Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda

Transcrição

Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda
Caso Clínico
Correção da má oclusão de
Classe II com mordida profunda
utilizando o aparelho guia de
irrupção Oclus-o-guide
Paulo Roberto dos Santos-Pinto*, Cristiane Celli Matheus dos Santos-Pinto**,
Luiz Gonzaga Gandini***, Ary dos Santos-Pinto***, Karina Dela Coleta Eiras Pizol****,
Nancy dos Santos-Pinto*****
RESUMO
Dentre as más oclusões, uma das características de maior preocupação é a sobremordida profunda, ou overbite acentuado.
Nesses casos, os movimentos mandibulares de lateralidade e protrusão ficam limitados, podendo causar problemas na articulação temporomandibular e interferir no
processo de crescimento e desenvolvimento facial. Um dos objetivos do Oclus-o-guide, é estabelecer a sobremordida correta
antes da irrupção completa dos caninos e
pré-molares, e antes da formação das fibras colágenas maduras. Após a correção
da má oclusão, é importante um pequeno
período de contenção, até que ocorra a
reorganização completa das fibras periodontais. O Oclus-o-guide representa uma
combinação de um posicionador e de um
aparelho miofuncional. A vantagem dessa combinação é permitir que o aparelho
funcione como um ativador, liberando o
crescimento mandibular, possibilitando a
correção das relações horizontais e verticais dos maxilares. Simultaneamente, o
Oclus-o-guide permite a correção de apinhamentos na região anterior e posterior,
favorecendo a intercuspidação dos arcos
ao final do tratamento. Os casos apresentados foram tratados com a utilização do
aparelho Oclus-o-guide e evidenciam sua
eficácia clínica.
PALAVRAS-CHAVE: Classe II. Oclus-o-guide. Guia de irrupção. Posicionador dentário. Mordida
profunda. Ortopedia Funcional.
*Mestre em Ortodontia pela FOB-USP/Bauru. Doutorando em Ortodontia pela Unesp-Araraquara. Professor da FEB (Fundação Educacional de Barretos).
**Mestre em Ortodontia pela FOB-USP/Bauru. Professora da Unaerp.
***Professores livre–docentes do departamento de Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia de Araraquara – Unesp.
****Mestre em Ortodontia-Unicamp/Piracicaba. Doutoranda em Ortodontia pela Unesp-Araraquara.
****Especialista em Ortodontia pela Unaerp. Cirurgiã-dentista do Centro de Atendimento a Pacientes Especiais-Unesp/Araçatuba.
Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 3, jun./jul. 2009
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Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide
INTRODUÇÃO
Dentre as más oclusões, uma das características de maior
preocupação é a sobremordida profunda, ou overbite acentuado,
situação em que os movimentos mandibulares de lateralidade e
protrusão ficam limitados pela má oclusão, podendo causar problemas na articulação temporomandibular e interferir no processo
de crescimento mandibular4.
Um dos primeiros estudos sobre a mordida profunda foi realizado por Linder9, em 1930, e seus resultados mostraram que a
sobremordida aumenta 1,8mm dos 7 aos 13 anos de idade, provavelmente devido ao aumento da distância intercaninos que ocorre
nesse período.
Bergersen1, por volta de 1970, lançou no mercado um posicionador pré-moldado denominado Ortho-Tain, idealizado inicialmente como guia de irrupção e planejado de acordo com as variações de tamanho dentário, para ser utilizado por indivíduos com
tamanhos dentários semelhantes. O aparelho passou, então, a ser
fabricado em série, eliminando-se a necessidade da confecção sob
encomenda.
Bergersen foi aperfeiçoando e adaptando os posicionadores,
transformando-os em aparelhos funcionais e, em 1985, lançou o
Oclus-o-guide, aparelho pré-fabricado, confeccionado com material borrachoide à base de polivinil, semelhante a um posicionador,
mas com as características de um aparelho ortopédico funcional3. Essa associação permitiu que o aparelho funcionasse como
ativador, possibilitando a correção de alterações verticais e anteroposteriores, além de funcionar como guia de irrupção e como
posicionador, promovendo o alinhamento e nivelamento dos arcos
dentários.
Uma das épocas mais importantes para o controle da sobremordida é a fase que antecede o estirão de crescimento que ocorre durante a puberdade, pois, nessa fase, a sobremordida pode se
tornar severa, devido à definição do padrão muscular que ocorre
durante a adolescência1.
Um dos objetivos do Oclus-o-guide é estabelecer a sobremordida correta antes da irrupção completa dos caninos e pré-molares e
antes da maturação das fibras colágenas localizadas nessa região5.
Muitos aparelhos funcionais foram desenvolvidos com o objetivo de promover a reorganização muscular durante a correção das más oclusões, dentre eles o Oclus-o-guide ou Guia de
Irrupção1.
O Oclus-o-guide está indicado para a correção de más oclusões
de Classe I ou Classe II associadas a mordida profunda, apinhamentos e sorriso gengival. Pode ser utilizado tanto na dentadura
mista (Série G) quanto na dentadura permanente (Série N).
Após a fase de tratamento ativo com o Oclus-o-guide, há a
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necessidade de um período de contenção de, aproximadamente, 6
meses, até que ocorra a reorganização completa das fibras periodontais e uma maior estabilidade do tratamento realizado5.
Existem outras variações do Oclus-o-guide – indicadas para
serem utilizadas no período pós-tratamento ortodôntico, para o
refinamento da oclusão –, como o Oclus-o-guide Série X (indicado
para os casos que receberam a extração dos primeiros pré-molares
superiores e inferiores) e o da Série U (indicado para os casos que
receberam apenas extrações superiores)2. Para os casos que receberam tratamento ortodôntico sem extrações, e necessitam ainda
de um refinamento da oclusão, o Oclus-o-guide série N pode ser
utilizado durante a fase de contenção.
Silva10, em 1997, analisou cefalometricamente o efeito do aparelho guia de irrupção, durante 2 anos de utilização, em pacientes
má oclusão de Classe II, divisão 1, comparando-os com um grupo
controle não-tratado. Verificou que ocorreu a melhora do relacionamento maxilomandibular devido a um aumento do comprimento mandibular, verticalização dos incisivos superiores, vestibularização dos incisivos inferiores e uma suave extrusão e mesialização
dos dentes posteroinferiores.
Janson et al.6, em 1998, apresentaram os resultados obtidos em
tratamentos realizados com o Oclus-o-guide, evidenciando que o
aparelho possibilitou a correção da mordida profunda, a obtenção
de um adequado trespasse vertical e horizontal, uma significativa
redução no sorriso gengival, um suave aumento da altura facial anteroinferior (AFAI) e um perfil harmonioso ao final do tratamento.
Em 2000, Janson et al.7 avaliaram 27 pacientes Classe II, divisão
1, e 3 pacientes Classe I, tratados por 26 meses com o aparelho
guia de irrupção. Os resultados demonstraram significativo incremento de crescimento mandibular, com o aumento da altura facial
anteroinferior; migração para mesial dos molares inferiores; retrusão e inclinação lingual dos incisivos superiores, com restrição de
sua irrupção; e protrusão dos incisivos inferiores. Concluíram que
a correção da má oclusão de Classe II e a diminuição do overjet e
overbite ocorreram devido a um pequeno, mas significativo, incremento esquelético e a uma maior movimentação dentária.
Os resultados obtidos por Keski-Nisula et al.8, em 2008, indicaram que a intervenção ortodôntica utilizando guias de irrupção
durante a fase de dentadura mista representa um importante recurso para a correção de más oclusões de Classe II, más oclusões
com trespasse horizontal acentuado, mordida profunda, mordida aberta, casos com apinhamentos, mordida cruzada anterior
ou mordida cruzada vestibular. Durante o tratamento, os incisivos e os primeiros molares permanentes foram guiados para
suas posições ideais no arco dentário, o que não ocorreu com o
grupo controle, não-tratado, que apresentou apenas pequenas
Paulo Roberto dos Santos-Pinto, Cristiane Celli Matheus dos Santos-Pinto, Luiz Gonzaga Gandini, Ary dos Santos-Pinto, Karina Dela Coleta Eiras Pizol, Nancy dos Santos-Pinto
acomodações oclusais.
Portanto, segundo os autores, o tratamento com os guias de
irrupção durante a fase de dentadura mista constitui um método
efetivo para o restabelecimento da oclusão normal, possibilitando,
assim, a eliminação de um tratamento ortodôntico futuro.
MÉTODO DE SELEÇÃO
Para a seleção do aparelho, existem duas réguas de medição:
uma régua rosa, utilizada para a medição na dentadura mista
(Oclus-o-guide Série G), e uma régua branca, utilizada para a medição na dentadura permanente (Oclus-o-guide Séries N, X ou U).
A figura 1 ilustra o modo de seleção do Oclus-o-guide da Série
A
N, semelhante ao utilizado nos casos que serão descritos neste
trabalho.
A régua branca deve ser posicionada com a especificação “no
extraction” voltada para os dentes do arco superior, sendo a medida realizada da distal do canino superior esquerdo (Fig. 1B) à distal
do canino superior direito (Fig. 1A). O número coincidente com a
face distal do canino superior direito representa o tamanho ideal
do aparelho a ser solicitado, como mostra a figura 1A. O aparelho a
ser solicitado seria o Oclus-o-guide da Série N número 4, portanto
Oclus-o-guide 4N (Fig. 2A).
Após a instalação do aparelho, os pacientes devem ser orientados a utilizá-lo por 4 horas durante o dia (em uso alternado) e
B
FIGURA 1 - Régua Ortho-Tain branca posicionada para a seleção do Oclus-o-guide série N: A) visualização
do número do aparelho indicado para esse paciente, tendo como referência a superfície distal do canino
superior direito; B) ponto de encaixe da régua para possibilitar a medição do aparelho.
A
B
FIGURA 2 - A) Aparelho Oclus-o-guide série N; B) vista intrabucal anterior do aparelho.
A
B
FIGURA 3 - Vistas intrabucais do aparelho Oclus-o-guide: A) lateral direita e B) lateral esquerda.
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Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide
durante a noite toda (em uso contínuo). No período diurno, exercícios de compressão devem ser realizados por um minuto, aproximadamente, intercalados com períodos de repouso de meio minuto, totalizando 15 minutos de exercício em cada hora de utilização
do aparelho (Fig. 2B, 3).
Nos casos clínicos descritos a seguir, serão apresentados os tratamentos realizados em dois pacientes que apresentavam má oclusão de Classe II, com mordida profunda. A correção da má oclusão
foi obtida apenas com a utilização do Oclus-o-guide.
A
Os aparelhos utilizados para os tratamentos realizados foram
os da Série N, pois os pacientes se encontravam em fase de dentadura permanente e durante o período de surto pubertário.
CASO CLÍNICO 1
Paciente D.H., do gênero masculino, com 11 anos e 8 meses de
idade, apresentava bom equilíbrio entre os terços faciais (Fig. 4B),
face Padrão 1, com comprimento mandibular satisfatório, evidenciado pela linha queixo e pescoço (Fig. 4A), e sorriso agradável (Fig. 4C).
B
C
FIGURA 4 - Fotografias extrabucais iniciais: A) de perfil, B) frente e C) sorrindo.
A
B
D
E
FIGURA 5 - Fotos intrabucais iniciais: A) lateral direita, B) frontal, C) lateral esquerda, D) oclusal superior e E) oclusal inferior.
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C
FIGURA 6 - Telerradiografia cefalométrica em
norma lateral.
Paulo Roberto dos Santos-Pinto, Cristiane Celli Matheus dos Santos-Pinto, Luiz Gonzaga Gandini, Ary dos Santos-Pinto, Karina Dela Coleta Eiras Pizol, Nancy dos Santos-Pinto
Apresentava uma má oclusão de Classe II, divisão 2, com mordida profunda de, aproximadamente, 7mm e retroinclinação dos
incisivos superiores e inferiores (Fig. 5).
A análise da telerradiografia cefalométrica demonstrou que o
paciente apresentava um bom relacionamento maxilomandibular,
padrão de crescimento horizontal e importante retroinclinação dos
incisivos superiores e inferiores (Fig. 6).
A seleção do aparelho foi realizada como mostra a figura 1.
O Oclus-o-guide foi, então, instalado e utilizado por 4 horas
A
durante o dia (de modo alternado) e durante toda a noite (de modo
contínuo), como descrito anteriormente.
Após 2 anos de tratamento, observou-se um adequado equilíbrio facial (Fig. 7B), um perfil harmonioso (Fig. 7A) e um sorriso
agradável (Fig. 7C).
A terapia permitiu o reequilíbrio da estruturas dentofaciais,
promovendo a correção da má oclusão de Classe II e da mordida
profunda (Fig. 8).
A sobreposição dos traçados realizados no início e ao final do
B
C
FIGURA 7 - Fotografias extrabucais finais: A) perfil, B) frente e C) sorriso.
A
B
D
C
E
FIGURA 8 - Fotos intrabucais finais: A) lateral direita, B) frontal, C) lateral esquerda, D) oclusal superior
e E) oclusal inferior.
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Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide
A
B
FIGURA 9 - A) Telerradiografia cefalométrica em norma lateral final. B) Sobreposição dos traçados cefalométricos inicial e final.
TABELA 1 - Medidas cefalométricas (padrão USP) iniciais e finais do paciente D.H.
medida
norma
inicial
final
F.NP
NAP
SNA
SNB
ANB
SND
88º
0º
82º
80º
2º
76º
84,9º
4,3º
79,2º
75,6º
3,6º
73,5º
83,5º
2,3º
78,1º
75,6º
2,5º
73,5º
NS.Gn
NS.PlO
NS.GoGn
GoGn.PlO
67º
14º
32º
18º
65,9º
11,8º
31,6º
19,7º
67,3º
16,6º
33,1º
16,4º
1/./1
1/.NS
1/.NA
1/-NA
/1.NB
/1-NB
/1-NP
1/-órbita
/1-linha I
131º
103º
22º
4mm
25º
4mm
0mm
5mm
0mm
149,7º
89,0º
9,8º
1,2mm
16,9º
1,5mm
-2,2mm
-8,8mm
3,2mm
145,6º
88,8º
10,6º
2,6mm
21,2º
3,6mm
0,9mm
-9,1mm
-0,6mm
H.NB
H-nariz
P-NB
eminência M.
9-12º
9-11mm
0mm
8mm
4,4º
12,1mm
3,0mm
6,9mm
4,4º
12,1mm
3,0mm
6,9mm
FMA
FMIA
IMPA
25º
68º
87º
26,7º
60,8º
92,5º
26,7º
60,8º
92,5º
26,7mm
21,7mm
1,2mm
26,7mm
21,7mm
1,2mm
6/-NA
/6-NB
A-B ocl.
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FIGURA 10 - Radiografia panorâmica final.
tratamento (Fig. 9B) evidenciou um adequado desenvolvimento
mandibular, a manutenção do padrão de crescimento facial (Fig.
7) e uma reorganização dentoalveolar com consequente correção
da mordida profunda. Os incisivos, todavia, permaneceram verticalizados, o que pode ser visualizado nas imagens intrabucais das
figuras 8A e 8C, na telerradiografia (Fig. 9A), na sobreposição dos
traçados cefalométricos (Fig. 9B) e nas medidas cefalométricas
(Tab. 1).
Na avaliação da radiografia panorâmica obtida ao final do tratamento (Fig. 10), verificou-se um adequado paralelismo entre as
raízes e a preservação dos dentes e estruturas de suporte, demonstrando que a correção foi realizada respeitando os limites biológicos do paciente.
CASO CLÍNICO 2
Paciente L.T.M.R., do gênero masculino, com 13 anos e 11 meses de idade, bom equilíbrio entre os terços faciais (Fig. 11B), face
Padrão 2 com ângulo nasolabial aberto (Fig. 11A) e adequada linha
do sorriso (Fig. 11C).
Apresentava má oclusão de Classe II com mordida profunda
de, aproximadamente, 6mm; incisivos superiores verticalizados e
vestibuloversão dos caninos superiores (Fig. 12).
A análise da telerradiografia cefalométrica demonstrou que o
paciente apresentava maxila bem posicionada em relação à base
do crânio e mandíbula suavemente retruída, retroinclinação dos
incisivos e equilibrado padrão de crescimento facial (Fig. 13).
Após 2 anos e 6 meses de tratamento, observou-se adequado equilíbrio facial (Fig. 14B), perfil harmonioso (Fig. 14A), sorriso
agradável (Fig. 14C) e manutenção do padrão facial do paciente.
Paulo Roberto dos Santos-Pinto, Cristiane Celli Matheus dos Santos-Pinto, Luiz Gonzaga Gandini, Ary dos Santos-Pinto, Karina Dela Coleta Eiras Pizol, Nancy dos Santos-Pinto
A
B
C
FIGURA 11 - Fotografias extrabucais iniciais: A) perfil, B) frontal e C) sorrindo.
A
B
D
E
FIGURA 12 - Fotos intrabucais iniciais: A) lateral direita, B) frontal, C) lateral esquerda, D) oclusal
superior e E) oclusal inferior.
C
FIGURA 13 - Telerradiografia cefalométrica em
norma lateral inicial.
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Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide
A
B
C
FIGURA 14 - Fotos extrabucais finais: A) perfil, B) frontal e C) sorrindo.
A
B
D
C
E
FIGURA 15 - Fotos intrabucais finais: A) lateral direita, B) frontal, C) lateral esquerda, D) oclusal superior
e E) oclusal inferior.
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Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 8, n. 3, jun./jul. 2009
Paulo Roberto dos Santos-Pinto, Cristiane Celli Matheus dos Santos-Pinto, Luiz Gonzaga Gandini, Ary dos Santos-Pinto, Karina Dela Coleta Eiras Pizol, Nancy dos Santos-Pinto
B
A
FIGURA 16 - A) Telerradiografia cefalométrica em norma lateral final e B) sobreposição dos traçados
cefalométricos das telerradiografias inicial e final.
TABELA 2 - Medidas cefalométricas (padrão USP) iniciais e finais do paciente L.T.M.R.
medida
norma
inicial
final
F.NP
NAP
SNA
SNB
ANB
SND
88º
0º
82º
80º
2º
76º
89,4º
9,8º
78,6º
73,4º
5,2º
70,3º
92,0º
3,3º
77,9º
74,8º
3,1º
72,5º
NS.Gn
NS.PlO
NS.GoGn
GoGn.PlO
67º
14º
32º
18º
69,9º
17,9º
35,0º
17,1º
69,6º
18,0º
33,3º
15,3º
1/./1
1/.NS
1/.NA
1/-NA
/1.NB
/1-NB
/1-NP
1/-órbita
/1-linha I
131º
103º
22º
4mm
25º
4mm
0mm
5mm
0mm
114,7º
98,3º
19,7º
4,6mm
40,4º
4,2mm
3,8mm
0,7mm
-1,8mm
115,9º
101,8º
23,8º
5,3mm
37,1º
4,7mm
2,9mm
4,9mm
-2,2mm
H.NB
H-nariz
P-NB
eminência M.
9-12º
9-11mm
0mm
8mm
10,5º
6,2mm
2,2mm
5,8mm
12,0º
3,5mm
7,9mm
9,9mm
FMA
FMIA
IMPA
25º
68º
87º
20,1º
47,8º
112,1º
17,7º
53,2º
109,1º
31,2mm
26,3mm
5,0mm
29,7mm
23,2mm
1,9mm
6/-NA
/6-NB
A-B ocl.
FIGURA 17 - Radiografia panorâmica final.
A terapia permitiu o reequilíbrio das estruturas dentofaciais,
promovendo a correção da má oclusão de Classe II e a correção da
mordida profunda (Fig. 14, 15).
A sobreposição dos traçados realizados no início e no final do
tratamento evidenciou que ocorreu um importante desenvolvimento maxilomandibular, preservando, todavia, as características
individuais do paciente e o padrão de crescimento facial (Fig. 16B,
Tab. 2).
Na avaliação da radiografia panorâmica, obtida ao final do tratamento (Fig. 17), verificou-se a integridade dos dentes e estruturas de suporte, demonstrando que a terapia com o Oclus-o-guide
foi realizada respeitando-se os limites biológicos.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que o aparelho Oclus-o-guide, quando utilizado corretamente – por 4 horas
durante o dia em uso alternado e durante a noite em uso contínuo –, representa um recurso eficaz na correção da má oclusão
de Classe II com mordida profunda, haja vista que nenhum outro
recurso foi utilizado nos casos clínicos apresentados.
O Oclus-o-guide é uma alternativa importante para o tratamento em pacientes que desejam a correção da má oclusão sem a
utilização de aparelhos fixos.
Consiste, portanto, em um importante recurso, pois promove a
correção da má oclusão de modo simples e eficaz, preservando a
integridade dos dentes e estruturas de suporte.
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Correção da má oclusão de Classe II com mordida profunda utilizando o aparelho guia de irrupção Oclus-o-guide
Class II deep bite malocclusion correction
with the Oclus-o-guide eruption guidance appliance
Abstract
A characteristic of major concern present in the malocclusions is the deep overbite or the excessive vertical trespass
of the anterior teeth. The lateral and protrusive mandibular
movements in that case are limited and could cause temporomandibular joint problems. One of the objectives of
the Oclus-o-guide is to establish a proper overbite before
the full eruption of the canine and premolar and before
the formation of mature collagen fibers. After the malocclusion correction it is important a retention period until
the completion of the periodontal fiber reorganization.
The Oclus-o-guide represents a combination of a positioner and a miofunctional appliance. The advantage of
that combination is to allow the appliance to work as an
activator, liberating the mandibular growth and establishing the correct horizontal and vertical maxillary relationship. Simultaneously, the Ocluso-o-guide induces a
correction of the anterior crowding and posterior teeth
small rotations, ensuring a favorable intercuspidation at
the end of the treatment. The case presented was treated
with the Oclus-o-guide, evidencing its clinical efficacy.
KEYWORDS: Class II. Oclus-o-guide. Eruption guidance. Dental positioner. Deep bite. Functional Orthopedics.
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Endereço para correspondência
Paulo Roberto dos Santos-Pinto
Rua Américo Brasiliense, 1.702, sl. 5 - Vila Seixas
CEP: 14.015-050 - Ribeirão Preto / SP
E-mail: [email protected]
100
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