o processo de globalização - Conselho Económico e Social
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o processo de globalização - Conselho Económico e Social
CONSELHO ECONÓMICO E SOCIAL GLOBALIZAÇÃO DOCUMENTOS DE SUPORTE AO PARECER “ GLOBALIZAÇÃO IMPLICAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL” LISBOA, 1997 1 ÍNDICE O Processo de Globalização: Implicações para Portugal Vítor Corado Simões A Internacionalização das Empresas Industriais Portuguesas: Caracterização e Perspectivas Vítor Corado Simões 3 24 O Investimento Directo Estrangeiro em Portugal Miguel A. T. Coelho 50 A Indústria Portugal Versus Dragões Asiáticos João Abel de Freitas Julieta Estêvão 100 2 O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO: IMPLICAÇÕES PARA PORTUGAL Vítor Corado Simões Texto elaborado para o Conselho Económico e Social em 12 de Julho de 1996 3 SUMÁRIO 1. Introdução 2. Globalização: Caracterização e Principais Facetas 3. A Globalização das Estratégias Empresariais 4. Portugal e a Globalização 5. Pistas para Análise 4 1. INTRODUÇÃO O objectivo básico do presente texto é o de introduzir um conjunto de pistas orientadoras de uma reflexão sobre o impacto da globalização na economia portuguesa. O texto está organizado em quatro partes. Na primeira procede-se a uma caracterização sucinta do fenómeno da globalização e das suas principais dimensões. Serão igualmente abordadas as implicações genéricas da globalização sobre o papel dos Estados-Nação. A segunda é dedicada à análise do processo de globalização das estratégias empresariais. Serão focadas nomeadamente as orientações estratégicas das grandes empresas multinacionais, os mecanismos de geração e transferência de tecnologia à escala mundial e a formação de alianças estratégicas, referindo-se de seguida as suas implicações sobre os fluxos internacionais de comércio e de investimento. O ponto de situação sobre as consequências da globalização na economia portuguesa constitui o tema da terceira parte. Embora se possam identificar casos de sucesso na internacionalização e uma sensibilização crescente das empresas portuguesas para a necessidade da internacionalização, os desenvolvimentos verificados nos últimos dez anos apontam para o facto de as empresas estrangeiras terem tido um papel muito mais activo que as empresas domésticas na internacionalização da economia portuguesa, aproveitando nomeadamente as oportunidades oferecidas pela integração europeia. Por outro lado, para a generalidade dos agentes económicos portugueses a globalização foi encarada como algo de distante e de secundário face aos desafios colocados pelo processo de integração europeia. No capitulo final são apresentados sete temas que nos parecem justificar trabalhos de investigação aplicados à realidade portuguesa. Os temas seleccionados são os seguintes: globalização e novas características dos fluxos comerciais; o carácter sistémico dos fluxos de investimento e o processo de globalização; razões e tendências de evolução dos desinvestimentos das empresas com capital estrangeiro em Portugal; o impacto dos investimentos internacionais sobre o emprego em Portugal; oportunidades de inserção das empresas portuguesas em redes de cooperação transnacionais; globalização, sistema nacional de inovação e investimento estrangeiro; e relações ibéricas e integração europeia. 2. GLOBALIZAÇÃO: CARACTERIZAÇÃO E PRINCIPAIS FACETAS O termo globalização está longe de assumir significado idêntico para todos, o que gera equívocos e imprecisões. Este facto não é surpreendente tendo em conta a diversidade de dimensões que o termo pode recobrir, como veremos mais adiante. Torna-se, no entanto, necessário fornecer uma definição do que se entende por 5 globalização e explicitar quais as facetas que mais nos interessam, de modo a facilitar a compreensão deste texto. Entendemos globalização como o processo de desenvolvimento das inter-relações à escala mundial, em que cada país está ligado aos outros através de uma complexa teia de laços e de acontecimentos, de tal modo que decisões e acções tendo lugar numa parte do Mundo podem acarretar consequências significativas para indivíduos ou organizações localizados em áreas distantes1. Este processo foi facilitado pelo progresso no domínio das tecnologias dos transportes, das comunicações e dos sistemas de informação, as quais permitiram a circulação de bens, serviços, pessoas, capitais e conhecimentos indispensável à aceleração das inter-relações nos campos cultural, social e económico. Um agente decisivo, mas não exclusivo, da globalização têm sido as grandes empresas multinacionais2. A sua acção tem-se feito sentir não apenas na produção e venda de bens e serviços num número crescente de mercados, mas também no estabelecimento de estratégias à escala planetária e na sua implementação através de estruturas organizadas e articuladas como verdadeiras redes mundiais. Convirá ressalvar, por outro lado, que o grau de envolvimento dos diferentes países neste processo é substancialmente diferente. Globalização significa prima facie triadização, isto é, inter-relacionamento entre as três grandes áreas desenvolvidas do Globo - Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão. A sua influência sobre os países em desenvolvimento é variável, desde o envolvimento fortíssimo dos países do Sueste Asiático à quase omissão da África sub-Saariana. A globalização da economia e da sociedade comporta diversas dimensões ou facetas relacionadas entre si, das quais destacaremos as seguintes3: • Globalização Financeira, associada à desregulamentação dos sistemas financeiros nacionais, à liberalização da circulação de capitais, ao desenvolvimento de novos serviços e novos mercados financeiros e ao movimento de fusões e aquisições. • Globalização da Produção e dos Mercados, através do reforço e integração das redes mundiais das empresas multinacionais, tanto no plano da racionalização das actividades produtivas como no da comercialização. • Globalização da Tecnologia, traduzida designadamente na consolidação de três grandes pólos de inovação e desenvolvimento tecnológico (Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão) e na tentativa de aproveitamento das competências específicas existentes em certos países em desenvolvimento, 1 Esta definição baseou-se fundamentalmente nas propostas de John Dunning (Internationalizing Porter’s Diamond, Management International Review, Special Issue, 1993/2, p. 8) e de Anthony McGrew e Paul Lewis (Globalisation and the Nation States, Polity Press, Cambridge, 1992, cit. in Grupo de Lisboa, Limites à Competição, Europa América, Lisboa, 1994, p. 47) 2 O termo empresa multinacional é utilizado aqui na acepção ampla de uma empresa que controla, coordena e desenvolve actividades geradoras de valor acrescentado em diversos países. 6 através da sua integração em redes internacionais; o recente Livro Verde sobre a Inovação4, publicado pela Comissão Europeia, constitui um testemunho claro da preocupação da Comissão quanto às debilidades da Europa face aos desafios colocados pela globalização da tecnologia. • Globalização das capacidades reguladoras, a qual neste momento não tem ainda uma expressão muito significativa. No entanto, os acordos do Uruguay Round que conduziram à formação da Organização Mundial da Comércio correspondem a um passo significativo naquele sentido; numa outra perspectiva, as reuniões periódicas do Grupo dos Sete países mais industrializados traduzem igualmente uma pretensão de estabelecimento de regras de harmonização de comportamentos com repercussões em toda a economia mundial. No último relatório da UNCTAD sobre o investimento internacional considera-se “quase inevitável que seja elaborado um quadro orientador de modo a contribuir para a estabilidade, predictability e transparência ao nível multilateral”5, sugerindo-se que os elementos desse quadro se encontram já na Acta Final do Uruguay Round. • Globalização dos modos de vida e padrões de consumo, expressa numa significativa aproximação dos desejos, aspirações e padrões de consumo das populações, a qual permite o lançamento de marcas, produtos e campanhas publicitárias à escala mundial, ainda que com adaptações locais. • Globalização das percepções e da consciência, resultante da convicção crescente de que vivemos num universo onde os recursos são finitos e devem ser preservados, tanto mais que erros cometidos num determinado momento e lugar se podem repercutar em todo o planeta, no imediato e/ou no futuro. O movimento ecológico tem sido, aliás, decisivo para reforçar esta consciência de cidadãos planetários, a qual não pode ser desligada também da extraordinária expansão da Internet6. De igual modo, a preocupação com os direitos humanos tem levado algumas empresas a estabelecer códigos de comportamento aplicáveis às suas filiais e aos seus subcontratados, como sucedeu com a Nike e a Reebok, para citar dois exemplos da indústria de calçado. A globalização constitui um desafio para os Estados Nação, tanto mais que tem sido acompanhada pela intensificação dos processos de integração regional, mais ou menos aprofundados, em todos os continentes, desde a América (NAFTA e Mercosur) 3 Esta perspectiva beneficiou da sistematização apresentada in Grupo de Lisboa, Limites à Competição, Europa América, Lisboa, p. 46. 4 Comissão Europeia, Green Paper on Innovation, Bruxelas, 1995 5 United Nations, World Investment Report 1995 - Transnational Corporations and Competitiveness, Nova Iorque, 1995, p. li 6 Refira-se, a propósito, que o principal titulo do Financial Times de 10 de Julho passado, respeitava à primeira acção on line desenvolvida pelos sindicatos a nível mundial, utilizando a Internet para 7 à Ásia (ASEAN), passando pela Europa. Este desafio é ainda ampliado pelo facto de as vantagens competitivas se basearem cada vez mais em “activos criados”, baseados no conhecimento e desenvolvidos no interior das empresas através de mecanismos de inovação tecnológica e organizacional, e não em recursos naturais. A margem de manobra dos Estados-Nação, confrontados simultaneamente com o poder das grandes empresas membros de oligopólos mundiais e com a integração regional, é hoje menor do que há duas décadas. Contudo, uma análise mais aprofundada do padrão de relações entre as políticas nacionais e as estratégias empresariais mostra que os Estados continuam a ter um papel relevante a desempenhar. A “competitividade” dos Estados depende da sua capacidade para desenvolver políticas que: (i) confiram às empresas da base doméstica os recursos e as competências necessárias para concorrerem em mercados mundializados; e (ii) dinamizem economias de aglomeração susceptíveis de atraírem investidores externos e de estimular o desenvolvimento de iniciativas empresariais endógenas. Nesta perspectiva existe uma inter-acção entre os Estados e as empresas na qual os Estados desempenham um papel decisivo, nomeadamente nos seguintes planos: (a) financiamento das infra-estruturas físicas essenciais à circulação de pessoas, serviços, bens e informação; (b) financiamento do desenvolvimento de competências (educação, formação, disseminação da informação, investigação básica); (c) fornecimento de incentivos aos esforços empresariais em I&D e na inovação tecnológica e organizacional; (d) apoio ao desenvolvimento e afirmação internacional das empresas nacionais e da sua inserção em redes; e (e) promoção de condições locacionais susceptíveis de atraírem empresas internacionais, gerando mecanismos de relacionamento mutuamente benéficos. 3. A GLOBALIZAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS Como se referiu, as empresas multinacionais têm sido protagonistas fundamentais do processo de globalização. A sua capacidade de desenvolver activos intangíveis – por exemplo, nos planos da competência tecnológica, da inovação organizacional e da gestão da imagem – e de os transferir, articular e explorar internacionalmente constitui um elemento fulcral para a sua afirmação competitiva e expansão internacional. Por outro lado, a localização em múltiplos países confere às empresas possibilidades acrescidas de aproveitamento de oportunidades e de exploração de sinergias, tendo em conta as vantagens específicas oferecidas por cada país enquanto localização de investimento. Como refere Cantwell, as empresas multinacionais tornaram-se “organizadores globais de sistemas económicos, incluindo sistemas de desenvolvimento tecnológico em diferentes partes do Mundo”7. pressionar a Bridgestone no segundo aniversário do despedimento colectivo de ex-trabalhadores da Firestone na sequência da sua aquisição pela Bridgestone. 7 John Cantwell, Technological Innovation and Multinational Corporations, Oxford, Blackwell, 1989, p. 10. 8 Na verdade, a vertente tecnológica tem sido um dos principais eixos da afirmação internacional das empresas multinacionais, envolvendo designadamente três movimentos: • Exploração internacional das competências tecnológicas internas à empresa, procurando comercializar os produtos no maior número de mercados possível e estabelecer redes de produção internas e/ou relações de subcontratação de modo a minimizar os custos globais de concepção e fabrico dos produtos. No sector automóvel, por exemplo, a articulação do fabrico de componentes, à escala continental ou mesmo planetária, envolvendo a contribuição de diferentes filiais e de redes hierarquizadas de fornecedores é hoje uma evidência. As empresas multinacionais aproveitam, por outro lado, as oportunidades de circulação de mercadorias oferecidas pela integração regional para especializarem as suas filiais por produtos ou por processos, de modo a beneficiar das vantagens específicas de cada localização. Em alguns países este movimento de racionalização produtiva à escala regional conduziu ao encerramento de unidades produtivas, com as consequentes implicações no plano do emprego. Em certos casos, actividades relativamente secundárias, em termos estratégicos são pura e simplesmente transferidas para países de mais baixos salários. Assim, a Swissair transferiu, em 1993, a sua contabilidade para a sua filial indiana, em Bombaim (cujo capital é detido em 25% por uma empresa indiana de serviços de consultoria). • Expansão dos acordos de cooperação – Alguns autores sugerem que o sistema capitalista entrou numa fase caracterizada pelas alianças entre empresas, as quais se destinam a fornecer aos parceiros competências para competirem em termos globais8. A cooperação pode: (a) ser coordenada por uma grande empresa que actua como ponto focal de uma rede de fornecedores, frequentemente ligados através de sistemas telemáticos; (b) ter lugar entre empresas com competências produtivas e/ou comerciais complementares; ou (c) envolver empresas concorrentes que resolvem aliar-se, em áreas a montante, de modo a reforçarem as respectivas posições competitivas. A cooperação assume formas diversas, desde projectos conjuntos de I&D, investigação sob contrato e licenças cruzadas à produção conjunta e mesmo ao cruzamento de participações no capital. As razões da cooperação são várias, incluindo nomeadamente a partilha de custos, a redução de incerteza na concepção e lançamento de novos produtos, a definição de normas e padrões internacionais, o estabelecimento de barreiras à entrada de novos concorrentes, a penetração mais rápida e/ou o alargamento dos mercados e o aproveitamento de sinergias e complementaridades entre os parceiros. Pode afirmar-se que a cooperação de base tecnológica constitui um instrumento para os parceiros reforçarem a sua capacidade de internalizar conhecimentos a uma escala global. 8 Conferir, entre outros, M. L. Gerlach, Alliance Capitalism: The Social Organisation of Japanese Business, Oxford, Oxford Press, 1992; e John H. Dunning, Reappraising the Eclectic Paradigm in an Age of Alliance Capitalism, Journal of International Business Studies, Vol. 26 n.º 3, p. 461-491, 1994. 9 • Exploração das oportunidades de geração e absorção de tecnologia no plano internacional – Num mundo onde a liderança tecnológica é tri-polar torna-se indispensável ter também uma localização múltipla das actividades de investigação e desenvolvimento tecnológico, designadamente em áreas caracterizadas por elevadas dinâmicas de inovação. Embora alguns autores sustentem que o grosso da actividade inovadora das empresas multinacionais está localizada nos seus países de origem e que esta característica não se tem alterado significativamente, outros consideram que a parcela de inovações geradas fora dos países de origem tem vindo a aumentar sistematicamente. Sem pretender tomar uma posição definitiva neste diferendo, tendemos a perfilhar a segunda perspectiva, basicamente por duas razões. A primeira decorre do movimento de implantação de filiais de “captação de competências” efectuada, por exemplo, por empresas coreanas e da Formosa no Silicon Valley com o objectivo de adquirir conhecimentos e estabelecer relações que lhe permitissem dar “saltos qualitativos” no domínio da electrónica. A segunda respeita aos novos desenvolvimentos da gestão transnacional da inovação, procurando estimular os contributos das diferentes filiais para o lançamento de novos produtos para o mercado mundial. Esta contribuição múltipla é extremamente facilitada pelo desenvolvimento dos sistemas de telecomunicações e de transferência electrónica de dados. Por exemplo, o modelo Ford Mondeo foi concebido por uma equipa integrada de I&D ao nível da Ford Europa, ligada por redes telemáticas a outros centros de I&D e de produção da Ford na Europa e nos Estados Unidos. Num momento em que a generalidade dos países procura captar investimento estrangeiro9 (na expectativa de que as filiais estrangeiras possam ter um contributo positivo para ultrapassar o problema omnipresente do desemprego e para dinamizar as exportações, reforçar a capacidade tecnológica e modernizar as práticas organizacionais e de gestão) convirá reflectir um pouco sobre as implicações dos três movimentos acima referidos para os países potenciais receptores de investimento internacional. Gostaríamos de sublinhar, em termos muito breves, seis pontos que nos parecem da maior importância: • Peso crescente do comércio intra-empresa nos fluxos de comércio internacional – Sendo as redes internas às empresas multinacionais cada vez mais abrangentes e continuando a tendência para a especialização das filiais, a circulação internacional de produtos intra-firma vai assumindo uma importância que não se pode negligenciar. De acordo com as Nações Unidas, cerca de um terço do comércio mundial tem lugar no seio das empresas multinacionais. Este peso é ainda mais acentuado se consideramos também os fluxos comerciais efectuados no interior de redes de sub-contratação internacional lideradas por aquelas empresas. Consequentemente, as políticas comerciais estão cada vez mais estreitamente ligadas às políticas de investimento 9 Segundo o World Investment Report de 1995, apenas 5 num total de 373 alterações legislativas e regulamentares efectuadas em mais de 60 países no período 1991-94 não foram no sentido de uma maior liberalização. 10 estrangeiro, tornando-se indispensável contemplar especificamente os fluxos intraempresa. • O desenvolvimento de ligações entre as empresas de capital estrangeiro e as empresas nacionais tem de ser encarado numa perspectiva espacial que frequentemente ultrapassa as fronteiras - Com a integração regional, os mercados domésticos perdem relevo como determinante do investimento. Consequentemente, a possibilidade de utilização, pelas autoridades nacionais, de vantagens de mercado como contrapartida do estabelecimento de ligações entre investidores estrangeiros e as empresas nacionais (como sucedeu, por exemplo, no caso do projecto Renault) é fortemente restringida. Além disso, o acordo relativo às TRIM (Trade Related Investment Measures) no âmbito do Uruguay Round vem condicionar ainda mais a possibilidade de estabelecimento de trade-offs directos entre incentivos e desempenho do investimento no plano comercial, designadamente da substituição de importações. Neste contexto, as ligações entre empresas nacionais e filiais estrangeiras terão de ser promovidas: (1) no quadro de economias de proximidade, estimulando o desenvolvimento de clusters já existentes ou a dinamização de novos clusters; e/ou (2) promovendo a inserção de empresas nacionais, como fornecedores directos, em redes internacionais de abastecimento de grupos multinacionais. Neste processo, ligações anteriormente estabelecidas no espaço nacional podem ser um instrumento importante para credibilizar as empresas domésticas potenciais fornecedoras. • A atracção de investimento estrangeiro estruturante e criador de elevado valor acrescentado depende da capacidade dos Estados para promoverem o desenvolvimento de competências internas adequadas – A importância crescente dos factores intangíveis e do acesso a recursos humanos qualificados nas decisões de investimento (especialmente no espaço tríadico) conduz à existência de um “nível mínimo de congruência” entre as características desejadas do investimento estrangeiro e as condições de localização oferecidas pelo país receptor. Se tal congruência não existir, o custo marginal dos incentivos necessários para convencer a empresa estrangeira a estabelecer-se no país serão bastante superiores aos benefícios marginais a obter. As possibilidades de cooperação e de transferência de tecnologia são muito limitadas quando o fosso entre as capacidades da empresa estrangeira e o tecido produtivo local é grande, pelo que o investimento estrangeiro tende a assumir um carácter de enclave, divorciado das empresas locais. • A duração de vida das unidades produtivas estrangeiras é cada vez mais limitada – A evolução tecnológica conjugada com a especificidade das unidades fabris e o encurtamento do ciclo de vida dos produtos conduz a que a duração de vida das implantações tipo filial produtiva racionalizada, orientadas para o mercado externo, seja hoje relativamente limitada, não ultrapassando frequentemente os dez anos. Consequentemente, a menos que o país continue a configurar-se como uma localização interessante, surgirão, a mais ou menos breve trecho, desinvestimentos 11 que deverão ser tidos em conta nas análises custo-benefício efectuados na fase de negociação dos projectos e de atribuição de incentivos. • Possíveis efeitos de desvio de investimentos resultantes do surgimento de novas áreas de atracção – Os países do Sueste Asiático, encabeçados pela China, têm vindo a receber uma fracção crescente do investimento internacional, correspondente a mais de 70% do IDE dirigido aos países em desenvolvimento em 1994. A maioria dos fluxos tem origem na própria região, enquanto os investimentos oriundos da Europa são reduzidos (menos 10%). Prevê-se, aliás, que no futuro próximo a tendência marcante será o reforço do investimento na Ásia, ao passo que a atractividade da Europa Ocidental continuará a declinar. Simultaneamente, poder-se-á antecipar uma aceleração do investimento na Europa Central e de Leste, no caso de a transição em curso se processar com sucesso. A perspectiva deste duplo movimento não poderá deixar de ser tida em conta pelos países menos desenvolvidos da Europa Ocidental na formulação das suas políticas de IDE. • O movimento de expansão dos acordos de cooperação de base tecnológica concentrou-se quase exclusivamente nos países mais avançados, ao passo que a periferia de União Europeia ficou à margem – Com efeito, concentrando a análise nos acordos de base tecnológica (excluindo as relações de subcontratação da produção e os acordos de licença uni-direccionais) verifica-se uma acentuada concentração nos países tecnologicamente mais desenvolvidos, que dispõem de um número significativo de multinacionais “de base doméstica”. Segundo J. Hagedoorn e R. Narula10, os países da Comunidade podem classificar-se em três grupos: (a) Os líderes, caracterizados por um nível elevado de alianças tecnológicas (Alemanha, Reino Unido e França, mas também Itália e Holanda); (b) Os intermédios, correspondendo a pequenos mercados tecnologicamente sofisticados (Bélgica e Dinamarca) ou a países grandes tecnologicamente menos avançados (Espanha); e (c) Os esquecidos, países pequenos, sem multinacionais “próprias” e, em regra, tecnologicamente menos avançados (Grécia, Irlanda e Portugal, para além do Luxemburgo), cujas empresas são raramente procuradas como parceiros para o estabelecimento de alianças de base tecnológica. 4. PORTUGAL E A GLOBALIZAÇÃO Da análise do processo de internacionalização da economia portuguesa nos últimos dez anos podem-se retirar duas conclusões básicas: • A integração europeia modelou e “filtrou” o impacto da globalização sobre a economia portuguesa, pelo que, para Portugal, a globalização acabou por ser 10 John Hagedoorn e Rajnesh Narula, Choosing Models of Governance for Strategic Technology Partnering: International and Sectoral Differences, in Krzysztof Obloj, ed, High Speed - Competition in a New Europe, Univ. Varsóvia, Varsóvia, 1994, p. 103. A análise refere-se aos acordos celebrados no período 1980-1993. 12 encarada prima facie como um processo de crescente inter-penetração com as economias da Comunidade, especialmente da Europa Comunitária. • A internacionalização da economia portuguesa foi fundamentalmente uma internacionalização passiva: as empresas portuguesas, não obstante algumas excepções, foram menos dinâmicas que as suas concorrentes estrangeiras no aproveitamento das novas condições de expansão internacional. Estas conclusões carecem, no entanto, de ser melhor explicitadas e desenvolvidas. Vamos fazê-lo procedendo à identificação das principais forças e actores subjacentes àquele processo de internacionalização. A internacionalização da economia portuguesa pode ser considerada como o resultado de três factores inter-relacionados: a integração europeia, a liberalização do sistema económico e o processo de globalização. O primeiro foi, a nosso ver, o principal. Dele resultaram, por um lado, a obtenção de significativos recursos financeiros aplicados em programas de modernização das infra-estruturas e de incentivos aos investimento industrial (especialmente no periodo 1989-92) e, por outro, um aprofundamento das trocas comerciais com a Comunidade e um boom – concentrado no quinquénio 1987-91 – do investimento estrangeiro, especialmente do proveniente de outros países da Comunidade. Pode afirmar-se que o processo de integração correspondeu simultaneamente a um reforço e a uma diluição dos laços entre Portugal e a economia mundial. Reforço, na medida em que Portugal se tornou, em príncipio, mais aberto ao Mundo e à inserção em redes trans-nacionais. Mas também diluição, uma vez que a integração na Comunidade acabou por funcionar como filtro, um “mediador” da relação entre Portugal e a economia mundial: a preocupação de aprofundar as ligações com a Europa acabou por condicionar, e em alguns casos inviabilizar, a manutenção ou o estabelecimento de laços económicos com espaços extra-Europeus. Bastará olhar para as estatísticas relativas ao comércio externo e ao investimento internacional. A globalização não tem sido percepcionada como um desafio relevante pela maioria dos agentes económicos portugueses. O principal, e mais imediato, desafio tem sido o da integração europeia, para não falar da integração ibérica. As empresas portuguesas têm-se preocupado sobretudo com a concorrência acesa de outros fabricantes comunitários quer nos mercados europeus, quer no mercado interno. Em alguns sectores é igualmente sentida a competição de empresas asiáticas e, mais recentemente, da Europa Central e de Leste. Houve empresas que responderam ofensivamente, instalando unidades comerciais e procurando criar redes comerciais em outros países membros, nomeadamente em Espanha; em certos casos, estes movimentos implicaram a aquisição de empresas sediadas nesses países (como sucedeu com a Sonae e a Cimpor em Espanha, com a Growella no Reino Unido, com o Grupo Amorim na Suécia ou com a Autosil em França). Outras tentaram reduzir custos para se manterem competitivas, ou acabaram por aceitar acordos de subcontratação para grandes clientes europeus, nomeadamente cadeias de distribuição; 13 em muitas ocasiões esta opção acabou por determinar um esmagamento das margens, acabando a empresa por funcionar como uma “empresa por conta de outrem” – para usar a feliz expressão de Maria Manuel Marques –, com uma cadeia de valor truncada. Outras, ainda, olharam para África, muitas vezes com a esperança de encontrar um refúgio, um espaço onde “quem tem um olho é rei”; as vicissitudes dos maiores países africanos de expressão portuguesa acabam por frustrar estes intentos. Em síntese, com excepção de umas poucas empresas com maior envergadura e/ou com mercados mais diversificados, a globalização foi encarada como algo distante especialmente até à conclusão dos acordos do Uruguay Round. O desafio fundamental estava (e está) na Europa. As empresas estrangeiras assumiram indubitavelmente a liderança do processo de internacionalização da economia portuguesa, designadamente através dos investimentos efectuados no período 1987-91. O seu peso nas exportações portuguesas aumentou significativamente, tanto através de exportações directas de filiais como das relações de sub-contratação estabelecidas com fabricantes nacionais; este ano, registou-se novo “salto” na parcela das empresas de capital estrangeiro em consequência das exportações da Auto-Europa. As empresas estrangeiras que investiram em Portugal, e nomeadamente as grandes multinacionais, encaram, em regra, a globalização de uma forma mais atenta e empenhada. Algumas delas são mesmo protagonistas desse processo. A joint-venture entre a Ford e a Volkswagen (Auto-Europa) vem na esteira de outros acordos de cooperação entre as duas empresas em outras regiões (como é o caso do Brasil) e não pode ser dissociada da preocupação de responder a rivais globais que já haviam lançado veículos do mesmo tipo, como a Renault ou a Toyota. Todavia, a decisão de investimento em Portugal – neste caso, como na maioria dos outros – foi tomada porque o País é membro da União Europeia. Portugal é, pois, encarado pelos investidores internacionais prima facie como “um lugar na Europa” e não como uma localização independente, autónoma. Boa parte dos investimentos estrangeiros em Portugal não foram motivados pela pressão da globalização, mas principalmente para tirar partido das vantagens oferecidas por Portugal enquanto localização no espaço europeu. Pode afirmar-se que a vaga de investimento estrangeiro observada em 1987-91 foi principalmente devida às novas oportunidades abertas pela conjugação entre a integração regional e a integração empresarial na Europa Ocidental. A globalização não deixa, porém, de estar presente como pano de fundo – e será porventura mais evidente a sua influência nas decisões de desinvestimento que nas de investimento. Por exemplo, o processo de desinvestimento da Renault em Setúbal não pode ser desligado da estratégia global da empresa e das suas decisões de localização às portas da Comunidade (Eslovénia) e na América Latina. É de sublinhar, aliás, o facto de em 1995, de acordo com elementos recentemente publicados pelo Banco de Portugal o valor líquido do investimento português no 14 exterior ter ultrapassado, pela primeira vez nos últimos trinta anos11, o do investimento estrangeiro em Portugal: 91 contra 80 milhões de contos, respectivamente (Quadro 1). O nível extraordinariamente elevado de desinvestimentos de empresas estrangeiras em Portugal (526 milhões de contos) foi o principal motivo da inversão do peso relativo dois dois fluxos12. Tal nível correspondeu a cerca de quatro vezes o registado em 1994, tendo respeitado sobretudo à indústria tranformadora (60% do valor total dos desinvestimentos). O investimento português no exterior em 1995 não chegou a ultrapassar o máximo registado em 1992 (92 milhões de contos), ano em que se verificou a conjugação de alguns projectos de grande dimensão. De facto, os valores anuais continuam dependentes da ocorrência ou não de grandes projectos de investimento que podem enviesar sensivelmente os resultados. É inquestionável, no entanto, que, após um período de interrogações sobre as vantagens de investir no exterior, as empresas portuguesas reconhecem cada vez mais a necessidade de se internacionalizarem. Muitas delas defrontam-se, porém, com o problema da dimensão, da inexistência de massa crítica, não apenas no plano dos recursos financeiros, mas também ao nível dos recursos humanos e do mix de produtos comercializáveis no exterior. A União Europeia continua, sem surpresas, a ser o principal destino dos investimentos, cabendo aos outros países da OCDE apenas 5% e aos PALOP 3%. A Espanha é, em termos individuais, o mercado preferencial, tendo concentrado cerca de 56% dos investimentos em 1995, cabendo à França o segundo lugar com ligeiramente mais de 10%. Isto é, a inserção na Europa continua a prevalecer claramente e a “filtrar” a percepção dos efeitos da globalização. As empresas portuguesas foram lentas a reagir. Muitas continuam a adoptar atitudes passivas: exportam, mas de facto não vendem nos mercados externos – são os clientes que compram. Mas o movimento de internacionalização começa a ganhar alguma velocidade. Há “pontas de lança” que toda a gente conhece: – o investimento da Sonae, adquirindo a Tafisa (aglomerados de madeira), empresa espanhola com investimentos também no Canadá, e planeando a expansão das suas actividades para a África do Sul e a China; – a consolidação da Autosil entre os principais fabricantes europeus de baterias, através dos investimentos realizados em França (aquisição da Steco e criação de uma nova unidade fabril em Brive); – a expansão multifacetada do grupo Jerónimo Martins, investindo na Polónia e no Reino Unido em dois segmentos de negócio sensivelmente diferentes: cash-and-carry na Polónia e artigos de desporto topo-de-gama no Reino Unido (aquisição da Lillywhites); 11 Dizemos trinta anos porque dispomos de estatísticas fiáveis sobre os fluxos de investimento internacional a partir de 1964. Cremos contudo que o periodo referido poderá ser, sem grande margem de erro, estendido a todo o pós-guerra. 15 – a implantação aparentemente bem sucedida de três grandes empresas com capitais públicos em Espanha, duas através de aquisições (Caixa Geral de Depósitos e Cimpor) e outra através de investimentos de raiz (Petrogal). Investimento Português no Estrangeiro Unid: milhões de escudos Taxa de Cobertura (1) Investimento Estrangeiro em Portugal (1) (2) (3) (4) 1980-82 2441 23282 11 -81 1983-85 7419 73586 10 -82 1986-88 10389 162585 6 -88 1989-91 104981 899005 12 -79 1992-94 156592 697878 22 -63 1995 90900 79900 114 +6 (%) Índice de Investimento Cruzado (2) Fonte: Cálculos próprios com base em elementos publicados pelo Banco de Portugal. (1) Os valores apresentados respeitam a investimentos no capital de empresas, lucros reinvistidos e empréstimos e suprimentos. A partir de 1993 são também incluídos os fluxos relativos a operações sobre imóveis. (2) Índice de Investimento Cruzado = (1) – (2) x 100 (1) + (2) Portugal e os fluxos de Investimento Internacional Mas existem também outros casos interessantes e menos conhecidos, de empresas de média dimensão que vêm desenvolvendo processos de internacionalização e de reforço das ligações com grandes clientes internacionais, procurando passar de relações de sub-contratação dependente a relações de quase parceria13. A Growella, empresa de calçado com capitais suiços mas gerida por portugueses, internacionalizou-se tanto na vertente produtiva como na comercial. Na primeira, através da implantação de uma unidade fabril em Cabo Verde, destinado ao acabamento de peles e ao fabrico de calçado para senhora, aproveitando os menores custos de trabalho. Na segunda, mercê da tomada de posição maioritária no capital de uma empresa britânica; esta assegura a distribuição de parte dos produtos da Growella no Reino Unido, comercializando-os com a sua própria marca (NeeBee). Uma outra empresa de calçado, com menor dimensão e capacidade, está neste momento a implementar um sistema telemático de ligação ao seu principal cliente, o que lhe permite acelerar sensivelmente o processo de concepção dos produtos; utilizando um sistema de CAD transmite os modelos para aprovação do cliente, tornando dispensável a confecção de protótipos reais. 12 Todos os valores apresentados são provisórios, tanto mais que ainda não dispomos, à data de redacção deste texto, do Relatório do Banco de Portugal relativo a 1995. 13 Os exemplos apresentados a seguir foram todos retirados do nosso trabalho Inovação e Gestão em PME Industriais Portuguesas, realizado para a Agência de Inovação e para o Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério da Economia. 16 No sector automóvel, a Arjal é um exemplo de sucesso na relação com os grandes construtores. Fornecedor directo da Fiat, da Renault, da General Motors (Opel) e da Auto Europa, a Arjal dispõe de capacidades de concepção e desenvolvimento de novos produtos. Está também a internacionalizar-se, com a criação de antenas junto das principais fábricas dos seus clientes, de modo a obter vantagens nos planos da concepção de produto (maior facilidade de interacção com o cliente) e da logística (satisfação rápida das encomendas). Estes exemplos mostram, portanto, que o movimento de internacionalização das empresas portuguesas vai ganhando corpo, apesar dos problemas defrontados (dos quais a dimensão e as insuficiências na capacidade de gestão estratégica e na qualidade dos recursos humanos merecem destaque). Revelam igualmente que a projecção externa das empresas portuguesas não pode ser desligada do processo de investimento estrangeiro em Portugal. Isto significa que os dois movimentos carecem de ser estudados em conjunto, numa perspectiva sistémica. 5. PISTAS PARA ANÁLISE Conjugando as características do processo de globalização com as linhas de força da internacionalização da economia portuguesa esboçadas nos pontos anteriores, é possível identificar um conjunto de aspectos que se nos afiguram interessantes para proceder a uma avaliação das implicações da globalização (ou, porventura com maior rigor, globalização cum integração europeia) sobre a economia portuguesa. Os aspectos a destacar são, numa primeira aproximação, os seguintes: 1. Globalização e novas características dos fluxos comerciais: o peso do comércio intra-firma. 2. Globalização e fluxos de investimento: o carácter sistémico dos processos de investimento. 3. Os desinvestimentos: razões e tendências de evolução. 4. Investimentos internacionais e emprego: o papel dos fluxos de investimento internacional no panorama do emprego em Portugal. 5. Globalização e cooperação inter-empresas: oportunidades de inserção, como parceiros, das empresas portuguesas em redes transnacionais. 6. Globalização, sistema nacional de inovação e investimento estrangeiro. 7. Relações Ibéricas, Integração Europeia e Globalização: complementaridade ou concorrência? Explicitamos muito sinteticamente os temas propostos. 17 5.1. Globalização e Novas Características dos Fluxos Comerciais: O Comércio Intra-Firma Como se referiu, uma parte crescente do comércio internacional é efectuado intraempresa. Tal crescimento está associado aos processos de globalização e de integração regional que conduziram ao declínio das filiais de substituição de importações viradas para os mercados nacionais e ao crescimento de “filiais racionalizadas” inseridas em redes de produção internacionais. Portugal não está imune a este movimento, muito pelo contrário: a maioria dos grandes investimentos estrangeiros realizados nos últimos anos tem uma acentuada vocação exportadora, sendo as exportações em regra efectuadas intra-empresa. Seria, por isso, conveniente reanalisar o comércio externo português nesta perspectiva, distinguindo entre as operações intra-empresa e as outras. O interesse desta análise (parcialmente aflorada em trabalhos efectuados, há cerca de quatro anos, por Lino Fernandes14) seria tripla: • avaliação da contribuição líquida do investimento estrangeiro para a balança comercial portuguesa • identificação das implicações das estratégias empresariais na estrutura geográfica do comércio externo • implicações comerciais do processo de internacionalização das empresas portuguesas. A concretização deste trabalho não é, porém, fácil, tendo em conta as novas realidades da liberalização dos procedimentos administrativos de recolha de informação sobre o comércio externo. Implicaria necessariamente a cooperação com o INE para avaliação das possibilidades de acesso a este tipo de informação (admitindo que ela esteja disponível), já que a inquirição directa das empresas, mesmo por amostragem, é uma tarefa condenada ao fracasso. 5.2. Globalização e Fluxos de Investimento: O Carácter Sistémico dos Processos de Investimento Alguns autores, como Luostarinen e Welch15, sustentam que o processo de internacionalização das empresas começa frequentemente intra-muros, através do estabelecimento de acordo com empresas estrangeiras para o abastecimento do mercado interno (joint-ventures, contratos de licença, por exemplo). Esta 14 Lino Fernandes, O Papel do Investimento Estrangeiro na Evolução do Padrão de Especialização, Lisboa, Departamento Central de Planeamento, 1992; e do mesmo autor, A Especialização da Economia Portuguesa: Tendências e Perspectivas, Lisboa, Departamento Central de Planeamento, 1992. 15 Cfr. Reijo Luostarinen e Lawrence Welch, International Business Operations, Helsínquia, Halsinki School of Economics, 1990; e também Reijo Luostarinen e Harri Hellman, The Internationalisation Process and Strategies of Finnish Firms, Working Paper, Helsinki School of Economics, 1994. 18 internacionalização “em casa” permitiria às empresas aprenderem, tornando-se menos vulneráveis na sua futura projecção internacional. Esta perspectiva foi, de algum modo, confirmada por nós para um conjunto limitado de PME portuguesas. Verificámos que as empresas que “nasceram internacionais”, devido a ligações especiais com investidores estrangeiros em Portugal, tendem a recorrer com melhores resultados a formas “avançadas” de operação no exterior. Este facto pode ser interpretado como indicando que a projecção no exterior é muito mais fácil naquelas empresas em que o “pensar internacional” está já interiorizado na cultura da empresa16. Outro exemplo interessante, retirado também da realidade portuguesa, é o dos grandes grupos de distribuição: começaram todos como empresas de capital estrangeiro ou formando joint ventures com empresas estrangeiras e hoje estão envolvidos em processos activos de internacionalização. Outra vertente a explorar é a da influência das relações cliente-fornecedor estabelecidas no mercado interno como instrumento de internacionalização das empresas portuguesas17. São diversos os casos na indústria automóvel em que relações geradas no quadro interno vieram a permitir às empresas portuguesas afirmaram-se como fornecedores directos dos grandes construtores internacionais. Finalmente, um último eixo de análise respeita à evolução das características e da estratégia das filiais domiciliadas em Portugal face às novas tendências de gestão transnacional, de unidades ligadas em rede com maior autonomia e responsabilidade. Será que as filiais portuguesas dos grupos multinacionais, tradicionalmente passivas e limitadas às operações de produção e/ou de comercialização (no mercado interno) estão a assumir papeis mais activos e a ganhar novas competências e responsabilidades? Seria uma questão interessante a abordar, preferencialmente através de um estudo de casos. 5.3. Os desinvestimentos: razões e tendências de evolução Os valores do desinvestimento por parte de empresas com capital estrangeiro estão a assumir níveis inquietantes: em 1995 tais desinvestimentos quase igualaram o influxo de IDE (corresponderam, mais precisamente, a 87%). É algo supreendente que estes níveis de desinvestimento estejam a ocorrer agora, passados dez anos sobre a adesão de Portugal à então CEE. Até que ponto este movimento resulta de estratégias globais de reestruturação da produção por empresas multinacionais? Ou será sobretudo ainda uma consequência do desenvolvimento do processo de integração europeia? Qual a influência da atracção exercida pelos países em transicção da Europa Central e de Leste? Qual o seu impacto sobre o emprego? Qual a relação entre os desinvestimentos de hoje e os incentivos ao investimento no passado? 16 17 Cfr. Vitor Corado Simões, Inovação e Gestão em PME Industriais Portuguesas, op. cit., p. 122-123. Este aspecto prende-se também com o tema focado adiante em 5.5. 19 Pensamos que se torna indispensável responder a estas questões, de forma a compreender o como, o porquê e as consequências do processo de desinvestimento. 5.4. Investimentos Internacionais e Emprego Sendo o desemprego uma das principais preocupações da política económica portuguesa e sendo a criação de novos empregos um dos objectivos fundamentais da captação de investimento estrangeiro, torna-se imperioso estudar os efeitos dos fluxos de investimento internacional sobre o nível e o padrão do emprego em Portugal. A análise poderia ser desenvolvida ao longo das seguintes vertentes: • efeito global dos fluxos de investimento estrangeiro em Portugal sobre o nível genérico do emprego; • padrão de qualificações dos investimentos estrangeiros recentes e acções de formação desenvolvidas (estamos a caminhar de facto em direcção a um investimento estrangeiro exigente e qualificante?) • critérios de selecção do pessoal • gestão dos recursos humanos e actividade sindical • localização dos investimentos e oferta de recursos humanos (qual o peso da qualificação e das infra-estruturas de educação/formação nas decisões de localização do IDE?). • investimentos portugueses no estrangeiro: destroem ou criam empregos no País? 5.5. Globalização e Cooperação Inter-Empresas Como vimos, a participação das empresas portuguesas no movimento global de cooperação de base tecnológica tem sido muitissimo reduzida. Este facto pode ser interpretado como indicando que as empresas portuguesas não dispõem de atractivos (isto é, de competências tecnológicas) suficientes para serem consideradas como parceiros credíveis e interessantes. Além disso, a grande maioria das nossas empresas não dispõe de massa crítica (nos planos da dimensão e do esforço tecnológico) indispensável para se envolver naquele movimento. Mesmo no âmbito dos programas europeus de I&D a participação das empresas portuguesas tem sido muito escassa, quase nunca assumindo a liderança de projectos. Num outro registo, as relações verticais das empresas portuguesas com parceiros estrangeiros têm sido caracterizadas pela subcontratação assente em baixos custos de produção. Em indústrias como o vestuário, o calçado ou a cerâmica muitas empresas estão numa situação de subcontratação dependente, sem capacidade interna de 20 concepção dos produtos e sem contactos directos com os clientes finais; consequentemente, a sua cadeia do valor resume-se quase exclusivamente às operações, incorporando mão-de-obra pouco qualificada. Torna-se indispensável analisar as condições que permitem a estas empresas trilhar o estreito e difícil caminho que as pode conduzir da subcontratação dependente à subcontratação com valor acrescentado e à quase-parceria. Também aqui a globalização comporta perigos, inerentes à entrada dos países do Sul e do Leste (Europeu) nos mercados internacionais de subcontratação, beneficiando de custos de trabalho muito inferiores aos portugueses. O desenvolvimento das tecnologias da informação e da telemática vem permitir o estabelecimento e aprofundamento de redes internacionais baseadas nas economias de ligação através da troca electrónica de dados. O aproveitamento destas possibilidades exige, porém, níveis de capacidade de gestão, competência técnica e visão estratégica que não existem ainda num grande número de empresas portuguesas. O exemplo dado acima, de uma empresa da indústria de calçado, mostra que existem sementes de mudança e que tais sementes vão medrando... Outro plano de análise respeita à expansão, no plano internacional, de redes de fornecimento já constituídas no âmbito nacional com empresas de capital estrangeiro. Este tópico foi abordado já no ponto 5.2., pelo que nos dispensamos de o desenvolver aqui. Finalmente, convirá estudar qual a capacidade de as empresas portuguesas já razoavelemnte internacionalizadas criarem e articularem elas próprias redes de cooperação envolvendo parceiros quer em Portugal quer nos países de destino. Neste quadro se pode integrar também o recurso a formas cooperativas, menos exigentes em recursos financeiros, de expansão internacional, como sejam as joint ventures, os contratos de licença e os contratos de franchising (cujo êxito depende, no entanto, de uma análise cuidada das exigências da sua transposição de uns mercados para outros e um conhecimento aprofundado dos mecanismos básicos do próprio sistema de franchising). 5.6. Globalização, Sistema Nacional de Inovação e Investimento Estrangeiro A globalização, com a extensão e aprofundamento das redes de produção e de geração de conhecimentos das grandes empresas multinacionais, poderá conduzir, segundo alguns autores, a uma certa “dissolução” e desestruturação dos sistemas nacionais de inovação. Outros – como é o caso de Michael Porter – argumentam que a importância destes últimos continuará a ser decisiva como “base doméstica” e como fornecedores de inputs específicos e diferenciados às suas empresas multinacionais. Por outro lado, com o desenvolvimento da lógica transnacional de articulação em rede, o relacionamento entre as filiais das empresas multinacionais e o tecido tecnológico-produtivo de acolhimento tende a ganhar novos contornos. A filial 21 estrangeira torna-se frequentemente de “dupla-face”: por um lado articula-se com a sede e com as outras filiais na rede interna da empresa multinacional; por outro lado, procurará potenciar as vantagens específicas da sua localização, ligando-se como insider às teias de relações estabelecidas no interior do sistema nacional (ou regional) de inovação do país onde está domiciliada. Esta articulação será tanto mais desejada pela empresa estrangeira quanto mais sofisticado e avançado for o sistema nacional de inovação em causa. A análise das relações entre globalização, investimento estrangeiro e sistema nacional de inovação cruza-se com outros temas referidos anteriormente (em especial com 5.2., 5.4. e 5.5.). Tendo presente a importância crescente dos factores intangíveis na competitividade das empresas (e dos países) e o papel das economias de proximidade para a troca de conhecimento tácito, este tópico parece-nos da maior relevância para compreender o papel das filiais estrangeiras como eventuais instrumentos de transferência de tecnologia e de dinamização das capacidades das empresas nacionais. 5.7. Relações Ibéricas, Integração Europeia e Globalização: Complementaridade ou Concorrência? Uma das principais consequências do processo de integração europeia sobre a economia portuguesa foi o estabelecimento de um novo quadro de relacionamento entre Portugal e Espanha. Das tradicionais “costas voltadas” passou-se a uma articulação estreita entre as duas economias, nos planos financeiro, comercial e do investimento. Muitas empresas multinacionais aproveitaram a integração ibérica para racionalizar e articular os seus investimentos nos dois países. Boa parte dos fluxos comerciais têm lugar intra-empresa e muitos investimentos provenientes de Espanha não são, de facto, de origem espanhola, mas resultam antes de uma centralização em Espanha das decisões estratégicas de actuação no espaço ibérico. Por outro lado, os investimentos cruzados dispararam. Espanha é inquestionavelmente o principal destino do investimento português no estrangeiro e Portugal continua a exercer um razoável poder de atracção sobre as empresas espanholas, que encaram o nosso país como um mercado privilegiado. Contudo, a dimensão e o grau de penetração dos investimentos espanhois em Portugal não têm paralelo com os registados pelos investimentos portugueses no país vizinho, apesar de alguns casos de sucesso já relatados. Como escreveu há tempos um jornalista, os anemómetros registam um “vento” espanhol e uma “brisa” portuguesa... As relações ibéricas merecem, por isso, uma análise específica numa dupla vertente: a integração entre as duas economias e o papel dos investimentos recíprocos; e o potencial conflito entre os dois países como destino do investimento internacional e como bases de decisão estratégica. De facto, a lógica do “mercado ibérico” tem conduzido diversos grupos multinacionais a um down-grading das suas subsidiárias em Portugal, as quais passaram a reportar à sua congénere espanhola. Daí que seja 22 lícito formular a interrogação em epígrafe: Portugal e Espanha têm uma relação de complementaridade ou de concorrência? Ou será antes de concorrência e de complementaridade? 23 A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS INDUSTRIAIS PORTUGUESAS: CARACTERIZAÇÃO E PERSPECTIVAS Vitor Corado Simões* Texto Elaborado para o Conselho Económico e Social em 14 de Fevereiro de 1997 * Agradece-se à Associação Industrial Portuguesa, na pessoa do Engº José Bruno, a autorização para utilizar, ainda antes da sua divulgação, resultados do estudo “Desafios Estratégicos das Empresas Industriais Portuguesas num Contexto em Mudança: Papel das Alianças Estratégicas nos Processos de Internacionalização”, efectuado com o apoio do PEDIP II. 24 Sumário 1. Introdução 2. Grau de Internacionalização e Formas de Operação no Exterior 3. Motivações da Internacionalização 4. Barreiras à Internacionalização 5. Perfil do Investimento Directo no Exterior 6. Globalização e Internacionalização das Empresas Portuguesas Uma Reflexão Prospectiva Anexo Metodologia de Inquirição e Características das Empresas Respondentes 25 1. INTRODUÇÃO Este texto incide sobre a internacionalização das empresas industriais portuguesas. Internacionalização é aqui encarada como um processo de envolvimento em negócios internacionais visando a projecção das empresas no estrangeiro. Até há bem pouco internacionalização era quase sinónimo de exportação. Na última década, porém, temos assistido a movimentos diversificados de internacionalização, mais ou menos bem sucedidos, que ultrapassam os limites da exportação tradicional: contratos de franchising, contratos de gestão, fornecimento de projectos industriais, investimentos directos de natureza comercial, investimentos directos visando o estabelecimento de unidades industriais ... Um breve olhar sobre os títulos da Imprensa revela-nos como a internacionalização parece ser cada vez mais relevante para as empresas portuguesas. Sem qualquer preocupação de exaustividade respigámos uma série de notícias dando conta do reforço da presença das empresas portuguesas em outros países ou da intenção de o fazer: – “No prazo de 5 anos a Cimpor quer produzir no estrangeiro 60 por cento do cimento” (Expresso, 18 de Janeiro de 1997) – “Espiríto Santo que banco em S. Paulo” (Expresso, 8 de Fevereiro de 1997) – “CIN vai duplicar em Espanha” (Público, 10 de Janeiro de 1997) – “Crisal, Vista Alegre e Cutipol arrancam com loja em Bruxelas” (Público, 10 de Janeiro de 1997) – “Enatur internacionaliza-se” (Público, 8 de Janeiro de 1997) – “Quintas compra cordoaria no Brasil” (Público, 31 de Janeiro de 1997) Esta proliferação de operações torna dificil uma análise global dos contornos do fenómeno de internacionalização das empresas, tanto mais que faltam estudos empíricos sobre o tema. O presente trabalho tem, assim, dois objectivos: – procurar, com base nos elementos de informação existentes, traçar o perfil da internacionalização das empresas industriais portuguesas18; e – avaliar das implicações do processo de globalização sobre a evolução futura daquele perfil. O texto comporta seis capítulos, incluindo esta introdução. Os quatro seguintes visam responder ao primeiro objectivo referido acima. Partindo dos (poucos) estudos disponíveis, abordar-se-ão sucessivamente os seguintes tópicos19: 18 A ausência de informação disponível sobre internacionalização das empresas de serviços, levou-nos a não abordar este sector, embora reconheçamos a sua crescente importância. 19 A análise assenta basicamente no trabalho que efectuámos para a Associação Industrial Portuguesa (com o apoio do PEDIP), intitulado “Desafios Estratégicos das Empresas Industriais Portuguesas num Contexto em Mudança: Papel das Alianças Estratégicas nos Processos de Internacionalização”. Este 26 – grau de internacionalização e formas de operação no exterior; – motivações da internacionalização; – principais barreiras; – investimentos directos: localização e características. O último capítulo será dedicado ao segundo objectivo. Tentar-se-á designadamente reflectir sobre as implicações que a globalização e a tendência para a crescente importância do conhecimento como fonte de vantagem competitiva poderão ter sobre o processo de internacionalização das empresas portuguesas. 2. GRAU DE INTERNACIONALIZAÇÃO E FORMAS DE OPERAÇÃO NO EXTERIOR O grau de internacionalização das empresas foi estudado recorrendo a três indicadores: orientação exportadora (medida através da relação entre exportações e vendas totais da empresa); peso do emprego no estrangeiro; e peso do volume de negócios no estrangeiro. Relativamente às formas de operação, para além das informações decorrentes dos indicadores referidos acima, solicitou-se às empresas a sua opinião, numa escala de 1 a 5, quanto à importância de cada um de seis modos de realização de negócios no estrangeiro: exportação, sub-contratação de fabricação no estrangeiro, investimento directo de natureza comercial, investimento directo envolvendo unidades produtivas no estrangeiro, contratos com empresas no estrangeiro (contratos de licença, de franchising ou de gestão, em que a empresa actua como fornecedor de conhecimentos tecnológicos, imagem ou know-how de gestão) e fornecimento de unidades “chave-namão”. Os principais resultados obtidos foram os seguintes: 1) A exportação é, sem dúvida, o principal modo de operação no exterior Para a grande maioria das empresas actividade internacional é sinónimo de exportação. Na verdade, cerca de dois terços das empresas consideraram a exportação como importante ou muito importante, quando nenhuma das outras formas de operação atingiu níveis de importância acima dos 16%, como se verifica no Gráfico 1. trabalho envolveu a realização de um inquérito às 1400 maiores empresas industriais portuguesas. Os resultados apresentados respeitam a um conjunto de 175 empresas respondentes, brevemente caracterizadas em Anexo. 27 % Casos classificados como70 "importante" ou "muito importante" 60 50 40 30 20 10 Sub-Contratação Projectos Industriais Unidades Produtivas Contratos de licença, franchising, etc Unidades Comerciais Exportação 0 Gráfico 1 - Importância Atribuída às Formas de Operação no Estrangeiro Cerca de um terço das empresas inquiridas apresentava uma orientação exportadora muito marcada, com níveis superiores a 50% das vendas em 1995. No entanto, o grupo estudado incluía também quase 20% de empresas não exportadoras e 47% com uma orientação exportadora até 10%. Isto é, sem pôr em causa a importância da exportação, observa-se que entre as maiores empresas portuguesas há ainda muitas quase exclusivamente viradas para o mercado doméstico. 2) A orientação exportadora está associada ao tipo de indústria Foi testada a influência de três factores – tipo de indústria, dimensão e tipo de empresa (familiar versus não familiar) – sobre a orientação exportadora das empresas. Constatou-se que apenas o primeiro era relevante. Com efeito, foi possível identificar um contraste acentuado da orientação exportadora entre dois grupos de indústrias: – as dominadas por empresas exportadoras, onde pelo menos metade das empresas revelam níveis de orientação exportadora acima dos 50%: têxteis, vestuário, calçado, material de transporte, madeira e cortiça e fabricação de máquinas e aparelhos eléctricos; e – as viradas para o mercado doméstico, onde pelo menos dois terços das empresas respondentes não exportam ou apenas o fazem marginalmente: alimentação, 28 bebidas e tabaco; pasta, papel e edição; produtos químicos; borracha e matérias plásticas; e metalurgia de base. 3) O investimento directo no exterior apresenta ainda, no computo global, pouco significado, mas tem já relevância para algumas empresas 22 das 175 empresas estudadas declaram dispor de filiais, sobretudo comerciais, no estrangeiro; por outras palavras, 13% das empresas tinham filiais no estrangeiro. No total, o número de filiais ascendia a 47, mas a sua distribuição era fortemente desequilibrada, pois três grandes grupos detinham cerca de 45% daquele número, ao passo que 14 empresas tinham apenas uma unidade no estrangeiro. Em termos globais o peso do emprego no estrangeiro ascendia a 8%. Como se pode observar no Gráfico 2, a percentagem de empresas que empregavam mais de 5% dos efectivos além-fronteiras não chegava a atingir 6%. 5,3% 3,6% 1,8% 0% 0.1 - 4.9% 5 - 49% > 50% 89,5% Gráfico 2 - Peso do emprego no Estrangeiro O volume de emprego no estrangeiro experimentou, no entanto, um crescimento excepcional na presente década. Em 1990 as empresas estudadas empregavam menos de 300 pessoas no estrangeiro, enquanto em 1995 os seus efectivos no exterior ultrapassavam 3200. Constata-se, pois, que, muito embora o nível global de emprego no exterior seja baixo, existe uma tendência de crescimento muito marcada. Em posição destacada neste processo surgem algumas empresas com forte vocação internacional. Foram identificadas quatro empresas cujos efectivos no estrangeiro eram superiores aos existentes em Portugal ou que realizavam mais de metade do seu volume de negócios nas empresas afiliadas no exterior. É interessante verificar que, em pelo menos duas delas, foi a “exposição” ao exterior, na dupla perspectiva de orientação internacional da gestão e de operações anteriores em países estrangeiros, que lhes permitiu identificar oportunidades de aquisição de empresas de envergadura significativa, em resultado das quais elevaram consideravelmente os respectivos níveis de internacionalização. 29 É natural que o número de empresas nestas condições se venha a expandir substancialmente nos próximos anos. A consolidação da experiência internacional por parte de algumas empresas, aliada a patamares dimensionais relevantes, pode permitir movimentos de aceleração dos processos de internacionalização, como aquele a que a Cimpor se propõe: esta empresa, que até 1992 não dispunha de quaisquer afiliadas no estrangeiro, pensa localizar 60% da sua produção fora de Portugal no espaço de 5 anos. 4) As filiais comerciais prevalecem, em termos de importância relativa, sobre as produtivas Como se referiu no Gráfico 1, as filiais comerciais foram consideradas “importantes” ou “muito importantes” por 16% das empresas inquiridas, quando tal peso pouco excedeu os 2% para as filiais industriais. A análise das características das unidades estabelecidas no estrangeiro confirma os resultados apresentados acima. Com efeito, mais de 60% correspondem a filiais exclusivamente comerciais, havendo muito poucas que se possam considerar como exclusivamente industriais. Esta constatação vem corroborar genericamente as conclusões de um estudo realizado no princípio da década para o Ministério da Indústria e Energia no qual se concluía que o número de filiais industriais era muitissimo reduzido e que se concentrava nos PALOP20. A maior importância atribuída, em termos globais, às filiais comerciais não surpreende. Ela corresponde, na verdade, à fase actual do processo de internacionalização das empresas portuguesas. O estabelecimento de filiais comerciais constitui um passo lógico no sentido de potenciar a exportação a partir de Portugal. Para empresas que já atingiram níveis de exportação consideráveis, a implantação comercial no exterior permite melhorar o conhecimento dos mercados e reforçar a posição competitiva. Aparece, assim, na sequência de um envolvimento nos mercados através das exportações; como se concluiu no estudo efectuado para o Ministério da Indústria, o nível de implantação comercial no exterior encontra-se fortemente correlacionado com o valor absoluto das exportações. O “salto” das filiais comerciais para as produtivas já é mais complexo, estando associado frequentemente à capacidade de gestão, à existência de relações anteriores nos países de implantação (especialmente em África), a oportunidades de negócio (especialmente no caso de aquisições) e a estratégias voluntaristas de envolvimento (e, por vezes, de aprendizagem) internacional. Consequentemente, não estão ao alcance de todas as empresas. É indispensável dispor de sistemas adequados de gestão 20 Cfr. Luis Mira Amaral, A Internacionalização das Empresas Portuguesas, Pequena e Média Empresa, nº 1, 1991. Este estudo refere-se, porém, a um grupo de empresas muito inferior ao que analisámos (apenas 44 empresas). 30 e ter atingido patamares minimos de experiência internacional21 para as empresas se poderem abalançar com êxito na actividade industrial além-fronteiras – especialmente em países industrializados. Consequentemente, no estádio actual de internacionalização das empresas portuguesas, o predomínio das filiais comerciais é inevitável. O investimento de natureza comercial é um instrumento indispensável de acumulação de experiência internacional. Para a grande maioria das empresas, a questão de produzir no estrangeiro não se coloca, pelo menos no imediato. Como referiremos mais adiante, Portugal continua a ser a localização industrial por excelência. 5) A dimensão constitui uma condicionante dos processos de investimento no exterior Estudos anteriormente efectuados sustentavam que a dimensão influenciava o grau de internacionalização. Analisando 21 PME industriais, constatámos a existência de uma relação estisticamente significativa entre o grau de envolvimento internacional22 e a dimensão da empresa. Aí se defendia designadamente que “as dificuldades defrontadas pelas pequenas empresas ‘desejosas’ de se internacionalizarem ilustra bem como a dimensão – e a escassez de recursos humanos na área comercial e de recursos financeiros – condiciona os passos a dar na trajectória de internacionalização e o seu sucesso”23. Ao constatar uma forte correlação entre o valor da exportação e o nível de implantação no exterior (conceito análogo ao de envolvimento internacional, acima referido), o estudo efectuado para o Ministério da Indústria confirma também, ainda que indirectamente, o papel da dimensão como condicionante do investimento no exterior. O trabalho realizado para a Associação Industrial Portuguesa, embora incidindo à partida, sobre as maiores empresas industriais, vem clarificar as relações entre dimensão e internacionalização. A análise do inquérito permite constatar que: i) A orientação exportadora é independente da dimensão, mas ii) A dimensão condiciona os processos de investimento no exterior. Com efeito, a propensão ao investimento no exterior é claramente superior para as empresas de maior dimensão (Cfr. Gráfico 3). Cerca de 60% das empresas respondentes com mais de 500 trabalhadores têm filiais activas no estrangeiro; ao invés, apenas 4 das 67 empresas com menos de 100 efectivos têm investimentos 21 A aquisição de experiência internacional pode efectuar-se também no espaço doméstico, nomedamente através das relações estabelecidas com empresas multinacionais aí instaladas (veja-se o caso da indústria automóvel). 22 O grau de envolvimento internacional era definido em função dos modos de operação utilizados pela empresa em mercados externos: exportação ocasional, exportação dependente, exportação directa, filial comercial e filial produtiva. Para definições, Cfr. Vitor Corado Simões, Inovação e Gestão em PME Industriais Portuguesas, GEPEME/Ag. Inovação, Lisboa, 1996, pg. 103. 23 Cfr. Vitor Corado Simões, op. cit., pg. 117. 31 directos além-fronteiras. É interessante constatar também que as empresas cujas afiliadas no estrangeiro representam mais de 50% do volume de negócios consolidado têm volumes globais de emprego superiores a 250 pessoas. % Empresas 100 90 Sem Filiais no Estrangeiro 80 70 Com Filiais no Estrangeiro 60 50 40 30 20 10 0 Até 99 100-249 250-499 > 500 Emprego Total Gráfico 3 - Filiais no Estrangeiro e Dimensão da Empresa Face ao exposto, parece-nos ser lícito afirmar que a dimensão – nomeadamente em termos de recursos humanos e financeiros – se apresenta como uma condicionante da realização de investimentos directos no estrangeiro. Isto não significa, porém, que as PME não tenham, à partida, possibilidades de implantar filiais no exterior. O que consideramos fundamental é a existência de uma “massa crítica” interna mínima que funcione como âncora para as afiliadas e como base de referência organizacional e centro de interpretação da informação proveniente do estrangeiro. 3. MOTIVAÇÕES DA INTERNACIONALIZAÇÃO Existem diversos trabalhos sobre as motivações do comportamento exportador das empresas, em termos genéricos24, sectoriais25 ou de confronto entre firmas de capital nacional e estrangeiro26. Todavia, nenhum deles aborda a internacionalização em toda a sua extensão – ficam-se apenas pela fase introdutória, pela exportação. De facto, como referem Jarillo e Martinez, para definir estratégias internacionais é preciso ir 24 Veja-se M. Avelino de Jesus, Estratégias de Exportação das Empresas Portuguesas, Lisboa, edição do autor, 1989; e M. Avelino de Jesus e José Carlos Ribeiro, Factores Explicativos da Propensão para Exportar das Empresas Portuguesas, Estudos de Economia, Vol. XI nº 2, Jan-Mar 1991. 25 Mário Lino B. Raposo, Análise da Internacionalização das Actividades das Empresas: Evidências Empíricas do Sector Têxtil Português, Tese de Doutoramento (não publicada), Un. Beira Interior, 1994. Este estudo, embora encarando a internacionalização de uma forma mais ampla, acaba na sua parte empírica por se restringir à exportação. 26 Joaquim J. Teixeira Ruela, A Decisão de Exportar - Estudos das Motivações na Exportação das Empresas com Capital Estrangeiro, Tese de Mestrado em Economia (não publicada), ISEG, 1993. 32 “para além da exportação”27. Ou, nas palavras do Engº A. Sousa Gomes, Presidente do Conselho de Administração da Cimpor28: “Internacionalizar uma empresa, dar-lhe dimensão adicional e capacidade operacional internacional, não se limita a um primeiro passo, que é a regra geral por onde todas as empresas começam, o sector da exportação. Uma empresa exportadora pode vir a ser uma empresa internacional, mas uma empresa exportadora não é necessariamente internacional”. Tornava-se necessário, por isso, estudar as motivações da internacionalização das empresas, entendida como processo amplo, envolvendo diversas formas de actuação no estrangeiro, incluindo – mas não se restringindo a – a exportação. Para isso foi incorporada no inquérito uma questão onde se solicitava às empresas a indicação do grau de importância, uma escala de 1 a 5, de 13 aspectos identificados na literatura sobre negócios internacionais como potenciais motivações da internacionalização. Para facilidade de análise e de interpretação, tais motivações foram agregadas em cinco grandes grupos – endógenas, características dos mercados, relacionais, acesso a recursos no exterior e incentivos governamentais –, sumariamente apresentados na Caixa 1. 27 Cfr. José Carlos Jarillo e Jon Martinez, Estratégia Internacional - Más Allá de la Exportación, McGarw Hill, Madrid, 1991. 28 Cfr. A. Sousa Gomes, Internacionalizar: Oportunidades e Mudanças, in CEGE, A Internacionalização das Estratégias Empresariais, CEGE, Lisboa, 1990, pg. 28. 33 Tipologia de Motivações da Internacionalização Motivações Endógenas - Inclui as razões associadas à satisfação de objectivos, estratégicos ou tácticos, da empresa, nomeadamente as seguintes: - necessidade de crescimento - aproveitamento de capacidade disponível - obtenção de economias de escala - exploração de competências tecnológicas próprias - diversificação de riscos Características dos Mercados - Relativas à forma como a empresa percepciona as oportunidades de mercado; inclui dois factores básicos: - limitações do mercado doméstico - percepção de dinamismo dos mercados externos Motivações Relacionais - Corresponde principalmente aos casos em que a empresa reage (ou, mais raramente, procura antecipar) movimentos efectuados por outras empresas com as quais se relaciona: - resposta à actuação de concorrentes - acompanhamento de clientes - abordagem por potenciais clientes ou agentes estrangeiros Acesso a Recursos no Exterior - Relativas a acções que têm como objectivo melhorar as condições de obtenção de determinados recursos; inclui designadamente - o aproveitamento dos custos dos factores de produção no exterior e - o acesso a conhecimentos tecnológicos Incentivos Governamentais - Corresponde ao papel atribuído aos apoios proporcionados pelos Governos, quer português quer dos países de acolhimento, nas decisões empresariais de internacionalização. Caixa 1 - Motivações de Internacionalização Conjugando os resultados da inquirição efectuada com os obtidos nos outros estudos anteriormente referidos, podem-se identificar as seguintes conclusões quanto às principais razões que conduzem as empresas portuguesas a internacionalizarem-se: 1) As principais motivações para a internacionalização são de natureza endógena ou estão associadas aos mercados Na verdade, os factores endógenos parecem assumir um papel muito relevante nas decisões de internacionalização, apresentando todos pontuações superiores a 3. Os mais importantes são, de acordo, com as respostas obtidas, a necessidade de crescimento da empresa (com uma pontuação29 de 3.90) e o aproveitamento de capacidade disponível (3.83). Admite-se que o primeiro é relativamente independente 29 A pontuação é obtida através da média ponderada das respostas, atribuindo 5 pontos aos casos em que determinada motivação é considerada muito importante, 4 àqueles em que é importante e assim sucessivamente até aos casos em que é considerada sem importância (1 ponto). 34 do modo de abordagem dos mercados, ao passo que o segundo estará sobretudo associado à actividade exportadora30. Mas os factores de mercado não serão menos relevantes como se verifica no Gráfico 4. Com efeito, o conjunto destes factores atingiu um score médio de 3.55, sendo de destacar o significado das limitações do mercado doméstico como incitamento à exportação (pontuação de 3.85). Comparando os resultados por nós obtidos com os dos trabalhos relativos à exportação, e salvaguardadas as diferenças de metodologia e de objectivos, as diferenças não são muito significativas31, embora seja possível notar que no nosso inquérito os factores endógenos têm uma importância ligeiramente superior. Na verdade, nos trabalhos de M. Avelino de Jesus e de Mário Raposo o primeiro lugar era sempre ocupado por aspectos relacionados com os mercados. CrescimentCapac. DisDiversificaEconomiasCapac. TecLimitaçõesDinamismoResposta a Acompanh 3,9 3,83 2,99 3,11 2,97 3,85 3,25 Pontuação 2,61 2,82 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 Crescimento Capac. Disponível Motivações da Internacionalização Diversificação de Riscos Economias de Escala Capac. Tec. Própria Limitações Mercado Doméstico Dinamismo Mercados Externos Resposta a Concorrentes Acompanhamento de Clintes Abordagem por Empr.Estrangeiro Aprov. Custos de Produção Acesso a Conhec. Tecnológicos Incentivos Governamentais Gráfico 4 - Motivações da Internacionalização Contudo, mais do que a observação das classificações dos diferentes motivos da internacionalização, importará estudar como motivos de natureza diversa se interrelacionam. Isso conduz-nos à segunda conclusão. 30 Importará reconhecer, no entanto, que nos estudos anteriores sobre motivações da exportação, a necessidade de crescimento da empresa vem posicionada nos primeiros lugares: em 3º no trabalho de M. Avelino de Jesus e em 4º no de Mário Raposo, relativo aos têxteis. 31 Esta conclusão não se pode considerar inesperada, tendo em conta que a grande maioria das empresas respondentes limita a sua actividade internacional à exportação. 35 2) O binómio necessidade de crescimento da empresa - limitações do mercado doméstico constitui o principal determinante da internacionalização Com efeito, em mais de 40% dos casos aqueles factores são considerados como “muito importantes”. A internacionalização parece ser, assim, motivada prima facie pelo desejo de expandir a actividade da empresa. Face à estreiteza do mercado português, os mercados externos surgem como a área preferencial de expansão, tanto mais que Portugal apresenta vantagens como base de produção industrial e existe a percepção de que tais mercados encerram boas oportunidades de negócio. 3) Os restantes grupos de motivações – relacionais, acesso a recursos no exterior e incentivos governamentais – têm uma importância limitada enquanto determinantes genéricos da internacionalização Todos os factores aí incluídos têm pontuações médias inferiores a 3, com uma única excepção: a abordagem por parte de empresas estrangeiras (potenciais clientes, agentes, sub-contratantes, etc). Isto é, em muitos casos, a empresa começa a desenvolver operações internacionais em resultado, não tanto da iniciativa própria, mas de contactos estabelecidos por empresas dos países de destino. É certo que a literatura sugere que frequentemente o arranque de processos de internacionalização e/ou a penetração em novos mercados decorrentes de abordagens efectuadas por empresas externas. Contudo, o peso relativamente forte atribuído a este item não pode ser desligado do comentário frequentemente ouvido sobre a exportação portuguesa: “nós não vendemos no exterior; são os outros que nos vêm comprar”. Estamos em crer que a importância deste factor se acentuaria consideravelmente se o universo inquirido tivesse sido mais amplo. É interessante constatar, por outro lado, que, num momento em que a globalização da concorrência se acentua, é muito escasso o número de empresas portuguesas que considera o acesso a recursos externos como um factor relevante da internacionalização. Na verdade, a obtenção de conhecimentos tecnológicos no exterior e o aproveitamento dos custos dos factores de produção apenas foram mencionados como importantes ou muito importantes por 18 e 14% das empresas inquiridas, respectivamente. 4. BARREIRAS À INTERNACIONALIZAÇÃO Apresentadas sucintamente as principais conclusões relativas às razões que conduzem as empresas portuguesas a internacionalizarem-se, convirá passar agora à análise do reverso da medalha – as barreiras à internacionalização defrontadas pelas empresas. 36 Também aqui existem referências anteriores, mas restritas à experiência de exportação32. Sintomaticamente, os trabalhos de M. Avelino de Jesus e de Mário Raposo chegam a conclusões análogas. As duas principais barreiras à exportação são, em ambos os casos, a concorrência por parte de empresas estrangeiras e a ausência de competitividade nos preços. A análise por nós efectuada tinha objectivos diferentes – identificar a percepção das empresas quanto aos problemas defrontados nos respectivos processos de internacionalização, e não apenas nas exportações. Por outro lado, inquirimos tanto empresas exportadoras como não exportadoras. Consequentemente, o elenco de potenciais barreiras por nós utilizado é muito mais amplo, não se restringindo aos obstáculos à exportação. As empresas inquiridas foram solicitadas a classificar, também numa escala de 1 a 5, a importância atribuída a cada uma de 35 potenciais barreiras à internacionalização. Para facilitar a análise, estas foram agregadas em quatro grupos – aspectos internos à empresa, relativos aos parceiros, relativos à envolvente portuguesa e relativos à envolvente externa (designadamente aos mercados abordados e/ou aos países de investimento), como se mostra na Caixa 2. As principais conclusões da análise efectuada podem sintetizar-se como segue: 1) Na opinião das empresas, as principais barreiras à internacionalização são as relativas à envolvente portuguesa As dificuldades de internacionalização percepcionadas pelas empresas parecem resultar principalmente de insuficiências na envolvente portuguesa – especialmente as alegadas insuficiências dos apoios à exportação (pontuação de 3.43) e à cobertura de riscos internacionais (3.31) –, ao passo que as barreiras de natureza interna à empresa, as relativas à envolvente externa (com uma significativa excepção) e, sobretudo, as de índole relacional assumem menor importância. 32 Cfr. M. Avelino de Jesus, op. cit. e Mário Raposo, op. cit. Veja-se também M. Avelino de Jesus, Obstáculos à Exportação das Empresas Portuguesas in CEDE, op. cit. 37 Barreiras à Internacionalização Aspectos Internos à Empresa - Dimensão - Recursos financeiros - Recursos humanos - Mobilidade internacional dos quadros - Dificuldades de adaptação/alargamento da gama de produtos - Conhecimento limitado dos mercados externos - Capacidade de inovação limitada - Dificuldade de identificação de parceiros locais - Dificuldades de coordenação e controlo de gestão - Dificuldade em encontrar pessoas de confiança para gerir uma unidade no estrangeiro Aspectos Relativos aos Parceiros - Insuficiente conhecimento do mercado local - Pouco empenho na distribuição dos produtos - Pouca preocupação com a qualidade e o serviço pós-venda - Não satisfação das expectativas no domínio tecnológico - Divergências de estratégia - Diferenças de cultura organizacional - Tentativa de utilizar a cooperação apenas em seu benefício Aspectos Relativos à Envolvente Portuguesa - Falta de informação sobre oportunidades de negócio - Falta de informação sobre condições de investimento no estrangeiro - Insuficiência dos apoios à exportação - Insuficiência dos apoios ao investimento no estrangeiro - Insuficiência dos sistemas de cobertura de riscos internacionais - Imagem internacional dos produtos portugueses - Taxa de câmbio do escudo Aspectos Relativos à Envolvente Externa (Mercados/Países de Instalação) - Situação politico-social - Disponibilidade de infra-estruturas - Disponibilidade de trabalhadores qualificados - Fraco dinamismo da procura local - Concorrência muito forte - Dificuldade de estabelecimento de canais de distribuição - Restrições às importações provenientes de Portugal - Dificuldades de acesso a financiamento local - Normas fiscais - Quadro administrativo-legal (incluindo burocracia) - Diferenças culturais Caixa 2 - Barreiras à Internacionalização Tais resultados são algo surpreendentes, quando sabemos que as debilidades de gestão e de capacidade estratégica e empresarial das firmas portuguesas estão entre as principais determinantes das suas insuficientes vantagens competitivas. Como tem sido referido por diversos autores, o empresário português tende a privilegiar a 38 produção, menosprezando a importância da concepção dos produtos e da comercialização33.Sem prejuízo de haver casos exemplares de empresas às quais o que atrás se disse não se aplica, pensamos que os resultados obtidos – ao valorizarem muito mais os problemas decorrentes da envolvente portuguesa que os internos às empresas – traduzem uma certa “desculpabilização” por parte das empresas. As principais barreiras são encaradas como externas: a concorrência é muito forte e os apoios públicos são “insuficientes”. Subjacente às opiniões expressas, parece haver uma visão do Estado como “almofada”, que deve conceder apoio e cobrir riscos ... 2) A concorrência externa muito forte é, individualmente, a maior dificuldade na internacionalização Embora, como vimos, os aspectos relativos à envolvente portuguesa se configurem, em termos globais, como a barreira mais relevante à internacionalização, a concorrência externa muito forte é, de entre as 35 potenciais dificuldades identificadas, a que recolhe a pontuação mais elevada. Com efeito, 61% das empresas classificaram tal problema como importante ou muito importante. A percepção da “concorrência externa” como obstáculo ressaltou também dos estudos sobre os problemas das empresas exportadoras. A importância atribuída a este factor pode ser interpretada como traduzindo um sentimento de dificuldade de afirmação numa arena internacional competitiva. Parece-nos ser lícito afirmar, fazendo apelo ao quadro teórico do investimento internacional, que as empresas portuguesas sentem de forma muito aguda a concorrência internacional por lhes faltarem, em muitos casos, vantagens específicas indispensáveis à criação de espaço de manobra e à exploração de factores de diferenciação. 3) Os recursos financeiros são encarados como a mais relevante barreira interna Na verdade, 53% das empresas consideraram a insuficiência de recursos financeiros como uma condicionante importante ou muito importante dos processos de internacionalização. Este sentimento de “restrição financeira” está ligado à estrutura do capital de muitas empresas, “fechado” a capitais alheios à família e suprindo as necessidades através do financiamento bancário, frequentemente por empréstimos de curto prazo; aliás, as limitações financeiras são mais sentidas pelas empresas familiares. A segunda barreira interna respeita às insuficiências de recursos humanos, tanto em termos genéricos (42% de casos classificados como importante ou muito importante), como pela dificuldade em encontrar pessoas de confiança para gerir uma unidade no 33 Veja-se, neste mesmo sentido, Ernâni Lopes et al., Relatório Sobre a Politica Industrial em Portugal nos Anos 90, trabalho elaborado para a Comissão Europeia, Março de 1993, pg. 75 e 106; e Monitor Company, Construir as Vantagens Competitivas de Portugal, Forum para a Competitividade, Lisboa, 1994, por coincidência também na pg 75. 39 estrangeiro (37%). Estes resultados são interessantes, pois deixam transparecer dois aspectos. Primeiro, um reconhecimento limitado das deficiências no dominio da gestão e da falta de quadros qualificados e com experiência internacional. Segundo, uma consciência relativamente acentuada da importância de confiança pessoal no processo de expansão da empresa através de investimentos directos no estrangeiro – o que pode ser interpretado como um indicador da ausência de uma equipa de gestão sólida e/ou das insuficiências dos sistemas de gestão (e dos mecanismos de controlo de gestão) existentes. Os resultados obtidos apontam, pois, para a primazia dada aos aspectos financeiros relativamente ao capital humano. Estão, aliás, em contradição com as opiniões expressas por alguns gestores com sólida experiência de negócios internacionais que argumentam que a qualificação dos recursos humanos é mais importante que a capacidade financeira34. Uma referência final a duas outras vertentes das barreiras internas. O conhecimento reduzido dos mercados externos está entre as principais barreiras internas (3º lugar), mas com um score relativamente baixo (2.77), apenas sendo considerada como importante ou muito importante por 30% das empresas. Trata-se de um nível algo surpreendente quando são conhecidas as limitações das empresas portuguesas neste domínio. A segunda vertente a abordar respeita à inovação: as questões suscitadas a este respeito (capacidade de inovação limitada, dificuldades de adaptação da gama de produtos aos mercados externos) não são julgadas relevantes. Não estaremos perante uma insuficiente capacidade de auto-avaliação por parte das empresas? 4) A percepção da importância das barreiras varia em função da dimensão e do grau de internacionalização das empresas No que respeita à dimensão, há dois aspectos curiosos a mencionar. O primeiro é a existência de uma relação em U invertido entre a intensidade das barreiras associadas aos recursos humanos e finaceiros e a dimensão da empresa. São as empresas de média dimensão (entre 100 e 500 trabalhadores) as que maior importância atribuem a tais barreiras como condicionantes da internacionalização. Uma possível explicação é a de que tais empresas são as que sentem mais os desafios da concorrência internacional e a necessidade de recorrer a formas mais sofisticadas de abordagem dos mercados externos, faltando-lhes no entanto a capacidade humana e financeira para tal. O segundo refere-se à existência de uma relação inversa entre a dimensão e a importância atribuída a algumas barreiras, como é o caso nomeadamente da falta de informação sobre oportunidades de negócio no estrangeiro, a insuficiência dos apoios ao investimento no estrangeiro e a dificuldade em encontrar pessoas de confiança para gerir uma filial no exterior. 34 Cfr. A. Sousa Gomes, art. cit., pg. 35. 40 A perspectiva das barreiras defrontadas vai variando à medida que a empresa se internacionaliza. De um modo geral, a magnitude das barreiras diminui com o aumento do nível de internacionalização, medido pelo peso dos activos no estrangeiro. Há, contudo, aspectos cuja importância se reforça: os recursos humanos, as imagens dos produtos portugueses no estrangeiro e as diferenças culturais. A mensagem no plano da concepção de politicas é clara – importa diferenciar os instrumentos de apoio utilizados em função do grau de envolvimento internacional das empresas. 5. PERFIL DO INVESTIMENTO DIRECTO NO EXTERIOR Já referimos, na secção 2 deste trabalho, que as empresas inquiridas tinham 47 filiais no estrangeiro, as quais desenvolviam, na sua larga maioria, actividades de natureza comercial. Procuraremos agora ir um pouco mais além na caracterização daquelas filiais. Da análise efectuada ressaltam quatro traços principais: 1) Existe uma nítida apetência pela tomada de posições maioritárias Das 47 filiais identificadas, apenas 10 (isto é, 21%) são empresas associadas, em que a posição no capital varia entre 20 e 50%. Os investimentos directos no estrangeiro, independentemente do tipo de actividades desenvolvidas, parecem caracterizar-se pela preocupação de controlo, de modo que a empresa investidora tenha o domínio das operações. Observando a relação entre dimensão da empresa portuguesa e o tipo de filial no estrangeiro35 constata-se que a propensão ao estabelecimento de filiais minoritárias (empresas associadas) é superior para as empresas com volumes de negócios mais baixos. Esta constatação apontaria, portanto, para a utilização de parceiros constituir um meio de suprir carências internas, em termos de recursos humanos ou financeiros. Tal inferência não é, porém, corroborada pelas respostas das empresas àcerca das razões que determinaram a opção por posições minoritárias. De acordo com aquelas respostas, a tomada de participação minoritária surge como tolerada, não desejada. A associação com parceiros resulta mais de condicionantes relacionais (designadamente o insuficiente poder negocial para conseguir uma posição maioritária) ou de imposições legais ou administrativas dos países receptores que da consideração dos factores positivos associados à cooperação com outras empresas. Estes resultados devem, no entanto, ser interpretados com alguma reserva, já que respeitam a um número muito limitado de casos. Gostaríamos de sublinhar, de qualquer modo, que eles divergem significativamente dos obtidos num estudo sobre a 35 Consideraram-se dois tipos de filiais - empresas associadas, no caso de a participação detida se situar entre 20 e 50% do capital; e empresas do grupo, quando a firma portuguesa investidora detinha uma posição superior a 50%. 41 internacionalização das empresas italianas. Estas manifestavam uma preferência genuína pela cooperação com empresas locais, como meio de garantir maior flexibilidade estratégica, de conjugar recursos complementares e de adquirir experiência de actuação no país em causa36. 2) Espanha é a localização preferencial para a realização de investimentos directos Confirmando as indicações fornecidas pelas estatísticas relativas ao investimento directo no exterior37, a Espanha concentra quase um terço das filiais identificadas. As unidades instaladas em Espanha são fundamentalmente de natureza comercial. O objectivo é o de penetrar o mercado espanhol (ou, em muitos casos, faixas regionais), comercializando produtos fabricados em Portugal. Poderemos afirmar que, embora numa escala menor, os investimentos portugueses em Espanha são movidos por uma lógica análoga à que presidiu aos investimentos espanhóis em Portugal ao longo da década de oitenta: aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado ibérico, mantendo a base industrial no país de origem. De facto são poucos os investimentos industriais, embora seja de admitir alguma tendência para o seu crescimento, conforme notícias recentemente vindas a público (caso da CIN, por exemplo) deixam transparecer. Alargando o raio de visão, constata-se que quase 75% das filiais identificadas se localizam nos países da União Europeia (Cfr. Gráfico 5). Esta área é considerada, aliás, como o grande pólo de atracção das empresas inquiridas – mais de metade considerava o mercado da UE como importante ou muito importante. Para além da Espanha, já referida, também a França e o Reino Unido apresentam algum significado como locais de investimento. Contudo, a posição destes países, aos quais Portugal se encontra tradicionalmente ligado por laços económicos e/ou culturais, é sensivelmente influenciada por decisões tomadas por um pequeno número de empresas. 6,4% 29,8% 17,0% Espanha França Reino Unido Outros Países UE 2,1% Outros Países Europeus PALOP Américas 10,6% 23,4% 10,6% Gráfico 5 - Localização das filiais no Estrangeiro 36 Cfr. Fabrizio Onida e Gianfranco Viesti, Italian Multinationals, Croom Helm, 1990. De acordo com as estatísticas do Banco de Portugal, cerca de metade do valor líquido do investimento directo português no estrangeiro na década de noventa dirigiu-se para Espanha. 37 42 Fora da União Europeia, apenas os PALOP se apresentam como destinos relevantes de investimento, concentrando 17% das filiais; é interessante notar que quase metade das filiais instaladas nos PALOP se localizam em Moçambique. Porventura mais importante será constatar que nos mercados emergentes da Europa de Leste e do Sueste Asiático as empresas estudadas não tinham quaisquer filiais, mostrando como é ainda limitada a geografia do investimento português no estrangeiro38. Em síntese, e de acordo com os elementos obtidos, tal geografia parece ser determinada fundamentalmente pela conjugação de três factores: estrutura dos fluxos de exportação; proximidade económico-geográfica (onde a integração no espaço da UE tem um papel relevante); e proximidade histórico-linguística (determinante dos investimentos nos PALOP). 3) No plano da geração de emprego, porém, Moçambique é a principal localização Segundo os resultados do inquérito, Moçambique era o único país onde o emprego gerado pelas filiais portuguesas excedia 1000 pessoas, representando quase um terço do total. Dois investimentos com níveis de emprego bastante elevados, em indústrias tradicionais (alimentar e textil), concentravam a grande maioria dos efectivos das filiais portuguesas naquele país. A atracção exercida por Moçambique como localização industrial parece ser, aliás, significativa: com efeito, este país foi considerado como o destino mais interessante para a instalação de uma filial produtiva no estrangeiro nos próximos 3 anos, à frente de Espanha. Cerca de 40% dos efectivos no estrangeiro encontravam-se nos PALOP. O emprego no conjunto dos países da União Europeia ascendia a 57% do total, manifestando, no entanto, uma fortissima concentração em dois pólos – Espanha e França. Estes dois países concentravam quase 80% das filiais portuguesas na UE. 4) A dicotomia investimento comercial na Europa versus investimento industrial em África mantém-se válida, embora se note alguma tendência para se tornar menos nítida Os elementos apresentados acima relativamente ao emprego, conjugados com a análise das características das filiais, mostram que existe um contraste sensível entre o tipo de unidades instaladas na União Europeia (e, em termos gerais, nos países desenvolvidos) e nos PALOP. Na verdade, este grupo de países representa apenas 17% das filiais, mas concentra quase 40% do emprego. Isto é, investe-se na Europa 38 O que se disse não significa que não existam filiais nesses países. Sabemos que algumas empresas têm unidades na Hungria, em Hong Kong ou em Singapura, por exemplo. Não deixa de ser sintomático, no entanto, que nenhuma das 175 empresas estudadas detenha filiais nas zonas referidas. Temos conhecimento, aliás, de que pelo menos uma equacionou a possibilidade de investir na China, não a tendo concretizado por ter considerado demasiado elevado o risco de investimento. 43 sobretudo para penetrar comercialmente em mercados atractivos e de alto poder de compra, beneficiando da base de produção instalada em Portugal. Investe-se em África também para abordar mercados, mas neste caso é preferível produzir localmente, para reduzir custos, preencher espaços e criar opções de futuro (ou retomar negócios do passado). Esta constatação tinha sido já obtida no trabalho realizado para o Ministério da Indústria e Energia, a que fizemos referência anteriormente. Aí se afirmava que os objectivos visados com as implantações na UE e nos PALOP eram marcadamente diversos: na primeira pretendia-se reforçar a presença comercial; nos segundos, predominava uma lógica industrial. Este contraste permanece válido nas suas linhas gerais. Contudo, os desenvolvimentos registados no último lustro indiciam um reforço do envolvimento industrial nos países da União Europeia. Apesar de ainda limitado, existe um movimento no sentido da localização de actividades industriais no Norte, realizado fundamentalmente através de aquisições – como mostram, aliás, os exemplos da Sonae ou da Cimpor em Espanha e da Autosil em França. Pensamos que este movimento tenderá a ganhar importância à medida que outras empresas portuguesas adquiram capacidade endógena para definir estratégias deliberadas de internacionalização. A expansão da presença comercial nos mercados europeus vai permitir a outras empresas aceder a redes de informação através das quais poderão ser detectadas oportunidades interessantes de investimento, tal como sucedeu com a Sonae ou a Autosil. 6. GLOBALIZAÇÃO E INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS PORTUGUESAS: UMA REFLEXÃO PROSPECTIVA A análise desenvolvida anteriormente sugere que a grande maioria das empresas estudadas continua razoavelmente alheia ao movimento de globalização e às suas implicações. A nossa afirmação, em trabalho anterior, de que “a globalização acabou por ser encarada prima facie como um processo de crescente inter-penetração com as economias da Comunidade”39, parece confirmar-se. Com efeito, os resultados globais do inquérito indicam, nomeadamente, o seguinte: – O mercado doméstico, é, de longe, o mais relevante, sendo considerado por mais de 75% das empresas como importante ou muito importante. As empresas para as quais o mercado português assume pouco significado são empresas de pequena-média dimensão nos texteis, vestuário e calçado, “extrovertidas” mas não “globalizadas”. 39 Vitor Corado Simões, O Processo de Globalização: Implicações para Portugal, Texto elaborado para o Conselho Económico e Social, 1996, pg. 10. 44 – A União Europeia é o principal mercado além-fronteiras e continuará a sê-lo: as expectativas de crescimento dos negócios são aí claramente mais acentuadas que em qualquer dos outros espaços regionais considerados. – Os mercados emergentes da Europa Central e de Leste e da China e Sueste Asiático parecem estar largamente fora do alcance e dos interesses das empresas portuguesas. A parcela de empresas que os consideram hoje como importantes ou muito importantes queda-se bem abaixo dos 10%. Não foram identificados, entre as 175 empresas estudadas, quaisquer investimentos directos naquelas áreas. – A percepção da concorrência parece também geograficamente limitada: para quase dois terços das empresas os principais concorrentes são outras empresas portuguesas; para 45%; empresas europeias não estabelecidas em Portugal; e para 35%, empresas de países em desenvolvimento. – Portugal continua a ser a base de produção por excelência. As perspectivas de implantação de unidades produtivas no exterior são limitadas, correspondendo as principais opções a países próximos em termos linguísticos, históricos ou psicológicos (Moçambique, Espanha, Brasil e Angola). A lógica não é a de deslocalização da produção numa vertente estrita de redução de custos, parecendo antes associada à penetração em mercados percepcionados como próximos e onde os riscos de investimento são menores. – O recurso a alianças internacionais é extremamente reduzido: apenas três tipos de cooperação (acordos de desenvolvimento de novos produtos ou componentes com grandes clientes; acordos de troca de know how tecnológico, comercial ou de gestão; e contratos de comercialização recíproca) apresentam níveis de ocorrência superiores a 5%. O grau de envolvimento das empresas portuguesas em alianças estratégicas é, por exemplo, claramente inferior ao observado para as empresas finlandesas – especialmente no que respeita a alianças de natureza comercial40. Se é verdade que a globalização arrasta a cooperação, as empresas portuguesas parecem sentir ainda pouco estes apelos. O panorama genérico pode caracterizar-se como traduzindo uma visão ainda limitada do quadro competitivo com que as empresas se defrontam ou, por outras palavras, por uma lógica de seguir caminhos já trilhados. Portugal é a localização preferencial para produzir. A abordagem dos mercados externos faz-se sobretudo por exportações e especialmente nos países membros da União Europeia. O estabelecimento de filiais comerciais efectua-se principalmente em Espanha (o país 40 Cfr, relativamente à Finlândia, Reijo Luostarinen e Harri Hellman, The Internationalization Processes and Strategies of Finnish Family Firms, Working Paper, Helsinki School of Economics, 1994. 45 mais próximo geograficamente e culturalmente), após a empresa ter atingido uma experiência razoável de exportação. A instalação de unidades industriais é uma possibilidade muito remota para a maioria das empresas, surgindo os países de língua portuguesa como alvos interessantes. Trata-se de um panorama algo “cinzento”. Ele inscreve-se, no entanto, numa lógica de acumulação gradual de capacidades e de “rigidez lateral”41 nas decisões de gestão. A maioria das empresas actua tradicionalmente através da exportação e não atingiu ainda os níveis que justificam, no quadro da sua capacidade de gestão, enveredar por formas mais exigentes e sofisticadas de presença nos mercados. Embora haja alguma consciência de que o conhecimento dos mercados externos é limitado, a maioria das empresas não se viu ainda confrontada com forças suficientemente intensas que as levem a ultrapassar a “rigidez lateral” e a utilizar novas formas de operação nos mercados externos. Sendo a capacidade estratégica limitada, o desafio competitivo percepcionado como intra-europeu e os recursos relativamente escassos, o espaço relevante para a empresa é a Europa Comunitária. A globalização é encarada como algo de que se fala, mas ainda relativamente longínquo, apesar das ameaças pontuais de produtores do Sueste Asiático ou da Europa de Leste. Mas a “floresta”, a visão do padrão genérico, não pode esconder as “árvores”, o exemplo de empresas que vão tendo comportamentos diferentes e para as quais a globalização – com as suas oportunidades e ameaças – já está interiorizada. Da reflexão efectuada pensamos ser lícito afirmar que as empresas nestas condições são sobretudo aquelas que: – se integram em indústrias onde a concorrência é global, sendo percepcionadas como relevantes ameaças competitivas extra-europeias; – actuam como fornecedores directos de empresas que têm estratégias mundiais (como é o caso da indústria automóvel); ou – têm um nível de experiência internacional significativo e multifacetado e/ou dispõem de equipas de gestão “abertas ao Mundo”; A existência de relações estreitas com grandes clientes pode permitir às empresas ultrapassar as limitações inerentes à “rigidez lateral” da decisão e reduzir substancialmente a percepção do risco do investimento no exterior. Ao internacionalizar-se para seguir clientes as empresas beneficiam do apoio e da criação de micro-cosmos específicos que atenuam os riscos inerentes a actuar em ambientes culturais diferentes. A inter-acção estabelecida conduz, por outro lado, a olhar a globalização de outra forma, através das “lentes” das grandes empresas com quem se coopera. 41 A noção de “rigidez lateral” foi aplicada à gestão internacional por Reijo Luostarinen. Segundo ele os gestores sofrem, em regra, de “rigidez lateral”, isto é, evitam enveredar por caminhos ou formas de operação que envolvam operações no comportamento habitual da empresa. Cfr. Reijo Luostarinen, Internationalization of the Firm, Helsinquia, Helsinki School of Economics, 3ª ed., 1989. 46 O nível de experiência internacional deve ser encarado numa óptica tridimensional: no espaço (não restrito a um único país), no tempo (acumulação de experiências de negócio internacional ao longo de vários anos) e no modo (recorrendo a diversas formas de operação no exterior). Olhando para os casos das empresas portuguesas, somos levados a sugerir que, se numa primeira fase, o processo de internacionalização é (em regra) incremental, existe um patamar de experiência internacional a partir do qual a lógica incremental deixa de ser válida. Atingindo esse patamar, a empresa passa a sentir-se “cidadã do Mundo”, interiorizando a necessidade de globalização e estando desperta para as oportunidades de negócio que surjam em localizações geograficamente diversas. Alguns exemplos mostram que certas empresas portuguesas já atingiram ou estão próximas desse patamar. É o caso da Efacec (da qual não será alheio o facto de ter “nascido internacional”), da Sonae (com os investimentos previstos na África do Sul e no Brasil), da Autosil (que, depois dos significativos investimentos em França, vai estender a sua actividade ao Brasil e à Índia) ou da própria Cimpor (que, após operações efectuadas ao pé da porta, em Espanha e Marrocos, vai apostar no Brasil). Existem, pois, sementes de mudança. Começa a haver empresas portuguesas capazes de actuarem em termos mundiais, “globalizando-se” elas próprias nos planos industrial e comercial. Mas estarão elas em condições de explorar todas as potencialidades da globalização, designadamente em termos da capacidade de articular conhecimentos internacionalmente dispersos e de gerir mecanismsos de aprendizagem à escala mundial? 47 ANEXO Metodologia de Inquirição e Características das Empresas Respondentes 1. Metodologia O inquérito postal foi enviado às 1400 maiores empresas industriais portuguesas satisfazendo as seguintes condições: – capital maioritariamente português – localização no Continente. O procedimento de inquirição envolveu três fases principais: contacto inicial, através de carta capeando o questionário; envio de carta recordatória; e “controle de qualidade” das respostas, implicando em grande parte dos casos o contacto telefónico com os respondentes, para esclarecer dúvidas e completar pontos não respondidos. O questionário era relativamente longo, comportando seis partes: – informação geral sobre a empresa respondente; – experiência genérica de internacionalização; – exportações; – investimento directo no estrangeiro, incluindo anexos para obtenção de elementos específicos sobre as principais filiais; – cooperação com empresas estrangeiras; – perspectivas futuras, especialmente em termos de orientações de mercado, formas de operação no exterior e deslocalização da produção. 2. Nível de Resposta Por razões diversas (impossibilidade de contacto, não satisfação das condições básicas de selecção) foram excluídas 39 empresas, pelo que o “universo corrigido” é de 1361. Destas, obtiveram-se 249 respostas utilizáveis (18%). Contudo, dada a morosidade do processo de controlo de qualidade, apenas 175 (isto é, 13% do “universo corrigido”) estão já incluídas na base de dados utilizada para a análise estatística. 48 3. Caracterização das Empresas Respondentes Em termos muito sucintos, as 175 empresas respondentes podem caracterizar-se como segue: – predominância de empresas familiares: 58% das empresas são de natureza familiar, detendo os membros da família a maioria do capital e a responsabilidade da gestão; – concentração em sectores tradicionais: cerca de 70% das empresas respondentes encontravam-se nas indústrias tradicionais; – volume médio de emprego rondando os 215 efectivos; – experiência internacional limitada e considerada, em termos genéricos, relativamente pouco relevante como fonte de vantagem competitiva; e – orientação estratégica de “meia-aposta”, com um número reduzido de estratégias de nicho e um peso idêntico atribuído à redução de custos e à diferenciação dos produtos. 49 O INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO EM PORTUGAL Miguel A. T. Coelho Texto Elaborado para o Conselho Económico e Social em Março de 1997 50 Sumário 1. Introdução 2. O IDE no Período 1986-1995 2.1. Evolução 2.2. Tipologia 2.3. Origem 2.4. Objectivo 2.5. Localização 3. Comportamento das Empresas Nacionais e Estrangeiras: Análise Comparativa. 4. Determinantes do IDE em Portugal 5. Benefícios e Custos Associados ao IDE 6. Portugal face a outros Destinos de IDE 7. Conclusões Anexos Bibliografia 51 1. INTRODUÇÃO O Investimento Directo Estrangeiro (IDE)42 é um dos fenómenos mais significativos da maioria das economias de mercado, e Portugal não é excepção. Um conjunto importante de multinacionais tem marcado presença em Portugal, particularmente desde a década de 60, quer através da detenção total, quer através da participação no capital de algumas empresas. Essa presença, sendo de grande importância em alguns sectores, é, inclusivamente, dominante em muitos outros entre os quais se destaca os do equipamento eléctrico, montagem de automóveis e produtos farmacêuticos. Simões (1983), identificou 3 fases no envolvimento internacional da economia portuguesa, em particular no que toca ao posicionamento de Portugal face ao IDE, a saber: “Nacionalismo”; “Abertura ao exterior”; e “Período recente”. A primeira abrange os anos 40 e 50 e caracteriza-se por uma posição de desconfiança face às entradas de IDE. Essa desconfiança consubstanciou-se nas políticas governamentais face ao investimento externo que durante todo este período foram marcadas pelo condicionamento industrial e pela “lei de nacionalização de capitais”43. Se associarmos a isto o facto do país não deter significativas vantagens de localização (país pouco desenvolvido com ausência de infra-estruturas e com um reduzido mercado potencial interno) não é de estranhar que o investimento durante este período tenha sido escasso44. A segunda fase foi marcada pela adesão de Portugal à EFTA em 1959. O fim da chamada “autarcia económica”45 e consequente alteração do enquadramento sóciopolítico da economia portuguesa teve um efeito significativo sobre a atractividade de Portugal como localização do investimento internacional. O IDE, que atingiu entre 1963 e 1974 um crescimento médio anual da ordem dos 24%, foi orientado sobretudo para as indústrias intensivas na chamada “mão-de-obra barata” e vocacionadas para a exportação. No período compreendido entre 1969 e 1974 os principais países investidores (fig.1 e tab.1) foram a RFA (22,7%), os EUA (16,5%) e o Reino Unido (15,1). 42 Segundo a OCDE o Investimento Directo Estrangeiro (IDE) é o investimento que envolve uma relação de longo prazo, reflectindo um interesse duradouro, duma entidade residente numa economia (investidor directo) numa entidade residente noutra economia (empresa receptora de investimento directo), com o objectivo de exercício de um grau significativo de influência na gestão da empresa residente nessa outra economia. O investimento directo envolve quer a transacção inicial, quer as transacções subsequentes entre as duas entidades e as suas empresas associadas. 43 A “lei de nacionalização de capitais” (Lei n.º1994) publicada em 1943 estipulava que só empresas nacionais, ou seja, empresas em que pelo menos do capital fosse português, poderiam dedicar-se à exploração de serviços públicos, a actividades em regime de exclusivo e às actividades que “fossem consideradas de interesse fundamental para a defesa do Estado ou para a economia da Nação”. 44 Apesar de não termos dados sobre o IDE para este período de análise podemos dizer que a entrada de capitais privados de médio e longo prazo realizadas entre 1950 e 1959 não ultrapassou os $ 7,5 milhões de dólares. 45 Utilizando a expressão de Rosas F. (1987) em O Estado Novo - Das origens ao fim da autarcia 1926-1959 52 FIGURA 1 EVOLUÇÃO DO IDE POR PAÍS DE ORIGEM Percentagem 45 40 REINO UNIDO FRANÇA ESPANHA ALEMANHA EUA SUIÇA OUTROS 35 30 25 20 15 10 5 0 1969-1974 1975-1979 1980-1985 1986-1995 A terceira fase (Período recente) pode ser dividida em três grandes sub-períodos. Um primeiro, que se inicia em 1975 e termina em 1979. Um segundo que teve início em 1980 e termina em 1986 com a adesão à Comunidade. Por fim, um terceiro, que teve início com a adesão e vai até aos nossos dias. O primeiro sub-período foi caracterizado por um clima de desconfiança dos investidores estrangeiros em resultado, por um lado, do clima político e sócioeconómico vivido (nacionalizações, espiral inflacionista, descolonização etc.), e por outro lado, em resultado da crise económica internacional. Os investimentos realizados durante estes anos tiveram como principal objectivo o fornecimento do mercado interno, ou seja, tiveram um carácter de substituição das importações de forma a fazer face às dificuldades sentidas ao nível da balança de pagamentos. Os principais investidores (fig.1) foram a Suíça (20,9%), EUA (17,5%) e RFA (14,3%), sendo a indústria transformadora (46,6% do IDE do período) o destino privilegiado desses investimentos (fig.2 e tab.2). FIGURA 2 EVOLUÇÃO DO IDE POR SECTOR DE ACTIVIDADE ECONÓMICA INDÚSTRIAS TRANSFORMADORAS 50 Percentagem 40 INDÚSTRIAS EXTRÁCTIVAS 30 COMÉRCIO, RESTAURANTES E HOTEIS BANCOS E OIF 20 10 0 19691974 19751979 19801985 19861995 53 OUTROS O sub-periodo que teve início em 1980 e terminou em 1986 foi caracterizado por uma retoma do clima de confiança interno e externo para o investimento. A melhoria registada na balança de pagamentos conduziu a que o investimento externo retomasse a sua vocação exportadora, baseada em actividades intensivas em trabalho e aproveitando os baixos custos salariais e alguns apoios ao investimento. Este subperíodo foi ainda caracterizado por um crescimento substancial da importância do sector financeiro (18,7% do total do IDE) (fig.2) e do Reino Unido como país de origem do IDE (16%) (fig.1). Em termos de enquadramento legal, tanto no sub-período 1975-79 como no subperíodo 1980-85, o investimento directo esteve sujeito a um sistema de autorização prévia e discricionária (Decreto lei n.º 239/76 de 6 de Abril). Neste diploma é reconhecido o interesse do investimento estrangeiro para o desenvolvimento económico do país que, contudo, deveria ser subordinado às orientações de política económica. Em 1977 surge uma nova regulamentação (Decreto lei n.º 348/77 de 24 de Agosto) que consolida o regime de autorização discricionária, instituindo ainda duas modalidades46: a) Regime geral: que englobava todo o IDE (com excepção de alguns casos especiais). b) Regime contratual: para projectos de investimento de especial interesse para a economia portuguesa, prevendo incentivos financeiros e fiscais que assumiam a forma de contrato entre o Estado português e o investidor estrangeiro. O terceiro e último sub-período teve início em 1986 com a adesão de Portugal à CEE. Nesta fase dá-se a expansão definitiva do IDE registando um total acumulado até 1995 de cerca de 3268 milhões de contos (fig.3 e tab.3). FIGURA 3 INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO REALIZADO (valores acumulados) 3500000 3000000 Milhões de escudos 2500000 2000000 1500000 1000000 500000 0 1963-74 1975-79 1980-85 46 1986-95 1963-95 Posteriormente surgiu o Decreto-lei n.º 174/82 de 12 de Maio, que veio introduzir algumas alterações ao Decreto-lei n.º348/77 de 24 de Agosto. 54 O sector financeiro foi o principal responsável pelo IDE registado com quase 50% do total do investimento (fig.2), salientando-se ainda, a crescente importância da Espanha como origem do investimento (fig. 3). Em termos de enquadramento legal saliente-se o facto do IDE ter estado sujeito a dois sistemas legais: Sistema de declaração prévia e sistema de registo “à posteriori”. A necessidade de adequar a lei portuguesa às alterações decorrentes do tratado de adesão às Comunidades conduziu ao surgimento do Decreto-lei n.º 197 - D/86 de 18 de julho47 que introduziu o chamado sistema de declaração prévia no qual é mantida a divisão entre regime geral e contratual48 e introduzida a distinção entre investimentos feitos por residentes em Estados-Membros da Comunidades Europeia, os quais eram sujeitos a uma declaração prévia, que na realidade não passava de uma mera verificação prévia da legalidade da operação, e investimentos feitos por não residentes nos Estados da Comunidade Europeia, que eram objecto de avaliação e de negociação entre o investidor estrangeiro e a entidade competente. O sistema de registo “à posteriori”, consubstanciado no Decreto-lei n.º 321/95 de 28 de Novembro, entrou em vigor em 4 de Dezembro de 1995 e surge em substituição do anterior sistema de declaração prévia. Para além de permitir a realização do IDE antes da sua declaração aos organismos correspondentes, consagra na legislação portuguesa a recomendação dos organismos internacionais no que toca aos critérios de definição do IDE, considerando como um dos critérios a detenção de 10% ou mais do capital de uma empresa por parte de um investidor externo residente noutro país. Desta forma, esta harmonização conduz a que as estatísticas portuguesas relativas ao IDE possam respeitar as recomendações internacionais nesse domínio. 47 O Decreto-lei n.º 197 - D/86 de 18 de Julho define operações de investimento estrangeiro como “os actos que têm por objecto, ou de que pode resultar, quanto a uma empresa constituída ou a constituir em Portugal, a criação de laços económicos estáveis e duradouros, de que resulte directa ou indirectamente, imediata ou cumulativamente, a obtenção ou o reforço do efectivo poder de decisão, se praticados por ou com a intervenção de: a) pessoas singulares ou colectivas não residentes; b) empresas portuguesas ou estabelecimentos em Portugal que, por via de participação no seu capital ou por qualquer outro modo, devam considerar-se economicamente ligadas, em primeiro ou sucessivo grau, a indivíduos ou a entidades não residentes”. Saliente-se que o limite mínimo a partir do qual as operações de investimento estrangeiro eram classificadas como operações de investimento directo, baseava-se no facto de o conjunto das participações estrangeiras no capital da empresa receptora de investimento ser superior a 20%. Desta forma este Decreto-lei exceptuava do regime de declaração prévia as seguintes operações: a) participações de não residentes não superiores a 20% do capital social da empresa portuguesa. b) Transferência entre não residentes de Estados-Membros da Comunidade, de participações em empresas residentes. 48 O regime contratual (Decreto-regulamentar n.º 17/93, de 1 de Junho, é aplicável aos projectos de investimento estrangeiro com especial interesse para a economia nacional, isto é, àqueles que reúnam as seguintes condições: a) apresentem um valor de investimento igual ou superior a 5 milhões de contos; b) tenham um efeito estruturante no tecido económico nacional, inserindo-se nas políticas de desenvolvimento sectoriais; c) contribuam de forma relevante para o desenvolvimento e internacionalização da economia nacional. 55 2. O IDE NO PERÍODO 1986-1995 2.1. EVOLUÇÃO Como referimos anteriormente, com a adesão de Portugal à União Europeia, verificou-se o grande “salto” quantitativo do investimento directo estrangeiro. Assim, o IDE, que em 1986 foi de 25 milhões de contos, atingiu em 1995 os 606 milhões de contos, isto é, cerca de vinte e três vezes mais, sendo o investimento total acumulado neste período de cerca de 3268 milhões de contos. Saliente-se, contudo, que este período teve duas fases. Uma primeira, que termina em 1991, é caracterizada por taxas de crescimento do IDE positivas, atingindo-se em 1991 um valor de IDE de cerca de 509 milhões de contos (fig.4 e tab.4). A segunda fase tem início em 1992 e é caracterizada por taxas de crescimento de IDE negativas (à excepção do ano de 1995). FIGURA 4 EVOLUÇÃO DO INVESTIMENTO DIRECTO DECLARADO E REALIZADO 700000 Milhões de Escudos 600000 INVESTIMENTO DIRECTO REALIZADO 500000 400000 300000 200000 INVESTIMENTO DIRECTO DECLARADO 100000 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 0 Esta evolução do IDE teve consequências directas no peso deste no PIB (Produto Interno Bruto) e na FBCF (Formação bruta de capital fixo). Assim, se em 1986 o IDE representava 0,5% do PIB, em 1990 esse valor atingia um máximo de 4,6%, vindo posteriormente a decrescer até atingir um valor de 2,4%, em 1994 (fig.5 e tab.5). No que toca ao peso do IDE na FBCF, o comportamento foi em tudo idêntico, passando de 2%, em 1986, para um máximo de 17%, em 1991, tendo decrescido a partir daí até atingir um valor de 9,7%, em 1994 (fig.5). 56 FIGURA 5 PESO DO IDE NO PIB E NA FBCF (1986 - 1994) Percentagem 20 15 10 IDE/PIBpm IDE/FBCF 5 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 0 O investimento declarado49 ao ICEP, no âmbito do regime geral, teve um comportamento em tudo semelhante ao do investimento efectivamente realizado, passando de 24,5 milhões de contos, em 1986, para 672 milhões de contos, em 1992, ano em que atingiu o seu valor máximo50 (fig.4 e tab.4). No que respeita ao grau de realização51 do IDE, temos que entre 1986 e 1992 foi, em média, de 79,4%, tendo a partir daí atingido valores superiores a 100%, o que significa que muitos investimentos que tinham sido declarados antes de 1992 só se vieram a concretizar após esta data. Analisando agora o comportamento do desinvestimento estrangeiro realizado verificamos que este teve um crescimento acentuado ao longo do período analisado (fig. 6 e tab.4). Se em 1986 ele foi de 1,9 milhões de contos, em 1995 esse valor terá sido de 526,2 milhões de contos. 49 O investimento declarado é o investimento que foi objecto de declaração prévia ao ICEP, traduzindo desta forma as intenções de investimento. Isto não significa que o investimento se venha a realizar, ou que mesmo que se realize, que venha a ser feito no mesmo ano em que foi declarado. Por outro lado, os valores do investimento realizado aqui considerados e que entram na rubrica de investimento directo da Balança de Pagamentos, assentam, na sua maioria, nas transferências cambiais associadas àquelas operações. 50 No que se refere ao investimento declarado no âmbito do regime contratual, refira-se que o investimento industrial bruto associado ascendeu a mais de 500 milhões de contos, sendo que grande parte deste montante respeita ao projecto Ford/Wolkswagen. 51 O grau de realização mede o peso do investimento realizado no investimento declarado, num dado ano. 57 FIGURA 6 EVOLUÇÃO DO INVESTIMENTO E DESINVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO REALIZADO 700000 600000 Milhões de Escudos 500000 INVESTIMENTO DIRECTO REALIZADO 400000 300000 DESINVESTIMENTO DIRECTO 200000 100000 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 0 INVESTIMENTO DIRECTO LÍQUIDO Face ao comportamento do desinvestimento estrangeiro, não é de estranhar que o investimento líquido tenha registado um comportamento menos dinâmico que o do investimento bruto realizado52. Assim, a partir de 1990, data em que atingiu um valor de 386 milhões de contos, o investimento líquido diminuiu tendo atingido um valor de 79,9 milhões de contos, em 1995 (fig.6). Por fim, a análise do número de investidores (desinvestidores) e de empresas objecto de investimento (desinvestimento) levam-nos a concluir que entre 1989 e 1992, do lado do investimento, o número de investidores e empresas receptoras de investimento diminuiu, enquanto do lado do desinvestimento, o número de desinvestidores e empresas objecto de desinvestimentos cresceu (fig.7 e tab.6). FIGURA 7 NÚMERO DE INVESTIDORES E DE EMPRESAS RECEPTORAS DE INVESTIMENTO (1989 - 1992) 3500 3000 2500 2000 1989 1990 1991 1992 1500 1000 52 EMPRE SAS OBJECT O DE DESINV ESTIDO RES EMPRE SAS RECEPT ORAS 0 INVEST ODORE S 500 Sintoma de que a taxa de crescimento do desinvestimento nestes anos foi superior à do investimento. 58 Por outro lado, o investimento médio realizado por investidor cresceu de 102,1 mil contos, em 1989, para 225,4 mil contos, em 1992, indicando a crescente dimensão dos investimentos directos. No que toca aos desinvestimentos médios realizados por investidor estrangeiro, também houve um crescimento do seu valor passando de 92 mil contos, em 1989, para 476 mil contos, em 1992. 2.2. TIPOLOGIA Importa analisar a evolução da distribuição do IDE por tipo de operação53 54no sentido de identificar as formas escolhidas pelos investidores não residentes para a concretização dos seus investimentos. É notório o papel do reforço de investimento como meio de aplicação de capitais externos em investimento directo (em 1989, representava 58,7% do total do IDE, em 1995, já representava 82,8%) (fig.8 e tab.7) Uma das explicações possíveis para a crescente importância do reforço de investimento pode residir no facto de, para os investidores estrangeiros, ser mais fácil a penetração no mercado através do aproveitamento e/ou reconversão de empresas onde já detêm capital (com um mercado e uma clientela já definido) do que pela criação de novas empresas. FIGURA 8 IDE POR TIPO DE OPERAÇÃO NOVOS INVESTIMENTO 100% 80% AQUISIÇÃO DE INVESTIMENTOS EXISTENTES REFORÇO DE INVESTIMENTOS 60% 40% 20% DIVERSOS 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 0% Em contrapartida, tanto os novos investimentos como a aquisição de investimentos existentes viram a sua importância decrescer. Se em 1989 os novos investimentos representavam 13,6% do IDE, em 1995 esse valor descia para 1,5%. Por outro lado, o peso no IDE da aquisição de investimentos já existentes desceu de 25,1%, em 1989, para 8,9%, em 1995. 53 Esta classificação por tipo de operação não está disponível para os anos de 1986 a 1988. Distinguem-se três grandes tipos de operação: novos investimentos (constituição de empresas ou abertura de sucursal/escritório de representação); reforços de investimento (aumento de capital ou prestações suplementares de capital ou empréstimos de longo prazo e suprimentos); aquisição de investimentos já existentes. 54 59 Analisando os dados estatísticos de forma mais desagregada podemos dizer que no reforço de investimento destaca-se a crescente importância dos empréstimos e suprimentos que, em 1989, representavam 17,6% do IDE total, passando a representar, em 1995, cerca de 63% do IDE total. 2.3. ORIGEM Antes de analisarmos a origem do IDE convirá dizer que esta corresponde ao país onde está localizada a entidade investidora, independentemente do centro de decisão ou do país da sede do investidor estrangeiro. Isto significa, que quando um investidor de um determinado país investe no estrangeiro através de uma filial localizada num outro país, a análise da origem pode estar distorcida uma vez que o verdadeiro centro de decisão não está a ser considerado. No caso português este facto tem contribuído para sobrevalorizar o peso da Comunidade Europeia como origem do IDE uma vez que muitas empresas americanas e japonesas investem em Portugal através das filiais situadas na Comunidade, sendo a origem do IDE atribuída a estas. Feito este breve reparo vamos então analisar o IDE por país de origem. Começando por analisar a origem por zonas económicas podemos dizer que a importância da UE é esmagadora, tendo atingido um valor de 79,5%, em 1995 (76,3% em 1989). Por outro lado, o peso da OCDE decresceu de 96,1%, em 1986, para 94,1%, em 1995 (tab.8). Daqui resulta que o aumento da importância dos países da UE (de salientar, que os dados estatísticos de 1995 ainda não incluem os novos membros da UE: Áustria, Suécia e Finlândia) terá sido feito, em grande medida, à custa dos outros países da OCDE, em particular dos EUA que passou de 8,6%, em 1986, para 2,1%, em 1995 (a excepção será a Suíça que passou de 9,1%, em 1986, para 12%, em 1995). O “resto do mundo”, por seu lado, tem tido um comportamento bastante irregular. Assim, em 1986, representava 3,9%, crescendo para 16,1%, em 1989, e voltando a decrescer, em 1995, para 5,9%. Se analisarmos a origem por países (fig. 9 e tab.8) podemos verificar que dois países representavam, em 1995, quase 50% do total do IDE: França e Reino Unido. Saliente-se, contudo, que o comportamento ao longo do período tem sido irregular. A França, por exemplo, que representava, em 1995, 29,1% do IDE, teve, em 1994, um peso de apenas 8,9%. Por outro lado, o Reino Unido, que, em 1986, representava 38,8% do IDE, em 1995 passou a representar 20,5%. Esta diminuição do peso do Reino Unido no IDE não impediu, no entanto, que este país fosse, ao longo do período, o que mais investiu em Portugal (478 milhões de contos ou seja quase 15% do total do IDE). Por fim, destaque-se a crescente importância da Espanha como origem do IDE, a qual atingiu um peso máximo, em 1993, com 18,5% do IDE total. 60 FIGURA 9 IDE POR PAÍS DE ORIGEM 100% 80% 60% 40% 20% 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 0% OUTROS EUA SUÍÇA OUTROS DA UE ALEMANHA ESPANHA REINO UNIDO FRANÇA 2.4. OBJECTIVO Este período pode ser dividido em duas fases no que se refere ao objectivo do IDE, isto é, no que se refere à distribuição do IDE por actividades económicas. Numa primeira fase, que se prolonga até 1992, regista-se uma acentuada quebra na importância da “indústria transformadora” (47% do total do IDE, em 1986, e 16,8%, em 1992), e um acentuado crescimento da importância do sector financeiro55 no total do IDE (17,5%, em 1986, e 65,8%, em 1992) (fig.10 e tab.9). Numa segunda fase (a partir de 1993), regista-se uma tendência inversa à anterior. Assim, a “indústria transformadora” passou de 22,3%, em 1993, para 60,5%, em 1995, enquanto o sector financeiro passou de 59,3%, em 1993, para 21,8%, em 1995. Da análise desagregada da “indústria transformadora” destaca-se a crescente importância do “equipamento e material de transporte” que passou de 4,5%, em 1989, para 13,2% do IDE total, em 1994 (a que não está alheia a importância do projecto Ford/Wolkswagen). Se bem que com uma expressão mais reduzida, saliente-se a crescente importância do “papel, artes gráficas e publicações” que representavam 0,2% do total do IDE, em 1989, passando para 3,4%, em 1994, e das “químicos derivados do petróleo, carvão e produtos de borracha e plástico” que passou de 12,5%, em 1989, para 6,4%, em 1994. Com um comportamento decrescente destacam-se a “alimentação, bebidas e tabaco” (3,9%, em 1989, e 2,8%, em 1994) e os “têxteis, vestuário e couro” (2,9%, em 1989, e 1,1%, em 1994). 55 Bancos e outras instituições financeiras, seguros, operações sobre imóveis e serviços prestados às empresas. 61 FIGURA 10 IDE POR SECTOR DE ACTIVIDADE OUTROS 100% BANCOS, OIF, … 80% COMÉRCIO, RESTAURANTES E HOTEIS 60% 40% CONSTRUÇÃO E OBRAS PÚBLICAS 20% ELÉCTRICIDADE, GÁS E ÁGUA 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 0% INDÚSTRIAS TRANSFORMADORAS Relativamente aos outros sectores de actividade refira-se o comportamento das “indústrias extractivas” e da “agricultura, silvicultura, caça e pesca” que tinham, em 1986, um peso de, respectivamente, 4,3% e 1,7% do total do IDE, e passaram a representar cerca de 0,1% do total do IDE verificado em 1995. O comportamento do sector da “electricidade, gás e água”, foi diverso do anterior, uma vez que até 1992 tinha uma importância nula, passando a representar 5,1% do total do IDE de 1995. Este facto deve-se em grande medida aos projectos de instalação do gás natural em Portugal. Representando, em 1992, 10,2% do IDE, o sector da “construção e obras públicas” tem perdido alguma importância, registando-se, em 1995, um valor de 2%. Também o “comércio por grosso e a retalho, restaurantes e hotéis” têm perdido importância. Assim, enquanto em 1986 representava 26,1%, em 1995 representava apenas 9,4%. 2.5. LOCALIZAÇÃO Antes de entrar na discussão deste ponto convém referir que as estatísticas por distrito de localização do IDE correspondem, normalmente, à localização da sede da empresa e não ao das fábricas ou outros estabelecimentos da empresa. Tal facto poderá tornar os dados enviesados no sentido do litoral e especialmente de Lisboa e Porto, em detrimento de outras regiões do interior. O distrito de Lisboa é o líder incontestado como destino do IDE, isto apesar de ter visto a sua importância diminuir. Assim, enquanto em 1989 absorvia 70,1% do total do IDE, em 1995 representava apenas 52,5%56 (fig.11 e tab.10). 56 Refira-se que os dados de 1989 a 1992 referem-se ao IDE realizado, enquanto os dados de 1993 a 1995 são referentes ao IDE declarado ao ICEP no âmbito do regime geral. 62 O segundo distrito mais importante como receptor do IDE é o Porto, com 12,8%, em 1989, e 14,2%, em 1995, seguido de Setúbal, com 2,2%, em 1989, e 13,78%, em 1995. Refira-se que a importância dos outros distritos no seu conjunto como destino do IDE é muito reduzida (15%, em 1989, e 20%, em 1995). Apesar disso, destaque-se o comportamento positivo registado, em 1995, por parte do distrito de Coimbra (5,78%) e Aveiro (5,33%). FIGURA 11 LOCALIZAÇÃO DO IDE (1989 - 1995) 100% Percentagem 80% 40% OUTROS SETÚBAL PORTO 20% LISBOA 60% 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 0% Para finalizar vamos fazer uma breve referência ao tipo de operação, por distrito. Assim, o distrito de Lisboa atraiu investimento ligado, principalmente, aos sectores financeiro, imobiliário, comercial e de construção, enquanto nos outros distritos do litoral Ocidental, os investimentos estiveram ligados à indústria transformadora. 3. COMPORTAMENTO DAS EMPRESAS ESTRANGEIRAS: ANÁLISE COMPARATIVA. NACIONAIS E Neste capítulo pretendemos fazer a análise comparativa do comportamento das empresas nacionais face às empresas com capital estrangeiro. Neste sentido, salientese o estudo feito por Morais, H. (1994) para o período 1987-1992, em que concluiu que a produção das empresas estrangeiras apresentam níveis superiores aos das nacionais. Assim, enquanto o valor acrescentado sectorial das empresas estrangeiras corresponde a cerca de 30% do total, o número de empresas estrangeiras não ultrapassa os 8%, o que significa que, em média, o valor acrescentado por empresa estrangeira é mais do triplo das restantes empresas nacionais (tab.12). Relativamente à produtividade do trabalho, verifica-se que o valor acrescentado por empregado é superior nas empresas com participação externa (tab.13). Por outro lado, Morais, H. (op. cit.) concluiu que as empresas receptoras de IDE apresentam performances exportadoras superiores às suas congéneres portuguesas. Para além disso, a importância das exportações nas vendas totais é maior nas 63 empresas estrangeiras que nas nacionais (tab.14), sendo a indústria têxtil, indústria da madeira e cortiça, a indústria do papel e a fabricação de produtos metálicos, os sectores onde esta tendência é mais acentuada. Ainda no que se refere à comparação entre o comportamento exportador das empresas nacionais e das estrangeiras, refira-se o trabalho de Cabral, S. (1995) que concluiu o seguinte: a) Capital estrangeiro: o capital estrangeiro exerce uma influência positiva no comportamento exportador das empresas, o que significa que uma empresa estrangeira tenderá a exportar mais do que uma nacional (Ceteris Paribus). Este facto está intimamente relacionado com o maior conhecimento do mercado internacional que as empresas estrangeiras detêm face às nacionais57. b) Intensidade capitalistica e dimensão da empresa: tanto a intensidade capitalistica como a dimensão da empresa exercem um impacto positivo na performance exportadora das empresas. Contudo, esse impacto é mais acentuado no caso das empresas nacionais do que nas filiais estrangeiras. Uma explicação para isto poderá residir no facto das empresas estrangeiras, ao contrário das nacionais, estarem inseridas em multinacionais que operam à escala mundial, o que reduz significativamente a “massa crítica” necessária para as empresas estrangeiras exportarem. c) Economias de escala: A sua existência na produção tem impacto positivo na performance exportadora das empresas, sendo essa influência inferior no caso das empresas estrangeiras. A explicação para este facto reside também no facto das empresas estrangeiras estarem inseridas em multinacionais que operam à escala mundial. d) Qualificação da mão-de-obra: apesar das filiais estrangeiras utilizarem trabalho mais qualificado do que as empresas nacionais, o que é certo é que existe uma relação de sinal negativo entre maior qualificação de mão-de-obra e o comportamento exportador das empresas estrangeiras (ao contrário do que acontece nas empresas nacionais). Isto significa que são as filiais estrangeiras que empregam trabalho relativamente menos qualificado (consequentemente mais barato), que apresentam uma actividade exportadora mais acentuada. e) Comércio internacional: o nível de vantagem comparativa revelada em cada sector apresenta um impacto positivo nas exportações, quer das empresas nacionais, quer das empresas estrangeiras, tendo as empresas vocacionadas para o comércio intra-ramo uma performance exportadora inferior. Saliente57 Fontoura (1996) concluiu que o IDE não influencia positivamente a propensão a exportar da indústria portuguesa. Contudo, estes resultados baseiam-se apenas nos dados estatísticos de 1991 e 1992, o que é manifestamente insuficiente, sendo necessário confirmar estes resultados com uma série mais longa de dados estatísticos. 64 se, contudo, que as empresas estrangeiras tem uma preferência maior que as nacionais pelos sectores onde Portugal apresenta vantagens comparativas. f) Taxa de câmbio real do escudo: O impacto da apreciação da taxa de câmbio real e consequente agravamento dos custos relativos do trabalho, não parece influenciar negativamente a performance exportadora das filiais estrangeiras, ao contrário do verificado com as empresas portuguesas. g) Procura externa: Apesar do impacto de um aumento da procura externa ser positivo, quer na performance exportadora das empresas nacionais, quer na das estrangeiras, o que é certo é que esse impacto é superior nas segundas. Tal facto deve-se, fundamentalmente, à maior flexibilidade das empresas estrangeiras que têm, normalmente, actividades em vários países do mundo, o que lhes dá um conjunto de ligações internacionais privilegiadas e um grande conhecimento do mercado internacional. 4. DETERMINANTES DO IDE EM PORTUGAL Como é sabido a decisão de investir no exterior é tomada com base num vasto conjunto de variáveis58. Dunning (1977) sistematizou esse conjunto de variáveis na chamada “Teoria Ecléctica”. Segundo ele, a decisão de IDE por parte das empresas multinacionais baseia-se na detenção de vantagens que subdividem em três grupos: 1) Vantagem específica da empresa: vantagem detida por uma dada empresa que lhe permite deter uma superioridade face aos concorrentes no mercado externo. 2) Vantagem de internalização: vantagem que uma companhia obtém pelo facto de internalizar uma dada actividade em vez de a transferir para uma outra empresa no mercado externo (exemplo: filial produtiva em vez de licenciamento). 3) Vantagem de localização: estas vantagens têm a ver com as características do país de destino do IDE. Incluem as barreiras comerciais, mercado de trabalho, recursos naturais, proximidade aos mercados finais, infra-estruturas de transporte e comunicação, intervenção governamental, etc. Dado que tanto as vantagens específicas como as vantagens de internalização têm a ver, fundamentalmente, com a empresa, a análise destas vantagens não é relevante para o nosso estudo. Interessa-nos sim, avaliar as vantagens de localização que 58 Segundo Simões, V. (1992), “o desenvolvimento do investimento internacional é função de factores de ordem diversa, que podem ir desde as estratégias das empresas que investem no exterior, até às condições objectivas do país de implantação de investimento, como a dotação em recursos naturais, a dimensão do mercado, o nível de remuneração e formação dos trabalhadores, a capacidade e dinamismo endógenos e o enquadramento económico e politico”. 65 Portugal detém, e desta forma averiguar da importância deste tipo de vantagem como determinante de IDE. a) Enquadramento político, económico e social: a estabilidade política, económica e social vivida a partir de 1986, contribuiu significativamente para o crescimento do IDE. b) Remuneração do factor trabalho: Morais, H. (1994), concluiu que o IDE em Portugal não é atraído apenas pela existência de mão-de-obra “barata”: Nos sectores da alimentação e dos têxteis as empresas participadas têm uma maior componente salarial do que as empresas nacionais. Fontoura (1996), foi mais longe ao concluir que os sectores que tem uma componente salarial mais elevada recebem comparativamente mais investimento externo que as de componente salarial mais baixa. c) Enquadramento legal: a simplificação dos procedimentos associados às liquidações cambiais relativas ao IDE (Decreto-lei n.º 197 D/86 de 18 de Julho) e ainda a substituição do sistema de autorização casuística pelo sistema de autorização prévia (1986) contribuíram para o crescimento do IDE. Com a liberalização total dos movimentos de capital e com a instituição do sistema de registo à posteriori, o IDE, em Portugal, por parte dos países Comunitários, não sofre hoje em dia praticamente nenhum entrave (à excepção dos limites à aquisição de capital de empresas a privatizar). d) Inexistência de capacidade produtiva interna: O IDE em Portugal tem sido canalizado para alguns sectores em que não parece existir uma capacidade interna para satisfazer a procura, o que significa que no caso português a ausência dessa capacidade produtiva é um determinante de IDE. e) Recursos naturais: o aproveitamento dos recursos naturais tem sido um determinante importante de IDE em Portugal, se bem que com um papel cada vez menos relevante. Nesse sentido saliente-se o caso das indústrias extractivas que representavam 4,3% do IDE, em 1986, e passaram a representar 0,1%, em 1995. f) Privatizações: Segundo Quina (1989), o processo de privatização das empresas públicas teve um papel relevante na captação de IDE, isto apesar dos não residentes só poderem ter acesso a uma percentagem das acções emitidas. g) Descapitalização e reduzido grau tecnológico das empresas portuguesas: Uma grande percentagem do IDE foi dirigido para a aquisição de empresas descapitalizadas ou mesmo falidas. Essas empresas, que normalmente, apostavam mais na transferência de tecnologia do exterior do que no investimento próprio em I&D, foram um alvo preferencial do IDE. 66 h) Atitudes face ao IDE: Portugal tem uma atitude favorável face ao IDE consubstanciada, por exemplo, na existência de incentivos financeiros e fiscais ao investimento. Neste sentido, saliente-se o papel dos apoios comunitários que terão sido, talvez, um dos determinantes mais importantes do IDE59. Refira-se ainda que a liberdade de estabelecimento dos não residentes nos sectores abertos à iniciativa privada e a garantia de repatriamento, para o país de origem, de lucros e dividendos gerados pelo IDE, contribuiu também para o fomento do IDE. Apesar destes elementos positivos no que toca à captação de IDE, o que é certo é que em termos de promoção do IDE por parte das entidades nacionais existem algumas lacunas. Nesse sentido destaca-se o papel pouco dinâmico do ICEP que, na maioria das suas representações no estrangeiro, não tem nenhum responsável que trate, em exclusivo, dos problemas relativos à promoção do IDE. 5. BENEFÍCIOS E CUSTOS ASSOCIADOS AO IDE. Ferreira, E. (1984) considera que os benefícios associados ao IDE podem ser de dois tipos: estáticos e dinâmicos. Os benefícios de tipo estático, tais como os associados à melhoria da Balança de Pagamentos (BP) ou diminuição do desemprego, não alteram substancialmente a capacidade de desenvolvimento do país recipiente de IDE. Por outro lado, os benefícios dinâmicos têm um efeito positivo na capacidade de crescimento da economia receptora de IDE. Assim, num dado país, a introdução, por parte das empresas estrangeiras, de inovações científicas, modos de produção e métodos de gestão, pode beneficiar as empresas domésticas (através do chamado “efeito demonstração”). Por outro lado, a mão-de-obra formada nas empresas receptoras de IDE, pode, ao transferir-se para as empresas domésticas, aplicar os “conhecimentos” adquiridos e assim promover o desenvolvimento desta. Com base nesta “grelha de leitura” proposta por Ferreira, E. (op. cit.) as conclusões que retiramos para a economia portuguesa em termos de benefícios estáticos são as seguintes: 1) Emprego: em média as empresas estrangeiras empregam mais trabalhadores que as empresas portuguesas. Este facto é, contudo, pouco relevante uma vez que apesar de podermos concluir que, em média, as empresas estrangeiras são maiores que as empresas portuguesas, nada nos garante acerca dos ganhos ou perdas de emprego que ocorreriam se as empresas estrangeiras fossem substituídas por empresas domésticas de dimensão semelhante. 59 Segundo Fontoura (1996), o papel dos incentivos no âmbito do PEDIP não parece relevante na decisão de investir por parte dos investidores estrangeiros. Refira-se que a obtenção destes resultados, reside no facto de no período estudado por Fontoura, os apoios e incentivos estarem a escassear. 67 2) Balança de Pagamentos: o impacto na BP pode ser analisado em termos de balança comercial e balança de capitais. No que se refere à balança de capitais verificamos que as entradas de capitais para investimento directo vieram preencher o “gap” entre poupança interna e as necessidades de investimento existentes em Portugal (tab.15). Por outro lado, e no que toca à balança comercial, sabemos que, empiricamente, está demonstrado que as empresas estrangeiras têm mais tendência para se abastecer no mercado externo do que as empresas nacionais, o que pode contribuir para uma deterioração da balança comercial do país receptor de IDE. Contudo, e apesar da propensão a importar das empresas estrangeiras ser maior do que a das nacionais, também é certo que, segundo Morais, H. (1994), a performance exportadora das empresas estrangeiras é melhor do que a das nacionais. Em termos de resultado “líquido”, Ferreira, E. (1984) concluiu que o impacto do IDE na balança comercial é negativo (tab.16). A avaliação dos benefícios dinâmicos é dificilmente mensurável, sendo os únicos dados disponíveis referentes à transferência de tecnologia (tab.17). Saraiva, A. (1996) analisando a “balança de pagamentos tecnológica” portuguesa60 concluiu que Portugal é um receptor líquido de tecnologia. Segundo Saraiva, A. (op. cit.) “ o défice da balança tecnológica aumentou de 19,4 milhões de contos, em 1990, para 49,5 milhões de contos, em 1992”, sendo 45% das importações de tecnologia realizadas por empresas participadas por capital estrangeiro, o que significa que os investidores estrangeiros transferiram algumas actividades de I&D do país de origem para Portugal. Relativamente aos custos associados ao IDE para o caso português eles foram na nossa opinião muito reduzidos. Assim, e para além do eventual efeito negativo sobre a balança comercial referido anteriormente, não se vislumbram outros custos significativos. 6. PORTUGAL FACE A OUTROS DESTINOS DE IDE Os anos oitenta marcam claramente um ponto de viragem no que toca ao IDE. Se, por um lado, até essa época os fluxos de IDE tinham alguma orientação “Norte - Sul”, a partir daí tomaram uma orientação claramente “Norte-Norte” com grande parte do IDE a ter como origem e destino a Tríade (EUA-UE-Japão). Por outro lado, é também a partir da década de oitenta (principalmente de 1985)61 que o IDE conheceu um crescimento particularmente rápido, crescimento esse que se manteve até 1990, altura em que, paralelamente, se entrou na fase descendente do 60 Relativamente aos pagamentos e recebimentos com o exterior, sobre o uso de activos e direitos de propriedade intangíveis, tais como: patentes, fórmulas, “designs”, “copyrights” e direitos de fabrico. 61 Os fluxos de IDE passaram de uma média anual de 50 biliões de USD/ano, em 1981-1985, para uma média anual de 155 biliões de USD/ano, em 1986-1990. 68 ciclo económico. Em 1993 o IDE retomou a tendência de crescimento (fig.12 e tab.18). FIGURA 12 FLUXOS MUNDIAIS DE IDE 200 1981-1985 (média) 1986-1990 (média) 1991 1992 1993 Biliões de dolares 150 100 50 0 . Em termos de destinos e origens do IDE registe-se que as grandes alterações dãose também a partir da década de oitenta. Os EUA, torna-se o principal destino de IDE, vindo a perder para o Japão a posição que detinha como principal origem. Por outro lado dá-se na segunda metade da década de oitenta um “Boom” de IDE no leste e sudeste asiático. Refira-se nomeadamente os casos da China, Singapura, Malásia, Hong-Kong e Taiwan (fig.13 e tab.19). Nestes países o crescimento do IDE de 1985 a 1992 foi em muitos casos superior a 500%62. FIGURA 13 O IDE NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO (OS MAIORES RECEPTORES DE IDE) CHINA SINGAPURA 12000 HONG KONG Milhões de dolares 10000 TAILANDIA 8000 TAIWAN 6000 INDONÉSIA 4000 MALÁSIA 2000 MÉXICO 0 1985 1990 1992 ARGENTINA BRASIL Positivo terá sido também o comportamento do IDE em alguns países da América latina. Refira-se o caso do México, que passou de 491 milhões de USD, em 1985, para 5366 milhões de USD, em 1992, e a Argentina, que passou de 919 milhões de USD, em 1985, para 4179 milhões de USD, em 1992. O Brasil, apesar de ser um dos 62 Refira-se que grande parte do sucesso destas economias se deve, precisamente, ao IDE. 69 maiores receptores de IDE da América latina, registou um crescimento muito ligeiro nas entradas de IDE. Paralelamente à dinâmica de captação de IDE por parte dos países referidos anteriormente, saliente-se o comportamento registado pelos Países da Europa Central e Oriental (PECO)63 a partir de 1989 (fig.14 e tab.20). A titulo de exemplo refira-se o crescimento do IDE na ex-Checoslováquia, que passou de 256 milhões de USD, em 1989, para 1900 milhões de USD, em 1992, enquanto na Polónia e na Hungria terá subido de, respectivamente, 100 milhões de USD e 550 milhões de USD, em 1989, para 1400 milhões de USD e 4300 milhões de USD, em 1992. FIGURA 14 O IDE NOS PAISES DA EUROPA CENTRAL E ORIENTAL Milhões de dolares 5000 4000 BULGÁRIA 3000 EX-CHECOSLOVAQUIA HUNGRIA 2000 POLÓNIA ROMÉNIA 1000 0 1989 1990 1991 1992 Se fizermos uma análise comparativa entre Portugal e os países referidos anteriormente, em termos de fluxos anuais de IDE (tab.20), verificamos que Portugal tem perdido importância como destino de IDE. Assim, se em 1990, apenas a China e Singapura receberam mais IDE que Portugal, em 1992, fomos também ultrapassados pelo México, Malásia, Hungria e Argentina, o que significa que passamos do terceiro para o sétimo lugar do “ranking”. Do exposto anteriormente é de esperar que, quer os países do leste e sudeste asiático, quer os países da América latina, que revelam um forte dinamismo na captação de IDE, são potenciais competidores de Portugal como destino de IDE64. Todavia, na nossa opinião, são os PECO os nossos principais competidores em termos de captação de IDE. Esta conclusão baseia-se no seguinte: a) Enquadramento legal e apoio institucional: os PECO, logo após as transformações políticas em finais de 1989, encetaram uma “cruzada” para captar o investimento estrangeiro. Apesar dos enormes progressos 63 Vamos considerar como PECO’s a Bulgária, Ex-Checoslováquia (República Checa e Eslovaquia), Hungria, Polónia e Roménia. 64 Este facto resulta, principalmente, da existência nesses países de custos de trabalho inferiores aos registados em Portugal (e níveis de produtividade semelhantes), o que, como já vimos anteriormente pode ser um determinante importante de IDE em alguns sectores de actividade em Portugal, nomeadamente nos têxteis. 70 verificados nesta área existem no entanto ainda alguns entraves legais, tais como os relativos ao repatriamento dos lucros. Estes pequenos entraves têm, contudo, tendência a desaparecer, sendo de esperar que a breve trecho exista uma harmonização quase absoluta do enquadramento legal relativo ao IDE, entre os PECO e a UE (este facto torna-se ainda mais evidente face à previsível adesão de alguns dos PECO à UE). Aspecto importante é também o do processo de privatização encetado pelos PECO no início da década de 90. Uma vez que nesses países o processo está numa fase inicial enquanto em Portugal já está numa fase de maturidade, podemos afirmar que as oportunidades futuras de investimento baseadas neste aspecto são muito maiores nos PECO do que em Portugal. Por fim, e no que se refere aos apoios institucionais a situação que era manifestamente favorável a Portugal no final da década de oitenta (devido aos fundos estruturais) deixou de o ser, fundamentalmente a partir de 199293, sendo previsível que a lógica de benefícios de que Portugal usufruiu seja aplicada também aos PECO. b) Acesso a mercados: os PECO, pelo facto de estarem situados no centro da Europa, têm um acesso privilegiado a mercados como o alemão, austríaco, sueco e finlandês, entre outros. Este factor, associado à própria dimensão dos PECO fará com que as decisões dos investidores sejam favoráveis a estes países em detrimento de Portugal (ceteris paribus). c) Custo do trabalho e mercado de trabalho: com custos unitários do trabalho mais baixos65 e com níveis de produtividade muito próximos dos portugueses, os PECO apresentam também neste aspecto uma clara vantagem sobre Portugal. Acresce a isto o maior nível educacional da população e ainda a maior flexibilidade do mercado de trabalho. 7. CONCLUSÕES As principais conclusões que podemos retirar acerca do investimento directo em Portugal podem ser sintetizadas no seguinte: a) O IDE registou um crescimento acelerado após a adesão à Comunidade, tornando-se um elemento fundamental no crescimento e desenvolvimento da economia portuguesa (em 1990 o IDE representava 16,9% da FBCF e 4,6 do PIBpm). 65 Segundo Halpern (1994), o salário por hora de um trabalhador da indústria em 1992 era de $1,5 USD na Polónia, $2 USD na Checoslováquia, $2,5 USD na Hungria e de $5 USD em Portugal. 71 b) O reforço de investimento tem um papel preponderante como meio de aplicação de capitais externos em investimento directo (82,8% do total do IDE, em 1995). c) Quase 80% do IDE tem origem na UE, sendo a França e o Reino Unido os nossos principais investidores. Registe-se o crescente papel da Espanha como origem de IDE. d) Podemos distinguir duas fases no que se refere à distribuição do IDE por actividades económicas. Numa primeira fase (1986-1992) regista-se uma quebra na importância da “indústria transformadora” (47% do total do IDE, em 1986, e 16,8%, em 1992) e um acentuado crescimento da importância do sector financeiro (17,5%, em 1986, e 65,8%, em 1992). Numa segunda fase (1993-1995), a indústria transformadora vê a sua importância crescer (22,3%, em 1993 e 60,5%, em 1995) enquanto a importância do sector financeiro decresceu (59,3%, em 1993, e 21,8%, em 1995). e) O IDE está concentrado, fundamentalmente, no distrito de Lisboa (com mais de 60% do IDE até 1994), Porto e Setúbal, que juntos absorvem mais de 80% do IDE total. f) As empresas estrangeiras têm um comportamento mais dinâmico do que as suas congéneres nacionais. Em primeiro lugar, o valor acrescentado por unidade produtiva é mais do triplo do das unidades produtivas nacionais. Em segundo, a produtividade do trabalho é superior nas empresas estrangeiras. E por fim, em terceiro lugar, verifica-se que a performance exportadora das empresas estrangeiras é superior à das nacionais. g) A estabilidade política, económica e social; os apoios financeiros e fiscais por parte do Estado português e da Comunidade; o enquadramento legal favorável; e as oportunidades de negócio resultantes do processo de privatizações, têm favorecido claramente o IDE em Portugal. Apesar de muitos autores considerarem que, quer os recursos naturais, quer os custos de trabalho, têm sido determinantes importantes do IDE em Portugal, o que é certo é que se verifica, por um lado, que os sectores com uma componente salarial mais elevada recebem comparativamente mais investimento externo que os de componente salarial mais baixa, e por outro lado, que o aproveitamento de recursos naturais tem um papel cada vez menos relevante como determinante do IDE em Portugal. h) Podemos afirmar que os benefícios, para Portugal, resultantes do IDE, superam claramente os custos. i) Os países do sudeste e leste asiático, os países da Europa central e oriental (PECO) e alguns países da América latina são potenciais competidores de Portugal como destino de IDE. Saliente-se, contudo, que o maior perigo virá 72 dos PECO que apresentam um conjunto de vantagens de localização iguais ou melhores que as de Portugal. 73 ANEXOS 74 TABELA 1: EVOLUÇÃO DO IDE POR PAÍS DE ORIGEM (Milhões de escudos) 1969-1974 a) 1628 410 % 1975-1979 % 1980-1985 % 15,1 804 5,4 16033 16 Reino unido 3,8 1678 11,3 13677 13,6 França 2228 2,2 Espanha 2452 22,7 2111 14,3 6247 6,2 Alemanha 369 3,4 2031 13,7 8775 8,7 Outros 4859 45,1 6624 44,8 46960 46,8 UE 1779 16,5 2584 17,5 20945 20,9 EUA 167 1,5 3091 20,9 10811 10,8 Suíça 185 1,7 107 0,7 2417 2,4 Japão 2506 23,2 1065 7,2 9326 9,3 Outros 9496 88,1 13471 91,1 90459 90,1 OCDE 1288 11,9 1315 8,9 9915 9,9 Resto do Mundo 10784 100 14786 100 100374 100 Total Fonte: Banco de Portugal a) Os valores dos anos de 1969 a 1976 incluem o investimento imobiliário. b) Os dados incluem, a partir de 1989, os empréstimos reembolsáveis com carácter de investimento directo. c) A partir de 1993, os dados incluem os investimentos imobiliário. 75 1986-1995b) c) 682490 514709 403344 239656 546860 2387059 176511 231105 25290 98983 2918948 349763 3268711 % Total % 20,9 15,7 12,3 7,3 16,7 73 5,4 7,1 0,8 3 89,3 10,7 100 700955 530474 405572 250466 558035 2445502 201819 245174 27999 111880 3032374 362281 3394655 20,6 15,6 11,9 7,4 16,4 72 5,9 7,2 0,8 3,3 89,3 10,7 100 TABELA 2: EVOLUÇÃO DO IDE POR ACTIVIDADE ECONÓMICA (Milhões de escudos) 1969-1974 % 1975-1979 % 1980-1985 % 1986-1995b) c) 22305 15243 970257 61694 147672 331399 37869 % Total 233 3,2 175 1,3 2291 2,3 0,7 25004 Agricultura, silvicultura, caça e pesca 866 11,8 1328 9,7 6062 6 0,5 23499 Indústrias extractivas 3248 44,3 6350 46,6 45350 45,2 29,7 1025205 Indústrias transformadoras 24 0,3 65 0,1 1,9 61783 Electricidade, gás e água 495 6,8 361 2,7 1891 1,9 4,5 150419 Construção e obras públicas 1650 22,5 3919 28,8 21301 21,2 10,1 358269 Comércio, restaurantes e hotéis 25 0,3 96 0,7 1336 1,3 1,2 39326 Transportes, armazenagem e comunicações a) 595 4,4 18755 18,7 1624022 49,7 1643372 Bancos e OIF, Seguros, operações imóveis e serv. Prest. Empresas 790 10,8 243 1,8 3210 3,2 16877 0,5 21120 Ser. Colectividades sociais e pessoais 554 4,1 113 0,1 41374 1,3 42041 Actividades mal definidas 7331 100 13621 100 100374 100 3268712 100 3390038 Total Fonte: Banco de Portugal a) Até 1974, “Comércio, Bancos, Seguros e Operações sobre imóveis” era um sector único, não existindo desagregação dos seus valores b) Os dados incluem, a partir de 1989, os empréstimos reembolsáveis com carácter de investimento directo. c) A partir de 1993, os dados incluem os investimentos imobiliário. 76 % 0,7 0,7 30,2 1,8 4,4 10,6 1,2 48,5 0,6 1,2 100 TABELA 3: EVOLUÇÃO DO INVESTIMENTO DIRECTO E IMOBILIÁRIO ESTRANGEIRO (Milhões de escudos) Anos Invest. Directo A Desinv. Directo B 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1963-74 1975 1976 1977 1978 1979 1975-79 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1980-85 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 343 280 666 725 615 559 497 574 1047 1341 1801 2069 10517 2309 1866 2180 2772 4492 13619 6324 9079 9662 13297 25005 37007 100374 25044 51399 99545 268109 440981 508773 454264 452037 322892 581751 7 12 12 26 26 74 39 30 66 50 295 294 931 505 363 207 315 2144 3534 466 557 730 595 47 1081 3476 1919 7201 4678 11765 55027 149731 150413 220714 130814 515897 Invest. Directo Líquido C=A-B 336 268 654 699 589 485 458 544 981 1291 1506 1775 9586 1804 1503 1973 2457 2348 10085 5858 8522 8932 12702 24958 35926 96898 23125 44198 94867 256344 385954 359042 303851 231323 192078 65854 1986-95 Total 3204795 3329305 1248159 1256100 1956636 2073205 Invest. Imobili. D Desinv. Imobili. E 264 252 531 746 969 692 3454 788 379 379 612 1633 3791 2324 2672 3135 4227 6264 10628 29250 12964 21471 39576 38281 53390 31364 27904 18021 21561 24334 0 66 149 145 360 288 310 529 198 317 204 1846 176 207 1312 5264 8188 7579 23489 5554 5445 10288 Invest. Imobil. Líquido F=D-E 264 252 531 746 969 692 3454 788 379 313 463 1488 3431 2036 2362 2606 4029 5947 10424 27404 12788 21264 38264 33017 45202 23785 4415 12467 16116 14046 288866 325361 67502 69708 221364 255653 IDE Total G=A+D 343 280 666 725 615 559 761 826 1578 2087 2770 2761 13971 3097 2245 2559 3384 6125 17410 8648 11751 12797 17524 31269 47635 129624 38008 72870 139121 306390 494371 540137 482168 470058 344453 606085 Desinv. Directo Total H=B+E 7 12 12 26 26 74 39 30 66 50 295 294 931 505 363 273 464 2289 3894 754 867 1259 793 364 1285 5322 2095 7408 5990 17029 63215 157310 173902 226268 136259 526185 Invest. Directo Tot. Liq. I=G-H 336 268 654 699 589 485 722 796 1512 2037 2475 2467 13040 2592 1882 2286 2920 3836 13516 7894 10884 11538 16731 30905 46350 124302 35913 65462 133131 289361 431156 382827 308266 243790 208194 79900 3493661 3654666 1315661 1325808 2178000 2328858 Fonte: Banco de Portugal a) A partir de 1989, os dados do investimento directo incluem os empréstimos reembolsáveis com carácter de investimento directo. b) A partir de meados de 1991, o investimento imobiliário apenas considera os investimentos realizados por particulares, com fins não empresariais. 77 TABELA 4: INVESTIMENTO E DESINVESTIMENTO DECLARADOS E REALIZADOS (Milhões de Escudos) 1986 Valor absoluto INVESTIMENTO Declarado a) e) Realizado c) d) Grau de Realização DESINVESTIMENTO Declarado b) Realizado c) d) Grau de realização INVESTIMENTO LÍQUIDO Declarado Realizado c) d) Grau de Realização a) b) c) d) e) 1987 Valor absoluto 1988 Valor absoluto 1989 Valor absoluto 1990 Valor absoluto 1991 Valor absoluto 1992 Valor absoluto 1993 Valor absoluto 1994 Valor absoluto 1995 Valor absoluto 24299 25044 102,2% 61627 51399 83,4% 138053 99545 72,1% 385763 268109 69,5% 524569 440981 84,1% 660722 508773 77% 676153 454264 67,2% 279164 470058 168,4 238074 344453 144,7 200816 606085 301,8 1919 - 7201 - 4678 - 21059 11765 55,9% 68279 55027 80,6% 154812 149731 96,7% 210568 150413 71,4% 226268 - 136259 - 526185 - 23125 - 44198 - 94867 - 364704 256344 70,3% 456291 385955 84,6% 505911 359041 71% 465585 303851 65,3% 243790 - 208194 - 79900 - Para o investimento declarado até 1992 a fonte é o ICEP (via BP), enquanto a partir de 1992 a fonte é o ICEP (directamente) O desinvestimento declarado não está disponível para os anos de 1986 a 1988 e 1993 a 1995 A partir de 1989, os dados incluem os empréstimos reembolsáveis com carácter de investimento directo. A partir de 1993, os dados incluem o investimento imobiliário. O investimento declarado para 1995 não inclui o mês de Dezembro, altura em que deixou de ser exigida declaração prévia para o IDE. 78 TABELA 5: PESO DO IDE NA FBCF E NO PIB IDE/FBCF ANOS 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 Fonte: Banco de Portugal % 2 3,2 5,1 12 16,9 17 13,3 14,2 9,7 Var. % 58,1 58 134,7 40,8 0,9 -22,1 6,8 -31,6 79 % 0,5 0,9 1,4 3,3 4,6 4,5 3,5 3,4 2,4 IDE/PIBpm Var. % 75,5 65,6 127,6 40 -1,7 -22,4 -2 -31 TABELA 6: NÚMERO DE INVESTIDORES E DE EMPRESAS RECEPTORAS DE INVESTIMENTO 1989 Quantidade Var. % INVESTIMENTO Investidores Empresas receptoras de investimento DESINVESTIMENTO Desinvestidores Empresas objecto de desinvestimento INVESTIMENTO LÍQUIDO Investidores Empresas receptoras de investimento Fonte: Banco de Portugal 1990 1991 Quantidade Var. % 1992 Quantidade Var. % Quantidade Var. % 2625 1650 3160 1970 20,4% 19,4% 2805 1838 -11,2% -6,7% 2200 1507 -21,6% -18% 127 95 215 176 69,3% 85,3% 288 260 34% 47,7% 316 257 9,7% -1,2% 2498 1555 2945 1794 17,9% 15,4% 2517 1578 -14,5% -12% 1884 1250 -25,1% -20,8% 80 TABELA 7: IDE POR TIPO DE OPERAÇÃO (Milhões de escudos) NOVOS INVESTIMENTOS Constituição de empresas Abertura de sucursal/escritório de representação REFORÇO DE INVESTIMENTO Aumento de capital Prestações suplementares de capital b) Empréstimos e suprimentos c) AQUISIÇÃO DE INVESTIMENTOS EXISTENTES DIVERSOS d) TOTAL Fonte: Banco de Portugal a) b) c) d) 1989 a) Valor % absoluto 36467 13,6 27500 10,3 8968 3,3 1990 Valor absoluto 35303 29120 6183 8 6,6 1,4 1991 Valor absoluto 64804 48656 16148 % % 12,7 9,6 3,2 1992 Valor absoluto 37245 30996 6249 % 8,2 6,8 1,4 1993 Valor absoluto 19751 19751 % 4,2 4,2 0 1994 Valor absoluto 14689 14689 % 4,3 4,3 0 1995 Valor absoluto 9,259 9259 % 1,5 1,5 0 157339 82898 27274 47167 67327 58,7 30,9 10,2 17,6 25,1 288109 159199 66375 62535 109950 65,3 36,1 15,1 14,2 24,9 326623 174395 112393 39835 112416 64,2 34,3 22,1 7,8 22,1 342047 222678 60254 59116 68643 75,3 49 13,3 13 15,1 315962 174621 48185 93156 93614 67,2 37,1 10,3 19,8 19,9 260394 76134 67716 116544 40824 75,6 22,1 19,7 33,8 11,9 502047 78167 38,366 385514 53788 82,8 12,9 6,3 63,6 8,9 6976 268109 2,6 100 7620 440981 1,7 100 4929 508773 1 100 6328 454264 1,4 100 40731 470058 8,7 100 28546 344453 8,3 100 40991 606085 6,8 100 esta classificação por tipo de operação só está disponível a partir de 1989 Esta rubrica inclui as reintegrações de capital. esta rubrica inclui os empréstimos reembolsáveis e os não reembolsáveis, com carácter de investimento directo e transferência para o saneamento financeiro das empresas. A partir de 1993, os dados incluem o investimento imobiliário realizado por particulares. 81 TABELA 8: IDE POR PAÍS DE ORIGEM (1986-1995) (Milhões de escudos) 1986 1987 1988 1989 1990 Valor % Valor % Valor % Valor % Valor 2467 9,9 5031 9,8 10695 10,7 46,635 17,4 71,745 França 9705 38,8 11255 21,9 25059 25,2 54361 20,3 88457 Reino Unido 2029 8,1 8018 15,6 9069 9,1 37767 14,1 59747 Espanha 2670 10,7 3713 7,2 7265 7,3 11817 4,4 23636 Alemanha 588 2,3 1566 3 7744 7,8 14603 5,5 21378 Holanda 553 2,2 1989 3,9 5625 5,7 7947 3 15428 Luxemburgo 1094 4,4 2263 4,4 3303 3,3 12035 4,5 31652 Outros 19106 76,3 33835 65,8 68760 69,1 185165 69,1 312043 UE 2267 9,1 4403 8,6 6642 6,7 15356 5,7 26091 Suíça 2154 8,6 7360 14,3 11677 11,7 3509 1,3 13757 EUA 173 0,7 1132 2,2 791 0,8 1453 0,5 9797 Japão 364 1,4 1085 2,1 4525 4,5 19327 7,2 24561 Outros 24064 96,1 47815 93 92395 92,8 224810 83,9 386250 OCDE 980 3,9 3584 7 7150 7,2 43299 16,1 54731 Resto Mundo 25044 100 51399 100 99545 100 268109 100 440981 Total Fonte: Banco de Portugal a) A partir de 1995, a UE passou a incluir a Suécia, Finlândia e Áustria. b) Os dados incluem, a partir de 1989, os empréstimos reembolsáveis com carácter de investimento directo. c) A partir de 1993, os dados incluem os investimentos imobiliário. % 16,3 20,1 13,5 5,4 4,8 3,5 7,2 70,8 5,9 3,1 2,2 5,5 87,6 12,4 100 82 1991 Valor 55265 103692 62985 18720 29257 27740 50149 347807 28086 40226 4982 12630 433732 75041 508773 % 10,9 20,4 12,4 3,7 5,8 5,5 9,9 68,4 5,5 7,9 1 2,5 85,3 14,7 100 1992 Valor 84963 120,748 35,149 25651 30978 36947 13688 348124 13925 16737 1701 11006 391493 62771 454264 % 18,7 26,6 7,7 5,6 6,8 8,1 3 76,6 3,1 3,7 0,4 2,4 86,2 13,8 100 1993 Valor 30950 103338 87032 42733 31864 26335 22243 344495 33586 52996 658 14957 446692 23366 470058 % 6,6 22 18,5 9,1 6,8 5,6 4,7 73,3 7,1 11,3 0,1 3,2 95 5 100 1994 Valor 30497 41538 44045 61475 11982 21247 35355 246139 27928 15070 2621 9621 301379 43074 344453 % 8,9 12,1 12,8 17,8 3,5 6,2 10,3 71,5 8,1 4,4 0,8 2,8 87,5 12,5 100 1995 Valor 176461 124337 57503 41976 26778 9487 45043 481585 72821 13025 1982 905 570318 35767 606085 % 29,1 20,5 9,5 6,9 4,4 1,6 7,4 79,5 12 2,1 0,3 0,1 94,1 5,9 100 TABELA 9: IDE POR SECTOR DE ACTIVIDADE ECONÓMICA (Milhões de escudos) Agricultura, Silvicultura, Caça e Pesca Indústrias Extractivas Indústrias Transformadoras Alimentação; Bebidas e Tabaco Têxteis, Vestuário e Couro Madeira e Cortiça Papel, Artes Gráficas e Publicações Químicas derivados petróleo, carvão e produtos de borracha e plástico Minerais não metálicos, excepto derivados do petróleo bruto e carvão. Metalúrgicas de base Produtos metálicos e máquinas, equipamento e material de transporte. Outros Electricidade, gás e água Construção e obras públicas Comércio, restaurantes e hóteis Comércio por grosso Comércio a retalho Restaurantes e hóteis Transportes, armazenagem e comunicações. Bancos e OIF, seguros, op. s/ imóveis e serviços prestados às empresas Bancos e OIMF, Seguros Operações s/ imóveis e serviços prestados às empresas Serviços à colectividade, sociais e pessoais Actividades mal definidas Total Fonte: Banco de Portugal a) b) c) 1986 Valor % 438 1,7 1076 11777 4,3 47 1987 Valor % 1891 3,7 1602 15181 3,1 29,5 1988 Valor % 3508 3,5 2781 32417 2,8 32,6 1989 Valor % 2631 1 1990 Valor % 3916 0,9 1991 Valor % 3189 0,6 1992 Valor % 2962 0,7 1103 104921 178 125239 9554 3847 0,1 36,4 2,8 1,1 715 366594 0,1 60,5 11718 20957 3,4 6,4 45338 13,2 2036 79417 7921 11571 694 6215 17503 0,5 18 1,8 2,6 0,2 1,4 4 1143 111030 20177 6886 1798 2996 23961 0,2 21,8 4 1,4 0,4 0,6 4,7 1937 76133 9318 9690 552 5253 30960 0,4 16,8 2,1 2,1 0,1 1,2 6,8 8532 3,2 11385 2,6 23822 4,7 2976 0,7 353 12127 0,1 4,5 1338 21861 0,3 5 2451 27968 0,5 5,5 1607 14927 0,4 3,3 0,1 0 10,2 12,8 8,3 1,8 2,7 1 929 44 36223 44748 27783 4432 12532 2107 0,2 0 8,2 10,1 6,3 1 2,8 0,5 971 1196 29568 34550 21803 3372 9375 9466 0,2 0,2 5,8 6,8 4,3 0,7 1,8 1,9 851 1331 21193 35869 24629 4964 6275 4916 0,2 0,3 4,7 7,9 5,4 1,1 1,4 1,1 24510 11089 35642 23973 9690 1979 3233 5,2 2,4 7,6 5,1 2,1 0,4 0,7 3574 4745 55302 16534 21706 17062 10418 1 1,4 16,1 4,8 6,3 5 3 30910 12272 57157 5,1 2 9,4 2061 0,3 278975 59,3 130134 37,8 132051 21,8 65897 317 57042 19,1 0,1 16,6 280 6527 1,1 26,1 417 1,7 1841 3,6 841 0,8 4380 17,5 20238 39,4 35711 35,9 143680 53,6 266501 60,4 313640 61,6 298712 65,8 64129 6322 73230 23,9 2,4 27,3 172815 6513 87803 39,2 1,5 19,9 195690 20172 97778 38,5 4 19,2 186269 8476 103967 41 1,9 22,9 0,1 4,4 17,6 1995 Valor % 550 0,1 1 17,7 3,9 2,9 0,3 0,2 2,5 339 24 27356 34404 22357 4809 7238 2569 100 4354 17532 1994 Valor % 591 0,2 2672 47548 10332 7734 820 579 6731 5 592 9668 0 1,2 18,8 1993 Valor % 2629 0,6 0,2 22,3 149 0,6 381 0,7 2301 2,3 2243 0,8 3848 0,9 1309 0,3 1593 0,4 1207 0,3 2828 0,8 1018 0,2 25044 100 51399 100 99545 100 4982 268109 1,9 100 2141 440981 0,5 100 3682 508773 0,7 100 9619 454264 2,1 100 6749 470058 1,4 100 11444 344453 3,3 100 2757 606085 0,5 100 A partir de 1989, os dados incluem os reembolsos com carácter de investimento directo. A partir de 1993, os dados incluem o investimento imobiliário realizado por particulares. Os espaços em branco indicam que não existem dados desagregados. 83 TABELA 10: IDE POR DISTRITO DE LOCALIZAÇÃO (Milhões de escudos) 1989 1990 1991 1992 1993 a) 1994 1995 Valor % Valor % Valor % Valor % Valor % Valor % Valor % 7611 3,4 30024 7,5 10281 2,2 5936 1,5 7737 2,8 6996 3,0 10251 5,3 AVEIRO 2588 1,2 567 0,1 425 0,1 571 0,1 67 0,0 149 0,1 195 0,1 BEJA 2322 1 4754 1,2 3453 0,7 10056 2,5 5672 2,1 1969 0,8 1447 0,8 BRAGA 13 0 35 0 63 0 151 0 148 0,1 49 0,0 3 0,0 BRAGANÇA 1938 0,9 2533 0,6 2905 0,6 2233 0,5 466 0,2 849 0,4 1699 0,9 CASTELO BRANCO 953 0,4 8439 2,1 2902 0,6 1085 0,3 8222 3,0 2446 1,0 11125 5,8 COIMBRA 549 0,2 495 0,1 297 0,1 461 0,1 334 0,1 313 0,1 608 0,3 ÉVORA 12006 5,4 8792 2,2 6525 1,4 6431 1,6 6613 2,4 2239 1,0 5011 2,6 FARO 1285 0,6 539 0,1 407 0,1 685 0,2 FUNCHAL 8 0 277 0,1 802 0,2 366 0,1 11 0,0 43 0,0 144 0,1 GUARDA 2225 1 1735 0,4 2590 0,6 5843 1,4 954 0,3 4160 1,8 3847 2,0 LEIRIA 156223 70,1 270227 67,1 360581 76,8 330917 81 167550 61,3 173493 74,4 100903 52,5 LISBOA 20 0 1 0 PONTA DELGADA 49 0 179 0 67 0 435 0,1 358 0,1 1163 0,5 183 0,1 PORTALEGRE 28413 12,8 57044 14,2 54462 11,6 22195 5,4 53342 19,5 22097 9,5 27284 14,2 PORTO 894 0,4 3694 0,9 1036 0,2 1946 0,5 13603 5,0 876 0,4 1382 0,7 SANTARÉM 4930 2,2 8888 2,2 16911 3,6 17591 4,3 5509 2,0 11703 5,0 26507 13,8 SETÚBAL 223 0,1 2434 0,6 2427 0,5 915 0,2 832 0,3 379 0,2 731 0,4 VIANA DO CASTELO 203 0,1 798 0,2 441 0,1 0 0 842 0,3 27 0,0 11 0,0 VILA REAL 267 0,2 1284 0,3 2653 0,6 937 0,2 1054 0,4 4182 1,8 993 0,5 VISEU 222800 100 402759 100 469230 100,0 408756 100 273314 100,0 233133 100,0 192324 100,0 TOTAL Fonte: Banco de Portugal e ICEP a) Os dados de 1989 a 1992 correspondem a investimento efectivamente realizado, enquanto os dados de 1993 a 1995 correspondem às declarações prévias feitas ao ICEP. 84 TABELA 11: PRESENÇA ESTRANGEIRA NO EMPREGO 1991 Empresas Postos de Total sector participadas trabalho (%) a) (%) b) 1767 0,35 Extracção Minérios Metálicos 827 0,94 20,17 804 0,8 Extracção de Minérios não Metálicos 10140 11,49 20,18 10733 9,08 Alimentação, bebidas, … 13062 30,96 9,64 18763 24,55 Indústrias têxteis, … 2501 5,64 10,13 1666 4,17 Indústrias madeira e cortiça, … 2958 5,3 12,75 3325 3,98 Indústrias papel, artes gráficas, … 14221 8,67 37,5 12565 5,61 Indústrias químicas der. petróleo, … 5871 7,95 16,88 4000 4,65 Indústrias produtos min. não met., … 2205 2,35 21,46 1296 1,43 Indústrias metalurgia de base 35299 25,07 32,19 34621 18,59 Fabricação de produtos metálicos, … 697 0,77 20,63 816 0,63 Outras indústrias transformadoras 6387 10,26 Construção e obras públicas 1306 0,87 34,31 388 0,39 Comércio por grosso 1447 2,04 Restaurantes e Hotéis, … 2174 13,3 transportes e armazenagem 295 0,17 Oper. S/ imóveis e serv. Empresas 89087 100 101047 100 Média Fonte: Banco de Portugal (extraído de Morais H. (1994) in Determinantes do investimento directo estrangeiro em Portugal: 1987-1992) a) Emprego gerado pelas empresas do sector, em relação ao emprego total das empresas da Central Balanços. b) Emprego gerado pelas empresas estrangeiras, em relação ao emprego total do sector. Postos de trabalho 1990 Total sector (%) a) 85 Empresas participada s (%) b) 85,07 16,84 19,83 12,82 6,7 14,02 37,54 14,44 15,25 31,24 21,66 10,42 16,84 11,88 2,74 28,92 - Postos de trabalho 1992 Total sector (%) a) 1663 796 5321 18898 1719 3012 9744 3406 492 21228 711 3102 818 1500 3106 75516 0,51 0,84 9,76 28,09 4,44 4,45 6,29 3,99 1,79 17,85 0,45 10,36 0,45 1,7 9,04 100 Empresas participadas (%) b) 88,13 25,52 14,7 18,15 10,44 18,27 41,81 23,02 7,42 32,08 42,75 8,07 49,58 23,76 0 - TABELA 12: VALOR ACRESCENTADO POR UNIDADE DE PRODUÇÃO (Milhões de escudos) 1991 Empresas Total participadas empresas 7607,24 2296,47 Extracção Minérios Metálicos 342,2 86,50 67,79 306,32 91,72 Extracção de Minérios não Metálicos 1760,54 271,07 201,44 1472,72 260,57 Alimentação, bebidas, … 283,05 133,62 126,37 322,63 131,80 Indústrias têxteis, … 506,17 57,70 48,91 363,94 52,49 Indústrias madeira e cortiça, … 1924,94 246,78 181,45 1531,15 216,89 Indústrias papel, artes gráficas, … 1624,33 373,54 183,55 1419,38 326,99 Indústrias químicas der. petróleo, … 740,89 238,58 202,87 808,85 154,05 Indústrias produtos min. não met., … 642,00 966,88 1063,14 445,45 577,51 Indústrias metalurgia de base 1344,20 174,98 106,44 1553,41 175,00 Fabricação de produtos metálicos, … 238,75 41,00 34,46 237,30 45,95 Outras indústrias transformadoras 1049,65 105,05 Construção e obras públicas 579,87 182,88 96,87 83,96 62,60 Comércio por grosso 365,12 138,02 Restaurantes e Hotéis, … 321,00 194,17 transportes e armazenagem 342,2 63,46 Oper. S/ imóveis e serv. Empresas 907,9 252,14 210,3 1139,39 305,8 Média Fonte: Banco de Portugal (extraído de Morais H. (1994) in Determinantes do investimento directo estrangeiro em Portugal: 1987-1992) Empresas participadas 1990 Total empresas Empresas não participadas 86 Empresas não participadas 20,42 78,31 198,15 121,98 48,39 164,43 176,49 126,77 603,19 104,17 39,92 92,90 59,11 122,33 190,45 22,69 135,61 Empresas participadas 10528,66 1992 Total empresas 4245,77 Empresas não participadas 57,18 1263,61 496,19 377,98 2160,81 1487,20 1146,98 328,60 1800,43 283,71 620,64 710,85 379,00 1391,16 1535,0 308,91. 153,42 73,05 284,55 372,02 190,65 517,91 205,63 67,02 101,74 124,97 129,40 188,53 470,57 268,28 132,81 66,09 192,58 185,47 139,05 531,43 119,86 45,35 91,24 35,60 105,93 144,94 147,76 TABELA 13: VALOR ACRESCENTADO POR EMPREGADO (Milhões de escudos) 1990 Empresas Total empresas Empresas não Empresas participadas participadas participadas 12,92 Extracção Minérios Metálicos 3,72 2,78 2,55 3,43 Extracção de Minérios não Metálicos 4,86 3,38 3,01 5,21 Alimentação, bebidas, … 1,45 1,43 1,43 1,44 Indústrias têxteis, … 2,83 1,7 1,57 2,4 Indústrias madeira e cortiça, … 10,41 4,54 3,69 8,75 Indústrias papel, artes gráficas, … 6,85 4,48 3,06 6,55 Indústrias químicas der. petróleo, … 3,79 3,1 2,96 4,04 Indústrias produtos min. não met., … 2,33 3,29 3,56 2,41 Indústrias metalurgia de base 3,24 2,45 2,08 3,9 Fabricação de produtos metálicos, … 1,37 1,52 1,55 1,16 Outras indústrias transformadoras 3,29 Construção e obras públicas 5,77 3,51 2,32 3,68 Comércio por grosso 3,78 Restaurantes e Hotéis, … 5,46 transportes e armazenagem 6,96 Oper. S/ imóveis e serv. Empresas 4,24 2,93 2,52 4,71 Média Fonte: Banco de Portugal (extraído de Morais H. (1994) in Determinantes do investimento directo estrangeiro em Portugal: 1987-1992) 87 1991 Total empresas 11,06 2,94 3,74 1,55 1,79 4,53 4,68 2,78 2,92 2,81 1,6 2,7 3,29 2,63 3,18 2,92 3,44 Empresas não participadas 0,46 2,84 3,37 1,56 1,74 3,84 3,55 2,57 3,01 2,31 1,72 2,63 3,21 2,47 3,12 1,28 2,48 Empresas participadas 12,66 0,56 4,75 1,65 2,42 10,76 6,87 5,05 1,34 4,58 1,6 4 7,82 2,78 12,09 5,26 1992 Total empresas 11,25 2,5 4,18 1,64 2,19 5,54 5,01 3,78 2,34 3,29 1,77 2,67 5,15 2,62 4,35 3,89 Empresas não participadas 0,77 3,16 4,08 1,63 2,16 4,37 3,68 3,39 2,43 2,68 1,91 2,56 2,52 2,58 3,55 2,76 TABELA 14: IMPORTANCIA DAS EXPORTAÇÕES NAS VENDAS TOTAIS (%) 1990 Empresas Total empresas Empresas não Empresas participadas participadas participadas 99,38 Extracção Minérios Metálicos 29,29 10,10 6,99 37,75 Extracção de Minérios não Metálicos 10,12 7,12 6,28 11,54 Alimentação, bebidas, … 70,6 50,41 48,04 80,81 Indústrias têxteis, … 73,57 37,46 30,79 73,79 Indústrias madeira e cortiça, … 65,67 44,12 36,07 57,93 Indústrias papel, artes gráficas, … 11,04 10,65 9,71 6,98 Indústrias químicas der. petróleo, … 30,99 19,58 16,52 28,15 Indústrias produtos min. não met., … 41,04 21,18 18,33 35,56 Indústrias metalurgia de base 51,08 38,46 25,5 50,24 Fabricação de produtos metálicos, … 47,29 27,7 23,06 67,12 Outras indústrias transformadoras 0,11 Construção e obras públicas 3,23 3,44 3,68 4,33 Comércio por grosso 0 Restaurantes e Hotéis, … 0 transportes e armazenagem 94,6 Oper. S/ imóveis e serv. Empresas 39,45 24,57 20,45 40,53 Média Fonte: Banco de Portugal (extraído de Morais H. (1994) in Determinantes do investimento directo estrangeiro em Portugal: 1987-1992) 88 1991 Total empresas 97,22 11,74 6,36 52,53 35,03 37,32 7,51 21,33 19,26 37,36 23,11 1,92 6,3 0 0 58,51 25,97 Empresas não participadas 0 8,04 5,04 48,48 31,22 29,64 9,05 19,49 17,34 23,35 16,7 2,22 6,77 0 0 3,37 13,79 Empresas participadas 99,33 46,1 15,56 76,18 70,58 57,52 12,07 17,6 57,51 29,73 65,64 0,03 0,91 0 0 36,58 1992 Total empresas 98,29 19,18 6,33 54,55 33,11 41,25 11,64 16,24 22,45 26,92 33,45 0,43 3,25 0 0 24,47 Empresas não participadas 0,27 12,79 4,91 49,45 28,21 31,68 9,79 15,54 21,14 23,18 17,47 0,49 7,25 0 0 14,81 TABELA 15: EVOLUÇÃO DAS NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO EM PORTUGAL (Milhões de contos) ANOS INVESTIMENT O 1039 1986 1433 1987 2101 1988 2355 1989 2729 1990 3088 1991 3544 1992 3409 1993 3678 1994 Fonte: Banco de Portugal. POUPANÇA INTERNA 1158 1464 1873 2327 2598 2799 3224 3183 3226 POUPANÇA EXTERNA -119 -31 235 28 131 289 320 226 452 IDE 25 51 100 268 441 509 454 470 345 TABELA 16: IMPACTO DAS EMPRESAS ESTRANGEIRAS NA BALANÇA COMERIAL PORTUGUESA - 1993 (Milhões de escudos) SECTOR COMIDA, BEBIDA E TABACO TEXTEIS MADEIRA E CARVÃO PAPEL QUIMICOS MINERAIS NÃO METÁLICOS METÁIS BÁSICOS PRODUTOS METÁLICOS, MATERIAL DE TRANSPORTE E MAQUINARIA OUTROS PRODUTOS INDUSTRIAIS COMÉRCIO DE RETALHO, RESTAURANTES E HÓTEIS TOTAL VALOR 2197172 5382087 894571 3667620 -12520914 13050 -2594267 -4359948 235915 -47213572 -54842504 Fonte: Extraído de Ferreira, E. (1983) TABELA 17: BALANÇA DE PAGAMENTOS TECNOLOGICA ANOS 1990 1991 1992 1993 1994 1995 Fonte: Banco de Portugal EXPORTAÇÕES DE TECNOLOGIA IMPORTAÇÕES DE TECNOLOGIA 125 2050 3461 79873 72412 71005 19525 33504 52954 119629 144869 161756 96 SALDO DA BALANÇA TECNOLÓGICA -19401 -31454 -49493 -39756 -72457 -90751 TABELA 18: ENTRADAS E SAÍDAS DE IDE (A NÍVEL MUNDIAL) 1981-1985 PAÍSES DESENVOLVIDOS Entradas Saídas PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO Entradas Saídas PAÍSES DA EUROPA CENTRAL E ORIENTAL Entradas Saídas TODOS OS PAÍSES Entradas Saídas 1986-1990 1991 Biliões de USD 1992 1993 1981-1985 1986-1990 1991 Peso no total (%) 1992 1993 37 47 130 163 121 185 102 162 109 181 74 98 84 96 74 96 65 95 59 - 13 1 25 6 39 7 51 9 80 14 26 2 16 4 24 4 32 5 41 - 0,02 0,004 0,1 0,02 2 0,01 4 0,03 5 - 0,04 0,01 0,1 0,01 1 0,005 3 0,02 3 - 50 48 155 168 162 192 158 171 194 195 100 100 100 100 100 100 100 100 100 - Fonte: UNCTAD 97 TABELA 19:OS MAIORES RECEPTORES DE IDE: PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO (Milhões de dolares) PAÍS RECEPTOR DE IDE CHINA SINGAPURA MÉXICO MALÁSIA BRASIL HONG KONG ARGENTINA TAILANDIA EGIPTO TAIWAN NIGÉRIA INDÓNESIA TOTAL DOS DOZE MAIORES PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO TOTAL DE TODOS OS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO PESO DO IDE NOS DOZE MAIORES NO TOTAL DO IDE DIRIGIDO AOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO 1981 1660 2835 1265 2520 1088 837 753 546 1985 1659 1047 491 695 1348 919 1178 340 478 1990 3487 5263 2632 2332 901 1728 1836 2444 1992 11156 5635 5366 4469 1454 1918 4179 2116 1330 1093 897 1774 11504 8153 23046 38964 15062 13582 31266 51485 76,3% 60% 73,7% 75,7% Fonte: OCDE TABELA 20: O IDE NOS PAÍSES DA EUROPA CENTRAL E ORIENTAL (Milhões de dolares) BULGÁRIA CHECOSLOVÁQUIA REPÚBLICA CHECA ESLOVÁQUIA HUNGRIA POLÓNIA ROMÉNIA TOTAL Fonte: OCDE 1989 1990 256 436 550 100 1450 352 113 98 1991 300 1100 3300 680 269 5649 1992 320 1900 1669 231 4300 1400 538 8458 TABELA 21: PORTUGAL FACE A OUTROS DESTINOS DE IDE (Milhões de dólares) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1990 País SINGAPURA CHINA PORTUGAL a) MÉXICO TAILÂNDIA MALÁSIA ARGENTINA HONG-KONG HÚNGRIA TAIWAN INDONÉSIA BRASIL CHECOSLOVÁQUIA POLÓNIA ROMÉNIA Valor 5263 3487 2756 2632 2444 2332 1836 1728 1450 1330 1093 901 436 352 113 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1992 País CHINA SINGAPURA MÉXICO MALÁSIA HÚNGRIA ARGENTINA PORTUGAL a) TAILÂNDIA HONG-KONG CHECOSLOVÁQUIA INDONÉSIA BRASIL POLÓNIA NIGÉRIA ROMÉNIA Valor 11156 5635 5366 4469 4300 4179 2839 2116 1918 1900 1774 1454 1400 897 538 Fonte: UNCTAD, OCDE e BP. a) Os valores em dólares para Portugal forma obtidos tendo por base uma taxa de câmbio PTE/USD de 160. 99 BIBLIOGRAFIA Banco de Portugal, Relatórios Do Conselho de Administração. Cabral, S. (1995), “Análise Comparativa do Comportamento Exportador das Empresas Nacionais e Estrangeiras Residentes em Portugal”, Boletim Económico, Banco de Portugal, Março de 1995. Ferreira, E (1984), “Foreign Direct Investment in Portugal: The Present Structure, Determinants and Future Evolution After the Accession to the EEC”, Ph. D. Thesis, University of Reading. Fontoura, P. (1996), “Exportações e Investimento Directo Estrangeiro: Um Modelo com Equações Simultâneas para o Caso Português.“, Integração e especialização, Almedina, Coimbra. Halpern, L. (1994), “Comparative advantage and Likely Trade Pattern of The CEECS”, Discussion Paper nº1003, CEPR. ICEP, Relatórios do ICEP, 1993 a 1995. Martin, C. e Gual, J. (1994), “Trade and Foreign Direct Investment With Central and Eastern Europe: Its Impact on Spain”, Discussion Paper n.º1006, CEPR Morais, H. (1994), “Determinantes do Investimento Directo estrangeiro em Portugal: 1987-1992”, Tese de Mestrado, ISEG. OCDE (1996), La Mondialisation De L’Industrie: Vue D’Ensemble et Rapports Sectoriels, OCDE Quina, A (1989), “Economia Portuguesa”, Centro de estudos Europeus. Saraiva, A. (1993), “O Investimento Directo em Portugal no Período de 1986 a 1992”, Boletim Trimestral do Banco de Portugal, vol. 15, n.º4, Dezembro de 1993. Saraiva, A. (1996), “Efeitos da liberalização do IDE em Portugal”, Banco de Portugal. Simões, V. (1985), “O Envolvimento Internacional da Economia Portuguesa: Uma Análise dos Fluxos de Investimento”. Taggart, J. e McDermott, M. (1993), The Essence of International Business, Prentice Hall. 99 A INDÚSTRIA PORTUGAL VERSUS DRAGÕES ASIÁTICOS João Abel de Freitas* Julieta Estêvão* Texto elaborado para o Conselho Económico e Social em Abril de 1997 * Gabinete de Estudos e Prospectiva Económica 100 Sumário 1. Âmbito do Trabalho 2. A Economia Asiática: Os Quatro Dragões 2.1. A Indústria nos quatro “dragões” asiáticos 2.2. A situação actual da indústria - breves notas por país 3. A Indústria Portuguesa 3.1. As etapas da industrialização 3.2. O estado actual da especialização da indústria portuguesa 4. As ameaças para Portugal 5. Bibliografia 101 1. ÂMBITO DO TRABALHO Este trabalho insere-se numa reflexão solicitada ao GEPE sobre o tema «a indústria nacional face à concorrência das economias mais dinâmicas dos países em vias de desenvolvimento: concorrência no mercado interno português, nos mercados da UE e noutros mercados». Para a OCDE as economias dinâmicas (ED) são na América Latina, a Argentina, o Brasil e o Chile e na Ásia, a Coreia do Sul, Hong-Kong, Malásia, Singapura, Tailândia e Taiwan. Esta é uma definição datada, de sentido “político-instrumental”, pois não contempla economias muito dinâmicas como a da China que, nos últimos quinze anos, registou uma taxa média de crescimento anual de 10% no produto e 17% nas exportações. Devido à complexidade e diversidade de processos de desenvolvimento não vamos, neste texto, tratar as ED na versão OCDE. Apenas nos propomos formular umas quantas questões sobre as quatro economias dinâmicas mais desenvolvidas da Ásia, Coreia do Sul, Hong-Kong, Singapura e Taiwan (os«quatro dragões» como são conhecidos) nas suas semelhanças e diferenças de modelo de desenvolvimento relativamente ao nosso País e, a partir desse equacionamento, avançar para o desafio que nos é lançado. Quadro 1 Dados comparativos Países PIB nominal 10*9 US$ População 10*6 PIB por habitante US$ Coreia do Sul 284,08 43,27 6564 Hong-Kong 81,47 5,80 14047 Singapura 37,54 2,76 13600 Taiwain 174,28 20,60 8460 E.U.A. 5629,50 250,00 22518 68,9 9,81 7021 Portugal Fonte FMI (Ano de 1991) e OCDE A China, no entanto, será uma vez ou outra referenciada (por duas razões, sistema político e percurso económico), dado que a sua dinâmica económica tende a tornar-se determinante para o processo evolutivo de muitas das economias da Ásia e, em especial de Hong-Kong e Taiwan e, quem sabe se a longo prazo, não o será também para a economia mundial. Refira-se a propósito que, no encontro internacional organizado em Janeiro de 1996 pela OCDE sobre as perspectivas da economia 102 chinesa para o século XXI, se salientou que a China «parece destinada a ser uma das maiores economias (se não mesmo a maior) do próximo século». Acerca deste cenário possível para a economia chinesa, parece interessante questionar-se até que ponto o movimento ascendente da entrada da China no mercado mundial, agora em conjugação com as profundas mutações no Centro e Leste da Europa e dos seus efeitos ao nível do Terceiro Mundo (demonstração clara de inviabilidade do «modelo de desenvolvimento» subjacente a este conceito), não vai trazer ao mundo industrializado (Primeiro Mundo como lhe chamam vários autores) problemas novos ou acelerar outros já indiciados. Assim, em que medida o processo de globalização da economia já em curso no quadro anterior (antes da queda do muro de Berlim) não terá de «inflectir» sob diversos aspectos para reflectir questões como a da aproximação tendencial do preço dos factores de produção, capital, tecnologia, recursos naturais e trabalho, com especial relevo para este último? Ou seja, dentro de que limites, a elevada reserva disponível de mão-de-obra da Ásia e do Centro e Leste Europeus (esta de elevado nível de qualificação e com alguma facilidade de adaptação a novas formas de trabalho) não vai contribuir para “revolucionar” a actual composição do emprego, a estrutura salarial e até provocar a baixa tendencial dos salários na Europa, Estados Unidos e Japão? (Aliás, a baixa de salários é já um fenómeno real da sociedade americana). E o que advirá para a Europa de todas estas “convulsões” possíveis? A Europa continuará a perder «peso» económico a nível mundial para a Ásia e outras zonas geoeconómicas? O alargamento ao Leste Europeu contribuirá para a recuperação da competitividade europeia? De tudo isto, não irá resultar uma nova configuração geográfico-mundial das actividades económicas, eventualmente, pondo em causa os pólos nucleares da Tríade e gerar e difundir efeitos sociais e políticos de alcance ainda imprevisível? A reacção dos agentes económicos e das instituições a muitos destes problemas, as respostas encontradas e os equilíbrios decorrentes e estabelecidos entre as diversas zonas económicas “irão produzir” a envolvente em que as economias dos países nas mais diferentes interacções entre si se vão mover e evoluir no futuro. Com este texto procura-se na abordagem dos problemas referenciados reflectir, ou pelo menos ter subjacente, a complexa situação que poderá decorrer da envolventeresultado de todas estas potenciais transformações. Assim, partindo do tema proposto, organizou-se o texto em quatro partes. Nesta primeira, limitamo-nos a umas breves considerações de índole global e a estabelecer o âmbito do trabalho que se circunscreve às quatro economias dinâmicas da Ásia de 1.ª geração (industrial), na perspectiva de chamar a atenção para o papel potencial e em curso deste Continente na economia mundial do futuro. Numa segunda, abordou-se o processo evolutivo dessas quatro economias, na tentativa de situar “o estado presente” da sua industrialização e perspectivar as evoluções possíveis. 103 Numa terceira caracteriza-se a indústria portuguesa (processo e especialização), para numa quarta parte poder confrontar/comparar as potencialidades nacionais nos mercados internacionais e europeu face às potencialidades das quatro economias asiáticas. 2. A ECONOMIA ASIÁTICA: OS QUATRO DRAGÕES Na década de 50 reinava um elevado «pessimismo asiático» sobre as potencialidades de desenvolvimento desta zona. Um complexo conjunto de factores, entre os quais se destaca o contexto de guerra fria pela sua importância, veio trazer um elan muito próprio, criando as condições de relançamento das economias desta área do Pacífico. É consensual nas análises sobre o processo de desenvolvimento da Ásia do Sueste que, para o movimento ascendente de algumas das suas economias, foram determinantes a abertura do mercado dos EUA aos produtos de origem asiática e as ajudas financeiras, cujos montantes apenas se compreendem no contexto de guerra fria, como forma de estancar os efeitos de imitação e de contágio que a experiência comunista da vizinha China, Coreia do Norte e Vietnam poderia desencadear. Refira-se que essas ajudas foram acompanhadas de medidas a nível da organização económica e social, ditadas pela situação concreta regional (elevadas tensões entre os dois blocos políticos então existentes), o que proporcionou às populações dos respectivos países certas vantagens como, por exemplo, uma distribuição de rendimentos menos desigual da que se registava em outras zonas do mundo como a América Latina. Tudo isto contribuiu para «conter»/atingir os efeitos desejados pelos EUA. No entanto, outras condições como a capacidade empresarial e institucional de implementar uma política económica de promoção de exportações, orientando os financiamentos para os sectores chave, aliada a uma cultura específica, deram o seu contributo para o bom desempenho destas economias. Contudo, cada economia tem as suas próprias especificidades, graus de desenvolvimento muito diferenciados e relações político-culturais diversas. A intensidade de relações em desenvolvimento entre a China, Hong-Kong e Taiwan indicia a formação de um «espaço económico chinês» de grande potencial industrial e comercial. A associação de capitais, de know-how técnico e de comércio de Hong-Kong com os recursos praticamente inesgotáveis de mão-de-obra chinesa, está a criar um novo pólo de comércio mundial com impacte já significativo na geografia das trocas mundiais. Esta dinâmica entre estes países que tende a fazer «escola» na Ásia e que, de certo modo conduz a uma integração informal das economias da zona, em parte na sequência e imitação, quer do processo japonês, quer dos quatro dragões, poderá criar nesta zona as condições para que a Ásia seja a zona de futuro, com impactes algo imprevisíveis nos mercados mundiais. 104 2.1. A indústria nos quatro “dragões” asiáticos A situação actual da indústria nestes países de primeira vaga de industrialização recente na Ásia (na década de 80 registou-se uma segunda vaga em países como a Tailândia, a Malásia, a Indonésia, etc) é o resultado de várias condições. Após uma primeira experiência do modelo de substituição de importações com efeitos pouco satisfatórios (anos 50) assiste-se a partir da década de 60 a uma clara aposta num processo de industrialização destes países com base em: i) opção por uma política de exportações, alicerçada na implementação de uma política industrial orientada para o desenvolvimento das indústrias tradicionais utilizando as vantagens comparativas do custo da mão-de-obra, com o têxtil em primeiro plano (décadas de 60 e 70) e uma deslocação para indústrias de maior tecnologia na década de 80, como a química e o papel e posteriormente e, de certa forma em complementaridade para a metalomecânica, para nos dias de hoje a aposta industrial se afirmar na electrónica e em segmentos de altas tecnologias. Esta política traduziu-se na canalização de financiamentos preferenciais para os sectores chave em cada etapa do processo. ii) forte intervenção dos governos em vários domínios da sociedade e da economia (regimes autoritários de tipo militar). iii)protecção dos mercados domésticos com a abertura ao exterior apenas num único sentido, o que provocou uma certa escassez de produtos comercializáveis dando origem a altas taxas de poupança. Só recentemente estes Estados começaram a proceder a uma abertura condizente com as regras da OMC. iv) criação de condições para atrair o IDE e o fomento do investimento das empresas e grupos nacionais através da concessão de ajudas públicas que ainda hoje, em alguns dos países, desempenham um papel significativo na dinâmica do investimento. Assinale-se que o tipo de tratamento dado ao IDE (grau de abertura e condições de atracção mais ou menos permissivas) foi diferenciado consoante o país. 2.2. A situação actual da indústria - breves notas por país Estes países apresentam, desde o início dos anos 60, uma especialização industrial dinâmica em termos comparativos com outras zonas. Como se referiu, a indústria projecta-se na base de indústrias tradicionais, evoluindo para sectores de maior conteúdo tecnológico onde a electrónica assume uma posição destacada nos anos recentes. Esta zona, através de uma aposta clara e eficaz nas exportações e num esforço de qualificação dos seus recursos humanos e 105 beneficiando de uma envolvente externa favorável, criou capacidade para evoluir acompanhando a dinâmica de mudança global. No presente, a especialização tende a direccionar-se segundo um duplo eixo: • o sector perde “sentido “para o segmento, ou seja, a industrialização está a encaminhar-se para a diferenciação (fomentando a chamada especialização intra-sectorial) • as altas tecnologias estão a internalizar-se nas empresas da zona, potenciando o aparecimento de novos produtos com maior dinâmica de mercado externo e interno. Por outro lado, nas Cidades-Estado de Hong-Kong e de Singapura, a indústria tende a deixar de ser o motor de crescimento da economia, embora com diferenciações entre si, sendo os serviços cada vez mais o elemento dinâmico das suas economias. Estas duas Cidades-Estados são, no essencial, centros financeiros e de serviços a concorrer entre si, embora a versão oficial seja a de complementaridade. Assinale-se que a indústria não é analisada aqui apenas na perspectiva de perda de peso na estrutura produtiva mas na óptica de motor de crescimento directo ou indirecto da economia no seu todo. Coreia do Sul A indústria transformadora da Coreia do Sul está em perda no PIB (32,7% em1987 contra 27,2% em 1992). No entanto, o comportamento sectorial é muito diferenciado, o que não é indiferente para as questões em análise. Assim: • Os sectores tradicionais (textil, vestuário e calçado), à excepção da alimentar, estão em regressão lenta. • Os sectores de bens intermédios (química, papel, siderurgia e refinação de petróleo) estão em evolução lenta. • O automóvel e a electrónica progridem em ritmo acelerado. Refira-se que a Coreia do Sul é o primeiro produtor mundial de memórias electrónicas de alta densidade e o quinto de automóveis, logo atrás da França. As exportações da Coreia de produtos manufacturados estão em desaceleração para os mercados dos EUA e UE por três ordens de razões: • forte deslocalização para os países asiáticos da 2.ª e 3ª vagas de industrialização por perda de competitividade das empresas coreanas (o manancial de deslocalização na Asia é quase inesgotável quer de país para país quer dentro do próprio país como acontece no caso da China). 106 • recentragem das exportações para os mercados de Ásia , que apresentam uma forte dinâmica de crescimento. • forte esforço de investimento coreano no exterior em direcção aos países desenvolvidos e Ásia, embora por motivos diferentes, que se prendem com as tecnologias e com os mercados. Desde 1990 o investimento coreano no exterior é superior ao IDE, sendo este último dirigido para os serviços (sistema financeiro, distribuição e hotelaria) enquanto o investimento coreano é ainda no essencial ligado à indústria (mercados e matérias-primas). Conjugando esta situação com dois outros parâmetros, a percentagem de despesas de I&D e a qualificação elevada da mão-de-obra, aliada às medidas eficazes no âmbito da Ciência e Tecnologia que possibilita à Coreia acompanhar a inovação tecnológica, poder-se-à apontar para uma especialização futura, integrando segmentos produtivos de alta tecnologia e uma componente própria significativa de serviços às empresas. Hong-Kong A indústria transformadora de Hong-Kong dispõe de uma posição reduzida na economia do país (11% do PIB em 1995). Esta situação é devida a um movimento massivo relativamente recente de deslocalização de indústrias direccionado sobretudo para a China, onde as empresas de Hong-Kong no seu conjunto já empregam quatro vezes mais assalariados do que no seu próprio Estado. Esta transferência de investimento decorrente da procura de condições de produção em situação mais competitiva permite que os frutos do crescimento sejam bastante distribuidos na região, contribuindo, assim, para o surgimento de uma classe média com um poder de consumo significativo, o que por seu lado induz efeitos positivos nas economias da região. A indústria no seu conjunto vem apresentando desde 1990 um crescimento regressivo ou de estagnação, apesar da economia, em idêntico período, ter crescido entre 4.5 e 5%. Como “porta” da China, no mais amplo sentido, Hong-Kong é uma Cidade-Estado muito importante porque funciona de “instrumento” de inserção de tão grande país nos mercados internacionais. O Governo tem em curso uma série de medidas de política industrial que visam sobretudo a desregulamentação na área das telecomunicações e a formação. Para finalizar estas notas, assinale-se que Hong-Kong é fortemente utilizador de TI, explorando desde 1995 um sistema que estabelece a ligação das empresas aos serviços alfandegários, o que constitui um elemento muito “rico” para a gestão das empresas. 107 Singapura A indústria transformadora de Singapura representava 27% do PIB em 1995 e está em perda, sendo o seu comportamento por sectores semelhante ao da Coreia do Sul. No entanto, a estrutura industrial é bastante diferenciada da dos outros Estados na medida em que a electrónica é muito marcante pois representa 42% da produção total e desde há vários anos vem crescendo de forma acelerada, designadamente nos segmentos dos semicondutores e equipamentos periféricos. Em 1995, Singapura era o primeiro exportador mundial de leitores de disco para computadores O IDE continua a aumentar a elevado ritmo, sendo os sectores mais atractivos a electrónica e a química, seguidos da electromecânica, estaleiros navais e aeronáutica. Os EUA detêm uma posição destacada nos investimentos de Singapura, embora orientada fundamentalmente para o sector petrolífero. Actualmente, as prioridades preconizadas pelo Governo são o aumento da competitividade da economia, a elevação do nível de qualificação da mão-de-obra (apesar de já ser elevado), a atracção de altas tecnologias e o encorajamento das empresas a investir mais em I&D embora essas despesas representem já 1.1% do PIB, existindo ainda uma política e um programa de incentivos que, dando consistência a esta estratégia, procura incrementar este valor. Taiwan A indústria transformadora de Taiwan está também em perda no PIB. De 1990 a 1995 desceu de 35 para 29%. A indústria de Taiwan teve recentemente de reagir a desafios como a apreciação da moeda, a alta de salários e a penúria de mão-de-obra (problema cada vez mais sentido nestes quatro estados) e uma maior exigência ambiental. A resposta a estes desafios traduziu-se por um movimento de deslocalização de empresas para os países da 2ª vaga de industrialização e China e num reajustamento industrial na direcção de actividades produtivas de maior conteúdo tecnológico e de valor acrescentado. Em simultâneo, como apoio a esta estratégia de adaptação, foram lançadas políticas concretas (num plano até 2002) no sentido de fomentar o desenvolvimento de actividades “high-tech “ Os instrumentos de política são o reforço da cooperação internacional, o apoio ao investimento directo de Taiwan no exterior em países desenvolvidos (aproximação aos mercados) e em países em desenvolvimento (aproximação às matérias-primas), a intensificação de I&D através da participação em projectos internacionais e a promoção da utilização racional da energia Estas medidas são enquadradras por outras de cariz mais transversal como a criação de um ambiente económico favorável e a protecção do ambiente. 108 Assim, a estrutura actual da indústria de Taiwan, caracteriza-se por os sectores tradicionais, os mais atingidos pelos movimentos de deslocalização, se encontrarem em regressão, mas onde a produção química, refinação, siderurgia e papel ainda progridem e as indústrias de equipamento de transporte e electrónica serem as que evoluem a ritmo acelerado. Neste contexto, a indústria de Taiwan ganha uma composição em produtos mais intensivos em tecnologia e, dadas as políticas em curso de desregulamentação, de privatizações e de orientação nos domínios do investimento e das “high-tech”, Taiwan está a criar as condições que lhe permitem melhor enfrentar as alterações dinâmicas de mercado. 3. A INDÚSTRIA PORTUGUESA 3.1. As etapas da industrialização O processo de industrialização do nosso País ao longo das suas várias etapas é muito marcado pela indústria têxtil. Na fase “moderna” da industrialização, a lei da Reconstituição Económica (1937) constitui um marco, pois a ela se ficou a dever o lançamento e fomento das infraestruturas e a criação de condições básicas de aceleração do desenvolvimento industrial. No entanto, no termo da sua vigência (1950) não estava concluída a grande maioria dos projectos lançados. Daí que se inicie o modelo de substituição de importações (anos 50) com uma economia predominantemente agrícola e um produto per capita muito baixo para os padrões europeus, mesmo para os países menos desenvolvidos e uma indústria incipiente e reduzida a um núcleo restrito de sectores com algum peso (textil, cerâmica, alimentar e tabaco). A década de 50, sobretudo na 2ª metade, é caracterizada por um surto de industrialização sustentado em um núcleo de indústrias capital-intensivo como os adubos, o cimento, a pasta para papel, a refinação de petróleo, a siderurgia. De algum modo, esta dinâmica marca uma ruptura com a concepção de desenvolvimento “ruralista e comercial” dominante no País e cria a base industrial, génese dos grandes grupos económicos, nacionalizados em 1974. Este modelo de industrialização assente numa forte intervenção da máquina administrativa do Estado (condicionamento industrial, legislação do trabalho, barreiras pautuais e não pautais, entraves ao IDE), apesar da dinâmica de desenvolvimento que imprimiu, gerou um “ambiente” inibidor da prática de concorrência, o que levou o País a um “fecho” sobre si mesmo. Alguns autores referem-se mesmo a este período como não havendo uma inserção internacional da economia de Portugal. 109 Porém, como refere Silva Lopes*, Portugal chega a 1960 “no limiar de uma fase de desenvolvimento sem precedentes na sua história”, com características de claro subdesenvolvimento e, “com uma indústria baseada em grande parte em unidades que laboravam com tecnologias pouco avançadas e em actividades de transformação simples de produtos primários”. A integração na EFTA Os anos 60, com a integração na EFTA, caracterizam-se por um desmantelamento parcial dos mecanismos de protecção económica. Esta abertura ao exterior originou uma forte dinâmica das exportações industriais e a penetração do capital estrangeiro sobretudo em indústrias orientadas para a utilização de matérias-primas nacionais. Assiste-se, assim, à implementação de um modelo de desenvolvimento virado ao exterior em associação com o capital estrangeiro, embora com muitos traços de protecção económica dos períodos anteriores, o que origina um perfil de especialização internacional, influenciada do exterior e com pouca articulação com a base industrial orientada para o mercado nacional e infra-estruturas. Com este novo modelo regista-se o lançamento de um núcleo de industrialização mais “moderno”, como a indústria naval, a electrónica (em segmentos de tecnologia banalizada) e certos segmentos da indústria mecânica não se criando, porém, as condições de internalização da transferência de tecnologia, nem o conhecimento de redes de comercialização, pelo menos em grau significativo, de forma a propiciar as condições de ajustamento estrutural da indústria portuguesa aos mercados externos. Esta dinâmica evolutiva produz alterações na composição do produto industrial e dada a taxa média de crescimento anual da indústria (8,5%) muito superior à do PIB (6%), o sector secundário ganha um relevo significativo na estrutura económica. Este modelo veio obrigar a profundas modificações na máquina do Estado, designadamente de âmbito institucional, levando à criação de vários organismos para o apoiar como o Fundo de Fomento de Exportação e ao lançamento de projectos infraestruturais como o pólo de Sines. “A nova política industrial dos finais dos anos 60 aposta nas indústrias da segunda revolução industrial, embora em fase tardia e desfasada do processo mundial de desenvolvimento, acreditando desta forma conseguir obter para Portugal uma inserção activa da sua economia na economia mundial que permitisse recuperar o atraso existente”*. * * A economia portuguesa desde 1960 Portugal Moderno - Economia 110 Década de 70: Choques petrolíferos e Abril de 1974 A nova política industrial onde a viragem ao exterior constituía um elemento positivo, mas onde a aposta na mão-de-obra barata funcionava de contraponto, é interrompida pelo 25 de Abril sem o teste de sucesso ou insucesso. As alterações políticas do 25 de Abril determinaram uma ruptura da regulação do sistema económico vigente porque ao nacionalizarem os grandes grupos financeiros (em número reduzido mas com importância muito forte na economia) “suspenderam”, em parte, o regime de acumulação privada. No entanto, esta ruptura não deu origem a um novo modelo de acumulação de “natureza mais social”, quer por inexistência de projecto de sociedade aderente à realidade portuguesa, quer pela crise económica mundial que estava a abalar os alicerces da 2ª revolução industrial em que sectores como a química, a siderurgia e a construção naval deixam de ser indústrias “industrializantes” e que, de certa forma, constituíam os alicerces da nossa política industrial. A indústria portuguesa que “está à porta” da 2.ª revolução industrial vê, assim, reduzida a sua margem de manobra, tanto mais que não dispõe de “instrumentos económicos” que lhe permita concorrer em mercados cada vez mais competitivos. Assim, até à adesão à CEE, o ajustamento do País às novas condições tecnológicas e de mercado encontra dificuldades que não consegue ultrapassar e a economia vai “vogando” mais ao sabor de medidas de conjuntura que de ataque aos problemas estruturais. A adesão à CEE Com a adesão criou-se um quadro de estabilidade e o País obteve acesso a fundos e a programas específicos, como o PEDIP que, numa primeira análise, pareciam criar condições para o reajustamento estrutural da indústria. Como adiante se verá o impacte destes programas não terá sido tão modernizador, pois o estado da nossa indústria não evoluiu segundo as expectativas, ou pelo menos ao ritmo de outras economias em posição similar, mantendo uma especialização frágil na base de indústrias e produtos de fraco crescimento económico nos mercados internacionais e, sobretudo, com empresas com um reduzido conhecimento e domínio das redes de comercialização. 3.2 O estado actual da especialização da indústria portuguesa A indústria portuguesa manteve assim, ao longo do tempo, uma hiperespecialização nos chamados sectores tradicionais que não tem sido atenuada nas últimas décadas. Na realidade, o grupo de indústrias constituído pelos produtos 111 alimentares e pelas fileiras têxtil, do couro e da madeira representavam, ainda em 1994, 48% do produto. A quebra da série estatística no final da década de 80 impede-nos de fazer uma leitura consistente entre a década de 80 e 90. No entanto, durante a década de 80, registaram-se alguns fenómenos intra-grandes sectores ou fileiras industriais que, a avaliar pelos valores já disponíveis para a década de 90, induzem no sentido de alterações limitadas. As alterações de monta na indústria portuguesa e, designadamente as de natureza qualitativa, não são observáveis em termos de grandes fileiras e/ou de grandes sectores. Como se pode ver a distribuição industrial portuguesa por grandes sectores industriais (Quadro 2) mantém-se praticamente estável. Quadro 2 % 1990 1994 agroalimentares. 17,1 17,6 textil/couro 24,8 24,2 madeira 5,9 6,2 papel 8,4 8,9 químicas 9,2 8,3 minerais não metálicos 9,1 10,1 metalurgia 2,9 1,6 electromecânica 20,2 22,1 outras 2,3 1,2 Fonte: Estatísticas. das Empresas INE Apenas a um nível muito fino é perceptivel o deslizamento para produtos de procura final e de maior valor acrescentado. Áreas de especializaçao tradicional Indústrias agro-alimentares Trata-se de um conjunto de indústrias com uma fraca componente exportadora, responsável por cerca de 10% do emprego industrial e com uma quota crescente nas importações nacionais quer devido à tradicional importação de matéria-prima quer pelo recurso crescente à importação de produtos finais. Nas agro-alimentares encontram-se algumas das maiores empresas mundiais, registando-se uma penetração em Portugal dessas grandes empresas quer a nível da 112 produção quer a nível da distribuição. Essas grandes empresas têm procedido a ajustamentos recentes que passaram por fusões e aquisições e pela recentragem das suas actividades, a nível internacional, com impacte em Portugal, nas estruturas produtiva e de distribuição. Fileiras do têxtil e do couro O papel determinante das indústrias têxteis e do couro na especialização da indústria portuguesa tem sido uma constante. Durante a década de 80 a estrutura interna das indústrias têxtil e couro (quadros 3 e 4) mudou consideravelmente, tendose verificado deslocação das indústrias a montante para as de procura final. Quadro 3 % 1990 1994 Têxtil 62,7 58,1 Vestuário 37,3 41,9 Fonte: Estatísticas das Empresas - INE Quadro 4 % 1990 1994 Curtumes 21,8 16,8 Calçado 78,2 83,2 Fonte: Estatísticas das Empresas - INE Estas indústrias, que se caracterizam pelo seu perfil claramente exportador, são responsáveis por quase 40% das exportações nacionais. As importações têm-se revelado crescentes quer em matérias-primas, fios e tecidos, quer em produtos finais, que se ajustam mais à moda ou de alta gama. A nível internacional as indústrias a jusante destas fileiras sofreram grandes alterações, que aliás ainda não cessaram, apresentando-se hoje em dia em mudança, determinada pelo comportamento da procura o que obriga a uma resposta adequada por parte da oferta. Não perdendo de vista o facto de se tratar de um mercado com condições de concorrência extraordinariamente duras, as novas características do mercado incorporando novas técnicas de produção e novos métodos de organização e gestão, anteriormente características dos sectores de ponta, acrescentam factores de competitividade que estão cada vez mais longe daqueles que eram atribuídos aos sectores tradicionais. É, neste contexto, que o posicionamento de Portugal como periferia interna à Europa, seu principal espaço comercial, tem sido entendido como uma situação que pode ser potenciada. A proximidade geográfica e cultural confere, de facto, vantagens competitivas sobretudo nos segmentos da procura em que o preço não é 113 determinante, mas em que conta cada vez mais a resposta rápida e a flexibilidade traduzida em pequenas encomendas e prazos de entrega muito curtos numa variada gama de produtos. Nesta área de forte especialização portuguesa, outros países bem localizados em termos de Centro da Europa, podem vir a desenvolver estratégias muito semelhantes à estratégia portuguesa. Sectores utilizadores de recursos naturais O conjunto de indústrias utilizadoras de recursos naturais, designadamente os derivados da floresta, tem constituído a segunda área de maior relevo da especialização tradicional da indústria portuguesa. A segunda metade de 80 e os primeiros anos da década de 90 marcam, de algum modo, o início de uma viragem neste conjunto complexo de sectores, bastante diferenciados entre si, onde se incluem desde as produções de tecnologias avançadas (subfileira do papel, cimento, certos segmentos do vidro e cerâmica) à exploração de recursos ainda com reduzido grau de transformação (indústrias da madeira, rochas ornamentais) e utilização de tecnologias pouco significativas. Subfileira do papel A subfileira do papel tem evoluído nos anos mais recentes no sentido de uma maior integração vertical, aliás seguindo as tendências dos países fortemente especializados neste domínio como os EUA/Canadá ou os países escandinavos. Quadro 5 1990 1993 Pasta 3,0 0,9 Papel e artes gráficas 5,4 6,2 A capacidade da produção de papel instalada no país aumentou consideravelmente, sendo os novos produtos de elevado valor acrescentado e quase na sua totalidade dirigido ao mercado externo. Portugal deixou, assim, de ser um país essencialmente produtor de celulose para mercado, atingindo deste modo uma combinação produtiva de maior “performance”. Indústrias derivadas dos minerais não metálicos Este conjunto de indústrias mais recentes na estrutura produtiva tem vindo a ganhar importância, apresentando hoje um considerável peso. Contudo, este aumento 114 percentual não corresponde apenas a um acréscimo intensivo da produção, mas decorre de melhorias tecnológicas significativas e da introdução de novos produtos, onde as indústrias do cimento, do vidro e da cerâmica merecem relevo destacado. O sector das rochas ornamentais é eventualmente, aquele de entre este conjunto de indústrias onde, apesar da forte viragem ao exterior, a introdução de novas tecnologias terá sido menos dinâmica. No entanto, há a registar no seu interior uma deslocação sustentada das exportações para actividades a jusante, de maior valor acrescentado, sendo de identificar um pequeno núcleo de empresas bem organizado com elevado dinamismo de mercado. Indústria química A indústria química contém situações muito díspares, com uma produção claramente orientada para o mercado nacional, sendo a taxa de exportação, em média, inferior à da indústria transformadora. Na química de base, os grupos empresariais de dimensão mundial têm cada vez maior peso e os factores que mais pesarão na evolução desta indústria em Portugal prendem-se com o desenvolvimento das ligações das empresas instaladas em Portugal a esses grupos. É uma área em que Portugal dispõe claramente de reduzidas potencialidades sob os mais diversos ângulos de análise (know-how e tradição, matérias-primas, posicionamento geo-estratégico). No caso química ligeira, a criação do Mercado Único conduziu a uma “recentragem” de produções com reduzidos custos de transporte como os produtos farmacêuticos e de higiene e limpeza, para melhor beneficiarem de economias de escala em termos de produção, logística e mercados. Este facto levou à cessação de actividades no país de algumas empresas, em especial de produtos farmacêuticos, numa óptica de mercado ibérico. Indústrias metalomecânicas Neste grupo de indústrias apresenta-se uma grande diversidade de situações. No complexo electromecânico as mudanças de maior monta situam-se no material de transporte com mudanças recentes em termos de estrutura industrial. A construção e reparação naval chegou à década de 90 com um peso bastante reduzido, tendo passado na década anterior por uma redução drástica da capacidade instalada, sendo o futuro algo problemático, designadamente porque as condições de mercado se alteraram radicalmente com desvantagem para a nossa localização. O automóvel parece ser a linha estratégica que se afigura como tendo possibilidades de consolidação. O projecto Renault, que arrancou no início dos anos 80 deu um impulso à “reformulação” da indústria de componentes e de algum modo criou o ambiente para atrair outros projectos Por seu lado o projecto Auto Europa veio consolidar, ou pelo menos, potenciar este conjunto heterogéneo de indústrias 115 componentes do automóvel, fazendo crer que ligado ao automóvel poderá constituirse e desenvolver-se um pólo de especialização. Estes dois projectos tiveram impacte em indústrias diversas como os moldes para plásticos, os plásticos, o têxtil industrial, a borracha, a fundição e outros componentes metálicos, levando-os a introduzir formas de gestão e tecnologias avançadas, condições necessárias para a manutenção da qualidade de fornecedor exigida pelas grandes marcas de automóvel. É evidente que continuam por “explorar”, de forma eficaz, a produção metalomecânica de pequena e média série onde as potencialidades para as empresas nacionais parecem ser francamente favoráveis. A sua “exploração” pouco adequada fica a dever-se muito mais às fragilidades das relações das empresas portuguesas com o mercado do que com a tecnologia. ********** Como grande conclusão, Portugal dispõe de uma especialização industrial onde as debilidades são muito patentes, quer ao nível da utilização das tecnologias mais evoluídas, quer ao nível do domínio ou inserção nas redes de comercialização e com um forte constrangimento para enfrentar a dinâmica da mudança: o baixo nível de qualificação relativo dos seus recursos humanos, ao contrário de alguns países cujo estádio de desenvolvimento não se distanciam muito do nossso, ou até de outros em posição de atraso, como os países do Centro e Leste Europeus, e da Ásia. 4. AS AMEAÇAS PARA PORTUGAL Os quatro países focados não representam para Portugal, em nossa opinião, grandes ameaças nesta fase do nosso ciclo de desenvolvimento Esta constatação não se reveste de carácter positivo, pois significa que essas economias, apesar do seu arranque posterior, se posicionam numa fase mais avançada, quando, de algum modo face às semelhanças de processo, em idêntico período de tempo, não era de esperar uma disparidade de estádio de desenvolvimento tão acentuado. Na realidade, factores como os recursos humanos, a gestão e o funcionamento das instituições públicas, aliados a uma diferença cultural base, assim como uma diferente capacidade de adaptação às mudanças estão na origem da nossa perda de velocidade relativa. A elevada dinâmica dos mercados asiáticos tem tido, por outro lado, como consequência uma certa recentragem destes países mais avançados na sua própria zona geográfica, quer em termos de investimento, quer de trocas comerciais. Os mercados europeus deixaram assim de ser tão concorrenciados pelos produtos de baixa/média gama oriundos destes países. 116 No entanto, existem produções designadamente na área da electromecânica, onde esses países com destaque para a Coreia se apresentam como concorrentes de Portugal, mesmo no nosso próprio mercado, sendo de realçar a ofensiva em termos de investimento no exterior, mesmo em países como o nosso como é o caso da Tisep. Afigura-se-nos, porém que os maiores desafios para Portugal advirão, no curto prazo, muito mais dos países de 2.ª geração, designadamente em muitos dos segmentos das indústrias tradicionais de baixa/média gama que continuam a constituir parte importante da nossa especialização. 117 5. BIBLIOGRAFIA Thuro, Lester: Les fractures du capitalisme, Éditions Villages Mondial, Paris, 1997 Murteira, Mário: Economia Mundial, a Emergência duma Nova Ordem Global, Difusão Cultural, Lisboa, 1995 Portugal 2010: Posição no Espaço Europeu, uma reflexão prospectiva, Trabalho coordenado por J. Félix Ribeiro, Editor DPP, Lisboa 1995 A Indústria Portuguesa Horizonte 2015, evolução e prospectiva, Serviço de Estudos de Economia Industrial do Gabinete de Estudos e Planeamento (GEPIE), Editor GEPIE/Ministério da Indústria e Energia, Lisboa, 1995 CEPII, Économie International, n.º 57, Paris, 1994 OCDE, Révue Économique, n.º 20, Printemps 1993, Paris 118
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