem: TE1290 Nascimento: 20/01/2007 Idade: 782d Pai: BADLANDS ME BEEF 805 HBB: IA637 Mãe: RECONQUISTA 592 GLEBA CANYON HBB: 93050 Peso: 679 Frame: 5.03 Expositor: Parc.José Cairoli/ Rubens Zogbi/Clovis dos Santos Criador: José Paulo Dornelles Cairoli 3º Melhor Fêmea RINCON ESFINGE 1092 DEL SARANDY HBB: 115865 Pel: V Tatuagem..: 1092 Nascimento: 13/09/2006 Idade: 911d Pai: PASTORIZA 565 BRIGADIER TE HBB: IA796 Mãe: RINCON RICADONA 0639 DEL SARANDY HBB: 92136 Peso: 675 Frame: 4.99 Expositor.: Cabanha Rincon Del Sarandy, Cabanha Rincon Del Sarandy, Uruguaiana/RS Criador: Cabanha Rincon Del Sarandy Grande Campeão RECONQUISTA 1301 NACO CACHAFAZ HBB: 122718 Pel: V Tatuagem..: TE1301 Nascimento: 24/06/2007 Idade: 627d Pai: TRES MARIAS 7031 CACHAFAZ 6556 TE HBB: 745150 Mãe: TRES MARIAS 6972 FENOMENA 5494 TE HBB: 741868 Peso: 854 C.E.: 43 Frame: 5.01 AOL: 114,2 EGS: 7.6 P8: 16.3 Expositor.: José Paulo D. Cairoli, Reconquista Agropecuária Ltda, Alegrete/RS Criador: José Paulo Dornelles Cairoli Reservado Grande Campeão RECONQUISTA 1292 ZORZAL G. CANYON HBB: 121376 Pel: P Tatuagem: TE1292 Nascimento: 11/03/2007 Idade: 732d Pai: TRES MARIAS ZORZAL TE HBB: IA850 Mãe: RECONQUISTA 592 GLEBA CANYON BARTOLOME HBB: 93050 Peso: 894 C.E.: 45 Frame: 5.00 AOL: 127.4 EGS: 12.5 P8: 14.7 Expositor: José Paulo D. Cairoli, Reconquista Agropecuária Ltda, Alegrete/RS Criador: José Paulo Dornelles Cairoli 3º Melhor Macho RINCON INTRUSO 1248 DEL SARANDY HBB: 121584 Pel: P Tatuagem: 1248 Nascimento: 07/09/2007 Idade: 552d Pai: TRES MARIAS 6301 ZORZAL TE HBB: IA850 Mãe: RINCON DESTEMIDA TE013 FULL DEL SARANDY HBB: 99953 Peso: 709 C.E.: 39 Frame: 4.91 AOL: 101.0 EGS: 11.4 P8: 14.1 Expositor: Cab. Rincon Del Sarandy, Cabanha Rincon Del Sarandy, Uruguaiana/RS Criador: Cabanha Rincon Del Sarandy 24 Março/Abril de 2009 INFORME PUBLICITÁRIO Select Sires apresenta genética focada na Carne Angus Por Felipe Escobar O potencial genético do bovino abatido é um dos aspectos mais importantes no momento de produzir carne de qualidade. Este é o pensamento com o qual concordam a Semeia/Select Sires e a CAB - Certified Angus Beef (Carne Angus Certificada Americana). No catálogo que apresenta a bateria de touros Angus da Select Sires para o ano de 2009, os criadores irão encontrar uma grande porcentagem de touros que igualam ou superam as recomendações da CAB para marmoreio ou $ G (Índice Econômico de Seleção desenvolvido pela Associação Americana de Angus que combina as três características genéticas que influenciam a taxa de aceitação de carcaças ao Programa Carne Angus Certificada). Nos EUA não basta o produtor utilizar genética Angus para ter seu animal abatido e certificado pelo Programa Carne Angus. Além da genética Angus, a carcaça do novilho deve preencher determinados requisitos como: apresentar no mínimo um grau moderado de Marmoreio, Área de Olho de Lombo adequada às especificações. Para alcançar este padrão de carcaça, o CAB lançou um “Manual de Boas Práticas”, onde estão apresentados os parâmetros mínimos que um reprodutor deve apresentar para que sua progênie alcance a certificação ao abate. “A Semeia/Select Sires sentem-se orgulhosas em oferecer uma bateria de touros geneticamente focados na carne de qualidade, como a Carne Angus Certificada”, afirma Aaron Arnett, especialista em genética de corte da Select Sires. “Touros que agregam valor desde a concepção até o consumo é uma tradição na Select Sires, e agora nossos clientes podem aumentar sua rentabilidade selecionando touros compatíveis com os exigentes parâmetros exigidos pela CAB”. Mark A. McCully, diretor de desenvolvimento e distribuição do Programa CAB, enfatiza que o potencial genético é mais eficaz que qualquer forma de manejo no momento de se produzir carne de qualidade. “Ao manter o foco no marmoreio, a Semeia/Select Sires apresenta reprodutores que podem e devem contribuir com o progresso da indústria da carne, satisfazendo os consumidores e aumentando a participação da carne bovina no mercado. O CAB parabeniza a Semeia/Select Sires por este enfoque”, afirma McCully. Segundo McCully, o Marmoreio, uma característica de alta herdabilidade, é a característica pela qual aproximadamente 90% das carcaças são excluídas do Programa CAB. “Com o aumento dos custos e conseqüente redução das margens, os criadores necessitam procurar formas de incrementar suas receitas”, disse McCully. Segundo ele, os confinamentos americanos estão procurando animais que ganhem peso e apresentem uma carcaça de alta qualidade. “Com esta mentalidade, a CAB estimula os criadores a colocarem o foco das decisões genéticas na qualidade do produto final, utilizando assim os touros ofertados pela Semeia/Select Sires”. No catálogo 2009 da Select Sires, 41 touros contêm os requisitos mínimos estipulados pelo Manual de Boas Práticas do CAB. Além disso, entre os Top 10 para o Índice Econômico Final desenvolvido pela Associação Americana,5 touros são genética Select Sires, com destaque para 7AN222 Predestined, 7AN255 5050 e 7AN258 Total. Os pecuaristas brasileiros têm acesso a este potencial genético através da Semeia Genética, empresa parceira da Select Sires há 30 anos, que possui 16 destes touros a pronta entrega. Conheça os touros da Semeia e seja você também um produtor de carne com alto padrão de qualidade. Médico Veterinário Departamento Técnico Semeia Cabanha Seival Del Toro é a mais nova participante do Programa Parceria da Semeia Genética A Semeia Genética ampliou neste início de ano parceria com criadores para desenvolver um programa de seleção de bovinos de corte visando a excelência no desempenho dos reprodutores utilizados. O objetivo é formar rebanhos com alto valor genético, através da utilização de reprodutores que estejam em prova nos EUA, possibilitando que os parceiros utilizem a genética americana atual, e também mensurar o desempenho da progênie destes touros em condições brasileiras. O contrato mais recente, protocolado neste início de ano, com a Cabanha Seival Del Toro (Cachoeira do Sul/RS), de Luís Henrique Sesti, começou a ser implementado na temporada de inseminação artificial da Primavera 2008, realizada em dezembro, com genética Semeia/Select Sires. Os produtos que irão nascer a partir de agosto serão avaliados no Promebo/Angus (Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne) onde será feita uma seleção objetiva do rebanho. Segundo o sócio-gerente da Semeia Genética, Léo Fraga Warszawsky, a parceria busca desenvolver um rebanho eficiente e com melhores resultados econômicos atra- vés da utilização da genética Select Sires. “A Cabanha Seival del Toro terá preferência no uso da genética Select Sires para obter melhores resultados econômicos e deverá contar com assistência técnica qualificada da Semeia Genética, avaliação no Promebo e utilização de até 20% de sêmen de touros que estão em prova”, ressaltou. Para Sesti, a aproximação com a Semeia Genética possibilitará mais eficiência na progênie dos touros da Seival. “A Semeia prioriza o melhoramento genético e oportuniza a utilização de reprodutores com consistência genética bastante consagrada nos Estados Unidos”, avaliou. Luís Henrique Sesti tem um plantel de Angus Puro por Cruza (PC) e o objetivo da cabanha é a produção de touros rústicos. Esta é a quarta parceria da Semeia Genética que já firmou protocolos técnicos com a Cabanha Don Messias (São Gabriel/RS), de Carlos Messias Marques Antunes; Cabanha Santa Joana (Santa Vitória do Palmar/RS), de Ulisses Amaral, e a Estância do Silêncio de São José (Dom Pedrito/RS), de Ayrto Schvan. Março/Abril de 2009 25 26 Março/Abril de 2009 MOVIMENTO REPORTAGEM Março/Abril de 2009 27 Combate à miíase avança no Brasil Fotos: Divulgação Impacto da zoonose motivou transferência de tecnologia Angus@newS antecipou a campanha contra mosca na edição de maio 2008 A mosca da Miíase Projeto da Comexa financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) vai permitir a redução de moscas causadoras da bicheira. A liberação de espécies estéreis do parasita em uma área piloto na fronteira Brasil-Uruguai iniciada em fevereiro é o grande passo para a América Latina reduzir a infestação da mosca. O passo seguinte será mostrar a viabilidade da técnica aos envolvidos da cadeia produtiva e fazer a experiência inédita se tornar praxe nos campos brasileiros Alta produtividade, aumento das taxas de natalidade e a redução do intervalo entre partos e da idade de abate. Graças à tecnologia, a cada ano a pecuária brasileira vem incrementando os índices que a tornam uma das atividades mais eficientes do mundo. A tecnologia também vem sendo utilizada para combater um importante inimigo da produção do País: a mosca da miíase, causadora da bicheira, considerada um dos mais danosos parasitos da pecuária nacional e responsável por aumentar os custos de quem produz: estima-se um gasto de US$ 6,00 por cabeça/ano para se manter um controle eficiente. Essa é a conta paga pelos criadores da região de fronteira Brasil-Uruguai, que no País inclui os municípios de Quaraí, Barra do Quaraí e Santana do Livramento. É lá que está sendo desenvolvido o projeto regional que visa à futura erradicação da mosca causadora da bicheira. O projeto-piloto, inédito no Brasil, utiliza a dispersão, em uma área delimitada de 60 quilômetros entre o Brasil e o Uruguai, de moscas esterilizadas (inférteis) através da energia nuclear. Soltas no ambiente, elas cruzam com os parasitos nativos, reduzindo, assim, a população de moscas na área. As primeiras dispersões por avião das moscas estéreis se iniciaram em 3 de fevereiro, trabalho que desde então é realizado com sol ou chuva. De acordo com o fiscal federal agropecuário do Ministério da Agricultura em Quaraí, Eduardo Flores, a liberação das pupas no ambiente ocorre nas terças, quartas, sextas e sábados. “São oito vôos semanais, quatro do lado brasileiro e quatro do lado uruguaio”, explica. Cada vôo, realizado com o apoio de aeronave da Força Aérea Uruguaia, joga no campo 1.500 caixas, cada uma contendo 1.800 pupas. Segundo Flores, o trabalho experimental se estenderá até o dia 4 de abril, mas próximo da sétima semana, já será possível conhecer o resultado do trabalho. “A tendência é de que a redução da população de moscas nessa área seja muito bem-sucedida, assim como já foi Equipe binacional realiza a triagem das amostras Área piloto é na fronteira Brasil Uruguai comprovado em outros países”, relata. A iniciativa, que no passado exterminou com a população de moscas na América do Norte e na América Central, tem grande chance de ser estendida para outras regiões brasileiras onde se produz carne: seja bovina, ovina, suína, caprina ou aves. “Não estamos testando a tecnologia, ela já existe e está pronta”, afirma o coordenador de campo do projeto para o lado brasileiro, Joal Pontes. De acordo com ele, o próximo passo do projeto-piloto será demonstrar a viabilidade do trabalho de controle e a futura erradicação da mosca da miíase na América Latina. A adoção dessa tecnologia em maior escala, segundo Pontes, vai depender de ações da iniciativa privada – leiam-se associações de raças, federações de agricultura e órgãos governamentais. “Eles é que vão dizer se essa tecnologia será ou não viável economicamente de ser aplicada nos campos brasileiros”, afirma Pontes, que atua como supervisor regional do Departamento de Produção Animal (DPA), da Secretaria Estadual da Agricultura (Seappa). Pontes afirma que o apoio das associações de raças terá um peso importante para a continuidade do projeto em outras regiões afetadas, e lembra que a Associação Brasileira de Angus (ABA) foi a primeira a incentivar o início do projeto piloto no Rio Grande do Sul. “A ABA nos cobrou esse trabalho e reconheceu a importância dele”, recorda o técnico. O controle efetivo da mosca da miíase, segundo ele, será um importante passo para a conquista de novos mercados para a pecuária brasileira, seja na exportação de gado em pé ou na venda de carne. “O parasito é uma barreira comercial, pois é considerada uma praga exótica. Por isso o seu combate é fundamental para abrirmos o leque de mercados para o nosso produto”, afirma Pontes. Outro benefício já mencionado é a redução de custos de produção, hoje um dos grandes gargalos da pecuária nacional. Aviões da Força Aérea Uruguaia realiza o transporte das amostras A Cochliomya hominivorax, ou mosca da bicheira, integra lista dos principais organismos internacionais, como a FAO e a OIE, como zoonose prioritária de combate em países da América devido ao seu impacto na saúde pública, especialmente na população de baixa renda, moradora de regiões sem as mínimas estruturas de saneamento. A primeira experiência nacional de combate teve início em 2006 quando a Comissão MéxicoAmericana para a Erradicação do Gusano Barrenador Del Ganado (Comexa) abriu a possibilidade à Superintendência Federal do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul (SFA/RS/Mapa), para que o trabalho fosse realizado em uma área experimental. A região da fronteira com o Uruguai foi escolhida por possuir pecuária extensiva. De acordo com Bernardo Todeschini, chefe do Serviço de Sanidade Agropecuária (Sedesa) do Mapa/RS, o projeto da Comexa foi trazido para o Brasil em função da preocupação com a saúde pública e pela necessidade de redução dos prejuízos na pecuária, com custos de mão-de-obra e medicamentos, queda na produção de leite, carne e desvalorização do couro e peles dos animais infectados. Mesmo sem estatísticas oficiais sobre perdas e prejuízos causados pela mosca no Brasil, números extraídos de um questionário aplicado junto aos proprietários dos 277 estabelecimentos rurais na fronteira do Brasil com o Uruguai, demonstraram a necessidade de uma ação urgente. Todos os criadores relataram a ocorrência da bicheira em seus animais. Na área, de acordo com o levantamento, 7% dos exemplares foram afetados pela enfermidade, entre bovinos e ovinos – de uma população total de 134.204 ovinos e 126.724 bovinos. O ciclo biológico da Cochliomya hominivorax leva em torno de 21 dias, e exige condições ótimas de temperatura, entre 20 e 30 graus, já que o calor favorece a proliferação. No inverno o inseto permanece por até 50 dias em estágio de pupa. Em estágio de pupa fica entre 7 a 10 dias na terra. A fêmea só copula uma vez e coloca até 300 ovos na ferida aberta. Dos ovos, no período de 24 horas, nascem as larvas que vão penetrar nos tecidos vivos e sedimentar. A larva madura cai na terra e novamente se transforma em pupa. Em sete dias, se transforma em mosca. As larvas da mosca submetidas à radiação por Césio 137 são trazidas de Chiapa, no México, para o Montevidéu, no Uruguai, e de lá são reembarcadas para Artigas, também no Uruguai. Antes de estarem prontas para a liberação no ambiente, são armazenadas em câmaras a 28 graus, local onde eclodem. Em 48 horas de manipulação por técnicos, ficam prontas para serem jogadas por avião. A etapa final, e mais importante, é o cruzamento dessas espécies estéreis com as espécies nativas. A redução da população de moscas é possível já que as espécies nativas passam a produzir ovos sem fertilidade. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) é o organismo internacional financiador do projeto, que incluiu a etapa de aplicação do questionário de diagnóstico de campo em área pré-definida, capacitação de técnicos e agora a dispersão de moscas estéreis na área piloto. O custo da iniciativa é de US$ 1 milhão a fundo perdido, sendo que a contrapartida dos países envolvidos é o trabalho e o engajamento das equipes. 28 REPORTAGEM Março/Abril de 2009 Rastrear ou não: eis a questão Fotos: Divulgação/ABA Por Eduardo Fehn Teixeira Desinformação e diferenças de valores praticados pelos mercados interno e externo pela carne bovina. Basicamente são esses os principais fatores que estão resultando na lentidão, e até em certo desinteresse por parte dos produtores, pela efetiva implantação da Rastreabilidade nas propriedades brasileiras na atualidade. É óbvio que, guardadas as condições e práticas de preços pagos pela carne em cada região, num País continental como o Brasil. O Brasil tem volume de animais, tem clima, genética, técnicos e produtores competentes, enfim, um potencial inestimável, invejável. Mas ainda há muito a fazer. Os pecuaristas precisam padronizar e elevar o nível genético de seus rebanhos, cuidar da sanidade e aperfeiçoar os métodos de manejo, para não depreciar o produto final nas linhas de matança dos frigoríficos, que por sua vez já imprimem modernidade em seus processos técnicos. Grande parte dos produtores que optaram pela implantação da rastreabilidade (a adesão é voluntária, opcional), e que tem Estabelecimentos Rurais Aprovados (ERAS) no Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina – Sisbov, estão satisfeitos. Afirmam que este é o caminho rumo ao futuro, que o investimento retorna rápido, que isto possibilita o ingresso em novos mercados que melhor remuneram, e alegam que ainda têm o ganho da implantação de um sistema rígido de controle e gerenciamento em seus negócios. Isto além de contribuírem para a melhoria da imagem do Brasil no exterior. Mas de outro lado, esses e outros produtores que ainda não implantaram a rastreabilidade em suas propriedades também fazem criticas às constantes mudanças de regras e a uma postura beirando o cartorial nos relacionamentos entre produtor, certificadora e autoridades oficiais. Portanto, há controvérsias sobre a questão, ou no mínimo sobre como ela está sendo conduzida no Brasil. Os técnicos vêem a implantação dos processos da rastrabilidade nas propriedades como grandes ganhos também para a sanidade dos animais. Isto sem falar nos controles e na elevação do nível e da imagem do produtor brasileiro no exterior. E como no Brasil é difícil encontrar números e percentuais exatos, fica difícil estimar. Mas se sabe que até este momento somente uma minoria está habilitada a exportar. Via de regra, todos concordam que é preciso rastrear os rebanhos No início, erros e desconhecimento geraram enorme resistência Fotos: Divulgação Primeiramente, lá no início, nos anos 2002/2004, houve uma enorme resistência por parte do setor à então novidade, especialmente em função, primeiramente, de ser algo totalmente novo, mas que logo teve o reforço negativo dos equívocos gerados pelos primeiros métodos e sistemas implementados. Também é preciso registrar que, na ótica dos criadores, rastrear a propriedade significa também um custo a mais, que num primeiro momento é sempre mal recebido, porque avaliado como despesa, não como investimento. E junto com esse “pé atrás” dos produtores, os técnicos do Ministério da Agricultura, desde o início, também vem lidando com as pressões e procurando atender das melhores maneiras (tecnicamente corretas) às exigências que surgem, de tempos em tempos, de parte dos compradores estrangeiros, dos importadores de nossa carne. As famosas (e até temidas) missões do Mercado Comum Europeu, que constan- Luciano Médici Antunes temente vêm ao Brasil para vistoriar e identificar propriedades aptas a exportar, já se transformaram num verdadeiro bicho papão, pelo rigor de suas atuações e pelas sempre novas exigências que fazem. M as o que é rastr eabilidade rastreabilidade Antes de mais nada, é importante registrar que, por definição, rastreabilidade é o processo de identificação que se faz necessário para o acompanhamento de todos os eventos, ocorrências, manejos, transferências e movimentações na vida do animal. A característica de individualidade da identificação é fundamental devido às facilidades na realização dos registros de acompanhamento que se fazem necessários e a simplicidade e rapidez exigida para o acesso a estas informações. A maneira mais simples e barata de se identificar individualmente os animais hoje é através da aplicação de brincos e bottons contendo os códigos do S.I.R.B./Sisbov. Sisbov é o Ser viço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos. Tem como objetivo o controle e rastreabilidade do processo produtivo no âmbito das propriedades rurais de bovinos e bubalinos. É de adesão voluntária para os produtores rurais, mas também é exigência obrigatória no caso de comercialização de carne bovina e bubalina para mercados que exijam a rastreabilidade. R egramento é o mesmo “As regras que estão vigentes hoje para todos os produtores que optarem por realizar a rastreabilidade de seus animais/rebanhos foram fixadas pelo Ministério da Agricultura (MAPA) em 13 de julho de 2006, através da instrução normativa de número 17”, esclarece, de pronto, o diretor geral da certificadora Plane- jar, agrônomo Luciano Médici Antunes. Ao contrário do que muitos pensam e alguns dizem, segundo o técnico todo o processo para a implantação da rastreabilidade de bovinos e de bubalinos está claramente estabelecido e não há perspectivas de novas mudanças. “O que há é uma certa desinformação de alguns produtores e técnicos, o que gera uma imagem distorcida desta questão, chegando a induzir certas pessoas a acreditar que ainda não foi estabelecido um regramento claro para a tarefa e que, com possíveis mudanças, há risco de perda de investimentos já realizados”, observa o dirigente. “O que mudou de lá para cá foram aperfeiçoamentos que passaram a ser agregados ao sistema, com o intuito de aperfeiçoá-lo. Mas nada do que foi feito antes foi perdido”, esclarece o especialista, observando que a maior parte desses aperfeiçoamentos foram apontados pelas missões da Comunidade Econômica Européia, em suas visitas ao País para inspecionar propriedades e se reunir com os técnicos do Ministério da Agricultura. Ainda há críticas aos constantes aperfeiçoamentos do sistema REPORTAGEM Março/Abril de 2009 29 O diretor técnico da Superintendência Federal da Agricultura no Rio Grande do Sul, veterinário José Euclides Vieira Severo, vai mais além, agregando mais conhecimento e uma inovadora cultura ao processo. Ele também vê a rastreabilidade como a maneira mais eficiente de organizar e implantar um sistema de gestão nas propriedades. “Não se trata somente de se habilitar a exportar. Mas de ter uma propriedade totalmente sob controle, o que também é bastante útil para os controles sanitários dos órgãos oficiais e assim para a saúde de toda a pecuária nacional. Em resumo, é bom para o dono, para os técnicos, para os negócios e para a imagem da carne brasileira no exterior”, define, com abrangência e autoridade, o experiente técnico. E xigências do mer cado mercado Assessor da Comissão de Bovinocultura de Corte da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), o agrônomo e produtor rural Carlos Simm diz que a demora especialmente dos pecuaristas gaúchos em implantar a rastreabilidade é mesmo incompreensível. Para ele, se o pecuarista quer ter preço diferenciado para a carne que produz, então também precisa apresentar um produto igualmente diferenciado, que no mínimo atenda a todas as exigências dos melhores mercados importadores do mundo. “Tradicionalmente o Rio Grande do Sul, pela base de seu gado (genética européia, britânica) produz uma carne diferenciada na comparação com o res- Fotos: Divulgação/ABA Rastrear é implantar gestão Fábio Gomes João Wolf to do Brasil e também produz mais carne do que consome. Precisa exportar. E para vender carne para a União Européia e outros mercados sofisticados, que pagam mais pelo produto, tem que atender as exigências desses clientes, que exigem gado rastreado”, insiste O técnico. E diz também que até 2010 o Uruguai já terá todo o seu rebanho rastreado através de chip eletrônico, e que Santa Catarina já identificou e brincou todos os seus animais. do de encontro em Brasília, que reuniu os nove estados que estão habilitados a exportar para a União Européia – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo. Segundo o técnico, no Brasil são mais de 800 propriedades habilitadas, a maior parte no Brasil Central. E faz críticas profundas à lentidão com que o assunto vem sendo tratado por um grande número de produtores. Gilson Evangelista de Souza chega a dizer que “quem não é a favor da rastreabilidade é favorável ao abigeato, ao abate clandestino, à falta de controle sanitário, à reintrodução da Febre Aftosa e à posse de animais ilegais”, sentencia. Não há como ser contra Já o Fiscal Federal Agropecuário do Ministério da Agricultura Gilson Evangelista de Souza, responsável pelo Sisbov no Rio Grande do Sul, acha mesmo difícil que alguém seja contrário à rastreabilidade. Ele critica de modo forte a demora dos produtores em providenciarem na implantação do sistema, mas não crê que alguém possa não concordar ou achar que não seja algo bom para todos. Ele esteve recentemente participan- G aúchos largaram na fr ente frente Isto mesmo. A Cabanha dos Tapes, propriedade do criador e atual diretor de Marketing da Associação Brasileira de Angus (ABA), João Francisco Bade Wolf, em Arambaré, RS, foi o primeiro estabelecimento rural no Brasil a implantar o sistema oficial de rastreabilidade – Sisbov. “Realizamos esta tarefa em 2 de dezembro de 2006”, recorda, com orgulho, João Wolf. Para ele, este é um caminho sem volta e os que já estão nele, estão à frente dos demais. Tudo é uma questão de tempo”, condiciona o criador gaúcho. Mas Wolf, apesar de ser totalmente favorável à implantação do sistema, também faz críticas às sucessivas mudanças que vem sendo realizadas pelo Ministério da Agricultura e também ao formato do lançamento dos dados no sistema. “Nós, produtores, informamos à certificadora, e esta ao sistema. Mas o boi não espera. Quando está gordo, precisa ir ao abate e não pode esperar pela demora no lançamento dos dados ...”, exemplifica. João Wolf defende que o próprio produtor realize o lançamento dos dados no sistema, simplificando a operação. “Afinal, o produtor é o responsável pelos dados, mas quem os lança é a certificadora e nessa manobra é que podem ocorrer as falhas”, questiona, alegando que o modelo precisa ser mais prático e menos cartorial. Rastr ear significa ganhar mais Rastrear Por sua vez, o produtor Vandi Coradini, à frente de 10 propriedades da família em Dom Pedrito e Bagé, no RS, argumenta que no momento a rastreabilidade é a melhor saída para a melhoria do mercado e da remuneração ao produtor. “A implantação é trabalhosa, mas as regras são claras”, diz ele, alertando que em todos os passos do processo o produtor precisa ter acompanhamento técnico, comuni- cando-se com a certificadora, com a inspetoria veterinária e com os profissionais do Ministério da Agricultura, para evitar erros. “Tudo precisa estar corretíssimo e documentado”, resume. Para Coradini, os brincos dos animais precisam estar corretos e bater com as documentações. Por isso, todo o cuidado é pouco”, adverte Coradini, calculando entre R$ 80,00 a R$ 100,00 o sobrepreço que está sendo alcançado pelos animais rastreados, e observando que “isto é para médias e grandes propriedades. As pequenas precisam ser subsidiadas”. Coradini alerta que o mercado é o cliente e por isto o produtor precisa rapidamente se adaptar a ele para elevar o seu faturamento, a rentabilidade de seu negócio. “A reastreabilidade é um assunto importante e sério, na medida em que viabiliza e valoriza a carne na hora da exportação”, começa dizendo o selecionador Fábio Gomes, titular da Cabanha Catanduva, em Cachoeira do Sul, RS. Segundo ele, que é o atual vice-presidente da Associação Brasileira de Angus (ABA), o Uruguai resolveu bem a questão, de modo que os custos são devolvidos aos produtores no momento da venda dos animais. “Mas aqui no Brasil a rastreabilidade começou mal, onerando os pecuaristas e faltando maior organização”, diz Gomes. E observa que há ainda a questão dos animais registrados, cujo registro é mais seguro, em termos de comprovação de origem, do que o rastreamento, de modo que isso deveria ser ressalvado para não onerar duplamente os produtores. Atender e proteger o consumidor Recentemente o técnico da Associação Brasileira de Angus Fernando Velloso esteve no Reino Unido, onde foi recebido pelo diretor executivo da British Livestock Genetics (BLG), Robert Wills. Indagado sobre a rastreabilidade no rebanho do Reino UInido, Wills disse que lá o sistema funciona muito bem e é resultado de dez anos de história e aprendizado. “Em nosso início os produtores também não concordavam muito e alegavam que seria muito difícil de executar em nível de fazenda. Mas hoje isso é assunto vencido, porque nossos produtores entenderam a necessidade de atender e de proteger o consumidor”, revela Wills, que é graduado em Administração Rural e descendente da sexta geração de uma família de produtores do condado de Devon, na Inglaterra. “Nós temos que conquistar e manter a confiança da dona de casa. E com a rastreabilidade nós conseguimos fazer isto, pois podemos controlar e a qualquer momento suspender toda e qualquer movimentação de gado e assim bloquear a disseminação de doenças”, explica Rob Wills, como é mais conhecido em seu país. E para ele, justamente em épocas de crise, a rastreabilidade é a sua melhor amiga. “Hoje nós olhamos outros países, como os Estados Unidos, e sabemos que esses países estão muito expostos a problemas sanitários em função da falta de um sistema de rastreabilidade”, sustenta o experiente técnico e produtor inglês. Indústrias estão à fr ente frente De caráter bem mais técnico e por certo com um foco mais abrangente que a simples implantação de um sistema de rastreabilidade, o Frigorífico Marfrig (parceiro da ABA em seu Programa Carne Angus Certificada), com plantas industriais no interior de São Paulo e Brasil Central, já trabalha num projeto próprio, que faz a rastreabilidade dos amimais que abate “do pasto à mesa”. É o que explica a engenheira de alimentos com especialização em Segurança Alimentar Elaine Bedeschi. Segundo a especialista, responsável por uma equipe multidisciplinar que atua nesta área nas plantas industriais do Marfrig, o projeto desenvolvido com exclusividade para a empresa resulta em total segurança do trabalho realizado em todas as etapas dentro dos frigoríficos. “É o gerenciamento de todo o processo, com o envolvimento de todos, como uma equipe”, sintetiza. O Marfrig trabalhou na reestruturação de todo o sistema que já existia, a partir de dezembro de 2007 e desde março de 2008 o novo sistema está sendo implantado em todas as unidades do grupo. Já o Frigorífico Mercosul (também integrante do Programa Carne Angus Certificada), se preocupa com todos os elos da cadeia. “No Mercosul a rastreabilidade é um caminho sem volta”, define o técnico Taulni Rosa (o Chico), um dos responsáveis por esta área na empresa, com plantas do Rio Grande do Sul. “Quem quiser sair do monopólio representado pelo mercado interno, e assim buscar me- lhores remunerações para seus animais precisa, antes de mais nada, ter o rebanho rastreado”, sentencia. Segundo ele, no Mercosul as equipes de extensão rural estão sempre junto aos produtores, orientando e apoiando a implantação e condução dos processos de rastreabilidade das fazendas. E chegando à indústria, o gado, já rastreado desde a fazenda, é organizado em lotes, e no abate os animais são identificados individualmente. “É feito um controle rigoroso a partir da numeração do brinco fixado na orelha do animal, e deste modo o frigorífico dispõe de todos os dados registrados sobre cada um dos animais no Sisbov. “Estamos focados em sanidade e controle, visando à segurança alimentar”, resume Chico. 30 REPORTAGEM Março/Abril de 2009 Foto: Divulgação/Bela Vista Pecuária, sombra e água fresca “Dizem que os zebuínos estão perfeitamente adaptados ao clima quente do Brasil. Eles podem ser adaptados, mas não são bobos. Se houver uma sombra por perto, na hora mais quente do dia, é lá que eles estarão.” É com esta frase que o professor de etologia e bem-estar animal da Unesp Jaboticabal, Mateus J. R. Paranhos da Costa, define a importância do clima para a pecuária de corte. Segundo ele, que lidera o Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (Grupo ETCO), hoje é inadmissível que o produtor credite perdas por mortes devido ao clima como acidentes ou “normais”. Por Hosrt Knak O clima quente e seco, no Brasil, é o principal obstáculo à criação de bovinos a campo. Mesmo assim, frentes frias muito fortes podem provocar imensos prejuízos, como já ocorreu no Mato Grosso do Sul, quando milhares de cabeças morreram após uma forte onda de frio. A falta de quebra-ventos e áreas de matas é apontada como principal causa desta mortandade. Os produtores também tiveram sua parcela de culpa, por não calcularem o rigor da frente fria e recolherem o gado antes do ingresso em seus campos. O stress provocado pelo clima pode produzir enormes prejuízos que muitas vezes são a diferença entre lucro e prejuízo. Segundo o pesquisador norte americano George Leroy Hahn, ligado ao Clay Center, no estado de Nebraska, o clima é um condicionador importante na performance e nos resultados obtidos na pecuária de corte. Segundo ele, o produtor precisa criar as condições de proteção aos efeitos climáticos como seca, frio, tempestades, chuvas e outros desastres naturais. G. L. Hahn também desenvolve importantes linhas de pesquisa de olho no aquecimento global. Ele busca indivíduos mais adaptados a condições adversas, inclusive com animais da raça Angus, identificando níveis de risco para stress térmico – calor ou frio. Em 1977, exemplifica o prof. G. L. Hahn, num vale da Califórnia, mais 700 vacas leiteiras morreram pelo calor provocado por uma forte onda de calor associada a uma forte umidade do ar seguida de uma tempestade tropical. As vacas que sobreviveram tiveram sua produção reduzida drasticamente nos meses que se sucederam. Segundo Hahn, áreas adequadas de sombras teriam reduzido as mortes em 33% e teriam reduzido a queda de produção em 50%. Em meados da década de 90, relata o professor de Unesp, uma frente fria provocou a morte de centenas de bovinos no Mato Grosso do Sul. Também é comum o relato de acidentes com raios, que podem causar grande prejuízo pela tendência dos animais permanecerem próximos às cercas. Todos esses aconte- cimentos são potencializados pela falta de abrigos, que podem ser oferecidos através da manutenção de bosques nas pastagens. Segundo ele, está comprovado que, num confinamento com sombreamento artificial, é possível aumentar em no mínimo 80 gramas/dia o ganho de peso por unidade animal. “Imaginemos isso multiplicado por milhares de cabeças e teremos o lucro com o controle térmico neste sistema de criação”, projeta o professor da Unesp. O professor Mateus Paranhos da Costa usa o termo ambiência – “o espaço constituído por um meio físico, e ao mesmo tempo, por um meio psicológico, preparado para o exercício das atividades do animal que nele vive. No Grupo ETCO, formado por 22 profissionais do meio universitário, distribuídos em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e colaboradores em vários estados brasileiros, o objetivo é elevar o nível de conforto para o bovino criado em condições de campo e confinamento. Atualmente, vários integrantes do ETCO prestam serviços de assessoria a frigoríficos e produtos. “Isso nos permite colocar idéias em prática e, portanto, validar muitos resultados de pesquisa”, justifica Paranhos da Costa. O bovino pede acesso amplo e fácil à sombra Foto: Divulgação/Umbu ...implantou diversos bosques em sua propriedade em Uruguaiana, RS Angelo Tellechea... Na prática, qualquer organismo pode viver em condições de conforto, mesmo em situações adversas de clima. “Precisamos oferecer acesso amplo e fácil à sombra e, no mesmo grau de importância, à água. Em fazendas paulistas que criam animais puros - portanto mais sujeitos ao stress térmico - já é possível ver áreas do estabelecimento (a cabanha) cobertas com telas de sombrite – que produzem sombra artificial, além de bosques cultivados, especialmente com eucaliptos. A intensidade com que os animais procuram a sombra (definida pelo freqüência com que o fazem e pelo tempo de permanência no local sombreado), explica Mateus Paranhos da Costa, é controlada por diversos fatores, destacando-se as condições climáticas, os fatores sociais, envolvendo hierarquia e territorialismo, as diferenças entre raças e as diferenças entre indivíduos dentro de raça. “Com tantas variáveis influenciando o grau de utilização desse recurso, como definir o quanto devemos ofertar de sombra para os animais?”, indaga. A maneira mais simples de se obter essa resposta é através da observação dos comportamentos dos animais, muitos dos quais representam importantes mecanismos de termorregulação para animais criados a pasto e são facilmente mensuráveis em situações a campo. Segundo ele, “é difícil estabelecer uma regra geral para categorias, raças ou mesmo dentro de um grupo de animais de um estabelecimento. Cabe apenas a regra de que deve haver sombra suficiente para abrigar todos os animais ao mesmo tempo a qualquer hora do dia”. Isto porque os animais procuram a sombra não apenas nas horas mais quentes do dia, mas também a requerem em diferentes horas, em busca de repouso ou conforto. O criador gaúcho Angelo Bastos Tellechea, proprietário da Cabanha Umbu, em Uruguaiana, RS, identificou há muito tempo que o clima produz perdas irreparáveis no seu rebanho Angus. O gado perde peso no verão, o índice de concepção das fêmeas diminui muito e os terneiros acabam tendo menor condição de aleitamento, fruto do calor extremo de sua região – situada no Oeste gaúcho, junto à fronteira com Uruguai e Argentina. Angelo Tellechea introduziu bosques de sombra à base de eucaliptos em seus campos, junto aos reservatórios de água, reduzindo o esforço dos animais na busca da água. “Em três anos, podemos liberar para acesso aos animais”, revela. Entretanto, ele propõe que os Governo Federal, Estados e Municípios se empenhem em criar planos de irrigação que contemplem a pecuária de corte. “Precisamos produzir alimentos para suprir o gado durante o período de calor. Mas apesar do calor favorável à produção de volumoso, a falta de água impede o plantio racional de pastagens”, diz o criador. Angelo propõe que os mananciais criados por programas de irrigação possam ser usados de forma coletiva, beneficiando criadores em toda a região. A questão dos bosques como abrigos remete a uma nova questão: na Embrapa Florestas, situada em Colombo, no Paraná, o pesquisador Vanderlei Porfírio da Silva está desenvolvendo um trabalho de integração silvopastoril. Neste caso, além de promover o conforto térmico dos animais, as árvores (grevília, pinus e eucalitus) também vão produzir uma renda alternativa, já que sua madeira é de interesse da indústria moveleira. REPORTAGEM Março/Abril de 2009 31 Ampliar a oferta de água de boa qualidade Foto: Divulgação Foto: Divulgação Barreira de eucaliptos protege contra ventos e fornece sombra Por outro lado, observa Mateus Paranhos da Costa, a água é um dos mais importantes nutrientes também para o bovino, particularmente para os animais mantidos em climas quentes. “A água exerce efeito no conforto térmico pelo resfriamento direto - desde que a água esteja em temperatura inferior à do corpo - e serve como veículo primário de transferência de calor através da evaporação, cutânea e respiratória”, explica. Até os 26 graus Celsius, salienta Paranhos da Costa, os bovinos tendem a beber água com mais freqüência em torno do meio-dia, no final da tarde e à noite; acima de 32 graus, o intervalo de ingestão de água tende a ficar mais curto e os animais fazem-no pelo menos a cada 2 horas. Por isso, a importância da disponibilidade água abundante e de boa qualidade. O técnico da Angus Antonio Chaves Neto, que atua no Paraná e Mato Grosso do Sul, destaca que o calor é o fator limitante para o uso de touros Angus. “Algumas linhagens – especialmente com pêlo mais curto – estão melhor adaptadas e conseguem trabalhar melhor”, diz. “Tanto os animais pretos como os vermelhos vão para a sombra na mesma hora”, constata. Já se sabe, diz Cha- Antonio Chaves Neto ves, "que reprodutores com escroto alongado tem uma vida útil maior". Mas estes são os aspectos genéticos: “o criador que selecionar linhagens que andem bem nestas condições extremas – para uso no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Pará, por exemplo – vai ganhar muito dinheiro”, prevê. Somente a inter intervvenção humana garante sucesso da criação Para Antonio Chaves, as altas temperaturas exigem três providências – nesta ordem: sombras, água boa e farta e pastagens de qualidade. O criador que trabalhar com animais cruzados, precisa reservar pedaços de Cerrado com sombras, implantando ainda algumas áreas com árvores de maior porte para garantir proteção ao gado nas horas mais quentes do dia. “A mão humana vai garantir o sucesso da criação, porque o gado vai responder na hora a estas benfeitorias”, sentencia. Outro técnico da Angus no Sudeste e Centro-Oeste, Rednilson Góis, observa que os períodos secos estão cada vez mais agudos. “É preciso guardar comida para os períodos de escassez, bem marcados entre maio e agosto”, diz. A falta de chuvas e o calor também exigiu de várias cabanhas de Angus a implantação de telas de sombrite no meio dos potreiros e bolsões de eucaliptos. A Rednilson Góis: sombras artificiais com tela de sombrite protegem os piquetes dos reprodutores falta de florestas deve-se à intensa exploração agrícola, especialmente em São Paulo, onde o café e a canade-açúcar, especialmente esta última, tomaram conta de vastas regiões. Animais jo jovv ens dev devee m ser pr otegidos protegidos Rednilson destaca que os potreiros devem ser pequenos, com áreas de sombras e com acesso fácil à água. O gado de cria e os animais mais novos dever ser mais protegidos do calor, já que os de mais idade tendem a identificar horários mais apropriados para pastejo e reprodução. Em Uberlândia, MG, os touros costumam trabalhar à noite, mesmo porque as manifestações de cio das fêmeas ocorrem no início da manhã, madrugada, ou mesmo no entardecer. Em períodos de alto calor, a ovulação das fêmeas também se reduz, o que obriga a modificar alguns parâmetros na coleta de embriões. “Evitamos os meses quentes e de alta umidade, porque o resultado cai muito”, explica Rednilson, que faz este trabalho em São José do Rio Preto, na sua Central Embrio Rio Preto, Noroeste de São Paulo. Segundo ele, o manejo deve sempre proteger as doadoras de material genético do stress térmico, que reduz a produtividade do ventre. Além de buscar a adequação das estratégias de criação aos recursos do ambiente local, o professor Mateus Paranhos da Costa entende que é possível elevar gradualmente a oferta de itens de conforto ao bovino, ajustando essas estratégias ao contexto econômico e social. “O importante é conhecer bem os animais que criamos, o que vem sendo alcançado através dos estudos do comportamento dos animais no ambiente de criação”, justifica. A vulnerabilidade dos animais ao clima é bem conhecida. A sua performance e mesmo sua sobrevivência estão fortemente influenciados pelos efeitos diretos do clima, quer em sistemas extensivos ou intensivos, gerando prejuízos ao volu- me e qualidade dos alimentos produzidos para o consumo humano. Segundo G.L. Hahn, o uso de abrigos e tecnologias de manejo atualmente disponíveis podem reduzir os impactos climáticos na pecuária de corte, mas o uso racional das tecnologias pode ser crucial para a lucratividade e mesmo a sobrevivência das empresas do setor. Foto: Grupo ETCO Gado pasteja em área protegida por eucaliptos Fotos: Horst Knak/Agência Ciranda O terceiro ponto de apoio é a produção farta de comida para o gado 32 Março/Abril de 2009 INTERNACIONAL Março/Abril de 2009 33 Genética brasileira presente Crise americana não tira brilho do ao Fórum Mundial Angus na Exposição de Denver 2009 Grande Campeão: EXAR Titlelist T011 Catanduva TE213 Nostradamus K. Rob TE12 Catanduva 533 Latina Delegado 1193 Entre 13 e 16 de Julho, realiza-se em Calgary, estado de Alberta, no Canadá, o World Angus Forum 2009, evento organizado pela Associação Canadense de Angus. Além da importância para a raça no mundo, os criadores brasileiros têm muito a festejar: isto porque pela primeira vez na história um criador brasileiro exporta embriões da raça Angus para a América do Norte. “Foi uma exportação muito trabalhosa. Um técnico do governo canadense visitou os estabelecimentos no Brasil antes de aprová-las”, lembra o proprietário da Cabanha Catanduva, Fábio Gomes, que enviou 10 embriões, que integrariam o International Embryo Program Cattle Display. O objetivo desta mostra de embriões é apresentar exemplares que demonstram a genética utilizada e buscada em cada país, sempre dentro da raça Aberdeen Angus. Para a realização do “International Embryo Program Cattle Display”, foi realizada uma solicitação a todas as associações de Aberdeen Angus do mundo, para que enviassem para o Canadá embriões que demonstrassem a genética do seu país. No total foram enviados 98 embriões de 9 países: Argentina, Austrália, Brasil, Irlanda, Escócia, Inglaterra, Uruguai, Estados Unidos, Dinamarca, dos quais nasceram 26 terneiros. A Cabanha Catanduva enviou 10 embriões do acasalamento Catanduva 533 Latina Delegado 1193 (doadora) x Catanduva TE213 Nostradamus K. Rob TE12 (touro), sendo todos implantados no Canadá. Infelizmente nasceu somente 1 fêmea vermelha. Os dois animais utilizados no acasalamento nasceram no Brasil, sendo que Nostradamus foi bi-grande campeão da Expointer. Por outro lado, destaca ainda Fábio Gomes, o Brasil também estará presente indiretamente, já que alguns dos embriões enviados do Uruguai pertencem à Cabanha La Coqueta, que também utilizou no acasalamento o sêmen de Nostradamus exportado ao Uruguai. Todos os terneiros nascidos estão tendo o mesmo manejo em Remington Cattle Company em Del Bonita, Alberta. Estes terneiros estarão à mostra alguns dias antes e depois do evento. Na programação do Fórum Mundial, constam ainda uma exposição de animais, visitas a estabelecimento criadores de Angus e conferências técnicas. Remate Gala Angus foi sucesso em Punta del Este Remate Gala Angus teve média de US$ 4.022 Com a presença de criadores argentinos, brasileiros e uruguaios, realizou-se no dia 19 de fevereiro o 4º Remate Gala Angus, no Salão Montecarlo do Hotel Conrad, em Punta Del Este, Uruguai. O evento foi muito bem sucedido e teve como leiloeiro Gerardo Zambrano, com administração do Banco Comercial. Os animais ofertados registraram preço médio de U$S 4.022,80, sendo o valor mais alto U$S 6.600,00. O evento teve apoio da Prefeitura Muni- cipal de Maldonado, Associação Rural do Uruguai, Banco Comercial, Zambrano & Cia., Selecta SRL, Accelgen S.A. Promega S.A., ABS, Ruben F. Cánepa, Merial, El Pais S.A., Atijas Weiss, El Retablo, Bodega Don Pascual, El Observador, La Propaganda Rural, Gensur Ltda, CAAUSA e BPU. Representando a Associação Brasileira de Angus, esteve presente o novo presidente da entidade Joaquim Francisco Bordagorry De Assumpção Mello. O número de exemplares Aberdeen Angus na 103ª National Western Stock Show (NWSS), em Denver (Colorado, Estados Unidos), surpreendeu aos mais pessimistas. De acordo com a American Angus Association (AAA), foram expostos 376 animais de argola mais 123 exemplares rústicos, o que totaliza 499 produtos de pelagem preta, pouco inferior a 2008. Consultada, a Red Angus Association of America (RAAA) informou não possuir dados de julgamento a respeito da exposição de Denver para divulgar. Ainda assim, a raça Angus repetiu a tradição e foi novamente a mais numerosa na exposição de Denver desse ano, realizada em Janeiro passado. Foram 306 fêmeas e 70 machos de argola mais 31 trios rústicos e 3 Carloads de touros. Grande Campeão: EXAR Titlelist T011 T011. Nascido em Janeiro de 2007, ele é filho de BR Midland e pertence ao Titleist Group (de Plain City, Ohio) e à Express Angus Ranches (de Yukon, Oklahoma). Reservado de Grande Campeão: CJ PPrrestige 25T 25T. Ele pertence à parceria formada pela Dorrell Farms (de Martinsville, Indiana), Wilson Cattle Company (de Cloverdale, Indiana) e Cagwin & Johnston (de Virginia, Illinois). Nascido em Janeiro de 2007, este reprodutor é filho de HSAF Bando 1961. Grande Campeã: G ambles WB Lady 6047 6047. Calli Bayer (de Ringle, Wisconsin) é a proprietária desta fêmea de menos de dois anos nascida em Junho de 2007 que, assim como o Grande Campeão, também é filha do touro BR Midland. Reservada de Grande Campeã: HCA Estella 782 782. Também com menos de dois anos de idade em Denver 2009, ela é filha de Plainview Lutton E102 e o seu proprietário é Zane Barragree (de Absarokee, Montana). Chan Phillips (de Maysville, Kentucky) foi o juiz dos animais de argola neste ano. Ele foi assessorado por Ernie Wallace (de Stotts City, Missouri). Informações: American Angus Association e Red Angus Association of America Tradução: Stefan Staiger Schneider 34 PERFIL Março/Abril de 2009 Um empresário de volta às origens Fotos: Divulgação A vontade de voltar ao campo sempre esteve presente na sua alma, mesmo quando a vida profissional o afastava, a cada momento, deste desejo. “Mas sonhos e desejos ficam sempre grudados na gente como se fossem uma segunda pele. E quando se persegue, se persiste, acabam se tornando realidade”, define o empresário e animado criador de Angus Antônio Maciel Neto. M as esta vontade não era um simples capricho. Tem uma forte razão de ser e uma origem. Nascido em uma família tradicional produtora de café e leite, do Sul de Minas Gerais, onde passou muitas férias, ele foi criado em Apucarana, no Paraná, onde o pai foi trabalhar como engenheiro agrônomo do Banco do Brasil, e ainda mantinha uma pequena fazenda. Mesmo com toda esta herança no campo, Maciel Neto decidiu cursar engenharia mecânica e, para isto, foi para o Rio de Janeiro. Mais tarde entrou na Petrobrás, seguiu carreira, cresceu profissionalmente e se projetou no mercado, tornando-se líder no meio empresarial. Com este objetivo realizado, já um profissional reconhecido por sua liderança e competência, era hora do sonho não mais ficar guardado. Assim, fazem 10 anos que a oportunidade apareceu e Antonio Maciel Neto não titubeou. Aproveitou. Comprou a Fazenda São Luiz, em Itu, no interior paulista, com a idéia de realizar um projeto de pecuária integrada com agricultura. “Mas o meu desejo maior era fazer algo que fosse diferente da maioria e que demonstrasse um valor agregado ao produto, maior que o normal”, salienta ele, com toda a bagagem que já trazia do meio empresarial. Em conversas com amigos, principalmente com o nelorista José Carlos Bunlai, um dos maiores criadores do País, ele soube que a criação da raça Angus no Sudeste brasileiro apresentava um grande futuro, “principalmente para fazer sua adaptação neste clima que é diferente do Sul, e depois esse gado ser comercializado para o Centro-Oeste e outras regiões mais quentes do Brasil”, relata o hoje articulado criador. Percebendo o potencial que esta perspectiva apontava, decidiu investir na raça, surgindo aí a FSL Angus Itu, que hoje é a sua marca. Pai foi seu conselheir conselheiroo maior Devido ao “vício” profissional, Antônio gosta de planejar e pesquisar tudo em seus mínimos detalhes bem antes de investir. Mas antes mesmo de colocar o projeto em andamento, consultou seu conselheiro maior, seu pai, que lhe deu boas recomendações sobre a raça e a atividade. Além disto, em seus estudos viu que o Brasil é um grande exportador de carne, mas percebeu que a receita advinda disto é ainda baixa, pela falta de qualidade de nossa carne, dos animais, das carcaças Antônio Maciel Neto: pesquisa e planejamento o levaram naturalmente a optar pelo Angus abatidas. E justamente isto é encontrável na raça Angus, devido às características já conhecidas mundialmente da sua carne. “A qualidade da carne é justamente o grande diferencial da raça Angus”, diz. Por isto, estudou bastante a raça, buscou contatos com criadores no Brasil e também fora, e definiu seu plano de trabalho. Iria trabalhar na seleção genética de alta qualidade, porque tem maior valor de mercado. E também destinar os animais já adaptados para o mercado de cruzamento FSL AIKA, um dos produtos recentes da empresa industrial do Centro Oeste. “Porque a F1 Nelore/Angus dá um animal de excelente carcaça e qualidade de carne, que se torna imbatível se comparada com outros cruzamentos. Por isto eu vi um potencial de mercado e ganhos muito significativos”, afirma o criador, que não perde o entusiasmo e a certeza de estar criando uma raça que já tem um presente e por certo terá um grande futuro no melhoramento genético dos rebanhos de corte nacionais. Produção própria de embriões A FSL Angus Itu possui hoje em seus 350 hectares, 50 matrizes principais, altamente selecionadas, que são as doadoras de embriões, além de mais 60 mães para inseminação. Ligeiro e com os olhos no horizonte, já se equipou para produzir seus próprios embriões na fazenda e firmou parceria na Argentina com a Estância Três Marias, onde mantém animais e também adquire embriões. “Eles possuem um animal de frame médio, moderno, que é o que o mercado quer hoje”, assinala. A fazenda também estabeleceu metas de ter cerca de 200 nascimentos puros por ano, realizar um leilão de elite para vendar a produção e comercializar animais para o Centro do País. Também faz parte do projeto de Maciel Neto participar de feiras e exposições, principalmente as ranqueadas, com o propósito de ganhar prêmios e projetar a fazenda neste disputado mercado de animais de pis- ta. “E já obtivemos êxito, com o grande campeonato da Feicorte 2007, justamente onde foi a nacional da raça Angus, com um touro que nasceu na fazenda, o FSL Oásis”, lembra Antônio, orgulhoso do feito. Par ticipação da família articipação O executivo e produtor rural diz que neste projeto conta com a participação da esposa, da cunhada e de um veterinário que também é administrador da propriedade. Mas conta sempre as horas para que chegue o fim de semana e ele possa ir para a São Luiz. “É a minha grande realização neste momento”, afirma, feliz porque também a filha gosta de ir à fazenda. Falando mais da sua escolha, Antônio lembra que também pesou na decisão, o fato de a Associação Brasileira de Angus ter vários programas e ações promocionais de marketing. Ele dá como exemplo o programa de comercialização da Carne Angus com marca própria e todo o sistema de certificação. Para ele, montar um sistema em que toda a cadeia esteja organizada, com a participação dos frigoríficos e com o produtor tendo ganhos superiores, estimula o mercado como um todo. “Faz com que o produtor de gado de corte invista na raça para ter direito a este plus e, ao final, este investimento acaba trazendo benefícios para nós, produtores de alta genética, porque também vai fazer o nosso mercado se movimentar positivamente”, raciocina o criador de Angus Antônio Maciel Neto. 35 Donald Trump amplia negócios com Carne Angus ARTIGO Março/Abril de 2009 Foto: S.Lovekin/Wireimage.com Por Stefan Staiger Schneider O magnata e bilionário americano Donald Trump, que já era parceiro do programa Certified Angus Beef (CAB) da American Angus Association (AAA), expandiu os seus negócios envolvendo o comércio do produto. Desde o início da parceria entre os restaurantes dos seus hotéis-cassino Trump Taj Mahal Casino Resort, Trump Plaza e Trump Marina na cidade de Atlantic City, que equivale à Las Vegas da costa leste dos Estados Unidos, as vendas de pratos servindo carnes CAB têm sido excelentes e sempre apresentado crescimento. Agora, Trump criou uma nova parceria com a empresa que administra o programa CAB, a Certified Angus Beef LLC, e também com a companhia The Sharper Image. Essa nova parceria é independente da anterior, a qual continua em vigor. amoso no mundo inteiro pela sua astúcia comercial, Donald Trump decidiu criar a sua própria marca de carnes, a Trump Steaks. Direcionados a um público elitizado, os Trump Steaks foram lançados à imprensa americana em Maio no coração de Manhattan, na filial da The Sharper Image no Rockefeller Plaza, e atraíram importantes veículos da imprensa americana, como as revistas People, Gourmet e Home, os jornais New York Daily News, The New York Times e USA Today e os canais de televisão NBC e ABC. Somado a isso, David Letterman, apresentador do programa Late Show (transmitido todas as noites pela CBS e que pode ser visto no Brasil pelo canal GNT), e Jay Leno, apresentador do programa The Tonight Show (transmitido todas as noites pela NBC), falaram sobre o novo produto de Trump, sobre a raça Angus e a sua nobre carne. A The Sharper Image é uma rede com 187 lojas espalhadas pelos Estados Unidos e especializada na venda de alimentos, bebidas, artigos para cozinhar, móveis e decoração de cozinhas, salas de jantar, copas e áreas de lazer. Outro diferencial da The Sharper Image é o seu serviço de tele entrega, muito utilizado em grandes cidades como Boston, Nova York, Filadélfia, Washington/DC, Chicago, São Francisco e Los Angeles. O catálogo que lista os cortes das carnes disponíveis e os preços também estão on-line no Site www.trumpsteaks.com, através do qual também se pode fazer encomendas. Para festas particulares, a The Sharper Image pode inclusive enviar uma equipe de assadores, gourmets e garçons para fazer o serviço. “Desde que a carne CAB começou a ser vendida nos restaurantes dos meus hotéis-cassino, pessoas têm me falado que a carne servida é in- F Donald Trump (ao Centro) criou uma marca própria de Carne Angus, a Trump Steaks Para a AAA, a parceria beneficia todos os produtores de Angus. Quando um grande nome é associado a um determinado produto, a percepção de qualidade do produto é elevada nos olhos dos consumidores. crível, por isso faz sentido expandir as vendas e oferecer essa carne em toda a parte a consumidores que já conhecem o produto”, disse Trump ao jornal USA Today. As carnes são vendidas em diferenciadas caixas térmicas em cor preta com o nome Trump Steaks em letras douradas, o logotipo do programa Certified Angus Beef nas suas características cores logo ao lado e o Slogan “The world’s greatest steaks”, ou seja, “os melhores filés do mundo”. Todos os cortes disponíveis preenchem 9 critérios a mais que os necessários para receber o selo Prime do United States Department of Agriculture (USDA), o Departamento da Agricultura dos Estados Unidos, e pertencem ao grupo Top 1% das carnes de todo o programa CAB. Trata-se, portanto, do melhor naquilo que há de melhor. Mas, e o preço? Nenhuma caixa é vendida por menos de US$ 54,95 e a mais cara delas custa US$ 999,00. Os valorem variam conforme o corte da carne e o peso de cada caixa, já que há caixas com diferentes tamanhos e propostas. Mas quem irá comprar esses produtos? A aposta é num segmento elitizado da sociedade que é habituado a um alto custo de vida, vive em grandes centros urbanos como Manhattan na cidade de Nova York e gasta quantias digamos “expressivas” em lazeres e prazeres. Para o programa Certified Angus Beef da Associação Americana de Angus, a parceria com Donald Trump e a The Sharper Image é um projeto racional, já que poderá levar a melhor carne bovina do mundo até a porta das residências das pessoas que pagam mais por essa qualidade, tornando, portanto, desnecessário que procurem restaurantes. “Os parceiros criaram um triângulo de excelência, oferecem um produto de excelência a um público de excelência que conhece a carne Angus através de restaurantes de excelência”, diz John Stika, Presidente do CAB. A estratégia é, portanto, semelhante à dos fabricantes de Home Theaters, ou seja, trazer um cinema para a casa das pessoas que gostam de filmes, mas não têm tempo de ir a cinemas e podem pagar por um cinema residencial. De acordo com análises realizadas pela AAA, a parceria beneficia todos os produtores de Angus. Essa conclusão parte do fato de que, quando um grande nome é associado a um determinado produto, a percepção de qualidade desse produto é elevada nos olhos dos consumidores. Um exemplo clássico é a associação da fabricante de relógios suíços Omega ao personagem do cinema James Bond, que nos seus filmes sempre usa um relógio Omega e também integra a campanha de marketing da empresa em mídia impressa. Consequentemente, todos os produtores de Angus, tanto os proprietários de rebanhos puros quanto os de rebanhos comerciais, são beneficiados pela parceria, já que o valor agregado ao “produto Angus” e à carne CAB através dos Trump Steaks favorecerá a todos. A parceria estimulará também que mais produtores associados ao programa CAB produzam animais que preenchem as especificações para receber a marca Trump Steaks, a qual também paga um bônus aos produtores devido à qualidade superior da carne. Em outras palavras, há uma demanda por produtos de excelência que paga por essa excelência. Quem é Donald Trump? Donald Trump é americano e pertence à segunda geração de uma família que imigrou da Alemanha em 1885. Nascido em 1946 na cidade de Nova York, Donald teve de prestar serviço militar, porém não esteve em nenhuma batalha, e estudou Economia. Depois de formado, começou a trabalhar na construtora e imobiliária da família, a Trump Organization, juntamente com o pai. No início, ele concentrou o seu trabalho no aluguel de imóveis da empresa distribuídos pelos bairros do Brooklyn, Queens e Staten Island, na cidade de Nova York. Em 1971, Donald decidiu investir em Manhattan, motivado por uma crise no mercado de imóveis dessa região naquela época. O investimento que tinha de ser feito precisava ser alto, mas o lucro também poderia ser. O seu primeiro projeto foi a compra e reforma do antigo Commodore Hotel. Esse negócio foi estimulado pela isenção de uma série de tributos, dentre os quais o Imposto de Compra e Venda, que a prefeitura de Nova York concedeu a ele, além do abatimento de outros por um período de 40 anos. Depois de reformado, o prédio teve uma valorização fenomenal e a crise já havia passado, o que possibilitou que Trump vendesse o imóvel à rede Hyatt de hotéis, que estabeleceu ali o Grand Hyatt New York, um dos maiores 5 estrelas da Big Apple atualmente com 1.311 apartamentos. Negócios semelhantes a esse foram realizados por Trump até 1989, período no qual, entre outros, ele criou sua própria empresa aérea, a Trump Shuttle, e construiu o célebre edifício residencial com 58 andares Trump Tower na 5ª Avenida. Mas, ele se habituou a pedir empréstimos bancários e a acumulá-los também. Naquele ano, o Citibank era credor de US$ 1,1 bilhão, o Bank of America de US$ 400 milhões e o Bankers Trust de US$ 164 milhões. O resultado foi a perda de muito daquilo que ele havia conquistado. Em 1997, com o pagamento das últimas dívidas, a baixa dos processos de falência das suas empresas atingidas e o re-início dos trabalhos daquelas que restaram, Donald Trump começou uma nova vida e a construção de um novo império. Conforme a edição da revista Forbes que apresentou a lista 2008 dos bilionários do mundo (publicada no dia 3 de Maio desse ano), Trump tem atualmente um patrimônio avaliado em US$ 3 bilhões. Isso é produto, em grande parte, do trabalho dos últimos 11 anos. Hoje, ele não apenas se tornou sócio majoritário dos hotéis-cassino que lhe pertenceram integralmente em Atlantic City até 1989, mas reconquistou o Trump Tower, onde mora num apartamento triplex de cobertura avaliado em US$ 50 milhões, e construiu outros arranha-céus em Manhattan e em outras partes do mundo, como Las Vegas, Palm Beach, São Francisco e Honolulu (nos EUA), Cidade do Panamá (Panamá), Seul (Coréia do Sul) e Dubai (Emirados Árabes Unidos). Desde 2001, ele também é ator, diretor e produtor de programas de televisão e do reality show chamado The Apprentice, que é transmitido uma vez por semana pelo canal NBC, o qual paga US$ 3 milhões a Trump por episódio. Donald Trump é também um dos proprietários do concurso Miss Universo, juntamente com o canal de televisão NBC Universal, e desde 2007 tem uma estrela com o seu nome na famosa Calçada da Fama, em Hollywood. Criador de Angus [email protected] 36 Março/Abril de 2009 ENTREVISTA As responsabilidades do criador inglês e brasileiro Fotos: Divulgação/ABA A entrevista a seguir foi concedida com exclusividade em janeiro deste ano pelo Diretor Executivo da British Livestock Genetics (BLG), Robert Wills, ao médico veterinário e atual gerente do Programa Carne Angus Certificada, da Associação Brasileira de Angus (ABA), Fernando Velloso, que realizou recente visita ao Reino Unido. Nesta viagem Velloso também participou da Cattle Breeders Conference (em Telford, Inglaterra) e a teve a oportunidade de conhecer diversos rebanhos na Inglaterra e na Escócia. Conheça agora as visões e análises de Wills sobre temas de flagrante interesse da raça Aberdeen Angus e da pecuária brasileira de modo geral. Fernando Furtado Velloso (FFV) – O que é a BLG e qual a sua função? Roberto Wills (RW) – A BLG é uma organização pan industrial e tem por objetivo facilitar o comércio para as companhias e indivíduos do Reino Unido. É composta por 10 diretores entre associações de raça de bovinos, ovinos, suínos, caprinos e camelídeos. Foi inaugurada em 2001, exatamente durante a crise da Aftosa no Reino Unido, para coordenar e auxiliar a exportação de genética. A facilitação do comércio, principalmente de genética bovina, a certificação de produtos e processos e o auxílio aos produtores nos protocolos internacionais são nossas principais atividades. A entidade vive do suporte de seus associados e atualmente não conta mais com recursos do governo. Um trabalho que serviu de referência para a criação da BLG é o da USLG (United States Livestock Genetics). FFV - Você conhece a Brazilian Cattle Genetics (BCG*)? * Brazilian Cattle Genetics (BCG) - Consórcio de exportação que conta com o apoio do governo brasileiro para divulgar a pecuária do País e empresas do agronegócio no exterior. O BCG conta com 18 empresas associadas, entre centrais de inseminação e de embriões, empresas dos ramos de logística, de sementes, de nutrição, de pecuária e associações de criadores de gado. RW – Não. FFV – Este tipo de serviço é viável no Brasil? RW – Sim, pois o Brasil tem boa genética de diversas raças, como exemplo Angus (destaque à variedade Red), Devon, Charolês Mocho. Porém o status sanitário é um grande limitante. O enfrentamento das questões sanitárias deve ser a O enfrentamento das questões sanitárias deve ser a primeira tarefa a ser realizada se o Brasil quiser participar do mercado internacional de genética primeira tarefa a ser realizada se o Brasil quiser participar do mercado internacional de genética. Uma alternativa interessante para o Brasil é a produção de embriões em “rebanhos aprovados”. O custo de produção de embriões no Brasil é muitíssimo menor que o que temos na Europa e este pode ser um produto muito competitivo no mercado internacional. Na Inglaterra não conseguimos produzir embriões por menos de US$ 500,00 e sei que no Brasil estes custos são bem menores. FFV – O modelo americano para este tipo de serviço (USLG) é um bom modelo a ser seguido? A grande diferença não está somente no gado ou genética, mas sim na abundância de pasto e forragem que oferecemos ao nosso gado RW – Não, pois este serviço vive de recursos do governo. No caso da BLG os recursos são todos privados (dos associados) e isto nos obriga a sermos mais eficientes, pois nossos associados nos cobram resultados efetivos. FFV – Existe espaço para uso da genética do Reino Unido no Brasil? RW – Sim. O sistema de produção no Brasil é baseado em pastagem e forragem. A produção de gado no Reino Unido é exatamente da mesma forma: baseada em pastagem e forragem. Existem diferenças climáticas que devem ser consideradas, mas os princípios são os mesmos. Nós temos custos de produção altíssimos porque precisamos “encerrar” grande parte do gado durante o inverno (para proteger o solo e o pasto, não para proteger o gado), o custo do trabalho é muito alto e o combustível também é um insumo muito caro. Como exemplo, saibam que 1 litro de diesel custa aproximadamente US$ 1,40 na Inglaterra. Com a mão de obra tão cara as nossas propriedades são muito mecanizadas e movidas a diesel. Qual é o princípio então? Somos obrigados a ter animais eficientes e que estejam prontos para o abate rapidamente. FFV – E quais são as vantagens ou virtudes da genética de gado de corte do Reino Unido? RW – Eficiência, terminação rápida, qualidade de carne (potencial selecionado por via genômica e por ultrassonografia), e genética “aberta” e com influência positiva de muitos países, pois Robert Wills, de 59 anos, é graduado em Administração Rural. Antes de iniciar sua carreira na Europa, trabalhou um ano nos EUA com gado de corte e de leite. Por 20 anos trabalhou como produtor de leite na propriedade da família, no Condado de Devon (Inglaterra): a Narracombe Farm. Estas terras estão com a sua família desde 1530 e já se vão seis gerações vivendo do campo. Rob Wills também atuou como diretor da Associação de Criadores de Gado Holandês da Inglaterra por duas gestões. E desde 1991 passou a dedicar-se principalmente ao mercado internacional de genética. temos usado em uma base escocesa genética americana, principalmente, e em segundo lugar genética neozelandesa. FFV - Com que idade e peso os animais são abatidos? BW – Com aproximadamente 18 meses (ou menos) e com carcaças de 350kg ou mais. FFV - Mas se vocês produzem carcaças tão pesadas, como pode funcionar esta genética no Brasil? RW – A questão é que a grande diferença não está somente no gado ou genética, mas sim na abundância de pasto e forragem que oferecemos ao nosso gado. Se o gado brasileiro tivesse o mesmo acesso que o nosso tem a qualidade e disponibilidade de alimento vocês também produziriam carcaças bem pesadas. Eu tenho viajado ao Brasil nos últimos 14 anos e conheço bem as condições de criação no seu país. FFV – Nosso gado é abatido com mais idade e mais leve. Então nós estamos trabalhando mal ou de forma errada? RW – Não é tão simples. Vocês não estão totalmente errados, mas a questão é que vocês não trabalham sob a mesma pressão que o produtor britânico sofre por eficiência. ... vocês não têm a mesma pressão que o produtor britânico sofre por eficiência.... FFV – Pressão. Mas com subsídio? Fale-nos mais sobre isto ... RW – O mundo dos subsídios é um mundo falso. Produtores com subsídios não pensam em produção, mas sim em receber mais subsídios. Desde 2004 perdemos os subsídios e aceleramos o nosso trabalho com foco na eficiência. Buscamos a redução de custos, animais eficientes, terminação rápida, etc. O mundo dos subsídios é um mundo falso. Produtores com subsídios não pensam em produção, ma sim em receber mais subsídio FFV – Mas e os outros “dinheiros” que vem do “envelope marrom” (Dinheiros na forma de incentivos oficiais)? Estes recursos não são subsídios travestidos? RW – Os subsídios eram baseados em “cabeças” de animais e agora são baseados em “área” e com o objetivo de proteger o ambiente. Desta forma ocorre uma natural redução de lotação, porém este dinheiro vai acabar em 2011. Os produtores brasileiros também são subsidiados, pois após o Protocolo de Kyoto, todos os países têm responsabilidade sobre os combustíveis fósseis e o Brasil não está tributando suficientemente os combustíveis. Veja o valor do diesel no Brasil! Falar de subsídios não é algo tão simples assim ... Após o Protocolo de Kyoto, todos os países têm responsabilidade sobre os combustíveis fósseis e o Brasil não está tributando suficientemente os combustíveis FFV – Mas e com toda esta pressão de custos o Reino Unido pode competir como um fornecedor de genética para o Brasil? RW – Não é uma questão de poder competir, pois nós temos que ser competitivos se quisermos operar neste mercado. Temos condições, sim, de sermos muito competitivos em preço e qualidade. Não falo somente em pequenos volumes para projetos de genética, mas sim em grandes volumes para projetos comerciais e de cruzamento. Você mesmo viu animais no alto das montanhas na Escócia e de “pelo fino”. Não viu? FFV – Mas genética de países tão frios irão funcionar no Brasil em condições tropicais ou subtropicais? RW – Sim, pois temos uma variabilidade genética muito grande. De outra parte, o Reino Unido não é tão frio como as pessoas pensam. A temperatura média anual na Inglaterra é de 15°C. De outra parte, o grande mercado é o cruzamento, e os animais F1 não apresentarão este tipo de problema (falta de tolerância ao calor). Temos animais com muita facilidade para trocar de pelo nas mudanças de estação. Você mesmo viu animais >>> ENTREVISTA >>> no alto das montanhas na Escócia e de “pelo fino”. Não viu? FFV – Voltando à questão do produto final: se nossos produtos (carcaças) são tão distintos, pode haver espaço para esta genética no Brasil? A criação no Reino Unido, mesmo com gado confinado, é baseada em silagem. Não é o mesmo modelo americano, que usa grãos e hormônios RW - Sim. Na maioria das situações 100% da genética britânica não poderá ser usada, mas a influência de genética britânica e selecionada no Reino Unido pode ser muito positiva para a qua- lidade de carne e para a performance do gado brasileiro. A genética americana é baseada em grãos e hormônios. Mas a criação no Reino Unido, mesmo com gado confinado, não usa hormônios e é baseada em silagem. Não é o mesmo modelo americano de confinamento. FFV - Você sabe que os brasileiros não estão muito felizes com o embargo a nossa carne. RW – Lógico que sei. Mas precisamos esclarecer alguns pontos. O embargo à carne brasileira não é uma medida do Reino Unido, mas sim de toda a Europa e de seus 27 países. De outra parte, é nosso dever proteger os nossos consumidores e produtores. O que estamos pedindo ao Brasil é exatamente o mesmo que exigimos de nossos produtores. De qualquer forma, produzimos somente 62% da carne bovina que consumimos e teremos que comprar de outros países os outros 38%. O Reino Unido aprecia muito a carne brasileira e ainda mais agora que se observa a influência de raças britânicas no gado do Brasil (cruzamento) e conseqüentemente a oferta de carne de melhor qualidade. Bem, mas é preciso grifar: o Brasil precisa resolver seus problemas de rastreabilidade. FFV - E a rastreabilidade no rebanho do Reino Unido, como isso é feito? RW – Funciona muito bem e isto é consequência de 10 anos de história e aprendizado. No nosso início os produtores também não concor- Março/Abril de 2009 davam muito e alegavam que seria muito difícil de executar em nível de fazenda. Hoje é assunto vencido, pois os nossos produtores entenderam a necessidade de atender e proteger o consumidor. Nós temos que conquistar e manter a confiança da “dona de casa”. Com a rastreabilidade nós conseguimos fazer isso, pois podemos controlar e, a qualquer momento, suspender toda e qualquer movimentação de gado, e assim bloquear a disseminação das doenças. Em épocas de crise a rastreabilidade é sua melhor amiga. Nós olhamos outros países, como os EUA, e sabemos que estes países estão muito expostos a problemas sanitários em função da falta de um sistema de rastreabilidade. FFV - Quais as etapas no dia a dia da rastreabilidade no Reino Unido? RW – O sistema é bem simples e unificado em toda a Europa, e não somente no Rei- ...é nosso dever proteger os nossos consumidores e produtores. O que estamos pedindo ao Brasil é exatamente o mesmo que exigimos de nossos produtores... 37 no Unido. Funciona assim: Etapa 1 - Identificar todos os bezerros no máximo até 48 horas após o nascimento. É utilizado um Nós temos que conquistar e manter a confiança da “dona de casa”. Com a rastreabilidade nós conseguimos fazer isso... brinco padrão em toda e a Europa. Etapa 2 - Comunicar dentro das 48 horas após o nascimento, aos órgãos oficiais. Este registro pode ser feito via internet ou diretamente por telefone. Etapa 3 - É emitido um passaporte individual para cada animal. Neste documento constam informações de idade, raça, cruzamentos, movimentações, etc. Etapa 4 - O governo pode checar a qualquer momento a sua propriedade e verificar se os animais estão devidamente identificados, etc. FFV – E os produtores aderiram a este sistema? RW – Não há opção. Sem o passaporte não são permitidas movimentações e comercialização de animais e não há dinheiro. O sistema é simples, rígido e compulsório em toda Europa. OPINIÃO Quem compra nossa carne? Tabela 1 Participação dos principais importadores de carne bovina in natura do Brasil e preço médio pago em dólares no período de 2001 a 2008 Importador Rússia Por Julio Barcellos e Paulo Rodrigo Pereira O aumento da produção da pecuária bovina no Brasil, associado à diminuição da produção em outras regiões do planeta e ao aumento da renda em vários países, são os possíveis fatores que contribuíram para o rápido crescimento das exportações brasileiras de carne bovina nos últimos anos. No ano de 2007 foram exportados pelo país 2,4 milhões de toneladas equivalente carcaça (EC) contra 290 mil toneladas em 1997, um aumento próximo a 730% que impulsionou o Brasil de 6º para 1º lugar no ranking dos maiores exportadores de carne bovina. Esse crescimento é decorrente exclusivamente do aumento na comercialização de carne in natura, que registrou uma elevação de 2344% nesse período. bserva-se, no entanto, que a pujança da cadeia produtiva da carne bovina se deve principalmente ao segmento de carne congelada, produto que responde por cerca de 85% da carne in natura exportada pelo Brasil. Esse produto é geralmente destinado a indústria de processamento e alcança um valor comercial 43% mais baixo do que a carne resfriada. A Rússia, que em volume é o principal cliente do O % volume Importado 24,8 % Faturamento 22,5 Preço Médio US$ 2.518 União Européia 18,3 29,5 4.473 Egito 12,5 8,8 1.994 Chile 6,0 4,6 2.131 Iran 4,7 4,4 2.585 Arábia Saudita 4,3 3,5 2.255 Venezuela 2,6 3,3 3.562 Outros 26,8 23,4 2.412 Brasil, importa quase que exclusivamente carne congelada e paga cerca de 23% a menos que a média do mercado, semelhante a clientes como Egito, Iran, Arábia Saudita e outros. De maneira geral, os clientes brasileiros são países classificados como de menor desenvolvimento econômico, composto por uma população de baixa renda e que não tem na carne bovina a sua principal fonte de proteína animal. Ao passo que países desenvolvidos como Japão, EUA e Coréia do Sul, não são clientes do Brasil em função das demandas envolvendo questões sanitárias, rastreabilidade e certificação. A exceção fica por conta do Chile e da União Européia, sendo que este último, até a suspensão das importações ocorrida no início do ano de 2008 era o maior cliente para carne resfriada, sendo responsável por 29,5% do faturamento das exportações brasileiras de carne bovina (Tabela 1). Embora a União Européia pague a outros exportadores preços superiores aos que paga aos Brasil, é com este parceiro comercial que se consegue obter a melhor relação entre preço e volume. A perda de um parceiro de tal importância significa perder um mercado que rendeu ao Brasil nos últimos 10 anos um montante superior a 5,4 bilhões de dólares em divisas. O efeito da suspensão das importações européias já pôde ser observado na carne bovina mais valorizada, uma vez que o volume exportado de carne resfriada desossada foi reduzido em 62% de 2007 para 2008, e os reflexos na pauta de exportação da pecuária bovina só não foram maiores em função do aumento geral de preços das commodities observados no ano passado. Todavia, é possível estimar que as receitas nas exportações de carne bovina poderiam ser em torno de 15% maiores em 2008 se o volume exportado para a União Européia se mantivesse semelhante ao observado no ano de 2007, o que corresponderia a um montante próximo a 500 milhões de dólares. Essa suspensão das importações por parte da UE foi motivada por questões relacionadas à rastreabilidade e ao descumprimento dos requisitos necessários para o ingresso de carne bovina neste mercado, e também relativa à inobservância dos compromissos firmados junto a Comissão Européia. No entanto, outros fatores que envolvem questões como sanidade, taxa de câmbio, cotas e tarifas de importação vêm se configurando como um fator limitante ao acesso de mercados mais rentáveis. Tais fragilidades, no entanto, não impactam apenas o comércio exportador, mas refletem também no desempenho econômico de produtores rurais e outros agentes envolvidos na cadeia produtiva, impedindo que o segmento do agronegócio se desenvolva de maneira sustentada. O Brasil tem condições de não ser apenas um fornecedor de carne barata para países de baixa renda, e pode com certeza se tornar no futuro referência para consumidores de produtos diferenciados. Os primeiros passos nesse sentido já estão sendo dados, como os programas de certificação de carne por meio de alianças mercadológicas entre produtores, associações de criadores, frigoríficos e redes varejistas. No entanto, é imprescindível também que se priorize de maneira política o contínuo fomento de pesquisa e tecnologia, buscando disseminar e implementar técnicas produtivas viáveis, criar metas e estabelecer estratégias para que agronegócio pecuário brasileiro ganhe vantagens competitivas que se convertam em vantagens econômicas tanto para indústria como para o produtor rural. Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegocios e Departamento de Zootecnia – UFRGS [email protected] 38 Março/Abril de 2009 ARTIGO 100 Anos de Melhoramento Bovino Por Leonardo Talavera Campos Em comemoração ao centenário do I Congresso Agrícola do Rio Grande do Sul, realizado em 1908 na cidade de Pelotas, a Associação Rural Actas: de Pelotas publicou o livro “Actas: A Classe Rural Resgatando as Raízes de sua História”, Editora Textos, tendo como organizadores: Darcy Trilho Otero e Elmar Carlos Hadler www.associacaoruraldepelotas.com.br. ara mim é motivo de orgulho, que meu bisavô Leonardo Brasil Collares, fundador do nosso Herd Book, tenha sido bastante participativo, contribuindo em diversas das diferentes “commissões” de congressistas, que resultaram nas 32 “theses”, que bem demonstram o alcance visionário de seus integrantes. A essas “theses” agora foram elaborados e adicionados comentários de produtores rurais e especialistas ligados à área agronômica, comparando duas realidades extremas no transcorrer de 100 anos. A seguir apresento o meu comentário a respeito do tema da 11 a These: - Se há cem anos atrás, por ocasião do I Congresso Agrícola, estivéssemos de posse de todo o conhecimento de genética e melhoramento hoje disponível, o que poderíamos indicar em relação a esta tese: “O que convêm fazer mais para melhorar o gado crioulo: selecionar ou cruzar? Nesta última hipótese, quais as raças preferidas para corte, leite e trabalho?” Hoje sabemos que o nosso gado crioulo teve como origem animais introduzidos na fase de colonização por portugueses e espanhóis. Estes bovinos sacrifi- P caram, na definição de seu biótipo, os aspectos produtivos, em termos de ganho de peso e características de carcaça, favorecendo os aspectos de reprodução e de adaptação ao ambiente hostil e muito diferente em relação à sua região de origem européia. Em primeiro lugar indicaríamos a preservação de parte importante destes recursos genéticos representados pelo “pool” de genes presente na população do nosso gado crioulo primitivo seja através da formação e manutenção de populações controles, seja através do congelamento de material genético – sêmen e embriões. Adicionalmente destacaríamos a importância de combinar as duas ferramentas básicas para melhoramento da efici- da seleção de touros pais. Como a maioria destes touros é adquirida nas cabanhas (nestes estabelecimentos especializados na produção de animais para reprodução), o produtor comercial está à mercê de seus colegas cabanheiros. Infelizmente, hoje em dia, ainda existem muitos produtores, incluindo os cabanheiros, que não medem características importantes economicamente e não mantém registros, exceto para itens tais como dia de nascimento, pai, mãe e sexo. Assim, a ferramenta básica e mais simples para o melhoramento genético não está sendo usada de forma efetiva pelo segmento que, supostamente, deve suprir com material genético melhorado o setor comercial. Actas, publicada em Pelotas para comemorar os 100 anos de seleção genética Às “theses” de 1908, agora foram elaborados e adicionados comentários de produtores rurais e especialistas ligados à área agronômica, comparando duas realidades extremas no transcorrer de 100 anos ência de produção dos rebanhos comerciais – seleção e cruzamentos. A seleção de reprodutores é o instrumento básico para o melhoramento da eficiência da produção de carne bovina, e refere-se à decisão tomada pelo criador de manter alguns animais como reprodutores e eliminar outros, bem como sua intensidade de utilização. Para a seleção ser efetiva é necessário um sistema acurado para identificar os animais superiores. Isto exige que esta superioridade seja julgada por algumas medidas objetivas, tomadas em características importantes economicamente, que sejam herdáveis. Neste caso, um sistema de coleta de registros é absolutamente essencial. Todo o melhoramento que o criador de animais de raça pura - puros de origem e puros controlados (designados também como puros por cruzamento) - pode conseguir é obtido através da seleção. As tecnologias elaboradas atualmente disponíveis aos produtores de reprodutores (chamados de cabanheiros) ajudam a melhorar a exatidão e a efetividade da seleção. A maior parte do melhoramento que o produtor comercial pode conseguir também é obtida pela seleção. Quase cem por cento do melhoramento feito nos rebanhos comerciais através da seleção, vêm Os sistemas de acasalamentos representam o segundo instrumento disponível para o criador elevar o potencial genético de seu gado e referem-se à forma com que seus progenitores, previamente selecionados, são acasalados. Portanto, um sistema de acasalamentos é secundário a um sistema de seleção. O sistema de acasalamento mais importante, em termos de produção comercial‚ é o cruzamento entre raças. uzamento tem sido amplamenO c rruzamento te aceito como uma forma de utilizar a heterose e também de obter a vantagem da complementaridade entre raças. A base para o cruzamento é a existência de raças puras superiores geneticamente. Um ponto crítico, importante de ser lembrado, é que o cruzamento não é um antídoto para hereditariedade inferior. A máxima produtividade na produção comercial depende de maximizar tanto a heterose como a freqüência de genes desejáveis (via seleção). Para finalizar, gostaríamos de tecer a seguir alguns comentários sobre algumas das conclusões proferidas pelos autores da 11a Tese. 1 a conclusão: “Que o método de seleção como base de melhoramento do gado crioulo não trará, na atualidade, os resultados almejados, quer pelo tempo necessário para o fim que se busca, quer pela falta de um tipo aceitável, que sirva de guia”. A luz do conhecimento que se tem hoje, poderíamos recomendar a introdução na população de maior variabilidade, heterose e características desejáveis e/ou complementares através de cruzamentos com raças taurinas e/ou zebuínas e seleção embasada em metodologia científica como a disponibilizada pelo Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne – PROMEBO ®. 2 a conclusão: “Aconselha o cruzamento contínuo com reprodutores puros das raças mais preconizadas, entendendo que a vantagem de uma raça depende: A) das condições do campo que se vai explorá-las, B) do fim da exploração”. O cruzamento contínuo, entendido como cruzamento de absorção, que foi utilizado maciçamente durante o século passado na maioria dos rebanhos comerciais, pode não ter sido a melhor alternativa. Em muitas situações, poder-se-ia introduzir variabilidade e características desejáveis através de cruzamentos. E não seguir, continuamente, num processo de absorção, mas sim selecionar, a partir daí, biótipos mais adequados e específicos para os diferentes sistemas de produção e condições ecológicas e ambientais do nosso país. Engenheiro Agrônomo Coordenador Técnico do PROMEBO® Superintendente da Associação Nacional de Criadores “Herd-Book Collares” ([email protected]) OPINIÃO Março/Abril de 2009 39 Carne bovina: cuidado com as meias verdades Por Fabiano R. Tito Rosa “Uma meia verdade é pior do que uma mentira”. Essa foi uma das primeiras e mais importantes lições que aprendi na Scot Consultoria. Uma mentira é fácil de ser rebatida. Já as meias verdades causam confusão e, muitas vezes, empurram discussões relevantes para o campo da futilidade. A preocupação com as meias verdades é de extrema valia para quem trabalha com números, pois eles são (para o bem e para o mal) manipuláveis. Sempre é possível ajusta-los para que reforcem um argumento que, muitas vezes, não é válido por inteiro. Trata-se, portanto, de uma meia verdade. A má fé, a falta de conhecimento, a preguiça ou a incompetência pura e simples estão sempre por traz da chamada meia verdade. Dois exemplos recentes: 1 – Para cada quilograma de carne bovina produzida são emitidos 13 quilogramas de CO2 equivalente. Isso significa que, ao se alimentar com um quilo de bife, emite-se a mesma quantidade de gases de efeito estufa de um vôo de 100 quilômetros (O Rastro da Pecuária na Amazônia – relatório do Greenpeace). 2 – Em um hectare, que poderia render 22.500 kg de batata ou outra hortaliça, são produzidos 185 kg de carne. Além disso, o consumo de água é impressionante. Para cada quilo de carne produzido, são necessários 20 a 30 mil litros de água (Fazer churrasco é ruim para o meio ambiente? – matéria da revista Galileu). O boi não é só carne O primeiro ato falho, dessas duas afirmações, está no fato de relacionar a produção de CO2, a ocupação de área e o consumo de água por parte dos bovinos apenas à produção de carne. O boi, como qualquer fornecedor de insumos agropecuários, pecuarista ou profissional da indústria frigorífica sabe, é uma verdadeira fábrica de matéria-prima. Um bovino adulto, ao ser abatido, gera mais ou menos 202 quilos de carne; 48 quilos de miúdos; 40 quilos de pele (couro); 27 quilos de farinha (de sangue e carne e ossos); 12 quilos de sebo; 0,25 quilos de bile, cálculo biliar e coisas do gênero; 1,22 quilos de pêlo de orelha, cascos, pêlo de rabo, etc. Esses derivados bovinos irão alimentar 49 segmentos industriais diferentes: energia, alimentação, nutrição animal, higiene e limpeza, farmacêutico, moveleiro, calçados, equipamentos de segurança e outros. Vamos seguir apenas o couro, como exemplo. As indústrias calçadistas, moveleiras, automotivas e de artefatos diversos dependem do couro. As indústrias de gelatina, de cola e de dog toy dependem de subprodutos do couro (raspas e aparas). As indústrias de alimentação, as farmacêuticas e as de cosméticos usam a gelatina. E por aí vai. Quem quiser pode acessar um fluxograma simplificado dos derivados do abate no site do Serviço de Informação da Carne (SIC): http:// www.sic.org.br/praqueserve.asp. Enquanto redigia este texto eu estava olhando esse fluxograma e realmente me convenci de que a produção e o abate de bovinos é uma maneira bastante eficiente de se usar 30 mil litros de água ou 13 quilogramas de CO2. É bem melhor do que fazê-lo num ineficiente vôo de 100 quilômetros. Outra escorregada, relacionada à emissão de gases de efeito estufa pelos bovinos, está no fato de “análises” desse tipo nunca considerarem o seqüestro de CO2 que é realizado pelas pastagens. Parece que só vale inserir o pasto, dentro do sistema de produção de carne, se é para tratar do desmatamento. Seqüestro de carbono não conta. Aliás, por falar em desmatamento, números da Scot Consultoria apontam que, entre 2001 e 2008, a área de pastagem do Brasil encolheu 2%, o equivalente a mais de 2,7 milhões de hectares, reduzindo a pressão sobre as florestas e liberando mais espaço para a agricultura. Ao mesmo tempo, o rebanho cresceu 10%, a produção de carne 39% e as exportações 161%, mesmo considerando o ajuste produtivo dos últimos dois anos. Isso só foi possível graças à incorporação de tecnologia. E é justamente esse o caminho para que o agronegócio da carne bovina se mantenha em crescimento sustentado, tanto do ponto de vista econômico quanto no que diz respeito às questões sócioambientais. Benefícios da tecnologia A incorporação de tecnologia promove a melhoria dos resultados econômicos, pois dilui custos fixos e gera aumento de receita. Sistemas tecnificados também agridem menos o ambiente, pois os animais são abatidos mais jovens e, portanto, emitem menos poluentes e utilizam menos água por kg de carne produzida. É preciso considerar também que as pastagens adubadas são mais eficientes no seqüestro de CO2 e que, quanto mais gado por área, menos necessidade de terra. O Brasil pode, facilmente, dobrar a produção de carne sem aumentar em mais um ha a área de pastagem. Aliás, pode dar esse salto mesmo cedendo ainda mais espaço para a agricultura, desde que acelere o ritmo de adoção de tecnologia no campo. Para tanto, o produtor de gado de corte precisa estar bem informado (ter conhecimento dos benefícios relacionados ao aumento da produtividade e das técnicas que se encaixam ao seu sistema de produção), motivado (através de preços remuneradores e de linhas de crédito acessíveis) e, talvez o mais importante, amparado por um eficiente modelo de gestão (que facilita a obtenção de recursos, permite a realização de análises de benefício x custo e o auxilia na correta implantação e utilização das tecnologias disponíveis). A partir do momento em que se oferecem tais condições aos pecuaristas, se torna mais fácil, e justo, cobrar contrapartidas ambientais. Todo mundo sai ganhando. B elo estrago Para dar um “toque de glamour”, a matéria da revista Galileu veio ilustrada com a foto de um gaúcho, em trajes típicos, fazendo churrasco. No canto inferior esquerdo, o comentário: “o gaúcho prepara seu churrasco e dá uma poluidinha no ambiente, o que não é nada se comparado com o estrago feito por quem criou o animal”. É... o agronegócio da carne bovina sustenta, no Brasil, algumas dezenas de segmentos industriais diferentes, produz quase 10 milhões de toneladas de alimento, responde por 20 milhões de empregos e injeta US$5,1 bilhões, na economia, só através de exportações. Se incluirmos nesse “bolo” o agronegócio do couro, as exportações alcançam US$9,2 bilhões. Belo estrago! Existem ONGs e veículos de mídia não especializados que buscam discutir, de forma responsável, a questão da produção de carne bovina no Brasil. Avaliam, de um lado, a importância econômica da atividade e o seu potencial em termos de geração de riqueza. De outro, analisam também os impactos ambientais relacionados ao clima e à perda de biodiversidade. Assim, contribuem para um debate construtivo, com o objetivo de encontrar um caminho onde a produção de carne e o meio ambiente coexistam da forma mais harmoniosa (ou menos conflituosa) possível. Afinal, precisamos de ambos. Infelizmente, porém, alguns grupos estão interessados apenas em incitar polêmicas; e de forma bastante irresponsável, diga-se de passagem. Portanto, cuidado com o que você anda lendo. Volto a afirmar: meias verdades só servem para causar confusão e empurrar discussões relevantes para o campo da futilidade. Não seja fútil. Zootecnista- Scot Consultoria [email protected] 40 Março/Abril de 2009