SCHWARZ, Roberto - A importação do
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SCHWARZ, Roberto - A importação do
AO VE,NCE,DOR AS BATATAS ColeçãoEspírito Crítico Duas Cidades F,ditcra34 il. doromance A impoftação e suascontradições emAlencar O romanceexistiuno Brasil,antesdehaverromancistas brarileiros.l Quandoapareceram, foi naturalqueestesseguissem os modelos,bonse ruins,que a Europajá haviaestabelecido ern nossoshábitosde leitura.Obsewação banal,que no entantoé a nossaimaginaçáo cheiade conseqüências: fixara-se numaforma cujospÍessupostos, em razoávelpafte, não seencontravem no país,ou encontravam-se alterados.Seriaa formaquenãoprestava- a maisilustredo tempo- ou seriao paÍs?Exemplodesta rmbivdência,própriadenaçõesdeperiferia,é dadona épocepelo tmericano Henry James,que acabariaemigrando,atraídopela complexidadesocialda Inglaterra,quelhe pareciamaispropícia Masveja-seo casodemaispeno;adotaro romance à [email protected] I Ìria-se a estc rcspeito o sugestivoestudo de Marlyse Meyer, "O que é, ou qucm foi Sinclair das llhas?", in Reuistadt Instiruto dc Esndas Brasileìnt no 14, SÃoPaulo, 1973. 2 Teobaldo, urn americanoenfático de "The madona ofúe future" ( I 873): "Somos os dçserdadosda arte! Btarnos condenadosà superficialidade, excluídos do cÍtculo encantado!O solo da percepçãoamericanaé um sedimentoescasso, cctéril,anificial! Sim, estamosdestinadosà imperfeição.Paraatingir a excelência, o lmcticaoo tem quc aprcnderdezvezesmaisque o europeu.Falta-noso sentido Aov€nc€dor asbatatss A importação do romancee suascontradições êmAlencar ere acataÍ também a sua maneira de trataÍ asideologias, Ora, vimos que enüe nós elas estão deslocadas,sem prejuízo de guardarem o nome e o prestígio originais, diferença que é involuntária, um efeito prático da nossaformaçáo social. Caberia ao escritor, em buscade sintonia, reiterar essedeslocamentoem nf vel formal, semo que náo fica em dia com a complexidadeobjetiva de suamatéria- por próximo que estejada lifo dos mestres. Esta seráa façaúa de Maúado de Ássis. Em suma, a mesma dependência global que nos obriga a pensaÍ em categorias impróprias, nos induzia a uma literatura em que essaimpropriedade náo tinha como aflorar. Ou por outra, antecipando: em vezde princípio construtivo, a diferençaapareceriainvoluntfuia e indesejadamente,pelesfrestas,como defeito. Uma instância literfuia do nível intelectualrebaixadoe que nos referíamosno câpí lo anterioÍ.- kmbrando osanosda suaformafo, Alencarfalanosserõesda inftncia, em que lia emvoz altaparaa mãe e asparentas,até ficaÌ a salatoda em pÍantos.Os livroseram Amandac Oscar,Saint-Ckir d* Ilhaç, Celestina e ouuos. Mencionatambémosgabinetes de leitura,a bibliotecaromânticade seuscol€ges,nesrepúblicasestudantisde SãoPaulo- Balzac, Dumas,Vigny, Chateaubriand,Hugo, Byron, Lamanine,Sue, maistarde Scon e C,ooper- e a impressáoque entãolh€ causarao sucesso deI morenình4o primeiro romancede Macedo.3 Por que não tentar, eletambém?"Qual régiodiademavalia essa auréolade entusiasmo a cingir o nomede um escritor?"4 Não faltavamos grandesmodelos,e maisque esseou aquelehaviao prestígiodo moldegeral,e o desejopatriótico de dotar o paisde mais um melhoramentodo espírito moderno.5No entanto, a imigra$o do romance,perticuleÌmentede seuveio redista,iria por dificuldades. ninguémconsrrangia freqüentarem pensamentosalõese barricadasde Paris.Mas trazeràsnossasruase salaso conejode sublimesviscondessas, arrivistasfulminantes, ladróesilustrados,ministrosepigramáticos, príncipesimbecis, cientistas visionários,aindaque nos chegassem epenasos seus problemase o seutom, não combinavab€m. Contudo, haveria romancene suaausência? Os grandestemas,de que vem ao romancea energiae nosquaisseancoraa suaforma - a carreira mais apurado. Não temos gosto, taro ou força. E como haveríarnosdc tcr? Nosso clima rude e mal-encarado, nosso passadosilencioso, nosso presentc ensuÌdecedor, e prcssãoconstarìtedascircunstânciasdespÍovidesde graçe- tudo é úo sem estÍmulo, alimento e inspitaçáo para o anista, quanto é sem amargure o meu coraçáoao dizê-lo! Nós, pobresaspirantcs,devetemosviver em perpétuo *lllo" . The complztcults of Hmry Jazel vol. III, Londres, Rupen Haa-Davis, 1962, pp. l4-5. De volta à América, em visita a Boston, Jamesanota; "Tenho 37 anos,Êz a minha escolha,c sabeDeus que não tenho tcmpo a pcrder. A miúa escolha,é o velho mundo - minha escolha,miúa necessidade,miúa üda. [...] Mcu trabalho esá lí - jc n'ai ryc fairc nestevasto novo mundo. Não é possívelfazeras duas coisrs maior paraum americanoé prccisocscolher,[...] O pesoé necessariamente pois elepracira lidar, mú ou menos, e ainda que só por implicação, com a Euro- pa; enqütnto que euÍopeu algum é obrigado a lidar sequer minimamente com a América. Ninguém rai acháJo meooscompleto por causadisto. (Falo naruralmente de pcssoasque fazemo mcu tipo dc trabdho; não de economistasou do pessol das ciênciassociú.) O pintor de costumesque não seocupe da Âmérica náo é incomplcto, por cnquanto. Mas daqui a cem anos - talvcz cinqücnta - ele certamentc o seú". F. O. Manhiessenc K B. Murdock (otg;.), ïhc nouboob ofHeary /azar, Nova York, Galaxr Book, I 961, entradade 2511111881,pp. 23-4. 36 l.JosédeAlencar,Comoepor qucnu mmancìst4Obu comphta(OQ, vol, t, Rio deJaaeiro,Aguilar, 1959. a I&n p. 138. SAotonio Candido,"Aparecimentoda fìcção",Formação da litcra*ra bnrilaria voÌ. II, SãoPaúo, Manins, 1969. 37 Ao vencedoras batatas A i m p o r t a ç ã od o r o m a n ces su a s co n tr a d i çõ e se m Al e n ca r social,a força dissolventedo dinheiro, o embatede aristocracia e vida burguesa,o antagonismoentre amor e conveniência,vocafo e ganha-páo- como ficavam no Brasil?Modificados, sem dúvida. Mas existiam, além de existirem fortemente na imaginaçáo,com a realidadeque tinha paranós o conjunto dasidéias européias.Náo estavamà máo no entanto o sistemade suasmodificações,e muito menos os efeitosdesteúltimo sobrea forma literária. Estesdeveriamserdescobertose elaborados.Assim como, aÌiás,os mencionadostemas náo estiveramprontos desde sempre,à esperado romanceeuropeu.Surgiram,ou tomaram a sua forma moderna, sobre o solo da transição- continentel e secular- da era feudal à do capitalismo.Também na Europa foi precisoexploní-los,isolar,combinaÍ, atéqueseformasseuma espéciede acervocomum, em que sea.limentaramruins, medianos e grandes.Diga-sede passagemque é esteaspectocumulativo e coletivo da criaçãoliterfuia, mesmoda individual, que iria permitir a multidão dos romancesrazoáveisqueo Realismoproduziu. Na crista das soluçõese idéiascorrentes,ainda se não as aprofundam, esteslivros fazem a impressão de complexidade, e logram sustentaro interesseda leitura. Como em nossosdias o bom filme. Um gênerode acumula@oque foi difícil para a literatura brasileira,cujos estimulosvinham e vêm de fora. Desvanmgem, poÍ outro lado, que hoje tem âs suasvantagens,convergindo muito naturalmentecom a bancarrotada tradição,a que duramente se acostumâo intelectual europeu,a fim de chegar - como a umâ expressão-chave de nossotempo - à descontinuidade e ao arbitrário culturaisem que no Brasil,bem contra a vontade,sempreseesteve. Escritor refletido e cheio de recurso,Alencardeu respostas variadase muitas vezesprofundas a estasituafo. A sua obra é uma das minas da literatura brasileira,até hoje, e embora não pareça,tem continuidadesno Modernismo. De lracema,algts- ma coisa veio até Macunalma as andançasque entrelaçamas âventuras,o corpo geográficodo país,a matériamitológica, a toponímia índia e a História branca;alguma coisado Grande-Sertãojâ existiaem 7i4 no ritmo dasfaçanhasdeJãoFera;nossaiconograÂaimaginária,dasmocinhas,dos índios,dasflorestas,deve aosseuslivros muito da sua fixação social;e de modo mais gerd, paranão encompridara lista, a desenvolturainventiva e brasileirizanteda prosa alencarinaainda agora é capazde inspirar. Issoposto, é precisoreconhecerque a suaobra nunca é propriamente bem-sucedida,e que tem sempreum quê descalibradoe, notarcontubem pesadaa palavra,de bobagem.E interessante justamente, do que estespontos fracossão, fortes noutra perspectiva. Não sãoacidentaisnem fruto da falta de talento, sáopelo contrário prova de conseqüência.Assinalamos lugaresem que o molde europeu,combinando-seà matérialoca.l,de que Alencar foi simpatizanteardoroso,produziacontra-senso. Pontosportânto que são críticos para a nossaliteratura e vida, manifestando osdesacordos objetivos- asincongruênciasde ideologia- que resultavamdo transplantedo romancee da cultura européiapara cá. Iremos estudálos no romance urbano de Alencar, pâra precisáJos,e ver em seguidaa soluçáoque Machado de Assislhes daria. - Comentário curioso destesimpiìssesencontrâ-seem Nabuco, o europeizante,que os percebiamuito bem, por acháJos horríveis.Ao contrário do que dizem, a suadisputa com Alencar é pobre em reflexão e baixa nos recursos - "um tête à tête de gigantes",segundoAfrânio Coutinho; brigam atéparaver quem sabemais francês.Mas tem o interessede reter uma situação.O realismode Alencar inspiravaa Nabuco dupla aversão:uma por náo guardar as aparências,e outra por não desrespeitáìascom, digamos,a devassidãoescoladae apresentávelda literatura francesa.É como um cidadãoviajado que voltassepara a suacidade, onde o mortificam a existênciade uma casade mulheres,e o seu 38 39 Ao v€ncedoras batatas A importaçãodo romãncee suas contÍadiçõesom Alencar pouco reqúnt€. As meninâs al€ncaÌinas,com os seuserr:rncosde Brandedama, lhe pareciamao mesmo tempo inconvenientese bobocas,nem românticasnem naturalistas,o que é bem percebido, emborapesandono praro estéril da balança.6As observaçõessobreo t€ma escrayoe sobreo abrasileiramentoda lingua têm o mesmo teor, Se lhe aceitassea crítica, Alencar escreveria ou romance edificante, ou romance euÍopeu. Nabuco põe o dedo em fraquezasreais, mas para escondêJas;Âlencar pelo contrário incide nelas tenazm€nte, guiado pelo senso da Íealidade, que o leva a sentir, precisamenteaí, o assuntonovo e o el€mentobrasileiro. Ao circunscrevê-lassem as resolver, não faz grande literatura, masfixa e varia elementosdela- um exemploa mais de como é tortuoso o andamentoda criacãoliterária. mente ajustada,estaaníise vale também para o romance urbano de Alencar.Áltes, no entanto, voltemos aosseuselementos. A notação verista, â cor local exigida pelo românce de então, davam estatuto e curso literário às figuras e anedotas de nosso mundo cotidiano.Jáo enredo- o verdadeiroprinclpio da mmposição - essetem a sua mola nas ideologias do destino romântico, em yersão de folhetim para Macedo e algum Alencar, e em versão realista para o Alencar do romance urbano de mais força. Ora, como já vimos o nossocotidiano regia-sepelosmecanismos do favor, incompatíveis - num sentido que precisa1sme5adiarì1s- com as tramas extremadas, próprias do Realismo de influência romântica. Submetendo-seao mesmo tempo à realidadecomezinhae à conven$o literária, o nossoromance embarceveem duas canoasde percurso divergente, e era inevitável que levassealguns tombos de estilo próprio, tombos que não levavam os livros franceses,já que a hisrória social de que estes sealimenavam podia serrevolvida a fundo junamente por aquele mesmo tipo de entrecho. - Vista segundo as \rigms, a disp}ridade entre enredo e notâÉo realistarepresentaa justaposi$o de um molde europeu àsaparêncieslocais (náo importa, no câso, que estasaparênciasse tenham transformado em matéria literí ria por influência do próprio romantismo). Segundopâsso,troque-sea origem no mapa-múndi pelas idéias que historicâmente lhe correspondiam: teremos voltado, com mais clarezaagora rlesrazóessubjacentes,ao problema p r6ptìo da composQãn - ern Estudando a obra de Macedo, em que tome pé a tiadição de nosso romance, Antonio Candido observa que ela combina o realismo da obsewafo miúda, "sensível às condi@es sociais do tempo", e a máquina do €nredo romântico. São dois aspectos de um mesmo conformismo, qu€ interessadistinguir: adesãopedestre"ao meio sem relevosociale humano da burguesia carioca",e outro, "que chamaríamospoético, e vem a ser o emprego dos padrõesmâis própÍios à concepçãoromântica,segundo acabade ser sugerido:lágrimas,tÍeve, tÌeição, conflito". O resultado irá pecar por falta de verossimilhança: "Tanto que nos perguntâmos como é possívelpessoastão chãsseenvolveram nos erÍâncosâ que [Macedo] assubmete"T.Como veremos,ligeira- 6 Cf. A pollmica Ahncdr-Nabaco, especialr;renteas obje$es de Nabuco a Diua sil, e pode ser lido como uma inrroduÉo â Machado de Assis. Embora não faça pane da fase"fotmativa" de que trata o livro, e estejamcncionado só umei poucâs vezes,Machado é uma das suasfiguras centrais, o seu ponto de fuga: a tradiÉo é 7 Yet na ciada Fomraçãodz liwatura brasilcira os capítulos quc rratarn de romaoce. O seu con)unto compõe urna teoria da formafo destegênero no Bra- 40 considcrada,ao mcnos em pane, corn vistas no aprovcitamenro que Machado lhe daú. Para os trcchos citados, ver pp. 140-2. 41 Ao vêncedoÍas bâtatas A importaçãodo româncee suas contradiçõesem Alencar que ideologiasromânticas, de vertente sejaliberal, seja aristocratizante, mas sempre referidas à mercantilização da vida, figuÌâm como chave-mestra do universo do favor. Fiel à realidade observada(brasileira)e ao bom modelo do romance (europeu), priamente crítica, pois não quer transformar. O registro sobe quando passamosao círculo mundano, limitado aliásà mocida6[scasad6u12- 6 que tem seu interesse,como severá. Aqui presidem o cálculo do dinheiro e dasaparências,e o amor. A hipocrisia,complexapor definição,combina-seà pretensãode exemplaridadeprópria destaesfera,e à de espontaneidade, própria ao sentimento romântico, saturando a linguagem de implicações moreis. Espontaneâmente,estasobrigam à reflexãonormadva, à custados prazeressimplesda evoca$.o.A matriz distantesãoa salae a prosa de Balztc. Finalmente, no centro destecentro, a voltagemvai ao teto quando estáem cenaAurélia, a heroínado livro. Paraestaherdeira bonita, inteligente e cortejada, o dinheiro é rigorosamentea mediaçáomaldita: questionahomense coisas pela fatal suspeita,a que nada escapa,de que sejammercáveis. Simetricamente,exâspeÌa-se ne moça o sentimenro da pureza, expressonos termos da moralidademais convencional.Purezae degradaçáo,uma é talvezÊngida,uma é intolerável:lançando-se de um a outro extremo, Aurélia dá origem a um movimento veftiginoso, de grande alcanceideológico - o alcancedo dinheiro, esse"deus moderno" - e um pouco banal; falta complexidadea seuspólos.Á riquezafica reduzidaa um problema de virtude e corrup$.o, que é inflado, até tornar-sea medida de tudo. Resultaum andamentodensode revolta e de profundo confor6i5rr16- a indignação do bem-pensante- que não é só de Álencar. É uma das misturasdo século,a marca do dramalhão romântico, da futura radionovela,e ainda há pouco podia servisto no discursoudenisrâcontra a corrupçáodos tempos.Mas voltemos atrás,para corrigir a distinçáodo princípio, enÌre o rom das personegensperifericase das centrais.A questãonão é gradual, é qualitativa. No casodas primeiras, trata-se de aproveitar as evidênciasdo consenso,localista e muitas vezesburlesco, tais como a tradi@o, o hábito, o afeto,em toda a suairreqularidade, o escritorreedita,semsabêìo e semresolvê-la,uma incongruência central em nossavida pensada.Note-se que não há conseqüência simplesa tirar destadualidade; em país de cultura dependente, como o Brasil, a suapresençaé inevitável, e o seu resuÌtado pode serbom ou ruim. É questáode analisarcasopor caso. Literatura náo éjuízo, é figurafo: os movimentosde uma reputada chaveque não abra nada têm possivelmentegrande interesse literário. Veremos que em Machado de Assis a chave seráaberta pela fechadura. Senhoraé um dos livros mais cuidados de Alencar, a sua composiçãovai nos servir de ponto de partida. Trata-sede um românceem que o tom varia marcadamente.Digamos que ele é mais desafogadona periferia que no centro: Lemos, pelintra e interesseirotio da heroína, é gordinho como um vaso chinês e tem ar de pipoca; o velho Camargo é um fazendeirobarbaças, rude mas direito; dona Firmina, máe-de-encomendaou conveniência, estalabeijos na faceda menina a quem serve,e quando Noutras palavras, senta,acomoda"a suagordura semi-secular"8. uma esferasingelae familiar, em que pode haver sofrimento e conflito, sem que ela própria sejaposta em questáo,legitimada que estápela natural e simpáticapropensãodaspessoasà sobrevivência rotineira. Os negociantessáoespeftelhões,asimãzinhas abnegadas,a parentela aproveita, vícios, virtudes e mazelasadmitem-setranqüilamente, de modo que a prosa, ao descrevêìos,náo perde a isenfo. Não é conformista, pois náo justifica, nem é pro- 8 OC,wl I, pp.958,966,969, 1.065-6, Joséd,eNencar,Senhora, 42 43 Ao vencedoras batatas Seumundoé o que é, não apontapara ashaviamconsolidâdo. Ìransformar,ou por oirtra outro, diferentedele,no qualsedevesse exclui a intenção universalistae norainda,não é problemático: metiyâ, própriâ da prosaromânticoliberal da faixa de Aurélia. Veremosainda que estaé a tonalidadede um romanceimportanteem nossaliteratura,asMemórìasdc umtargentodemilíciat que esteconsensoüega E nadaimpede,sejadito de passagem, elepróprio a cunhade tradiçõesliterárias.No segundocaso,pelo perceber o presente comoproblema,como contrário,procura-se Estaa raáo do pesomaior,da "serieestadode coisasa recusar. - aindaque literariamente sejasempre dade"destaspassagens um allvio quandoAlencarvolta à outra maneira,que lhe dá páginasdemuita graçae forçanarrativa.Entretanto,é nestesegundo estilocarregadode princípios,polarizadopelaalternânciade sublime e infâmia, que elesefilia à linha fone do Realismode seu tempo, ligada,justamente,ao esforçode figurar o pÍesenteem suascontradições;em lugar de dificuldadeslocais,ascrispações universaisda civilizaSo burguesa.É esteo estilo que irá prevalecer.Resumindo,digamos guc em Senhoraa reflexáotoma o alentoe a maneiraà esferamundana,do dinheiro,da carreira, a primaziana composiçáo. Comoas dandoJhepor conseguinte grandespersonage ns da Cornédìahuman4 Auréliaviveo seuàilaceramento transformando-oemelemento e procuraexpressáJo, intelectualda existênciacomum,e emelementoformal - como pelo fechamento severá,a propósito do enredo- responsável do romance.No entanto,essetom reÍlexivoe problemático,bem realizadoem si mesmo,nãoconvenceinteiramente,e é infelizem seuconvÍvio com o outÍo. Fazefeito pretensioso,tem alguma coisadescabida,que interessaanalisarem maisdetalhe. quantoa isto, quepredominânciaformal e peso Observe-se, socíalem Senhoranão coincidem.Seé narural,por exemplo,que a cenamundanaestejaem oposiçãoà provínciae à pobreza,é 44 A importação do romanca € suascontradições omAlencãr esquisito que inclua pequenosfirncionários e filhas de comerciantes remediados.E é esquisitíssimoque excluaos adultos: nasfestas da Corte, asmães nunca sáo mais que respeitáveissenhoÍes, que vigiam as filhas e não cansam de criticar os modos desenvoltos de Âurélia, "impróprios de meninas bem educadas"9.Como aliás os homens, que sãocaricaturas,desdeque não sejam rapazrs,Em suma, o tom da moda é reservadoà mocidade núbil e bem-posta, de que é o omamento, masnão é a sínteseda er<periênciasocial de uma classe,além de sermal visto sevai longe. Não tem curso entre :rspessoílsque já sejamsérias,as quais por sua vez, ficam excluídasdo brilho literário, e do movimento de idéiasque deve sustentare aÌrematar o Íomânce. Por sua composição,portanto, o livro seconfina aoslimites da frivolidade, a despeitode seu andamento ambicioso, que fica prejudicado. Este desacordonão existeno modelo; para sentir a diferença, bastalembrar a importância que têm o adultério madurão, a política, asarrogânciasdo poder, na cena mundana de Balzac.Alencar conserva-lhe o tom e vários procedimentos, porém deslocadospelo quadro local, imposto pela verossimilhang. Adiante, voltaremosà diferença. Agora, vejamos a complexidade, a variedade de aspectosdeste emprestimo. Inicialmente é precisoretirar, mas não de todo, o sentido pejorativo a estanoção. Considere-seo que significava, como atualizaçãoe desenvoltura,fazer que uma personagem, mulher ainda por luxo, tratasselivremente dasquestõesde que então, ou pouco ântes, tratara o Realismo euÍopeu. Em certo sentido muito claro, é um feito, seja qual for o resultado literário. Algo semelhanre, para â geÍeÉo dos que fizeram 20 agora, nos anos 60, ao salto dos manuais de filosofia e sociologia,em e Smholap.952. 45 Ao vencedoras batatas língua espanhola,paraos livros de Foucault,Âlthusser,Adorno. Entre uma alienaçãoantiga e outÌa moderna, o coraçãobemformado não hesita.Ficavapara trás a imitação miúda e complacente,o romancistaobrigava-sea umâ concepçãodas coisas, impunha nível contemporâneoà reflexão..O romancealcançava a seriedadeque a poesiaromânticajá haviaalcançadohá mais tempo. Finalmente, considere'seo próprio movimento da imita$o, que é mais complicadoque parece.No prefáciode Saalas dbaro, escreveNencar: "Tachar esteslivros de confeiçãoestrangeiraé, relevemos críticos,não conhecera sociedadefluminense, que aí esráa faceirar-se pelassalase ruascom ataviosparisienses, falando a algemiauniversal,que é a língua do progresso,jargão ingleses,italianos,e agoratambém erriçadode termosfranceses, alemães./Como sehá de tirar a fotografia destasociedade,sem lhe copiar asfeições?"10. O primeiro passoportanto é dado pela vida social,e nãopelaliteratura,que vai imitar uma imita$o.l I inscreviamMas fara.lmente o progresso e os ataviosparisienses se aqui noutra pauta; retomando o nosso termo do início, são ideologiade segundograu.12Chegao romancista,que é parteele próprio dessemovimento faceiroda sociedade,e não só lhe co- to Obra compbta vol. I, p. 699. 1I A situaçãoé comparável à de CaetanoVeloso cantando em inglês.Acusado pelos 'nacionalistas", respondeque não foi ele quem trouxe os americanosao Brasiì.Semprequis cantar nestalíngua,que ouvia no rádio desdepequeno.E é claro que cantandoinglêscom pronúncianortistaregistraum momentosubstan' cial de nossahistória e imaginafo. 12Comentando os hábitos de consumo no Brasil de fins de século, Warren Dean obsewaque o comércio importador transformava em artigos de luxo os produtosque a industrializeÉotomeÍâ coÍrentesna Europae EstadosUnidos. Cf.,4 indusrialìzação de SãoPaalo, S:aoPa\lo, Difel, 197 | , p. 13. 46 A importaçãodo românce€ suas contradiçõesem Alencar pia asnovasfeições,copiadasà Europa, como ascopia segundo a maneira européia.Ora, estasegundacópia disfarça,mas não por completo, a naturezada primeira, o que pâra a literatura é uma infelicidade, e lhe acentuaa veia ornamental. Adotendo forma e tom do romance realista,Alencar acataa sua apre ciaçío tâcita da vida dasidéias.Eis o problema:trata como sériasasidéias que entre nós sãodiferentes;como sefossemde primeiro, ideologiasde segundograu. Soma em conseqüênciado lado empolado e acrítico- a despeitodo assuntoescandaloso - desprovido da malicia sem a qual o tom moderno entre nós é inconsciência histórica. Âinda uma vez chegamosao nó que Machado de Assis vai desatar. Em suma, também nas Letras a dívida externa é inevitável, semprecomplicadâ,e não é parre apenasda obra em que aparece. Faz figura no corpo geral da cultura, com mérito variável,e os empréstimospodem facilmenteseruma audáciamoral ou política, e mesmo de gosto, ao mesmo tempo que um desacertoliterário. Quâi destescontextosimporta mais?Nada, a não ser a deformaçáoprofissional,obriga ao critério unicamenteestérico. Assim, procuramosassinaÌarum momento de desprovincianização,a disposiçãoargumentativana tonalidade que predomint em Senhora e nem por isso deixaremosde revêlo adiante em luz desfavorável,nem lhe disfarçaremosa fraqueza, do ponto de vista da construção.Mas voltemosatrás:no gesto,o andamento do livro é audaciosoe inconciliável,gostariade ser uma voz nâ aÌtura do tempo; já seulugar na composiçáo,pelo contrârio, faz ver nesteimpulso graveuma prendade sala.A última palavrano casoé a segunda.Por alguma razão,que o leitorjá agoraadivinha, a dura dialéticamoral do dinheiro seprestaao galanteioda mocidadefaceira,mas não afetao fazendeirorico, o negociante, as mãesburguesas,a governântapobre, que se orientam pelas regrasdo favor ou da brutalidadesimples.Contudo, sãoestasas 47 Aov€nc€dor asbalâtâs A imponaçãodo romanc€a st|as contradiçõesem Alencar peÍsonagens que tornam povoadoo romence.Embora secundárias, compõem o traçado social em que circulâm as figuras centrais, de cuja imponância serãoa medida. Noutras palavras,nosso procedirnentofoi o seguinte:filiamos o andamentodo românce - depois de caracterizá-lo- ao círculo restrito que exprime, tudo sempre nos termos que o próprio romance propõe. Em seguidavimos como fica estecírculo, seconsideradorelativamente, no lugar que lhe cabeno espaçosocial,também ele de ficfo. Qual a autoridade do seudiscurso?O que decide é o refluxo desta segundavista: diante dela, o tom do livro e a pretensãoque o anima fazemefeito infundado. A suadicçãodesdizda suecomposifo. O oposto justamentedo que se observano modelo: a maneira sensacionalistae generalizantede Balzac, tão construída e forçada, liga-sea extraordinfuio esforcp de eondensação, e de fato vai se tornando menos incômoda à medida que nos convencemos de suacontinuidade profunda com os inúmeros peús ocasionais, de "periferia", que deslocam, refletem, invenem, modificâm - em suma, trabalham - o conflito central, que duma forma ou doutra é o de todos.l3Sejapor exemploo discurso desabusado e "centralíssimo"dalgumade suasgrandesdamas:é revoltoso, futriqueiro, vulnerável, calculista, destemido, como o serão,quando epâÍecerem"casualmente", o criminoso, â costureira, o pederasta,o banqueiro,o soldado.O andamentoveniginosoafasta-se do natural, beirabastanreo ridículo, masavaliza estadistância- o seu nível de abstra@o- com grandelastro de conhecimentose experiência,que ultrapassede muito a latitude individual, e não é fato apenasliterário: é a somade um processosocialde reflexão,na perspectiva,digamos,do homem de espírito. É esteo cinqüentáo vivido e sociávelque segundo Sanre é o narrador do realismofrancês.14Dos pressupostos históricos destaforma falaremos adiante. Por agora basta'nos dizer que esta reflexãose alimentavade um processoreal, novo, também ele vertiginoso e pouco "natural", que revirava de alto a baixo a sociedadeeuropéia, freqüentando igualmente a brasileira, cuja medula no entanto não chegavaa transformar: trata.se da generalizâçáo- com seusinfinitos efeitos - da forma-mercadoria, do dinheiro como nexo elemenar do coniunto da vida social.É a dimensão gigantesca,ao mesmo tempo global e celular deste movimento, que irá sustentar a variedade, a mobilidade tão teatral da composi$o balzaquiana- permitindo o livre trânsito entre áreassociaise de experiênciaaparentementeincomensuráveis.Em resumo, herdávamoscom o romance, mas náo só com ele,uma posturae dicçãoque náo assentavam nascircunstâncias locais.e destoavamdelas.Machado de Assisiria tirar muito Dar- l3 "Comparada a outras fotmas de represcnta{o, a mútiplicidade de Balzac é a que mais seaproxima da realidadeobjetiva. Contudo, quanto mais seaproxima dcsta, mais se afastada maneira habitual, cotidiana ou média de espelMJa diretamente. De fato, o método balzaquiano abole os limites estreiros,costumeiros, rotineiros desta r@mduçãoimcdiata C-ontrariaassirnasfacilidades habituais na maneire de considerara rea.lidade,e por issomesmoé sentido por muitos como scndo 'exagcrado', 'sobrecartcgado'ctc, [...] Aliás o seu engenho não se limita às formulaçóes brilhantes e picantcs: antcs manifcsa-sc na revelaçáobem marcada do cssencial,na tcosáo extrema dos elementos contúrios que o compõem." G. l.ukâcs, Balzac nd dcr Franmaiche kalismas, !íerke, vol. VI, p. 483. 48 Ì4 J.-P. Sanre,"Qu'est-ce-que la littérarure?", Sr'razriozrI I, Paris,Gallimard, 1948,pp. 176 ss.Paraum condensadocômico dos tiqucs balzaquianos, ver a incomparável imitaçáo que deles faz Ptoust, em Pattichcs a míhngcs. O aspecto desÊutávclc sedativodas gcncralizaçõesde Balzacé mencionado por'Valter Benjarnin, no estudombre o Fhxerr, in Charht Bar&hirc,Fr:r.kfunlM, Suhrkamp, 1969,pp.3940. 49 Ao vencedoras batatas A irnportaçãodo romancee suas contradiçõesem Alencar tido destedesajuste,naturalmente cômico. Paraindicar duma vez a linha de nosso raciocínio: o temário periférico e localistade Alencar virá para o centro do romance machadiano;estedeslocamentoafetaos motivos "europeus",a grandiloqüênciasériae central da obra alencarina,que não desaparecem,mâs tomârn tonalidadegrotesca.Estaráresolvidaa questão.Mas voltemos a SenhoraNosso argumento pârecetaÌvezarbitrário: como podem umas poucaspersonagens secundárias,ocupando umâ parte pequena de um romance,qualificarJhe dec.isivamente o tom? De fato, sefossemeliminadas,desaparecia a dissonância.Mas restaria um romance francês.Náo é a intenSo do Autor, que pelo contrário queria nacionaÌizaro gênero.EnÌretanto, o pequeno mundo secundfuio,introduzido como cor local, e não como elemento ativo, de estrutura- uma franja, mas sema qual o livro não sepassano Brasil- deslocao perfil e o pesodo andamento de primeiro plano. Eis o que importa: se o üeço local deve ter força bastanteparaenraizaro romance,tem-na tambémparanão lhe deixar incontrastadaa dic@o. Pelasrazõesque vimos e por outras que yeremos,estapassaa girar em falso. Noutras palavras, o problemaartístico,da unidadeformal, tem fundamentona singularidadede nossochão ideológico e finalmente, atravésdele, no concertodasnaem nossaposiçãodependente-independente Expressaliteainda que o livro não trate de nada disso. ções rariamentea dificuldadede integrarastonalidadeslocalistae européia,comandadasrespectivamentepelasideologiasdo favor e liberal. Não que o romancepudesseeliminar de fato estaoposiçáo: mas teria de acharum arranjo, em que esteselementosnão compusessemuma incongruência,e sim um sistemaregulado, com sualógica própria e seus- nossos- problemas,tratados na sua dimensáoviável. Menos que explicar,o que fizemosaté aqui foram atribuiçóes:um tom para cá, outro para lá, o enredopara a Europâ, âs anedotaspara o Brasil etc. Paraescaparaosacasosda paternidade, contudo, é precisosubstituir a contingênciada origem geográficapelospressupostossociológicosdasformas, estessim atuais e indescartáveis.Mais precisamente,digamos que do conjunto mais ou menos contingente de condiçóesem que uma forma nasce, estaretém e reproduzaÌgumas- semasquaisnão teria sentído - qlrepassama sero seaefeítoliterário, o set " efieítod.erealidade"l5, o mundo que significam.Eis o que interessa:passando a pressupostosociológicouma parte dascondiçõeshistóricas originais reaparece,com suamesmalógica, mas agorano plano da ficção e como resultadoformal. Neste sentido, formas sãoo abstratode relaçõessociaisdeterminadas,e é por aí que secompleta, ao menosa meu ver, a espinhosapassagemda história social para as questõespropriamente literárias,da composiçãoque sãode lógica interna e náo de origem. Dizíamos por exemplo que em SenhorahlLduesdicções,e que uma prevaleceindevidamente sobrea outra. O leitor cordato provavelmentereconheça,porque achatambém a semelhança,que uma delasvem do Realismoeurop€u,enquanto a outra é mais presaa uma oralidade familiar e localista.Como explicaçáo,porém, estereconhecimento não chegaao problema. Por que razãonão seriam compatíveisas duas maneiras,se incompatibilidade é um fato formal, e não geognífico?E por que náo pode serbrasileiraa forma do Rea.lismoeuropeu?Questãoestaúltima que tem o mérito de inverter a perspectiva:depoisde vermos que origem não é argts' mento, fica indicado quanto é decisivoo seu pesoreal. Enfim, uns tantos empréstimosformais importantes,indicadosos pressupostosda forma emprestada,que vieram a sero seuefeito;descriSo dasmatériasa que estaforma estejasendoaplicada;e por 50 15Exoressão de Álthusser.mascom outra filosofia. Ao vencedoras batatas fim os resultadosliterários destedeslocamento- serãoestesos nossostóPicos. Paracomeçar,vejamoso desenrolarda história.- Aurélia, moça muito pobre e virtuosa,ama a Seixas,rapazmodestoe um pouco fraco. Seixaspede-aem casemento,mes depoisdesmancha, em favor de outra que tem um dote. Aurélia herda de repente. Teria perdoadoa Seixasa inconstância,mas náo lhe perdoa o motivo pecuniário.Sem dizer quem é, manda oferecerao ântigo noivo um câsâmentono escuro,com dote grande,mas contrarecibo.O rapaz,que estáendividado,aceita.É onde começapropriamenteo enredoprincipaÌ. Parahumilhar o amado e vingar-se,mas também para pôJo em brios e finalmente por sadismo- de tudo issohá um pouco -Aurélia passaa trataÍ o marido recém-compradocomo a uma propriedade:reduz o casamentode conveniênciaa seu aspectomercântil, cujas implicaçõespor supremaofensaváo comandaÌ a trama. A tal ponto, que asquatro etapasda história sãochamadas"O Preço", "Quitaçáo", "Posse","Resgate".Como indica esterigorismo na condução do conflito, enredoe figura sãode linhagem balzaquiana. Com abundância de reflexão e sofrimento levam à improvável conseqüênciaúltima (emborahaja uma conciliaçãono final, de que ainda falaremos)um grande tema da ideologia contemporânea. Aurélia é da família férrea e absoluta dos vingadores, alquimistas, usurários, artistas,ambicíosos etc., da.Comédiahumanq como eles,agarra-sea uma questão- dessasque haviam cadvado a imaginação do século - fora da qual a vida passaa lhe parecervazia. Em conseqüência,lógica e destino histórico da.lgumaidéia reputadatornam-seelementosdeterminantesna organizaçãodo entrecho,ganham força de princípio formal entre outros.Não que espersonâgens encârnemuma noçãoabstÍâta, como Harpagãoencarnaraa avâreza.Mas uma abstraçáo - que vai combinar-sea toda sorte de particularidadesde bio- 52 A i m p o r t â ç ã od o r o m â n ceê su â s co n tr a d i çõ e se m Al e n ca r logia, de psicologiae posiçãona sociedade- é elementovoluntário e problemático de suaequaçãopessoal:decideìheso destino. Como um claráo em céu noturno, estasfiguras reflexivas e enfáticasriscam a paisagemsocial,e deixam, além da vertigem de seu movimento, o traçado implacáveldas contradiçõesque opõem â sociedadea seusideais.Retomando nossofio, trata-se dum modelo narrativo em cuja matériaenttam necessariamente as ideologias de primeiro greu - ceftezesÌais como a igualdade, a república, a força redentorade ciênciae arte, o amor romântico, mérito e carreirapessoaÌ,idéiasenfim que na Europa oitocentistasustentamsemdespropósitoo valor da existência.16 Neste sentido, o tomance realistafoi uma grande máquina de desfazerilusões.Para compreender-lhea importância é preciso vêJo em con.junto,em movimento, atravessando fronteirasnacionais,desrespeitando a hierarquiados assuntos:uma a uma vai desdobrandoas convicçõesmais carasâo seu tempo, as combina àsfiguras mais fortes e dotadas, e deixa que sequebrem - ao longo do enredo- contra a mecânicasemperdãoda economia e dasclasses sociais.Daí o pesointelectualdestemovimento, suâ postura audaciosa,amiga de verdade- retomadapor AJencar. Eis o nossoproblema que torna: importávamosum molde, cujo efeito involuntário é de dar àsidéiasestatutoe horizonte- timbre, energia,crise- em desacordocom o que a vida brasileira lhesconferia.Ou, do ponto de vista da composi@o:semcorrespondênciana construçãodaspersonagenssecundárias,respon- 16Para exemplo leiam-seaspáginasde Lukács sobre o papel do Romantismo no romance realista.Sendo uma ideologìa espontâneado inconformismo anticapitaÌista do séc,XI)í, a visâo romântica era matéria de romance por assim dizer obrigatória; ideologia de personagense clima liteúrio, que o enredo desrroça. Ci "Búac, crítico de Srerà\al", op. cit . 53 Ao v€nc€dor8s balatas A importaçãodo Íomancêe suas contÍadiçõesem AlencaÍ sáveispela cor local. Que diria a estasfiguras, interessadassobretudo em arranjar a sobrevivência,o discurso universalizantee polêmico de Aurélia? Veremos como a própria audáciarealista,nestas circunstâncias,terá transformadoo seu sentido. Para outro exemplo, considere-seo "maquiavelismo" de Aurélia, a desenvolturacom que ela sebeneficiada engrenagem social.A moça, que tivera a sortede herdar, enoja-sea princípio com a venalidadedos rapazes.Depois, pensandobem, faz um plano e compra o marido de seu coração.A vítima do dinheiro vai à suaescola,e confialhe finalmente - aosseusmecanismos odiosos- a obtenfo da felicidade.Álinha assimno campo ilustre dascriaturas"superiores",que escapamao império de fonuna e carreira na medida em que alcançaramcompreendêìo e manobrar em proveito próprio.  seu tempo e em seu lugar estas personagens,de que €stá cheia â ficÉo realista, foram figuras da verdade. Livravam-se de tradiçóes envelhecidas,não eram enganadaspela moral, e pagavama sua clarividência com o endurecimento do coraSo. Traa-se de uma situa$o básicado roÌÌìence oitocentista: as veleidades emorosâs e de posi$o social, propiciadas pela revolu@o burguesa, chocam-se contra a desigualdade, que emboratransformadacontinua um fato; é precisoadiálas, calcular,instrumentaliz:r a si e aosoutros... para únal descobrir, quando riqueza e poder tiverem chegado,que não está mais inteiro o jovem esperançoso dos capítulosiniciais.Com mil variações,estafórmula em três tempos serácapital. Entre os ardoresdo princípio e a desilusãodo fim, sempreo mesmo interlúdio, de vigênciairrestritados princípiosda vida moderna:a engrenagem do dinheiro e do interesse"racional" faz o seu trabalho, anônimo e determinante,e imprime o selocontemporâneo à travessiade provações que é o destino imemorial dos heróis. Sãoasconseqüências,na perspectivado individualismo burguês, da generalizadaprecedênciado valor-de-roca sobre o valor-de- uso - também chamada alienafo - a qual se transforma em pedra de toque para a interpretat'o dos r€mpos. Efeito literfuio e pressupostosocial desseenredo, do momento de cáculo que é a sua aÌavanca,estáona autonomia - sentida como coisificação, como esfriamento- das esfereseconômicae política, as quais parecemfuncionar separadasdo resto, segundouma racionalidade "desumana", de tipo mecânico. Paraa economia a causâestá no automatismo do mercado,a que objetos e força de trabalho estãosubordinadosao mesmo dtulo, e que do ponto de vista do mérito pessoaÌé uma arbitrária montanha russa.Quanto à política, no período histórico aberto pelo estadomoderno, conforme ensinamento de Maquiavel, assuasregrasnada têm a ver com normas de moral. Nas duas esferas,como também na da carreira, que em certo sentido é intermediária, a vida social vem afetada de sinal negativo e implacável, e é em conÍlito com ela que alguma misa se salva.lT Esta, e não outra, é a paisagemna qual tem poesia o descompromisso romanesco, às vezess<altante, às vgzessinistro, entre indivíduo e ordem social. Solitárias e livres. um desígnio atrás da testa, aspersonagensde romance planejam os seusgolpesfinanceiros,amorososou mundanos. Uns triunfam pela inteligência e dureza,outros pelo casamentoou pelo crime, outros ainda fracassam,e finalmente existemos simbóli- 54 17"É somentecom o séc.XVIII e na'socicdadeburguesa'que asdiferentes formas do relacionamento social se deparam ao indivÍduo como scndo simples insüumcntos para a consecufo de suasfinalidadcs priladas e como necessidade er<terna."I( Marx, "EìÃeiung", in Grundrisscdtr Kitik dct poütischcn Oehonozla, Frankfun/M., EuropaeischeVerlagsansta-lt,s.d., p. 6. Cf também G. Lukács, Dic Tbcoie &s Romans,Neuwied, Luchterhand, 1962, e Gcschichteund KbscnbcunsstsciaVerke, vol Il, cap. 4; Lucien Goldman n, Pout unemciologicda mma4 Gdlimerd. 1964. Ao venc€dor8s batatas cos, que fazem Ìrm pecto com o diebo. Em todas uma cena grandeza,digamossatânica,vinde de sua radica.lsolidão e do firme propósito de usar a cabeça para alcançar a felicidade. Mesmo Seixas,um neto atenuado de Rastignac,fz um cálculo dessetipo: tratam-no como mercadoria?aceitao papel,e com tal rigor, que Aurélia exasperadae finalmente derrotada pela sua obediência acabaimplorando que ele volte a se comportar como um ser hurnano. - Em termos de nossoproblema: sãofábulasque devem a sua força simbólica a um mundo que no Brasil não tivera lugar. Sua forma é a meúfora tácita da sociedadedesmitologizada(entzaubm, na expressáode Max \üeber) e mistificada que resulta da racionalidade burguesa, ou seja, da generalizac$oda troca mercândl. Issoposto, só em teoriadá-seo confronto direto entre uma forma literáriae uma estruturasocial,já que esta,por serâo mesmo tempo impalpável e real, não comparece em pessoeentre as duas capasde um livro. O fato de experiência,propriamente literário, é outro, e é a ele que a boa teoria devechegar:estáno acordo ou desacordo entre a forma e a matéria a que se aplica, matéria que esta sim é marcada e formada pela sociedade real, de cuja lógica passaa ser â representante,mais ou menos incômoda, no interior da literatura- É a forma desa matéria, portanto, que vai nos interessar,para confronto com a outra, que a envolve. Quais então estesembriões formais, que assegurama fidelidade localista e contÍastam :rscertezâsem que assentao modelo - que imiúvamos - do românce europeu? Falávamos, páginas atrás,de um "tom mais desafogado".Voltemos ao problema, a propósito agora do enredo, - A parte inicial do romance, chamada "O Preço", termina em suspensee clímax, na noite mesmado casamento:Seixas"modulava o seucanto de amor, essa ode sublime do coração", quando Aurélia o interrompe e lhe declara,de recibo na mão, que ele é um 'homem vendido". Frente 5b A importação doromance e suascontradições emAlencâr a frente "ascastasprimíciasdo santo amor conjugal" e os intoleráveis"cem contos de réis" do dote. Nos limites do primarismo vibrante que a ideologia românúca havia consagrado,não podia estarmaiscarregadoo antagonismoentre ideale dinheiro.lSFim de capítulo. Já a segundaparte abre singela e descontraidamente, noutro registro, muito beneficiada pelo contraste. Volta atrás no tempo, a fim de contar a história de Aurélia e de suafamília, das origensmodestasaté a herançade mil contos. Saímosda esfera elegante, a cena agora é pobre, de bairro ou de interior. Como seveú, ashistórias aqui - subenredosque não chegam a determinar a forma do livro - sãode outra espécie.Pedro Camargo por exemplo é filho natural de um fazendeiro abastado,a quem teme mais que e morte. Vem à Corte para estudar medicina. Gosta de uma moça pobïe, não tem coragemde contar ao pai, casacom ela em segredo- que foge de casa,pois também na família dela há oposifo, já que o rapaz náo é Êlho legitimado e pode não herdar. Do cesamentonascemAurélia e um menino de "espírito curto".19Semprecom medo de confessarao velho, volta o estudante à fazenda, onde acaba morrendo. Deixa mulher e filhos no Rio, na posiçãoequívocada família sem pai conhecido, As mulheres costuram para viver, o filho vira caixeiro ctc. Observe-se,neste sumfuio, que embora estejampresentesos elementos do romance realista, a diferença é total: nem o avô de quem Aurélia irá herdar a fonunx mxi5 xdixnls - faz figura detestávelpor ter filhos naturais, nem o filho é condenado em nome do Âmor que não moveu montanhas, ou da Medicina, que não erauma vocação,nem a suamulher é diminuída por ter desrespeiado família e conveniências,e nem a família dela, que afind tBSmhotapp. |.026,1.028-9. le ld.n, p. 1.038. Ao vencedoras batatas A impo.taçãodo romancêe suas contradiçõesem Alencar de contasera pobre e numerosa,pode condenar-seporque não incorpora um estudantesemtostão.Noutras palavras,amor, dinheiro, famllia, composture,profissão,não estãoaqui naquele sentido absoluto,de sacerdócioleigo, que lhes dera a ideologia burguesa e cuja exigência imperativa dramatiza e eleva o tom à pane principal do livro. Não sãoideologiade primeiro grau.As conseqüênciasformais são muitas. Primeiramente baixa a sua tensão,que perde a estridêncianormativa, e com ela a posi$o central, de linha divisória entre o aceitávele o inaceitável.Não sendoum momento obrigatórioe coletivo do destino,o conflito ideológico não centralizaa economianarrativa,em que irá fazer figura circunstancial,de incidente,Nem permite o amígama de individudismo e Declarafo dos Direitos do Homem, de que depende, para a suavibração,o enredoclássicodo romancerealista. As soluçõesnão sáode princípio, mas de conveniência, e conformam-se à relaçáode forças do momento. furanjos que no mundo burguês seriam tidos como degradantes,nesta esferasão como coisasda vida. Note-setambém o caráterepisódicoda história, a dispersãode seusconflitos, que de fato supõem a mencionada distensão,sem a qual a poesiado andamento errático, táo brasileira,ficariaanuviadade moralismo.Paraa prosa,resulta que a suaqualidadeliterária não seráda ordem da força crítica e do problema, mas antesda felicidadeverbal, de golpe de vista, de andamento,virtudes estasdiretamentemiméticas,que guaÍdam contato simpático e fácil com a fala e asconcep@estriviais. Uma frrgade acontecimentos,evocadacom arte e indeÊnidamente prolongável, que vem desembocar nalguma coisa como o repertório dos destinossugestivosn€stemundo de Deus. Estamos próximos da oralidadee talvezdo "causo", estruturamais simplesque a romanesca,masafinadacom asilusões- tambémelas individualistas- de nossouniversosocial.Um complementoliterário da predominânciaideológicado favor: a falta de absolu- tismo nasnormas reÍlete, sepodemos dizer assim,a arbitrariedade do arbítrio, ao qual é precisose acomodar.Daí o encantopara modernos desa maneira narrativa, em que osAbsolutos que ainda hoje nos vampirizam a energia e o moral aparecemrelativizados, referidos que estão ao fundo movediço e humano - repetimos que ilusório - dos arranjos pessoais.Para conceber enfim a distância ideológica transposte neste mudança de registro, digamos que ela corta ou dá circuito, como um comutador, nada menos que ao fetichismo próprio à ciülização do Capital; - fetichismo que isolae absolutizaos chamados"valores"(Arte, Moral, Ciência,Amor, Propriedadeetc., e sobretudoo próprio valor econômico), e que ao separáJosdo conjunto da vida social tanto os torna irracionaisem substância,quanto depositários,para o indivíduo, de toda a racionalidade disponível: uma espéciede fisco insaciável, a quem devemose pagamosconscienciosamentea existência.20 5õ 20 Para a consrrufo do contÍaste entÍe narrativa pré-capitalista c romance feita sobre o fundo da transiçáo do artesanatoà produção industrial, transição que não é a brasileira - vcja-seo admirável ensaio de \íalter Benjamio sobre o - narredor,in Schifien, vol. II, Frankfun/M., Súrkamp, 1955. Idealmcntee artiscando, digamos que o "causo" submete à experiência de seusouvintes, e à t!adifo em que estesseeotroncam, a simplicidade inesgoúvel de uma ancdota. Experiêncã e tradifo compostaselasrambém de anedotas,àsquais a mais rccente, mal foi contada, já csú seincorporando. Uma história, destacadacom habilidadc sobrc o fundo vfuio do reperrório que compõe a sabedoriacomum, eis a poesia dcste gênero - de quc cstá banido o conhecimento conceitual, o conhecimento que rúo tenha caufo vivida ou ttadução noutra anedota. O contrário do que se passacom o romenc€, cujasaventurassáoatravessadas e explicadaspclos mecanismosgeraismascontta-intuitivosda sociedade burguesa:a poesiadesreesrána conjunção"moderna"e artisticamentedifícil de experiênciaviva, naturalmentea fim do esforçomimético, e do conhecimentoabstratoe cririco, referidosobrerudoà 59 Ao vencedoras batatas A importação do romance € suascontradições emAlencar Um só romance, mas dois efeitos-de-realidade,incompatf veise superpostos- eisa questão.Áurélia saifora do comum: seu trajeto irá sera curva do romance, e assuasrazões,que pata serem sériaspressupõema ordem clássicado mundo burguês,são transformadas em princípio formal. Já à volta dela, o ambiente é de clientela e prote@o. O velho Camargo, Dona Firmina e o Sr. kmos, o decenteAbreu e o honestoDr. Torqtrato, a famíia de Seixas, as facilidades que este encontra pan ananjar sinecuras-, são personagens,vidas, estilosque implicam uma ordem inteiramente diversa.Formalment€,o privilégio câbeà ordemdo enredo.Ârtisticamente,taÌ priülégio náo semateriaÌiza,pois Álencar não formaldosvaloresburgueses completaa preeminência com a críticada ordemdo favor,de queé admiradoÍe amigo.Assim,a forma não só ficasemrendimento,comoé restringidaem suavigência:o sinalnegativoque por lógicâe aindatacitamenteela aporie à matériade que diverge,é desautorizado,contrabalandzpressupoxos inçâdopelasboaspalavras.Ora, o reaezzmento eomPatlaeis qrcbrd a esPinhd àfrcção.Uma basedissociada, a que predominância social do valor-de-troca e às mil variantes da contradição entre tuta romântica, cle combina a veia popular autêntica ao romantismo moderno e igualdade formal.e desigualdadereal. A durezae a conseqüêncialógice esúo entre ftstaarutito d^ evoa d,o.,cujo ritmo respirado e largo consttói a simbiose de me- assuasmarcasde qualidade. Digamos portanto que no romanceo incidente é atra- ditafo e espontaneidade- a ligaçáoprofunda e natural com naturezs e comunidade, Êngida na postura "visionfuia" * que é a poesia da escolae o sentimento vessadode generalizafo, masque a suageneralidadeé referida a um tipo panicular de sociedade,ou melhor, a uma etapahistórica da mesma,cifrada no conflito central. Já no causo, o incidente é puro de explicafo, e no entanto vai inscrever-se - a despeito de seu total localismo - no tesouro a-histórico e genérico das motivaçõese dos destinos de nossaespécie,vista segundo a idéia da diversidade dos homens e dos povos, e não da transitoriedade dos regimessociais.O causocontri- do mundo que ela opõe à sociedadeburguesa.Em estadopuro estesegundo movimento da imaginação encontra-x em lracem4 onde jamais o mundo evocado sedeixa estarna disúncia indiferente da objetividade. Frasea Êase,ou pouco menos, a imagem esú sempre passando,aproximando-se, desaparecendoao longe, compensandooutra anterior, no espaço,no tempo, na afeifo * mobilidade "ins- bui para uma casulsticadassituaçõeshumanase dastradiçóes tegionais: servepara desasnare úvertir, fortifica e ajuda a viver a quem o saiba ouvir. Enqu,rnto o ro- pirada" que desfaza escleroseda objetividade pura e rcstitui o elemento interessa- mance, que pelo contúrio só desilude, tem compromisso corn a verdade sobre a e a bela descrifo inicial de O tonco da ìpê.Grardadas asproporções, é o ritmo da vida mrma formafo social determinada, e fu pane de um movimeoto de crítica grande medita$o romântica, em que à custa de silêncio e intensidade mcntd a mesmo quando não o queira. Forma histórica entre todas - complexidade do muodo é apreendidae retid4, para recompor-se- à qual se incorpora livremente o conhecimento dito cientÍfico, em especial de história, psicologia e do e paìpitanteem memótà e percepfo, Nestesenido vejasn-seta:l:bérn O gu*ani de plenitude e darezaexaltadas- em minutos segundoa ordem fluente, não-mutilada, da ima- o romance pôde ginafo. Note-se porém nestasvisões, por afitmativas que sejam, nos poetas in- barar até certo ponto, entrc nós, a Íiguração literária do pais. Eis o paradoxo. glesesou em Hôldedin por ercemplo,que é sempre irreal o mundo que compõem Enquanto o causo, incomparavelmente menos diferenciado e banhando no cau- - economia, além da intenfo do retrato de épocae de denúncia - dal quaseeterno e inespecíficoda narratila oral, combina a concepçãoa-histórica o mundo instável e fremente da visualizaçãogovernada pelo sentido interior cuja plenitude "dwolve" aoshomens o sentimento da naturezae da vida que a e o apreço desimpedido pela reproduçáo da circunstân- sociedademoderna lhcs teria tomado. ÁJ uma diferença importante: e nârurezâ cia, que lhe permite urn realismo que entre nós o Realisrno de tradiçáo literária alencarina tem muito disso, é efetivarnente repassadade nostalgia, mas por ins- não só não alcançara,como dificultava. No entanto; é claro que ÁlencaÌ rlão é um contador de causos,já porque escreve.Por uma desrx falsidadesfelizesda litera- tantes lhe acontecede ser a paisagembrasileira e mais nada. Onde os românticos, 60 ôl - os enleios da vida - polemizando contra o seu tempo, imaginariamente repristinavam percepção e emAlencar € suascontÍsdições A importação doromancs Ao vsncedoÍ as batstss irão corresponderno plano literário a incoerência,o tom postiço e sobretudoa despropor$o.Seem Balzacosmedianosolham medusadospaÍa os radicais,que sãoa suaverdadeconcentrada - os "tipos", de que fala Lukács- em Álencarolhem com espantoparaÂurélia,cujaveemênciaparecedespropósitoa alguns, graciúa desalaa ouuos,literaturaimporada aosdois.O aspecto programáticodos sofrimentosdela, que lhes deveriaavalizate dignidademais que pessoal,faz efeito de veleidadeisolada,de caprichode moça.Ora, amor, dinheiro ou aparênciasnão sen- do absolutos e exclusivos, nada mais razoável que levar em conta os ffês espectos,e maisoutros, na hora de câser;o conflito que e sem natural, Idem Perâe Proos ebsolutizaparecedesnecessário E m€smo do Ponto de vista da coerênsa, que perecee)€gerada. cia linear haverá dificuldades, pois embora sejaboa moçâ, compassi e desprendida, Aurélia despedechispas de fulgor satânico e aplice rigorosament€ â moral do contrato. Alguém dirá que é a dialética,Shylock e Portia numa só personagem.Não é, pois sehá moyimento enüe os termos,movimento atévertiginoso,o naturcza, Álcncer contribui para a glória de scu paÍs, centando-lhe a paisagcme lcsc quc cootraria em tudo a tcndência do século, cm que os três qucsitos briga_ vam entre si, como continuam brigando, Ainda uma vez o excmplo scrá Balzac,A sua postura visionária, cnsaiadac nem scmpre convincente, aPÍcscnta_sacomo e ensinando os patrÍcios a vê-la. O sonilégio romântico scrvcJhc de fato para vdorizar a sua tcrra, c não para rcdescobrila contra os contcmporâneos mcnos senslvcis. Asrim, a craltafo romântice da naturcza vcio a pcrdcr entre nós e sua força ncgatiwe,c acrbou Êrando o padráo de nossopatriotismo cm matéria dc paisegcm. O prcsúgio duma escolaliterfuia modcma consagrevea tcrre, que outros considcravarn rudc, c a dcscobcrtadc nossatcrra consagnwae vcrdadc da cscolaütcúria (A. Candido, op. cia, vol. II, p. 9). Com grandc satisfaçãoc sensode progrcssoas nossasclitcs puúam-se crn dia com o sentimcnto quc manda desesperarda civi- fuuldadc "genial" de abarcar numa ú mirada do cspírito e Frença do czpitd; de auscultarlhe o moúmcnto complcxo a panir de quelquer dctdhc sugcstivo, dc fantasiar livremente a seu rcspcito, sem prejuízo dc scmpre dizer verdadcs relas, Ênais, originais etc.  natureza do assunto, contudo, atrepalha; a intimidadc rc_ flexiva com o mundo burgu& só e custo susteotaum clima de mcditaçáo - transeçócsnão úo púagens ncm dcstinos - dondc a ocasional imprcssão dc que o lizafo. É o quc sechama scr um jovem pú. Dal a supcrposifo úo csquisita em titanismo visionário dc Balzac é também um descomunal impulso fofoquciro. hacoxa. dc pocsia da disúncia, que doura de rom.ntismo os nomes Indios e os Álcncar, que procura a mcsma atmosfera,tcm bons resultadm quendo é rarrogzcrr'aa dcixando suspensoo cooflito de primeiro plano (em que não é fcliz), volta acidcntes çográficos, e dc intcnfo propriamcntc informatira e propagandística nismo, ou nostalgia e cartão postal, combinação rccupcrada em veia humorística, atrás para traçar, das origcns, a história dc um de seuselcmentos, o quc faz com olho seguto, interessantcc cconômico, e também poético. Vejam-sc além da his- e ú então vcrdadcira, na pocsia inicia.l dos Modernistas. Em verúo ignóbil, pois destituÍde dc inçouidade, r confi.rsãode paníso c peís cmpírico - a "mcntirada rória prévia dc Aurélia, a dc Scüas e o cap. lO, perte I, de O tmnco do ip4. Br*c c informativo por definifo, o rctrospccto limita . ÍeÍlexão ideológicâ da pcnona- çntil" dc quc frleweMário dc Andredc - hojc dimcnta r propagandaoâcid, Sejacomo for, o sopro da mcditafo romântica chcgou tarnbém até o romancc çm ou do narrador - quc prcjudica o romance urbano e problcmático - e as avcnturas descabeladas- quc prcjudicam os livros mais avcnturosos. É rca.lista por definição: e sua rcgra é o cncadearnentoclaro e sugestivodos atos, com vistas - supcrposiçáoque dá margem a uma zona dc indifcrença entre lìteratura e ufa- rcalista, cmbora diluído pela prosa cxtensac concariado pclo assunto mundano. Em lugar da naturyzae do vilarcjo, a totalidade descnvolvidado mundo social:para ofercccro cquilalente da plenirude contemplativa do poco, o mmancistaobriga-se a fundir cm sua prosa a neccssáriamassadc coúccimcntos fatuais, a sua claboncão analítica c crítice. e finalmcnte o movimento dcsimocdido da reÍlexão- 62 sín- na situaçáoque estiverane origcm do fzsh-back Rcsulta uma figurafo mais tranqülla, interessada na descÍiÉo, c não na cÍítica. das forçasque iÉo pesar.É uma solufo cm quc brilham o tâlcnlo mimético, a cultun brasiÌeirac a visão de con_ junto de Alcncer, ao mesmo tcmpo que se minimizam os efeitos desenconcados Ao vsncedoÍ as bôtatas A importaçãodo romancss suas contradiçõesEm AlencaÍ processonão os transforma - Alencar adere aos dois, a um por sentimentodos costumes,a ouüo por apreçopelamodernidade, que saempuros do livro, tais como entraram.Veja-seainda neste s€ntido o peso inceno das reflexões desabusadasde Aurélia: setêm Ìezãode ser (como teriam, sea suaforça formal fosseefetiva), assenhorasqu€ não gostam,porque asachamimpróprias, deveriam fazer figura de hipócritas; mas não, são boas mães.Já os rapazesdo tom, que acham picante e não se ofendem, sáo acusâdosde insensibilidade moral, Seixaspor suavez, que romanticamente aceitarahumilhar-se a fim de reaver o apreço da amada, no final aDresentaentre as razõesde sua obediência...a ho- norabilidade comercid, rev"alorizandoassimo nexo mercantil cuja crftíc é a razãode ser do enredo.2l Paraver o estragocausado no próprio tecido dâ prosa,estudem-seas páginasde abertura. como eleA boa sociedadefluminenseé referidesucessivamente gante,atrasadae vil, semque sejaassinalada a contradição.Também o narrador náo é sempreo mesmo. Ora fala a linguagem conivente do cronista mundanó, ora fala como estudioso das leis do coraçãoe da vida social,ora é um duro moralista,ora um homem evoluído,ci€nte do provincianismobrasileiro,ora enfim é respeitador dos costumesvigentes. Áfinal, para uso do romance, a verdadeonde estará?E no enranto, um pouco de autocrÍticae humor transformariam estaincoerência dos juízos, que severificâ de frasea frase,na inconstância abissalda narrativa machadiana. De modo maisingênuo,desarranjossemelhentes aparecem n'A pata da gazelae em Diua. Neste segundo livro, que começa com greça, o climâ geral - co111ssÍn $snhs74- é família, de melindres,festinhase namoricos.No entanto o enredodispara: os denguese acanhamentosda heroína,comuns e convincentes de início, úo aumentâdosaté o descâlabro,e venidos para a mais descombinadae exaltedâreÌóricâ românÌica, da pureza,da dúvida e da desilusãototais, tudo acâbandoem casamento.Entre a banalidade da vida sociâl e a movimentaÉo do enredo, um abismo. Não falam da mesmecoisa.Ainda assim,sempreaquém do nível que só a coerênciaartísticadá, a intriga guardacertaforça: o seu andamento tem algume coisa crue e d€scârada,a despeito do conformismo, algo das ficçõesviolentas,prolixas, cheiasde castigosdeliciosose Íiunfos abjetos,com que a fantasiahumilhada compensaressentimentose ince Ítezasdayida.N'A ?ata di de nossavida ideológica. Recursoocgsionalem Sazlora, esteandamcnto é central em Tile O tmncodo ipl, os romancesalencarinosda fazenda.Sãolivros de intriga abstrusa,ligada a uma noéo subliterárà do destino e da expiafo das culpas, noção quc no €ntento vem aliçirarJhes a prosa,à mancira do que vimos paÍâ o fash-bacÉ. Emlugar èa complexidade ânâlltica dos problcmas, a forg do destino. Nos dois esos ttata-sc de ricos Êzendciros, que deverão pagar em detalhe os esquecidos malfeitos da juventude. No entanto, quando sobc à cenae seabatesobre os monais, o peso de suacúpa coincide em larga medida - e r,antajosamentecom o peso do passado,com o cncadearnento e a purgafo dos antagonismos objetivos do mundo da 6zenda: filhos ilegítimos, escravosenlouquecidos de pavor, propriedadessubtraídas,capangase assassinatos, incêndios,superstição,levantes na senzalaetc. biarn-se, em ?'id os capínrlos cm volta do incêndio (panc ÌV, cap. I-X), para ter idéia de força e amplitudc dcstc movimcnto. É diás na unidade de fôlego de seqüênciaslongasc variadas,como cstaa que nos referimos, qu€ seâte3ta a força tomântica, "subjetiva", do narrador. É aI também, na prestczâcom qu€ lhe acodemaspalavrase asimagcnsestáausente- prestczade quc nem sempreo besrialógico qüc â di@o dc Alencar convergecom a fala comum, pré-literária. O andamcnto novelesco,por sua vez, decompõem-seem episódios brcves,compaúveis com a narrativa de tradição popular. Á mim, em matéria do que poderia ter sido, pareceque sãocstcsdois os seusmelhores livros. 64 21 Senhor4p. 1.203. Ao vencedor as batatas A importaçãodo romanc6s suas contradiçõesem Alêncar gazelaa desproporçãoresulta do percurso contrário: em lugar da monum€ntelizaçãoromântica de conÍlitos pequenos,assistimos ao esvaziamentoaceleradoda situação romântica inicial, que no entanto é o elemento de interessedo livro. Hoúcio, devassoleão da moda, é oposto a Leopoldo, rapaz modesto por fora e iluminado por dentro, a ponto de ter os olhos fosforescentes.Diz o primeiro ao segundo: "tu amaso sorriso, eu o pé", o que é figurado e literal.22De fato, materialismoe fixaçõesproibidas confrontam-secom o amor dasbelezasmorais- a propósito do pé. Seesteé bonito, a Horácio não importa a dama;já Leopoldo, se esta lhe fale à alma, casacom ela ainda que o seu pé seja um "aleijáo", uma "pata de elefante","cheio de bossascomo um tubérculo", "uma posta de carne, um cepo!".23Entretanto, aos poucos e componente perversae cruel é desarmada,deixando o círmpo ao contraste bem comportado, de seguro desenlace,enüe o moço frívolo e o moço sincero. Insensivelmente,e nem tanto, o assunto passaa ser outro. A insolência do conflito ideológico é como uma viga falsa, que prende a l€itura mas não sustenta, em última análise,a nerrativa. Não sendo metáfoÍasda totalidadesocial,perversão,vida mundana, tédio, alfaiatese sapateirosda moda reduzem-sea chamariz,superpostossemmuito disfarceà falta de prestígiode nossarotina brasileirâ.Não que estafossedesprovida de profundidade - como adiante severá, com Machado de Âssis. Mas seria preciso construi-la. Por agora, estamosde volta ao quadro que já estudamos:o tom da moda confere modernidade e alcanceà narrativa, que no entanto o desqualifica; nem é necessário,nem é supérfluo. Ou melhor, é necessfuiopâÍa to tnat a?rêsentáuel24 a literatura narrâtiva,mes fica descalibradoquendo s€tratâ de incorporar a ela o elemento local.Mesma coisaparao confliÌo dasideologiasmorais,que ora é audaciosoe grave, à la Balzac, ora é superfetaçãopura, àsvezes intenciond e humorÍstica, às vezesinvoluntária. Desnecessário dizer que a cadaguinada destassedesmanchaa credibilidade do contento anterior, que se vinhâ tecendo. Os salvadosliterários, que são bastantes, também aqui devem-se à garra mimética do Autor, que sobreviveàs incongruênciasda composiSo. A própria questão do pé, legitimada para asletras pelo temário satâni co do Romantismo, vem a funcionar numa faixa inesperada, mesquinhae direta, mas viva, a exemplo do que vimos para o andamentode Diaa É origem não só de um debateinsípido enue alma e corpo, como também de refler<õesmais íntimas e espontâneas,traduzidas por o(€mplo nos nomes dados ao defeito físico ou na maneira pela qual a sua descoberta afeta o namorado. Por entre asgeneralidadesfiltra alguma coisa de mordente, que faz pane duma tradição de nossaliteratura, a tradi$o - se podemos dizer assim- do instante cafajeste,reflexivo nalguns, neturâl em outros. Paradocumentála, sejam lembradoso episódio das hemorróidas n'A moreninhade Macedo; a sensaéo esqúsita do herói de Cinco rninutos, ptimeira história de Alencar, quando consideraque a passageiranoturnâ e velada, em cujo ombro colara "os lábios ardentes",nos fundos de um ônibus, talvez fossefeia e velha; os terríveis capítulos de Eugenia, a menina coxa"Ías Memóriar póstamasdz Brás Cubat a m'ltidío àas gtosseriasparnasiano-naturalistas,combinaSo que em si mesma 24Expressãoe problema são sugestôesde Álexandre Eulálio, que vê a dic22 Obra completa vol. I, p. 65023ldm, pp.608 e 652. çãodeAlencar como um rcarranjo da prosa.jurídico-política dos grêmios estudanris paulistanos, a qual não deixaria nunca de vincar a sua prosa de ficção. 67 Ao vgncedoÍ ss batstas já tem algo cafajeste;e em nossosdias aspiadasde Oswald, a podridãoprogramática de NelsonRodrigues, o tom mesquinho de Dalton Trevisan,alémde umalinha maciçae consolidadade múica popular. A fic$o realistade Alencaré inconsistenteem seucentro; masa suainconsistênciareiteraem forma depuradae bem desenvolvidaa dificuldadeessencial de nosa vida ideológica,de que é o efeito e a repetiSo, longe de ocasional,é uma inconsistência subsanciosa,Ora, repetir ideologias,mesmoque de maneira concisae viva, do ponto de üsta da Tmria é repetirideologias e nadamais.Já do ponto de vista da literatura, que é imitação - nesa faseao menos- e nãojuízo, é meio caminhoandado. DaÍ à representaSoconscientee criteriosavai um passo.Embora tenhamosinsistidonum ladosó,o resultadode nossaanáliseé, poranto, duplo. Passemos a seuladopositivo.O próprioAlencaÍ terásentidoalgumacoisado queprocuramosdescrever nestaspáginas.Expficando-sea propósito de Scnhorae da frgurede Seixas,que fora criticadapor seupoucorelevomoral, respondeque "talhaosseuspersonagens no tamanhoda sociedade Íluminense", e gaba-lhes"justamente[...] essecunho nacional"."Os teuscolossos",diz Alencar ao seucrítico, "nestenossomundo (brasileiro) teriam aresde conviüdos de pedra".25Ora, tudo esú em sabero que sejaessamedidadiminuÍda, esse"tamanho fluminense"em que sereconhecea marcado país.Porqueserámenor, sobpenade parecerfantasma,um arrivistafluminenseque um francês? Tomando a questãode maisperto, note-seque a estatura dos heróis alencarinosnão é estável.Sãomedíocres?de exce$ol Ora uma coisa,ora outra. Oscilamentreo titânico e o familiar, conformeâsexigênciasrespcctivasdo desenvolvimen- doromanco o suas contradiçõEs emAlEncar A imponação localista.ÁssimAuto dramático,à européia,e da câÍacterização rélia,quevive no absolutomaisexaltado- lascivacomo uma sdamandra,cantandoáriasda Norznaem voz bramidae esmagando o mundo "como um répúl venenoso"26- petgot t" " Dona Firmina seé mú bonia que a Amaralzinha,suacompanheirade festas2T; logo adiante,parasublinharlhe a lucidez,eloMesmacoisacom giam-seosseuscoúecimentosdearitmética28. Seixas,que parafins românticosé "uma naturezasuperior"e "predestinada",29 e no maisum rapazcomoosoutros.Em Diva, a Medicinaé um sacerdócio,maso doutor passao tempo namorando uma meninaingtata.3oTambém o heterodoxoadorador de botinas,em A pau dz gazcfucedomostraserum moço respeitoso,quesente"efusóes de contentamento" quandoo pai da amadalhe oferecea casa.3lNa verdade,portanto,o "tamanho fluminense"resula da alternânciairesolvida de duasideologias A suacausa,voltandoaosnosos termos,estánavigência diversas. que dnham no Bresilas prcjudicada,por assimdiz:r esvaziada, pelo mecanismode nossaestruideologiaseuropéias,deslocadas tura social.Isto quanto à realidade.Quanto à ficção,é preciso deÂlencar,distinguir entrecontomaÍ com reservaa expressáo cepSoconstrutivaejustificaçãodeum efeito,istoé,entreosgreus de intenÉo, Já vimos que não felta exremismo a estasfiguras - ao contúÍio do que diz o seuÂutot - particularmenteem '- Jantt,fq P.2)). 27ld.rrr,p.959. a I&n p.968. zeI&n, p. | .051. to Dirr, p. 527. 25 Em notz znqa t Scxhoq p- 1.213. 68 3rApaa dzgeda, p. 609. 69 Ao vencedor as batatas Senhor4 o quelhes qualifica a estatura, em prejuízo da grandeze almejada, é a rede das relaçõessecundárias,que abala o mérito e o fundamento ao conflito cenual, que sai relativizado.Daí o efeito de despropoÇo, de dualidade formal, que procuramos assinalar e que é o resulado estético desteslivros, e também a sua consonância profunda com a vida brasileira. Apagada no primeiro plano da composi$o, que é determinado pela adoção acrítica do modelo europeu, a nossadiferença nacional retorna pelos fundos, na figura da inviabilidade literá ria, a quc Alencar no entanto reconheceo mhito dt semelhanç^ Assïm, o tributo pago à inau, tenticidadeinescapávelde nossaliterarurâé reconhecido,fixado e em seguida capitalizado como vantâgem. Estâ a rrensi@o que nos interessaestudar, do reflexo involuntário à elaboraçãoreflexiva, da incongruência para a verdade aftístice. &tamos na origem, aqui, de uma dinâmica diversa para a nossa composi$.o romanesca-Note-se portanto o problema: ondevimos vm d$ein dz composição,Nener vê tm accrto dz imiuçao. De fato, a Êatura formal em que insistimos, e que Alencar insistia em produzir, guiado pelo sensodo 'tamaúo Ílumincnse", tem ortraordinário vdor mimético, e nada é mais brasileiro que estaliteratura mal-resolvida. A diÊculdade, no caso,é só aparente:em toda forma literária há um aspectomimético, assim como a imitação contém sempre germes formais; o impasse na construt'o pode ser um acertoimitativo - como já vimos que é, nesteqìso - o que, sem redimi-lo, lhe dá pertinênciaartÍstica,enquanto matéria a ser formada, ou enquanto metéÍia de reÍlexão. Veiamos em que sentido. - Alencar náo insiste na contradiçáo entre a forma européia e a sociabilidade local, mas insiste em pô-las em presença,no que é membro de sua classe,que apreciava o progressoe as âtualidades cúturais, a que dnha direiro, e apreciava as relaçõestradicionais, que lhe validavam a eminência- Não se trata de indecisáo,masde adesãosimultânea a rermosinteiramen- 70 A imponação doromsnc€ € suas contradiçõ€s €mAl€ncar te heterogêneos, incompatlveis quantoaosprincípios- e harmonizadosna pútica de nosso"paternalismoesclarecido".Esamos dianteduma figura inicial daquelamodernizâÉocons€Ívadoracuja história aindahoje náo acabou.32 É o problemade nossoprimeiro cepítulo, que reapeÌeceno pleno da literatura: onde a lógica destacombinaÉo, esdnixulamasreal?Assim, repetindo semcrltica osinteresses Álencarmanifesta de suaclasse, fato urn crucial de nossavida - a conciliaSo de clientelismoe ideologialiberal- ao mesmotempoque lhe desconhece a naturezaproblemática, razáopelaqual naufragano conformismo do sensocomum,decujafalsidade assuasincoerênciâs liteÍárias úo o sintoma.Noutraspalavras digamosqueformaeuropéiae sociabilidadelocal sãoromadastais e quais,com tâlento e sem reelabora@o. Frentea frente, no eJpaçoestr€itoe lógico de um romance,contradizem-sc em princípio,aopassoquea suacontradi6o naoé levadaadiantepor... sensoda realidade.Nem conciliadas,nem em gu€rrâ,não dão e referência,uma à outra, de que precisariampâÌadesmânchaÌa suaimagemconvencionale 32Gilberto Frcyrc rcgistta o problema, com finura quanto à suapermanência, com ccgueira de classequanto àssuasdificuldades, e sobretudo scm o mênor distanciarnento- a despcito dos quaseccm anosque sepassaram:"Dc modo que precisarnosestar atcntos a cssacontradiçáo de Alcncar: o seu modcrnismo antipatriarca.lnuns pontos - inclusivc o desejode 'cera emancipafo da mulher' c o seutredicionalismo nouttos pontos: inclusivc no gosto pela Íìgun cestiçamcntc br*ilein da sinhazinhadc casagrandepatriarcal". "É como seÂlencar,atravá dcssa Álice ao mesmo tempo tradiciondista c modernista, familista e individualista, tivcsseseantecipedoà tcntatiwedc rcnovafo da cultura brasileirasobrc bascao mcsmo tempo modernistac tradiciooalistaquc foi, cm nossosdias, o Movimento Regionalistado Recifc, ao lado do mais grandioso Modcrnismo de São Paulo, do qual anubém uma alasc csforçou pela combinafo daquelescontrários," G. Freyre, Josl dzAlarat No dc Janciro, Ministério da Educaçãoe Saúde,Os Cadernos de Cultura,1951,pp. 15,27-8. 7l Aovonc€dor asbatstas ganhar integridade artísricâ: a primeira fica sem verossimilhança, a segundaÊca sem imponância, e o todo é peco e desequilibrado. Todo, n6 s11ârì16- ç15a surpresa- em que há felicidadeimitativa, o 'cunho nacional"que levaAlencar a insistir na receita,a esabiliá-la para asnossasletras.para a tradiéo de nosso Realismo, é o seu legado mais profrrndo. Assim, falência formal e força mimética estãoreunidas.O leitor dá-seconta de oue ao dizêlo estamosrelendo o livro por outro prisma.A inconsistê.rcia agoraé vista não como fraquezaduma obra ou dum autor _ como repetiçãode ideologias- mas como imitaS.o de um as_ pecto essenciaÌda realidade. Não é efeito final, mas Íecurso ou ponto de passagempara outro efeito mais amplo. Traa-se de uma leirura de segundograu, que ,..up.r, p.r" à reflexãoa verdade nem semprevoluntária do "tamanho Íluminense".Note-setambém que o defeito formal é ingrediente, aqui, a mesmo tínrlo que os ingredientes que o produzem a ele, defeito. De forma a inconsistênciapassaa matéria. Tanto assimque em lugar da combinaçáode dois elementos- forma européiae matéria local que resultaprecária,temos uma combinaçáode três: o resultado precário da combinação de forma européia e maréÍia locel, que resultaengraçado.Substituindo o primeiro efeito, rebaixado a elemento, apareceum segundo, diverso e desabusado,cula graçaestánas desgraças do primeiro. É verdadeque seu rendimento intelectuale artísticofaz faltaquasecompletaem A.lencaÍ. ParaapreciáJo, serápreciso esperarpela segundafue de Machado de Assis.Não obstante,é a própria substância- a desenvolver - do "tamaúo fluminense". Em abstratoseriao seguinte:seo efeito desencontrado é um dado inicial e previsto da consÌruÉo, deveriadimensionare qualificar os elementosque o produzem, além de lhes redefinir as relações.Deveria relativizar a pretensão enfãtica do tem,ário europeu, redrar eo temário localista a inocência da marginalidade, e dar sentido calculado e cômico aos 72 A importaçãodo Íomanc6€ suas contradiçõesem Alencar desnlveis narrativos, que assinâlam o desencontro dos postulados reunidos no livro. O leitor esú reconhecendo, espero, a tonalidade machadiana.Tdvgz seconvençamais, levando em conta umâ questáo de escala:se a qualidede imitativa resúta da fratura do conjunto e Êaque.jaem suaspaÍtes, em que no entento se demora a leitura, estaserátediosa - como de fato é - e há erro de economia literária, Para aproveitar a solução, seria preciso concenúilâ, de modo a darlhe presençaa todo momento da narrâtiva;transformaro efeito de arquiteturâ em química da escrita. Ora, a prosa machadianacomo que dependeda miniaturizafo prévia dos circuitos do Íomance de AlenceÍ, cujo espaço ideológico inteiro, inconsistência inclusa, ela percorre quaseque a cadafrase.Reduzida,rotinizada, estilizadacomo unidade rítmicâ, a desproporção entre as grãnd€s idéias burguesase o vaivém do favor transforma-se em dicção, em música sardônica e familiar. Da inconsistênciaformal à incoerênciahumorística e confessa,o resultado tornou-s€ ponto de pâÍtida, matéÍia mais complexa, que outra forma iú explorar, Não sugiro com isto que o romancede Machado se.iao produto simplesda crítica ao romance de Álencâr. A tradi$o literária náo corre assim s€paradâ da vida. Na verdade os problemas de Alencar eram com poucâ tÍensposiéo os problemasde seu tempo, continuidade fácil de documentar com discursose matéria de imprensa,qu€ sofriâm dasmesmascontradiçõese desproporções.Machado podia emendar num como noutro. Nem setrata propriamente de influência, que houve e não é difícil de catar. O que interessaexaminar de mais peno, aqü, é a formaSo de um substrato literário com densidadehistóricasúciente, capazde sustentaruma obra-prima. Voltemos atrás,à força mimética do impasseformal. Bte último resula, conforme a nossa análise, da incorporat'o acrítica duma combina$o ideológica normal no Brasil - submetida à exigência de unidade própria ao romance realista e à litera- 73 Aovencedor ôsbatatas ture moderna. Repetindo ideologias, que são elas mesmesrepetiçõesde aparências,a literatura é ideologiaela também. Segundo momento, o impasse é tido como caÌacteÍístico da vida nacional. Em conseqüência, pessae ser um efeito conscientemente procurado, o que é o mesmo que relativizara combinaçãode ideologiase formasque o produz, uma vezque não valem por si mesmas,maspelo fraco resultadode seuco nvlvio. A repetiçãoidzo_ hgiea de ideolngiasé intenompid4 por efeito da fidelidade mimética.Ássim, "tamanho fluminense,,é um nome paraestehiatoziúo, que sem ser uma ruptura levadaaté o fim, virtualmente basta para redistribuir os acentose remanejar as perspecdvas, fazendo vislumbrar o campo de uma literatura possível,que não sejareconfirmat'o de ilusóes confirmadas - passoque úachado irá dar. No que toca ao escritor, esta modificafo pode ter muitas raóes. Do ponto de vista objetivo, que nos impo rta agol:^, ela leva a incorporaÌ às letras, mqa4nto ra4,o momento de impropriedade que a ideologia européia tem entre nós, Noutras palavras,o processoé uma variantecomplexada chamadadialética de forma e conteúdo: nossâmaréria alcança densidade suficiente só quando inclui, no próprio plano dos conteúdos,a falência da forma européia, sem a qual não csramos completos. Fica de pé naturdmente o problema de encontrar a forma apropriadapara esta nova matérie, de que é pane essenciala inanidade das formas a que por força nos apegamos.Ântes da forma, poranto, foi preciso produzir a própria matéria-prima, enriquecêJa com â degrada$o de um universo formal. Note-se a propósito desa operafo que o seu móvel é puramente mimético. Semelhança,assim, não é um fato de superflcie. O trabalho de ajustamento da imita$o, à primeira vista limitado pelo acasodas aparências, como que preperao curso de um novo rio. Seusefeitos oara a composifo, determinadospcla o<igêncialógica- histórìca da matéria utilizada a bem da semelhança,ultrapassaminfinita- 74 6mAlencar A importação doromancs e suascontradiçõos mente o cíÍculo esüeitodo mimetismo, que no entanto os úaz à luz. Neste sentido, pâÌe uso do escÍitor, o "tamanho fluminense" pod€ ser um go critério nacionalistae imitativo, que dispensa de maioresdefinições;obiedvamente,contudo, produz algo como uma ampliaÉo do espaçointerno da matéria literária, a qual passa e compoÍtar uma permenente referência transatlântica, que será sua pimenta e v€rdade.Noutros termos, para construiÍ um romance verdadeiro é preciso que sua matéria sejaverdadeira. Isto é, para nossocasode paísdependente,que sejaumâ sínteseem qu€ figure com regularidade a marca de nossaposiÉo diminuÍda no sistemanascentedo Imperielismo. Por força da imita$o, da fidelidadeao "cunho nacional", asideologiasdo favor e liberal es6o reunidasem permanência,formando um quebra-cabeças que ao ser armado - a forg de lógi cz, e já nío de mimetismo - iní dar uma figura novae não-diminuída da diminuifo burguesa,cujo ciclo ainda hoje nos interessa,pois náo se encerrou. Ficou para o fim o defeito mais evidente de Senhora o seu desfechoaçucarado. Imagine-se quanto a isto um final diferentc, que "o hino misteriosodo santo amor conjugal" não estragasse:o romenceteria uma fraquezaa menos,masnão seriamelhor. Nenhum dos problemas que viemos apontando estaria resolvido. O feúo róseoou pelo menosedificantenão é especialmente ligado à literatura brasileira, mas ao romance de conciliaSo social, de Feuillet e Dumas Filho por exemplo, que foram influências diretas. Estessim destruíram a sua literatura à força de cálculos conformistas. Tome-se o Rornan dhn jetne homme paurre, de Feuillet, e tornem-se agudas as contradições que ele É que atenua:estaríamosdiante de um bom romancerealista.33 33Com intcnfo contrfuia, Paú Bourgct faz a mesmeobservação:"Irndo os scuslivtos, sente-se uma cstimasingularporcste nobreespírito,quc, dadocm- tq Ao vencedoÌas batatas Feuillet,comoAlencar,é herdeirode umatradi$o formalcom os pressupostos críticos da revoluçãoburguesa.Senhorae o Ronaneedz um moçopobre circulamentre o quano modestoe o palacete,a cidadee a província,o escritóriodo negociantee os jardins da amada,o sentimentoaristocráticoe o burguêsetc.No livro de Feuillet,osantagonismos implicadosnestadisposi$o de espaços e temâssãocomo sombrasde dúvida e subversão, debeladaspela virtude daspersonagens positivas,Triunfa uma liga exemplarde aristocratasigualitáriose burguesessemgânância. No enÉnto, os problemasda revoluÉo burguesanão só estão formalizadosno travejamentodo romancerealista,a quesefilia Feuillet, como sobretudotrabalhama própria realidade,o corpo socia.l da Europa,queé a matériavivadestaliteratura.Assim, disfarçarascontradições sociaise desmanchar o relevoliterário sãonestecasoumae a mesmacoisa.O casoé outro comAlencar, quealiásconciliaapcnasno final e nãoé conformistano percurso,em queé audaciosoe amigodecontradições.rQue fazercom estaforma,seasoposições deprincípioquea compõemnãovincam tambéma matériaque deveorganizar?Sea fazendado velho Camargonãoé o lugar dasvinudesprovincianase aristocráticas,masdo Capital e tambémdos cosrumesdissolutosda es- bore às audáciasda aná.liscc às curiosidadcs pedgosas,soubc guardar o culto do cavalheiresco,da mulhc r c do anot" . Cf. Paga dt citQ* o dc doctrinc,Paris,Plon, 1912,p. I13. Impressionadotalvezcom a Comuna dc Paris,DumasFilho é mais dircto: "Foi-seo tempo dc scr espirituoso,amcno, libertino, sarcá.srico, cético e fannsioso; úo é hora para isso.Deus, a naturcza,o traba.lho,o clsarncnto, o arnor, a criança, úo coisas írias" . Prefkio de La fmmc & Chrdz, citedo cm H. SGcnhman c K B. Vhitwonh Jr. (orgs.),lzlro bgie dcsp faca & nnawfançais du XIX' Siàcb,Pais,lúlie:d, 1964,p.325. 34A distinéo cntrc conformismo e conciliação em Alencar me foi feita por ClaraÂlvim. A importaçãodo romancaI suas contradiçõos.m Alencar cÌavaria,qual o resultadode seuconfrontocom e cuPideze a leviandadeda Cone?sejaqual for, náosomacom o conÍlito central, nem lhe responde.Andogamente,eo mudaÍ de seuquâÌto pobreparao palaceteda esposa,Seixasnão mudapropriamente de classesociale sobrerudode ideologia- como fede suPoro contrâst€doslugaÍes;mudaú de níveldeconsumo,comos€diria hoje,o que tira a forçapoéticaà localizafo da afo. Etc., etc. Se que definema forma nãogovernamtambémo cháo asoposições artlstico sociala que elaseaplica,rigor formal e desequilíbrio estaÍáojuntos, e haveráconformismono próprio desassombro - Ínâsplescom que seponhamcontradiçõesditas 11çmgncles tigiadas.Daí aliásum efeitoesquisitodestesromances,que sennãoproduzema imdo voltadosparaa históriacontemporânea, porquea poesia pressáo de ritmo históricoalgum,Justamente, isto é, da corresao vivo, da periodiza$o desteúltimo depende pondênciaenúe a matériede conÍlitos bem datados,e asconqueorgânizem o conjuntoemseumovimenuadi@cshistóricas quea melhorcontribuição to. - Assim,depoisde mostrarmos de Alencarà formaéo de nossoÍomenceestánospontosfracos de sualiteratura,vejamostambémcomoa suâfraquezaPassa Por pontosrealmentefones,que tomadosisoladamentesãoméritos de escritor.A propósito de Smhora"Antonio Candido observa que seuessunto- a comPrâde um marido - dá forma não só ao enredo,como repercutetambém no sistemamea.foricodo formal,cujo efeitoquelivro. Traa-sejustamenteda consistência remoses dar. "A heroína,endurecidano desejode vingang, posibiliada pelapossedo dinheiro,inteiriçaa dma comosefosse do outro por meio do agenteduma operafo de esmagamento E asprópriasimagensdo capitd, que o reduza coisapossuídâ. personalidade, tocadaPela mineralizaçáo da estilomanifesama capitalista, atéquea dialéticaromânticado amor desumanizaSo No conjunto,como recuperea suanormelidadeconvencional. 77 Ao voncêdor as batatas no poÍmenorde câdepaÌte,osmesmosprincípiosestruturaisenformama matéria."3'De fato, o movimentodramáticotransformaa meninarica,erpostaà "rurbadospretendentes"36, emmulher revoltadae veemente.Quandotem a iniciativa,Âuréliaconsiderao mundo atravésdosóculosdo dinheiro, com a intenSo de devolverem dobro ashumilhaçõessofridas.Reversoda medalha,quandosentea própriapessoa er(postaâosmesmosócrrlos, sobrevêma lividez marmórea,os lábioscongelados,asfaces.jaspeadas,a crispaSo, a voz ríspidae metalizadaetc.37Até aqú, a dialéticamoral do dinheiro e o mal que ele fazàspessoas. C,ontudo, comojá sugeremo mármoree o jaspe,o moümento é mais complo<o.A mineralizaçãoa queserefereAntonio Candidoestá na intersec$o de muitas liúas: durezanecessária para instrumentdizaro outro, recusavisceralde empresara própriahumanidade ao cálculoalheio, paganismoda matériainconscientee da esútua, recusado corpo, substânciascrâs etc. Em suma,o ob.ietoda crítica econômicatem prestígiosexud. "E o mundo é assimfeito quefoi o frrlgor satânicoda belezadessamulher a sua maior sedu$o. Na acerbaveemênciada alma revolta,pressentiam-seabismosde paiúo; e entrevia-seque procelasde volúpia haviade ter o amorda virgembacante."38 Assuntoexplícito:o diúeiro recalcaossentimentosnaturais;assuntolatente:diúeiro, desprezoe recusaformam um conjunto erotizado,que abre perspecdvas maismovimentadasquea vida convencional.Noutraspalavras,o diúeiro é deletérioporqueseparaa sensualida- sm Alencsí do romancoo suascontradiçõ€s A importação de do quadrofamiliar oristente,e é interessante Pelamesmaracm Alencar,entreriquezâ,indePendênáo. DaÍ a convergência, cia feminina, intensidadesensuale imagensda esferada prostitui@o. Como sevê, o desenvolvimentoé d€ audáciae compleverdadequebem apoiedona Damadzsca' údade consideráveis, formal com que Alencardemélias,Iso posto, a conseqüência em lugarde eliminar- a duasenvolveo seuassuntofonalece lidadeformal queviemos€studándo:colocano ccntrodo romance a coisificaçãoburguesa.les relaÉes sociais.Onde Antonio Candidoapontaumasuperioridade,queexiste,há tamMm uma fraqueza.A utilizaçãoinstrumental e Portento o antagonismo absolutoé o modelo,aqui,da relaçãoentreosindivíduos'Ora, do capitalismolibeesseé um dosefeitosideológicosessenciais realisasignificáJo do romance dos méritos é um ral, assimcomo em suaprópriaestrutura.Mâs náo erao princlpio formd de que emboranosfosseindispensável- como teme. precisávamos, 35Ántonio Candido,"CrÍtica e sociologia",rz Liutanra c socicdadt, Sío Paulo,Compaúia EditoraNecional,1965,pp,6-7. 36Smhotep.954. 37ldza pp.l.O28,1.044. 3EI&n, p.955. 78 79