Acupuntura empregada no tratamento de AVC
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Acupuntura empregada no tratamento de AVC
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO MESQUITA FILHO ISABEL SELBACH ACUPUNTURA APLICADA NO AVC (ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL) E UMA BREVE VISÃO DA MTC (MEDICINA TRADICIONAL CHINESA) Botucatu 2003 ISABEL SELBACH ACUPUNTURA APLICADA NO AVC (ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL) E UMA BREVE VISÃO DA MTC (MEDICINA TRADICIONAL CHINESA) Monografia como requisito para o curso de especialização em Acupuntura Veterinária Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho Faculdade de Medicina e Zootecnia, Campus de Botucatu - SP Orientador: Prof. Dr. Stelio Pacca Loureiro Luna Botucatu 2003 AGRADECIMENTOS À Vida, que preparou-me situações nas quais fui “obrigada” a aprender a andar para frente e, com isto, desvendar novos caminhos, novas oportunidades como esta e tantas mais! Aos meus queridos professores Stelio, Jean e Diniz que “descobriram” a MTC antes de nós e tiveram uma grande vontade de mostrar tudo de bom que ela nos traz! Aos meus novos e queridos amigos a quem sempre levarei com carinho no meu coração! À existência da MTC que traduz um pensamento que sempre tive e tentei praticar que é a interação inegável nossa com tudo que nos cerca! “...e como reza a MTC , somos um todo com tudo e não pedaços isolados...” RESUMO As seqüelas deixadas pelo AVC (acidente vascular cerebral) abre, para os indivíduos acometidos, sejam eles humanos ou animais, um caminho penoso, longo e, muitas vezes limitante na recuperação de suas atividades normais. O presente trabalho tem como objetivo fazer um paralelo entre o quadro do AVC (acidente vascular cerebral) na medicina ocidental convencional e na MTC (medicina tradicional chinesa), demonstrando o benefício da associação dos métodos convencionais de tratamento e a acupuntura. Juntamente, enquadra o AVC dentro de cada sistema da visão oriental, para uma melhor compreensão do seu diagnóstico e entendimento da medicina chinesa. Demonstra, através de pesquisas já realizadas, a importância deste método como fator de recuperação nos indivíduos acometidos, informando o grau de normalização de suas atividades, dependendo do tempo de instituição do tratamento, tamanho e sítio das lesões. Visa, também, a discussão do ponto de vista profilático da MTC (medicina tradicional chinesa), abordando o tema de melhor qualidade de vida para indivíduos predispostos a desenvolver o quadro, utilizando-se das ferramentas da acupuntura e outros métodos preconizados pelos antigos povos chineses, como, por exemplo, o uso dos alimentos. ABSTRACT The stroke sequels trigger, for people and animals who have suffered a stroke, a hard, long way and most of the time it is a limiting path to return to the usual activities. The objective of this study is to compare stroke in conventional Western medicine with traditional Chinese medicine, pointing out the benefits of the association of conventional methods of treatment and acupuncture. This work also ranges stroke through each Eastern view system, in order to have a better comprehension of the diagnosis and understanding of the Chinese medicine. It is also shown, through the research made, the importance of this method as a factor of recovery of stroke suffered people, informing the degree of the normalizing of their activities, depending on the treatment length, size and site of the lesions. This essay also aims the discussion of the prophylactic point of view of the traditional Chinese medicine, taking into consideration a better quality of life to people who are predisposed to develop this kind of illness, using acupuncture and other methods from ancient Chinese people, such as food choice. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................8 1 AVC - A VISÃO OCIDENTAL X A VISÃO ORIENTAL ........................................... 10 1.1 A Visão Ocidental............................................................................................. 10 1.2 A Visão Oriental ............................................................................................... 13 2 A LÍNGUA...............................................................................................................15 3 USO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DO AVC ......................................... 18 3.1 Métodos de Tratamento do AVC ...................................................................... 22 3.1.1 Cinco Elementos ..................................................................................... 22 3.1.2 Oito Princípios ......................................................................................... 25 3.1.3 Zang Fu ................................................................................................... 27 4 RELATO DE UM CASO EM MEDICINA VETERINÁRIA........................................ 37 4.1 Histórico ........................................................................................................... 37 4.2 Tratamento ....................................................................................................... 38 5 USO DA ACUPUNTURA COMO MÉTODO PROFILÁTICO DO AVC.................... 38 5.1 Alimentação......................................................................................................41 5.1.1 Alimentos e Golpe de Vento.................................................................... 44 CONCLUSÃO............................................................................................................47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 49 8 INTRODUÇÃO Para definir bem o que a Medicina Tradicional Chinesa representa nada melhor que a citação de Qibo no Livro do Imperador Amarelo (WANG, 2001): “A razão pela qual céu e terra podem ser os pais de todas as coisas é que o céu tem 8 termos para designar o tempo climático e a terra tem a distribuição dos 5 elementos a fim de ser o princípio guia de todas as coisas. Todas as mudanças do céu, da terra, yin, yang, tem padrões regulares, todas as coisas aderem à lei regular do nascimento, de crescimento, maturidade e de se recolher. Somente o homem sábio pode seguir a lei da energia lúcida e leve do céu, a fim de nutrir sua cabeça que está acima e aprender com o fenômeno da energia turva da terra para nutrir seus pés que estão abaixo. No meio ele pode regular seu comer e beber, seguir seus movimentos e sua mente para nutrir as cinco vísceras: O pulmão está situado na parte superior do corpo e se encarrega da respiração; por isto a energia do céu se comunica com o pulmão. A laringofaringe é a saída do estômago, o qual recebe os cereais e por isto a energia da terra se comunica com a laringo-faringe. Já que a energia do vento produz o fígado madeira, por isto a energia do fígado corresponde ao fígado, como o coração está associado ao fogo, e o raio também está associado ao fogo, assim como nas gravuras que agradam, a energia do raio faz parte do coração. O baço se encarrega de transportar e digerir os cereais, por isto a energia da substância essencial do cereal se comunica com o baço. O rim é um sólido, de água, por isto a energia da chuva pode orvalhar os rins. Tome o yin e o yang do céu e da terra para fazer uma analogia com o yin e o yang do corpo humano: quando o yin e o yang da terra se combinam viram chuva; quando a energia vital e o sangue de um homem se 9 unem, fazem suar; por isso o suor do homem é chamado de chuva. A energia yang circula pelo corpo todo e a energia do vento se espalha pela terra, por isto a “energia do homem” é chamada de vento do céu e da terra. A energia de temperamento violento num homem é como o ribombar de um trovão e a energia em contra corrente se parece com a ascensão do yang. A atividade vital de um homem tem uma estreita semelhança com a energia do céu. Ao se tratar da doença, deve-se seguir a lei e a disciplina do céu e da terra senão a atividade vital do paciente pode ser prejudicada, ocorrendo imediatamente uma calamidade.” Assim, vemos que o nosso corpo “imita” o Universo. Somos uma coisa só e tudo que fazemos na nossa vida reflete no nosso corpo. Portanto, quanto mais nos conhecermos e conhecermos nosso paciente, menos danos causaremos a nós mesmos e mais poderemos ajudar àqueles que nos procuram. O todo não deve se dispersar; deve permanecer coeso para o perfeito funcionamento do conjunto. Assim acreditavam os chineses há mais de três mil anos atrás e assim acreditam aqueles que seguem seu caminho, tentando lembrar um mundo já esquecido desta conexão, mas com novas e boas perspectivas de associação da medicina moderna ocidental e a medicina tradicional chinesa. 10 1 AVC: A VISÃO OCIDENTAL X A VISÃO ORIENTAL 1.1 A Visão Ocidental O acidente vascular cerebral, corresponde à ocorrência de oclusão de um pequeno vaso cerebral (trombose /acidente vascular isquêmico) ou ruptura de um vaso (derrame/acidente vascular cerebral hemorrágico) (LUCHESE, 2001). Existe, ainda, o espasmo de um vaso cerebral que ocorre quando este, temporariamente se contrai. Isto pode ser proveniente da passagem de um êmbolo, que causa um estreitamento temporário ou obstrução do lúmen, causando, consequentemente, anóxia temporária do tecido cerebral circundante. Este é o menos grave dos quadros e, geralmente, é curado por completo (MACIOCIA, 1996). O AVC (acidente vascular cerebral) ocorre por embolia, ou seja, um coágulo que se forma dentro do vaso cerebral ou migra de algum outro lugar do corpo (tromboembolismo), principalmente do coração (LUCHESE, 2001). Os sintomas e sua severidade dependem da área cerebral atingida, do seu tamanho e localização e da presteza no atendimento. Incluem dor de cabeça intensa sem causa aparente, perda da fala ou fala confusa e incompreensível, redução ou perda da visão, tonturas inexplicadas, perda de força ou sensibilidade em um lado do corpo. O início é súbito, mas em um terço dos casos, dias, semanas ou meses antes ocorrem isquemias transitórias que duram alguns minutos com os sintomas descritos. (LUCHESE, 2001) De todos os casos, no homem, 15% são por ruptura de vasos (hemorragia); 10% são embólicos à distância; 75% são coágulos formados no local da obstrução. O diagnóstico é feito através do exame neurológico, tomografia computadorizada e 11 ressonância magnética. No homem, os fatores de risco são idade (risco sobe a cada 10 anos após os 55 anos), hipertensão, homocisteína elevada, diabetes, isquemias cerebrais transitórias, excesso de glóbulos vermelhos, apnéia do sono, obesidade, associação do fumo com o uso de anticoncepcionais, sedentarismo e sexo masculino (LUCHESE, 2001). Assim, em busca da identificação deste tipo de paciente, devemos realçar a necessidade de se procurar sinais clínicos que reforçam a propensão aos transtornos circulatórios cerebrais tais como: pulsação dos vasos do pescoço, ausculta dos ruídos de vasos da base, pescoço e crânio, verificação da simetria dos pulsos radiais e da pressão arterial nos dois braços e a presença de cardiopatias (PRADO, 1985). Em animais, a lesão vascular para o sistema nervoso central, pode resultar da perda da circulação sanguínea (isquemia) ou devido à hemorragia no tecido nervoso. Na maioria dos casos, o processo inicial é focal, independentemente do tipo. É possível, no caso dos distúrbios hemorrágicos sistêmicos, uma hemorragia multifocal ou difusa, com subseqüente surgimento multifocal. O surgimento é quase sempre agudo, com progressão lógica dos sintomas locais. Estas condições geralmente melhoram, resultando numa enfermidade monofásica. Raramente, no caso dos distúrbios hemorrágicos, pode haver progressão dos sintomas (GREENE et al., 2000). Já a isquemia leva à hipóxia e anoxia cerebral e seu resultado depende da gravidade e duração da lesão. Os sintomas clínicos que ocorrem após a hipóxia cerebral são ataxia, tetraparesia, colapso, convulsões e coma. As pupilas podem estar midriáticas ou mióticas, dependendo da extensão dos danos neuronais. A hipóxia cerebrocortical difusa isoladamente produz pupilas simetricamente pequenas (punctiformes). A lesão no tronco cerebral rostral está associada a pupilas fixas, que ficam com o diâmetro médio ou dilatadas (GREENE et al., 2000). Em contraste com a elevada incidência em seres humanos, a hemorragia intracerebral maciça, resultante da ruptura espontânea de vasos e/ou de aneurismas saculares raramente ocorre em animais. Ocasionalmente hemorragias intracranianas e intraespinais têm sido descritas em cães em associação com malformações vasculares arteriovenosas. Hemorragias pequenas semelhantes a anéis são 12 consideradas como aumentando de freqüência em cães com mais de 11 anos de idade. As hemorragias estão associadas à angiopatia amilóide, ocorrendo, principalmente, nas camadas superiores do córtex cerebral. O córtex cerebelar, substância branca e cinzenta subcortical e do tronco cerebral raramente estão envolvidos (GREENE et al., 2000). A hemorragia pode, freqüentemente estar presente no SNC de animais com distúrbios parasitários migratórios (cuterebrose em cães), infecções por protozoários (toxoplasmose e hemocitozoários em cães), meningite bacteriana, moléstias virais (hepatite canina), distúrbios degenerativos (deficiência de tiamina em gatos), toxinas (envenenamento por warfarina), distúrbios metabólicos sistêmicos (coagulopatias intravasculares disseminadas), disfunções plaquetárias (trombocitopenia e deficiência dos fatores de coagulação) e traumatismos cranianos e espinais (GREENE et al., 2000). A hemorragia por tumores cerebrais primários e secundários também é observada freqüentemente em cães especialmente oligodendrogliomas, glioblastomas, ependimomas e hemangioendoteliomas. A presença de macrófagos no LCR contendo eritrócitos ou hemossiderina pode sugerir um recente episódio hemorrágico. O prognóstico para os animais com hemorragia é reservado (GREENE et al., 2000). A isquemia ou necrose do parênquima do SNC (sistema nervoso central) é resultante da oclusão vascular cérebro-espinhal. A partir de muitas causas, inclusive as moléstias do próprio vaso sanguíneo, como vasculite, aterosclerose ou fibrose. Depósitos ateroscleróticos nos vasos sanguíneos tem sido uma complicação dos distúrbios hiperlipidêmicos crônicos em cães e gatos. Convulsões foram notadas com crescente freqüência em cães com hiperlipidemia persistente. Êmbolos no sistema nervoso podem ser causados por bactérias, parasitas, material fibrocartilaginoso, células neoplásicas e coágulos de fibrina. O infarto cerebral difuso é uma seqüela da coagulação intravascular disseminada (GREENE et al., 2000). O diagnóstico em medicina veterinária, ainda muito restrito na maioria das vezes, se faz pelo exame neurológico e do exame de LCR (líquido cefalorquidiano) A presença de macrófagos contendo eritrócitos sugere um quadro hemorrágico. O prognóstico para os animais, neste caso, é reservado (GREENE et al., 2000). 13 O EEG também pode ser utilizado, mas tem maior valor no diagnóstico de moléstias que envolvem o córtex cerebral (moléstias inflamatórias). A alteração da atividade pode ser sumarizada do seguinte modo: a atividade rápida a baixa voltagem (ARBV) e picos, indicam um processo irritante em curso, como a moléstia inflamatória. A atividade lenta de persistente alta voltagem (ALAV) indica a morte neuronal, como na moléstia degenerativa. ARBV e ALAV são sugestivas de diversas moléstias. A anormalidade focal do EEG indica uma lesão cortical e a anormalidade generalizada do EEG indica uma moléstia cortical generalizada ou moléstia das estruturas subcorticais projetando-se difusamente para o córtex. O aumento da pressão intracraniana também causa uma ALAV (GREENE et al., 2000). Como pode-se ver, existem muitos fatores ligados à causa de um quadro de AVC (acidente vascular cerebral) dentro da visão da medicina ocidental e a disfunção neurológica repentina causada pelo quadro é chamada de apoplexia e, popularmente, referida como “golpe” (MACIOCIA,1996a). 1.2 A Visão Oriental Assim, temos que o AVC (acidente vascular cerebral) na MTC enquadra-se na situação de “Golpe de Vento” que corresponde a quatro possíveis quadros da medicina ocidental: a hemorragia cerebral; a trombose cerebral; a embolia cerebral e o espasmo de um vaso cerebral, já descritos anteriormente (MACIOCIA, 1996). Como na visão ocidental, a etiologia do Golpe de Vento é muito complexa, pois embora ocorra repentinamente, vem formando-se por muitos anos. Existem quatro fatores etiológicos fundamentais: 1. Excesso de trabalho, estresse emocional e atividade sexual excessiva: no caso de seres humanos, este é um fator relevante que esgota o yin do Rim e é a causa mais comum da Deficiência do Rim nos dias de hoje. A deficiência de yin do Rim causa, muitas vezes, um descontrole do Fogo e do yang, que ascende. O excesso de Yang no Fígado (na realidade um excesso relativo, pois é causado por uma Deficiência do Fígado em função de uma Deficiência do Yin do Rim) causa Vento 14 principalmente nos idosos. O vento, por sua vez, causa apoplexia, coma, obscurecimento mental e paralisia. A língua fica móvel, desviada ou rígida. E, se houver um padrão de hiperexcitabilidade prolongada e hiperestimulação estressante do Shen do Coração ou se houver uma estagnação crônica do Qi do coração, pode haver desenvolvimento de Fogo no coração, aumento do calor interno que pode agitar o Fígado e fazer surgir o Vento (MACIOCIA, 1996a). 2. Alimentação irregular e esforço físico excessivo: a irregularidade alimentar ou a ingestão excessiva de doces, laticínios, alimentos gordurosos, frituras e açúcar enfraquece o Baço/Pâncreas e gera Mucosidade, que predispõe à obesidade. Eventualmente a Mucosidade pode combinar-se com o Fogo, formando Mucosidade-Fogo. A Mucosidade causa formigamento nos membros, obscurecimento mental, fala ininteligível ou afasia e língua inchada com revestimento pegajoso e com brilho. A ingestão de alimentos gordurosos também provoca uma estagnação de Qi no Estômago, que invade o Baço/Pâncreas, aumentado a deficiência e podendo gerar Fleuma, a qual obstrui os orifícios do Coração, gerando Fogo que, associado ao Vento, causa Golpe de Vento. A Fleuma nos meridianos pode causar paresias (MACIOCIA, 1996a). 3. Atividade sexual excessiva e repouso inadequado: esta combinação enfraquece o Rim e gera Deficiência da Medula que, por sua vez falha na nutrição do Sangue e, eventualmente, pode gerar estase do mesmo causando rigidez e dor nos membros e língua púrpura (MACIOCIA, 1996a). 4. Esforço físico excessivo e repouso inadequado: o excesso de esforço físico, como carregar peso ou praticar exercícios ou atividades esportivas em excesso, enfraquece o Baço/Pâncreas, os músculos e os Meridianos. O vento interno pré-existente penetra nos Meridianos, aproveitando-se da deficiência de Qi e Sangue nos mesmos. Por outro lado, a exposição ao Vento externo interage com o Vento interno dos Meridianos, gerando paralisia dos membros (MACIOCIA, 1996a). 15 5. Fatores psicológicos: os estresses psicológicos que predispõem o Golpe de Vento, surgem, basicamente dos sistemas do Fígado, Coração e Rim, onde a Raiva, a Ansiedade e o Medo serão os responsáveis pelo desequilíbrio de Yin/Yang, estagnação e/ou deficiência de Qi e Xue, fatores responsáveis pelo Golpe de Vento (MACIOCIA, 1996a). Estes fatores serão discutidos a seguir, quando as medidas preventivas forem comentadas. Assim, a patologia do Golpe de Vento pode ser resumida em quatro palavras: VENTO – MUCOSIDADE – FOGO – ESTASE (MACIOCIA, 1996a). Estes são os quatro fatores patogênicos envolvidos na patogenia do Golpe de Vento. É possível que nem todos estejam presentes, porém normalmente temos no mínimo três causando a doença. Além disto, podem apresentar-se em diferentes graus de intensidade, dando origem a diversos tipos de Golpe de Vento (MACIOCIA, 1996a). Além destes, podem aparecer outros fatores tais como Deficiência de Qi, Sangue ou Yin, especialmente Yin do Rim e/ou Fígado. 2 A LÍNGUA A aparência da língua é um indicador importante, especialmente na prevenção do Golpe de Vento. Por exemplo, se a língua de um animal idoso estiver vermelho-púrpura, rija e inchada, indicando Fogo, Estase, Vento e Mucosidade, teremos um quadro de Golpe de Vento (MACIOCIA, 2003). Assim, a língua rígida pode aparecer antes de um ataque de Golpe de Vento, sinal prodrômico útil juntamente com o adormecimento dos três primeiros dedos de uma das mãos (humanos). O calor interno extremo pode agitar o Fígado e fazer surgir o Vento. Uma língua rígida nunca é meramente um sinal de um problema de canal, mas sempre reflete a desarmonia dos órgãos internos. Quando causado por Vento Interno, ela tem coloração pálida ou normal e é freqüentemente observada em pacientes que sofreram o AVC (acidente vascular cerebral) (em medicina ocidental) e apresentam hemiplegia com ou sem assimetria de face (MACIOCIA, 2003). 16 O AVC é considerado uma patologia Interior e como tal é caracterizada pela presença de um fator patogênico no interior do corpo. Este pode ser Vento, Umidade, Fogo ou, simplesmente, desequilíbrio entre Yin e Yang. Pode haver, por exemplo, Fogo no Fígado, fator patogênico real ou um desequilíbrio entre o Yin do Rim e o Yang do Fígado (MACIOCIA, 2003). É praticamente impossível generalizar a aparência da língua em uma condição de interior porque existem muitas possibilidades diferentes de situações patológicas. A topografia da língua pode refletir a evolução da doença do exterior para o interior e vice-versa, mas não dever ser interpretada de forma rígida, pois com o curso da doença a localização do fator patogênico muda. Devemos sempre integrar os achados de outros métodos diagnósticos. Tendo isto em mente, como regra geral, os perímetros da língua correspondem ao exterior do corpo e as áreas centrais ao interior. O movimento entre o exterior e o interior pode ser refletido na língua na forma de movimento da ponta até a raiz – a ponta corresponde ao exterior e a raiz ao interior do corpo. Esta interpretação é compatível com a noção de que a divisão da língua em três partes – anterior, média e posterior – corresponde aos três aquecedores: Superior, Médio e Inferior, sendo que o Superior é o mais exterior (MACIOCIA, 2003). De forma geral, diz-se que a saburra da língua é amarela em condições do Interior, o que é parcialmente verdadeiro já que podemos ter condições de frio também no interior e aí teríamos uma saburra branca (MACIOCIA, 2003). Também é verdadeiro dizer que quando a saburra é branca ao redor das bordas e amarela no centro, indica que o fator patogênico penetrou no interior e transformou-se em calor e quando a saburra estiver amarela nas bordas e branca no centro, indica que o fator patogênico está perdendo força e a condição está melhorando. E por fim, a ausência completa de saburra é sempre uma indicação de Interior, normalmente de deficiência de Yin do Estômago e Rim (MACIOCIA, 2003). O corpo da língua rígido indica uma condição de excesso – Vento. O corpo da língua aumentado indica uma condição de excesso – Umidade e Fleuma. O corpo da 17 língua vermelho-púrpura indica uma condição de excesso – Fogo/Estase (MACIOCIA, 2003). A tabela 1 descreve a aparência da língua dentro das diferentes etiologias do Golpe de Vento. Tabela 1 – Aparência da língua no quadro de AVC (Golpe de Vento) Deficiência do Yin do Fígado e do Rim COR CORPO SABURRA Vermelha e descascada Rígido (presença de Vento interno) Ausente (deficiência de Yin do Rim Fogo no Fígado Roxa avermelhada Aumentado (calor /estase) Sem raiz, áreas descascadas na raiz (deficiência do Estômago → Intestino) Vento no Fígado/ Umidade Fleuma/ Deficiência de QI do Baço-pâncreas Pálida ou Normal Aumentado (umidade-Fleuma) Com desvio nítido. Pegajosa O esquema abaixo elucida o aspecto da língua no AVC (Golpe de Vento): COR ROXA AVERMELHADA Estase de Sangue PONTA VERMELHA LÍNGUA NO AVC (GOLPE DE VENTO) CORPO RÍGIDO 18 Fogo Coração Vento Interno (calor interior) CORPO AUMENTADO Calor 3 USO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DO AVC A acupuntura é uma das principais modalidades de tratamento na Medicina Tradicional chinesa e era amplamente utilizada nos casos de hemiplegia já muito antes da Dinastia Tang (KAI-HOI et al.; STROKE, 2002). Na década de 70 surgiram os primeiros trabalhos reconhecendo que a acupuntura estimula a liberação de endorfinas, substâncias neuro-humorais com efeito analgésico, incentivando, assim, vários pesquisadores a investir na comprovação científica da eficácia desta terapêutica. Foram realizados trabalhos comprovando sua eficiência no tratamento de inúmeras dores, regeneração nervosa, seqüelas de acometimento do sistema nervoso e em diversas outras áreas (AGOSTINHO, 2003). Vários estudos comprovaram a efetividade do uso de acupuntura em problemas neurológicos: Naeser et al., 1992; Johansson et al., 1993; Sällstrom et al., 1996. Apesar de muitas pesquisas e trabalhos já terem sido realizados, pouco do que se tem descrito são trabalhos padronizados com grupos controle ou grupos placebo. Estudos experimentais têm demonstrado que a acupuntura e a eletroacupuntura têm efeitos bioquímicos e circulatórios semelhantes aos efeitos provocados pelos exercícios físicos. Eletrofisiologicamente, ambos, estimulam a pele e os músculos aferentes. Pesquisas em neurônios de primatas e estudos neurofisiológicos em humanos tem demonstrado que os “mapas corticais” - áreas 19 que representam a parte sensorial-motora da cortical do cérebro – podem ser modificadas por estimulação sensorial. Estas áreas também podem se modificar por perda da sensibilidade como nos casos de bloqueio de nervo periférico e amputação e também em resposta a lesões cerebrais focais, incluindo AVC. Mas também podem reorganizar-se com treinamento e experiências e esta reorganização não ocorre somente na área da cortical, mas também nas regiões subcortical e medula espinhal (JOHANSSON et al., 2001). Comparativamente, um estudo realizado com 150 pacientes que foram separados em 3 grupos com características semelhantes submeteram-se a tratamentos com eletroacupuntura, TENS e tratamento subliminar (estímulos mínimos - grupo controle). No início, os três grupos eram bem equilibrados entre si na função motora e na capacidade de viver o dia a dia. Os pacientes foram perguntados sobre suas expectativas no tratamento. A proporção de respostas afirmativas foi alta em todos os grupos, sendo mais alta no grupo que receberia o TENS. No final da quinta sessão, a proporção de pacientes com expectativas positivas permaneceu alta para TENS e aumentou para a eletroacupuntura. Antes de completar a vigésima sessão durante os três primeiros meses, 2 pacientes tratados com eletroacupuntura morreram de AVC isquêmico recorrente, no grupo TENS, 1 paciente morreu de causa desconhecida e no grupo controle, 2 morreram de infarto do miocárdio e 1 de câncer pancreático. Do terceiro mês até o décimo segundo, outros 4 pacientes morreram no grupo da eletroacupuntura (hemorragia subaracnóidea, infarto cerebral recorrente, deterioração geral após AVC e causa desconhecida) e 3 pacientes no grupo controle (câncer e AVC inespecífico recorrente). No grupo TENS não houve óbito. A única reação adversa no grupo TENS em 1 paciente, foi a fasciculação que o deixava irritado e o fez desistir. Nenhum outro efeito colateral de importância foi observado nos 3 grupos, embora havia 6 pacientes com tratamento de warfarina e outros 30 com tratamento antiplaquetário. O resultado dos testes funcionais foi semelhante em todos os grupos até o terceiro mês. Do terceiro mês ao décimo segundo houve uma melhora no grupo da eletroacupuntura quanto à energia dos pacientes, mas não muito significativa. Quanto ao convívio social (reintegração social) não houve diferenças significativas entre os grupos. Durante o tratamento, o consumo de 20 benzodiazepínicos e antidepressivos foi menor no grupo da acupuntura nos primeiros três meses. As variantes entre este trabalho e os anteriores que demonstraram, muitas vezes índices melhores na recuperação de lesões nervosas, estão na idade e na severidade do déficit neurológico, na severidade do AVC na fase aguda, o tempo de intervenção após AVC (início do tratamento na fase aguda ou subaguda ou 40 dias após – embora ainda não sejam claros os benefícios do tempo x benefícios) e no tamanho dos grupos. Outro fator muito importante foi a escolha do grupo controle. Na maioria dos trabalhos realizados, o grupo controle recebia o tratamento convencional de reabilitação sem nenhuma atenção especial. Neste estudo, o grupo controle recebeu a mesma atenção que os outros 2 grupos, com a mesma equipe de fisioterapeutas durante as 20 sessões por um período maior do que 3 meses. Por analogia, estudos sugerem que muitos efeitos benéficos nos tratamentos dados aos seqüelados de AVC são inespecíficos e que os cuidados gerais, entusiasmo, empatia e devoção aos pacientes são de muita importância na reabilitação e estimulação sensorial dos pacientes, independente das terapias instituídas (no caso, eletroacupuntura, acupuntura e TENS). No caso do grupo controle, embora o estudo demonstrou uma boa recuperação dos pacientes, não se pode afirmar que eles teriam a mesma recuperação se não recebessem a atenção especial dos terapeutas. Também não se pode concluir que os pacientes do grupo controle se recuperariam tão bem se não recebessem estímulo elétrico nenhum. Desta forma, este estudo indicou que vários tipos de treinamento, estimulação sensorial e ativação podem influenciar a reabilitação. Acupuntura e a eletroacupuntura têm efeitos fisiológicos que, teoricamente podem influenciar a plasticidade do cérebro e, assim, o processo de reabilitação. Se presentes, para encontrar tais efeitos, seria necessário um grupo mais homogêneo na questão do local da lesão cerebral (JOHANSSON et al., 2001). MOON et al., 2003 comparou a eficácia da eletroacupuntura e moxibustão na espasticidade provocada no AVC. Foram 35 pacientes, sendo que 15 ficaram no grupo da eletroacupuntura , 10 no grupo da Moxa e 10 no grupo controle. Em dias alternados os pacientes recebiam 30 minutos de eletroestimulação com uma frequência de 50Hz em quatro pontos – IG11, IG10, TA5 e IG4 – no lado afetado. 21 Moxa direta era aplicada nos pontos – IG11, IG10, TA5 e IG4 – três vezes ao dia em dias alternados. O grupo controle recebia somente acupuntura de rotina e exercícios específicos que também eram aplicados nos outros dois grupos. A eficácia do tratamento era medida em uma e três horas e um, cinco, dez e quinze dias depois do início do tratamento usando a escala modificada de Ashworth. No grupo da eletroacupuntura a espasticidade reduziu imediatamente e de uma forma significativa entre uma e três horas após o início do tratamento. No grupo da Moxabustão e no grupo controle não houve mudança significativa depois do primeiro tratamento, sugerindo que somente a eletroacupuntura pode reduzir temporariamente a espasticidade provocada no AVC e se aplicada repetidamente pode mantê-la reduzida. PEI et al., 2001 investigaram o efeito da eletro-acupuntura na fase aguda do infarto cerebral em relação às funções motoras. Oitenta e seis pacientes foram separados em dois grupos. Um recebeu tratamento com eletro-acupuntura durante um período de 4 semanas e o grupo controle recebeu tratamento clínico com exercícios funcionais passivos e ativos. O resultado mostrou que nos dois grupos houve melhora nos níveis de movimentos físicos e habilidades de acordo com a escala chinesa de medida, Brunnstrom-Fugl-Meyer e Barthel Index durante o experimento e três meses depois. As funções motoras e as atividades diárias foram incrementadas significantemente no grupo da eletroacupuntura se comparado com o controle. Os resultados mostraram também uma grande redução de déficit neurológico no grupo da eletroacupuntura. Concluiu-se neste estudo que o tratamento precoce com acupuntura em pacientes de AVC agudo pode promover a melhora das funções motoras e, conseqüentemente, as atividades da rotina diária. Como se observa, há trabalhos que nos demostram os benefícios que a eletroacupuntura associada com acupuntura ou não pode trazer aos pacientes que sofreram AVC, bem como existem outros estudos que não recomendam os métodos de acupuntura como um tratamento efetivo e que possa ser padronizado para o tratamento dos pacientes afetados. Isto demonstra que a acupuntura é mais um método e não o único que pode ser usado na recuperação das seqüelas do AVC e que se associado a outros métodos como a fisioterapia, a ludoterapia, a foniatria terá um efeito satisfatório. Outro fator a ser considerado nos casos de AVC é o tempo transcorrido, a idade do paciente, o tamanho da lesão e o foco da mesma para 22 poder se decidir qual a melhor terapia para o paciente, qual a melhor associação para aquele indivíduo em especial. 3.1 Métodos de Tratamento do AVC pela Acupuntura 3.1.1 Cinco Elementos Na seqüência de gerações, temos que a Madeira é mãe do Fogo e é filha da Água, ou seja, o Fígado é mãe do Coração e filho do Rim (MACIOCIA, 1996b). Na seqüência de controle temos que o Fígado controla o Baço/Pâncreas; o Coração controla o Pulmão; o Baço/Pâncreas controla o Rim; o Pulmão controla o Fígado e o Rim controla o Coração (MACIOCIA, 1996b). Assim sendo, no AVC ou Golpe de Vento, tem-se todo o sistema alterado como pode se ver a seguir em um trecho do livro “Acupuntura Clássica Chinesa” (WEN, 1985): “Se o coração está em excesso ele inibe o pulmão que, por sua vez, inibe o Fígado. O Fígado, fornecendo glicose, fornece também energia vital ao trabalho do miocárdio. As suprarenais transformam o glicogênio em glicose. O Fígado em excesso faz ascender a Energia e, com isso, invade Baço/Pâncreas, inibindo-o. Deste modo, o desequilíbrio que atinge um determinado órgão pode ter sua causa em outro órgão e, da mesma forma, uma doença pode propagar-se ou mesmo transformar-se em outro tipo de doença.” Na seqüência da geração temos que no AVC (MACIOCIA, 1996b): * O Fígado é a mãe do Coração: se o Fígado está em excesso o Fogo do Gan consome o Yin do Coração gerando mais Fogo. * O Coração é mãe do Baço/Pâncreas: se está em excesso causa uma deficiência do Pi gerando Mucosidade e/ou Fleuma. 23 * O Baço/Pâncreas é mãe do Pulmão: se está deficiente não fornece Qi dos alimentos para o Fei que, por sua vez, não descende seu Qi para encontrar o Qi do Rim. * O Pulmão é a mãe do Rim: se o Fei está deficiente, há uma deficiência do Yin do Shen por um excesso de Yang (caminho das águas). * O Rim é a mãe do Fígado: O Shen estando em excesso, e sendo o responsável pela nutrição do Xue do Gan, causa estase do mesmo. Na seqüência do controle temos que (MACIOCIA, 1996b): * O Fígado (Gan) controla o Estômago (Wei) e o Baço (Pi): se o Gan está em excesso, invade o Wei e o Pi, obstruindo suas funções e causando deficiência. * O Baço (Pi) controla o Rim (Shen): se o Pi está deficiente, suas funções de transporte e transformação do Rim e excreção dos fluidos também está deficiente. Com isto, o Yang do Rim ascende e o Baço retém Umidade que pode se transformar em Fleuma. * O Rim (Shen) controla o Coração: eles estão relacionados ao longo do eixo vertical. É um relacionamento fundamental entre a Água e o Fogo e é o equilíbrio mais importante e básico do organismo, pois reflete o equilíbrio entre Yin e Yang. Se o Yin do Shen estiver deficiente, o Yin Qi não será suficiente para atravessar o Coração e, com isto, o Yin do Xin ficará deficiente aumentando o Calor Vazio do Coração. * O Coração (Xin) controla o Pulmão (Fei): o Xin governa os Vasos e o Sangue e o Fei governa o Qi. Se o Fogo do Xin estiver em excesso, obstrui a função do Fei e este não consegue enviar o Qi em descendência. Por sua vez, se o Qi do Pulmão estiver deficiente, poderá levar à estagnação do Sangue do Coração, aumentando o Fogo do Coração. * O Pulmão (Fei) controla o Fígado (Gan): o Fei envia o Qi em descendência para que o Gan dissemine o Qi em ascendência. Se o Qi do Fei estiver deficiente, e não puder descender, o Qi do Gan tende a 24 ascender muito – há uma ascendência exagerada do Yang do Fígado ou uma estagnação de Qi do Fígado. Tratamento No caso de deficiência, deve-se tonificar a Mãe e no caso de excesso, sedar o Filho. No excesso do Meridiano do Fígado, podemos escolher o ponto sobre o meridiano do Fígado relacionado ao seu Elemento-Filho, ou seja, o Fogo: este é o ponto Xingjian F2. Na contra dominância, usamos o ponto do elemento que controla o elemento em excesso. No caso do AVC com Madeira (Gan) e Vesícula Biliar afetados, podemos aplicar Metal R10 e E36 (a Terra está sendo dominada pela Madeira). O Coração afetado, Fogo, estimula-se Filho (Terra – ponto Bp3). Com o Fim deficiente, utiliza-se F8 (ponto Água em Madeira). Outro modo de tratamento usando os pontos do cinco elementos seria para expelir os fatores patogênicos. No caso do AVC, temos Madeira que corresponde ao Vento, o Fogo ao Calor e a Terra à Umidade. Assim, o ponto Madeira seria usado para expelir o fator patogênico Vento, o ponto Fogo para expelir o Calor e o ponto Terra para expelir a umidade (WEN, 1985). 3.1.2 Oito Princípios A identificação dos padrões de acordo com os Oito Princípios é o fundamento para todos os outros métodos, pois identifica a localização e a natureza da patologia e, desta forma, estabelece o princípio do tratamento: * Interno/Externo: no caso de Golpe de Vento (AVC), a localização da doença é Interna, pois há distúrbios dos órgãos internos com alteração de suas funções fisiológicas, bem como o estado geral do paciente é mais grave que nas síndromes superficiais, embora no Tipo Brando poderemos ter o envolvimento exclusivo dos Meridianos, onde não há perda da consciência ou coma, mas apenas paralisia unilateral dos 25 membros e desvio do olho e da boca. As manifestações clínicas do envolvimento dos Meridianos são, basicamente, as mesmas que ocorrem durante o estágio das seqüelas, resultante do acometimento dos Órgãos Internos. (MACIOCIA, 1996b) * Yin/Yang: o Golpe de Vento (AVC) é um quadro Yang decorrente de uma Deficiência de Yin – Deficiência Yin do Rim (Shen) com ascendência do Yang do Fígado (Gan); Deficiência Yin do Rim (Shen) com combustão do Calor – Vazio do Coração (Xin); Deficiência do Qi do Baço/Pâncreas (Pi) com retenção da Umidade ou Fleuma (Tanyin); Deficiência do Sangue (Xue) com estase deste e Deficiência do Qi com estase do Sangue (Xue) (MACIOCIA, 1996b). * Deficiência/Excesso: como já visto anteriormente, essa é uma mistura destes dois padrões, pois a ascendência do Yang do Gan deriva-se da Deficiência do Yin do Gan e/ou do Yin do Shen, causando o aumento do Yang do Gan. Este padrão é caracterizado por um desequilíbrio entre o Yin do Fígado (Gan) que está deficiente e o Yang do Fígado (Gan) que está em excesso. Então, juntamente com os sintomas de um aumento de Yang do Fígado, estariam presentes também sinais de Deficiência Yin do Rim (Shen) e/ou do Fígado (Gan) (MACIOCIA,1996b). Existe também uma diferença entre o padrão de aumento do Yang do Fígado do aumento do Yang do Fígado. Na chama do Fogo do Fígado há um Fogo “sólido” secando os fluidos corpóreos causando sintomas e sinais de secura, como constipação, urina escassa e escura, hiperemia da conjuntiva, rubor facial e gosto amargo, os quais estão ausentes no aumento do Yang do Fígado. A chama do Fogo do Fígado é um padrão puramente de Excesso (MACIOCIA,1996b). A língua e o pulso também diferem no caso de uma condição de Deficiência de base do Sangue (Xue) ou do Yin do Fígado e uma condição do aumento do Yang do Fígado (Gan) em si mesmo. No primeiro caso, a língua está freqüentemente pálida e o pulso é agitado e fino. Se houver Deficiência Yin do Fígado (Gan) e do Rim (Shen), a língua será vermelha ou descascada e o pulso será Vazio-Flutuante. No segundo caso, o pulso será em corda. (MACIOCIA ,1996b). 26 Calor/Frio: é um quadro de Calor, onde temos o corpo quente, agitação, ansiedade, respiração quente, rubor facial, pulso em corda -quando houver o aumento do Yang do Gan por si mesmo e não quando este aumento estiver relacionado com a Deficiência de Yin do Gan. Neste caso, teremos o Calor Vazio originado da Deficiência do Yin do Rim que afeta o Yin do Fígado, como já foi mencionado anteriormente. É importante fazer a diferenciação entre o Calor Cheio e o Calor Vazio, uma vez que o tratamento vai diferir. No primeiro caso consiste em eliminar o Calor e no segundo caso consiste em nutrir o Yin (MACIOCIA, 1996b). Tratamento O princípio do tratamento é dominar o Yang do Fígado (Gan) e tonificar o Yin do Fígado (Gan) e do Rim (Shen). * F3 – domina o Yang do Fígado (Gan); * TA5 – domina o Yang do Fígado (Gan) (cefaléia ao longo do meridiano da Vesícula Biliar); * Bp6 – encontro dos 3 meridianos Yin. Tonifica o Yin do Rim. * R3 – tonifica o Rim * R6 – tonifica o Yin do Rim. * F8 – tonifica o Yin do Fígado (Gan); * VB20 e VG20 – expele o Vento (formado pelo Yang do Fígado). 3.1.3 Zang Fu Os elementos deste processo de identificação dos padrões estão localizados por todo o texto médico da Medicina Chinesa desde os tempos remotos, mas, em sua forma atual, foram elaborados durante o início da Dinastia Qing. É baseado nas mudanças patológicas ocorridas nos Sistemas Internos (Zang Fu) sendo o mais importante dos vários sistemas para diagnósticos e tratamento das patologias 27 internas. Consiste na aplicação dos Oito Princípios em um Sistema Interno (Zang Fu) específico. (MACIOCIA, 1996b) No caso do AVC ou Golpe de Vento podemos ter um quadro de Excesso (Fogo ou Vento) no Gan ou um quadro de Deficiência de Yin do Pi. Temos um quadro de Calor e não Frio e assim por diante. Os órgãos principais envolvidos no Golpe de Vento são o Fígado, Coração, Rim e Baço/Pâncreas. Tratamento A) Fígado a) Chama do Fogo do Fígado (Gan) em ascendência (MACIOCIA,1996b): * Etiologia: a causa mais comum deste padrão é o estado emocional prolongado de fúria, ressentimento, fúria reprimida ou frustração, fazendo o Qi estagnar e implodir, resultando em Calor. Princípio de tratamento – Sedar o Fígado e eliminar o Fogo. Exemplo: animais presos em lugares inadequados sem o convívio humano ou com a espécie. * Manifestações clínicas: Irritabilidade, rubor facial, hiperemia da conjuntiva, língua vermelha com saburra amarela. * Pontos: Xingjian F2 (elimina o Fogo do Gan); Taichong F3 (seda o Gan); Fengchi VB 20 (elimina o Fogo do Fígado e domina a ascendência do Qi); Taiyang ponto extra (elimina o Fogo do Gan); Benshen VB13 (domina a ascendência do Yang do Fígado e acalma a Mente). * Método: Sedação sem Moxa. b) Vento do Fígado (Gan) agitando no Fígado: no caso do AVC (Golpe de Vento) temos duas causas distintas que levam a esta condição (MACIOCIA, 1996b): 28 1) Deficiência do Yin do Fígado que, por um período longo de tempo, causa o aumento ascendente do Yang do Fígado (Gan), que, por sua vez, gera Vento Interior (Vento Interior decorrente da combinação Excesso/Deficiência). * Etiologia: A Deficiência Yin do Gan pode originar-se da atividade sexual excessiva ou excesso de atividades esportivas por um longo período. Na mulher ou nas fêmeas pode originar-se de uma Deficiência de Xue em conseqüência de metrorragias ou menorragias crônicas por período prolongado. Já a ascendência do Yang do Gan é normalmente causada por fatores emocionais (Fúria, ressentimentos, frustrações). * Manifestações clínicas – Inconsciência repentina, desvio dos olhos e boca, hemiplegia, afasia ou dislalia e tontura. Língua vermelho-escura e desviada; pulso Vazio flutuante ou em Cordafino e Rápido.Princípio do tratamento: Nutrir o Yin do Fígado (Gan) e Dominar o Yang do Fígado e o Vento. * Pontos: Ququan F8 (tonifica o Yin do Fígado); Taichong F3 (domina o Yang do Fígado e o Vento); Ganshu B18 (pode tonificar o Yin do Fígado e também dominar o Yang do Fígado); Sanyinjiao Bp6 (tonifica o Yin do Gan); Taixi R3 (tonifica o Yin do Gan); Fengfu VG16 (domina o Vento); Fengchi VB20 (domina o Vento). * Método: Tonificação no F8, Bp6 e R3; Sedação no F3, VG16 e VB20; Estimulação moderada no B18. 2) Deficiência do Sangue (Xue) do Fígado (Gan) causando Vento este padrão é causado pela Deficiência do Sangue (Xue) do Fígado (Gan) que cria um vazio nos vasos sanguíneos os quais são preenchidos pelo Vento Interior. * Etiologia: No caso do AVC (Golpe de Vento), uma Deficiência do Rim (Shen) – Deficiência de Qi ou Jing - pode levar à Deficiência do Sangue (Xue) do Fígado (Gan). 29 * Uma dieta pobre em nutrientes ou proteínas pode debilitar o Baço (Pi) que, por sua vez, não poderá produzir Sangue (Xue) suficiente, causando também uma Deficiência do Sangue do Fígado, pois é ele que estoca o Sangue produzido pelo Baço (Pi). Também ocorre em animais mais velhos, por uma deficiência de Qi ou Jing. * Manifestações clínicas: Parestesia dos membros, tique, tremor na cabeça e nos membros; Língua pálida e desviada (para fora da boca) ; Pulso agitado. * Princípio do Tratamento: Tonificar o Sangue (Xue) do Fígado (Gan) e dominar o Vento. * Pontos: Ququan F8 (Tonifica o Sangue do Fígado); Taichong F3 (domina o Vento do Fígado; Sanyinjiao Bp6, Taixi R3, Pishu B20e Shenshu B13 (tonificam o Sangue); Ganshu B18 (Tonifica o Xue e domina o Vento do Fígado); Geshu B17 (com Moxa direta, Tonifica o Sangue); Hegu IG4 (em combinação com F3, elimina o Vento da face – recomendado para o tique facial); Fengshi VB20, Fengfu VC16 e Baihui VG20 (Dominam o Vento do Fígado). * Método: Sedação no F3, IG4, VG20, VG16 e VB20. Tonificação nos demais. * PONTOS GERAIS UTILIZADOS – F3, VB20, F8, R3, VG16. B) Coração a) Deficiência de Yin do Coração: como etiologia temos a ansiedade persistente, preocupação (animais terapeutas) que podem danificar o Yin Qi. Se esta situação for acompanhada de alterações emocionais profundas e ansiedade, a Mente (Shen) torna-se afetada e a deficiência de Yin se desenvolve. A deficiência do Yin do Coração (Xin) pode surgir após um ataque de calor exterior (animais esportistas), que consome os fluidos corpóreos (Jin Ye) e exaure o Yin do Coração (Xin). A deficiência 30 do Yin do Coração é freqüentemente acompanhada pela deficiência do Yin do Rim que fica impossibilitado de esfriar e nutrir o Coração (relação direta RIM-ÁGUA e CORAÇÃO-FOGO). Assim, o Yin do Coração perdendo a nutrição oferecida pelo Yin do Rim, manifesta uma agitação de calor-vazio do Coração (Xin). Este padrão é mais comum na meia idade ou em pessoas e animais idosos por uma deficiência do Jing. A língua é vermelha e descascada (deficiência de Yin e calor vazio); a ponta é vermelha e edemaciada (calor vazio dentro de Coração); a rachadura da linha média é mais profunda com a ponta mais vermelha ou mais edemaciada do que o resto (mudança patológica no Qi do Coração). O pulso é vazio-flutuante e está freqüentemente debilitado em ambas as posições posteriores, refletindo a deficiência do Yin do Rim (Shen) e o fluxo abundante em ambas as posições frontais refletindo a agitação do calor-vazio do Coração (Xin). (MACIOCIA, 1996b) * Princípio do Tratamento: Tonificar e Nutrir o Yin do Coração (Xin), Nutrir o Yin do Rim (Shen) se necessário e Pacificar a Mente. * Pontos: Shenmen C7 (Tonifica o Sangue e o Yin do Coração, pacifica a Mente); Neiguan PC6 (Pacifica a Mente); Juque VC14 e Jiuwei VC15 (Pacificam a Mente); Guanyuan VC4 (Tonifica o Yin e estabiliza a Mente quando há Calor-Vazio); Yinxi C6 (Tonifica o Yin do Coração); Sanyinjiao Bp6 (Tonifica o Yin e acalma a Mente); Fuliu R7 (Tonifica o Rim); Zhaohai R6 (Tonifica o Yin do Rim e promove o sono). * Método: Tonificar sem a aplicação da Moxa. b) Agitação do Fogo do Coração: este é um padrão de Excesso de Calor – Cheio no Coração causado, no caso do AVC (Golpe de Vento), pelo Fogo do Fígado (Gan) que ascende (MACIOCIA, 1996b). * Etiologia: Alterações emocionais tais como ansiedade e preocupação constantes juntamente com depressão podem conduzir ao Fogo do Coração, levando também a uma estagnação de Qi que pode originar o Fogo quando está estagnado a muitos 31 anos. Como já visto, o Fogo também pode ser transmitido pelo Fígado (Fúria, frustração e ressentimentos). * Manifestações clínicas: palpitação, sede, úlceras na boca, agitação mental, animal inquieto, impulsividade, sensação de calor, insônia, urina escura, ou sangue na urina e gosto amargo na boca. Língua: vermelha, mais na ponta e edemaciada com pontos vermelhos e saburra amarela. Pode haver rachadura na linha média alcançando a ponta. Pulso: cheio, rápido, fluxo abundante. Pode ser rápido com intervalos irregulares. * Princípio do Tratamento: Eliminar o Calor e Pacificar a Mente. * Pontos: Shaochong C9 e Shaofu C8 (Eliminam o Fogo do Coração); Shenmen C7 (Pacifica a Mente); Jiuwei VC15 (pacifica a Mente e elimina o Calor); Sanyinjiao Bp6 e Zhaohai R6 (promovem o Yin e esfriam o Fogo, mesmo não ocorrendo Deficiência de Yin). * Método: Sedação para todos os pontos exceto em Bp6 e R6 que são tonificados sem moxa. c) Fleuma (Tanyin) obscurecendo a Mente – este padrão é do tipo Excesso sem a presença do Fogo, onde o efeito obstrutivo da Fleuma (Tanyin) impede o Qi de abrir-se na língua e o Sangue (Xue) do Coração (Xin) de abrigar a Mente. Portanto, os orifícios do Coração (Mente e Língua) são obstruídos. No AVC (Golpe de Vento), o Vento associa-se ao Fleuma, causando coma, paralisia e afasia(MACIOCIA,1996b). * Etiologia: Pode ser causado pelo consumo excessivo de alimentos crus, frios e gordurosos, provocando a formação de Fleuma que, para obstruir o Coração, é usualmente associada com alterações severas, tais como ansiedade persistente. * Manifestações clínicas: inconsciência, estupor letárgico, vômito, som em forma de chocalho na garganta e afasia. A língua tem 32 saburra espessa, escorregadia, pegajosa, rachadura na linha média alcançando a ponta com pápulas sobre a mesma. O corpo é edemaciado. O pulso é escorregadio. * Princípio do Tratamento: abrir o Coração (Xin), resolver a Fleuma (Tanyin), restaurar a consciência (se inconsciente). * Pontos: Shaochong C9 (Limpa o Coração e abre seus orifícios. Pode-se sangrar se houver inconsciência); Jianshi PC5 (Resolve a Fleuma, sendo o ponto principal deste padrão); Xinshu B15 (Limpa o Coração); Fenglong E40 (resolve a Fleuma); Renzhong VG26 (restaura a Consciência); Zhongwan VC12 e Pishu B20 (tonificam o Baço para resolver a Fleuma). * Método: Sedação, exceto para os pontos VC12 e B20 que devem ser tonificados. (MACIOCIA, 1996b) * PONTOS GERAIS: Bp6, Pc6, R6, C9. C) Rim Embora toda condição patológica do Rim (Shen) se manifesta necessariamente como uma Deficiência do Yin ou do Yang é necessário saber que o Yin e o Yang do Rim (Shen) apresentam a mesma raiz e são duas representações da mesma entidade. Isto significa que, nas condições patológicas, uma Deficiência do Yin do Rim também implicará, necessariamente, numa Deficiência do Yang do Rim e vice-versa. Todavia, deve-se enfatizar que a deficiência será, sempre, essencialmente de um ou outro, nunca podendo ser 50% para cada um. Assim, podemos ver dentro de uma patologia de Deficiência do Yin, certos sinais de Deficiência do Yang também. O Rim (Shen) também é a raiz de todos os outros sistemas – o seu Yin é o fundamento para o Yin do Fígado (Gan) e do Coração (Xin); o seu Yang é o fundamento para o Yang do Baço (Pi) e do Pulmão (Fei). Desta forma, a maioria das patologias crônicas se manifestará com uma desarmonia do Rim (Shen). (MACIOCIA, 1996b) 33 Assim, temos os padrões combinados do Rim que explicam as diversas patologias dentro da MTC. Veremos a seguir os padrões combinados com os órgãos relacionados ao Golpe de vento (MACIOCIA, 1996b). A tabela a seguir demonstra os padrões combinados do Rim em relação aos sintomas do AVC (Golpe de Vento): Tabela 2- Padrões combinados do Shen (Rim) ZANG FU RELAÇÃO ETIOLOGIA MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS TRATAMENTOS nutrir o Yin do Gan e Shen: R3, R6, F8, Vc4, B23, B20, B17, B18. Método de tonificação com Moxa (na língua vermelha, deficiência de Xue) descascada, rachada, pulso flutuante vazio (def. de Yin) ou agitado (defl de Xue). Cinco Movimentos: patologias crônicas insônia, parestesia pelo dos Shen nutre Gan → transmitidas membros, Gan Xin e Fei. Yin/Xue do Gan tontura,olhos secos, fezes ressequidas, SHEN/GAN Cinco Movimentos: Shen esfria o Xin. SHEN/XIN SHEN/PI Shen (portão da vitalidade) transporta/transforma líquidos proveniente do Pi D) Baço/Pâncreas patologias crônicas transmitidas pelo Gan Xin e Fei .acrescida de alterações emocionais provindas do Xin palpitação, insônia, tontura, lombalgia, febre, sudorese, noturna, urina escassa e escura. língua vermelha e descascada com a ponta mais vermelha e rachada na linha média alcançando a ponta. pulso flutuante, vazio, rápido. nutrir o Yin do Shen e do Xin; eliminar o calor vazio do Xin: condição crônica de retenção de umidade, associada a consumo exagerado de alimentos frios e crus debilidade física, mental, fleuma, diarréia crônica. língua edemaciada e pálida. Pulso profundo, debilitado e lento Tonificar e aquecer o Yang do Pi e do Shen: C5, C6,C7,B15, VC15, VB13, VG24, R3, R9, R10, PC6, VC4, Bp6, Yintang R3, R7, B23, VG4, B20, E36, VC6, E37, E25, B25. Método: tonificação com moxa 34 A participação do baço (pi) no quadro de golpe de vento é secundário se levarmos em consideração a importância do papel dos zang fu (fígado, rim e coração) mencionados anteriormente. Mas, uma vez que seu desequilíbrio pode agravar o quadro do golpe de vento, principalmente associado às patologias relacionadas ao fígado (gan), mencionaremos, na tabela abaixo, os padrões combinados descritos (MACIOCIA, 1996b). Tabela 3- Padrões combinados do Pi (Baço) ZANG FU RELAÇÃO Pi fornece Xue para o Gan ETIOLOGIA Dieta pobre, sedentarismo PI/ GAN Deficiência de Xue MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS cansaço, língua pálida, incontinência fecal, parestesia, prurido dos membros. pulso agitado e lingua com laterais edemaciadas TRATAMENTOS tonificar o Qi do Pi; promover Xue e tonificar Xue do Gan: E36, BP3, B20, B21, F8, B17, B18, BP6. Método: tonificação com ou sem moxa Pi deficiente → Umidade no Jiao médio → estase de Qi no Gan PI/ GAN Excesso de umidade Consumo exagerado de alimentos gordurosos geram umidade no Pi. Cansaço, língua pálida, incontinência fecal, parestesia, prurido dos membros. pulso agitado e língua com laterais edemaciadas, plenitude e distensão abdominal, incontinência fecal, sensação de peso, sede (ingestão de líquidos em pequenas quantidades), gosto amargo, icterícia, língua edemaciada, saburra pegajosa e amarela. pulso escorregadio e em corda Tonificar o Pi, promover o fluxo suave do Gi, eliminar o calor: VC12, BP6, BP3, B20, F13, F14, VB24, VB34. Método de sedação. Alguns pontos para lesões específicas do AVC (Golpe de Vento) com envolvimento exclusivo dos Meridianos (ROSS, 2003; MACIOCIA, 1996a): a) Hemiplegia: O tratamento neste caso, refere-se a pacientes que não chegaram ao consultório antes de 3 meses depois do AVC. Os pontos para tratar o espasmo muscular ou atrofia muscular são usados no lado 35 afetado – IG10, PC2, E36, VB30. Também – IG11, VB21, TA14, TA5, IG4, IG3, ID3, PC7, VB29,VB34, VB39, E41, F4, Bp59(ROSS,2003). VG26, VG20 e B7 são os pontos gerais para conter o Vento (MACIOCIA, 1996a). b) Atrofia muscular: se a atrofia estiver muito caracterizada – IG10 e E36 devem ser usados bilateralmente com pontos adicionais para tonificar o Qi do Baço, como VC12 e B20(ROSS, 2003). c) Dificuldades da Fala (Afasia): os principais pontos são – VC23, TA1 e C5, usados com o método de Harmonização. A acupuntura escalpiana pode ser utilizada. Além destes, R6 para beneficiar a garganta (MACIOCIA, 1996a). d) Paralisia Facial: IG4 e E44 podem ser escolhidos como pontos distais e sedados dos dois lados. Pontos locais podem ser selecionados entre VG26, VC24, E5, E6, ID18, IG20, VB14 e B2, usados com método de Tonificação e bastão de Moxa no lado afetado. A combinação IG4, F3, E36 e IG10 chamada de “quatro portas” expele o Vento da face (MACIOCIA, 1996a). e) Hipertensão: se a pressão sanguínea estiver elevada, é importante reduzi-la pois pode ser um fator contribuinte para futuros golpes. Após um golpe utilizam-se: IG4 e F3; R3 para tonificar o Yin do Rim e do Fígado e E9 para reduzir a pressão sanguínea. E36 e VB39 também podem ser utilizados com Moxa (MACIOCIA, 1996a). f) Incontinência urinária e fecal: como prescrição geral – B33, B25, VC6 e VC4, Bp6. Também VG4 e B23 para fortalecer o Fogo da Porta da Vida (controle dos dois orifícios inferiores – uretra e ânus) (MACIOCIA, 1996a). g) Tontura: é um sintoma comum após um golpe de Vento. Os resultados obtidos no tratamento da hemiplegia serão mais eficazes se a tontura for atacada ao mesmo tempo – F3 e B18 (para conter o Vento do Fígado); B23, R3 e VC4 (para nutrir o Rim); VG20 e VB20 (para conter o Vento Interno) (MACIOCIA, 1996a). 36 h) Rigidez e contração dos músculos: nos estágios avançados de seqüelas de Golpe de Vento, os músculos tornam-se rígidos e contraídos. Eventualmente, a perda do movimento gera atrofia dos músculos e desnutrição dos tendões e meridianos. Em tais casos, a fisioterapia é parte essencial do tratamento. Os pontos são do meridiano Yang e caso haja atrofia, deve-se aplicar moxa sobre a agulha. Pontos: IG15, IG11, IG3, ID3, IG4, F3, TA17 e VB20 podem ser aplicados para conter o Vento (MACIOCIA, 1996a). Os pontos Yin não devem ser desprezados, pois são eficazes em casos de longa permanência com desnutrição dos Meridianos e tendões e conseqüente tensão e rigidez: C1 (ombros); P5 e Cs3 (cotovelo); Cs6 (dedos das mãos e das patas); Bp12 (quadril); F8 (joelho); Bp5 e R3 (dedos dos pés e patas) (MACIOCIA, 1996a). É importante salientar o uso das ervas chinesas para uma maior efetividade do tratamento. 4 RELATO DE UM CASO EM MEDICINA VETERINÁRIA 4.1 Histórico Clínica Veterinária Isabel Selbach Novo Hamburgo – RS Período – 16 de outubro a 13 de novembro de 2002 Cão: Tonka Sexo: Fêmea Raça: SRD Idade: 14 anos 16/10/2002 Animal apresentou-se caminhando em desequilíbrio, com tremores pelo corpo inclusive cabeça. Não estava alimentando-se bem (talvez em função do equilíbrio). Segundo proprietário o aparecimento foi agudo sem nenhuma causa aparente. A bioquímica do animal estava normal não apresentando alteração no hemograma e dosagens séricas de uréia, creatinina, enzimas hepáticas, 37 pancreática e glicose. Exame físico, sem grandes alterações. Radiografias da coluna cervical e tóraco-lombar sem alterações ósseas. A língua tinha cor rosa pálida, um pouco aumentada; não foi verificado o pulso. O animal apresentava-se acima do peso normal para o seu tamanho e seu temperamento era calmo, fleumático. Sua alimentação era, basicamente, comida caseira, incluindo guloseimas. 4.2 Tratamento Foi sugerida a acupuntura manual uma vez por semana. No total, foram realizadas 5 sessões, sendo que na segunda sessão o proprietário do animal já relatava melhora no sentido de maior atividade e melhora na alimentação. Três dias após a segunda, o animal já andava mais equilibrado sem cair tanto e já movimentando-se com maior facilidade já sem a ajuda do proprietário. Na quinta sessão, o animal recebeu alta, praticamente não apresentando mais nenhum sintoma, voltando à sua vida normal. Pontos utilizados: VG 20 (contém o Vento Interno); VG16 (expele Vento); E36 (tonifica o Qi do Baço); VG4 tonifica o Sangue); B12 Portal do Vento). Foi tratado, neste animal, segundo a MTC: a deficiência de Sangue do Fígado causada por uma deficiência de Qi ou Jing do Rim. A etiologia provável foi a idade do animal - deficiência de Jing/Qi - agravada por uma dieta pobre em nutrientes - o Baço não produz sangue suficiente, agravando a deficiência de Sangue do Fígado. Uma deficiência de Sangue do Fígado gera Vento dentro dos vasos, causando os sintomas apresentados pelo animal. 5 USO DA ACUPUNTURA COMO MÉTODO PROFILÁTICO DO AVC Como já vimos anteriormente, a medicina chinesa é, antes de mais nada, uma medicina voltada para a prevenção dos desequilíbrios do corpo e porque não voltarmos a sua aplicação também nos tempos modernos, assim como era nos tempos antigos, para prevenir. No caso do AVC, como as lesões normalmente levam 38 a um comprometimento da vida normal do indivíduo, humano ou não, e sua recuperação requer tempo, paciência e condições econômicas boas, no caso dos humanos, uma vez que a hospitalização, as equipes que assistem o paciente, podem tornar-se bastante dispendiosas dependendo do tempo de internamento, nada mais lógico do que pensar na prevenção. Já foi comentado que a tensão emocional leva a uma Deficiência do Rim e é uma das causas da formação do Vento Interno. Relacionando os sentimentos com os principais órgãos responsáveis pelo Golpe de Vento, temos que (ROSS, 2003): - Fígado: Muitos tipos do Fígado geram continuamente estresse pelo estilo de vida tenso, apressado e impaciente que adotam no trabalho e no dia a dia. Estes indivíduos também sentem-se facilmente impedidas e bloqueadas, situações que geram frustração e raiva. Entretanto, não são apenas os tipos Yang do Fígado que correm perigo com sua característica expressa. Os tipo Yin também podem desenvolver o quadro de Golpe de Vento, pois internalizam a raiva e adotam um comportamento submisso e agradável aos olhos do mundo. Assim também os animais estão sujeitos ao seu próprio comportamento e também ao comportamento dos seus donos que, muitas vezes, podem tornar-se a causa do seu stress somando-se às suas características mentais (ROSS, 2003). - Rim: Muito desta raiva pode surgir por medo, especialmente o medo de perder o controle. Por exemplo, uma pessoa dominadora pode sentir-se segura somente quando tudo corre de acordo com a sua vontade, caso contrário sente-se ameaçada, desenvolvendo enorme raiva. Assim também um animal medroso tende a reagir com medo quando sente-se ameaçado. Qualquer mudança, no trabalho, na vida, na idade de uma pessoa, pode causar uma pressão tal que as predispõe a uma situação de Golpe de Vento por um desequilíbrio do Rim (ROSS, 2003). - Coração: O estado crônico de estresse, hiperatividade, hiperexcitação ou mesmo maníaco das pessoas do tipo Yang do Coração pode resultar em hipertensão e à predisposição a um AVC, 39 especialmente se houver Fleuma além de Fogo no Coração (ROSS, 2003). É importante ter a compreensão exata dos fatores causais, para dar o conselho adequado sobre o estilo de vida capaz de ajudar na recuperação e diminuir as chances de futuros derrames. Exemplos de pontos a serem utilizados visando a eliminação dos agentes causantes do Golpe de Vento seriam: - Regular o Fígado para aliviar a Estagnação do Qi e controlar a Hiperatividade do Yang se esses padrões estiverem presentes. F3 e VB20 podem ser usados bilateralmente pelo método de dispersão se houver raiva reprimida, impaciência, tonteira, pressão alta, pulso em corda ou outros sinais de Fígado. Na hipertensão, E36 e VB39 com Moxa, consiste uma combinação possível e eficaz (MACIOCIA, 1996b). - Se houver Fogo no Coração, PC3, o ponto Água, pode ser incluído no tratamento com o método de harmonização ou dispersão, bilateralmente. Para fortalecer o Yin do Rim e melhorar o medo R6 pode ser usado bilateralmente (MACIOCIA, 1996b). Assim também a compleição física do indivíduo também nos mostra algum desequilíbrio que pode ser importante no desenvolvimento de alguma patologia. Como exemplo, um animal idoso, obeso, língua com bordas edemaciadas e vermelhas, pulso deslizante, olhos vermelhos – já indicando um padrão de Deficiência de Yin do Rim e Yin do Fígado, levando, também, a uma Deficiência do Baço. Através do comportamento, da personalidade do nosso animal já podemos pensar em alguns pontos de equilíbrio de todo o sistema, evitando o aparecimento de patologias. O meio ambiente, convívio com animais compatíveis, modo de lidar, maneira de treinar são todos fatores importantes e que deveriam ser levados em consideração não importando a espécie em foco. 40 5.1 Alimentação A alimentação é de suma importância para mantermos o equilíbrio Yin/Yang de que tanto precisamos para termos uma vida saudável e duradoura. Abaixo, um trecho de Chopra & Simon, (2001): “A maneira como nos alimentamos é tão importante quanto aquilo que comemos. A maneira como preparamos e consumimos uma refeição é fundamental para seus efeitos nutritivos, tanto quanto sua composição de carbohidratos, proteínas, vitaminas e minerais. Tentar compensar alimentos preparados rapidamente e comidos às pressas com suplementos nutricionais não funciona. Sua atenção é a força de cura mais poderosa à sua disposição e comer com consciência pode transformar suas refeições de um mero reabastecimento em uma experiência de cura. Tente prestar atenção aos seguintes cinco princípios simples e observe a qualidade de sua nutrição.” Segundo os autores devemos observar nosso apetite para alimentarmo-nos somente quando o corpo pedir; prestar atenção no que se está comendo, pois quando nos concentramos nas sensações, sinais, sabores e odores dos alimentos nossa digestão é estimulada e melhora nossa capacidade de aproveitar os elementos nutritivos das refeições; devemos comer para satisfazer nossas necessidades, evitando o exagero; dar preferência a alimentos recém preparados, evitando enlatados, congelados, preparados no microondas e altamente industrializados. Dar preferência para alimentos integrais e legumes ricos em energia vital, frutas frescas e sucos de verduras e legumes; respeitar os horários das refeições, definindo tempo e espaço para as refeições, permitindo assim a metabolização da energia e as informações do ambiente em substâncias para o organismo. Observar a presença dos seis sabores em cada refeição, evitando a tendência de comer mais a fim de se sentir saciado. Quanto aos animais, como somos responsáveis por sua alimentação, devemos respeitar sua idade, seus problemas orgânicos já estabelecidos, sua atividade física diária (se é um animal desportista ou não) e proporcionar-lhes um alimento saudável, de preferência com algum alimento que não seja apenas ração tais como, frutas, legumes, verduras, ácidos graxos essenciais sob a forma de óleo, fracionando a refeição quando possível e dependendo da espécie em foco. 41 Alimentos que auxilia a combater alguns fatores responsáveis pelo AVC (STÜRMER, 2002): Colesterol: é um elemento do grupo dos lipídios presente no nosso organismo que é utilizado na produção de hormônios, ácidos biliares e membranas celulares. O nosso organismo sintetiza 70% do colesterol e apenas 30% provém dos alimentos. Em excesso, acumula-se nas paredes das artérias (ateromas) causando doenças cardiovasculares. A falta de atividade física também influencia no aumento do colesterol (STÜRMER, 2002). Alimentos que ajudam a controlar o colesterol: Feijão, soja, tomate, goiaba, melancia, abacate (aumenta o HDL), chocolate (com moderação - reduz o LDL), aveia, alho, cebola, peixes gordos (ricos em ômega 3), azeite de oliva, amêndoas, nozes, castanhas, maçã, laranja, cenoura, chás, uvas, café, fitoesteróis (sementes de girassol e de soja). Exercícios físicos: o sedentarismo e a depressão são fatores de predisposição à formação de ateromas: Diabetes: os depósitos de açúcar comprometem sobretudo os microvasos que, com o tempo, tendem a bloquear a passagem do sangue (STÜRMER, 2002). Informações nutricionais: cereais, leguminosas e grãos (retardam a absorção dos carboidratos); verduras e frutas frescas (as vermelhas e roxas contém licopeno que ajuda a prevenir doenças cardiovasculares); peixes (ômega 3 ajuda no controle da glicemia); cebola; brócolis e cereais integrais; canela (estimula a atividade da insulina); feijão; frutas e verduras (protegem as artérias das obstruções); gérmen de trigo, bananas, nozes, pimentão, repolho e couve (fonte de vitamina B6 que controla a glicemia). Triglicerídeos: são ésteres de três ácidos graxos com glicerol. Sua função é fornecer energia imediata. Em excesso deposita-se nas artérias, formando os ateromas. Alimentos saudáveis: aveia em flocos, ervilha, laranja, maçã, pão integral, cenoura, feijão preto, beterraba (as fibras reduzem a gordura circulante); peixes, alimentos antioxidantes como frutas, verduras e legumes. 42 A prática de atividade física (3 a 4 vezes por semana por, no mínimo, meia hora) com atividade aeróbica, reduz os níveis de LDL e triglicerídeos e aumenta o HDL. Hipertensão arterial: os pesquisadores acreditam que metade dos hipertensos desconhece seu problema, pois a doença não costuma dar qualquer sinal de elevação da pressão arterial. Para identificá-la deve-se prestar atenção a sintomas como hemorragia nasal, enxaqueca latejante, inchaço nos tornozelos, insônia, palpitações, micções freqüentes, zumbido nos ouvidos, vermelhidão na pele (STÜRMER, 2002). Nos cães e gatos, não é comum a hipertensão arterial sistêmica primária, no entanto, a hipertensão secundária conseqüente de doenças sistêmicas acontece com bastante freqüência, mas passa desapercebida. Está, geralmente, associada à obesidade, insuficiência renal crônica, hipertireiodismo, hiperadrenocorticismo e tumores secretores de mineralocorticóides (EVANGELHO et al, 2003). Alimentos que diminuem a pressão artéria: alho; damasco, banana, aipo, vegetais verdes, salsinha e alcachofra (ricos em potássio e magnésio que regulam a pressão arterial); peixes gordos (ômega 3, selênio e potássio); azeite de oliva (gordura monoinsaturada que ajuda a reduzir a pressão arterial); alimentos ricos em fibra (que atuam no relaxamento dos vasos sanguíneos); alimentos ricos em cálcio (pesquisadores afirmam que a pressão alta está mais relacionada a uma deficiência de cálcio na dieta) (STÜRMER, 2002). Também em relação à profilaxia, é importante classificar os alimentos para podermos escolher o melhor, dependendo do que se quer prevenir em um indivíduo ou o que pode-se utilizar para ajudar na sua recuperação. A classificação quanto ao sabor, natureza e movimento também é válida para auxiliar na estabilização ou prevenção de uma patogenia (CORDOVA, 2003): Sabores – amargo, doce, picante, salgado, ácido ou azedo. Movimentos - ascendente, descendente, neutro, centrífugo e centrípeto. Natureza – quente, morna, neutra, fresca, fria. 43 5 1 1 Os Alimentos e o Golpe de Vento SABOR Amargo – reduzem o calor do corpo, drenam fluidos corporais, tonificam a energia do Rim (revitalizam o Sangue) e harmonizam a energia do Pulmão (descendência do Qi). Exemplos: alcachofra, couve, chicória, casca de limão, pimenta branca, soja, vinho (CÓRDOVA, 2003). Doce - tonificam, harmonizam e regulam o Qi. Tonificam a energia do Baço, dispersam a energia do Coração (sedam o Shen) e harmonizam a energia do Fígado. Exemplos: abobrinha, açúcar branco e mascavo, cenoura, cereja, gergelim preto, goiaba, maçã, leite de vaca, manteiga, mel, mamão papaia, melão, peixes de carne branca (CÓRDOVA, 2003). Picante - ativam a circulação de Qi, dispersam a energia do Pulmão, tonificam a energia do Fígado (atuam sobre a Madeira, dispersando ou expulsando o Vento) e harmonizam a energia do Rim (estimulam o Qi Ancestral). Exemplos: açafrão, folha de mostarda, casca de canela, pimentões, óleo de soja, pistache, gengibre, nabo, coentro, vinho (CÓRDOVA, 2003). Salgado - dispersam a energia do Rim, tonificam a energia do Coração e harmonizam a energia do Baço. Exemplos: algas em geral, feijões, ostra, ovo de codorna, frutas secas, marisco, ouriço do mar, painço, polvo, carne de rã, sardinha, sal, carne de porco (CÓRDOVA, 2003). Azedo ou ácido-adstringente – são produtores de fluidos corpóreos.Dispersam a energia do Fígado, tonificam a energia do Pulmão (ajudam o Qi do Pulmão descender) e harmonizam a energia do Coração. Exemplos: abacaxi, alho poró, limão, manga, maçã ácida, queijo de vaca ou de cabra, tomate, uva, vinagre. Mais adstringentes: brócolis, couve-flor, goiaba, lentilhas, pêra, batata inglesa (CÓRDOVA, 2003). MOVIMENTO 44 Alimentos de movimento ascendente e centrífugo - fazem o Qi moverse para cima e para a superfície do corpo (dispersam o vento). Geralmente, são alimentos de natureza quente ou morna, de sabor picante (Metal corta a Madeira) e/ou doce. Exemplo: alecrim, óleo de soja, pimenta do reino e pimentões (CÓRDOVA, 2003). Alimentos de movimento descendente e centrípeto - fazem o Qi moverse para baixo e para o interior do corpo (eliminam o calor, eliminam os acúmulos, tranqüilizam o Shen e acalmam o Vento). Geralmente, são alimentos de natureza fresca e fria, de sabor azedo ou salgado (reforço do movimento Madeira que está deficiente). Exemplo: alga nori, trigo e sal (CÓRDOVA, 2003). Alimentos de movimento descendente e ascendente – fazem o Qi mover-se tanto para cima como para baixo no organismo (promovem o fluxo suave do Qi). Exemplo: açafrão, agrião, ameixa, aspargo, azeitona, cação, framboesa, ostra, porco, queijos, rabanete, sardinha, uva, peixe viola (CÓRDOVA, 2003). Alimentos acetinados – aumentam a circulação do Qi. Facilitam os movimentos, aumentando a circulação do Qi. São bons para constipação e secura internas. Exemplo: mel, espinafre (CÓRDOVA, 2003). NATUREZA No Golpe de Vento temos um quadro Yang o que indica como melhor escolha os alimentos de energia mais Yin. São os alimentos de natureza fria e fresca que resfriam o organismo, aumentando o Yin. Os alimentos de natureza neutra também podem ser utilizados, pois nem esfriam, nem esquentam. São equilibradores (CÓRDOVA, 2003). Desta forma, faltando Yin Qi, deve-se consumir algum alimento frio, muitos frescos, neutros e algum morno, para dar equilíbrio. E, se tem equilíbrio, deve-se consumir os alimentos mornos, neutros e frescos, deixando-se os frios e quentes para consumir somente vez ou outra (CÓRDOVA, 2003). 45 CONCLUSÃO Considerando-se o trabalho exposto e levando-se em consideração todos os fatores que regem o equilíbrio do organismo conclui-se que: a) Em primeiro lugar devemos fazer uso das medidas profiláticas da Medicina Tradicional Chinesa, ou seja, interagir de uma forma natural e saudável com o meio que nos cerca através de uma alimentação adequada, de uma atividade física condizente e de um meio ambiente limpo e saudável dentro das possibilidades do lugar onde se vive. b) Tendo-se o problema instalado, ou seja, o quadro do AVC com suas seqüelas, deve-se usar todos os métodos avaliados e considerados proveitosos para os pacientes, tendo-se, sempre, o cuidado de aplicar o método que mais condiz com o estado físico e emocional do mesmo. c) O método da acupuntura associada com a eletroacupuntura ou não, não pode ser considerada como método único e padronizado, sem a associação aos métodos tradicionais de apoio ao paciente, no tratamento do AVC. d) A acupuntura associada à eletroacupuntura, à Moxa e às ervas chinesas, constitui-se em um tratamento complementar eficaz para determinadas lesões provocadas pelo AVC, conferindo, muitas vezes, uma melhora na qualidade de vida do paciente. e) A acupuntura deve ser associada a outros métodos tais como a fisioterapia, a psicoterapia, a ludoterapia, firmando-se assim, como uma 46 terapia auxiliar de grande valor tanto na recuperação quanto na profilaxia de indivíduos lesados ou com predisposição para apresentar a patologia. 47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGOSTINHO, G. 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