XVIII Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias SNBU 2014
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XVIII Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias SNBU 2014
1 XVIII Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias SNBU 2014 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS: IMPACTOS NA CIRCULAÇÃO EM UMA REDE DE BIBLIOTECAS Ricardo Quintão Vieira Jeane dos Santos Silva 2 RESUMO O foco do presente estudo são as histórias em quadrinhos, analisando o seu potencial de circulação e possibilidades de incentivo a leitura em uma rede de bibliotecas. A pesquisa tem caráter descritivo, retrospectivo e quantitativo, tendo como fonte de dados o programa de gerenciamento de acervo da instituição educacional com 55 bibliotecas interligadas em rede no estado de São Paulo. A pesquisa confirma a hipótese de que a história em quadrinho é um recurso muito eficiente como incentivo à leitura, embora a sua circulação esteja distante do empréstimo corrente dos demais itens de acervo. Em contrapartida, em aspectos relativos, os quadrinhos apresentam números melhores no empréstimo. Palavras-Chave: Histórias em quadrinhos; Rede de bibliotecas; Potencial de Empréstimo. ABSTRACT The focus of this study are the comics books, analyzing their potential and possibilities of movement to encourage reading in a library network. The research is descriptive, retrospective and quantitative character, taking as the source data management program library of educational institution with 55 networked libraries in the state of São Paulo. The research confirms the hypothesis that the comic book is a very powerful feature as an incentive to reading, although its circulation is far from the current from other library documents. In contrast, in aspects, the comics have better numbers on loan. Keywords: Comic books; Library network; Circulation Potential. 3 1. Introdução Os comic books ou histórias em quadrinhos (HQs) surgiram nos Estados Unidos na década de 1930, fenômeno que se espalhou posteriormente pelo mundo. Na década de 1940, tornou-se um fenômeno na cultura popular norte-americana, lidos por pessoas de todas as idades (LAVIN, 1999). Até a década seguinte, os quadrinhos atingiram seu apogeu de crescimento na chamada de fase de ouro dos comic books (LAVIN, 1998a). A era de ouro dos quadrinhos culmina com a sua popularização em massa pelo resto do mundo, identificando heróis, vilões, universos ricos e extraordinários, mas principalmente, introduzem uma nova forma de expressão e comunicação artistico-cultural, fonte futuro de interesse de pesquisadores, entusiastas, profissionais da informação e leitores. 2. Revisão de Literatura Sob o aspecto técnico, os quadrinhos são similares às revistas, periódicos e jornais, mas também podem ser direcionados a acervos comuns de livros ou de obras especiais. Devido à sua natureza editorial diferenciada, esses formatos documentais podem ser classificados em diferentes categorias, conforme o editor, formato e frequência1. Por apresentar características bibliográficas e colecionáveis, os formatos de quadrinhos são perfeitamente compatíveis com o ambiente de bibliotecas públicas, escolares e acadêmicas. No entanto, sua inserção em coleções bibliotecárias ainda é tímida. Mesmo no seu país de origem, as bibliotecas americanas tendem a ignorar os comic books. Como produto de manifestação cultural artístico, os quadrinhos são mais apreciados na Europa e Japão. Como suporte literário, são geralmente associados à pior forma de escapismo, além de suporte de leitura exclusivamente juvenil (LAVIN, 1998b). Diversos autores tentam desmitificar esses mitos. Will Eisner, por exemplo, afirma que as histórias em quadrinhos podem ser denominadas tecnicamente de "arte sequencial", que significa o arranjo de figuras e imagens para narrar uma história ou dramatizar uma ideia. Esse autor defende que a arte sequencial é a forma artística mais antiga do mundo, datada 1 Conforme Serchay (1998), as categorias compreendem volumes periódicos, séries limitadas (mini ou maxisséries), anuários, especiais (quartelis, volumes únicos e graphic novels), adaptações, reimpressões, trade paperbacks e digests. 4 desde as primeiras pinturas das cavernas pré-históricas. Além disso, Eisner e McCloud sugerem que a percepção da arte sequencial requer mais habilidades cognitivas complexas que a leitura do texto puro (LAVIN, 1998a). Muitos professores, bibliotecários e profissionais de quadrinhos comentam a relevância dos comic books e graphic novels para geração atual de jovens e adultos, que foram criados junto com a televisão, videogames, clipes de música e outras mídias visuais (LAVIN, 1998a), inclusive em ambientes de bibliotecas universitárias (ENGLISH, 2006). Nos Estados Unidos, as bibliotecas públicas e escolares que investiram em coleções de quadrinhos tiveram o intuito inicial de atrair usuários jovens. Há diversas pesquisas de campo que evidenciam os resultados positivos para a circulação de itens, além de desmitificar supostas reações negativas por parte dos pais, professores ou contribuintes sobre as histórias em quadrinhos (LAVIN, 1998a). O principal argumento para inserção dos quadrinhos em bibliotecas deve-se ao fato do estímulo de usuários não leitores no desenvolvimento dos hábitos de leitura. Os comic books fazem leitores lerem mais palavras do que seriam capazes ou que conscientemente leriam, se esses utilizassem apenas os livros tradicionais (LAVIN, 1998a). Além disso, os quadrinhos possibilitam a associação entre o prazer de leitura e a educação, quando voltados para a formação do estudante da academia (ENGLISH, 2006). 3. Materiais e Métodos Propôs-se uma pesquisa descritiva, retrospectiva e quantitativa. Como fonte de dados, foi utilizado o programa de gerenciamento de acervo de uma instituição educacional com 55 bibliotecas interligadas em rede, espalhadas pelo Estado de São Paulo. O recorte temporal foi determinado inicialmente em primeiro agosto de 2013, período de inserção simultânea do kit de 33 títulos de graphic novels em cada uma das bibliotecas de estudo. Estabeleceu-se como recorte final a data de 31 de dezembro de 2013. Os dados foram coletados no mês de janeiro de 2014 pelo pesquisador. Para isso, foram extraídos os seguintes quantitativos do programa gerenciador: Dados de empréstimo dos códigos dos 33 títulos de graphic novel, pertencente à classe CDD 741.5, somando 1.815 exemplares potenciais. Dados de empréstimos dos códigos dos títulos de literatura da classe 800, somando 5 31.530 exemplares potenciais. Dados de usuários cadastrados (docentes, discentes e funcionários): quantidade e tipo de curso (livre, técnico, graduação, extensão, pós-graduação latu-sensu). Após a coleta de dados em planilha eletrônica, foram realizadas as seguintes análises estatísticas de frequência absoluta e relativa: (1) Empréstimo de literatura x categorias de usuários (2) Empréstimo de quadrinhos x categorias de usuários (3) Comparação entre (1) e (2) Os resultados foram descritos na forma de textos e gráficos ilustrativos. Não foi necessário submeter a presente pesquisa em nenhum Comitê de Ética em Pesquisa, pois nenhum dado pessoal de identificação de usuário foi acessado, utilizado ou transcrito. 4. Resultados Parciais/Finais No período de primeiro de agosto a 31 de dezembro de 2013, havia 312.063 usuários ativados nas bibliotecas da instituição, entre docentes, discentes (curso livre, técnico, graduação, pós-graduação, extensão) e funcionários. No geral, o empréstimo de livros de literatura foi seis vezes maior que o empréstimo de quadrinhos. O gráfico abaixo indica o quociente entre duas variáveis: (1) número de empréstimos realizados e (2) números de usuários potenciais cadastrados. Gráfico 1 - Número de empréstimos e categorias de usuários, segundo suporte bibliográfico (literatura ou quadrinho), no período de agosto a dezembro de 2013. 6 Fonte: autoria nossa. Nota-se que as tendências de utilização de livros de literatura e quadrinhos mantêm o mesmo comportamento entre os grupos de usuários, destacando que os funcionários da instituição formam o grupo de maior empréstimo, seguido pelos docentes e alunos. Por sua vez, quando se compara o número de empréstimos entre literatura e gibis, nota-se o mesmo comportamento de queda ao longo dos meses, indicando pouca influência na busca por esses dois materiais bibliográficos. Gráfico 2 - Número de empréstimos e meses, segundo suporte bibliográfico (literatura ou quadrinho), no período de agosto a dezembro de 2013. Empréstimos X Recorte Temporal Quadrinho Agosto Setembro Literatura Outubro Novembro Dezembro Fonte: autoria nossa. Por sua vez, quando se comparou o número de exemplares disponíveis e os empréstimos realizados, ocorreu um fenômeno diferente, conforme a Tabela 1. Tabela 1 - Número de empréstimos e exemplares, segundo suporte bibliográfico (literatura ou quadrinho), no período de agosto a dezembro de 2013. Formato Empréstimos (Em) Literatura Quadrinhos Total Fonte: autoria nossa. Exemplares (Ex) Relação Em/Ex 21.004 31.530 0,67 2.553 1.815 1,41 23.557 33.345 0,71 7 Do ponto de vista administrativo bibliotecário, os livros de literatura apresentaram o maior potencial de empréstimo, pois há mais títulos e exemplares, aumentando as chances de empréstimos. No entanto, ao se comparar com o limitado número de exemplares de quadrinhos, notou-se que esses foram relativamente mais emprestados – quase o dobro da média geral e dos próprios livros de literatura. Isso demonstrou que os exemplares de quadrinhos circularam relativamente mais que os livros de literatura, representando que o investimento realizado nesse acervo foi bem empregado, sendo um potencial de crescimento. Isso pode ser exemplificado também pelo alto número de empréstimos de obras adaptadas da literatura clássica, como pode ser visto no gráfico abaixo. 8 Gráfico 3 - Número de empréstimos e títulos de quadrinhos, no período de agosto a dezembro de 2013. Empréstimo por Título Romeu e Julieta: em quadrinhos 183 Os doze trabalhos de Hércules: adaptado da obra de Monteiro Lobato Michael Jackson: um thriller em preto e branco Peter Pan em quarinhos: adaptado da obra de Monteiro Lobato 127 124 118 O fantasma de Canterville 116 Fábulas: adaptado da obra de Monteiro Lobato 115 Três sombras 113 Os miseráveis 103 A divina comédia: em quadrinhos 90 Drácula 90 Fonte: autoria nossa. 5. Considerações Finais Os dados apresentados permitem interessantes reflexões no panorama dos quadrinhos nas bibliotecas. Atesta diretamente para a sua circulação que em perspectiva ainda se vê distante do empréstimo corrente dos demais itens de acervo, embora em uma perspectiva relativa, os quadrinhos apresentam números melhores. Indiretamente condiciona, de forma absoluta, a necessidade de se reforçar as ações orientadas para atividades de ação cultural que identifiquem nos quadrinhos importantes ferramentas de manifestação cultural e educacional. De forma geral entende-se que os quadrinhos devem ser considerados com mais atenção por bibliotecas, centros culturais e educacionais, inclusive em no cenário universitário. Para isso, deve ser incentivada a aquisição de títulos, a especialização dos profissionais para que se tornem aptos a mediar esta forma de manifestação cultural com os usuários e o incremento de forma geral do papel do usuário, identificando questões que os 9 aproximem do universo da leitura sequencial através não só da leitura em si, mas também por oficinas de desenho, roteiro, palestras com profissionais, análise e estudo das HQs entre outras possibilidades. Referências ENGLISH, L.O.; MATTHEWS, J.G.; LINDSAY, E.B. Graphic novels in academic libraries: from Maus to Manga and Beyond. The Journal of Academic Librarianship. Indiana, v. 32, n. 2, p.173-182, March 2006. LAVIN, M.R. Comic books and libraries: introduction. Serial Reviews, Tuscaloosa, v.24, n.1, p.35-36, Spring 1998a. LAVIN, M.R. Comic books and graphic novels for libraries: what to buy. Serial Reviews, Tuscaloosa, v.24, n.2, p.31-45, Summer 1998b. LAVIN, M.R. Comic books and libraries: part four. Serial Reviews, Tuscaloosa, v.25, n.1, p.27-28, 1999. SERCHAY, D.S. Comic book collectors: the serial librarians of the home. Serial Reviews, Tuscaloosa, v.24, n.1, p.57-70, Spring 1998.