Raízes no.010

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Raízes no.010
12 ‫ מתוך‬1 ‫עמוד‬
Shavei Israel
‫נשלח‬:
‫נושא‬:
11:21 2009 ‫ ינואר‬07 ‫יום רביעי‬
Raizes 010
Raízes
Ediç?o n°. 10
Primeira quinzena de Setembro 2008 Elul - 5768
Um Terremoto
Sionista
O Refinamento
dos Impulsos na
GuerraParashat Ki
Tetsê
Por: Michael Freund
Por: Rabino Eliahu
Birnbaum
O Mês de Elul
Médicos Judeus
Portugueses
Fugidos da
Inquisiç?o
Fonte:
www.mesilot.org
Por: Prof. Dr. Meraldo
Zisman
A Sabedoria dos
Provérbios
Talmúdicos
O Alfaiate
Menachem e o
Pogrom de 1506
em Lisboa
Fonte: Vis?o Judaica Julho 2008
Chodesh
Elul O Mês
da
Teshuvá Arrependimento
Por: Prof. Reuven
Faingold
Um Terremoto Sionista
Por: Michael Freund - Traduç?o: David Salgado
Caso tenhas prestado bem
atenç?o no domingo, dia 31 de
agosto, talvez tenhas escutado,
ou até mesmo, se estavas na
redondeza, tenhas sentido e
visto a terra tremer bem na
esquina das Ruas King George e
Keren Kayemet em Jerusalém.
Foi exatamente lá, na sede
central da Agência Judaica, o
centro do abalo. Um abalo que
poderá ser um marco milenar na
história da Aliah (imigraç?o) e
da absorç?o.
Após anos de disputa, a Agência Judaica concordou finalmente em ceder o controle
sobre a promoç?o da Aliah dos Estados Unidos e do Canadá à bem sucedida
Organizaç?o privada Nefesh b' Nefesh. O grupo dirigido por um rabino jovem e
dinâmico, seu nome Yehoshua Fass, tem transformado consideravelmente a
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Organizaç?o
experiência da Aliah dos milhares de norte-americanos nos últimos anos, tornando-a
mais acessível, amigável e compreensível.
Shavei Israel
King George 58,
4°. andar
Utilizando a Internet, assim como avançadas técnicas de marketing e muito
entusiasmo sionista, Nefesh b’Nefesh tem conseguido superar, faz muito tempo, a
burocracia relacionada a Aliah, tornando praticamente obsoleto, uma grande parte
deste processo.
Heichal Shlomo
Jerusalém 94262,
Israel
Tel: +972-2-625-6230.
Conseqüentemente, após quase 80 anos de monopólio da Agência Judaica,
finalmente ele foi quebrado. Se houvesse uma escala Ritcher para medir os abalos
sísmicos no mundo judaico, este seguramente seria um dos grandes terremotos já
registrados.
Fax: +972-2-625-6233.
Pelo novo acordo, a Agência Judaica vai manter o controle para determinar se uma
pessoa preenche os requisitos para fazer Aliah e para abrir uma pasta nos distintos
ministérios. Porém, praticamente todo o resto do processo será liderado por Nefesh
b’Nefesh, tornando-o o órg?o principal e o endereço certo para americanos e
canadenses que desejam se mudar para o Estado Judeu.
Isto representa um duro golpe a Agência Judaica e significa que a mesma está
passando por uma rápida transformaç?o histórica em sua estrutura e imagem, que
mudará para sempre o rosto das “instituiç?es nacionais” do povo judeu.
Visite nosso site
Interessante notar, que o acordo foi publicado exatamente um ano depois do
gabinete ter aprovado a decis?o, que registra um antecedente, de outorgar fundos
para organizaç?es privadas e independentes que promovem a Aliah. Em
retrospectiva, tal decis?o, que beneficiou grupos como Nefesh b’Nefesh e seu
equivalente francês, AMI, representa o fim do rol tradicional da Agência Judaica, um
processo que avançou com este último anúncio.
Mas é errado crer, que estamos necessariamente testemunhando a extinç?o da
Agência Judaica ou sua degeneraç?o. Esta, está simplesmente atravessando grandes
mudanças à medida que suas prioridades se alteram e seus fundos s?o cada vez
menores, e deverá, por isso, reinventar-se para poder perdurar.
Sem dúvida, existem os que n?o apóiam a idéia de que a Agência Judaica perca sua
exclusividade no setor de Aliah, e nos próximos dias pode ser que vejamos muitos
protestos deste tipo. Porém os tempos s?o outros, e as burocracias n?o est?o
conseguindo sobreviver. E isto é o que tem permitido a Nefesh b’Nefesh ter êxito no
que faz, pois é uma empreendedora organizaç?o com muita motivaç?o a nível
ideológico, mais do que uma sossegada sucursal de uma sociedade.
Como qualquer iniciativa do setor privado, a novidade e o desembaraço é sua
vantagem, já que ela n?o está contaminada com os meandros da burocracia, com as
cis?es dos conflitos políticos ou qualquer outro elemento t?o comum nestas antigas
instituiç?es.
Este último terremoto, pode ter feito tremer o prédio da Agência Judaica, porém n?o
o derrubou. “Tem males que vem para o bem”, e assim seja. Com seu grande nome
e décadas de experiência, a Agência Judaica está perfeitamente capacitada para
servir como unificador de todos os grupos de Aliah e continuar provendo tais
serviços.
Caso a Agência consiga dominar esta oportunidade ímpar e a coloque em prática
firmando outros contratos semelhantes e trabalhando em parceria com outros
grupos judaicos privados em distintos temas, pode surgir como uma força mais
concentrada e efetiva, e que ao mesmo tempo aprende de modo constante.
De fato, o que torna esse desenvolvimento t?o excitante é que pode vir a ser um
exemplo para outras áreas do governo, basta considerar as possibilidades. Áreas
tais como “hasbará” (propaganda pró Israel) no exterior, poder?o promover uma
rota segura no caminho de volta para casa e ao mesmo tempo beneficiar-se
enormemente se fosse semi ou completamente privatizada, ainda que continue
operando sob a direç?o e a supervis?o do governo israelense. Ajudaria a economizar
e a criar novas energias para uma grande quantidade de esforços agonizantes, e a
propulsar sua efetividade mais além do reconhecível.
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N?o tenha dúvida
em contatar-nos:
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Como disse Ronald Reagan uma vez: “os trabalhadores públicos dizem, sempre com
a melhor das intenç?es, ‘que bom serviço poderíamos oferecer se tivéssemos um
pouco mais de dinheiro e poder’”. Porém a realidade é que mais além de sua
legítima funç?o, o governo n?o faz nada t?o bem e t?o economicamente produtivo
como o setor privado”.
Isso é verdade para o comércio e indústria, e n?o menos verdade para a Aliah ou
para a educaç?o judaica. Assim, esperamos que o terremoto sionista que se
encontra agora a caminho, continue fazendo tremer as coisas e que em seu
despertar traga uma nova e mais emocionante decis?o.
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O Refinamento dos Impulsos na Guerra
Por: Rabino Eliahu Birnbaum - Traduç?o: David Salgado
Parashat Hashavua – Ki Tetsê
“Quando acampares contra os teus inimigos,
guardar-te-ás de toda coisa má. Se houver entre
vós um homem que n?o estiver puro por causa de
derramamento de sêmen de noite, sairá para fora
do acampamento; n?o entrará em nenhum
acampamento. Porém, quando a tarde começar a
declinar, banhar-se-á em água e depois do pôr-dosol entrará no acampamento. E um lugar terás
para ti fora do acampamento e ali sairás fora; e
uma pá terás para ti entre os objetos de teu uso, e
quando te abaixares lá fora, com ela cavarás, e ao
voltares, cobrirás o que defecaste; porque o
Eterno, teu D-us, anda no meio do teu
acampamento para te salvar e para entregar a ti
os teus inimigos diante de ti; pelo que o teu acampamento será santo, para que Ele
n?o veja em ti coisa indecente e se aparte de ti”.
(Devarim 23, 10-15)
Na Torá três parashiot, incluindo esta, se referem aos atos do exército hebraico em
circunstâncias de guerra.
O momento da guerra é um momento de emergência e pode manchar,
repentinamente, todo o trabalho que foi feito durante muitos anos para educar ao
povo no tocante a moral e valores humanos. A guerra converte aos homens em
feras selvagens, sedentos de sangue e luta, impregnados de pecados e pervers?o.
A morte que perambula pelo campo de batalha aniquila o espírito humano, sem que
volte a reviver com o fim da guerra e o regresso ao lar.
Dentro da concepç?o humanista reconhecida, guerra e moral s?o elementos opostos.
A moral está construída sobre sentimentos de piedade, comiseraç?o e misericórdia,
porém a guerra induz a violência, crueldade e derramamento de sangue. Sem
dúvida, o judaísmo n?o faz uma separaç?o entre guerra e moral; esta persiste na
paz e na guerra, estabelecendo que o judeu deve viver segundo os princípios da
moralidade o tempo todo e durante todo o transcurso de sua vida.
Os valores morais do combatente judeu s?o irrevogáveis. Nos momentos de
necessidade terá que lutar, consciente da justiça e da obrigaç?o de viver em paz
com seu próximo. Tempos de guerra e tempos de paz s?o acontecimentos que
coincidem na dádiva do Senhor da paz.
Segundo o judaísmo, a moral n?o está desconectada da realidade e suas
circunstâncias. Mesmo em caso de problemas éticos que ocorram em uma realidade
distinta daquela rotineira, a ordem de “n?o matarás” será vigente em tempos de
guerra como em tempos de paz. A moral n?o muda; se modificam as circunstâncias
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em que o homem vive.
Apesar de que em tempos de guerra a Torá exige do homem fidelidade absoluta ao
coletivo e ao individual e inteira dedicaç?o a causa, renunciando seus critérios
pessoais em prol da comunidade, a Torá n?o pretende que sejam esquecidos
totalmente os sentimentos morais e de natureza humana.
A única funç?o do exército é a defesa do povo e de sua pátria. Por isso, antes de
sair para a guerra o amor a naç?o e a pátria era reforçado, e conjuntamente com a
invocaç?o ao espírito de valentia, o sacerdote se preocupava de fortalecer a moral e
a observância Divina do céu, que é a fonte do heroísmo. A força do exército judeu
n?o reside no número de seus integrantes nem no tipo de armamento, mas sim no
seu nível humano, moral e religioso.
Porém, apesar de tudo, durante a guerra é difícil evitar o agravamento e as faltas
com respeito a moral. O homem está enfraquecido e seus maus instintos vencem,
sem que ninguém consiga dominá-lo em momentos t?o difíceis. A Torá consciente
de todos os perigos que ameaçam o homem e por isso mesmo, faz advertências que
n?o seria necessário promulgar caso o homem estivesse em sua casa gozando da
paz.
O soldado do exército hebraico deve cuidar sua pureza, a de seu corpo, a de seu
espírito e dos lugares em que se encontra. É a pureza que demonstra sua
integridade espiritual. A Bíblia n?o somente exige a pureza na linguagem, como
também conservar a limpeza e a ordem em todo o campo militar.
N?o é intenç?o da Torá agravar a situaç?o, sen?o estabelecer um marco normativo
que colabore no cuidado do nível moral do exército. T?o pouco pretende impor a
“coraça da justiça”, mas adicionar dentro do sistema da guerra, para fortificar o
valor da moral e sua identidade em todo tempo e lugar.
Contudo devemos sempre lembrar, que n?o existe pior experiência para o homem
que a de estar em um campo de batalha. Talvez seja a circunstância aonde será
avaliado plenamente, em seus valores e como homem crente.
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O Mês de Elul
Fonte: www.mesilot.org
O Talmud, no tratado de Berachot relatanos: “Todos os dias se escuta uma voz dos
Céus, como o pranto de uma pomba que
exclama: Desgraçados dos meus filhos, que
pelas suas transgress?es destruí a minha
casa, queimei o meu Templo e os desterrei
de entre os povos do mundo”.
Com estas palavras e de uma forma
simbólica, o Talmud quer demonstrar-nos a
dor Divína pelas desgraças do povo judeu,
palavras que o Midrash confirma: ”Quando o
povo de Israel se encontrava no desterro, a
Divindade também saiu para o exílio”.
O castigo é apenas um meio educativo para
nos conduzir ao arrependimento e guiar-nos
pelo verdadeiro caminho. Por isso é que antes do Dia do Juízo (Rosh
Hashaná), D-us convida-nos ao arrependimento, como disse o Rei Salom?o
no Cantar dos Cantares: “Quando me entrego a D-us, D-us volta a mim”.
Com esta alegórica interelaç?o do judeu com D-us, com a primeira letra
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hebraica de cada palavra, forma-se a palavra Elul e o valor numérico
(guematria) da última letra do versículo (iod=10) multiplicada por quatro,
dá-nos quarenta. Este número simboliza os quarenta dias de
arrependimento que medeiam desde o primeiro dia de Elul até ao décimo
dia do mês de Tishrei (Yom Kipur).
Costumes do mês de Elul
É costume levantar-se antes da alvorada para implorar a Hashem pela
absolviç?o das nossas transgress?es (Selichot). As comunidades sefarditas
fazem-no a partir do dia 1 de Elul, enquanto que as askenakitas começam
na última semana do mês. Ambos as comunidades estendem as suas rezas
até ao dia 10 de Tishrei (Yom Kipur). A raz?o pela qual se deve madrugar,
baseia-se no Talmud que nos ensina que à meia-noite e o fim da noite s?o
momentos propícios para o arrependimento.
Também se costumava tocar o Shofar todos os dias no fim das rezas de
Shacharit e Arvit (excepto na véspera de Rosh Hashaná) para recordar e
motivar o público a preparar-se espiritualmente para os dias que se
avizinham.
Há quem jejue na véspera de Rosh Hashaná em sinal de arrependimento e
também se submergem na Mikvé (banho ritual).
Um bom costume é visitar as sepulturas dos nossos Sábios e Patriarcas
para que eles roguem por nós como um pai pede pelo seu filho.
Estes costumes, adicionados à Tzedecá que se dá aos pobres e
necessitados, fazem com que cumpramos com a express?o que diz: “O
Arrependimento a Oraç?o e a Tzedacá anulam os maus decretos”.
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Médicos Judeus Portugueses Fugidos da Inquisiç?o
Por: Prof. Dr. Meraldo Zisman*
A Medicina portuguesa era praticada, em sua maior parte, por profissionais
de origem judaica ou moura. Decretada a Inquisiç?o em Portugal, sobreveio
a decadência da Medicina lusa, com a emigraç?o de seus melhores
profissionais, o que veio abalar, sobremaneira, o renome da Medicina
ibérica.
O judeu-português Garcia de Orta, um destacado professor da Escola
Médica de Goa, foi o médico mais afamado do século XVI. Vale registrar
que, depois de morto e enterrado na Índia, os Inquisidores desenterraram
seus restos mortais para queimá-los, em um abominável auto-de-fé
lisboeta.
Eram médicos judeus portugueses os seguintes expoentes:
• Jo?o Rodrigues Castelo Branco (Amatus Lusitanus), homiziado na
Antuérpia, foi catedrático de Medicina na Universidade de Ferrara. Entre
seus pacientes encontrava-se o Papa Julius III;
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• Daniel Fonseca foi para a França, onde se tornou o médico particular do
Príncipe de Budapeste;
• Judah Abravanel refugiou-se em Nápoles, Genova e Veneza, tornando-se
médico, físico e cientista de grande reputaç?o;
• Filoteu Montalto asilou-se em Florença, tornando-se o médico particular
do Duque Frederico, e sendo chamado, inclusive, para tratar a Rainha
Catarina de Medicis;
• Jacob Mantinho refugiou-se na Itália, onde foi Professor de Medicina e
médico do Papa Paulo III;
• Rodrigues da Fonseca foi professor de Medicina em Pisa e em Pádua (as
mais famosas Escolas Médicas da Europa, que devem seu prestigio e fama
aos refugiados judeus portugueses);
• Fabrísio de Água Pendente foi professor de Anatomia em Bolonha (ele
descobriu as válvulas nas veias profundas das nossas pernas e coxas);
• Rodrigo de Castro asilou-se em Hamburgo e teve, entre seus pacientes, a
Rainha Cristina, da Suécia;
• Fernando Mendes homiziou-se em Londres, tornando-se o médico
particular da Rainha Catarina de Bragança, esposa do Rei Carlos II.
Entre tantos outros, aqueles foram médicos judeus portugueses de renome,
que muito fizeram em prol da Medicina. Os seus exílios forçados foram
decorrentes do anti-judaísmo que havia nos ramos científicos e nas
humanidades.
No Castelo de S?o Miguel, em Guimar?es, por exemplo, nasceu o primeiro
rei de Portugal: D. Afonso Henriques. Ele escolheu um judeu português da
família Egas Moniz, para ser seu conselheiro financeiro. Curiosamente,
decorridos oitocentos anos, um descendente daquele Conselheiro Real
receberia o Prêmio Nobel de Medicina (1949). Refiro-me ao Professor Egas
Moniz, que jamais negou suas origens sefárdicas.
Com os primeiros Governadores Gerais, alguns médicos marranos
chegaram ao Brasil-Colônia, uma vez que lhes era vetada a prática
profissional em Portugal. Na época, ser médico era uma tarefa t?o árdua
que se dizia: é um "negócio de judeu", ou uma "tarefa exercida,
exclusivamente, por fugidos da Inquisiç?o".
Muito embora, no Brasil, o Tribunal da Santa Inquisiç?o n?o houvesse se
instalado, havia sempre os temíveis Visitadores do Santo Oficio e todo um
aparato de opress?o que prendiam e deportavam, para Lisboa, os médicos
aqui homiziados, e denunciados por praticas judaizantes junto com suas
famílias.
Os primeiros "médicos" que aqui chegaram eram, em sua maioria, crist?osnovos ou judeus desterrados pela Inquisiç?o em Portugal. A prática da
Medicina no Brasil-Colônia estava limitada a uma Medicina indígena,
baseada em ervas e benzeduras, ou a uma Medicina "científica" baseada
em sangrias, poç?es e religiosidades. De acordo com Lycurgo de Castro
Santos Filho, historiador da Medicina, foram judeus ou crist?os-novos quase
todos os médicos que atuaram no Brasil, do século XVI até meados do
século XVIII.
Em 25 de outubro de 1448, por decreto do Rei D.Afonso V, Portugal
regulamentou o exercício da Medicina e, ao mesmo tempo, criou a
autoridade fiscalizadora. A lei intitulada "Regimento do Cirurgi?o-Mor dos
Exércitos", continuava em vigor, na época do Descobrimento do Brasil, e no
início da nossa colonizaç?o.
O Mestre Jo?o (Johanes) Farras, físico-mor e astrônomo da armada
comandada por Pedro Álvares Cabral, foi o primeiro cultor da Medicina a
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pisar em terras brasileiras. Era um judeu converso.
O marrano Jorge Valadares foi o primeiro médico diplomado que chegou à
Bahia de Todos os Santos. Ele veio como físico-mor, na comitiva do
primeiro Governador Geral (1549-1553). Foi sucedido por Jorge Fernandes,
que também era judeu, e ocupou o mesmo cargo por três anos. (citado por
Bella Herson In: Crist?os-novos e seus descendentes na medicina brasileira
(1500-1800).
A funç?o social da Medicina e de sua formaç?o é explicada pela estreita
relaç?o entre Saúde e sociedade.
N?o por ser médico e, muito menos, judeu, dediquei anos de estudo ao
marranismo e aos médicos crist?os-novos. É como já dizia o Padre Antonio
Viera: crist?os-novos / judeus-velhos.
A maioria dos médicos que vinha da Península Ibérica exercia o rabinato,
tendo como ganha-p?o os honorários auferidos por parte dos doentes,
desde que, do ponto de vista religioso, era-lhe vetada qualquer retribuiç?o
pecuniária advinda do saber religioso.
Por fim, cabe salientar que, em 1950, a comunidade israelita de S?o Paulo,
graças à moderna Medicina brasileira - herdeira de séculos de expressivas
contribuiç?es por parte dos judeus - instalou na cidade o Hospital Albert
Einstein que é considerado, hoje, um dos principais hospitais da América
Latina e a base para uma futura Universidade de Saúde
*Psicoterapeuta, professor titular de Pediatria da Universidade de
Pernambuco, membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, da
Uni?o Brasileira de Escritores e da Academia Brasileira de Escritores
Médicos.
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A Sabedoria dos Provérbios Talmúdicos
Fonte: Vis?o Judaica - julho 2008 - Colaboraç?o de Salmo Zugman
A busca pelo saber que o homem tem se
empenhado através dos tempos é algo infindável.
Na verdade, trata-se de um processo constante
para se chegar, por vezes, à conclus?o de que
quase nada sabemos, pois toda a verdade é
relativa e circunstancial, o que n?o invalida o
valor da sabedoria que o ser humano acumulou
através dos séculos.
Povos dos mais diversos, pelos caminhos mais
distintos, alcançaram ricas fontes de
conhecimento que na prática muito pouco s?o
aplicadas. De que nos vale saber sem se colocar
em prática tudo aquilo que aprendemos? O que é
realmente importante s?o as aç?es praticadas,
como bem enfatizam alguns dos preciosos
ensinamentos do Talmud, o riquíssimo manancial
da sabedoria judaica que é praticamente
universal:
“Fale pouco e faça muito”. Quem n?o conhece essa frase? Há certa relaç?o entre
este ensinamento com um outro que aborda o discurso dos pregadores religiosos:
“O serm?o que você prega é lindo, mas será sua prática linda?”.
Já ao ouvir que “Comer demais mata mais do que comer de menos” tem-se a
impress?o de estarmos lendo uma recomendaç?o muito atual sobre os cuidados
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amplamente divulgados com a alimentaç?o nos dias atuais, mas é bem antigo. Dois
provérbios talmúdicos de certa forma podem parecer um tanto feministas, mas
vejam como s?o bem significativos:
“D-us concedeu às mulheres um sentido especial de sabedoria que falta um pouco
nos homens”. Isso está no Talmud, mas existem, claro, muitas e honrosas exceç?es
nos representantes do sexo masculino.
“O homem deve ser muito cuidadoso em n?o magoar sua mulher, pois D-us
contabiliza suas lágrimas”. (Mulheres que choram muito podem levar alguma
vantagem inflacionando tal contabilidade).
“A mais nobre de todas as caridades é capacitar um pobre a prover o seu sustento”
é o ensinamento correspondente ao conhecido dito popular: “Mais vale ensinar a
pescar do que dar o peixe”.
Já a conhecida express?o popular, um tanto chula: “Cuspir no prato em que se
comer”, corresponde também a um ensinamento talmúdico: “N?o atire uma pedra
no poço que saciou sua sede”.
O valor do silêncio e o comedimento no uso das palavras s?o enfatizados pelo
Talmud ao lembrar: “Como conhecer um tolo? Ele fala demais”. E mencionar a
express?o “a mentira tem pernas curtas” n?o equivale à frase talmúdica “uma
mentira n?o tem nem uma perna sobre a qual se apoiar?”. Quanta verdade, quantos
ensinamentos preciosos desperdiçados e negligenciados pelo homem nos legou o
Talmud! Vamos recordar mais alguns que merecem reflex?o:
“Quem é rico? Aquele que se satisfaz com o que tem”.
“É rico aquele que tem prazer com aquilo que tem”.
“Um pássaro seguro vale mais do que uma centena voando”.
“Corrija-se a si próprio primeiro, depois corrija os outros”.
“O castigo do mentiroso é que ninguém acredita nele quando diz a verdade”.
“O homem vê todas as falhas exceto as suas”.
“Quando envolvidos pela abundância estamos rodeados de amigos e irm?os; diante
da miséria eles nos abandonam”.
“A cultura do coraç?o é melhor do que a cultura do puro conhecimento”.
Paradoxos Humanos
O ser humano é na verdade muito paradoxal, pois é capaz de criar teorias lindas e
comete tantos erros na prática. Diariamente, as notícias nos informam sobre as
guerras, as mortes, a violência e os sofrimentos dos homens, nas mais diversas
regi?es do mundo. Vale mencionar alguns ensinamentos do Talmud que comprovam
o contra-senso entre o que é pregoado e os acontecimentos atuais:
“N?o prejudique nem seu irm?o de fé nem a aquele que n?o professa sua fé”.
“Sábio é aquele que de todos aprende. É forte o que vence a si mesmo. Rico o que
se contenta com o que possui. Só aquele que respeita a pessoa humana merece por
sua vez respeito”.
“O mau sonho pode ser pior do que um castigo”.
“A tentaç?o é doce no início e amarga no fim”.
“Nenhum trabalho, por mais humilde que seja, desonra o homem”.
“N?o ensinar ao filho a trabalhar é como ensinar-lhe a roubar”.
“Grande é a dignidade do trabalho, pois honra os trabalhadores”.
“Quem acrescenta coisas à verdade está a diminuí-la”.
“A verdade fica de pé, a mentira cai. A mentira é comum, a verdade incomum”.
“N?o envergonhes os outros e n?o serás envergonhado por eles”.
“O homem que cometeu um erra e se sente envergonhado tem sua falta perdoada”.
“Quando o vinho entra, os segredos saem”.
“ Na tua cidade o que conta é a tua reputaç?o; nas outras as tuas roupas”.
“Feliz o homem que deixa um bom nome”.
“A calúnia é pior do que as armas de guerra; estas ferem de perto; aquela, de muito
longe”.
“O caluniador arruína três pessoas: a si próprio, o ouvinte e o caluniado”.
“Somos sempre levados para o caminho que desejamos percorrer”.
“A verdadeira caridade é praticada em segredo. O melhor tipo de caridade é aquele
em que quem a faz ignora quem a recebe, e quem a recebe ignora quem a faz”.
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“A maior caridade é habilitar o pobre a ganhar a sua vida”.
“Quando as pessoas sábias se zangam, perdem toda a sabedoria”.
“O bom homem promete pouco e faz muito; o malvado promete muito e n?o faz
nada”.
Ditos Populares
Muito pouca gente se dá conta de que uma enorme quantidade de ditos populares,
tanto no Brasil, como em outros países, têm sua origem ligada aos provérbios
talmúdicos. Vejamos mais estes exemplos:
“A cavalo dado n?o se olha os dentes”, provém de “N?o se olha a boca de um cavalo
recebido de presente”.
“D-us n?o dá uma cruz maior do que podemos carregar”, se origina em “D-us dá a
carga e também os ombros”. Há também uma outra variante talmúdica: “Conforme
o camelo, assim o fardo”.
O comum “gato escaldado tem medo de água fria”, n?o é outro sen?o o provérbio
do Talmud “quem já foi mordido por uma serpente, até de corda tem receio”.
“O que os olhos n?o vêem, o coraç?o n?o sente”, é quase idêntico ao proverbial “o
que os olhos n?o vêem, o coraç?o n?o pode chorar”.
“É nos pequenos frascos que est?o os mais caros perfumes”, decorre do antigo “N?o
olhes a jarra, mas o que ela contém”.
“De gr?o em gr?o, a galinha enche o papo”. Este certamente é uma derivaç?o de
“De gota em gota a cisterna é cheia”.
E “a ocasi?o faz o ladr?o”, sem dúvida alguma foi decalcada no provérbio do
Talmud; “Quando o ladr?o n?o pode roubar ele toma os caminhos honestos”.
Há mais. Muito mais!
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O Alfaiate Menachem e o Pogrom de 1506 em Lisboa
Por: Reuven aingold
Lisboa, 1506. Lembro perfeitamente que naquele
tempo vivia na metrópole um alfaiate chamado
Menachem. Este enigmático judeu português,
corcunda e de corpo diminuto, costumava
caminhar pela “Rua dos Mercadores”, localizada
na artéria principal da capital lusa, a poucos
metros da antiga sinagoga. Sua casa, muito
modesta, bastante descuidada, tinha na parte
superior do teto um cata-vento de cores
vermelha, branca e azul. Foi o próprio Menachem
quem teria fabricado esta veleta que, a primeira
vista, parecia um pav?o sacudindo sua bonita
cauda tricolor.
Era impossível entrar na Juderia sem deter-se e
contemplar a obra-prima do mestre alfaiate,
colocada na parte superior da modesta moradia.
Era impossível, também, deixar de cumprimentar
Dom Menachem, um homem alegre, que segurava sua agulha enquanto entoava
umas “ladainhas”, espécie de melodias monótonas. Às vezes, o alfaiate levantava a
cabeça, fixava seus olhos de ratinho nos transeuntes e, sem deixar de cantar,
sorria. Aquele estranho sorriso, rasgado pelo seu olhar penetrante, era também sua
particular maneira de agraciar as pessoas.
Mais de mil vezes podia um indivíduo passar pela janela do alfaiate, e mil vezes
seus olhinhos arregalados de camundongo o cativavam, o seguravam na própria
alma; como se aquele sorriso ingênuo e sereno fosse comparável a uma flor
silvestre. Passavam as damas com suas cestas e com seus animais de estimaç?o,
voltando da praça ou do mercado e, na hora de atravessar em frente à casa do
alfaiate, espiavam pela janela. Lá estava sentado Dom Menachem, sempre
costurando com extrema velocidade e entoando suas raras cantigas.
- D-us vos outorgue um bom dia!... Menachem aceitava os cumprimentos, erguia
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sua cabeça, fixava seus olhos numa vizinha, e sorria. Porém, ele nunca abandonava
suas melodias judaicas, freqüentemente acompanhadas de imperceptíveis
movimentos oscilatórios de pernas e corpo.
Na rua passava Rabi Moshe, o venerável sábio da comunidade, muito aclamado
pelos judeus do bairro. As vozes repetiam-se: “Shalom Rabi, shalom Rabi!. O rabino
caminhava com sua longa barba branca, dirigia seu olhar profundo à casa do
alfaiate, e com sua penetrante voz de barítono dizia: “Shalom Adoni hechaiat” (Shalom senhor alfaiate).
Nem mesmo diante do erudito rabino, Dom Menachem desgrudava seus lábios. Ele
olhava-o fixo e sorria. E o rabino Moshe também sorria pensando, certamente, que
o alfaiate n?o passava de um homem ingênuo, meio tolo, mas um judeu de boa
alma (neshamá tová), observante de preceitos e tradiç?es milenares.
Aos sábados, Dom Menachem n?o trabalhava. Desde a noite de sexta-feira até a
noite de Sábado ele era um homem completamente dedicado a D-us. Mesmo assim,
era o último em chegar à sinagoga, pois n?o gostava de participar do coro
improvisado composto pelos judeus que chegavam cedo para rezar. Menachem
chegava apressado, suado. Virando a cabeça e gesticulando com seu corpo
diminuto, cumprimentava todos os presentes. Desta forma, seus olhos irradiavam
uma forte luz que pairava no vespertino ar sabático.
O que relatarei a seguir, aconteceu quatro dias após a última noite de Pessach de
1506. Casualmente, era também a mesma noite em que os crist?os celebravam a
sua Páscoa. Esta época era para nós, judeus, tempo de sobressaltos, temores e
medos.
Minha casa, afastada da casa do alfaiate Menachem, estava situada na periferia do
bairro judaico, longe do prédio da sinagoga. Havia passado algumas horas desde o
pôr-do-sol, e ainda, ninguém dormia em casa. Minha m?e parecia nervosa, e
tentava driblar o tempo com diferentes tarefas. Meu pai, sempre clamo, lia “Pirkei
Avot” (Ética dos Pais), à luz das velas do candelabro.
Quebrando aquele silêncio, uma gritaria vinha de muito longe. A barulheira infernal
perdia-se, a ao mesmo tempo, retornava, escutando-se nitidamente na direç?o do
vento. Meu pai interrompeu a leitura. Estava pálido. Parecia que ele despertara de
um sonho. Meu pai interrompeu a leitura. Estava pálido. Parecia que ele despertara
de um sonho. Minha m?e movimentava-se com pressa.
Apagou todas as velas exceto uma. Guardou nosso pouco dinheiro e algumas jóias
dentro de um pano e, rapidamente, procurou roupas para minha irm? e para mim.
Meu pai, temeroso da situaç?o, começou a entoar melodias de Shabat.
Lembro também que papai tinha tirado seu talit de um pequeno estojo de veludo
vermelho, e o colocara cuidadosamente sobre seus frágeis ombros. Logo, ele
mergulhou numa página de seu livro de oraç?es e começou a ler uma brachá (benç?
o), que eu já conhecia de outras oportunidades.
A minha m?e, intranqüila, estava prestes a abandonar a casa quando papai
terminasse a oraç?o. Para nós era natural que papai rezasse, enquanto mam?e
ocupava-se das roupas e do dinheiro.
No entanto, lá fora, a gritaria aumentava consideravelmente. Ao sair d casa vimos,
na rua principal do bairro, fachos de fogo que movimentavam-se com o barulho do
vento. Já na rua, soube que iríamos à casa do nosso tio Menachem, o alfaiate, irm?o
mais velho de minha amada m?e.
Naquela noite, entramos em sua casa sem avisar. Ele também vestia seu velho talit
e segurava seu livro de oraç?es. Menachem ainda n?o rezava. Parecia agitado e
andava pelos úmidos quartos da casa sem ter iniciado a reza.
Ao chegarmos, talvez por influência do papai, Menachem conseguiu dissimular um
pouco melhor seu comportamento. Meu tio, ent?o, começou a dar leitura à mesma
oraç?o que tinha proferido meu pai poucos minutos atrás. Papai acompanhava a
reza fechando os olhos e movimentando imperceptivelmente seus lábios.
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A oraç?o acabou, Somente depois tio Menachem tirou seu talit e nos cumprimentou.
Minha m?e, com frases curtas e quebradas, explicou tudo a meu tio. Nós, filhos,
ficaríamos ali na sua residência, enquanto nossos pais voltariam para casa. Meu pai
era shochet, fazia o abate de animais segundo o ritual judaico; e tudo indica que
este trabalho o converteu numa pessoa extremamente odiada pelos n?o judeus.
Tio Menachem levou a minha irm? e a mim por uma velha escada, até um por?o
mofado todo coberto de insetos. Neste lugar, úmido e fétido, havia uma minúscula
janela que me permitia olhar para a rua. Daqui em diante, minhas recordaç?es
misturam-se, confundem-se, perdem-se no tempo e na história...
N?o consigo lembrar de quase nada. De fato, n?o posso distinguir muito claramente
o que nos aconteceu em Lisboa naquele quarto dia após a última noite de Pessach
de 1506. Da mesma forma, n?o consigo lembrar o que aconteceu uns 400 anos
depois em Kishinev, na Rússia; ou 40 anos depois, em 1943, em Varsóvia. Na
verdade, todas estas lembranças misturam-se no tempo e no espaço.
É difícil saber se aquele homem que levava um estandarte com a cruz era um frade
dominicano de rosto temível e olhar alucinado, ou se era aquele padre obeso com
barba branca similar à que usava Rabi Moshe. N?o lembro se esses homens
chegavam a pé, ou se o que avançava na rua central (de Varsóvia) eram um coluna
de quatro tanques, dentre os quais se escutavam gargalhadas e disparos. N?o
consigo lembrar sequer, se os indivíduos armados com garrotes e foices eram
camponeses ou elegantes jovens nacionalistas, que de suas esbeltas m?os
assassinas, esgrimiam pistolas modelo Browing.
Porém, sobre o que aconteceu naquela noite de Pessach em Lisboa, prefiro n?o
falar. Apenas, para encerrar este conto, farei menç?o a um fato aparentemente
insignificante e vulgar que aconteceu em frente à casa de meu tio Menachem. Tenho
a sensaç?o que, sempre que acontecia algum tumulto nas estreitas ruas da velha
juderia, meu tio pensava em fugir, talvez para refugiar-se na casa de algum freguês
crist?o. Depois que a tormenta tivesse passado, pensava ele, voltaria a seu lar.
Certa vez, Menachem tinha feito intermináveis comentários sobre o difícil momento
que atravessava a congregaç?o. Mas, por sua parte, ele jamais teria abandonado
sua modesta oficina de costura, seu manequim, suas tesouras, seus tecidos, suas
gavetas com linhas e agulhas e alfinetes de todos os tipos e tamanhos. Jamais
deixaria seus ornamentos nem os cinco ternos, deixados por ricos fregueses, para
conserto.
Minha irm? e eu continuávamos no por?o de sua casa. Nos perguntávamos: por que
diabos tio Menachem n?o falou para sua irm?, nossa m?e, que as crianças n?o
poderiam ficar na sua casa?
Mas, nada adiantava agora. Nós dois estávamos ali e nossos pais já tinham
retornado a casa. Do por?o, espiávamos tudo. Menachem estava nervoso. Passeava
de um lugar a outro e falava sozinho sem mexer os lábios. Ele continuava entoando
melodias, balançando sua cabeça. Segurava seu livro de oraç?es. Sentava.
Levantava. Subia até o por?o e nos fazia gestos para que ficássemos em silêncio.
De repente, a porta tremeu. Com as fortes pancadas, esta frágil entrada de madeira
iria cair completamente. Antes de ceder, com um impulso súbito, tio Menachem
correu ao encontro dos arrombadores. Era melhor enfrentá-los na rua que dentro de
casa. Ele levantava seus magros braços em sinal de redenç?o e misericórdia. Ele
suplicava... ajoelhava-se... chorava. Quando sentia que um dos carrascos iria
entrar, voltava a implorar piedade. Nunca os olhos de Menachem lembravam tanto
os olhos de um ratinho. Era o semblante de um ratinho amedrontado, encurralado,
preso numa armadilha.
No entanto, sua atitude n?o foi de covardia e sim de heroísmo. N?o parecia um
camundongo assustado e, sim, um corajoso le?o que, mesmo sabendo que seria
pego, lutava contra o inimigo tentando salvar sua vida e a dos seus filhotesobrinhos.
Todos os esforços foram insuficientes. Dom Menachem, o alfaiate de Lisboa, n?o
resistiu. Recebeu o batismo de um frade dominicano, que esgrimia um crucifixo com
feroz fanatismo. Era como se o crucifico se converte-se subitamente num pesado
martelo pronto a esmagar sua cabeça.
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E, desde aquele mal fadado dia, Dom Menachem converteu-se, pela força da espada
em Dom Jerônimo de Lisboa, pois este foi seu nome de batismo.
Passado o tempo, sua veleta-catavento, também deixava a juderia, para brilhar no
teto vermelho de uma das casas construídas em frente à “Praça do Mercado”.
Pela janela da nova casa, ainda é possível ver Dom Menachem, oh! Perd?o, Dom
Jerônimo de Lisboa, sentado na sua modesta oficina de costura, trabalhando com
velocidade, entoando aquelas velhas “ladainhas” que, antigamente, costumava
cantar.
Bastante envelhecido, mas sempre com seu penetrante e alegre olhar de criança, o
alfaiate continuava sua vida. E, quando passava Rabi Moshe, olhando-o com um
certo ar de desprezo, - pois ele n?o se santificou em Nome de D-us – o alfaiate
português retribuía a saudaç?o com um olhar de arrependimento e cumplicidade.
Dom Menachem, meu querido tio, viveu como um símbolo durante várias geraç?es
na bela cidade de Lisboa. A convers?o forçada e o batismo geral de 1497 imposto
pelos monarcas lusitanos, eram parte inseparável de uma triste realidade. Esta
política discriminatória, intolerante e brutal, ainda aparecerá posteriormente de uma
forma muito cruel com tormentos aplicados pela misericordiosa “Santa Inquisiç?o”.
Professor Reuven Faingold, PhD em História Medieval pela Universidade Hebraica de Jerusalém,
membro do Congresso Mundial de Ciências Judaicas. Membro fundador da Sociedade Genealógica
Judaica e autor do livro “D. Pedro II na Terra Santa” – S?o Paulo, 1999 – Editora Sefer.
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