Amuay: refinaria teve manutenção adiada

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Amuay: refinaria teve manutenção adiada
l Mundo l
Quarta-feira 29 .8.2012
O GLOBO
l 33
Amuay: refinaria teve manutenção adiada
Ministro do Petróleo promete mostrar resultado de investigação sobre causas do acidente antes da eleição
ARIANA CUBILLOS/AP
JANAINA L AGE
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Um relatório da própria PDVSA, a companhia estatal de petróleo venezuelana, entregue à Assembleia Nacional em
fevereiro mostra que sete das nove paradas de manutenção programadas para 2011 na refinaria de Amuay foram
adiadas para este ano. O acidente na
usina, que faz parte do maior complexo
de refino no país, matou 48 pessoas, feriu dezenas, destruiu centenas de casas
e já se tornou parte da etapa decisiva da
campanha para as eleições presidenciais de 7 de outubro.
De um lado, os opositores afirmam
que o acidente é um exemplo da falta
de segurança e eficiência do governo.
De outro, membros do governo citam
até mesmo a hipótese de sabotagem. O
ministro do Petróleo e presidente da
PDVSA, Rafael Ramírez, disse à agência
Reuters que o acidente obriga a companhia a fazer uma profunda revisão.
“TIA RICA DO ESTADO”
Segundo ele, os resultados da investigação sobre as causas do acidente deverão ficar prontos dentro de um mês, o
que significaria a divulgação antes da
eleição. Ramírez nega problemas em
manutenção e afirma que a estatal investiu US$ 5 bilhões nos últimos cinco
anos em manutenção das refinarias de
Amuay e Cardón. Diante do longo histórico de acidentes registrados pela estatal nos últimos anos e insatisfeitos
com as respostas, os opositores querem
a demissão do ministro.
O gerente-geral do Complexo de Refino de Paraguaná, Jesús Luongo, disse
que a empresa já conta com um cronograma de retorno à operação das usinas
Impacto. Bombeiros jogam água sobre tanque de combustível da refinaria de Amuay: Chávez comparou explosão a uma bomba atômica
U
Números
7
MANUTENÇÕES
Programadas para o ano passado
em Amuay foram adiadas
2,6
MILHÕES DE BARRIS/DIA
Foi a produção da PDVSA em 2011,
patamar inferior ao de 1997
afetadas e que, no momento, está sendo concluído o trabalho de resfriamento dos tanques de combustível. Amuay
é a maior refinaria da Venezuela, com
capacidade de processamento de 640
mil barris/dia. Mas Iván Freites, sindicalista da Federação Unitária de Trabalhadores Petroleiros da Venezuela, resumiu o sentimento de preocupação,
dizendo que a retomada requer condições ótimas de segurança. “Uma refinaria não é uma chaleira”, disse.
No rádio e na TV, Chávez comparou o
acidente a uma bomba atômica:
— É como se tivesse caído uma bomba atômica, com o impacto que houve
aqui, produto da explosão da nuvem de
gás que se formou.
Apesar das promessas dos candidatos de não explorar politicamente o
episódio, o acidente trouxe à tona as
mudanças ocorridas na PDVSA durante o governo Chávez.
— A empresa tem três grandes problemas: recursos humanos, pois não
conseguiu substituir adequadamente
os profissionais que deixaram a PDVSA
há dez anos; fluxo de caixa pois se con-
Anistia a guerrilheiros e eleições França abre
investigação
põem em risco diálogo com Farc sobre morte
REUTERS/27-8-2012
Congresso e Justiça
apoiam acordo, mas
fazem ressalvas
de Arafat
Autoridade Palestina
elogia decisão, e Liga
Árabe aciona a ONU
VITOR SORANO
[email protected]
O presidente Juan Manuel
Santos recebeu sinais positivos
do Congresso e do Judiciário
para levar adiante o diálogo
com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
(Farc). Os dois, porém, marcaram posição contra uma anistia ampla — no que pode se
tornar um dos principais motivos de impasse da negociação.
Após um dia de rumores,
Santos anunciou na noite de
anteontem sua disposição em
reabrir negociações com as
Farc para por fim ao conflito de
meio século. Trata-se de uma
mudança radical em relação
ao governo anterior, de Álvaro
Uribe (2002-2010), que adotou
uma postura de confronto intransigente responsável por
enfraquecer a guerrilha, mas
incapaz de vencê-la.
A proposta foi bem recebida
pelo presidente da Câmara dos
Deputados, Augusto Posada,
afirmando que “se queremos
ter paz, devemos perdoar”. O
presidente do Congresso, senador Roy Barreras, porém,
apresentou reservas:
— Há coisas que são inegociáveis. Tem de haver justiça, por
isso não haverá indultos, anistias ou leis de ponto final. Os
máximos responsáveis por crimes de lesa-humanidade deverão pagar por eles.
Em seu pronunciamento, o
presidente da Corte Suprema
de Justiça, Javier Zapata, alertou para que os delitos de lesahumanidade sejam deixados
de fora das negociações, uma
vez que são tipificados pelo direito internacional, embora tenha dado sinais de uma postura mais receptiva:
— É preciso buscar alternativas para superar tal barreira.
Os guerrilheiros, porém buscarão o perdão irrestrito, diz
Francisco dos Santos Calderón, ex-vice-presidente de Uribe e primo do atual chefe de
Estado.
Desafio. Santos deve tentar a reeleição, mas tem o acordo de paz pela frente
U
Pontos-chave
PERDÃO
Discussões sobre indultos e anistia serão centrais no processo
ELEIÇÕES
Cronograma de negociação e
eleições impõe risco adicional
CETICISMO
Tentativas anteriores de buscar a
paz pelo diálogo falharam
— Eles esperam impunidade
total. Essa será a grande luta.
Além da questão da Justiça, a
agenda inicial contará com
seis pontos e, segundo a rádio
Caracol, incluirão a participação política dos desmobilizados, o desarmamento da guerrilha e a reinserção dos guerrilheiros. Santos disse que a paz
se alcançará “com prudência,
cautela e decisão”. A União Europeia e os EUA comemoraram a hipótese de negociação.
ELEIÇÕES SÃO RISCO ADICIONAL
Antes de anunciar o diálogo,
Santos conseguiu a aprovação
no Congresso do Marco Legal
para a Paz, uma reforma constitucional que dá ao governo
instrumentos de negociação,
como a oferta de participação
política a ex-guerrilheiros.
Falta a regulamentação da
reforma, que Santos deverá fazer via projetos de lei. A partir
da data em que o primeiro
chegar ao Congresso, haverá
quatro anos para que todas as
leis relacionadas ao tema sejam aprovadas pela casa.
Santos tem mais 20 meses de
mandato. Assim, o processo de
diálogo, possivelmente, atravessará as eleições presidenciais de 2014. O presidente deve
tentar a reeleição e enfrentar,
direta ou indiretamente, a
mais potente voz na Colômbia
contra uma saída negociada:
Uribe. Além disso, a coincidência representa o risco de
uma “captura das eleições” pela guerrilha, diz Francisco dos
Santos.
— (Negociar em período
eleitoral) coloca muito mais
risco e dá vantagem às Farc
porque coloca o governo em
situação de debilidade. Não é o
momento mais propício.
Primeiro a divulgar a informação na Colômbia, o ex-vicepresidente diz que Santos tomou a decisão de propor o diálogo logo no início do mandato, em 2010, ao reatar as relações da Colômbia com a Venezuela. Uma ameaça de conflito
aberto pairou sobre Caracas e
Bogotá no governo Uribe.
— O preço era a ajuda para
chegar à paz. Chávez é a única
pessoa que tem influência sobre as Farc — diz.
Ontem, porém, o diretor do
Partido de la U — legenda do
presidente Santos — lançou
um apelo para que o venezuelano não “intervenha nos assuntos da Colômbia”. l
-PARIS- As pressões da viúva de
Yasser Arafat, Suha, e de uma
investigação particular da TV
al-Jazeera surtiram efeito. E as
várias denúncias de que o líder
palestino — morto em circunstâncias misteriosas em 2004 —
fora vítima de envenenamento
levaram a Justiça da França a
anunciar ontem uma investigação formal sobre o episódio.
A decisão foi comemorada
em Ramallah, onde a Autoridade Nacional Palestina (ANP)
também montou um comitê
para apurar o caso.
— Saudamos essa iniciativa
— declarou o negociador Saeb
Erekat. — Nossa equipe política e médica está trabalhando
em paralelo e, ao mesmo tempo, a Liga Árabe já formou um
comitê que vai pedir uma outra investigação, internacional,
através do Conselho de Segurança da ONU.
Arafat morreu aos 75 anos
em um hospital militar de Paris em novembro de 2004, um
mês depois de ser levado, gravemente doente, de seu quartel-general em Ramallah. A rápida deterioração de sua saúde
e o completo sigilo acerca da
morte impulsionaram diversos
boatos — como o de que o presidente palestino tinha Aids.
Há dois meses, por encomenda da al-Jazeera, um laboratório suíço reacendeu a polêmica ao anunciar a descoberta de altos níveis do elemento radioativo polônio-210
em roupas de Arafat fornecidas pela viúva.
Suha pediu ao tribunal do
subúrbio parisiense de Nanterre uma investigação de assassinato. Mas, a polêmica
promete ser longa. O Instituto
de Radiophysique, em Lausanne, admite que os sintomas
descritos nos relatórios médicos de Arafat não eram consistentes com polônio-210 e não
se pode tirar conclusões sobre
envenenamento. l
verteu numa espécie de tia rica do Estado venezuelano com investimento em
programas do governo; e uma multiplicação de focos de interesse que prejudicam sua atividade-fim — disse ao
GLOBO o analista Carlos Romero.
Os problemas de recursos humanos
são uma referência à demissão autorizada por Chávez de 20 mil funcionários
em 2002 por conta de uma greve que
buscava forçar a saída do governante. A
empresa tem atuado numa série de
programas sociais do governo, que incluem de distribuição de comida a
construção de casas. E em ano eleitoral, o governo aumentou ainda mais
seus investimentos na área social.
As estatísticas mostram que nos últimos anos a produção de petróleo da
PDVSA não avança como se previa. No
ano passado, a produção diária de 2,6
milhões de barris/dia foi inferior ao patamar de 1997, ano anterior à eleição
de Chávez, apesar de o país contar com
as maiores reservas de petróleo do
mundo e de as vendas de petróleo representarem 95% da receita de exportações. A empresa também tem sido alvo
de críticas por priorizar investimentos
em países aliados de Chávez, como Cuba, Bolívia e Nicarágua.
— O que acontece é que a companhia
tem gastado o necessário para manter
as operações, mas não o suficiente em
ações preventivas. É preciso se perguntar o motivo de tanta gente morar a
uma distância tão curta da refinaria.
Não adianta ter as maiores reservas debaixo da terra, o importante é o que se
faz com elas — disse Pietro Pitts, principal analista de energia da empresa de
pesquisa Energy Analytics Institute. l
Com agências internacionais