chopin - parte xi

Transcrição

chopin - parte xi
2010 - ANO CHOPIN > > > Parte 11
Por Francisco José dos Santos Braga
Nesta Parte 11 da série de ensaios dedicados a 2010 ANO CHOPIN, o Blog do Braga
(www.bragamusician.blogspot.com) traz uma célebre
entrevista que Krzysztof Tomasik fez com um dos maiores
musicólogos poloneses atuais, Mieczysław Tomaszewski,
como parte das homenagens que o Blog do Braga presta
ao 200º aniversário do nascimento do grande pianista e
compositor polonês Fryderyk Chopin.
Tomaszewski é musicólogo e editor polonês. Professor na Academia de Música em
Cracóvia, chefe do Departamento da Teoria e Interpretação da Obra Musical. Ele
representa a corrente humanista dentro da musicologia. Estudou com Stefania
Łobaczewska na Universidade Jaguelônica no período de 1954-1959, tendo obtido
o título de PhD na Universidade Adam Mickiewicz em Poznań por sua tese
intitulada A produção de F. Chopin e sua recepção (1984).
A pesquisa de Tomaszewski incide sobre a música do Romantismo e a corrente
romântica na música polonesa contemporânea, sobre a teoria da canção européia
e sobre a afinidade entre as artes. No centro de seus interesses está a música de
Fryderyk Chopin. Além de sua pesquisa acadêmica sobre Chopin – que culminou
na sua síntese que constituiu um marco: Chopin. Homem, Obra, Ressonância
(Poznań 1998), – ele é também o autor de livros populares e de programas de
rádio sobre Chopin.
Foi o editor científico de várias séries editoriais, incluindo 5 volumes de
Documenta Chopiniana, 14 volumes de Chopin Library (1970-1990), Library of
Miniature Scores, Musica Viva. Também publicou escritos sobre ontologia, análise
e interpretação da obra musical, a relação entre texto e música, teoria e história
da canção, e Chopin.
Entre suas outras realizações estão um filme biográfico sobre Chopin (TVP2/Arte,
1997), um ciclo de 44 programas de rádio Fryderyk Chopin. Obras Completas
(Radio Polonesa 2, 1999-2000) e a primeira enciclopédia multimídia dedicada a
um único compositor: Fryderyk Chopin. Vida de um Artista (1ª versão 1990, 2ª
versão 2000).
Tomaszewski foi conferencista sobre Chopin e a música polonesa em Paris, Dijon,
La Châtre (Nohant), Valldemossa, Mariánské Lázně, Viena, Graz, Gamming,
Dresden, Leipzig, Hamburgo, Essen, Düsseldorf, Chemnitz, Aarhus, Vilnius,
Bratislava, Londres e Nova Iorque.
Em 1999, Tomaszewski recebeu o Prêmio da Fundação da Ciência Polonesa, bem
como o Prêmio de Jan Długosz Publishers pela sua tese sobre Chopin denominada
Chopin. Homem, Obra, Ressonância. Em 2000, ele foi também homenageado
pela Fundação Internacional Fryderyk Chopin pelo seu trabalho de toda uma vida
PDF created with FinePrint pdfFactory Pro trial version http://www.pdffactory.com
sobre a produção e o caráter de Chopin, com especial destaque para o seu livro
Chopin. Homem, Obra, Ressonância.
Hoje atua na Academia Polonesa Chopin e é membro do Conselho de Programa
do Instituto Fryderyk Chopin.
Abaixo tenho o prazer de apresentar, na íntegra, a entrevista concedida pelo
musicólogo Tomaszewski. Antes, porém, quero expressar aqui minha gratidão ao
Conselho Editorial da Revista Polonicus, na pessoa do Pe. Dr. Zdzisław Malczewski
SChr, por ter-me permitido a reprodução, no Blog do Braga, da célebre entrevista
que figurou na edição do Ano I - 1/2010, p. 135-148 da referida revista.
CHOPIN FOI UM HOMEM RELIGIOSO
Krzysztof TOMASIK *
Chopin foi um homem religioso! Está convencido disso o prof. Mieczysław
Tomaszewski, um eminente musicólogo polonês e um dos melhores conhecedores
da vida e da obra de Frederico Chopin. O mundo está comemorando agora os
duzentos anos de nascimento do genial compositor.
Na opinião do prof. Tomaszewski, um dos argumentos principais em favor da
profunda religiosidade do compositor é o parecer da sua companheira de vida por
longos anos George Sand, a qual reconheceu que Chopin estava “refugiado no
catolicismo”. Além disso, o musicólogo cita a opinião de pessoas próximas a
Chopin – entre as quais Franz Liszt, que escreveu a respeito dele definindo-o
como uma pessoa “profundamente religiosa e sinceramente apegada ao
catolicismo”.
Na entrevista que se segue, o prof. Tomaszewski traça o perfil espiritual de
Chopin, fala das inspirações e do significado da sua obra e tenta ainda responder
à pergunta por que ele não compôs uma obra sacra.
Segue-se o texto da entrevista.
O que é a música?
. A música é um milagre, um milagre, um milagre... Um fenômeno difícil de
explicar, mas com todas as marcas de um fenômeno miraculoso, que encanta,
proporciona alegria, emoção... É simplesmente um milagre!
Que lugar ocupa então nesse “milagroso universo musical” a música de Chopin?
. Eu lhe dediquei apenas sete livros. Ocupa um lugar preeminente. A introdução
da valorização, desse ponto de vista, é algo muito difícil e perigoso. Muitas vezes
me perguntam que disco eu levaria comigo, para a proverbial ilha deserta, com a
música de Bach, Mozart, Chopin ou Beethoven. A resposta a esse tipo de
pergunta é perigosa, porque se pode então, na própria espontaneidade, ser
indecente, como por exemplo Frederico Nietzsche, que escreveu em seu Ecce
Homo que por Chopin estava pronto a entregar todo o restante da música. Isso é
incrível... Por ele estava pronto a entregar Bach, Mozart, Beethoven, Brahms! Ou
vejamos Julian Tuwim, o qual disse que, se tivesse de escolher, entregaria
Mickiewicz com desespero, Słowacki com pesar, e dez Krasinskis – por um único
Chopin. Por isso é difícil falar do seu lugar no universo musical. No meu
PDF created with FinePrint pdfFactory Pro trial version http://www.pdffactory.com
sentimento de beleza, na música haverá lugar para Chopin, Mozart, Beethoven,
Bach e Schubert, Schumann, Brahms ou Mahler. Esse é o meu Olimpo musical.
Como o senhor imagina a figura exterior de Chopin?
. Eu não preciso imaginar a figura exterior de Chopin. Vejo-o em dezenas de
imagens que a sua época deixou, desde a idade juvenil, em 1826, até 1829,
quando foi retratado por Eliza Radziwill. Depois, ainda em 1929 ele foi
maravilhosamente retratado por Ambrósio Miroszewski. Há também alguns
retratos a respeito dos quais não sabemos se eles retratam Chopin ou não. Mas
certamente o melhor é o retrato de Eugène Delacroix, que nos mostra um Chopin
maduro, como alguém que na rua não podia deixar de chamar a atenção de
ninguém. O retrato de Delacroix reflete perfeitamente a profundeza dos
sentimentos e dos pensamentos do compositor. Ele foi ali retratado num
momento especial – de enlevo sentimental em relação a George Sand. Depois
temos alguns retratos de salão, como os de Ary Scheffer, Antônio Kolberg, até
chegarmos aos daguerreótipos e à única fotografia, de Louis-Auguste Bisson.
Ele era um homem apresentável?
. Era um homem de estatura mediana, com cerca de 170 centímetros de altura,
sempre magro e de cabelos loiros. Quanto à cor dos olhos, temos
pronunciamentos diversos. Fala-se que seus olhos eram de um cinza azulado.
Qual dos testemunhos das pessoas contemporâneas de Chopin pode ser
reconhecido como o melhor?
. Um dos melhores retratos de Chopin é fornecido por Franz Liszt em sua
monografia, uma das primeiras, publicada em Paris em 1852, na qual ele
descreve o compositor com entusiasmo. De todas as descrições preservadas
resulta que ele irradiava benevolência diante das pessoas. E realmente ele foi
assim. Se alguém diz que ele era sobretudo uma pessoa dos salões, isso é falso
na medida em que ele frequentava os salões em razão da sua profissão. Ele
tocava nesse ambiente e pelos concertos apresentados nos salões ganhava
dinheiro, da mesma forma que ganhava dinheiro dos seus alunos. Mas,
permanecendo nos salões, ele não assumiu nada do ouropel desses salões. Existe
um testemunho engraçado do compositor suíço Stefan Heller, que, ao fazer a
Robert Schumann um relato da vida parisiense da época, escreveu: “Chopin se
afunda na lama dos salões, mas nada disso adere a ele, que escreve com beleza
e profundidade”. Trata-se de um excelente testemunho. Chopin introduzia nos
salões um tom elevado, a sublimidade e os ideais. Uma prova disso são as
palavras de Solange, filha de George Sand, que chama a atenção para o fato de
que nos anos 30 do século XIX, quando florescia o salão de sua mãe, em 1836
surgiu nele pela primeira vez Chopin. Lembra ela que, a partir do momento em
que nele entrou Chopin, tudo ali mudou. A sua presença eliminou pessoas casuais
e vulgares. A partir de então o salão tornou-se um lugar santo, um lugar de
conversas sérias, no qual era praticada a arte elevada. Ali Sand lia à noite o que
havia escrito pela manhã, e Chopin apresentava as suas novas composições.
Parece que Chopin não gostava muito de se apresentar em grandes salas de
concertos...
. É difícil dizer se isso realmente acontecia. Chopin iniciou a sua carreira a partir
de concertos públicos. Em 1930, em Varsóvia, antes de viajar apresentou na
primavera dois, e no outono um concerto. Naquela ocasião, para a apresentação
do jovem pianista na Ópera de Varsóvia vieram 700 a 800 pessoas, que o
aplaudiram com entusiasmo. Na mesma oportunidade escrevia resenhas
entusiásticas a respeito da sua música Maurycy Mochnacki. Essas resenhas
precederam as opiniões de Schumann, que disse: “Senhores, tirai os chapéus,
aqui está um gênio”. Foi Mochnacki quem anteriormente o havia chamado de
gênio, mas, mais importante que essa definição era a sua constatação de que
PDF created with FinePrint pdfFactory Pro trial version http://www.pdffactory.com
aquilo que tocava Chopin era a “verdade”, visto que nela não existe ênfase nem
páthos.
Chopin iniciou a sua carreira como um pianista que compunha. Fez concertos em
Viena e Paris. Na capital da França apresentou o primeiro concerto em fevereiro
de 1832, e imediatamente se tornou um grande sucesso. François-Joseph Fétis,
que na época era o “papa” dos críticos musicais, escreveu que havia chegado um
jovem pianista de Varsóvia, que em tudo que apresentava, na melodia, na
harmonia, no ritmo, na composição pianística era original.
. Durante os primeiros cinco anos em Paris, Chopin foi um pianista concertante.
Em 1836 realizou-se um concerto que não teve sucesso e que ele mesmo havia
organizado na Ópera de Paris em prol dos emigrantes poloneses pobres. Ele
realizou o seu concerto de piano. No entanto, para as condições do salão da
Ópera, tocou baixo demais, e a apresentação não causou uma grande impressão.
Já naquela época estava amadurecendo nele alguém que, de um pianista
concertante, que compõe música, surge um compositor, que de vez em quando
faz concertos. Ele se tornou um pianista de câmara e apenas de vez em quando,
a pedido de amigos, dava concertos no Salão de Pleyel nos anos 1841, 1842 e
1848. Numa resenha de um desses concertos Liszt escreveu que esteve presente
nele a elite francesa do talento – os artistas, da beleza – as mulheres, do dinheiro
– os banqueiros e os políticos. Foi um sucesso incrível. O poeta alemão Heinrich
Heine, na sua correspondência de Paris a jornais alemães, e outros escreviam
que havia excelentes pianistas, como Liszt ou Thalberg, mas que havia um que
sobrepujava a todos eles, e este era Chopin. Nos rankings dos pianistas ele era
sempre o primeiro, ou melhor que os outros. Balzac disse certa vez que quem
não ouviu Chopin não pode falar de Liszt. “Chopin é o anjo, e Liszt é o demônio”
– disse o escritor francês. Também durante a turnê pianística de Liszt e Thalberg
discutia-se quem era melhor, e escrevia-se que a resposta só podia ser uma –
Chopin. Nos anos 40 do século XIX ele já não queria apresentar-se em grandes
salas de concertos. Ele sentia-se bem diante do público de câmara.
Os concertos lhe garantiam a independência financeira?
. Os concertos lhe proporcionavam também grandes sucessos financeiros. Numa
carta a um primo seu, Sand escrevia que num único concerto, com os golpes das
duas mãos, por duas horas Chopin havia recebido 6 mil francos e que poderia
nadar em ouro durante anos inteiros.
Como era seu caráter? Era sanguíneo ou colérico?
. Era sem dúvida um sanguíneo. Reagia à realidade de forma extremamente viva,
espontânea e transparente. Possuía também um excelente talento de ator e
parodista, para o que contribuía a sua elevada cultura pessoal, a qual fazia com
que fosse considerado um conde ou príncipe. Chopin tinha um comportamento
diferente no ambiente oficial, onde se apresentava como um príncipe, e entre os
seus amigos, sobretudo poloneses, quando era inteiramente ele mesmo. Famosos
eram os seus encontros no Hotel Lambert, em Paris, com a família Czartoryski,
quando passava horas inteiras tocando para as pessoas que se divertiam.
Também durante as suas estadas em Nohant ele montava um burrinho, ao lado
de Sand, que montava um cavalo, o que devia ser um espetáculo interessante.
Gostava de jogar bilhar com os convidados e xadrez com a Solange, com a qual
sempre jogava de maneira a perder. Ali também, em companhia de Pauline
Viardot, participava de festas e diversões populares. E não havia nisso nenhuma
bipartição de personalidade. Nos salões ele cumpria a profissão de pianista, e
com os seus companheiros era inteiramente ele mesmo.
Como as mulheres se comportavam diante de Chopin?
. No relacionamento com as mulheres Chopin era tão sensível que não sou capaz
de comparar com ele qualquer outro compositor. Como falam a respeito dezenas
PDF created with FinePrint pdfFactory Pro trial version http://www.pdffactory.com
de testemunhos, ele reagia à beleza das mulheres vivamente e com elevada
cultura. Pode-se dizer que as suas reações eram platônicas. Alguém até o acusou
de conquistador, do que ele ria numa carta escrita a um amigo. Reagia vivamente
à beleza e aos fluidos procedentes das mulheres. Por outro lado, contava com a
adoração do lado do belo sexo. Lembremos que três quartos dos seus alunos
eram constituídos por mulheres, entre as quais estavam as mais belas damas da
Europa. Sand certa vez escreveu com bastante malícia que durante uma noite ele
se havia apaixonado por três mulheres. Mas ele não se ofendia com isso e dizia
que esse tipo de opinião era permitido a uma autora de romances.
Ele se realizou no amor?
. O seu amor por George Sand certamente foi completo. Da mesma forma, podese falar de um amor completo, no início dos anos 30 do século XIX, em relação a
Delfina Potocki. Ela sempre se encontrava junto a Chopin nos momentos mais
importantes da sua vida, sobretudo na hora da morte. Durante a sua agonia ela
lhe cantava as suas canções prediletas. Demonstrou-lhe um sentimento que
perdurou até o fim da vida. Chopin escreveu a última das suas canções para as
palavras de Zygmunt Krasinski, que havia recebido de Delfina – “Das montanhas
de onde traziam”. Ele transcreveu essa canção no álbum de poesias dela e
assinou “Nella miseria”. Eram palavras da Divina Comédia, de Dante: “Não existe
dor mais pungente do que lembrar os dias felizes na desdita”. Essas palavras de
Chopin comprovam que a bela amizade de Chopin com Delfina permaneceu até o
fim.
Mas com George Sand...
. O outro amor realizado foi George Sand. Foi uma espécie de resposta ao
sentimento não realizado em relação a Maria Wodzinski, da qual foi noivo
confidencial, mas infelizmente isso não resultou em nada. Sand principalmente se
apaixonou pela sua música e pela sua personalidade. Lutou por ele
encarniçadamente. Por causa dele ela usava roupas de cores branca e vermelha e
travava amizades com poloneses, entre os quais Mickiewicz, para estar perto
dele. No final conquistou o seu coração. Ela escreveu a esse respeito a um amigo
de Chopin, Adalberto Grzymała, na qual argumenta que ele não estaria feliz
numa união com a Wodzinski. Explodiu mutuamente não apenas um ardente
sentimento, mas a paixão. Mas isso acabou durante uma estada na Maiorca,
quando Chopin teve de regressar a Paris após uma violenta crise de tuberculose.
O relacionamento deles durou alguns anos. Mais tarde, da parte de Chopin era o
amor, e da parte de Sand – a amizade. Ela cuidou dele como uma enfermeira,
nisso esforçou-se ao máximo e sob a influência de Chopin tornou-se uma outra
pessoa. Mas, apesar de ter acabado o relacionamento sentimental, na minha
opinião Chopin nele se realizou. Vejamos que durante os anos desse
relacionamento, no período 1839-1847, ele compôs quase todas as suas obras
mais geniais. Essas obras eram compostas na hospitaleira residência de Nohant.
E, seja qualquer coisa que se diga a respeito de George Sand, não nos podemos
esquecer de que foi ela quem lhe possibilitou isso. Certamente ela o motivava
com a fascinação que demonstrava diante da sua arte. Numa das suas cartas ela
escreve que Chopin compôs três novas mazurcas, que valiam mais que todos os
romances do século XIX. Era uma afirmação exagerada, mas sincera. Em suas
memórias – História da minha vida – Sand escreveu a respeito de Chopin as mais
belas palavras que era possível escrever, dizendo que ele era o mais maravilhoso
artista que havia encontrado em sua vida. Mas foi também nessa carta que ela
escreveu uma frase espantosa: “Uma coisa não lhe posso perdoar – o seu apego
ao catolicismo”.
PDF created with FinePrint pdfFactory Pro trial version http://www.pdffactory.com
Justamente... Ele foi uma pessoa religiosa? Há várias opiniões a esse respeito,
inclusive a de que era indiferente quanto à religião...
. Não apenas se falava do seu indiferentismo religioso, mas até se escrevia que
era um ateu. Opiniões desse tipo surgiram já no final do século XIX. Escreveu a
esse respeito Fernando Hoesick na monografia Chopin – vida e obras. Na opinião
desse autor, já o próprio relacionamento com George Sand comprovava que ele
não era religioso. Eles simplesmente viviam juntos sem serem casados.
Naturalmente, em razão disso Chopin tinha remorsos de consciência, pois de
outra forma Sand não teria escrito a respeito daquele “apego ao catolicismo”.
Depois eram apresentados outros argumentos. O filósofo religioso André Nowicki,
em seu texto A religião de Frederico Chopin, conta que nas cartas de Chopin a
palavra “Deus” aparece setenta vezes e que ele a utilizava apenas no sentido
convencional, por exemplo: “Queira Deus que faça bom tempo”. Então eu
pesquisei como isso se apresentava na realidade e posso afirmar que todos que
acusam Chopin de irreligiosidade – não sei por que razões – fecham os olhos aos
fatos. Hoesick devia conhecer a opinião de Sand a respeito do seu “apego ao
catolicismo” e não sei porque ele não quer reconhecer que afinal essa afirmação é
o argumento principal e suficiente a favor da religiosidade de Chopin. Um outro
argumento é também a utilização da palavra “Deus” em setenta ocasiões. Chopin
se utiliza dela diversas vezes justamente de forma não convencional, por
exemplo na carta a um amigo: “Que Deus te conduza, que eu aqui vou rezar”, ou
nas palavras dirigidas a um jovem pianista: “Que Deus abençoe o teu trabalho”.
Vamos adiante. Será que uma pessoa religiosamente indiferente escreveria “Hoje
é Quarta-Feira de Cinzas”? Expressões desse tipo e outras semelhantes podem
ser encontradas nas cartas de Chopin de Viena, Paris e outras localidades. Será
que um ateu escreveria que num determinado dia se comemora uma festa da
Igreja? Para assim escrever, é preciso ser uma pessoa verdadeiramente crente.
Além disso, temos ainda numerosos testemunhos da religiosidade de Chopin
procedentes das pessoas dele mais próximas...
. Sem dúvida. Vejamos a monografia de Liszt, - Chopin - de 1852, na qual ele o
descreve como uma pessoa “profundamente religiosa e sinceramente apegada ao
catolicismo”. Outros testemunhos provêm de um outro católico praticante, que
era Eugène Delacroix. Anteriormente, numa das suas cartas ao amigo Tito
Woyciechowski, de 1828, Chopin havia escrito: “Há uma semana nada tenho
composto, nem para os homens nem para Deus”. Como então devem ser
entendidas essas palavras num compositor que não compôs nenhuma obra
religiosa?
Justamente. Por que ele não compôs nada desse tipo? Será que era uma questão
do estilo, da moda daquela época?
. Ao contrário! Naquele tempo existia a moda de escrever obras religiosas. Para o
fato de Chopin não ter composto obras sacras contribuíram duas questões: ele
tinha um profundo sentimento do próprio valor, conhecia os seus limites criativos
e era marcado pela modéstia. Não entrava em áreas em que sentia que não era
competente. Escolheu como seu instrumento o piano e ele se sentia melhor
compondo justamente para esse instrumento. Era uma escolha da sua vida.
Chopin não apenas não escreveu uma composição religiosa, mas, por exemplo,
não compôs uma ópera, apesar das pressões, por exemplo, do seu mestre José
Elsner. Além disso, é uma característica maravilhosa dele não ter composto
profissionalmente. Ele compunha para expressar a si mesmo, e por isso
encontrou o instrumento que a ele melhor se adaptava. Numa das suas cartas ao
amigo Woyciechowski escreveu que “eu digo ao piano o que muitas vezes
gostaria de dizer a mim mesmo”. Também Sand escreveu que Chopin era
fechado para o exterior, não admitia ninguém em seu santuário e entregava todo
o seu interior à música. O característico é que tanto Sand como Liszt escrevem
da inacessibilidade ao interior de Chopin. No entanto ambas essas pessoas não
PDF created with FinePrint pdfFactory Pro trial version http://www.pdffactory.com
sabiam que Chopin se abria sobremaneira, o que acontecia nas suas cartas aos
familiares e aos amigos poloneses. Basta lembrarmos a sua correspondência com
o amigo Woyciechowski, com João Matuszynski ou com o Diário de Stuttgart.
Neste último aparecem palavras semelhantes ao famoso trecho da Grande
Improvisação de Mickiewicz: “Ó Deus, Tu existes e não te vingas? Não Te são
suficientes ainda os crimes moscovitas – ou Tu mesmo és um moscovita?”
Como compositor, Chopin foi mais intuicionista ou racionalista?
. Janusz Ekiert disse certa vez: “Chopin tinha a cabeça nas nuvens, mas andava
firmemente pela terra”. “Pela terra” é a sua educação iluminista e clássica
alcançada sob a supervisão do pai, Nicolau Chopin, no Liceu Varsoviano de
Bogumil Linde e José Elsner. Ele obteve uma educação racional, iluminista. Mas,
por influência da mãe e de amigos da casa como Witwicki e Casimiro Brodzinski,
moldou-se nele um sentimento romântico e religioso. Graças a isso, ele se tornou
o mais eminente representante do Romantismo na música. Paradoxalmente, ele
era um romântico que negava a maioria das teses fundamentais daquela época.
Não se ligava com a Idade Média. Para Chopin, o fantástico não dominado pela
forma é inadmissível. Não existe nele também a ligação entre a palavra e a
música – as canções são marginais em sua criatividade. A seguir, percebamos em
Chopin a falta de obras programáticas, como ocorre com Heitor Berlioz ou Liszt.
Mas, apesar da falta desses traços, Liszt escreveu em sua monografia que Chopin
foi o líder da escola romântica.
Há em Chopin muitos outros paradoxos desse tipo...
. Igualmente paradoxal é o seu relacionamento com o heroísmo, o patriotismo e
a Pátria.
Junto a seus contemporâneos ele tinha a fama de um “pianista e compositor
político”...
. O patriotismo despertou em Chopin muito vivamente em razão da amizade com
Mochnacki já em 1829. Em 1830 ele compõe Festa, um ano depois O guerreiro e
a Polonaise em lá bemol maior. Na véspera do Levante de Novembro [de 1830]
ele viaja a Viena. Esse fato se transformou para ele num grande trauma, visto
que a maioria dos seus amigos de diversas formas participou desse levante.
Portanto, além do trauma na esfera amorosa, percebe-se em Chopin o trauma na
esfera patriótica. Jarosław Iwaszkiewicz chamou a atenção para o fato de que em
razão desse trauma houve em Chopin uma “ruptura”, que nos deu a sua grande
arte. Isso justamente é um paradoxo. Ele escreve músicas sem nenhuma
dedicatória, p. ex. A Batalha de Ostrołęka ou Sobieski às portas de Viena. Embora
tivesse permanecido na companhia de Czartoryski, Niemcewicz ou Mickiewicz,
não compôs nenhuma obra com título patriótico, mas, apesar disso, todos sentem
em sua música o polonismo e o patriotismo. E não apenas nas polonaises e nas
mazurcas. Já Liszt escreveu que o polonismo da música de Chopin não consiste
no ritmo das mazurcas ou das polonaises. Na minha opinião, isso acontece
porque Chopin baseou-se não apenas no folclore, mas também em canções
polonesas populares. A essência da música de Chopin não é apenas expressa
muito bem pelas palavras de Cyprian Kamil Norwid: “E havia nisso a Polônia –
desde o zênite da Oniperfeição da história”. Escreveu da mesma forma o discípulo
de Liszt e Chopin, Wilhelm Von Lenz, que em 1872 publicou o livro Grandes
virtuoses do piano do nosso tempo conhecidos pessoalmente: “Ele é o único
pianista político do nosso tempo”. Uma prova do patriotismo de Chopin é também
a recusa da prorrogação do passaporte russo, apesar das súplicas do pai e dos
numerosos concertos em prol dos compatriotas. Numa nota de falecimento
Berlioz escreveu que apenas os poloneses sabem onde foi parar a fortuna de
Chopin. Recordemos que ele era um dos mais bem pagos pianistas e professores
de piano, uma pessoa rica, após cuja morte verificou-se que não havia ficado
dinheiro algum. Em toda resenha escrevia-se a respeito de Chopin como um
PDF created with FinePrint pdfFactory Pro trial version http://www.pdffactory.com
polonês, a respeito da sua música polonesa ou mesmo – como o definiu Balzac –
que ele era “mais polonês que a Polônia”.
E “elevou o popular à humanidade”, para novamente citar Norwid...
. Chopin mostrou que não é preciso compor música religiosa, assinar as suas
composições – como fazia Haydn – “Ad maiorem Dei gloriam” – “Para a maior
glória divina”, a fim de compor verdadeiramente para a glória de Deus, para
repetir mais uma vez as suas palavras: “Não compus nada para os homens nem
para Deus”. Para ter a marca divina, a música não precisa possuir em seu nome a
denominação de “religiosa”. Chopin compunha por estímulos humanos para as
pessoas, nunca levado pelo espírito romântico do egotismo. Após compor uma
das suas obras-primas, a Fantasia Op. 49 – escreveu: “Hoje concluí a Fantasia –
o céu está lindo, mas o meu coração está triste – mas não faz mal. Se fosse de
outra forma, talvez a minha existência não fosse útil a ninguém. Escondamo-nos
para depois da morte”. Essas palavras são uma prova de que o ideal do serviço
era o objetivo e o sentido da sua existência.
Parafraseando as palavras de Gombrowicz: “Chopin foi um grande polonês” –
será que os poloneses hoje ouvem e compreendem Chopin?
. Não se pode dizer que sejam todos, visto que nunca aconteceu que a grande
arte, a música atingisse a todos. O Ano de Chopin traz consigo o perigo de matar
o sentimento da proximidade de Chopin junto aos seus fãs mais sensíveis. Eles o
terão demais para o dia a dia. Chopin não pode deixar de ser amado, não pode
estar distante. Estamos diante de uma onda de fascinação pela sua pessoa e pela
sua música no mundo inteiro. Indagadas a respeito da música, as pessoas do
Extremo Oriente respondem: Chopin. E depois, um longo e longo tempo em
silêncio, e somente então surgem: Bach, Beethoven ou Mozart. Para as pessoas
daquele espaço cultural, ele parece ser mais acessível.
Como se pode explicar essa fascinação simplesmente fantástica por Chopin dos
japoneses, coreanos ou chineses?
. Eu explico isso dizendo que a sua música é um testemunho daquilo que disse
Norwid a respeito da arte no contexto de Chopin e da música no seu poema
Promethidion: “O que sabes a respeito da beleza?...” “É a forma do Amor”. A
música de Chopin é a “forma do amor”, e o amor desperta o amor. Se trocarmos
a palavra “amor” por “sentimento”, a música de Chopin é a expressão dos
sentimentos amistosos, que provocam a necessidade do contato com o nosso
semelhante. O marquês Astolphe de Custine, autor das Cartas da Rússia,
escreveu a Chopin: “Unicamente uma arte como o Senhor a entende será capaz
de unir as pessoas divididas pelas fronteiras da vida real. As pessoas se amam e
mutuamente se compreendem através de Chopin”. Por sua vez, Stefan
Kisielewski escreveu que a atuação da música de Chopin não apela à sala de
concertos, mas a cada ouvinte, de forma singular, profunda e íntima. Isso é com
certeza um fenômeno da sua música e até o mistério da sua obra.
Que composições de Chopin o senhor mais gosta de ouvir?
. Os noturnos, as baladas, os scherzos, os estudos e as sonatas. No entanto eu
vejo a sua música como um todo. Quando quero ficar mais animado em espírito,
ouço algumas valsas, que irradiam alegria, gracejo. Mas também me fascina a
transitoriedade do Improviso, que tanto admirava o escritor francês André Gide.
Escrito com a pena leve, como que sem querer. Como deixar de ouvir sem
emoção a Sonata em si bemol, a respeito da qual Witold Lutosławski dizia que os
seus primeiros acordes são como que um “bloco na rocha”? Neste momento já
temos dezenas de bons chopinistas, e é maravilhoso poder ouvir um Chopin
sempre diferente. Todo pianista que possui a sua individualidade tem o seu
Chopin. Ele é verdadeiro quando é ao mesmo tempo dele. Inclusive Ivo
PDF created with FinePrint pdfFactory Pro trial version http://www.pdffactory.com
Pogorelich, que é acusado de não executar Chopin de acordo com certos cânones.
No entanto para mim a sua interpretação da Sonata em si bemol é genial.
E quais são os intérpretes de Chopin que o senhor mais aprecia?
. Também é difícil de responder. Diversos pianistas executam de diversas formas
as composições de Chopin. Tenho disso uma lista. Os estudos são otimamente
executados por Maurizio Pollini. As baladas e os concertos de piano, gosto de
escutá-los na execução de Christian Zimmermann, os noturnos tocados por Maria
João Pires, os scherzos por Pogorelich, os prelúdios por Martha Argerich, a
composição em si bemol para piano e violoncelo na fenomenal execução de
Argerich e Mstislav Rostropovitch e as valsas na execução de Dina Joffe. Lembro
que as minhas avaliações também são variáveis. Pode surgir algum pianista que
pela execução de alguma composição me encante. Tocam bem Chopin aqueles
pianistas que, tendo atingido certa classe, na execução dão o máximo de si e não
se esquecem do compositor. Eles têm de interiorizar a música dele e depois
reuni-la com a sua personalidade e executá-la como sua. Então surge uma
execução singular, da mesma forma que é singular todo ser humano.
O senhor deve concordar com as palavras de Norwid, do já citado poema
Promethidion, que possivelmente traduzem da melhor forma a essência da obra
de Chopin: “Na Polônia, a partir do túmulo de Chopin se desenvolverá a arte,
como uma grinalda de bons-dias, através de conceitos algo mais conscienciosos a
respeito da forma da vida, isto é, a respeito da direção do bem, e a respeito do
conteúdo da vida, isto é, a respeito da direção do bem e da verdade. Então o
talento se comporá no conjunto da arte nacional”?
. Não conheço uma síntese mais acertada de Chopin do que a reflexão poética de
Norwid e aquela de 1849, ou seja, o necrológio que o poeta publicou no Diário
Polonês: “Chopin, de nascimento — varsoviano, de coração — polonês e pelo
talento — cidadão do mundo, afastou-se deste mundo”, e depois o poema O
piano de Chopin e Promethidion, bem como as Flores negras e as Flores brancas.
E digo isso como conhecedor da literatura principal da recepção de Chopin. Não
existe uma síntese melhor da sua obra, ainda que alguns se aproximem de uma
avaliação apropriada da essência da sua arte. Witold Lutosławski, que dizia que
voltava a Chopin quando se sentia mal e graças a ele alcançava novas forças, e
ainda que a sua música se lhe associava com o sentimento de alguém que
caminhando pela rua se elevasse ao alto. Tendo consciência de que, quando
estava numa idade em que marginalizou a beleza e a emoção, Lutosławski, ao
lembrar o seu primeiro encontro com Chopin, teve a coragem de confessar que
na infância, ao ouvir o Scherzo em si menor, escondia-se debaixo da mesa para
esconder as lágrimas. Para ele, a emoção é a reação ao valor que traz a música
de Chopin, que não é absolutamente uma brincadeira com as teclas. No século
XX houve uma tentativa de nos convencer através da musicologia – que se
praticava em algumas escolas de piano – que a música de Chopin é uma exibição
de virtuosidade. Nele, a virtuosidade rapidamente deixou de ser um objetivo para
se tornar unicamente um meio na sua oficina de compositor.
* Krzysztof Tomasik entrevistou o prof. Mieczysław Tomaszewski. Apresentamos
aqui o texto da entrevista, que foi publicada no portal da KAI (Agência Católica de
Informação). Agradecemos à KAI pela autorização para a publicação desse texto
nas páginas da nossa revista polônica Polonicus. Fonte:http://ekai.pl em
01.03.2010
PDF created with FinePrint pdfFactory Pro trial version http://www.pdffactory.com
Sobre o autor:
Francisco José dos Santos Braga é compositor e pianista, nascido em São João
del-Rei, MG. Aí fez seus primeiros cursos de Solfejo, Ditado, Teoria Musical e
Piano no Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier. Na mesma
cidade graduou-se em Letras em 1971 pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia,
Ciências e Letras (atual UFSJ- Universidade Federal de São João del-Rei).
Em São Paulo, deu continuidade a seus estudos acadêmicos e musicais. Em 1983
obteve seu grau de Mestre em Administração pela EAESP-FGV. Simultaneamente,
prosseguiu seus estudos musicais com o Maestro Souza Lima (piano) e Sérgio O.
de Vasconcellos Corrêa (composição).
Em Brasília, de 2002 a 2008, cursou bacharelado em Música, com concentração
na área da Composição, na UnB, onde foram seus mestres os compositores
Conrado Silva e Jorge Antunes. Na mesma ocasião, participou dos Cursos
Internacionais de Verão promovidos pela EMB-Escola de Música de Brasília, tendo
como professores os compositores Oscar Edelstein (Argentina), Christopher
Bochmann (Inglaterra/Portugal), Jorge Antunes e Gilberto Mendes (Brasil), além
do professor de piano Sergei Dukachev (Rússia).
Mantém atualizado o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um
locus de comunicação com lusófonos interessados nos temas cultural, musical,
literário, literomusical, histórico e genealógico. Além disso, colabora com artigos
para o Blog São João del-Rei (www.saojoaodel-rei.blogspot.com).
Participa ainda, como Membro, de várias instituições no País, para as quais
escreve ensaios, crônicas e artigos, cabendo destacar as seguintes:
- SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro)
- Colégio Brasileiro de Genealogia, Rio de Janeiro
- Academia de Letras de São João del-Rei
- Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei
- Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG
- Academia Valenciana de Letras (Valença-RJ)
- Instituto Cultural Visconde do Rio Preto (Valença-RJ)
- Fundação Oscar Araripe (Tiradentes-MG).
Também é colaborador ativo de importantes sites dedicados a temas culturais,
cabendo mencionar os seguintes:
- www.saojoaodelreitransparente.com.br
- www.concertino.com.br
- www.csdp.salesianos.br
PDF created with FinePrint pdfFactory Pro trial version http://www.pdffactory.com

Documentos relacionados

2010 - ANO CHOPIN > > > Parte 4 Nesta Parte 4 da

2010 - ANO CHOPIN > > > Parte 4 Nesta Parte 4 da 2010 - ANO CHOPIN > > > Parte 4 Nesta Parte 4 da série de ensaios dedicados a 2010 - ANO CHOPIN, o ensaísta, compositor e pianista Francisco José dos Santos Braga traz a sua tradução para esta 3ª p...

Leia mais

Na PARTE I da série de ensaios dedicados a 2010

Na PARTE I da série de ensaios dedicados a 2010 Pasadena (2002). Estudou música em Frankfurt, Hannover e Varsóvia, e logo após seu sucesso em Vilno, em 1999, fez sua estréia internacional, no Grande Salão do Conservatório Tchaikovsky, de Moscou...

Leia mais