Responsabilidade Socioambiental da Empresa Varejista e suas
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Responsabilidade Socioambiental da Empresa Varejista e suas
UNISEPE – União das Instituições de Serviços, Ensino e Pesquisas Ltda. Marcelo Carvalho Saes Leandro Pontes de Moraes Vinicius Amorim de Almeida RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA EMPRESA VAREJISTA E SUAS REDES DE SUSTENTABILIDADE REGISTRO/SP NOVEMBRO/2009 Trabalho de conclusão apresentado ao Curso de Gestão Ambiental da UNISEP – Faculdades Integradas do Vale do Ribeira. Profª Orientadora: Daniela Vidoto REGISTRO/SP NOVEMBRO/2009 UNISEPE – União das Instituições de Serviços, Ensino e Pesquisas Ltda. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA EMPRESA VAREJISTA E SUAS REDES DE SUSTENTABILIDADE Trabalho apresentado para cumprimento parcial das exigências para o grau de Gestão Ambiental REGISTRO/SP NOVEMBRO/2009 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradecer à professora Daniela Vidoto, que sempre em sua sabedoria nos delineou pensamentos acerca da abordagem sobre o tema, a partir dos conhecimentos dispensados à nossa formação e aprendizagem. Aos colegas de classe, que transpassaram os limites pessoais e promoveram a construção do conhecimento. A UNISEP – União das Instituições de Serviços, Ensino e Pesquisas Ltda., pela oportunidade em nos oferecer o curso, pensando na valorização profissional da sociedade. Por fim, a todos que estiveram envolvidos de alguma forma no crescimento intelectual que foi aferido neste estudo. “Não arriscar nada é arriscar tudo” Al Gore MARCELO CARVALHO SAES LEANDRO PONTES DE MORAES VINICIUS AMORIM DE ALMEIDA RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA EMPRESA VAREJISTA E SUAS REDES DE SUSTENTABILIDADE Monografia apresentada em 13 de novembro de 2009. Daniela Vidoto Profª Orientadora Componentes da bancada examinadora: 1º Examinador: Alexandre Jesus de Lima Moreira de Lima 2º Examinador: Daniela Vidoto 3º Examinador: Maria Estella Rosetti Assinatura dos autores RESUMO vii A abordagem crítica do trabalho em questão consiste na tomada de consciência que se faz necessária a partir dos novos processos de desenvolvimento humano, delineado por pensamentos sobre Desenvolvimento Sustentável, existentes na atualidade. Salientar então a relação produção e consumo de produtos, compreendendo a importância do setor Varejista como detentor de valores éticos de controle social e ambiental perante seus clientes, fornecedores, funcionários e beneficiários de seu sistema. Analisar a cadeia de valores de um produto para que se possa não somente promover valores agregadores de mercado como também minimizar as externalidades existentes e delimitar o ganho econômico destas ações em seus negócios, pois, minimizar impactos ambientais e sociais em seu espaço físico inserido faz com que o Varejo contribua para a sustentação de seus negócios e serviços, uma vez que promove a segurança perante seus clientes e investidores, e garante a utilização destes produtos pelas gerações futuras, levando em conta as limitações e características da natureza do nosso Planeta. SUMÁRIO RESUMO...........................................................................................................vii 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................9 2. DESENVOLVENDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .................11 2.1 A complexidade das Redes de Sustentabilidade.........................12 2.2 A produção e o consumo no mundo contemporâneo.................13 2.3 O papel da empresa Varejista na sociedade................................15 2.4 Análise do mercado de sustentabilidade......................................15 2.5 Cadeia de valores e suas conexões sociais.................................16 3. GARANTIR A SUSTENTABILIDADE DA CADEIA PRODUTIVA: UMA MISSÃO DO VAREJO.......................................................................................17 3.1 Sustentabilidade como critério de compra..................................17 3.2 Rastreamento de produtos............................................................18 4. EDUCAÇAO PARA O CONSUMO SUSTENTÁVEL....................................18 4.1 Consumo Consciente.....................................................................18 4.2 Consumidor Consciente.................................................................19 4.3 Consumo Consciente x Consumo Sustentável............................20 5. EMPREENDENDO O CONHECIMENTO......................................................20 6. O VAREJO LOCAL, SEUS DESAFIOS REGIONAIS E SUAS MISSÕES GLOBAIS.........................................................................................21 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................23 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................25 1. INTRODUÇÃO 9 Quando se fala em Desenvolvimento Sustentável correlaciona-se a real continuidade de atividades exercidas por este desenvolvimento com a estabilidade prática entre seus diversos atores envolvidos, como a sociedade, poder público, empresas e outros instrumentos de controle social, econômico e ambiental. Partindo para uma análise mais profunda e compreendendo o setor Varejista como o eixo de ação da sociedade na tomada de valores éticos, a partir da comercialização de produtos, o desenvolvimento econômico agregase ao pressuposto ambiental e social, uma vez que todos os processos de produção estão intrinsecamente ligados a sua comercialização. Sendo fator imprescindível na tomada de decisões de mercado, os valores socioambientais vem, através de práticas sólidas, promover a sustentabilidade no tocante a perenidade de produtos e serviços, ao longo de sua cadeia de valores econômicos. Introduzindo Mecanismos de Desenvolvimento Limpo em suas lojas, adequando seus fornecedores a política da empresa e educando seus clientes para o consumo responsável, faz-se a proposição de valores que venham a culminar em uma melhor qualidade de vida para toda a sociedade. As práticas reais de mudanças nas concepções relativas a produção e consumo da sociedade humana contemporânea deve-se ao fato de estarmos em um planeta finito, onde os recursos naturais quando não se esgotam, tendem a ter processos lentos de adequação. Assim, uma vez que não vemos este processo não damos importância a eles, nos dando conta do estrago somente quando sofremos com as inundações na porta de casa ou mesmo quando faltam mercadorias na prateleira do supermercado. A variante desta questão se dá entre relação produção x distribuição x comercialização x consumo, onde introduzindo o descarte, a reciclagem e o coprocessamento, entre outros, forma-se um possível ciclo fechado na cadeia produtiva, promovida pelo Varejo. Matéria-Prima Industria Coprocessamento Distribuidor Varejo Reciclagem Figura1: Cadeia de Valores de produtos e serviços oferecidos pelo varejo Consumo Pós-Consumo 10 Trabalhando esta relação propomos a análise sobre um prisma teóricoprático, debruçado em três focos principais: Cadeia Produtiva dos produtos comercializados pelo Varejo, espaço físico explorado pelo Varejo e o mesmo como promotor de um consumo sustentável. Atendendo a estes três segmentos específicos do Varejo, co relacionase também a quantidade de mobilizações e trocas de experiências entre a empresa Varejista e as organizações da sociedade civil que têm ocorrido em uma escala e velocidade superiores as verificadas na atividade acadêmica, transpassando assim, a responsabilidade de aferimentos técnico-científicos a um outro patamar. Em prática vigente, a Responsabilidade Socioambiental verificada nos dias de hoje ultrapassa o tom de assistencialismo e voluntariado, sendo referência para as empresas que desejam desenvolvimento aliada a segurança de seus negócios e serviços. Tendo o consumo como atividade básica dos seres viventes, onde o Ser Humano autodesignado "Homo - Sapiens Sapiens" se enquadra, a prática de se consumir em parâmetros infinitos desagrega os valores naturais de existência, levando a um caminho sem volta de autodestruição da nossa espécie. Visto isso, com quais estratégias nos fazem ultrapassar os valores naturais para nos reportar ao mundo somente a partir dos valores de consumo? Assim, apresentamos também os pressupostos filosóficos desta variante, na intenção de promover uma introdução na educação para o Consumo Sustentável, vislumbrando Paulo Freire em sua pedagogia da indignação, expressada nas alíneas abaixo: "A luta ideológica, política, pedagógica e ética a lhe ser dada por quem se posiciona numa opção progressista não escolhe lugar nem hora. Tanto se verifica em casa, nas relações pais, mães, filhos, filhas, quanto na escola, não importa o seu grau, ou nas relações de trabalho. O fundamental, se sou coerentemente progressista, é testemunhar, como pai, como professor, como empregador, como empregado, como jornalista, como soldado, cientista, pesquisador ou artista, como mulher mãe ou filha, pouco importa, o meu respeito a dignidade do outro ou da outra. Ao seu direito de ser em relação com o seu direito de ter."(PAULO FREIRE, 2000, p.26). 11 Em uníssono com o citado acima, compreendemos o setor Varejista como o setor da sociedade mais atuante, direta e indiretamente, sobre as questões socioambientais aqui observadas. Vista isso, a partir de fatos observados, leitura analítica e pressupostos teóricos, analisaremos neste estudo a efetiva atuação do setor Varejista em um cenário regional e suas redes de articulação, seus parceiros e clientes, e relacionar tais ações com a possibilidade de um Desenvolvimento Sustentável para seus produtos e serviços. No tocante ao consumo dos produtos oferecidos pela rede de Varejo, compreenderemos os fatores econômicos, sociais e ambientais relacionados a estes produtos e serviços, focando no consumidor final o potencial para o acréscimo de valores socioambientais praticada pela Educação Ambiental e voltada para um consumo responsável de seus produtos. Pois é na integração dos valores econômicos, sociais e ambientais, principalmente, com a ética social que poderemos vislumbrar uma atitude menos destruidora e mais equitativa a toda a população. 2. DESENVOLVENDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Os pressupostos relativos ao desenvolvimento humano aferem-se sobre todos os aspectos onde este está inserido, relacionado com o Ambiente, com a Sociedade, com a Economia (como forma de arranjo social), com a Cultura, com a História, e com mais quantos outros forem necessários para formar/transformar este núcleo de Humanos ao longo do tempo. Partindo deste prisma, o Desenvolvimento Sustentável vem trazer tão somente a luz de que nós, seres humanos, necessitamos tornar estes aspectos perenes. De forma cíclica, assim como em processos naturais de desenvolvimento, podendo produzir, comercializar, consumir e existir de forma harmônica entre todos os seres, levando em conta a ética ambiental. De acordo com o Relatório Bruntland, datado de 1987 e mais conhecido como “O nosso futuro Comum”: "o desenvolvimento sustentável é aquele 12 que responde às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de responder às suas necessidades". Esta definição está centrada na sustentabilidade do desenvolvimento econômico e é criticada por vários autores (como Manoel Cabral Neto e Peter Russel), que insistem que não se pode pensar nas gerações futuras quando parte da geração atual não atende às suas necessidades básicas. Em contrapartida, autores como Leonardo Boff e as principais ong's do mundo (WWF, GREEMPEACE, etc) aceitam esta idéia como central, para depois vinculá-las a outras e formar cada vez mais Redes de Sustentabilidade. “Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento e do reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Esse conceito representou uma nova forma de desenvolvimento econômico, que leva em conta o meio ambiente. Muitas vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento econômico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende. Atividades econômicas podem ser encorajadas em detrimento da base de recursos naturais dos países. Desses recursos depende não só a existência humana e a diversidade biológica, como o próprio crescimento econômico. O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem." (site WWF Brasil). 2.1 A complexidade das Redes de Sustentabilidade "As últimas descobertas científicas mostram que todas as formas de vida - desde as células mais primitivas até as sociedades humanas, suas empresas e Estados nacionais, até mesmo sua economia global - organizam-se segundo o mesmo padrão e os mesmos princípios básicos - o padrão em rede." (Fritjof Capra, 2002, sinopse) Tendo como norteador de ideias o texto acima citado de Fritjof Capra, onde em sua obra “As conexões ocultas – Ciência para um vida sustentável” o autor desenvolveu uma compreensão sistêmica e unificada que integra as dimensões biológicas, cognitiva e social da vida, demonstrando que a vida, em todos os seus níveis é interligada por redes complexas, faz-se crer que a Sustentabilidade em sua essência já absorve destas próprias redes, de forma a 13 tornar seus processos perenes e orgânicos. Uma vez analisados, os processos, de forma holística, todas as ações são interligadas, apresentandose, assim, como uma nova forma de organização pensada. A promoção de valores onde, a priori, deveriam satisfazer as necessidades humanas, hoje não o faz por respeito ao acúmulo de bens materiais e econômicos, centralizando e objetivando o lucro, em uma relação ganho e perda. Opondo-se a isso estão os valores de Sustentabilidade que, atuando em redes, propõe a relação “ganho e ganho”, onde todos no processo poderão se beneficiar de alguma forma sobre o olhar econômico-financeiro. Desta forma, os novos pensamentos vigentes se assemelham das ações no campo da prática do setor varejista estudado, quase que unânimes, ainda, sobre o prisma econômico, tendo em segundo plano a sociedade e, por sua vez, o Meio Ambiente. Atualmente esta complexidade entre a teoria e a prática está em crescente aproximação e é na articulação em redes que estão as experiências de maior sucesso. 2.2 A produção e o consumo no mundo contemporâneo Em análise histórica, compreendemos o processo de desenvolvimento humano através de fatos relacionados com a natureza do planeta Terra e suas marcas geológicas através dos tempos. A maior parte dos cientistas e pensadores de todo o mundo (como o astrônomo Martin Rees, Matthias Machnig e o pensador Al Gore) dizem que nunca se poluiu tanto quanto da metade do século XVIII até os dias atuais, onde a industrialização deu margens aos mais remotos sonhos de processo contínuo de expansão. Uma vez verificada a fórmula de crescimento em longa escala, o ser humano corrompeu os sentidos e se pôs em busca da satisfação pessoal momentânea. É certo de que não se tinha certeza da finitude dos recursos naturais naquela época, mas tinha-se uma ideia. Em paralelo, começou a corrida ao consumo exacerbado e opulento, depredativo e elitista. Atualmente este cenário tem mudado, exemplo prático são as reuniões e convenções em todo o mundo a partir da Eco-92, mas ainda sofremos os efeitos dos nossos atos passados, exemplificado pelas mudanças climáticas 14 confirmadas pela maioria dos cientistas da atualidade, já citados anteriormente, como sendo de ação antrópica ao meio. A evolução do processo produtivo aumentou o poder de consumo, uma vez que a população cresceu inexoravelmente nestes 150 anos, e hoje em dia podemos até nos autodenominar sociedade de consumo, uma vez que confundimos o ato de comprar com o próprio ato de consumir, sendo estes dois atos distintos. O fato de consumir nos remota aos fatores naturais de sobrevivência, fazendo crer que nada mais básico para os seres viventes do que o ato de consumir algo, para a própria existência. Em resonância aos moldes da sociedade contemporânea, o fato de consumir se tornou um estilo de vida baseado na solução expressa por Victor Lebow, no começo da era que se seguiu a Segunda Guerra Mundial: "Nossa economia, enormemente produtiva, demanda que transformemos o consumo em estilo de vida. Devemos converter a compra e uso de bens em rituais que iremos buscar para nossa satisfação espiritual, a satisfação do nosso ego, em consumo... Precisamos que coisas sejam consumidas, repostas, descartadas, em ritmo cada vez mais elevado." Tendo o consumo como força motriz da economia vigente e de valores éticos, tem-se no Varejo o principal filão de articulação educacional promotora de valores socioambientais, uma vez que atualmente estes "centros de consumo" recebem mais pessoas em comparação a uma igreja evengélica. As práticas de compra e consumo se tornaram detentores de valores, como a moda e as propagandas. Na verdade estas estratégias foram desenvolvidas propositadamente, para obrigar os consumidores a comprarem produtos cada vez mais, sem notar sua inutilidade. São as chamadas Obsolescências Aparentes¹ e Obsolescências Programadas², que discutiam o quão rápido um produto pode se estragar sem perder o poder de fascínio pelo consumidor. ¹ Ver “A história das coisas”, com Annie Leonard; ² Idem; 15 O resultado deste pensamento nós estamos enfrentando nos dias de hoje, através da problemática mundial do lixo. Ilhas de resíduos estão se formando no Pacífico Norte, acompanhando as correntes marítimas e se depositando perigosamente nas zonas de convergências que equilibram a existência de vida no planeta. Uma pratica assustadora se pensarmos que as nossas opções de compra se limitam ao descarte sistêmico de resíduos no Meio Ambiente. Visto isso, a luz das novas metas e propostas de desenvolvimento humano, as implicações destas ações presentes podem e devem ser mitigadas e trabalhas em seu inverso pelo setor que representa, hoje, a maior circulação de pessoas, dentro de um município, o Setor Varejista. 2.3 O papel da empresa Varejista na sociedade moderna Dentro dos preceitos de desenvolvimento econômico, analisado por Victor Lebow, onde a expansão de produtos industrializados em um nível contínuo de exploração dos recursos naturais leva e eleva o papel do consumo como princípio de ação de controle e manutenção da vida, determinando o setor Varejista como o principal agente deste controle e verificando o mesmo como sendo o lugar onde mais atuamos e realizamos nossas escolhas. Historicamente, o Varejo começou a galgar espaço com o advendo das compras desvinculadas das indústrias, com a intenção de não mostrar o processo produtivo ao consumidor final, focando no marketing a satisfação sobre o produto pronto, desvinculando-o de seu processo de fabricação. Esta estratégia verifica-se até os dias de hoje, tendo na propaganda a força motriz deste pensamento. 2.4 Analise do mercado de sustentabilidade Mas recentemente, sobre processos de controle socioambiental, temos a economia como agregadora destes fatores, abrangendo suas metas aos valores sociais de convívio e introduzindo em suas empresas e empreendimentos, práticas de melhoria contínua sobre o Meio Ambiente inserido, nele a sociedade humana e a sociedade natural. 16 Com isso, a Bolsa de Valores apresenta desde 2005 o Índice de Sustentabilidade Empresarial¹, onde são selecionadas as empresas que se destacam por adotar estratégias e ter práticas que promovam o desenvolvimento sustentável. Com isso, pretende-se uniformizar as empresas a promoverem o Desenvolvimento Sustentável de forma transversal com a sociedade, contribuindo para a preservação dos recursos naturais e aumentando suas chances no mercado econômico. 2.5 Cadeia de valores e suas conexões sociais No mundo globalizado a trajetória de fabricação das coisas que compramos é, muitas vezes, maior do que pensamos. Se tomarmos como exemplo uma simples camiseta, veremos que a idealização do produto pode ter sido feita por uma empresa americana, o algodão orgânico plantado na Turquia, o tecido produzido na Tailândia e as camisetas costuradas no Vietnã. O produto pronto segue para os Estados Unidos onde é distribuído por todo o país e, ainda, exportado para outros, como o Brasil. Alguns produtos alimentícios, como o peixe, apresentam um desafio adicional. Neste caso é preciso respeitar a sazonalidade e buscar formas de manter o consumo em níveis que permitam a manutenção dos ciclos naturais, garantindo o fornecimento desses produtos no longo prazo. Analisando a Cadeia de Valor como uma sequência de atividades que se inicia com a origem dos recursos e vai até o descarte do produto pelo consumidor final, promovemos a análise da seguinte relação intersetorial da cadeia de valores dos produtos comercializados pelo Supermercado Baba, demonstrada na figura abaixo. Nota-se a relação entre a sociedade local e regional, através da Rede Litoral de Supermercados, utilizando as mesmas matérias-primas, indústrias e rede de fornecedores. ¹ Ver BOVESPA 17 Rede Litoral Matéria Prima Consumidores Fornecedores Indústria Supermercados Baba Reciclagem Pós-consumo Matéria Prima Lixões / Aterros Figura 2: Fluxograma da relação comercial entre produtos e serviços explorados pelo Varejo local. O objetivo principal dessa relação é o de proporcionar um melhor atendimento ao consumidor, que assim tem a sua disposição uma maior variedade de opções de produtos rastreados na cadeia produtiva. 3. GARANTIR A SUSTENTABILIDADE DA CADEIA PRODUTIVA: UMA MISSÃO DO VAREJO 3.1 Sustentabilidade como critério de compra Todas as empresas têm processos de compras que utilizam critérios para comparar e escolher produtos de diferentes fornecedores. Em sua maioria, estes processos utilizam o preço, a qualidade e prazo de entrega como critérios essenciais. Nas compras sustentáveis adicionam-se outros critérios, tais como o bom aproveitamento dos recursos e sua origem, a poluição gerada na produção e transporte e as condições de trabalho e remuneração das pessoas envolvidas na cadeia produtiva. É importante que os varejistas informem os critérios de seleção de seus fornecedores a fim de 18 garantir condições semelhantes a todos os interessados em fornecer produtos e serviços à sua empresa. No que tange a participação do Supermercado Baba nesta filosofia de trabalho, as articulações com a sociedade deve-se de fato pelo vinculo com a Rede Litoral de Supermercados, que afere seu tom regional e pressupõe valores de caráter global aos seus produtos e serviços. 3.2 Rastreamento de produtos O rastreamento dos produtos é importante por conter dados sobre a história, a aplicação ou a localização de um item por meio de registros. Essa iniciativa ajuda a controlar riscos – ambientais, sociais, e à saúde humana – garantindo transparência na cadeia produtiva e diferencial de qualidade. 4. EDUCAÇAO PARA O CONSUMO SUSTENTAVEL 4.1 Consumo Consciente O Instituto Akatu¹, que realiza pesquisas periódicas sobre o comportamento dos consumidores, identificou que um em cada três consumidores percebe os impactos coletivos em longo prazo decorrentes de suas ações de consumo. De acordo com suas pesquisas, 5% dos brasileiros já são consumidores conscientes, ou seja, aqueles que, entre outros comportamentos, conhecem e valorizam as práticas de responsabilidade social e sustentabilidade das empresas e, além disso, compram produtos e serviços de empresas reconhecidas por suas práticas sustentáveis. A tendência é que esse número aumente, uma vez que 28% dos consumidores são considerados engajados, isto é, adotam comportamentos sustentáveis em relação ao consumo, e outros 59% estão começando a ter contato com o tema. É necessário que o consumidor aprenda a relacionar seu ato de consumo com os impactos socioambientais que ele pode provocar. Nesse sentido, o processo de educação para o consumo consciente precisa desenvolver diversas iniciativas locais e regionais nas quais o varejo e sua rede podem ser um significativo agente catalisador. ¹ www.akatu.org.br 4.2 Consumidor Consciente 19 O consumidor consciente é aquele que consome com consciência dos impactos de seu consumo e mobiliza os outros a fazer o mesmo. Desta forma, o consumidor, antes de consumir, deve refletir sobre: a necessidade de consumir; que tipo de produto deve consumir; como deve pagá-lo; de que empresa deve comprar; como deve utilizar o produto; e como irá descartá-lo após o término de sua vida útil. (Instituto Akatu). A classe social e os níveis de escolaridade têm papel limitado na prática do consumo consciente. A sétima edição da pesquisa "Como e por que os brasileiros praticam o consumo consciente?", demonstra que no exame da incidência do consumo consciente por classe social, há um efeito discreto, porém sistemático. Claramente, os consumidores de classes mais baixas (D/E) têm uma probabilidade três vezes maior de serem consumidores indiferentes do que os incluídos na classe mais alta (A: 11% versus D/E: 3%). Ou seja, entre os consumidores de classe alta, as chances de encontrar consumidores conscientes é três vezes maior, se comparados com os das classes mais baixas (A: 8% versus D/E 3%). Em relação à escolaridade, observa-se uma distribuição dos níveis de instrução (fundamental, médio e superior), bastante semelhante em cada um dos segmentos de consumidores. A FGV¹ realizou, em 2008, pesquisa pioneira para conhecer a percepção e expectativas do consumidor em relação às práticas de Responsabilidade Social Empresarial das empresas varejistas. Nesta oportunidade identificou-se que as ações de RSE e sustentabilidade não são declaradas como fator decisivo na escolha do varejista, mas grande parte dos entrevistados reconhece e valoriza estas práticas. Também foi demonstrada grande confiança nos representantes do setor e um desejo, do consumidor, em contribuir mais para a sustentabilidade, inclusive por meio do consumo. Estas conclusões evidenciam o espaço existente para que o varejo lidere a mudança nos padrões de consumo. ¹Fundação Getúlio Vargas. 4.3 Consumo Consciente x Consumo Sustentável 20 Existem muitas nomenclaturas ligadas a um novo tipo de consumo, necessário para o desenvolvimento sustentável. Será que todas querem dizer a mesma coisa? A análise dos estudos que propõem modelos alternativos de consumo demonstra que, de um lado temos o consumo consciente (que tem como sinônimos o consumo verde, o consumo responsável e o consumo ético); e de outro, o consumo sustentável. O consumo consciente tem o seu foco no consumidor, elegendo-o como o principal agente de transformação e acreditando que suas escolhas definirão o futuro. Já o consumo sustentável entende que as mudanças necessárias no consumo devem contemplar ações coletivas dos cidadãos, do governo e das empresas, onde devem ser revistos os padrões e níveis de consumo vigentes na atualidade. 5. EMPREENDENDO O CONHECIMENTO Partindo da ação probatória em um contexto de observação e aproximação, desenvolvemos pesquisa analítica com base em observações diretas sobre o local de estudo, o Supermercado Baba. Com respeito básico ao princípio de propriedade aferimos a proposta ao proprietário da loja em questão, ao qual não visualizou interesse no assunto. Partindo deste princípio, os questionamentos se deram de forma teóricoprática, assegurando a participação em Fóruns¹ e Seminários² e analisando a questão de forma crítica, com base na economia local, a sociedade e o Meio Ambiente inserido. ¹Fórum de Varejo e Consumo Sustentável. ²Seminário de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo. 21 6. O VAREJO LOCAL, SEUS DESAFIOS REGIONAIS E SUAS MISSÕES GLOBAIS Em análise teórica, propondo como local de estudo o município de Peruíbe, cidade litorânea localizada a sul do Estado de São Paulo, com área territorial de 358,3 Km² e população fixa aproximada em 57 mil habitantes (IBGE/2008), analisaremos sobre o enfoque da Sustentabilidade o Supermercado Baba, sua cadeia de valores, sua relação em rede de articulações regionais e sua relação com o consumidor final, moradores, veranistas e turistas de Peruíbe. Aspectos econômicos: Há trinta anos atuando no comércio de produtos alimentícios na cidade de Peruíbe, o Supermercado Baba é o mais tradicional comércio Varejista do município, atuando em rede regional somente nestes dois últimos anos, com mais 18 lojas na Região Metropolitana da Baixada Santista. A sua história remonta os tempos das imigrações da década de 50 e 60 do século XX, em paralelo a própria emancipação política da cidade. Compreende, atualmente, por volta de 32 funcionários e uma frota de entrega a domicílio de 2 caminhões, entregando produtos comprados na loja somente nas imediações locais. Compreende, pois, a comercialização da produção local e produtos correspondentes ao resto do país, tendo como base a produção e consumo em vigência nas sociedades modernas. Aspectos Sociais: Localizado no bairro da Estação, o Supermercado Baba afere seus produtos, principalmente, sobre um terço da área territorial de Peruíbe, coincidentemente a área da cidade onde se encontram as maiores concentrações populacionais. Tais adensamentos populacionais refletem a realidade da maior parte do país, sendo ocupadas por uma população de baixa 22 renda, com valores socioambientais depurados sobre o prisma capitalista de consumo. Não obstante, há uma crescente procura de clientes mais afastados, pelo aumento de ações e atitudes relacionadas com a Responsabilidade Social e outras preocupações ambientais por parte do Supermercado Baba, como a promoção para a reciclagem e reuso de caixas de papelão. Atuações como esta são, principalmente, contribuições técnicas oferecidas pela troca de ideias entre os outros 18 componentes da Rede Litoral de Supermercados, aferindo suas campanhas socioambientais a sete cidades da Região Metropolitana da Baixada Santista, sendo uma delas Peruíbe, com o supermercado Baba. Estes aspectos de desenvolvimento refletem as preocupações mitigadoras da realidade corporativa em rede, uma vez que gera segurança e perenidade aos negócios e serviços de toda a cadeia produtiva. Aspectos Ambientais: Desde a sua emancipação política, a cidade de Peruíbe vem dobrando a cada dez anos, apresentando assim características bem peculiares e marcantes. Possui em seu território diversas Unidades de Conservação Ambiental, sendo uma das cidades de maior riqueza ambiental e cultural do Brasil. A cidade está localizada no maior contínuo de Mata Atlântica dos 7% que ainda restam do bioma, abriga comunidades tradicionais caiçaras e indígenas que convivem com a população urbana (centro e periferias) e rural, sob as pressões aferidas pelo modelo de desenvolvimento econômico vigente. Tem, portanto, altas responsabilidades na conservação da diversidade biológica e cultural do planeta, além de grande potencial de ser exemplo ao mundo na construção de relações socioeconômicas que traduzam a um respeito mútuo entre os povos distintos, tendo como base a coerência com a propriedade comunal dos recursos naturais. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 23 Pelo proposto, de análise crítica a partir de valores globais de articulações técnico cientifica perante aos processos de produção e consumo verificados na atualidade, em seus diversos setores da sociedade, vê-se um acelerado crescimento de ideias e propostas alternativas de desenvolvimento humano levando em conta os processos naturais do planeta Terra. Esta estreita resonância filosófica deve-se ao fato de que a sociedade e as empresas estão cada vez mais se reconhecendo como fator de mudança e colocando-se a frente das novas preocupações acerca da disposição da humanidade. Uma vez que o Varejo, como promotor de valores éticos, afere práticas de sustentabilidade corretas em suas lojas e serviços este agrega conceito a sua empresa e, além de promover a Responsabilidade Social (ver ISO 26.000) promove também a eco-educação para os seus clientes/consumidores, valorizando as relações interpessoais definidas em redes que vão sustentar seus negócios ao longo da sua cadeia de valores e junto a toda a sua gama de articulação. A prática inerente ao ser humano, de articulação em Redes de Sustentabilidade, garante a perenidade do rastreamento de seus produtos e serviços, gerando economia, eficiência e excelência em seus negócios. Especificamente no cenário local e regional, focando a analise em uma empresa varejista de porte médio em ascensão, o Supermercado Baba e suas articulações sociais no município de Peruíbe detêm papel de suma importância no que tange a transmissão de valores éticos, podendo estes ser aferidos de forma correta, através da educação para um consumo mais responsável, consciente e sustentável. Visto que as suas relações se devem, em sua maioria, sobre populações de baixa renda e em torno de um dos cenários importantes da sociedade contemporânea, força motriz da economia mundial, as participações efetivas sobre todo e qualquer olhar social e ambiental são bem vindas para o processo de crescimento corporativo da empresa em questão, institucionalizando sociedade e Meio Ambiente em sua cadeia de valor. 24 Seus fornecedores e funcionários, estando em contato direto com o consumidor, uma vez treinados compreendem o eixo principal de transmissão de conceitos sobre a sustentabilidade. Para tanto, é necessário que a empresa se dedique na formação continuada destes stackerolders de mercado, promovendo reuniões e articulações. Em especifico nota-se a preocupação sobre estes aspectos, porém de forma ainda centralizadora de ideias na economia vigente. Por fim tendemos a acreditar no potencial mitigatório sobre o prisma socioambiental da empresa varejista Baba Supermercados na cidade de Peruíbe, ressalvo a progressão continuada de suas atividades socioambientais, uma vez que aferidos os estudos e entrevistas a fins compreende-se estes valores por parte da empresa, da sociedade e da administração pública, no controle do Meio Ambiente, formando uma consciência transversal, intrapessoal e descentralizada de ideias sobre o desenvolvimento humano e atribuindo responsabilidades sobre este desenvolvimento a todos os seres pertencentes a esta rede de articulação, necessária à manutenção da vida. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 25 COSTA, E.HOMEM DA. Fundamentos de Responsabilidade Social Empresarial. RJ, 2007. SOUZA, R. MELO E. Redes de monitoramento socioambiental e tramas da sustentabilidade. CNPq – Editora Annablume. SP, 2007. BLAUTH, G. e ABUHAD, P. Reflexões para um consumo ético – Série “De olho na vida”. Instituto Harmonia da Terra. SP, 2006. FREIRE, PAULO. Pedagogia da indignação. Editora UNESP. SP, 2000. CAPRA, FRITJOF. As conexões ocultas - Ciência para uma vida sustentável. Editora Cultrix. SP, 2002. BOFF, LEONARDO. Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres. Editora Ática. SP, 1995