II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso

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II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso
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II Congresso Nacional de Formação de Professores
XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores
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Trabalho Completo
PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA NO ENSINO SUPERIOR: CONTRIBUIÇÕES PARA
FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO PEDAGOGO NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Maria Betanea Platzer
Eixo 1 - Formação inicial de professores para a educação básica
- Relato de Experiência - Apresentação Oral
Como professora universitária há mais de uma década, uma de minhas preocupações
pauta-se na formação de graduandos, futuros pedagogos, que dominem o código escrito de
modo competente. Assim, neste trabalho, apresento experiências de práticas de leitura e
escrita desenvolvidas com e pela estudante Luíza, graduanda em Pedagogia, que no ano
letivo de 2013 cursou a Disciplina de Educação de Jovens e Adultos sob minha
responsabilidade, numa instituição privada, localizada no Estado de São Paulo. Após
devolutiva de atividade avaliativa, de minhas observações em sala de aula e do relato
apresentado pela educanda sobre suas dificuldades em relação ao domínio do código
escrito, propus-lhe que realizasse, de forma sistematizada, leituras de diversos gêneros
textuais, registrando suas impressões sobre as obras lidas. A partir daí, realizo empréstimos
de livros quinzenalmente para a aluna, acompanhando seus registros escritos. Em
conversas sobre as atividades desenvolvidas, a aluna destaca melhoria na escrita,
conseguindo registrar com maior desenvoltura suas ideias e ressalta a realização de leituras
de modo mais assíduo. Também noto uma preocupação maior de Luíza com a qualidade de
suas produções textuais (conteúdo e forma). Este relato revela a postura de uma graduanda
envolvida com seu processo de formação profissional que lhe garanta, entre outras
possibilidades, experiências produtivas de leitura e escrita. Consideramos que as atividades
descritas deverão ser intensificadas nos cursos de formação inicial e que práticas do uso
com propriedade do código escrito deverão ser contínuas na atuação de professores, pois
ler, escrever e interpretar textos são práticas culturais que acompanham o trabalho docente
diário. Palavras-chave: Formação do Pedagogo. Leitura e Escrita. Docência.
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Ficha Catalográfica
PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA NO ENSINO SUPERIOR: CONTRIBUIÇÕES
PARA FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO PEDAGOGO NA EDUCAÇÃO
BÁSICA
Maria Betanea Platzer. Centro Universitário de Araraquara – UNIARA
1. Considerações Iniciais
O pedagogo, na atualidade, assume vários papéis profissionais e, entre eles,
destacamos sua função como professor da Educação Infantil, dos anos iniciais do Ensino
Fundamental e, também, da Educação de Jovens e Adultos (primeiro segmento). Em
suas ações docentes, deverá responsabilizar-se pelo processo de ensino da leitura e da
escrita aos seus alunos. Além de diretamente alfabetizar alunos que se encontram nesse
processo, fica evidente que, em sua docência, deverá proporcionar continuamente a
todos os educandos práticas significativas de leitura e escrita.
Diante desse contexto, consideramos que os cursos de graduação em Pedagogia
deverão contribuir para a formação leitora e escritora dos estudantes que, após
formados, assumirão, entre outras responsabilidades, a tarefa de alfabetizar e letrar
alunos que frequentam a educação básica.
Vários estudiosos, entre os quais Klebis (2008), Silva (1995), Geraldi (1999),
Souza (1996) e Yasuda (1996), apontam problemas no processo de ensino e
aprendizagem de alunos que frequentam as escolas de educação básica, sobretudo os
anos iniciais do Ensino Fundamental.
Há críticas em relação ao trabalho do professor responsável pelo processo inicial
e continuado de alfabetização e letramento nas escolas. As críticas estão associadas ao
não domínio de estratégias didático-metodológicas adequadas, à pouca familiarização
dos educadores com a diversidade de gêneros textuais e, ainda, a problemas em relação
ao próprio domínio da escrita por esses profissionais. Podemos afirmar que são vários os
fatores que envolvem o processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita no
sentido de práticas educativas bem-sucedidas, devendo considerar-se nesse debate
aspectos relacionados, entre outras questões, à formação de professores.
Estudiosos como Lima et al. (2012) e Rezende (2009) apresentam reflexões sobre
o processo de formação de futuros licenciados que ensinarão seus alunos a ler e a
escrever. Conforme pontuam Suba e Rezende (2012, p.65), autoras que também
abordam essa temática:
[...] A formação inicial de Pedagogos visa ao desenvolvimento dos
futuros professores, de modo a assegurar uma preparação condizente
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com as funções profissionais que o professor deverá desempenhar,
dentre elas alfabetizar e letrar as crianças. [...].
Nesse contexto, são pontuadas discussões em relação a dificuldades que
graduandos, futuros professores, apresentam em relação ao domínio da leitura e da
escrita.
Na condição de professora universitária em cursos de Pedagogia há mais de uma
década em instituições privadas e públicas, minha preocupação pauta-se, entre outras
responsabilidades, na formação de graduandos que dominem a leitura e a escrita de
forma competente, sendo capazes de ler, escrever e interpretar os diferentes textos que
circulam socialmente e que tenham domínio da norma culta de nossa língua.
Ao trabalhar com os conteúdos específicos nas Disciplinas que ministro, as
práticas que desenvolvo em sala de aula também se direcionam para os processos de
leitura e da escrita dos cursistas. Há momentos das aulas que são dedicados a leituras
que realizo para e com os estudantes de diferentes gêneros textuais, tais como: poesias,
contos, literatura de cordel, jornais e programação de eventos na área de educação. Os
alunos também são convidados, por exemplo, a escrever na lousa recados cotidianos,
informações sobre eventos que julgam interessantes para serem partilhados com os
colegas, entre outras tarefas.
Nas avaliações pontuais que os estudantes realizam, enfatizo claramente os
critérios referentes ao domínio do código escrito, visto que, no decorrer das aulas,
procuro sempre chamar a atenção dos graduandos para o uso da leitura e da escrita em
diferentes situações (informais e formais).
Com base nas considerações apresentadas e, especialmente, numa situação
vivenciada a partir da devolutiva de uma avaliação escrita a estudantes matriculados na
Disciplina de Educação de Jovens e Adultos, no ano letivo de 2013, apresento neste
trabalho algumas reflexões sobre o significado de práticas de leitura e escrita na
formação dos graduandos em Pedagogia e que se configuram no relato de experiência
descrito nas próximas linhas.
2. Relato de experiência: a leitura e a escrita como foco central de reflexões e ações
Uma das discussões que consideramos relevante, conforme pontuado, é a
formação do professor como leitor e escritor, dado que deverá formar, em sua futura
atuação, leitores e escritores no sentido de domínio do código escrito para o seu uso nas
diferentes situações sociais.
No primeiro bimestre do ano letivo de 2013, os 45 alunos do 3º ano do curso de
Pedagogia oferecido por uma instituição privada, localizada no Estado de São Paulo,
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realizaram, como uma das atividades solicitadas, uma avaliação em que deveriam,
individualmente, discorrer sobre algumas temáticas que foram abordadas no decorrer das
aulas do bimestre. Pautando-me na concepção defendida por Hoffmann (2001), acerca
da avaliação como reflexão transformada em ação; ação que, por sua vez, impulsiona a
novas reflexões, ao realizar a leitura e a análise dos textos redigidos pelos alunos,
procurei estabelecer uma relação dialógica.
Assim, fiz diversas anotações pontuando aspectos positivos e outras várias
indicando problemas na elaboração dos textos referentes a pontuação, ortografia,
concordâncias verbal e nominal e, ainda, a aspectos ligados à coesão e à coerência,
prejudicando a estrutura do texto. Em alguns parágrafos redigidos pelos alunos, também
ficou evidente a pouca familiarização com os assuntos abordados, indicando, assim,
problemas referentes ao domínio de conteúdo.
Após assumir o papel de leitora dos textos, interagindo com os estudantes por
meio de registros escritos, planejei a aula para as devolutivas. Ao iniciar a aula, fiz
comentários gerais sobre os textos lidos e enfatizei os pontos positivos e os aspectos
negativos observados. Vários alunos manifestavam a preocupação, sobretudo, com a
nota e, no decorrer de minha explanação, procurei enfatizar, como já havia feito antes da
aplicação da atividade, que havia uma preocupação com o processo da formação de
graduandos, sobretudo considerando que serão alfabetizadores e responsáveis por
inúmeras práticas de leitura e escrita de seus futuros alunos.
Assim que entreguei as atividades, num primeiro momento, a atenção de um
modo geral foi para a nota e, mais uma vez, solicitei que cada graduando fizesse a leitura
de sua atividade e se centrasse nos apontamentos realizados por mim para, a partir daí,
conversamos de forma mais direcionada sobre a atividade.
Na aula seguinte, organizei a turma em pequenos grupos (por afinidades) e,
então,
conversamos
sobre
a
atividade
e,
nesse
momento,
também
pontuei
individualmente aspectos que mereciam ser revistos.
Nas aulas seguintes, foi possível observar que a maioria dos alunos valorizou
essa dinâmica de correção, destacando que esse diálogo entre professor e alunos é
muito importante para que possam refletir sobre suas dificuldades no conteúdo em
questão, bem como sobre aspectos relacionados ao domínio da leitura e da escrita. Vale
destacar que foram vários os alunos que se sentiram à vontade para a manifestação de
suas dificuldades, desde a educação básica, como leitores, e também suas dificuldades
no momento de redigir um texto escrito.
As situações descritas, sem dúvidas, tornam-se significativas para reflexões
contínuas sobre a formação de alunos na educação básica e o perfil de alunos de cursos
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de licenciatura, em especial, Pedagogia, corroborando as pesquisas e os debates
realizados por inúmeros estudiosos acerca das referidas temáticas, conforme exposto.
Posterior aos procedimentos de devolutiva descritos, ao final de uma das aulas
ministradas para a turma, uma aluna colocou sob a minha mesa um bilhete e pediu para
que o lesse calmamente em minha residência. Nele continha o seguinte dizer:
“Professora, por favor, me ajude! Eu tenho muitas dificuldades para escrever. Eu gosto
de ler, mas leio muito pouco. Preciso de ajuda, pois serei professora”.
Ao ler o bilhete durante o trajeto para a minha casa, fiquei bastante surpresa com
o pedido de “socorro” e, naquele momento, minha mente direcionou-se para a canção
Sangue Latino (Ney Matogrosso), especialmente a frase: “Um grito, um desabafo”. Ao
mesmo tempo em que notava as dificuldades expostas pela aluna, senti-me bastante
motivada como educadora. Assim, fiquei refletindo sobre possibilidades para, de alguma
maneira, tentar contribuir para a formação leitora e escritora dessa aluna de modo mais
direcionado, para além das práticas que já procuro realizar em salas de aula.
Na semana seguinte, solicitei que conversássemos ao final da aula e, então,
valorizei a atitude da aluna no que se refere ao reconhecimento de suas dificuldades e,
ao mesmo tempo, à postura de solicitar alternativas mais pontuais para que o problema
pudesse ser amenizado. Consideramos esse processo de conscientização de suma
importância no processo de formação de professores.
Luíza¹, a aluna que se constitui como o cerne do presente relato de experiência,
demostrava em suas práticas de escrita vários problemas em relação ao domínio do
código. Ao mesmo tempo, destacava-se pela sua presença assídua nas aulas e pela
atenção aos conteúdos ministrados.
Propus à aluna, a leitura de um livro de literatura infantojuvenil como forma de
iniciarmos um trabalho mais sistematizado com a leitura e a escrita, paralelo às aulas
ministradas. Afirmo que o graduando em Pedagogia deverá ter contato com diferentes
gêneros textuais, e a literatura infantojuvenil é uma das possibilidades de aproximação
dos educandos com práticas de leitura e escrita que lhes sejam significativas. A intenção,
ao escolher uma obra dessa natureza, era motivar a aluna a realizar uma leitura literária
e, ao mesmo tempo, instrumentalizá-la com possível gênero que poderá trabalhar em sua
futura atuação como docente.
Na semana seguinte, ao final da aula, a aluna pediu para conversar comigo sobre
o livro lido, e seu relato fortaleceu nossa parceria, estabelecendo, assim, que
desenvolveríamos atividades direcionadas para práticas de leitura e escrita. Ao ler o livro
proposto, a estudante relatou que a obra foi de suma importância para que ela pudesse
rever algumas atitudes de sua própria vida. Peppa é o título da obra e também o nome da
personagem principal da história, de autoria de Rando (2009). A garota não está satisfeita
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com os cachos de seu cabelo e resolve alisá-los. A partir daí, ela recebe da cabeleireira
uma lista de atividades que não deve realizar com o intuito de manter seus cabelos lisos.
Os dias passam e Peppa observa que não pode mais realizar inúmeras atividades, entre
as quais, a de nadar. Cansada dessa situação, a garota pula na água, seus cabelos
voltam a ficar cacheados e, ao mesmo tempo, ela volta a sorrir.
Luíza, a graduanda que deseja tornar-se leitora assídua e ampliar o domínio do
código escrito, afirma que, num primeiro momento, ao receber o livro, considerou que
aquela literatura não lhe faria sentido. Após a leitura da obra, ligou para sua cabeleireira,
desmarcando a progressiva que havia pensando em fazer em seus cabelos. Ainda,
afirmou o sentido que a leitura lhe trouxe para repensar práticas de sua vida cotidiana,
destacando valores e ideias.
Esse diálogo que estabelecemos com base na primeira obra indicada, fortaleceu o
objetivo da aluna em continuar realizando leituras de diferentes gêneros textuais e, ainda,
sugeri que registrasse por meio de um Diário de Bordo suas impressões sobre as obras
lidas.
Assim, estabelecemos a realização de leituras contínuas por mim indicadas,
registros no Diário de Bordo e conversas realizadas após as aulas ministradas
semanalmente na turma de Luíza.
Desde abril de 2013 até o presente momento, realizo indicação e empréstimos de
livros quinzenalmente para a aluna e acompanho seus registros escritos. Procuro discutir
oralmente com a graduanda sobre as leituras realizadas, trocamos impressões e
experiências e, ainda, realizo vários apontamentos em seus registros escritos, com intuito
de contribuir para a ampliação de seu domínio da leitura e da escrita, focando também
aspectos que envolvem a interpretação de textos.
Devo afirmar que seu relato acerca das impressões que obteve ao ler a primeira
obra indicada muito me motivou e intensificou meu objetivo de continuarmos envolvidas
na realização das atividades ao longo do ano letivo.
Entre as obras que já foram lidas por Luíza, destacamos: Histórias em Quadrões 1
e 2 (SOUZA, 2010), Declaração Universal dos Direitos Humanos em Cordel (ALVES
2009), Se Eu Pudesse... Ler! (BENDALL-BRUNELLO; BENDALL-BRUNELLO, 2012);
Felpo Filva (FURNARI, 2006), A Vida Íntima de Laura (LISPECTOR, 2012),
Desenrolando a Língua (LY, 2011), O Carteiro Chegou (AHLBERG; AHLBERG, 2007), A
Menina que Bordava Bilhetes (GOMES, 2008), Sobre Ler e Escrever (QUEIRÓS, 2012);
Por que Eu Vou a Escola? (BRENIFIER, 2012), Contos e Lendas Afro-Brasileiros
(PRANDI, 2007) e Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século (MORICONI, 2001).
O acompanhamento de seus registros escritos no Diário de Bordo evidencia a
preocupação crescente da estudante no que se refere ao uso do código escrito.
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Geralmente, Luíza apresenta um breve resumo sobre cada obra lida e, em seguida, tece
comentários relacionados a suas impressões, pontuando aspectos que considera
positivos e também negativos em relação aos textos lidos. Há, ainda, uma preocupação
em ilustrar seus registros e, então, procura inserir imagens das obras lidas. Em seu Diário
de Bordo, são também destacados trechos que mais chamam a atenção da aluna e, para
tanto, utiliza-se de cores de esferográficas diferentes em alguns momentos da escrita.
Nos apontamentos que faço, procuro valorizar seus registros e dialogar com a
aluna, fazendo alguns questionamentos sobre os conteúdos abordados, bem como
sinalizando aspectos referentes ao domínio do código escrito.
Em algumas conversas, a aluna já destacou que está notando melhoria no
domínio da língua escrita, no sentido de conseguir registrar com maior desenvoltura suas
ideias (conteúdo e forma). Como educadora, também venho percebendo uma
preocupação maior de Luíza no momento de escrever, e isso fica evidente em seu Diário
de Bordo e também em atividades que realiza no decorrer da Disciplina.
Luíza conta-me que procura ler as obras indicadas quando está em casa e,
primeiramente, sozinha em seu quarto e em silêncio. Posteriormente, ela partilha as
leituras de algumas obras com seus familiares - marido e filho -, inclusive lendo para eles
e pedindo ajuda na interpretação de palavras e trechos que não compreende. Nesse
momento, seu filho ajuda-a a consultar o dicionário impresso.
Em um dos encontros que tivemos para conversar sobre as leituras e escritas
realizadas, a estudante pediu-me para ficar uma semana a mais com um dos livros que
lhe emprestei, porque seu filho que cursa o Ensino Fundamental gostaria de levar a obra
Felpo Filva (FURNARI, 2006) para sua professora apreciar a obra.
Além disso, Luíza conta-me que seu filho costuma ler vários livros que fazem
parte das atividades por ela realizadas e, conforme afirma: “Ler é uma ótima maneira de
compartilhar histórias e divertir-se com a família”.
Em estudo realizado com crianças e suas respectivas famílias acerca de suas
práticas e representação de leitura (PLATZER, 2009), observamos que as leituras estão
presentes em situações diversificadas no ambiente familiar e permitem a aproximação
entre as pessoas por meio de leituras partilhadas entre pais e filhos, avós e netos, irmãos
e primos. Nesse sentido, não é apenas um ato individual, solitário, de leitores com o
texto, mas cria e intensifica vínculos, carregados de afetividade. Assim, podemos afirmar
que a leitura é experimentada como forma de vínculo entre os leitores, permitindo-lhes
uma aproximação que envolve a afetividade.
Nas conversas com Luíza, também noto que as leituras indicadas extrapolam a
intenção inicial de nossas atividades - ampliação do domínio do código escrito -, uma vez
que fica evidente que práticas de leitura partilhadas intensificam os vínculos afetivos.
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Além disso, as atividades realizadas permitem trocas de experiências e ideias entre
educanda e educadora, pois, nesse o processo, nossas conversas sobre os materiais
lidos favorecem tais práticas.
Ainda, as obras lidas por Luíza, em alguns momentos, geram curiosidades entre
seus colegas de sala. Alguns deles pedem para que eu lhes empreste determinada obra
e, nessas situações, fica evidente o interesse dos graduandos pelas práticas de leitura e
escrita na universidade sobre diferentes gêneros textuais.
Cabe enfatizar que, concomitante às atividades que realizamos, Luíza também
participa de um Projeto de Leitura oferecido a todos os graduandos do curso de
Pedagogia e que, sem dúvida, contribui para ampliar e fortalecer suas práticas de leitura
e escrita como universitária.
3. Palavras finais
As experiências vivenciadas ao longo do ano letivo em relação a práticas de
leitura e escrita em sala de aula, conforme já pontuado, bem como as atividades
sistematizadas realizadas com a estudante Luíza, intensificam minhas estratégias
didático-metodológicas como professora universitária, responsável pela formação de
futuros professores que assumirão, entre outras atividades, a tarefa de ensinar seus
alunos a ler, escrever e interpretar textos na perspectiva da alfabetização e do
letramento.
As práticas contínuas de leitura e escrita no decorrer da formação do Pedagogo
certamente poderão contribuir para que sua formação e atuação profissional, em especial
como professor da educação básica, possa ser desenvolvida de forma significativa e
produtiva.
Apresentamos, neste trabalho, o relato de uma experiência que revela a postura
de uma educanda, futura pedagoga, preocupada com seu processo de formação
profissional que lhe garanta, entre outras possibilidades, experiências significativas de
leitura e escrita de diferentes gêneros textuais. Consideramos que essa formação deverá
ser contínua, uma vez que ler, escrever e interpretar textos são práticas culturais que
acompanham o trabalho cotidiano docente.
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Nota
¹. Por uma questão de ética, será preservada a identidade da participante deste estudo.
Assim, o nome apresentado é fictício.
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