educação nas “garras” neoliberais

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educação nas “garras” neoliberais
EDUCAÇÃO NAS “GARRAS” NEOLIBERAIS Roberta Helena Rodrigues Silva Faculdade de Educação – Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Pollyana de Oliveira Bernardes Faculdade de Educação – Universidade Federal de Uberlândia [email protected] O presente trabalho foi desenvolvido, no curso de especialização Docência no Ensino Superior oferecido pela Universidade Federal de Uberlândia como avaliação da disciplina de Educação e Sociedade: fundamentos sociológicos, ministrada pela professora Doutora Maria Vieira Silva. Nesse trabalho apresentamos algumas reflexões sobre: o sucateamento da educação advindo do capitalismo economicamente totalitário, a educação como forma de interação no contexto em que os indivíduos vivem a prática educativa vivenciada e incorporada pelo professor, o modelo de administração proposta pelos administradores que regem a educação. Além disso, outras reflexões ainda serão apresentadas como a evolução da sociedade norteou sob comando do Estado, a instituição da escola básica, a autonomia das escolas e, ainda a flexibilização organizacional curricular. Outros dois focos que serão abordados nesse texto são: o neoliberalismo que degradou não só a educação como também o desenvolvimento do Estado quer seja nos espaços sociais, econômicos, culturais, políticos entre outros, e a globalização que de uma maneira ou de outra também trouxe vários problemas sociais para o Brasil e o mundo.
2 O sucateamento da educação ocorreu basicamente pelas idéias neoliberalistas nos sistemas educacionais, o que contribui para a desvalorização do Ensino Público. Bernardo (1998) afirma que o capitalismo é um sistema economicamente totalitário e domina selvagemente a vida do trabalhador. Dessa forma, o profissional da Educação é afetado, não só pelo baixo salário, mas também pela falta de estrutura para o seu trabalho, pela falta de política educacional, e ainda por falta de cursos de atualização para a melhoria da qualidade de seu trabalho entre outros, pois esse professor é um trabalhador na esfera da produção. Se o Estado Amplo inclui todas as formas organizadas do poder das classes dominantes, ele exerce esse poder também, e sobretudo na área educacional cuja atividade possui implicações políticas e ideológicas de grande importância, uma vez que, segundo Freire (1996) a educação é uma forma de interação no mundo, seja através do conhecimento dos conteúdos ensinados, seja pela “reprodução” da ideologia dominante. É no espaço pedagógico que os alunos são treinados para o exercício de suas práticas. As leis gerais de educação, propostas na nova LDBN (Lei Diretrizes e Bases Nacionais), afetam cada aspecto do fazer educativo e “mexe” com a vida de milhões de alunos e professores, atingindo toda a população do país e regendo os destinos da educação no Brasil. E o Estado, que pretende ou deveria ter como objetivo um sistema educativo capaz de responder às necessidades dos brasileiros, nada mais fez do que ajustar a educação a qualquer custo às demandas do mercado em uma economia globalizada centrada na sociedade do conhecimento. Desse modo, a legislação constitui o instrumento através do qual o Estado regula o sistema e a organização escolar. Ao elaborar a LDBN o Estado, com a participação de parte da comunidade escolar, impôs à educação uma série de medidas que regulam o ensino no país, exercendo um tipo de poder legislativo do Estado Restrito. No entanto, o mundo capitalista se organiza de forma a articular o Estado Restrito com o Estado Amplo. Para por em prática as disposições estabelecidas pelo Estado Restrito os educadores foram acionados e os Estados (as empresas) ficaram responsáveis pela parte das infra­ estruturas materiais e sociais. O que se verifica, desse modo, é que os interesses do Estado e os do mercado se sobrepõem aos interesses humanos, uma vez que os mais interessados nesse processo – alunos e professores – não participaram dele ativamente e
3 em sua plenitude, caracterizando uma forma de autoritarismo, de imposição, em prejuízo da democracia e da liberdade de escolha. Ressalta­se ainda que a prática educativa, exige do professor uma grande responsabilidade (na sua formação e competência profissionais) e, no entanto, o respeito e salários dignos não fazem parte do deveres das administrações públicas ou privadas da educação. Assim, as condições materiais necessárias ao bom desempenho da função educativa – que, são responsabilidade do Estado Amplo no que diz respeito ao funcionamento das “empresas” da educação e a atividade dos empregados – não foram respeitadas pela ordem capitalista vigente, onde ainda prevalece a dominação econômica de alguns indivíduos e/ou de certas classes sociais. O modelo de administração exercido pelos “patrões” (definindo aqui as instituições escolares como “empresas”, como órgãos ou elementos constitutivos do Estado Amplo no que se refere ao funcionamento) que determina o quadro de vida dos trabalhadores da educação é aquele que Bernardo chama de réplica do poder legislativo do Estado Restrito, ou seja, o aparelho político reconhecido juridicamente, tal como é definido pela Constituição do país. O que se percebe nesse modelo é o exercício de poder capitalista sobre os trabalhadores que vai incidir sobre a vida do resto da população. Assim, a organização empresarial da educação concerne tanto à economia, quer seja no que se refere à atividade dos empregados, quer seja nas implicações políticas e ideológicas da globalização. Essas implicações dizem respeito ao sistema de organização do trabalho e ao desempenho dos trabalhadores, segundo Bernardo, isto é o que significa realmente réplica dos poderes executivo e judiciário. Em síntese, é o capitalismo organizado articuladamente em modalidades do Estado Restrito com o Estado Amplo. Segundo o autor, esse equilíbrio de poder, centrado entre o Estado Restrito - representante da globalidade dos meios financeiros - e o Estado Amplo - representante dos encargos administrativos e judiciais - gerou um terceiro participante - inferior aos dois outros: o corporativismo, que se sustenta na colaboração secundária dos sindicatos, vistos como organizadores do mercado de trabalho. Ao longo dos tempos, o equilíbrio entre esses três poderes foi evoluindo; o Estado Restrito declinou e o Estado Amplo foi reforçado enquanto o corporativismo passou a integrar todos os tipos de sistema político capitalista - onde se inclui o sistema brasileiro.
4 A sociedade brasileira evoluiu e, por isso, a legislação também teve que ser adaptada, pois ela é o instrumento através do qual o Estado regula as tendências em marcha. Acreditava­se, porém, que as reformas operariam mudanças eficazes no ensino, o que na realidade não aconteceu, pois não houve mudanças sociais profundas. Essas mudanças apenas ajustaram a estrutura escolar e, é conveniente lembrar, que a organização escolar não deveria ser competência só da legislação, uma vez que ela reflete apenas e tão somente uma mediação entre a situação real e aquela que é proclamada como desejável. Segundo Saviani (1987) “ambas interagem no seio da sociedade que produz uma e outra”. No entanto, a LDBN - fruto de um certo autoritarismo - teve alguns méritos, que se situam na linha do processo de democratização do ensino proposto pelo Estado enquanto mecanismo de poder. A seguir pode­se destacar: a) A instituição da escola básica e obrigatória de oito anos que visa garantir um sistema nacional de educação abrangente a toda a população do país. Essa orientação é uma exigência dos tempos atuais; que demanda uma formação geral comum e, conseqüentemente, envolve uma escolaridade mais prolongada; b) O início de uma certa autonomia das escolas tanto na forma de organização do tempo, quanto na definição do calendário e critérios de promoção. c) A flexibilização organizacional e curricular - previsão de uma base comum nacional complementada por uma parte diversificada, conforme os “Parâmetros Curriculares”. No entanto, não está definida ainda a instância competente pelo estabelecimento dessa base. Fica a pergunta: seria uma adoção obrigatória por todas as escolas dos diferentes Estados e Municípios ou apenas uma referência a partir da qual Estados, Municípios e Escolas formulariam suas propostas curriculares? De qualquer forma, o encaminhamento dado pelo MEC (Ministério da Educação) à questão prevê a manifestação do CNE (Conselho Nacional de Educação), pois esse órgão que tem atribuição deliberativa. No que diz respeito ao Ensino Médio, acredito que ainda falta uma maior articulação entre os estudos teóricos e os processos práticos, aproximando os fundamentos científicos e as formas de produção que caracterizam o trabalho na sociedade atual, articulando ensino, ciência, tecnologia e trabalho. Segundo o autor, no Brasil, o que se vê no Ensino Público, é um verdadeiro caos em decorrência dos anos de incompetência de políticas educacionais implantadas
5 pelo governo brasileiro. Esse por sua vez, vem implantando políticas públicas educacionais que além de não atenderem as necessidades da educação, acabam piorando o Sistema Educacional. Destaca­se ainda que, as políticas educacionais são armas que o governo utiliza para a manipulação dos órgãos educacionais, o que causa um certo poder sobre esses órgãos, pois o que é passado às organizações educacionais são as leis e, por isso, são rigorosamente cumpridas por esses órgãos. Isso ocorre por meio dos currículos escolares, produzidos pelo governo, porém, mesmo assim, essas propostas não impedem que os professores possam criar uma autonomia capaz de flexibilizar a grade curricular imposta, capaz de libertar assim das “amarras” governamentais. Essas propostas de “cima para baixo”, impostas pelo governo, segundo o autor, mostram que é comum ver em Escolas Públicas o descaso de alguns professores para com o seu trabalho e seus alunos. Isso se deve aos baixos salários que esses professores recebem, causando uma desmotivação, tornando­se passivos e acríticos. Desse modo, pode­se afirmar que os alunos nesse caso são os principais prejudicados, pois acabam sendo “contagiados” com o descaso dos professores, dos administradores e do governo. Estes professores pouco fazem para construir um plano de aula substancial e criativo, capaz de tornar o ato de ensinar mais eficaz e, conseqüentemente, criativo que implica na melhora da absorção do conteúdo desenvolvido em sala de aula. Com relação à prática de ensinar, segundo o autor, esta não é uma atividade burocrática e nem mecânica, ministrar aulas é humanizar, liberta­se das “amarras” governamentais e do modelo neoliberalista aplicadas na educação brasileira. O papel do professor não é só de fornecer conhecimento, mais sim de construí­lo, por meio do fornecimento de dados que possam levar o aluno a desenvolver seu raciocínio lógico. O professor deve ainda levar em consideração não só o cotidiano do seu aluno, mas também trabalhar a interdisciplinariedade para enriquecer seu trabalho. Em oposição a esse tipo de professor acima apresentado pelo autor ressalta aqueles que não seguem as “amarras” governamentais do modelo neoliberalista aplicadas na educação. Esses educadores planejam melhor suas aulas, tornando­as prazerosas e de fácil assimilação dos conteúdos apresentados aos alunos, promovendo uma interação maior entre professor x aluno.
6 Ao se referir ao papel do professor o autor enfatiza que sua tarefa não é só de fornecer conhecimento, mais sim, de construir o conhecimento. O educador deve propiciar ao aluno condições para a construção desse conhecimento, este por sua vez, não é algo que só o professor detém, pois o aluno também de acordo com sua vivências e suas experiências possui seu conhecimento. Ambos, professor e aluno de posse de seus conhecimentos, em sala de aula e por meio de um debate, uma discussão e outro exercício qualquer que provoque uma interação entre esses dois sujeitos, são capazes de interagirem, de criarem e recriarem novos conhecimentos. Tal ato se comprova quando Freire em Pedagogia da Autonomia , ressalta a interação que existe entre professor e aluno, não podendo haver uma dominação de um perante o outro. Deve, pois, haver respeito e compromisso daquilo que foi proposto entre ambos, para uma produção conjunta do conhecimento. Exemplificando: um professor de História, enquanto educador, deve ter o compromisso de formar uma consciência política e social frente ao cotidiano do aluno, o seu contexto: histórico, político, cultural e social. Soma­se a esse contexto toda atenção que o professor deve ter sobre a realidade que cerca não só o educador, mas também o aluno. Ao ministrar as aulas, o professor não deve desvincular o ensino da pesquisa, pois, assim terá facilmente uma compreensão da sociedade e do cotidiano em que ele e seus alunos estão inseridos. O neoliberalismo nasceu após a Segunda Grande Guerra Mundial, onde estava imperando a política do Estado de Bem­Estar­Social. Essas políticas decorrentes desse tipo de economia repercutiram bastante na vida social, inclusive no que diz respeito à educação, uma vez que o Estado liberal se apresenta como uma república representativa constituída dos três poderes: executivo, legislativo e judiciário, dentre os quais o poder que regula, por meio de leis, os problemas e conflitos da sociedade. Diferente do Estado de Bem­Estar­Social, o neoliberalismo é avesso a essa intervenção estatal, principalmente na economia, sendo implantado no começo dos anos 70, para sanar a crise da política de “Bem­Estar”, onde, foi vista uma queda no crescimento econômico e altos índices de inflação na maior parte do mundo. Na realidade, o que aconteceu nesse tipo de política foi uma “regulação de mercado” por
7 parte do Estado. No que se refere à educação, o governo neoliberal lançou a idéia de um programa de privatização do Ensino Superior. Essa, por sua vez, foi uma ameaça à liberdade e ao direito do cidadão de acesso ao conjunto de conhecimentos essenciais para a capacitação para o mundo do trabalho no qual o aluno está inserido. Tal decisão provocou uma série de greves não só por parte de alunos, mas também, professores que tiveram seus salários congelados, o que provocou vários problemas para a sociedade. Com o neoliberalismo, inúmeros outros problemas foram surgindo: cresceram também as taxas de desemprego e o grau de desigualdade aumentou significativamente; o protecionismo e a burocracia se agravaram largamente. O Estado ficou meio amarrado por regras e pelo controle social e as políticas adotadas pelo governo permaneceram as mesmas dos governos anteriores. Sobre esse assunto há de se concordar com a opinião de Anderson (p. 23): “Economicamente, o neoliberalismo fracassou, não conseguindo nenhuma revitalização básica do capitalismo avançado. Socialmente, ao contrário, o neoliberalismo conseguiu muitos dos seus objetivos, criando sociedades marcadamente mais desiguais...” De acordo com o autor, estas práticas políticas tinham como objetivo aumentar o crescimento econômico e abaixar os índices de inflação. Para se conseguir isso, a principal característica era a de retirar do comando do Estado o controle de alguns setores. Para os neoliberais é o mercado que deveria controlar a economia e o capital e os benefícios que eram passados para obras sociais teriam que ser “cortadas” para aumentar esse crescimento. Quanto ao aumento dos juros, esse seria para os pobres, e para os ricos, esse seria diminuído, o que causou uma grande desigualdade, que é fundamental para as novas práticas capitalistas. Segundo o autor, o desemprego que passa ser estrutural, devido a competição, causa uma terceirização nos serviços. A indústria não tem mais aquele caráter fordista, levando a terceirização dos seus serviços para obter mais lucros e, com isso, ramifica suas etapas de trabalho para todo o mundo. Isso passou ser chamado de modo de produção Toyotista. Frente a tudo isso as práticas neoliberais tiveram um intuito e atingiram um outro diferente, pois o crescimento econômico foi ultrapassado pelo crescimento especulativo e a rotatividade dos lucros foi um “filho” que os neoliberais não
8 esperavam. Atualmente, essa especulação de capital determina o país a se desenvolver ou não. Tanto é verdade que houve uma interligação de todos os países do mundo, onde, sobrevive aquele que possui melhores alicerces econômicos. Segundo Martins (1992) o processo da globalização (iniciado nos anos 70) e o motor que a impulsiona, é a competição. O autor afirma que é a competição que envolve a caracterização da economia mundial contemporânea e a análise de suas implicações no campo social, espacial, cultural e político, constata que é a globalização que produz efeitos benéficos e maléficos, contra os quais nada se pode fazer, uma vez que a competição, é que atende a grupos industriais detentores dos recursos financeiros. No entanto, o processo de globalização é representado no plano ideológico pelo pensamento liberal. Diante disso há de se perguntar: onde está então a apregoada liberdade, quando se coloca as leis de mercado acima de quaisquer outras? No que se refere à educação, continua o autor, a globalização, com inúmeros e variados bens e serviços disponíveis no mercado, propiciou uma melhor qualidade tecnológica, e um maior acesso da população a esses materiais. Nesse sentido, a globalização foi benéfica. No campo social, no entanto, ela provocou a exclusão, pois quanto maior for o PIB (Produto Interno Bruto), maiores serão as disparidades entre regiões e classes sociais, e, por isso, verifica­se que o movimento da globalização traz em si duas faces: de um lado, a liberdade e de outro, a desproteção. Vale destacar que a liberação trouxe consigo o desamparo. “Tudo subia” – produtividade, lucros, salários, etc. – e, isso, resultou em gastos excessivos, o que gerou uma fase de regressão. O sistema econômico e o Estado capitalista foram reformados; as políticas sociais na área de educação, saúde, seguridade e assistência ficaram sob a responsabilidade do governo. Tudo parecia que estava melhorando. No entanto, a busca da eficiência a todo custo, no entanto, trouxe a competição selvagem. A ciência e a tecnologia adquiriram grande importância como forças produtivas, pois os conhecimentos pareciam uma grande vantagem para bloquear e derrotar os concorrentes. As Universidades investiram em pesquisa, os acordos de cooperação técnica com instituições de pesquisa ou empresas de pequeno porte, porém tecnologicamente desenvolvidas permitiram o engajamento dos governos em financiamentos desses programas. O chamado capital­dinheiro, isento dos vínculos que o subordinavam ao capital­ produtivo, conduziu os mercados financeiros às funções de polícia, juiz e júri da economia mundial. Todos os órgãos como o Estado, as empresas, as classes e os grupos
9 sociais se submetiam às decisões dos mercados financeiros e, isso, alterava a vida cotidiana das pessoas. Nesse sentido destaca­se, a educação também não foi poupada. Diante disso, “enquanto a explosão não chega, os grandes prejudicados são os que vivem do trabalho”. Assim, pode­se afirmar que sofrendo com esses problemas estão os alunos e professores enquadrados nesse contexto. A globalização da economia produziu e acumulou problemas sociais, dentre eles o da exclusão. O desemprego tornou­se uma prática comum tanto no setor privado quanto no setor público, como uma estratégia de ajustamento às condições de mercado. A modernização passou a significar racionalização e, conseqüentemente, exclusão; e a alternativa ao desemprego foi o achatamento salarial. A remuneração dos professores tanto na esfera estadual quanto na esfera federal permaneceu a mesma durante quase sete anos e provocou inúmeras greves no setor da educação. A questão fundamental do mundo atual passou a ser a inclusão. As escolas foram chamadas a trabalhar com afinco sobre esse aspecto. Além disso, pode­se afirmar que a globalização é seletiva e polarizadora, sobretudo no que diz respeito à remuneração quer seja ela de uma região para outra; de um estado para outro ou mesmo de uma cidade para outra. O fator trabalho nunca foi e até hoje não é tratado igualmente com o fator capital. Se analisar a globalização do ponto de vista das implicações educacionais, verifica­se que nem todas as regiões e nem todos os grupos sociais brasileiros estão incorporados à economia do país; alguns são ignorados escancaradamente pelos governantes. Os grupos que são abandonados perdem o interesse e se sentem “atrasados” ou incapazes, na era da sofisticação tecnológica, para pleitearem vagas no mercado de trabalho, por isso, transformam­se e passam a ser problemas sociais. Diante disso, pode­se afirmar que compete ao governo e à escola melhorar o sistema educacional, oferecendo material e equipamentos adequados ao desempenho das tarefas a serem desenvolvidas, preparando e atualizando constantemente os educadores, os quais devem organizar melhor suas estratégias de ensino para desenvolver os conteúdos aplicados em sala de aula de forma crítica e criativa. Estimular os alunos a desenvolver suas forças produtivas, é uma maneira de inseri­los no contexto onde atuam, e transformando a realidade de seu cotidiano. Ainda sobre a globalização vale lembrar que ela provocou sérios problemas sociais, criando a irrelevância de uma parte da população. No entanto, indivíduos e grupos, assim ignorados e reduzidos a uma condição infra­humana, devem ser integrados à sociedade, onde as relações, os sentimentos e os ideais humanos foram
10 reduzidos a simples cálculos de custo e benefício. É preciso ainda restabelecer as redes de apoio, material e emocional, através de vetores como a família, a escola e a nação, referências básicas para a formação da personalidade e da identidade social. Frente a isso, é necessário que o Estado recupere os meios para atender não só as necessidades referentes à educação, mas também à saúde, à habitação etc. Cabe ainda ao Estado atuar como motor do desenvolvimento na geração de progresso técnico, compartilhar sua autoridade em todos os sentidos. Como prova disso afirma Genro que “é necessário reinventar o processo democrático”. Pois, nos dias atuais, enfrentar as questões econômicas, sociais, espaciais e culturais tornou­se muito difícil justamente não só pela ausência das crenças, mas também pela ausência dos meios de ação. Frente a essas colocações, só a escola é capaz de alterar a vida cotidiana das pessoas, facilitando a inclusão das mesmas no meio em que elas atuam, e evitando que os problemas sociais se acumulem na sociedade. Assim, vale lembrar que a globalização levou os países pobres a uma dependência do mercado mundial, levando os seus países a viverem sobre a especulação de capital. Para que o Brasil, possa receber dinheiro do mercado mundial, é necessário dar garantias de que o governo irá pagar suas dívidas. Desse medo cabe ao Estado cortar gastos ao máximo, principalmente, no setor social. Como exemplo disso basta observar o que ocorre na Educação brasileira, que se transforma em uma empresa prestadora de serviços cujos métodos avaliativos do aprendizado passam de qualitativos para quantitativos e a competição é a avaliação do ensino. São esses os requisitos usados nas escolas brasileiras. Não se avalia a qualidade e sim a quantidade. Vale mais quem apresenta maior quantidade. Há uma segregação no ensino brasileiro, pois as escolas ligadas ao Estado estão em péssimas condições físicas e estruturais e os seus membros - administrativos, professores e alunos - sofrem as mazelas de uma sociedade desigual, iniciando pelos péssimos salários pagos aos recursos humanos, e ainda as péssimas condições de competitividade no mercado de trabalho, o que dificulta a competição com as escolas privadas que são, muitas vezes, melhores equipadas e com professores bem pagos. Desse modo, o mercado passa a controlar a Educação, levando­a a uma crise incontrolável, pois para os menos favorecidos a Educação que deveria ser um direito de todos os indivíduos passa a ser uma opção, destruindo a cidadania social e elevando às práticas criminosas da população excluída. Assim, sendo as práticas educacionais têm
11 que ser colocadas de maneira coletiva e não individual, ou seja, promover o ensino­ aprendizagem, e não o consumo. Em se tratando do ensino no Brasil e em vários outros países da América Latina, o que se vê é um sucateamento no sistema educacional público, fazendo com que tudo ligado a esse sistema seja também sucateado. Isso pode ser visto, por exemplo, na formação dos professores nas Universidades Públicas. Ser professor em um país que trata a Educação como algo insignificante, é algo desesperador, pois só com muita dedicação e paciência é que se pode suportar os males de um sistema esquecido e abandonado por seus governantes. E, por fim, pode­se concluir que o neoliberalismo pode ter solucionado a crise do Estado de Bem­Estar­Social, todavia criou inúmeros outros problemas, como a violência, a miséria e o desemprego. Assim, não se têm novas soluções para curar essas mazelas sociais, mas sim, um retrocesso de práticas não confiáveis, usadas em outros tempos, mostrando um antagonismo histórico, social e econômico. Ao final desse trabalho o que se pode concluir é que o sucateamento da Educação brasileira bem como nos países da América Latina ocorreu com as idéias neoliberais plantadas pelos governantes que governam esses países. Entende­se por sucateamento educacional os baixos salários pagos aos profissionais da educação, a escassez de verbas que deveriam alavancar não só uma boa formação para os professores, mas a criação de bons laboratórios, aquisição de bons livros para humanizar, efervescer as bibliotecas, melhorar os espaços físicos das escolas, aumentar os espaços escolares abrindo chances para um lazer saudável e prazeroso. O neoliberalismo alijou os currículos escolares o que fez engessar o trabalho dos professores. A escola sob as idéias dos neoliberais ao invés de ser crítica, criativa e construtiva nada mais é que uma enxurrada de conhecimentos repassados aos alunos amontoadas em pequenas salas de aulas de uma maneira autoritária, mecaniscista e, por vezes, sem nenhuma interação sequer entre professor x alunos. A falta de uma política educacional decente permite a avaliação discente e docente não passe de armadilhas para apresentar aos governos e a sociedade apenas dados quantitativos. Desse modo, o que se avalia não é a qualidade do ensino, mas a quantidade.
12 Nesse labirinto de conexões norteadas pelo desgoverno dos dirigentes do Estado, cabe ao professor ser criativo, crítico e construtivo em suas práticas educacionais, apesar do regime capitalista selvagem. No que se refere à globalização, as escolas sofreram uma melhoria na qualidade tecnológica e um maior acesso da população a esses materiais. No campo social, porém, ela desencadeou uma grande exclusão, devido as disparidades entre as regiões e classes sociais provocadas pelo crescimento ou não de produtos, quanto maior o PIB maiores essas disparidades sociais e regionais. Como exemplo pode­se elencar o desemprego ocasionando pela racionalização de trabalho e achatamento social. Nesse complexo que vivem as escolas brasileiras há de se enfrentar o marasmo, provocado pelas políticas educacionais falidas apresentadas por nossos governantes. O professor, os alunos devem, além de tudo, trabalhar juntos em busca de um ensino melhor e de qualidade. Porém, parece difícil somente os professores, alunos e a comunidade enfrentarem esse problema. Afinal, a Educação não é um dever do Estado?
13 REFERÊNCIAS ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberlismo. SADER, Emir e GENTILLI, Pablo (org). Pós­ neoliberalismo: as políticas e o estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p. 9­34. MARTINS, Carlos Estevan. Da globalização a economia a falência da democracia . Campinas: UNICAMP, 1992. OLIVEIRA, Francisco e PAOLI, Maria Célia. Privatização do público, destiutuição da fala e anulação da política: o totalitarismo­ neoliberal. Petrópolis, Vozes, 1999. BERNARDO, João. “ O Estado enquanto mecanismo geral do poder : Estado Restrito e Estado Amplo” , In Estado: a silenciosa multiplicação do poder. São Paulo: Escrituras Editora, 1998. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa . São Paulo: Paz e Terra, 1996. SAVIANI, Demerval. A Nova Lei da Educação: trajetória, limites e perspectivas. Campinas – SP. Autores Associados, 1999. SAVIANI, Demerval. Política e Educação no Brasil : o papel do Congresso nacional na legislação do ensino. Campinas – SP. Autores Associados, 2002.