Responsabilidade Socioambiental da Empresa Varejista e suas

Transcrição

Responsabilidade Socioambiental da Empresa Varejista e suas
UNISEPE – União das Instituições de Serviços, Ensino e Pesquisas Ltda.
Marcelo Carvalho Saes
Leandro Pontes de Moraes
Vinicius Amorim de Almeida
RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA EMPRESA
VAREJISTA E SUAS REDES DE SUSTENTABILIDADE
REGISTRO/SP
NOVEMBRO/2009
Trabalho de conclusão apresentado
ao Curso de Gestão Ambiental da
UNISEP – Faculdades Integradas
do Vale do Ribeira.
Profª Orientadora: Daniela Vidoto
REGISTRO/SP
NOVEMBRO/2009
UNISEPE – União das Instituições de Serviços, Ensino e Pesquisas Ltda.
RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA EMPRESA VAREJISTA E
SUAS REDES DE SUSTENTABILIDADE
Trabalho apresentado para cumprimento
parcial das exigências para o grau de
Gestão Ambiental
REGISTRO/SP
NOVEMBRO/2009
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradecer à professora Daniela Vidoto, que sempre
em sua sabedoria nos delineou pensamentos acerca da abordagem sobre o
tema, a partir dos conhecimentos dispensados à nossa formação e
aprendizagem.
Aos colegas de classe, que transpassaram os limites pessoais e
promoveram a construção do conhecimento.
A UNISEP – União das Instituições de Serviços, Ensino e Pesquisas
Ltda., pela oportunidade em nos oferecer o curso, pensando na valorização
profissional da sociedade.
Por fim, a todos que estiveram envolvidos de alguma forma no
crescimento intelectual que foi aferido neste estudo.
“Não arriscar nada é arriscar tudo”
Al Gore
MARCELO CARVALHO SAES
LEANDRO PONTES DE MORAES
VINICIUS AMORIM DE ALMEIDA
RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DA EMPRESA
VAREJISTA E SUAS REDES DE SUSTENTABILIDADE
Monografia apresentada em 13 de novembro de 2009.
Daniela Vidoto
Profª Orientadora
Componentes da bancada examinadora:
1º Examinador: Alexandre Jesus de Lima Moreira de Lima
2º Examinador: Daniela Vidoto
3º Examinador: Maria Estella Rosetti
Assinatura dos autores
RESUMO
vii
A abordagem crítica do trabalho em questão consiste na tomada de
consciência que se faz necessária a partir dos novos processos de
desenvolvimento humano, delineado por pensamentos sobre Desenvolvimento
Sustentável, existentes na atualidade. Salientar então a relação produção e
consumo de produtos, compreendendo a importância do setor Varejista como
detentor de valores éticos de controle social e ambiental perante seus clientes,
fornecedores, funcionários e beneficiários de seu sistema. Analisar a cadeia de
valores de um produto para que se possa não somente promover valores
agregadores de mercado como também minimizar as externalidades existentes
e delimitar o ganho econômico destas ações em seus negócios, pois, minimizar
impactos ambientais e sociais em seu espaço físico inserido faz com que o
Varejo contribua para a sustentação de seus negócios e serviços, uma vez que
promove a segurança perante seus clientes e investidores, e garante a
utilização destes produtos pelas gerações futuras, levando em conta as
limitações e características da natureza do nosso Planeta.
SUMÁRIO
RESUMO...........................................................................................................vii
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................9
2. DESENVOLVENDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .................11
2.1 A complexidade das Redes de Sustentabilidade.........................12
2.2 A produção e o consumo no mundo contemporâneo.................13
2.3 O papel da empresa Varejista na sociedade................................15
2.4 Análise do mercado de sustentabilidade......................................15
2.5 Cadeia de valores e suas conexões sociais.................................16
3. GARANTIR A SUSTENTABILIDADE DA CADEIA PRODUTIVA: UMA
MISSÃO DO VAREJO.......................................................................................17
3.1 Sustentabilidade como critério de compra..................................17
3.2 Rastreamento de produtos............................................................18
4. EDUCAÇAO PARA O CONSUMO SUSTENTÁVEL....................................18
4.1 Consumo Consciente.....................................................................18
4.2 Consumidor Consciente.................................................................19
4.3 Consumo Consciente x Consumo Sustentável............................20
5. EMPREENDENDO O CONHECIMENTO......................................................20
6. O VAREJO LOCAL, SEUS DESAFIOS REGIONAIS E SUAS
MISSÕES GLOBAIS.........................................................................................21
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................23
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................25
1. INTRODUÇÃO
9
Quando se fala em Desenvolvimento Sustentável correlaciona-se a real
continuidade de atividades exercidas por este desenvolvimento com a
estabilidade prática entre seus diversos atores envolvidos, como a sociedade,
poder público, empresas e outros instrumentos de controle social, econômico e
ambiental. Partindo para uma análise mais profunda e compreendendo o setor
Varejista como o eixo de ação da sociedade na tomada de valores éticos, a
partir da comercialização de produtos, o desenvolvimento econômico agregase ao pressuposto ambiental e social, uma vez que todos os processos de
produção estão intrinsecamente ligados a sua comercialização. Sendo fator
imprescindível na tomada de decisões de mercado, os valores socioambientais
vem, através de práticas sólidas, promover a sustentabilidade no tocante a
perenidade de produtos e serviços, ao longo de sua cadeia de valores
econômicos. Introduzindo Mecanismos de Desenvolvimento Limpo em suas
lojas, adequando seus fornecedores a política da empresa e educando seus
clientes para o consumo responsável, faz-se a proposição de valores que
venham a culminar em uma melhor qualidade de vida para toda a sociedade.
As práticas reais de mudanças nas concepções relativas a produção e
consumo da sociedade humana contemporânea deve-se ao fato de estarmos
em um planeta finito, onde os recursos naturais quando não se esgotam,
tendem a ter processos lentos de adequação. Assim, uma vez que não vemos
este processo não damos importância a eles, nos dando conta do estrago
somente quando sofremos com as inundações na porta de casa ou mesmo
quando faltam mercadorias na prateleira do supermercado.
A variante desta questão se dá entre relação produção x distribuição x
comercialização x consumo, onde introduzindo o descarte, a reciclagem e o
coprocessamento, entre outros, forma-se um possível ciclo fechado na cadeia
produtiva, promovida pelo Varejo.
Matéria-Prima
Industria
Coprocessamento
Distribuidor
Varejo
Reciclagem
Figura1: Cadeia de Valores de produtos e serviços oferecidos pelo varejo
Consumo
Pós-Consumo
10
Trabalhando esta relação propomos a análise sobre um prisma teóricoprático, debruçado em três focos principais: Cadeia Produtiva dos produtos
comercializados pelo Varejo, espaço físico explorado pelo Varejo e o mesmo
como promotor de um consumo sustentável.
Atendendo a estes três segmentos específicos do Varejo, co relacionase também a quantidade de mobilizações e trocas de experiências entre a
empresa Varejista e as organizações da sociedade civil que têm ocorrido em
uma escala e velocidade superiores as verificadas na atividade acadêmica,
transpassando assim, a responsabilidade de aferimentos técnico-científicos a
um outro patamar. Em prática vigente, a Responsabilidade Socioambiental
verificada nos dias de hoje ultrapassa o tom de assistencialismo e voluntariado,
sendo referência para as empresas que desejam desenvolvimento aliada a
segurança de seus negócios e serviços.
Tendo o consumo como atividade básica dos seres viventes, onde o Ser
Humano autodesignado "Homo - Sapiens Sapiens" se enquadra, a prática de
se consumir em parâmetros infinitos desagrega os valores naturais de
existência, levando a um caminho sem volta de autodestruição da nossa
espécie. Visto isso, com quais estratégias nos fazem ultrapassar os valores
naturais para nos reportar ao mundo somente a partir dos valores de consumo?
Assim, apresentamos também os pressupostos filosóficos desta variante, na
intenção de promover uma introdução na educação para o Consumo
Sustentável, vislumbrando Paulo Freire em sua pedagogia da indignação,
expressada nas alíneas abaixo:
"A luta ideológica, política, pedagógica e ética a lhe ser dada
por quem se posiciona numa opção progressista não escolhe
lugar nem hora. Tanto se verifica em casa, nas relações pais,
mães, filhos, filhas, quanto na escola, não importa o seu grau, ou
nas relações de trabalho. O fundamental, se sou coerentemente
progressista, é testemunhar, como pai, como professor, como
empregador, como empregado, como jornalista, como soldado,
cientista, pesquisador ou artista, como mulher mãe ou filha,
pouco importa, o meu respeito a dignidade do outro ou da outra.
Ao seu direito de ser em relação com o seu direito de
ter."(PAULO FREIRE, 2000, p.26).
11
Em uníssono com o citado acima, compreendemos o setor Varejista
como o setor da sociedade mais atuante, direta e indiretamente, sobre as
questões socioambientais aqui observadas.
Vista isso, a partir de fatos observados, leitura analítica e pressupostos
teóricos, analisaremos neste estudo a efetiva atuação do setor Varejista em um
cenário regional e suas redes de articulação, seus parceiros e clientes, e
relacionar tais ações com a possibilidade de um Desenvolvimento Sustentável
para seus produtos e serviços. No tocante ao consumo dos produtos oferecidos
pela rede de Varejo, compreenderemos os fatores econômicos, sociais e
ambientais relacionados a estes produtos e serviços, focando no consumidor
final o potencial para o acréscimo de valores socioambientais praticada pela
Educação Ambiental e voltada para um consumo responsável de seus
produtos.
Pois é na integração dos valores econômicos, sociais e ambientais,
principalmente, com a ética social que poderemos vislumbrar uma atitude
menos destruidora e mais equitativa a toda a população.
2. DESENVOLVENDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Os pressupostos relativos ao desenvolvimento humano aferem-se sobre
todos os aspectos onde este está inserido, relacionado com o Ambiente, com a
Sociedade, com a Economia (como forma de arranjo social), com a Cultura,
com a História, e com mais quantos outros forem necessários para
formar/transformar este núcleo de Humanos ao longo do tempo. Partindo deste
prisma, o Desenvolvimento Sustentável vem trazer tão somente a luz de que
nós, seres humanos, necessitamos tornar estes aspectos perenes. De forma
cíclica, assim como em processos naturais de desenvolvimento, podendo
produzir, comercializar, consumir e existir de forma harmônica entre todos os
seres, levando em conta a ética ambiental.
De acordo com o Relatório Bruntland, datado de 1987 e mais conhecido
como “O nosso futuro Comum”: "o desenvolvimento sustentável é aquele
12
que responde às necessidades do presente sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de responder às suas necessidades".
Esta definição está centrada na sustentabilidade do desenvolvimento
econômico e é criticada por vários autores (como Manoel Cabral Neto e Peter
Russel), que insistem que não se pode pensar nas gerações futuras quando
parte da geração atual não atende às suas necessidades básicas.
Em contrapartida, autores como Leonardo Boff e as principais ong's do
mundo (WWF, GREEMPEACE, etc) aceitam esta idéia como central, para
depois vinculá-las a outras e formar cada vez mais Redes de Sustentabilidade.
“Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende
de planejamento e do reconhecimento de que os recursos naturais
são finitos. Esse conceito representou uma nova forma de
desenvolvimento econômico, que leva em conta o meio ambiente.
Muitas vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento
econômico, que depende do consumo crescente de energia e
recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser
insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos
quais a humanidade depende. Atividades econômicas podem ser
encorajadas em detrimento da base de recursos naturais dos
países. Desses recursos depende não só a existência humana e a
diversidade biológica, como o próprio crescimento econômico. O
desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de
quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e
o aumento da reutilização e da reciclagem." (site WWF Brasil).
2.1 A complexidade das Redes de Sustentabilidade
"As últimas descobertas científicas mostram que todas as
formas de vida - desde as células mais primitivas até as sociedades
humanas, suas empresas e Estados nacionais, até mesmo sua
economia global - organizam-se segundo o mesmo padrão e os
mesmos princípios básicos - o padrão em rede." (Fritjof Capra,
2002, sinopse)
Tendo como norteador de ideias o texto acima citado de Fritjof Capra,
onde em sua obra “As conexões ocultas – Ciência para um vida sustentável” o
autor desenvolveu uma compreensão sistêmica e unificada que integra as
dimensões biológicas, cognitiva e social da vida, demonstrando que a vida, em
todos os seus níveis é interligada por redes complexas, faz-se crer que a
Sustentabilidade em sua essência já absorve destas próprias redes, de forma a
13
tornar seus processos perenes e orgânicos. Uma vez analisados, os
processos, de forma holística, todas as ações são interligadas, apresentandose, assim, como uma nova forma de organização pensada.
A promoção de valores onde, a priori, deveriam satisfazer as
necessidades humanas, hoje não o faz por respeito ao acúmulo de bens
materiais e econômicos, centralizando e objetivando o lucro, em uma relação
ganho e perda. Opondo-se a isso estão os valores de Sustentabilidade que,
atuando em redes, propõe a relação “ganho e ganho”, onde todos no processo
poderão se beneficiar de alguma forma sobre o olhar econômico-financeiro.
Desta forma, os novos pensamentos vigentes se assemelham das ações
no campo da prática do setor varejista estudado, quase que unânimes, ainda,
sobre o prisma econômico, tendo em segundo plano a sociedade e, por sua
vez, o Meio Ambiente. Atualmente esta complexidade entre a teoria e a prática
está em crescente aproximação e é na articulação em redes que estão as
experiências de maior sucesso.
2.2 A produção e o consumo no mundo contemporâneo
Em análise histórica, compreendemos o processo de desenvolvimento
humano através de fatos relacionados com a natureza do planeta Terra e suas
marcas geológicas através dos tempos. A maior parte dos cientistas e
pensadores de todo o mundo (como o astrônomo Martin Rees, Matthias
Machnig e o pensador Al Gore) dizem que nunca se poluiu tanto quanto da
metade do século XVIII até os dias atuais, onde a industrialização deu margens
aos mais remotos sonhos de processo contínuo de expansão. Uma vez
verificada a fórmula de crescimento em longa escala, o ser humano corrompeu
os sentidos e se pôs em busca da satisfação pessoal momentânea. É certo de
que não se tinha certeza da finitude dos recursos naturais naquela época, mas
tinha-se uma ideia. Em paralelo, começou a corrida ao consumo exacerbado e
opulento, depredativo e elitista.
Atualmente este cenário tem mudado, exemplo prático são as reuniões e
convenções em todo o mundo a partir da Eco-92, mas ainda sofremos os
efeitos dos nossos atos passados, exemplificado pelas mudanças climáticas
14
confirmadas pela maioria dos cientistas da atualidade, já citados anteriormente,
como sendo de ação antrópica ao meio.
A evolução do processo produtivo aumentou o poder de consumo, uma
vez que a população cresceu inexoravelmente nestes 150 anos, e hoje em dia
podemos até nos autodenominar sociedade de consumo, uma vez que
confundimos o ato de comprar com o próprio ato de consumir, sendo estes dois
atos distintos.
O fato de consumir nos remota aos fatores naturais de sobrevivência,
fazendo crer que nada mais básico para os seres viventes do que o ato de
consumir algo, para a própria existência. Em resonância aos moldes da
sociedade contemporânea, o fato de consumir se tornou um estilo de vida
baseado na solução expressa por Victor Lebow, no começo da era que se
seguiu a Segunda Guerra Mundial:
"Nossa economia, enormemente produtiva, demanda que
transformemos o consumo em estilo de vida. Devemos converter a
compra e uso de bens em rituais que iremos buscar para nossa
satisfação espiritual, a satisfação do nosso ego, em consumo...
Precisamos que coisas sejam consumidas, repostas, descartadas,
em ritmo cada vez mais elevado."
Tendo o consumo como força motriz da economia vigente e de valores
éticos, tem-se no Varejo o principal filão de articulação educacional promotora
de valores socioambientais, uma vez que atualmente estes "centros de
consumo" recebem mais pessoas em comparação a uma igreja evengélica. As
práticas de compra e consumo se tornaram detentores de valores, como a
moda e as propagandas. Na verdade estas estratégias foram desenvolvidas
propositadamente, para obrigar os consumidores a comprarem produtos cada
vez mais, sem notar sua inutilidade. São as chamadas Obsolescências
Aparentes¹ e Obsolescências Programadas², que discutiam o quão rápido um
produto pode se estragar sem perder o poder de fascínio pelo consumidor.
¹ Ver “A história das coisas”, com Annie Leonard;
² Idem;
15
O resultado deste pensamento nós estamos enfrentando nos dias de
hoje, através da problemática mundial do lixo. Ilhas de resíduos estão se
formando no Pacífico Norte, acompanhando as correntes marítimas e se
depositando perigosamente nas zonas de convergências que equilibram a
existência de vida no planeta. Uma pratica assustadora se pensarmos que as
nossas opções de compra se limitam ao descarte sistêmico de resíduos no
Meio Ambiente. Visto isso, a luz das novas metas e propostas de
desenvolvimento humano, as implicações destas ações presentes podem e
devem ser mitigadas e trabalhas em seu inverso pelo setor que representa,
hoje, a maior circulação de pessoas, dentro de um município, o Setor Varejista.
2.3 O papel da empresa Varejista na sociedade moderna
Dentro dos preceitos de desenvolvimento econômico, analisado por
Victor Lebow, onde a expansão de produtos industrializados em um nível
contínuo de exploração dos recursos naturais leva e eleva o papel do consumo
como princípio de ação de controle e manutenção da vida, determinando o
setor Varejista como o principal agente deste controle e verificando o mesmo
como sendo o lugar onde mais atuamos e realizamos nossas escolhas.
Historicamente, o Varejo começou a galgar espaço com o advendo das
compras desvinculadas das indústrias, com a intenção de não mostrar o
processo produtivo ao consumidor final, focando no marketing a satisfação
sobre o produto pronto, desvinculando-o de seu processo de fabricação. Esta
estratégia verifica-se até os dias de hoje, tendo na propaganda a força motriz
deste pensamento.
2.4 Analise do mercado de sustentabilidade
Mas recentemente, sobre processos de controle socioambiental, temos a
economia como agregadora destes fatores, abrangendo suas metas aos
valores
sociais
de
convívio
e
introduzindo
em
suas
empresas
e
empreendimentos, práticas de melhoria contínua sobre o Meio Ambiente
inserido, nele a sociedade humana e a sociedade natural.
16
Com isso, a Bolsa de Valores apresenta desde 2005 o Índice de
Sustentabilidade Empresarial¹, onde são selecionadas as empresas que se
destacam
por
adotar
estratégias
e
ter
práticas
que
promovam
o
desenvolvimento sustentável.
Com isso, pretende-se uniformizar as empresas a promoverem o
Desenvolvimento Sustentável de forma transversal com a sociedade,
contribuindo para a preservação dos recursos naturais e aumentando suas
chances no mercado econômico.
2.5 Cadeia de valores e suas conexões sociais
No mundo globalizado a trajetória de fabricação das coisas que
compramos é, muitas vezes, maior do que pensamos. Se tomarmos como
exemplo uma simples camiseta, veremos que a idealização do produto pode ter
sido feita por uma empresa americana, o algodão orgânico plantado na
Turquia, o tecido produzido na Tailândia e as camisetas costuradas no Vietnã.
O produto pronto segue para os Estados Unidos onde é distribuído por todo o
país e, ainda, exportado para outros, como o Brasil. Alguns produtos
alimentícios, como o peixe, apresentam um desafio adicional. Neste caso é
preciso respeitar a sazonalidade e buscar formas de manter o consumo em
níveis que permitam a manutenção dos ciclos naturais, garantindo o
fornecimento desses produtos no longo prazo. Analisando a Cadeia de Valor
como uma sequência de atividades que se inicia com a origem dos recursos e
vai até o descarte do produto pelo consumidor final, promovemos a análise da
seguinte
relação
intersetorial
da
cadeia
de
valores
dos
produtos
comercializados pelo Supermercado Baba, demonstrada na figura abaixo.
Nota-se a relação entre a sociedade local e regional, através da Rede Litoral de
Supermercados, utilizando as mesmas matérias-primas, indústrias e rede de
fornecedores.
¹ Ver BOVESPA
17
Rede
Litoral
Matéria
Prima
Consumidores
Fornecedores
Indústria
Supermercados
Baba
Reciclagem
Pós-consumo
Matéria
Prima
Lixões /
Aterros
Figura 2: Fluxograma da relação comercial entre produtos e serviços explorados pelo Varejo
local.
O objetivo principal dessa relação é o de proporcionar um melhor
atendimento ao consumidor, que assim tem a sua disposição uma maior
variedade de opções de produtos rastreados na cadeia produtiva.
3. GARANTIR A SUSTENTABILIDADE DA CADEIA PRODUTIVA:
UMA MISSÃO DO VAREJO
3.1 Sustentabilidade como critério de compra
Todas as empresas têm processos de compras que utilizam critérios
para comparar e escolher produtos de diferentes fornecedores. Em sua
maioria, estes processos utilizam o preço, a qualidade e prazo de entrega
como critérios essenciais. Nas compras sustentáveis adicionam-se outros
critérios, tais como o bom aproveitamento dos recursos e sua origem, a
poluição gerada na produção e transporte e as condições de trabalho e
remuneração das pessoas envolvidas na cadeia produtiva. É importante que os
varejistas informem os critérios de seleção de seus fornecedores a fim de
18
garantir condições semelhantes a todos os interessados em fornecer produtos
e serviços à sua empresa. No que tange a participação do Supermercado Baba
nesta filosofia de trabalho, as articulações com a sociedade deve-se de fato
pelo vinculo com a Rede Litoral de Supermercados, que afere seu tom regional
e pressupõe valores de caráter global aos seus produtos e serviços.
3.2 Rastreamento de produtos
O rastreamento dos produtos é importante por conter dados sobre a
história, a aplicação ou a localização de um item por meio de registros. Essa
iniciativa ajuda a controlar riscos – ambientais, sociais, e à saúde humana –
garantindo transparência na cadeia produtiva e diferencial de qualidade.
4. EDUCAÇAO PARA O CONSUMO SUSTENTAVEL
4.1 Consumo Consciente
O
Instituto
Akatu¹,
que
realiza
pesquisas
periódicas
sobre
o
comportamento dos consumidores, identificou que um em cada três
consumidores percebe os impactos coletivos em longo prazo decorrentes de
suas ações de consumo. De acordo com suas pesquisas, 5% dos brasileiros já
são
consumidores
conscientes,
ou
seja,
aqueles
que,
entre
outros
comportamentos, conhecem e valorizam as práticas de responsabilidade social
e sustentabilidade das empresas e, além disso, compram produtos e serviços
de empresas reconhecidas por suas práticas sustentáveis. A tendência é que
esse número aumente, uma vez que 28% dos consumidores são considerados
engajados, isto é, adotam comportamentos sustentáveis em relação ao
consumo, e outros 59% estão começando a ter contato com o tema. É
necessário que o consumidor aprenda a relacionar seu ato de consumo com os
impactos socioambientais que ele pode provocar. Nesse sentido, o processo de
educação para o consumo consciente precisa desenvolver diversas iniciativas
locais e regionais nas quais o varejo e sua rede podem ser um significativo
agente catalisador.
¹ www.akatu.org.br
4.2 Consumidor Consciente
19
O consumidor consciente é aquele que consome com consciência dos
impactos de seu consumo e mobiliza os outros a fazer o mesmo. Desta forma,
o consumidor, antes de consumir, deve refletir sobre: a necessidade de
consumir; que tipo de produto deve consumir; como deve pagá-lo; de que
empresa deve comprar; como deve utilizar o produto; e como irá descartá-lo
após o término de sua vida útil. (Instituto Akatu).
A classe social e os níveis de escolaridade têm papel limitado na prática
do consumo consciente. A sétima edição da pesquisa "Como e por que os
brasileiros praticam o consumo consciente?", demonstra que no exame da
incidência do consumo consciente por classe social, há um efeito discreto,
porém sistemático. Claramente, os consumidores de classes mais baixas (D/E)
têm uma probabilidade três vezes maior de serem consumidores indiferentes
do que os incluídos na classe mais alta (A: 11% versus D/E: 3%). Ou seja,
entre os consumidores de classe alta, as chances de encontrar consumidores
conscientes é três vezes maior, se comparados com os das classes mais
baixas (A: 8% versus D/E 3%). Em relação à escolaridade, observa-se uma
distribuição dos níveis de instrução (fundamental, médio e superior), bastante
semelhante em cada um dos segmentos de consumidores.
A FGV¹ realizou, em 2008, pesquisa pioneira para conhecer a percepção
e expectativas do consumidor em relação às práticas de Responsabilidade
Social Empresarial das empresas varejistas. Nesta oportunidade identificou-se
que as ações de RSE e sustentabilidade não são declaradas como fator
decisivo na escolha do varejista, mas grande parte dos entrevistados
reconhece e valoriza estas práticas. Também foi demonstrada grande
confiança nos representantes do setor e um desejo, do consumidor, em
contribuir mais para a sustentabilidade, inclusive por meio do consumo. Estas
conclusões evidenciam o espaço existente para que o varejo lidere a mudança
nos padrões de consumo.
¹Fundação Getúlio Vargas.
4.3 Consumo Consciente x Consumo Sustentável
20
Existem muitas nomenclaturas ligadas a um novo tipo de consumo,
necessário para o desenvolvimento sustentável. Será que todas querem dizer a
mesma coisa?
A análise dos estudos que propõem modelos alternativos de consumo
demonstra que, de um lado temos o consumo consciente (que tem como
sinônimos o consumo verde, o consumo responsável e o consumo ético); e de
outro, o consumo sustentável.
O consumo consciente tem o seu foco no consumidor, elegendo-o como
o principal agente de transformação e acreditando que suas escolhas definirão
o futuro. Já o consumo sustentável entende que as mudanças necessárias no
consumo devem contemplar ações coletivas dos cidadãos, do governo e das
empresas, onde devem ser revistos os padrões e níveis de consumo vigentes
na atualidade.
5. EMPREENDENDO O CONHECIMENTO
Partindo da ação probatória em um contexto de observação e
aproximação, desenvolvemos pesquisa analítica com base em observações
diretas sobre o local de estudo, o Supermercado Baba. Com respeito básico ao
princípio de propriedade aferimos a proposta ao proprietário da loja em
questão, ao qual não visualizou interesse no assunto.
Partindo deste princípio, os questionamentos se deram de forma teóricoprática, assegurando a participação em Fóruns¹ e Seminários² e analisando a
questão de forma crítica, com base na economia local, a sociedade e o Meio
Ambiente inserido.
¹Fórum de Varejo e Consumo Sustentável.
²Seminário de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo.
21
6. O VAREJO LOCAL, SEUS DESAFIOS REGIONAIS E SUAS
MISSÕES GLOBAIS
Em análise teórica, propondo como local de estudo o município de
Peruíbe, cidade litorânea localizada a sul do Estado de São Paulo, com área
territorial de 358,3 Km² e população fixa aproximada em 57 mil habitantes
(IBGE/2008),
analisaremos
sobre
o
enfoque
da
Sustentabilidade
o
Supermercado Baba, sua cadeia de valores, sua relação em rede de
articulações regionais e sua relação com o consumidor final, moradores,
veranistas e turistas de Peruíbe.
Aspectos econômicos:
Há trinta anos atuando no comércio de produtos alimentícios na cidade
de Peruíbe, o Supermercado Baba é o mais tradicional comércio Varejista do
município, atuando em rede regional somente nestes dois últimos anos, com
mais 18 lojas na Região Metropolitana da Baixada Santista. A sua história
remonta os tempos das imigrações da década de 50 e 60 do século XX, em
paralelo a própria emancipação política da cidade. Compreende, atualmente,
por volta de 32 funcionários e uma frota de entrega a domicílio de 2 caminhões,
entregando produtos comprados na loja somente nas imediações locais.
Compreende, pois, a comercialização da produção local e produtos
correspondentes ao resto do país, tendo como base a produção e consumo em
vigência nas sociedades modernas.
Aspectos Sociais:
Localizado no bairro da Estação, o Supermercado Baba afere seus
produtos, principalmente, sobre um terço da área territorial de Peruíbe,
coincidentemente a área da cidade onde se encontram as maiores
concentrações populacionais. Tais adensamentos populacionais refletem a
realidade da maior parte do país, sendo ocupadas por uma população de baixa
22
renda, com valores socioambientais depurados sobre o prisma capitalista de
consumo. Não obstante, há uma crescente procura de clientes mais afastados,
pelo aumento de ações e atitudes relacionadas com a Responsabilidade Social
e outras preocupações ambientais por parte do Supermercado Baba, como a
promoção para a reciclagem e reuso de caixas de papelão. Atuações como
esta são, principalmente, contribuições técnicas oferecidas pela troca de ideias
entre os outros 18 componentes da Rede Litoral de Supermercados, aferindo
suas campanhas socioambientais a sete cidades da Região Metropolitana da
Baixada Santista, sendo uma delas Peruíbe, com o supermercado Baba. Estes
aspectos de desenvolvimento refletem as preocupações mitigadoras da
realidade corporativa em rede, uma vez que gera segurança e perenidade aos
negócios e serviços de toda a cadeia produtiva.
Aspectos Ambientais:
Desde a sua emancipação política, a cidade de Peruíbe vem dobrando a
cada dez anos, apresentando assim características bem peculiares e
marcantes. Possui em seu território diversas Unidades de Conservação
Ambiental, sendo uma das cidades de maior riqueza ambiental e cultural do
Brasil. A cidade está localizada no maior contínuo de Mata Atlântica dos 7%
que ainda restam do bioma, abriga comunidades tradicionais caiçaras e
indígenas que convivem com a população urbana (centro e periferias) e rural,
sob as pressões aferidas pelo modelo de desenvolvimento econômico vigente.
Tem, portanto, altas responsabilidades na conservação da diversidade
biológica e cultural do planeta, além de grande potencial de ser exemplo ao
mundo na construção de relações socioeconômicas que traduzam a um
respeito mútuo entre os povos distintos, tendo como base a coerência com a
propriedade comunal dos recursos naturais.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
23
Pelo proposto, de análise crítica a partir de valores globais de
articulações técnico cientifica perante aos processos de produção e consumo
verificados na atualidade, em seus diversos setores da sociedade, vê-se um
acelerado crescimento de ideias e propostas alternativas de desenvolvimento
humano levando em conta os processos naturais do planeta Terra. Esta
estreita resonância filosófica deve-se ao fato de que a sociedade e as
empresas estão cada vez mais se reconhecendo como fator de mudança e
colocando-se a frente das novas preocupações acerca da disposição da
humanidade. Uma vez que o Varejo, como promotor de valores éticos, afere
práticas de sustentabilidade corretas em suas lojas e serviços este agrega
conceito a sua empresa e, além de promover a Responsabilidade Social (ver
ISO
26.000)
promove
também
a
eco-educação
para
os
seus
clientes/consumidores, valorizando as relações interpessoais definidas em
redes que vão sustentar seus negócios ao longo da sua cadeia de valores e
junto a toda a sua gama de articulação. A prática inerente ao ser humano, de
articulação em Redes de Sustentabilidade, garante a perenidade do
rastreamento de seus produtos e serviços, gerando economia, eficiência e
excelência em seus negócios.
Especificamente no cenário local e regional, focando a analise em uma
empresa varejista de porte médio em ascensão, o Supermercado Baba e suas
articulações sociais no município de Peruíbe detêm papel de suma importância
no que tange a transmissão de valores éticos, podendo estes ser aferidos de
forma correta, através da educação para um consumo mais responsável,
consciente e sustentável. Visto que as suas relações se devem, em sua
maioria, sobre populações de baixa renda e em torno de um dos cenários
importantes da sociedade contemporânea, força motriz da economia mundial,
as participações efetivas sobre todo e qualquer olhar social e ambiental são
bem vindas para o processo de crescimento corporativo da empresa em
questão, institucionalizando sociedade e Meio Ambiente em sua cadeia de
valor.
24
Seus fornecedores e funcionários, estando em contato direto com o
consumidor, uma vez treinados compreendem o eixo principal de transmissão
de conceitos sobre a sustentabilidade. Para tanto, é necessário que a empresa
se dedique na formação continuada destes stackerolders de mercado,
promovendo reuniões e articulações. Em especifico nota-se a preocupação
sobre estes aspectos, porém de forma ainda centralizadora de ideias na
economia vigente.
Por fim tendemos a acreditar no potencial mitigatório sobre o prisma
socioambiental da empresa varejista Baba Supermercados na cidade de
Peruíbe, ressalvo a progressão continuada de suas atividades socioambientais,
uma vez que aferidos os estudos e entrevistas a fins compreende-se estes
valores por parte da empresa, da sociedade e da administração pública, no
controle
do
Meio
Ambiente,
formando
uma
consciência
transversal,
intrapessoal e descentralizada de ideias sobre o desenvolvimento humano e
atribuindo responsabilidades sobre este desenvolvimento a todos os seres
pertencentes a esta rede de articulação, necessária à manutenção da vida.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
25
COSTA, E.HOMEM DA. Fundamentos de Responsabilidade Social
Empresarial. RJ, 2007.
SOUZA, R. MELO E. Redes de monitoramento socioambiental e tramas da
sustentabilidade. CNPq – Editora Annablume. SP, 2007.
BLAUTH, G. e ABUHAD, P. Reflexões para um consumo ético – Série “De
olho na vida”. Instituto Harmonia da Terra. SP, 2006.
FREIRE, PAULO. Pedagogia da indignação. Editora UNESP. SP, 2000.
CAPRA, FRITJOF. As conexões ocultas - Ciência para uma vida
sustentável. Editora Cultrix. SP, 2002.
BOFF, LEONARDO. Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres. Editora
Ática. SP, 1995

Documentos relacionados