DN Madeira 1 27-02-2011 opt
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DN Madeira 1 27-02-2011 opt
21-02-2011 PAGINA 12 - 21:00 CAPA Aos 35 anos, o madeirense Bernardo Nascimento começa a ‘ganhar nome’ no mundo do cinema. Prova disso é a curta-metragem que escreveu, produziu e realizou e que está a fazer parte de alguns dos mais importantes festivais do mundo TEXTO ANA LUÍSA CORREIA FOTOS DR Do Funchal para o NOSÚLTIMOSTEMPOS,Bernardo Nascimento é um homem muito ocupado. Não só pelo trabalho como ‘second unit director’ numa longa-metragem entre Bombaim e Barcelona, mas também porque a curta-metragem que escreveu, produziu e realizou, intitulada ‘North Atlantic’, está a ter sucesso um pouco por todo o mundo, fazendo agora parte da selecção oficial de festivais de cinema como o de Londres, Tóquio, Roma, Ancara... O jovem madeirense chegou ao cinema por uma sucessão de acasos, mas hoje diz que é mesmo aquilo que quer fazer. E numa quartafeira, depois de ter estado a trabalhar até às 5 da madrugada, acedeu a responder às questões da MAIS e assumir com frontalidade que a Madeira está a ‘pedir’ um filme grande. Porquê o Cinema? Sempre foi um desejo, ou surgiu por acaso? Foi acontecendo, numa sucessão de acasos. Hoje sei que é isto que quero fazer. Um dia olhas à tua volta e percebes: é isto, ‘cheguei’.É uma sensação muito boa. Mun undo tar-lhes o que se passava. Contaram-me: naquele mesmo lugar tinham combatido, em facções opostas, perdido amigos e irmãos, e era a primeira vez que ali voltavam… Bom, mas há coisas boas também: enquanto desenhávamos a Torre de Controlo do North Atlantic, estávamos muito atrapalhados, porque não conseguíamos encontrar um bom ‘contruction manager’ que, como o resto da equipa, estivesse disponível para trabalhar sem ser pago. Explicava isto a um amigo já reformado, cujo último trabalho tinha sido no ‘Star Wars’. Respondeu-me ele ao telefone: “ainda cá tenho na oficina o equipamento que usámos para construir o ‘Millenium Falcon’ (a mítica nave do ‘Star Wars’). Acho que fazer o teu radar não vai ser muito difícil, quando queres começar ?” Umas semanas depois, no segundo dia de rodagem do ‘North Atlantic’, lembro-me do momento em que parei e olhei à minha volta. Eram 4 da manhã, dentro de uma torre de controlo no norte de Londres e eu ali, rodeado por uma equipa de gente que admiro muito, amigos bons, que com o seu talento, muito trabalho e um sorriso na cara, construíam à minha volta, o mundo que escrevi., exactamente como eu o imaginei. Foi um privilégio monstro. Depois veio a estreia no London Film Festival, no NFT1: uma sala ‘de antologia’, esgotada, com 900 pessoas do mundo todo, entre as quais a minha namorada, os meus pais, irmãos e amigos, ou seja todos os que me são queridos e que tanto me têm apoiado neste percurso. Tê-los comigo nessa noite foi muito bom... E agora, sabe muito bem sentir o entusiasmo das pessoas que me são próximas, nomeadamente na Madeira, e que, de forma tão activa me estão a ajudar a levar o filme aos festivais. Sentiste necessidade de sair de Portugal para concretizar esse objectivo na 7ª Arte? Não. Eu saí de Portugal para estar com uma namorada que nessa altura vivia em Londres. Por lá continuei a trabalhar em cinema e hoje estou muito grato pela forma como aquela cidade me permitiu estar hoje aqui com um primeiro filme. Mas estou convencido que poderia ter acontecido noutro lado qualquer, Portugal inclusive.... Tens tido várias experiências. Até agora qual a mais marcante? Tenho tido a sorte de viajar com o cinema e esta é uma forma muito especial de se entrar num país. No Líbano, a rodar um filme americano (’Blackline’, ainda em pós-produção) estávamos a preparar uma batalha, utilizando figuração local e um hospital completamente destruído pela guerra civil. No princípio do dia, dou com dois destes figurantes a chorar abraçados um ao outro. Fui pergun- 12 MAIS DE 27 DE FEVEREIRO A 5 DE MARÇO DE 2011 FRANCISCOTAVARES,TAMBÉMMADEIRENSE é o protagonista da ‘curta ‘escrita, produzida e realizada por Bernardo Nascimento. Esperavas este sucesso da curta-metragem que escreveste e realizaste? Não “esperava”, mas tinha esperança, se me faço entender... Foi para isto que trabalhámos mas é um processo em várias partes: a primeira pessoa satisfeita com o filme tens que ser tu, depois a equipa que te ajudou a fazê-lo, e ´’last but not least’, o público que o vê pela primeira vez. Quando tens a sorte de reunir estes três ‘sucessos’, sentes-te pronto para encarar os festivais com optimismo. Agora, se me perguntas se estava à espera de que o filme fosse seleccionado de Londres a Tóquio, passando por Los Angeles, não, não estava. Nesta última semana, todas as manhãs temos recebido um email de um festival. É um pequeno-almoço muito bom. E o futuro, pensas experimentar o mundo das longas-metragens? Sim, Fazer o ‘North Atlantic’ foi um passo nesse sentido. Uma curta é o cartão de visita de um realizador em princípio de carreira. Ao longo dos anos trabalhei sobretudo em longas e é esse o meio em que me sinto mais à vontade. Quem me conhece, sabe bem que a síntese não é o meu forte: numa longa há mais espaço e tempo para se contar uma história, para se brincar com o ritmo da mesma, em suma, arriscaria dizer que é um brinquedo mais completo. Estou neste momento a preparar uma, outra vez em torno do mar: a insularidade deixa marcas... Imaginas-te, um dia, nos Oscar? Isso é como perguntar a um pai com um bebé recém-nascido nos braços, se imagina que o filho venha a ser campeão olímpico... Acabei de fazer o meu primeiro filme e gozo cada momento deste processo, passo a passo. Os meus Óscares, para já, são as reacções das pessoas quando estão a ver o filme. Sento-me na sala, discretamente de costas para a tela, a ver o filme na cara delas. Vê-las rir, chorar, encolher-se na cadeira, suspirar. Não há nada que valha isso. É muito gratificante testemunhar ao vivo a relação que os especta- dores criam com um objecto criado por ti. Mas não quero fugir à pergunta! Se um dia um filme meu pode chegar aos Óscares? Porque não? O ‘North Atlantic’ este ano esteve em consideração para os BAFTA’s pelo que tudo pode acontecer. Neste momento, quero mesmo é reunir condições, para fazer o próximo. Recomeçar o processo, experimentar, aprender, gozar isso tudo. Depois logo se vê... Achas que a Madeira tem potencialidades cinematográficas? Há uns anos, um realizador e grande amigo – o João Esteves, casado com uma madeirense e com filhos madeirenses - apaixonou-se pela Fajã dos Padres e escreveu ali uma história na qual trabalhámos durante largos meses. Na altura, o projecto ficou suspenso, porque não se conseguiu financiamento mas já na altura as potencialidades eram enormes... Histórias existem em todo o lado, mesmo dentro de um quarto, mas o que a Madeira oferece é especial: sempre que consigo dar um salto ‘a Ponta do Pargo (ou à Encumeada, ou Curral, ou São Vicente, ou Ponta de São Lourenço, ou…bom ‘à ilha toda na verdade) passo horas entretido a pensar em formas de trazer aqueles espaços e aquilo que me transmitem para dentro de um filme… Actores também tem e o Francisco Tavares é uma das provas claras disso. Espero que em breve o possam ver aí. Realizadores também há. No passado há uns nomes grandes (António Cunha Telles, Vicente Jorge Silva), mas mais recentemente ouvi falar muito bem de uma curta (‘Full House’) que ainda não vi mas quero ver. E festivais, tem o do Funchal, que espero que continue a afirmar-se no circuito internacional. A Madeira está a pedir um filme ‘grande’, e terá muito a ganhar quando o fizer. Estou convencido que mais cedo ou mais tarde acontece. Que seja mais cedo! www.northatlanticshortfilm.com - www.facebook.com/northatlantiscshortfilm 13
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