Praia Santa - Museu Nacional de História Natural e da Ciência

Transcrição

Praia Santa - Museu Nacional de História Natural e da Ciência
Praia Santa – Vila do Bispo
Idade: 125-130 Ma (Cretácico inferior)
Tipos de fósseis: Pegadas (impressões)
Dinossáurios: Ornitópodes
Destacam-se:
•
Ornitópodes com alturas do solo à anca entre 1,8 e 2,4 m
•
Velocidade de deslocação entre os 3 e os 4,4 km/h
•
Terão sido dinossáurios semelhantes a Iguanodon os que deixaram as pegadas desta jazida
O icnótopo da Praia Santa (Vila do Bispo) situa-se a E desta praia e é também do
Cretácico inferior. Há pegadas em duas superfícies, com consideráveis áreas
expostas, e numa terceira, difícil de observar.
O nível 1 é um exemplo de dinoturbação. Apresenta uma superfície irregular
devido à presença de pegadas muito desgastadas pela constante abrasão
marinha. Foi identificada uma marca tridáctila, mesaxónica, de cerca de 75 cm
de comprimento por 65 cm de largura, com uma morfologia pobremente
conservada. A morfologia desta pegada indica apenas que foi um grande
dinossáurio bípede que a imprimiu no sedimento. A superfície desta laje exibe
impressões subcirculares a ovais, sem pormenores morfológicos que as
caracterizem e permitam associá-las em pistas. São subimpressões ou pegadas já
muito desgastadas de vertebrados, talvez de dinossáurios. Também estão
presentes marcas pobremente conservadas que podem ser de pés/mãos de
saurópodes, mas não se identificam pistas, pelo que não se pode confirmar a
presença destes quadrúpedes através do modo como as impressões estão
organizadas ao longo de um trilho.
Figura 1. Pista do nível 2 do icnótopo da Praia
Santa (Cretácico inferior, Vila do Bispo),
constituída por quatro impressões tridáctilas.
O nível 2 com icnitos encontra-se um
metro acima do nível inferior e
apresenta pegadas tridáctilas isoladas e
outras organizadas em trilhos. Um dos
trilhos é constituído por quatro
impressões tridáctilas com rotação
interna (Fig. 1). Duas delas estão bem
conservadas,
são
mesaxónicas,
e
apresentam 32 cm de comprimento por
26 cm de largura. Têm a marca do
calcanhar arredondada e simétrica,
impressões elípticas de dedos com os
lados
paralelos
e
terminação
arredondada na zona distal, por
ausência de marcas de garras afiadas.
O valor médio do passo é de 90 cm e o
valor da passada é de 1,7 m.
Os valores do ângulo de passo são de
140º e 150º.
Uma outra pista do nível 2 é constituída por seis impressões tridáctilas, bem
preservadas, com cerca de 41 cm de comprimento por 39 cm de largura, com
rotação interna, reentrâncias nos lados interno e externo do calcanhar (o que o
faz simétrico e em forma de U), marcas de dedos largos e curtos com os lados
paralelos, e terminação arredondada na zona distal, por ausência de marcas de
garras afiadas (Fig. 2). O passo tem um valor médio de 1 m e a passada de quase
2 m. Os valores de ângulo de passo são 130º e 140º.
A
B
Figura 2.
Pista no nível 2 do icnótopo da Praia Santa (Cretácico inferior, Vila do Bispo), constituída por impressões
tridáctilas. A: quarta pegada tridáctila com a marca do calcanhar simétrica, em forma de U, típica de um
ornitópode. B: Estrutura osteológica de um pé de Iguanodon constituído por três dedos robustos com garras
arredondadas, bem diferentes das que caracterizam o pé de um dinossáurio carnívoro. Os metatarsos não
tocam o solo e não há vestígios de outro dedo ainda que mais pequeno e atrofiado como acontece com os pés
de alguns carnívoros.
A morfologia destas pegadas sugere que foram produzidas por iguanodontídeos.
Iguanodon, um dinossáurio bípede herbívoro, cujos pés são constituídos por três
dedos robustos com garras arredondadas, é um bom candidato à autoria destas
marcas (Fig. 2). Assim, devido à semelhança morfológica e estratigráfica das
pegadas do nível 2 da Praia Santa com outras pegadas do tipo Iguanodontipus,
bem conhecidas no registo icnológico europeu, atribuímo-las a este icnogénero.
Os ornitópodes assinalados neste icnótopo tinham membros posteriores com
alturas do solo à anca entre 1,8 e 2,4 m e estariam a deslocar-se a uma
velocidade estimada entre os 3 e os 4,4 km/h.
Bibliografia
Santos, V.F. (2008) – Pegadas de dinossáurios em Portugal. Museu Nacional de História Natural. Museus da
Politécnica. Universidade de Lisboa. 123 pp.
Santos, V.F.; Dantas, P.; Moratalla, J.; Terrinha, P.; Coke, C.; Agostinho, M. & Galopim de Carvalho, A.M.
(2000) - Primeiros vestígios de dinossáurios na Orla Mesozóica Algarvia, Portugal. I Congresso Ibérico de
Paleontologia/XVI Jorn. Soc. Espanhola de Paleontología, pp. 20-21. Évora.
Santos, V.F.; Dantas, P.; Moratalla, J.; Terrinha, P.; Coke, C.; Agostinho, M. & Galopim de Carvalho, A.M.
(2000) - Rastos de Iguanodontídeos no Cretácico da Bacia Algarvia, Portugal. I Congresso Ibérico de
Paleontologia/XVI Jorn. Soc. Espanhola de Paleontología, pp. 22-23. Évora.
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