O Médico e o Charlatão O Pensar a bioética: metas e

Transcrição

O Médico e o Charlatão O Pensar a bioética: metas e
RESENHA
O Pensar
a bioética:
metas e
desafios
Diego Gracia
Centro Universitário São Camilo
e Edições Loyola,
São Paulo, 2010
Pensar a bioética é a tradução para o português de
“Como arqueros al blanco: estúdios de bioética”, publicado
em Madrid em 2004.
Diego Gracia, psiquiatra, é Professor Catedrático de História da Medicina da Universidade Complutense e nome
essencial na bioética ocidental. De sólida formação filosófica, tem desenvolvido um complexo sistema de deliberação
bioética centrado em valores, buscando melhor resolver
dilemas onde o principialismo falha. Defende uma bioética
médica independente da religião e da deontologia. Herdeiro e sucessor de Pedro Lain Entralgo utiliza a história tanto
da moral médica quanto da filosofia para argumentar suas
teorias, construindo um texto ao mesmo tempo erudito e
objetivo.
O livro é uma compilação de vinte artigos, abordando os
principais temas da bioética contemporânea, como “Poder
e saúde na história”, “Religião e ética”, “A confidencialidade
dos dados clínicos”, “As drogas e seu mundo”, “A ética da
sexualidade” além de um brilhante texto sobre o “Juramento hipocrático”.
A publicação disponibiliza o texto elegante de Gracia
para os brasileiros, uma vez que apenas uma outra obra sua
havia sido traduzida, seu monumental “Fundamentos da
bioética”, mas em uma edição portuguesa de difícil acesso
(Coimbra, 2007).
“Como arqueros al blanco” é um livro, como nos disse
Gracia, “para seguir compartiendo inquietudes”.
Ylmar Corrêa Neto
O Médico e
o Charlatão
(Il Medico e lo Stregone).
Itália, 1957. Direção: Mario
Monicelli. Elenco: Marcelo
Mastroianni, Vittorio de Sica,
Marisa Merlini, Lorella de
Luca, Gabriella Pallotta.
98 min.
Quem não vivenciou ou ouviu contar histórias sobre as
grandes dificuldades do médico ao chegar para trabalhar
em pequenas cidades do interior? Acomodações sofríveis,
consultórios sucateados, necessidade de se afirmar perante a comunidade e, às vezes, lutar contra crenças e a
ignorância dos moradores. Essa é a receita da comédia de
Mario Monicelli. Um jovem médico chega para se instalar em uma pequena e pobre cidade italiana. Lá encontra
uma população fiel a um curandeiro local, o qual emprega métodos “terapêuticos” que vão dos chás às rezas e
curas espirituais. O conflito é inevitável. De um lado, um
médico com formação científica e abordagem técnica das
questões de saúde; do outro, um conhecedor da natureza
humana, especialista em aproveitar-se da confiança dos
simplórios membros daquela comunidade. Falta ao médico, entretanto, a sensibilidade necessária para lidar com
aquela realidade, encontrando, como exemplo, imensas
barreiras para implantar uma campanha de vacinação. As
desavenças entre o médico e o charlatão, com o envolvimento da comunidade, embora calcadas em problemas
reais e sérios, acabam produzindo cenas hilariantes. As
dificuldades que aparecem no filme são quase as mesmas
que ainda hoje o médico encontra no seu cotidiano para
obter a adesão dos pacientes ao tratamento proposto.
Quem ainda não ouviu algum paciente citar a receita infalível dada pela vizinha, pelo amigo, pelo familiar?
Mario Monicelli é um dos maiores diretores italianos,
além de já ter sido premiado nos mais importantes festivais internacionais de cinema e inclusive com o Oscar.
Tem hoje mais de noventa anos e mais de 70 filmes realizados, entre longas e documentários. Filmes como “Parente é Serpente”, “Os Eternos Desconhecidos”, “Meus
Caros Amigos”, “O Incrível Exército de Brancaleone” e vários outros foram sucesso de público e de crítica. Em uma
época onde a principal atração de um filme passa a ser
a tecnologia 3D, uma história contada com bom humor,
leveza e emoção na medida certa, com a impecável trilha
sonora de Nino Rota, nos traz de volta o cinema onde o
que conta é o enredo e os diálogos, sem a necessidade de
efeitos especiais.
Rodrigo Bertoncini
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REVISTA CREMESC