Passatempo e Brotar das águas

Transcrição

Passatempo e Brotar das águas
Passatempo
Procurei um poema ou uma frase
uma palavra
para significar o tempo
não pude agarrá-lo, trazê-lo
mas ainda assim ele está aqui
quieto, passeando entre nós
invisível aos olhos
aparentemente perverso
e no silêncio e frieza dos números que usamos
para compreendê-lo
não cabem as medidas
do viver
Passou por mim um rio...
refletia o céu em suas águas calmas.
a cada cintilar sob outra gota que passava
a presença distante e tão próxima do infinito...
Toquei suas águas,
Senti sua mão gelada
A mão do rio, não a minha
Matei minha sede com o sabor de um beijo
E me afastei.
Para admirá-lo em sua grandeza.
Do alto da distância faz seu curso em direção ao mar
para espelhar mais coisas... inclusive as invisíveis
O brotar das águas
As águas do rio não são o rio porque as águas passam e o rio continua... seu curso fixo e incerto
Então, o que é o rio? O caminho por onde as águas passam? E as águas do rio um plural divisível?
Por que, mesmo seco, é rio? João, não há terceira margem! Acorde! Ou há apenas essa margem?
Navegar a vida, Fernando, é impreciso, não há como comparar sentimentos a um dia de verão ou
inverno. De chuva ou sol. De ares quentes ou espíritos gélidos. De azul ou cinza. De verdade ou vento.
assim como o cintilar de estrelas está na atmosfera e em nossos olhos, não nelas
a física abafa as metáforas líricas e nos lança a vastidão da sabedoria...
meus pensamentos são meus, meus e inúteis
como flores murcham, enrugam-se ao fim de primaveras outonais e o gelo derrete à luz
sobra pouco e a réstia é pó seco em solo rachado pelas histórias marcadas nas rugas do tempo
mas o espírito se renova sob águas de chuvas que enchem um rio mesmo no vazio solitário
o qual reflete pedaços das horas e onde clamo, em constantes outonos, por delírios incertos
mergulho-me em mim, em sonhos empíricos e músicas ao vento, e ela mulher
rebatiza-me e hipnotiza-me em versos de sua tez e perfume de epicurismo efêmero
mostra o mágico que passa e em mim permanece em infinitos
velejo-me em suas claras águas conduzindo-me ao mar aberto, a esperanças no silêncio
lá, onde brisas dançam e ondas brincam e tentam invadir domínios de momentos
e a vida ressurge em águas profundas em corais multicor que pulsam ao longe submersos
Sonhe sonhos nítidos e acordados comigo ao seu lado, mergulhado em seus olhos a luz
E, quando a noite chegar, durma, seguindo o curso incerto, somente seu, invisível comigo em seu leito...