Steirnagel, Eduardo L.

Transcrição

Steirnagel, Eduardo L.
Avaliação da germinação de sementes de Cordia americana (L.) Gottshling &
J.E.Mill. em diferentes substratos
Eduardo Leindecker Steirnagel1; Thairini Claudino Zavistanovicz²; Maristela Machado Araujo³; Jessé Caletti
Mezzomo4; Patrícia Mieth5; Adriana Falcão Dutra6; Daniele Guarienti Rorato7
Graduando em Engenharia Florestal/UFSM ([email protected])¹; Graduanda em Engenharia
Florestal/UFSM ([email protected])²; Prof. Drª. Depto. de Ciências Florestais/UFSM
([email protected])³; Graduando em Engenharia Florestal/UFSM ([email protected])4;
Graduanda em Engenharia Florestal/UFSM ([email protected])5; Engenheira Florestal MSc. em
Engenharia Florestal/UFSM ([email protected])6 ; Engenheira Florestal MSc. em Engenharia
Florestal/UFSM ([email protected])7
Resumo: O trabalho teve como objetivo avaliar o potencial germinativo de um lote de sementes de Cordia
americana (L.) Gottshling & J.E.Mill. (guajuvira), identificando o melhor substrato para análise laboratorial.
O estudo foi conduzido no Laboratório de Silvicultura, Viveiro Florestal, UFSM. Primeiramente, foi
determinado o peso de mil sementes, número de sementes kg-1 e teor de água. No teste de germinação foram
avaliados oito diferentes substratos, sendo sobre vermiculita (T1), sobre areia (T2), sobre papel filtro (T3),
sobre papel mata-borrão (T4), rolo de papel (T5), entre vermiculita (T6), entre areia (T7), entre papel filtro
(T8). O teste foi realizado em câmara de germinação Mangelsdorf, a 25 °C ± 2 °C e fotoperíodo de 24 horas.
As variáveis analisadas foram germinação, índice de velocidade de germinação e tempo médio de
germinação. O peso de mil sementes e o teor de água foi de 27,42 g e 12,4 %, respectivamente. Para a
variável Germinação não foram verificadas diferenças estatísticas significativas entre os tratamentos entre
vermiculita (T6), sobre vermiculita (T1), sobre areia (T2) e sobre papel mata-borrão (T4), entretanto o maior
valor observado (98%) ocorreu com o uso do substrato entre vermiculita que pode ser indicada para
realização de testes laboratoriais com guajuvira.
Palavras-chave: Espécie nativa; Sementes; Qualidade fisiológica; Viabilidade.
Introdução
O conhecimento do comportamento silvicultural de uma espécie é de suma importância para a
comercialização de sementes e mudas florestais nativas, o qual apresenta uma demanda crescente. Essa
necessidade está associada à cobertura florestal atual, que se encontra reduzida, com alteração nos
remanescentes florestais (FARIAS, 2006), sendo necessária à recomposição florestal em áreas degradadas,
áreas de preservação permanente e de reserva legal (WIELEWICKI et al., 2006).
A avaliação do potencial germinativo de sementes florestais é um método prioritário para a determinação
da qualidade fisiológica de um lote de sementes, inferindo sobre a viabilidade em condições favoráveis.
Existem fatores que podem influenciar a germinação, como o substrato, que devido as suas
características de estrutura, aeração, capacidade de retenção de água, grau de infestação de patógenos, entre
outras características, podem favorecer ou prejudicar a germinação das sementes (FIGLIOLIA et al., 1993).
O conhecimento desses fatores torna-se de extrema importância, pois permitem que os mesmos sejam
controlados e manipulados para melhorar a percentagem, velocidade e uniformidade de germinação,
resultando em propostas para a padronização desses testes com espécies florestais, além de proporcionar a
produção de mudas mais vigorosas para plantio, com consequente minimização dos gastos com perdas por
mortalidade (NASSIF et al., 1998).
A espécie Cordia americana (L.) Gottshling & J.E.Mill., conhecida popularmente como guajuvira,
pertence à família Boraginaceae, trata-se de uma espécie semi-heliófila, encontrada em capoeiras e vegetação
secundária. A guajuvira tem uso paisagístico, medicinal e em recuperação de áreas de preservação
permanente, além de a madeira ser recomendada para construção civil, energia, celulose e papel
(CARVALHO, 2003).
Dessa forma, o objetivo do trabalho foi avaliar o potencial germinativo de um lote de sementes de
Cordia americana, identificando o substrato mais adequado para análise em laboratório.
Material e métodos
O experimento de germinação de sementes foi conduzido no Laboratório de Silvicultura, no Viveiro
Florestal, Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa Maria, localizado no
1
município de Santa Maria, Depressão Central do Rio Grande do Sul (29°43’ Latitude Sul e 53°43 ’de
Longitude Oeste), altitude aproximada de 90 a 95 metros.
De acordo com a classificação de Köppen, o clima da região de Santa Maria é subtropical do tipo
fundamental Cfa, com chuvas durante todos os meses do ano, apresentando precipitação média anual de 1700
mm, e temperatura média do mês mais quente superior a 22 °C, e do mês mais frio superior a 3 ºC
(MORENO, 1961).
O lote de sementes foi formado a partir de oito árvores matrizes, coletadas no município de São João do
Polêsine, RS, no mês de fevereiro de 2010. Após o beneficiamento as sementes foram armazenadas em
câmara fria, com temperatura de ± 8°C e umidade relativa em torno de 80%. Nessas condições, as sementes
de guajuvira permaneceram armazenadas em sacos de papel dentro de tambores de papel Kraft, por 15 dias.
Posteriormente, foi determinado o peso de mil sementes, número de sementes por kilograma, teor de água e
germinação.
Para o peso das mil sementes, o procedimento foi realizado baseando-se nas recomendações das Regras
para Análises de Sementes (BRASIL, 2009), em que as sementes foram selecionadas ao acaso e contadas
manualmente, de modo a formar oito repetições de 100 sementes cada, as quais foram pesadas e tiveram seus
pesos registrados para análise do coeficiente de variação e procedimentos posteriores. Na determinação do
teor de água, as sementes foram submetidas ao método de estufa a 105° ± 3°C, por 24 horas, com quatro
repetições de aproximadamente 5 gramas (BRASIL, 2009).
O teste de germinação foi realizado para determinar o potencial máximo germinativo do lote. Todo o
material utilizado passou por desinfestação, sendo a água destilada e as pinças esterilizadas em autoclave a
120°C por 120 minutos e as caixas plásticas transparentes com tampa (gerbox) esterilizados com álcool 70%.
Foi utilizado delineamento experimental inteiramente casualizado, com quatro repetições contendo 25
sementes em cada, onde foram testados oito tipos de substratos: sobre vermiculita (T1), sobre areia (T2),
sobre papel filtro (T3), sobre papel mata-borrão (T4), rolo de papel (T5), entre vermiculita (T6), entre areia
(T7), entre papel filtro (T8), visando a comparação com estudo realizado por Aimi et al. (2011) que utilizou
um lote de sementes armazenado por 2 meses em câmera úmida, nas mesmas condições de temperatura e
umidade relativa utilizadas nesse trabalho.
As sementes de guajuvira não sofreram quebra de dormência, sendo apenas realizada a assepsia das
sementes previamente à instalação do experimento, utilizando solução de hipoclorito de sódio 1%, durante 3
minutos, seguido por enxague em água destilada.
O teste foi conduzido em câmara de germinação do tipo Mangelsdorf, com fotoperíodo de 24 horas de
luz e temperatura de 25 °C ± 2 °C. Foram realizadas contagens a cada sete dias, considerando como
germinadas as plântulas normais, ou seja, aqueles indivíduos que apresentaram sistema radicular, parte aérea,
gemas terminais e no mínimo um par de cotilédones (BRASIL, 2009).
Com base nos resultados, foi possível determinar a Germinação (G), Índice de Velocidade de
Germinação (IVG) e o Tempo Médio de Germinação (TMG). Foram utilizados os testes de Shapiro-Wilk
para verificar a normalidade dos resíduos e de Bartlett para homogeneidade entre as variâncias, e análise de
variância, seguido de comparação de médias, com teste de Tukey, a 5% de probabilidade de erro, com auxílio
do software SAS.
Resultados e discussão
As sementes de Cordia americana apresentaram peso de mil sementes de 27,42 g, 32.873 sementes kg-1,
e teor de água de 12,4 %. Lorenzi (2002) identificou para a mesma espécie 22.000 sementes kg-1, enquanto
Eibl et al. (1994) encontrou 43.934 sementes kg-1, demonstrando a variação morfológica existente nas
sementes dessa espécie. Isso pode ser justificado pelas variações edafo-climáticas, existentes nas diversas
regiões fisiográficas. Considerando para os parâmetros peso de mil sementes e teor de água, Aimi et al.
(2011) encontraram 23g e 11,04%, respectivamente, evidenciando a semelhança nas características
fisiológicas das sementes de diferentes lotes, oriundos também da região central do Rio Grande do Sul.
Para a variável Germinação (G), não foram verificadas diferenças estatísticas significativas entre os
tratamentos entre vermiculita (T6), sobre vermiculita (T1), sobre areia (T2) e sobre papel mata-borrão (T4),
que apresentaram germinação de 98%, 91%, 82% e 68%, respectivamente, porém o (T6) diferiu
estatisticamente de entre areia (T7), sobre papel filtro (T3), entre papel filtro (T8) e rolo de papel (T5), que
apresentaram os menores percentuais de germinação, com 62%, 58%, 56 e 55%, respectivamente (Tabela 1).
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Tabela 1 - Percentagem de Germinação (G), Índice de Velocidade de Germinação (IVG) e Tempo Médio de Germinação
(TMG), Laboratório de Silvicultura, DCFL, UFSM.
TRATAMENTO
G
IVG
TMG
T1
91 ba
1,12 ba
20,00 a
T2
82 bac
1,11 bac
19,25 a
T3
58 c
0,80 dc
19,00 a
T4
68 bac
0,87 bdc
21,00 a
T5
55 c
0,65 d
22,50 a
T6
98 a
1,33 a
19,00 a
T7
62 bc
0,84 bdc
19,50 a
T8
56 c
0,75 dc
19,75 a
Pressuposições Pr<W
0,1456
0,5173
0,139
Básicas χ²
0,1407
0,3224
0,3731
CV (%)
18,0622
16,4315
7,4801
Em que: T1- Sobre vermiculita; T2- Sobre areia; T3- Sobre papel filtro; T4- Sobre papel mata-borrão; T5- Rolo de papel;
T6- Entre vermiculita; T7- Entre areia; T8- Entre papel filtro. W: estatística do teste de Shapiro-Wilk e χ²: estatística do
teste de Bartlett.As médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo Teste de Tukey, a 5% de
probabilidade de erro.
Resultados semelhantes foram obtidos por Aimi et al. (2011) analisando a germinação de sementes de
guajuvira, não sendo verificadas diferenças significativas (p>0,05) entre os tratamentos, com exceção do
substrato rolo de papel que apresentou percentual de germinação de 24%. Apesar de não existirem diferenças
estatísticas nos substratos testados, o tratamento sobre vermiculita apresentou a maior percentagem de
germinação (78%).
Wielewicki et al. (2006), na comparação de 17 lotes de sementes de guajuvira utilizando substrato sobre
papel, também obteve média de germinação de 78%, resultados inferiores aos obtidos nesse trabalho.
A partir da análise dos resultados (Tabela 1), pode-se verificar que para a variável Tempo Médio de
Germinação (TMG), não ocorreram diferenças significativas entre os tratamentos, cujos valores variam de
sobre papel filtro (T3) e entre vermiculita (T6) com os melhores valores de TMG (19 dias), seguido de sobre
areia (T2), entre areia (T7), entre papel filtro (T8), sobre vermiculita (T1), sobre papel mata-borrão (T4) e
rolo de papel (T5) que proporcionou o pior resultado para TMG (22,5 dias).
As respostas obtidas com Índice de Velocidade de Germinação (IVG) apresentaram diferenças
estatísticas significativas para essa variável, considerando que o tratamento entre vermiculita (T6) apresentou
o maior IVG (1,33) enquanto no rolo de papel (T5) observou-se o menor IVG (0,65).
Contudo, constata-se que o início da germinação das sementes nos melhores substratos ocorreu no 15°
dia após a instalação do experimento, podendo a primeira contagem ser realizada aos 21 dias, quando a
germinação foi de, aproximadamente 50%, e as avaliações encerradas no 30º dia.
Os resultados observados correspondem aqueles obtidos por Aimi et al. (2011), que considerando a
mesma metodologia utilizada nesse estudo, permitiram confirmar esse resultado, pois os dados apresentam a
mesma tendência em relação aos tratamentos.
Conclusão
Nas condições em que o experimento foi conduzido:
A contagem inicial do teste de germinação com sementes de Cordia americana (L.) Gottshling &
J.E.Mill. pode ser feita aos 21 dias, sendo encerradas aos 35 dias;
Os substratos sobre vermiculita, sobre areia e entre vermiculita podem ser utilizados em testes
laboratoriais para a espécie em estudo, contudo o substrato entre vermiculita proporcionou maiores valores
das variáveis analisadas, além da facilidade de manuseio, sendo indicada para uso em testes de germinação
para guajuvira.
Referências bibliográficas
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