o processo de globalização - Conselho Económico e Social

Transcrição

o processo de globalização - Conselho Económico e Social
CONSELHO ECONÓMICO E SOCIAL
GLOBALIZAÇÃO
DOCUMENTOS DE SUPORTE AO PARECER “ GLOBALIZAÇÃO IMPLICAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL”
LISBOA, 1997
1
ÍNDICE
O Processo de Globalização: Implicações para Portugal
Vítor Corado Simões
A Internacionalização das Empresas Industriais Portuguesas:
Caracterização e Perspectivas
Vítor Corado Simões
3
24
O Investimento Directo Estrangeiro em Portugal
Miguel A. T. Coelho
50
A Indústria Portugal Versus Dragões Asiáticos
João Abel de Freitas
Julieta Estêvão
100
2
O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO:
IMPLICAÇÕES PARA PORTUGAL
Vítor Corado Simões
Texto elaborado para o Conselho Económico e Social em 12 de Julho de 1996
3
SUMÁRIO
1. Introdução
2. Globalização: Caracterização e Principais Facetas
3. A Globalização das Estratégias Empresariais
4. Portugal e a Globalização
5. Pistas para Análise
4
1. INTRODUÇÃO
O objectivo básico do presente texto é o de introduzir um conjunto de pistas
orientadoras de uma reflexão sobre o impacto da globalização na economia
portuguesa.
O texto está organizado em quatro partes.
Na primeira procede-se a uma caracterização sucinta do fenómeno da globalização
e das suas principais dimensões. Serão igualmente abordadas as implicações genéricas
da globalização sobre o papel dos Estados-Nação.
A segunda é dedicada à análise do processo de globalização das estratégias
empresariais. Serão focadas nomeadamente as orientações estratégicas das grandes
empresas multinacionais, os mecanismos de geração e transferência de tecnologia à
escala mundial e a formação de alianças estratégicas, referindo-se de seguida as suas
implicações sobre os fluxos internacionais de comércio e de investimento.
O ponto de situação sobre as consequências da globalização na economia
portuguesa constitui o tema da terceira parte. Embora se possam identificar casos de
sucesso na internacionalização e uma sensibilização crescente das empresas
portuguesas para a necessidade da internacionalização, os desenvolvimentos
verificados nos últimos dez anos apontam para o facto de as empresas estrangeiras
terem tido um papel muito mais activo que as empresas domésticas na
internacionalização da economia portuguesa, aproveitando nomeadamente as
oportunidades oferecidas pela integração europeia. Por outro lado, para a generalidade
dos agentes económicos portugueses a globalização foi encarada como algo de
distante e de secundário face aos desafios colocados pelo processo de integração
europeia.
No capitulo final são apresentados sete temas que nos parecem justificar trabalhos
de investigação aplicados à realidade portuguesa. Os temas seleccionados são os
seguintes: globalização e novas características dos fluxos comerciais; o carácter
sistémico dos fluxos de investimento e o processo de globalização; razões e
tendências de evolução dos desinvestimentos das empresas com capital estrangeiro
em Portugal; o impacto dos investimentos internacionais sobre o emprego em
Portugal; oportunidades de inserção das empresas portuguesas em redes de
cooperação transnacionais; globalização, sistema nacional de inovação e investimento
estrangeiro; e relações ibéricas e integração europeia.
2. GLOBALIZAÇÃO: CARACTERIZAÇÃO E PRINCIPAIS FACETAS
O termo globalização está longe de assumir significado idêntico para todos, o que
gera equívocos e imprecisões. Este facto não é surpreendente tendo em conta a
diversidade de dimensões que o termo pode recobrir, como veremos mais adiante.
Torna-se, no entanto, necessário fornecer uma definição do que se entende por
5
globalização e explicitar quais as facetas que mais nos interessam, de modo a facilitar
a compreensão deste texto.
Entendemos globalização como o processo de desenvolvimento das inter-relações
à escala mundial, em que cada país está ligado aos outros através de uma complexa
teia de laços e de acontecimentos, de tal modo que decisões e acções tendo lugar
numa parte do Mundo podem acarretar consequências significativas para indivíduos
ou organizações localizados em áreas distantes1. Este processo foi facilitado pelo
progresso no domínio das tecnologias dos transportes, das comunicações e dos
sistemas de informação, as quais permitiram a circulação de bens, serviços, pessoas,
capitais e conhecimentos indispensável à aceleração das inter-relações nos campos
cultural, social e económico. Um agente decisivo, mas não exclusivo, da globalização
têm sido as grandes empresas multinacionais2. A sua acção tem-se feito sentir não
apenas na produção e venda de bens e serviços num número crescente de mercados,
mas também no estabelecimento de estratégias à escala planetária e na sua
implementação através de estruturas organizadas e articuladas como verdadeiras redes
mundiais.
Convirá ressalvar, por outro lado, que o grau de envolvimento dos diferentes países
neste processo é substancialmente diferente. Globalização significa prima facie
triadização, isto é, inter-relacionamento entre as três grandes áreas desenvolvidas do
Globo - Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão. A sua influência sobre os países
em desenvolvimento é variável, desde o envolvimento fortíssimo dos países do Sueste
Asiático à quase omissão da África sub-Saariana.
A globalização da economia e da sociedade comporta diversas dimensões ou
facetas relacionadas entre si, das quais destacaremos as seguintes3:
• Globalização Financeira, associada à desregulamentação dos sistemas
financeiros nacionais, à liberalização da circulação de capitais, ao
desenvolvimento de novos serviços e novos mercados financeiros e ao
movimento de fusões e aquisições.
• Globalização da Produção e dos Mercados, através do reforço e integração
das redes mundiais das empresas multinacionais, tanto no plano da
racionalização das actividades produtivas como no da comercialização.
• Globalização da Tecnologia, traduzida designadamente na consolidação de
três grandes pólos de inovação e desenvolvimento tecnológico (Estados
Unidos, Europa Ocidental e Japão) e na tentativa de aproveitamento das
competências específicas existentes em certos países em desenvolvimento,
1
Esta definição baseou-se fundamentalmente nas propostas de John Dunning (Internationalizing
Porter’s Diamond, Management International Review, Special Issue, 1993/2, p. 8) e de Anthony
McGrew e Paul Lewis (Globalisation and the Nation States, Polity Press, Cambridge, 1992, cit. in
Grupo de Lisboa, Limites à Competição, Europa América, Lisboa, 1994, p. 47)
2
O termo empresa multinacional é utilizado aqui na acepção ampla de uma empresa que controla,
coordena e desenvolve actividades geradoras de valor acrescentado em diversos países.
6
através da sua integração em redes internacionais; o recente Livro Verde
sobre a Inovação4, publicado pela Comissão Europeia, constitui um
testemunho claro da preocupação da Comissão quanto às debilidades da
Europa face aos desafios colocados pela globalização da tecnologia.
• Globalização das capacidades reguladoras, a qual neste momento não tem
ainda uma expressão muito significativa. No entanto, os acordos do Uruguay
Round que conduziram à formação da Organização Mundial da Comércio
correspondem a um passo significativo naquele sentido; numa outra
perspectiva, as reuniões periódicas do Grupo dos Sete países mais
industrializados traduzem igualmente uma pretensão de estabelecimento de
regras de harmonização de comportamentos com repercussões em toda a
economia mundial. No último relatório da UNCTAD sobre o investimento
internacional considera-se “quase inevitável que seja elaborado um quadro
orientador de modo a contribuir para a estabilidade, predictability e
transparência ao nível multilateral”5, sugerindo-se que os elementos desse
quadro se encontram já na Acta Final do Uruguay Round.
• Globalização dos modos de vida e padrões de consumo, expressa numa
significativa aproximação dos desejos, aspirações e padrões de consumo das
populações, a qual permite o lançamento de marcas, produtos e campanhas
publicitárias à escala mundial, ainda que com adaptações locais.
• Globalização das percepções e da consciência, resultante da convicção
crescente de que vivemos num universo onde os recursos são finitos e devem
ser preservados, tanto mais que erros cometidos num determinado momento
e lugar se podem repercutar em todo o planeta, no imediato e/ou no futuro. O
movimento ecológico tem sido, aliás, decisivo para reforçar esta consciência
de cidadãos planetários, a qual não pode ser desligada também da
extraordinária expansão da Internet6. De igual modo, a preocupação com os
direitos humanos tem levado algumas empresas a estabelecer códigos de
comportamento aplicáveis às suas filiais e aos seus subcontratados, como
sucedeu com a Nike e a Reebok, para citar dois exemplos da indústria de
calçado.
A globalização constitui um desafio para os Estados Nação, tanto mais que tem
sido acompanhada pela intensificação dos processos de integração regional, mais ou
menos aprofundados, em todos os continentes, desde a América (NAFTA e Mercosur)
3
Esta perspectiva beneficiou da sistematização apresentada in Grupo de Lisboa, Limites à Competição,
Europa América, Lisboa, p. 46.
4
Comissão Europeia, Green Paper on Innovation, Bruxelas, 1995
5
United Nations, World Investment Report 1995 - Transnational Corporations and Competitiveness,
Nova Iorque, 1995, p. li
6
Refira-se, a propósito, que o principal titulo do Financial Times de 10 de Julho passado, respeitava à
primeira acção on line desenvolvida pelos sindicatos a nível mundial, utilizando a Internet para
7
à Ásia (ASEAN), passando pela Europa. Este desafio é ainda ampliado pelo facto de
as vantagens competitivas se basearem cada vez mais em “activos criados”, baseados
no conhecimento e desenvolvidos no interior das empresas através de mecanismos de
inovação tecnológica e organizacional, e não em recursos naturais. A margem de
manobra dos Estados-Nação, confrontados simultaneamente com o poder das grandes
empresas membros de oligopólos mundiais e com a integração regional, é hoje menor
do que há duas décadas.
Contudo, uma análise mais aprofundada do padrão de relações entre as políticas
nacionais e as estratégias empresariais mostra que os Estados continuam a ter um
papel relevante a desempenhar. A “competitividade” dos Estados depende da sua
capacidade para desenvolver políticas que: (i) confiram às empresas da base
doméstica os recursos e as competências necessárias para concorrerem em mercados
mundializados; e (ii) dinamizem economias de aglomeração susceptíveis de atraírem
investidores externos e de estimular o desenvolvimento de iniciativas empresariais
endógenas. Nesta perspectiva existe uma inter-acção entre os Estados e as empresas
na qual os Estados desempenham um papel decisivo, nomeadamente nos seguintes
planos: (a) financiamento das infra-estruturas físicas essenciais à circulação de
pessoas, serviços, bens e informação; (b) financiamento do desenvolvimento de
competências (educação, formação, disseminação da informação, investigação
básica); (c) fornecimento de incentivos aos esforços empresariais em I&D e na
inovação tecnológica e organizacional; (d) apoio ao desenvolvimento e afirmação
internacional das empresas nacionais e da sua inserção em redes; e (e) promoção de
condições locacionais susceptíveis de atraírem empresas internacionais, gerando
mecanismos de relacionamento mutuamente benéficos.
3. A GLOBALIZAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS
Como se referiu, as empresas multinacionais têm sido protagonistas fundamentais
do processo de globalização. A sua capacidade de desenvolver activos intangíveis –
por exemplo, nos planos da competência tecnológica, da inovação organizacional e da
gestão da imagem – e de os transferir, articular e explorar internacionalmente constitui
um elemento fulcral para a sua afirmação competitiva e expansão internacional. Por
outro lado, a localização em múltiplos países confere às empresas possibilidades
acrescidas de aproveitamento de oportunidades e de exploração de sinergias, tendo em
conta as vantagens específicas oferecidas por cada país enquanto localização de
investimento. Como refere Cantwell, as empresas multinacionais tornaram-se
“organizadores globais de sistemas económicos, incluindo sistemas de
desenvolvimento tecnológico em diferentes partes do Mundo”7.
pressionar a Bridgestone no segundo aniversário do despedimento colectivo de ex-trabalhadores da
Firestone na sequência da sua aquisição pela Bridgestone.
7
John Cantwell, Technological Innovation and Multinational Corporations, Oxford, Blackwell, 1989,
p. 10.
8
Na verdade, a vertente tecnológica tem sido um dos principais eixos da afirmação
internacional das empresas multinacionais, envolvendo designadamente três
movimentos:
• Exploração internacional das competências tecnológicas internas à empresa,
procurando comercializar os produtos no maior número de mercados possível e
estabelecer redes de produção internas e/ou relações de subcontratação de modo a
minimizar os custos globais de concepção e fabrico dos produtos. No sector
automóvel, por exemplo, a articulação do fabrico de componentes, à escala
continental ou mesmo planetária, envolvendo a contribuição de diferentes filiais e de
redes hierarquizadas de fornecedores é hoje uma evidência. As empresas
multinacionais aproveitam, por outro lado, as oportunidades de circulação de
mercadorias oferecidas pela integração regional para especializarem as suas filiais por
produtos ou por processos, de modo a beneficiar das vantagens específicas de cada
localização. Em alguns países este movimento de racionalização produtiva à escala
regional conduziu ao encerramento de unidades produtivas, com as consequentes
implicações no plano do emprego. Em certos casos, actividades relativamente
secundárias, em termos estratégicos são pura e simplesmente transferidas para países
de mais baixos salários. Assim, a Swissair transferiu, em 1993, a sua contabilidade
para a sua filial indiana, em Bombaim (cujo capital é detido em 25% por uma empresa
indiana de serviços de consultoria).
• Expansão dos acordos de cooperação – Alguns autores sugerem que o sistema
capitalista entrou numa fase caracterizada pelas alianças entre empresas, as quais se
destinam a fornecer aos parceiros competências para competirem em termos globais8.
A cooperação pode: (a) ser coordenada por uma grande empresa que actua como
ponto focal de uma rede de fornecedores, frequentemente ligados através de sistemas
telemáticos; (b) ter lugar entre empresas com competências produtivas e/ou
comerciais complementares; ou (c) envolver empresas concorrentes que resolvem
aliar-se, em áreas a montante, de modo a reforçarem as respectivas posições
competitivas. A cooperação assume formas diversas, desde projectos conjuntos de
I&D, investigação sob contrato e licenças cruzadas à produção conjunta e mesmo ao
cruzamento de participações no capital. As razões da cooperação são várias, incluindo
nomeadamente a partilha de custos, a redução de incerteza na concepção e lançamento
de novos produtos, a definição de normas e padrões internacionais, o estabelecimento
de barreiras à entrada de novos concorrentes, a penetração mais rápida e/ou o
alargamento dos mercados e o aproveitamento de sinergias e complementaridades
entre os parceiros. Pode afirmar-se que a cooperação de base tecnológica constitui um
instrumento para os parceiros reforçarem a sua capacidade de internalizar
conhecimentos a uma escala global.
8
Conferir, entre outros, M. L. Gerlach, Alliance Capitalism: The Social Organisation of Japanese
Business, Oxford, Oxford Press, 1992; e John H. Dunning, Reappraising the Eclectic Paradigm in an
Age of Alliance Capitalism, Journal of International Business Studies, Vol. 26 n.º 3, p. 461-491, 1994.
9
• Exploração das oportunidades de geração e absorção de tecnologia no plano
internacional – Num mundo onde a liderança tecnológica é tri-polar torna-se
indispensável ter também uma localização múltipla das actividades de investigação e
desenvolvimento tecnológico, designadamente em áreas caracterizadas por elevadas
dinâmicas de inovação. Embora alguns autores sustentem que o grosso da actividade
inovadora das empresas multinacionais está localizada nos seus países de origem e
que esta característica não se tem alterado significativamente, outros consideram que
a parcela de inovações geradas fora dos países de origem tem vindo a aumentar
sistematicamente. Sem pretender tomar uma posição definitiva neste diferendo,
tendemos a perfilhar a segunda perspectiva, basicamente por duas razões. A primeira
decorre do movimento de implantação de filiais de “captação de competências”
efectuada, por exemplo, por empresas coreanas e da Formosa no Silicon Valley com o
objectivo de adquirir conhecimentos e estabelecer relações que lhe permitissem dar
“saltos qualitativos” no domínio da electrónica. A segunda respeita aos novos
desenvolvimentos da gestão transnacional da inovação, procurando estimular os
contributos das diferentes filiais para o lançamento de novos produtos para o mercado
mundial. Esta contribuição múltipla é extremamente facilitada pelo desenvolvimento
dos sistemas de telecomunicações e de transferência electrónica de dados. Por
exemplo, o modelo Ford Mondeo foi concebido por uma equipa integrada de I&D ao
nível da Ford Europa, ligada por redes telemáticas a outros centros de I&D e de
produção da Ford na Europa e nos Estados Unidos.
Num momento em que a generalidade dos países procura captar investimento
estrangeiro9 (na expectativa de que as filiais estrangeiras possam ter um contributo
positivo para ultrapassar o problema omnipresente do desemprego e para dinamizar as
exportações, reforçar a capacidade tecnológica e modernizar as práticas
organizacionais e de gestão) convirá reflectir um pouco sobre as implicações dos três
movimentos acima referidos para os países potenciais receptores de investimento
internacional.
Gostaríamos de sublinhar, em termos muito breves, seis pontos que nos parecem da
maior importância:
• Peso crescente do comércio intra-empresa nos fluxos de comércio internacional –
Sendo as redes internas às empresas multinacionais cada vez mais abrangentes e
continuando a tendência para a especialização das filiais, a circulação internacional de
produtos intra-firma vai assumindo uma importância que não se pode negligenciar. De
acordo com as Nações Unidas, cerca de um terço do comércio mundial tem lugar no
seio das empresas multinacionais. Este peso é ainda mais acentuado se consideramos
também os fluxos comerciais efectuados no interior de redes de sub-contratação
internacional lideradas por aquelas empresas. Consequentemente, as políticas
comerciais estão cada vez mais estreitamente ligadas às políticas de investimento
9
Segundo o World Investment Report de 1995, apenas 5 num total de 373 alterações legislativas e
regulamentares efectuadas em mais de 60 países no período 1991-94 não foram no sentido de uma
maior liberalização.
10
estrangeiro, tornando-se indispensável contemplar especificamente os fluxos intraempresa.
• O desenvolvimento de ligações entre as empresas de capital estrangeiro e as
empresas nacionais tem de ser encarado numa perspectiva espacial que
frequentemente ultrapassa as fronteiras - Com a integração regional, os mercados
domésticos perdem relevo como determinante do investimento. Consequentemente, a
possibilidade de utilização, pelas autoridades nacionais, de vantagens de mercado
como contrapartida do estabelecimento de ligações entre investidores estrangeiros e as
empresas nacionais (como sucedeu, por exemplo, no caso do projecto Renault) é
fortemente restringida. Além disso, o acordo relativo às TRIM (Trade Related
Investment Measures) no âmbito do Uruguay Round vem condicionar ainda mais a
possibilidade de estabelecimento de trade-offs directos entre incentivos e desempenho
do investimento no plano comercial, designadamente da substituição de importações.
Neste contexto, as ligações entre empresas nacionais e filiais estrangeiras terão de ser
promovidas: (1) no quadro de economias de proximidade, estimulando o
desenvolvimento de clusters já existentes ou a dinamização de novos clusters; e/ou
(2) promovendo a inserção de empresas nacionais, como fornecedores directos, em
redes internacionais de abastecimento de grupos multinacionais. Neste processo,
ligações anteriormente estabelecidas no espaço nacional podem ser um instrumento
importante para credibilizar as empresas domésticas potenciais fornecedoras.
• A atracção de investimento estrangeiro estruturante e criador de elevado valor
acrescentado depende da capacidade dos Estados para promoverem o
desenvolvimento de competências internas adequadas – A importância crescente dos
factores intangíveis e do acesso a recursos humanos qualificados nas decisões de
investimento (especialmente no espaço tríadico) conduz à existência de um “nível
mínimo de congruência” entre as características desejadas do investimento estrangeiro
e as condições de localização oferecidas pelo país receptor. Se tal congruência não
existir, o custo marginal dos incentivos necessários para convencer a empresa
estrangeira a estabelecer-se no país serão bastante superiores aos benefícios marginais
a obter. As possibilidades de cooperação e de transferência de tecnologia são muito
limitadas quando o fosso entre as capacidades da empresa estrangeira e o tecido
produtivo local é grande, pelo que o investimento estrangeiro tende a assumir um
carácter de enclave, divorciado das empresas locais.
• A duração de vida das unidades produtivas estrangeiras é cada vez mais limitada
– A evolução tecnológica conjugada com a especificidade das unidades fabris e o
encurtamento do ciclo de vida dos produtos conduz a que a duração de vida das
implantações tipo filial produtiva racionalizada, orientadas para o mercado externo,
seja hoje relativamente limitada, não ultrapassando frequentemente os dez anos.
Consequentemente, a menos que o país continue a configurar-se como uma
localização interessante, surgirão, a mais ou menos breve trecho, desinvestimentos
11
que deverão ser tidos em conta nas análises custo-benefício efectuados na fase de
negociação dos projectos e de atribuição de incentivos.
• Possíveis efeitos de desvio de investimentos resultantes do surgimento de novas
áreas de atracção – Os países do Sueste Asiático, encabeçados pela China, têm vindo
a receber uma fracção crescente do investimento internacional, correspondente a mais
de 70% do IDE dirigido aos países em desenvolvimento em 1994. A maioria dos
fluxos tem origem na própria região, enquanto os investimentos oriundos da Europa
são reduzidos (menos 10%). Prevê-se, aliás, que no futuro próximo a tendência
marcante será o reforço do investimento na Ásia, ao passo que a atractividade da
Europa Ocidental continuará a declinar. Simultaneamente, poder-se-á antecipar uma
aceleração do investimento na Europa Central e de Leste, no caso de a transição em
curso se processar com sucesso. A perspectiva deste duplo movimento não poderá
deixar de ser tida em conta pelos países menos desenvolvidos da Europa Ocidental na
formulação das suas políticas de IDE.
• O movimento de expansão dos acordos de cooperação de base tecnológica
concentrou-se quase exclusivamente nos países mais avançados, ao passo que a
periferia de União Europeia ficou à margem – Com efeito, concentrando a análise nos
acordos de base tecnológica (excluindo as relações de subcontratação da produção e
os acordos de licença uni-direccionais) verifica-se uma acentuada concentração nos
países tecnologicamente mais desenvolvidos, que dispõem de um número
significativo de multinacionais “de base doméstica”. Segundo J. Hagedoorn e R.
Narula10, os países da Comunidade podem classificar-se em três grupos: (a) Os
líderes, caracterizados por um nível elevado de alianças tecnológicas (Alemanha,
Reino Unido e França, mas também Itália e Holanda); (b) Os intermédios,
correspondendo a pequenos mercados tecnologicamente sofisticados (Bélgica e
Dinamarca) ou a países grandes tecnologicamente menos avançados (Espanha); e (c)
Os esquecidos, países pequenos, sem multinacionais “próprias” e, em regra,
tecnologicamente menos avançados (Grécia, Irlanda e Portugal, para além do
Luxemburgo), cujas empresas são raramente procuradas como parceiros para o
estabelecimento de alianças de base tecnológica.
4. PORTUGAL E A GLOBALIZAÇÃO
Da análise do processo de internacionalização da economia portuguesa nos últimos
dez anos podem-se retirar duas conclusões básicas:
• A integração europeia modelou e “filtrou” o impacto da globalização sobre a
economia portuguesa, pelo que, para Portugal, a globalização acabou por ser
10
John Hagedoorn e Rajnesh Narula, Choosing Models of Governance for Strategic Technology
Partnering: International and Sectoral Differences, in Krzysztof Obloj, ed, High Speed - Competition in
a New Europe, Univ. Varsóvia, Varsóvia, 1994, p. 103. A análise refere-se aos acordos celebrados no
período 1980-1993.
12
encarada prima facie como um processo de crescente inter-penetração com
as economias da Comunidade, especialmente da Europa Comunitária.
• A internacionalização da economia portuguesa foi fundamentalmente uma
internacionalização passiva: as empresas portuguesas, não obstante algumas
excepções, foram menos dinâmicas que as suas concorrentes estrangeiras no
aproveitamento das novas condições de expansão internacional.
Estas conclusões carecem, no entanto, de ser melhor explicitadas e desenvolvidas.
Vamos fazê-lo procedendo à identificação das principais forças e actores subjacentes
àquele processo de internacionalização.
A internacionalização da economia portuguesa pode ser considerada como o
resultado de três factores inter-relacionados: a integração europeia, a liberalização do
sistema económico e o processo de globalização. O primeiro foi, a nosso ver, o
principal. Dele resultaram, por um lado, a obtenção de significativos recursos
financeiros aplicados em programas de modernização das infra-estruturas e de
incentivos aos investimento industrial (especialmente no periodo 1989-92) e, por
outro, um aprofundamento das trocas comerciais com a Comunidade e um boom –
concentrado no quinquénio 1987-91 – do investimento estrangeiro, especialmente do
proveniente de outros países da Comunidade.
Pode afirmar-se que o processo de integração correspondeu simultaneamente a um
reforço e a uma diluição dos laços entre Portugal e a economia mundial. Reforço, na
medida em que Portugal se tornou, em príncipio, mais aberto ao Mundo e à inserção
em redes trans-nacionais. Mas também diluição, uma vez que a integração na
Comunidade acabou por funcionar como filtro, um “mediador” da relação entre
Portugal e a economia mundial: a preocupação de aprofundar as ligações com a
Europa acabou por condicionar, e em alguns casos inviabilizar, a manutenção ou o
estabelecimento de laços económicos com espaços extra-Europeus. Bastará olhar para
as estatísticas relativas ao comércio externo e ao investimento internacional.
A globalização não tem sido percepcionada como um desafio relevante pela
maioria dos agentes económicos portugueses. O principal, e mais imediato, desafio
tem sido o da integração europeia, para não falar da integração ibérica. As empresas
portuguesas têm-se preocupado sobretudo com a concorrência acesa de outros
fabricantes comunitários quer nos mercados europeus, quer no mercado interno. Em
alguns sectores é igualmente sentida a competição de empresas asiáticas e, mais
recentemente, da Europa Central e de Leste. Houve empresas que responderam
ofensivamente, instalando unidades comerciais e procurando criar redes comerciais
em outros países membros, nomeadamente em Espanha; em certos casos, estes
movimentos implicaram a aquisição de empresas sediadas nesses países (como
sucedeu com a Sonae e a Cimpor em Espanha, com a Growella no Reino Unido, com
o Grupo Amorim na Suécia ou com a Autosil em França). Outras tentaram reduzir
custos para se manterem competitivas, ou acabaram por aceitar acordos de subcontratação para grandes clientes europeus, nomeadamente cadeias de distribuição;
13
em muitas ocasiões esta opção acabou por determinar um esmagamento das margens,
acabando a empresa por funcionar como uma “empresa por conta de outrem” – para
usar a feliz expressão de Maria Manuel Marques –, com uma cadeia de valor
truncada. Outras, ainda, olharam para África, muitas vezes com a esperança de
encontrar um refúgio, um espaço onde “quem tem um olho é rei”; as vicissitudes dos
maiores países africanos de expressão portuguesa acabam por frustrar estes intentos.
Em síntese, com excepção de umas poucas empresas com maior envergadura e/ou
com mercados mais diversificados, a globalização foi encarada como algo distante especialmente até à conclusão dos acordos do Uruguay Round. O desafio fundamental
estava (e está) na Europa.
As empresas estrangeiras assumiram indubitavelmente a liderança do processo de
internacionalização da economia portuguesa, designadamente através dos
investimentos efectuados no período 1987-91. O seu peso nas exportações
portuguesas aumentou significativamente, tanto através de exportações directas de
filiais como das relações de sub-contratação estabelecidas com fabricantes nacionais;
este ano, registou-se novo “salto” na parcela das empresas de capital estrangeiro em
consequência das exportações da Auto-Europa.
As empresas estrangeiras que investiram em Portugal, e nomeadamente as grandes
multinacionais, encaram, em regra, a globalização de uma forma mais atenta e
empenhada. Algumas delas são mesmo protagonistas desse processo. A joint-venture
entre a Ford e a Volkswagen (Auto-Europa) vem na esteira de outros acordos de
cooperação entre as duas empresas em outras regiões (como é o caso do Brasil) e não
pode ser dissociada da preocupação de responder a rivais globais que já haviam
lançado veículos do mesmo tipo, como a Renault ou a Toyota.
Todavia, a decisão de investimento em Portugal – neste caso, como na maioria dos
outros – foi tomada porque o País é membro da União Europeia. Portugal é, pois,
encarado pelos investidores internacionais prima facie como “um lugar na Europa” e
não como uma localização independente, autónoma. Boa parte dos investimentos
estrangeiros em Portugal não foram motivados pela pressão da globalização, mas
principalmente para tirar partido das vantagens oferecidas por Portugal enquanto
localização no espaço europeu. Pode afirmar-se que a vaga de investimento
estrangeiro observada em 1987-91 foi principalmente devida às novas oportunidades
abertas pela conjugação entre a integração regional e a integração empresarial na
Europa Ocidental.
A globalização não deixa, porém, de estar presente como pano de fundo – e será
porventura mais evidente a sua influência nas decisões de desinvestimento que nas de
investimento. Por exemplo, o processo de desinvestimento da Renault em Setúbal não
pode ser desligado da estratégia global da empresa e das suas decisões de localização
às portas da Comunidade (Eslovénia) e na América Latina.
É de sublinhar, aliás, o facto de em 1995, de acordo com elementos recentemente
publicados pelo Banco de Portugal o valor líquido do investimento português no
14
exterior ter ultrapassado, pela primeira vez nos últimos trinta anos11, o do
investimento estrangeiro em Portugal: 91 contra 80 milhões de contos,
respectivamente (Quadro 1). O nível extraordinariamente elevado de desinvestimentos
de empresas estrangeiras em Portugal (526 milhões de contos) foi o principal motivo
da inversão do peso relativo dois dois fluxos12. Tal nível correspondeu a cerca de
quatro vezes o registado em 1994, tendo respeitado sobretudo à indústria
tranformadora (60% do valor total dos desinvestimentos).
O investimento português no exterior em 1995 não chegou a ultrapassar o máximo
registado em 1992 (92 milhões de contos), ano em que se verificou a conjugação de
alguns projectos de grande dimensão. De facto, os valores anuais continuam
dependentes da ocorrência ou não de grandes projectos de investimento que podem
enviesar sensivelmente os resultados. É inquestionável, no entanto, que, após um
período de interrogações sobre as vantagens de investir no exterior, as empresas
portuguesas reconhecem cada vez mais a necessidade de se internacionalizarem.
Muitas delas defrontam-se, porém, com o problema da dimensão, da inexistência de
massa crítica, não apenas no plano dos recursos financeiros, mas também ao nível dos
recursos humanos e do mix de produtos comercializáveis no exterior.
A União Europeia continua, sem surpresas, a ser o principal destino dos
investimentos, cabendo aos outros países da OCDE apenas 5% e aos PALOP 3%. A
Espanha é, em termos individuais, o mercado preferencial, tendo concentrado cerca de
56% dos investimentos em 1995, cabendo à França o segundo lugar com ligeiramente
mais de 10%. Isto é, a inserção na Europa continua a prevalecer claramente e a
“filtrar” a percepção dos efeitos da globalização.
As empresas portuguesas foram lentas a reagir. Muitas continuam a adoptar
atitudes passivas: exportam, mas de facto não vendem nos mercados externos – são os
clientes que compram. Mas o movimento de internacionalização começa a ganhar
alguma velocidade. Há “pontas de lança” que toda a gente conhece:
– o investimento da Sonae, adquirindo a Tafisa (aglomerados de madeira),
empresa espanhola com investimentos também no Canadá, e planeando a
expansão das suas actividades para a África do Sul e a China;
– a consolidação da Autosil entre os principais fabricantes europeus de
baterias, através dos investimentos realizados em França (aquisição da Steco
e criação de uma nova unidade fabril em Brive);
– a expansão multifacetada do grupo Jerónimo Martins, investindo na Polónia
e no Reino Unido em dois segmentos de negócio sensivelmente diferentes:
cash-and-carry na Polónia e artigos de desporto topo-de-gama no Reino
Unido (aquisição da Lillywhites);
11
Dizemos trinta anos porque dispomos de estatísticas fiáveis sobre os fluxos de investimento
internacional a partir de 1964. Cremos contudo que o periodo referido poderá ser, sem grande margem
de erro, estendido a todo o pós-guerra.
15
– a implantação aparentemente bem sucedida de três grandes empresas com
capitais públicos em Espanha, duas através de aquisições (Caixa Geral de
Depósitos e Cimpor) e outra através de investimentos de raiz (Petrogal).
Investimento Português no
Estrangeiro
Unid: milhões de escudos
Taxa de Cobertura
(1)
Investimento
Estrangeiro em
Portugal
(1)
(2)
(3)
(4)
1980-82
2441
23282
11
-81
1983-85
7419
73586
10
-82
1986-88
10389
162585
6
-88
1989-91
104981
899005
12
-79
1992-94
156592
697878
22
-63
1995
90900
79900
114
+6
(%)
Índice de
Investimento
Cruzado (2)
Fonte: Cálculos próprios com base em elementos publicados pelo Banco de Portugal.
(1)
Os valores apresentados respeitam a investimentos no capital de empresas, lucros reinvistidos e
empréstimos e suprimentos. A partir de 1993 são também incluídos os fluxos relativos a operações sobre
imóveis.
(2)
Índice de Investimento Cruzado = (1) – (2) x 100
(1) + (2)
Portugal e os fluxos de Investimento Internacional
Mas existem também outros casos interessantes e menos conhecidos, de empresas
de média dimensão que vêm desenvolvendo processos de internacionalização e de
reforço das ligações com grandes clientes internacionais, procurando passar de
relações de sub-contratação dependente a relações de quase parceria13. A Growella,
empresa de calçado com capitais suiços mas gerida por portugueses,
internacionalizou-se tanto na vertente produtiva como na comercial. Na primeira,
através da implantação de uma unidade fabril em Cabo Verde, destinado ao
acabamento de peles e ao fabrico de calçado para senhora, aproveitando os menores
custos de trabalho. Na segunda, mercê da tomada de posição maioritária no capital de
uma empresa britânica; esta assegura a distribuição de parte dos produtos da Growella
no Reino Unido, comercializando-os com a sua própria marca (NeeBee). Uma outra
empresa de calçado, com menor dimensão e capacidade, está neste momento a
implementar um sistema telemático de ligação ao seu principal cliente, o que lhe
permite acelerar sensivelmente o processo de concepção dos produtos; utilizando um
sistema de CAD transmite os modelos para aprovação do cliente, tornando
dispensável a confecção de protótipos reais.
12
Todos os valores apresentados são provisórios, tanto mais que ainda não dispomos, à data de
redacção deste texto, do Relatório do Banco de Portugal relativo a 1995.
13
Os exemplos apresentados a seguir foram todos retirados do nosso trabalho Inovação e Gestão em
PME Industriais Portuguesas, realizado para a Agência de Inovação e para o Gabinete de Estudos e
Planeamento do Ministério da Economia.
16
No sector automóvel, a Arjal é um exemplo de sucesso na relação com os grandes
construtores. Fornecedor directo da Fiat, da Renault, da General Motors (Opel) e da
Auto Europa, a Arjal dispõe de capacidades de concepção e desenvolvimento de
novos produtos. Está também a internacionalizar-se, com a criação de antenas junto
das principais fábricas dos seus clientes, de modo a obter vantagens nos planos da
concepção de produto (maior facilidade de interacção com o cliente) e da logística
(satisfação rápida das encomendas).
Estes exemplos mostram, portanto, que o movimento de internacionalização das
empresas portuguesas vai ganhando corpo, apesar dos problemas defrontados (dos
quais a dimensão e as insuficiências na capacidade de gestão estratégica e na
qualidade dos recursos humanos merecem destaque). Revelam igualmente que a
projecção externa das empresas portuguesas não pode ser desligada do processo de
investimento estrangeiro em Portugal. Isto significa que os dois movimentos carecem
de ser estudados em conjunto, numa perspectiva sistémica.
5. PISTAS PARA ANÁLISE
Conjugando as características do processo de globalização com as linhas de força
da internacionalização da economia portuguesa esboçadas nos pontos anteriores, é
possível identificar um conjunto de aspectos que se nos afiguram interessantes para
proceder a uma avaliação das implicações da globalização (ou, porventura com maior
rigor, globalização cum integração europeia) sobre a economia portuguesa.
Os aspectos a destacar são, numa primeira aproximação, os seguintes:
1. Globalização e novas características dos fluxos comerciais: o peso do
comércio intra-firma.
2. Globalização e fluxos de investimento: o carácter sistémico dos processos de
investimento.
3. Os desinvestimentos: razões e tendências de evolução.
4. Investimentos internacionais e emprego: o papel dos fluxos de investimento
internacional no panorama do emprego em Portugal.
5. Globalização e cooperação inter-empresas: oportunidades de inserção, como
parceiros, das empresas portuguesas em redes transnacionais.
6. Globalização, sistema nacional de inovação e investimento estrangeiro.
7. Relações Ibéricas, Integração Europeia e Globalização: complementaridade
ou concorrência?
Explicitamos muito sinteticamente os temas propostos.
17
5.1. Globalização e Novas Características dos Fluxos Comerciais: O Comércio
Intra-Firma
Como se referiu, uma parte crescente do comércio internacional é efectuado intraempresa. Tal crescimento está associado aos processos de globalização e de
integração regional que conduziram ao declínio das filiais de substituição de
importações viradas para os mercados nacionais e ao crescimento de “filiais
racionalizadas” inseridas em redes de produção internacionais. Portugal não está
imune a este movimento, muito pelo contrário: a maioria dos grandes investimentos
estrangeiros realizados nos últimos anos tem uma acentuada vocação exportadora,
sendo as exportações em regra efectuadas intra-empresa.
Seria, por isso, conveniente reanalisar o comércio externo português nesta
perspectiva, distinguindo entre as operações intra-empresa e as outras. O interesse
desta análise (parcialmente aflorada em trabalhos efectuados, há cerca de quatro anos,
por Lino Fernandes14) seria tripla:
• avaliação da contribuição líquida do investimento estrangeiro para a balança
comercial portuguesa
• identificação das implicações das estratégias empresariais na estrutura
geográfica do comércio externo
• implicações comerciais do processo de internacionalização das empresas
portuguesas.
A concretização deste trabalho não é, porém, fácil, tendo em conta as novas
realidades da liberalização dos procedimentos administrativos de recolha de
informação sobre o comércio externo. Implicaria necessariamente a cooperação com o
INE para avaliação das possibilidades de acesso a este tipo de informação (admitindo
que ela esteja disponível), já que a inquirição directa das empresas, mesmo por
amostragem, é uma tarefa condenada ao fracasso.
5.2. Globalização e Fluxos de Investimento: O Carácter Sistémico dos Processos de
Investimento
Alguns autores, como Luostarinen e Welch15, sustentam que o processo de
internacionalização das empresas começa frequentemente intra-muros, através do
estabelecimento de acordo com empresas estrangeiras para o abastecimento do
mercado interno (joint-ventures, contratos de licença, por exemplo). Esta
14
Lino Fernandes, O Papel do Investimento Estrangeiro na Evolução do Padrão de Especialização,
Lisboa, Departamento Central de Planeamento, 1992; e do mesmo autor, A Especialização da
Economia Portuguesa: Tendências e Perspectivas, Lisboa, Departamento Central de Planeamento,
1992.
15
Cfr. Reijo Luostarinen e Lawrence Welch, International Business Operations, Helsínquia, Halsinki
School of Economics, 1990; e também Reijo Luostarinen e Harri Hellman, The Internationalisation
Process and Strategies of Finnish Firms, Working Paper, Helsinki School of Economics, 1994.
18
internacionalização “em casa” permitiria às empresas aprenderem, tornando-se menos
vulneráveis na sua futura projecção internacional.
Esta perspectiva foi, de algum modo, confirmada por nós para um conjunto
limitado de PME portuguesas. Verificámos que as empresas que “nasceram
internacionais”, devido a ligações especiais com investidores estrangeiros em
Portugal, tendem a recorrer com melhores resultados a formas “avançadas” de
operação no exterior. Este facto pode ser interpretado como indicando que a projecção
no exterior é muito mais fácil naquelas empresas em que o “pensar internacional” está
já interiorizado na cultura da empresa16. Outro exemplo interessante, retirado também
da realidade portuguesa, é o dos grandes grupos de distribuição: começaram todos
como empresas de capital estrangeiro ou formando joint ventures com empresas
estrangeiras e hoje estão envolvidos em processos activos de internacionalização.
Outra vertente a explorar é a da influência das relações cliente-fornecedor
estabelecidas no mercado interno como instrumento de internacionalização das
empresas portuguesas17. São diversos os casos na indústria automóvel em que
relações geradas no quadro interno vieram a permitir às empresas portuguesas
afirmaram-se como fornecedores directos dos grandes construtores internacionais.
Finalmente, um último eixo de análise respeita à evolução das características e da
estratégia das filiais domiciliadas em Portugal face às novas tendências de gestão
transnacional, de unidades ligadas em rede com maior autonomia e responsabilidade.
Será que as filiais portuguesas dos grupos multinacionais, tradicionalmente passivas e
limitadas às operações de produção e/ou de comercialização (no mercado interno)
estão a assumir papeis mais activos e a ganhar novas competências e
responsabilidades? Seria uma questão interessante a abordar, preferencialmente
através de um estudo de casos.
5.3. Os desinvestimentos: razões e tendências de evolução
Os valores do desinvestimento por parte de empresas com capital estrangeiro estão
a assumir níveis inquietantes: em 1995 tais desinvestimentos quase igualaram o
influxo de IDE (corresponderam, mais precisamente, a 87%).
É algo supreendente que estes níveis de desinvestimento estejam a ocorrer agora,
passados dez anos sobre a adesão de Portugal à então CEE. Até que ponto este
movimento resulta de estratégias globais de reestruturação da produção por empresas
multinacionais? Ou será sobretudo ainda uma consequência do desenvolvimento do
processo de integração europeia? Qual a influência da atracção exercida pelos países
em transicção da Europa Central e de Leste? Qual o seu impacto sobre o emprego?
Qual a relação entre os desinvestimentos de hoje e os incentivos ao investimento no
passado?
16
17
Cfr. Vitor Corado Simões, Inovação e Gestão em PME Industriais Portuguesas, op. cit., p. 122-123.
Este aspecto prende-se também com o tema focado adiante em 5.5.
19
Pensamos que se torna indispensável responder a estas questões, de forma a
compreender o como, o porquê e as consequências do processo de desinvestimento.
5.4. Investimentos Internacionais e Emprego
Sendo o desemprego uma das principais preocupações da política económica
portuguesa e sendo a criação de novos empregos um dos objectivos fundamentais da
captação de investimento estrangeiro, torna-se imperioso estudar os efeitos dos fluxos
de investimento internacional sobre o nível e o padrão do emprego em Portugal.
A análise poderia ser desenvolvida ao longo das seguintes vertentes:
• efeito global dos fluxos de investimento estrangeiro em Portugal sobre o
nível genérico do emprego;
• padrão de qualificações dos investimentos estrangeiros recentes e acções de
formação desenvolvidas (estamos a caminhar de facto em direcção a um
investimento estrangeiro exigente e qualificante?)
• critérios de selecção do pessoal
• gestão dos recursos humanos e actividade sindical
• localização dos investimentos e oferta de recursos humanos (qual o peso da
qualificação e das infra-estruturas de educação/formação nas decisões de
localização do IDE?).
• investimentos portugueses no estrangeiro: destroem ou criam empregos no
País?
5.5. Globalização e Cooperação Inter-Empresas
Como vimos, a participação das empresas portuguesas no movimento global de
cooperação de base tecnológica tem sido muitissimo reduzida. Este facto pode ser
interpretado como indicando que as empresas portuguesas não dispõem de atractivos
(isto é, de competências tecnológicas) suficientes para serem consideradas como
parceiros credíveis e interessantes. Além disso, a grande maioria das nossas empresas
não dispõe de massa crítica (nos planos da dimensão e do esforço tecnológico)
indispensável para se envolver naquele movimento. Mesmo no âmbito dos programas
europeus de I&D a participação das empresas portuguesas tem sido muito escassa,
quase nunca assumindo a liderança de projectos.
Num outro registo, as relações verticais das empresas portuguesas com parceiros
estrangeiros têm sido caracterizadas pela subcontratação assente em baixos custos de
produção. Em indústrias como o vestuário, o calçado ou a cerâmica muitas empresas
estão numa situação de subcontratação dependente, sem capacidade interna de
20
concepção dos produtos e sem contactos directos com os clientes finais;
consequentemente, a sua cadeia do valor resume-se quase exclusivamente às
operações, incorporando mão-de-obra pouco qualificada. Torna-se indispensável
analisar as condições que permitem a estas empresas trilhar o estreito e difícil
caminho que as pode conduzir da subcontratação dependente à subcontratação com
valor acrescentado e à quase-parceria. Também aqui a globalização comporta perigos,
inerentes à entrada dos países do Sul e do Leste (Europeu) nos mercados
internacionais de subcontratação, beneficiando de custos de trabalho muito inferiores
aos portugueses.
O desenvolvimento das tecnologias da informação e da telemática vem permitir o
estabelecimento e aprofundamento de redes internacionais baseadas nas economias de
ligação através da troca electrónica de dados. O aproveitamento destas possibilidades
exige, porém, níveis de capacidade de gestão, competência técnica e visão estratégica
que não existem ainda num grande número de empresas portuguesas. O exemplo dado
acima, de uma empresa da indústria de calçado, mostra que existem sementes de
mudança e que tais sementes vão medrando...
Outro plano de análise respeita à expansão, no plano internacional, de redes de
fornecimento já constituídas no âmbito nacional com empresas de capital estrangeiro.
Este tópico foi abordado já no ponto 5.2., pelo que nos dispensamos de o desenvolver
aqui.
Finalmente, convirá estudar qual a capacidade de as empresas portuguesas já
razoavelemnte internacionalizadas criarem e articularem elas próprias redes de
cooperação envolvendo parceiros quer em Portugal quer nos países de destino. Neste
quadro se pode integrar também o recurso a formas cooperativas, menos exigentes em
recursos financeiros, de expansão internacional, como sejam as joint ventures, os
contratos de licença e os contratos de franchising (cujo êxito depende, no entanto, de
uma análise cuidada das exigências da sua transposição de uns mercados para outros e
um conhecimento aprofundado dos mecanismos básicos do próprio sistema de
franchising).
5.6. Globalização, Sistema Nacional de Inovação e Investimento Estrangeiro
A globalização, com a extensão e aprofundamento das redes de produção e de
geração de conhecimentos das grandes empresas multinacionais, poderá conduzir,
segundo alguns autores, a uma certa “dissolução” e desestruturação dos sistemas
nacionais de inovação. Outros – como é o caso de Michael Porter – argumentam que a
importância destes últimos continuará a ser decisiva como “base doméstica” e como
fornecedores de inputs específicos e diferenciados às suas empresas multinacionais.
Por outro lado, com o desenvolvimento da lógica transnacional de articulação em
rede, o relacionamento entre as filiais das empresas multinacionais e o tecido
tecnológico-produtivo de acolhimento tende a ganhar novos contornos. A filial
21
estrangeira torna-se frequentemente de “dupla-face”: por um lado articula-se com a
sede e com as outras filiais na rede interna da empresa multinacional; por outro lado,
procurará potenciar as vantagens específicas da sua localização, ligando-se como
insider às teias de relações estabelecidas no interior do sistema nacional (ou regional)
de inovação do país onde está domiciliada. Esta articulação será tanto mais desejada
pela empresa estrangeira quanto mais sofisticado e avançado for o sistema nacional de
inovação em causa.
A análise das relações entre globalização, investimento estrangeiro e sistema
nacional de inovação cruza-se com outros temas referidos anteriormente (em especial
com 5.2., 5.4. e 5.5.). Tendo presente a importância crescente dos factores intangíveis
na competitividade das empresas (e dos países) e o papel das economias de
proximidade para a troca de conhecimento tácito, este tópico parece-nos da maior
relevância para compreender o papel das filiais estrangeiras como eventuais
instrumentos de transferência de tecnologia e de dinamização das capacidades das
empresas nacionais.
5.7. Relações Ibéricas, Integração Europeia e Globalização: Complementaridade ou
Concorrência?
Uma das principais consequências do processo de integração europeia sobre a
economia portuguesa foi o estabelecimento de um novo quadro de relacionamento
entre Portugal e Espanha. Das tradicionais “costas voltadas” passou-se a uma
articulação estreita entre as duas economias, nos planos financeiro, comercial e do
investimento. Muitas empresas multinacionais aproveitaram a integração ibérica para
racionalizar e articular os seus investimentos nos dois países. Boa parte dos fluxos
comerciais têm lugar intra-empresa e muitos investimentos provenientes de Espanha
não são, de facto, de origem espanhola, mas resultam antes de uma centralização em
Espanha das decisões estratégicas de actuação no espaço ibérico.
Por outro lado, os investimentos cruzados dispararam. Espanha é
inquestionavelmente o principal destino do investimento português no estrangeiro e
Portugal continua a exercer um razoável poder de atracção sobre as empresas
espanholas, que encaram o nosso país como um mercado privilegiado. Contudo, a
dimensão e o grau de penetração dos investimentos espanhois em Portugal não têm
paralelo com os registados pelos investimentos portugueses no país vizinho, apesar de
alguns casos de sucesso já relatados. Como escreveu há tempos um jornalista, os
anemómetros registam um “vento” espanhol e uma “brisa” portuguesa...
As relações ibéricas merecem, por isso, uma análise específica numa dupla
vertente: a integração entre as duas economias e o papel dos investimentos recíprocos;
e o potencial conflito entre os dois países como destino do investimento internacional
e como bases de decisão estratégica. De facto, a lógica do “mercado ibérico” tem
conduzido diversos grupos multinacionais a um down-grading das suas subsidiárias
em Portugal, as quais passaram a reportar à sua congénere espanhola. Daí que seja
22
lícito formular a interrogação em epígrafe: Portugal e Espanha têm uma relação de
complementaridade ou de concorrência? Ou será antes de concorrência e de
complementaridade?
23
A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS INDUSTRIAIS PORTUGUESAS:
CARACTERIZAÇÃO E PERSPECTIVAS
Vitor Corado Simões*
Texto Elaborado para o Conselho Económico e Social em 14 de Fevereiro de 1997
*
Agradece-se à Associação Industrial Portuguesa, na pessoa do Engº José Bruno, a autorização para
utilizar, ainda antes da sua divulgação, resultados do estudo “Desafios Estratégicos das Empresas
Industriais Portuguesas num Contexto em Mudança: Papel das Alianças Estratégicas nos Processos
de Internacionalização”, efectuado com o apoio do PEDIP II.
24
Sumário
1. Introdução
2. Grau de Internacionalização e Formas de Operação no Exterior
3. Motivações da Internacionalização
4. Barreiras à Internacionalização
5. Perfil do Investimento Directo no Exterior
6. Globalização e Internacionalização das Empresas Portuguesas
Uma Reflexão Prospectiva
Anexo
Metodologia de Inquirição e Características das Empresas Respondentes
25
1. INTRODUÇÃO
Este texto incide sobre a internacionalização das empresas industriais portuguesas.
Internacionalização é aqui encarada como um processo de envolvimento em negócios
internacionais visando a projecção das empresas no estrangeiro. Até há bem pouco
internacionalização era quase sinónimo de exportação. Na última década, porém,
temos assistido a movimentos diversificados de internacionalização, mais ou menos
bem sucedidos, que ultrapassam os limites da exportação tradicional: contratos de
franchising, contratos de gestão, fornecimento de projectos industriais, investimentos
directos de natureza comercial, investimentos directos visando o estabelecimento de
unidades industriais ...
Um breve olhar sobre os títulos da Imprensa revela-nos como a internacionalização
parece ser cada vez mais relevante para as empresas portuguesas. Sem qualquer
preocupação de exaustividade respigámos uma série de notícias dando conta do
reforço da presença das empresas portuguesas em outros países ou da intenção de o
fazer:
– “No prazo de 5 anos a Cimpor quer produzir no estrangeiro 60 por cento do
cimento” (Expresso, 18 de Janeiro de 1997)
– “Espiríto Santo que banco em S. Paulo” (Expresso, 8 de Fevereiro de 1997)
– “CIN vai duplicar em Espanha” (Público, 10 de Janeiro de 1997)
– “Crisal, Vista Alegre e Cutipol arrancam com loja em Bruxelas” (Público, 10
de Janeiro de 1997)
– “Enatur internacionaliza-se” (Público, 8 de Janeiro de 1997)
– “Quintas compra cordoaria no Brasil” (Público, 31 de Janeiro de 1997)
Esta proliferação de operações torna dificil uma análise global dos contornos do
fenómeno de internacionalização das empresas, tanto mais que faltam estudos
empíricos sobre o tema. O presente trabalho tem, assim, dois objectivos:
– procurar, com base nos elementos de informação existentes, traçar o perfil da
internacionalização das empresas industriais portuguesas18; e
– avaliar das implicações do processo de globalização sobre a evolução futura
daquele perfil.
O texto comporta seis capítulos, incluindo esta introdução. Os quatro seguintes
visam responder ao primeiro objectivo referido acima. Partindo dos (poucos) estudos
disponíveis, abordar-se-ão sucessivamente os seguintes tópicos19:
18
A ausência de informação disponível sobre internacionalização das empresas de serviços, levou-nos
a não abordar este sector, embora reconheçamos a sua crescente importância.
19
A análise assenta basicamente no trabalho que efectuámos para a Associação Industrial Portuguesa
(com o apoio do PEDIP), intitulado “Desafios Estratégicos das Empresas Industriais Portuguesas num
Contexto em Mudança: Papel das Alianças Estratégicas nos Processos de Internacionalização”. Este
26
– grau de internacionalização e formas de operação no exterior;
– motivações da internacionalização;
– principais barreiras;
– investimentos directos: localização e características.
O último capítulo será dedicado ao segundo objectivo. Tentar-se-á designadamente
reflectir sobre as implicações que a globalização e a tendência para a crescente
importância do conhecimento como fonte de vantagem competitiva poderão ter sobre
o processo de internacionalização das empresas portuguesas.
2. GRAU DE INTERNACIONALIZAÇÃO E FORMAS DE OPERAÇÃO NO EXTERIOR
O grau de internacionalização das empresas foi estudado recorrendo a três
indicadores: orientação exportadora (medida através da relação entre exportações e
vendas totais da empresa); peso do emprego no estrangeiro; e peso do volume de
negócios no estrangeiro.
Relativamente às formas de operação, para além das informações decorrentes dos
indicadores referidos acima, solicitou-se às empresas a sua opinião, numa escala de 1
a 5, quanto à importância de cada um de seis modos de realização de negócios no
estrangeiro: exportação, sub-contratação de fabricação no estrangeiro, investimento
directo de natureza comercial, investimento directo envolvendo unidades produtivas
no estrangeiro, contratos com empresas no estrangeiro (contratos de licença, de
franchising ou de gestão, em que a empresa actua como fornecedor de conhecimentos
tecnológicos, imagem ou know-how de gestão) e fornecimento de unidades “chave-namão”.
Os principais resultados obtidos foram os seguintes:
1) A exportação é, sem dúvida, o principal modo de operação no exterior
Para a grande maioria das empresas actividade internacional é sinónimo de
exportação. Na verdade, cerca de dois terços das empresas consideraram a exportação
como importante ou muito importante, quando nenhuma das outras formas de
operação atingiu níveis de importância acima dos 16%, como se verifica no Gráfico 1.
trabalho envolveu a realização de um inquérito às 1400 maiores empresas industriais portuguesas. Os
resultados apresentados respeitam a um conjunto de 175 empresas respondentes, brevemente
caracterizadas em Anexo.
27
% Casos classificados como70
"importante"
ou "muito importante"
60
50
40
30
20
10
Sub-Contratação
Projectos Industriais
Unidades Produtivas
Contratos de licença,
franchising, etc
Unidades Comerciais
Exportação
0
Gráfico 1 - Importância Atribuída às Formas de Operação no Estrangeiro
Cerca de um terço das empresas inquiridas apresentava uma orientação
exportadora muito marcada, com níveis superiores a 50% das vendas em 1995. No
entanto, o grupo estudado incluía também quase 20% de empresas não exportadoras e
47% com uma orientação exportadora até 10%. Isto é, sem pôr em causa a
importância da exportação, observa-se que entre as maiores empresas portuguesas há
ainda muitas quase exclusivamente viradas para o mercado doméstico.
2) A orientação exportadora está associada ao tipo de indústria
Foi testada a influência de três factores – tipo de indústria, dimensão e tipo de
empresa (familiar versus não familiar) – sobre a orientação exportadora das empresas.
Constatou-se que apenas o primeiro era relevante. Com efeito, foi possível identificar
um contraste acentuado da orientação exportadora entre dois grupos de indústrias:
– as dominadas por empresas exportadoras, onde pelo menos metade das
empresas revelam níveis de orientação exportadora acima dos 50%: têxteis,
vestuário, calçado, material de transporte, madeira e cortiça e fabricação de
máquinas e aparelhos eléctricos; e
– as viradas para o mercado doméstico, onde pelo menos dois terços das empresas
respondentes não exportam ou apenas o fazem marginalmente: alimentação,
28
bebidas e tabaco; pasta, papel e edição; produtos químicos; borracha e matérias
plásticas; e metalurgia de base.
3) O investimento directo no exterior apresenta ainda, no computo global, pouco
significado, mas tem já relevância para algumas empresas
22 das 175 empresas estudadas declaram dispor de filiais, sobretudo comerciais, no
estrangeiro; por outras palavras, 13% das empresas tinham filiais no estrangeiro. No
total, o número de filiais ascendia a 47, mas a sua distribuição era fortemente
desequilibrada, pois três grandes grupos detinham cerca de 45% daquele número, ao
passo que 14 empresas tinham apenas uma unidade no estrangeiro.
Em termos globais o peso do emprego no estrangeiro ascendia a 8%. Como se
pode observar no Gráfico 2, a percentagem de empresas que empregavam mais de 5%
dos efectivos além-fronteiras não chegava a atingir 6%.
5,3%
3,6% 1,8%
0%
0.1 - 4.9%
5 - 49%
> 50%
89,5%
Gráfico 2 - Peso do emprego no Estrangeiro
O volume de emprego no estrangeiro experimentou, no entanto, um crescimento
excepcional na presente década. Em 1990 as empresas estudadas empregavam menos
de 300 pessoas no estrangeiro, enquanto em 1995 os seus efectivos no exterior
ultrapassavam 3200. Constata-se, pois, que, muito embora o nível global de emprego
no exterior seja baixo, existe uma tendência de crescimento muito marcada.
Em posição destacada neste processo surgem algumas empresas com forte vocação
internacional. Foram identificadas quatro empresas cujos efectivos no estrangeiro
eram superiores aos existentes em Portugal ou que realizavam mais de metade do seu
volume de negócios nas empresas afiliadas no exterior. É interessante verificar que,
em pelo menos duas delas, foi a “exposição” ao exterior, na dupla perspectiva de
orientação internacional da gestão e de operações anteriores em países estrangeiros,
que lhes permitiu identificar oportunidades de aquisição de empresas de envergadura
significativa, em resultado das quais elevaram consideravelmente os respectivos
níveis de internacionalização.
29
É natural que o número de empresas nestas condições se venha a expandir
substancialmente nos próximos anos. A consolidação da experiência internacional por
parte de algumas empresas, aliada a patamares dimensionais relevantes, pode permitir
movimentos de aceleração dos processos de internacionalização, como aquele a que a
Cimpor se propõe: esta empresa, que até 1992 não dispunha de quaisquer afiliadas no
estrangeiro, pensa localizar 60% da sua produção fora de Portugal no espaço de 5
anos.
4) As filiais comerciais prevalecem, em termos de importância relativa, sobre as
produtivas
Como se referiu no Gráfico 1, as filiais comerciais foram consideradas
“importantes” ou “muito importantes” por 16% das empresas inquiridas, quando tal
peso pouco excedeu os 2% para as filiais industriais.
A análise das características das unidades estabelecidas no estrangeiro confirma os
resultados apresentados acima. Com efeito, mais de 60% correspondem a filiais
exclusivamente comerciais, havendo muito poucas que se possam considerar como
exclusivamente industriais. Esta constatação vem corroborar genericamente as
conclusões de um estudo realizado no princípio da década para o Ministério da
Indústria e Energia no qual se concluía que o número de filiais industriais era
muitissimo reduzido e que se concentrava nos PALOP20.
A maior importância atribuída, em termos globais, às filiais comerciais não
surpreende. Ela corresponde, na verdade, à fase actual do processo de
internacionalização das empresas portuguesas. O estabelecimento de filiais comerciais
constitui um passo lógico no sentido de potenciar a exportação a partir de Portugal.
Para empresas que já atingiram níveis de exportação consideráveis, a implantação
comercial no exterior permite melhorar o conhecimento dos mercados e reforçar a
posição competitiva. Aparece, assim, na sequência de um envolvimento nos mercados
através das exportações; como se concluiu no estudo efectuado para o Ministério da
Indústria, o nível de implantação comercial no exterior encontra-se fortemente
correlacionado com o valor absoluto das exportações.
O “salto” das filiais comerciais para as produtivas já é mais complexo, estando
associado frequentemente à capacidade de gestão, à existência de relações anteriores
nos países de implantação (especialmente em África), a oportunidades de negócio
(especialmente no caso de aquisições) e a estratégias voluntaristas de envolvimento
(e, por vezes, de aprendizagem) internacional. Consequentemente, não estão ao
alcance de todas as empresas. É indispensável dispor de sistemas adequados de gestão
20
Cfr. Luis Mira Amaral, A Internacionalização das Empresas Portuguesas, Pequena e Média
Empresa, nº 1, 1991. Este estudo refere-se, porém, a um grupo de empresas muito inferior ao que
analisámos (apenas 44 empresas).
30
e ter atingido patamares minimos de experiência internacional21 para as empresas se
poderem abalançar com êxito na actividade industrial além-fronteiras – especialmente
em países industrializados.
Consequentemente, no estádio actual de internacionalização das empresas
portuguesas, o predomínio das filiais comerciais é inevitável. O investimento de
natureza comercial é um instrumento indispensável de acumulação de experiência
internacional. Para a grande maioria das empresas, a questão de produzir no
estrangeiro não se coloca, pelo menos no imediato. Como referiremos mais adiante,
Portugal continua a ser a localização industrial por excelência.
5) A dimensão constitui uma condicionante dos processos de investimento no exterior
Estudos anteriormente efectuados sustentavam que a dimensão influenciava o grau
de internacionalização. Analisando 21 PME industriais, constatámos a existência de
uma relação estisticamente significativa entre o grau de envolvimento internacional22
e a dimensão da empresa. Aí se defendia designadamente que “as dificuldades
defrontadas pelas pequenas empresas ‘desejosas’ de se internacionalizarem ilustra
bem como a dimensão – e a escassez de recursos humanos na área comercial e de
recursos financeiros – condiciona os passos a dar na trajectória de internacionalização
e o seu sucesso”23.
Ao constatar uma forte correlação entre o valor da exportação e o nível de
implantação no exterior (conceito análogo ao de envolvimento internacional, acima
referido), o estudo efectuado para o Ministério da Indústria confirma também, ainda
que indirectamente, o papel da dimensão como condicionante do investimento no
exterior.
O trabalho realizado para a Associação Industrial Portuguesa, embora incidindo à
partida, sobre as maiores empresas industriais, vem clarificar as relações entre
dimensão e internacionalização. A análise do inquérito permite constatar que:
i) A orientação exportadora é independente da dimensão, mas
ii) A dimensão condiciona os processos de investimento no exterior.
Com efeito, a propensão ao investimento no exterior é claramente superior para as
empresas de maior dimensão (Cfr. Gráfico 3). Cerca de 60% das empresas
respondentes com mais de 500 trabalhadores têm filiais activas no estrangeiro; ao
invés, apenas 4 das 67 empresas com menos de 100 efectivos têm investimentos
21
A aquisição de experiência internacional pode efectuar-se também no espaço doméstico,
nomedamente através das relações estabelecidas com empresas multinacionais aí instaladas (veja-se o
caso da indústria automóvel).
22
O grau de envolvimento internacional era definido em função dos modos de operação utilizados pela
empresa em mercados externos: exportação ocasional, exportação dependente, exportação directa, filial
comercial e filial produtiva. Para definições, Cfr. Vitor Corado Simões, Inovação e Gestão em PME
Industriais Portuguesas, GEPEME/Ag. Inovação, Lisboa, 1996, pg. 103.
23
Cfr. Vitor Corado Simões, op. cit., pg. 117.
31
directos além-fronteiras. É interessante constatar também que as empresas cujas
afiliadas no estrangeiro representam mais de 50% do volume de negócios consolidado
têm volumes globais de emprego superiores a 250 pessoas.
% Empresas 100
90
Sem Filiais no
Estrangeiro
80
70
Com Filiais no
Estrangeiro
60
50
40
30
20
10
0
Até 99
100-249
250-499
> 500
Emprego Total
Gráfico 3 - Filiais no Estrangeiro e Dimensão da Empresa
Face ao exposto, parece-nos ser lícito afirmar que a dimensão – nomeadamente em
termos de recursos humanos e financeiros – se apresenta como uma condicionante da
realização de investimentos directos no estrangeiro. Isto não significa, porém, que as
PME não tenham, à partida, possibilidades de implantar filiais no exterior. O que
consideramos fundamental é a existência de uma “massa crítica” interna mínima que
funcione como âncora para as afiliadas e como base de referência organizacional e
centro de interpretação da informação proveniente do estrangeiro.
3. MOTIVAÇÕES DA INTERNACIONALIZAÇÃO
Existem diversos trabalhos sobre as motivações do comportamento exportador das
empresas, em termos genéricos24, sectoriais25 ou de confronto entre firmas de capital
nacional e estrangeiro26. Todavia, nenhum deles aborda a internacionalização em toda
a sua extensão – ficam-se apenas pela fase introdutória, pela exportação. De facto,
como referem Jarillo e Martinez, para definir estratégias internacionais é preciso ir
24
Veja-se M. Avelino de Jesus, Estratégias de Exportação das Empresas Portuguesas, Lisboa, edição
do autor, 1989; e M. Avelino de Jesus e José Carlos Ribeiro, Factores Explicativos da Propensão para
Exportar das Empresas Portuguesas, Estudos de Economia, Vol. XI nº 2, Jan-Mar 1991.
25
Mário Lino B. Raposo, Análise da Internacionalização das Actividades das Empresas: Evidências
Empíricas do Sector Têxtil Português, Tese de Doutoramento (não publicada), Un. Beira Interior, 1994.
Este estudo, embora encarando a internacionalização de uma forma mais ampla, acaba na sua parte
empírica por se restringir à exportação.
26
Joaquim J. Teixeira Ruela, A Decisão de Exportar - Estudos das Motivações na Exportação das
Empresas com Capital Estrangeiro, Tese de Mestrado em Economia (não publicada), ISEG, 1993.
32
“para além da exportação”27. Ou, nas palavras do Engº A. Sousa Gomes, Presidente
do Conselho de Administração da Cimpor28:
“Internacionalizar uma empresa, dar-lhe dimensão adicional e capacidade
operacional internacional, não se limita a um primeiro passo, que é a regra
geral por onde todas as empresas começam, o sector da exportação. Uma
empresa exportadora pode vir a ser uma empresa internacional, mas uma
empresa exportadora não é necessariamente internacional”.
Tornava-se necessário, por isso, estudar as motivações da internacionalização das
empresas, entendida como processo amplo, envolvendo diversas formas de actuação
no estrangeiro, incluindo – mas não se restringindo a – a exportação. Para isso foi
incorporada no inquérito uma questão onde se solicitava às empresas a indicação do
grau de importância, uma escala de 1 a 5, de 13 aspectos identificados na literatura
sobre negócios internacionais como potenciais motivações da internacionalização.
Para facilidade de análise e de interpretação, tais motivações foram agregadas em
cinco grandes grupos – endógenas, características dos mercados, relacionais, acesso a
recursos no exterior e incentivos governamentais –, sumariamente apresentados na
Caixa 1.
27
Cfr. José Carlos Jarillo e Jon Martinez, Estratégia Internacional - Más Allá de la Exportación,
McGarw Hill, Madrid, 1991.
28
Cfr. A. Sousa Gomes, Internacionalizar: Oportunidades e Mudanças, in CEGE, A
Internacionalização das Estratégias Empresariais, CEGE, Lisboa, 1990, pg. 28.
33
Tipologia de Motivações da Internacionalização
Motivações Endógenas - Inclui as razões associadas à satisfação de objectivos,
estratégicos ou tácticos, da empresa, nomeadamente as seguintes:
- necessidade de crescimento
- aproveitamento de capacidade disponível
- obtenção de economias de escala
- exploração de competências tecnológicas próprias
- diversificação de riscos
Características dos Mercados - Relativas à forma como a empresa percepciona as
oportunidades de mercado; inclui dois factores básicos:
- limitações do mercado doméstico
- percepção de dinamismo dos mercados externos
Motivações Relacionais - Corresponde principalmente aos casos em que a empresa
reage (ou, mais raramente, procura antecipar) movimentos efectuados por
outras empresas com as quais se relaciona:
- resposta à actuação de concorrentes
- acompanhamento de clientes
- abordagem por potenciais clientes ou agentes estrangeiros
Acesso a Recursos no Exterior - Relativas a acções que têm como objectivo melhorar
as condições de obtenção de determinados recursos; inclui
designadamente
- o aproveitamento dos custos dos factores de produção no exterior e
- o acesso a conhecimentos tecnológicos
Incentivos Governamentais - Corresponde ao papel atribuído aos apoios
proporcionados pelos Governos, quer português quer dos países de
acolhimento, nas decisões empresariais de internacionalização.
Caixa 1 - Motivações de Internacionalização
Conjugando os resultados da inquirição efectuada com os obtidos nos outros
estudos anteriormente referidos, podem-se identificar as seguintes conclusões quanto
às principais razões que conduzem as empresas portuguesas a internacionalizarem-se:
1) As principais motivações para a internacionalização são de natureza endógena ou
estão associadas aos mercados
Na verdade, os factores endógenos parecem assumir um papel muito relevante nas
decisões de internacionalização, apresentando todos pontuações superiores a 3. Os
mais importantes são, de acordo, com as respostas obtidas, a necessidade de
crescimento da empresa (com uma pontuação29 de 3.90) e o aproveitamento de
capacidade disponível (3.83). Admite-se que o primeiro é relativamente independente
29
A pontuação é obtida através da média ponderada das respostas, atribuindo 5 pontos aos casos em
que determinada motivação é considerada muito importante, 4 àqueles em que é importante e assim
sucessivamente até aos casos em que é considerada sem importância (1 ponto).
34
do modo de abordagem dos mercados, ao passo que o segundo estará sobretudo
associado à actividade exportadora30.
Mas os factores de mercado não serão menos relevantes como se verifica no
Gráfico 4. Com efeito, o conjunto destes factores atingiu um score médio de 3.55,
sendo de destacar o significado das limitações do mercado doméstico como
incitamento à exportação (pontuação de 3.85).
Comparando os resultados por nós obtidos com os dos trabalhos relativos à
exportação, e salvaguardadas as diferenças de metodologia e de objectivos, as
diferenças não são muito significativas31, embora seja possível notar que no nosso
inquérito os factores endógenos têm uma importância ligeiramente superior. Na
verdade, nos trabalhos de M. Avelino de Jesus e de Mário Raposo o primeiro lugar era
sempre ocupado por aspectos relacionados com os mercados.
CrescimentCapac. DisDiversificaEconomiasCapac. TecLimitaçõesDinamismoResposta a Acompanh
3,9
3,83
2,99
3,11
2,97
3,85
3,25 Pontuação
2,61
2,82
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
Crescimento
Capac. Disponível
Motivações da Internacionalização
Diversificação de Riscos
Economias de Escala
Capac. Tec. Própria
Limitações Mercado Doméstico
Dinamismo Mercados Externos
Resposta a Concorrentes
Acompanhamento de Clintes
Abordagem por Empr.Estrangeiro
Aprov. Custos de Produção
Acesso a Conhec. Tecnológicos
Incentivos Governamentais
Gráfico 4 - Motivações da Internacionalização
Contudo, mais do que a observação das classificações dos diferentes motivos da
internacionalização, importará estudar como motivos de natureza diversa se interrelacionam. Isso conduz-nos à segunda conclusão.
30
Importará reconhecer, no entanto, que nos estudos anteriores sobre motivações da exportação, a
necessidade de crescimento da empresa vem posicionada nos primeiros lugares: em 3º no trabalho de
M. Avelino de Jesus e em 4º no de Mário Raposo, relativo aos têxteis.
31
Esta conclusão não se pode considerar inesperada, tendo em conta que a grande maioria das
empresas respondentes limita a sua actividade internacional à exportação.
35
2) O binómio necessidade de crescimento da empresa - limitações do mercado
doméstico constitui o principal determinante da internacionalização
Com efeito, em mais de 40% dos casos aqueles factores são considerados como
“muito importantes”. A internacionalização parece ser, assim, motivada prima facie
pelo desejo de expandir a actividade da empresa. Face à estreiteza do mercado
português, os mercados externos surgem como a área preferencial de expansão, tanto
mais que Portugal apresenta vantagens como base de produção industrial e existe a
percepção de que tais mercados encerram boas oportunidades de negócio.
3) Os restantes grupos de motivações – relacionais, acesso a recursos no exterior e
incentivos governamentais – têm uma importância limitada enquanto
determinantes genéricos da internacionalização
Todos os factores aí incluídos têm pontuações médias inferiores a 3, com uma
única excepção: a abordagem por parte de empresas estrangeiras (potenciais clientes,
agentes, sub-contratantes, etc). Isto é, em muitos casos, a empresa começa a
desenvolver operações internacionais em resultado, não tanto da iniciativa própria,
mas de contactos estabelecidos por empresas dos países de destino. É certo que a
literatura sugere que frequentemente o arranque de processos de internacionalização
e/ou a penetração em novos mercados decorrentes de abordagens efectuadas por
empresas externas. Contudo, o peso relativamente forte atribuído a este item não
pode ser desligado do comentário frequentemente ouvido sobre a exportação
portuguesa: “nós não vendemos no exterior; são os outros que nos vêm comprar”.
Estamos em crer que a importância deste factor se acentuaria consideravelmente se o
universo inquirido tivesse sido mais amplo.
É interessante constatar, por outro lado, que, num momento em que a globalização
da concorrência se acentua, é muito escasso o número de empresas portuguesas que
considera o acesso a recursos externos como um factor relevante da
internacionalização. Na verdade, a obtenção de conhecimentos tecnológicos no
exterior e o aproveitamento dos custos dos factores de produção apenas foram
mencionados como importantes ou muito importantes por 18 e 14% das empresas
inquiridas, respectivamente.
4. BARREIRAS À INTERNACIONALIZAÇÃO
Apresentadas sucintamente as principais conclusões relativas às razões que
conduzem as empresas portuguesas a internacionalizarem-se, convirá passar agora à
análise do reverso da medalha – as barreiras à internacionalização defrontadas pelas
empresas.
36
Também aqui existem referências anteriores, mas restritas à experiência de
exportação32. Sintomaticamente, os trabalhos de M. Avelino de Jesus e de Mário
Raposo chegam a conclusões análogas. As duas principais barreiras à exportação são,
em ambos os casos, a concorrência por parte de empresas estrangeiras e a ausência de
competitividade nos preços.
A análise por nós efectuada tinha objectivos diferentes – identificar a percepção
das empresas quanto aos problemas defrontados nos respectivos processos de
internacionalização, e não apenas nas exportações. Por outro lado, inquirimos tanto
empresas exportadoras como não exportadoras. Consequentemente, o elenco de
potenciais barreiras por nós utilizado é muito mais amplo, não se restringindo aos
obstáculos à exportação.
As empresas inquiridas foram solicitadas a classificar, também numa escala de 1 a
5, a importância atribuída a cada uma de 35 potenciais barreiras à internacionalização.
Para facilitar a análise, estas foram agregadas em quatro grupos – aspectos internos à
empresa, relativos aos parceiros, relativos à envolvente portuguesa e relativos à
envolvente externa (designadamente aos mercados abordados e/ou aos países de
investimento), como se mostra na Caixa 2.
As principais conclusões da análise efectuada podem sintetizar-se como segue:
1) Na opinião das empresas, as principais barreiras à internacionalização são as
relativas à envolvente portuguesa
As dificuldades de internacionalização percepcionadas pelas empresas parecem
resultar principalmente de insuficiências na envolvente portuguesa – especialmente as
alegadas insuficiências dos apoios à exportação (pontuação de 3.43) e à cobertura de
riscos internacionais (3.31) –, ao passo que as barreiras de natureza interna à empresa,
as relativas à envolvente externa (com uma significativa excepção) e, sobretudo, as de
índole relacional assumem menor importância.
32
Cfr. M. Avelino de Jesus, op. cit. e Mário Raposo, op. cit. Veja-se também M. Avelino de Jesus,
Obstáculos à Exportação das Empresas Portuguesas in CEDE, op. cit.
37
Barreiras à Internacionalização
Aspectos Internos à Empresa
- Dimensão
- Recursos financeiros
- Recursos humanos
- Mobilidade internacional dos quadros
- Dificuldades de adaptação/alargamento da gama de produtos
- Conhecimento limitado dos mercados externos
- Capacidade de inovação limitada
- Dificuldade de identificação de parceiros locais
- Dificuldades de coordenação e controlo de gestão
- Dificuldade em encontrar pessoas de confiança para gerir uma unidade no estrangeiro
Aspectos Relativos aos Parceiros
- Insuficiente conhecimento do mercado local
- Pouco empenho na distribuição dos produtos
- Pouca preocupação com a qualidade e o serviço pós-venda
- Não satisfação das expectativas no domínio tecnológico
- Divergências de estratégia
- Diferenças de cultura organizacional
- Tentativa de utilizar a cooperação apenas em seu benefício
Aspectos Relativos à Envolvente Portuguesa
- Falta de informação sobre oportunidades de negócio
- Falta de informação sobre condições de investimento no estrangeiro
- Insuficiência dos apoios à exportação
- Insuficiência dos apoios ao investimento no estrangeiro
- Insuficiência dos sistemas de cobertura de riscos internacionais
- Imagem internacional dos produtos portugueses
- Taxa de câmbio do escudo
Aspectos Relativos à Envolvente Externa (Mercados/Países de Instalação)
- Situação politico-social
- Disponibilidade de infra-estruturas
- Disponibilidade de trabalhadores qualificados
- Fraco dinamismo da procura local
- Concorrência muito forte
- Dificuldade de estabelecimento de canais de distribuição
- Restrições às importações provenientes de Portugal
- Dificuldades de acesso a financiamento local
- Normas fiscais
- Quadro administrativo-legal (incluindo burocracia)
- Diferenças culturais
Caixa 2 - Barreiras à Internacionalização
Tais resultados são algo surpreendentes, quando sabemos que as debilidades de
gestão e de capacidade estratégica e empresarial das firmas portuguesas estão entre as
principais determinantes das suas insuficientes vantagens competitivas. Como tem
sido referido por diversos autores, o empresário português tende a privilegiar a
38
produção, menosprezando a importância da concepção dos produtos e da
comercialização33.Sem prejuízo de haver casos exemplares de empresas às quais o
que atrás se disse não se aplica, pensamos que os resultados obtidos – ao valorizarem
muito mais os problemas decorrentes da envolvente portuguesa que os internos às
empresas – traduzem uma certa “desculpabilização” por parte das empresas. As
principais barreiras são encaradas como externas: a concorrência é muito forte e os
apoios públicos são “insuficientes”. Subjacente às opiniões expressas, parece haver
uma visão do Estado como “almofada”, que deve conceder apoio e cobrir riscos ...
2) A concorrência externa muito forte é, individualmente, a maior dificuldade na
internacionalização
Embora, como vimos, os aspectos relativos à envolvente portuguesa se
configurem, em termos globais, como a barreira mais relevante à internacionalização,
a concorrência externa muito forte é, de entre as 35 potenciais dificuldades
identificadas, a que recolhe a pontuação mais elevada. Com efeito, 61% das empresas
classificaram tal problema como importante ou muito importante.
A percepção da “concorrência externa” como obstáculo ressaltou também dos
estudos sobre os problemas das empresas exportadoras. A importância atribuída a este
factor pode ser interpretada como traduzindo um sentimento de dificuldade de
afirmação numa arena internacional competitiva. Parece-nos ser lícito afirmar,
fazendo apelo ao quadro teórico do investimento internacional, que as empresas
portuguesas sentem de forma muito aguda a concorrência internacional por lhes
faltarem, em muitos casos, vantagens específicas indispensáveis à criação de espaço
de manobra e à exploração de factores de diferenciação.
3) Os recursos financeiros são encarados como a mais relevante barreira interna
Na verdade, 53% das empresas consideraram a insuficiência de recursos
financeiros como uma condicionante importante ou muito importante dos processos
de internacionalização. Este sentimento de “restrição financeira” está ligado à
estrutura do capital de muitas empresas, “fechado” a capitais alheios à família e
suprindo as necessidades através do financiamento bancário, frequentemente por
empréstimos de curto prazo; aliás, as limitações financeiras são mais sentidas pelas
empresas familiares.
A segunda barreira interna respeita às insuficiências de recursos humanos, tanto em
termos genéricos (42% de casos classificados como importante ou muito importante),
como pela dificuldade em encontrar pessoas de confiança para gerir uma unidade no
33
Veja-se, neste mesmo sentido, Ernâni Lopes et al., Relatório Sobre a Politica Industrial em Portugal
nos Anos 90, trabalho elaborado para a Comissão Europeia, Março de 1993, pg. 75 e 106; e Monitor
Company, Construir as Vantagens Competitivas de Portugal, Forum para a Competitividade, Lisboa,
1994, por coincidência também na pg 75.
39
estrangeiro (37%). Estes resultados são interessantes, pois deixam transparecer dois
aspectos. Primeiro, um reconhecimento limitado das deficiências no dominio da
gestão e da falta de quadros qualificados e com experiência internacional. Segundo,
uma consciência relativamente acentuada da importância de confiança pessoal no
processo de expansão da empresa através de investimentos directos no estrangeiro – o
que pode ser interpretado como um indicador da ausência de uma equipa de gestão
sólida e/ou das insuficiências dos sistemas de gestão (e dos mecanismos de controlo
de gestão) existentes.
Os resultados obtidos apontam, pois, para a primazia dada aos aspectos financeiros
relativamente ao capital humano. Estão, aliás, em contradição com as opiniões
expressas por alguns gestores com sólida experiência de negócios internacionais que
argumentam que a qualificação dos recursos humanos é mais importante que a
capacidade financeira34.
Uma referência final a duas outras vertentes das barreiras internas. O conhecimento
reduzido dos mercados externos está entre as principais barreiras internas (3º lugar),
mas com um score relativamente baixo (2.77), apenas sendo considerada como
importante ou muito importante por 30% das empresas. Trata-se de um nível algo
surpreendente quando são conhecidas as limitações das empresas portuguesas neste
domínio. A segunda vertente a abordar respeita à inovação: as questões suscitadas a
este respeito (capacidade de inovação limitada, dificuldades de adaptação da gama de
produtos aos mercados externos) não são julgadas relevantes. Não estaremos perante
uma insuficiente capacidade de auto-avaliação por parte das empresas?
4) A percepção da importância das barreiras varia em função da dimensão e do grau
de internacionalização das empresas
No que respeita à dimensão, há dois aspectos curiosos a mencionar. O primeiro é a
existência de uma relação em U invertido entre a intensidade das barreiras associadas
aos recursos humanos e finaceiros e a dimensão da empresa. São as empresas de
média dimensão (entre 100 e 500 trabalhadores) as que maior importância atribuem a
tais barreiras como condicionantes da internacionalização. Uma possível explicação é
a de que tais empresas são as que sentem mais os desafios da concorrência
internacional e a necessidade de recorrer a formas mais sofisticadas de abordagem dos
mercados externos, faltando-lhes no entanto a capacidade humana e financeira para
tal.
O segundo refere-se à existência de uma relação inversa entre a dimensão e a
importância atribuída a algumas barreiras, como é o caso nomeadamente da falta de
informação sobre oportunidades de negócio no estrangeiro, a insuficiência dos apoios
ao investimento no estrangeiro e a dificuldade em encontrar pessoas de confiança para
gerir uma filial no exterior.
34
Cfr. A. Sousa Gomes, art. cit., pg. 35.
40
A perspectiva das barreiras defrontadas vai variando à medida que a empresa se
internacionaliza. De um modo geral, a magnitude das barreiras diminui com o
aumento do nível de internacionalização, medido pelo peso dos activos no estrangeiro.
Há, contudo, aspectos cuja importância se reforça: os recursos humanos, as imagens
dos produtos portugueses no estrangeiro e as diferenças culturais. A mensagem no
plano da concepção de politicas é clara – importa diferenciar os instrumentos de apoio
utilizados em função do grau de envolvimento internacional das empresas.
5. PERFIL DO INVESTIMENTO DIRECTO NO EXTERIOR
Já referimos, na secção 2 deste trabalho, que as empresas inquiridas tinham 47
filiais no estrangeiro, as quais desenvolviam, na sua larga maioria, actividades de
natureza comercial. Procuraremos agora ir um pouco mais além na caracterização
daquelas filiais.
Da análise efectuada ressaltam quatro traços principais:
1) Existe uma nítida apetência pela tomada de posições maioritárias
Das 47 filiais identificadas, apenas 10 (isto é, 21%) são empresas associadas, em
que a posição no capital varia entre 20 e 50%. Os investimentos directos no
estrangeiro, independentemente do tipo de actividades desenvolvidas, parecem
caracterizar-se pela preocupação de controlo, de modo que a empresa investidora
tenha o domínio das operações.
Observando a relação entre dimensão da empresa portuguesa e o tipo de filial no
estrangeiro35 constata-se que a propensão ao estabelecimento de filiais minoritárias
(empresas associadas) é superior para as empresas com volumes de negócios mais
baixos. Esta constatação apontaria, portanto, para a utilização de parceiros constituir
um meio de suprir carências internas, em termos de recursos humanos ou financeiros.
Tal inferência não é, porém, corroborada pelas respostas das empresas àcerca das
razões que determinaram a opção por posições minoritárias. De acordo com aquelas
respostas, a tomada de participação minoritária surge como tolerada, não desejada. A
associação com parceiros resulta mais de condicionantes relacionais (designadamente
o insuficiente poder negocial para conseguir uma posição maioritária) ou de
imposições legais ou administrativas dos países receptores que da consideração dos
factores positivos associados à cooperação com outras empresas.
Estes resultados devem, no entanto, ser interpretados com alguma reserva, já que
respeitam a um número muito limitado de casos. Gostaríamos de sublinhar, de
qualquer modo, que eles divergem significativamente dos obtidos num estudo sobre a
35
Consideraram-se dois tipos de filiais - empresas associadas, no caso de a participação detida se situar
entre 20 e 50% do capital; e empresas do grupo, quando a firma portuguesa investidora detinha uma
posição superior a 50%.
41
internacionalização das empresas italianas. Estas manifestavam uma preferência
genuína pela cooperação com empresas locais, como meio de garantir maior
flexibilidade estratégica, de conjugar recursos complementares e de adquirir
experiência de actuação no país em causa36.
2) Espanha é a localização preferencial para a realização de investimentos directos
Confirmando as indicações fornecidas pelas estatísticas relativas ao investimento
directo no exterior37, a Espanha concentra quase um terço das filiais identificadas. As
unidades instaladas em Espanha são fundamentalmente de natureza comercial. O
objectivo é o de penetrar o mercado espanhol (ou, em muitos casos, faixas regionais),
comercializando produtos fabricados em Portugal. Poderemos afirmar que, embora
numa escala menor, os investimentos portugueses em Espanha são movidos por uma
lógica análoga à que presidiu aos investimentos espanhóis em Portugal ao longo da
década de oitenta: aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado ibérico,
mantendo a base industrial no país de origem. De facto são poucos os investimentos
industriais, embora seja de admitir alguma tendência para o seu crescimento,
conforme notícias recentemente vindas a público (caso da CIN, por exemplo) deixam
transparecer.
Alargando o raio de visão, constata-se que quase 75% das filiais identificadas se
localizam nos países da União Europeia (Cfr. Gráfico 5). Esta área é considerada,
aliás, como o grande pólo de atracção das empresas inquiridas – mais de metade
considerava o mercado da UE como importante ou muito importante. Para além da
Espanha, já referida, também a França e o Reino Unido apresentam algum significado
como locais de investimento. Contudo, a posição destes países, aos quais Portugal se
encontra tradicionalmente ligado por laços económicos e/ou culturais, é sensivelmente
influenciada por decisões tomadas por um pequeno número de empresas.
6,4%
29,8%
17,0%
Espanha
França
Reino Unido
Outros Países UE
2,1%
Outros Países Europeus
PALOP
Américas
10,6%
23,4%
10,6%
Gráfico 5 - Localização das filiais no Estrangeiro
36
Cfr. Fabrizio Onida e Gianfranco Viesti, Italian Multinationals, Croom Helm, 1990.
De acordo com as estatísticas do Banco de Portugal, cerca de metade do valor líquido do
investimento directo português no estrangeiro na década de noventa dirigiu-se para Espanha.
37
42
Fora da União Europeia, apenas os PALOP se apresentam como destinos
relevantes de investimento, concentrando 17% das filiais; é interessante notar que
quase metade das filiais instaladas nos PALOP se localizam em Moçambique.
Porventura mais importante será constatar que nos mercados emergentes da Europa de
Leste e do Sueste Asiático as empresas estudadas não tinham quaisquer filiais,
mostrando como é ainda limitada a geografia do investimento português no
estrangeiro38.
Em síntese, e de acordo com os elementos obtidos, tal geografia parece ser
determinada fundamentalmente pela conjugação de três factores: estrutura dos fluxos
de exportação; proximidade económico-geográfica (onde a integração no espaço da
UE tem um papel relevante); e proximidade histórico-linguística (determinante dos
investimentos nos PALOP).
3) No plano da geração de emprego, porém, Moçambique é a principal localização
Segundo os resultados do inquérito, Moçambique era o único país onde o emprego
gerado pelas filiais portuguesas excedia 1000 pessoas, representando quase um terço
do total. Dois investimentos com níveis de emprego bastante elevados, em indústrias
tradicionais (alimentar e textil), concentravam a grande maioria dos efectivos das
filiais portuguesas naquele país. A atracção exercida por Moçambique como
localização industrial parece ser, aliás, significativa: com efeito, este país foi
considerado como o destino mais interessante para a instalação de uma filial produtiva
no estrangeiro nos próximos 3 anos, à frente de Espanha. Cerca de 40% dos efectivos
no estrangeiro encontravam-se nos PALOP.
O emprego no conjunto dos países da União Europeia ascendia a 57% do total,
manifestando, no entanto, uma fortissima concentração em dois pólos – Espanha e
França. Estes dois países concentravam quase 80% das filiais portuguesas na UE.
4) A dicotomia investimento comercial na Europa versus investimento industrial em
África mantém-se válida, embora se note alguma tendência para se tornar menos
nítida
Os elementos apresentados acima relativamente ao emprego, conjugados com a
análise das características das filiais, mostram que existe um contraste sensível entre o
tipo de unidades instaladas na União Europeia (e, em termos gerais, nos países
desenvolvidos) e nos PALOP. Na verdade, este grupo de países representa apenas
17% das filiais, mas concentra quase 40% do emprego. Isto é, investe-se na Europa
38
O que se disse não significa que não existam filiais nesses países. Sabemos que algumas empresas
têm unidades na Hungria, em Hong Kong ou em Singapura, por exemplo. Não deixa de ser
sintomático, no entanto, que nenhuma das 175 empresas estudadas detenha filiais nas zonas referidas.
Temos conhecimento, aliás, de que pelo menos uma equacionou a possibilidade de investir na China,
não a tendo concretizado por ter considerado demasiado elevado o risco de investimento.
43
sobretudo para penetrar comercialmente em mercados atractivos e de alto poder de
compra, beneficiando da base de produção instalada em Portugal. Investe-se em
África também para abordar mercados, mas neste caso é preferível produzir
localmente, para reduzir custos, preencher espaços e criar opções de futuro (ou
retomar negócios do passado).
Esta constatação tinha sido já obtida no trabalho realizado para o Ministério da
Indústria e Energia, a que fizemos referência anteriormente. Aí se afirmava que os
objectivos visados com as implantações na UE e nos PALOP eram marcadamente
diversos: na primeira pretendia-se reforçar a presença comercial; nos segundos,
predominava uma lógica industrial.
Este contraste permanece válido nas suas linhas gerais. Contudo, os
desenvolvimentos registados no último lustro indiciam um reforço do envolvimento
industrial nos países da União Europeia. Apesar de ainda limitado, existe um
movimento no sentido da localização de actividades industriais no Norte, realizado
fundamentalmente através de aquisições – como mostram, aliás, os exemplos da
Sonae ou da Cimpor em Espanha e da Autosil em França. Pensamos que este
movimento tenderá a ganhar importância à medida que outras empresas portuguesas
adquiram capacidade endógena para definir estratégias deliberadas de
internacionalização. A expansão da presença comercial nos mercados europeus vai
permitir a outras empresas aceder a redes de informação através das quais poderão ser
detectadas oportunidades interessantes de investimento, tal como sucedeu com a
Sonae ou a Autosil.
6. GLOBALIZAÇÃO E INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS PORTUGUESAS: UMA
REFLEXÃO PROSPECTIVA
A análise desenvolvida anteriormente sugere que a grande maioria das empresas
estudadas continua razoavelmente alheia ao movimento de globalização e às suas
implicações. A nossa afirmação, em trabalho anterior, de que “a globalização acabou
por ser encarada prima facie como um processo de crescente inter-penetração com as
economias da Comunidade”39, parece confirmar-se. Com efeito, os resultados globais
do inquérito indicam, nomeadamente, o seguinte:
– O mercado doméstico, é, de longe, o mais relevante, sendo considerado por
mais de 75% das empresas como importante ou muito importante. As
empresas para as quais o mercado português assume pouco significado são
empresas de pequena-média dimensão nos texteis, vestuário e calçado,
“extrovertidas” mas não “globalizadas”.
39
Vitor Corado Simões, O Processo de Globalização: Implicações para Portugal, Texto elaborado
para o Conselho Económico e Social, 1996, pg. 10.
44
– A União Europeia é o principal mercado além-fronteiras e continuará a sê-lo:
as expectativas de crescimento dos negócios são aí claramente mais
acentuadas que em qualquer dos outros espaços regionais considerados.
– Os mercados emergentes da Europa Central e de Leste e da China e Sueste
Asiático parecem estar largamente fora do alcance e dos interesses das
empresas portuguesas. A parcela de empresas que os consideram hoje como
importantes ou muito importantes queda-se bem abaixo dos 10%. Não foram
identificados, entre as 175 empresas estudadas, quaisquer investimentos
directos naquelas áreas.
– A percepção da concorrência parece também geograficamente limitada: para
quase dois terços das empresas os principais concorrentes são outras
empresas portuguesas; para 45%; empresas europeias não estabelecidas em
Portugal; e para 35%, empresas de países em desenvolvimento.
– Portugal continua a ser a base de produção por excelência. As perspectivas
de implantação de unidades produtivas no exterior são limitadas,
correspondendo as principais opções a países próximos em termos
linguísticos, históricos ou psicológicos (Moçambique, Espanha, Brasil e
Angola). A lógica não é a de deslocalização da produção numa vertente
estrita de redução de custos, parecendo antes associada à penetração em
mercados percepcionados como próximos e onde os riscos de investimento
são menores.
– O recurso a alianças internacionais é extremamente reduzido: apenas três
tipos de cooperação (acordos de desenvolvimento de novos produtos ou
componentes com grandes clientes; acordos de troca de know how
tecnológico, comercial ou de gestão; e contratos de comercialização
recíproca) apresentam níveis de ocorrência superiores a 5%. O grau de
envolvimento das empresas portuguesas em alianças estratégicas é, por
exemplo, claramente inferior ao observado para as empresas finlandesas –
especialmente no que respeita a alianças de natureza comercial40. Se é
verdade que a globalização arrasta a cooperação, as empresas portuguesas
parecem sentir ainda pouco estes apelos.
O panorama genérico pode caracterizar-se como traduzindo uma visão ainda
limitada do quadro competitivo com que as empresas se defrontam ou, por outras
palavras, por uma lógica de seguir caminhos já trilhados. Portugal é a localização
preferencial para produzir. A abordagem dos mercados externos faz-se sobretudo por
exportações e especialmente nos países membros da União Europeia. O
estabelecimento de filiais comerciais efectua-se principalmente em Espanha (o país
40
Cfr, relativamente à Finlândia, Reijo Luostarinen e Harri Hellman, The Internationalization
Processes and Strategies of Finnish Family Firms, Working Paper, Helsinki School of Economics,
1994.
45
mais próximo geograficamente e culturalmente), após a empresa ter atingido uma
experiência razoável de exportação. A instalação de unidades industriais é uma
possibilidade muito remota para a maioria das empresas, surgindo os países de língua
portuguesa como alvos interessantes.
Trata-se de um panorama algo “cinzento”. Ele inscreve-se, no entanto, numa lógica
de acumulação gradual de capacidades e de “rigidez lateral”41 nas decisões de gestão.
A maioria das empresas actua tradicionalmente através da exportação e não atingiu
ainda os níveis que justificam, no quadro da sua capacidade de gestão, enveredar por
formas mais exigentes e sofisticadas de presença nos mercados. Embora haja alguma
consciência de que o conhecimento dos mercados externos é limitado, a maioria das
empresas não se viu ainda confrontada com forças suficientemente intensas que as
levem a ultrapassar a “rigidez lateral” e a utilizar novas formas de operação nos
mercados externos. Sendo a capacidade estratégica limitada, o desafio competitivo
percepcionado como intra-europeu e os recursos relativamente escassos, o espaço
relevante para a empresa é a Europa Comunitária. A globalização é encarada como
algo de que se fala, mas ainda relativamente longínquo, apesar das ameaças pontuais
de produtores do Sueste Asiático ou da Europa de Leste.
Mas a “floresta”, a visão do padrão genérico, não pode esconder as “árvores”, o
exemplo de empresas que vão tendo comportamentos diferentes e para as quais a
globalização – com as suas oportunidades e ameaças – já está interiorizada. Da
reflexão efectuada pensamos ser lícito afirmar que as empresas nestas condições são
sobretudo aquelas que:
– se integram em indústrias onde a concorrência é global, sendo
percepcionadas como relevantes ameaças competitivas extra-europeias;
– actuam como fornecedores directos de empresas que têm estratégias
mundiais (como é o caso da indústria automóvel); ou
– têm um nível de experiência internacional significativo e multifacetado e/ou
dispõem de equipas de gestão “abertas ao Mundo”;
A existência de relações estreitas com grandes clientes pode permitir às empresas
ultrapassar as limitações inerentes à “rigidez lateral” da decisão e reduzir
substancialmente a percepção do risco do investimento no exterior. Ao
internacionalizar-se para seguir clientes as empresas beneficiam do apoio e da criação
de micro-cosmos específicos que atenuam os riscos inerentes a actuar em ambientes
culturais diferentes. A inter-acção estabelecida conduz, por outro lado, a olhar a
globalização de outra forma, através das “lentes” das grandes empresas com quem se
coopera.
41
A noção de “rigidez lateral” foi aplicada à gestão internacional por Reijo Luostarinen. Segundo ele
os gestores sofrem, em regra, de “rigidez lateral”, isto é, evitam enveredar por caminhos ou formas de
operação que envolvam operações no comportamento habitual da empresa. Cfr. Reijo Luostarinen,
Internationalization of the Firm, Helsinquia, Helsinki School of Economics, 3ª ed., 1989.
46
O nível de experiência internacional deve ser encarado numa óptica tridimensional: no espaço (não restrito a um único país), no tempo (acumulação de
experiências de negócio internacional ao longo de vários anos) e no modo (recorrendo
a diversas formas de operação no exterior). Olhando para os casos das empresas
portuguesas, somos levados a sugerir que, se numa primeira fase, o processo de
internacionalização é (em regra) incremental, existe um patamar de experiência
internacional a partir do qual a lógica incremental deixa de ser válida. Atingindo esse
patamar, a empresa passa a sentir-se “cidadã do Mundo”, interiorizando a necessidade
de globalização e estando desperta para as oportunidades de negócio que surjam em
localizações geograficamente diversas. Alguns exemplos mostram que certas
empresas portuguesas já atingiram ou estão próximas desse patamar. É o caso da
Efacec (da qual não será alheio o facto de ter “nascido internacional”), da Sonae (com
os investimentos previstos na África do Sul e no Brasil), da Autosil (que, depois dos
significativos investimentos em França, vai estender a sua actividade ao Brasil e à
Índia) ou da própria Cimpor (que, após operações efectuadas ao pé da porta, em
Espanha e Marrocos, vai apostar no Brasil).
Existem, pois, sementes de mudança. Começa a haver empresas portuguesas
capazes de actuarem em termos mundiais, “globalizando-se” elas próprias nos planos
industrial e comercial. Mas estarão elas em condições de explorar todas as
potencialidades da globalização, designadamente em termos da capacidade de
articular conhecimentos internacionalmente dispersos e de gerir mecanismsos de
aprendizagem à escala mundial?
47
ANEXO
Metodologia de Inquirição e Características
das Empresas Respondentes
1. Metodologia
O inquérito postal foi enviado às 1400 maiores empresas industriais portuguesas
satisfazendo as seguintes condições:
– capital maioritariamente português
– localização no Continente.
O procedimento de inquirição envolveu três fases principais: contacto inicial,
através de carta capeando o questionário; envio de carta recordatória; e “controle de
qualidade” das respostas, implicando em grande parte dos casos o contacto telefónico
com os respondentes, para esclarecer dúvidas e completar pontos não respondidos.
O questionário era relativamente longo, comportando seis partes:
– informação geral sobre a empresa respondente;
– experiência genérica de internacionalização;
– exportações;
– investimento directo no estrangeiro, incluindo anexos para obtenção de
elementos específicos sobre as principais filiais;
– cooperação com empresas estrangeiras;
– perspectivas futuras, especialmente em termos de orientações de mercado,
formas de operação no exterior e deslocalização da produção.
2. Nível de Resposta
Por razões diversas (impossibilidade de contacto, não satisfação das condições
básicas de selecção) foram excluídas 39 empresas, pelo que o “universo corrigido” é
de 1361. Destas, obtiveram-se 249 respostas utilizáveis (18%). Contudo, dada a
morosidade do processo de controlo de qualidade, apenas 175 (isto é, 13% do
“universo corrigido”) estão já incluídas na base de dados utilizada para a análise
estatística.
48
3. Caracterização das Empresas Respondentes
Em termos muito sucintos, as 175 empresas respondentes podem caracterizar-se
como segue:
– predominância de empresas familiares: 58% das empresas são de natureza
familiar, detendo os membros da família a maioria do capital e a
responsabilidade da gestão;
– concentração em sectores tradicionais: cerca de 70% das empresas
respondentes encontravam-se nas indústrias tradicionais;
– volume médio de emprego rondando os 215 efectivos;
– experiência internacional limitada e considerada, em termos genéricos,
relativamente pouco relevante como fonte de vantagem competitiva; e
– orientação estratégica de “meia-aposta”, com um número reduzido de
estratégias de nicho e um peso idêntico atribuído à redução de custos e à
diferenciação dos produtos.
49
O INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO
EM
PORTUGAL
Miguel A. T. Coelho
Texto Elaborado para o Conselho Económico e Social em Março de 1997
50
Sumário
1. Introdução
2. O IDE no Período 1986-1995
2.1. Evolução
2.2. Tipologia
2.3. Origem
2.4. Objectivo
2.5. Localização
3. Comportamento das Empresas Nacionais e Estrangeiras: Análise Comparativa.
4. Determinantes do IDE em Portugal
5. Benefícios e Custos Associados ao IDE
6. Portugal face a outros Destinos de IDE
7. Conclusões
Anexos
Bibliografia
51
1. INTRODUÇÃO
O Investimento Directo Estrangeiro (IDE)42 é um dos fenómenos mais
significativos da maioria das economias de mercado, e Portugal não é excepção. Um
conjunto importante de multinacionais tem marcado presença em Portugal,
particularmente desde a década de 60, quer através da detenção total, quer através da
participação no capital de algumas empresas.
Essa presença, sendo de grande importância em alguns sectores, é, inclusivamente,
dominante em muitos outros entre os quais se destaca os do equipamento eléctrico,
montagem de automóveis e produtos farmacêuticos.
Simões (1983), identificou 3 fases no envolvimento internacional da economia
portuguesa, em particular no que toca ao posicionamento de Portugal face ao IDE, a
saber: “Nacionalismo”; “Abertura ao exterior”; e “Período recente”.
A primeira abrange os anos 40 e 50 e caracteriza-se por uma posição de
desconfiança face às entradas de IDE. Essa desconfiança consubstanciou-se nas
políticas governamentais face ao investimento externo que durante todo este período
foram marcadas pelo condicionamento industrial e pela “lei de nacionalização de
capitais”43. Se associarmos a isto o facto do país não deter significativas vantagens de
localização (país pouco desenvolvido com ausência de infra-estruturas e com um
reduzido mercado potencial interno) não é de estranhar que o investimento durante
este período tenha sido escasso44.
A segunda fase foi marcada pela adesão de Portugal à EFTA em 1959. O fim da
chamada “autarcia económica”45 e consequente alteração do enquadramento sóciopolítico da economia portuguesa teve um efeito significativo sobre a atractividade de
Portugal como localização do investimento internacional.
O IDE, que atingiu entre 1963 e 1974 um crescimento médio anual da ordem dos
24%, foi orientado sobretudo para as indústrias intensivas na chamada “mão-de-obra
barata” e vocacionadas para a exportação. No período compreendido entre 1969 e
1974 os principais países investidores (fig.1 e tab.1) foram a RFA (22,7%), os EUA
(16,5%) e o Reino Unido (15,1).
42
Segundo a OCDE o Investimento Directo Estrangeiro (IDE) é o investimento que envolve uma
relação de longo prazo, reflectindo um interesse duradouro, duma entidade residente numa economia
(investidor directo) numa entidade residente noutra economia (empresa receptora de investimento
directo), com o objectivo de exercício de um grau significativo de influência na gestão da empresa
residente nessa outra economia. O investimento directo envolve quer a transacção inicial, quer as
transacções subsequentes entre as duas entidades e as suas empresas associadas.
43
A “lei de nacionalização de capitais” (Lei n.º1994) publicada em 1943 estipulava que só empresas
nacionais, ou seja, empresas em que pelo menos do capital fosse português, poderiam dedicar-se à
exploração de serviços públicos, a actividades em regime de exclusivo e às actividades que “fossem
consideradas de interesse fundamental para a defesa do Estado ou para a economia da Nação”.
44
Apesar de não termos dados sobre o IDE para este período de análise podemos dizer que a entrada de
capitais privados de médio e longo prazo realizadas entre 1950 e 1959 não ultrapassou os $ 7,5 milhões
de dólares.
45
Utilizando a expressão de Rosas F. (1987) em O Estado Novo - Das origens ao fim da autarcia
1926-1959
52
FIGURA 1
EVOLUÇÃO DO IDE POR PAÍS DE ORIGEM
Percentagem
45
40
REINO UNIDO
FRANÇA
ESPANHA
ALEMANHA
EUA
SUIÇA
OUTROS
35
30
25
20
15
10
5
0
1969-1974
1975-1979
1980-1985
1986-1995
A terceira fase (Período recente) pode ser dividida em três grandes sub-períodos.
Um primeiro, que se inicia em 1975 e termina em 1979. Um segundo que teve início
em 1980 e termina em 1986 com a adesão à Comunidade. Por fim, um terceiro, que
teve início com a adesão e vai até aos nossos dias.
O primeiro sub-período foi caracterizado por um clima de desconfiança dos
investidores estrangeiros em resultado, por um lado, do clima político e sócioeconómico vivido (nacionalizações, espiral inflacionista, descolonização etc.), e por
outro lado, em resultado da crise económica internacional. Os investimentos
realizados durante estes anos tiveram como principal objectivo o fornecimento do
mercado interno, ou seja, tiveram um carácter de substituição das importações de
forma a fazer face às dificuldades sentidas ao nível da balança de pagamentos. Os
principais investidores (fig.1) foram a Suíça (20,9%), EUA (17,5%) e RFA (14,3%),
sendo a indústria transformadora (46,6% do IDE do período) o destino privilegiado
desses investimentos (fig.2 e tab.2).
FIGURA 2
EVOLUÇÃO DO IDE POR SECTOR DE ACTIVIDADE
ECONÓMICA
INDÚSTRIAS
TRANSFORMADORAS
50
Percentagem
40
INDÚSTRIAS
EXTRÁCTIVAS
30
COMÉRCIO,
RESTAURANTES E
HOTEIS
BANCOS E OIF
20
10
0
19691974
19751979
19801985
19861995
53
OUTROS
O sub-periodo que teve início em 1980 e terminou em 1986 foi caracterizado por
uma retoma do clima de confiança interno e externo para o investimento. A melhoria
registada na balança de pagamentos conduziu a que o investimento externo retomasse
a sua vocação exportadora, baseada em actividades intensivas em trabalho e
aproveitando os baixos custos salariais e alguns apoios ao investimento. Este subperíodo foi ainda caracterizado por um crescimento substancial da importância do
sector financeiro (18,7% do total do IDE) (fig.2) e do Reino Unido como país de
origem do IDE (16%) (fig.1).
Em termos de enquadramento legal, tanto no sub-período 1975-79 como no subperíodo 1980-85, o investimento directo esteve sujeito a um sistema de autorização
prévia e discricionária (Decreto lei n.º 239/76 de 6 de Abril). Neste diploma é
reconhecido o interesse do investimento estrangeiro para o desenvolvimento
económico do país que, contudo, deveria ser subordinado às orientações de política
económica. Em 1977 surge uma nova regulamentação (Decreto lei n.º 348/77 de 24 de
Agosto) que consolida o regime de autorização discricionária, instituindo ainda duas
modalidades46:
a) Regime geral: que englobava todo o IDE (com excepção de alguns casos
especiais).
b) Regime contratual: para projectos de investimento de especial interesse para
a economia portuguesa, prevendo incentivos financeiros e fiscais que
assumiam a forma de contrato entre o Estado português e o investidor
estrangeiro.
O terceiro e último sub-período teve início em 1986 com a adesão de Portugal à
CEE. Nesta fase dá-se a expansão definitiva do IDE registando um total acumulado
até 1995 de cerca de 3268 milhões de contos (fig.3 e tab.3).
FIGURA 3
INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO REALIZADO
(valores acumulados)
3500000
3000000
Milhões de
escudos
2500000
2000000
1500000
1000000
500000
0
1963-74
1975-79
1980-85
46
1986-95
1963-95
Posteriormente surgiu o Decreto-lei n.º 174/82 de 12 de Maio, que veio introduzir algumas alterações
ao Decreto-lei n.º348/77 de 24 de Agosto.
54
O sector financeiro foi o principal responsável pelo IDE registado com quase 50%
do total do investimento (fig.2), salientando-se ainda, a crescente importância da
Espanha como origem do investimento (fig. 3).
Em termos de enquadramento legal saliente-se o facto do IDE ter estado sujeito a
dois sistemas legais: Sistema de declaração prévia e sistema de registo “à posteriori”.
A necessidade de adequar a lei portuguesa às alterações decorrentes do tratado de
adesão às Comunidades conduziu ao surgimento do Decreto-lei n.º 197 - D/86 de 18
de julho47 que introduziu o chamado sistema de declaração prévia no qual é mantida a
divisão entre regime geral e contratual48 e introduzida a distinção entre investimentos
feitos por residentes em Estados-Membros da Comunidades Europeia, os quais eram
sujeitos a uma declaração prévia, que na realidade não passava de uma mera
verificação prévia da legalidade da operação, e investimentos feitos por não residentes
nos Estados da Comunidade Europeia, que eram objecto de avaliação e de negociação
entre o investidor estrangeiro e a entidade competente.
O sistema de registo “à posteriori”, consubstanciado no Decreto-lei n.º 321/95 de
28 de Novembro, entrou em vigor em 4 de Dezembro de 1995 e surge em substituição
do anterior sistema de declaração prévia. Para além de permitir a realização do IDE
antes da sua declaração aos organismos correspondentes, consagra na legislação
portuguesa a recomendação dos organismos internacionais no que toca aos critérios
de definição do IDE, considerando como um dos critérios a detenção de 10% ou mais
do capital de uma empresa por parte de um investidor externo residente noutro país.
Desta forma, esta harmonização conduz a que as estatísticas portuguesas relativas ao
IDE possam respeitar as recomendações internacionais nesse domínio.
47
O Decreto-lei n.º 197 - D/86 de 18 de Julho define operações de investimento estrangeiro como “os
actos que têm por objecto, ou de que pode resultar, quanto a uma empresa constituída ou a constituir
em Portugal, a criação de laços económicos estáveis e duradouros, de que resulte directa ou
indirectamente, imediata ou cumulativamente, a obtenção ou o reforço do efectivo poder de decisão, se
praticados por ou com a intervenção de:
a) pessoas singulares ou colectivas não residentes;
b) empresas portuguesas ou estabelecimentos em Portugal que, por via de participação no seu
capital ou por qualquer outro modo, devam considerar-se economicamente ligadas, em
primeiro ou sucessivo grau, a indivíduos ou a entidades não residentes”.
Saliente-se que o limite mínimo a partir do qual as operações de investimento estrangeiro eram
classificadas como operações de investimento directo, baseava-se no facto de o conjunto das
participações estrangeiras no capital da empresa receptora de investimento ser superior a 20%. Desta
forma este Decreto-lei exceptuava do regime de declaração prévia as seguintes operações:
a) participações de não residentes não superiores a 20% do capital social da empresa
portuguesa.
b) Transferência entre não residentes de Estados-Membros da Comunidade, de participações
em empresas residentes.
48
O regime contratual (Decreto-regulamentar n.º 17/93, de 1 de Junho, é aplicável aos projectos de
investimento estrangeiro com especial interesse para a economia nacional, isto é, àqueles que reúnam
as seguintes condições:
a) apresentem um valor de investimento igual ou superior a 5 milhões de contos;
b) tenham um efeito estruturante no tecido económico nacional, inserindo-se nas políticas de
desenvolvimento sectoriais;
c) contribuam de forma relevante para o desenvolvimento e internacionalização da economia
nacional.
55
2. O IDE NO PERÍODO 1986-1995
2.1. EVOLUÇÃO
Como referimos anteriormente, com a adesão de Portugal à União Europeia,
verificou-se o grande “salto” quantitativo do investimento directo estrangeiro. Assim,
o IDE, que em 1986 foi de 25 milhões de contos, atingiu em 1995 os 606 milhões de
contos, isto é, cerca de vinte e três vezes mais, sendo o investimento total acumulado
neste período de cerca de 3268 milhões de contos.
Saliente-se, contudo, que este período teve duas fases. Uma primeira, que termina
em 1991, é caracterizada por taxas de crescimento do IDE positivas, atingindo-se em
1991 um valor de IDE de cerca de 509 milhões de contos (fig.4 e tab.4). A segunda
fase tem início em 1992 e é caracterizada por taxas de crescimento de IDE negativas
(à excepção do ano de 1995).
FIGURA 4
EVOLUÇÃO DO INVESTIMENTO DIRECTO
DECLARADO E REALIZADO
700000
Milhões de
Escudos
600000
INVESTIMENTO
DIRECTO
REALIZADO
500000
400000
300000
200000
INVESTIMENTO
DIRECTO
DECLARADO
100000
1995
1994
1993
1992
1991
1990
1989
1988
1987
1986
0
Esta evolução do IDE teve consequências directas no peso deste no PIB (Produto
Interno Bruto) e na FBCF (Formação bruta de capital fixo). Assim, se em 1986 o IDE
representava 0,5% do PIB, em 1990 esse valor atingia um máximo de 4,6%, vindo
posteriormente a decrescer até atingir um valor de 2,4%, em 1994 (fig.5 e tab.5). No
que toca ao peso do IDE na FBCF, o comportamento foi em tudo idêntico, passando
de 2%, em 1986, para um máximo de 17%, em 1991, tendo decrescido a partir daí até
atingir um valor de 9,7%, em 1994 (fig.5).
56
FIGURA 5
PESO DO IDE NO PIB E NA FBCF
(1986 - 1994)
Percentagem
20
15
10
IDE/PIBpm
IDE/FBCF
5
1994
1993
1992
1991
1990
1989
1988
1987
1986
0
O investimento declarado49 ao ICEP, no âmbito do regime geral, teve um
comportamento em tudo semelhante ao do investimento efectivamente realizado,
passando de 24,5 milhões de contos, em 1986, para 672 milhões de contos, em 1992,
ano em que atingiu o seu valor máximo50 (fig.4 e tab.4).
No que respeita ao grau de realização51 do IDE, temos que entre 1986 e 1992 foi,
em média, de 79,4%, tendo a partir daí atingido valores superiores a 100%, o que
significa que muitos investimentos que tinham sido declarados antes de 1992 só se
vieram a concretizar após esta data.
Analisando agora o comportamento do desinvestimento estrangeiro realizado
verificamos que este teve um crescimento acentuado ao longo do período analisado
(fig. 6 e tab.4). Se em 1986 ele foi de 1,9 milhões de contos, em 1995 esse valor terá
sido de 526,2 milhões de contos.
49
O investimento declarado é o investimento que foi objecto de declaração prévia ao ICEP, traduzindo
desta forma as intenções de investimento. Isto não significa que o investimento se venha a realizar, ou
que mesmo que se realize, que venha a ser feito no mesmo ano em que foi declarado. Por outro lado, os
valores do investimento realizado aqui considerados e que entram na rubrica de investimento directo da
Balança de Pagamentos, assentam, na sua maioria, nas transferências cambiais associadas àquelas
operações.
50
No que se refere ao investimento declarado no âmbito do regime contratual, refira-se que o
investimento industrial bruto associado ascendeu a mais de 500 milhões de contos, sendo que grande
parte deste montante respeita ao projecto Ford/Wolkswagen.
51
O grau de realização mede o peso do investimento realizado no investimento declarado, num dado
ano.
57
FIGURA 6
EVOLUÇÃO DO INVESTIMENTO E DESINVESTIMENTO
DIRECTO ESTRANGEIRO REALIZADO
700000
600000
Milhões de
Escudos
500000
INVESTIMENTO
DIRECTO REALIZADO
400000
300000
DESINVESTIMENTO
DIRECTO
200000
100000
1995
1994
1993
1992
1991
1990
1989
1988
1987
1986
0
INVESTIMENTO
DIRECTO LÍQUIDO
Face ao comportamento do desinvestimento estrangeiro, não é de estranhar que o
investimento líquido tenha registado um comportamento menos dinâmico que o do
investimento bruto realizado52. Assim, a partir de 1990, data em que atingiu um valor
de 386 milhões de contos, o investimento líquido diminuiu tendo atingido um valor de
79,9 milhões de contos, em 1995 (fig.6).
Por fim, a análise do número de investidores (desinvestidores) e de empresas
objecto de investimento (desinvestimento) levam-nos a concluir que entre 1989 e
1992, do lado do investimento, o número de investidores e empresas receptoras de
investimento diminuiu, enquanto do lado do desinvestimento, o número de
desinvestidores e empresas objecto de desinvestimentos cresceu (fig.7 e tab.6).
FIGURA 7
NÚMERO DE INVESTIDORES E DE EMPRESAS
RECEPTORAS DE INVESTIMENTO (1989 - 1992)
3500
3000
2500
2000
1989
1990
1991
1992
1500
1000
52
EMPRE
SAS
OBJECT
O DE
DESINV
ESTIDO
RES
EMPRE
SAS
RECEPT
ORAS
0
INVEST
ODORE
S
500
Sintoma de que a taxa de crescimento do desinvestimento nestes anos foi superior à do investimento.
58
Por outro lado, o investimento médio realizado por investidor cresceu de 102,1 mil
contos, em 1989, para 225,4 mil contos, em 1992, indicando a crescente dimensão dos
investimentos directos. No que toca aos desinvestimentos médios realizados por
investidor estrangeiro, também houve um crescimento do seu valor passando de 92
mil contos, em 1989, para 476 mil contos, em 1992.
2.2. TIPOLOGIA
Importa analisar a evolução da distribuição do IDE por tipo de operação53 54no
sentido de identificar as formas escolhidas pelos investidores não residentes para a
concretização dos seus investimentos.
É notório o papel do reforço de investimento como meio de aplicação de capitais
externos em investimento directo (em 1989, representava 58,7% do total do IDE, em
1995, já representava 82,8%) (fig.8 e tab.7) Uma das explicações possíveis para a
crescente importância do reforço de investimento pode residir no facto de, para os
investidores estrangeiros, ser mais fácil a penetração no mercado através do
aproveitamento e/ou reconversão de empresas onde já detêm capital (com um
mercado e uma clientela já definido) do que pela criação de novas empresas.
FIGURA 8
IDE POR TIPO DE OPERAÇÃO
NOVOS
INVESTIMENTO
100%
80%
AQUISIÇÃO DE
INVESTIMENTOS
EXISTENTES
REFORÇO DE
INVESTIMENTOS
60%
40%
20%
DIVERSOS
1995
1994
1993
1992
1991
1990
1989
0%
Em contrapartida, tanto os novos investimentos como a aquisição de investimentos
existentes viram a sua importância decrescer. Se em 1989 os novos investimentos
representavam 13,6% do IDE, em 1995 esse valor descia para 1,5%. Por outro lado, o
peso no IDE da aquisição de investimentos já existentes desceu de 25,1%, em 1989,
para 8,9%, em 1995.
53
Esta classificação por tipo de operação não está disponível para os anos de 1986 a 1988.
Distinguem-se três grandes tipos de operação: novos investimentos (constituição de empresas ou
abertura de sucursal/escritório de representação); reforços de investimento (aumento de capital ou
prestações suplementares de capital ou empréstimos de longo prazo e suprimentos); aquisição de
investimentos já existentes.
54
59
Analisando os dados estatísticos de forma mais desagregada podemos dizer que no
reforço de investimento destaca-se a crescente importância dos empréstimos e
suprimentos que, em 1989, representavam 17,6% do IDE total, passando a
representar, em 1995, cerca de 63% do IDE total.
2.3. ORIGEM
Antes de analisarmos a origem do IDE convirá dizer que esta corresponde ao país
onde está localizada a entidade investidora, independentemente do centro de decisão
ou do país da sede do investidor estrangeiro. Isto significa, que quando um investidor
de um determinado país investe no estrangeiro através de uma filial localizada num
outro país, a análise da origem pode estar distorcida uma vez que o verdadeiro centro
de decisão não está a ser considerado. No caso português este facto tem contribuído
para sobrevalorizar o peso da Comunidade Europeia como origem do IDE uma vez
que muitas empresas americanas e japonesas investem em Portugal através das filiais
situadas na Comunidade, sendo a origem do IDE atribuída a estas.
Feito este breve reparo vamos então analisar o IDE por país de origem. Começando
por analisar a origem por zonas económicas podemos dizer que a importância da UE é
esmagadora, tendo atingido um valor de 79,5%, em 1995 (76,3% em 1989). Por outro
lado, o peso da OCDE decresceu de 96,1%, em 1986, para 94,1%, em 1995 (tab.8).
Daqui resulta que o aumento da importância dos países da UE (de salientar, que os
dados estatísticos de 1995 ainda não incluem os novos membros da UE: Áustria,
Suécia e Finlândia) terá sido feito, em grande medida, à custa dos outros países da
OCDE, em particular dos EUA que passou de 8,6%, em 1986, para 2,1%, em 1995 (a
excepção será a Suíça que passou de 9,1%, em 1986, para 12%, em 1995).
O “resto do mundo”, por seu lado, tem tido um comportamento bastante irregular.
Assim, em 1986, representava 3,9%, crescendo para 16,1%, em 1989, e voltando a
decrescer, em 1995, para 5,9%.
Se analisarmos a origem por países (fig. 9 e tab.8) podemos verificar que dois
países representavam, em 1995, quase 50% do total do IDE: França e Reino Unido.
Saliente-se, contudo, que o comportamento ao longo do período tem sido irregular. A
França, por exemplo, que representava, em 1995, 29,1% do IDE, teve, em 1994, um
peso de apenas 8,9%. Por outro lado, o Reino Unido, que, em 1986, representava
38,8% do IDE, em 1995 passou a representar 20,5%. Esta diminuição do peso do
Reino Unido no IDE não impediu, no entanto, que este país fosse, ao longo do
período, o que mais investiu em Portugal (478 milhões de contos ou seja quase 15%
do total do IDE).
Por fim, destaque-se a crescente importância da Espanha como origem do IDE, a
qual atingiu um peso máximo, em 1993, com 18,5% do IDE total.
60
FIGURA 9
IDE POR PAÍS DE ORIGEM
100%
80%
60%
40%
20%
1995
1994
1993
1992
1991
1990
1989
1988
1987
1986
0%
OUTROS
EUA
SUÍÇA
OUTROS DA UE
ALEMANHA
ESPANHA
REINO UNIDO
FRANÇA
2.4. OBJECTIVO
Este período pode ser dividido em duas fases no que se refere ao objectivo do IDE,
isto é, no que se refere à distribuição do IDE por actividades económicas.
Numa primeira fase, que se prolonga até 1992, regista-se uma acentuada quebra na
importância da “indústria transformadora” (47% do total do IDE, em 1986, e 16,8%,
em 1992), e um acentuado crescimento da importância do sector financeiro55 no total
do IDE (17,5%, em 1986, e 65,8%, em 1992) (fig.10 e tab.9).
Numa segunda fase (a partir de 1993), regista-se uma tendência inversa à anterior.
Assim, a “indústria transformadora” passou de 22,3%, em 1993, para 60,5%, em
1995, enquanto o sector financeiro passou de 59,3%, em 1993, para 21,8%, em 1995.
Da análise desagregada da “indústria transformadora” destaca-se a crescente
importância do “equipamento e material de transporte” que passou de 4,5%, em 1989,
para 13,2% do IDE total, em 1994 (a que não está alheia a importância do projecto
Ford/Wolkswagen). Se bem que com uma expressão mais reduzida, saliente-se a
crescente importância do “papel, artes gráficas e publicações” que representavam
0,2% do total do IDE, em 1989, passando para 3,4%, em 1994, e das “químicos
derivados do petróleo, carvão e produtos de borracha e plástico” que passou de
12,5%, em 1989, para 6,4%, em 1994. Com um comportamento decrescente
destacam-se a “alimentação, bebidas e tabaco” (3,9%, em 1989, e 2,8%, em 1994) e
os “têxteis, vestuário e couro” (2,9%, em 1989, e 1,1%, em 1994).
55
Bancos e outras instituições financeiras, seguros, operações sobre imóveis e serviços prestados às
empresas.
61
FIGURA 10
IDE POR SECTOR DE ACTIVIDADE
OUTROS
100%
BANCOS, OIF, …
80%
COMÉRCIO, RESTAURANTES E
HOTEIS
60%
40%
CONSTRUÇÃO E OBRAS
PÚBLICAS
20%
ELÉCTRICIDADE, GÁS E ÁGUA
1995
1994
1993
1992
1991
1990
1989
1988
1987
1986
0%
INDÚSTRIAS
TRANSFORMADORAS
Relativamente aos outros sectores de actividade refira-se o comportamento das
“indústrias extractivas” e da “agricultura, silvicultura, caça e pesca” que tinham, em
1986, um peso de, respectivamente, 4,3% e 1,7% do total do IDE, e passaram a
representar cerca de 0,1% do total do IDE verificado em 1995.
O comportamento do sector da “electricidade, gás e água”, foi diverso do anterior,
uma vez que até 1992 tinha uma importância nula, passando a representar 5,1% do
total do IDE de 1995. Este facto deve-se em grande medida aos projectos de
instalação do gás natural em Portugal.
Representando, em 1992, 10,2% do IDE, o sector da “construção e obras públicas”
tem perdido alguma importância, registando-se, em 1995, um valor de 2%.
Também o “comércio por grosso e a retalho, restaurantes e hotéis” têm perdido
importância. Assim, enquanto em 1986 representava 26,1%, em 1995 representava
apenas 9,4%.
2.5. LOCALIZAÇÃO
Antes de entrar na discussão deste ponto convém referir que as estatísticas por
distrito de localização do IDE correspondem, normalmente, à localização da sede da
empresa e não ao das fábricas ou outros estabelecimentos da empresa. Tal facto
poderá tornar os dados enviesados no sentido do litoral e especialmente de Lisboa e
Porto, em detrimento de outras regiões do interior.
O distrito de Lisboa é o líder incontestado como destino do IDE, isto apesar de ter
visto a sua importância diminuir. Assim, enquanto em 1989 absorvia 70,1% do total
do IDE, em 1995 representava apenas 52,5%56 (fig.11 e tab.10).
56
Refira-se que os dados de 1989 a 1992 referem-se ao IDE realizado, enquanto os dados de 1993 a
1995 são referentes ao IDE declarado ao ICEP no âmbito do regime geral.
62
O segundo distrito mais importante como receptor do IDE é o Porto, com 12,8%,
em 1989, e 14,2%, em 1995, seguido de Setúbal, com 2,2%, em 1989, e 13,78%, em
1995.
Refira-se que a importância dos outros distritos no seu conjunto como destino do
IDE é muito reduzida (15%, em 1989, e 20%, em 1995). Apesar disso, destaque-se o
comportamento positivo registado, em 1995, por parte do distrito de Coimbra (5,78%)
e Aveiro (5,33%).
FIGURA 11
LOCALIZAÇÃO DO IDE (1989 - 1995)
100%
Percentagem
80%
40%
OUTROS
SETÚBAL
PORTO
20%
LISBOA
60%
1995
1994
1993
1992
1991
1990
1989
0%
Para finalizar vamos fazer uma breve referência ao tipo de operação, por distrito.
Assim, o distrito de Lisboa atraiu investimento ligado, principalmente, aos sectores
financeiro, imobiliário, comercial e de construção, enquanto nos outros distritos do
litoral Ocidental, os investimentos estiveram ligados à indústria transformadora.
3.
COMPORTAMENTO
DAS
EMPRESAS
ESTRANGEIRAS: ANÁLISE COMPARATIVA.
NACIONAIS
E
Neste capítulo pretendemos fazer a análise comparativa do comportamento das
empresas nacionais face às empresas com capital estrangeiro. Neste sentido, salientese o estudo feito por Morais, H. (1994) para o período 1987-1992, em que concluiu
que a produção das empresas estrangeiras apresentam níveis superiores aos das
nacionais. Assim, enquanto o valor acrescentado sectorial das empresas estrangeiras
corresponde a cerca de 30% do total, o número de empresas estrangeiras não
ultrapassa os 8%, o que significa que, em média, o valor acrescentado por empresa
estrangeira é mais do triplo das restantes empresas nacionais (tab.12).
Relativamente à produtividade do trabalho, verifica-se que o valor acrescentado
por empregado é superior nas empresas com participação externa (tab.13).
Por outro lado, Morais, H. (op. cit.) concluiu que as empresas receptoras de IDE
apresentam performances exportadoras superiores às suas congéneres portuguesas.
Para além disso, a importância das exportações nas vendas totais é maior nas
63
empresas estrangeiras que nas nacionais (tab.14), sendo a indústria têxtil, indústria da
madeira e cortiça, a indústria do papel e a fabricação de produtos metálicos, os
sectores onde esta tendência é mais acentuada.
Ainda no que se refere à comparação entre o comportamento exportador das
empresas nacionais e das estrangeiras, refira-se o trabalho de Cabral, S. (1995) que
concluiu o seguinte:
a) Capital estrangeiro: o capital estrangeiro exerce uma influência positiva no
comportamento exportador das empresas, o que significa que uma empresa
estrangeira tenderá a exportar mais do que uma nacional (Ceteris Paribus).
Este facto está intimamente relacionado com o maior conhecimento do
mercado internacional que as empresas estrangeiras detêm face às
nacionais57.
b) Intensidade capitalistica e dimensão da empresa: tanto a intensidade
capitalistica como a dimensão da empresa exercem um impacto positivo na
performance exportadora das empresas. Contudo, esse impacto é mais
acentuado no caso das empresas nacionais do que nas filiais estrangeiras.
Uma explicação para isto poderá residir no facto das empresas estrangeiras,
ao contrário das nacionais, estarem inseridas em multinacionais que operam à
escala mundial, o que reduz significativamente a “massa crítica” necessária
para as empresas estrangeiras exportarem.
c) Economias de escala: A sua existência na produção tem impacto positivo na
performance exportadora das empresas, sendo essa influência inferior no
caso das empresas estrangeiras. A explicação para este facto reside também
no facto das empresas estrangeiras estarem inseridas em multinacionais que
operam à escala mundial.
d) Qualificação da mão-de-obra: apesar das filiais estrangeiras utilizarem
trabalho mais qualificado do que as empresas nacionais, o que é certo é que
existe uma relação de sinal negativo entre maior qualificação de mão-de-obra
e o comportamento exportador das empresas estrangeiras (ao contrário do
que acontece nas empresas nacionais). Isto significa que são as filiais
estrangeiras que empregam trabalho relativamente menos qualificado
(consequentemente mais barato), que apresentam uma actividade exportadora
mais acentuada.
e) Comércio internacional: o nível de vantagem comparativa revelada em cada
sector apresenta um impacto positivo nas exportações, quer das empresas
nacionais, quer das empresas estrangeiras, tendo as empresas vocacionadas
para o comércio intra-ramo uma performance exportadora inferior. Saliente57
Fontoura (1996) concluiu que o IDE não influencia positivamente a propensão a exportar da indústria
portuguesa. Contudo, estes resultados baseiam-se apenas nos dados estatísticos de 1991 e 1992, o que é
manifestamente insuficiente, sendo necessário confirmar estes resultados com uma série mais longa de
dados estatísticos.
64
se, contudo, que as empresas estrangeiras tem uma preferência maior que as
nacionais pelos sectores onde Portugal apresenta vantagens comparativas.
f) Taxa de câmbio real do escudo: O impacto da apreciação da taxa de câmbio
real e consequente agravamento dos custos relativos do trabalho, não parece
influenciar negativamente a performance exportadora das filiais estrangeiras,
ao contrário do verificado com as empresas portuguesas.
g) Procura externa: Apesar do impacto de um aumento da procura externa ser
positivo, quer na performance exportadora das empresas nacionais, quer na
das estrangeiras, o que é certo é que esse impacto é superior nas segundas.
Tal facto deve-se, fundamentalmente, à maior flexibilidade das empresas
estrangeiras que têm, normalmente, actividades em vários países do mundo,
o que lhes dá um conjunto de ligações internacionais privilegiadas e um
grande conhecimento do mercado internacional.
4. DETERMINANTES DO IDE EM PORTUGAL
Como é sabido a decisão de investir no exterior é tomada com base num vasto
conjunto de variáveis58. Dunning (1977) sistematizou esse conjunto de variáveis na
chamada “Teoria Ecléctica”. Segundo ele, a decisão de IDE por parte das empresas
multinacionais baseia-se na detenção de vantagens que subdividem em três grupos:
1) Vantagem específica da empresa: vantagem detida por uma dada empresa
que lhe permite deter uma superioridade face aos concorrentes no mercado
externo.
2) Vantagem de internalização: vantagem que uma companhia obtém pelo facto
de internalizar uma dada actividade em vez de a transferir para uma outra
empresa no mercado externo (exemplo: filial produtiva em vez de
licenciamento).
3) Vantagem de localização: estas vantagens têm a ver com as características do
país de destino do IDE. Incluem as barreiras comerciais, mercado de
trabalho, recursos naturais, proximidade aos mercados finais, infra-estruturas
de transporte e comunicação, intervenção governamental, etc.
Dado que tanto as vantagens específicas como as vantagens de internalização têm a
ver, fundamentalmente, com a empresa, a análise destas vantagens não é relevante
para o nosso estudo. Interessa-nos sim, avaliar as vantagens de localização que
58
Segundo Simões, V. (1992), “o desenvolvimento do investimento internacional é função de factores
de ordem diversa, que podem ir desde as estratégias das empresas que investem no exterior, até às
condições objectivas do país de implantação de investimento, como a dotação em recursos naturais, a
dimensão do mercado, o nível de remuneração e formação dos trabalhadores, a capacidade e
dinamismo endógenos e o enquadramento económico e politico”.
65
Portugal detém, e desta forma averiguar da importância deste tipo de vantagem como
determinante de IDE.
a) Enquadramento político, económico e social: a estabilidade política,
económica e social vivida a partir de 1986, contribuiu significativamente
para o crescimento do IDE.
b) Remuneração do factor trabalho: Morais, H. (1994), concluiu que o IDE em
Portugal não é atraído apenas pela existência de mão-de-obra “barata”: Nos
sectores da alimentação e dos têxteis as empresas participadas têm uma
maior componente salarial do que as empresas nacionais. Fontoura (1996),
foi mais longe ao concluir que os sectores que tem uma componente salarial
mais elevada recebem comparativamente mais investimento externo que as
de componente salarial mais baixa.
c) Enquadramento legal: a simplificação dos procedimentos associados às
liquidações cambiais relativas ao IDE (Decreto-lei n.º 197 D/86 de 18 de
Julho) e ainda a substituição do sistema de autorização casuística pelo
sistema de autorização prévia (1986) contribuíram para o crescimento do
IDE. Com a liberalização total dos movimentos de capital e com a instituição
do sistema de registo à posteriori, o IDE, em Portugal, por parte dos países
Comunitários, não sofre hoje em dia praticamente nenhum entrave (à
excepção dos limites à aquisição de capital de empresas a privatizar).
d) Inexistência de capacidade produtiva interna: O IDE em Portugal tem sido
canalizado para alguns sectores em que não parece existir uma capacidade
interna para satisfazer a procura, o que significa que no caso português a
ausência dessa capacidade produtiva é um determinante de IDE.
e) Recursos naturais: o aproveitamento dos recursos naturais tem sido um
determinante importante de IDE em Portugal, se bem que com um papel cada
vez menos relevante. Nesse sentido saliente-se o caso das indústrias
extractivas que representavam 4,3% do IDE, em 1986, e passaram a
representar 0,1%, em 1995.
f) Privatizações: Segundo Quina (1989), o processo de privatização das
empresas públicas teve um papel relevante na captação de IDE, isto apesar
dos não residentes só poderem ter acesso a uma percentagem das acções
emitidas.
g) Descapitalização e reduzido grau tecnológico das empresas portuguesas:
Uma grande percentagem do IDE foi dirigido para a aquisição de empresas
descapitalizadas ou mesmo falidas. Essas empresas, que normalmente,
apostavam mais na transferência de tecnologia do exterior do que no
investimento próprio em I&D, foram um alvo preferencial do IDE.
66
h) Atitudes face ao IDE: Portugal tem uma atitude favorável face ao IDE
consubstanciada, por exemplo, na existência de incentivos financeiros e
fiscais ao investimento. Neste sentido, saliente-se o papel dos apoios
comunitários que terão sido, talvez, um dos determinantes mais importantes
do IDE59. Refira-se ainda que a liberdade de estabelecimento dos não
residentes nos sectores abertos à iniciativa privada e a garantia de
repatriamento, para o país de origem, de lucros e dividendos gerados pelo
IDE, contribuiu também para o fomento do IDE.
Apesar destes elementos positivos no que toca à captação de IDE, o que é
certo é que em termos de promoção do IDE por parte das entidades nacionais
existem algumas lacunas. Nesse sentido destaca-se o papel pouco dinâmico
do ICEP que, na maioria das suas representações no estrangeiro, não tem
nenhum responsável que trate, em exclusivo, dos problemas relativos à
promoção do IDE.
5. BENEFÍCIOS E CUSTOS ASSOCIADOS AO IDE.
Ferreira, E. (1984) considera que os benefícios associados ao IDE podem ser de
dois tipos: estáticos e dinâmicos.
Os benefícios de tipo estático, tais como os associados à melhoria da Balança de
Pagamentos (BP) ou diminuição do desemprego, não alteram substancialmente a
capacidade de desenvolvimento do país recipiente de IDE.
Por outro lado, os benefícios dinâmicos têm um efeito positivo na capacidade de
crescimento da economia receptora de IDE. Assim, num dado país, a introdução, por
parte das empresas estrangeiras, de inovações científicas, modos de produção e
métodos de gestão, pode beneficiar as empresas domésticas (através do chamado
“efeito demonstração”). Por outro lado, a mão-de-obra formada nas empresas
receptoras de IDE, pode, ao transferir-se para as empresas domésticas, aplicar os
“conhecimentos” adquiridos e assim promover o desenvolvimento desta.
Com base nesta “grelha de leitura” proposta por Ferreira, E. (op. cit.) as conclusões
que retiramos para a economia portuguesa em termos de benefícios estáticos são as
seguintes:
1) Emprego: em média as empresas estrangeiras empregam mais trabalhadores
que as empresas portuguesas. Este facto é, contudo, pouco relevante uma vez
que apesar de podermos concluir que, em média, as empresas estrangeiras
são maiores que as empresas portuguesas, nada nos garante acerca dos
ganhos ou perdas de emprego que ocorreriam se as empresas estrangeiras
fossem substituídas por empresas domésticas de dimensão semelhante.
59
Segundo Fontoura (1996), o papel dos incentivos no âmbito do PEDIP não parece relevante na
decisão de investir por parte dos investidores estrangeiros. Refira-se que a obtenção destes resultados,
reside no facto de no período estudado por Fontoura, os apoios e incentivos estarem a escassear.
67
2) Balança de Pagamentos: o impacto na BP pode ser analisado em termos de
balança comercial e balança de capitais. No que se refere à balança de
capitais verificamos que as entradas de capitais para investimento directo
vieram preencher o “gap” entre poupança interna e as necessidades de
investimento existentes em Portugal (tab.15).
Por outro lado, e no que toca à balança comercial, sabemos que,
empiricamente, está demonstrado que as empresas estrangeiras têm mais
tendência para se abastecer no mercado externo do que as empresas
nacionais, o que pode contribuir para uma deterioração da balança comercial
do país receptor de IDE. Contudo, e apesar da propensão a importar das
empresas estrangeiras ser maior do que a das nacionais, também é certo que,
segundo Morais, H. (1994), a performance exportadora das empresas
estrangeiras é melhor do que a das nacionais. Em termos de resultado
“líquido”, Ferreira, E. (1984) concluiu que o impacto do IDE na balança
comercial é negativo (tab.16).
A avaliação dos benefícios dinâmicos é dificilmente mensurável, sendo os únicos
dados disponíveis referentes à transferência de tecnologia (tab.17).
Saraiva, A. (1996) analisando a “balança de pagamentos tecnológica” portuguesa60
concluiu que Portugal é um receptor líquido de tecnologia. Segundo Saraiva, A. (op.
cit.) “ o défice da balança tecnológica aumentou de 19,4 milhões de contos, em 1990,
para 49,5 milhões de contos, em 1992”, sendo 45% das importações de tecnologia
realizadas por empresas participadas por capital estrangeiro, o que significa que os
investidores estrangeiros transferiram algumas actividades de I&D do país de origem
para Portugal.
Relativamente aos custos associados ao IDE para o caso português eles foram na
nossa opinião muito reduzidos. Assim, e para além do eventual efeito negativo sobre a
balança comercial referido anteriormente, não se vislumbram outros custos
significativos.
6. PORTUGAL FACE A OUTROS DESTINOS DE IDE
Os anos oitenta marcam claramente um ponto de viragem no que toca ao IDE. Se,
por um lado, até essa época os fluxos de IDE tinham alguma orientação “Norte - Sul”,
a partir daí tomaram uma orientação claramente “Norte-Norte” com grande parte do
IDE a ter como origem e destino a Tríade (EUA-UE-Japão).
Por outro lado, é também a partir da década de oitenta (principalmente de 1985)61
que o IDE conheceu um crescimento particularmente rápido, crescimento esse que se
manteve até 1990, altura em que, paralelamente, se entrou na fase descendente do
60
Relativamente aos pagamentos e recebimentos com o exterior, sobre o uso de activos e direitos de
propriedade intangíveis, tais como: patentes, fórmulas, “designs”, “copyrights” e direitos de fabrico.
61
Os fluxos de IDE passaram de uma média anual de 50 biliões de USD/ano, em 1981-1985, para uma
média anual de 155 biliões de USD/ano, em 1986-1990.
68
ciclo económico. Em 1993 o IDE retomou a tendência de crescimento (fig.12 e
tab.18).
FIGURA 12
FLUXOS MUNDIAIS DE IDE
200
1981-1985 (média)
1986-1990 (média)
1991
1992
1993
Biliões de
dolares
150
100
50
0
.
Em termos de destinos e origens do IDE registe-se que as grandes alterações dãose também a partir da década de oitenta. Os EUA, torna-se o principal destino de IDE,
vindo a perder para o Japão a posição que detinha como principal origem.
Por outro lado dá-se na segunda metade da década de oitenta um “Boom” de IDE
no leste e sudeste asiático. Refira-se nomeadamente os casos da China, Singapura,
Malásia, Hong-Kong e Taiwan (fig.13 e tab.19). Nestes países o crescimento do IDE
de 1985 a 1992 foi em muitos casos superior a 500%62.
FIGURA 13
O IDE NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO
(OS MAIORES RECEPTORES DE IDE)
CHINA
SINGAPURA
12000
HONG KONG
Milhões de
dolares
10000
TAILANDIA
8000
TAIWAN
6000
INDONÉSIA
4000
MALÁSIA
2000
MÉXICO
0
1985
1990
1992
ARGENTINA
BRASIL
Positivo terá sido também o comportamento do IDE em alguns países da América
latina. Refira-se o caso do México, que passou de 491 milhões de USD, em 1985, para
5366 milhões de USD, em 1992, e a Argentina, que passou de 919 milhões de USD,
em 1985, para 4179 milhões de USD, em 1992. O Brasil, apesar de ser um dos
62
Refira-se que grande parte do sucesso destas economias se deve, precisamente, ao IDE.
69
maiores receptores de IDE da América latina, registou um crescimento muito ligeiro
nas entradas de IDE.
Paralelamente à dinâmica de captação de IDE por parte dos países referidos
anteriormente, saliente-se o comportamento registado pelos Países da Europa Central
e Oriental (PECO)63 a partir de 1989 (fig.14 e tab.20). A titulo de exemplo refira-se o
crescimento do IDE na ex-Checoslováquia, que passou de 256 milhões de USD, em
1989, para 1900 milhões de USD, em 1992, enquanto na Polónia e na Hungria terá
subido de, respectivamente, 100 milhões de USD e 550 milhões de USD, em 1989,
para 1400 milhões de USD e 4300 milhões de USD, em 1992.
FIGURA 14
O IDE NOS PAISES DA EUROPA CENTRAL
E ORIENTAL
Milhões de dolares
5000
4000
BULGÁRIA
3000
EX-CHECOSLOVAQUIA
HUNGRIA
2000
POLÓNIA
ROMÉNIA
1000
0
1989
1990
1991
1992
Se fizermos uma análise comparativa entre Portugal e os países referidos
anteriormente, em termos de fluxos anuais de IDE (tab.20), verificamos que Portugal
tem perdido importância como destino de IDE. Assim, se em 1990, apenas a China e
Singapura receberam mais IDE que Portugal, em 1992, fomos também ultrapassados
pelo México, Malásia, Hungria e Argentina, o que significa que passamos do terceiro
para o sétimo lugar do “ranking”.
Do exposto anteriormente é de esperar que, quer os países do leste e sudeste
asiático, quer os países da América latina, que revelam um forte dinamismo na
captação de IDE, são potenciais competidores de Portugal como destino de IDE64.
Todavia, na nossa opinião, são os PECO os nossos principais competidores em termos
de captação de IDE. Esta conclusão baseia-se no seguinte:
a) Enquadramento legal e apoio institucional: os PECO, logo após as
transformações políticas em finais de 1989, encetaram uma “cruzada” para
captar o investimento estrangeiro. Apesar dos enormes progressos
63
Vamos considerar como PECO’s a Bulgária, Ex-Checoslováquia (República Checa e Eslovaquia),
Hungria, Polónia e Roménia.
64
Este facto resulta, principalmente, da existência nesses países de custos de trabalho inferiores aos
registados em Portugal (e níveis de produtividade semelhantes), o que, como já vimos anteriormente
pode ser um determinante importante de IDE em alguns sectores de actividade em Portugal,
nomeadamente nos têxteis.
70
verificados nesta área existem no entanto ainda alguns entraves legais, tais
como os relativos ao repatriamento dos lucros.
Estes pequenos entraves têm, contudo, tendência a desaparecer, sendo de
esperar que a breve trecho exista uma harmonização quase absoluta do
enquadramento legal relativo ao IDE, entre os PECO e a UE (este facto
torna-se ainda mais evidente face à previsível adesão de alguns dos PECO à
UE).
Aspecto importante é também o do processo de privatização encetado pelos
PECO no início da década de 90. Uma vez que nesses países o processo está
numa fase inicial enquanto em Portugal já está numa fase de maturidade,
podemos afirmar que as oportunidades futuras de investimento baseadas
neste aspecto são muito maiores nos PECO do que em Portugal.
Por fim, e no que se refere aos apoios institucionais a situação que era
manifestamente favorável a Portugal no final da década de oitenta (devido
aos fundos estruturais) deixou de o ser, fundamentalmente a partir de 199293, sendo previsível que a lógica de benefícios de que Portugal usufruiu seja
aplicada também aos PECO.
b) Acesso a mercados: os PECO, pelo facto de estarem situados no centro da
Europa, têm um acesso privilegiado a mercados como o alemão, austríaco,
sueco e finlandês, entre outros. Este factor, associado à própria dimensão dos
PECO fará com que as decisões dos investidores sejam favoráveis a estes
países em detrimento de Portugal (ceteris paribus).
c) Custo do trabalho e mercado de trabalho: com custos unitários do trabalho
mais baixos65 e com níveis de produtividade muito próximos dos
portugueses, os PECO apresentam também neste aspecto uma clara
vantagem sobre Portugal. Acresce a isto o maior nível educacional da
população e ainda a maior flexibilidade do mercado de trabalho.
7. CONCLUSÕES
As principais conclusões que podemos retirar acerca do investimento directo em
Portugal podem ser sintetizadas no seguinte:
a) O IDE registou um crescimento acelerado após a adesão à Comunidade,
tornando-se um elemento fundamental no crescimento e desenvolvimento da
economia portuguesa (em 1990 o IDE representava 16,9% da FBCF e 4,6 do
PIBpm).
65
Segundo Halpern (1994), o salário por hora de um trabalhador da indústria em 1992 era de $1,5 USD
na Polónia, $2 USD na Checoslováquia, $2,5 USD na Hungria e de $5 USD em Portugal.
71
b) O reforço de investimento tem um papel preponderante como meio de
aplicação de capitais externos em investimento directo (82,8% do total do
IDE, em 1995).
c) Quase 80% do IDE tem origem na UE, sendo a França e o Reino Unido os
nossos principais investidores. Registe-se o crescente papel da Espanha como
origem de IDE.
d) Podemos distinguir duas fases no que se refere à distribuição do IDE por
actividades económicas. Numa primeira fase (1986-1992) regista-se uma
quebra na importância da “indústria transformadora” (47% do total do IDE,
em 1986, e 16,8%, em 1992) e um acentuado crescimento da importância do
sector financeiro (17,5%, em 1986, e 65,8%, em 1992). Numa segunda fase
(1993-1995), a indústria transformadora vê a sua importância crescer (22,3%,
em 1993 e 60,5%, em 1995) enquanto a importância do sector financeiro
decresceu (59,3%, em 1993, e 21,8%, em 1995).
e) O IDE está concentrado, fundamentalmente, no distrito de Lisboa (com mais
de 60% do IDE até 1994), Porto e Setúbal, que juntos absorvem mais de 80%
do IDE total.
f) As empresas estrangeiras têm um comportamento mais dinâmico do que as
suas congéneres nacionais. Em primeiro lugar, o valor acrescentado por
unidade produtiva é mais do triplo do das unidades produtivas nacionais. Em
segundo, a produtividade do trabalho é superior nas empresas estrangeiras. E
por fim, em terceiro lugar, verifica-se que a performance exportadora das
empresas estrangeiras é superior à das nacionais.
g) A estabilidade política, económica e social; os apoios financeiros e fiscais
por parte do Estado português e da Comunidade; o enquadramento legal
favorável; e as oportunidades de negócio resultantes do processo de
privatizações, têm favorecido claramente o IDE em Portugal. Apesar de
muitos autores considerarem que, quer os recursos naturais, quer os custos de
trabalho, têm sido determinantes importantes do IDE em Portugal, o que é
certo é que se verifica, por um lado, que os sectores com uma componente
salarial mais elevada recebem comparativamente mais investimento externo
que os de componente salarial mais baixa, e por outro lado, que o
aproveitamento de recursos naturais tem um papel cada vez menos relevante
como determinante do IDE em Portugal.
h) Podemos afirmar que os benefícios, para Portugal, resultantes do IDE,
superam claramente os custos.
i) Os países do sudeste e leste asiático, os países da Europa central e oriental
(PECO) e alguns países da América latina são potenciais competidores de
Portugal como destino de IDE. Saliente-se, contudo, que o maior perigo virá
72
dos PECO que apresentam um conjunto de vantagens de localização iguais
ou melhores que as de Portugal.
73
ANEXOS
74
TABELA 1: EVOLUÇÃO DO IDE POR PAÍS DE ORIGEM (Milhões de escudos)
1969-1974
a)
1628
410
%
1975-1979
%
1980-1985
%
15,1
804
5,4
16033
16
Reino unido
3,8
1678 11,3
13677 13,6
França
2228
2,2
Espanha
2452 22,7
2111 14,3
6247
6,2
Alemanha
369
3,4
2031 13,7
8775
8,7
Outros
4859 45,1
6624 44,8
46960 46,8
UE
1779 16,5
2584 17,5
20945 20,9
EUA
167
1,5
3091 20,9
10811 10,8
Suíça
185
1,7
107
0,7
2417
2,4
Japão
2506 23,2
1065
7,2
9326
9,3
Outros
9496 88,1
13471 91,1
90459 90,1
OCDE
1288 11,9
1315
8,9
9915
9,9
Resto do Mundo
10784
100
14786
100
100374 100
Total
Fonte: Banco de Portugal
a) Os valores dos anos de 1969 a 1976 incluem o investimento imobiliário.
b) Os dados incluem, a partir de 1989, os empréstimos reembolsáveis com carácter de investimento directo.
c) A partir de 1993, os dados incluem os investimentos imobiliário.
75
1986-1995b)
c)
682490
514709
403344
239656
546860
2387059
176511
231105
25290
98983
2918948
349763
3268711
%
Total
%
20,9
15,7
12,3
7,3
16,7
73
5,4
7,1
0,8
3
89,3
10,7
100
700955
530474
405572
250466
558035
2445502
201819
245174
27999
111880
3032374
362281
3394655
20,6
15,6
11,9
7,4
16,4
72
5,9
7,2
0,8
3,3
89,3
10,7
100
TABELA 2: EVOLUÇÃO DO IDE POR ACTIVIDADE ECONÓMICA (Milhões de escudos)
1969-1974
%
1975-1979
%
1980-1985
%
1986-1995b)
c)
22305
15243
970257
61694
147672
331399
37869
%
Total
233
3,2
175
1,3
2291
2,3
0,7
25004
Agricultura, silvicultura, caça e pesca
866 11,8
1328
9,7
6062
6
0,5
23499
Indústrias extractivas
3248 44,3
6350 46,6
45350 45,2
29,7 1025205
Indústrias transformadoras
24
0,3
65
0,1
1,9
61783
Electricidade, gás e água
495
6,8
361
2,7
1891
1,9
4,5
150419
Construção e obras públicas
1650 22,5
3919 28,8
21301 21,2
10,1
358269
Comércio, restaurantes e hotéis
25
0,3
96
0,7
1336
1,3
1,2
39326
Transportes, armazenagem e
comunicações
a)
595
4,4
18755 18,7
1624022 49,7 1643372
Bancos e OIF, Seguros, operações
imóveis e serv. Prest. Empresas
790 10,8
243
1,8
3210
3,2
16877
0,5
21120
Ser. Colectividades sociais e pessoais
554
4,1
113
0,1
41374
1,3
42041
Actividades mal definidas
7331
100
13621
100
100374 100
3268712 100 3390038
Total
Fonte: Banco de Portugal
a) Até 1974, “Comércio, Bancos, Seguros e Operações sobre imóveis” era um sector único, não existindo desagregação dos seus valores
b) Os dados incluem, a partir de 1989, os empréstimos reembolsáveis com carácter de investimento directo.
c) A partir de 1993, os dados incluem os investimentos imobiliário.
76
%
0,7
0,7
30,2
1,8
4,4
10,6
1,2
48,5
0,6
1,2
100
TABELA 3: EVOLUÇÃO DO INVESTIMENTO DIRECTO E IMOBILIÁRIO ESTRANGEIRO
(Milhões de escudos)
Anos
Invest.
Directo
A
Desinv.
Directo
B
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1963-74
1975
1976
1977
1978
1979
1975-79
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1980-85
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
343
280
666
725
615
559
497
574
1047
1341
1801
2069
10517
2309
1866
2180
2772
4492
13619
6324
9079
9662
13297
25005
37007
100374
25044
51399
99545
268109
440981
508773
454264
452037
322892
581751
7
12
12
26
26
74
39
30
66
50
295
294
931
505
363
207
315
2144
3534
466
557
730
595
47
1081
3476
1919
7201
4678
11765
55027
149731
150413
220714
130814
515897
Invest.
Directo
Líquido
C=A-B
336
268
654
699
589
485
458
544
981
1291
1506
1775
9586
1804
1503
1973
2457
2348
10085
5858
8522
8932
12702
24958
35926
96898
23125
44198
94867
256344
385954
359042
303851
231323
192078
65854
1986-95
Total
3204795
3329305
1248159
1256100
1956636
2073205
Invest.
Imobili.
D
Desinv.
Imobili.
E
264
252
531
746
969
692
3454
788
379
379
612
1633
3791
2324
2672
3135
4227
6264
10628
29250
12964
21471
39576
38281
53390
31364
27904
18021
21561
24334
0
66
149
145
360
288
310
529
198
317
204
1846
176
207
1312
5264
8188
7579
23489
5554
5445
10288
Invest.
Imobil.
Líquido
F=D-E
264
252
531
746
969
692
3454
788
379
313
463
1488
3431
2036
2362
2606
4029
5947
10424
27404
12788
21264
38264
33017
45202
23785
4415
12467
16116
14046
288866
325361
67502
69708
221364
255653
IDE
Total
G=A+D
343
280
666
725
615
559
761
826
1578
2087
2770
2761
13971
3097
2245
2559
3384
6125
17410
8648
11751
12797
17524
31269
47635
129624
38008
72870
139121
306390
494371
540137
482168
470058
344453
606085
Desinv.
Directo
Total
H=B+E
7
12
12
26
26
74
39
30
66
50
295
294
931
505
363
273
464
2289
3894
754
867
1259
793
364
1285
5322
2095
7408
5990
17029
63215
157310
173902
226268
136259
526185
Invest.
Directo
Tot. Liq.
I=G-H
336
268
654
699
589
485
722
796
1512
2037
2475
2467
13040
2592
1882
2286
2920
3836
13516
7894
10884
11538
16731
30905
46350
124302
35913
65462
133131
289361
431156
382827
308266
243790
208194
79900
3493661
3654666
1315661
1325808
2178000
2328858
Fonte: Banco de Portugal
a) A partir de 1989, os dados do investimento directo incluem os empréstimos reembolsáveis com carácter de
investimento directo.
b) A partir de meados de 1991, o investimento imobiliário apenas considera os investimentos realizados por
particulares, com fins não empresariais.
77
TABELA 4: INVESTIMENTO E DESINVESTIMENTO DECLARADOS E REALIZADOS (Milhões de Escudos)
1986
Valor
absoluto
INVESTIMENTO
Declarado a) e)
Realizado c) d)
Grau de Realização
DESINVESTIMENTO
Declarado b)
Realizado c) d)
Grau de realização
INVESTIMENTO
LÍQUIDO
Declarado
Realizado c) d)
Grau de Realização
a)
b)
c)
d)
e)
1987
Valor
absoluto
1988
Valor
absoluto
1989
Valor
absoluto
1990
Valor
absoluto
1991
Valor
absoluto
1992
Valor
absoluto
1993
Valor
absoluto
1994
Valor
absoluto
1995
Valor
absoluto
24299
25044
102,2%
61627
51399
83,4%
138053
99545
72,1%
385763
268109
69,5%
524569
440981
84,1%
660722
508773
77%
676153
454264
67,2%
279164
470058
168,4
238074
344453
144,7
200816
606085
301,8
1919
-
7201
-
4678
-
21059
11765
55,9%
68279
55027
80,6%
154812
149731
96,7%
210568
150413
71,4%
226268
-
136259
-
526185
-
23125
-
44198
-
94867
-
364704
256344
70,3%
456291
385955
84,6%
505911
359041
71%
465585
303851
65,3%
243790
-
208194
-
79900
-
Para o investimento declarado até 1992 a fonte é o ICEP (via BP), enquanto a partir de 1992 a fonte é o ICEP (directamente)
O desinvestimento declarado não está disponível para os anos de 1986 a 1988 e 1993 a 1995
A partir de 1989, os dados incluem os empréstimos reembolsáveis com carácter de investimento directo.
A partir de 1993, os dados incluem o investimento imobiliário.
O investimento declarado para 1995 não inclui o mês de Dezembro, altura em que deixou de ser exigida declaração prévia para o IDE.
78
TABELA 5: PESO DO IDE NA FBCF E NO PIB
IDE/FBCF
ANOS
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
Fonte: Banco de Portugal
%
2
3,2
5,1
12
16,9
17
13,3
14,2
9,7
Var. %
58,1
58
134,7
40,8
0,9
-22,1
6,8
-31,6
79
%
0,5
0,9
1,4
3,3
4,6
4,5
3,5
3,4
2,4
IDE/PIBpm
Var. %
75,5
65,6
127,6
40
-1,7
-22,4
-2
-31
TABELA 6: NÚMERO DE INVESTIDORES E DE EMPRESAS RECEPTORAS DE INVESTIMENTO
1989
Quantidade
Var. %
INVESTIMENTO
Investidores
Empresas receptoras de
investimento
DESINVESTIMENTO
Desinvestidores
Empresas objecto de
desinvestimento
INVESTIMENTO LÍQUIDO
Investidores
Empresas receptoras de
investimento
Fonte: Banco de Portugal
1990
1991
Quantidade
Var. %
1992
Quantidade Var. %
Quantidade
Var. %
2625
1650
3160
1970
20,4%
19,4%
2805
1838
-11,2%
-6,7%
2200
1507
-21,6%
-18%
127
95
215
176
69,3%
85,3%
288
260
34%
47,7%
316
257
9,7%
-1,2%
2498
1555
2945
1794
17,9%
15,4%
2517
1578
-14,5%
-12%
1884
1250
-25,1%
-20,8%
80
TABELA 7: IDE POR TIPO DE OPERAÇÃO (Milhões de escudos)
NOVOS INVESTIMENTOS
Constituição de empresas
Abertura de sucursal/escritório de
representação
REFORÇO DE INVESTIMENTO
Aumento de capital
Prestações suplementares de capital b)
Empréstimos e suprimentos c)
AQUISIÇÃO DE INVESTIMENTOS
EXISTENTES
DIVERSOS d)
TOTAL
Fonte: Banco de Portugal
a)
b)
c)
d)
1989 a)
Valor
%
absoluto
36467
13,6
27500
10,3
8968
3,3
1990
Valor
absoluto
35303
29120
6183
8
6,6
1,4
1991
Valor
absoluto
64804
48656
16148
%
%
12,7
9,6
3,2
1992
Valor
absoluto
37245
30996
6249
%
8,2
6,8
1,4
1993
Valor
absoluto
19751
19751
%
4,2
4,2
0
1994
Valor
absoluto
14689
14689
%
4,3
4,3
0
1995
Valor
absoluto
9,259
9259
%
1,5
1,5
0
157339
82898
27274
47167
67327
58,7
30,9
10,2
17,6
25,1
288109
159199
66375
62535
109950
65,3
36,1
15,1
14,2
24,9
326623
174395
112393
39835
112416
64,2
34,3
22,1
7,8
22,1
342047
222678
60254
59116
68643
75,3
49
13,3
13
15,1
315962
174621
48185
93156
93614
67,2
37,1
10,3
19,8
19,9
260394
76134
67716
116544
40824
75,6
22,1
19,7
33,8
11,9
502047
78167
38,366
385514
53788
82,8
12,9
6,3
63,6
8,9
6976
268109
2,6
100
7620
440981
1,7
100
4929
508773
1
100
6328
454264
1,4
100
40731
470058
8,7
100
28546
344453
8,3
100
40991
606085
6,8
100
esta classificação por tipo de operação só está disponível a partir de 1989
Esta rubrica inclui as reintegrações de capital.
esta rubrica inclui os empréstimos reembolsáveis e os não reembolsáveis, com carácter de investimento directo e transferência para o saneamento financeiro das empresas.
A partir de 1993, os dados incluem o investimento imobiliário realizado por particulares.
81
TABELA 8: IDE POR PAÍS DE ORIGEM (1986-1995) (Milhões de escudos)
1986
1987
1988
1989
1990
Valor
%
Valor
%
Valor
%
Valor
%
Valor
2467
9,9
5031
9,8
10695
10,7
46,635
17,4
71,745
França
9705
38,8
11255
21,9
25059
25,2
54361
20,3
88457
Reino Unido
2029
8,1
8018
15,6
9069
9,1
37767
14,1
59747
Espanha
2670
10,7
3713
7,2
7265
7,3
11817
4,4
23636
Alemanha
588
2,3
1566
3
7744
7,8
14603
5,5
21378
Holanda
553
2,2
1989
3,9
5625
5,7
7947
3
15428
Luxemburgo
1094
4,4
2263
4,4
3303
3,3
12035
4,5
31652
Outros
19106
76,3
33835
65,8
68760
69,1
185165
69,1
312043
UE
2267
9,1
4403
8,6
6642
6,7
15356
5,7
26091
Suíça
2154
8,6
7360
14,3
11677
11,7
3509
1,3
13757
EUA
173
0,7
1132
2,2
791
0,8
1453
0,5
9797
Japão
364
1,4
1085
2,1
4525
4,5
19327
7,2
24561
Outros
24064
96,1
47815
93
92395
92,8
224810
83,9
386250
OCDE
980
3,9
3584
7
7150
7,2
43299
16,1
54731
Resto Mundo
25044
100
51399
100
99545
100
268109
100
440981
Total
Fonte: Banco de Portugal
a) A partir de 1995, a UE passou a incluir a Suécia, Finlândia e Áustria.
b) Os dados incluem, a partir de 1989, os empréstimos reembolsáveis com carácter de investimento directo.
c) A partir de 1993, os dados incluem os investimentos imobiliário.
%
16,3
20,1
13,5
5,4
4,8
3,5
7,2
70,8
5,9
3,1
2,2
5,5
87,6
12,4
100
82
1991
Valor
55265
103692
62985
18720
29257
27740
50149
347807
28086
40226
4982
12630
433732
75041
508773
%
10,9
20,4
12,4
3,7
5,8
5,5
9,9
68,4
5,5
7,9
1
2,5
85,3
14,7
100
1992
Valor
84963
120,748
35,149
25651
30978
36947
13688
348124
13925
16737
1701
11006
391493
62771
454264
%
18,7
26,6
7,7
5,6
6,8
8,1
3
76,6
3,1
3,7
0,4
2,4
86,2
13,8
100
1993
Valor
30950
103338
87032
42733
31864
26335
22243
344495
33586
52996
658
14957
446692
23366
470058
%
6,6
22
18,5
9,1
6,8
5,6
4,7
73,3
7,1
11,3
0,1
3,2
95
5
100
1994
Valor
30497
41538
44045
61475
11982
21247
35355
246139
27928
15070
2621
9621
301379
43074
344453
%
8,9
12,1
12,8
17,8
3,5
6,2
10,3
71,5
8,1
4,4
0,8
2,8
87,5
12,5
100
1995
Valor
176461
124337
57503
41976
26778
9487
45043
481585
72821
13025
1982
905
570318
35767
606085
%
29,1
20,5
9,5
6,9
4,4
1,6
7,4
79,5
12
2,1
0,3
0,1
94,1
5,9
100
TABELA 9: IDE POR SECTOR DE ACTIVIDADE ECONÓMICA (Milhões de escudos)
Agricultura, Silvicultura, Caça e
Pesca
Indústrias Extractivas
Indústrias Transformadoras
Alimentação; Bebidas e Tabaco
Têxteis, Vestuário e Couro
Madeira e Cortiça
Papel, Artes Gráficas e Publicações
Químicas derivados petróleo, carvão
e produtos de borracha e plástico
Minerais não metálicos, excepto
derivados do petróleo bruto e carvão.
Metalúrgicas de base
Produtos metálicos e máquinas,
equipamento e material de transporte.
Outros
Electricidade, gás e água
Construção e obras públicas
Comércio, restaurantes e hóteis
Comércio por grosso
Comércio a retalho
Restaurantes e hóteis
Transportes, armazenagem e
comunicações.
Bancos e OIF, seguros, op. s/
imóveis e serviços prestados às
empresas
Bancos e OIMF,
Seguros
Operações s/ imóveis e serviços
prestados às empresas
Serviços à colectividade, sociais e
pessoais
Actividades mal definidas
Total
Fonte: Banco de Portugal
a)
b)
c)
1986
Valor
%
438
1,7
1076
11777
4,3
47
1987
Valor
%
1891
3,7
1602
15181
3,1
29,5
1988
Valor
%
3508
3,5
2781
32417
2,8
32,6
1989
Valor
%
2631
1
1990
Valor
%
3916
0,9
1991
Valor
%
3189
0,6
1992
Valor
%
2962
0,7
1103
104921
178
125239
9554
3847
0,1
36,4
2,8
1,1
715
366594
0,1
60,5
11718
20957
3,4
6,4
45338
13,2
2036
79417
7921
11571
694
6215
17503
0,5
18
1,8
2,6
0,2
1,4
4
1143
111030
20177
6886
1798
2996
23961
0,2
21,8
4
1,4
0,4
0,6
4,7
1937
76133
9318
9690
552
5253
30960
0,4
16,8
2,1
2,1
0,1
1,2
6,8
8532
3,2
11385
2,6
23822
4,7
2976
0,7
353
12127
0,1
4,5
1338
21861
0,3
5
2451
27968
0,5
5,5
1607
14927
0,4
3,3
0,1
0
10,2
12,8
8,3
1,8
2,7
1
929
44
36223
44748
27783
4432
12532
2107
0,2
0
8,2
10,1
6,3
1
2,8
0,5
971
1196
29568
34550
21803
3372
9375
9466
0,2
0,2
5,8
6,8
4,3
0,7
1,8
1,9
851
1331
21193
35869
24629
4964
6275
4916
0,2
0,3
4,7
7,9
5,4
1,1
1,4
1,1
24510
11089
35642
23973
9690
1979
3233
5,2
2,4
7,6
5,1
2,1
0,4
0,7
3574
4745
55302
16534
21706
17062
10418
1
1,4
16,1
4,8
6,3
5
3
30910
12272
57157
5,1
2
9,4
2061
0,3
278975
59,3
130134
37,8
132051
21,8
65897
317
57042
19,1
0,1
16,6
280
6527
1,1
26,1
417
1,7
1841
3,6
841
0,8
4380
17,5
20238
39,4
35711
35,9
143680
53,6
266501
60,4
313640
61,6
298712
65,8
64129
6322
73230
23,9
2,4
27,3
172815
6513
87803
39,2
1,5
19,9
195690
20172
97778
38,5
4
19,2
186269
8476
103967
41
1,9
22,9
0,1
4,4
17,6
1995
Valor
%
550
0,1
1
17,7
3,9
2,9
0,3
0,2
2,5
339
24
27356
34404
22357
4809
7238
2569
100
4354
17532
1994
Valor
%
591
0,2
2672
47548
10332
7734
820
579
6731
5
592
9668
0
1,2
18,8
1993
Valor
%
2629
0,6
0,2
22,3
149
0,6
381
0,7
2301
2,3
2243
0,8
3848
0,9
1309
0,3
1593
0,4
1207
0,3
2828
0,8
1018
0,2
25044
100
51399
100
99545
100
4982
268109
1,9
100
2141
440981
0,5
100
3682
508773
0,7
100
9619
454264
2,1
100
6749
470058
1,4
100
11444
344453
3,3
100
2757
606085
0,5
100
A partir de 1989, os dados incluem os reembolsos com carácter de investimento directo.
A partir de 1993, os dados incluem o investimento imobiliário realizado por particulares.
Os espaços em branco indicam que não existem dados desagregados.
83
TABELA 10: IDE POR DISTRITO DE LOCALIZAÇÃO (Milhões de escudos)
1989
1990
1991
1992
1993 a)
1994
1995
Valor
%
Valor
%
Valor
%
Valor
%
Valor
%
Valor
%
Valor
%
7611
3,4
30024
7,5
10281
2,2
5936
1,5
7737
2,8
6996
3,0
10251
5,3
AVEIRO
2588
1,2
567
0,1
425
0,1
571
0,1
67
0,0
149
0,1
195
0,1
BEJA
2322
1
4754
1,2
3453
0,7
10056
2,5
5672
2,1
1969
0,8
1447
0,8
BRAGA
13
0
35
0
63
0
151
0
148
0,1
49
0,0
3
0,0
BRAGANÇA
1938
0,9
2533
0,6
2905
0,6
2233
0,5
466
0,2
849
0,4
1699
0,9
CASTELO BRANCO
953
0,4
8439
2,1
2902
0,6
1085
0,3
8222
3,0
2446
1,0
11125
5,8
COIMBRA
549
0,2
495
0,1
297
0,1
461
0,1
334
0,1
313
0,1
608
0,3
ÉVORA
12006
5,4
8792
2,2
6525
1,4
6431
1,6
6613
2,4
2239
1,0
5011
2,6
FARO
1285
0,6
539
0,1
407
0,1
685
0,2
FUNCHAL
8
0
277
0,1
802
0,2
366
0,1
11
0,0
43
0,0
144
0,1
GUARDA
2225
1
1735
0,4
2590
0,6
5843
1,4
954
0,3
4160
1,8
3847
2,0
LEIRIA
156223
70,1 270227
67,1 360581
76,8 330917
81 167550
61,3 173493
74,4 100903
52,5
LISBOA
20
0
1
0
PONTA DELGADA
49
0
179
0
67
0
435
0,1
358
0,1
1163
0,5
183
0,1
PORTALEGRE
28413
12,8
57044
14,2
54462
11,6
22195
5,4
53342
19,5
22097
9,5
27284
14,2
PORTO
894
0,4
3694
0,9
1036
0,2
1946
0,5
13603
5,0
876
0,4
1382
0,7
SANTARÉM
4930
2,2
8888
2,2
16911
3,6
17591
4,3
5509
2,0
11703
5,0
26507
13,8
SETÚBAL
223
0,1
2434
0,6
2427
0,5
915
0,2
832
0,3
379
0,2
731
0,4
VIANA DO CASTELO
203
0,1
798
0,2
441
0,1
0
0
842
0,3
27
0,0
11
0,0
VILA REAL
267
0,2
1284
0,3
2653
0,6
937
0,2
1054
0,4
4182
1,8
993
0,5
VISEU
222800
100 402759
100 469230 100,0 408756
100 273314 100,0 233133 100,0 192324 100,0
TOTAL
Fonte: Banco de Portugal e ICEP
a) Os dados de 1989 a 1992 correspondem a investimento efectivamente realizado, enquanto os dados de 1993 a 1995 correspondem às declarações prévias feitas ao ICEP.
84
TABELA 11: PRESENÇA ESTRANGEIRA NO EMPREGO
1991
Empresas
Postos de
Total sector
participadas
trabalho
(%) a)
(%) b)
1767
0,35
Extracção Minérios Metálicos
827
0,94
20,17
804
0,8
Extracção de Minérios não Metálicos
10140
11,49
20,18
10733
9,08
Alimentação, bebidas, …
13062
30,96
9,64
18763
24,55
Indústrias têxteis, …
2501
5,64
10,13
1666
4,17
Indústrias madeira e cortiça, …
2958
5,3
12,75
3325
3,98
Indústrias papel, artes gráficas, …
14221
8,67
37,5
12565
5,61
Indústrias químicas der. petróleo, …
5871
7,95
16,88
4000
4,65
Indústrias produtos min. não met., …
2205
2,35
21,46
1296
1,43
Indústrias metalurgia de base
35299
25,07
32,19
34621
18,59
Fabricação de produtos metálicos, …
697
0,77
20,63
816
0,63
Outras indústrias transformadoras
6387
10,26
Construção e obras públicas
1306
0,87
34,31
388
0,39
Comércio por grosso
1447
2,04
Restaurantes e Hotéis, …
2174
13,3
transportes e armazenagem
295
0,17
Oper. S/ imóveis e serv. Empresas
89087
100
101047
100
Média
Fonte: Banco de Portugal (extraído de Morais H. (1994) in Determinantes do investimento directo estrangeiro em Portugal: 1987-1992)
a) Emprego gerado pelas empresas do sector, em relação ao emprego total das empresas da Central Balanços.
b) Emprego gerado pelas empresas estrangeiras, em relação ao emprego total do sector.
Postos de
trabalho
1990
Total sector
(%) a)
85
Empresas
participada
s (%) b)
85,07
16,84
19,83
12,82
6,7
14,02
37,54
14,44
15,25
31,24
21,66
10,42
16,84
11,88
2,74
28,92
-
Postos de
trabalho
1992
Total sector
(%) a)
1663
796
5321
18898
1719
3012
9744
3406
492
21228
711
3102
818
1500
3106
75516
0,51
0,84
9,76
28,09
4,44
4,45
6,29
3,99
1,79
17,85
0,45
10,36
0,45
1,7
9,04
100
Empresas
participadas
(%) b)
88,13
25,52
14,7
18,15
10,44
18,27
41,81
23,02
7,42
32,08
42,75
8,07
49,58
23,76
0
-
TABELA 12: VALOR ACRESCENTADO POR UNIDADE DE PRODUÇÃO (Milhões de escudos)
1991
Empresas
Total
participadas
empresas
7607,24
2296,47
Extracção Minérios Metálicos
342,2
86,50
67,79
306,32
91,72
Extracção de Minérios não Metálicos
1760,54
271,07
201,44
1472,72
260,57
Alimentação, bebidas, …
283,05
133,62
126,37
322,63
131,80
Indústrias têxteis, …
506,17
57,70
48,91
363,94
52,49
Indústrias madeira e cortiça, …
1924,94
246,78
181,45
1531,15
216,89
Indústrias papel, artes gráficas, …
1624,33
373,54
183,55
1419,38
326,99
Indústrias químicas der. petróleo, …
740,89
238,58
202,87
808,85
154,05
Indústrias produtos min. não met., …
642,00
966,88
1063,14
445,45
577,51
Indústrias metalurgia de base
1344,20
174,98
106,44
1553,41
175,00
Fabricação de produtos metálicos, …
238,75
41,00
34,46
237,30
45,95
Outras indústrias transformadoras
1049,65
105,05
Construção e obras públicas
579,87
182,88
96,87
83,96
62,60
Comércio por grosso
365,12
138,02
Restaurantes e Hotéis, …
321,00
194,17
transportes e armazenagem
342,2
63,46
Oper. S/ imóveis e serv. Empresas
907,9
252,14
210,3
1139,39
305,8
Média
Fonte: Banco de Portugal (extraído de Morais H. (1994) in Determinantes do investimento directo estrangeiro em Portugal: 1987-1992)
Empresas
participadas
1990
Total
empresas
Empresas não
participadas
86
Empresas não
participadas
20,42
78,31
198,15
121,98
48,39
164,43
176,49
126,77
603,19
104,17
39,92
92,90
59,11
122,33
190,45
22,69
135,61
Empresas
participadas
10528,66
1992
Total
empresas
4245,77
Empresas não
participadas
57,18
1263,61
496,19
377,98
2160,81
1487,20
1146,98
328,60
1800,43
283,71
620,64
710,85
379,00
1391,16
1535,0
308,91.
153,42
73,05
284,55
372,02
190,65
517,91
205,63
67,02
101,74
124,97
129,40
188,53
470,57
268,28
132,81
66,09
192,58
185,47
139,05
531,43
119,86
45,35
91,24
35,60
105,93
144,94
147,76
TABELA 13: VALOR ACRESCENTADO POR EMPREGADO
(Milhões de escudos)
1990
Empresas
Total empresas
Empresas não
Empresas
participadas
participadas
participadas
12,92
Extracção Minérios Metálicos
3,72
2,78
2,55
3,43
Extracção de Minérios não Metálicos
4,86
3,38
3,01
5,21
Alimentação, bebidas, …
1,45
1,43
1,43
1,44
Indústrias têxteis, …
2,83
1,7
1,57
2,4
Indústrias madeira e cortiça, …
10,41
4,54
3,69
8,75
Indústrias papel, artes gráficas, …
6,85
4,48
3,06
6,55
Indústrias químicas der. petróleo, …
3,79
3,1
2,96
4,04
Indústrias produtos min. não met., …
2,33
3,29
3,56
2,41
Indústrias metalurgia de base
3,24
2,45
2,08
3,9
Fabricação de produtos metálicos, …
1,37
1,52
1,55
1,16
Outras indústrias transformadoras
3,29
Construção e obras públicas
5,77
3,51
2,32
3,68
Comércio por grosso
3,78
Restaurantes e Hotéis, …
5,46
transportes e armazenagem
6,96
Oper. S/ imóveis e serv. Empresas
4,24
2,93
2,52
4,71
Média
Fonte: Banco de Portugal (extraído de Morais H. (1994) in Determinantes do investimento directo estrangeiro em Portugal: 1987-1992)
87
1991
Total empresas
11,06
2,94
3,74
1,55
1,79
4,53
4,68
2,78
2,92
2,81
1,6
2,7
3,29
2,63
3,18
2,92
3,44
Empresas não
participadas
0,46
2,84
3,37
1,56
1,74
3,84
3,55
2,57
3,01
2,31
1,72
2,63
3,21
2,47
3,12
1,28
2,48
Empresas
participadas
12,66
0,56
4,75
1,65
2,42
10,76
6,87
5,05
1,34
4,58
1,6
4
7,82
2,78
12,09
5,26
1992
Total empresas
11,25
2,5
4,18
1,64
2,19
5,54
5,01
3,78
2,34
3,29
1,77
2,67
5,15
2,62
4,35
3,89
Empresas não
participadas
0,77
3,16
4,08
1,63
2,16
4,37
3,68
3,39
2,43
2,68
1,91
2,56
2,52
2,58
3,55
2,76
TABELA 14: IMPORTANCIA DAS EXPORTAÇÕES NAS VENDAS TOTAIS (%)
1990
Empresas
Total empresas
Empresas não
Empresas
participadas
participadas
participadas
99,38
Extracção Minérios Metálicos
29,29
10,10
6,99
37,75
Extracção de Minérios não Metálicos
10,12
7,12
6,28
11,54
Alimentação, bebidas, …
70,6
50,41
48,04
80,81
Indústrias têxteis, …
73,57
37,46
30,79
73,79
Indústrias madeira e cortiça, …
65,67
44,12
36,07
57,93
Indústrias papel, artes gráficas, …
11,04
10,65
9,71
6,98
Indústrias químicas der. petróleo, …
30,99
19,58
16,52
28,15
Indústrias produtos min. não met., …
41,04
21,18
18,33
35,56
Indústrias metalurgia de base
51,08
38,46
25,5
50,24
Fabricação de produtos metálicos, …
47,29
27,7
23,06
67,12
Outras indústrias transformadoras
0,11
Construção e obras públicas
3,23
3,44
3,68
4,33
Comércio por grosso
0
Restaurantes e Hotéis, …
0
transportes e armazenagem
94,6
Oper. S/ imóveis e serv. Empresas
39,45
24,57
20,45
40,53
Média
Fonte: Banco de Portugal (extraído de Morais H. (1994) in Determinantes do investimento directo estrangeiro em Portugal: 1987-1992)
88
1991
Total empresas
97,22
11,74
6,36
52,53
35,03
37,32
7,51
21,33
19,26
37,36
23,11
1,92
6,3
0
0
58,51
25,97
Empresas não
participadas
0
8,04
5,04
48,48
31,22
29,64
9,05
19,49
17,34
23,35
16,7
2,22
6,77
0
0
3,37
13,79
Empresas
participadas
99,33
46,1
15,56
76,18
70,58
57,52
12,07
17,6
57,51
29,73
65,64
0,03
0,91
0
0
36,58
1992
Total empresas
98,29
19,18
6,33
54,55
33,11
41,25
11,64
16,24
22,45
26,92
33,45
0,43
3,25
0
0
24,47
Empresas não
participadas
0,27
12,79
4,91
49,45
28,21
31,68
9,79
15,54
21,14
23,18
17,47
0,49
7,25
0
0
14,81
TABELA 15: EVOLUÇÃO DAS NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO EM PORTUGAL
(Milhões de contos)
ANOS
INVESTIMENT
O
1039
1986
1433
1987
2101
1988
2355
1989
2729
1990
3088
1991
3544
1992
3409
1993
3678
1994
Fonte: Banco de Portugal.
POUPANÇA
INTERNA
1158
1464
1873
2327
2598
2799
3224
3183
3226
POUPANÇA
EXTERNA
-119
-31
235
28
131
289
320
226
452
IDE
25
51
100
268
441
509
454
470
345
TABELA 16: IMPACTO DAS EMPRESAS ESTRANGEIRAS NA BALANÇA COMERIAL
PORTUGUESA - 1993 (Milhões de escudos)
SECTOR
COMIDA, BEBIDA E TABACO
TEXTEIS
MADEIRA E CARVÃO
PAPEL
QUIMICOS
MINERAIS NÃO METÁLICOS
METÁIS BÁSICOS
PRODUTOS METÁLICOS, MATERIAL DE TRANSPORTE E
MAQUINARIA
OUTROS PRODUTOS INDUSTRIAIS
COMÉRCIO DE RETALHO, RESTAURANTES E HÓTEIS
TOTAL
VALOR
2197172
5382087
894571
3667620
-12520914
13050
-2594267
-4359948
235915
-47213572
-54842504
Fonte: Extraído de Ferreira, E. (1983)
TABELA 17: BALANÇA DE PAGAMENTOS TECNOLOGICA
ANOS
1990
1991
1992
1993
1994
1995
Fonte: Banco de Portugal
EXPORTAÇÕES DE
TECNOLOGIA
IMPORTAÇÕES DE
TECNOLOGIA
125
2050
3461
79873
72412
71005
19525
33504
52954
119629
144869
161756
96
SALDO DA
BALANÇA
TECNOLÓGICA
-19401
-31454
-49493
-39756
-72457
-90751
TABELA 18: ENTRADAS E SAÍDAS DE IDE (A NÍVEL MUNDIAL)
1981-1985
PAÍSES DESENVOLVIDOS
Entradas
Saídas
PAÍSES EM
DESENVOLVIMENTO
Entradas
Saídas
PAÍSES DA EUROPA
CENTRAL E ORIENTAL
Entradas
Saídas
TODOS OS PAÍSES
Entradas
Saídas
1986-1990
1991
Biliões de USD
1992
1993
1981-1985
1986-1990
1991
Peso no total (%)
1992
1993
37
47
130
163
121
185
102
162
109
181
74
98
84
96
74
96
65
95
59
-
13
1
25
6
39
7
51
9
80
14
26
2
16
4
24
4
32
5
41
-
0,02
0,004
0,1
0,02
2
0,01
4
0,03
5
-
0,04
0,01
0,1
0,01
1
0,005
3
0,02
3
-
50
48
155
168
162
192
158
171
194
195
100
100
100
100
100
100
100
100
100
-
Fonte: UNCTAD
97
TABELA 19:OS MAIORES RECEPTORES DE IDE: PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO
(Milhões de dolares)
PAÍS RECEPTOR DE IDE
CHINA
SINGAPURA
MÉXICO
MALÁSIA
BRASIL
HONG KONG
ARGENTINA
TAILANDIA
EGIPTO
TAIWAN
NIGÉRIA
INDÓNESIA
TOTAL DOS DOZE MAIORES
PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO
TOTAL DE TODOS OS PAÍSES EM
DESENVOLVIMENTO
PESO DO IDE NOS DOZE
MAIORES NO TOTAL DO IDE
DIRIGIDO AOS PAÍSES EM
DESENVOLVIMENTO
1981
1660
2835
1265
2520
1088
837
753
546
1985
1659
1047
491
695
1348
919
1178
340
478
1990
3487
5263
2632
2332
901
1728
1836
2444
1992
11156
5635
5366
4469
1454
1918
4179
2116
1330
1093
897
1774
11504
8153
23046
38964
15062
13582
31266
51485
76,3%
60%
73,7%
75,7%
Fonte: OCDE
TABELA 20: O IDE NOS PAÍSES DA EUROPA CENTRAL E ORIENTAL
(Milhões de dolares)
BULGÁRIA
CHECOSLOVÁQUIA
REPÚBLICA CHECA
ESLOVÁQUIA
HUNGRIA
POLÓNIA
ROMÉNIA
TOTAL
Fonte: OCDE
1989
1990
256
436
550
100
1450
352
113
98
1991
300
1100
3300
680
269
5649
1992
320
1900
1669
231
4300
1400
538
8458
TABELA 21: PORTUGAL FACE A OUTROS DESTINOS DE IDE
(Milhões de dólares)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
1990
País
SINGAPURA
CHINA
PORTUGAL a)
MÉXICO
TAILÂNDIA
MALÁSIA
ARGENTINA
HONG-KONG
HÚNGRIA
TAIWAN
INDONÉSIA
BRASIL
CHECOSLOVÁQUIA
POLÓNIA
ROMÉNIA
Valor
5263
3487
2756
2632
2444
2332
1836
1728
1450
1330
1093
901
436
352
113
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
1992
País
CHINA
SINGAPURA
MÉXICO
MALÁSIA
HÚNGRIA
ARGENTINA
PORTUGAL a)
TAILÂNDIA
HONG-KONG
CHECOSLOVÁQUIA
INDONÉSIA
BRASIL
POLÓNIA
NIGÉRIA
ROMÉNIA
Valor
11156
5635
5366
4469
4300
4179
2839
2116
1918
1900
1774
1454
1400
897
538
Fonte: UNCTAD, OCDE e BP.
a) Os valores em dólares para Portugal forma obtidos tendo por base uma taxa de câmbio
PTE/USD de 160.
99
BIBLIOGRAFIA
Banco de Portugal, Relatórios Do Conselho de Administração.
Cabral, S. (1995), “Análise Comparativa do Comportamento Exportador das
Empresas Nacionais e Estrangeiras Residentes em Portugal”, Boletim Económico,
Banco de Portugal, Março de 1995.
Ferreira, E (1984), “Foreign Direct Investment in Portugal: The Present Structure,
Determinants and Future Evolution After the Accession to the EEC”, Ph. D. Thesis,
University of Reading.
Fontoura, P. (1996), “Exportações e Investimento Directo Estrangeiro: Um Modelo
com Equações Simultâneas para o Caso Português.“, Integração e especialização,
Almedina, Coimbra.
Halpern, L. (1994), “Comparative advantage and Likely Trade Pattern of The
CEECS”, Discussion Paper nº1003, CEPR.
ICEP, Relatórios do ICEP, 1993 a 1995.
Martin, C. e Gual, J. (1994), “Trade and Foreign Direct Investment With Central and
Eastern Europe: Its Impact on Spain”, Discussion Paper n.º1006, CEPR
Morais, H. (1994), “Determinantes do Investimento Directo estrangeiro em Portugal:
1987-1992”, Tese de Mestrado, ISEG.
OCDE (1996), La Mondialisation De L’Industrie: Vue D’Ensemble et Rapports
Sectoriels, OCDE
Quina, A (1989), “Economia Portuguesa”, Centro de estudos Europeus.
Saraiva, A. (1993), “O Investimento Directo em Portugal no Período de 1986 a 1992”,
Boletim Trimestral do Banco de Portugal, vol. 15, n.º4, Dezembro de 1993.
Saraiva, A. (1996), “Efeitos da liberalização do IDE em Portugal”, Banco de Portugal.
Simões, V. (1985), “O Envolvimento Internacional da Economia Portuguesa: Uma
Análise dos Fluxos de Investimento”.
Taggart, J. e McDermott, M. (1993), The Essence of International Business, Prentice
Hall.
99
A INDÚSTRIA
PORTUGAL VERSUS DRAGÕES ASIÁTICOS
João Abel de Freitas*
Julieta Estêvão*
Texto elaborado para o Conselho Económico e Social em Abril de 1997
*
Gabinete de Estudos e Prospectiva Económica
100
Sumário
1.
Âmbito do Trabalho
2.
A Economia Asiática: Os Quatro Dragões
2.1.
A Indústria nos quatro “dragões” asiáticos
2.2.
A situação actual da indústria - breves notas por país
3.
A Indústria Portuguesa
3.1.
As etapas da industrialização
3.2.
O estado actual da especialização da indústria portuguesa
4.
As ameaças para Portugal
5.
Bibliografia
101
1. ÂMBITO DO TRABALHO
Este trabalho insere-se numa reflexão solicitada ao GEPE sobre o tema «a indústria
nacional face à concorrência das economias mais dinâmicas dos países em vias de
desenvolvimento: concorrência no mercado interno português, nos mercados da UE e
noutros mercados».
Para a OCDE as economias dinâmicas (ED) são na América Latina, a Argentina, o
Brasil e o Chile e na Ásia, a Coreia do Sul, Hong-Kong, Malásia, Singapura,
Tailândia e Taiwan.
Esta é uma definição datada, de sentido “político-instrumental”, pois não contempla
economias muito dinâmicas como a da China que, nos últimos quinze anos, registou
uma taxa média de crescimento anual de 10% no produto e 17% nas exportações.
Devido à complexidade e diversidade de processos de desenvolvimento não vamos,
neste texto, tratar as ED na versão OCDE.
Apenas nos propomos formular umas quantas questões sobre as quatro economias
dinâmicas mais desenvolvidas da Ásia, Coreia do Sul, Hong-Kong, Singapura e
Taiwan (os«quatro dragões» como são conhecidos) nas suas semelhanças e diferenças
de modelo de desenvolvimento relativamente ao nosso País e, a partir desse
equacionamento, avançar para o desafio que nos é lançado.
Quadro 1
Dados comparativos
Países
PIB nominal
10*9 US$
População
10*6
PIB por habitante
US$
Coreia do Sul
284,08
43,27
6564
Hong-Kong
81,47
5,80
14047
Singapura
37,54
2,76
13600
Taiwain
174,28
20,60
8460
E.U.A.
5629,50
250,00
22518
68,9
9,81
7021
Portugal
Fonte FMI (Ano de 1991) e OCDE
A China, no entanto, será uma vez ou outra referenciada (por duas razões, sistema
político e percurso económico), dado que a sua dinâmica económica tende a tornar-se
determinante para o processo evolutivo de muitas das economias da Ásia e, em
especial de Hong-Kong e Taiwan e, quem sabe se a longo prazo, não o será também
para a economia mundial. Refira-se a propósito que, no encontro internacional
organizado em Janeiro de 1996 pela OCDE sobre as perspectivas da economia
102
chinesa para o século XXI, se salientou que a China «parece destinada a ser uma das
maiores economias (se não mesmo a maior) do próximo século».
Acerca deste cenário possível para a economia chinesa, parece interessante
questionar-se até que ponto o movimento ascendente da entrada da China no mercado
mundial, agora em conjugação com as profundas mutações no Centro e Leste da
Europa e dos seus efeitos ao nível do Terceiro Mundo (demonstração clara de
inviabilidade do «modelo de desenvolvimento» subjacente a este conceito), não vai
trazer ao mundo industrializado (Primeiro Mundo como lhe chamam vários autores)
problemas novos ou acelerar outros já indiciados.
Assim, em que medida o processo de globalização da economia já em curso no
quadro anterior (antes da queda do muro de Berlim) não terá de «inflectir» sob
diversos aspectos para reflectir questões como a da aproximação tendencial do preço
dos factores de produção, capital, tecnologia, recursos naturais e trabalho, com
especial relevo para este último? Ou seja, dentro de que limites, a elevada reserva
disponível de mão-de-obra da Ásia e do Centro e Leste Europeus (esta de elevado
nível de qualificação e com alguma facilidade de adaptação a novas formas de
trabalho) não vai contribuir para “revolucionar” a actual composição do emprego, a
estrutura salarial e até provocar a baixa tendencial dos salários na Europa, Estados
Unidos e Japão? (Aliás, a baixa de salários é já um fenómeno real da sociedade
americana).
E o que advirá para a Europa de todas estas “convulsões” possíveis? A Europa
continuará a perder «peso» económico a nível mundial para a Ásia e outras zonas geoeconómicas? O alargamento ao Leste Europeu contribuirá para a recuperação da
competitividade europeia?
De tudo isto, não irá resultar uma nova configuração geográfico-mundial das
actividades económicas, eventualmente, pondo em causa os pólos nucleares da Tríade
e gerar e difundir efeitos sociais e políticos de alcance ainda imprevisível?
A reacção dos agentes económicos e das instituições a muitos destes problemas, as
respostas encontradas e os equilíbrios decorrentes e estabelecidos entre as diversas
zonas económicas “irão produzir” a envolvente em que as economias dos países nas
mais diferentes interacções entre si se vão mover e evoluir no futuro.
Com este texto procura-se na abordagem dos problemas referenciados reflectir, ou
pelo menos ter subjacente, a complexa situação que poderá decorrer da envolventeresultado de todas estas potenciais transformações.
Assim, partindo do tema proposto, organizou-se o texto em quatro partes.
Nesta primeira, limitamo-nos a umas breves considerações de índole global e a
estabelecer o âmbito do trabalho que se circunscreve às quatro economias dinâmicas
da Ásia de 1.ª geração (industrial), na perspectiva de chamar a atenção para o papel
potencial e em curso deste Continente na economia mundial do futuro.
Numa segunda, abordou-se o processo evolutivo dessas quatro economias, na
tentativa de situar “o estado presente” da sua industrialização e perspectivar as
evoluções possíveis.
103
Numa terceira caracteriza-se a indústria portuguesa (processo e especialização),
para numa quarta parte poder confrontar/comparar as potencialidades nacionais nos
mercados internacionais e europeu face às potencialidades das quatro economias
asiáticas.
2. A ECONOMIA ASIÁTICA: OS QUATRO DRAGÕES
Na década de 50 reinava um elevado «pessimismo asiático» sobre as
potencialidades de desenvolvimento desta zona.
Um complexo conjunto de factores, entre os quais se destaca o contexto de guerra
fria pela sua importância, veio trazer um elan muito próprio, criando as condições de
relançamento das economias desta área do Pacífico.
É consensual nas análises sobre o processo de desenvolvimento da Ásia do Sueste
que, para o movimento ascendente de algumas das suas economias, foram
determinantes a abertura do mercado dos EUA aos produtos de origem asiática e as
ajudas financeiras, cujos montantes apenas se compreendem no contexto de guerra
fria, como forma de estancar os efeitos de imitação e de contágio que a experiência
comunista da vizinha China, Coreia do Norte e Vietnam poderia desencadear.
Refira-se que essas ajudas foram acompanhadas de medidas a nível da organização
económica e social, ditadas pela situação concreta regional (elevadas tensões entre os
dois blocos políticos então existentes), o que proporcionou às populações dos
respectivos países certas vantagens como, por exemplo, uma distribuição de
rendimentos menos desigual da que se registava em outras zonas do mundo como a
América Latina. Tudo isto contribuiu para «conter»/atingir os efeitos desejados pelos
EUA.
No entanto, outras condições como a capacidade empresarial e institucional de
implementar uma política económica de promoção de exportações, orientando os
financiamentos para os sectores chave, aliada a uma cultura específica, deram o seu
contributo para o bom desempenho destas economias.
Contudo, cada economia tem as suas próprias especificidades, graus de
desenvolvimento muito diferenciados e relações político-culturais diversas.
A intensidade de relações em desenvolvimento entre a China, Hong-Kong e
Taiwan indicia a formação de um «espaço económico chinês» de grande potencial
industrial e comercial. A associação de capitais, de know-how técnico e de comércio
de Hong-Kong com os recursos praticamente inesgotáveis de mão-de-obra chinesa,
está a criar um novo pólo de comércio mundial com impacte já significativo na
geografia das trocas mundiais.
Esta dinâmica entre estes países que tende a fazer «escola» na Ásia e que, de certo
modo conduz a uma integração informal das economias da zona, em parte na
sequência e imitação, quer do processo japonês, quer dos quatro dragões, poderá criar
nesta zona as condições para que a Ásia seja a zona de futuro, com impactes algo
imprevisíveis nos mercados mundiais.
104
2.1. A indústria nos quatro “dragões” asiáticos
A situação actual da indústria nestes países de primeira vaga de industrialização
recente na Ásia (na década de 80 registou-se uma segunda vaga em países como a
Tailândia, a Malásia, a Indonésia, etc) é o resultado de várias condições.
Após uma primeira experiência do modelo de substituição de importações com
efeitos pouco satisfatórios (anos 50) assiste-se a partir da década de 60 a uma clara
aposta num processo de industrialização destes países com base em:
i) opção por uma política de exportações, alicerçada na implementação de uma
política industrial orientada para o desenvolvimento das indústrias
tradicionais utilizando as vantagens comparativas do custo da mão-de-obra,
com o têxtil em primeiro plano (décadas de 60 e 70) e uma deslocação para
indústrias de maior tecnologia na década de 80, como a química e o papel e
posteriormente e, de certa forma em complementaridade para a
metalomecânica, para nos dias de hoje a aposta industrial se afirmar na
electrónica e em segmentos de altas tecnologias. Esta política traduziu-se na
canalização de financiamentos preferenciais para os sectores chave em cada
etapa do processo.
ii) forte intervenção dos governos em vários domínios da sociedade e da
economia (regimes autoritários de tipo militar).
iii)protecção dos mercados domésticos com a abertura ao exterior apenas num
único sentido, o que provocou uma certa escassez de produtos
comercializáveis dando origem a altas taxas de poupança. Só recentemente
estes Estados começaram a proceder a uma abertura condizente com as
regras da OMC.
iv) criação de condições para atrair o IDE e o fomento do investimento das
empresas e grupos nacionais através da concessão de ajudas públicas que
ainda hoje, em alguns dos países, desempenham um papel significativo na
dinâmica do investimento. Assinale-se que o tipo de tratamento dado ao IDE
(grau de abertura e condições de atracção mais ou menos permissivas) foi
diferenciado consoante o país.
2.2. A situação actual da indústria - breves notas por país
Estes países apresentam, desde o início dos anos 60, uma especialização industrial
dinâmica em termos comparativos com outras zonas.
Como se referiu, a indústria projecta-se na base de indústrias tradicionais,
evoluindo para sectores de maior conteúdo tecnológico onde a electrónica assume
uma posição destacada nos anos recentes. Esta zona, através de uma aposta clara e
eficaz nas exportações e num esforço de qualificação dos seus recursos humanos e
105
beneficiando de uma envolvente externa favorável, criou capacidade para evoluir
acompanhando a dinâmica de mudança global.
No presente, a especialização tende a direccionar-se segundo um duplo eixo:
• o sector perde “sentido “para o segmento, ou seja, a industrialização está a
encaminhar-se para a diferenciação (fomentando a chamada especialização
intra-sectorial)
• as altas tecnologias estão a internalizar-se nas empresas da zona, potenciando
o aparecimento de novos produtos com maior dinâmica de mercado externo e
interno.
Por outro lado, nas Cidades-Estado de Hong-Kong e de Singapura, a indústria
tende a deixar de ser o motor de crescimento da economia, embora com
diferenciações entre si, sendo os serviços cada vez mais o elemento dinâmico das suas
economias. Estas duas Cidades-Estados são, no essencial, centros financeiros e de
serviços a concorrer entre si, embora a versão oficial seja a de complementaridade.
Assinale-se que a indústria não é analisada aqui apenas na perspectiva de perda de
peso na estrutura produtiva mas na óptica de motor de crescimento directo ou
indirecto da economia no seu todo.
Coreia do Sul
A indústria transformadora da Coreia do Sul está em perda no PIB (32,7% em1987
contra 27,2% em 1992).
No entanto, o comportamento sectorial é muito diferenciado, o que não é
indiferente para as questões em análise. Assim:
• Os sectores tradicionais (textil, vestuário e calçado), à excepção da alimentar,
estão em regressão lenta.
• Os sectores de bens intermédios (química, papel, siderurgia e refinação de
petróleo) estão em evolução lenta.
• O automóvel e a electrónica progridem em ritmo acelerado.
Refira-se que a Coreia do Sul é o primeiro produtor mundial de memórias
electrónicas de alta densidade e o quinto de automóveis, logo atrás da França.
As exportações da Coreia de produtos manufacturados estão em desaceleração para
os mercados dos EUA e UE por três ordens de razões:
• forte deslocalização para os países asiáticos da 2.ª e 3ª vagas de
industrialização por perda de competitividade das empresas coreanas (o
manancial de deslocalização na Asia é quase inesgotável quer de país para
país quer dentro do próprio país como acontece no caso da China).
106
• recentragem das exportações para os mercados de Ásia , que apresentam uma
forte dinâmica de crescimento.
• forte esforço de investimento coreano no exterior em direcção aos países
desenvolvidos e Ásia, embora por motivos diferentes, que se prendem com
as tecnologias e com os mercados. Desde 1990 o investimento coreano no
exterior é superior ao IDE, sendo este último dirigido para os serviços
(sistema financeiro, distribuição e hotelaria) enquanto o investimento
coreano é ainda no essencial ligado à indústria (mercados e matérias-primas).
Conjugando esta situação com dois outros parâmetros, a percentagem de despesas
de I&D e a qualificação elevada da mão-de-obra, aliada às medidas eficazes no
âmbito da Ciência e Tecnologia que possibilita à Coreia acompanhar a inovação
tecnológica, poder-se-à apontar para uma especialização futura, integrando segmentos
produtivos de alta tecnologia e uma componente própria significativa de serviços às
empresas.
Hong-Kong
A indústria transformadora de Hong-Kong dispõe de uma posição reduzida na
economia do país (11% do PIB em 1995). Esta situação é devida a um movimento
massivo relativamente recente de deslocalização de indústrias direccionado sobretudo
para a China, onde as empresas de Hong-Kong no seu conjunto já empregam quatro
vezes mais assalariados do que no seu próprio Estado. Esta transferência de
investimento decorrente da procura de condições de produção em situação mais
competitiva permite que os frutos do crescimento sejam bastante distribuidos na
região, contribuindo, assim, para o surgimento de uma classe média com um poder de
consumo significativo, o que por seu lado induz efeitos positivos nas economias da
região.
A indústria no seu conjunto vem apresentando desde 1990 um crescimento
regressivo ou de estagnação, apesar da economia, em idêntico período, ter crescido
entre 4.5 e 5%.
Como “porta” da China, no mais amplo sentido, Hong-Kong é uma Cidade-Estado
muito importante porque funciona de “instrumento” de inserção de tão grande país
nos mercados internacionais.
O Governo tem em curso uma série de medidas de política industrial que visam
sobretudo a desregulamentação na área das telecomunicações e a formação.
Para finalizar estas notas, assinale-se que Hong-Kong é fortemente utilizador de TI,
explorando desde 1995 um sistema que estabelece a ligação das empresas aos serviços
alfandegários, o que constitui um elemento muito “rico” para a gestão das empresas.
107
Singapura
A indústria transformadora de Singapura representava 27% do PIB em 1995 e está
em perda, sendo o seu comportamento por sectores semelhante ao da Coreia do Sul.
No entanto, a estrutura industrial é bastante diferenciada da dos outros Estados na
medida em que a electrónica é muito marcante pois representa 42% da produção total
e desde há vários anos vem crescendo de forma acelerada, designadamente nos
segmentos dos semicondutores e equipamentos periféricos.
Em 1995, Singapura era o primeiro exportador mundial de leitores de disco para
computadores
O IDE continua a aumentar a elevado ritmo, sendo os sectores mais atractivos a
electrónica e a química, seguidos da electromecânica, estaleiros navais e aeronáutica.
Os EUA detêm uma posição destacada nos investimentos de Singapura, embora
orientada fundamentalmente para o sector petrolífero.
Actualmente, as prioridades preconizadas pelo Governo são o aumento da
competitividade da economia, a elevação do nível de qualificação da mão-de-obra
(apesar de já ser elevado), a atracção de altas tecnologias e o encorajamento das
empresas a investir mais em I&D embora essas despesas representem já 1.1% do PIB,
existindo ainda uma política e um programa de incentivos que, dando consistência a
esta estratégia, procura incrementar este valor.
Taiwan
A indústria transformadora de Taiwan está também em perda no PIB. De 1990 a
1995 desceu de 35 para 29%. A indústria de Taiwan teve recentemente de reagir a
desafios como a apreciação da moeda, a alta de salários e a penúria de mão-de-obra
(problema cada vez mais sentido nestes quatro estados) e uma maior exigência
ambiental.
A resposta a estes desafios traduziu-se por um movimento de deslocalização de
empresas para os países da 2ª vaga de industrialização e China e num reajustamento
industrial na direcção de actividades produtivas de maior conteúdo tecnológico e de
valor acrescentado. Em simultâneo, como apoio a esta estratégia de adaptação, foram
lançadas políticas concretas (num plano até 2002) no sentido de fomentar o
desenvolvimento de actividades “high-tech “
Os instrumentos de política são o reforço da cooperação internacional, o apoio ao
investimento directo de Taiwan no exterior em países desenvolvidos (aproximação
aos mercados) e em países em desenvolvimento (aproximação às matérias-primas), a
intensificação de I&D através da participação em projectos internacionais e a
promoção da utilização racional da energia
Estas medidas são enquadradras por outras de cariz mais transversal como a
criação de um ambiente económico favorável e a protecção do ambiente.
108
Assim, a estrutura actual da indústria de Taiwan, caracteriza-se por os sectores
tradicionais, os mais atingidos pelos movimentos de deslocalização, se encontrarem
em regressão, mas onde a produção química, refinação, siderurgia e papel ainda
progridem e as indústrias de equipamento de transporte e electrónica serem as que
evoluem a ritmo acelerado.
Neste contexto, a indústria de Taiwan ganha uma composição em produtos mais
intensivos em tecnologia e, dadas as políticas em curso de desregulamentação, de
privatizações e de orientação nos domínios do investimento e das “high-tech”, Taiwan
está a criar as condições que lhe permitem melhor enfrentar as alterações dinâmicas
de mercado.
3. A INDÚSTRIA PORTUGUESA
3.1. As etapas da industrialização
O processo de industrialização do nosso País ao longo das suas várias etapas é
muito marcado pela indústria têxtil.
Na fase “moderna” da industrialização, a lei da Reconstituição Económica (1937)
constitui um marco, pois a ela se ficou a dever o lançamento e fomento das infraestruturas e a criação de condições básicas de aceleração do desenvolvimento
industrial.
No entanto, no termo da sua vigência (1950) não estava concluída a grande maioria
dos projectos lançados.
Daí que se inicie o modelo de substituição de importações (anos 50) com uma
economia predominantemente agrícola e um produto per capita muito baixo para os
padrões europeus, mesmo para os países menos desenvolvidos e uma indústria
incipiente e reduzida a um núcleo restrito de sectores com algum peso (textil,
cerâmica, alimentar e tabaco).
A década de 50, sobretudo na 2ª metade, é caracterizada por um surto de
industrialização sustentado em um núcleo de indústrias capital-intensivo como os
adubos, o cimento, a pasta para papel, a refinação de petróleo, a siderurgia. De algum
modo, esta dinâmica marca uma ruptura com a concepção de desenvolvimento
“ruralista e comercial” dominante no País e cria a base industrial, génese dos grandes
grupos económicos, nacionalizados em 1974.
Este modelo de industrialização assente numa forte intervenção da máquina
administrativa do Estado (condicionamento industrial, legislação do trabalho,
barreiras pautuais e não pautais, entraves ao IDE), apesar da dinâmica de
desenvolvimento que imprimiu, gerou um “ambiente” inibidor da prática de
concorrência, o que levou o País a um “fecho” sobre si mesmo. Alguns autores
referem-se mesmo a este período como não havendo uma inserção internacional da
economia de Portugal.
109
Porém, como refere Silva Lopes*, Portugal chega a 1960 “no limiar de uma fase de
desenvolvimento sem precedentes na sua história”, com características de claro
subdesenvolvimento e, “com uma indústria baseada em grande parte em unidades que
laboravam com tecnologias pouco avançadas e em actividades de transformação
simples de produtos primários”.
A integração na EFTA
Os anos 60, com a integração na EFTA, caracterizam-se por um desmantelamento
parcial dos mecanismos de protecção económica. Esta abertura ao exterior originou
uma forte dinâmica das exportações industriais e a penetração do capital estrangeiro
sobretudo em indústrias orientadas para a utilização de matérias-primas nacionais.
Assiste-se, assim, à implementação de um modelo de desenvolvimento virado ao
exterior em associação com o capital estrangeiro, embora com muitos traços de
protecção económica dos períodos anteriores, o que origina um perfil de
especialização internacional, influenciada do exterior e com pouca articulação com a
base industrial orientada para o mercado nacional e infra-estruturas.
Com este novo modelo regista-se o lançamento de um núcleo de industrialização
mais “moderno”, como a indústria naval, a electrónica (em segmentos de tecnologia
banalizada) e certos segmentos da indústria mecânica não se criando, porém, as
condições de internalização da transferência de tecnologia, nem o conhecimento de
redes de comercialização, pelo menos em grau significativo, de forma a propiciar as
condições de ajustamento estrutural da indústria portuguesa aos mercados externos.
Esta dinâmica evolutiva produz alterações na composição do produto industrial e
dada a taxa média de crescimento anual da indústria (8,5%) muito superior à do PIB
(6%), o sector secundário ganha um relevo significativo na estrutura económica.
Este modelo veio obrigar a profundas modificações na máquina do Estado,
designadamente de âmbito institucional, levando à criação de vários organismos para
o apoiar como o Fundo de Fomento de Exportação e ao lançamento de projectos infraestruturais como o pólo de Sines.
“A nova política industrial dos finais dos anos 60 aposta nas indústrias da segunda
revolução industrial, embora em fase tardia e desfasada do processo mundial de
desenvolvimento, acreditando desta forma conseguir obter para Portugal uma
inserção activa da sua economia na economia mundial que permitisse recuperar
o atraso existente”*.
*
*
A economia portuguesa desde 1960
Portugal Moderno - Economia
110
Década de 70: Choques petrolíferos e Abril de 1974
A nova política industrial onde a viragem ao exterior constituía um elemento
positivo, mas onde a aposta na mão-de-obra barata funcionava de contraponto, é
interrompida pelo 25 de Abril sem o teste de sucesso ou insucesso.
As alterações políticas do 25 de Abril determinaram uma ruptura da regulação do
sistema económico vigente porque ao nacionalizarem os grandes grupos financeiros
(em número reduzido mas com importância muito forte na economia) “suspenderam”,
em parte, o regime de acumulação privada.
No entanto, esta ruptura não deu origem a um novo modelo de acumulação de
“natureza mais social”, quer por inexistência de projecto de sociedade aderente à
realidade portuguesa, quer pela crise económica mundial que estava a abalar os
alicerces da 2ª revolução industrial em que sectores como a química, a siderurgia e a
construção naval deixam de ser indústrias “industrializantes” e que, de certa forma,
constituíam os alicerces da nossa política industrial.
A indústria portuguesa que “está à porta” da 2.ª revolução industrial vê, assim,
reduzida a sua margem de manobra, tanto mais que não dispõe de “instrumentos
económicos” que lhe permita concorrer em mercados cada vez mais competitivos.
Assim, até à adesão à CEE, o ajustamento do País às novas condições tecnológicas
e de mercado encontra dificuldades que não consegue ultrapassar e a economia vai
“vogando” mais ao sabor de medidas de conjuntura que de ataque aos problemas
estruturais.
A adesão à CEE
Com a adesão criou-se um quadro de estabilidade e o País obteve acesso a fundos e
a programas específicos, como o PEDIP que, numa primeira análise, pareciam criar
condições para o reajustamento estrutural da indústria. Como adiante se verá o
impacte destes programas não terá sido tão modernizador, pois o estado da nossa
indústria não evoluiu segundo as expectativas, ou pelo menos ao ritmo de outras
economias em posição similar, mantendo uma especialização frágil na base de
indústrias e produtos de fraco crescimento económico nos mercados internacionais e,
sobretudo, com empresas com um reduzido conhecimento e domínio das redes de
comercialização.
3.2 O estado actual da especialização da indústria portuguesa
A indústria portuguesa manteve assim, ao longo do tempo, uma hiperespecialização nos chamados sectores tradicionais que não tem sido atenuada nas
últimas décadas. Na realidade, o grupo de indústrias constituído pelos produtos
111
alimentares e pelas fileiras têxtil, do couro e da madeira representavam, ainda em
1994, 48% do produto.
A quebra da série estatística no final da década de 80 impede-nos de fazer uma
leitura consistente entre a década de 80 e 90. No entanto, durante a década de 80,
registaram-se alguns fenómenos intra-grandes sectores ou fileiras industriais que, a
avaliar pelos valores já disponíveis para a década de 90, induzem no sentido de
alterações limitadas.
As alterações de monta na indústria portuguesa e, designadamente as de natureza
qualitativa, não são observáveis em termos de grandes fileiras e/ou de grandes
sectores.
Como se pode ver a distribuição industrial portuguesa por grandes sectores
industriais (Quadro 2) mantém-se praticamente estável.
Quadro 2
%
1990
1994
agroalimentares.
17,1
17,6
textil/couro
24,8
24,2
madeira
5,9
6,2
papel
8,4
8,9
químicas
9,2
8,3
minerais não metálicos
9,1
10,1
metalurgia
2,9
1,6
electromecânica
20,2
22,1
outras
2,3
1,2
Fonte: Estatísticas. das Empresas INE
Apenas a um nível muito fino é perceptivel o deslizamento para produtos de
procura final e de maior valor acrescentado.
Áreas de especializaçao tradicional
Indústrias agro-alimentares
Trata-se de um conjunto de indústrias com uma fraca componente exportadora,
responsável por cerca de 10% do emprego industrial e com uma quota crescente nas
importações nacionais quer devido à tradicional importação de matéria-prima quer
pelo recurso crescente à importação de produtos finais.
Nas agro-alimentares encontram-se algumas das maiores empresas mundiais,
registando-se uma penetração em Portugal dessas grandes empresas quer a nível da
112
produção quer a nível da distribuição. Essas grandes empresas têm procedido a
ajustamentos recentes que passaram por fusões e aquisições e pela recentragem das
suas actividades, a nível internacional, com impacte em Portugal, nas estruturas
produtiva e de distribuição.
Fileiras do têxtil e do couro
O papel determinante das indústrias têxteis e do couro na especialização da
indústria portuguesa tem sido uma constante. Durante a década de 80 a estrutura
interna das indústrias têxtil e couro (quadros 3 e 4) mudou consideravelmente, tendose verificado deslocação das indústrias a montante para as de procura final.
Quadro 3
%
1990
1994
Têxtil
62,7
58,1
Vestuário
37,3
41,9
Fonte: Estatísticas das Empresas - INE
Quadro 4
%
1990
1994
Curtumes
21,8
16,8
Calçado
78,2
83,2
Fonte: Estatísticas das Empresas - INE
Estas indústrias, que se caracterizam pelo seu perfil claramente exportador, são
responsáveis por quase 40% das exportações nacionais. As importações têm-se
revelado crescentes quer em matérias-primas, fios e tecidos, quer em produtos finais,
que se ajustam mais à moda ou de alta gama.
A nível internacional as indústrias a jusante destas fileiras sofreram grandes
alterações, que aliás ainda não cessaram, apresentando-se hoje em dia em mudança,
determinada pelo comportamento da procura o que obriga a uma resposta adequada
por parte da oferta. Não perdendo de vista o facto de se tratar de um mercado com
condições de concorrência extraordinariamente duras, as novas características do
mercado incorporando novas técnicas de produção e novos métodos de organização e
gestão, anteriormente características dos sectores de ponta, acrescentam factores de
competitividade que estão cada vez mais longe daqueles que eram atribuídos aos
sectores tradicionais.
É, neste contexto, que o posicionamento de Portugal como periferia interna à
Europa, seu principal espaço comercial, tem sido entendido como uma situação que
pode ser potenciada. A proximidade geográfica e cultural confere, de facto,
vantagens competitivas sobretudo nos segmentos da procura em que o preço não é
113
determinante, mas em que conta cada vez mais a resposta rápida e a flexibilidade
traduzida em pequenas encomendas e prazos de entrega muito curtos numa variada
gama de produtos.
Nesta área de forte especialização portuguesa, outros países bem localizados em
termos de Centro da Europa, podem vir a desenvolver estratégias muito semelhantes
à estratégia portuguesa.
Sectores utilizadores de recursos naturais
O conjunto de indústrias utilizadoras de recursos naturais, designadamente os
derivados da floresta, tem constituído a segunda área de maior relevo da
especialização tradicional da indústria portuguesa.
A segunda metade de 80 e os primeiros anos da década de 90 marcam, de algum
modo, o início de uma viragem neste conjunto complexo de sectores, bastante
diferenciados entre si, onde se incluem desde as produções de tecnologias avançadas
(subfileira do papel, cimento, certos segmentos do vidro e cerâmica) à exploração de
recursos ainda com reduzido grau de transformação (indústrias da madeira, rochas
ornamentais) e utilização de tecnologias pouco significativas.
Subfileira do papel
A subfileira do papel tem evoluído nos anos mais recentes no sentido de uma
maior integração vertical, aliás seguindo as tendências dos países fortemente
especializados neste domínio como os EUA/Canadá ou os países escandinavos.
Quadro 5
1990
1993
Pasta
3,0
0,9
Papel e artes gráficas
5,4
6,2
A capacidade da produção de papel instalada no país aumentou
consideravelmente, sendo os novos produtos de elevado valor acrescentado e quase
na sua totalidade dirigido ao mercado externo.
Portugal deixou, assim, de ser um país essencialmente produtor de celulose para
mercado, atingindo deste modo uma combinação produtiva de maior “performance”.
Indústrias derivadas dos minerais não metálicos
Este conjunto de indústrias mais recentes na estrutura produtiva tem vindo a
ganhar importância, apresentando hoje um considerável peso. Contudo, este aumento
114
percentual não corresponde apenas a um acréscimo intensivo da produção, mas
decorre de melhorias tecnológicas significativas e da introdução de novos produtos,
onde as indústrias do cimento, do vidro e da cerâmica merecem relevo destacado.
O sector das rochas ornamentais é eventualmente, aquele de entre este conjunto de
indústrias onde, apesar da forte viragem ao exterior, a introdução de novas
tecnologias terá sido menos dinâmica. No entanto, há a registar no seu interior uma
deslocação sustentada das exportações para actividades a jusante, de maior valor
acrescentado, sendo de identificar um pequeno núcleo de empresas bem organizado
com elevado dinamismo de mercado.
Indústria química
A indústria química contém situações muito díspares, com uma produção
claramente orientada para o mercado nacional, sendo a taxa de exportação, em
média, inferior à da indústria transformadora.
Na química de base, os grupos empresariais de dimensão mundial têm cada vez
maior peso e os factores que mais pesarão na evolução desta indústria em Portugal
prendem-se com o desenvolvimento das ligações das empresas instaladas em
Portugal a esses grupos. É uma área em que Portugal dispõe claramente de reduzidas
potencialidades sob os mais diversos ângulos de análise (know-how e tradição,
matérias-primas, posicionamento geo-estratégico).
No caso química ligeira, a criação do Mercado Único conduziu a uma
“recentragem” de produções com reduzidos custos de transporte como os produtos
farmacêuticos e de higiene e limpeza, para melhor beneficiarem de economias de
escala em termos de produção, logística e mercados. Este facto levou à cessação de
actividades no país de algumas empresas, em especial de produtos farmacêuticos,
numa óptica de mercado ibérico.
Indústrias metalomecânicas
Neste grupo de indústrias apresenta-se uma grande diversidade de situações.
No complexo electromecânico as mudanças de maior monta situam-se no material
de transporte com mudanças recentes em termos de estrutura industrial.
A construção e reparação naval chegou à década de 90 com um peso bastante
reduzido, tendo passado na década anterior por uma redução drástica da capacidade
instalada, sendo o futuro algo problemático, designadamente porque as condições de
mercado se alteraram radicalmente com desvantagem para a nossa localização.
O automóvel parece ser a linha estratégica que se afigura como tendo
possibilidades de consolidação. O projecto Renault, que arrancou no início dos anos
80 deu um impulso à “reformulação” da indústria de componentes e de algum modo
criou o ambiente para atrair outros projectos Por seu lado o projecto Auto Europa
veio consolidar, ou pelo menos, potenciar este conjunto heterogéneo de indústrias
115
componentes do automóvel, fazendo crer que ligado ao automóvel poderá constituirse e desenvolver-se um pólo de especialização.
Estes dois projectos tiveram impacte em indústrias diversas como os moldes para
plásticos, os plásticos, o têxtil industrial, a borracha, a fundição e outros
componentes metálicos, levando-os a introduzir formas de gestão e tecnologias
avançadas, condições necessárias para a manutenção da qualidade de fornecedor
exigida pelas grandes marcas de automóvel.
É evidente que continuam por “explorar”, de forma eficaz, a produção
metalomecânica de pequena e média série onde as potencialidades para as empresas
nacionais parecem ser francamente favoráveis. A sua “exploração” pouco adequada
fica a dever-se muito mais às fragilidades das relações das empresas portuguesas
com o mercado do que com a tecnologia.
**********
Como grande conclusão, Portugal dispõe de uma especialização industrial onde as
debilidades são muito patentes, quer ao nível da utilização das tecnologias mais
evoluídas, quer ao nível do domínio ou inserção nas redes de comercialização e com
um forte constrangimento para enfrentar a dinâmica da mudança: o baixo nível de
qualificação relativo dos seus recursos humanos, ao contrário de alguns países cujo
estádio de desenvolvimento não se distanciam muito do nossso, ou até de outros em
posição de atraso, como os países do Centro e Leste Europeus, e da Ásia.
4. AS AMEAÇAS PARA PORTUGAL
Os quatro países focados não representam para Portugal, em nossa opinião,
grandes ameaças nesta fase do nosso ciclo de desenvolvimento
Esta constatação não se reveste de carácter positivo, pois significa que essas
economias, apesar do seu arranque posterior, se posicionam numa fase mais avançada,
quando, de algum modo face às semelhanças de processo, em idêntico período de
tempo, não era de esperar uma disparidade de estádio de desenvolvimento tão
acentuado.
Na realidade, factores como os recursos humanos, a gestão e o funcionamento das
instituições públicas, aliados a uma diferença cultural base, assim como uma diferente
capacidade de adaptação às mudanças estão na origem da nossa perda de velocidade
relativa.
A elevada dinâmica dos mercados asiáticos tem tido, por outro lado, como
consequência uma certa recentragem destes países mais avançados na sua própria
zona geográfica, quer em termos de investimento, quer de trocas comerciais. Os
mercados europeus deixaram assim de ser tão concorrenciados pelos produtos de
baixa/média gama oriundos destes países.
116
No entanto, existem produções designadamente na área da electromecânica, onde
esses países com destaque para a Coreia se apresentam como concorrentes de
Portugal, mesmo no nosso próprio mercado, sendo de realçar a ofensiva em termos de
investimento no exterior, mesmo em países como o nosso como é o caso da Tisep.
Afigura-se-nos, porém que os maiores desafios para Portugal advirão, no curto
prazo, muito mais dos países de 2.ª geração, designadamente em muitos dos
segmentos das indústrias tradicionais de baixa/média gama que continuam a constituir
parte importante da nossa especialização.
117
5. BIBLIOGRAFIA
Thuro, Lester: Les fractures du capitalisme, Éditions Villages Mondial, Paris, 1997
Murteira, Mário: Economia Mundial, a Emergência duma Nova Ordem Global,
Difusão Cultural, Lisboa, 1995
Portugal 2010: Posição no Espaço Europeu, uma reflexão prospectiva, Trabalho
coordenado por J. Félix Ribeiro, Editor DPP, Lisboa 1995
A Indústria Portuguesa Horizonte 2015, evolução e prospectiva, Serviço de Estudos
de Economia Industrial do Gabinete de Estudos e Planeamento (GEPIE), Editor
GEPIE/Ministério da Indústria e Energia, Lisboa, 1995
CEPII, Économie International, n.º 57, Paris, 1994
OCDE, Révue Économique, n.º 20, Printemps 1993, Paris
118

Documentos relacionados

Resumo do trabalho com Joaquim Silva e Cristiano Cechella

Resumo do trabalho com Joaquim Silva e Cristiano Cechella O termo globalização possui diversos significados. Utilizaremos o conceito de globalização utilizado por Bhagwati (2004), a qual consiste na “integração das economias nacionais na economia internac...

Leia mais