Estrura vegetacional e qualidade da água de wetlands
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Estrura vegetacional e qualidade da água de wetlands
UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - BACHARELADO POLLIANA ZOCCHE DE SOUZA ESTRUTURA VEGETACIONAL E A QUALIDADE DA ÁGUA DE WETLANDS CONSTRUÍDOS EM ÁREAS MINERADAS DE CARVÃO A CÉU ABERTO RECUPERADAS, EM SIDERÓPOLIS, SC, BRASIL CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2007 POLLIANA ZOCCHE DE SOUZA ESTRUTURA VEGETACIONAL E A QUALIDADE DA ÁGUA DE WETLANDS CONSTRUÍDOS EM ÁREAS MINERADAS DE CARVÃO A CÉU ABERTO RECUPERADAS, EM SIDERÓPOLIS, SC, BRASIL Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Bacharel no curso de Ciências Biológicas da Universidade do Extremo Catarinense, UNESC. Orientador: Prof. Dr. Jairo José Zocche CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2007 Sul POLLIANA ZOCCHE DE SOUZA ESTRUTURA VEGETACIONAL E A QUALIDADE DA ÁGUA DE WETLANDS CONSTRUÍDOS EM ÁREAS MINERADAS DE CARVÃO A CÉU ABERTO RECUPERADAS, EM SIDERÓPOLIS, SC, BRASIL Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Bacharel, no Curso de Ciências Biológicas da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com Linha de Pesquisa em Manejo de Ambientes Alterados. Criciúma, 23 de novembro de 2007. BANCA EXAMINADORA Prof. Jairo José Zocche – Doutor – (UNESC) - Orientador Prof.ª Nadja Zim Alexandre – Mestre – (UNESC) Prof. Miguel Vassiliou – Mestre – (UNESC – IPAT) À minha mãe, Isa, por toda sua força e empenho. AGRADECIMENTOS Ao prof. Dr. (tio!) Jairo José Zocche, pela orientação, oportunidade de aprendizado, não somente em sala de aula, mas em todos os momentos de convívio bem como por seu amparo nos momentos necessários. As Empresas Rio Deserto Ltda., por permitir os estudos na área e ceder os dados referentes à mesma, em especial ao Eng. André Smaniotto e a acadêmica Kelen. Aos Mestrandos Cassiano Welker e Regina Lerina e ao Prof. Msc. Rafael Trevisan e Profª Drª Ilsi Boldrini pelo auxílio na identificação das espécies vegetais (Poaceae) e a Profª Ana Cláudia Araújo de ciperáceas e juncáceas. Ao amigo Samuel Costa pela identificação inicial das entidades taxonômicas e pelas conversas (tanto profissionais quanto os cômicos papos das 11 horas) e por seus conselhos durante os momentos de nervosismo. Aos colegas de laboratório Andrey, Alex, Fernando (Tomate), Rodrigo, Ricardo Garcia, Micheli que auxiliaram nos trabalhos em campo ou estiveram presentes na nossa eterna jornada em busca ao Jairo! A minha Mãe que mesmo sem entender muito o porquê de todo o trabalho, me acompanhou em campo, prensando as plantas “exóticas” que coletávamos! A todos que direta ou indiretamente contribuíram para que eu seguisse meu caminho e alcançasse meus objetivos. “Ecossistemas não são somente mais complexos do que nós pensamos, mas mais complexos do que nós podemos pensar.” Frank Egler RESUMO Grandes extensões de terra foram degradadas durante mais de meio século de atividades mineradoras na região carbonífera catarinense. Portanto diversas metodologias de recuperação de áreas degradadas são empregadas visando conseguir técnicas cada vez menos dispendiosas e com melhores resultados para o meio ambiente. O presente estudo se propõe a estudar as comunidades de macrófitas que se desenvolvem em lagoas construídas (wetlands) em antigas cavas de mineração de carvão a céu aberto reabilitadas, visando relacionar a distribuição e a abundância das espécies com a variação nos parâmetros químicos de qualidade da água. A área de estudo encontra-se nas dependências das Empresas Rio Deserto, junto ao Lavador da Mina do Trevo, em cinco lagoas construídas em antigas cavas de mineração reabilitadas, no município de Siderópolis, SC. Dados referentes à qualidade da água (pH, acidez total, sultato, Al, Mn e Zn total) desde o início da construção das lagoas de rejeito (LDRs) até 05/2007 foram utilizados para analisar o processo de recuperação da área. O levantamento florístico procedeu em caminhamentos ao longo de uma faixa de 2 m de distância da margem de cada lagoa. Para o levantamento fitossociológico utilizou-se o método de pontos de agulhas múltiplas, amostrando uma faixa de dois metros para o interior e dois metros para a margem de cada lagoa. As espécies foram enquadradas em categorias ecológicas e formas biológicas. A análise estatística seguiu as proposições da escola Zurich-Montepellier com as novas abordagens sugeridas por Müeller-Dombois e Ellenberg, utilizando técnicas de ordenação e classificação multivariada de dados, com auxílio do software MULVA 5.1. Os resultados apontam que a influência dos rejeitos aderidos à matéria orgânica retirada em um dos monitoramentos das lagoas foi determinante na queda da qualidade da água, uma vez que os corpos d’água encontravam-se em processo de estabilização até o momento. Somente os metais Al e Mn tiveram suas concentrações muito elevadas, devendo ser acompanhadas com maior cuidado. O levantamento florístico resultou em 94 espécies e Poaceae como família mais representativa. As formas de vida mais encontradas foram terrestre (45,6%), macrófitas anfíbias (25,6%) e macrófitas aquáticas enraizadas no substrato com caules flutuantes (23,2%). A análise multivariada revelou agrupamentos de espécies associadas visualizadas em campo. A riqueza da vegetação encontrada no ambiente terrestre e aquático foi considerado médio, levando-se em conta o reduzido número de espécies introduzidas. A análise multivariada revelou que o encharcamento do terreno foi a principal variável ambiental que condicionou a distribuição dos grupos de espécies. As espécies de maior valor fitossociológico foram Salvinia auriculata, Leerzia echandra, Eleocharis acutangula em interior de lagoas; Paspalum conjugatum, Brachiaria sp. em margens/ecótono das lagoas; Desmodium adcendens, Schizachiryum microstachium, Paspalum conjugatum em ambientes terrícolas. O monitoramento das lagoas deve receber atenção especial já que o ambiente aquático modifica-se mais rapidamente que o ecossistema terrestre, portanto o controle de contaminação com fontes oxidantes deve ser constante. Palavras-chave: Macrófitas aquáticas e terrestres. Florística. Fitossociologia. Análise multivariada. Parâmetros químicos da água. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01: Localização da área de estudo, junto ao lavador da Mina do Trevo e próximo às áreas recuperadas pela mineradora, município de Siderópolis, SC. Em destaque, delimitado especificamente o local estudado, anterior a construção das lagoas. ................................................................................19 Figura 02: Perfil esquemático da compartimentação das cavas da Língua do Dragão em vários corpos, destacando o fluxo superficial e subsuperficial da água junto ao Campo Vila Funil. Fonte: Smanioto (2004). ....................................................................................................................................................20 Figura 03: Croqui demonstrando o posicionamento das camadas de materiais litológicos utilizados para o preenchimento das antigas cavas de mineração e a construção das lagoas de rejeitos LDRs. Fonte: Smaniotto, 2004. .........................................................................................................................20 Figura 04: Croqui demonstrativo da compartimentação da Língua do Dragão, Campo Vila Funil. Na cor verde área de 11 ha em processo de recuperação e dentro do círculo local em que se encontram as LDRs. Fonte: Smanioto (2004). .............................................................................................................22 Figura 05: Recobrimento dos estéreis com camada de argila e plantio de gramíneas em toda a extensão da área 6, em processo de recuperação no ano de 2003. ........................................................................23 Figura 06: Visão geral da LDR-01 povoada no centro por Typha domingensis e no restante por uma população de Salvinia auriculata. ..........................................................................................................24 Figura 07: Visão geral da LDR-02 povoada na parte central por Typha domingensis e Brachiaria sp. e no restante da lagoa, mais esparsamente ocupada por Salvinia auriculata e Eichhornia crassipes. Ao fundo, pilha de estéreis ocupada por espécies exóticas espontâneas......................................................25 Figura 08: Visão geral da LDR-03 ocupada no centro por Typha domingensis e na parte restante por Eichhornia crassipes e Salvinia auriculata. Destaque para a porção de matéria orgânica com rejeitos situada em primeiro plano. .....................................................................................................................25 Figura 09: Visão geral da LDR-04 ocupada no centro por Typha domingensis. e na parte restante por Eleocharis interstincta. Em primeiro plano, margem contendo grande parte com estéreis e somente algumas gramíneas. Ao fundo, presença de espécies exóticas sobre os montes de estéreis. .................26 Figura 10: Ao fundo, visão da LDR-05 com povoamento em massa de Typha domingensis e em primeiro plano pilha de folhas de Typha domingensis desbastadas e retiradas de dentro da lagoa. ......27 Figura 11: Classificação ecológica e formas biológicas das macrófitas. 1 – Flutuantes livres (sem raízes ou com raízes pendentes); 1.1 – Abaixo da superfície; 1.2– Na superfície; 1.3 – Acima da superfície; 2 – Enraizadas no substrato; 2.1 – Plantas com partes vegetativas inteiramente submersas; 2.2 – Plantas com folhas flutuantes; 2.3 – Plantas com caules flutuantes; 2.4 – Plantas com partes vegetativas emergentes; 2.5 – Trepadeiras; 26 – Anfíbias tolerantes a seca; 3 – Enraizadas sobre outras macrófitas 31 – Epífitas. (IRGANG, GARTAL-JR, 1996). ...................................................................28 Figura 12: Instrumento amostral utilizado no levantamento fitossociológico das macrófitas. Em detalhe figura A amostragem da margem externa e figura B, amostragem da margem interna da lagoa construída. ..............................................................................................................................................29 Figura 13: Variação das leituras de pH na água das LDR-01, LDR-02, LDR-03, LDR-04 e LDR-05 localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC, entre o período de junho de 2003 a maio de 2007. .........................................................................................................................................34 Figura 14: Variação dos valores de acidez (mg/l CaCO3) observados na água das LDR-01, LDR-02, LDR-03, LDR-04 e LDR-05 localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC, entre o período de junho de 2003 a maio de 2007..............................................................................................36 Figura 15: Variação das concentrações de sulfato (mg/l SO4) obtidas na água das LDR-01, LDR-02, LDR-03, LDR-04 e LDR-05 localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC, entre o período de junho de 2003 a maio de 2007..............................................................................................38 Figura 16: Variação concentrações de alumínio total (mg/l) obtidas na água das LDR-01, LDR-02, LDR-03, LDR- 04 e LDR-05 localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC, entre o período de junho de 2003 a maio de 2007..............................................................................................39 Figura 17: Variação concentrações de manganês total (mg/l) obtidas na água das LDR-01, LDR-02, LDR-03, LDR- 04 e LDR-05 localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC, entre o período de junho de 2003 a maio de 2007..............................................................................................40 Figura 18: Variação concentrações de zinco total (mg/l) obtidas na água das LDR-01, LDR-02, LDR03, LDR- 04 e LDR-05 localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC, entre o período de junho de 2003 a maio de 2007..............................................................................................40 Figura 19: Distribuição do número de gêneros por família listados no levantamento florístico da vegetação de borda e interior das LDRs localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC. ..........................................................................................................................................................47 Figura 20: Distribuição do número de gêneros por família listados no levantamento florístico da vegetação de borda e interior das LDRs localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC. ..........................................................................................................................................................48 Figura 21: Curva cumulativa de espécies por área amostrada em cada LDR estudada, onde: A – LDR01; B – LDR-02; C – LDR-03; D – LDR-04 e E – LDR-05, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. ............51 Figura 22: Dendrograma de classificação das 48 unidades amostrais alocadas na LDR-01, obtido pela análise de agrupamento, aplicado aos dados referidos na tabela 02, Mina do Trevo, Siderópolis, SC..53 Figura 23: Dendrograma da classificação de 34 espécies amostradas na LDR-01, obtido pela análise de agrupamento, aplicado aos dados referidos na tabela 02, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. .................54 Figura 24: Diagrama de dispersão de relevés (F) e grupos de espécies (S), a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 02 para análise fitossociológica da LDR-01, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. ......................................................................................................................................57 Figura 25: Diagrama de dispersão de grupos de unidades amostrais (F) e grupos de espécies (S) a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 04 para análise fitossociológica da LDR-02, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. ............................................................................................60 Figura 26: Diagrama de dispersão de grupos de unidades amostrais (F) e grupos de espécies (S) a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 06 para análise fitossociológica da LDR-03, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. ............................................................................................62 Figura 27: Diagrama de dispersão de grupos de unidades amostrais (F) e grupos de espécies (S) a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 08 para análise fitossociológica da LDR-04, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. ............................................................................................64 Figura 28: Diagrama de dispersão de grupos de unidades amostrais (F) e grupos de espécies (S) a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 10 para análise fitossociológica da LDR-05, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. ............................................................................................66 LISTA DE TABELAS Tabela 01: Relação das 94 entidades taxonômicas e respectivas formas de vida conforme Irgang, Gartal-Jr, (1996), coletadas no levantamento florístico da área estudada, onde: 1 – Flutuantes livres (1.1 abaixo da superfície; 1.2 – na superfície; 1.3 – acima da superfície); 2 – Enraizadas no substrato (2.1 – plantas com partes vegetativas inteiramente submersas; 2.2 – plantas com folhas flutuantes; 2.3 – plantas com caules flutuantes; 2.4 – plantas com partes vegetativas emergentes; 2.5 – trepadeiras; 26 – anfíbias tolerantes a seca); 3 – Enraizadas sobre outras macrófitas (3.1 – Epífitas) e terrestres.........43 Tabela 02: Distribuição das 34 espécies nas 48 unidades amostrais utilizadas para a análise fitossociológica da LDR-01, contendo os respectivos valores de cobertura, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. ......................................................................................................................................55 Tabela 03: Variáveis canônicas, coeficiente de correlação canônica em porcentagem, qui-quadrado e coeficiente de contingência obtidos a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 02 para análise fitossociológica da LDR-01, Mina do Trevo, Siderópolis, SC...........................................56 Tabela 04: Distribuição das 27 espécies nas 38 unidades amostrais utilizadas para a análise fitossociológica da LDR-02, contendo os respectivos valores de cobertura, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. ......................................................................................................................................58 Tabela 05: Variáveis canônicas, coeficiente de correlação canônica em porcentagem, qui-quadrado e coeficiente de contingência obtidos a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 04 para análise fitossociológica da LDR-05, Mina do Trevo, Siderópolis, SC...........................................59 Tabela 06: Distribuição das 25 espécies nas 34 unidades amostrais utilizadas para a análise fitossociológica da LDR-03, contendo os respectivos valores de cobertura, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. ......................................................................................................................................60 Tabela 07: Variáveis canônicas, coeficiente de correlação canônica em porcentagem, qui-quadrado e coeficiente de contingência obtidos a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 06 para análise fitossociológica da LDR-03, Mina do Trevo, Siderópolis, SC...........................................61 Tabela 08: Distribuição das 17 espécies nas 34 unidades amostrais utilizadas para a análise fitossociológica da LDR-04, contendo os respectivos valores de cobertura, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. ......................................................................................................................................63 Tabela 09: Variáveis canônicas, coeficiente de correlação canônica em porcentagem, qui-quadrado e coeficiente de contingência obtidos a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 08 para análise fitossociológica da LDR-04, Mina do Trevo, Siderópolis, SC...........................................63 Tabela 10: Distribuição das 28 espécies nas 50 unidades amostrais utilizadas para a análise fitossociológica da LDR-05, contendo os respectivos valores de cobertura, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. ......................................................................................................................................65 Tabela 11: Variáveis canônicas, coeficiente de correlação canônica em porcentagem, qui-quadrado e coeficiente de contingência obtidos a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 10 para análise fitossociológica da LDR-05, Mina do Trevo, Siderópolis, SC...........................................66 Tabela 12: Índice de similaridade florística entre as LDRs amostradas no levantamento florístico, Mina do Trevo, Siderópolis, Santa Catarina. .........................................................................................68 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11 2 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 16 2.1 Objetivos específicos ............................................................................................... 16 3 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 17 3.1 Localização e descrição da região de estudos ....................................................... 17 3.2 Localização e descrição da área de estudo ............................................................ 18 3.3 Descrição fitofisionômica das lagoas de rejeito (LDRs)....................................... 23 3.4 Metodologia ............................................................................................................. 27 3.4.1 Parâmetros químicos da água ................................................................... 27 3.4.2 Levantamentos florístico e fitossociológico .............................................. 27 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 32 4.1 Parâmetros químicos da água ................................................................................ 32 4.1.1 pH, acidez total e sulfato ............................................................................ 33 4.1.2 Metais tóxicos (Al, Mn, Zn totais) ............................................................. 39 4.2 Florística................................................................................................................... 43 4.3 Suficiência amostral ................................................................................................ 49 4.4 Estrutura vegetacional e Fatores ambientais ....................................................... 50 4.5 Similaridade Florística............................................................................................ 67 4.6 Processos de Facilitação .......................................................................................... 68 5 CONCLUSÕES.................................................................................................................... 70 6 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 72 11 1 INTRODUÇÃO As mudanças decorrentes dos avanços da sociedade promoveram benefícios e comodidades ao homem, e após a Revolução Industrial intensificaram-se devido à grande demanda por recursos naturais, sobretudo os combustíveis fósseis, acarretando o aumento de impactos sobre os ecossistemas (FONSECA, 1989). A mineração de carvão também contribuiu para a geração de elementos tóxicos que danificam o meio ambiente associado à sua exploração. Em Santa Catarina, desde 1940 o carvão mineral é explotado (ALEXANDRE, 1999), trazendo prosperidade a economia local, mas provocando impactos no meio biótico. Tais impactos se dão, em parte, pelo processo de lavra a céu aberto, sendo que um dos maiores problemas gerados pela mineração de carvão é a drenagem ácida de mina (ALEXANDRE; KREBS, 1995). Além dela, a água da chuva que percola os rejeitos ao alcançar os corpos hídricos também compromete as águas superficiais e subterrâneas. Nas etapas de extração do carvão há o revolvimento das camadas do solo, para ter-se acesso à camada do mineral em si (BARTH, 1989). A paisagem resultante nas áreas de mineração é constituída por corpos cônicos de estéreis e rejeitos, que caracterizam a denominada paisagem lunar (ALEXANDRE, 2000), resultando em um solo desestruturado, com baixa fertilidade o que dificulta, principalmente o estabelecimento de espécies vegetais, no entanto, mesmo sob tais condições existem plantas que crescem ali, tolerando os fatores adversos encontrados (COSTA; ZOCCHE, 2004; 2005; ZOCCHE-DE-SOUZA; ZOCCHE, 2005, COSTA, 2007). As áreas mineradas a céu aberto, em grande parte, não foram restauradas, desta forma os últimos cortes foram preenchidos por drenagem ácida, constituindo um ecossistema inóspito, apresentando condições físicas, químicas e biológicas inadequadas. Entretanto, nestas áreas alagadas, há a presença de vegetação hidrófita tolerante que ai se estabelece, contribuindo no processo de recuperação destas áreas degradadas (ZOCCHE, 2006). Os corpos d’água com tal vegetação espontânea, também conhecidos como banhados ou terras úmidas (wetlands), podem acelerar a melhoria da qualidade da água através de sua estrutura e ecologia natural, funcionando como um sistema auto-sustentado e agregando valores paisagísticos à área (ZOCCHE, 2006). As macrófitas aquáticas constituem uma vegetação de grande relevância, pois propicia a manutenção do equilíbrio ecológico, a prevenção de processos erosivos, a conservação de muitas formas de vida existentes no 12 ecossistema aquático (CABRERA; FABRIS, 1948 apud GASTAL-JR; IRGANG, 1997), a oxigenação da água, além de servirem de refúgio e fonte de alimento a diversos animais (COOK, 1974 apud IRGANG; GASTAL-JR, 1996; GASTAL-JR; LISBOA, 2003) constituindo um importante componente para a movimentação de nutrientes em áreas alagadas. O conceito de macrófitas aquáticas já vem sendo discutido a mais de 40 anos (SCHULTORPE, 1966 apud IRGANG; GASTAL-JR, 1996). De acordo com Irgang e GastalJr (1996), "macrófitas aquáticas são vegetais visíveis a olho nu, cujas partes fotossintetizantes ativas estão permanentemente, ou por diversos meses, todos os anos, total ou parcialmente submersas em água doce ou salobra, ou ainda flutuantes na mesma". Ou seja, este conceito se fixa em duas características: a primeira, referente ao tamanho, tratando então de “macro” vegetais e; a segunda, relativa ao período de permanência destes vegetais em contato com a água. Desta forma, macrófitas aquáticas são as plantas que obedecem a estes dois quesitos, obrigatoriamente, não devendo ser confundidas com o conceito de higrófitos que são indivíduos terrícolas com adaptações para ambientes encharcados (ODUM, 2001). Taxonomicamente são reconhecidas 42 famílias de dicotiledôneas, 30 de monocotiledôneas, 17 de briófitas e 6 de pteridófitas com representantes de plantas aquáticas (ESTEVES, 1988; PÉREZ, 1992). Esta vegetação também produz uma biomassa que se encontra intimamente ligada à temperatura, luminosidade, disponibilidade de nutrientes (C, N, P, oxigênio dissolvido) e, quando em condições favoráveis, nota-se um incremento na reprodução e, por conseguinte, na produtividade das mesmas (CAMARGO et al., 2003). As macrófitas aquáticas, pelo fato de terem crescimento rápido e serem tolerantes à poluição hídrica em geral (ALVARENGA, 2005), atuam eficientemente nos processos de depuração de efluentes sendo capazes de contribuir para a melhoria da qualidade da água poluída, tanto por efluentes de esgotos domésticos (LEOPOLDO; GUIMARÃES; PIEDADE, 2000; VALENTIM, 2003; ALVARENGA, 2005), quanto por industriais (MARQUES; BERTOLDO; GIOVANNINI, 2000; HADAD; MAINE; BONETTO, 2006), assim como resíduos líquidos da suinocultura (ARAÚJO, 2005) ou efluentes da mineração (MATAGI; SWAI; MUGABE, 1998; MARQUES; SUMINSKY; BRUM, 2000, ZIPPER; JAGE, 2001; RUBIO; TELESSE, 2004), minimizando os impactos provocados pelos processos poluidores. A criação de microcosmos é uma ferramenta muito útil e eficiente, ainda mais proveitosa em se tratando de áreas degradadas, ambientes pouco atrativos para os animais. Com a implantação de espécies vegetais atrativas e facilitadoras esses ecossistemas tornam-se menos inóspitos, proporcionando melhores condições de vida para a fauna local. 13 Ao manter pequenas lagoas vegetadas nas áreas mineradas de carvão a céu aberto em processo de recuperação há o implemento de habitats pela inclusão de uma estratificação que promove a diversificação de nichos ecológicos e aumenta então a atratividade do ambiente para os animais herbívoros. Com o aumento de indivíduos nesse nível trófico, outros animais predadores poderão habitar este ambiente, já que encontrarão alimento, abrigo e condições de reprodução. Assim, sucessivamente os níveis tróficos de segunda, terceira ordem serão ocupados e toda uma imbricada teia alimentar é formada sobre esse ecossistema construído. Este grupo de plantas também reveste-se de relevância ecológica, pois promove a circulação de nutrientes (efeito de “bombeamento”), onde há absorção dos elementos encontrados nas partes profundas dos corpos d’água e a liberação dos mesmos por excreção ou por decomposição da planta, além de atuar como hospedeiras para algas perifíticas e bactérias fixadoras do nitrogênio simbióticas (ESTEVES, 1988). Formam ambientes para a sobrevivência de diversos grupos de vida como fungos, larvas de mosquitos. São fonte de alimento e habitat reprodutivo e de vida para anfíbios, moluscos e peixes (IRGANG; GASTAL-JR, 1996) e contém sistema radicular colaborando na proliferação de microrganismos (LORENZI; SOUZA, 2000); contribuem com a formação de locais sombreados, abrigando espécies sensíveis à intensa radiação solar e; bem como também favorece a criação de uma teia alimentar capaz de atrair animais de pequeno e médio porte como roedores, aves, anfíbios, moluscos entre outros. A dinâmica dos ecossistemas aquáticos é muito diferente da observada nos ecossistemas terrestres, no que se refere à velocidade de evolução espacial e temporal do sistema, em uma formação florestal, por exemplo, são visíveis e delimitáveis as características que determinam o estádio sucessional em que a floresta se encontra (ROSA, 1997). Entretanto, quando tratamos de ambientes aquáticos, as condições de produção de biomassa, oferta, disponibilidade e absorção de nutrientes e decomposição de detritos ocorrem em um intervalo de tempo menor quando comparado aos substratos terrestres (LOT; NOVELO, 1988). Desta forma, a mobilidade e dinâmica (espacial e temporal) das espécies aquáticas ocorre em períodos de meses e dias, enquanto que nas espécies terrícolas a unidade de tempo observada está na escala de anos, décadas e séculos. Esta diferença dificulta a tipificação e categorização dos ecossistemas aquáticos já que por tais particularidades tornam-se sistemas naturalmente instáveis e transitórios, com flutuações em suas comunidades por períodos menores que um ano. Essa alternação constante da dominância de comunidades e das associações que ocorrem nos corpos d’água, juntamente 14 com a ação destrutiva do homem atrapalha ainda mais os estudos e descrições sobre estes ecossistemas tão desconhecidos (LOT; NOVELO, 1988). Todavia, em algumas Universidades do Brasil e do mundo é possível encontrar pesquisadores estudando esses ecossistemas em seus diversos aspectos e utilidades ecológicas como: sucessão ecológica (POTT; POTT, 2000); ciclagem de nutrientes (ESTEVES; CAMARGO, 1986); estudos florísticos (BEYRUTH, 1992; PEDRALLI; MEYER, 1996; COSTA et al., 2003; MATIAS, NUNES; AMADO, 2003; MARASCHIN-SILVA et al., 2003; PEREIRA et al., 2004; NEVES et al., 2006); fauna associada a banhados (BENETTI; CUETO, 2003; ALVES-DOS-SANTOS, 1999); biopolimento da água (ZANARDI-JR, 1991; PROCHNOW; PORTO, 2000; VERDADE; OLIVEIRA; RAYA-RODRIGUEZ, 2000); controle da proliferação macrófitas (SANTOS; THOMAZ, 2003; THOMAZ; BINI, 1998). Mesmo havendo estudos sobre os ecossistemas aquáticos, pouco se sabe dos mesmos, pois as linhas de pesquisa existentes concentram-se muito em apenas um aspecto ecológico e por vezes até sobrepõem-se em algumas vertentes de estudos mais visadas atualmente, como a explosão de macrófitas em reservatórios, produção de biomassa e velocidade de decomposição de espécies. Isso resulta em uma gama limitada de estudos e em contrapartida, outra imensa quantidade de temas ainda não abordados pela comunidade científica, cabendo aos novos pesquisadores preencher esta lacuna e proporcionar novos conhecimentos sobre os ecossistemas aquáticos. O fato de serem as principais produtoras de biomassa nos ecossistemas aquáticos, ou seja, componente significante no aspecto de manutenção de diferentes formas de vida presente nos ambientes aquáticos (ESTEVES, 1988), bem como no uso de técnicas de fitorremediação, acentua ainda mais a importância da preservação das macrófitas aquáticas (SCREMIN-DIAS et al., 1999 apud GASTAL-JR, 2003). Neste sentido, a produção de matéria orgânica em lagoas que se formam ou são construídas em áreas de mineração, principalmente aquelas que contêm drenagem ácida de mina, torna-se um fator relevante, além de fornecer um ambiente propício à colonização, a matéria orgânica em decomposição também age como um agente quelante de metais disponíveis e particulados, contribuindo também para a elevação do pH e melhorando então as condições do corpo d’água (ZOCCHE, 2006). As macrófitas aquáticas apresentam em seus tecidos concentrações de nutrientes muito mais elevadas do que às encontradas na coluna d’água e, em grande parte delas, suas folhas encontram-se acima da lâmina d’água, possibilitando alta eficiência fotossintética (ESTEVES, 1988). Estas especificidades permitem que as comunidades de macrófitas 15 aquáticas alcancem grandes valores de produtividade primária e biomassa (MENEZES; ESTEVES; ANESIO, 1993). Pesquisas examinando a eficiência funcional dos banhados construídos para remover ferro e manganês, junto com a elevação do pH, têm sido desenvolvidas (STARK et al. 1989, STILLINGS et al., 1988; FREITAS, 2007), no entanto, a avaliação completa da integridade ambiental destes banhados requer pesquisas envolvendo os compostos bióticos que estão contidos nesses sistemas (LACKI; HUMMER; WEBSTER, 1990). Freitas (2007) afirma que o emprego de diversas técnicas de fitorremediação “pode ser a chave para a recuperação de ecossistemas aquáticos de áreas degradadas pela mineração do carvão. A combinação de tratamentos físico-químicos convencionais de DAMs com a fitorremediação em banhados biológicos construídos pode aumentar eficiência dos trabalhos de recuperação de áreas degradadas, sobretudo pela eliminação de metais pesados da água que ainda nela permanecem, após o tratamento convencional.” Para tal, é importante estudar cada vez mais este ecossistema já que o extermínio acelerado causado pelo homem está reduzindo as possibilidades de conhecê-lo melhor (GASTAL-JR; LISBOA, 2004). 16 2 OBJETIVO GERAL Estudar as comunidades de macrófitas que se desenvolvem em lagoas construídas (wetlands) em antigas cavas de mineração de carvão a céu aberto recuperadas, visando relacionar a distribuição e a abundância das espécies com a variação nos parâmetros químicos de qualidade da água. 2.1 Objetivos específicos Analisar parâmetros químicos de qualidade da água, conforme monitoramento executado pela Empresa e observar se estão de acordo com os limites estabelecidos pela legislação. Classificar as macrófitas nas categorias ecológicas e formas biológicas, de acordo com a literatura especializada. Verificar a ocorrência de grupos de espécies vegetais associadas às diferentes condições de qualidade da água, por meio de técnicas multivariadas de ordenação e classificação de dados fitossociológicos. Analisar a similaridade florística entre as diferentes lagoas construídas estudadas. 17 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Localização e descrição da região de estudos A Bacia Carbonífera de Santa Catarina encontra-se no sudeste do Estado, ocupando uma faixa de 95 Km de comprimento na direção Norte e 20 Km de largura (HORBACH et al., 1986). Abrange os municípios de Cocal do Sul, Criciúma, Forquilhinha, Içara, Lauro Müller, Morro da Fumaça, Nova Veneza, Siderópolis, Treviso e Urussanga, os quais integram à Associação de Municípios da Região Carbonífera. O município de Siderópolis (28°35’52’’S e 49°25’28’’W) ocupa a área 462 km2 e encontra-se a 147 m de altitude. A extração de carvão a céu aberto iniciou-se na década de 40 do século passado, utilizando equipamentos como a Dragline Marion, com capacidade de remover 23 m3 por caçamba e alcançar a profundidade de 70 m, o que causou uma devastação de aproximadamente 1.460 ha de solo fértil durante 30 anos (ALEXANDRE, 1999). A região de estudo encontra-se inserida no domínio das rochas de natureza ígnea e sedimentar nas quais estão associadas várias camadas de carvão. Apresenta principalmente Cobertura Sedimentar Gondwânica, com ocorrência de Rochas Efusivas de Seqüência Básica, sendo que no leste e no sul predomina a Cobertura Sedimentar Quaternária (EPAGRI, 2001). As diversas camadas de carvão encontradas na Bacia estão incluídas na Formação Rio Bonito e Formação Palermo. A Formação Rio Bonito está situada na parte inferior do conjunto de rochas sedimentares que integram a Bacia do Paraná, sendo que estes sedimentos datam do Permiano Médio (EPAGRI, 2001). Na região de Siderópolis a maior parte das terras do município teve origem no Período Carbonífero. O relevo é muito ondulado com declividade acentuada, os solos apresentam originalmente baixos teores de matéria orgânica, baixos teores de fósforo e teores médios de potássio (EPAGRI, 2001). Nas áreas abandonadas pela mineração a céu aberto, o substrato resultante é formado por folhelhos carbonosos, siltitos, arenitos e argila, não apresentando textura, cor e estrutura definidas, já que o processo de lavra descaracterizou-os com inversão de camadas e mistura dos horizontes do solo (ALEXANDRE, 2000). Segundo a classificação de Köppen predomina o clima mesotérmico úmido com verões quentes (Cfa), ocorrendo temperaturas médias anuais entre 16 e 20 °C, sendo que entre os meses de dezembro a fevereiro há elevação de temperatura. As chuvas são bem distribuídas durante todo o ano, com amplitude pluviométrica média anual entre 1400 a 1600 mm onde a 18 máxima pluviosidade ocorre no verão e a mínima no inverno (EPAGRI, 2001). A cobertura vegetal original era do tipo Floresta Ombrófila Densa, a qual se estendia ao longo da costa litorânea, abrangendo as Planícies Cenozóicas e as áreas de relevo de encostas e Escarpas da Serra do Leste Catarinense e Serra Geral (TEIXEIRA et al., 1986). Na região de estudo esta floresta era caracterizada pela presença de árvores de 25 a 30 m, com elevado epifitismo, principalmente de bromeliáceas como Vriesia, Tillandsia e aráceas como Philodendrom e Anthurium. Outras espécies vegetais encontradas eram Ocotea catharinensis parviflora (canela-preta), (peroba-vermelha), Slonea guianensis Talauma ovata (laranjeira-do-mato), (baguaçu), Aspidosperma Schizolobium parahybum (guaparuvu) e Didymopanax angustissimun (pau-mandioca) (TEIXEIRA et al., 1986). Segundo o autor op cit., remanescentes naturais não alterados são encontrados atualmente somente em áreas íngremes e de difícil acesso junto às Escarpas da Serra Geral, já que áreas de fácil acesso sofreram antropização, primeiramente pelas atividades agropastoris e posteriormente, de forma mais intensa, pelas atividades de mineração de carvão o que resultou no predomínio de áreas de paisagens lunares, agroecossistemas, plantios de eucaliptos, campos antrópicos, banhados ácidos, capoeirinhas, capoeiras, capoeirões e vegetação florestal secundária. 3.2 Localização e descrição da área de estudo A área estudada está localizada na coordenada geográfica S 28°35’26’’ e W 49°27’09’’, junto ao lavador de carvão da Mina do Trevo – Empresas Rio Deserto Ltda., município de Siderópolis, Santa Catarina (Figura 01). O lavador da Mina do Trevo entrou em operação em 1998, quando a Carbonífera Rio Deserto adquiriu áreas mineradas a céu aberto, abandonadas e não reabilitadas no Campo Vila Funil, pela Carbonífera Próspera, ficando com a responsabilidade de recuperá-las como medida compensatória à instalação da Mina do Trevo (SMANIOTO, 2004). 19 Figura 01: Localização da área de estudo, junto ao lavador da Mina do Trevo e próximo às áreas recuperadas pela mineradora, município de Siderópolis, SC. Em destaque, delimitado especificamente o local estudado, anterior a construção das lagoas. Os trabalhos de recuperação iniciaram em 2000, com a compartimentação das cavas da Língua do Dragão em várias lagoas: Lagoa 01, Lagoa 02, Lagoa 03 (Figuras 02 e 04) (SMANIOTO, 2004). Parte da Lagoa 02, correspondente a 11 ha, foi preenchida com rejeitos da mineração do carvão desde o fundo até aproximadamente 0,80 m da superfície. Esses rejeitos foram cobertos com uma camada de estéril de 0,80 m até atingir o nível superficial da água, e sobre estes foi depositada uma camada de argila de 0,80 m, oriunda de área de 20 empréstimo presente entre os escombros da mineração. A camada de argila recebeu a adição de matéria orgânica (cama de aviário), calcário e adubo químico, foi descompactada por meio gradagem, recebendo em seguida, o plantio de mudas de espécies arbóreas nativas e exóticas, de Axonopus obtusifolius (grama-da-folha-larga) e Axonopus spp. na forma de touceiras. Figura 02: Perfil esquemático da compartimentação das cavas da Língua do Dragão em vários corpos, destacando o fluxo superficial e subsuperficial da água junto ao Campo Vila Funil. Fonte: Smanioto (2004). Figura 03: Croqui demonstrando o posicionamento das camadas de materiais litológicos utilizados para o preenchimento das antigas cavas de mineração e a construção das lagoas de rejeitos LDRs. Fonte: Smaniotto, 2004. 21 Ao longo da área recuperada, sobre a antiga Lagoa 2, foram deixadas 7 pequenas lagoas denominadas de LDR (lagoas de rejeitos) 01 a 07 (Figura 04), com profundidades, perímetros e composição florística variáveis, onde foram introduzidas as macrófitas aquáticas: Typha spp.; Salvinia auriculata Aubl.; Eichhornia crassipes (Mart.) Solm; Nymphaea spp., constituindo verdadeiros banhados, com o objetivo de monitorar a qualidade da água superficial. A área de entorno das lagoas, após os trabalhos de reconstrução do solo (Figura 05), foi espontaneamente invadida por espécies vegetais nativas e exóticas, típicas das áreas adjacentes do Campo Vila Funil. 22 Figura 04: Croqui demonstrativo da compartimentação da Língua do Dragão, Campo Vila Funil. Na cor verde área de 11 ha em processo de recuperação e dentro do círculo local em que se encontram as LDRs. Fonte: Smaniotto (2004). 23 Periodicamente as lagoas são manejadas pela mineradora com o auxílio de dragas, com o objetivo de evitar a eutrofização. Figura 05: Recobrimento dos estéreis com camada de argila e plantio de gramíneas em toda a extensão da área 6, em processo de recuperação no ano de 2003. 3.3 Descrição fitofisionômica das lagoas de rejeito (LDRs) As LDRs estudadas, em número de cinco, denominadas de LDR-01 à LDR-05 apresentam formas e tamanhos distintos, cobertura vegetal no entorno da margem formada por dois estratos: o primeiro com altura de até 0,50 m, composto por espécies das famílias Poaceae, Fabaceae, Ciperaceae, Juncaceae, Onagraceae entre além de outras famílias botânicas; o segundo, que pode atingir até 1,5 m apresenta-se com menor riqueza em relação ao anterior e está representado por espécies como Baccharis dracunculifolia, Schizachyrium microstachyum, Cortaderia seloana, Hiptis spp., Tibouchina spp., Vernonia spp., Eupatoruim spp., além de indivíduos jovens de Eucalyptus spp. que crescem espontaneamente. A LDR-01 apresenta o perímetro de 125 m, com cobertura vegetal externa típica de solos construídos em áreas degradadas pela mineração de carvão, conforme acima descrito. Já no ambiente aquático observa-se a presença predominante de Typha domingensis Pers., Salvinia auriculata, Leerzia echandra Sw., Eleocharis spp. entre outras (Figura 06). No entorno, observa-se a presença de pequenos amontoados de matéria orgânica proveniente da 24 limpeza da lagoa. Em alguns locais ocorre o afloramento de folhelhos carbonosos e estéreis em decorrência da erosão laminar da camada de argila colocada, embora a declividade da margem fosse suave. Observou-se ainda a presença formigueiros no entorno da lagoa. A LDR-02 com perímetro de 91 m apresenta-se com características semelhantes a LDR-01 no que diz respeito a parte externa, diferenciando-se da anterior em sua composição florística e densidade de macrófitas aquáticas. Nesse corpo d’água T. domingensis e Brachiaria spp. concentram-se no centro da LDR e Salvinia auriculata na borda (Figura 07). A declividade da margem é bem mais acentuada do que na LDR-01, assim como, há a presença de quantidades mais elevadas de matéria orgânica e rejeito oriundas da limpeza da lagoa, cujos locais ocupados são desprovidos de cobertura vegetal. A LDR-03 com perímetro de 90 m apresenta composição florística interna semelhante às duas LDRs anteriores, além das espécies Eichhornia crassipes e Nimphea sp. (Figura 08). Entre as LDRs 03, 04 e 05 encontram-se pilhas de aproximadamente um metro de altura e cinco de diâmetro, formada por macrófitas aquáticas e rejeitos que foram retirados do fundo das mesmas em trabalhos de manutenção para evitar a eutrofização, em agosto de 2005. As laterais das margens são bem íngremes, quando comparada as LDRs 01 e 02. Figura 06: Visão geral da LDR-01 povoada no centro por Typha domingensis e no restante por uma população de Salvinia auriculata. 25 Figura 07: Visão geral da LDR-02 povoada na parte central por Typha domingensis e Brachiaria sp. e no restante da lagoa, mais esparsamente ocupada por Salvinia auriculata e Eichhornia crassipes. Ao fundo, pilha de estéreis ocupada por espécies exóticas espontâneas. Figura 08: Visão geral da LDR-03 ocupada no centro por Typha domingensis e na parte restante por Eichhornia crassipes e Salvinia auriculata. Destaque para a porção de matéria orgânica com rejeitos situada em primeiro plano. 26 A LDR-04 cujo perímetro é de 75 m apresenta vegetação abundante nas margens. As faces leste e sul ocorrem uma área considerável com estéreis expostos, em função do desgaste da camada de argila e com cobertura vegetal esparsa. Na face norte a vegetação é mais densa em relação às outras faces. Na face oeste, por haver uma estrada que a separa da LDR-05 ocorre pouca vegetação e uma grande parte com estéreis descobertos. Dentro da lagoa, vegetação pouco densa de Eleocharis sp., ocupa maior parte da lagoa, restando ao centro, um pequeno aglomerado de T. domingensis (maioria dos espécimes mortos) e de Brachiaria sp. (Figura 09), que foram deixados, no processo de limpeza da lagoa. Entre as lagoas estudadas, esta é a que apresenta visualmente, as condições menos favoráveis ao desenvolvimento de comunidades bióticas, assim como a lagoa em que menos se observou a presença de animais. A LDR-05 com perímetro de 125 m encontra-se coberta em 70% de sua parte interna por Eleocharis sp. e o restante por T. domingensis (Figura 10). Há indícios da presença de animais devido à existência de espécimes cortados e caminhos sobre as manchas de Eleocharis. Na margem não ocorrem muitas espécies, pois o substrato é formado por estéreis e rejeitos piritosos utilizados na recuperação da antiga cava (lagoa 2). Figura 09: Visão geral da LDR-04 ocupada no centro por Typha domingensis. e na parte restante por Eleocharis interstincta. Em primeiro plano, margem contendo grande parte com estéreis e somente algumas gramíneas. Ao fundo, presença de espécies exóticas sobre os montes de estéreis. 27 Figura 10: Ao fundo, visão da LDR-05 com povoamento em massa de Typha domingensis e em primeiro plano pilha de folhas de Typha domingensis desbastadas e retiradas de dentro da lagoa. 3.4 Metodologia 3.4.1 Parâmetros químicos da água Os dados referentes aos parâmetros químicos pH, acidez total, alumínio, manganês e zinco totais foram obtidos a partir do monitoramento da qualidade da água, desenvolvido pela Empresa Rio Deserto, cujas análises, seguiram as metodologias propostas por APHA (1998). 3.4.2 Levantamentos florístico e fitossociológico O levantamento florístico foi realizado entre maio de 2006 e junho de 2007, durante o desenvolvimento dos trabalhos do Grupo de Pesquisa Ecologia e Manejo de Ecossistemas Degradados, a partir de caminhamentos ao longo de uma faixa de 2 m de 28 distância da margem de cada lagoa. As espécies foram enquadradas em categorias ecológicas e formas biológicas (IRGANG; GASTAL-JR, 1996), conforme consta a seguir (figura 11). Figura 11: Classificação ecológica e formas biológicas das macrófitas. 1 – Flutuantes livres (sem raízes ou com raízes pendentes); 1.1 – Abaixo da superfície; 1.2– Na superfície; 1.3 – Acima da superfície; 2 – Enraizadas no substrato; 2.1 – Plantas com partes vegetativas inteiramente submersas; 2.2 – Plantas com folhas flutuantes; 2.3 – Plantas com caules flutuantes; 2.4 – Plantas com partes vegetativas emergentes; 2.5 – Trepadeiras; 26 – Anfíbias tolerantes a seca; 3 – Enraizadas sobre outras macrófitas 31 – Epífitas. (IRGANG, GARTAL-JR, 1996). A identificação botânica do material coletado se deu com auxílio de literaturas especializadas, consulta ao Herbário do Departamento de Botânica da Universidade federal do Rio Grande do Sul (ICN) e a especialistas em determinadas famílias botânicas. As famílias botânicas foram confirmadas de acordo com a APG II – Angiosperm Phylogeny Group II (2003 apud SOUZA; LORENZI, 2005) para Magnoliophyta e Tryon e Tryon (1982) para Pteridophyta e os nomes científicos foram corroborados por consulta a diversos artigos científicos de revistas qualificadas. O material botânico coletado será encaminhado para incorporação ao acervo do Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz – CRI da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Criciúma (SC). O levantamento fitossociológico se deu por meio do método de pontos (adaptado de LEVY; MADEN, 1933) empregando um instrumento em forma de T deitado (Figura 12) (considerado como unidade amostral), composto por uma barra suporte (vertical), com 1,50 m de altura, e por uma haste horizontal de 2,0 m, perfurada a intervalos de 0,50 m por onde se deixou deslizar agulhas 0,02 mm, totalizando 5 agulhas por unidade amostral (0,0 m, 0,50 m, 1,0 m, 1,5 m e 2,0 m). Foram registradas todas as plantas tocadas pelas agulhas, assim como a quantidade de toque das agulhas em cada planta (Figura 12 A). 29 Figura 12: Instrumento amostral utilizado no levantamento fitossociológico das macrófitas. Em detalhe figura A amostragem da margem externa e figura B, amostragem da margem interna da lagoa construída. A amostragem se deu a intervalos de cinco metros ao longo do perímetro de cada lagoa estudada, numa faixa de quatro metros de interface entre o ambiente aquático e o ambiente terrestre, isto é, a haste horizontal do aparelho foi posicionada exatamente no limite da linha d’água das lagoas, sendo amostrados dois metros para o interior e dois metros para a margem em cada lagoa. A suficiência amostral foi calculada com base na curva do coletor, que relaciona o número cumulativo de espécies por unidades amostrais registradas (BRAUNBLANQUET, 1949). Foi calculada a densidade relativa para cada espécie amostrada, em cada unidade amostral, representando este parâmetro, a proporção em porcentagem do número de indivíduos de uma determinada espécie, em relação ao número total de indivíduos de todas as espécies amostradas na respectiva unidade amostral (MATEUCCI; COLMA, 1982). Foi estabelecida uma escala com seis classes correspondentes a densidades relativas, onde foram adotados os intervalos de classe da escala de cobertura proposta por Daubenmire (1968) modificada, como segue: Código de Classe Cobertura (%) 1 >0–4 2 5 – 24 3 25 – 49 4 50 – 74 5 75 – 94 6 95 – 100 30 A análise de dados fitossociológicos seguiu as proposições da escola ZurichMontepellier (BRAUN-BLANQUET, 1949) com as novas abordagens sugeridas por MüellerDombois e Ellenberg (1974), utilizando técnicas de ordenação e classificação multivariada de dados, com auxílio do software MULVA 5.1 – Multivariate Analysis of Vegetation Data (WILD; ORLOCI, 1996), com o objetivo de relacionar os padrões de distribuição e associação de espécies as variações ambientais. Dados de densidade relativa de cada espécie em cada unidade amostral de cada lagoa, foram lançados em planilha Excel 2007 armazenada no formato .csv (caractere separado por vírgula), importada no software MULVA 5.1, constituindo uma matriz (p x n), onde p representa espécies e n as unidades amostrais. Estas planilhas (uma para cada LDR) foram base da análise fitossociológica, sendo utilizadas para o processamento dos dados ferramentas e rotinas: ferramentas de inicialização e manuseio de dados - IMPORT (importação) e OPEN (abertura); ferramentas de análises primárias - RESEMB (associação) e CLUSTER (agrupamento); ferramentas de análise secundária - CONCENT (concentração); ferramentas de apresentação de resultados - TABLES (tabelas) e ORDINA (diagramação). Assim, a planilha bruta em formato .csv foi introduzida por meio da rotina IMPORT, sendo possível então realizar todos os passos subseqüentes do próprio software MULVA 5.1. Após este passo iniciou-se a abertura e visualização dos dados com a rotina OPEN e em seguida calculou-se as médias, desvios padrão e freqüências das espécies e unidades amostrais (relevés) por meio da rotina RESEMB, gerando então matrizes de semelhança para os relevés e para as espécies, sendo usado como medida de similaridade a Covariância. Ao “rodar” a rotina CLUSTER optou-se pelo método aglomerativo de Variância Mínima entre grupos, resultando na formação de dendrogramas de grupos de espécies e relevés. Na seqüência utilizou-se a rotina TABLE que gerou uma tabela bruta de dados com a configuração dos agrupamentos de relevés e de espécies. Ulteriormente foi verificada a concentração e a nitidez dos agrupamentos gerados, com o emprego da rotina CONCENT, a qual executou a análise de concentração e gerou escores e variáveis canônicas, dentre outras análises estatísticas. Por fim, a associação entre os grupos de espécies e de relevés foi verificada por meio da rotina ORDINA, que dispõe os grupos gerados bidimensionalmente em um diagrama de dispersão de pontos. Neste diagrama estão eixos (x e y) determinados pelas variáveis canônicas geradas na análise de concentração, sendo que os escores canônicos determinados para os grupos de espécies e de unidades amostrais são utilizados como coordenadas para a localização destes grupos no diagrama. 31 Analisou-se ainda a riqueza de cada uma das lagoas amostradas, sendo essa característica representada pelo número total de espécies registradas, contituindo o ponto de partida para a análise de similaridade florística entre as cinco lagoas estudadas, com o emprego do Índice de Similaridade de Sorensen – ISs (MÜELLER-DOMBOIS; ELLENBERG, 1974) de acordo com a fórmula a seguir: Onde: a = número total de espécies exclusivas da área a; b = número de espécies exclusivas da área b; c = número de espécies comum às duas áreas. 32 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Parâmetros químicos da água As campanhas de monitoramento da qualidade da água não mantiveram certa regularidade, nem tão pouco foram realizadas em todas as lagoas construídas, pois, ora eram realizadas a intervalos de uma semana em um mesmo mês, ora eram realizadas a intervalos de até sete meses. Em razão disso optou-se por analisar apenas as campanhas de monitoramento que foram realizadas nas mesmas datas em todas as lagoas, totalizando-se assim 17 campanhas de coletas de dados ao longo de quatro anos de monitoramento. As condições químicas aqui analisadas foram confrontadas com os valores estabelecidos pela Resolução CONAMA 357 de 17 de março de 2005 (BRASIL, 2005) que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, objetivando observar se os valores mensurados para as águas das LDRs estão dentro dos limites propostos por esta legislação. As águas que alimentam as LDRs são originárias da precipitação pluviométrica e da contribuição do lençol freático aflorante junto ao Campo Vila Funil, portanto, não podem ser encaradas como efluentes diretos do processo atual de explotação do carvão desenvolvido pela Carbonífera Rio Deserto, pois há várias fontes atuais e antigas de contribuição. Como o objetivo da construção das lagoas na área recuperada, foi o de avaliar a eficiência do método de afogamento de rejeitos adotado pela Empresa, foi analisada a qualidade da água segundo a ótica do enquadramento em classes de uso e não como efluentes. De acordo com as condições físicas em que se encontram atualmente as águas das LDRs, as mesmas podem ser enquadradas como pertencentes a Classe IV, ou seja, destinadas à navegação e harmonia paisagística, conforme alínea a e b, parágrafo V do artigo 4º, da Resolução acima. Entretanto, o monitoramento executado analisa parâmetros químicos de qualidade da água das LDRs, motivo pelo qual, foram adotados neste trabalho, os parâmetros de classificação contidos na classe III de qualidade da água da Resolução CONAMA 357/05. 33 4.1.1 pH, acidez total e sulfato A amplitude dos dados mostrou-se elevada, chegando a valores mínimos de 2,70 e máximos de 8,21 (Figura 13). Excetuando-se os valores referentes à LDR-01, o pH indicou queda em todas as lagoas. A Resolução CONAMA 357/05 informa que para atender as condições e padrões exigidos no enquadramento de Classe III das águas doces o pH deve se restringir ao intervalo de 6 a 9 unidades. Considerando-se que o processo de construção adotado pelas empresas mineradoras da região consiste no processo de afogamentos de rejeitos, terraplanagem, recebimento de cobertura de argila e as necessárias correções de pH e acidez do solo para posterior plantio de gramíneas, a construção do solo findou em meados de 2003 e o início do monitoramento se deu logo após este evento. Entretanto isso somente auxilia o início da formação de um solo original, uma vez que a presença de uma camada de matéria orgânica é extremamente necessária para obter-se um solo, de fato. Observa-se que os valores de pH para as LDRs, evidenciados na figura 13, iniciam dentro do intervalo recomendado pela Resolução CONAMA 357/05, exceto para LDRs 01, 02 e 04. De modo geral todas as lagoas estudadas apresentam queda nos valores de pH no primeiro ano de monitoramento, elevam-se no segundo e terceiro anos, voltando a cair novamente a partir de 11/2005. No período entre 10/2003 e 07/2004 houve queda nos índices abaixo do recomendável, para as lagoas 01, 02 e 04. Nas leituras entre 09/2004 a 11/2005 as LDR-01, LDR-02, LDR-03 e LDR-05 mantiveram-se dentro dos padrões recomendados. Já nos meses seguintes houve uma contínua e gradativa diminuição para todas as LDRs, sendo que os valores de pH observados na coleta final são todos abaixo de 5 unidades. O padrão de flutuação do pH observado ocorreu em parte pelo processo de estabilização dos corpos d’água após a construção, assim como, em função do procedimento adotado pela empresa de retirada do excesso de plantas que cobrem grande parte da superfície da lagoa para impedir o processo de eutrofização. Ao serem retiradas, trouxeram consigo para fora os rejeitos e estéreis que foram afogados no fundo da lagoa no processo de recuperação, expondo materiais tóxicos que promovem a formação de drenagem ácida, o que influencia diretamente nos níveis de pH. 34 Figura 13: Variação das leituras de pH na água das LDR-01, LDR-02, LDR-03, LDR-04 e LDR-05 localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC, entre o período de junho de 2003 a maio de 2007. De acordo com informações do Eng. André Smanitto, responsável pelos trabalhos de recuperação ambiental no lavador da Mina do Trevo, a retirada do material das lagoas ocorreu por volta de agosto de 2005, permanecendo no entorno dos corpos d’água até por volta de 06/2007, coincidindo com o período de queda do pH e conseqüentemente, aumentos na concentração de sulfato, acidez, Al, Mn e Zn (Figuras 13 a 17), principalmente nas lagoas em que os rejeitos ficaram mais próximos das margens (Figura 09 e 10). A presença de macrófitas aquáticas interfere beneficamente na variação dos níveis de pH de corpos d’água, principalmente aqueles que recebem drenagem ácida de mina, conforme demonstrado por Marques, Suminsky; Brum (2000), que testou de diferentes densidades de Typha latifolia L., em mesocosmos construídos submetidos a influência de efluente artificial (pH 4) com tempo de residência de 250 dias. O autor observou que, no decorrer do período os valores de pH aumentaram para aproximadamente 6,5 em 138 dias, com densidades de 30 e 48 indivíduos de T. latifolia por mesocosmo. Em lagoas que se formam entre rejeitos e cavas de mineração a céu aberto e que não recebem água de boa qualidade numa quantidade suficiente para a diluição da drenagem ácida de mina, os valores de pH na Bacia Carbonífera Catarinense podem atingir valores muito ácidos (geralmente 2,5 a 4 unidades). De outra forma, corpos d’água que recebem contribuição externa tem seus níveis de acidez diminuídos, conforme demonstra Silvano (2003), ao avaliar a qualidade da água, sedimento e presença de metais pesados em peixes da Lagoa Azul, em Siderópolis, a qual recebe drenagem ácida de mina de mineração a céu 35 aberto, assim como água de boa qualidade oriunda de uma boca de mina de subsolo desativada, registrando valores de pH geralmente acima de 6 ou muito próximo disto. Silveira (2004) analisando amostras dos efluentes das bacias de sedimentação coletadas em Empresas de mineração da região sul catarinense registrou valores de pH entre 2,4 e 3 unidades. Este valor extremamente baixo se deve ao fato da bacia de sedimentação ser o primeiro local que recebe os efluentes provenientes da lavagem do carvão, assim como ao tempo de residência dos mesmos nesse local. Pompêo et al. (2004) registraram valores de pH 3 e 6 unidades para os 5 lagos observados, em uma área abandonada a 30 anos na microbacia do Rio Fiorita. Estes dados corroboram os resultados obtidos na presente pesquisa, assim como nas demais já realizadas na região. Os corpos d’água presentes na Região Carbonífera Catarinense foram e continuam sendo intensamente degradados pelos processos de mineração de carvão, assim como pelos passivos ambientais. A constante presença de pilhas de rejeitos e estéreis nas áreas mineradas, a precipitação pluviométrica e a proximidade aos corpos d’água propiciam a lixiviação e o carreamento dos íons contidos nos rejeitos da explotação do carvão para as drenagens superficial e subsuperficial. A heterogeneidade espacial gerada pelo processo de mineração a céu aberto propicia a formação de ambientes de boa qualidade ao lado de ambientes de péssima qualidade, conforme observado na avaliação do pH nas lagoas construídas na área estudada. O restabelecimento das condições mínimas necessárias para o desenvolvimento de comunidades bióticas em áreas reconstruídas depende principalmente do manejo que estas áreas recebem, fato comprovado pela influência dos rejeitos retirados do fundo da lagoa juntamente com as macrófitas aquáticas e expostos as intempéries atmosféricas. Outro parâmetro analisado que está intimamente ligado ao pH é a acidez. A análise da concentração de íons de hidrogênio o pH em um meio, também fornece indícios sobre a concentração de acidez, pois a mesma está inversamente relacionada com as variações na quantidade de íons hidrogênio presentes no meio, ou seja, em valores baixos de pH a acidez mostra-se em concentrações elevadas (ALEXANDRE, 2000). A acidez das LDRs mostrou-se, em geral, com uma amplitude constante e abaixo de 50 mg/l de CaCO3 (Figura 14), excetuando-se em dois momentos: 10/2003 (LDR-02) e no intervalo entre 02/2006 e 05/2007 (LDR-05). Pode-se observar que nesses dois aumentos as concentrações de CaCO3 estão ligadas aos baixos valores de pH, conforme demonstra a figura 13. Esse parâmetro não tem valores estabelecidos pela Resolução CONAMA 357 (BRASIL, 36 2005). Pompêo et al. (2004) ao analisar em Siderópolis valores de acidez total para os lagos e rios, registrou amplitudes semelhantes às detectadas no presente estudo, ou seja, a maioria dos valores estiveram abaixo de 50 mg/l CaCO3, com registros próximos de 300 mg/l CaCO3 em alguns casos, decorrentes da presença de rejeitos próximos aos corpos d’água, fato também observado neste estudo para a LDR-04 (Figuras 10). Rodrigues (2006) observando a diversidade dos insetos e as características físicas e químicas da água do rio Mãe Luzia em Treviso, Santa Catarina, encontrou um valor de acidez médio de 303,1 mg/l CaCO3. Mesmo com o término das atividades de mineração em grande parte da região carbonífera, os corpos d’água ainda continuam comprometidos, em função do constante recebimento de drenagem ácida de mina. Nas lagoas estudadas, o afogamento dos rejeitos não permite o contato com o oxigênio, impedindo a formação da drenagem ácida. Entretanto, com o fluxo superficial e subsuperficial da água tendem a influenciar a flutuação nos valores de pH e acidez, os quais variam de forma inversa entre si, com a variação dos índices de pluviosidade, isto é, em épocas de chuvas o pH se eleva. Figura 14: Variação dos valores de acidez (mg/l CaCO3) observados na água das LDR-01, LDR-02, LDR-03, LDR-04 e LDR-05 localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC, entre o período de junho de 2003 a maio de 2007. 37 A produção de sulfatos na Região Carbonífera é geralmente proveniente da oxidação da pirita e este parâmetro apresenta bom coeficiente de correlação direta com o pH das águas das bacias da região Carbonífera Catarinense e rio Araranguá (JICA, 1998; DNPM, 1999 apud ALEXANDRE, 2000). De acordo com Alexandre (1996), a reação de oxidação da pirita ocorre quando os sulfetos de ferro entram em contato com o oxigênio e a água. Dependendo das condições do ambiente e dos reagentes disponíveis esse conjunto de reações pode ser dividida e com a formação de diferentes produtos finais, porém sempre envolvendo a formação de compostos sulfatados como ilustra a reação: 2 FeS2 + 7 O2 + 2 H2O 2 FeSO4 + 2 H2SO4 A seguinte oxidação pode ocorrer transformando o sulfato ferroso em sulfato férrico: 4 FeSO4 + 2 H2SO4 + O2 2 Fe2(SO4)3 + 2 H2O Esta reação pode ainda produzir hidróxido de ferro, dependendo das condições físico-químicas: Fe2(SO4)3 + 6 H2O 2 Fe(OH)3 + 3 H2SO4 Ou em sulfato básico de ferro: Fe2(SO4) 3 + 2 H2O 2 Fe(OH)SO4 + H2SO4 O sulfeto de ferro também pode ser oxidado pelo íon de ferro, fato que ocorre quando as quantidades de oxigênio dissolvido são baixas, como na reação abaixo: FeS2 + 14 Fe+3 + 8 H2O 15 Fe+2 + 2 SO4-2 + 16 H+ Já em uma reação simplificada pode se observar a produção final de íons de hidrogênio, geradores de acidez, e de íons sulfato (Alexandre, 2000): FeS2 + O2 + H2O Fe(OH)3 + 2SO4-2 + 4H+ Portanto observa-se na oxidação da pirita, para cada mol de sulfeto de ferro temse dois mols de íons de sulfato e quatro de hidrogênio (ALEXANDRE, 2000), provocando facilmente um decréscimo nos valores de pH da água, condição esta que promove a disponibilização de diversos metais tóxicos e outros compostos presentes no carvão, seus 38 rejeitos e estéreis (ZOCCHE, 1989; ZANARDI-JUNIOR, 1991; PROCHNOW; PORTO, 2000; SILVANO, 2003). Isso corrobora os dados aqui obtidos (Figura 15), mostrando que em pHs menores que 5, o enxofre existente consta preferencialmente como sulfato no meio (ALEXANDRE, 1996). Os valores de sulfato constituem um dos parâmetros mais elevados nas águas de drenagem ácida de mina (KIM; CHON, 2001 apud SILVANO, 2003), sendo que os resultados deste estudo estão de acordo com esta premissa e, em contrapartida, fora dos padrões exigidos para a classificação da água como Classe 3, baseados na Resolução CONAMA 357 que atribui valor máximo de 250 mg/l SO4. Os índices de sulfato mais elevados obtidos no presente estudo foram observados na LDRs 05 e 04, entretanto a LDR-03 também apresentou períodos de elevada concentração (Figura 15), ultrapassando os valores máximos permitidos pela Resolução CONAMA 357/05. Cavas de mineração sem nenhuma recuperação estão localizadas a oeste das LDRs 05 e 04 e muito próximas das mesmas, o que provoca em períodos de elevadas precipitações o contato das águas destas cavas com tais corpos d’água. Além da contaminação proveniente do contato superficial e subsuperficial, os rejeitos retirados do fundo das LDRs e depositados entre as LDRs 04 e 05, contribuíram significativamente para a elevação dos níveis de sulfato. Esta observação encontra respaldo no período de manutenção dos rejeitos a margem da lagoa, que coincidiu com os menores valores de pH, valores elevados de acidez e sulfato. Figura 15: Variação das concentrações de sulfato (mg/l SO4) obtidas na água das LDR-01, LDR-02, LDR-03, LDR-04 e LDR-05 localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC, entre o período de junho de 2003 a maio de 2007. 39 4.1.2 Metais tóxicos (Al, Mn, Zn totais) As concentrações observadas para o elemento alumínio, na área de estudo no período analisado mostram valores elevados nas LDR-02 (14,00 ml/l) e 04 (24,80 mg/l) em dois momentos distintos e no restante permaneceram em um intervalo de menor concentração (Figura 16). Entretanto, a Resolução CONAMA indica para a qualidade da água enquadrada na Classe 3 valores de alumínio abaixo de 0,2 mg/l, o que significa dizer que as concentrações detectadas na água das LDRs estão acima do permitido. Figura 16: Variação concentrações de alumínio total (mg/l) obtidas na água das LDR-01, LDR-02, LDR-03, LDR- 04 e LDR-05 localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC, entre o período de junho de 2003 a maio de 2007. Os valores de manganês total encontrados nas LDRs ficaram acima da concentração indicada pela Resolução CONAMA aqui adotada, ou seja, maiores que 0,5 mg/l (água Classe 3). Estes dados devem ser acompanhados nos próximos anos, já que tiveram concentrações elevadas e, posteriormente baixaram seus níveis por quase um ano e, em seguida, voltaram a aumentar (Figura 17). No caso específico do zinco, os resultados apontam para concentrações elevadas na LDR-02 (Figura 18) nas coletas de 06/2003 entre 12/2003, na LDR-04 para as coletas de 12/2003 (0,5 mg/l) e no intervalo de coleta entre 11/2005 a 05/2007 (0,98; 0,89; 0,79; 1,41; 1,47; 0,77 mg/l, respectivamente). Tais valores estão acima dos indicados pela Resolução 40 CONAMA 357 para águas de Classe 3 devendo ser acompanhados com cautela a fim de sanar os problemas originários de tais fatos. Figura 17: Variação concentrações de manganês total (mg/l) obtidas na água das LDR-01, LDR-02, LDR-03, LDR- 04 e LDR-05 localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC, entre o período de junho de 2003 a maio de 2007. Figura 18: Variação concentrações de zinco total (mg/l) obtidas na água das LDR-01, LDR-02, LDR-03, LDR04 e LDR-05 localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC, entre o período de junho de 2003 a maio de 2007. 41 Altos índices de acidez, elevadas concentrações de sulfato e de metais tóxicos (Al, Cu, Fe, Mn e Zn) configuram a composição química da drenagem ácida de mina (LYEW et al., 2001 apud NUNES et al., 2004). Sendo assim, a qualidade da água que tem contato com áreas mineradas na região não é diferente, manifestando-se por baixos valores de pH, grandes concentrações de acidez e sulfato e diversos metais tóxicos dissolvidos em elevadas concentrações (ALEXANDRE, 1999), o que corrobora os dados registrados no presente estudo. Os metais tóxicos ocorrem espontaneamente na natureza e alguns deles são elementos essenciais para a sobrevivência, mas quando em concentrações elevadas são tóxicos ao meio aquático e a vida humana (APHA, 1985 apud NUNES et al., 2004). Essas concentrações são determinadas por diversos fatores que influenciam a disponibilidade destes elementos químicos como, por exemplo, as restrições químicas do sistema, capacidade de equilíbrio de substâncias particuladas/dissolvidas, valores de pH, e concentrações de ligantes complexos bem como interferências antropogênicas (CHESTER, 1990 apud GUEDES; LIMA; SOUZA, 2005). Com a oxidação da pirita e a posterior redução do pH ocorrem condições para a solubilização dos componentes dos argilominerais, o que, como um corolário resulta em lixiviação de elementos como o alumínio, cálcio, ferro, manganês, magnésio e outros (ECP, 1982 apud ALEXANDRE, 2000). O pH é o controlador da dissolução do alumínio (RAISWELL, 1983; O’NELL, 1995 apud ALEXANDRE, 2000), sendo que o cátion Al+3 é encontrado em pH menor que 4. Por não ser um elemento essencial para as plantas e animais, concentrações maiores do que 1,5 mg/l apresentam toxidade de risco em ecossistemas marinhos (CLESCERI; GREENGERG; EATON, 1998 apud ALEXANDRE, 2000). As concentrações de zinco, bem como dos outros elementos, encontradas nas LDRs denotam que ainda há contaminação da água contida nas mesmas, o que deve ser levado em conta em estudos posteriores de recuperação da área, para que os parâmetros de qualidade da água ainda não atingidos sejam adequados, tanto por novas técnicas de recuperação quanto por modificações nos processos já existentes. Rodrigues (2006) analisou três pontos amostrais localizados no rio Mãe Luzia, em Treviso, em locais contaminados pela mineração do carvão e em um ponto a montante, em local livre da contaminação registrou valores de Al que variaram de 1,31 mg/l (local não contaminado) e de 15,27 a 21,85 mg/l nas áreas contaminadas. O Mn é relevante na ciclagem dos nutrientes, no entanto no compartimento aquático, a forma iônica atua mais como um elemento traço (ESTEVES, 1988), ficando atrás 42 somente do ferro, que é o metal mais abundante na natureza e reage com fosfatos e grupos carboxílicos, sendo então fundamental ao metabolismo dos seres vivos (FÔRSTNER; WITTMANN, 1981). Em áreas de mineração de carvão, o comportamento do Mn é semelhante ao do ferro (JICA, 1998) onde em águas superficiais a forma oxidada é a mais encontrada (BRANCO, 1986 apud ALEXANDRE, 2000). O Zn, por sua vez, também é um metal com quantidades de aproximadamente 0,02% na crosta terrestre, sendo então consideravelmente abundante (GIANOTI, 1986 apud SILVANO, 2003). Normalmente as concentrações desse elemento nas águas são baixas, porém fontes antropogênicas podem aumentar consideravelmente sua disponibilidade (ALLEN, 1989). Silvano (2003) encontrou para o Zn as menores concentrações dentre todos os elementos analisados em seu estudo realizado nas águas da lagoa Azul, em Siderópolis, no período de maio de 2001 a janeiro de 2002. Os valores máximos encontrados foram 0,17 mg/l, ficando abaixo das concentrações indicadas pela Resolução CONAMA 357 (BRASIL, 2005), fixadas em 5 mg/l de zinco total. No presente estudo, de modo geral, os valores de concentração total detectados para Al, Mn e Zn na água, variaram de zero a 25,00; zero a 5,00 e zero a 1,40 mg/l, respectivamente. Levando-se em conta a Resolução CONAMA 357/05 (água Classe 3) observa-se que o elemento Mn esteve acima do limite máximo permitido, para a maior parte das LDRs, enquanto que Zn esteve abaixo do limite permitido em todas as LDRs e em todo o período estudado. No caso específico do Al, a Resolução não especifica o conteúdo total, somente dissolvido, motivo pelo qual não se pode traçar comparações. Analisando-se as figuras 16, 17 e 18, observa-se que os elementos estudados (Al, Mn e Zn) seguem um padrão único em relação à variação na concentração, ou seja, entre 06/2003 a 07/2004, apresentam um pico de concentração, baixando seus valores para abaixo de 4,0 (Mn) e próximo a zero para Al e Zn entre 07/2004 a 05/2005 (Mn) e 07/2004 a 11/2005 para Al e Zn. A partir de 11/2005 o manganês apresenta tendência a aumento em todas as lagoas enquanto que Al e Zn apenas na LDR-04, apresentando os dois últimos neste intervalo de tempo, os maiores valores de concentração observados no período. Dentre os corpos estudados as LDRs 04 e 05 foram as que apresentaram as maiores variações na concentração dos três elementos estudados, destacando-se a LDR-04 para Al, Mn e Zn e a LDR-05 para Mn. Estes dados seguem a mesma tendência observada para acidez total e sulfato, justificada pela exposição de rejeitos oriundos da limpeza das lagoas depositados entre as mesmas. Assim sendo, não fosse esse fato isolado a tendência seria das LDRs apresentarem uma diminuição nos níveis de concentração dos elementos 43 estudados, disponibilidade de sulfato e acidez total, a medida que o tempo passa, e os corpos d’água atinjam o equilíbrio ambiental, o que vem a atestar a efetividade do processo de recuperação adotado de afogamento de rejeitos (coberturas úmidas), pelo menos no que se refere a qualidade da água superficial dos 11 ha até o momento recuperados no Campo Vila Funil. Desta forma, o procedimento de limpeza das lagoas deve ser abandonado, uma vez que o objetivo de recuperação é dar condições para que estas áreas sejam sustentáveis por si só, portanto, é importante ressaltar que não deve haver interferências no processo de sucessão ecológica dos corpos d’água. 4.2 Florística O levantamento florístico resultou em 94 entidades taxonômicas (Tabela 01) distribuídos em 62 gêneros e 24 famílias. Dentre estas, 17 foram identificadas somente em nível de família, 5 em nível de gênero, 4 não foram identificadas (denominadas de espécies indeterminadas) e 2 encontram-se na condição de ainda não descritas (aqui denominadas espécies novas), entretanto estas duas espécies já foram identificadas e enquadradas no gênero Axonopus, mas ainda não descritas cientificamente (Ilsi Boldrini, comunicação pessoal). Tabela 01: Relação das 94 entidades taxonômicas e respectivas formas de vida conforme Irgang, Gartal-Jr, (1996), coletadas no levantamento florístico da área estudada, onde: 1 – Flutuantes livres (1.1 abaixo da superfície; 1.2 – na superfície; 1.3 – acima da superfície); 2 – Enraizadas no substrato (2.1 – plantas com partes vegetativas inteiramente submersas; 2.2 – plantas com folhas flutuantes; 2.3 – plantas com caules flutuantes; 2.4 – plantas com partes vegetativas emergentes; 2.5 – trepadeiras; 26 – anfíbias tolerantes a seca); 3 – Enraizadas sobre outras macrófitas (3.1 – Epífitas) e terrestres. Formas de vida Família/Nome científico 1. APIACEAE Centella hirtella Nannf. 2.1, 2.4, 2.6 2. ASCLEPIADACEAE Oxypetalum sp. 1 Terrestre 3. ASTERACEAE Aster squamatus (Spreng.) Hieron Terrestre Baccharis cylindrica (Less.) DC. Terrestre Baccharidastrum sp. Terrestre 44 Baccharis dracunculifolia DC. Terrestre Baccharis spicata (Lam.) Baill. Terrestre Baccharis cf. trimera (Less.) DC. Terrestre Baccharis uncinella DC. Terrestre Emilia fosbergii Nicolson Terrestre Erechtites valerianaefolia (Wolf) DC. Terrestre Eupatorium laevigatum Lam. Terrestre Eupatorium inulaefolium H.B. & K. Terrestre Mikania cordifolia (L. F.) Willd. Terrestre Pluchea sagitallis (Lam.) Cabrera Terrestre Pterocaulon cf.virgigatum Kuntze Terrestre Solidago chilensis Meyen Terrestre Vernonia scorpioides (Lam.) Pers. Terrestre Vernonia tweediana Baker Terrestre 4. AZOLLACEAE (Pterydophyta) Azolla sp. 1 1.3 5. BEGONIACEAE Begoniaceae 1 2.6 6. COMMELINACEAE Commelina cf. difusa Burm f. 2.6, terrestre 7. CONVOLVULACEAE Ipomoea cf. grandifolia (Dammer) O’Donell 2.4, 2.6, terrestre 8. CYPERACEAE Cyperus hermaphroditus Standl. 2.4, 2.6 Cyperus odoratus L. 2.4, 2.6 Eleocharis acutangula (Roxb.) Schult. 2.4 Eleocharis interstincta (Vahl) Roem. & Shult. 2.4 Eleocharis minima Kunth 2.1, 2.6 Eleocharis montana (Kunth) Roem. & Schult. 2.4 Fimbristylis autumnalis (L.) Roem & Schult. 2.4 Fimbristylis dichotoma Vahl. 2.6 Kyllinga brevifolia Rottb. 2.4, 2.6 Pycreus polystachyus (Rottb.) P. Beauv. 2.4, 2.6 Scleria panicoides Kunth 2.4, 2.6 Ciperaceae 1 2.4, 2.6 Ciperaceae 2 2.4, 2.6 Ciperaceae 4 2.4, 2.6 Ciperaceae 5 2.4, 2.6 45 9. FABACEAE Desmodium adscendens (Sw.) DC. Terrestre Desmodium incanum DC. Terrestre 10. JUNCACEAE Juncus microcephalus Bonpand & Kunth 2.4, 2.6 Juncus scirpoides Lam. 2.4, 2.6 Juncaceae 1 2.4, 2.6 Juncaceae 2 2.4 Juncaceae 3 2.4 11. LAMIACEAE Hyptis cf. mutabilis (Rich.) Briq. Terrestre 12. LYCOPODIACEAE (Pteridophyta) Lycopodium cernuum L. 2.6, terrestre 13. LYTHRACEAE Cuphea carthagenensis (Jacq.) Macbr. Terrestre 14. MELASTOMATACEAE Tibouchina herbacea (DC.) Cogn. Terrestre Tibouchina versicolor (Lind.) Cogn. Terrestre 15. NYNPHAEACEAE Nymphaea elegans Hook. 2.2 16. ONAGRACEAE Ludwigia decurrens Walter 2.6, terrestre Ludwigia multinervia (Hook. & Arn.) Ramamoorthy 2.6, terrestre Ludwigia octovalvis (Jacq.) P.H. Raven 2.6, terrestre Onagraceae 1 2.2 17. POACEAE Axonopus compressus (Sw.) Beauv. Terrestre Axonopus fissifolius (Raddi) Kuhlm. Terrestre Axonopus jesuiticus (Araújo) Valls Terrestre Axonopus obtusifolius (Raddi) Chase Terrestre Axonopus polystachyus G.A. Black Terrestre Axonopus parodii (espécie nova 1) Terrestre Axonopus araujoi (espécie nova 2) Terrestre Brachiaria sp. 1 Cortaderia selloana (Schult.) A & G 2.4, 2.6 Terrestre 46 Dichanthelium sabulorum (Lam.) Gould & C. A. Clark 2.4, 2.6 Digitaria sp. 2.4, 2.6 Leersia hexandra Sw. 2.4, 2.6 Panicum demissum Trin. 2.4, 2.6 Panicum aquaticum Poir. In Lan 2.4, 2.6 Paspalum conjugatum Bergius Paspalum pumilum Nees Setaria parviflora (Poir.) Kerguélen Terrestre 2.6, terrestre 2.4, 2.6 Schizachyrium microstachyum (Desv.) Roseng., B.R. Arr. & Izag Terrestre Poaceae 1 Terrestre Poaceae 2 Terrestre Poaceae 3 Terrestre Poaceae 4 Terrestre Poaceae 5 Terrestre Poaceae 6 Terrestre Poaceae 7 Terrestre Poaceae 8 Terrestre 18. POLYGONACEAE Polygonum hydropiperoides L. 2.4, 2.6 19. PONTEDERIACEAE Eichhornia crassipes (Mart.) Solm 1.3 20. PTERIDACEAE (Pteridophyta) Pityrogramma calomelanos (L.) Link Terrestre Pteridium aquilinum (L.) Jun Terrestre 21. RUBIACEAE Diodia cf. dasycephala Cham. et Schlecht Terrestre Richardia scabra L. Terrestre 22. SALVINACEAE (Pteridophyta) Salvinia auriculata Aubl. 1.3 23. SCHIZAEACEAE (Pteridophyta) Lygodium volubile Sw. 24. TYPHACEAE Typha domingensis Pers. Terrestre 2.4 25. INDETERMINADAS Indeterminada 1 Terrestre Indeterminada 2 Terrestre 47 Indeterminada 3 Terrestre Indeterminada 4 Terrestre As famílias mais representativas foram Poaceae (14 gêneros e 26 espécies) seguida por Asteraceae (10 gêneros e 17 espécies), Cyperaceae (8 gêneros e 15 espécies) e por fim Juncaceae (3 gêneros e 5 espécies). Estas famílias totalizaram 57% dos gêneros (Figura 19) e 67% das espécies (Figura 20) listadas no presente estudo. Figura 19: Distribuição do número de gêneros por família listados no levantamento florístico da vegetação de borda e interior das LDRs localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Em um levantamento de macrófitas aquáticas encontradas em açudes lagos, rios e regiões de inundação no Vale do Rio Pardo que percorre as cidades de Santa Cruz, Sinimbu, Rio Pardo e o Distrito de Porto Ferreira, Rio Grande do Sul Gastal-Jr; Irgang (1997) listaram 29 famílias, 44 gêneros e 60 espécies, sendo Poaceae a família que apresentou maior número gêneros (4) e 5 espécies, seguida por Cyperaceae (3 gêneros e 7 espécies). Prochnow; Porto (2000) estudando uma lagoa sobre área de mineração de carvão a céu aberto no município de Charqueadas observaram a presença de 7 famílias, 8 gêneros e 10 espécies de macrófitas aquáticas, excetuando-se as espécies de margem em terra firme. No mesmo estudo, porém em uma área de banhado foram listadas 16 famílias, 33 gêneros e 42 espécies, sendo que Poaceae destacou-se contendo 6 gêneros e 10 espécies. 48 Figura 20: Distribuição do número de gêneros por família listados no levantamento florístico da vegetação de borda e interior das LDRs localizadas junto ao lavador da Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Os autores op cit. ainda afirmam que lagoas sobre rejeitos, apesar dos fatores agravantes como concentrações de metais tóxicos e recebimento de lixívias de áreas adjacentes são ecossistemas merecedores de maiores estudos, pois permitem o estabelecimento de uma biota diversa, apresentando uma possível solução de manejo de áreas degradadas pela mineração do carvão. A forma de vida terrestre, no presente estudo, representa 45,6% das espécies amostradas, seguida pela forma de vida anfíbia tolerantes a seca (25,6%), seguida por enraizadas no substrato com caules flutuantes (23,2%) (Figura 11). As demais formas de vida (1.3, 2.1, 2.2 e 2.4) somam 5,6%. Os dados obtidos seguem a tendência para ambientes naturais, uma vez que zonas de transição apresentam uma riqueza específica maior do que o ambiente terrestre e o ambiente aquático propriamente dito, muito embora os corpos d’água estudados tenham sido construídos, diferindo assim, das formações aquáticas naturais. Essa distribuição discrepante das formas de vida, também observada em outros trabalhos em diversos ambientes (COSTA-NETO, TOSTES, THOMAZ, 2003; FRANÇA et al., 2003) se deve a grande adaptabilidade das macrófitas a ambientes que por ora podem estar secos. Por serem plantas de ambiente transitório (ecótono) apresentam adaptação a sobrevivência nos dois ambientes (COSTA-NETO; TOSTES; THOMAZ, 2003). Entretanto, a pequena quantidade de espécies flutuantes não significa que a cobertura acompanhe a mesma tendência, pois pelo fato de serem corpos d’água construídos a pouco tempo a riqueza é baixa, no entanto, o número de indivíduos é extremamente elevados, característico de comunidades 49 pioneiras. Entre as espécies estudadas destacam-se Salvinia auriculata cobriu grande parte da superfície das LDRs amostradas, formando um tapete uniforme sobre a lâmina d’água, assim como Eichhornia crassipes, em menor proporção. Salvinia auriculata é importante na purificação e oxigenação da água, porém a elevada taxa de matéria orgânica, quando em decomposição pode reverter esse processo. Também é usada como abrigo para desova de peixes, alevinos e outros organismos aquáticos bem como para a camuflagem. É relatada a função de forragem para capivara, insetos, caramujos, peixes e aves, podendo servir como fertilizante e cobertura seca (COSTA-NETO; TOSTES; THOMAZ, 2003). Eichhornia crassipes também apresenta as funções acima relatadas para a fauna associada. Typha domingensis (FREITAS, 2007) assim como Eleocharis sp. apresentam potencial para a utilização em wetlands pela tolerância a baixo pH, metais tóxicos, crescimento rápido e capacidade de reprodução vegetativa. 4.3 Suficiência amostral Ao realizar uma amostragem é importante avaliar o número de unidades amostrais e a forma que estas serão alocadas (casual, preferencial, sistemática ou estratificada) na área de estudo, pois ela é a ferramenta de obtenção dos dados e age diretamente na interpretação dos resultados (GOEDICKEMEIR et al., 1997), portanto deve ser capaz de suprir a suficiência desejada, entretanto sem efetuar um esforço amostral desnecessário. A escolha da metodologia de amostragem sistemática – onde a alocação da primeira unidade amostral é selecionada ao acaso e os subseqüentes são tomados a intervalos regulares pré-definidos (PILLAR, 1996) – empregada no presente estudo, teve por objetivo evidenciar a distribuição da vegetação no entorno e interior das lagoas construídas em antigas cavas de mineração de carvão a céu aberto, em função dos fatores ambientais e dos parâmetros químicos da água, de forma que melhor representar a variação desses micro ambientes. O esforço amostral empregado resultou em um total de 204 unidades amostrais, onde foi registrado um total de 2332 toques das agulhas, sendo que destes, 2162 tocaram espécimes de macrófitas, 104 apenas no solo nu, rejeito exposto ou matacões de rocha, 55 apenas na lâmina d’água e 11 tocaram apenas em indivíduos mortos. Os registros que não 50 tocaram a vegetação foram desconsiderados para a análise de suficiência amostral e demais parâmetros fitossociológicos. Para Mueller-Dombois; Ellenberg (1974) a suficiência amostral é alcançada quando se observa um incremento apenas 5% do número de novas espécies em um aumento de 10% do número de unidades amostrais. As curvas cumulativas de espécies por área, expressas individualmente para cada uma das cinco LDRs estudadas (Figuras 21 A a E) evidenciam tendências a estabilização na forma de patamares, isto é, o incremento de espécies acontecia a cada nova mudança nas condições ambientais. Isso aconteceu devido à intensa variação no ambiente em pequenos espaços de área observados em campo. Ora havia a ocorrência de agrupamentos de espécies sobre solo composto por uma camada de argila, ora o solo encontrava-se exposto com estéreis, matacões de rochas, rejeitos, contendo poucas espécies. Na parte interna das lagoas ocorriam espaços desprovidos de vegetação, alternados com espaços com elevada densidade de indivíduos, no entanto, esta variação não era tão abrupta quanto no ambiente terrestres. Assim, a existência de pequenos aglomerados localizados de vegetação ao longo da margem e interior da lagoa reflete a configuração das curvas de suficiência amostral em todas as LDRs estudadas. Além disso, pelo fato de todo o perímetro das LDRs ter sido amostrado, o levantamento ocorreu mais na forma de um senso do que de uma amostragem propriamente dita, implicando assim no levantamento da totalidade e não apenas de uma parcela amostral representativa. Procedimento esse adotado pelo fato dos corpos d’água terem sido construídos e algumas aquáticas terem sido introduzidas, o que interfere na dinâmica sucessional da comunidade. 4.4 Estrutura vegetacional e Fatores ambientais A classificação e ordenação das unidades amostrais semelhantes a partir da composição florística originam grupos de espécies associadas características de determinados locais, esboçados em uma tabela estruturada organizada de forma que as linhas correspondem às espécies e as colunas aos relevés (unidades amostrais), seguindo-se as classificações resultantes da análise de agrupamento, resultando então em “unidades de vegetação” (MÜELLER-BOMBOIS; ELLENBERG, 1974). 51 A B C D E Figura 21: Curva cumulativa de espécies por área amostrada em cada LDR estudada, onde: A – LDR-01; B – LDR-02; C – LDR-03; D – LDR-04 e E – LDR-05, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Segundo os autores op cit. o termo “unidades de vegetação” é empregado de forma abstrata, já que ao analisar a estrutura vegetacional podem-se observar agrupamentos assim como o valor fitossociológico das espécies dentro das comunidades, entretanto, não é possível a visualização das “unidades de vegetação” em campo, já que a distribuição das mesmas não ocorre como em uma parcela real de coleta. Neste estudo optou-se por empregar o termo relevé, conforme definido pelo software utilizado, como sendo a unidade amostral, os agrupamentos de unidade amostrais e de espécies, como grupos de relevés e grupos de espécies associadas, respectivamente, e a junção dos dois de “unidades de vegetação”. Müeller-Dombois e Ellenberg (1974) recomendam que na análise fitossociológica sejam mantidas apenas as espécies de constância intermediária (freqüência entre 10 e 60%), 52 eliminando-se da análise as espécies de ocorrência rara ou elevadas, pois não refletem as variações das condições ambientais. Entretanto assinalam também que estes limites são variáveis de acordo com o tipo de vegetação analisada e a critério do pesquisador, critérios estes adotados em vários trabalhos (ZOCCHE, 1989; 2002; OLIVEIRA; 1998; GIRARDIDEIRO, 1999) Como o objetivo do trabalho é observar as comunidades de macrófitas aquáticas que se desenvolveram em lagoas ácidas construídas em antigas cavas de mineração a céu aberto, bem como relacioná-las com parâmetros químicos das águas, com o objetivo de selecionar espécies tolerantes para serem usadas em processos de fitorremediação, decidiu-se neste trabalho por manter as espécies com freqüência maior do que 60%, optando-se também pela permanência das espécies com freqüência menor que 10%, pois o número de espécies totais encontrada nas lagoas é reduzido e a permanência das mesmas na análise não gerou maiores dificuldades na análise dos dados. Zocche (2002) testou os três métodos de classificação aglomerativa existentes no software MULVA 5L: ligação simples, ligação completa e variância mínima, e ressalta que a melhor representação dos grupos de espécies e de unidades amostrais foi obtida pela variância mínima. Costa (2007) também empregou este método conseguindo os melhores resultados na análise dos estudos fitossociológicos, procedimento também utilizado neste trabalho. A análise de agrupamento pelo critério aglomerativo de variância mínima, tendo como medida de similaridade a Covariância, aplicado as matrizes de associação de relevés e de espécies, possibilitou a identificação da ocorrência de 4 grupos relevés (figura 22) e de 5 de espécies (figura 23). A tabela 02 que apresenta a distribuição das 34 espécies registradas no levantamento fitossociológico da LDR-01, ordenadas de acordo com os agrupamentos gerados nos dendrogramas, de acordo com os valores de cobertura. Optou-se por este número de agrupamentos, pois foram os que melhor representaram a situação encontrada na área. -4.69E-01 1.30E+00 3.07E+00 4.85E+00 6.62E+00 8.39E+00 --0--.-----+-----.-----+-----.-----+-----.-----+-----.-----+ 47 ****** |** 30 ****** * |******* 27 ***** * * |*** * 26 ***** ** * |* * 23 ******* * |*** 42 ******** * * |******* * 34 ******** ** * |* * 31 **** * * |****** * * 6 **** * * * |**** *1 1 38 ***** * * 53 |* * 14 ****** * |** * 43 ****** * * |** 16 ******** * * * * * * |**************************************** 22 ******* *2 2 * |********* * * 19 ******* * * * |** * 39 ******* * * |** * * 35 ******* * * * |** * * 8 ***** * * * * |**** * * * 4 ***** ** * * * |* * * * 10 ******** * * * |***** * 46 ******** * * |* * * 12 ********* * * |** * 1 ********* * |** 33 ***** * |** * 13 ***** * * |**** * 37 ***** * * * |** * * * 17 ***** * 3 |******** * 36 ***** * * * |* * * * 32 ****** * * * |** * * * 40 ****** * * * * |*** * * 18 ******** * * * | * * 45 ***** * * * | * * * 28 ***** * * * |*** * * * 25 ***** * * * * |*** * * 15 ****** * * * |** * * 3 ****** * * |*************************************** 29 **** * |** * 20 **** * * |***** * 44 *** * * * |* * * * 21 **** * * * |** * * 41 **** * 4 * |******** 48 ***** * | * 5 ***** * |**** * 24 ***** * * |** 11 *** * |*** * 9 *** * * |*** 7 ****** |* 2 ***** --0--.-----+-----.-----+-----.-----+-----.-----+-----.-----+ -4.69E-01 1.30E+00 3.07E+00 4.85E+00 6.62E+00 8.39E+00 Figura 22: Dendrograma de classificação das 48 unidades amostrais alocadas na LDR-01, obtido pela análise de agrupamento, aplicado aos dados referidos na tabela 02, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. 3.76E-02 6.27E-01 1.22E+00 1.81E+00 2.40E+00 2.98E+00 -----.-----+-----.-----+-----.-----+-----.-----+-----.-----+ 29 *** |******** 20 *** *1 1 |*********************************************** 32 *********** * |** 24 ******** * |******* * 11 ******** * * |*********** * 10 *************** *2 2 * |************ * 30 ************** * * * |**** * * * 21 ************** * * * * |** * * * 27 ****************** * * * * 54 |* * * 26 ***************** * * |****** 2 ******************** * * * * * * * * |******************** 34 *************** * |****** * 16 *************** *3 3 * |********* * 19 ***************** * * * |**** * * 14 ***************** * * |******** 31 ***************** * | * 23 ***************** * |********** * 13 ***************** * * |*** 33 **************** * ** 4 |********* * **4 18 **************** * * ** |** ** 7 *************** * ** |* * ** 1 **************** * ** |********* ** 6 **************** ** |* 25 ***************** * | * 9 ***************** * |************ 8 ***************** ** |*5 5 22 ************** * |*********** * 5 ************** * * |*** 17 ************* * |************ 12 ************* ** |* 15 ***************** * |***** * 4 ***************** * * |** 28 ******************** * |** 3 ******************** -----.-----+-----.-----+-----.-----+-----.-----+-----.-----+ 3.76E-02 6.27E-01 1.22E+00 1.81E+00 2.40E+00 2.98E+00 Figura 23: Dendrograma da classificação de 34 espécies amostradas na LDR-01, obtido pela análise de agrupamento, aplicado aos dados referidos na tabela 02, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Verifica-se na tabela estruturada (Tabela 02) a ocorrência de quatro grupos de espécies associadas, as quais se posicionaram em forma de diagonal, refletindo a variação dos fatores ambientais. Os agrupamentos de espécies A e D posicionaram-se em extremos opostos da tabela estruturada, refletindo os ambientes com menor teor de umidade e interior da lagoa respectivamente. Entre estes extremos estão localizados os agrupamentos B e C, que refletem a variação na flutuação do lençol freático. Para a denominação das “unidades de vegetação” Müeller-Dombois; Ellenberg (1974) sugerem entre outros critérios que sejam usadas as espécies que apresentarem maior valor fitossociológico em cada grupo de espécies associadas. Estes critérios foram adotados por Pillar (1988), Zocche (1989; 2002), Oliveira (1998), Daniel (2006), Rebelo (2006) e Costa (2007) e também foram empregadas no atual estudo. 55 Tabela 02: Distribuição das 34 espécies nas 48 unidades amostrais utilizadas para a análise fitossociológica da LDR-01, contendo os respectivos valores de cobertura, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Nomeou-se, então, a “unidade de vegetação A” Paspalum conjugatumDesmodium adcendens, localizada no canto superior esquerdo da tabela 2, contendo mais seis espécies além das que denominam o grupo. Este grupo de espécies representa o microambiente terrícola existente no entorno da margem das lagoas, sendo menos tolerante ao encharcamento do terreno. Já a “unidade de vegetação B” foi definida como Brachiaria sp.-Axonopus obtusifolius, sendo que para esta uniu-se dois agrupamentos de espécie em uma mesma “unidade de vegetação”, já que se trata de um mesmo micro-ambiente encontrado nas lagoas. Este local em questão é a área de margem que está sujeita as variações de nível d’água das lagoas. Entretanto nestas “unidades de vegetação” é possível distinguir a ocorrência de dois subgrupos de espécies associadas, um típico ambientes de margem para a terra e outro de margem para o interior da lagoa. 56 O grupo de espécies associadas C, denominado “unidade de vegetação” Eleocharis interstincta-Vernonia twediana é formado por espécies que ora toleram ambientes encharcados e ora ambientes secos (anfíbias). Já para o último grupo de espécies associadas, localizados no interior da lagoa, utilizou-se a denominação “unidade de vegetação D” Salvinia auriculata-Leerzia echandra. A análise de concentração aplicada a tabela estruturada (Tabela 02), com o auxílio da rotina CONCENT, teve por objetivo medir a nitidez na formação dos agrupamentos de espécies. Como resultado obteve-se um qui-quadrado calculado de 98,727, valor esse muito maior do que o de tabela (x²0,05, 12 = 21,03), mostrando, de acordo com Feoli; Orlóci (1979), uma forte estrutura de grupo, entretanto baixa nitidez, revelada pelo valor do coeficiente de contingência (C = 0,195), uma vez que este índice varia entre 0 e 1. A análise de concentração executada também originou três variáveis canônicas (Tabela 03), sendo que as duas primeiras explicaram 92,74% da variação total da informação (expressas como frações do qui-quadrado total). Os escores canônicos resultantes da relação entre os agrupamentos de relevés e de espécies foram utilizados como coordenadas para a localização destes grupos no diagrama de dispersão de pontos (Figura 24). Tabela 03: Variáveis canônicas, coeficiente de correlação canônica em porcentagem, qui-quadrado e coeficiente de contingência obtidos a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 02 para análise fitossociológica da LDR-01, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Coeficiente de Variáveis Coeficiente de correlação % X² contingência Canônicas canônica 01 02 03 0,61945 0,39752 0,20601 65,69 27,05 7,26 98,727 0,195 A apresentação de resultados por meio da diagramação de pontos, executada pela rotina ORDINA, permite uma melhor interpretação dos agrupamentos formados na tabela 02, que embora não apresentem grande nitidez, posicionaram-se de forma que é possível observar a associação dos agrupamentos existentes. Nesta parte da explanação dos resultados referentes ao ORDINA estabeleceu-se a denominação F para relevés e S para grupos de espécie, conforme é apresentado na figura 24. 57 Figura 24: Diagrama de dispersão de relevés (F) e grupos de espécies (S), a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 02 para análise fitossociológica da LDR-01, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Os agrupamentos formados estão delimitados pelas elipses, ou seja, pode-se observar a relação entre os agrupamentos, formado por F1, S4 e S5. Essa conformação dos grupos em relação ao eixo X pode ser justificada pelo fator de encharcamento, ou seja, os agrupamentos formados por F4, S1 e F3, S3 localizam-se, respectivamente, totalmente dentro da lagoa e na parte marginal com maior contato com a água. Já os grupos F1, S4, S5 e F2, S2 localizam-se, respectivamente, na parte marginal com maior contato com a área terrícola e totalmente fora d’água (anfíbias). A posição dos grupos em relação ao eixo Y não é tão clara quanto a disposição relacionada ao encharcamento, como no eixo X, desta forma não foi possível inferir qual variável ambiental teve a segunda maior influência na distribuição das espécies. Para as LDRs 02 a 05 seguiram-se os mesmos procedimentos de análise adotados para a LDR-01, motivo pelo qual apenas discutiremos as respectivas tabelas estruturadas e diagrama de dispersão de pontos. 58 A análise de associação aplicada à matriz de semelhança de relevés e espécies da LDR-02 revelou a ocorrência de 3 agrupamentos de unidades amostrais e 3 agrupamentos de espécies esboçados na tabela 04. Tabela 04: Distribuição das 27 espécies nas 38 unidades amostrais utilizadas para a análise fitossociológica da LDR-02, contendo os respectivos valores de cobertura, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Observa-se de três agrupamentos de espécies denominados de: “unidade de vegetação A” Paspalum conjugatum-Desmodium adscendens, característica de ambientes terrícolas; “Unidade de vegetação C” Salvinia auriculata-Brachiaria sp., característico da parte interna da lagoa e “Unidade de vegetação B” Ludwigia octovalvis-Axonopus polistachyus, que posicionou-se de forma intermediária as duas anteriores. O qui-quadrado calculado para essa análise foi de 50,248 (tabela 05), muito maior do que o de tabela (x²0,05, 4 = 9,49), mostrando também uma forte estrutura de grupo. No entanto o valor apresentado no coeficiente de contingência (C = 0,174) representa fraca nitidez entre os grupos formados. A análise de concentração executada também originou duas variáveis canônicas (Tabela 05), sendo que a primeira explica 99,61% da variação total de informação. A diagramação de pontos mostra os grupos formados na tabela 04 que, mesmo sem grande nitidez são visíveis e distinguíveis (Figura 25). O grupo F2, S1, constituído pela 59 “unidade de vegetação A” Paspalum conjugatum-Desmodium adscendens, posicionou-se, em relação ao eixo Y, do lado contrário ao grupo F3, S3, “unidade de vegetação C” Salvinia auriculata-Brachiaria sp. e, em relação ao eixo X, na mesma linha. Isso corrobora a disposição real no ambiente estudado dos dois agrupamentos, uma vez que o primeiro é composto por espécies anfíbias tolerantes a seca e o segundo é composto por espécies essencialmente aquáticas. Já o agrupamento de F1, S2, “unidade de vegetação B” Ludwigia octovalvis-Axonopus polistachyus, posicionou-se em relação ao eixo X, mas entre os outros agrupamentos, confirmando também sua representatividade como grupo intermediário entre os agrupamentos A e B. Tabela 05: Variáveis canônicas, coeficiente de correlação canônica em porcentagem, qui-quadrado e coeficiente de contingência obtidos a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 04 para análise fitossociológica da LDR-05, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Coeficiente de Variáveis Coeficiente de % X² contingência Canônicas correlação canônica 01 0,58956 99,61 50,248 0,174 02 0,03703 0,39 A tabela 06 traz o resultado das análises de agrupamento aplicado a LDR-03, onde verifica-se a formação da “unidade de vegetação A” Salvinia auriculata-Leerzia echandra, únicas espécies desse agrupamento, que se mostra majoritariamente em ambiente essencialmente aquático. A “unidade de vegetação B” denominada de Eleocharis acutangulaBrachiaria sp., sendo o grupo com maior número de espécies, ocupando um ambiente de ecótono entre a água e ambiente terrícola. Já a “unidade de vegetação C”, contendo somente duas espécies, Desmodium adscendens-Paspalum conjugatum encontrada em campo geralmente no local amostrado mais afastado da margem da lagoa (2 m de distância). A “unidade de vegetação D” foi denominada Schizachiryum microstachium-Axonopus polystachyus localizada no canto inferior direito da tabela 06, abrange também locais terrícolas. 60 Figura 25: Diagrama de dispersão de grupos de unidades amostrais (F) e grupos de espécies (S) a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 04 para análise fitossociológica da LDR-02, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Tabela 06: Distribuição das 25 espécies nas 34 unidades amostrais utilizadas para a análise fitossociológica da LDR-03, contendo os respectivos valores de cobertura, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. 61 A análise de agrupamento revelou um qui-quadrado de 93,629 (tabela 07), muito maior do que o de tabela (x²0,05, 9 = 16,92), apontando uma forte estrutura de grupo no entanto apresentando baixa nitidez (C = 0,276), mas foi o índice de maior valor encontrado até o momento. Com a análise de concentração gerou-se três variáveis canônicas, sendo que as duas primeiras explicam 98,87% da variação total de informação. Tabela 07: Variáveis canônicas, coeficiente de correlação canônica em porcentagem, qui-quadrado e coeficiente de contingência obtidos a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 06 para análise fitossociológica da LDR-03, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Coeficiente de Variáveis Coeficiente de % X² contingência Canônicas correlação canônica 01 0,78074 73,57 02 0,45789 25,30 93,629 0,276 03 0,09668 1,13 Os grupos formados na tabela 06, ao serem distribuídos de acordo com dados da tabela 07 resultaram na diagramação de pontos que permite uma fácil visualização dos mesmos. O grupo F1, S3, denominado “unidade de vegetação D” Schizachiryum microstachyum-Axonopus polystachyus, posicionou-se relativamente distante do resto dos agrupamentos, podendo ser considerado um grupo de espécies anfíbias tolerantes a seca (Figura 26). O grupo F3, S3, Salvinia auriculata-Brachiaria sp. e, em relação ao eixo X, posicionaram-se na mesma linha. Isso corrobora a disposição real no ambiente estudado dos dois agrupamentos, uma vez que o primeiro é composto por espécies anfíbias tolerantes a seca e o segundo é formado essencialmente por espécies aquáticas. Já os agrupamentos de F3, S4, Eleocharis acutangula-Brachiaria sp. e F4, S1 Salvinia auriculata-Leerzia echandra encontraram-se muito próximas e sobre o eixo X, ratificando a ligação destes grupos em relação ao fator encharcamento. Entretanto, o grupo S1 (Tabela 06) que se encontra mais afastado em relação ao eixo Y (Figura 26) é muito mais tolerante ao encharcamento contínuo. 62 Figura 26: Diagrama de dispersão de grupos de unidades amostrais (F) e grupos de espécies (S) a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 06 para análise fitossociológica da LDR-03, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. A tabela 08 apresenta o resultado das análises de agrupamento aplicado aos dados fitossociológicos da LDR-04, revelando a ocorrência de quatro agrupamentos de espécies. As “unidades de vegetação” foram denominadas como: A – Eleocharis acutangula-Brachiaria sp., sendo que para este grupo de espécies associadas uniram-se dois agrupamentos de relevés, localizados na parte superior esquerda da tabela 08; B – Desmodium adcendens-Paspalum conjugatum, localizando-se em campo nos locais de umidade intermediária; C – Schizachyrium microstachyum-Axonopus polystachyus, contendo além das espécies que denominam o grupo Axonopus parodii e Vernonia twediana, ocupando um micro ambiente mais seco em relação aos demais e; D – Typha domingensis-Cortaderia selloana, formando um agrupamento de baixa representatividade em relação a distribuição observada em campo. 63 Tabela 08: Distribuição das 17 espécies nas 34 unidades amostrais utilizadas para a análise fitossociológica da LDR-04, contendo os respectivos valores de cobertura, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. As associações entre os grupos de relevés e grupos de espécies encontradas na LDR-04 expressam um qui-quadrado de 79,269 (Tabela 09), muito maior do que o de tabela (x²0,05, 12 = 21,03), ressaltando também uma forte estrutura de grupo. Já o coeficiente de contingência (C = 0,239) revela fraca nitidez entre os grupos formados, como foi possível observar para o agrupamento Typha domingensis-Cortaderia selloana que englobou espécies de diversos micro ambientes, podendo ser considerado um agrupamento outlier. Entretanto, como não foi retirado nenhum agrupamento da análise multivariada, optou-se por manter este agrupamento na tabela 08, mas sabe-se que essa comunidade de espécies não foi observada em campo. Na análise de concentração originaram-se três variáveis canônicas, sendo que as primeiras explicaram 94,06% da variação total de informação. Tabela 09: Variáveis canônicas, coeficiente de correlação canônica em porcentagem, qui-quadrado e coeficiente de contingência obtidos a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 08 para análise fitossociológica da LDR-04, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Coeficiente de Variáveis Coeficiente de % X² contingência Canônicas correlação canônica 01 0,81326 69,14 02 0,48822 24,92 79,269 0,239 03 0,23770 5,91 64 Por meio da diagramação de pontos executada pelo ORDINA é possível observar os grupos formados na tabela 08 que a “unidade de vegetação A” e “C” estão fortemente agrupadas e nítidas (Figura 27), sendo que a primeira encontra-se posicionada, em relação ao eixo Y, do lado contrário ao grupo “C” (F2, F1, S1), onde, novamente o eixo X indica a quantidade de umidade do local. A “unidade de vegetação A” Eleocharis acutangulaBrachiaria sp. encontram-se no interior da lagoa e a unidade Schizachyrium microstachyumAxonopus polystachyus no ambiente terrícola. Os demais agrupamentos posicionaram-se no diagrama de forma intermediária aos agrupamentos A e C, em relação aos dois eixos. Figura 27: Diagrama de dispersão de grupos de unidades amostrais (F) e grupos de espécies (S) a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 08 para análise fitossociológica da LDR-04, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Finalizando a análise, em relação a LDR-05 a tabela 10 apresenta o resultado das análises de agrupamento dos dados fitossociológicos levantados para a mesma. Denominou-se a “unidade de vegetação A” Eleocharis acutangula-Typha domingensis, agrupamento que domina o ambiente do interior da lagoa; “unidade de vegetação B” Paspalum conjugatum- 65 Brachiaria sp., formando o grupo com maior número de espécies incluídas; “unidade de vegetação C” Desmodium adcendens-Schizachyrium microstachyum, ocupando em campo um local menos úmido que os demais. Tabela 10: Distribuição das 28 espécies nas 50 unidades amostrais utilizadas para a análise fitossociológica da LDR-05, contendo os respectivos valores de cobertura, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Analisando as associações entre os grupos de relevés e grupos de espécies encontradas na LDR-05, observa-se que há uma forte estrutura de grupo, já que obteve-se um qui-quadrado de 86,003 (Tabela 11), consideravelmente maior do que o de tabela (x²0,05, 6 = 12,59). O valor apresentado no coeficiente de contingência (C = 0,321) representa uma maior nitidez de grupo, em relação aos formados nas LDRs anteriores. A análise de concentração originou duas variáveis canônicas, sendo que a primeira explica 87,13% da variação total de informação. A diagramação de pontos (Figura 28) revela que os grupos formados na tabela 10 posicionaram-se de forma oposta tanto em relação ao eixo X quanto ao eixo Y. No canto superior esquerdo, localiza-se o grupo F2, S3 denominado de Desmodium adcendensSchizachyrium microstachyum, típico de ambientes menos úmidos em campo (Figura 28). No extremo oposto em relação ao eixo Y posicionou-se o grupo F1, S1 “unidade de vegetação A” 66 Eleocharis acutangula-Typha domingensis, característico de ambiente encharcado. Já o agrupamento de F3, S2, S4 “unidade de vegetação B” Paspalum conjugatum-Brachiaria sp., encontrou-se distante dos outros agrupamentos, sendo que este constituía a maior quantidade de espécies desta lagoa e foram encontradas principalmente em ambiente de transição margem/lagoa. Tabela 11: Variáveis canônicas, coeficiente de correlação canônica em porcentagem, qui-quadrado e coeficiente de contingência obtidos a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 10 para análise fitossociológica da LDR-05, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. Coeficiente de Variáveis Coeficiente de correlação % X² contingência Canônicas canônica 01 0,74780 87,13 86,003 0,321 02 0,28741 12,87 Figura 28: Diagrama de dispersão de grupos de unidades amostrais (F) e grupos de espécies (S) a partir da análise de concentração aplicada a tabela estruturada 10 para análise fitossociológica da LDR-05, Mina do Trevo, Siderópolis, SC. 67 A umidade é um dos fatores de grande influência na distribuição das espécies vegetais, podendo-se encontrar espécies ampla distribuição e outras com distribuição mais restrita (MEIRELLES et al. 2002). Diversos trabalhos confirmaram a associação da vegetação com a condição de encharcamento do solo (ZOCCHE; PORTO, 1993; PILLAR, 1988; COSTA, 2007). Costa (2007) assinala a preferência de Panicum aquaticum, Baccharis spicata, Fimbristylis dicothoma e Cortaderia selloana em habitar de solos úmidos, brejosos. Typha domingensis é relatada como indicadora de locais assoreados e de estádio sucessional avançado, momento que o sistema passa de aquático para sistema terrestre de pântano (TAVARES, 2003). Eichhornia crassipes ocorre com maior abundância em ambientes eutrofizados e poluídos por excesso de matéria orgânica. A configuração atual da distribuição da cobertura vegetal das lagoas estudadas e seu entorno imediato resulta do processo de reconstrução do solo da área, assim como dos fatores estressantes representado pela presença de rejeitos piritosos oriundos da limpeza periódica das lagoas, evidenciado principalmente em relação à lagoa 04. Além desses fatores artificiais o encharcamento periódico da área causado pelo afloramento do lençol freático determina a distribuição e abundância das espécies vegetais, das associações pioneiras observadas na área estudada. 4.5 Similaridade Florística A análise de similaridade florística e observações em campo dos tipos de vegetação dão subsídios para avaliar se as comunidades são, de fato, semelhantes ou não. Estes indicadores tratam do caráter ecológico das espécies, levando em questão a presença e ausência das mesmas. Os índices de similaridade, entre as lagoas estudadas mostraram-se em geral, baixos, já que os valores possíveis variam entre 0 e 100%. Em geral, as LDRs mais próximas entre si (LDR-01 e LDR-02, LDR-03 e LDR-04, LDR-04 e LDR-05) obtiveram os maiores índices relatados. Esses resultados corroboram as observações de campo, muito embora as lagoas tenham sido construídas segundo a mesma metodologia e com os mesmos materiais, apresentaram diferenças marcantes na composição florística pelo fato de ter sido introduzida várias espécies em algumas lagoas e não em outras. Dessa forma o sucesso no 68 desenvolvimento vegetativo condicionou a colonização espontânea de forma diferenciada em cada uma das lagoas estudadas. Tabela 12: Índice de similaridade florística entre as LDRs amostradas no levantamento florístico, Mina do Trevo, Siderópolis, Santa Catarina. Índice de Similaridade Sorensen (%) LDR-01 LDR-02 LDR-03 LDR-04 LDR-05 * ** ** ** ** LDR-01 34,04 * ** ** ** LDR-02 26,82 27,77 * ** ** LDR-03 23,52 24,13 32,25 * ** LDR-04 25,88 30,37 36,14 28,57 * LDR-05 Além desse fato a exposição de rejeitos retirados do fundo das lagoas observados principalmente nas lagoas 04 e 05 teve um papel preponderante na definição das associações vegetais, e por conseqüência no índice de similaridade das lagoas estudadas. 4.6 Processos de Facilitação As plantas fotossintetizantes são a base das cadeias alimentares, tanto aquáticas quanto terrestres. Em ambientes aquáticos a vegetação tem um significado maior como componente fornecedor de material detritívoro. Brooks et al. (1985) afirmam que banhados construídos em áreas mineradas fornecem habitat para uma variedade de espécies de animais selvagens, incluindo anfíbios (FOWLER et al., 1985), répteis (BROOKS et al., 1985), aves e mamíferos (BRENNER; MONDOK, 1978; SANDUSKY, 1978; THOMPSON; 1984; BRENNER; STERNER, 1988), tanto para local de descanso como seu uso para alimentação durante a migração (BRENNER; STERNER, 1987; BRENNER; HOFIUS, 1990). Portanto, ao recuperar uma área degradada deve se atentar para a funcionalidade das populações introduzidas, para que depois, por si só, o sistema seja capaz de manter-se ao longo do tempo. Para isso, deve-se ter por meta o incremento de conectividade espacial e funcional, ou seja, que possibilite a interação de um maior número de espécies animais e vegetais na área. Com a entrada de “espécies chave” – atuante como abrigo para a fauna perifítica, alimento para peixes, local de reprodução aos anfíbios, proteção para larvas de 69 insetos – a criação de novos nichos permite que outras espécies habitem estas áreas de forma vantajosa a toda estrutura trófica a ser formada. As “raízes” de Salvinia são capazes de atuar como filtros retentores de matéria orgânica, colaborando no crescimento organismos coletores, micro-flora e micro-fauna epífita (DORNFELD; FONSECA-GESSNER, 2005). Beyruth; Caleffi; Ferrugat (1997) afirmam que as macrófitas e a micro-fauna associada influenciam na dinâmica trófica dos ecossistemas lacustres, em principal, nas primeiras fases de colonização de ambientes degradados. Em áreas mineradas recuperadas tem se observado maior diversidade de espécies animais e vegetais quando, além da introdução de espécies vegetais tem sido construídos ambientes aquáticos que acabam por atrair uma maior quantidade de espécies, acelerando assim, os processos de recuperação pela facilitação que exerce na paisagem de tais áreas. 70 5 CONCLUSÕES A riqueza encontrada, tanto nos ambientes terrestres quanto no aquático, pode ser considerada elevada, uma vez que, no ambiente terrestre foi introduzida apenas uma espécie (Axonopus obtusifolius) e no ambiente aquático, no máximo três espécies por LDR. As espécies introduzidas tiveram sucesso na colonização dos corpos d’água e ainda funcionaram como espécies chave, pois, outras espécies se estabeleceram espontaneamente mostrando que também toleraram as condições inóspitas do local. A análise multivariada aplicada à estrutura da comunidade permitiu identificar as espécies típicas de cada microambiente em cada uma das cinco lagoas estudadas. As espécies que apresentaram maior valor ecológico foram: Salvinia auriculata, Leerzia echandra, Eleocharis acutangula, no interior das lagoas; Paspalum conjugatum, Brachiaria sp. na zona de transição entre as margens e interior das lagoas; Desmodium adcendens, Schizachiryum microstachium, Paspalum conjugatum em ambientes terrícolas. O encharcamento do terreno foi a principal variável ambiental que condicionou a distribuição dos grupos de espécies. Lagoas mais próximas e/ou sob influência da drenagem ácida de mina proveniente dos rejeitos piritosos retirados do fundo das mesmas, ou que recebem drenagem ácida das antigas cavas, evidenciaram os maiores índices de similaridade. A manutenção de ambientes aquáticos em áreas de mineração de carvão a céu aberto é de suma importância no processo de recuperação das mesmas, pois fornece uma gama de nichos para macroinvertebrados, que como um corolário, atrai novas espécies a área, facilitando a ocupação destes ambientes e acelerando o processo sucessional. Estudos florísticos e fitossociológicos em áreas impactadas e recuperadas são relevantes para o entendimento do funcionamento dos ecossistemas construídos, pois fornecem informações para a avaliação da eficiência do método adotado, bem como, confirmam ou descartam a efetividade das metodologias empregadas atualmente. O processo de recuperação adotado pela Carbonífera mostrou-se eficiente para a melhoria da qualidade da água superficial, sendo este ameaçado pela remobilização de elementos tóxicos presentes nos rejeitos extraídos do fundo das lagoas no momento da manutenção das mesmas, o que tende a reverter a situação benéfica conquistada pela presença de macrófitas aquáticas e terrestres, desestabilizando o sistema e deixando-o novamente em condições semelhantes ou inferiores as encontradas nas lagoas de drenagem ácida de mina. 71 Propõem-se a continuidade de estudos na área, uma vez que maiores informações sobre os sistemas construídos vêm a auxiliar ainda mais o entendimento da dinâmica ecológica destes ambientes e, sugere-se à Empresa a realização de um acompanhamento da qualidade da água e da evolução do ambiente como área sustentável por um período onde não ocorra o procedimento de limpeza das LDR’s, possibilitando a continuidade dos processos de sucessão ecológica. 72 6 REFERÊNCIAS ALVES-DOS-SANTOS, I. 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