- Espaço Energia

Transcrição

- Espaço Energia
Auscultação geodésica
Um teste para avaliação da qualidade de aterramentos elétricos
An evaluation methodology for electrical grounding quality and reliability
Sustentabilidade do biodiesel
Análise da sustentabilidade do biodiesel com uso da Análise de Custos Completos
Analysis of the sustainability of biodiesel using Analysis of Complete Costs
Canola e biodiesel
Balanço energético da cultura da canola para a produção de biodiesel
Canola energy balance for biodiesel production.
Tomografia industrial 3D
Detecção automática de vazios em isoladores poliméricos por tomografia industrial 3D
Automatic detection of flaws in polymer insulators using 3D industrial tomography
Concreto e material reciclado
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009.
Qualidade de aterramentos
COPEL - Companhia Paranaense de Energia
Evolução da auscultação geodésica no monitoramento das usinas: Foz do Areia, Segredo
e Salto Caxias
Evolution of geodesical auscultation monitoring in power plants: Foz do Areia, Segredo
and Salto Caxias
Número 11, Outubro 2009.
COPEL - Companhia Paranaense de Energia
Reparos no vertedouro da UHE Mourão: Aplicação de concretos com adição de
material reciclado – 1ª parte
Repair in Mourão Power Plant spillway: Application of recycled material
concrete admixtures – stage one
9 771807 857005
11
I SSN 1807857 - 5
00011
Editorial
Blackout. Medo do colapso energético. O país passa por mais uma crise, receios e
questionamentos. Será que temos um modelo energético adequado? Confiável?
Imune a fatores circunstanciais plausíveis? Afinal, o que funciona sem energia?
Poderíamos fazer uma analogia com o apagão intelectual. Esse é mais sutil, já que
seus efeitos não são, à primeira vista, tão impactantes como o energético. A classe
intelectual, constituída de pensadores e cientistas, pode ter consciência da
evolução desse processo que culminaria num apagão que fatalmente seria sentido
por toda a sociedade. Quais seriam as principais causas do apagão intelectual? O
problema não reside na capacidade intelectual propriamente dita, muito menos em
sua capacidade de geração de conhecimento, mas sim nas amarras estabelecidas
pelos modelos de gestão, pelas diversas regulações em todas as instâncias, sejam
processuais, fiscalizadoras ou mesmo negociais.
acifítneic-ocincét atsiveR
ocitégrene rotes od
O Brasil é responsável por uma parcela significativa da produção científica
mundial, mas ainda peca na concretização de resultados, na aplicação do
conhecimento produzido. A produção científica do país abraça também aquela
relativa ao setor energético. Entretanto, assim como em outras áreas da ciência, o
país luta para gerar a inovação decorrente de suas invenções. Os novos modelos
de pesquisa e desenvolvimento fazem tentativas de abranger toda a cadeia de
inovação, ou seja, de passar do domínio da ciência para o domínio da aplicação e
do resultado final concretizado. Entretanto, seus processos, e talvez em maior grau
aqueles que lhes são correlatos e que com ele intimamente interagem, ainda têm
por base o paradigma da revolução industrial, o qual não contempla de forma
adequada e, portanto, não fomenta de maneira prática a criatividade e a geração
de soluções inovadoras, ingredientes essenciais para a inovação propriamente
dita.
O apagão intelectual é causado, portanto, mais por posturas e políticas e não pela
capacidade intelectual. Enquanto o país permanecer insistindo em um modelo
engessado de gestão no contexto de P&D e inovação, baseado no controle, que é
intrinsecamente divergente do mecanismo pelo qual a criatividade se evidencia, os
anseios da sociedade por novos serviços, inovadores e de melhor qualidade e por
novos produtos que lhe rendam maiores benefícios continuarão sendo
desprezados. É esse apagão que devemos combater com todas as forças.
Entretanto, de uma coisa podemos ter certeza. O potencial de criatividade que o
país tem é significativo. E essa criatividade, juntamente com o poder do
empreendedorismo, a capacidade de “fazer acontecer”, é que vão legar ao país a
quebra das amarras e a construição de pontes sobre o abismo que separa os dois
mundos.
Nesta edição, auscultação geodésica é abordada no contexto de monitoração de
usinas, com relatos da experiência em três usinas da bacia do Rio Iguaçu. O
trabalho inclui o estabelecimento de uma rede de monitoramento a jusante do
reservatório de uma das usinas, a qual serve para realizar o monitoramento
externo da barragem e para apoiar uma poligonal geodésica de alta precisão
conduzida no interior das galerias. O segundo artigo versa sobre a qualidade de
aterramentos elétricos, analisando os diversos tipos de variáveis que afetam a
impedância de aterramento, especialmente aquelas que se referem à corrosão
eletroquímica. O terceiro artigo traz uma análise da sustentabilidade do biodiesel,
abordando-a como resultado da sinergia das dimensões ambientais, sociais e
econômicas. O biodiesel também é abordado no quarto artigo, que faz um balanço
energético da cultura da canola como fonte para sua produção. O quinto artigo
apresenta uma metodologia que faz uso de tomografia industrial tridimensional
para a detecção automática de vazios em isoladores poliméricos, fazendo uso
também de técnicas de inteligência artificial e visualização científica. Por último, a
adição de material reciclado na aplicação de concreto no vertedouro da Usina
Hidrelétrica Mourão é discutida, com base na comparação em laboratório das
propriedades mecânicas de resistência à compressão, tração e aderência.
Esperamos que os artigos desta edição contribuam com o desenvolvimento
científico do país e com a evolução do setor elétrico, beneficiando toda a
sociedade.
Editorial
Blackout. The fear of energy colapse. The country is currently experimenting a time
of fear, doubt and questioning. Do we really have an appropriate energy model? Is it
reliable? Is it immune to plausible circumstancial factors? After all, what works
without energy?
We could make use of an analogy that may even be related to the energy blackout:
the intellectual blackout. This blackout is very subtle, because its effects are not at
first sight so striking as the energy one. The intellectual class, composed by
thinkers and scientists, may be aware of the evolution of this process which can
result in the blackout that will be felt throughout the society. What are the main
causes for the intellectual blackout? The problem does not lie in the intellectual
capacity itself, much less in its ability to generate knowledge, but in the bonds
established by the management models; by the various regulations in all
instances, regardless of their character and context.
acifítneic-ocincét atsiveR
ocitégrene rotes od
Brazil accounts for a significant portion of the world's scientific production, but still
suffers to achieve results in the application of the produced knowledge. The
scientific production in this country also embraces the energy field. However, as
well as in other areas of science, the country struggles to generate innovation
based on its inventions. New models of research and development are attempts to
cover the entire innovation chain, that is, to move from science to the field of
application and final result achieved. However, their processes, and perhaps to a
greater extent those they are related to and with which they interact closely, yet are
based on the industrial revolution, which does not address adequately and
therefore does not foster a practical way to creativity and to generation of innovative
solutions, essential ingredients for innovation.
Thus the intellectual blackout is caused by policies and attitudes, not by the
intellectual capacity. The longer the country persists on a plaster model of
management in the context of R&D and innovation, based on control, which is
intrinsically divergent from the mechanism by which creativity is evident, the longer
society needs in terms of new innovative and better services and of new products
that will provide greater benefits, will continue to be disdained. It is against this kind
of blackout we should fight.
Nevertheless, there is one thing we can be sure of: the potential for creativity in the
country is significant. And this creativity, coupled with the entrepreneurship power,
the ability to “make it happen”, are the main drivers which will lead the country to
break the ties and to build the bridge over the chasm which makes the two worlds
apart.
In this issue, geodesic auscultation is addressed in the power plants monitoring
context, with reports of experiments in three power plants in the Iguaçu river basin.
The work includes the establishment of a monitoring network downstream the
reservoir of one of the power plants, which serves to carry out external monitoring
of the dam and to support a precision polygonal geodesic conducted within the
galleries. The second paper addresses electrical grounding quality, analyzing the
various types of variables which affect the impedance grounding, especially those
related to electrochemical corrosion. The third paper brings an analysis of the
sustainability of biodiesel according to dimensions such as environmental, social
and economics. Biodiesel is addressed also in the fourth paper, which makes an
energy balance of the canola feedstock as a source for its production. The fifth
paper presents a methodology which makes use of three-dimensional industrial
tomography for the automatic detection of voids in polymer insulators, also making
use of artificial intelligence techniques and scientific visualization. Lastly, the
application of recycled material concrete admixtures in the spillway of the Mourão
Power Plant is discussed, based on the comparison in laboratory of mechanical
properties, such as compressive strength, tensile strength and adherence.
We hope that the papers of this issue contribute to the scientific development of the
country and the evolution of its electric sector, bringing benefits to all society.
Expediente
Espaço Energia
Revista técnico-científica da área de energia
Editor responsável / Editor-in-Chief
Klaus de Geus, Dr
Conselho Editorial / Editorial Board
Frederico Reichmann Neto, Dr
José Marques Filho, Dr
Klaus de Geus, Dr
Marcos de Lacerda Pessoa, Dr
Noel Massinhan Levy, Dr
Renata Sá Brito Stramandinoli, Dr
Ruy Fernando Sant'Ana, Dr
Thulio Cicero Guimarães Pereira, Dr
William Lopes de Oliveira, Dr
Comitê Científico / Scientific Board
Alexandre Rasi Aoki, Dr – Lactec – Brasil
Aloisio Leoni Schmidt, Dr – UFPR – Brasil
Arion Zandoná Filho, Dr – UTP – Brasil
Bill Jorge Costa, Dr – Tecpar – Brasil
Carlos Cruz, Dr – UTFPR – Brasil
Carlos Rufín, Dr – Suffolk University – Estados Unidos
Djalma Falcão, Dr – UFRJ – Brasil
Eduardo Dell´Avanzi, Dr – UFPR – Brasil
Elizete Lourenço, Dr – UFPR – Brasil
Gilberto De Martino Jannuzzi, Dr – Unicamp – Brasil
Hélio Pedrini, Dr – Unicamp – Brasil
José Soares Coutinho Filho, Dr – UTP – Brasil
Keiko Verônica Ono Fonseca, Dr – UTFPR – Brasil
Lineu Belico dos Reis, Dr – USP – Brasil
Marco Delgado, Dr – ABRADEE – Brasil
Marcos Antônio Marino, Dr – UFPR – Brasil
Maria Cristina Borba Braga, Dr – UFPR – Brasil
Maria do Carmo Duarte Freitas, Dr – UFPR – Brasil
Maurício Pereira Cantão, Dr – Lactec – Brasil
Nelson Kagan, Dr – USP – Brasil
Roberto Ziller, Dr – Qimonda AG – Alemanha
Sérgio Scheer, Dr – UFPR – Brasil
Sérgio Fernando Tavares, Dr – UFPR – Brasil
Silvia Galvão de Souza Cervantes, Dr – UEL – Brasil
Sinclair Mallet Guy Guerra , Dr – USP – Brasil
Udo Fritzke Júnior, Dr – PUC-MG – Brasil
Vitoldo Swinka Filho, Dr – Lactec – Brasil
Comitê de Inovação Tecnológica /
Technology Innovation Committee
Alexandre Augusto Angelo de Souza
Ana Maria Antunes Guimarães
Antonio Carlos Wulf Pereira de Melo
Cleverson Luiz da Silva Pinto
Fernando Antonio Gruppelli Junior
José Newton Rodrigues Romeiro Filho
João Marcos Lima
Júlio Shigeaki Omori
Murilo Lacerda Barddal
Robson Luiz Schiefler e Silva
Sérgio Moreira da Anunciação
Sonia Maria Capraro Alcântara
Colaboradores deste número / Collaborators of this issue
José Maurílio da Silva, Lactec – Brasil
Revisão / Review
Júlio Assumpção Malhadas Júnior
Klaus de Geus
Ladier Gluck Spercoski
Maristela Pereira Purkot
Michele Maria Nasser Cavalheiro
Infraestrutura computacional / Computational
infrastructure
Francisco Carlos Iatzaki
Jornalista responsável / Journalist
Júlio Assumpção Malhadas Júnior
Diagramação e Arte Final / Layout and Artwork
14 zero 9 Marketing e Comunicação Ltda.
Copel – Companhia Paranaense de Energia
Rubens Ghilardi
Diretor Presidente
Ronald Thadeu Ravedutti
Diretor de Distribuição
Antonio Rycheta Arten
Diretor de Administração
Luiz Antonio Rossafa
Diretor de Engenharia
Paulo Roberto Trompczynski
Diretor de Finanças
e de Relações com Investidores
Raul Munhoz Neto
Diretor de Geração e Transmissão de Energia e de
Telecomunicações
Zuudi Sakakihara
Diretor Jurídico
Marlene Zannin
Diretora de Meio Ambiente e Cidadania Empresarial
Sumário
Auscultação geodésica
Evolução da auscultação geodésica no monitoramento das usinas: Foz do Areia, Segredo
e Salto Caxias
Evolution of geodesical auscultation monitoring in power plants: Foz do Areia, Segredo
and Salto Caxias
01
Qualidade de aterramentos
Um teste para avaliação da qualidade de aterramentos elétricos
An evaluation methodology for electrical grounding quality and reliability
10
Sustentabilidade do biodiesel
Análise da sustentabilidade do biodiesel com uso da Análise de Custos Completos
Analysis of the sustainability of biodiesel using Analysis of Complete Costs
14
Canola e biodiesel
Balanço energético da cultura da canola para a produção de biodiesel
Canola energy balance for biodiesel production.
24
Tomografia industrial 3D
Detecção automática de vazios em isoladores poliméricos por tomografia industrial 3D
Automatic detection of flaws in polymer insulators using 3D industrial tomography
29
Concreto e material reciclado
Reparos no vertedouro da UHE Mourão: Aplicação de concretos com adição de
material reciclado – 1ª parte
Repair in Mourão Power Plant spillway: Application of recycled material
concrete admixtures – stage one
01
35
Evolução da auscultação geodésica
no monitoramento das usinas: Foz
do Areia, Segredo e Salto Caxias
Evolution of geodesical auscultation monitoring
in power plants: Foz do Areia, Segredo and Salto
Caxias
coordenadas cartesianas geodésicas de pontos por meio de
técnicas de levantamento, tais como: nivelamento geométrico,
GPS, triangulações, trilaterações e poligonação no
monitoramento de determinados fenômenos. Neste trabalho
são apresentados alguns resultados sobre a integração da
Auscultação Geodésica com a instrumentação de segurança
objetivando determinar possíveis deslocamentos de pontos na
barragem de Salto Caxias. Essa integração tem a finalidade de
fornecer subsídios aos técnicos para definir deslocamentos
absolutos dos blocos uma vez que a instrumentação só fornece
variações relativas. Para tanto, foi estabelecida uma rede de
monitoramento a jusante do reservatório, formada por seis
pilares de concreto engastados na rocha, e dotada de sistema
de centragem forçada. Essa rede serve para realizar o
monitoramento externo da barragem e também para apoiar uma
poligonal geodésica de alta precisão que é conduzida no interior
das galerias. Também foram realizados nivelamentos de
precisão sobre a crista da barragem.
Palavras-chave - Auscultação Geodésica, Levantamentos
Geodésicos, Monitoramento de deslocamentos.
Marcos Alberto Soares1
Elizeu Santos Ferreira1
Pedro Luis Faggion2
Luis Augusto Kuenig Veiga2
Carlos Aurélio Nadal2
Sílvio Rogério Correia de Freitas2
Marco Aurélio Debus Nadal2
Ricardo Vilares Neves2
Roberta Bomfim Boszczowski3
1
Copel – Companhia Paranaense de Energia
[email protected]
[email protected]
2
Universidade Federal do Paraná
[email protected]
[email protected]
[email protected]
[email protected]
[email protected]
[email protected]
1 Auscultação geodésica na região de grandes barragens
Os primeiros estudos realizados no Brasil sobre subsidências
ocorridas em função da formação de grandes reservatórios
foram conduzidos pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR), pelo Prof. Camil Gemael, em convênio com a
Companhia Paranaense de Energia (COPEL), na região da
usina hidrelétrica de Foz do Areia, hoje conhecida como
Governador Bento Munhoz da Rocha Neto, no final da década
de 70 (Figura 1).
A subsidência, que consiste na deformação ou deslocamento na
direção essencialmente vertical descendente, manifesta-se por
afundamento do terreno. Esse fenômeno pode ocorrer por
causas naturais (dissolução de rochas - carstificação - como
calcários, dolomitos, gipsita, sal; acomodação de camadas do
substrato pelo seu próprio peso ou por pequena movimentação
segundo planos de falhas, entre outros) ou pela ação humana
(bombeamento de águas subterrâneas e recalques por
acréscimo de peso devido a obras e estruturas).
Abstract: The main objective of the geodetic auscultation is to
obtain cartesian coordinates of points by geodetic techniques,
such as differential leveling, GPS, triangulation and traverse
applied in the monitoring of certain phenomena.This paper
presents some results on the integration of Geodetic
Auscultation with the security instrumentation; The objective of
this is to determine possible points displacements in the Salto
Caxias dam. This integration is intended to provide support to
the technicians to set absolute displacements of the blocks
since the conventional instruments provides only relative
changes. Thus, it were established a monitoring network
downstream of the reservoir, formed by six concrete piles,
equipped with forced centering system. This network serves to
perform the external monitoring of the dam and also to support a
precision traverse that is conducted within the galleries. It were
also performed a differential leveling on the crest of the dam.
Keywords - Geodetic auscultation, Geodetic Survey,
Deformation Surveying.
Características Técnicas:
Forma de Construção: Enrocamento;
Capacidade de Geração: 1.676 MW de potência;
Altura máxima da barragem: 160 m
Área inundada: 139 km2
Volume do Reservatório: 5,8 x 10 6 m3
Resumo: Auscultação geodésica consiste na obtenção de
Figura 1: Usina Hidrelétrica Governador Bento Munhoz da Rocha Neto
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
3
LACTEC - Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento
[email protected]
As técnicas Geodésicas utilizadas neste projeto foram
Nivelamento Geométrico de Primeira Ordem e Gravimetria.
Para que se pudesse aplicar as técnicas citadas, foi
necessária a implantação de um conjunto de Referências
Nível (RRNN), afastadas de um quilômetro (1km), ao longo
das rodovias que se aproximavam do reservatório (margem
direita sentido Cruz Machado, margem direita sentido
Bituruna) .
Para detectar se ocorreu ou não subsidência com a
formação do reservatório, determinou-se a altitude e o vetor
força de aceleração da gravidade das RRNN antes e após a
formação do reservatório. Comparando os resultados
obtidos com as duas campanhas, foi possível avaliar se
ocorreu ou não subsidência na região.
Os resultados obtidos com o Nivelamento Geométrico
demonstraram claramente que, conforme as RRNN se
aproximavam do reservatório, aumentava a variação na
altitude entre elas atingindo dois centímetros (2cm) na RN
mais próxima do reservatório. Testes estatísticos aplicados
aos dados Gravimétricos apresentaram a mesma tendência
[1].
A sequência dos estudos ocorreu com a construção da usina
de Segredo, também no rio Iguaçu. Nesta, em função da
geografia da região, não foi possível implantar RRNN em
linhas que se aproximassem do reservatório. A solução
encontrada foi a implantação de um conjunto de RRNN, em
forma de um anel, com a desvantagem que a RN mais
próxima do reservatório está implantada a cinco quilômetros
(5 km) do muro que forma o reservatório (Figura 2).
RN12
Para aumentar a capacidade de geração da usina de Segredo,
foi construída uma barragem no rio Jordão e através de um
túnel de derivação foram ligados os dois reservatórios
(Figura 3).
Buscando avaliar se houve novas subsidências com a
construção da barragem do rio Jordão realizou-se um novo
nivelamento entre as RRNN 12 e 22 (estas RRNN são as que
estão mais próximas do reservatório). O resultado demonstrou
que não houve novas subsidências.
Em 1996 iniciaram-se os estudos no reservatório formado com
a construção da usina de Salto Caxias (Figura 4), a última usina
de grande porte a ser construída no rio Iguaçu. Em função da
geografia da região, nesta foi possível implantar linhas de
nivelamento na margem direita e esquerda do reservatório (um
total de 80km) ao longo da malha viária que serve a região.
Jordão
oo
Segredo
Túnel de
Derivação
o
Características Técnicas:
Forma de Construção: Concreto compactado a rolo;
Capacidade de Geração: 6,5 MW de Potência;
Altura barragem 95 m
Área inundada 3,4 km2
Figura 3: Barragem de Segredo, Jordão e Túnel de Derivação.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
RN 50 A
RN 50B
Características Técnicas:
Forma de construção: Enroncamento;
Capacidade de Geração: 1.260 MW de Potência.
Altura máxima da barragem 145 m
Área inundada 82 km2
Volume do reservatório 3.0 x 10 6 m3
Figura 2: Usina Hidrelétrica de Segredo, localização do
anel em Segredo.
Os resultados obtidos indicaram uma subsidência de 2,3 cm
na RN21. Como pode ser visto na Figura 02, esta RN é uma
das RRNN mais próximas do muro que forma o reservatório
[2].
Características Técnicas:
Forma de Construção: Concreto compactado a rolo;
Capacidade Instalada: 1200 MW de Potência;
Altura máxima da barragem: 67 m
Área inundada: 141 km2
Volume do reservatório: 3573 km3
Figura 4: Usina Hidrelétrica de Salto Caxias.
RN 51
288,800
288,757
288,77
288,750
288,741
288,733
288,700
288,745
288,722
288,748
288,719
288,712
288,699
288,650
288,600
288,550
288,500
288,465
288,473
288,450
288,443
288,433
288,409
288,400
288,376
288,350
288,300
50A
50B
50D
50E
1998
50F
50G
50H
51
2002
Figura 5. Subsidência na Região da Barragem, considerando toda a rede.
Tabela 1: Desníveis entre as RRNN engastadas na crista da Barragem no período entre 1998 e 2005.
50A-50B
50B-50D
50D-50E
50E-50F
50F-50G
50G-50H
50H-51
50A-51
1998
Desnível
(mm)
-361,650
324,160
23,770
-11,610
-279,780
7,990
275,020
-22,100
2002
Desnível
(mm)
-365,460
323,330
23,280
-10,970
-278,050
9,480
275,680
-22,71
2005
Desnível
(mm)
-363,860
323,050
23,120
-10,700
-277,590
9,570
275,440
-20,970
Dois aspectos importantes dos estudos desenvolvidos nesta
região, em função da distribuição da malha viária, devem ser
destacados:
1.
2.
Foi possível unir as linhas formadas pelas RRNN da
margem direita com as da margem esquerda, através de
sete RRNN (50A, B, C, D, E, F, G e H) materializadas na
crista da barragem (Figura 4). Em função disso tem sido
possível avaliar a ocorrência de subsidência nas
proximidades do reservatório e também recalque na
própria barragem;
As linhas formadas pelas RRNN se afastam da
barragem para uma região sem influência do
reservatório, e outras linhas deslocam-se
paralelamente ao reservatório (margem esquerda e
direita) para encontrar novamente o reservatório a
aproximadamente 10 km a montante.
98 - 2002
Diferenças
(mm)
3,810
0,830
0,490
-0,640
-1,730
-1,490
-0,660
0,610
98 -2005 (98-02)-(98-05)
Diferenças
Diferenças
(mm)
(mm)
2,210
1,600
1,110
-0,280
0,650
-0,160
-0,910
0,270
-2,190
0,460
-1,580
0,090
-0,420
-0,240
-1,130
1,740
reservatório.
Com o projeto Integração da Auscultação Geodésica com a
Instrumentação de controle e segurança da Usina de Salto
Caxias, foi possível dar continuidade ao monitoramento, para
avaliar a ocorrência de recalque da barragem ao longo do tempo.
A tabela 1 apresenta a evolução dos desníveis entre as RRNN
sobre a barragem desde sua implantação, antes da formação do
reservatório, até 2008.
Os valores da coluna “98-2002” representam a diferença ocorrida
entre o nivelamento conduzido antes do enchimento do
reservatório em 1998 e o nivelamento conduzido após o
enchimento do reservatório, em 2002;
Com essa distribuição das RRNN, tem sido possível avaliar a
subsidência junto e também afastado 10 km da barragem a
montante.
Os valores da coluna “98-2005” representam a diferença ocorrida
entre o nivelamento conduzido antes do enchimento do
reservatório em 1998 e o nivelamento conduzido após o
enchimento do reservatório, em 2005;
Os resultados obtidos podem ser vistos no gráfico da Figura 5.
Nesta apresenta-se o resultado da subsidência da barragem de
Salto Caxias quando considerada toda a região em torno do
Os valores da coluna “(98-02)-(98-05)” representam as
diferenças encontradas entre as variações dos desníveis entre as
duas épocas.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Seção
2 Monitoramento Geodésico da Usina de Salto Caxias
Dentro deste projeto, os principais instrumentos empregados
para a realização das observações são:
Monitorar um ponto, considerando-se o aspecto do
posicionamento geodésico, significa determinar e comparar as
coordenadas desse ponto em duas épocas distintas, e verificar
se, dentro de um certo nível de confiabilidade (significância),
houve variações significativas nessas coordenadas. Isso pode
ser realizado tanto em planimetria como em altimetria.
Dessa forma o monitoramento geodésico de uma estrutura
envolve a realização de campanhas periódicas de observação
dos pontos de interesse [3]. A frequência de observação
estabelecida neste projeto envolve campanhas no verão e no
inverno, quando se esperam as maiores variações na
estrutura.
A instrumentação de segurança de barragens (como pêndulos
e extensômetros) permite a determinação de deslocamentos
relativos, enquanto o uso de técnicas geodésicas conduz à
determinação de deslocamentos absolutos, permitindo
quantificar sua magnitude e direção [5]. Com isso pode-se ter
uma ideia do comportamento global da estrutura sob
monitoração. Na Figura 6, empregando-se um extensômetro, é
possível determinar se houve alguma variação entre o bloco A
e o bloco B, porém não é possível determinar individualmente
qual dos dois blocos se moveu. Com o emprego de técnicas
geodésicas, as coordenadas de pontos localizados em cada
um dos blocos em relação a um referencial fixo e estável
podem ser determinadas, permitindo-se dessa forma analisar
qual dos dois blocos ou mesmo se os dois blocos se moveram
e em qual sentido. Cabe salientar que, para que isso seja
possível, existe a necessidade de que a rede geodésica de
monitoramento esteja referenciada a pontos considerados
estáveis, principalmente no que tange às técnicas
convencionais de monitoramento.
-
Estação Total TC 2002 (precisão angular de 0,5” e
linear de 1mm + 1ppm);
Estação Total TCRA 1205 (precisão angular de 5” e
linear de 2mm+ 2ppm);
Nível Digital NA 3003;
Gravímetro.
Cabe salientar que a estação TCRA 1205 foi adquirida com
recursos oriundos do projeto. Este é um instrumento
denominado de robotizado, pois permite a busca e realização
de pontaria em pontos de maneira automática. Além desses
equipamentos, outros acessórios são necessários para a
realização das observações. A Figura 7 apresenta parte dos
instrumentos empregados durante as campanhas de
monitoramento.
Figura 7: Instrumentos empregados para o Monitoramento Geodésico.
A determinação de coordenadas de pontos empregando-se
técnicas geodésicas convencionais está fundamentada na
medição de grandezas como direções (horizontais e verticais),
distâncias e desníveis, a partir das quais, indiretamente é
possível computar as coordenadas de um ponto. Para tanto
são empregadas técnicas como poligonação, trilateração e
triangulação, nivelamento geométrico e irradiação.
Também foram projetados e confeccionados instrumentos
específicos para o monitoramento realizado em Salto Caxias,
tais como DCFs (dispositivos de centragem forçada para a
execução da poligonação), e que serão apresentados
posteriormente neste artigo.
O projeto de monitoramento elaborado para a Usina pode ser
dividido em três componentes principais: a rede de nivelamento
geométrico, rede externa e interna de monitoramento.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Extensômetro
2.1
Rede Externa
A rede externa de monitoramento é constituída de um conjunto
de pilares, dotados de sistema de centragem forçada, e de um
marco fixo na comporta 14 para servir de apoio ao
monitoramento dos alvos da crista da barragem a montante. A
primeira finalidade dessa rede é avaliar a estabilidade da
estrutura onde se encontra construída a barragem. Para tal, são
realizadas duas campanhas por ano (uma no verão e outra no
inverno) com medições de distâncias e direções entre os
pilares. Com essas informações é possível calcular suas
coordenadas e avaliar sua variação com o passar do tempo.
Figura 6: Monitoramento
RelativoRelativo
e Absoluto.
Figura 6: Monitoramento
e Absoluto.
Centragem
Forçada
Pilar
Figura 8: Disposição dos Marcos da Rede Externa a jusante.
Figura 9: Disposição dos Marcos da Rede Externa a montante.
Tabela 2: Coordenadas Ajustadas de Todas as Campanhas da Rede Externa a Jusante.
Coor
d.
X3
Y3
X4
Y4
X6
Y6
Out/06(m)
? (m)
Fev/07(m)
?(m)
Mai/07(m)
?(m)
Out/07(m)
? (m)
1581,8661
999,9936
1640,6853
1197,1810
988,0835
1232,5042
0,0019
0,0392
0,0474
0,0476
0,0627
0,0005
1581,8668
999,9981
1640,6845
1197,1862
988,0818
1232,5044
0,0048
0,0001
0,0006
0,0006
0,0001
0,0008
1581,8653
999,9981
1640,6829
1197,1856
988,0818
1232,5038
0,0048
0,0001
0,0006
0,0006
0,0001
0,0008
1581,8645
999,9981
1640,6820
1197,1854
988,0818
1232,5034
0,0051
0,0001
0,0061
0,0006
0,0001
0,0008
Tabela 3: Diferença Entre as Coordenadas Ajustadas de Todas as Campanhas da Rede Externa a Jusante.
Coord.
Out/06(m)
Fev/07(m)
Mai/07(m)
Out/07(m)
X3
Y3
X4
Y4
X6
Y6
Fixa
Fixa
Fixa
Fixa
Fixa
Fixa
0,0007
0,0044
-0,0007
0,0051
-0,0018
0,0002
-0,0008
0,0044
-0,0024
0,0046
-0,0018
-0,0004
-0,0016
0,0044
-0,0033
0,0043
-0,0017
-0,0007
O processamento dos dados coletados em fevereiro de 2006,
fevereiro, maio e outubro de 2007, permitiu o cálculo das
coordenadas dos vértices da rede a jusante e montante para
cada uma das campanhas e, com isso, avaliar sua estabilidade.
A seguir são apresentadas duas tabelas, a primeira com as
coordenadas dos vértices da rede a jusante e a segunda com
as variações das coordenadas obtidas em épocas diferentes
(tabelas 2 e 3).
2.2 Rede de Monitoramento Interno
A Usina de Salto Caxias apresenta uma característica
particular que são duas galerias de inspeção na barragem
(Figura 10). Com isso, optou-se também por realizar o
monitoramento de pontos internamente à barragem. Para que
isso fosse possível, foi necessário planejar e conduzir uma
poligonal, apoiada em pontos da rede externa, para a
determinação das coordenadas dos pontos.
Um trabalho inicial foi o levantamento em 3D das galerias
empregando-se uma estação total que permite a leitura da
distância empregando-se laser, sem a necessidade de uso de
um prisma. Esse levantamento foi empregado para realizar o
planejamento da poligonal, buscando identificar os pontos
onde seriam instalados os pontos da poligonal e os pontos a
serem monitorados.
Para materialização dos pontos da poligonal optou-se pelo uso
de um instrumento denominado DCF (dispositivo de centragem
forçada). Esse dispositivo é composto de duas partes, uma fixa
nas paredes da galeria, composto de uma chapa de aço com
parafusos de espera, e outra onde é estacionado o
instrumento, que é presa na parte fixa. Foram confeccionados
três protótipos de DCF até conseguir um com a estabilidade
necessária para as observações [8]. A Figura 11 apresenta o
DCF final.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
A segunda função é, a partir de um dos pilares, neste caso o
pilar 3 em função da geografia do local, realizar o
monitoramento dos prismas engastados no paramento da
barragem a jusante e, a partir do marco implantado na
comporta 14, os pontos de monitoramento a montante. A Figura
8 apresenta a disposição dos pilares que materializam a rede
jusante e a Figura 9 a rede montante. Granemann [4] e Neves
[7] fornecem informações mais detalhadas sobre o assunto.
Figura 12: Dispositivos de Centragem para Alvos.
FONTE [8]
2.3 Seleção dos Pontos a Serem Monitorados
Figura 10: Esquema da Galeria de Inspeção.
O processo de seleção de pontos para monitoramento
transcorreu concomitantemente ao planejamento das redes de
monitoramento, pois em função da posição dos pontos a serem
monitorados as redes deveriam ser planejadas. Dois itens
principais nortearam a escolha dos pontos: os elementos a
serem monitorados, como junção de blocos e fissuras, por
exemplo, e o número total de pontos. Um grande número de
pontos a serem monitorados pode tornar o levantamento
oneroso e não produtivo.
Dentro das galerias, a distribuição de pontos nas junções de
blocos e fissuras foi realizada de forma que esses elementos
estivessem distribuídos a montante e jusante (dois a montante
e dois a jusante). A Figura 13 ilustra esta ideia
Figura 11: Dispositivo de Centragem Forçada.
O objetivo de utilizar um sistema de centragem forçada não fixo
nas paredes das galerias foi reduzir custos e evitar transtornos
na execução de trabalhos cotidianos de inspeção realizados
pela companhia mantenedora da Usina. Os dispositivos
permitem a centragem forçada do instrumento e alvos durantes
as observações dos pontos de monitoramento.
Pon tos de monitoramento
FONTE: [8].
Figura 13: Distribuição dos Pontos de Monitoramento na Galeria.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
As posições dos pontos de monitoramento foram determinadas
de acordo com as feições a serem monitoradas, como junção de
blocos. Esses pontos foram materializados mediante DCFA,
conforme ilustra a Figura 12.
Na face externa a jusante da barragem foram distribuídos 35
pontos, sendo 32 localizados nas fissuras e 5 nas comportas e
ombreira direita. Em 18 pontos localizados na escadaria a
jusante foram fixados prismas, os quais não serão removidos
durante todo o período em que serão realizadas as campanhas
de monitoramento. A Figura 14 apresenta um esquema geral
dos elementos empregados dentro do monitoramento
geodésico da Usina.
Figura 14: Esquema do Monitoramento Geodésico.
2.4
Monitoramento das fissuras (parte externa)
Como dito anteriormente a partir de dois pilares da rede externa
realiza-se o monitoramento das fissuras e junção de blocos da
barragem. Para tal, implantou-se um conjunto de 18 alvos
próximo às três fissuras a esquerda e quatro à direita das
comportas como ilustrado na Figura 15. Já os alvos junto às
mesmas fissuras a montante são monitorados a partir do marco
implantado junto à comporta 14.
Figura 16: Prismas engastados na barragem e proteção.
2.4.1 Automação do controle e operação da Estação Total
Robotizada
Esses pontos de monitoramento são materializados através de
prismas que foram fixados de forma permanente na estrutura,
para facilitar os procedimentos de medição e evitar problemas
em seu posicionamento em diferentes campanhas. Foi
projetada, construída e instalada uma cobertura em cada
prisma, uma vez que estão expostos a intempéries e serão
utilizados em futuras campanhas de monitoramento (Figura
16).
Esses pontos são monitorados empregando-se uma estação
total robotizada (TCRA 1205) que permite a busca e pontaria
automática nos prismas, não necessitando dessa forma de
realização da pontaria de forma manual, minimizando com isso
erros provocados pelo observador [7].
Para o desenvolvimento deste aplicativo foram analisadas
diferentes técnicas de interface bem como as formas de
controle e operação da estação. O programa foi projetado para
atender às demandas relacionadas ao processo de
monitoramento dos pontos externos da barragem. Através dele
é possível configurar o equipamento, ordenar a execução das
medições e especificar quais pontos devem ser medidos, além
de receber e organizar todas as informações coletadas em
campo. Na Figura 17 é apresentada a tela inicial do programa.
Maiores informações podem ser encontradas em [6].
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Figura 15: Esquema de monitoramento das fissuras.
Um dos equipamentos empregados no projeto foi uma estação
total robotizada (modelo TCRA 1205 – Leica), a qual permite a
busca e medição de forma autônoma. Esse equipamento foi
adquirido com recursos do projeto buscando a automação dos
procedimentos de medição dos pontos a jusante de barragens.
Existe a possibilidade do desenvolvimento de aplicativos
especiais (voltados à execução de uma atividade específica de
medição) que podem ser utilizados na operação da estação por
meio de um computador, sendo necessário neste caso um link
de comunicação (rádio ou cabo). Com isso, é possível instalar o
equipamento na área a ser realizado o monitoramento, e o
operador pode estar em outro local controlando o instrumento.
(fevereiro ou maio) e final do inverno (Outubro). Comparando
os desníveis obtidos nas diferentes épocas é possível concluir
que as variações encontradas estão dentro da precisão
estabelecida para nivelamento geométrico de alta precisão, ou
seja, 1 mm √k, sendo k a média da distância nivelada e contra
nivelada (tabela 4).
Representando graficamente as variações da altitude das
RRNN, é possível perceber um comportamento cíclico para
todas as RRNN sobre a barragem. Na Figura 18, apresenta-se
um gráfico com o comportamento da RN 50B.
3 Conclusões
Este trabalho apresenta uma visão geral da evolução da
Auscultação Geodésica aplicada em três Usinas da COPEL no
Rio Iguaçu, culminando com a integração das técnicas
geodésicas com a instrumentação de controle e segurança da
usina de Salto Caxias.
Figura 17: Tela inicial do programa de automação.
2.5 Nivelamento Geométrico de Alta precisão
Outro estudo realizado foi acompanhar o comportamento
sazonal da barragem por meio de nivelamento geométrico de
alta precisão. Para tal, determinou-se o desnível entre as
RRNN engastadas na pista sobre a barragem no final do verão
A aplicação das técnicas geodésicas exige um esforço de
planejamento para a otimização das observações bem como
para uma melhoria na qualidade dos resultados.
Tabela 4: Desníveis entre as RRNN engastadas na crista da Barragem.
Seção
50A-50B
50B-50D
50D-50E
50E-50F
50F-50G
50G-50H
50H-51
2006/mai
e
2006/out
-0,5
-0,8
0,0
-0,1
0,2
-0,8
-0,4
2006/out
e
2007/fev
0,6
0,0
-0,2
-0,1
-0,2
-0,3
0,8
2007/fev
e
2007/mai
-0,1
-0,1
0,1
0,1
0,0
1,0
-0,4
2007/mai
e
2007/jul
0,1
-0,2
0,1
0,3
-0,3
5,8
-0,3
2007/jul
e
2007/out
0,2
0,2
-0,2
-0,2
0,2
-6,5
0,1
2007/out
e 2008/jul
-0,3
-0,6
0,3
-0,1
-0,1
0,4
-0,3
Comprimento
médio dos
lances (m)
269,8
100,9
62,3
41,7
48,7
50,1
29,2
RN 50B
99,639
98
19
99,638
99,637
05
20
(m)
99,635
99,632
Figura 18: Comportamento sazonal da RN 50B sobre a barragem.
l
/ju
08
20
o
o
br
tu
ou
lh
ju
ai
04
20
99,633
o
ai
m
/m
06
20
99,634
v
/fe
07
20
ut
/o
06
20
02
20
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
99,636
Neste projeto, as técnicas aplicadas têm se mostrado eficientes
para os fins pretendidos, como pode ser visto pelos resultados
apresentados no corpo do trabalho. Merecem destaque
também os processos de automação da auscultação
geodésica, mediante equipamentos e programas que agilizam
a coleta e processamento dos dados.
Cabe ressaltar a importância da continuação da série histórica
de observações geodésicas para uma melhor descrição do
comportamento dos pontos monitorados.
4 Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer ao programa de P&D da
ANEEL e à COPEL pelo apoio ao desenvolvimento do projeto
bem como ao CNPq pelo auxílio na aquisição de
equipamentos.
5 Referências
[1] GEMAEL, C. Vertical Crustal Deformations Near Large
Dams.18TH General Assembly, International Union of
Geodesy and Geophysics, Hamburg, 1983.
[2] GEMAEL; C. & FAGGION, P.L. Subsidência na Região de
Grandes Barragens. Revista Brasileira de Geofísica, vol.
14, nº.3, 1996.(p.281-285).
[3] DEPARTMENT OF ARMY – U. S. ARMY CORPS OF
ENGENEERS. Manual 1110-1-1004 Deformation
Monitoring and Control Surveying. Washington, DC, 1994.
[4] GRANEMANN, D. C. Estabelecimento de uma Rede
Geodésica para o Monitoramento de Estruturas: Estudo de
Caso na Usina Hidrelétrica de Salto Caxias. Dissertação
Apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Ciências
Geodésicas, 112p, UFPR, Curitiba, 2005.
[5] MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Manual de
Segurança e Inspeção de Barragens. Brasília, 2002. 148p.
[7] NEVES, R. V. Processamento e Análise de Levantamentos
Geodésicos Aplicados ao Monitoramento de Estruturas
Civis. Dissertação Apresentada ao Curso de PósGraduação em Ciências Geodésicas, UFPR, 121p,
Curitiba, 2008.
[8] ZOCOLOTTI, C. A. Utilização de técnicas de poligonação
de precisão para o monitoramento de pontos localizados
em galerias de inspeção: estude caso da U.H. de Salto
Caxias. Dissertação Apresentada ao Curso de PósGraduação em Ciências Geodésicas, 101p. UFPR,
Curitiba, 2005.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
[6] NADAL, M. A. D. Controle e Operação Remota de Estações
Totais Robotizadas Voltado à Auscultação Geodésica.
Dissertação Apresentada ao Curso de Pós-Graduação em
Ciências Geodésicas, 121p, UFPR, Curitiba, 2008.
Um teste para avaliação da
qualidade de
aterramentos elétricos
An evaluation methodology
for electrical grounding quality
and reliability
Osni Vicente1
Silvia Galvão de Souza Cervantes1
Henrique Santana1
Francisco de Assis Scannavino Junior2
1
Universidade Estadual de Londrina
[email protected]
[email protected]
[email protected]
2
USP São Carlos
[email protected]
Abstract: The work shows a study of the quality of electrical
grounding in the region of Londrina, Brazil. This study indicates
the need for preventive maintenance and the need for a
minimum quality of copper used in grounding systems. Among
the many variables that affect the impedance of the ground,
those related to electrochemical corrosion are discussed in
more detail. The knowledge and control of natural corrosion of
rods can ensure better grounding condition, reducing the
danger of electric shock and damage to equipment caused by
lightning and voltage variations. The work methodology
consists in verifying the quality of electrolytic copper deposited
on conventional grounding rods to the market by means of
cyclic voltammetry test and analysis of results.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Keywords: Grounding, Materials, Power Systems,
Grounding Rod.
Resumo: O trabalho mostra um estudo das condições de
qualidade da uniformidade da camada de cobre sobre haste
cobreada. Tal estudo indica a necessidade de novos ensaios
de controle de qualidade durante recebimento ou compra de
hastes cobreadas, bem como a necessidade de definir uma
qualidade mínima do cobre utilizado nos sistemas de
aterramento. Dentre as muitas variáveis que afetam a
impedância do aterramento, são tratadas com mais detalhe as
que se referem à corrosão eletroquímica. O conhecimento e o
controle da corrosão natural das hastes podem garantir
melhores condições do aterramento, diminuindo os perigos de
choque elétrico e danos causados aos equipamentos por
descargas atmosféricas e variações de tensão. A metodologia
do trabalho consiste na verificação da qualidade do cobre
eletrolítico depositado sobre hastes de aterramento
convencionais de mercado, por meio do teste de Voltametria
Cíclica e análise dos resultados.
Palavras-Chave: Aterramento. Materiais. Sistemas de
Potência. Haste de aterramento.
1
Introdução
Uma instalação elétrica bem projetada aliada a um
aterramento adequado é fundamental para garantir a
segurança de todo o sistema. O aterramento fornece um
caminho adequado para a circulação de correntes, necessário
para garantir melhor desempenho da instalação. Dessa forma,
o controle das tensões e correntes evita a ocorrência de
interferências eletromagnéticas, garante um caminho de baixa
impedância e equipotencializa as tensões nos diversos
ambientes, aumentando a segurança das pessoas e a
proteção dos equipamentos [1].
Na literatura técnica, os estudos de SPDA são comumente
divididos em três partes: o sistema de captação, os condutores
de distribuição e o sistema de aterramento [9]. Muito se tem
discutido sobre as técnicas de captação e sobre os condutores
de descida. A norma NBR 5419/05 recolhe o resultado das
principais discussões sobre o assunto nos últimos anos. Pouco
se tem falado, no entanto, sobre as condições das hastes de
aterramento através das quais a corrente se dispersa no solo.
A análise da dispersão é complexa, já que a entrada da
corrente no solo depende de muitas variáveis, de controle
bastante limitado, tais como
condições de umidade,
temperatura, compactação e composição do solo, etc. [3].
Partindo de diversas recomendações de normas [2], o
presente trabalho procura avaliar as condições em que se
encontram os revestimentos de cobre sobre o aço em hastes
cobreadas, sistema típico muito utilizado em construções de
pequeno e médio porte no Brasil. Para tal avaliação são
aplicados testes de voltametria cíclica para observar o
comportamento eletroquímico dos materiais.
Sabe-se que a qualidade de um aterramento depende de
muitas variáveis, tais como as condições de umidade,
temperatura, compactação e composição do solo [3].
Na busca por oferecer melhores condições de aterramento,
este trabalho propõe uma técnica para testar a qualidade do
revestimento de cobre em hastes cobreadas. Para tal
avaliação são aplicados testes de voltametria cíclica para
observar o comportamento eletroquímico.
Convém ressaltar que o trabalho não considera a ação de
correntes de falta sobre os aterramentos, mas aplica-se
somente ao estudo da integridade das hastes em solução de
ácido sulfúrico 0,5 M.
2
Fundamentação
Para avaliação das condições de um aterramento é preciso
conhecer as características físicas, químicas, eletroquímicas e
biológicas a que este está submetido. A preservação e o
funcionamento do aterramento como um todo dependem de
muitas variáveis.
Antes de discutir as características físico-químicas do
aterramento, convém analisar o modo como a corrente penetra
no solo ao chegar à haste. A corrente se difunde através da
terra formando linhas de corrente e tensão em torno do
elemento condutor formado pela haste, como mostrado na
Figura 1 [4]. Estas linhas de dissipação da corrente formam
também um campo elétrico intenso e com decaimento rápido
nas regiões próximas ao condutor, como mostrado na Figura 2,
[1]. Por esta razão, é importante o controle da resistência de
aterramento: más condições de aterramento provocam
tensões mais elevadas junto à haste, podendo causar
acidentes com pessoas ou animais que se posicionem no solo
adjacente.
Figura 2: Distribuição de linhas de tensão.
Quanto ao arranjo físico, o aterramento será tanto mais
eficiente quanto mais profundas se encontrarem as hastes,
para que haja escoamento com maior extensão pelo solo e,
consequentemente, menores tensões distribuídas no solo
adjacente [1].
O tipo de solo influencia notavelmente a resistência de
aterramento. Os tipos mais comuns são: lama, húmus, limo,
argila, calcário, granito, basalto. Cada um deles apresenta
certa composição de elementos que pode alterar o
comportamento eletroquímico [6].
O escoamento das correntes pelo solo depende
essencialmente de suas características físico-químicas,
eletroquímicas e biológicas. A resistividade está associada à
composição química, à umidade, à granulometria, à
temperatura, à compacidade da massa de terra, etc [5].
O solo, normalmente, se apresenta como um condutor de
correntes elétricas de resistências variadas. Os valores típicos
de resistência de aterramento giram em torno de alguns ohms
até algumas centenas de ohms [6].
Para diminuir os efeitos da corrosão eletroquímica, o cobre foi
definido, por norma, como o elemento indicado para revestir a
haste de aço. Para tanto, a norma NBR 13571/96 prevê que
“As hastes de aterramento aço-cobreadas e seus acessórios
devem ser fabricados com materiais de primeira qualidade que
suportem as condições elétricas, mecânicas e químicas –
resistência à corrosão – a que são submetidas quando
instaladas”. A norma prevê ainda a espessura mínima dessa
película de cobre (0,254 mm) [7].
Convém destacar que a norma, embora não defina o grau de
pureza do cobre, especifica que devem ser utilizados
“materiais de primeira qualidade”. Este detalhe, se não
considerado, compromete a preservação do aterramento, uma
vez que é sobre esta película que pode ocorrer a degradação
de todo o sistema de aterramento.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Figura 1: Distribuição das correntes no solo.
Por estar em contato direto com a terra, a haste de aterramento
pode sofrer uma agressão eletroquímica acentuada. De modo
geral, a composição química do solo pode determinar o
desempenho da haste com o tempo.
3
Metodologia
Entre os tipos de aterramento utilizados em instalações
residenciais e industriais, é bastante frequente o uso de hastes
cobreadas. Por serem de aplicação relativamente simples e de
baixo custo, foram adotadas neste trabalho como base de
estudo.
Para avaliar a qualidade do cobre utilizado no revestimento das
hastes, foram escolhidas três marcas de fabricantes comuns
na região de Londrina. As hastes são de aço cobreado,
possuem diâmetro 5/8”, comprimento de 2,438 m com uma das
pontas em cone para facilitar a penetração na terra.
Para utilização do cobre como eletrodo no ensaio de
Voltametria Cíclica foram cortadas as pontas das hastes, em
tamanho aproximado de 5 cm. Desse modo, as pontas foram
submersas em uma cuba eletrolítica, com o cuidado de manter
as extremidades cortadas fora da solução.
5.0
4.0
3.0
haste A
Corrente (mA)
2.0
1.0
0
-1.0
ref.
-2.0
-3.0
-4.0
-5.0
-6.0
-7.0
-8.0
-0.6
-0.5
-0.4
-0.3
-0.2
-0.1
0.0
0.1
Potencial (V)
Figura 3: Teste de Voltametria cíclica: haste “A” x haste de
referência 98% Cu.
6.0
Os ensaios de voltametria foram realizados nos laboratórios do
Departamento de Química da Universidade Estadual de
Londrina. A solução eletrolítica foi preparada com ácido
sulfúrico 0,5 molar. Foram selecionadas três marcas de hastes,
escolhidas por sua disponibilidade no mercado de Londrina.
Por razão dos resultados, citaremos o fabricante de somente
uma delas: Intelli. As outras duas serão denominadas por “A” e
“B”.
5.0
4.0
3.0
2.0
1.0
0
-1.0
-2.0
Para o teste de Voltametria Cíclica foi utilizada como referência
uma barra de cobre com grau de pureza de 98%.
Foi realizado também um teste simples com as amostras
retiradas das barras. Mergulhadas numa solução de Fe+3, as
amostras permaneceram em repouso durante sete dias. Após
esse período, foram examinadas as amostras e a solução
aquosa.
4
Resultados
-3.0
-4.0
-0.6
-0.5
-0.4
-0,3
-0.2
-0.1
0.0
0.1
Figura 4: Teste de Voltametria cíclica: haste “B” x haste de
referência 98% Cu.
6.0
5.0
As amostras retiradas da solução de Fe+3 apresentaram uma
nítida corrosão na superfície de cobre. A reação espontânea
entre os dois metais resultou numa corrosão do cobre (a
solução ficou rica em Cu+2).
Os resultados dos testes de Voltametria Cíclica
representados nas figuras 3, 4 e 5.
estão
4.0
3.0
2.0
1.0
0
-1.0
-2.0
-3.0
-4.0
-0.6
-0.5
-0.4
-0,3
-0.2
-0.1
0.0
0.1
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Figura 5: Teste de Voltametria cíclica: haste Intelli x haste de
referência 98% Cu.
Pode-se observar na Figura 3 que a curva da haste de
referência, com cobre 98% de pureza (ref.), mantém
estabilidade superficial entre –0,6 e 0,0 V. Além disso, não
sofre oxidação nem redução no intervalo de potencial
escolhido no experimento. Já a haste “A”, teve estabilidade
somente no trecho entre -0,46 e –0,41 V e ainda pode-se
verificar o pico de oxidação ao redor do ponto -0,12 V,
demonstrando que o revestimento não foi depositado de forma
uniforme sobre o aço, formando uma estrutura pouco
compactada para resistir a uma situação de corrosão. Na
Figura 4, verifica-se o comportamento da haste “B”. Tal haste
teve praticamente o mesmo voltamograma da haste “A”.
Aproximadamente no ponto -0,23 V houve o pico de oxidação
do cobre, também não apresentando uma região estável
comparada à haste referência, apresentando o mesmo
problema de corrosão da haste “A”. Na Figura 5, verifica-se que
o comportamento eletroquímico da haste Intelli, foi muito
semelhante ao obtido com a haste de referência. A haste da
marca Intelli demonstra a mesma região de estabilidade da
haste de referência.
5
Conclusões
Os gráficos mostram que houve oxidação do substrato através
da porosidade do revestimento de cobre para os fabricantes “A”
e “B”. Isso significa que o revestimento utilizado possui
uniformidade de camada não tão boa quanto à da Intelli.
Os resultados mostram que muitos fabricantes de hastes de
aterramento não atendem as exigências da NBR 13571/96.
Embora a norma não especifique exatamente o valor mínimo
aceitável dos “materiais de primeira qualidade”, nota-se que,
dos três fabricantes analisados, somente um deles possui
uniformidade de camada aceitável.
Para se ter uma avaliação mais segura sobre a pureza do cobre
seria necessário recorrer a outros testes. No entanto, dentro do
que foi obtido, nota-se a importância da verificação periódica
das condições de aterramento existentes em instalações
prediais, pois duas das três hastes comerciais testadas não
possuem uma qualidade confiável de material depositado. É
conveniente, portanto, também a previsão, na fase de projeto,
de pontos de acesso para a manutenção das hastes.
Conclui-se também que é necessário divulgar entre os usuários
a importância de um sistema de aterramento de qualidade.
Seria também conveniente que a norma brasileira
estabelecesse um critério mais claro sobre o que se considera
como "materiais de primeira qualidade", que permite
interpretações subjetivas.
6
Referências
[1] Cotrim, A.M.B., Instalações Elétricas. Prentice Hall, São Paulo,
2003. 4a edição.
[2] NBR 5410/04. Instalações Elétricas de Baixa Tensão. ABNT.
[3] Kindermann, G., Campagnolo, J.M., Aterramento elétrico. Edit.
Sagra D.C. Luzzatto, Porto Alegre, 1998, 4a edição.
[5] Ospina, F.C., Tierras, Soporte de la Seguridad Eléctrica.
Seguridad Eléctrica Ltda, Bogotá, 2003.
[6] Visacro Filho, S., Aterramentos Elétricos – Conceitos Básicos,
técnicas de Medição e Instrumentação, Filosofia de
Aterramento. Editora ArtLiber, São Paulo, 2002.
[7] NBR 13571/96, Haste de Aterramento Aço-Cobreada e
Acessórios. ABNT.
[8] Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia16/AG01/arvore/A
G01_98_10112005101957.html – acesso: 18/02/2009.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
[4] Howard, J., Ground Resistente, Testing & Ohm's Law (Parte I),
in http://www.lyncole.com
Análise da sustentabilidade do
biodiesel com uso da Análise de
Custos Completos
Analysis of the sustainability of biodiesel using
Analysis of Complete Costs
Artur S. Moret1, 2
Gean C. S. Sganderla2
Sinclair M. G. Guerra3
4
José M. C. Marta
1
Fundação Univ. Fed. de Rondônia - UNIR
[email protected]
2
Grupo de Pesq. Energ. Renov. Sustentável – GPERS UNIR
[email protected]
3
Universidade Federal do ABC
4
Universidade Federal de Mato Grosso
Abstract: This article aims at analysing sustainability in many
dimensions such as Environmental, Social and Economics.
Each dimension is defined and represented by four elements. In
the environmental dimension, atmospherics emissions, the
CDM application, the use of the ground and residual inputs are
analysed; in the social dimension, family agriculture, job
promotion and money, social organization and participation and
energy requirements are analysed; the economic dimension is
analysed through energy balance, costs avoidance, side
products and investments in the productive chain. Each
analysis element will be divided into five levels (2, 4, 6, 8 and
10), which will be related to the current situation of the analysis
element.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Keywords: Biodiesel, sustainability, complete assessment of
costs.
Resumo: Neste texto faz-se um recorte para analisar a
sustentabilidade, abordando-a como resultado da sinergia das
dimensões ambientais, sociais e econômicas. Cada dimensão
incorpora quatro elementos de análise que melhor as definem e
representam. Na dimensão ambiental analisam-se as
emissões atmosféricas, a aplicação de MDL, o uso do solo e
dos insumos residuais; na dimensão social mensuram-se a
agricultura familiar, a geração de emprego e renda, além da
participação e organização social e atendimento energético; na
dimensão econômica avaliam-se o balanço energético, os
custos evitados, o aproveitamento dos subprodutos e os
investimentos na cadeia produtiva. Da mesma forma, cada
elemento de análise será discriminado em cinco níveis (2, 4, 6,
8, 10) que serão relacionados com a situação atual do elemento
de análise.
Palavras chave: Biodiesel, sustentabilidade, avaliação de
custos completos.
1
Introdução
No senso comum o biodiesel é um combustível renovável e
sustentável. Sendo renovável, indica a presença de matériasprimas e insumos renováveis no seu processo de fabricação.
Isso decorre da possibilidade desses fatores de produção
serem gerados e reproduzidos por processo agrícola ou coleta,
quando se plantam e se colhem as matérias-primas e insumos.
Portanto, pode-se afirmar que se trata de combustível
renovável como referencial. Entretanto, a sustentabilidade
ocorre quando a capacidade de manter sua existência tem
volume capaz de suportar o consumo de maneira adequada.
Tratam-se, portanto, de conceitos diferentes. O conceito
renovável está relacionado com a regeneração da oferta
independente de estoques das matérias-primas e insumos de
sua fabricação. Já a sustentabilidade prescinde de conceitos
mais abrangentes, mesmo que renovável seja um deles.
A sustentabilidade não pode ser compreendida como o simples
acúmulo ou justaposição dos descritores que compõem cada
indicador. Reportam-se a um novo conceito abrangente que
incorpora avanços no que tange às concepções econômicas,
ambientais, ecológicas, sociais, técnicas, políticas, financeiras.
Ou seja, consiste em buscar a mudança de paradigma baseado
em três gerações de direitos humanos: político, civil e cívico;
direitos econômicos: sociais, culturais e trabalho digno; direitos
coletivos relativos ao meio ambiente e ao desenvolvimento [1].
Sob a perspectiva sustentável, a cadeia produtiva do biodiesel
permite que se avalie o produto a partir de critérios sociais,
ambientais e econômicos, e não apenas com base em análises
convencionais de custo-benefício, justificando-se, portanto, a
discussão de externalidades positivas e negativas na
avaliação.
Este texto aborda a análise da Sustentabilidade do Biodiesel,
como um combustível renovável, a partir da ferramenta Análise
de Custos Completos, que pode ser compreendida como:
“... um método pelo qual considerações ambientais
podem ser integradas nas decisões de um determinado
negócio. É uma ferramenta que incorpora custos
ambientais e custos internos, com dados de impactos
externos e custos-benefícios de atividades sobre o meio
ambiente e a saúde humana [2]. A ACC propõe considerar,
na avaliação e tomada de decisões de um determinado
empreendimento, todos os custos envolvidos na
realização do mesmo determinando assim a sua
viabilidade de aplicação. No contexto desta ferramenta os
impactos ambientais, econômicos e sociais ganham
importância igualitária na avaliação da sustentabilidade
[3]”.
A cadeia produtiva do biodiesel pode ser caracterizada pelas
etapas de produção: a) coleta ou plantio de oleaginosas ou
gorduras residuais como matéria-prima ou insumo produtivo; b)
extração química ou mecânica do óleo, separando-o da parte
residual; c) produção agroindustrial de álcool usado como
insumo na transesterificação; d) transesterificação ou
produção do biodiesel; e) logística das diversas etapas do
processo; f) distribuição e comercialização do biodiesel e dos
subprodutos e coprodutos nos mercados específicos [4] e [5].
Dessa maneira, as matérias-primas para a produção de
biodiesel são óleos vegetais, gordura animal, óleos e gorduras
residuais. O óleo vegetal, como se sabe, pode ser extraído de
A análise permite incorporar na discussão de sustentabilidade
e renovação a possibilidade de substituição do petróleo pelo
biodiesel. Ou seja, o óleo mineral finito, substituído pelo
biodiesel em volumes similares, considerando especialmente a
redução da petrodependência. Permite, ainda, atuar na
diversificação da matriz energética brasileira considerando as
externalidades positivas, com benefícios ambientais,
econômicos e sociais, cujos principais elementos são: a) a
implantação gradual e sem adaptações onerosas em toda a
frota movida a diesel através de políticas de energia; b) a
criação de novos mercados para as oleaginosas, possibilitando
a geração de novos empregos, principalmente na agricultura
familiar, agregando valor a esses produtos com a
transformação em biodiesel; c) perspectivas de redução da
emissão de poluentes, especialmente no meio urbano; d)
alternativa de comercialização de créditos de carbono através
de mecanismos de desenvolvimento limpo – MDL, relativos ao
Protocolo de Kyoto.
Some-se ainda o fato de que a base para a produção de
biodiesel está na agricultura para fins energéticos ou
agroenergia. Tal atividade está baseada em matérias-primas
diversas, com mercados não consolidados de energia,
podendo complementar-se, inclusive, na cadeia de produtos
historicamente consolidados. Portanto, a produção do
biodiesel trará impactos diversos na produção agrícola e
mercado agrícola, o que implica modificações em um sistema
de produção estabelecido.
2
Sustentabilidade como referência para um
desenvolvimento mais justo
A Comissão Brundtland, CMMAD [10], aborda a questão da
sustentabilidade social reafirmando uma idéia global das
necessidades humanas e agrega variáveis não econômicas
como saúde e educação. Isto significa que a solidez dos
sistemas de saúde e educação em uma sociedade pode tornar
os indivíduos mais produtivos. Dessa forma, o crescimento
econômico pode aumentar o desenvolvimento social. Nessa
visão, para haver desenvolvimento sustentável é preciso que o
sistema da sociedade atenda às necessidades essenciais de
todos.
Ao considerar a sustentabilidade como um conceito dinâmico,
SACHS [1] incorpora no eco-desenvolvimento um processo de
mudanças. Afirma que o conceito de Desenvolvimento
Sustentável apresenta cinco dimensões de sustentabilidade:
social, econômica, ecológica, geográfica e cultural. Ao
evidenciar as dimensões culturais e geográficas, SACHS [1]
reconhece as diferenças e particularidades que interferem na
sustentabilidade.
Considerando a multiplicidade de fatores necessários para
compor a sustentabilidade, diversos autores apresentam
temáticas variadas relativas ao mesmo conceito. Assim,
RUTHERFORD [7] referencia as econômicas, ambientais e
sociais. HARDI [9] considera as dimensões de bem-estar
relativo aos direitos humanos, econômicos e ecológicos;
dimensões de riqueza material e desenvolvimento econômico,
equidade e aspectos sociais, meio ambiente e natureza,
democracia e direitos humanos. Becker [8] registra que os
indicadores sociais devem traduzir aspectos de equidade,
intragerações em quantidades mensuráveis ou em termos
operacionais. O relatório da Comissão Brundtland, CMMAD
[10], destaca parâmetros para a sustentabilidade ambiental
dos elementos que mantém a integridade global do
ecossistema como a qualidade do ar, dos solos, das águas e
dos seres vivos. Recomenda também a criação de tecnologias
para reduzir a pressão sobre o meio ambiente. Para
CAVALCANTI [11], na perspectiva da sustentabilidade ambiental
ocorre um tipo de processo econômico que produz bens e
serviços, sempre levando em conta a simultaneidade dos
custos associados. Portanto, os custos considerados são
internos à atividade, ou seja, dizem respeito a sua
contabilidade interna. Os custos ditos privados, como aqueles
inerentes à destruição de uma paisagem bela ou da extinção de
uma espécie, constituem-se em externalidades que são
excluídas do cálculo econômico.
A Comissão de Desenvolvimento Sustentável da Organização
das Nações Unidas, originada da Comissão Brundtland,
destaca indicadores de sustentabilidade temáticos relativos a
fatores de impacto social como: a) Combate à pobreza; b)
Dinâmica demográfica e sustentabilidade; c) Promoção do
ensino, da conscientização e do treinamento; d) Proteção e
promoção das condições de saúde humana; e) Promoção do
desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos. Ao
tratar do tema ambiental amplia-se a capacidade de
recuperação do planeta através da utilização do potencial
encontrado nos diversos ecossistemas, ao mesmo tempo em
que se mantém o nível mínimo de deterioração dos mesmos
[1]. Nesse sentido, tal Comissão indica reduzir a utilização de
combustíveis fósseis com objetivo de diminuir a emissão de
substâncias poluentes, adotando políticas de conservação de
energia e de recursos. Da mesma maneira, substituir recursos
não renováveis por renováveis e ampliar a eficiência em
relação aos recursos utilizados. Propõe, ainda, outros
indicadores de sustentabilidade ambiental utilizando os
princípios temáticos: a) Combate ao desflorestamento; b)
Conservação da diversidade biológica; c) Manejo
ambientalmente saudável da biotecnologia; d) Proteção da
atmosfera; e) Manejo ambientalmente saudável dos resíduos
sólidos e questões relacionadas com esgotos; f) Manejo
ecologicamente saudável das substâncias químicas; g) Manejo
ambientalmente saudável dos resíduos perigosos; h) Manejo
seguro e ambientalmente saudável dos resíduos radioativos; i)
Proteção da qualidade e do abastecimento dos recursos
hídricos; j) Proteção dos oceanos e de todas as classes de mar
e áreas costeiras; l) Abordagem integrada do planejamento e
do gerenciamento dos recursos da Terra; m) Gerenciamento de
ecossistemas frágeis: combatendo a desertificação e a seca; n)
Gerenciamento de ecossistemas frágeis: desenvolvimento
sustentável de montanhas; o) Promoção do desenvolvimento
rural e agrícola sustentável.
Para Rutherford [7], os economistas se aproximam das
questões relativas à sociedade e ao meio ambiente pela
discussão dos conceitos de sustentabilidade forte e fraca.
Nessa classificação, o conceito de sustentabilidade forte
admite que todos os níveis de recursos devem ser mantidos,
enquanto no conceito de sustentabilidade fraca admite-se a
troca entre os diferentes tipos de capitais, na medida em que se
mantenha o seu estoque [12].
O uso de indicadores para avaliar a sustentabilidade ocorre
desde a Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente – Rio 92,
conforme registra o documento final: a Agenda 21. O capítulo
40 enuncia que “(...) os indicadores comumente utilizados (para
Desenvolvimento e Crescimento), como o Produto Nacional
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
plantas oleaginosas de onde se extraem: bagas de mamona,
polpa de dendê, amêndoas do coco de babaçu, sementes de
girassol, caroço de algodão, grãos de amendoim, sementes
de canola, polpa de abacate, grãos de soja, nabo forrageiro e
muitas outras partes de vegetais, em forma de sementes,
amêndoas ou polpas [6] havendo, ainda, as matérias-primas de
origem residual como: óleos de fritura usado, sebo animal,
escumas de esgoto sanitário e ácidos graxos residuais do setor
industrial [5].
Bruto (PNB) ou as medições das correntes individuais de
contaminação ou de recursos, não dão indicações precisas de
sustentabilidade”.
adaptando a tradicional análise do PIB como fator de bemestar. O público-alvo deste indicador são os agentes ao nível
social, ambiental e econômico [17].
Considerou-se, a partir de então, que os métodos de avaliação
da interação entre os diversos parâmetros setoriais do meio
ambiente e o desenvolvimento são imperfeitos ou se aplicam
com deficiência. Portanto, é preciso elaborar indicadores de
esenvolvimento sustentável que utilizem base sólida para
adotar as decisões de todos os níveis que contribuíam para a
sustentabilidade auto-regulada dos sistemas integrados do
meio ambiente e do desenvolvimento [13].
O Índice de Intensidade Material por Serviço Prestado (MIPS)
tem como pressuposto a existência de uma relação direta entre
o uso de recursos e o impacto ambiental causado. Nesse índice
a noção de equidade global é incorporada em termos da
distribuição de recursos necessária para se alcançarem
condições materiais satisfatórias de desenvolvimento em
países pobres [17].
Após minucioso estudo sobre os indicadores, HARDI [9] e
RIBEIRO [14] os classificaram como necessários para o
processo de tomada de decisões, pois contribuem para o
entendimento do que significa Desenvolvimento Sustentável
em termos operacionais. Nesse sentido, descritores, medidas
e indicadores passaram a ser instrumentos exploratórios,
traduzindo o conceito de Desenvolvimento Sustentável em
termos práticos. Tais instrumentos de planejamento criaram
vínculos entre as atividades de hoje e as alternativas futuras.
Procurando verificar os estágios dos esforços rumo aos
objetivos e metas de desenvolvimento sustentável, os
instrumentos utilizados foram praticamente os mesmos
adotados para avaliações de desempenho.
Para MITCHELL [15], um indicador é uma ferramenta que
permite a obtenção de informações sobre uma dada realidade.
De acordo com SIENA [16], entende-se indicador como um
instrumento que permite a avaliação de um sistema e que
determina o nível ou a condição em que esse sistema deve ser
mantido para que seja sustentável. Para esses autores os
indicadores podem ser utilizados para operacionalizar
conceitos e definir padrões de sustentabilidade.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Atento às medidas e especificidades locais e globais dos
indicadores, RIBEIRO [14] trata de aspectos dessa temática
considerando: 1) a mensuração da sustentabilidade do
desenvolvimento, a ser claramente definida, especificando o
propósito para o qual foram construídos, ou seja, identificar o
fenômeno que se deseja medir e avaliar; 2) a especificação e
definição de desenvolvimento sustentável em cada etapa da
análise. Portanto, fazer a mensuração e depois comparar a um
valor de referência, é um compromisso inter e intragerações e
3) Os indicadores devem tratar a questão local sem ignorar o
aspecto global.
Os indicadores estão divididos em três grupos de
sustentabilidade, a saber: 1º) resposta social, indicando as
atividades a se realizarem no interior da sociedade - o uso de
minérios, a produção de substâncias tóxicas, a reciclagem de
material; 2º) pressão ambiental, indicando as atividades
humanas que influenciam diretamente o estado do meio
ambiente, considerando os níveis de emissão de substâncias
tóxicas; e 3º) qualidade ambiental, indica o estado do meio
ambiente, na qual se examina, por exemplo a concentração de
metais pesados no solo, os níveis pH nos lagos. Atualmente a
maioria dos indicadores de sustentabilidade, desenvolvidos e
utilizados atualmente pertencem ao grupo dos indicadores de
pressão ambiental ou de qualidade ambiental.
O Índice de Bem-estar Econômico Sustentável ajusta a medida
do consumo em função de fatores sociais e ambientais. Este
índice contempla os fatores econômicos, sociais e ambientais
para ajustar o PIB (Produto Interno Bruto) ao conceito de
desenvolvimento, como por exemplo, desigualdades na
distribuição de rendimentos ou custos decorrentes dos
impactos ambientais diversos. O objetivo deste indicador é
avaliar o estado do bem-estar humano, levando em
consideração fatores econômicos, sociais e ambientais,
O indicador Currículo de Desenvolvimento Sustentável parte
de uma avaliação sistêmica que visa maximizar o
gerenciamento de recursos em sua totalidade, incluindo-se
capital humano e social, ambiental e financeiro. Dando
atenção à conversão de recursos físicos em sistemas sociais,
otimização dos processos de conversão e distribuição dos
recursos na sociedade, conhecem-se os princípios
socioecológicos [17].
Criado para avaliar o desenvolvimento sustentável, o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) inclui indicadores, além do
estoque monetário como no PIB e PIB “per capita”, como a
escolarização e a expectativa de vida. Para o calculo do IDH
esses três componentes recebem o mesmo peso pela
premissa de que são igualmente importantes para o
desenvolvimento humano. Para o cálculo do IDH, um valor
mínimo e um máximo são fixados para o desempenho de cada
indicador.
O Índice de Exclusão Social (IESO), apresentado por
__
por meio do cruzamento
de diferentes indicadores relacionados ao padrão de vida
(pobreza, emprego, renda, educação, juventude, e homicídios)
__
os seguintes aspectos: 1) grau de pobreza dos chefes de
família; emprego e renda; 2) taxa de emprego formal e renda; 3)
desigualdade de renda; educação; 4) taxa de alfabetização da
população acima de cinco anos e 5) média de escolaridade dos
chefes de família; Juventude; 6) porcentagem de jovens na
população e Homicídios; 7) número de homicídios por 100 mil
habitantes, os autores conceberam o índice de exclusão social.
A escala deste índice vai de zero (0) a um (1) sendo que as
piores condições estão próximas de zero e as melhores
condições estão próximas de um.
POCHMANN et al [18], procura avaliar
O Índice Gini, que inicialmente procurava a concentração de
fatores como a terra, atualmente representa o grau de
concentração de renda e mede o grau de desigualdade
existente na distribuição de indivíduos conforme a renda
domiciliar per capita. O Coeficiente de Gini é uma medida de
desigualdade desenvolvida pelo estatístico Italiano Corrado
Gini em 1912. É utilizada para calcular a desigualdade na
distribuição da renda, mas pode ser utilizada para qualquer
distribuição. O índice consiste em um número entre 0 e 1, onde
0 corresponde à igualdade de renda e 1 corresponde à
completa desigualdade na distribuição da renda. O índice de
Gini é o coeficiente expresso em pontos percentuais (é igual ao
coeficiente multiplicado por 100).
Os Índices de Sustentabilidade da Cepal foram criados por
organismos da Organização das Nações Unidas – ONU. Com
eles se introduzem o “Estudo Sostenibilidad Energética en la
América y el Caribe” avaliando-se o aporte de fontes de energia
renováveis. Os estudos partem da idéia de que pode haver
sustentabilidade e renovação para as fontes de produção de
combustíveis e eletricidade. Assim, atendem-se às múltiplas
inter-relações dos sistemas energéticos, em diferentes
dimensões do processo de desenvolvimento, que podem ser
identificadas como um conjunto de índices relacionados com a
estrutura e as variáveis desses sistemas. Esse relacionamento
Sob tal perspectiva, temos osíndices que se seguem: 1 - Índice
de renovabilidade (IR) - é a relação entre a oferta total do
conjunto das energias renováveis e a Oferta Total de Energia
Primária (OTEP); 2 - Índice de renovabilidade “per capita” (IRC)
- é a relação entre a oferta de energia primária de todas as
fontes renováveis e a população de um país; 3 - Índice de
sustentabilidade residencial (ISR) - é a relação entre o
consumo de lenha e o consumo de derivados de petróleo ou
hidrocarbonetos secundários (querosene, gás liquefeito de
petróleo) do setor residencial; 4 - Índice de dependência
hidroenergética na oferta total renovável (IDH) - é a relação
entre a oferta de hidroenergia e a oferta de energia primária
composta pelas energias renováveis; 5 - Índice de
dependência dendroenergética na oferta total renováveis (IDD)
- é a relação entre a oferta total de lenha com a oferta de energia
primária renovável total; 6 - Índice de Consumo Contaminante
(ICC) - mede a relação entre as emissões totais de CO2 (em
milhões de toneladas) emitidas para a atmosfera e o consumo
final total de um país ou local (em milhões de Barris
Equivalentes de Petróleo – kBEP); 7 - Índice de geração de
eletricidade contaminante (IGC) - se refere a relação entre a
quantidade de CO2 emitida no processo de geração total de
eletricidade; 8 - Índice de Dominância do petróleo (IDP) - este
índice é medido como a relação entre a oferta de energia
primária de petróleo e a oferta total de energias renováveis,
este índice mostra a importância que o petróleo tem dentro da
oferta total de energia, em contraste com a disponibilidade e
uso de energias renováveis.
Por fim, indicadores utilizados por BERMANN [20] consideram
as relações formadoras dos índices de sustentabilidade da
energia sendo indicados como relações de sustentabilidade
na perspectiva de energia e equidade, sintetizadas em cinco
relações: 1) Participação da dendroenergia como fonte
energética para cocção, tomando como discussão os
problemas de saúde associados à utilização de lenha, as
questões de gênero associadas à coleta de lenha, que
geralmente cabe as crianças e mulheres; 2) Taxa de
eletrificação dos domicílios que indica e organiza dados sobre a
forma pela qual domicílios urbanos e rurais encontram
satisfação às suas necessidades de energia elétrica conforme
os tipos de uso final; 3) Posse de equipamentos
eletrodomésticos básicos, considera a aquisição e posse de
bens duráveis básicos, necessários para assegurar um padrão
mínimo de qualidade de vida a partir da disponibilidade de
eletricidade nos domicílios; 4) Taxa de carência energética
buscando a definição de uma cesta básica energética. A
dimensão de carência energética representa um desafio no
sentido de assegurar bases eqüitativas de acesso e satisfação
das necessidades energéticas e 5) Gastos energéticos em
função da renda familiar relaciona ao nível de
comprometimento da renda com gastos na satisfação das
necessidades energéticas.
3
ambientais no processo de tomada de decisão [23].
Por meio da avaliação dos custos completos na produção de
energia elétrica com óleo Diesel [3] é possível analisar as
questões, ambiental, técnico-econômica, política e social. O
resultado global da avaliação mostra que o biodiesel apresenta
vantagens ambientais e sociais. Concluiu-se, pois, que o
desenvolvimento de programas e leis, favorecendo a difusão
do biodiesel, pode ampliar sua viabilidade econômica e
aumentar suas aplicações. Em estudo de caso para dados
obtidos com recursos energéticos da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no estado do
Amazonas [24], foram avaliados e classificados por ordem de
custo completo os seguintes recursos: energia solar, eólica,
biodiesel, biomassa, motor diesel, gás natural, motor GN,
microturbina GN. Assim, através da ACC, podem ser
identificados e tratados algumas variáveis necessárias ao
processo de decisão, e se presta à aplicação de metodologias
com vistas ao desenvolvimento sustentável, por propiciar o
tratamento de elementos que tradicionalmente não tomam
parte nos planejamentos [24].
Ao desenvolverem a ACC para realização de inventário das
tecnologias e recursos disponíveis na região Administrativa de
Araçatuba-SP, Céo e Nyimi [25] observam os elementos
componentes dessa técnica, classificando-os em caráter
indicativo e informativo com vista ao desenvolvimento
sustentável. Para esses autores, a ACC permite estabelecer
multicritérios para os quais foram utilizados as perspectivas
técnico-econômica, ambiental, social e política. Os recursos
avaliados no inventário foram: energia solar; energia hidráulica;
energia eólica; biomassa; petróleo e derivados; carvão mineral;
gás natural; energia nuclear. Os autores concluíram que, se
avaliados os custos considerados, o potencial de
sustentabilidade é maior para a alternativa energia solar.
Quadro 1: Externalidades positivas e negativas associadas ao
biodiesel.
Categorias
Sociais
Ambientais
Avaliação de Custos Completos - ACC
A Avaliação de Custos Completos - ACC é um método
desenvolvido para contabilizar os custos provenientes de
impactos ambientais de um empreendimento [21] e [22] que
permite analisar a viabilidade do projeto. Posteriormente,
passou a avaliar os custos completos e a serem utilizados para
custos de fatores inerentes ao empreendimento incluindo os
sociais e políticos. Trata-se, pois, de abordagem sistêmica para
identificação e caracterização de custos, como ferramenta de
busca para explicitar e avaliar custos internos, externos e de
impactos sócio-ambientais sobre o meio ambiente e na saúde
humana. Ou seja, um meio de integração de considerações
Econômicas
Externalidades
Positivas
Negativas
- Geração de empregos;
- Concentração de
- Renda adic ional para
renda;
produtores ;
- Concentração de
- Viabiliza o auto-atendimento de áreas produtivas de
combus tível para pequenos
matéria-prima;
produtores (microeconomia);
- Concentração de
- Diminuição da
tecnologias .
petrodependência
(macroeconomia);
- Seqüestro de carbono da
atmosfera.
- Efeito positivo sobre o ciclo do - Aumento das
carbono;
emissões de NOx;
- Diminuição na emis são de GEE; - Utilização de
- Reduç ão signific ativa das
monoculturas.
emissões de compostos de
enxofre comparado ao diesel;
- Reduç ão das emissões de
hidrocarbonetos aromáticos
(cancerígeno) em 75%;
- No balanço geral diminui o
smog potencial;
- Biodegradabilidade alta.
- Balanço de pagamentos;
- Alto custo
- Economia de divisas com
geração;
importações;
- Dependência de
- Diversificação da matriz
matéria-prima;
energética.
- Produção de
- Desenvolvimento de novos
alimentos
mercados para oleaginosas.
(suplementar)
Fonte: Sganderla, 2008 [26].
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
corresponde aos aspectos vinculados com as mencionadas
dimensões de sustentabilidade [19].
Muitos aspectos devem ser observados na produção e no
uso do biodiesel para se compreender as interferências e
gargalos da cadeia produtiva, quais sejam: 1) Produção de
insumos, dentre os quais estão os ácidos graxos,
catalisadores e álcool; 2) Aproveitamento econômico dos
coprodutos e subprodutos (glicerina, torta e farelos, óleos
residuais nobres); 3) Tecnologias de transformação dos
insumos; 4) Agregação de valor aos subprodutos; 5)
Tratamento e destinação dos resíduos no processo de
transformação; 6) Externalidades ambientais; e 7)
Interferências positivas na geração de emprego e renda em
cada elo da cadeia produtiva. A produção e utilização de
biodiesel para geração de energia insere-se num contexto de
descentralização do desenvolvimento, de ocupação
estratégica do território, de valorização dos recursos
disponíveis no espaço, de incentivo à iniciativas locais, de
abertura de novas perspectivas econômicas para o
desenvolvimento sustentável, de promoção social, de
redução de dependências externas, de democratização e de
preservação.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Quadro 2: Aspectos considerados na análise de sustentabilidade
produção de biodiesel.
Rotas e escolhas Análise de sustentabilidade
Rota metílica
- Diminuição do caráter renovável do
biocombustível gera petrodependência e
riscos ambientais e de saúde na
produção.
Rota etílica
- Renovabilidade do biocombustível.
Produção em
- Concentração de renda; - Concentração
grande escala
da produção de insumos;
- equidade.
Desenvolvimento - A grande escala promove concentração
tecnológico
da produção de biodiesel, concentração
baseado em
de renda, problemas com a agricultura
equipamentos de familiar (logística), custos com o
grande escala
transporte de matéria-prima.
- A produção em pequena escala
promove geração de empregos, renda,
ocupação e oportunidades.
Culturas agrícolas - A monocultura prejudica a
de grandes
biodiversidade, intensifica problemas de
dimensões
uso do solo e promove desmatamento
indesejado;
Produção a partir - Subprodutos da extração de óleo de
de soja e de
mamona com baixo Aproveitamento
mamona
(toxicidade);
- Utilização da soja como insumo para
óleos promove a concentração de terras
(600 kg de óleo por ha), e diminuição do
emprego e renda (mecanização); Commodities, regulação pelo mercado.
Processo com
- Concentração de renda; Diminuição da
baixa participação equidade e de oportunidades;
da agricultura
- Pouco impacto na qualidade de vida;
familiar
- Baixa participação e captação de
benefícios pela agricultura familiar.
Uso de óleos
- Quando se utiliza matéria-prima de
vegetais que tem produtos em com preço submetido às
na cadeia
forças de mercado, e importações de
commodities
derivados de petróleo. Ex: dendê e soja.
Não
- A produção de etanol no Brasil é
aproveitamento
concentrada em algumas regiões, a
das
utilização de outros insumos (mandioca,
características
milho, etc.) promove diversificação, e uso
locais para a
das propriedades e trabalhadores da
produção de
agricultura familiar.
insumos
- Concentração de áreas pode gerar
extensas áreas de monocultura, a
despeito da diversidade de oleaginosas
nas varias regiões.
O quadro 1 trata das externalidades associadas ao biodiesel.
Nessa perspectiva consideram-se as categorias sociais,
ambientais, econômicas e as suas externalidades positivas e
negativas. Esses descritores permitem, considerando as
externalidades construir números índices capazes de indicar
prioridades ou outras decisões.
O quadro 2 propõe alguns aspectos para a análise da
sustentabilidade do biodiesel. Ao expor as diversas rotas
tecnológicas, permite indicar descritores de sustentabilidade
através da análise. Com isso, a cadeia de produção passa a
evidenciar os produtos, subprodutos e co-produtos na cadeia
do biodiesel.
4
Materiais e métodos
As etapas que se seguem propõem a ACC: 1) estudo de
possíveis impactos de cada alternativa, 2) montagem das
matrizes de avaliação, 3) definição dos pesos do Fator de
Influência (FIR), 4) dimensionar a Valoração Relativa (VR)
através de questionário fechado, 5) aplicação da matriz de
avaliação e 6) discussão dos resultados globais e percentuais
[26]. Esses passos da avaliação para a implantação são:
i - fazer avaliação preliminar ou triagem inicial dos
elementos a serem estudadas;
ii - definição dos elementos de analise a partir da revisão
bibliográfica; os elementos de análise se constituem na
discriminação em temas que representem, no conjunto, a
dimensão de análise, que pode ser representada por:
dimensão ji- j representa a dimensão de análise; i
representa o elemento de análise- dimensão 1 (elemento
11, elemento 12, elemento 13, ... elemento 1n), dimensão 2
(elemento 21, elemento 22, elemento 23, ... elemento 2n),
dimensão 1 (elemento 31, elemento 32, elemento 33, ...
elemento 3n);
iii - o FIR representa atribuir um fator de influência relativa
(FIR) do elemento de análise, com pesos variando de 1
(baixa influência) a 4 (influência determinante). A primeira
etapa vai medir a importância do FIR na tomada de decisão
para cada elemento de análise;
iv - para cada elemento é atribuída um nível de VR, com
uma pontuação associada, variando de 2 (ruim) a 10 (bom).
Essa valoração é um valor atribuído na elaboração dos
critérios, que localiza o objeto de estudo dentro de um rol de
situações classificadas em cada elemento de análise [26]; o
VR será determinado a partir de pesquisa realizada com os
atores e esse valor será o mais relevante estatisticamente,
elaborado com ferramenta estatística adequada;
v - a partir dos níveis de valoração relativa descrevem-se e
classifica-se o desempenho de cada elemento
considerado. A valoração final de cada elemento ou item é
obtido multiplicando-se a classificação de valoração
relativa (VR) pelo fator de influência (FIR) atribuído ao
elemento de análise (Equação 1). Nas matrizes de
avaliação serão ordenados os elementos de análise
associados a cada dimensão, o peso de cada área
(dimensão) é obtido a partir da somatória dos itens
referentes à mesma. As combinações que tiverem maior
pontuação (peso) são consideradas mais vantajosas ou
viáveis do ponto de vista das áreas ou dimensões
abordadas;
i
valorj =
FIRi *VRi
å
(1)
i=
1
onde j representa a dimensão de análise; i representa o
elemento de análise; VR representa a valoração relativa e FIR
representa o fator de influência;
Valor ponderadoj =
valorj *100
PM
(2)
onde j representa a dimensão de análise; PM representa a
pontuação máxima da dimensão; Valor representa a
pontuação encontrada na dimensão j e o valor ponderado
representa o total ponderado ou calculado em percentagem na
dimensão j.
5
Resultados
Os resultados em seus diversos aspectos são discutidos a
seguir.
5.1
Pressupostos de sustentabilidade
Os pressupostos são questões balizadoras e definidores para
a aplicação da metodologia, ou seja, que vão dar os indícios
para a determinação do FIR e do VR.
?
A sustentabilidade da cadeia produtiva do biodiesel
requer a inclusão da agricultura familiar na produção
de insumos ou matéria-prima;
?
A produção de biodiesel deve ter um balanço
energético substancialmente positivo, ou seja, o
output energético precisa ser pelo menos duas vezes
maior que o input, desta forma o biocombustível terá
maior sustentabilidade;
?
A produção de matéria-prima para produção de
biodiesel não deve concorrer por áreas produtivas
com a produção de alimentos, garantindo segurança
alimentar;
?
A produção e uso dos biocombustíveis pressupõem a
diminuição na emissão de gases poluentes e gases de
efeito estufa, minimizando os efeitos deletérios
desses gases, melhorando a qualidade do ar e
potencializando a obtenção de créditos de carbono
através de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo MDL.
?
A sustentabilidade do biodiesel pressupõe a
diminuição na concentração de renda e de
oportunidades entre regiões produtivas,
potencializando o desenvolvimento regional.
?
A sustentabilidade do biodiesel deve prescindir o
aumento das áreas de monocultura, abrindo portas
para a produção descentralizada da matéria-prima e
utilização de espécies oleaginosas perenes nativas,
aproveitando as características edafoclimáticas de
cada região.
?
A sustentabilidade da cadeia produtiva do biodiesel
pressupõe a diminuição da petrodependência,
portanto é necessário priorizar insumos renováveis.
Ex: utilização de etanol em detrimento do metanol de
origem fóssil.
?
Para a sustentabilidade da cadeia produtiva do
biodiesel, a produção de matéria-prima para produção
de biodiesel não deve aumentar as áreas de
desmatamento.
?
A sustentabilidade como uma construção social,
ambiental e econômica da cadeia produtiva do
biodiesel pressupõe a geração de empregos e renda
distribuída.
?
A utilização dos co-produtos e subprodutos diversos
gerados na produção de biodiesel garante a
sustentabilidade da cadeia produtiva do biodiesel,
gerando oportunidades econômicas, diminuindo os
gargalos da formação de resíduos e desenvolvendo
atividades econômicas paralelas.
?
O acesso à energia nas suas diversas finalidades ou
usos finais potencializa a melhoria na qualidade de
vida, portanto a produção de biodiesel deverá
melhorar o acesso à energia nas áreas de produção
de oleaginosas.
5.2 Elementos de análise
As discriminações dos elementos de análises são
apresentadas a seguir e aquele escolhido para definir o VR
estará sublinhado no texto.
Emissões atmosféricas - Abordado na dimensão ambiental,
este elemento agrega critérios referentes às emissões
evitadas; Tipologia das emissões e impactos na emissão de
poluentes associados à produção, e queima do biodiesel. 2Aumento no nível de emissões, 4- Manutenção dos níveis de
emissão, 6- Nível regular de emissões atmosféricas, 8Diminuição dos GEE, gases poluentes e compostos de enxofre
e 10- Não poluente.
Potencial para MDL – Elemento avaliado na dimensão
ambiental agrega os critérios para aplicação dos elementos da
cadeia produtiva do biodiesel, em mecanismos de
desenvolvimento limpo – MDL, evidenciando fatores que
interferem para a aplicação. 2- Impossibilidade de participação,
4- Não aplicação de MDL, 6- Ausência de projetos nos MDLs, 8Adequação de projetos para participação nos MDLs e 10Aplicação do MDL na cadeia produtiva do biodiesel.
Uso do solo – Este elemento de análise evidencia as atividades
produtivas, impactos ambientais associados ao uso do solo na
produção de matéria-prima oleaginosa e demais insumos, da
cadeia produtiva do biodiesel. 2- Desmatamento de novas
áreas para cultivo de oleaginosas, 4- Monocultura de
oleaginosas anuais e cultura intensiva, 6- não existe, 8Extrativismo e aproveitamento das particularidades regionais
no cultivo das oleaginosas e 10- Recuperação de áreas
degradadas com oleaginosas e proteção dos biomas
brasileiros.
Uso de insumos residuais – Utilizado para evidenciar o perfil de
utilização de insumos residuais, o grau de aproveitamento e
diversificação no uso de matérias-primas para produção de
biodiesel. 2- Não utilização dos insumos residuais na cadeia do
biodiesel, 4- não existe, 6- Pouca utilização de insumos
residuais na cadeia do biodiesel, 8- Política de incentivo à
utilização dos insumos residuais na cadeia produtiva do
biodiesel e 10- Uso integral dos insumos residuais.
Agricultura familiar – Este elemento de análise, situado na
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
vi - Após a valoração de cada item, e comparação dos
valores obtidos em cada dimensão avaliada com a
obtenção de conclusões específicas, é necessário avaliar o
panorama global dos elementos de análise. Não é possível
somar pontuações em áreas diferentes, sendo necessária
uma ponderação, para que as três dimensões sejam
consideradas em grau igualitário de importância. O total
ponderado (Equação 2) é calculado a partir da divisão entre
o valor obtido e o valor máximo possível de ser obtido em
cada dimensão, que equivale a 100%, através de regra de
três simples.
dimensão social, expõe os critérios para participação da
agricultura familiar nas diversas atividades da cadeia produtiva
do biodiesel, relacionando com a participação do agronegócio
e políticas do selo combustível social. 2- Centralização da
produção no agronegócio, 4- não existe, 6- Participação
mínima para aquisição do selo combustível social, 8Participação combinada do agronegócio e agricultura familiar e
10- Cadeia produtiva descentralizada, participação mínima de
6% da agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel.
Geração de emprego e renda – Este elemento da dimensão
social relaciona a geração de emprego e participação na renda
no campo com a demanda por biodiesel. 2- Baixa produção de
emprego e renda, 4- Geração de emprego e renda baixa e
concentrada em regiões ou setores, 6- Geração de emprego e
renda proporcional ao mínimo para aquisição do selo
combustível social, 8- Geração de emprego e renda
proporcional ao crescimento da demanda por biodiesel e 10Geração de empregos alta e renda distribuída.
Participação e organização social – Este elemento da
dimensão social demonstra a participação e organização social
das comunidades e organizações diretamente envolvidas no
processo produtivo, evidenciando a influencia das políticas
públicas neste processo. 2- Produtores rurais desorganizados.
4- Dificuldades no acesso á informações e capacitação para
organização social. 6- Organização social limitada pela
dificuldade de acesso á linhas de crédito. 8- Estímulo ao
crescimento gradual das associações e cooperativas na cadeia
produtiva do biodiesel e 10- Implementação de política pública
para organização social dos produtores nos diversos setores
da cadeia produtiva do biodiesel.
Atendimento energético – Este elemento da dimensão social
identifica a relação da cadeia do biodiesel, ou produção de
insumos e matérias-primas ao acesso ou atendimento
energético. 2- Produção de matéria-prima concentrada em
locais com atendimento energético, 4- não existe, 6Atendimento energético mínimo para as áreas de
beneficiamento, 8- Atendimento energético descentralizado e
10- Atendimento energético crescente.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Balanço energético – Avaliado na dimensão econômica, este
elemento de análise relaciona a energia fóssil utilizada por
unidade de energia renovável produzida. O balanço energético
já é utilizado em diversas avaliações de viabilidade técnica de
combustíveis. 2- Balanço energético menor que 1, 4- Balanço
energético igual a 1, 6- Balanço energético entre 1 e 2,9, 8Balanço energético > 2,9 e < 4 e 10- Balanço energético maior
que 4.
junto ao setor de transformação, 6- não existe, 8Aproveitamento dos subprodutos pelos atores da cadeia
produtiva do biodiesel de forma descentralizada e 10Subprodutos usados produtivamente.
Investimentos na cadeia produtiva – Identificado na dimensão
econômica, este elemento mostra as linhas e condições do
financiamento distribuído na cadeia produtiva do biodiesel,
para os setores de transformação, subprodutos e formatação
destes investimentos com as políticas para o setor. 2- Falta de
investimentos na cadeia produtiva, 4- Investimentos focados
no setor de transformação, 6- não existe, 8- Linhas de
financiamento para produção de oleaginosas e setor de
transformação e 10- Oportunidade de acesso a investimentos,
financiamento e custeio em toda a cadeia produtiva do
biodiesel.
5.3 Discussões da sustentabilidade – exercícios para
alterar a sustentabilidade positivamente.
Na dimensão social os elementos geração de emprego e renda
(pontuação ACC=16), poderiam passar de geração de
emprego e renda concentrada em regiões ou setores
(valoração relativa 04 - insatisfatório) para a condição geração
de emprego e renda proporcional ao mínimo para aquisição do
selo combustível social (valoração relativa 06 –
indiferente/regular). Essa modificação depende de
descentralização na produção, priorizando o uso de mão-deobra. Da mesma forma o elemento Atendimento energético
(pontuação ACC=06), que através da implementação de
atendimento energético descentralizado pode elevar a
condição de produção de matéria-prima concentrada em locais
com atendimento energético (valoração relativa 02 - ruim) para
atendimento energético mínimo para áreas de beneficiamento
(valoração relativa – 06 indiferente/regular). Essas
modificações poderiam elevar a sustentabilidade da dimensão
social de 43,75% para 56,25%.
Na dimensão econômica dos elementos avaliados o
aproveitamento econômico dos subprodutos (pontuação
ACC=16), indica que a receita gerada pelos subprodutos da
cadeia produtiva do biodiesel, não está sendo distribuída nos
setores de produção de matéria-prima e transformação. Uma
política de estruturação e descentralização da produção
poderia elevar a condição de Geração e aproveitamento
econômico dos subprodutos concentrada junto ao setor de
transformação (valoração relativa – 04 insatisfatório) para
Subprodutos usados produtivamente (valoração relativa – 10
bom). Essas modificações poderiam elevar a sustentabilidade
da dimensão econômica de 75% para 90%.
Custos evitados – Avaliado na dimensão econômica, este
elemento de análise identifica a situação dos custos evitados
com importação e externalidades ambientais positivas da
utilização de combustíveis renováveis, e seus impactos na
emissão de poluentes. 2- Aumento gradual de custos com
importação de diesel e petróleo, 4- não existe, 6- não existe , 8Economia de divisas com importação de combustível e 10Economia gradual de divisas com combustível e custos
ambientais evitados.
O exercício mostra que o esforço direcionado para atender as
modificações propostas, através de políticas ou incentivos na
cadeia produtiva, resultaria na melhoria dos fatores que
agregam sustentabilidade à cadeia produtiva do biodiesel.
Com relação ao uso do solo, é necessário estimular a utilização
de matérias-primas diversas, adaptadas às regiões brasileiras,
minimizando os impactos sociais, econômicos e ambientais da
monocultura. No uso de insumos residuais, é necessário incluir
esses insumos no modelo tributário para oleaginosas, e
internalizar os benefícios da reciclagem desses insumos para o
sistema.
Potencial econômicos dos subprodutos – Avaliado na
dimensão econômica, este elemento mostra o perfil de
utilização econômica dos subprodutos da produção de
biodiesel, evidenciando o uso produtivo destes subprodutos na
geração de renda, e viabilização da cadeia produtiva. 2Produção e uso focado no produto final (biodiesel), 4- Geração
e aproveitamento econômico dos subprodutos concentrada
Quanto à geração de emprego e renda e atendimento
energético, são fatores diferentes com soluções relacionadas,
pois a melhoria no atendimento energético abre portas para a
participação nos setores da cadeia produtiva, através da
estruturação promovida pelo acesso à energia nas suas
variadas formas. No aproveitamento econômico dos
A figura 1 apresenta o gráfico dos resultados para cada
dimensão no conjunto. Dimensão Ambiental 48,8%; Dimensão
Social 43,8% e Dimensão Econômica 75%.
Resultados - Dimen sões Ambiental, social e
econômica
Dim ensão am biental
8 0%
6 0%
4 0%
48,75%
2 0%
0%
43,75%
75%
Dimensão
econômica
Dim ensão social
Figura 1: Resultado ACC para as Dimensões ambiental, social e
econômica.
6
Considerações finais
Os principais benefícios almejados pelo Programa Nacional de
Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), levam a um cenário de
não sustentabilidade. A seguir apresentam-se pontos que
balizam essa afirmação: problemas no uso do solo como:
monocultura, desmatamentos, perdas biológicas, uso
intensivo de fertilizantes e defensivos agrícolas; domínio da
cadeia pelo agronegócio; centralização em matérias-primas
dominantes; pouca utilização de insumos residuais e matériasprimas diversificadas; baixa participação da agricultura
familiar; baixa geração de emprego e renda descentralizados;
e baixa participação e organização social. Também contribui
para diminuir o sucesso do programa na busca pela
diversificação da matriz energética, na redução de emissão de
gases de efeito estufa, na otimização e descentralização de
investimentos, e na promoção do desenvolvimento social
através da geração de emprego e renda no campo.
A curva de aprendizado que prevê a diminuição dos custos do
biodiesel em função do acúmulo de experiências no setor
deverá refletir os custos associados à internalização das
externalidades sociais e ambientais, bem como dos custos
externos que não são contabilizadas nesta curva, mas que
carregam indicadores para o entendimento da
sustentabilidade ou não sustentabilidade da cadeia produtiva
do biodiesel no conjunto de aspectos sociais, ambientais e
econômicos.
O desenvolvimento de um programa energético com biodiesel
abre oportunidades para benefícios econômicos e sociais.
Como exemplos, há duas questões: 1 - elevado índice de
geração de emprego/capital investido, o que leva a uma
valorização do campo e à promoção do trabalhador rural, além
das demandas por mão-de-obra especializada para o
processamento e beneficiamento dos óleos vegetais. 2 - O
desenvolvimento da cadeia provoca mudanças no fluxo
internacional de capitais, uma vez que o aproveitamento do
biodiesel ocasiona uma redução das importações de diesel.
A avaliação da dimensão ambiental através dos elementos de
análise (Emissões atmosféricas, Aplicação de MDL, uso do
solo, uso de insumos residuais) mostra que a condição atual é
de: 1) Diminuição da emissão de gases de efeito estufa, de
gases poluentes e compostos de enxofre, responsáveis por
inúmeros impactos ambientais; 2) Ausência de projetos para
aquisição de créditos de carbono em Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo – MDL; 3) Aumento e dependência da
cadeia produtiva das monoculturas de oleaginosas anuais e
culturas intensivas (fertilizantes e defensivos agrícolas); e 4)
Pouca utilização de insumos residuais, que potencializam os
benefícios ambientais do desenvolvimento da cadeia produtiva
do biodiesel.
Os sistemas de produção de matéria-prima devem ser
sistemas integrados de produção de alimentos e energia,
intensivos em conhecimentos, mão-de-obra e poupadores do
capital e recursos naturais. Com relação ao uso do solo, há o
risco associado à expansão das lavouras de cana-de-açúcar e
oleaginosas que comprometem a biodiversidade e a segurança
alimentar. A alternativa para os pequenos agricultores é
diversificar os cultivos, evitando a monocultura, manter a
produção de alimentos e entrar no plantio de biodiesel de forma
autônoma, sem depender dos grandes grupos do agronegócio.
É Importante lembrar, no entanto, que a diversidade de
espécies oleaginosas passíveis de transformação em
biodiesel, embora possa constituir vantagem e condição para
que a produção não se apóie exclusivamente na monocultura,
leva a considerar a tendência de ocorrer pulverização de
esforços e recursos no desenvolvimento de culturas de acordo
com o potencial edafoclimático e cultural de cada região.
A avaliação da dimensão social através dos elementos de
análise (agricultura familiar; geração de emprego e renda;
participação e organização social; e atendimento energético)
mostra que a condição atual é de: 1) Participação mínima
condicionante para aquisição do selo combustível social, que
evidencia a necessidade de aprimorar os programas e políticas
de desenvolvimento da autonomia e organização dos
produtores rurais familiares; 2) Geração de emprego e renda
baixa e concentrada em regiões ou setores, que poderia ter
maior acessibilidade com a diversificação dos insumos e
matérias-primas, incluindo os insumos residuais; 3)
Organização social limitada pela dificuldade de acesso à linhas
de crédito, e linhas de crédito pouco acessadas pela falta de
organização social; e 4) Produção de matéria-prima
concentrada em locais com atendimento energético,a
concentração em áreas com atendimento restringe o
desenvolvimento eqüitativo das regiões.
O papel do Estado, na sustentabilidade social da cadeia
produtiva do biodiesel inclui estimular a pesquisa,
desenvolvimento tecnológico, capacitação técnica e
estruturação do mercado, visando à sustentabilidade das
cadeias de produção, agrícola e industrial do biodiesel. Deve
ainda estimular e apoiar a organização dos agricultores
familiares em associações, cooperativas e outras formas de
aglutinação social em busca de escalas mais organizadas,
produtivas e econômicas, facilitando o acesso à cadeia
produtiva do biodiesel. O impacto social da política do selo
social é apenas um dos componentes de uma complexa matriz
de políticas necessárias para o desenvolvimento sustentável
em territórios de economia rural.
A avaliação da dimensão econômica através dos elementos de
análise (Balanço energético; custos evitados; aproveitamento
econômico dos subprodutos, e investimentos na cadeia
produtiva) mostra que a condição atual é: 1) Balanço
energético não é significativo entre 1 e 2,9, respectivo às
culturas oleaginosas utilizadas com baixa produtividade de
óleo por hectare e intensivas no uso de insumos; 2) Economia
gradual de divisas com combustível e custos ambientais
evitados, resultado da internalização dos custos externos ou
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
subprodutos, verifica-se que a mudança reside na
descentralização, e na organização social, que permite a
criação de estruturas de beneficiamento dos grãos e
conseqüente uso produtivo dos subprodutos.
externalidades que implicam diretamente sobre a economia do
setor; 3) Geração e aproveitamento econômico dos
subprodutos concentrada junto ao setor de transformação, fato
este que evidencia a dificuldade de acesso aos benefícios
extras (subprodutos) da produção de oleaginosas pelos
produtores rurais familiares, que acabam inseridos apenas na
produção de grãos e sementes oleaginosas, sem
possibilidades reais de beneficiamento dos produtos; e 4)
Oportunidade de acesso a investimentos, financiamento e
custeio em toda a cadeia produtiva do biodiesel, através da
disponibilização de várias modalidades de financiamento, ao
longo da cadeia produtiva.
Do que foi exposto observa-se que a sustentabilidade da
cadeia produtiva do biodiesel depende do direcionamento
adequado, das externalidades ambientais, sociais e
econômicas, incorporando nas avaliações de viabilidade, não
apenas informações ou dados técnicos ou econômicos, a
cadeia deve ser conduzida em bases sustentáveis.
Isso foi apresentado como exercício, através da alteração nos
elementos de análise, tendo como resultado elevação da
sustentabilidade nas dimensões avaliadas, Dimensão
ambiental (ACC = 48,75%, exercício = 62,50%), Dimensão
Social (ACC = 43,75% , exercício = 56,25%) e Dimensão
econômica (ACC = 75%, exercício = 90%).
A partir dos resultados, faz-se indicações de políticas para o
Desenvolvimento Sustentável da cadeia produtiva do
biodiesel:
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
?
Estímulo à pesquisa e diversificação das matérias-
primas graxas utilizadas para produção de biodiesel,
através de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D),
através de fomentos de pesquisa e incentivos à
diversificação de culturas e manejo extrativista.
?
Criação de centrais ou pólos de beneficiamento
(esmagamento e prensagem, e silagem) para garantir
aproveitamento econômico distribuído dos
subprodutos, a partir da criação de redes de
beneficiamento e produção de óleos vegetais, que
permite o aproveitamento local dos benefícios
econômicos dos subprodutos.
?
Inclusão dos insumos residuais nos benefícios
tributários acessados pelas outras fontes graxas,
desta forma estimulando o uso destes insumos na
cadeia produtiva, e incentivando os benefícios
ambientais da re-utilização desses insumos.
?
Elaboração de estudos que detalhem o impacto real
da produção de biodiesel, e suas contribuições para a
diminuição das emissões de poluentes e Gases de
efeito estufa, caracterizando os benefícios da
internalização de culturas com balanço energético
mais favorável.
?
Estímulo a projetos de aproveitamento de créditos de
carbono através do Protocolo de Kyoto e do
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL,
estudos e aplicações metodológicas dos mecanismos
de produção de biodiesel nos MDL's.
?
Restrições à monocultura, com incentivo tecnológico
e econômico à diversificação de culturas na produção
de matérias-primas.
?
Descentralização linear na cadeia produtiva do
biodiesel, desde a produção de oleaginosas, no uso
econômico dos subprodutos, na produção de
biodiesel e na distribuição de oportunidades.
?
Estímulo ao domínio e superação tecnológica e
metodológica, na utilização de insumos renováveis, e
na diversificação de escalas e metodologias de
produção.
?
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Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
[18]
Balanço energético da
cultura da canola para
a produção de
biodiesel
gastos de energia no sistema de produção de canola para
fabricação de biodiesel e a energia contida no grão da cultura.
Consideraram-se as atividades que requerem gasto de energia
no cultivo, no transporte e no processamento da canola para
produção de biodiesel. Concluiu-se que, para cada unidade de
energia que entra no sistema de produção da canola, são
produzidas 2,9 unidades de energia, e considerando somente a
produção de óleo, esta relação cai para 1: 1,4.
Palavras-chave: Brassica napus L., biocombustível,
viabilidade.
1
Canola energy balance for
biodiesel production
Décio Luiz Gazzoni 1
José Luiz Bernardo Borges 2
Márcio Turra de Ávila 1
Paulo Henrique Nardon Felici 3
1
Embrapa Soja – Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária
[email protected]
[email protected]
2
UEL – Universidade Estadual de Londrina
[email protected]/ [email protected]
3
Bunge Alimentos S.A. – Sugar and Ethanol
Division
Introdução
Diversas são as culturas produtoras de óleo para a produção de
biodiesel. Algumas se mostram mais eficientes do que outras,
devido a fatores como, por exemplo, maior densidade
energética ou menor utilização de insumos durante seu cultivo.
Um método para se avaliar a eficiência energética das culturas
é através do balanço energético, que compreende a relação
entre a energia investida na produção do biocombustível
(input) e a energia obtida na sua combustão (output). De acordo
com Almeida Neto et al [1], o balanço energético indica as
viabilidades econômica e ambiental para cada tipo de cultura.
O balanço energético representa um componente essencial de
vários tipos de avaliações ambientais, tais como balanço
ecológico, ecoauditorias ou também em estimativas ecológicas
ligadas a engenharias [2].
Tal balanço pode, portanto, ser uma ferramenta útil para
otimizar a utilização de insumos para determinado cultivo,
incluindo culturas de inverno como a canola (Brassica napus
L.). Isto tem sido demonstrado em diversos estudos de caso [2]
[3] [4]. Contudo, diferenças na escala, método e objetivos
aplicados podem resultar em diferentes resultados entre os
estudos.
[email protected]
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Abstract: Energy balance is the best parameter to define
technical viability and sustainability of an agrienergy
programme, by establishing the relationship between biofuel
and co-products of a given feedstock energy output and the
quantity of energy inputs during the production process,
including the agricultural and industrial stages. In this study, the
amount of energy necessary to produce biodiesel from canola
(Brassica napus L.) was calculated as well as the energy
contents of canola oil and cake. We took into account the
activities requesting energy expenditure in the cultivation,
transport and canola processing. Considering meal utilization, it
was concluded that for each input energy unit for canola, 2.9
energy units are produced, and considering only oil production
this relationship decrease to 1:1.4.
Keywords: Brassica napus L., biofuels, viability.
Resumo: O balanço energético é o parâmetro mais adequado
para definir a viabilidade técnica e a sustentabilidade de um
programa de agroenergia, ao estabelecer a relação entre o
total de energia contida no biocombustível e demais derivados
de uma determinada matéria-prima e a quantidade de energia
investida em todo o processo de produção, incluindo-se as
etapas agrícola e industrial. Neste estudo foram calculados os
Indicadores energéticos demonstram a eficiência produtiva de
diversos sistemas, mas, também, permitem uma comparação
de diferentes produtividades [5], e são, portanto, um adequado
complemento de análises econômicas [6].
A canola (Brassica napus L.), no Brasil, está sujeita a restrições
climáticas e apresenta alguns problemas na colheita. Ainda
assim, pelo seu alto teor de óleo no grão (40% a 46%), é
considerada uma importante matéria-prima para a produção de
biodiesel [10].
O processo de transesterificação do óleo de colza para produzir
biodiesel é relativamente simples, envolvendo a reação do óleo
com metanol para produzir o combustível, além do glicerol
como subproduto. Biodiesel e glicerol formam duas camadas
distintas permitindo a realização da decantação do
biocombustível. [7].
O interesse em éster metílico de canola e demais combustíveis
renováveis tem aumentado nos últimos tempos como resultado
de preocupações ambientais relacionadas com a utilização de
combustíveis fósseis e dos requisitos para a segurança
energética nacional. Além do mais, o desenvolvimento de
biocombustíveis pode estar ligado a vantagens
socioeconômicas de geração de emprego e renda em zonas
rurais depreciadas ou projetos ligados à política agrícola [8].
Tabela 1: Itens que requerem gasto de energia no cultivo de canola no Brasil.
Pré-semeadura
Semeadura
Manejo
Colheita
Transporte
Mão-de-obra
Mão-de-obra
Mão-de-obra
Mão-de-obra
Mão-de-obra
Trator
Trator
Trator
Colheita
Caminhão
Pulverizaç ão
Adubação
Adubação
Controle de Insetos
-
-
Pulverização
-
-
Assim sendo, o objetivo deste trabalho consistiu em realizar o
balanço energético na cultura da canola para produção de
biodiesel, considerando, nos cálculos, as atividades
relacionadas à produção agrícola, transporte e processamento
industrial.
2 Materiais e métodos
As atividades que exigem gasto energético (input) na produção
agrícola e no transporte para a cultura de canola estão
relacionadas aos itens descritos na Tabela 1.
Para o cálculo da energia gasta com a produção de fertilizantes
e agrotóxicos, do valor energético do diesel consumido, da
energia da semente e demais itens envolvidos nas fases
agrícola e industrial, utilizaram-se os estudos de diversos
autores, que fornecem a energia necessária para a produção
de cada unidade de insumo empregado no cultivo da canola e
posterior produção de biodiesel.
2.1 Mão-de-obra
Segundo Pimentel & Patzek [9], uma pessoa trabalha em
media 2.000 horas por ano e seu gasto energético equivale a
8.000 litros de óleo diesel de petróleo.
Com base nesse dado, estimou-se o gasto energético com
mão-de-obra.
Como em canola há um gasto de 0,56 horas/ha com mão-deobra [10], e, segundo Pimentel & Patzek [9], 1 litro de óleo
diesel possui equivalente energético de 11.400 kcal, tem-se um
gasto energético de 25.400 kcal.
2.2 Maquinaria
O cálculo da depreciação, reparos e uso de óleos e graxas em
máquinas e equipamentos teve como base o emprego de dois
tratores pesando entre 6 e 7 toneladas, e colhedoras de 8 a 10
toneladas, além de pulverizadores, semeadoras e demais
equipamentos. Foi considerado para tais cálculos, de acordo
com estudo de Leach [11], 40% do equivalente energético do
consumo de combustível total.
2.3 Combustível
Em termos de combustível, em canola são necessários 64
litros.ha-1 [11] para a realização das operações básicas de
manejo no campo. Como, 1 l de óleo diesel equivale a 11.400
kcal de energia [9], os gastos equivalem, portanto, a uma
entrada de energia de 729.600 kcal [11].
2.4
Fertilizantes
A adubação considerada foi de 60 kg nitrogênio (N) [13],
dividido em 20 kg na semeadura e 40 kg em cobertura, sendo
que para a produção de cada quilograma de N, são gastas
cerca 16.000 kcal de energia [9].
São aplicados ainda 60 kg/ha de fósforo (P) e 30 kg/ha de
potássio (K) [13], apresentando 4.154 e 3.260 Kcal de energia
consumidas, respectivamente, para produzir 1 quilograma
desses nutrientes [9]. A produtividade esperada para essas
condições é de 2.200 kg.ha-1.
2.5 Sementes
A canola foi semeada, segundo Tomm [13], utilizando-se 4 kg
de sementes por hectare.
Para a estimativa de energia gasta para produzir sementes de
canola, foi utilizada a modelagem matemática desenvolvida por
Gazzoni et al. [14], onde S = ((T/P) x Sha) x 1,5, em que S =
kcal/sementes ha-1, T = total de gastos energéticos na fase
agrícola (Kcal), P = produção em kg.ha-1 e Sha = quantidade de
sementes em kg.ha-1, considerando-se ainda um gasto 50%
maior para secagem da semente, limpeza, classificação e
transporte.
2.6
Herbicidas e inseticidas
O principal herbicida utilizado foi o glifosato, para o controle das
principais ervas daninhas que infestam a cultura da canola, na
dosagem de 2 litros.há-1 do produto comercial (densidade =
0,5g.cm-3) [13].
Quanto ao inseticida, considerou-se o Metamidofós (densidade
= 1,18g.cm-3), na dosagem de 2,5 litros. ha-1, visando o combate
dos principais insetos-praga que atacam a cultura, como a
vaquinha, os pulgões e lagartas desfolhadoras [15]. Foi
empregado para ambos o valor energético descrito por
Pimentel e Patzek [9], de 100.000 Kcal para a produção de 1 Kg
de herbicidas e inseticidas.
2.7
Transporte
Assumiu-se o valor de 20 km como a distância média que um
caminhão percorre para transportar a canola colhida até a
unidade processadora.
No cálculo do gasto energético durante o transporte dos grãos
até a indústria, considerou-se a utilização de um caminhão com
capacidade de carga de 20 toneladas, possuindo autonomia de
3 km com 1 l de óleo diesel quando vazio, e 1,5 km com 1 l se
completamente carregado. Desta maneira, foi calculada a
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Dessecaç ão
demanda por energia no transporte de 20.000 kg de grãos, em
um percurso de 40 km (ida e volta da propriedade rural até a
indústria).
2.8
Gastos no processamento industrial
2.9 Saídas de energia
O total de energia fornecida pela cultura da canola foi calculado
através da soma do equivalente energético dos produtos e
subprodutos resultantes do processamento industrial da
oleaginosa.
O principal deles é o óleo, que é transformado em biodiesel.
Posteriormente, como subproduto da prensagem dos grãos de
canola, resulta a torta, podendo ser empregada para
suplementação animal, e por último, a glicerina, um co-produto
resultante da reação de transesterificação. Sendo que 1
quilograma de óleo de canola possui equivalente energético de
9.000 Mcal [9], a torta apresenta 5.800 Mcal/Kg de matéria
seca [8], e o valor da energia térmica do glicerol produzido a
partir de óleo refinado durante a transesterificação foi
calculado a partir dos dados fornecidos por Booth et al. [17].
Os fluxos de energia estão apresentados sob a forma de taxa
de energia líquida, e o balanço energético final foi calculado
dividindo-se o total de energia obtida, incluindo a do óleo da
canola e dos seus subprodutos, pela energia aplicada em todo
o processo produtivo, desde o campo até a transformação final
na indústria. A equação (1) foi adaptada de Macedo et al., [18].
Ó Energia fornecida (Mcal)
(1)
Ó Energia fóssil gasta (Mcal)
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
3
Quantidade
1000 kcal
Mão-de-obra
0,56 h
23
Maquinário
8,4 kg
256
Combustível
64 l
640
Nitrogênio
60 kg
960
Fósforo
60 kg
249
Potássio
30 kg
98
Sementes
4 kg
18
Herbicida
1 kg
100
Inseticida
3 kg
300
Transporte
40 km
228
Gastos agrícolas totais
2.872
Gastos Industriais
-
Extração do óleo
555
Refino
581
Transesterificação
1.506
Gastos industriais totais
2.642
Total de entrada
Balanço energético (B.E.)
B. E. Final =
Fator
Gastos na fase agrícola
Os gastos no processamento industrial referem-se à produção
de uma tonelada de biodiesel de canola, envolvendo a
transformação do grão em óleo e, posteriormente, do óleo em
biodiesel. Tais cálculos foram baseados nos dados de extração
e refino de óleo bruto de canola [8] e nos valores propostos por
Janulis [16] para o processo de transesterificação do óleo
vegetal, no qual a rota metílica foi a empregada.
2.10
Tabela 2: Entradas de energia na produção de canola por hectare
no Brasil.
Resultados e discussão
Em média, para cada tonelada de grãos produzidos, são
obtidos 400 kg de óleo e 600 kg de torta [13], Foi considerado
para os cálculos que 1 kg de óleo de canola contém 9.000 kcal
de energia [16].
De acordo com esses valores, são necessários 2,5 kg de grãos
de canola para se produzir 1 kg de óleo. Sua produtividade
média de 2200 kg.ha-1 de grãos, oferece 880 kg de óleo.ha-1,
com valor energético de 7.920 Mcal.ha-1.
-
5.514
Conforme apresentado na Tabela 2, a estimativa da energia
fóssil gasta durante as operações agrícolas para produzir 2.200
kg.ha-1 de canola foi de 2.872 Mcal. E a quantidade de energia
fóssil, gasta durante o processamento industrial, para produzir
1 tonelada de biodiesel de canola foi de 2.642 Mcal, totalizando
5.514 Mcal de entrada de energia no sistema. Resultado
semelhante foi alcançado por Hulsbergen et al [19], onde os
autores relataram um emprego de energia total de 4.952
Mcal/ha como entrada de energia no sistema produtivo de
canola e posterior produção de biodiesel.
Já Batchelor et al [8], nas condições escocesas de cultivo, onde
a canola é a principal matéria- prima para produção de
biodiesel, obtiveram um resultado levemente superior, de 6.843
Mcal.ha-1 como entrada total de energia, considerando para os
seus cálculos, condições ideais de cultivo para a canola na
região.
Por outro lado, Rathtke e Diepenbrock [3] apresentaram um
valor significativamente inferior ao deste trabalho, encontrando
3.842 Mcal.ha-1 como sendo o valor máximo de energia gasta
no sistema, considerando em seus estudos diferentes tipos de
rotação de cultura e taxas de aplicação de fertilizantes.
Tais diferenças ocorrem devido a fatores como distinção no
manejo da cultura por produtores de diferentes localidades,
diferentes entradas de energia no processamento industrial,
além de diferenças de escala, métodos e objetivos intrínsecos
a cada estudo.
No caso dos valores relacionados aos fertilizantes
apresentados na Tabela 2, os equivalentes energéticos
utilizados foram os obtidos por Pimentel & Patzek [9], em que o
consumo total com fertilizantes nesse estudo foi de 1.307 Mcal
ha-1, enquanto Chastain [12] estimou um gasto médio de 1.303
Mcal.ha-1 e Batchelor et al [8] consumiram 2098 Mcal.ha-1 de
energia com fertilizantes. Essas variações devem-se,
provavelmente, às diferentes formas de produção do adubo, e
quantidades distintas aplicadas em cada caso, mas por não
representarem grandes variações, consideraram-se, nesse
estudo, os valores descritos no item 2.5.
Nota-se ainda na Tabela 2 que os fatores que contribuem de
maneira negativa com mais de 25% na energia empregada na
fase agrícola da produção de canola são o nitrogênio, que
responde por 16,5% do total, e o óleo diesel que é responsável
por, aproximadamente, 12% do consumo energético integral.
mamona e o girassol. A Tabela 4 apresenta uma relação de
dados referentes a entrada e saída de energia no sistema
produtivo de diferentes matérias-primas para a produção de
biodiesel. Além disso, pode-se observar também o resultado
do estudo desenvolvido por Pimentel & Patzek [9] envolvendo
biocombustíveis nos Estados Unidos, o qual apontou um B.E.
negativo. Nesse caso, os autores encontraram um B.E.
negativo de 1.467 kcal. Segundo seus cálculos, são
necessárias, aproximadamente, 6.597 kcal de energia fóssil
para produzir 1 litro de etanol do milho, entretanto, 1 litro de
etanol apresenta valor energético de 5.130 kcal.
Tabela 4: Comparação do balanço energético do dendezeiro com
demais culturas empregadas para produção de biodiesel.
Este resultado implica, por parte dos produtores, num
remanejamento das práticas culturais, onde se torna
necessária a rotação de culturas com alguma espécie que fixe
grande quantidade de N atmosférico, deixando um bom
residual do mesmo no solo que irá receber a canola no inverno.
Culturas
E do mesmo modo, exige-se, por parte do governo, que reveja
as taxas e impostos que incidem sobre o óleo diesel no Brasil,
visando beneficiar os agricultores ou ainda incentivar cada vez
mais a produção e utilização de fontes alternativas de
combustíveis, tais como o biodiesel e o etanol.
No cálculo da Tabela 3, considerou-se a produtividade de 2.200
kg.ha-1, obtendo-se 40% de óleo, 60% de torta e poder
calorífico de 9.000 kcal.l-1 para o óleo [9], 5.800 kcal.kg-1 para a
torta [16] e 4.000 kcal.kg-1 para a glicerina [17], totalizando
15.976 Mcal de energia obtida com o cultivo de 1 ha de canola.
Batchelor et al [8] obtiveram resultado similar, considerando
também em seus cálculos a energia fornecida pelo óleo, pela
torta e pela glicerina, onde a canola proporcionou um total de
17.000 Mcal de energia por ha.
Tabela 3: Saídas de energia do sistema de produção.
Valor energético
(Mcal.ha-1 )
Balanço
Energético
Entrada
Saída
Dendê
10.200
87.670
1: 4,62 0
Soja
4.967
19.600
1: 3,95 1 4
Giras sol
6.333
15.00
1: 2,37
Canola
4.874
13.200
1: 2,9
Mamona
15.626
28.892
1: 1,85 1
Etanol
(Milho,
EUA)
6.597
5.130
1: 0,77
14
*
9
20
Gazzoni et al, (2008); 20Gazzoni et al., (2005); *Tabela 3; 1Almeida Neto
et al., (2004); 9Pimentel & Patzek, (2005).
Balanço Energético Final
Quantidade
1000.kcal
Cas ca
Desprezível
Desprezível
Óleo
880 kg
7.920
Torta
1.320 kg
7.656
Glic erina
100
400
Total
2.200 kg
15.976
Agrícola
2.872
Industrial
2.642
4 Conclusões
Verifica-se um balanço energético positivo para a canola, nas
condições brasileiras, visto que, para cada 1 (uma) unidade
de energia que entra no sistema, outras 2,90 unidades de
energia são produzidas.
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Entradas
Total
5.514
Balanço óleo
-
1: 1,4
Balanço final
-
1: 2,9
Ao compararmos dados de diferentes autores, tendo em vista o
balanço energético para a produção de biodiesel, e como fonte
de matéria-prima diversas culturas com potencialidades
regionais para a produção de biocombustível, nota-se, de
acordo com a Tabela 4, que a canola encontra-se em uma
posição mais favorável que outras oleaginosas, tais como a
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Fatores
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Biocombustível, 1, 2008, Uberlândia. Anais...
Uberlândia: UFU, 2008. 1 CD-ROM.
Automatic detection of
flaws in polymer insulators
using 3D industrial tomography
Palavras-Chave: Isoladores poliméricos, tomografia
computadorizada, redes neurais, VTK.
1
1
Walmor Cardoso Godoi
Klaus de Geus2
Romeu Ricardo da Silva3
Vitoldo Swinka-Filho1
1
Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento LACTEC
[email protected]
[email protected]
2
Copel – Companhia Paranaense de Energia
[email protected]
3
Centro de Tecnologia SENAI – RJ Solda,
[email protected]
Abstract: This work presents a methodology for the automatic
detection of flaws in polymer insulators using three-dimensional
industrial computed tomography (CT), as well as results
obtained in the context of power distribution networks. The CT
slices were reconstructed using 180 digital radiographs
(projections) acquired by a high resolution system (pixel
dimension of 50 µm × 50 µm, a-Si). For the reconstruction of 3D
CT, 50 µm wide bitmap slices were used. The Marching Cubes
algorithm was used to perform the 3D reconstruction, using the
Visualization Toolkit (VTK) library and the Java programming
language (64 Bits Linux platform). Nine features were obtained
from the reconstructed three-dimensional objects for the neural
networks training. Results showed to be satisfactory.
Keywords: Polymer insulators, computed tomography, neural
networks, VTK.
Resumo: Neste trabalho são apresentados a metodologia e
os resultados aplicados à detecção automática de vazios em
isoladores poliméricos utilizados em redes de distribuição de
Introdução
O uso de isoladores poliméricos nas linhas de transmissão e
distribuição de energia elétrica tem crescido constantemente
nos últimos anos. Um dos fatores para esse aumento é a sua
manutenção de hidrofobicidade na presença de névoa salina e
chuva. Outras vantagens estão na massa reduzida, baixo custo
e resistência à contaminação. Por outro lado, pode-se citar
como uma das principais desvantagens a existência de
defeitos no seu interior, originados do processo de fabricação
(por exemplo, problemas na injeção do polímero) ou por
influências mecânicas, térmicas e elétricas [1-3].
Técnicas de visualização tomográfica têm sua origem nas
aplicações médicas da década de 60, com o tomógrafo de
Ondendorf. Os primeiros sistemas tomográficos, no início com
raios gama e depois por raios X, eram usados para obter
imagens do crânio humano e, logo após, do corpo humano
inteiro. Ainda hoje, a tomografia por raios X é a mais utilizada
em modalidades de tomografia computadorizada (TC), seguida
pela tomografia por ressonância nuclear magnética (RNM).
Atualmente, ambas as tomografias por raios X e por RNM,
assim como uma variedade de outras técnicas tomográficas,
encontram aplicações em outras áreas, tais como em ensaios
não-destrutivos (NDT) [4].
A tomografia por raios X em aplicações industriais fornece, por
técnicas oriundas da computação gráfica, as mesmas
ferramentas de diagnóstico e de medidas utilizadas em
medicina, como por exemplo, a determinação de volumes de
defeitos, o que auxilia no controle do processo de manufatura,
impactando a qualidade final dos componentes produzidos.
Em ensaios no setor elétrico, TC pode auxiliar no estudo do
caminho de descargas elétricas no interior dos materiais
isolantes e no diagnóstico de defeitos em componentes
elétricos.
São apresentados neste trabalho os resultados para o
reconhecimento de padrões (vazios) em isoladores
poliméricos, classe 15 kV, utilizados em redes de distribuição
de energia elétrica, por TC tridimensional com o auxílio de
redes neurais.
2
Tomografia Industrial 3D
Em NDT, Tomografia por raios X pode ser usada para ensaios
não-destrutivos com vistas à obtenção de características do
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Detecção automática de
vazios em isoladores
poliméricos por
tomografia industrial 3D
energia elétrica, por técnica de tomografia computadorizada
industrial tridimensional. As tomografias bidimensionais foram
reconstruídas utilizando-se 180 radiografias digitais
(projeções) adquiridas por um sistema de alta resolução
(detector com pixels de dimensão de 50 µm × 50 µm, a-Si).
Para a reconstrução das tomografias 3D utilizou-se fatias no
formato bitmap (BMP) com espessura de 50 µm. O algoritmo
utilizado para a reconstrução 3D foi o Marching Cubes
implementado com o uso da biblioteca VTK (Visualization
Toolkit) em linguagem Java (plataforma Linux 64 Bits). A
partir dos objetos tridimensionais reconstruídos foram obtidas
nove características para treinamento da rede neural, sendo
que todas, em essência, são geométricas. Os resultados
mostraram-se satisfatórios em relação ao treinamento da
rede neural.
interior de um objeto sólido e opaco à luz visível, permitindo
visualizar a geometria e a topologia do interior do objeto por
meio da reconstrução de suas secções transversais.
Tomografia por raios X utiliza um equipamento específico para
obter um grupo de imagens radiográficas (projeções) de
diferentes ângulos ao redor do objeto. Essas imagens são
utilizadas como informação para reconstruir uma secção
transversal do objeto a ser analisado, por meio de
processamento computacional. Os valores de intensidade dos
pixels da imagem tomográfica são proporcionais ao coeficiente
de atenuação do material [4,5].
A Figura 2 mostra um isolador polimérico, da classe 15
kV, utilizado em linhas de distribuição de energia elétrica
(isolador tipo J-Neck). Esse é o objeto de estudo deste
trabalho. A Figura 3a mostra uma radiografia da base de
sustentação do isolador polimérico. A Figura 3b mostra
uma reconstrução tomográfica do mesmo isolador
polimérico (fatia tomográfica). Utilizam-se, para a
reconstrução dessa secção transversal (fatia), 180
projeções radiográficas em imagens de 12 bits (40126
tons de cinza), no formato Portable Network Graphics
(PNG). As imagens das Figuras 3a e 3b mostram um
defeito, isto é, um vazio no isolador. Esse defeito é
originário do processo de manufatura do componente.
Os fundamentos matemáticos da tomografia estão
relacionados à reconstrução de uma imagem por meio de suas
projeções. No termo estrito da palavra, uma projeção a um
dado ângulo é a soma das intensidades da imagem que
chegam ao detector na direção especificada por aquele ângulo,
como ilustra a Figura 1. O problema consiste em construir os
objetos sem a partir das intensidades que chegam aos
detectores de raios X. Na figura, mostra a rotação do detector
(o mesmo acontecerá com a fonte de raios X) obtendo
projeções (“sombras”) de intensidades diferentes em função da
posição do detector e dqa fonte. Podem-se citar três tipos de
projeções comumente utilizadas para raios X: projeções de
feixe paralelo, projeções de feixe em leque e projeções de feixe
em cone. A literatura sobre métodos de reconstrução
tomográfica é vasta. Uma abordagem sobre os aspectos
matemáticos e de implementação computacional sobre
reconstrução tomográfica pode ser encontrada nos livros de
Kak e Slaney [6] e Natterer [7].
Figura 2: Fotografia de isolador polimérico utilizado em linhas de
distribuição de energia elétrica.
A tomografia tem sido amplamente utilizada em diversas
aplicações na indústria, tais como aplicações em fluidos com
multifases [8], alimentos [12,10], polímeros [11], eletrônica [12]
e em engenharia [13].
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Figura 3: (a) Radiografia digital de isolador polimérico com bolha
de ar (indicada pela seta branca). (b) Tomografia de uma das seções
transversais do isolador contendo a bolha de ar (indicada pela seta
preta).
3
Figura 1: Duas projeções radiográficas adquiridas pelo detector de
raios X são mostradas para um objeto tomográfico que consiste de
dois cilindros. O problema consiste em construir os objetos a partir
das intensidades que chegam aos detectores [6].
Metodologia Experimental
As radiografias foram adquiridas usando um sistema de
radiografia digital, ilustrado na Figura 4, instalado no Instituto
de Tecnologia para o Desenvolvimento - LACTEC. Esse
sistema é composto pelos seguintes componentes: Fonte de
raios X portátil microfoco (tensão de até 70 kV e corrente de até
100µA), detector digital de raios X com área ativa de 12cm x
11cm (podendo obter projeções radiográficas com dimensões
de até 2344 x 2240 pixels), mesa giratória e computador para
controle. A dimensão espacial de cada pixel do detector é de 50
µm e a profundidade de 12 bits/pixel (40126 tons de cinza). A
mesa giratória controlada por um motor de passo, computador
para controle e reconstrução das imagens e software
desenvolvido em linguagem C++ para o processamento de
imagens e reconstrução tomográfica bidimensional e Java para
reconstrução tridimensional, utilizando a biblioteca gráfica VTK
(Visualization Toolkit) [14].
Em todas as reconstruções tomográficas realizadas foram
obtidas 180 radiografias (100 µA de corrente e 70 kV de tensão
no tubo). O tempo de exposição de cada imagem foi de cinco
segundos.
auxiliar na tomada de decisão quanto às medidas cabíveis à
peça ensaiada (troca ou não). As imagens das superfícies
reconstruídas são geradas a partir de múltiplas fatias
bidimensionais que compõem o volume a ser reconstruído [12].
Utilizou-se neste trabalho o algoritmo Marching Cubes [16] nas
imagens tomográficas que foram segmentadas (utilizando o
formato bitmap). A Figura 5 mostra a reconstrução das
superfícies que compõem o phantom, utilizado neste trabalho,
com o uso do algoritmo de Marching Cubes. A implementação
do algoritmo foi realizada em Java com a biblioteca VTK. Essas
superfícies são formadas pela interface ar-acrílico. O algoritmo
de Marching Cubes baseia-se em dois passos:
1) localização da superfície correspondente ao valor
especificado como parâmetro; e
2) cálculo das normais nos vértices dos triângulos, a
fim de criar uma superfície de alta qualidade visual.
O Marching Cubes utiliza a técnica de divisão e conquista para
localizar a superfície por meio de um cubo lógico, formado por
oito voxels. Cada pixel é representado por um vértice do cubo.
Construiu-se um phantom de acrílico para comparar os
volumes dos vazios obtidos pelo processo tomográfico com o
volume real do objeto. Essa etapa é importante, no sentido de
garantir que as características obtidas para o treinamento da
rede neural estejam dimensionalmente corretas [17]. O
phantom é composto do empilhamento de três cilindros de
acrílico com 5 cm de diâmetro e 1 cm de altura. O cilindro
central apresenta doze orifícios com diâmetro entre 1,0 mm e
6,0 mm. O volume dos vazios do phantom foi previamente
determinado usando um método analítico.
A medida do volume e área superficial dos vazios por
tomografia de raios X foi obtida utilizando a biblioteca Open
Source VTK – Visualization Toolkit [14] em linguagem Java.
Essa ferramenta permite a reconstrução tridimensional de
conjuntos de dados. A componente dessa biblioteca que
retorna os dados de volume e área é denominada
vtkMassProperties, baseada no trabalho de Alyassin [15].
4
Reconstrução Tomográfica Tridimensional
Reconstruções de superfícies tridimensionais de objetos
oferecem valorosa ferramenta de diagnóstico fornecendo
informações relevantes tais como a forma anatômica do objeto
reconstruído e medidas de volume ou área superficial. Em
NDT, conhecer o volume de um defeito, por exemplo, pode
O algoritmo resultará, em geral, num considerável número de
triângulos para formar as superfícies geradas. Esses
triângulos, apresentados em malhas, determinam a qualidade
e o tempo de processamento do modelo geométrico. Porém,
malhas que apresentam um número elevado de triângulos não
podem ser geradas para aplicações em tempo real. Assim,
deve-se reduzir o número de polígonos. A técnica de
Decimation [15] foi desenvolvida a fim de solucionar esse
problema. Schroeder [14] utilizou essa técnica para otimizar
aplicações em tomografia 3D. Essa técnica é conhecida como
redução de polígonos ou simplificação de malha, a qual reduz o
número de triângulos em uma malha, preservando o tanto
quanto possível as suas características.
A Figura 6 mostra uma radiografia digital e também a
reconstrução de um defeito (bolha) pela tomografia
tridimensional. É importante isolar os objetos tridimensionais
reconstruídos, ou seja, separar os objetos para a “Visão da
Máquina” para a obtenção de características e reconhecimento
do objeto (Defeito – D ou Estrutura Regular – ER) na rede
neural.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Figura 4: Sistema de radiografia digital (vista de cima). A mesa gira o
objeto em 180 graus. A fonte de raios X e o detector mantêm-se
imóveis.
O algoritmo determina o modo como a superfície faz interseção
com o cubo, movendo-se (ou “marchando”) então para o
próximo cubo. Para verificar se a superfície faz interseção com
o cubo, o algoritmo determina se o valor do vértice escolhido
excede ou equivale ao valor da superfície a ser construída.
Caso seja verdadeiro, o vértice recebe valor um, indicando que
está dentro da superfície. Caso contrário, o vértice recebe valor
zero, indicando que está fora. Assim, mediante a localização
dessas interseções, é possível determinar a topologia de uma
superfície dentro de um cubo por meio de triangulações.
5
Reconhecimento de Padrões 3D
Após a conclusão da extração de características 3D (nove
características, ver Tabela 1) dos objetos encontrados na
tomografia tridimensional (reconstruída por Marching Cubes),
realizaram-se o treinamento, os testes e a validação de uma
rede neural com 20 neurônios na subcamada (Figura 7), no
intuito de detectar automaticamente defeitos presentes nos
isoladores.
Tabela 1: Características utilizadas neste trabalho para os objetos
reconstruídos na tomografia 3D. Pode-se observar as características
são todas geométricas. O cálculo dessas características baseou-se na
classe vtkMassProperties [14] da biblioteca VTK.
Figura 5: Reconstrução das superfícies por Marching Cubes.
Nenhum filtro foi utilizado. Podem ser vistos nesta figura os doze
vazios cilíndricos e a superfície externa do acrílico.
(a)
Característica
F1
Nome
Forma Esfera
F2
F3
F4
Área
Superficial
Volume
Vx
F5
Vy
F6
Vz
F7
Kx
F8
Ky
F9
Kz
Descrição
Retorna o quão
próximo de uma
esfera é o objeto
reconstruído.
Área superfic ial do
objeto
Volume do objeto
Volume do objeto
projetado na direção
x
Volume do objeto
projetado na direção
y
Volume do objeto
projetado na direção
z
Maximum Unit
Normal Component
(MUNC) na direção x
Maximum Unit
Normal
Component(MUNC)
na direção y
Maximum Unit
Normal
Component(MUNC)
na direção z
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Deve-se ressaltar aqui que a abordagem realizada com esse
intuito não é convencionalmente utilizada em tomografia. Em
geral, os trabalhos que visam a identificar padrões
tridimensionais segmentam os objetos nas fatias 2D das
tomografias, realizam a extração das características em cada
fatia e só depois reconstroem os objetos tridimensionais. O
trabalho gerou resultados satisfatórios com custo
computacional equivalente ou até mesmo menor em relação às
abordagens convencionais.
(b)
Figura 6: (a) Radiografia digital de um isolador indicando um vazio, e
o caminho de descarga. (b) Detalhe da reconstrução tridimensional
do defeito. Aplicou-se nessa imagem um filtro Gaussiano
tridimensional para suavizar a superfície.
As entradas da rede neural correspondem a 50 amostras com
nove características calculadas para cada uma. Os dados de
saída (pesos sinápticos) permitem a detecção automática dos
defeitos dos isoladores.
A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos para os coeficientes
de correlação entre as características obtidas para os objetos
encontrados na tomografia tridimensional dos isoladores. Essa
tabela é importante por apresentar as características mais
relevantes no processo de reconhecimento de padrões.
reconhecimento de padrões.
Tabela 1: Tabela com os coeficientes de correlação linear entre as características e entre as características e classes de padrões.
Coeficientes de Correlação Linear
Caracterís
ticas
Limite de 95% de Intervalo de Confiança
F1
F1
F2
F3
F4
F2
1
F3
F4
2
F5
N
- N número de dados = 0,29
F6
F7
F8
F9
Classes
0.41
-0.195
-0.334
-0.278
0.16
0.028
0.089
-0.064
-0.005
1
-0.054
0.007
-0.021
-0.024
-0.121
-0.093
0.116
-0.297
1
-0.231
-0.212
-0.442
-0.085
-0.113
0.108
-0.301
1
0.859
0.377
-0.112
-0.087
0.106
0.315
1
0.685
-0.175
-0.183
0.191
0.247
1
-0.162
-0.159
0.172
0.2
1
0.673
-0.916
0.561
1
-0.913
0.506
1
-0.589
F5
F6
F7
F8
F9
Figura 7: Diagrama da rede neural utilizada. As características
obtidas são utilizadas no treinamento
e nos testes da rede neural.
A Figura 8 mostra a distribuição das classes num espaço
bidimensional formado pelas duas características de maior
coeficiente de correlação linear: F7 e F9. O resultado mostra
que as duas classes apresentam boa separação nesse espaço
dimensional, podendo ser possível desenvolver um
classificador linear que separe as duas classes com bom nível
de acerto. Na figura, por exemplo, um classificador linear
simples permitiria acerto de 100% das indicações de defeito,
com alguns erros de falso positivo. Entretanto, há de se
destacar que nessa hipótese não são consideradas as outras
seis características relevantes, o que certamente aumentaria o
Figura 8: Separação dos padrões em
duas dimensões (F7 versus F9).
Para implementar o classificador, recorreu-se a uma rede
neural de dupla camada com treinamento por retropropagação
do erro.
A Tabela 2 mostra os resultados de estudo de variação do
número de neurônios na segunda camada do classificador nãolinear. O treinamento da rede foi parado em 3000 épocas por
estabilidade do erro médio quadrático ou por ter sido atingido o
critério de parada, que foi de 0,001. Utilizou-se momento igual a
0,9 e taxa de aprendizagem de 0,1 com neurônios do tipo
tangente hiperbólica, e apenas um neurônio na saída, visto ser
suficiente para separar um caso de duas classes de padrões.
Para testar a generalização do classificador, foram sorteados
conjuntos de teste com 30% de amostras do conjunto original
de dados. Destaca-se, dessa forma, que os conjuntos de teste
foram compostos com 15 amostras. A classe ER, originalmente,
contém 27 amostras, e a classe D 23 amostras. O sorteio foi
aleatório mantendo-se essa proporção entre ER e D.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Os coeficientes de correlação linear mostram que há
significativa correlação entre as características extraídas e as
classes de padrões de Estrutura Regular (ER) e Defeito(D),
pois a maioria, para um intervalo de confiança de 95%, está
acima do valor 0,29. Destaque negativo fica por conta exclusiva
da característica F1, que apresenta baixo valor de correlação. A
característica F9 resulta na maior relevância entre todas na
discriminação dos padrões.
Tabela 2: Variação do número de neurônios na camada intermediária.
Número de
neurônios
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Treinamento (%)
91,43
Teste
(%)
93,4
97,15
86,7
94,3
100
86,7
66,7
100
66,7
100
73,4
100
66,7
97,2
80
100
100
66,7
66,7
Pelos resultados, observa-se que, quanto maior o número de
neurônios na camada intermediária, maior é o acerto de
classificação com os dados de treinamento. Com um neurônio
apenas, tem-se mais de 91% de acerto para treinamento e
mais de 93% pra teste, situação atípica em se tratando de rede
neural, pois na maioria das vezes há menor acerto com os
conjuntos de teste, por razões lógicas de um processo de
reconhecimento de padrão. Entretanto, isso pode acontecer
quando o treinamento se encerra prematuramente e os dados
de teste, involuntariamente, apresentam um acerto maior.
Numa situação mais realista, com dois e três neurônios, obtêmse acertos de 97,15% e 94,3%, respectivamente.
Neste caso, os conjuntos de teste apresentaram índices de
86,7%, isto é, 13 acertos em 15. Aumentando-se o número de
neurônios, verifica-se que o treinamento chega a 100%,
enquanto os testes caem para faixas entre 66 e 80%. Isso é
lógico em treinamento de rede neural, pois há provável
supertreinamento dos seus parâmetros (sinapses e bias), o
que provoca um erro maior com as amostras de teste. Concluise que com dois ou três neurônios obtém-se a melhor situação
de generalização do classificador não linear.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
6
Conclusões
Os testes da rede neural comprovaram que é possível atingir
bons índices de acerto de classificação empregando-se as
nove características extraídas das imagens tomográficas.
Entretanto, pelo baixo índice de amostras disponíveis, não é
possível fazer uma afirmativa sobre o índice de acerto com
dados de teste. Quanto às características mais relevantes,
uma opção seria descartar a menos relevante e verificar os
índices de acerto sem o uso desta, o que poderá ser feito em
estudos subsequentes.
A visualização tridimensional de dados volumétricos mostra-se
satisfatória para analisar defeitos em isoladores poliméricos.
Assim é possível analisar quantitativamente o caminho
formado por uma descarga elétrica. As novas metodologias
propostas para o cálculo do volume dos vazios e os resultados
obtidos constituem-se, portanto, nas maiores contribuições
deste trabalho.
7 Agradecimentos
Este trabalho foi desenvolvido sob os auspícios do Programa
de P&D da Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel.
8
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Texture, Mechanical Properties and Structure of Cornflakes', Food
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Porous Stones by Using X-ray Tomography', Nuclear Instruments
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TMicroelectronics Grenoble', Microelectronic Engineering, v.2,
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3D Surface Construction Algorithm', Computer Graphics, vol. 21,
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'Volume and surface measurements of flaws in polymeric
insulators using X-ray computed tomography'. Insight, Vol. 50, No
10, pp 554-559, 2008.
Reparos no vertedouro da UHE
Mourão: Aplicação de concretos
com adição de material
reciclado – 1ª parte
Repair in Mourão Power Plant spillway:
Application of recycled material concrete
admixtures – stage one
José Carlos Alves Galvão1, 2
Kleber Franke Portella1
Alex Joukoski1
Roberto Mendes1,2
Elizeu Santos Ferreira3
1
LACTEC - Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento
[email protected]
[email protected]
[email protected]
[email protected]
2
UFPR - Universidade Federal do Paraná, Programa de
Pós-Graduação em Engenharia (PIPE)
Resumo: A Usina Hidroelétrica Mourão (UHE Mourão),
localizada no município de Campo Mourão, a 450 km de
Curitiba, Estado do Paraná, região Sul do Brasil, foi inaugurada
em 1964 com potência instalada de 7.500 kW. Ao longo do
tempo foram identificadas patologias na superfície do
vertedouro da barragem. Com a finalidade de recuperar a
superfície hidráulica de concreto, neste trabalho foram
propostos materiais de reparo (MRs) que apresentam
desenvolvimento tecnológico e contribuem para a preservação
do meio ambiente. Para caracterizar os MRs com o uso de
materiais reciclados, foram realizadas misturas de concreto
com material reciclado de polietileno de baixa densidade
(PEBD), polietileno tereftalato (PET) e pneus inservíveis em
diferentes teores (0,5; 1,0; 2,5; 5,0 e 7,5%). Os materiais
obtidos foram comparados quanto às suas propriedades
mecânicas de resistência à compressão, tração e aderência
em laboratório, visando aplicações em campo em etapas
posteriores.
Palavras-Chave: Concreto com adição material reciclado,
material de reparo, reciclagem, superfície hidráulica, meio
ambiente.
1
Introdução
A Usina Hidroelétrica Mourão (UHE Mourão), construída em
concreto do tipo gravidade, foi inaugurada em 1964, com
uma potência instalada de 7.500 kW. Está localizada no
município de Campo Mourão, a 450 km de Curitiba, Estado
do Paraná, região Sul do Brasil. O reservatório da usina, com
volume de 65 milhões de metros cúbicos, é alimentado pelas
águas do rio Mourão. A barragem tem comprimento na crista
de 193 m e altura máxima de 19 m [1]. Na Figura 1 está
apresentada a vista geral do vertedouro da barragem da
UHE Mourão.
3
COPEL - Companhia Paranaense de Energia
[email protected]
Keywords: Recycled material concrete admixtures, repair
material, recycled, hydraulic surfaces, environment.
Figura 1: Vertedouro da barragem da UHE Mourão.
Nas inspeções realizadas por PORTELLA [2] e FERREIRA [3],
foi constatado que a face superficial do vertedouro apresentava
lascas ou delaminação devido a prováveis efeitos de cavitação
e erosão por abrasão.
O concreto é o material mais aplicado nas estruturas
hidráulicas. No decorrer do tempo essas estruturas estão
sujeitas aos mais variados tipos de degradações, sendo, então,
necessária à execução de manutenção das obras, além de
possíveis reparos. Para esses reparos pode-se empregar tanto
o concreto convencional, de mesma composição da estrutura
da base, quanto outros materiais de melhor desempenho [4].
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Abstract: The Mourao Hydroelectric Power Plant located in the
city of Campo Mourão, in the State of Parana, southern region
of Brazil, was inaugurated in 1964, with 7500 kW of installed
power. Defects in the spillway surface of the dam had been
identified throughout the time. With the purpose of recovering
the concrete hydraulic surface, repair materials were proposed
in this paper, considering technology development and
environment conservation. Concrete mixtures containing
recycled materials – low-density polyethylene (LDPE),
polyethylene terephthalate (PET) and waste tires – had its
performance tested in laboratory. Mechanical properties, such
as compressive strength, tensile strength and adherence were
evaluated using cylindrical concrete specimens. Results were
appraised and the best compositions were selected to be tested
on spillway surface of Mourão dam.
LATORRE [5] e LEONARDO [6] investigaram diversos
materiais com base polimérica e inorgânica para emprego
como MR de estruturas hidráulicas de concreto, tais como as
superfícies dos vertedouros, blocos de dissipação e muros
laterais das regiões das comportas. Pelas propriedades finais
obtidas para cada tipo de material, chegaram à conclusão pelo
uso de um tipo de argamassa de base epóxi e de um concreto
de alto desempenho com sílica ativa, por possuírem
desempenhos similares aos dos substratos das estruturas
hidráulicas pesquisadas.
1.1 Concreto com adição de materiais reciclados
A adição de materiais poliméricos reciclados ao concreto vem
correspondendo a uma nova perspectiva nas atividades de
pesquisa [7]. CHOI et al. [8] estudaram os efeitos nas
propriedades do concreto com adição de PET reciclado.
KHALOO et al. [9] observaram que a adição de partículas de
borracha de pneu proporcionou ao concreto maior ductilidade
nos ensaios de compressão, se comparado ao concreto sem
adição. Uma das vantagens do uso de plásticos reciclados no
concreto foi a redução de resíduos sólidos nos aterros
sanitários (SIDDIQUE et al. [10]).
GOMES FILHO [11] obteve, para um concreto com 5% de
borracha, resistência à compressão de 27,1 MPa, concluindo
pela possibilidade de seu uso em estruturas pré-moldadas,
obras estruturais ou na pavimentação de rodovias; outros
concretos
com teores de 10% e 15% apresentaram
resistências à compressão axial de 20,3 MPa e 19,0 MPa,
respectivamente, podendo ser utilizados em obras nãoestruturais, como “paver” e meio-fio. A mistura contendo 20%
de borracha não apresentou trabalhabilidade e resistência
suficientes para aplicação em pré-moldados, na sua forma
convencional; porém, não foi descartado o uso em pisos de
interiores.
A adequada destinação final dos rejeitos poliméricos e
elastoméricos, quando adicionados ao concreto para
recuperação de barragens, pode motivar o uso dessa prática
em outras aplicações menos importantes do ponto de vista
estrutural, mas preservando a qualidade almejada [4].
No presente estudo foi avaliado o desempenho em laboratório
de concretos com adição de materiais reciclados que podem
ser aplicados como MR na calha do vertedouro da barragem
UHE Mourão pela sua similaridade com o concreto da
estrutura. Também, foram apresentadas metodologias e traços
que poderão estender seus usos em outras barragens nas
quais sejam identificados defeitos similares. Considerando-se
os melhores desempenhos desses materiais, pode ser feita
aplicação em campo para avaliações mais completas de
durabilidade e submissão às solicitações ambientais in situ.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
2
Experimental
Esta seção apresenta os experimentos realizados no contexto
do trabalho.
2.1
Figura 2: Delaminação no revestimento do vertedouro da barragem da
UHE Mourão.
2.2
Extração de testemunhos
Para melhor determinação das condições da calha do
vertedouro da UHE Mourão foram extraídos testemunhos do
local.
Foram selecionados três pontos para fixação do equipamento
(HILTI DD 200) e, em cada ponto, foram feitas quatro
perfurações de 105 mm de diâmetro e, aproximadamente, 35
cm de profundidade, resultando, então, em 12 testemunhos de
concreto.
Os testemunhos foram destinados aos ensaios de resistência à
compressão e aderência.
2.3
Ensaios de aderência
As normas brasileiras vigentes não contemplam ensaios de
aderência de corpos-de-prova (CPs) de concreto. Esta
problemática fica evidente quando se necessitam determinar
as propriedades da interface entre concretos de diferentes
idades, como é o caso do MR depositado sobre a superfície de
um substrato qualquer.
Para os ensaios de aderência empregou-se uma adaptação da
NBR 15258/05 [12], executando-se uma tração direta entre o
testemunho de concreto e o MR, verificando-se, então, a
aderência entre os materiais. No procedimento foram avaliadas
diferentes pontes de aderência empregadas com o intuito de
melhorar a resistência da interface, reduzindo-se os efeitos de
borda entre os materiais novos e envelhecidos da estrutura.
2.4
Ensaios de resistência à compressão e tração por
compressão diametral
Os ensaios de resistência à compressão axial foram realizados
conforme a norma NBR 5739/07 [13]. Os ensaios de resistência
à tração por compressão diametral foram realizados conforme
a norma brasileira NBR 7222/94 [14].
2.5
Dosagens dos concretos com adição de materiais
reciclados
Inspeção no vertedouro da barragem
Na inspeção visual constatou-se a delaminação no
revestimento do vertedouro da barragem da UHE Mourão. Nos
pontos de delaminação verificou-se a eflorescência, originando
a patologia denominada de carbonatação, conforme
apresentado na Figura 2.
Para otimizar a quantidade proporcional de cada um dos
materiais constituintes do concreto (traço), foram realizados
estudos de dosagens, verificando-se a trabalhabilidade e,
posteriormente, os resultados dos testes de resistência à
compressão axial. O traço idealizado, considerando um
abatimento de cone estipulado em (30 ± 10) mm, foi de
1:1,93:3,07:0,45 (c:a:b:a/c), com consumo de cimento de 389
kg/m3. Este traço passou a ser considerado o concreto de
3
R e s istê n cia à co m p re ss ã o (M P a )
referência (CR), a partir do qual foram adicionados materiais
reciclados de polietileno de baixa densidade (PEBD),
polietileno tereftalato (PET) e pneus inservíveis em diferentes
teores (0,5; 1,0; 2,5; 5,0 e 7,5%).
Resultados
A seguir serão descritos os resultados em seus vários
aspectos.
3.1
Resistência dos testemunhos
30
25
20
15
10
0
0 ,5
1 ,0
2 ,5
5 ,0
7 ,5
T e o r d e ad iç ão (% )
Figura 3: Gráfico comparativo das resistências à compressão dos
diferentes concretos com adição de materiais reciclados e seus
respectivos teores, aos 28 dias.
5
Tipo de ruptura
cis alhada
próx. ao topo/base
cis alhada
R e sis tê n cia à tra çã o (M P a )
A3
B3
C3
35
0
Tabela 1: Resistência à compressão dos testemunhos.
Resistência à
compressão (MPa)
26,9
31,1
25,5
P E DB
PET
P NE U
CR
5
Na Tabela 1 estão listados os resultados dos ensaios de
resistência à compressão dos testemunhos de concreto
extraídos da calha do vertedouro da UHE Mourão.
CP
40
Os resultados de resistência à compressão dos testemunhos
de concreto extraídos da calha do vertedouro da UHE Mourão
servem de parâmetro para a confecção do MRs, os quais
devem apresentar resistência mecânica média similar à do
substrato, evitando-se surgimento dos chamados “efeitos de
borda” [15].
PEBD
PET
PNEU
CR
4
3
2
1
0
3.2
Ensaios de aderência
0
Na Tabela 2 encontram-se apresentados os resultados de
resistência de aderência dos diferentes tipos de pontes
aplicadas e o respectivo tempo de cura em dias.
0,5
1,0
2,5
5,0
T e or d e a d içã o (% )
7,5
Figura 4: Gráfico comparativo das resistências à tração por
compressão diametral dos diferentes concretos com adição de
materiais reciclados e seus respectivos teores, aos 28 dias.
4
Discussão
Tabela 2: Resistência de aderência.
Resistência de
aderência (MPa)
Idade
(dias)
Sem ponte de aderência
1,45
28
A seguir é feita uma discussão sob os aspectos de resistência
dos testemunhos, de aderência e à compressão e à tração por
compressão diametral.
Nata de cimento Portland
1,45
28
4.1
1,37
28
1,50
7
Verificou-se que existe oscilação da resistência mecânica à
compressão axial dos testemunhos de concreto extraídos da
UHE Mourão, indicando que os blocos foram confeccionados
com materiais diferentes, como pode ser constatada na
dimensão máxima característica dos agregados graúdos.
Pintura c om adesivo
acrílico
Adesivo estrutural à base
de resina epóxi
Resistência dos testemunhos
A resistência dos MRs deve estar entre 25 e 28 MPa para
manter a compatibilidade com o substrato.
3.3
Ensaios de resistência à compressão e à tração
por compressão diametral
Nas Figuras 3 e 4 estão apresentados, respectivamente, os
gráficos de resistência à compressão e à tração dos diferentes
tipos de materiais reciclados adicionados ao concreto e seus
teores utilizados, para a idade de 28 dias de cura.
4.2
Resistência de aderência
Os ensaios realizados demonstraram que o tipo de ponte de
aderência empregado não influenciou diretamente na
resistência de aderência, quando analisados aos 28 dias de
idade. Entretanto, para as idades iniciais, o tipo de ponte pode
trazer maior aderência entre o MR e o substrato.
Considerando que os vertedouros de barragens podem ser
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
Tipo de ponte aplicada
solicitados já nos primeiros dias após a aplicação do MR,
indica-se o uso de ponte de aderência de alta resistência inicial,
como é o caso do adesivo estrutural à base de resina epóxi
apresentado na Tabela 2.
4.3
Quando comparados em função da resistência à tração
mostrada na Figura 4, os materiais analisados tiveram
comportamento diferenciado. Os resultados indicaram um
comportamento diferenciado e sem relação direta entre a
resistência, o teor ou tipo de resíduo adicionado ao concreto
Em geral, os concretos com teor de 2,5% de adição de material
polimérico reciclado apresentaram os melhores resultados de
resistência à tração por compressão diametral.
Os teores de 2,5% e 5,0% podem ser adotados para aplicação
do material em campo, considerando-se a relação entre as
resistências à compressão e à tração. De ambos, o primeiro
teor apresentou maior relação; entretanto, o segundo tem a
vantagem da sua maior quantidade em massa na estrutura,
trazendo um maior benefício ambiental.
[3]
FERREIRA, E. S.; PORTELLA, K. F.; JOUKOSKI, A.; GALVÃO,
J. C. A. Desempenho de concretos com fibras de polipropileno e
polietileno tereftalato, em reparos de superfícies hidráulicas de
concreto - estudo de caso para recuperação da calha do
vertedouro da UHE Mourão. Relatório Técnico Bimestral
LACTEC – COPEL GER/ANEEL, 2007, 18 p.
[4]
GALVÃO, J. C. A. et al. Desempenho de Concretos com Adição
de Fibras Recicladas como Material de Reparo de Superfícies
Hidráulicas: Estudos para a Recuperação do Vertedouro da
UHE Mourão - 1º Etapa 50º Congresso Brasileiro do
Concreto. Salvador, IBRACON, 2008.
[5]
LATORRE, P. E. V., Estudo de argamassas para reparos de
estruturas de concreto sujeitas à abrasão, em locais com
umidade elevada. UFPR_PPGECC. Dissertação de
Mestrado, 2002. 88 p.
[6]
LEONARDO, C. R. Estudo de concreto de alto desempenho,
visando aplicação em reparos estruturais.
UFPR_PPGECC. Dissertação de Mestrado, 2002. 152 p.
[7]
GALVÃO, J. C. A. et al. Proposta do Uso de Resíduos
Poliméricos Reciclados como Adição em Concretos Destinados
a Reparos em Superfícies Hidráulicas Degradadas: Estudo de
Caso UHE Mourão. 5º Congresso Internacional sobre
Patologias e Reabilitação de Estruturas. Curitiba, 2009.
[8]
CHOI, Yun-Wang, MOON, Dae-Joong, CHUNG, Jee-Seung,
CHO, Sun-Kyu. Effects of waste PET bottles aggregate on the
properties of concrete. Cement and Concrete Research. v. 35,
p. 776-781, 2005.
[9]
KHALOO, A.; DEHESTANI, M.; RAHMATABADI, P. Mechanical
properties of concrete containing a high volume of tire–rubber
particles. Waste Management. v. 28, p. 2472–2482, 2008
Conclusões
Este trabalho apresentado é a primeira etapa de um projeto de
pesquisa e desenvolvimento [16] que visa analisar o
desempenho de diferentes MRs aplicados no vertedouro da
barragem da UHE Mourão.
[10]
SIDDIQUE, R.; KHATIB, J.; KAUR, I. Use of recycled plastic in
concrete: A review. Waste Management. v. 28, p. 1835-1852,
2008.
[11]
Na resistência à tração por compressão diametral não se
constatou relação direta entre o teor utilizado e a sua variação
na resistência.
GOMES FILHO, C. V. Levantamento do potencial de resíduos
de borracha no Brasil e avaliação de sua utilização na indústria
da construção civil. Dissertação de Mestrado. PRODETEC,
Curitiba, Paraná, 2007.
[12]
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR
15258 - Argamassa para revestimento de paredes e tetos Determinação da resistência potencial de aderência à tração.
Rio de Janeiro, 2005.
O teor de 2,5% de adição de resíduos poliméricos reciclados
apresentou as maiores resistências à tração por compressão
diametral para o PET e PEBD.
Espaço Energia - Número 11, Outubro 2009
PORTELLA, K. F., ELIAS, M. M., NOGUEIRA, J. R., MARQUES
FILHO, J. Relatório de inspeção da estrutura de concreto da
barragem da Usina Hidroelétrica Mourão. Relatório Técnico
LACTEC_AMAT 0554. 2000. 35 p.
Resistência à compressão e à tração por compressão
diametral
Considerando-se as resistências à compressão axial dos MRs
trabalhados e do CR, apresentadas na Figura 3, verificou-se
para os três materiais que o teor limite ideal na mistura ficou
estabelecido em 2,5% em peso, tendo o concreto contendo
PET o melhor desempenho neste teor, com (36,0 ± 0,5) MPa,
seguido pelos outros dois materiais (PEBD 2,5% e PNEU
2,5%), com valores muito próximos entre si, de (33,9 ± 0,5)
MPa e (33,7 ± 0,5) MPa, respectivamente, aos 28 dias.
5
[2]
[13]
A adição de materiais reciclados contribuiu para uma redução
na resistência à compressão do concreto. Quanto maior foi o
teor utilizado menor foi a resistência à compressão verificada.
No entanto, os valores verificados não impedem a sua
utilização como MRs.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR
5739 - Concreto - Ensaio de compressão de corpos-de-prova
cilíndricos. Rio de Janeiro, 2007.
[14]
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR
7222 - Argamassa e concreto - Determinação da resistência à
tração por compressão diametral de corpos-de-prova
cilíndricos. Rio de Janeiro, 1994.
6 Agradecimentos
[15]
PORTELLA, K. F., KORMANN, A. C. M., PEREIRA, P. N.,
SANTOS, R. P., Desenvolvimento de metodologia executiva e
pesquisa de materiais para execução de reparos em estruturas
de concreto (aparentes e submersas) de barragens. Manual de
Reparos. Duke Energy International Geração
Paranapanema/Aneel, 37, 2001.
[16]
GALVÃO, J. C. A. Uso de materiais poliméricos reciclados
em estruturas de concreto para superfícies hidráulicas.
Tese de doutorado em desenvolvimento na UFPR/PIPE,
Curitiba, Paraná, 2009.
Os autores deste trabalho agradecem à COPEL, à ANEEL, ao
LACTEC, à CAPES, ao CNPq (processo 303729/2008-2) e à
UFPR/PIPE, pelo apoio na execução do estudo.
7
[1]
Referências
PORTELLA. K. F., et al.. Patologias em concreto tipo gravidade
de barragem de usina hidroelétrica com 40 anos de vida útil:
UHE Mourão, 4º Congresso Internacional sobre Patologias
e Reabilitação de Estruturas. Aveiro, Portugal, 2008.
Auscultação geodésica
Qualidade de aterramentos
Sustentabilidade do biodiesel
Canola e biodiesel
Tomografia industrial 3D
Concreto e material reciclado
Auscultação geodésica
Qualidade de aterramentos
Sustentabilidade do biodiesel
Canola e biodiesel
Tomografia industrial 3D
Concreto e material reciclado
Energia
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