A ALMOFADA DE PENAS: um conto, duas histórias

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A ALMOFADA DE PENAS: um conto, duas histórias
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A ALMOFADA DE PENAS: um conto, duas histórias
MARTINS NETO, Irando Alves1
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar o enredo do conto A almofada de penas (1907), de
Horácio Quiroga, na tentativa de apresentar uma possibilidade de leitura que vá além dos níveis
gramatical e semântico, levando em conta, sobretudo, o nível pragmático. Para tanto, contamos com
referenciais teóricos acerca da narrativa e do conto, os quais sustentarão a interpretação formulada.
Palavras-chave: Narrativa, conto, nível pragmático.
ABSTRACT: This paper aims to analyze the plot of the short story The feather pillow (1907), by Horacio
Quiroga, in the endeavor to present a possibility of reading which goes beyond the grammatical and
semantic levels, taking into account mainly the pragmatic level. For this purpose, we resort to theories
about narrative and short stories, which will support the interpretation made.
Keywords: Narrative, short story, pragmatic level.
APRESENTAÇÃO
Quando falamos em leitura, precisamos entender a amplitude de seu conceito nos dias atuais.
Se por muito tempo ler foi considerado traduzir grafemas em fonemas, hoje podemos dizer que o
processo de leitura abrange a linguagem como um todo, não se limitando à língua escrita. Desse modo,
lemos placas, quadros, expressões faciais, olhares, gestos etc. Importa dizer que, neste trabalho, ao
mencionarmos leitura, estaremos nos referindo especificamente ao texto escrito.
Mesmo quando se trata de palavras, o ato de ler vai além da decodificação de signos
linguísticos, pois a construção de significado de um texto depende da atuação de seu leitor, que
precisa compreender os conteúdos sistêmicos (decodificação e organização sintática), semântico e
pragmático. Em outros termos, ler significa compreender o outro e o mundo por meio de um processo
de interação entre leitor e seu interlocutor. No que diz respeito ao texto literário, uma leitura superficial,
que desconsidera o contexto de produção, resulta na não-compreensão de o que está implícito. Por
Graduado em Letras pela Fapepe. Mestrando em Educação pela Unesp. Professor de Língua Inglesa do Centro de Estudos Britânicos
de Presidente Prudente.
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essa razão, o objetivo deste artigo é analisar o enredo do conto “A almofada de penas”, de Horácio
Quiroga, a fim de apresentar uma possibilidade de leitura que vá além dos níveis gramatical e
semântico.
1 Um Pouco Sobre Quiroga
Horácio Silvestre Quiroga Forteza nasceu em Salto, Uruguai, em 31 de dezembro de 1879 e
faleceu em Buenos Aires, Argentina, no dia 31 de dezembro de 1937. O escritor teve uma vida um
tanto quanto trágica: seu pai morreu quando ele tinha quatro anos; seu padrasto, sua esposa e seus
três filhos cometeram suicídio; e seu melhor amigo foi por ele morto pelo disparo de um tiro acidental.
Aos 59 anos, Quiroga cometeu suicídio após ser diagnosticado com câncer.
Escreveu histórias que, geralmente em ambientes selvagens, utilizam o sobrenatural e o
bizarro para mostrar a luta do homem pela sobrevivência. Também retratou doenças mentais e estados
alucinatórios. Na mesma linha de Edgar Allan Poe, seus contos tratam de eventos fantásticos e
macabros, sempre relacionados ao terror, doença e outros sofrimentos do ser humano. Um dos seus
principais contos talvez seja A galinha degolada, parte de sua obra Contos de amor, de loucura e de
morte.
2 Um Conto, Duas Histórias
Contar histórias é algo presente no dia-a-dia de todos. Seja em casa ou no trabalho, na rua ou
num bar, não importa onde estejamos, sempre ouvimos ou contamos histórias, sobre diferentes
assuntos: morte de um conhecido, um acidente de trânsito, amor, raiva. Mas em que consiste contar
histórias?
Em geral, quando contamos uma história, estamos relatando um acontecimento que
presenciamos ou que fomos ditos. Ou seja: trata-se de um ponto de vista, uma leitura, de um fato
(geralmente verdadeiro). Tal ocorrência sucede com alguém (ou algo), em algum tempo e espaço.
Similarmente é o conto literário: existe um evento, que acontece com alguém ou algo, em
algum lugar e tempo. A diferença está em quem conta e no modo de contar. Na literatura, o
acontecimento é vivenciado por um narrador, isto é, uma pessoa inventada pelo escritor. Por essa
razão, o conto sempre é ficção, independentemente de sua proximidade ou afastamento do real. Não
se trata de relatar algo fielmente, mas de inventar um modo de se representar algo. Nas palavras de
Gotlib (2000, p. 13) “esta voz que fala ou que escreve só se afirma enquanto contista quando existe um
resultado de ordem estética, ou seja: quando consegue construir um conto que ressalte os seus
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próprios valores enquanto conto, nesta que já é, a esta altura, a arte do conto, do conto literário”,
acrescentando ainda que é por isso que “nem todo contador de histórias é um contista.”
No entanto, o fato de uma história ser contada por um narrador, quer dizer, ser ficção, não a
caracteriza um conto. São vários os gêneros literários do tipo narrativo: romance, novela, fábula,
parábola, poema em prosa. Eles diferem, essencialmente, por suas extensões. Segundo Gotlib (2000),
a grande diferença entre romance e conto é que o primeiro geralmente exige intervalos de leitura,
enquanto o último é geralmente lido em uma assentada. Gancho (2000, p. 08) define conto como “uma
narrativa mais curta, que tem como característica central condensar conflito, tempo, espaço e reduzir o
número de personagens. De acordo com Gotlib (200, p. 15) “o conto conserva características destas
duas formas: a economia do estilo e a situação e a proposição temática resumidas”. Para a autora, “o
que se faz o conto – seja ele de acontecimento ou de atmosfera, de moral ou de terror – é o modo pelo
qual a história é contada. E que torna cada elemento seu importante no papel que desempenha neste
modo de o conto ser.” (GOTLIB; 2000, p. 17)
Na teoria de Edgar Allan Poe (apud Gotlib, 2000) acerca do conto, o autor defende uma
unidade de efeito presente nesse gênero literário. Para ele, há um momento de tensão, um estado de
excitação, que prende o leitor no texto. Poe também aponta a importância de um conto não ser muito
longo, para que aquele que lê não se desligue da unidade de efeito. Como lembra Gotlib (2000, p. 35),
“trata-se de conseguir, com o mínimo de meios, o máximo de efeitos. E tudo que não estiver
diretamente relacionado com o efeito, para conquistar o interesse do leitor, deve ser suprido.”
No que diz respeito ao conto de Horácio Quiroga, Piglia (2000, p. 88-89) postula que
o conto clássico (Poe, Quiroga) narra em primeiro plano a história 1 (o relato
do jogo) e constrói em segredo a história 2 (o relato do suicídio). A arte do
contista consiste em saber cifrar a história 2 nos interstícios da história 1.
Um relato visível esconde um relato secreto, narrado de um modo elíptico e
fragmentário.
Segundo o autor supracitado, “o efeito de surpresa se produz quando o final da história secreta
aparece na superfície” (PIGLIA; 2000, p. 89), acrescentando ainda que
cada uma das duas histórias é contada de modo distinto. Trabalhar com duas
histórias quer dizer trabalhar com dois sistemas diferentes de causalidade. Os
mesmos acontecimentos entram simultaneamente em duas lógicas narrativas
antagônicas. Os elementos essenciais de um conto têm dupla função e são
empregados de maneira diferente em cada uma das duas histórias. Os pontos
de interseção são o fundamento da construção. (PIGLIA, 2000, p. 89)
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Em suma, o conto se caracteriza como um texto curto, que pode ser lido em uma assentada,
sendo ele uma narrativa ficcional. Nada está num conto por acaso; todos os elementos estão
diretamente ligados com a história (ou as histórias, no caso dos contos de Quiroga).
3. A Almofada de Penas: Uma Possibilidade de Leitura
O conto A almofada de penas, de Quiroga, conta a história de uma jovem recém-casada que
morre tragicamente depois de ter todo o sangue sugado por um parasita encontrado em seu
travesseiro. A partir de uma leitura pragmática, no entanto, notamos que o que leva Alice a óbito não é
puramente o bizarro fato de um bicho dentro de sua almofada ter extraído todo seu sangue. Para
chegar a tal conclusão, devemos considerar o ataque de gripe que a personagem teve, e levar em
conta ainda que tal ataque ocorre quando a personagem percebe que suas “criancices de noiva” estão
se perdendo e congelando por conta do “temperamento duro do marido”:
Nesse estranho ninho de amor, Alicia passou todo o outono. Porém tinha
terminado por abaixar um véu sobre os seus antigos sonhos, e ainda vivia
dormida na casa hostil, sem querer pensar em nada até o marido chegar. Não
é incomum que emagrecesse. Teve um ligeiro ataque de gripe que se
arrastou insidiosamente dias e mais dias.
Percebemos também que Alicia sofre com o casamento, muito embora ela e o marido se
amem. Isso porque a jovem, quando solteira, imaginava o casamento como um ninho de felicidade e
amor trocados. Logo após a cerimônia, já em sua lua-de-mel, percebeu que essa idealização cultural
não era válida, uma vez que não era correspondida pelo marido:
Sua lua-de-mel foi um longo estremecimento. Loura, angelical e tímida, o
temperamento duro do marido gelou suas sonhadas criancices de noiva. Ela
o amava muito, no entanto, às vezes, sentia um ligeiro estremecimento,
quando voltando à noite juntos pela rua, olhava furtivamente para a alta
estatura de Jordão, mudo havia mais de uma hora. Ele, por sua vez, a amava
profundamente, sem demonstrá-lo./Sem dúvida ela teria desejado menos
severidade nesse rígido céu de amor, mais expansiva e incauta ternura; mas a
impassível expressão do seu marido a reprimia sempre.
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Tudo isso fez com que Alicia desanimasse e desacreditasse de sua ideologia acerca do
matrimônio. Assim sendo, a protagonista acaba por “abaixar um véu sobre os seus antigos sonhos”, o
que a leva à agonia.
Com tudo isso, percebemos a insensibilidade e falta de percepção do marido. Insensibilidade
por conta de sua severidade para com a noiva. Falta de percepção já que não notou o prejuízo que
estava causando a sua esposa, que adoecia e morria ao seu lado, sendo que o diagnóstico era a
demonstração de seu amor por ela.
Maior prova de que Alicia necessitava do carinho do marido é o momento quando ele a
acaricia:
De repente Jordão, com profunda ternura, passou a mão pela sua cabeça, e
Alicia em seguida se quebrou em soluços, e o abraçou. Chorou
demoradamente seu discreto pavor, redobrando o choro diante da menor
tentativa de carícia. Depois, os soluços foram-se acalmando, e ainda ficou
um longo tempo escondido no seu ombro, quietinha, sem pronunciar uma
palavra.
É crucial atentarmos que o conto, embora uma história de amor, tem muitas características de
horror. De início, é possível que percebamos isso, pois as sonhadas criancices de noiva da
protagonista se perdem ao se deparar com um temperamento severo e distante do marido, o que
revela desde então uma história trágica: “sua lua-de-mel foi um longo estremecimento. Loura, angelical
e tímida, o temperamento duro do marido gelou suas sonhadas criancices de noiva”.
Podemos notar ainda que o signo “estremecimento” aparece no texto três vezes, todas elas no
início do conto, o que mais uma vez nos remete a ideia de tragédia. Essa noção de medo também pode
ser notada na descrição da casa onde o casal residia, mas nosso foco é no enredo e não no
espaço/ambiente.
Explicado o enredo, cabe agora apresentar as partes que o compõem: a exposição, a
complicação, o clímax e o desfecho.
A exposição, apresentação das personagens e situação do leitor na história a ser contada,
ocorre, em grande parte, no início do texto, quando o narrador mostra o tempo inicial da narrativa e
descreve, ainda que pouco, as personagens do conto: “sua lua-de-mel foi um longo estremecimento.
Loura, angelical e tímida, o temperamento duro do marido gelou suas sonhadas criancices de noiva”.
É claro que a apresentação das personagens, bem como os outros elementos da narrativa,
acontece no decorrer de todo o texto. Um bom exemplo disso é o fato de o nome da personagem
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principal, Alicia, só ser apresentado no quinto parágrafo. Isso faz com que o leitor fique instigado e
embarque na história contada, esquecendo do mundo fora do texto.
A complicação, por ser o momento do texto a qual se desenvolve o conflito, ocorre quando
Alicia fica doente. É importante lembrar que junto com a doença da protagonista está a decepção dela
para com o matrimônio. Em outras palavras, queremos dizer que o conflito da história, embora possa
não parecer em leitura superficial, está ligado a essa desilusão. Tanto que é esse o motivo do
emagrecimento e do ataque de gripe da protagonista:
Nesse estranho ninho de amor, Alicia passou todo o outono. Porém tinha
terminado por abaixar um véu sobre os seus antigos sonhos, e ainda vivia
dormida na casa hostil, sem querer pensar em nada até o marido chegar. Não
é incomum que emagrecesse. Teve um ligeiro ataque de gripe que se
arrastou insidiosamente dias e mais dias. Alicia não melhorava nunca.
O clímax acontece após a morte de Alice, momento em que a empregada percebe algo
estranho na almofada. Isso porque o leitor, curioso, após a morte da personagem, provavelmente
questiona a ausência do travesseiro de penas. Dizemos isso pelo fato de a protagonista já ter morrido e
a almofada, que é título da história, ter sido citada somente uma vez e de modo que parecesse
desimportante. Contudo, o narrador cita tal objeto logo após a morte de Alicia, momento em que é
observado com estranheza pela empregada. É justamente essa estranheza que indica que a causa da
morte de Alicia está ligada à almofada e será em breve descoberta: “Alicia morreu, por fim. A
empregada, que entrou depois para desfazer a cama, já vazia, olhou um momento com estranheza
para a almofada”.
Se o clímax é a possível descoberta da morte de Alicia, o desfecho, a solução dos conflitos,
ocorre com o desvendamento detalhado da morte da protagonista:
Noite após noite, a partir do dia em que Alicia tinha ficado doente, ele tinha
aplicado sigilosamente sua boca – sua tomba, melhor dizendo – às têmporas
da mulher, chupando-lhe o sangue. A mordida era quase imperceptível. A
remoção diária da almofada tinha impedido sem dúvida ser
desenvolvimento, mas assim que a jovem não conseguiu mais se mexer, a
sucção foi vertiginosa. Em apenas cinco dias e cinco noites, tinha esvaziado
Alicia.
Dizer que o desfecho acontece no penúltimo parágrafo não significa que esse é o fim do conto.
Trata-se, na verdade, do encerramento da primeira história, isto é, os problemas enfrentados por uma
jovem recém-casada em seu matrimônio. O narrador enfatiza a decepção da protagonista, motivo que
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a levou à doença e, consequentemente, à morte. A segunda história, por sua vez, trata da descoberta
do motivo do óbito de Alicia, como tudo aconteceu.
Há, no entanto, indícios da história 2 na história 1. Um bom exemplo disso é o próprio título (A
almofada de penas). Sabemos que até a morte da protagonista, a almofada só é citada uma vez e
ainda de modo “irrelevante”, mas é fato que ela deve aparecer com mais efeito. A almofada é o ponto
de interseção entre as duas histórias, ou seja, é elemento que liga o relato do jogo e do suicídio. Outro
exemplo dessas dicas é o fato de a doença de Alicia não avançar durante todo o dia, mas à noite:
Durante o dia, sua doença não avançava, mas de manhã ela adormecia lívida,
quase em síncope. Parecia que unicamente à noite a sua vida se fosse em
novas asas de sangue. Tinha sempre ao acordar a sensação de sentir-se
derrubada na cama com um milhão de quilos por cima. A partir do terceiro
dia esse desmoronamento não a abandonou mais. Apenas podia mexer a
cabeça. Não deixou que pegassem na sua cama, nem sequer que arrumassem
a almofada. Seus terrores crepusculares avançaram na forma de monstros
que se arrastavam até sua cama e subiam com dificuldade pela colcha.
Alicia não piorar durante o dia é explicado na segunda história quando o narrador informa o
leitor que o animal aplicava sigilosamente sua boca em Alicia noite após noite. Também nesse trecho,
podemos inferir a noção de suicídio apresentada por Piglia (2000). Dizemos isso pelo fato de a mulher
não deixar que “pegassem na sua cama, nem sequer que arrumassem a almofada”; almofada essa
responsável pela sua morte. Já sabemos que a recém-casada estava sofrendo muito com a decepção.
Sabemos também que o marido só começou a demonstrar seu afeto e preocupação por ela depois que
Alicia adoeceu. Talvez seja esse o motivo de ela preferir se entregar à doença.
Para finalizar a análise do enredo, vejamos o último parágrafo do conto: “esses parasitos das
aves, diminutos no seu meio habitual, chegam a adquirir proporções enormes em certas condições. O
sangue humano parece ser para eles particularmente favorável, e não é raro encontrá-los nas
almofadas de penas”. Observamos que esse último momento do texto não faz parte da história de
Alicia. Na verdade, o trecho é um comentário do narrador acerca da história que ele acabou de contar,
como se fosse uma reflexão. Para entender bem esse último parágrafo, é necessário que o leitor
mergulhe no texto. Isso porque a ave citada é mera figura e serve para representar a temática tratada
no texto. Mas que temática seria essa? Uma possibilidade de leitura é que esses parasitos
representem a depressão. Afirmamos isso com segurança pelo fato de ser esse o estado de Alicia, o
que a levou a óbito. Também podemos inferir os temas amor e desatenção. O amor que o marido e a
esposa sentiam um pelo outro, mesmo que o homem não conseguisse expressá-lo. E a falta de
atenção que o marido teve em relação à carência de sua esposa.
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Como explicamos anteriormente, o conto analisado mostra indícios de tragédia desde o seu
início. Percebemos já no princípio da leitura que Alicia viria a óbito. Nessa perspectiva, podemos
afirmar que esse acontecimento não foi surpreendente. Além disso, notamos que a piora de saúde da
protagonista acontece rapidamente, o que leva o leitor a inferir que ela falecerá. É por esses motivos
que podemos assegurar que a doença e a morte da mulher não são a unidade de efeito do conto. A
unidade de efeito, então, é o mistério sobre a almofada de penas, já que esse é o momento do texto
que causa mais tensão e curiosidade no leitor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos, no decorrer do trabalho, uma concepção acerca de conto, bem como algumas
características intrínsecas a esse gênero. Apontamos que o conto é uma narrativa curta e que nada
nele é por acaso, ou seja, todos os elementos estão intimamente ligados à história.
Apresentamos, ainda, que os contos têm uma unidade de efeito, uma tensão, que prende o
leitor na história. Por se tratar de textos curtos, essa tensão (curiosidade, medo, aflição) estende-se por
toda a narrativa.
No que diz respeito aos contos de Quiroga, vimos que tratam de narrativas com duas histórias,
sendo os eventos conectados por um elemento que faz parte dos dois acontecimentos. Se a história 1
é o relato do jogo, a 2 é o relato do suicídio. Foi dito também que há indícios da segunda história na
primeira e que o efeito de surpresa se produz quando o final da história secreta aparece na superfície.
A conclusão que tiramos, a partir da teoria exposta e da análise do conto, é que para que o
leitor compreenda o conto literário estudado – assim como todo e qualquer texto – é preciso que leve
em conta o que está implícito, ou seja, é necessário que faça inferências para que possa compreender
o tema que as figuras do escrito representam. Uma leitura que considera apenas os níveis gramaticais
e semânticos não torna possível uma relação do ficcional com o real.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. 9. ed. São Paulo: Ática, 2000.
GOTLIB, Nádia Battella. Teoria do conto. São Paulo: Ática, 2000.
PIGLIA, Ricardo. Formas breves. São Paulo: Campanhia das Letras, 2000.
QUIROGA,
Horácio.
A
almofada
de
penas.
Disponível
<http://www.releituras.com/hquiroga_menu.asp>. Acesso em 07 nov. 2012.
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