Bike Santos dificulta usuários na retirada de bicicletas

Transcrição

Bike Santos dificulta usuários na retirada de bicicletas
PRIMEIRO TEXTO
Jornal Laboratório do 3º semestre de Jornalismo (FaAC) - Jun/15
versão online: santaportal.com.br/online
Bike Santos dificulta usuários
na retirada de bicicletas
Serviço melhora, porém sistema ainda é falho, segundo queixas
GABRIEL SOARES
Implantado em 2012, o sistema atende usuários que buscam a bicicleta como alternativa ao transporte tradicionai, mas que têm enfrentado problemas
Gabriel Soares
O que era para ser um
auxílio no transporte e incentivo na diminuição no
trânsito se tornou um problema para muitos usuários. Ciclistas que utilizam
o Bike Santos vêm reclamando dos serviços, das
condições e da quantidade
de bicicletas nos horários
de “pico”, quando a rotatividade aumenta. As principais reclamações quanto
ao Bike Santos são o sistema e o atendimento, que é
pago e demorado. E a procura tem crescido. Desde
o início das atividades do
serviço, em novembro de
2012, já procuraram o serviço 78.933 pessoas.
Nem sempre é fácil a
retirada das bicicletas nos
terminais. Por diversas vezes, o sistema trava e nem
entrando em contato com
o SAC pelo telefone 40039890 (ligação local), que
deveria ser uma ferramenta de ajuda, o usuário consegue um suporte, tornando-se uma grande dor de
cabeça.
Bicicletas que são liberadas pelo sistema não se
desprendem da estação.
Usuários que utilizam o sistema do Bike Santos reclamam da demora no atendimento por telefone e que
a ligação não é gratuita.
Quando o autoatendimento
não funciona e o cidadão
precisa falar com um aten-
dente, ele precisa ter muita
paciência e uma conta de
celular com ligações ilimitadas, pois a espera, às
vezes, é longa.
“O aplicativo muitas vezes consta como estação
em manutenção, não consegui cadastrar meu cartão transporte e desisti de
tentar”, disse o estudante
Miguel Silveira. “Durante
o uso, tive problemas também como soltar o banco e
a corrente sair” concluiu.
Outro problema é a falta
de bicicleta quando os usuários mais precisam. Nas
saídas da faculdade ou
bairros com maiores movimentos como Boqueirão
e Gonzaga, faltam bicicletas nos momentos que os
usuários mais precisam,
enquanto elas sobram no
Centro de Santos. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET),
que administra o serviço,
as estações mais utilizadas são as do Embaré (em
frente à igreja), Aquário e
Canal 3 (Concha Acústica).
No geral, as bicicletas
estão em bom estado. Porém, algumas precisam de
manutenção e da colaboração dos usuários para que
não haja depredação das
mesmas. No site do Bike
Santos, a empresa informa
que as bicicletas devem ter
espelho retrovisor, selim
anatômico com ajuste de
altura e guidão emborrachado.
“Durante o uso, tive problemas
como soltar o banco
Miguel Silveira
e a corrente sair”
Porém, é comum existirem bicicletas sem o espelho, com o banco sem
pino e, em alguns casos,
até sem os bancos. Algumas com freios quebrados
e com correntes frouxas.
Usuários dizem que existe
uma demora na manutenção.
Para a retirada das bicicletas, o Bike Santos conta
com os serviços de aplicativo, telefone e cartão transporte. Para o estudante
Mario Oliveira, 23 anos, o
uso do cartão transporte foi
muito útil e serviu para agilizar o serviço. “Para mim,
agilizou o processo na hora
da retirada da bicicleta e é
muito mais seguro porque
não preciso ficar com o celular à mostra”.
Para a professora Laís
Zanin, 24 anos, que diariamente utiliza o sistema
as falhas são frequentes.
“Tive vários problemas
com aplicativo do celular.
Descobri que pelo autoatendimento é bem mais fácil para retirar”. E quando
perguntada sobre o uso do
cartão transporte, ela conta que nunca usou, pois
na primeira vez que tentou
não estava funcionando.
A Reportagem tentou
retirar alguma bicicleta na
estação 11, localizada na
rua Lobo Viana, em frente à Universidade Santa
Cecília, no Boqueirão, em
Santos. Foi utilizado o aplicativo no celular e ocorreram alguns problemas. No
aplicativo, constavam que
três bicicletas estavam retiradas quando na verdade
não estavam.
No final do ano passado,
o tempo de uso aumentou
de 30 para 45 minutos. Na
renovação do contrato em
março deste ano, o tempo
para a retirada das bicicletas passou a ser até às
23h, podendo devolver em
qualquer outra estação até
às 23h45. Este tempo foi
aumentado para beneficiar
os estudantes universitários na volta para casa, segundo a Prefeitura de Santos. O novo contrato com a
CET é de R$ 1 milhão 50
mil/anuais.
O serviço é implantado
e operado pela empresa
Samba. O sistema também
está disponível em diversas cidades do país como
Fortaleza, Belo Horizonte,
Sorocaba, Brasília, Recife,
São Paulo, Rio de Janeiro,
entre outras mais.
OUTRO LADO
Segundo a CET, as bicicletas públicas do projeto Bike Santos recebem
diariamente uma atenção
especial da Serttel, empresa operadora do sistema, para que os veículos
permaneçam limpos e em
boas condições de uso.
Das 370 bicicletas disponíveis para uso compartilhado na cidade, cerca de 40
são retiradas das estações
para limpeza e manutenção preventiva.
Em oficina própria, os
mecânicos fazem a avaliação dos veículos e verificam o sistema de regulagem de freio e marchas,
calibragem dos pneus e
demais
procedimentos
para manter o sistema em
ordem. De forma a não
comprometer o seu funcionamento, a retirada das bicicletas é realizada fora do
horário de pico. A empresa
também dispõe de atendimento nos casos de emergência.
Conforme a CET, as bicicletas possuem quadro
de alumínio e raio em aço
inox. Elas são feitas com
peças exclusivas para evitar furto de peças. As chaves utilizadas também são
especiais para servir como
dispositivo de segurança.
2
PRIMEIRO TEXTO
JUNHO DE 2015
OPORTUNIDADE
Mercado de trabalho é
favorável para mulheres
Pesquisa realizada pelo IBGE mostra avanço feminino em diversas áreas
JAQUELINE SOUZA
Jaqueline Souza
O número de mulheres
no mercado de trabalho
está aumentando cada vez
mais no Brasil, bem como
as melhorias das condições
trabalhistas. Cargos antes
ocupados só por homens
cedem espaço para as mulheres, que demonstram a
mesma qualidade no serviço e até mesmo superior.
Segundo o estudo de
Estatísticas de Gênero do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
baseado no último Censo
realizado em 2011, a participação da mulher no mercado de trabalho, de 2003
a 2011, teve um crescimento de quase 4%, atingindo
46,1% da população economicamente ativa.
O índice das mulheres
com ensino superior cresceu
nas áreas da indústria,
comércio,
administração
pública e até mesmo na
construção civil. Apesar
do predomínio de homens
exercendo essas funções,
o crescimento foi de 73,4%
para as mulheres, contra
55,4% dos homens, no
Kimiye Nishida, gerente de Operações de uma multinacional, conta sua experiência na área
período de 2003 a 2011.
O comércio é uma área
de constante crescimento
da população feminina e as
oportunidades estão sempre aparecendo. Kimiye
Nishida é um exemplo. Formada em Administração
de Empresas, trabalha em
uma loja de artigos espor-
tivos multinacional, na unidade de Praia Grande, na
qual apenas três das 21
lojas do Brasil possuem
mulheres como Gerente
de Operações, cargo ocupado por ela e que é caracterizado como masculino, pois lida com diversas
equipes de manutenção e
segurança.
“Eu gosto muito do que
faço, e todos me respeitam. No começo, foi difícil
lidar com essas equipes
masculinas, mas eu aprendi a conquistar meu espaço
e até mesmo me impor, e
não deixar me intimidar só
porque sou mulher, porque
tem aquele preconceito de
homens machistas”, salientou ela.
Kimiye disse também
que seu cargo inicial na empresa foi como vendedora
de uma seção de bicicletas,
e sendo a única mulher na
equipe, era sempre questionada se não havia algum
homem para atender e realizar os serviços.
“No começo senti muita
dificuldade, porque percebi que os clientes se sentiam mais seguros com os
vendedores homens. Foi
um pouco complicado, mas
eu consegui trabalhar bem
meu psicológico para isso
e, em três meses, subi de
cargo, tornando-me gerente de uma seção em que
toda minha equipe era masculina”.
Kimiye disse, ainda, que
ficou dois anos no cargo
de Gerente de Seção até
se tornar Gerente de Operações. “Minha experiência foi o que me ajudou a
vencer os desafios. Não há
nenhum manual de instruções”, disse ela.
A Gerente de Operações
já fez diversas contratações
para a loja, e sente que o
mercado de trabalho para
as mulheres está mesmo
em expansão, mas que ainda pode haver certas preferências por homens em
algumas áreas. Por outro
lado, com o rompimento do
preconceito, o País tende a
aumentar esses números.
MAYARA PISCIOTTA
capacitação
Da sala de aula
para a vida
profissional
Mayara Pisciotta
A Secretaria de Turismo
de São Vicente conta há
cerca de três anos com um
programa de estágio para
estudantes de Turismo, seja
para curso universitário ou
técnico. O programa leva
os estudantes para além
das obrigações diárias de
trabalho. Toda a segunda-feira, eles são levados
para uma “aula prática” por
algum técnico responsável
da secretaria. Além destas
“aulas” sobre pontos turísticos da cidade, eles participam de outras atividades
desenvolvidas.
A capacitação consiste em ir até determinado
ponto turístico da cidade
e aprender como ele funciona e qual a sua história,
além de também visitar
hotéis da região. A iniciativa começou a funcionar
de forma sistematizada há
três anos. Antes, o projeto existia, mas não desta
forma.
A técnica de turismo Marcia Aguiar, que acompanha as capacitações, está
animada com os resultados. “Os estagiários participam de palestras, visitas
técnicas, aprendem toda
uma metodologia de como
aplicar pesquisas. Assim,
quando realizamos a pesquisa eles estão aptos.
Eles têm a oportunidade de
vivenciar todo o processo,
seja no dia da capacitação
até depois durante o trabalho quando eles podem
passar a informação correta no posto de informação
ou na aplicação de uma
pesquisa até a sua conclusão”, explica.
A estudante do curso de
Turismo, Yasmim Ribeiro
de Andrade, conta que o
programa de capacitação
é importante para ela, pois
A técnica de turismo Marcia Aguiar, junto com os estagiários, atua em ações de capacitação
ajuda a complementar o
aprendizado na faculdade.
“Além de participar das
capacitações, nós podemos trocar informações sobre turismo com os técnicos
e outros estagiários. O que
aprendemos aqui poderemos usar não só nos postos
de informação, mas também no futuro em outras situações”, conta.
O conteúdo passado durante as capacitações, seja
palestra ou visita, não serve
somente para o trabalho na
secretaria. “Uma das palestras que tivemos recentemente foi de primeiros socorros e também tivemos
uma aula no Santos e Região Convention & Visitors
Bureau, onde eles aprenderam sobre metropolização, realização de eventos
e atrações. É um conhecimento que eles vão levar
para a vida toda”, conta
Márcia.
Para participar do programa de estágio é necessário estar cursando faculdade ou o curso técnico de
turismo. Para se inscrever,
é necessário aguardar a
abertura do processo seletivo da Prefeitura de São
Vicente (www.saovicente.
gov.br) ou pelo Facebook
da Secretaria de Turismo
(facebook.com/destinosaovicente).
JUNHO DE 2015
PRIMEIRO TEXTO
3
literatura
Jovens mostram influência
da leitura em suas vidas
Ler não é um hábito dos brasileiros, mas alguns jovens convivem com outra realidade
Luna Oliva
A Federação do Comércio do Rio
de Janeiro (Fecomércio) fez uma recente pesquisa que mostrou que 70%
dos brasileiros não leram sequer um
livro em 2014. A resposta da grande
maioria dos entrevistados é que eles
não lêem por falta de hábito.
Segundo a professora universitária e teacher coach, Martha Vergine,
de 35 anos, não há uma preocupação em incentivar os jovens à leitura
“Quando há essa preocupação, indicam apenas livros técnicos, chatos,
obrigatórios, e isso é algo que não
estimula a vontade de ler. Quando
os jovens são obrigados a ler um livro escrito há 100 anos, uma leitura rebuscada, palavras difíceis, eles
acabam achando aquilo enfadonho”,
completa a professora e responsável pelo blog e vlog Eu Estudo Certo,
que dá dicas de leitura e como estudar melhor.
Em contrapartida, algumas crianças têm o incentivo à leitura dentro
de casa. Foi o caso de Dhiego Morais, que com apenas 21 anos já é
autor de um livro, impresso em 2013.
“Minha mãe sempre leu muito e aquilo me inspirava, eu ficava encantado.
Senhor dos Anéis é um livro que me
marcou demais. Eu lembro que ela
ficava sentada e lendo em voz alta
para mim”, contou o garoto que tam-
Luna Oliva
Dhiego escreve literatura fantástica
bém escreve para o site Intocados,
um portal sobre literatura fantástica.
Dhiego começou a escrever no
Ensino Médio, por incentivo de uma
colega de classe que já escrevia.
“Quando acabei o livro, vi que tinha
escrito algo legal. Comecei a receber
vários feedbacks de pessoas que leram e isso me incentivou a continuar.
A ideia é que seja uma série de cinco
livros, não sei se pode terminar em
mais ou menos, mas já estou na me-
tade do segundo e sei aonde tenho
que chegar”.
O primeiro livro do autor foi batizado como As crônicas de Engard, que
já está registrado na Biblioteca Nacional, mas ainda não tem editora. Por
enquanto, aguarda respostas de editoras para colocá-lo no prelo.
Dhiego, que também é estudante
de Engenharia Química da Unisanta,
ressaltou que adora ler e escrever literatura fantástica, tema central do seu
primeiro livro, mas que também gosta
de ler outras publicações e escrever
histórias com outros temas. “Já comecei um novo projeto, um romance.
A ideia veio e eu comecei a escrever.
Sou realmente criativo. Escrevo até
letras de música, acho que tenho um
CD inteiro pronto”, brinca.
Quando perguntado sobre a escolha por um curso de Exatas, o
estudante explicou que Matemática
é sua paixão, até mesmo antes de
descobrir os livros, e afirmou que com
certeza é possível ser um estudante
de Engenharia e ser apaixonado por
literatura. O jovem afirma já ter lido
mais de 500 livros. “Amo minha profissão, quero fazer as duas coisas
paralelamente, acredito que uma
coisa não exclui a outra”, afirmou.
Jornalismo, Diego Corumba. “Sempre tive o hábito de ler. Inicialmente lia
muitos quadrinhos. Mas aos 9 anos li
meu primeiro livro O Mistério do Cinco Estrelas, e foi extraordinário, pois
descobri um mundo por meio daquelas páginas”, contou o estudante de
24 anos. Diego escreve um livro, que
ainda está em andamento, intitulado
Batizado Por Fogo. A história é uma
ficção que mistura heróis com mitologia.
O estudante de Jornalismo afirmou que começou escrever aos
19 anos, mas a primeira história se
perdeu quando seu computador foi
formatado. Este ano, Diego voltou a
escrever. “Pelas mudanças que passei na vida e pela mentalidade estar
diferente, alterei alguns aspectos do
texto e isso tem me animado, saber o
que posso mudar e melhorar”.
Como aprender
Para quem tem veia literária e quer
aprimorar esta aptidão, existem cursos que ajudam a ‘lapidar’ textos brutos que podem se tornar em material
literário. Os professores Marcus Vinicius Batista e André Rittes oferecem
cursos na Livraria Realejo (Avenida
Marechal Deodoro, nº 2, Gonzaga).
Os cursos são: Como escrever crôAmpliando horizontes
nicas, ministrado por Marcus Vinicius
Outro jovem que contrasta com as Batista e Como escrever contos, por
estatísticas é o aluno do 4º ano de André Rittes.
HQs
Desenhistas brasileiros ganham mercado internacional
Bruno Lestuchi
Muitos podem não saber, mas o
Brasil é o lar de vários artistas em
quadrinhos. Entre esses, desenhistas, arte-finalistas e roteiristas que
dão vida às páginas de personagens
e super-heróis preferidos. Com as
adaptações de filmes baseados nas
HQ’s se tornando cada vez mais comuns, a fama e a ascensão dessa
arte, que passava despercebida, é
inevitável.
A Baixada Santista também é
moradia de alguns desenhistas que
trabalham em casa e que enviam
desenhos para grandes editoras do
exterior, como DC Comics e a Marvel. É o caso do desenhista e arte-finalista da DC Comics e da Supernova Produções, Denis Freitas, de
28 anos. Ele já foi o responsável por
séries em HQ famosas, como Star
Wars e Percy Jackson, e conta que
sempre quis ser desenhista profissional.
“Nasceu comigo. Meus pais contam que, desde os três anos de idade,
os presentes que eu mais gostava de
ganhar eram papeis e canetas”. Em
relação à popularidade dos quadrinhos no Brasil, Denis afirma: “Não
considero um comic book artist uma
pessoa famosa. Podemos andar na
rua sem nunca ninguém reconhecer
a gente, mas eu diria que a popularidade dos comics e seus relacionados
realmente aumentaram bastante nos
últimos anos. Vemos isso no número
de pessoas usando estampas nerds
nas roupas, conversando sobre personagens, e até mesmo temos eventos de “quadrinhos” de nível tão bom
quanto os internacionais, como a Comic Con Experience, por exemplo”.
Outro artista brasileiro que também trabalhava na DC Comics é
Eduardo Vienna, de 35 anos, que
agora atua como publicitário e ilustrador há quase dois anos, porém
não abandonou o mundo dos quadrinhos, “Atualmente estou trabalhando
em um novo projeto que não posso
divulgar, mas que será lançado em
parceria na CCXP (Comic Con Experience) 2015. Vou lançar também
um projeto próprio que é segredo até
agora. Só posso afirmar que é sobre
um super-herói com história ambienO caiçara Denis Dym é um dos profissionais do segmento
tada em São Paulo” afirma.
Como entrar no mercado
Para ingressar na área, o desenhista tem que solicitar roteiros para
agências que intermediam a busca
por esses trabalhos. Ao ler o roteiro,
o desenhista prepara as páginas que
são chamadas de amostras (samples) e as envia para a agência, que
por sua vez encaminha para as editoras.
Em relação à disputa por espaço,
o desenhista caiçara Denis conclui:
“É muito concorrido. Diariamente, o
artista precisa estar se superando
para não ser ultrapassado por outros
artistas que também almejam uma
vaga no mercado. Acaba vivendo
sempre uma incerteza”.
A arte pode ser feita de forma tradicional ou por meio da digitalizadora. A forma tradicional é no lápis em
folha de tamanho A3 ou A4. Depois,
o material é digitalizado e enviado.
Já com a digitalizadora, o artista desenha em um monitor com lápis específicos e o desenho já aparece no
computador.
Nas adaptações cinematográficas trouxeram jovens leitores para o
mundo dos quadrinhos. Blockbusters
como Vingadores, por exemplo, ultrapassam a marca de bilhões de dólares de retorno e despertam a curiosidade do público em saber como os
Divulgação
heróis são retratados nas HQ’s, e,
com isso, a cultura só tem a ganhar.
Locais
Há algumas escolas de desenhos especializados em HQ na Baixada Santista. Em Santos, há a Escola Oficina (Av. Conselheiro Nébias,
621 – Boqueirão), a Academia de
Arte Edison Muniz (Rua Dr. Oswaldo Cruz, 106 sala, 3 – Boqueirão),
fora os cursos realizados por desenhistas e arte-finalistas da região que
trabalham para fora, como o caso do
workshop de arte-final que ocorre em
determinados meses no estúdio Flexa Arts.
4
PRIMEIRO TEXTO
JUNHO DE 2015
ALFABETIZAÇÃO
PROLER abre caminhos
para o conhecimento
A busca por novas ações de incentivo às práticas em prol da democratização e acesso à leitura
Raquel Vasconcelos
Imagine viver em um mundo indecifrável, repleto de
códigos complexos, símbolos indescritíveis, com uma
quantidade enorme de fatos acontecendo simultaneamente. Um mundo onde
todo o seu conhecimento
não parece ser o suficiente
e é facilmente ignorado.
Poucas coisas parecem
fazer sentido e dessa forma
você é levado a conviver
com uma realidade à parte,
marginalizada e oprimida.
Em 2013, o analfabetismo, incluindo o completo ou
funcional, que impede a interpretação e análise de textos
atingiu cerca de 13 milhões
de pessoas no Brasil, seg-
undo a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílio
(Pnad), realizada pelo IBGE.
Além de dados estatísticos,
esse número representa uma
parcela significativa da população que provavelmente
possui dificuldades para refletir a própria realidade.
Estar apto a escolher
um político que a represente,
analisar a mensagem que um
meio de comunicação veicula, tratar de questões éticas
no meio profissional ou pessoal são só alguns itens que
compreendem a instrução
escolar como fator crucial no
exercício da cidadania.
O regresso às salas
de aula na Educação para
Jovens e Adultos (EJA) reflete a busca por uma in-
clusão social plena e abre
discussão entre educadores sobre as dificuldades
e necessidades específicas
desse público. Tratandose de ações de incentivo
ao público EJA em Santos,
o Programa Nacional de
Incentivo à Leitura – Núcleo Baixada Santista, em
parceria com a Universidade Santa Cecília (PROLER – BS/Unisanta), tem
impulsionado a partir do
apoio, divulgação e premiação projetos que promovam a reflexão sobre a
leitura e escrita como pontos essenciais na formação
de qualquer ser humano.
O apoio ocorre inicialmente pela realização mensal de reuniões e palestras
com educadores ocorridas
na Universidade, contadores
de história e interessados que
passam a trocar experiências,
sendo constantemente estimulados a dividir conteúdo e
material sobre os projetos que
estão sendo desenvolvidos em
suas escolas ou comunidades.
“Eu me sinto fazendo
uma pequena parte, que se
junta a outras pequenas e
se torna em algo grandioso. Nós conseguimos muitas vezes levantar escolas
neste sentido, ajudando-as
e também as comunidades
com aquilo que mais precisamos no momento, a
leitura e a escrita’’, diz a
coordenadora do PROLER- BS, professora doutora
Conceição Dante.
Raquel Vasconcelos
Educação
para Jovens
e Adultos.
Estímulo a
participação.
Compreendendo
essa necessidade de
despertar maior estímulo
ao EJA, o PROLER vem
premiando anualmentealunos com o Troféu Escreler, referente aos melhores projetos de incentivo
à escrita neste modo de
ensino. Produzindo seus
próprios textos, os alunos
são motivados a expor
suas ideias e criatividade ao mesmo tempo que
conquistam seu próprio
espaço.
Considerado o maior
educador brasileiro, Paulo Freire defendia a leitura
como um direito e forma
de inclusão social, pois
era capaz de transformar
o ser humano em um ser
crítico com base para interpretar de diversas formas o mundo a sua volta.
Dessa forma, o indivíduo que era oprimido pela
desinformação e exclusão em sociedade passa
a usar o conhecimento
para se libertar. O PROLER
conseguiuampliar
seu espaço porque tem
compreendido que o ler
e escrever agrega valor à
formação de seres humanos cada vez mais capazes de enxergar o mundo
com uma percepção que
será refletida em atitudes
melhores, “pequenas” como diria a professora
Conceição Dante - mas
que mudam pessoas, aptas a mudar o mundo.
Educadores têm encontros periódicos na Universidade Santa Cecília, para discutir estratégias de incentivo à leitura nas escolas
Campus e educação
Clínica de Odontologia atende 680 pacientes especiais por ano
Vinícius Tognetti
Por acaso, sem planos
ou pretensões, num sábado,
após uma indicação de uma
ex-aluna, uma pessoa compareceu ao consultório, que
trouxe mais duas e, na semana seguinte, já eram onze
pessoas. Então, começava a
nascer a Clínica de Odontologia da Universidade Santa
Cecília, que atenderia pacientes especiais. Nela, os
alunos aprendem, na prática, como é a profissão que
eles escolheram para seguir
e tratar dessas pessoas que,
na região, têm dificuldades
de encontrar tratamento.
Com tamanha procura, as disciplinas, que antes
eram optativas e flexíveis,
se tornaram obrigatórias, ou
seja, caso não passe por
essa etapa, o aluno não conseguirá seu diploma.
Dentre elas, uma chama
a atenção: Disciplina de Pacientes com Necessidades
Especiais. Os alunos tratam
da saúde bucal de pacientes
com todos os tipos de deficiências, como é o caso de
Willian de Souza Brito. Ele é
um garoto que sofre de Microcefalia (uma condição neurológica rara em que a cabeça
da pessoa é significativamente menor do que a de outros
da mesma idade e sexo.) e
Epilepsia (uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não
tenha sido causada por febre,
drogas ou distúrbios metabólicos e que se expressa por
crises repetidas.)
A mãe de Willian Brito,
dona Miriam Souza Brito, falou o que os futuros dentistas
representavam para ela. “Eu
não tenho o que falar. Esse
carinho que eles têm por
mim e pelo meu filho é gratificante. É muito especial!”,
concluiu, emocionada.
Também emocionado
após ouvir as palavras de
dona Miriam Brito, o aluno
Heleno Stevani Lopes disse que faz isso com muito
amor. Ele comentou ainda
que, para ele, o mais legal é
receber esse carinho. “Essa
reciprocidade é uma das coisas que me motiva”, disse.
Coordenadora da Faculdade de Odontologia da Unisanta e diretora da Clínica
de Odontologia, a Dra. Rosangela Aló Maluza Florez
disse que essas disciplinas
não deixam de ser um ato
social. Pelo fato de ser gratuito e qualquer pessoa ter
o direito de fazer os diversos tratamentos oferecidos,
as pessoas de menor poder
econômico são as mais be-
neficiadas.
Hoje já consolidada, a
Clínica de Odontologia é referência na Baixada Santista. Atende por ano mais de
30 mil pessoas. Os pacientes especiais são atendidos
as quintas-feiras.
Vinícius Tognetti
A clínica atende pacientes com síndromes variadas
JUNHO DE 2015
responsabilidade Social
PRIMEIRO TEXTO
5
Fisioterapeutas do Sorriso levam
alegria às comunidades de Santos
Alunos da Unisanta realizam o projeto há 14 anos junto a pacientes de hospitais e entidades da região
Paolo Perillo
O grupo Fisioterapeutas
do Sorriso é formado
por alunos da Faculdade
de
Fisioterapia
da
Universidade Santa Cecília
(UNISANTA) e há 14 anos
realizam um trabalho de
levar amor e alegria às
crianças, jovens, idosos,
pessoas especiais e até
enfermeiros.
Criada em 2001, a
iniciativa partiu de exestudantes de Fisioterapia
da UNISANTA, que viram
uma oportunidade de aplicar
alguns
conhecimentos
específicos da profissão,
como
exercícios
de
coordenação motora e
orientação postural aliados à
muita alegria, descontração
e brincadeiras.
Sempre
atuando
de
forma voluntária e fora
do horário de aula, os
alunos
proporcionam
suporte emocional para as
pessoas da comunidade
por intermédio de simples
gestos,
por
exemplo,
sorrisos.
Nas apresentações, os
integrantes do grupo sempre
estão caracterizados como
palhaços,
com
rostos
pintados, calças largas,
penteados especiais e,
claro, sem faltar o tradicional
nariz vermelho.
O objetivo é buscar a
diminuição do sofrimento e
da dor entre os pacientes,
melhorar qualidade do
sono, estimular a imunidade
natural e a disposição
para alimentação, aliviar a
sensação de insegurança
que
existe
entre
os
enfermos, quando estão
internados ou acolhidos em
instituições.
Para o coordenador do
projeto, Gabriel Sousa
Lima, a mudança de
comportamento
dos
pacientes durante as visitas
pode gerar uma diminuição
do tempo de internação
e melhorar a convivência
dentro
do
ambiente
hospitalar, sem contar que
o sorriso é um remédio
sem custo e com grande
eficiência.
“Participar do projeto
contribui para a carreira de
um futuro fisioterapeuta,
pois possibilita estar em
contato com os desafios da
profissão desde o início do
curso e também colocar em
prática o que se aprende nas
aulas”, diz a estudante do
1º semestre de Fisioterapia
da UNISANTA, e voluntária
do projeto, Aline Inácio, 18
anos.
Algumas
instituições
que já receberam os
Fisioterapeutas do sorriso: a
creche Estrela do Amor, no
México 70, em São Vicente;
o Hospital Santo Amaro,
em Guarujá; instituições
santistas, como a Casa do
Sol, Associação Anjo da
Guarda, Universo do Ser,
Casa da Esperança, SESC,
creches Estrela Guia e
Santo Antônio, AEA Stella
´Paolo Perillo
Estudantes levam descontração
Maris, Catedral de Santos,
Educandário
Anália
Franco,
Educandário
Santista, Casa de Repouso
São Miguel Arcanjo, Centro
Espírita Dr. Luiz Monteiro
de
Barros,
Sociedade
São Vicente de Paulo,
Núcleo de Reabilitação do
Excepcional São Vicente
(Nurex), Núcleo Tia Édna e
Instituição Amadef.
Educação
À procura do ensino de qualidade
Mayra Rodrigues
Mayra Rodrigues
Hoje em dia, o jovem
vive em um mundo de
cobranças e distrações.
Para muitos, está cada vez
mais difícil pensar em uma
carreira para seguir. Um
dos motivos apontados são
as dificuldades enfrentadas
pelo País no sistema
educacional.
Guilherme Cipriano
tem 17 anos, cursa o 3º
ano do Ensino Médio
e
pretende
estudar
Engenharia
Química.
Ele relata que pesquisou
bastante antes de tomar
a decisão. O jovem se
mostra preocupado com
a situação da educação
no País, mas disse que
a situação econômica
também pesa, pois, para
ele, a faculdade vai definir
o seu futuro financeiro e
profissional.
Ele pretende buscar algo
que seja prazeroso para
trabalhar e, ao mesmo
tempo, ofereça algum tipo
de estabilidade financeira.
Guilherme estuda em
escola particular, mas quer
entrar em uma faculdade
pública por achar o ensino
mais forte e melhor. “Tenho
uma boa rotina de estudos,
aproximadamente 10 horas
por dia, mas sei que talvez
não consiga competir com
pessoas que estão tentando
há mais tempo. Por isso,
Guilherme Cipriano estuda 10 horas por dia e espera passar em uma boa universidade
vou à escola pela manhã e
à noite faço cursinho prévestibular. Se não passar,
continuarei estudando e
tentarei no outro ano”.
Já com Matheus Azevedo,
20 anos, foi diferente. Após
seus quatro anos (um ano
de curso técnico) estudando
no Ensino Médio, ele ainda
não conseguiu ingressar na
faculdade pretendida.
O jovem estudou em
um colégio federal, mas
não conseguiu resultado
satisfatório,
recorrendo
assim a um cursinho prévestibular.
Assim como Guilherme,
ele estuda 10 horas por
dia e levou um tempo para
escolher o que realmente
gostaria de fazer: Ciências
Econômicas.
“Não podemos ser inocentes
ao ponto de pensarmos que
a opção de escolha do nosso
curso seja apenas algo que
a gente goste, devemos
olhar para a situação do
Brasil. Preciso de algo que
também me ofereça um
bom futuro financeiro, claro
que isso também depende
do meu esforço”.
Matheus é uma pessoa
ligada em política e economia
e se mostra decepcionado
com os caminhos da
educação no Brasil. Ele
diz que a situação é
desanimadora, fazendo com
que as pessoas não sintam
vontade de estudar e sejam
menos comprometidas com
esse tema.
“Nosso País é burocrático.
Trabalha com números
e estatísticas para tudo.
Neste
governo,
eles
resolveram acabar com o
analfabetismo. O problema
é que estão fazendo isso de
forma errada, eles colocam
crianças em escolas sem
qualquer condição e cobram
frequência. Não querem
saber de notas e de ensino.
Isso está errado, pois forma
uma pessoa sem ela saber
nada. Temos que mostrar
às crianças desde cedo que
estudar é legal, que com
um ensino de qualidade,
elas podem alcançar muitos
caminhos”.
Pedagogia
Na visão da pedagogia,
o aluno demora para
escolher a carreira porque
a escola ainda não o
prepara para o mercado.
Segundo a pedagoga Neli
dos Santos, não existe
um
conteúdo
voltado
para isso. A escola faz
com que eles aprendam a
ler, escrever, interpretar,
e contar, mas não há
preocupações de que eles
serão profissionais no
futuro.
“A atual fase da educação
do País prejudica totalmente
os alunos, pois os pais
jogaram a responsabilidade
de educar em cima da escola
e dos professores, fazendo
com que ela sofra mais
cobranças de resultados”,
afirmou a pedagoga.
6
PRIMEIRO TEXTO
JUNHO DE 2015
EDUCAÇÃO
Incrições do FIES 2015
ocasionam complicações
Estudantes enfrentam problemas com registros e aditamentos, desde janeiro
Michely Arashiro
Michely Arashiro
Muitos alunos que contavam com a bolsa do FIES
(Financiamento Estudantil)
neste ano acabaram tendo
dificuldades com a inscrição
e, por causa disso, vários
deles tiveram que incluir no
orçamento uma dívida que
não contavam.
Por terem a certeza de
que conseguiriam a bolsa, estudantes como Pedro Henrique de Freitas, 19
anos, que se matriculou na
instituição de sua preferência e passou a frequentar as
aulas no início do ano, não
conseguiram fazer a inscrição até o prazo estipulado
e acabaram contraindo dívidas devido às mensalidades
que foram cobradas pelo
tempo em que assistiu as
aulas.
O jovem tentava a bolsa desde 30 de janeiro, dia
quando foram abertas as
inscrições, mas entrava no
site do FIES mesmo antes da
virada do ano. Pedro contou
que ele precisava da bolsa
porque, mesmo tendo nota
suficiente no Enem, não havia conseguido entrar pelo
ProUni (Programa Universidade para Todos). “Como
não tenho qualificação profissional é quase impossível
arrumar um emprego e, ten-
Reclamações apontam lentidão do site desde a abertura das inscrições do FIES
do pais divorciados, fica difícil te ajudarem a pagar seus
estudos...”, explicou ele.
Por ter frequentado a faculdade por três meses, Pedro ficou com uma dívida
de quase R$ 2.500 e, por
não ter conseguido a bolsa, o valor deverá ser pago
pelo próprio estudante, pois,
para aqueles que são bolsistas pelo programa, o próprio FIES cobre as mensalidades em aberto.
Stefano Luz, 22 anos,
passou pelo mesmo problema. O estudante de Administração tentava a inscrição
desde a abertura do prazo,
porém também não conseguiu. Agora, todo o seu salário vai para a mensalidade.
“Sobram apenas 10 reais
por mês”.
Mas os problemas não
começaram apenas neste
ano. Igor Oliveira da Silva,
de 22 anos, entrou no FIES
em 2012 e desde o segundo
semestre de financiamento vem tendo dificuldades.
De acordo com o aluno, no
primeiro aditamento, o site
pedia um novo financiador
e, depois de um ano e meio,
o seu avalista acabou tendo
problemas particulares e ele
ficou sem fiador. Desde então, tentou mudar para Fundo Garantidor de Créditos
e, mesmo tendo todos os
requisitos pedidos, não conseguiu.
Igor está com uma dívida
de mais de R$ 20 mil e diz
que não conseguirá pagar
tão cedo porque, como não
terminou o curso, a chance
de conseguir trabalho é menor.
Aditamentos
Além de todas as dificuldades com as inscrições, o
FIES 2015 também apresentou problemas com os
aditamentos daqueles que
já eram bolsistas pelo programa do MEC.
Stephani Santos da Silva,
de 20 anos, ainda não conseguiu realizar o aditamento neste ano. Estudante do
2º ano de Enfermagem na
Unimonte, em Santos (SP),
Stephani conta que seus
problemas começaram depois que ela se transferiu da
UNIP para a nova instituição
no segundo semestre de
2014.
De acordo com ela, em
todas as vezes que tentou
renovar o aditamento, o sistema recusava, alegando
problemas nos números semestrais. Tanto ela como a
instituição já mandaram e-mails, abriram demandas,
mas o MEC responde que
está em análise.
Seu colega de classe, Victor Ribeiro Coffers, de 21
anos, teve mais sorte, apesar da demora de três meses
para que seu aditamento fosse renovado. Ele contou que
ligava todos os dias desde a
primeira dificuldade em realizar a renovação e, depois de
conversar com a faculdade,
descobriu que o problema
não era na Insituição, mas
no próprio MEC que não liberava o aditamento.
Imóveis
Mercado imobiliário tem queda no
litoral paulista, segundo o Creci
Bruna Ribeiro
A pesquisa realizada pelo
Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECISP) aponta que as vendas
no Litoral em fevereiro de
2015 tiveram uma queda de
7,04% em relação a janeiro
do mesmo ano.Em fevereiro, houve o total de 265
imóveis vendidos no Litoral,
sendo 149 apartamentos e
116 casas.
Para o professor Jorge
Manuel Ferreira, do curso
de Administração na Universidade Santa Cecília,
a economia tem dado sinais de estresse, com um
crescimento muito pequeno, assim afetando o comércio, e consequentemente
o mercado imobiliário. “A
área tem tido uma certa dificuldade em comercializar
os imóveis”, afirma o professor.
Com a queda, o gerente
de Vendas, da imobiliária
Brasil Brokers, Alan Kanesaki, afirma: “As imobiliárias
estão dando grandes facilidades para a compra, com
uma onda de descontos,
para atrair compradores
nesta fase de baixa no mercado”.
Para os que sonharam
com a casa própria, como
Karla Roberta de Sousa
Oliveira e seu marido, Sandreoly Silva de Oliveira, que
acabaram de comprar um
imóvel em Praia Grande,
foram três meses para encontrar o apartamento do
jeito que desejavam, dentro do valor que pretendiam
gastar.
Karla falou sobre a diferença dos valores entre
Santos e Praia grande.
“Resolvemos nos mudar
para Praia Grande devido
à diferença de valores em
relação a um imóvel com as
mesmas características em
Santos. E também porque
os preços santistas estão com valores de venda
congelados enquanto que,
os de Praia Grande, como
tem muita gente de Santos
começando a migrar para
lá, estão valorizando muito
rápido”.
Segundo o Creci, a média de valor de um apartamento de três dormitórios
em Santos é de R$ 600 mil
a R$ 867 mil. Já em Praia
Grande a média é de R$
430 mil a R$ 480 mil.
O professor Jorge Manuel dá dicas para os compradores. “Agora é um bom
momento para quem tem
Bruna Ribeiro
Momento é bom para comprar e investir em imóveis, segundo especialistas
dinheiro, pois tem o poder
de barganhar e o mercado
está desaquecido. Outra
dica é procurar imóveis usados que estão com preços
retroativos”. Já para os
que querem vender, Jorge
afirma que não é um bom
momento, pois os preços
estão baixos.
JUNHO DE 2015
PRIMEIRO TEXTO
CVV
7
141:um telefone que pode mudar
a vida de alguém
Centro da Valorização da Vida (CVV) tenta resgatar a autoestima das pessoas
Há 53 anos, eles se tornaram abnegados. Escolheram abrir mão de suas
identidades, crenças, ideologias políticas e dos seus
problemas para se tornarem
anônimos. Anônimos que
resolveram oferecer parte
do seu tempo para ouvir o
problema de pessoas desconhecidas e oferecê-las
amizade e atenção.
São homens, mulheres,
médicos, engenheiros, professores, donas de casa,
advogados,
jornalistas,
operários,
comerciantes,
aposentados, enfim pessoas com profissões diferentes, mas com o mesmo
objetivo: valorizar a vida de
alguém. Estes abnegados
voluntários são os plantonistas do CVV (Centro de
Valorização da Vida).
Eles trabalham 24 horas
por dia, e sete dias por semana. Para eles, não importa se é inverno ou verão. Se
é fim de semana ou feriado.
Quando o plantão começa –
cujo tempo varia de 2 a 4 horas, dependendo da disponibilidade de cada um, eles
estão à espera e sempre
dispostos a atender ao telefone, pois sabem que aquela chamada poderá mudar
a vida de alguém. Todo o
atendimento é gratuito.
SÃO VICENTE
“É tão fácil ser bom! Porque não ser? Porque não
espalhar o perfume sutil do
bem querer que faz a vida
para melhor?”. “A vida é
um ótimo negócio tanto é a
que recebemos de graça”.
“E se a valorizar mais viveSuicídio, tema tabu
KARINA COSTA
KARINA COSTA
50 anos ouvindo pessoas: este é o trabalho do CVV - Centro de Valorização da Vida.
mos intensamente. Não podemos estar alegre o tempo todo. Mas podemos ser
feliz ou infeliz uma vida inteira, só depende de você”
“Que bom que você veio!”
“Não existe amor maior do
que devemos ter pela vida”.
Estas são as seis frases coloridas com letras e
tamanhos diferentes que
compõem a lousa branca
fixada na sala da recepção
do CVV (Centro de Valorização da Vida) de São Vicente: [email protected].
br,que ao lado de Santos
são as duas únicas cidades
da Baixada Santista que
oferecem o serviço. Elas
que o tema “suicídio” ainda
é visto como um tabu pela
O suicídio é algo planejasociedade. As pessoas não
do. Os motivos para cometer conversam sobre o assunto
suicídio podem ser a solidão, e, quando tomam conhecicondições físicas, saúde, en- mento de algum caso, costutre outros. Segundo a psicómam procurar um “culpado”.
loga e professora universitária A religião também contribui
Luci Mara da Silva Lundin, 54 para isto.
anos, para o potencial suicida,
• No Brasil, 25 pessoas
não há uma perspectiva de
morrem vítimas de suicídio
melhora de sua situação de
por dia e ao menos outras 50
tristeza e não há esperança
tentam tirar a própria vida.
em relação ao futuro.
• No mundo, uma
Alguns podem indicar
pessoa se mata a cada 40
sinais de comportamentos
segundos.
suicidas. Entre eles, estão
• Segundo pesquisa da
se desfazer de bens, perda
Unicamp, 17% dos brasileiros
de vontade de realizar ativipensaram seriamente em
dades rotineiras, isolamento
cometer suicídio no decorrer
e até mesmo o abandono
de suas vidas.
de cuidados com higiene e
• De todos os casos,
alimentação. Outros, porém, mais de 90% poderiam ser
não apresentam qualquer
evitados.
tipo de sinal.
• Quem tenta suicídio
A psicóloga comenta
pede ajuda.
transmitem os ideais do trabalho desenvolvido pelos
doze voluntários que fazem
parte do projeto. Em razão
de número pequeno de colaboradores, o CVV vicentino trabalha 7h às 12h e 19h
às 23h.
SANTOS
“O nosso trabalho é simples, mas não é fácil”, diz o
plantonista Renato, de 51
anos, que há 32 se dedica ao trabalho no CVV. Ele
conta que ouvir as pessoas é simples, porém não é
tão fácil como parece, pois
é preciso saber lidar com
toda a carga emocional que
Como vai você?
O livro Como Vai Você? CVV,
50 anos ouvindo pessoas foi escrito em 2011, como parte das comemorações dos 50 anos da instituição. A obra conta a trajetória do
grupo paulistano de 17 pessoasque decidiram iniciar um trabalho
de prevenção ao suicídio, mesmo
sem obter qualquer conhecimento especializado e médico sobre
o assunto. Eles tinham apenas o
desejo de oferecer carinho ao próximo. Essa experiência foi transmitida para milhares de pessoas e a
mais de 30 mil voluntários que já
passaram pela entidade.
A obra pode ser adquirida no
posto do CVV de Santos, ou pelo
site da Editora Aliança. O livro custa 25 reais e o dinheiro é revertido
para manter a instituição.
CONTATOS
Os mais de um milhão de atendimentos anuais são realizados
por 2.200 voluntários em 18 estados mais o Distrito Federal, pelo
telefone 141 (24 horas), pessoalmente (nos 68 postos de atendimento) ou pelo site www.cvv.org.
recebe de outras pessoas,
além de cuidar dos seus
próprios problemas. Para
que o voluntário não sofra,
absorvendo o problema de
outras pessoas, a instituição oferece aconselhamentos e avaliações periódicas.
Renato conta que o trabalho só tem dado certo
por causa do respeito que
o CVV tem pelas pessoas e
pelas histórias que escuta.
O plantonista não oferece
conselhos e não interfere
na vida do atendido, procurando mostrar a ele que o
entende e o respeita. Apenas em casos extremos é
que pode ocorrer algum
tipo de interferência da instituição. Exemplo:se uma
pessoa começa a tentar o
suicídio, liga para o CVV
e, ao longo da conversa,
desiste do ato. Para ajudá-la, o voluntário pede então
seu nome e endereço, para
enviar uma ambulância ao
local.
O posto santista trabalha
24 horas por dia e é o mais
antigo da Baixada, com 35
anos de trabalho. No momento, ele conta com a ajuda de 53 voluntários, que
trabalham no período de
quatro horas. No plantão
da madrugada, chamado
de “Corujão”, o trabalho é
de seis horas. Além do telefone, o posto também atua
com atendimento pessoal,
e-mail: [email protected],
chat e Skype. Mesmo no
Skype, a identidade é mantida em sigilo, pois não aparece imagem.
Para se tornar um voluntário, o interessado deve ter
mais de 18 anos e participar de um curso preparatório de dois meses, oferecido pela instituição. Ao final
do curso, ele será avaliado
se está apto ou não para o
trabalho pelos mais experientes. Cada posto define
quando ocorrerão os cursos. Em Santos, eles acontecem nos meses de março e agosto. A proximidade
com a tecnologia também
está levando ao surgimento
dos “postos virtuais”, onde
o atendimento é feito por
meio de dispositivos móveis. Assim, cada plantonista se torna um posto do
CVV.
Or ig e m d o s Sa m a r it a n o s
Os samaritanos foram fundados pelo
Reverendo Chad Varah na década de 30
em Londres. Varah estava em sua primeira
paróquia quando descobriu que uma jovem
havia se suicidado por
presumir que estava
com uma doença venérea quando na verdade apresentava sua
primeira menstruação.
O reverendo ficou perturbado não tanto pelo
suicídio,
mas
pela
causa que levou a jovem a ele.
Varah resolveu fazer
um anúncio na imprensa que dizia “Se você
está pensando em se
matar, ligue para mim:
MANSION
HOUSE
9000”. Assim nascia
os Samaritanos, projeto que inspirou o CVV.
São Paulo foi o local
onde CVV nasceu em
1961. Ele é fruto da
iniciativa de um grupo
de jovens, que fascinados pela iniciativa
que já havia começado em Londres, decidiram criar uma entidade semelhante no
Brasil. O modelo estrutural da instituição
britânica foi adotado e
consequentemente alguns anos depois a sigla CVV-Samaritanos
passou a ser utilizada,
pois os Samaritanos
reconheceram o CVV
como um propagador de seus ideais na
América do Sul.
8
PRIMEIRO TEXTO
JUNHO DE 2015
estética
Apesar de eficiente, depilação
a laser exige atenção e cuidados
A operadora de caixa Alice dos Santos Oliveira se submeteu à técnica e sofreu queimaduras de segundo grau
Gilson Santos
Procurada em sua grande maioria por mulheres, a
técnica de depilação a laser se popularizou nos últimos anos e cada vez mais
pessoas procuram clínicas
especializadas. De acordo com o cirurgião plástico
Alexandre Nunes de Andrade, a procura é grande
devido à preocupação pela
qualidade da pele e a praticidade que o laser oferece,
como a remoção periódica
de pelos, pois, segundo
ele, em alguns casos eles
só voltam a crescer após
cinco anos.
Nunes aconselha ao
cliente que queira usar este
tipo de benefício a necessidade de se tomar cuidados
especialmente para quem
estiver bronzeado, pois a
pele fica menos sensível à
ação do laser.
Além disso, ele também
ressalta a importância de
um teste prévio. “A orienta-
ção é a pessoa vir para fazermos uma avaliação. Ela
pode realizar um teste para
saber se dói ou se ela gosta
para depois voltar e fazer a
depilação”.
Cuidados
Mas as técnicas exigem
cuidados especiais, pois
queimaduras e manchas
podem ocorrer durante as
sessões. Isso ocorreu com
a operadora de caixa, Alice dos Santos Oliveira,
que se submeteu à técnica
de depilação a laser e teve
queimaduras de 2º grau
nas duas pernas e agora
está com manchas brancas nos locais.
“Já faço tratamento para
depressão, não saia de
casa, e agora quando estava voltando à vida ativa veio
esse problema. Fiquei mais
de dois meses sem sair de
casa, porque as queimaduras ficaram feias.” Segundo ela, ao procurar a clínica, não obteve resposta do
ARQUIVO PESSOAL
responsável.
É por isso que a dermatologista Yanne Villanova sugere que antes da execução
do procedimento, algum
profissional seja consultado
para avaliar a viabilidade da
depilação “O primeiro passo para um tratamento seguro é fazer o procedimento com um dermatologista
ou especialista em medicina estética”. Ainda, segundo ela, gestantes, mães em
fase de amamentação, pessoas com doença de pele e
aquelas que tendem a formar quelóides não devem
realizar o procedimento.
A depilação funciona da
seguinte forma: a luz do
laser ultrapassa a pele,
aquece o pelo e o carboniza, realizando o aquecimento da célula-mãe, a
matriz, o que a deixa mais
fraca. O procedimento é
aos poucos e podem ser
necessárias mais sessões
para acabar com todos os
Técnica ocasionou queimaduras de 2º grau em cliente
pelos indesejáveis.
VÍTOR HENRIQUE
Quitéria (direita) e suas irmãs, Tereza (centro) e Josefa (esquerda) mantém um salão de beleza há 32 anos no bairro do Campo Grande, em Santos
ESTILO
Terceira idade santista
busca qualidade de vida
Vitor Henrique
Santos já é considerada
terra dos mais experientes,
ou maduros, também chamados de mais velhos ou
idosos. O índice de presença da terceira idade é um
dos maiores do País (20%
dos habitantes), o que faz
com que essa população
busque manter a qualidade de vida de diferentes
formas, trabalhando ou
descansando. O município
conta com serviços ofere-
cidos pela Prefeitura e que
atraem esse público. Além
disso, há os recursos naturais que a Cidade oferece
para visita e contemplação.
Os centros de convivência
criados pela Prefeitura recebem diariamente idosos
de todo o Município. A aposentada Gladiz Ferreira, 71,
diz que frequenta um deles
há cerca de 10 anos. “Eu
vou até o local pelo menos
duas vezes por semana. Lá
eu fiz vários amigos e sai
da depressão. Faço dança
de salão, alongamento e
inglês. Os professores são
ótimos”.
Alguns preferem fazer do
trabalho o seu lazer. E o
caso de Quitéria Maria de
Oliveira, 62, dona de um
salão de beleza, que relata como é trabalhar mesmo após os 60 anos. “Eu e
minhas irmãs começamos
quando éramos bem mais
novas. Estamos aqui até o
dia de hoje e mantemos o
nosso salão graças às nossas clientes, que sempre
nos acompanharam. Trabalhar é muito bom. Cerca
de 80% de nosso público
também é da terceira idade. É muito interessante,
pois nos entendemos muito bem com todas”, relatou.
Quitéria diz ainda o que
faz para manter uma boa
qualidade de vida quando
não está no trabalho. “Gosto de dançar e faço academia. Isso tudo é para que
eu possa ter uma velhice
saudável. Sinto-me com o
corpo de uma menina de 22
anos (risos)”, concluiu.
Eleita em 2014 a melhor
Cidade grande para se viver, cercada por várias belezas naturais, Santos tem
várias opções para o lazer
dos idosos ao ar livre. O au-
tônomo Hélio da Silva, 81,
aproveita os 7 da orla da
praia para se distrair. “Venho quase todo dia aqui.
Corro e caminho, e não é
porque sou velho que não
posso me exercitar e me
manter saudável”, reforça.
A enfermeira Patrícia Almeida, 41, que trabalha em
uma das clínicas especializadas em terceira idade em
Santos, alerta que é fundamental ter uma atenção diferenciada com as pessoas
dessa faixa etária. “Os idosos carecem de alguns cuidados especiais. É essencial o apoio da família. Além
de uma boa alimentação, é
necessário atividades físicas para que a pessoa se
sinta bem”.
JUNHO DE 2015
GERAL
PRIMEIRO TEXTO
Guerreiras do bem
9
CRÉDITOS: JANE FREITAS
Guardas municipais auxiliam com informação, orientação e apoio contra o crime
Jane Freitas
Os olhares estão sempre atentos. Os traços delicados não escondem a
força, a coragem e a determinação que demonstram
durante todo o trabalho.
Cuidados que vão além
de suas residências. Dia a
dia, juntamente com toda
uma equipe bem preparada, elas zelam pelos patrimônios públicos da cidade,
informam, orientam e atendem ocorrências em prol
da segurança e integridade
humana. São trabalhadoras e guerreiras.
A Guarda Municipal de
Santos foi fundada em 1985
e, desde esse período, as
mulheres fazem parte da
categoria. Atualmente, elas
representam
aproximadamente 30% do efetivo.
Wagner Luiz Fernandes da
Silva, coordenador da corporação Central, com 29
anos de profissão, relata a
contribuição das mulheres
e sua importância na categoria: “O papel da Guarda Municipal feminina é de
suma importância.
Elas trabalham em postos, setor de monitoramento, orla da praia, escolas,
prefeitura, pontos turísticos, fazem parte de algumas guarnições em viatura
e abordagens com o auxí-
JANE FREITAS
A inspetora Andrea atende às ocorrências com disposição
lio de outro guarda. A instituição é diferenciada pelo
fato de ter disciplina, hierarquia e dar muito trabalho. Então é bem valoroso”.
Prestação de Serviço
Por meio de ações preventivas durante o patrulhamento, as guardas
municipais realizam abordagens e também auxiliam
no combate às drogas.
Quem anda pela orla
da praia e ruas da cidade, sempre se depara com
viaturas, quadriciclos e bicicletas elétricas, veículos
utilizados pelas equipes
na prevenção ao crime. O
atendimento às ocorrências
e a prestação de serviços
é um trabalho considerado
gratificante para a Inspetora Andrea Lino Franco, que
atua há 25 anos na GM: “O
que mais me faz gostar da
profissão é poder ajudar. É
a gente estar à disposição
para qualquer coisa”.
A inspetora ainda forneceu dicas para quem deseja fazer parte da corporação: “Tem que ter perfil,
tem que gostar. É preciso
estar disponível 24 horas
para ir a qualquer lugar,
fazer parte, gostar do que
faz como em qualquer outra profissão”.
Para iniciar a carreira é
preciso prestar concurso
público e, o número de mulheres na profissão cresce consideravelmente a
cada ano. Com 21 anos de
Guarda Municipal, a supervisora Iracema Nascimento
Reis tem orgulho de fazer
parte da corporação: “Para
mim é muito importante
trabalhar na Guarda. Já
consegui muitas coisas e
estou muito satisfeita. Atuo
no administrativo, mas já
estive nas praias, praças,
escolas e em vários outros
locais”.
Além da prestação de
serviço, o trabalho desenvolvido na corporação se
torna também um aprendizado para os próprios integrantes, como relata Iracema Neri da Rocha, que está
há 23 anos na profissão:
“Desde que eu ingressei
na Guarda Municipal, ela
se tornou primordial. Eu
conheci muitas coisas aqui
e aprendi muito. Coisas da
vida que a maioria das pessoas nunca viram. Na rua
a gente aprende bastante.
Você tem que ter jogo de
cintura para lidar com todo
tipo de pessoa. Mas, é conversando que conseguimos
driblar muita coisa”.
Essas profissionais vivenciam histórias reais,
de dedicação da vida pela
Atendimento 24 horas
O Trabalho
A força-tarefa
atua com
patrulhamento em
toda a cidade. O
serviço também
tem a linha
telefônica 153
e o sistema de
monitoramento
conta com
agentes da
Guarda Municipal,
com apoio da
CET e da Polícia.
segurança pública. Estar
disponível a todo momento pelo bem estar alheio.
Uma corrida contra o tempo
no combate ao crime e na
preservação da ordem. Estes são alguns dos muitos
trabalhos realizados pelas
guardas municipais de Santos, consideradas guerreiras do bem, mulheres cidadãs em alerta sete dias da
semana, 24 horas por dia.
ECONOMIA
Mídias digitais ultrapassam físicas
Benny F.
Benny F.
2015
‘80
Nos anos 80 e 90, os CDs dominavam as prateleiras das rádios. Hoje, em razão da tecnologia, todo o acervo perdeu espaço para as mídias digitais gravadas
Benny Coquito Filho
Pela primeira vez na história, o mercado de música
digital ultrapassou as plataformas físicas no mundo:
US$ 6,85 milhões contra
US$ 6,82 milhões. Segundo
relatório divulgado pela IFPI
(Federação
Internacional
da Indústria Fonográfica), o
total arrecadado da música
mundial foi de US$ 14,97 bilhões em 2014 (bem menos
que a metade do que se obtinha há seis anos: US$ 40
bilhões).
No Brasil, em contrapartida, o mercado musical cres-
ceu 2% entre 2013 e 2014. A
venda digital já ocupa 37%
do espaço. Segundo os dados da Associação Brasileira dos Produtores de Discos
(ABPD), as mídias físicas
somaram R$ 236,5 milhões
(40,7% do mercado total) e
as digitais R$ 218 milhões
(37,5%). Somando-se a isso,
vieram os direitos de execução pública R$ 122,7 (21%)
e R$ 4,5 milhões (0,7%) em
Sincronização, totalizando
R$ 581,7 milhões.
Tadeu Patolla, um dos
maiores produtores do rock
nacional, vencedor de um
Grammy Latino de Melhor
Álbum de Rock Brasileiro,
afirma que ainda é importante produzir CD’s, mas agora
com outra finalidade. “O CD,
hoje, é mais um cartão de visita do que um produto para
se comprar. Alguns artistas
vendem seus CD’s em shows por um preço simbólico
ou até oferecem grátis para
o público, com a intenção de
divulgar seu trabalho”.
Para o integrante da banda Bula e ex-baterista do
Charlie Brown, Pinguim,
esta mudança no mercado
não alterou a maneira de
compor nem fazer a música,
mas já vi muitas gravadoras
não fecharem contrato e até
falirem por causa desta queda do mercado. Se adaptar
é necessário.
De uma maneira geral,
os profissionais deste ramo
estão se adaptando ao novo
mercado e migrando para
as plataformas digitais, sem
deixar de produzir os “tradicionais” CD’s e DVD’s.
Entretanto, ainda não encontraram uma maneira
de fazer esta migração de
forma organizada e rentável para todos os lados. A
aposta da vez é no streaming (transmissão de áudio
e vídeo, sem necessidade
de download): com crescimento de 39%, este tipo
de plataforma já representa 23% do mercado global,
onde os artistas ganham
uma porcentagem do lucro,
de acordo com o número de
visualizações.
Sobre este mercado,
Patolla afirma que “a
maioria das pessoas que
consomem música não
ligam para qualidade do
áudio que estão ouvindo, o que é triste. Para
os mais os ouvidos mais
apurados, ouvir música
em resolução de CD, é
essencial”.
10
PRIMEIRO TEXTO
JUNHO DE 2015
TERCEIRIZAÇÃO
Projeto é visto com bons
olhos por empresários
As regras abrangem diversos tipos de comércio e empresas e estão sendo votadas pelo Senado
Matheus Doncev
O projeto de lei 4330/2004
que regulamenta a terceirização no mercado de trabalho foi aprovado pela
Câmara dos Deputados no
dia 8 de abril. As normas
atingem empresas privadas e públicas, sociedade
de economias mistas, produtores rurais e profissionais liberais.
Os empresários Osvaldo Dancev e Renata Girotti, donos das lojas de
roupas infantis Baby Clean, em Praia Grande, são
completamente a favor da
terceirização. Eles afirmam
que não há perigo de não
falta de funcionários. “Se o
funcionário falta, eu não tenho problema, pois haverá
reposição da empresa que
eu contratei”, disse Renata.
Osvaldo enfatiza. “Eu também não preciso pagar por
rescisão, caso eu precisa
tirar um funcionário. Fica
tudo para a contratada”.
O comerciante Nazmi
INTERNET
Morched El Khatib afirma
que com a lei também é a
favor. Segundo ele, abrirá mais espaços no mercado de trabalho. “Haverá
pessoas mais qualificadas
para prestar serviços e assim mais espaço terão para
arrumar empregos”.
Todos têm um ponto em
comum na questão ruim
da terceirização: o custo.
Dancev afirmou que o valor é maior. “Os R$1050
que eu pago para uma
funcionária contratada diretamente por mim, por
uma terceirizada eu pago
R$1900”, afirmou.O síndico do prédio residencial
Giovannina, Pedro Cardoso de Sá Júnior, em Praia
Grande, completou dizendo que um terceirizado é
20% mais caro.
A terceirização já é algo
constante no Brasil. De
acordo com o Sindicato das
Empresas de Prestação de
Serviços Terceirizáveis e
de Trabalho Temporário do
Estado de São Paulo (Sin-
Divulgação
A expectativa é de que o mercado de trabalho abrirá mais de 3 milhões de vagas no Brasil
deprestem), com apoio da
Federação Nacional dos
Sindicatos de Empresas
de RH, Trwabalho Temporário e Terceirizado (Fenaserhtt) e Central Brasileira
do Setor de Serviços (Ce-
brasse), no ano de 2014,
14.3 milhões de trabalhadores eram empregados
de empresas terceirizadas.
E a lei trará mais benefícios. Com a abrangência da lei para todos
as funções da empresa,
desde limpeza a diretores, o mercado de trabalho terá 700 mil vagas
para empregos no ano
em São Paulo, e mais de
3 milhões no Brasil.
Sonhos em forma de links
Paula Freitas
O Brasil possui segundo o Ibope, 105 milhões de
internautas e é o 5º país
mais conectado do mundo.
Até o fim desse ano, deve
ser o 4º, ultrapassando o
Japão. O número de brasileiros ligados na rede aumentou de 27% para 48%,
entre 2007 e 2011, ou seja,
praticamente metade da
população possui acesso à
internet.
Com este cenário, porque não investir na internet
como meio de sobrevivência? Essa é a realidade de
muitos em nosso País. As
pessoas estão cada vez
mais investindo em blogs,
vlogs e outras redes sociais
para alcançarem a fama e
o dinheiro. O YouTube, por
exemplo, que é a mais popular plataforma de vídeos
do mundo, começa a anunciar a partir de 200 mil visualizações, podendo assim
o vlogger (pessoa que faz
vídeos para YouTube) ganhar dinheiro com isso.
Como exemplo de alguém que deu certo, temos
a blogueira e ex-BBB santista Juliana Goés, que fala
sobre beleza na internet,
e com isso ganhou muitos
patrocínios de marcas de
cosméticos, além de receber por seu canal no YouTube que conta com 315
mil inscritos, aproximadamente.
Mas, isso nem sempre
dá certo. Produzir conteúdo
para um blog diariamente,
é algo desgastante e que
exige tempo e dedicação,
fatores que nem sempre
estão disponíveis nesse
mundo moderno. Renata
Souza Martins tentou manter seu blog e seu canal
no YouTube por três anos,
mas mesmo depois de tanto tempo, não estava tendo
o retorno esperado de seu
público: “Além dos meus
amigos da escola e família,
era muito difícil alguém ler,
é muito difícil começar do
zero, por isso admiro muito
quem consegue.”
Mesmo com as dificuldades, ainda tem gente na
luta. Existe uma competição mundial chamada
Technovation Challenge,
onde só meninas participam. Elas têm que criar
um aplicativo com o intuito de ajudar pessoas
Divulgação/Facebook
Fan page do aplicativo For You no Facebook, com quase 5 mil inscritos
de seu país.
Devido aos escândalos,
com fotos íntimas vazadas
na internet, que tem acontecido com cada vez mais
frequência, um grupo de
meninas de Santos criou
o aplicativo For you. Uma
das meninas do grupo,
Larissa Rodrigues Arruda,
disse que o app tem o objetivo de ajudar meninas que
passam por isso, pois é um
trauma psicológico muito
grande, tanto para a pes-
soa, quanto para a família.
Larissa e seu grupo de
amigas não têm a intenção de lucrar com o aplicativo, mas, para que ele
possa ir além de um protótipo, é necessário um
investimento de R$30 mil.
Como meio de divulgação, elas têm uma página
no Facebook, que leva o
nome do aplicativo.
Hoje, cada menina seguiu seu caminho, mas Larissa disse que elas leva-
rão o aplicativo para frente,
caso o investidor apareça.
A internet carrega hoje milhares de sonhos em formas
de links. A possibilidade de se
fazer o que se gosta, sem ter
que sair de casa, é tentadora, mas nem sempre dá certo. Como em tudo, a concorrência é muito grande, mas
cabe a cada um fazer o que
gosta com amor e ser retribuído com todo o sucesso merecido, seja obtendo lucro, ou
ajudando as pessoas.
JUNHO DE 2015
PRIMEIRO TEXTO
11
A vaquinha dos ovos de ouro
Financiamento online é uma alternativa para quem quer tirar boas ideias do papel sem correr grandes riscos
Felipe Cincinato
O Passo a passo da vaquinha
Ideia: O primeiro passo para se fazer uma vaquinha
1
online bem sucedida é uma ideia na qual você acredita
que poderá cativar o seu público
Projeto: Nesta fase, você deve pensar nos custos,
2
na execução e na logística que envolvem sua ideia. Um
projeto bem estruturado é fundamental para o sucesso.
Campanha: Escolha a forma de campanha: “tudo ou
3
nada” ou “flexível”. No primeiro tipo, se você não conseguir
bater a meta, não recebe nada, diferentemente do segundo.
4
apoiadores e também de agradecê-los pela confiança
depositada em seu projeto.
para cada uma delas, seja generoso! E lembre-se que
quanto maior o leque de valores, maior público será atingido.
Site: Existem sites de crowdfunding para vários tipos de
6
7
Recompensas: Esta é a principal forma de atrair
Valores: Decida o valor das doações e as recompensas
5
projetos e com diferentes taxas. A escolha do site em que
você hospedará o seu projeto é fundamental.
Orçamento: Faça com cuidado e divulgue. As
pessoas gostam de saber que seus R$10, R$ 15 contam
para que o seu projeto saia do papel.
‘Cara de Pau’
Milena Azevedo, sócia da
Aprovação: Antes de ser divulgado, seu projeto
MBP, de Natal (RN), selo
precisa ser aprovado. Alguns sites como o Kickante e o
editorial que apoia projetos
Catarse oferecem assessorias nesta fase.
editoriais como os Carvalhos, define a vaquinha-online como “cara de pau” já
Campanha: Após a aprovação do projeto, chega a
que o autor tem que “confase mais difícil: a campanha. Seja “cara de pau”, divulge
vencer as pessoas de que
seu projeto para amigos, familiares e nas redes sociais.
seu trabalho é interessante
e que merece sair da gaExecução: Seu projeto foi um sucesso! Agora chegou a
veta ou espaço virtual e se
hora de botar a mão na massa. Cumpra os prazos prometidos
materializar”, contou.
e você ganhará credibilidade para os próximos projetos.
“Optei pelo crowdfunding
porque fazer um livro desvinculado da editora tem
Divulgação
Divulgação
um custo muito alto para se
tirar do bolso”, explica Ana
Luiza. “Desta vez, firmei
parceria com a MBP, que
vai me ajudar nas vendas e
na questão burocrática de
registro do livro”. Apesar da
parceria, a “cara de pau” é
Ana Luiza Medeiros
Uma das tirinhas de “Carvalhos” criada por Ana Luiza
toda da quadrinista. “A camvo”. Com a ajuda da MBP, original; já para quem con- nanciamento coletivo é o panha está sob minha resum selo editorial, a quadri- tribuir com o valor máximo planejamento. Muitos sites ponsabilidade”, explicou.
nista lançou o projeto na in- ganha uma série de itens como o Kickante e o Caternet pedindo aos leitores que incluem, entre outros tarse exigem dos empre- Vantagens
Além de minimizar riscos
que contribuíssem financei- mimos, o livro em PDF, uma endedores virtuais planos
ramente com seu livro em cópia física autografada, financeiros e de marketing e possíveis perdas financeitroca de alguns benefícios. um conjunto de porta copos que mostrem como o valor ras caso o projeto não seja
A primeira fase foi um su- e um isqueiro.
arrecadado será investido 100% financiado e minimicesso. Conseguiu arrecae como o “produto” chegará zar o tempo de retorno do
investimento, a vantagem
dar R$ 4 mil para a impres- Diversidade
ao apoiador.
A vaquinha online utilisão básica. Na nova fase,
O empreendedor deve da vaquinha online é inela espera o mesmo suces- zada por Ana Luiza não se pensar também no tipo de discutível. “A falta de buroso para concluir a obra, que limita ao financiamento de campanha que pretende cracia tanto para colocar a
livros. Esta plataforma já é fazer. Alguns sites ofere- campanha no ar quanto no
será toda colorida.
Para financiar seu livro, utilizada para lançar filmes, cem duas fórmulas: “tudo pós-campanha, ou seja, no
Ana pede contribuições que documentários, montar ex- ou nada” ou “flexível”. Na momento do repasse do divariam de R$ 10 a R$ 350, posições de arte e fotogra- primeira modalidade, caso nheiro angariado”, pondera
sendo que para cada valor fias e até mesmo realizar a meta não seja alcança- Milena Azevedo.
Para muitos autores, arhá uma recompensa espe- trabalhos de conclusão de da, as doações são devolvicial. Com a contribuição mí- curso – ou TCCs, como são das aos apoiadores. Já na tistas, músicos, companima, o colaborador ganha chamados nas faculdades. segunda, caso a meta não nhias culturais, e ONGs,
os livros Carvalhos e Ana e
seja batida, o empreende- o crowdfunding tem sido
O Sapo (ambos em formato Planejamento
dor deverá pagar pela dife- a “vaquinha dos ovos de
A palavra chave para o rença do valor restante.
ouro” ao ajudar colocar em
digital), além do sorteio de
uma tatuagem ou ilustração sucesso dos projetos de fiAs recompensas são con- prática boas ideias.
8
Arte: Felipe Cincinato
Fonte: kickante.com.br / catarse.me
Para Albert Einstein, a
criatividade é o resultado
da inteligência se divertindo e é baseando-se nesta premissa que Ana Luiza
Medeiros, de Natal (RN), se
aproveitou das situações
cotidianas e das aulas do
cursinho – que não eram
muito interessantes – para
dar vida aos seus personagens. Em meados de 2006,
surgiu o Zé, seu primeiro
personagem da história em
quadrinhos Carvalhos.
Mesmo quando o tempo ficou mais escasso, na
época em que cursava a
faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, os desenhos
durante as aulas não pararam. “Desculpa, professores!”, pedia Luiza, que em
meados de 2008 já havia
criado outros personagens
e, para cada um deles, um
pequeno histórico.
Mas foi somente a partir
de 2012, quando percebeu
que havia perdido o hábito de desenhar, que Luiza
criou o site Tiraninha (www.
tiraninha.com.br): “Foi a forma que encontrei de colocar
disciplina”, conta. “A obrigação de manter o site atualizado me força a produzir
mais para conseguir aumentar os acessos do site”.
A estratégia funcionou.
Ana e o Sapo, uma das tirinhas que marcam presença
às segundas, quartas e sextas no Tiraninha, virou livro
em 2013 por meio do financiamento online. A premissa
das tirinhas é bastante simples: “Como falar sozinha é
deveras estranho, o Sapo
apareceu para conversar
comigo”, explica Ana Luiza.
Hoje, a quadrinista enfrenta mais uma vez o desafio de transformar suas
tirinhas em livro, mas agora com a “família que todo
mundo gostaria de fazer parte”. Trata-se de Carvalhos,
que encarnam as situações
cotidianas vividas por sua
autora. “Eu sou uma pessoa
meio respondona e, às vezes, a civilidade não permite que a gente diga certas
coisas a certas pessoas e/
ou em certas situações”, reconhece Ana Luiza.
“Eu acabo passando
para as tirinhas as coisas
que eu gostaria de poder
dizer, mas que podem trazer consequências ruins na
vida real. Felizmente, elas
funcionam em um contexto
cômico”, conclui a urbanista quadrinista.
Para lançar seu segundo
livro, Ana Luiza optou novamente pelo crowdfunding –
termo em inglês que pode
ser traduzido livremente
como “financiamento coleti-
sideradas um dos itens mais
importantes para os sites de
vaquinha online. O Catarse,
por exemplo, recomenda
que os “presentinhos” oferecidos aos apoiadores sejam
generosos e atrativos.
Outra questão apontada pelos sites é clareza do
destino das doações. O site
Kickante, que oferece um
manual com vídeos explicativos sobre como lançar
uma vaquinha online, é claro. “As pessoas gostam de
saber que seus R$ 10, R$
20 contam”.
Vale dizer que na maioria
dos sites, os projetos são
submetidos à análise para
aprovação e, no caso de
algumas plataformas como
o Catarse e o Kickante, o
empreendedor conta com
apoio de consultores que
ajudam a ajustar o projeto.
Com o projeto bem estruturado e campanha lançada, chega à fase de divulgação, crucial para que o
projeto pretendido alcance
a meta estipulada e seja
concretizado.
9
10
12
PRIMEIRO TEXTO
JUNHO DE 2015
Prostituição
DIVULGAÇÃO
Cinderelas nos dias
de Gata Borralheira
Projeto de lei que pretende profissionalizar a prostituição causa polêmica
Victória Silva
Quarta-feira, 15h30. Manuela (nome fictício), 25
anos, inicia mais uma longa
jornada de trabalho. Uniformizada e maquiada, a moça
torna-se uma caricatura, é
fácil saber como ganha a
vida a metros de distância.
Ao chegar ao Centro de
Santos, seu ponto de trabalho, Manu – para os íntimos – não tem acesso às
informações nem do que
acontece do outro lado da
cidade. “Prefiro me manter
longe de tudo o que não faz
parte da realidade que vivo”
explica a jovem, que divide
sua casa com outras garotas que escolheram a profissão mais antiga do mundo para sobreviver.
Desde os 18 anos, Manuela decidiu sair do interior paulista para ganhar
a vida no litoral. Pensava
fazer faculdade de Biologia Marinha. Chegou a dar
início ao curso, mas, sem
emprego fixo, a vida mudou
completamente.
Sem recursos, um colega
de classe a convidou para
sair em troca de dinheiro.
Foi o início da mudança radical em sua vida. “Descobri
uma forma fácil de ganhar
dinheiro”. E assim, a futura
bióloga se tornou uma garota de programa.
Apesar de não saber seus
direitos, tem gente engajada em mudar seu estilo de
vida. Não em Santos ou São
Paulo, mas em Brasília.
Profissão legalizada
O projeto de lei 4211/2012,
do deputado Jean Wyllys
(PSOL – RJ), ganhou notoriedade mesmo após amargar durante três anos as ga-
vetas do plenário. E, ainda
na fila de espera, desperta a curiosidade de muitas
pessoas. Afinal de contas, a
lei Gabriela Leite prevê que
a prostituição torne-se uma
profissão legalizada.
“Como assim, profissão
legalizada?”,
questionou
Manuela, que tomava uma
coca-cola gelada, mesmo
com o vento frio que batia na calçada do boteco,
aqueles que expõem ovos
coloridos e bacon encharcado de óleo.
Caso seja aprovado, o
projeto tornará a atividade
das profissionais do sexo
oficial, como qualquer outro
emprego. Para isso, será
preciso ter, no mínimo, 18
anos e exercer o serviço por
escolha, uma forma de eliminar a figura dos cafetões.
O objetivo era que a lei
tivesse entrado em vigor
antes da Copa do Mundo de 2014, o que evitaria
a exploração sexual nas
cidades-sede. Atualmente,
Wyllys tenta emplacá-la antes de outro grande evento,
as Olimpíadas do Rio de
Janeiro.
Ao descobrir que o projeto defende a aposentadoria
após 25 anos de trabalho,
Manu fica animada, no entanto, muda de ideia rapidamente.
“Acredito que para mim
seria ótimo, mas eu já estou neste mundo e é algo
sem saída. Não posso ser
egoísta. Caso virasse algo
legalizado, muitas pessoas
iriam ver como uma forma
fácil de ganhar dinheiro,
mas não é bem assim. Você
sofre humilhações. E tem o
peso de saber que nunca
vai ser amada, nunca vai
construir uma família, nin-
VICTÓRIA SILVA
Gabriela
Leite:
Conheça
a história
O Centro de Santos é o ponto de trabalho das profissionais
guém vai te aceitar sabendo o que faz para ganhar
dinheiro” diz, com os olhos
cheios de lágrimas.
Após longo silêncio,
emenda: “Tem gente que
acredita que isso aqui é
algo como o filme Uma Linda Mulher, pura ilusão, não
é e nunca vai ser. Quem
entra para a prostituição é
Cinderela nos dias de Gata
Borralheira”.
“Prefiro assim, sem
sofrimento antecipado
ou consciência pesada,
é o que a vida me deu” .
Manu, 25 anos
A justificativa do projeto
contra-argumenta
visões
como a de Manuela. A proposta, disponível no site da
Câmara dos Deputados,
explica que a ideia é desmarginalizar a atividade,
garantir o direito à saúde,
ao trabalho, segurança e
dignidade e não incentivar
a ação.
“Não acho que tornar lei
fará com que as pessoas
aceitem. Se virar lei e eu
for abrir um crediário e falar
que me prostituo, vão me
olhar torto, dar risadinha e
me constranger. Talvez sirva para educar as pessoas
e daqui a muitos anos isso
aconteça. Mas acho que o
ideal era não rolar prostituição nessa época”.
Enquanto os deputados
não decidem qual será o
destino do projeto, Manu
termina seu refrigerante,
arruma a roupa no reflexo
minúsculo de um espelho
sujo no bar e parte para a
mesma esquina de sempre.
Não sabe que horas voltará
para casa, quanto irá arrecadar e quem será seu parceiro. Manuela, e tantas outras garotas de programa,
não tem o domínio de seus
destinos.
Gabriela
Leite
(1951 - 2013) foi a
primeira prostituta a
levantar a voz pelos
direitos da classe.
Quando jovem,
largou a faculdade de
Ciências Sociais na
USP para começar a
trabalhar como profissional do sexo.
A luta pelos direitos começou em São
Paulo, quando se deparou com a violência, em maioria dos
policias.
Em 2009 Gabriela
publicou o livro “Filha, mãe, avó e puta”
onde conta toda sua
história de vida.
Foi fundadora do
projeto Davida e da
grife Daspu. Além de
ter se candidatado
à deputada federal
pelo Partido Verde,
em 2010, defendendo o fortalecimento
do Sistema Único de
Saúde, a união civil
homossexual, o direito ao aborto e a regulamentação da prostituição.
Morreu em 2013,
com câncer de pulmão.
O deputado
Jean Wyllys (PSOL –
RJ) continua sua luta.
Mundo Pet
Animal precisa de cotidiano saudável
Gabriela Ribeiro
Não importa seu tamanho, raça, cor: quando se
tem um é necessário dar
amor e carinho, ainda mais
se for um daqueles com
alguma limitação. E essa
recomendação não é só de
especialistas, vem da sensibilidade humana.
Sabe aquele animalzinho que late no quintal e faz
festa quando o dono chega? Sim, o cachorro, também conhecido por aquela
frase típica: “O melhor amigo do homem”.
Pensando nesse “com-
panheiro” de quatro patas,
uma pergunta vem à mente
de muitos: “Será que eles
precisam seguir uma rotina, assim como os humanos? Isto é, comer em
tal horário, sair sempre e
tudo mais, para ser saudável?”.
Renata Maturino, veterinária que atualmente trabalha no Pet Shop Canal 3,
garante que a resposta é
sim. E ela sugere uma rotina simples, mas que considera funcional.
“A comida nos horários
certos faz com que o animal tenha seu ritmo defi-
nido e não seja obeso.
Claro, que nos intervalos,
pode-se dar um biscoito.”, explica a veterinária.
“Ter momentos para sair
e brincar com o cachorro também é necessário
para que ele não fique es-
tressado. Assim como nós
quando não saímos, eles
também sentem isso”,
concluiu.
JUNHO DE 2015
PRIMEIRO TEXTO
13
Coleta seletiva
Para aonde vai o lixo?
Praia Grande produz 7 mil toneladas mensais de lixo domiciliar, boa parte, porém, poderia ser reciclada
Larissa França
A reciclagem é um processo que ajuda o País a
preservar o meio ambiente. É uma alternativa para
que se possa reaproveitar materiais que, quando
transformados, possam ser
utilizados de outras formas.
A Baixada Santista produz
diariamente 1.659,10 toneladas por dia de lixo, segundo o IBGE. Isso equivale a
0,7% de tudo que é produzido no País diariamente.
Grande parte da população ainda não tem informações sobre o que acontece
com o lixo depois dele ser
recolhido e como funciona
o processo de reciclagem.
Praia Grande, por exemplo, produz uma média de 7
mil toneladas de lixo domiciliar por mês.
Na cidade, existem cerca de 50 depósitos, sem
vínculos com a prefeitura,
que trabalham com sucata, comprando materiais de
carrinheiros. Até o final do
processo de reciclagem,
o material passa por duas
empresas
intermediárias
que desmontam, separam
e revendem os produtos recolhidos.
Segundo Carla Priscila
Gomes de Alencar, 32 anos,
responsável por um depósito no bairro da Vila Caiçara,
os materiais mais coletados
são alumínio, ferro, sucata de
ferro, papelão, plástico, moto-
Solução
LARISSA FRANÇA
res, motor elétrico e latinhas.
Ela diz também que é comum as pessoas levarem
materiais que não são recicláveis. “Trazem copos descartáveis, caixa de leite e
aqui ainda não recicla. Eles
trazem bastante, mas a gente é obrigada a descartar. Eu
sei que em São Paulo existem caixas de leite e tubos
de televisão que já estão
sendo reciclados, mas na
Baixada Santista ainda não
tem isso. A gente ainda está
em um processo que agora
está ficando além do que fazemos”.
Carla explicou que é preciso tomar certos cuidados
ao comprar o material. “É
um ramo difícil. Tem que
saber de quem você compra. Já fui até ameaçada.
Na semana passada, por
exemplo, chegou um homem com um saco de panelas, duas torneiras e um
registro de gás sem procedência. Mas eu não posso
sair comprando sem saber
a origem dos produtos”.
Responsável pelo grupo Paco, existente há mais
de 40 anos e que recolhe
ferro e papelão em toda a
região, o empresário Fernando Prada Fernandes,
30 anos, trabalha no setor
desde os 13 anos, e chega a recolher mil toneladas
mensalmente, material que
certamente teria como destino os aterros sanitários.
Gm 2014, Praia Grande recolheu oficialmente 587 toneladas de lixo reciclável, pouco em relação ao comum
Parte do material a ser reciclado é vendido para empresas que fornecem peças à indústria automotiva.
Miriam Souza Pontes, 61
anos, moradora do Balneário Maracanã, compra óleo
de restaurantes, bares e
com algumas doações de
vizinhos transforma o óleo
em sabão e os revende.
Com a reciclagem, chegou a ter 150 litros em sua
casa, quantidade que muitas vezes é jogada nos ralos ou em pias.
Ecopontos
Existem iniciativas da
prefeitura como o Ecoponto, programa onde os moradores deixam o lixo que
pode ser reciclado nos pontos principais de cada bair-
ro. Além deste projeto, há
dois tipos de serviço: coleta
solidária e a coleta domiciliar. No serviço de coleta
solidária, o trabalho é feito
em repartições públicas de
Praia Grande, de segunda
a quarta-feira.
Já o serviço domiciliar
acontece em todos os bairros, de segunda a sexta-feira, sempre a partir de dois
horários: às 8 e 14 horas.
A ideia é que os moradores entreguem os materiais
reciclados diretamente aos
membros da Cooperativa
de Coletores e Recicladores de Materiais Inorgânicos
Nova Vida (Coopervida), no
esquema “porta a porta”.
Os materiais são encaminhados para a cooperativa, que realiza a triagem
Risco de falta de água
incentiva alternativa
de abastecimento
Fábio Prado
A crise hídrica é um
problema sério que está
afetando todo o Estado
de São Paulo. O período
sem chuva fez com que
os níveis dos rios baixassem, porém, na Baixada Santista, os que
abastecem a região estão com 90% da capacidade.
Mas, mesmo com essa
“reserva”, alguns condomínios estão arrumando
maneiras para economizar agua. É o caso de
um edifício localizado
no Gonzaga, em Santos,
que fez um investimento
de R$ 5.600,00. Como
resultado, passou a gastar menos com um perí-
odo maior de lavagem
das áreas comuns. Isso
sem afetar o estoque de
nenhum reservatório.
Essa redução do consumo e da conta foi
possível graças à implantação de um sistema de reaproveitamento
do lençol freático (água
subterrânea), conforme
explicam a síndica, Sônia Afonso, e o funcionário responsável por
operar o sistema, Roberto Pereira.
O sistema foi implantado há seis meses. Antes, as áreas comuns
eram lavadas a cada 15
dias. Agora, acontece a
cada semana, e sem interferência na conta.
Montado na garagem
do subsolo do residencial, o sistema capta
água subterrânea e a direciona, depois de uma
filtragem com cristais
de quartzo, para quatro
pontos: o próprio subsolo (que conta com vagas
de estacionamento), o
térreo, o mezanino e a
área de lazer. “É uma
água que só serve para
lavagem das áreas. Não
se pode beber”, afirma a
síndica.
Segundo
Pereira,
quando o reservatório
(com capacidade para
70 mil litros de água)
enche muito, o sistema
automático de bombas
faz liberar o excedente
para a rua. A capacidade de armazenamento
e encaminha para empresas responsáveis pela
reciclagem destes materiais. São recolhidos cerca de 49 toneladas de lixo
por mês. Em 2014, foram
recolhidas 587 toneladas
de lixo reciclável em Praia
Grande.
De acordo com a prefeitura, eles têm realizado
campanhas de divulgação
sobre os trabalhos nas redes sociais e os seis caminhões responsáveis pela
coleta seletiva ganharam
aparelhos de som e alto-falantes, que anunciam
o serviço de recolha dos
produtos, que devem ser
ensacados separadamente do lixo comum e identificados ou entregues diretamente aos coletores.
FÁBIO PRADO
Zelador Roberto Pereira demonstra o uso do sistema de bomba
do líquido tem sido suficiente para as lavagens
constantes das áreas
em comuns, mesmo no
período de estiagem de
chuvas.
Sônia comenta que
qualquer prédio que
contar com área de subsolo pode instalar o sistema “em até três dias”.
Ela diz que a economia
do gasto na conta foi em
torno de 15%.
Para evitar reclamações de vizinhos e até
moradores que não conhecem o sistema e,
eventualmente,
acusassem o prédio de
desperdício de água,
o residencial tomou o
cuidado de colocar um
aviso na máquina de
pressão de água, informando que se trata de
água vinda do subsolo
(e não potável).
14
PRIMEIRO TEXTO
JUNHO DE 2015
rECICLAGEM
Carrinheiros ajudam a preservar o
meio ambiente com coleta de lixo
São 4 horas da manhã, horário que Chico, ao lado de Pipoca, começa o trabalho de coleta de objetos para reciclagem
Larissa Martins
Os calos nas mãos e as
marcas de expressão não
superam o sorriso cheio de
esperança em meio à tantas
dificuldades e barreiras
vencidas. Carrinheiro há 8
anos, Francisco da Silva,
de 56 anos de idade,
acredita que o sorriso abre
oportunidades.
Apesar da vida difícil que
teve após a morte de seu
pai, hoje o carrinheiro colhe
os frutos do que plantou
até aqui. “Trabalhar com
reciclagem foi a opção que
encontrei para sobreviver,
já que nunca tive uma boa
oportunidade de trabalho
por não ter terminado os
estudos. É um trabalho
pesado, mas me garante
o pão de cada dia e em
breve vai me garantir um
‘barraco’ também.”
Por ser morador de rua,
Chico (como é conhecido
no bairro) diz que já
sofreu com preconceito
das pessoas, mas nunca
se sentiu sozinho, pois
tem Pipoca ao seu lado.
“Quando dizem que o
cachorro é o melhor amigo
do homem é a mais pura
verdade, Pipoca é mais
fiel do que muita gente. É
como se fosse minha filha,
tudo que é meu é dela!”,
declara.
A rotina de Francisco se
inicia às 4 horas da manhã,
quando sai pelas ruas do
bairro Vila Fátima, em São
Vicente, com seu carrinho,
construído por ele com
ajuda dos donos de alguns
ferros-velhos. Após passar
parte da madrugada e
da manhã recolhendo as
sucatas, Chico vai para o
depósito “Sucateira”, onde
entrega os materiais que
conseguiu e os separa com
Antônio Sérgio Almeida,
dono do depósito. A seguir,
todo material que será
aproveitado passa por mais
três processos.
“É importante verificar a
procedência das sucatas,
pois de vez em quando
aparecem
materiais
suspeitos.
Tendo
em
vista a diversidade de
vendedores (além dos
carrinheiros e carroceiros),
chegam muitos utensílios
roubados de pessoas que
não frequentam o depósito,
o que gera muitas vezes a
vistoria da polícia por aqui”,
ressalta o dono do galpão.
Para ambos, trabalhar
com reciclagem é uma
maneira de contribuir com
o meio ambiente e evitar a
poluição e o esgotamento
natural desses materiais,
bem como o barateamento
do produto final por eles
industrializados.
Além
de
complementar
o
trabalho dos coletores da
coleta seletiva, já que os
carrinheiros recolhem os
materiais deixados pelas
ruas, praças e avenidas.
LARISSA MARTINS
Enquanto não consegue um lar, Chico dorme pelas ruas de SV
JUNHO DE 2015
futebol
PRIMEIRO TEXTO
15
Belas da Bola
O retorno das Sereias da Vila, futebol feminino do Santos Futebol Clube, marca uma nova fase da modalidade
LETHICIA GABRIELA
Lethícia Gabriela
No dia 14 de abril de
2015 um sonho do presidente Modesto Roma e
toda equipe do Santos Futebol Clube virou realidade.
Após três anos paralisado,
o futebol feminino alvinegro praiano retornou com
toda força com as Sereias
da Vila. Criada em 1997, as
antigas formações chegaram a contar com as jogadoras Marta, considerada a
melhor atleta do mundo em
cinco ocasiões pela Fifa, e
Cristiane, a maior artilheira
da história dos Jogos Olímpicos. Atualmente, são 25
atletas, que vieram do Rio
Grande do Sul ao Piauí,
que já jogaram em times
grandes e pequenos.
Alline Calandrini, de 27
anos, por exemplo, está
voltando à sua antiga casa.
A zagueira é de Macapá,
capital do Amapá, e já jo-
gou nas Sereias de 2006
a 2011. (confira o vídeo).
“A torcida santista é muito
acolhedora. Essa volta é
muito especial, ainda mais
para quem já jogou no clube”, relembra.
Quem também já é veterana no esporte é Fernanda
Hemann, de 32 anos. A futebolista nasceu em Capanema, no Paraná, e desde
os 11 o futebol é sua grande paixão. Como todo início
não foi fácil, Fernanda revela suas dificuldades para
ascender no esporte. “O
futebol feminino não possui
escola de base para iniciar
e conseguir um patrocínio é
difícil. Por isso, no primeiro
jogo de apresentação, eu
chorei, pois é uma emoção
muito forte estar no Santos”.
O treinador Caio Couto
Gonçalves conta que está
trabalhando o entrosamento das novas jogadoras e
Formada por 25 atletas, novas Sereias da Vila treinam no CT Meninos da Vila, no Saboó
de toda equipe. “São atletas experientes e jovens em
um ambiente fantástico de
treino que temos. As meninas estão se conhecendo,
dentro e fora de campo, e
isso alavanca os resultados
do time”, completa.
Quem também está retornando ao projeto é Luana Paula Silva. Ela já foi
estagiária do ex-treinador
Kleiton Lima em 2007, e
hoje é a preparadora física
das Sereias da Vila. “Estou
muito feliz pela oportunidade. Esse retorno significa
um aprendizado coletivo.”.
LETHICIA GABRIELA
Rosane e Maria Aparecida fazem atividades físicas e treino com a bola, formando uma nova ‘família’ de meninas que integram a equipe santista
COMÉRCIO
‘Epidemia’ europeia em ascensão
ESTHER ZANCAN
Esther Zancan
É fato que nem a decepção pela derrota do Brasil
por 7x1 para a Alemanha, na
Copa, disputada em casa,
arrefeceu o amor que o brasileiro tem pelo futebol. Mas,
parece que não só as equipes brasileiras e a seleção
canarinho despertam paixões entre a torcida. Os mais
observadores já perceberam: é só sair por aí, em uma
rua movimentada do centro,
uma porta de faculdade, um
shopping, que logo se vê alguém com camisa de algum
clube estrangeiro, em sua
maioria europeus.
Outros sinais apontam
para a “epidemia”: os índices
de audiência da TV aberta
durante os jogos da UEFA
Champions League vêm deixando as emissoras satisfeitas; e, em um rápido passeio
pelas redes sociais, como
Facebook e Twitter, é possível ver diversas páginas
criadas por brasileiros destinadas a reunir os amantes
desses times.
Na Baixada Santista, visitando lojas de materiais
esportivos que vendem as
camisas oficiais das equipes, além de constatar que a
febre já atingiu a faixa litorânea, pode-se também tentar
tirar uma dúvida: qual equipe
“gringa” é a nº 1 em torcida
por aqui? Pelo visto, Barcelona e Real Madrid conquistaram corações por estas
bandas. Em todos os estabelecimentos visitados, os
balconistas foram unânimes
em enumerar os plantéis espanhóis como campeões de
venda.
“Elas têm boa saída durante todo ano”, diz Jennifer
Caroline, 26, vendedora da
loja A Esportiva, do Shopping Brisamar, em São Vi-
cente. Já Eliane dos Santos,
35, visual merchandinsing
da loja Centauro, do Litoral
Plaza Shopping, em Praia
Grande, enfatiza que o perfil
do consumidor que procura esse tipo de produto é,
em sua maioria, de homens
mais jovens, e eles costumam chegar focados, pois
já entram na loja sabendo o
que querem.
Mas não são só equipes
internacionais que andam
fazendo sucesso. É bem
comum também encontrar
quem curta camisas de outras seleções, que não a
brasileira. “A da Alemanha
é a mais procurada”, declara Fabiana Brito, 33, vendedora na loja Empório Brasil
Esportes, também em São
Vicente.
Na UNISANTA, no curso
de Jornalismo, um aluno é
conhecido por sua coleção
de camisas. Guilherme Hen-
Loja de São Vicente destaca camisas de times europeus
rique Loureiro, 22, cursa o 4º
ano e tem aproximadamente
20 “mantos”. “Comecei há
uns cinco anos”, declara o
futuro jornalista. Guilherme
disse também ter admiração
pelo Bayern de Munique, da
Alemanha, e pela Juventus,
da Itália. Já entre as Sele-
ções internacionais, ele é fã
das tetracampeãs mundiais
Alemanha e Itália, demonstrando que o lado bom dessa
“epidemia” é a diminuição de
um certo revanchismo que
existia entre os torcedores
frente aos adversários da
“amarelinha”.
16
PRIMEIRO TEXTO
esporte
JUNHO DE 2015
O mar não é o limite
Estudante de Educação Física, com paralisia cerebral, dava aulas de surf na praia do Itararé
Danielle Lopes
Danielle Lopes
Algumas
pessoas
até acreditam e contam
que o surf não nasceu
em Santos. Mas não se
engane,
assim
como
Santos Dumont inventou
o avião, o surf nasceu na
Cidade, em 1937.
Na época da ditadura, a
cidade viveu um momento
muito ruim para o esporte.
Os
surfistas
eram
considerados
marginais
e julgados como usuários
de drogas, irresponsáveis
e com uso de adjetivos
piores. Muitas pranchas
eram apreendidas e muitos
pioneiros têm histórias
tristes
para
contar,
como policiais chutando
pranchas e repreendendo
surfistas. Porém, o tempo
passou e o surf tem
crescido cada vez mais e
pessoas de todos os tipos
e idade têm praticado o
esporte, alterando a fama
que havia no passado.
Em 1991, nasceu a
primeira escola de surf
do Brasil, localizada na
cidade de Santos, com
ensino gratuito e para
todas as idades. E desde
seu início, foi a primeira
a trabalhar com idosos
e pessoas especiais. Há
aproximadamente 16 anos,
a Escola de Surf Radical
de São Vicente apareceu
com a mesma proposta
da unidade santista e é
dirigida pelo professor e
coordenador Alex Costa.
Alex fazia natação desde
seus 4 anos e começou a
sua história com o surf em
1992, com 12 anos, quando
participou da competição
de bodyboard, na praia
de Toque Toque, em São
Sebastião, e, segundo ele,
’Foi amor à primeira vista’.
A partir dai, foi em busca
de todos os equipamentos
que
precisava
para
surfar. Em 6 anos, se
profissionalizou no esporte
e participou de várias
competições. Depois de
ter que parar o surf para
trabalhar em um escritório
de contabilidade, em 2006
se rendeu e voltou como
atleta e como professor
em escolinhas gratuitas de
São Vicente.
Atualmente dá aulas de
segunda a sexta na Escola
de Surf e Bodyboarding,
localizada no Quiosque
36b, próximo à Pedra da
Feiticeira, na praia do
Itararé. Atualmente, atende
aproximadamente
260
alunos, onde metade deles
é formada por portadores
de
necessidades
especiais.
A Escola de Surf e
Bodyboarding de São
Vicente atende também
as escolas especiais para
pessoas com deficiência.
Houve uma parceiria de
4 anos com a CECOF
(Centro de Conveniência
e Formação), que foi
interrompida, e este ano
só está mantida com o
N.A.P.N.E (Núcleo de
Atendimento a Portadores
de
Necessidades
Especiais) e tem cerca de
160 alunos que frequentam
às aulas de surf.
Exemplo
Por
meio
desse
trabalho, o professor Alex
Costa conheceu Ulisses
Caruso Garavatti, de 24
anos, aluno do quarto
ano de Educação Física
na Universidade Santa
Cecília.
Ulisses tem paralisia
cerebral por conta de uma
complicação na hora de seu
nascimento. A deficiência
afeta sua coordenação
motora, então só foi
aprender a andar com 6
anos de idade depois de
fazer aulas de equoterapia,
método que usa o cavalo
para o desenvolvimento
biopsicossocial de pessoas
com deficiência ou com
necessidades especiais.
Desde
pequeno,
Ulisses praticou esportes,
atividades
físicas
e
Danielle Lopes
Cerca de 260 alunos participaram de atividades na Escola Radical de Surf e Bodybording em SV
Expediente
Ulisses Caruso, portador de paralisia cerebral, exemplo de vida.
colecionou títulos. Foi três
vezes campeão brasileiro
de adestramento equestre,
o primeiro faixa preta de
judô do Estado, e durante
um ano, deu aulas de surf
como estagiário na Escola
de Surf e Bodyboarding
de São Vicente, onde
conheceu o professor Alex.
O
universitário
de
Educação Física disse
que não sabia surfar
antes de dar aulas, e em
apenas duas semanas já
estava em pé na prancha
e ensinando seus alunos a
fazer o mesmo. Falou que
é muito gratificante poder
ensinar o que se sabe para
outras pessoas, ainda mais
quando elas são especiais.
Ele mencionou seus dois
únicos alunos especiais
que teve, um menino com
síndrome de down e uma
garota com autismo.
Ulisses comentou que
o surf o ajudou no seu
equilibro, e que é uma
das coisas mais difíceis
por causa da falta de
coordenação motora.‘’ Só
é deficiente quem se acha
deficiente’’. Então nada
o abala, muito menos o
impede de fazer as coisas
que quer. Ele tem seu
próprio carro e se vira
como pode. Em algumas
atividades, porém, ele
necessita de ajuda, como,
passar
suas
roupas,
fazer seu prato e abotoar
camisa,
segundo
sua
esposa Valeria Nonato, de
34 anos.
O casal está junto
há quatro anos. ‘’Para
mim, ele é normal e tem
suas limitações. Já fui
casada com pessoas sem
deficiência e não tem a
força de vontade de correr
atrás das coisas como
o Ulisses’’, ressalta. Ela
comenta
que
sempre
incentiva seu marido, e o
auxilia para que ele seja
independente. Quanto às
dificuldades do marido,
Valéria acrescenta, ‘’Vou
arrumar uma forma de ele
conseguir se virar’’.
Ulisses é um exemplo
de vida e mostra que o
fato de ser deficiente não
o impede de fazer algo
que os considerados não
deficientes possam fazer.
Infelizmente, ele não dá
mais as aulas de surf.
Aqueles que quiserem
conhecer a Escola Radical
de Surf de São Vicente,
contato 97406-9583.
PRIMEIRO TEXTO é o jornal laboratório do curso de jornalismo. Redação, edição e diagramação dos alunos do 2º ano de Jornalismo do período noturno.
Diretor da FaAC: Humberto Challoub
Coordenador de Jornalismo: Prof. Dr. Robson Bastos.
Professores Responsáveis: Prof. Fernando Claudio Peel (diagramação), Prof. Dr. Fernando De Maria e Prof. Ms. Luiz Carlos Bezerra (textos), Prof. Luiz Nascimento (fotos), Prof. Valéria Vargas (vídeos/digital).
Diagramadores: Cultura 1 Lucas Santos e Eder Traskini; Cultura 2 Laura Bojart e Karoline Oliveira; Campus 1 Paolo Perillo e Mayra Rodrigues; Esporte 1 Lethícia Gabriela e Esther Zancan; Geral 1 Gabriel Soares; Geral
2 Karina Costa; Geral 3 Luna Oliva, Bruno Lestuchi e Alexia Faria; Geral 4 Jane Freitas e Benny Coquito Filho; Política 1 Michely Arashiro e Bruna Ribeiro; Política 2 Jaqueline Souza e Mayara Pisciotta; Politica 3 Victória
Silva e Gabriela Ribeiro; Política 4 Felipe Cincinato; Saúde 1 Gilson Santos e Vitor Henrique.
O teor das matérias são de responsabilidade de seus autores, não representando, portanto, a opinião da instituição mantenedora - UNISANTA - UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA - Rua Oswaldo Cruz. 266, Boqueirão,
Santos (SP). Telefone: (13) 3202-7100, Ramal 191 - CEP: 11045-101
Versão on line: primeirotextounisanta.wordpress.com www.santaportal.com.br/online
JUNHO DE 2015
PRIMEIRO TEXTO
17
SÉTIMA ARTE
Luzes, câmera, tradição
O Cine Roxy e a sua história como o único cinema de rua restante na Baixada Santista
Laura Bojart
Em uma cidade que leva
mais de 1,5 milhões de espectadores por ano ao cinema não é surpresa que
um estabelecimento esteja
sempre inovando e buscando trazer as maiores
novidades do ramo para
oferecer a melhor experiência fílmica possível à
população santista. Este é
o caso do Cine Roxy, que
recebe cerca de 50% deste
público cinéfilo.
Fundado em 1934 como
um cinema de rua, o Cine
Roxy nasceu no Centro de
Santos, que, na época, era
considerada área nobre da
cidade. Era comum para
os moradores mais privilegiados se firmarem por lá e
manterem uma espécie de
“casa de praia” próxima à
orla. Como é de costume, o
passar do tempo levou à mudança: as pessoas começaram a migrar para mais perto da praia e os tradicionais
cinemas de rua começaram
a dizer adeus em favor dos
cinemas multiplex.
A virada dos anos 90 para
o novo século marcou um
momento muito difícil para
os estabelecimentos mais
tradicionais em todo o mundo. Enquanto os cinemas
multiplex se espalhavam
rapidamente pelos shoppings, os de rua desapareciam. No entanto, o Cine
Roxy se manteve forte. Em
2003, o empresário Toninho
Campos abriu o primeiro
multiplex de rua no tradicional bairro do Gonzaga. “Foi
um desafio muito grande,
mas conseguimos montá-lo
no Roxy 5, enquanto muitos
colegas precisaram fechar
suas portas”, comenta.
As realizações não pararam por aí. Apenas quatro anos depois, o Roxy 6
abriu as portas no Shopping Brisamar, em São Vicente – município que leva
600 mil pessoas às salas
de projeção todos os anos.
Em 2010, o Roxy 4 foi inaugurado no Shopping Pátio
Iporanga, o mais novo da
cidade de Santos.
Com 125 mil moradores,
Cubatão voltou a ganhar
seu cinema em 2012: após
quase 20 anos sem um cinema na cidade, o Roxy 3
passou a fazer parte do Parque Anilinas para saciar a
vontade da população. Atualmente, é a única rede do
país com unidades de rua,
em shoppings e em parque.
Apesar de seus avanços,
Toninho ainda busca manter a tradição com a qual
JORNAL A TRIBUNA/DIVULGAÇÃO
eles começaram. É o equilíbrio entre ela e a modernidade que garantem a conexão com o público santista
que hoje traz mais de 50%
do market share da região.
“Ao longo de oito décadas,
construímos uma personalidade: um cinema de rua
que sempre busca estar à
frente das novidades tecnológicas. Não abre mão de
sua relação com a comunidade, mas ao mesmo tempo tem um caráter global.”
A geração Netflix
Assim como ocorreu com
os cinemas multiplex, o Netflix e outros serviços de
streaming (transmissão em
tempo real pela internet)
têm se propagado cada vez
mais com o passar do tempo. As pessoas estão se
utilizando deles porque eles
contam com algo que as
salas de cinema não têm:
você pode assistir ao filme
que quiser, quando quiser
e no conforto da sua casa.
Além disso, o preço também é menor.
Ricardo Prado, community manager de 27 anos,
não pensa duas vezes antes de dar preferência a ele.
“O preço é um atrativo, mas,
para mim, a melhor parte é
que você não precisa sair
Primeira unidade do Cine Roxy, no centro de Santos, em 1939
de casa. E você consegue
realmente aproveitar o filme, sem depender da boa
educação dos outros, que
muitas vezes desconhecem
essa noção.”
Mas não é assim para
todo mundo. Para a tradutora Rebeca Amaral, os dois
têm suas vantagens. “Não
dá para escolher os dois?”,
brinca. Já Rodrigo Budrush,
roteirista, comenta que gosta de ambos, mas para coisas diferentes. “Eu vou ao
cinema quando quero sair,
estar com os meus amigos,
não só assistir a um filme.
Nós todos gostamos de cinema, é legal compartilhar a
experiência com eles. Mas,
às vezes, também gosto de
ficar sozinho.”
Ainda assim, estes serviços não apresentam uma
ameaça para o Roxy. Segundo Campos, que se
considera cinéfilo e busca
assistir a todos os filmes
que vão estrear, as experiências são completamente diferentes. “O cinema é
o local onde a experiência
é única. Onde as pessoas encontram seus iguais,
pessoas apaixonadas por
filmes que, ao apagar das
luzes, podem emergir naquela experiência maravilhosa, que é mergulhar na
história mostrada na tela.”
E ainda afirma que não há
competição: “Todas as mídias podem conviver.”
Oswald de Andrade, em São
Paulo, e depois o governador Mario Covas levou essa
oportunidade para o interior
também, até que o número
chegou a 22 oficinas no estado todo, incluindo as da
Capital.
Entre 1994 e 2011, a Cadeia Velha foi sede da Oficina Cultural Pagu. Lá, eram
realizados cursos gratuitos,
como teatro, cinema, circo,
dança e artes plásticas.
Semanalmente, cerca de
600 pessoas passavam pelo
equipamento, que desde outubro de 2013 funciona em
um imóvel menor, localizado
à Rua Espírito Santo, 17, no
Campo Grande.
Segundo a coordenadora do equipamento, Mônica
Tranjan Real de Toledo, antes de ocuparem essa nova
sede, onde já estão há pouco mais de um ano, a oficina
ficou por dois funcionando
no Centro Comunitário São
Judas Tadeu.
Mônica disse não ter uma
preferência por local, já que o
trabalho da oficina é realizado da mesma forma em ambos os lugares. “Claro que
na Cadeia Velha tínhamos
um espaço muito maior, também recebíamos pessoas
que queriam apresentar teatro. Aqui estamos fazendo o
mesmo trabalho, porém, em
um ambiente menor”, contou
ela.
A preferência do público é
clara: na última audiência, o
pessoal pediu muito a volta
da Pagu para a Cadeia Velha, por vários motivos. Um
deles é por ser ao lado da
rodoviária, o que facilitava
para pessoas de outras cidades participarem do projeto e
conseguir chegar e ir embora
com tranquilidade. Além do
espaço, que seria muito melhor utilizado.
Sobre a frase Não queremos + 1 museu, escrita em
frente à Cadeia Velha a coordenadora esclareceu que,
na audiência pública, os artistas explicaram que não é
o fato de não se querer mais
um museu. Eles acham que
Santos já tem muitos, e que
os mesmos deveriam ser
melhorados, ao invés de se
criar um novo. “Como o prédio da Cadeia Velha sempre foi usado para a Oficina
Pagu e também como refúgio para os artistas da cidade, eles preferem que ali
volte a ser um centro de atividades artísticas”, concluiu
Mônica.
Futuro da Cadeia Velha continua sem definição
KAROLINE OLIVEIRA
Karoline Oliveira
A Cadeia Velha, na Praça dos Andradas, Centro de
Santos, pode se tornar um
museu sobre a história da
Baixada Santista. A informação, porém, não é confirmada pela Prefeitura nem pela
Secretaria de Estado da Cultura, responsável pelo prédio, cuja construção data de
1839.
A entrega do espaço é prevista para o primeiro semestre de 2016, após o término
do restauro, iniciado em abril
deste ano. Se a proposta for
concretizada, Santos poderá
ganhar seu 11º museu.
No início de maio, foi realizada a segunda audiência
pública para decidir o futuro
da Cadeia Velha. A reunião
aconteceu às 19h no Teatro
Guarany e o objetivo foi abrir
um debate com a classe artística e a população da cidade. O secretário de Estado
da Cultura, Marcelo Mattos
Araújo, e o secretário municipal de Cultura de Santos,
Fábio Alexandre Nunes, estavam presentes.
Araújo disse que veio para
ouvir os artistas e, só então,
em 30 dias, formar uma alternativa para a Cadeia. “A
A Cadeia Velha está em reforma desde abril de 2014
utilização será o resultado
da discussão com a população da região e com a Secretaria Municipal de Cultura”, salientou, já prevendo
outras audiências sobre a
velha questão.
O secretário Fábio Nunes
também não definiu nada
ainda. “Essa audiência é
uma prova de governança.
A previsão de abertura do
imóvel é fevereiro e a função
sociocultural do espaço será
construída de maneira coletiva”, disse, lembrando apenas que não há investimento
para transformar a Cadeia
em museu, no momento.
Com isso, os artistas e fomentadores da cultura saíram frustrados do segundo
encontro, pois só eles apre-
sentaram proposta.
Se os representantes do
Município e Estado têm dúvidas sobre o que fazer com o
equipamento, os artistas não
têm. Eles enfatizaram o desejo de que a Cadeia Velha
seja um espaço de formação e fomento de artes integradas da Baixada Santista,
que foi seu papel nos últimos
30 anos, dentro da proposta
das Oficinas Culturais Pagu.
Os artistas não querem museu e nem que o espaço seja
municipalizado, ou seja, que
continue sob a gestão do Estado.
Oficina Cultural Pagu
As oficinas Culturais foram
criadas no governo Franco Montoro. A primeira foi a
18
PRIMEIRO TEXTO
JUNHO DE 2015
rap
Rappers buscam sucesso na música
para crescer na Baixada Santista
Enfrentando preconceito, músicos buscam seu espaço no cenário do rap
Lucas Santos
Um sonho cantado, inspirado na rima e na poesia. É
assim que vivem jovens rappers da Baixada Santista.
Devotos do rap, a maioria
deles sonha em um dia alcançar o sucesso graças ao
estilo musical. Hoje, quase
todos fazem por amor.
Desde a primeira quinta-feira do ano, cerca de 40
jovens se encontram em
frente ao banco da orla da
praia, próximo à Concha
Acústica, no canal 3, em
Santos, onde realizam uma
roda de rima, cantando músicas e cravando batalhas
de rima improvisada.
A atração cultural é divulgada pelo Facebook e tem
a presença de MCs de várias cidades do litoral paulista, como, por exemplo, o
vocalista do grupo Freeside
(estilo livre), Carlos Eduardo Policarpo, mais conhecido como Dudu Skill.
O Freeside é uma das
renovações do rap na Baixada. O grupo despontou
nacionalmente após se
apresentar no programa
Superstar, da Rede Globo, onde tiveram o voto
positivo dos três jurados
(Ivete Sangalo, Fábio Jr.
e Dinho Ouro Preto), mas
não alcançou a meta votada pelo público.
O vocalista Dudu falou
sobre o começo difícil do
grupo, o porquê do nome e
como batalhou para alcançar seu sonho.
“No começo era ruim, eu
ficava assim “hã, tô aqui
comendo esse pão”. Tá ligado? Começou na brincadeira”, lembra. “Aí eu comecei a gostar mais de rap,
querer mais, sempre mais,
e com 13 anos eu gravei
minha primeira música.
Houve um dia que a gente
estava na balada e decidiu. Somos amigos desde
infância. O Freeside significa lado livre. Cada um
de nós gosta de um rap
diferente, como o underground, rap mais nacional,
snap, um rap mais gringo,
outro mais hardcore, rap
mais pesado, enfim, diferentes” destaca. “Como cada um tem seu
lado livre de se expressar
na música, eles decidiram.
Eu vim de uma infância muito sofrida, nunca tive algo,
sempre tive que trabalhar
cedo. Meu primeiro emprego foi entregando água.
Graças a Deus, a gente começou com uma brincadeira e deu certo. Nós não vamos largar o grupo porque
nos amamos. Não estamos
ali só para cantar. Quando
as pessoas se amam, tudo
fica mais favorável e acontece”, comentou.
A cada semana, mais
MCs e simpatizantes do
rap comparecem ao local. A organizadora do
evento, Sarah Rodriguez,
falou da gratidão a todos
que fizeram acontecer
este encontro.
“O momento mais marcante foi quando eu percebi que a Roda De Rima 013
estava caminhando organicamente sozinha. As pessoas se encontram, trazem
seus instrumentos, suas letras, poesias, vozes. Cada
quinta-feira à noite é única.
Eu me sinto muito grata de
ter encontrado tantas pessoas com o mesmo intuito:
fazer, curtir e apresentar
música de qualidade. Estamos em crescente estado
de evolução cultural e social. Pessoas de diversas
LUCAS SANTOS
MC Ne-Green e Thiago Baccarat: incentivadores do rap
cidades e países já passa- o mestre de cerimônias do
ram por aqui”, afirmou.
Guarujá ganhou pela terceira vez e comentou: “Eu
Batalha do Bonde
já vinha me preparando
É na cidade de Santos nas últimas semanas, toque acontece também um dos os dias, pensando em
dos eventos que vem ga- temas que fossem comennhando os rappers. A ter- tados. Muita alegria ganhar
ceira Batalha do Bonde mais um prêmio fazendo o
aconteceu em abril na Pra- que amo. Sonho um dia viça dos Andradas, no Cen- ver apenas fazendo minha
tro, onde cerca de 100 pes- paixão, o rap”.
soas assistiram aos duelos.
O evento teve a presenEm forma classificatória, ça da rapper Sara Donaos rappers se enfrentaram to, que saiu de São Carem melhor de três pontos, los, interior paulista, para
cantando rima improvisada abrir o evento. A cantora
sobre temas como Terceira vive apenas da música, diGuerra Mundial, Petrobras, ferente de muitos rappers
Maioridade Penal, Dilma, que ainda estão em busracismo, entre outros. Per- ca deste sonho. Sara fasistindo o empate em um a lou sobre a força feminina
um, a última batalha era de- neste estilo musical. Ela
finida em “sangue”, quando afirmou já ter sofrido preum faz rima tirando sarro conceito machista.
do outro, sem preconceito.
“A gente sabe como é
O vencedor foi o MC Fá- complicado o movimenbio Araújo Filho, conhecido to. A gente vem de longe
como Ilhados. Com 20 anos, para fortalecer mesmo.
Tem que ser ‘resistente. A
ideia é essa mesmo, fortalecer ‘pras mina ver’ que
têm mulher fazendo rap. As
meninas precisam ter mais
representatividade. Já sofri
mais machismo mesmo. Se
chegava em algum lugar,
achavam que eu era mina
de algum cara. Os caras
olhavam e desacreditavam
e depois chegavam e falavam ‘nossa, da hora, legal’.
Efeito dominó
A intenção das batalhas
é alavancar o movimento
cultural na região. Segundo o MC Ne-Green, um dos
organizadores, é prazeroso ver o resultado e espera
gerar um ‘efeito dominó’.
“O movimento é para
todo mundo. É muito da
hora ver a molecada aí, independente de cor, e tal.
É tudo mérito deles. Isso
é tudo por amor e para
incentivar outro a querer
fazer também. É como se
fosse um efeito dominó,
um vê e leva a outros lugares e assim proliferar o
‘bagulho’ na Baixada. Um
dos meus sonhos é que
a mensagem entre na cabeça deles e que saibam
enxergar o que acontece a
sua volta. Nunca fechar os
olhos”, afirmou.
Criado nos Estados Unidos, o rap é um gênero
musical criado pelos negros e chegou ao Brasil na
década de 80.
Apesar da maioria dos
músicos ser homens negros, no litoral há uma grande mistura e o preconceito
praticamente não existe
entre eles. O objetivo é que
a sociedade também aceite esta expressão cultural,
que tem atraído cada vez
mais gente.
rock
Banda Zimbra prepara novo álbum para 2015
Eder Traskini
“Esse disco novo vai vir
para quebrar a banca, anota aí!”. As palavras foram
colocadas na rede social
de Rafael Costa, vocalista
da banda Zimbra. Depois
de dois EPs, um CD e vários prêmios, os santistas
planejam lançar o segundo
disco no segundo semestre
deste ano. Antes disso, a
banda pretende lançar um
single - que estará presente
no novo álbum – diretamente no Youtube, utilizando
um lyric vídeo (clipe com a
letra da música).
Formada em 2011, a
Zimbra foi criada ainda na
escola, quando se chamava Panorama. “Vimos que
existiam outras bandas
com esse nome e, para
evitar problemas, resolvemos mudar”, conta Rafael Costa. Vitor Fernandes
(guitarra), Guilherme Goes
(baixo) e Pedro Henrique
(bateria) completam o grupo. A palavra Zimbra deriva do indígena e significa
blablablablá. Os músicos a
escolheram porque representa bem seus motivos.
No final do ano passado, a banda venceu duas
categorias do prêmio Rock
Show: EP do Ano (com o EP
Mocado) e Aposta Nacional
2015. O prêmio não poderia
estar mais certo. Em 2013,
a banda ficou entre as 20
finalistas – escolhidas por
sites especializados – de
um concurso online que escolheria uma banda para
tocar no Rock in Rio. Foram
mais de 1200 participantes.
Mas, como já previa o
prêmio, o ano da banda era
mesmo 2015. Isso se confirmou quando a Zimbra
venceu o concurso Temos
Vagas, da Rádio 89 FM, da
Capital, que selecionava
uma banda independente para se apresentar no
Lollapalooza. Mais do que
isso, a banda santista abriu
o festival. “Minha namorada ligou falando que havíamos vencido o concurso.
Não acreditei. Disse que
ela estava se confundindo. Mas, da forma como
ela falava, comecei a crer.
Foi então que liguei para
os outros dois parceiros e
contei. Ninguém imaginava. Era um sonho se tornando realidade”.
O novo CD ainda não
tem nome, assim como nenhuma de suas músicas,.
Entretanto, Rafael Costa
garante que todas já estão
escritas. “Nomear as músicas é a parte mais difícil.
Escrevo sempre a letra primeiro e deixo o nome por
último. Música é como um
filho, depois que você dá o
nome todos vão chamá-la
daquele jeito”, pontua.
Costa evitou estipular
uma data específica, mas
garantiu que o álbum chegará no segundo semestre.
Agora, aos fãs da banda, o
que resta é esperar e pedir,
como diz a letra de um dos
sucessos da banda: “Tenta
ser breve por nós!”
PRIMEIRO TEXTO
JUNHO DE 2015
19
literatura
Academia Peruibense de
Letras: a escrita de um sonho
Após 10 anos de fundação, a Academia Peruibense de Letras coleciona diversas histórias e trabalhos de sucesso
AMANDA OLIVEIRA
Amanda Oliveira
“Um grupo de pessoas
que gostam de cultura, literatura, teatro e artes plásticas se reuniu exatamente
há dez anos e alguns meses, e resolvemos fundar
a Academia Peruibense de
Letras”. É dessa forma que
a fundadora e presidente
em exercício Eugenia Flavian define o nascimento
da APLetras, como o grupo
é conhecido.
Foi no dia 21 de novembro
de 2004 que um grupo de intelectuais de Peruíbe assinou
a Carta Constitutiva da Academia Peruibense de Letras.
Essa foi uma segunda tentativa de fundar a instituição. No
ano de 1995, foi criada a Oficina Cultural Tom Jobim, um
projeto que fazia trabalhos
semelhantes, que funcionou
durante cinco anos. Mas,
sem recursos, suas atividades tiveram de ser encerradas. Foi, então, que em 2004
nasceu a organização, a qual
completou no ano passado
10 anos de existência.
A APLetras é uma associação sem fins lucrativos, mas
tem todos os registros legais
de uma instituição. Ela segue
o estatuto da Academia Bra-
Critérios de seleção
Para um escritor ser
aceito na Academia Peruibense de Letras, precisa atender a alguns requisitos:
•Ser brasileiro nato ou
naturalizado;
•Ter mais de 30 anos de
idade;
•Residir em Peruíbe há
mais de três anos;
•Ter obra literária escrita,
publicada ou não.
A sede da APLetras
fica localizada na Av. Padre Anchieta, nº 4297,
Peruíbe.
Contatos:
Facebook: www.facebook.com/AcademiaPeruibensedeLetras
Fundadora e Presidente da APLetras, Eugenia Flavian destaca o papel da entidade fundada em 2004
sileira de Letras, mas tem o
seu próprio.
A academia tem no total 40
cadeiras, das quais 23 estão
ocupadas por acadêmicos
efetivos. Ela também conta
com oito acadêmicos correspondentes, ou seja, pessoas
que deixaram de morar em
Peruíbe, mas que ainda querem contribuir com seus trabalhos. Estes têm também a
função de divulgar a APLetras
nas cidades onde residem.
Todo ano a APLetras abre
inscrições para a entrada de
novos acadêmicos. Quando todas as cadeiras forem preenchidas, ninguém
mais será aceito, a não ser
que alguém venha a falecer. Segundo a presidente
Eugenia Flavian, “todo ano
entram, três ou quatro (au-
Blog:
http://apeletras.
blogspot.com.br/
tores) novos. Mas, também
saem, por alguma razão. E
o lugar fica vago”. A presidente conta que, desde sua
fundação, a academia nunca preencheu as 40 cadeiras. Em 10 anos, muitos saíram e três faleceram.
dança
ONG Vida Plena procura
patrocínio para
manter projeto social
Ana Claudia
A ONG Vida Plena,
localizada
no
Bairro
Santa Rosa, em Guarujá,
disponibiliza aulas gratuitas
e pagas de ballet dadas pela
professora Rebeca Lima. O
intuito desse projeto social,
criado no final de 2013, é
ajudar as crianças sem
condições financeiras para
que possam praticar algum
esporte contemporâneo,
além
de
ensinar
a
importância da arte que o
ballet proporciona para a
sociedade.
Hoje, são 25 crianças
e adolescentes e dois
adultos atendidos. Deste
montante,15
alunos
pagam pelo serviço e a
outra parte assiste as
aulas gratuitamente.
Segundo a professora,
a ONG não conta com
qualquer ajuda de custo.
No entanto, está à procura
de patrocínios, inclusive
da Prefeitura de Guarujá,
o que ainda não acontece,
por conta das burocracias
necessárias para conseguir
a ajuda. No momento, o
espaço se custeia apenas
com as doações vindas da
população, que sentem a
empatia pela causa.
De início, as aulas eram
totalmente gratuitas e feitas
por meio de cadastros,
porém a procura foi pouca.
Portanto, eles abriram
vagas com o pagamento
de uma ajuda de custo para
a manutenção da ONG.
“Não temos fins lucrativos.
O único valor cobrado
(R$50,00) é revertido
para investimento na sala.
Já pintamos, colocamos
a barra e também o
espelho. E aos poucos,
vamos reformando tudo”,
diz a professora.
Rebeca
disse
que
as roupas de algumas
meninas também foram
compradas com o dinheiro
Ana Claudia
ONG Vida Plena, de Guarujá, proporciona aulas de ballet para quem não tem condições
cobrado
pelos
nãocadastrados. “As mães
que fizeram o cadastro na
ONG e não tem condições
de pagar também não
têm gastos. Por exemplo:
o uniforme de algumas
meninas, nós compramos
os tecidos e mandamos
para uma costureira, que
não cobrou pelo serviço.
Esse é o intuito que a ONG
proporciona”, comenta.
As aulas seguem de
segunda a quinta-feira
em horários alternativos.
Funciona de segunda e
quarta para alunos de 7
a 14 anos, das 19h às 20
horas; terças e quintas, dos
7 aos 14 anos, no mesmo
horário, e no mesmo dia
há a turma adulta, das 20h
às 21h.
20
esportes
PRIMEIRO TEXTO
MAIO DE 2015
Nem tudo são gols no
mundo do futebol
Dificuldades e obstáculos são frequentes no sonho de se tornar um jogador de futebol
Juliana Villela
Juliana Villela
Glória, fama, dinheiro e
uma sempre comovente
história de superação de
vida. Essas são as únicas
palavras que vêm à cabeça quando aparece na
TV um jogador bem sucedido de futebol. Porém,
ninguém lembra sobre os
impedimentos e faltas que
esses atletas enfrentam
até chegarem ao tão famoso balançar das redes.
É essencial que o treinamento comece o mais
cedo possível, como é o
caso de Kaue Ramos, 20
anos, jogador profissional
de futebol que diz ter entrado na vida dos gramados com apenas 4 anos.
‘’É bom começar quando
criança, que é a hora de
aprender, porque quando chega no profissional,
já tem que estar pronto’’,
revela o atleta que aos 6
anos já competia em campeonatos de futebol e hoje
joga pelo São Caetano.
Para ir em busca desse
sonho tão comum entre os
meninos brasileiros, é necessário passar por diversos tipos de seleções, as
conhecidas ‘’peneiras’’, as
quais os índices de apro-
Kaue Ramos, 20 anos, jogador do São Caetano, que iniciou nos gramados aos quatro anos
vações são mínimos, chegando ao percentual de
0,8% em média por clube.
Ou seja, de cada 100 atletas pelo menos 1 passa
no teste.
Mesmo quando aprovados e selecionados,
oficializando-se como jogadores profissionais, os
atletas ainda não podem
desfrutar das regalias dos
craques conhecidos e idolatrados, muitas vezes.
Afinal, 82% dos jogado-
res de futebol do Brasil
ganham até dois salários
mínimos (R$1.564) e, somente 2% dos jogadores,
recebem uma quantia superior a 20 salários mínimos por mês.
O ex jogador do Santos
e do São Paulo, atual técnico do Jabaquara, Axel
Rodrigues, relata que
não há segredo para se
destacar nos campos: ‘’É
preciso muito sacrifício,
esforço, determinação e
CMTB – Confederação de
Muay Thai Brasileira, sediada na cidade de Campinas, no interior paulista,
e a CBMT – Confederação
Brasileira de Muay Thai, do
Rio de Janeiro. Ambas divulgam em seus sites que
possuem o intuito de organizar eventos e ajudar no
crescimento e organização
do esporte no Brasil.
Segundo o mestre Fabiano Castanho, dono da
academia de Muay Thai
Gorila Team é grande a dificuldade para ganhar reconhecimento e patrocínios
visando o crescimento no
esporte.Afinal, muitos confundem o Muay Thai com o
MMA (do inglês Mixed Martial Arts – Artes Marciais
Mistas), esporte bem mais
badalado e midiático e que
usa as técnicas do Muay
Thai junto com o Jiu-Jitsu.
Castanho conta que a
época quando lutava, nos
anos 90, e até mesmo na
atualidade é difícil conseguir algum patrocínio. Até
mesmo para pagar uma
taxa de inscrição para lutar, que, na maioria das ve-
zes, custa cerca de R$ 30.
Ele diz que muitas vezes
deixou de lutar e ir para
eventos importantes que
eram distantes por falta de
dinheiro e porque não conseguia ajuda financeira. O
mestre diz que para conseguir o mínimo de apoio,
às vezes, precisou se humilhar para obter recursos.
Os atletas Danilo Pereira, 21 anos, e Guilherme
Rodrigues, 17 anos estão
no esporte há quatro anos
e até hoje não conseguiram uma ajuda financeira. Guilherme conta que
no começo o mais difícil
para ele era pagar a mensalidade, motivo o qual o
deixava desanimado, mas
hoje em dia ele tem o incentivo e a ajuda de Castanho, que o deixa fazer
aula na academia sem pagar mensalidade.
Os três dão conselhos
às novas pessoas que
estão tentando crescer
no esporte. Eles dizem
para não desistir, pois por
mais que a caminhada
seja longa, no final sempre vale a pena.
renúncias’’, diz ele que
também revela o impacto
que o futebol teve em sua
vida: ‘’Mudou tudo o que
você pode imaginar. Culturalmente, pessoalmente
e até mesmo psicologicamente. Mudou toda minha
estrutura como pessoa
que sou’’.
Enfrentando problemas
muito comuns na área do
futebol, como os empresários aproveitadores, alojamentos em péssimas con-
dições, clubes com pouco
capital que fazem pagamentos atrasados (quando pagam) e diversos outros problemas, os jovens
atletas não pensam em
desistir, pois seus objetivos vão muito além de todos os obstáculos. Muitos
em busca de tirar a família
da miséria, outros seguindo o que consideram um
dom que possuem, mas
sempre com o mesmo sonho: se tornar um ícone
do futebol brasileiro.
Segundo o jogador Cassiano Morelli, 20 anos, que
já passou por alojamentos de diversos clubes, os
quais faltavam até funcionários para preparação da
alimentação dos atletas, o
futebol hoje em dia é muito
mais influência e dinheiro
do que talento por si só,
dificultando ainda mais a
jornada daqueles que têm
menos condições financeiras. ‘’Se eu soubesse
que há tanta máfia e maldade no ramo do futebol,
eu pensaria duas vezes
antes de escolher seguir
essa área’’, confessa o
atualmente desempregado jogador que começou a
jogar com apenas 8 anos.
de idade.
Luta para crescer e ser
reconhecido no Muay Thai
Alessandra Oliveira
Esporte tão popular na
Tailândia quanto o futebol
no Brasil, o Muay Thai faz
do país a maior potência
da modalidade no mundo.
A arte inclui golpes de combate em pé e é conhecida
como “a arte das 8 armas”
pelo uso combinado de punhos, cotovelos, joelhos,
canelas e pés.
O esporte ajuda a melhorar o condicionamento físico e a concentração da pessoa. Em razão
da divulgação cada vez
maior na mídia, a modalidade tem atraído cada
vez mais adeptos. Todo
golpe do Muay Thai tem o
objetivo de acabar com a
luta (knock out).
Utilizam-se socos parecidos com os do boxe, golpes com as ‘canelas e pés’,
típicos desta luta, e também os joelhos e cotovelos. Apesar do crescimento
do interesse, inclusive da
mídia, o esporte ainda sofre com a falta de apoio. No
Brasil, existem duas confederações de Muay Thai, a
ALESSANDRA OLIVEIRA
Atleta Danilo Pereira e Mestre Fabiano Castanho (“Gorila”)
JUNHO DE 2015
PRIMEIRO TEXTO
21
fim das dívidas?
Governo lança medida para equilibrar
financeiramente clubes de futebol
A presidente Dilma Rousseff assinou a MP 671, que visa auxiliar os clubes a quitar suas dívidas fiscais
Andherson Oliveira
A Medida Provisória do
Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do
Futebol Brasileiro (Profut)
é uma nova maneira criada pelo Governo Federal
para equilibrar financeiramente os clubes. Nos últimos tempos, com o capital
arrecadado, essas entidades romperam a fronteira
do esporte e, hoje, se tornaram grandes empresas,
que mexem diretamente
com a economia do País.
Mas que, nem sempre, têm
suas finanças demonstradas de forma organizada e
transparente. Para muitos,
essa gestão é considerada
uma caixa-preta.
Não é de hoje que o futebol é o esporte mais rentável e, com o passar dos
anos, o volume de dinheiro injetado cresceu absurdamente. As formas de se
obter receitas se multiplicaram e se renovaram. Os
espaços para o anúncio de
patrocínios aumentaram.
Os novos estádios, na
grande maioria, viraram
‘arenas multiuso’ que,
além de partidas, comportam shows. Na grande
maioria, possuem prédios
anexos, com instalações
como shoppings, hotéis e
centros de convenções.
Mesmo os clubes que
não aderiram às arenas
adaptaram seus estádios
à realidade do futebol moderno, e assim como os
atuais gigantes do futebol
brasileiro, também são
acusados por seus torcedores de se elitizarem.
A consequência disso é
que, nos grandes centros,
justamente onde o esporte é mais popular, hoje em
dia há poucos estádios,
com arquibancadas apenas de concreto, sem assentos, assim como era no
passado recente.
Olhar marqueteiro
Outro ponto bastante visado pelas gestões que
estão à frente das maiores
marcas (clubes) da área é
o do Marketing. A cada ano,
este departamento tem se
tornado valiosíssimo dentro das entidades, por ser
o carro-chefe das arrecadações no futebol. Hoje em
dia, os clubes usam essa
técnica para aproximar-se
dos torcedores e, com isso,
alavancar suas receitas.
Os investimentos em camisas personalizadas, brindes, promoções e até em
Reprodução: BBC Brasil
pulares (Flamengo, Corinthians e São Paulo). Atualmente, existe uma espécie
de abismo, que separa os
clubes que mais ganham
da maioria.
Esta nova forma de negociação, implantada no
futebol brasileiro, deixou
descontentes todos os outros clubes, que tiveram o
número de jogos de suas
respectivas equipes transmitidos em rede reduzidos
drasticamente. Isso também fez com que a busca
por patrocínios se tornasse
ainda mais acirrada e demorada. A maior prova disto é que, até o início deste
ano, duas das quatro potências do Estado de São
Presidente Dilma Rousseff, membros do Bom Senso FC e políticos na assinatura da MP 671
Paulo (Santos e São Paulo)
Reprodução: Câmara Legislativa
estão sem patrocínio master (maior cota).
A negociação independente das cotas de TV fez
com que alguns cartolas
cometessem loucuras, antecipando o pagamento
destinado aos seus clubes.
Uma simples forma de “tapar buracos” financeiros.
Resultado: ao invés de
suas dívidas diminuírem,
aumentaram e hoje as entidades estão absolutamente endividadas.
Outra razão para o aumento das dívidas dos
clubes são planejamentos
sucessivos abortados em
plena implementação e
Dirigentes da CBF com presidente da Câmara, Eduardo Cunha
que geram ano a ano muiprodutos alimentícios au- da. ‘’O Santos tem cerca de trato de cada um, deixou de tas demissões, além de
mentaram muito e têm sido sete milhões de torcedores, existir, o que fez com que multas rescisórias.
uma das saídas que esses está entre os que têm mais cada clube tivesse que neclubes têm tido para desa- torcida e, mesmo assim, gociar seu próprio contrato. MP 671
Como forma de resolver
pertar um pouco o laço que passa dificuldades financeiA expectativa inicial era
se encontra em volta da ras. Imagina, então, a gran- a de que essa alternativa essa situação e melhorar a
garganta, com o endivida- de maioria, que não chega seria a salvação. Mas, com saúde financeira dos clumento. Alguns como Inter- a ter milhares de torcedo- o passar do tempo, o novo bes, o Governo Federal,
nacional, Palmeiras e Grê- res. Como fazem para es- acordo acabou por aumen- por intermédio da medida
mio, através de ações de tar em dia com suas contas tar a desigualdade entre os Provisória 671, definiu uma
marketing, como comerciais e aos mesmo tempo gerar clubes, pois a TV Globo, renogociação, permitindo
televisivos, descontos em capital para se manter fu- principal negociadora dos que os clubes façam o pasupermercados e uma série turamente ? É difícil, né?!”, direitos, entendeu que de- gamento das dívidas sem
de opções de lazer, conse- pergunta Alemão.
veria pagar o que achasse deixar de obter receitas e inguiram aumentar suas renecessário para cada agre- vestir no futebol. O objetivo
ceitas, com o aumento do Cotas de Televisão
miação. Isso fez com que maior é fazer com o esporte
número de torcedores, que
Além das formas mais surgisse um ‘monopólio’ se reerga e o Brasil volte a
resolveram se aliar às en- tradicionais de captar recei- entre emissora (TV Globo) figurar entre as maiores potidades e participar de pro- ta, nos anos mais recentes e os três clubes mais po- tências do mundo da bola.
gramas de Sócio Torcedor. surgiu um formato novo,
O conselheiro e ex-diretor que a princípio os clubes
do Santos Futebol Clube, enxergavam como o melhor
Alberto Francisco, conheci- jeito de aumentar mais aindo como Alemão reconhe- da os seus ganhos.
ce o quanto a receita obtida
Eis que surgem as cotas
pelo marketing é importan- de transmissão, que são
te. Clubes como o Santos, valores negociados e pagos
que não têm o programa de por emissoras para os clusócio torcedor como recei- bes de futebol. Com isso,
ta, têm maiores dificuldades obtém-se exclusividade nas
para diminuir suas dívidas, transmissões das partidas.
que aumentam ano a ano.
Em 2011 o Clube dos
Segundo Alemão, para 13, que era responsável
clubes com esse perfil, uma por fazer a mediação entre
nova forma de refinanciar clubes, federações e emisas dívidas é muito bem-vin- soras, e por negociar o con-