corrente contínua corrente contínua

Transcrição

corrente contínua corrente contínua
corrente contínua
Ano XXXII - Nº 227 - Julho/Agosto - 2009
A REVISTA DA ELETRONORTE
Waimiri Atroari,
os filhos da esperança
Eletronorte
sumário
TRANSMISSÃO
ONS: as linhas
do desenvolvimento
Página 3
TECNOLOGIA
Inovações que
transformam
Página 11
circuito interno
MEIO AMBIENTE
Corpo técnico
da Eletronorte
leva conhecimento
a outras instituições
do Setor Elétrico
Página 31
Um corredor para a diversidade
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ENERGIA ATIVA
CORREIO
CONTÍNUO
Eficiência
e crescimento
Página 36
FOTOLEGENDA
Página 54
Página 55
AMAZÔNIA E NÓS
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Rondônia:
diversidade, superação
e desenvolvimento
Página 44
Waimiri Atroari:
etnia que renasce a cada dia
Página 16
corrente contínua
corrente contínua
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TRANSMISSÃO
Byron de Quevedo
O sistema elétrico brasileiro movimenta
em torno de 66 mil megawatts/dia. Porém, é
a interconexão do sistema, com 93 mil quilômetros de linhas, e a sua versatilidade que o
tornam único e especial. Esse sistema de vascularização da energia, com a predominância
de hidrelétricas e com múltiplos proprietários,
se entrelaça por meio do Sistema Interligado
Nacional – SIN, sendo que apenas 3,4% da
eletricidade do País está fora do SIN, em sistemas isolados na Amazônia. O coração da rede
pulsa em Brasília, mais precisamente no Centro Nacional de Operação do Sistema – CNOS,
principal agente do Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS. Mas é nas extremidades
que ele mostra a sua plenitude, iluminando
campos e cidades.
Uma complexa malha de providências está
por trás do simples ato de se ligar uma lâmpada. Elas começam na sala de comando do
CNOS, que é semelhante a um centro de comando de voos e aeronaves, como o Sindacta (foto). A diferença básica é que, enquanto
os pontos luminosos dos painéis do Sindacta indicam aviões com centenas de pessoas
dentro deles, cada ponto iluminado nas telas
do CNOS significa milhões de pessoas que
também não podem prescindir da energia. A
corrente contínua
ONS: as linhas
do desenvolvimento
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semelhança entre os dois centros é tanta que
durante recente crise dos aeroportos, o local
recebeu técnicos da Infraero, que queriam
adaptar o sistema para o controle aéreo.
Hoje, o sistema elétrico em alta tensão
tem capacidade instalada para o transporte
de 98,8 mil MW. O recorde de consumo é
de 65,5 mil MW, evidenciando uma reserva
energética. A energia hidráulica representa
89% do consumo brasileiro; as usinas térmicas convencionais (carvão, gás e óleo diesel)
fornecem 11.895 MW; e as termonucleares
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Diretor-Geral do ONS, Hermes Chipp
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O que significou a criação do
ONS para o Setor Elétrico brasileiro?
Desde meados da década de 1970 até o final dos anos
de 1990, o sistema elétrico interligado brasileiro teve sua
operação coordenada por organismos colegiados, dos quais
participavam as principais concessionárias do País. Eram os
grupos coordenadores da Operação Interligada Sul/Sudeste
e Nordeste e o Grupo Técnico Operacional da Região Norte.
Em 1998, quando a reforma institucional do Setor Elétrico
criou o Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS, já existiam as bases metodológicas, os modelos computacionais
e os recursos humanos necessários para assumir a missão
de operar o sistema elétrico de forma centralizada, com o
objetivo de garantir ao mesmo tempo a segurança do atendimento e a redução dos custos operativos. Com a criação
do ONS, a responsabilidade que era compartilhada pelos
integrantes dos organismos colegiados passou a ser atribuída a uma única organização, que tem a missão de operar o
Sistema Interligado Nacional - SIN com transparência, equidade e neutralidade.
Que papel o ONS desempenha
no atual modelo do Setor Elétrico?
O ONS é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, que coordena e controla a operação dos sistemas de
geração e transmissão de energia elétrica no SIN, sob fiscalização e regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica
- Aneel. O Operador é uma associação civil, que tem como
membros associados os agentes de geração, de transmissão, de distribuição, importadores e exportadores de energia
e consumidores livres. Também participam representantes
do Ministério de Minas e Energia e dos conselhos de consumidores. Seu papel é cuidar dos múltiplos aspectos técnicos
relacionados à operação do SIN, fazendo a gestão dos recursos eletroenergéticos disponibilizados pelos agentes, na
busca de prover a sociedade com segurança de suprimento
e respeitando a modicidade tarifária. O ONS está estruturado com base em três macrofunções, que abrangem as
diferentes atividades que lhe são atribuídas por lei: a administração dos serviços de transmissão, o planejamento e a
programação da operação e a operação propriamente dita,
executada em tempo real pelos seus centros de operação.
A execução dessas atividades envolve de forma integrada
diferentes campos do conhecimento técnico especializado.
Para o ONS, que influência têm o tamanho
e a complexidade do sistema elétrico brasileiro?
O sistema elétrico brasileiro é singular, tanto por suas
dimensões geográficas, quanto por seu porte. Mas a característica que mais nos diferencia dos outros países é a
relevância da hidroeletricidade em nossa matriz energética. A maior parte da energia produzida no País depende
de um insumo cuja disponibilidade não pode ser completamente garantida nem prevista em um horizonte extenso.
Em nosso caso, coordenar a operação significa definir, a
cada instante, de que forma os recursos hídricos e termoelétricos serão utilizados para garantir o atendimento dos
consumidores, com continuidade, segurança e ao menor
custo de produção. E isso deve ser feito analisando-se
um horizonte plurianual, em que possam ser avaliadas as
consequências futuras das decisões tomadas no presente. Nesse cenário, a rede elétrica e, principalmente, as
interligações entre regiões assumem um papel muito importante, pois viabilizam o aproveitamento da diversidade
de comportamento entre as diferentes bacias hidrográficas, bem como o atendimento de regiões em situação de
escassez de recursos hídricos com energia exportada por
outras partes do sistema.
O SIN é um dos mais modernos do mundo.
A sua expansão conta com várias obras do
Programa de Aceleração do Crescimento - PAC.
Qual a importância delas para o futuro do País?
O Plano Anual da Operação Energética de 2009, divulgado em junho passado e disponível para consulta em
nosso site (www.ons.org.br/), avalia, sob a ótica da operação, as condições de atendimento ao SIN para o quinquênio 2009-2013, recomendando, se necessário, ações
adicionais para a adequação da oferta ao mercado previsto de energia elétrica. As avaliações realizadas indicam
uma situação confortável de atendimento ao mercado nos
próximos cinco anos. O critério de garantia de suprimento
preconizado pelo Conselho Nacional de Política Energética, riscos de déficit de energia abaixo de 5%, é atendido
com folga em todas as regiões, durante todo o quinquênio. Essa situação favorável de atendimento se deve,
principalmente, à oferta agregada pelos leilões de energia
nova e de linhas de transmissão realizados desde 2005.
No total, nos próximos cinco anos deverão ser acrescidos
Arquivo ONS
ao SIN cerca de 28 mil MW. A oferta de energia elétrica
proveniente das usinas que fazem parte do PAC é extremamente importante para a manutenção dessa situação confortável. Ela é composta por 124 usinas e soma
21.900 MW, aproximadamente 78% de toda a expansão
considerada para o SIN no período 2009-2013.
Em relação aos sistemas isolados, qual
a expectativa de interligação deles ao SIN?
A expansão das fronteiras do SIN começa a tornar-se
uma realidade com a integração do Acre e de Rondônia,
cujos testes de sincronização foram realizados com sucesso no final de julho, de acordo com as condições indicadas pelos estudos pré-operacionais do ONS. Na prática,
a integração plena da Região Norte contempla diferentes
marcos. Os outros dois são igualmente ambiciosos: a interligação Tucuruí-Manaus-Macapá e o sistema de escoamento
da geração das usinas do Rio
Madeira. Em todos esses casos,
o ONS promove estudos com vistas a realizar a integração ao SIN.
No caso de Tucuruí-Manaus-Macapá, os contratos de concessão
com os vencedores dos três lotes
foram assinados em outubro do
ano passado, e a expectativa é
de que a linha - com cerca de
1.800 km de extensão - comece a operar em 2011. Por fim,
o Complexo do Madeira, considerado um dos maiores desafios
para o Setor Elétrico, em razão
da magnitude das duas usinas e
da extensão das linhas de transmissão, tem previsão de início de operação em 2012. O
Operador teve o cuidado de colocar como requisitos do
edital de licitação do Madeira algumas medidas de gestão do conhecimento na área de transmissão em corrente
contínua, em vista da necessidade de ampliação da formação especializada nessa área.
A Rede de Gerenciamento de Energia - Reger é um
dos projetos relevantes para o Setor Elétrico brasileiro.
O que esse projeto mudará nos sistemas de controle?
Certamente, a Reger está hoje entre os trabalhos mais
estratégicos realizados pelo Operador. A implantação desse novo sistema de supervisão e controle representará um
grande marco para a coordenação do SIN. Isto faz parte
e COSRN, no Nordeste; e o COSRNCO, no
Norte-Centro-Oeste. E o SIN opera em vários
níveis de tensão com milhares de pontos de
torres, o que demonstra a importante função
do ONS, monitorando e supervisionando a extensa rede. Segundo o engenheiro operador
do contínuo aperfeiçoamento dos processos, inerente à atividade de uma instituição que precisa lidar com tecnologia
de ponta, no estado da arte. O primeiro passo do projeto
Reger aconteceu com a recente assinatura dos contratos
com o consórcio Siemens-Cepel e com a OSIsoft, para desenvolvimento do primeiro ciclo. A propósito, o Reger colhe
os frutos do trabalho conjunto desenvolvido no âmbito do
VLPGO (Very Large Power Grid Operators),onde foi estabelecida uma especificação de referência para sistemas de
gerenciamento de energia. A partir da implantação de uma
plataforma unificada de supervisão e controle, em substituição aos atuais recursos operacionais providos por diferentes
fornecedores, o ONS terá melhores condições para garantir
a continuidade dos processos de supervisão. Cada um dos
seus centros de operação poderá ter as atribuições assumidas por outro, sem prejuízo para o sistema.
O projeto tem um horizonte de longo prazo,
dividido em ciclos. A primeira dessas fases
será concluída em 30 meses, o que significa que a Reger estará em funcionamento
já no segundo semestre de 2011.
O ONS tem um corpo de profissionais
qualificados. Como o Operador
desenvolve seus recursos humanos?
O cumprimento da missão institucional
do ONS depende de uma bem-sucedida
interação entre o desenvolvimento de
sistemas e recursos tecnológicos e a capacitação de seus recursos humanos. Ao
longo dos anos, temos investido em programas de desenvolvimento tecnológico e
de gestão, utilizando o suporte de empresas de consultoria, centros de pesquisa e
universidades. Além disso, temos tratado
com muito cuidado a questão da gestão do conhecimento
na organização. Em 2005, foi elaborado um Plano Diretor
de Gestão do Conhecimento e, em 2007, iniciou-se a implantação de um processo estruturado para essa gestão.
Hoje, já identificamos os conhecimentos de foco prioritário do ONS, isto é, aqueles que são estratégicos ou de
responsabilidade específica do Operador, ou ainda que
apresentem algum aspecto de criticidade, como concentração em poucos profissionais ou risco de perda desses
conhecimentos. As iniciativas para sua retenção, criação
ou disseminação são importantes para o fortalecimento e
a perenidade do Operador. Afinal, o conhecimento é nosso
maior patrimônio.
corrente contínua
Angra I e II e pequenas centrais geradoras
suprem 2.007 MW.
O CNOS possui centros regionais que
conversam com 200 agentes de geração,
transmissão e distribuição 24 horas por dia:
o COSRS, no Sul; o COSRSE, no Sudeste;
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corrente contínua
em tempo real do CNOS, João Lúcio Machado
Fernandes, a coordenação começa na sede
do Operador, no Rio de Janeiro, passa pela
operação de tempo real e se conclui no dia
seguinte com o relatório de análises.
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Tempo real – Operações em tempo real são
aquelas preventivas para se manter a reserva
operativa, controlar tensão e frequências, os
limites das linhas de transmissão e demais
normas e procedimentos. João Lúcio descreve a rotina: “Recebemos do Rio de Janeiro as
instruções de operação, que são centenas.
Vamos então para o tempo real. Às 6h30,
recebo o programa de operações, vejo as intervenções e vou acompanhando, pois pode
haver mudanças. Lidamos com mil unidades
geradoras e 700 circuitos, sujeitos a intempéries e falhas operacionais e humanas. Temos
a previsão de cargas, mas se há uma frente
fria, a carga diminui; se ocorrer um ‘veranico’,
a carga aumentará. Aí tomamos ações corretivas e reprogramamos a carga de energia de
uma região para a outra, religamos equipamentos, flexibilizamos limites operativos, tudo
sem exceder a capacidade de transporte das
linhas de transmissão”.
Os turnos vão se revezando,
trocam-se os operadores e, enquanto isso, o País realiza suas
atividades normalmente e poucos sabem daqueles que varam
dias e noites atentos. Rostos iluminados pelas telas, olhos fixos,
um turbilhão de pensamentos e
um único desejo: que o novo dia
traga a melhor surpresa, ou seja,
nenhuma surpresa. João Lúcio
(ao lado) lembra um caso: “Em
12 de março de 1998, por volta
das 22 horas, horário de cargas
altas, tínhamos as usinas do Rio Paraná cheias
d’água e precisando gerar. Então veio o tal raio
de Bauru, desligando as dez linhas da subestação que supre São Paulo. Aí, pela sobrecarga e
queda da frequência e tensão, outras subestações foram sendo desligadas em série. Esse foi
o resultado de dez anos sem investimentos na
expansão da transmissão. O atual modelo do
Setor Elétrico criou o ONS, a ANA, fortaleceu a
Aneel, trouxe novas metodologias, melhorou a
avaliação e a segurança eletromagnética. Dificilmente a mesma situação se repetirá”.
Brasil x Argentina - No campo da energia
não existe a rivalidade Brasil versus Argentina,
nem contra os tradicionais adversários do futebol, Uruguai e Paraguai; pelo contrário, todos
se ajudam principalmente em situações de crise. O CNOS ‘conversa’ com esses países por
meio de acordos internacionais. No caso do
Paraguai, via Itaipu, onde consumimos toda a
energia do lado brasileiro e compramos 90%
da produzida do lado paraguaio. João Lúcio
observa que com a Argentina temos pontos
de conversão em Garabi I e II e Uruguaiana,
porque a nossa frequência é de 60 hertz, e
a dela, 50 hertz. “Melhoramos o intercâmbio.
Agora enviamos a energia para a Argentina no
período do inverno de lá. Depois ela nos devolve, a partir de outubro, quando as nossas
hidrelétricas estão com cotas baixas”.
O superintendente de
Comercialização de Energia da Eletronorte, José
Serafim Sobrinho (ao la­
do), não vê problema em
interligar o SIN com sistemas de outros países da
América do Sul. “Basta
um bom acordo de despachos de cargas. Em
breve, teremos uma série
de usinas na Bolívia, no
Peru, e de lá puxaremos
as linhas, ajudando, inclusive, os outros países a crescerem. Com a
diversidade climática, as bacias hidrográficas
podem contribuir umas com as outras. No
vale do Rio Orinoco, na Venezuela, o pico de
vazão é em julho, junto, por exemplo, com a
Usina Hidrelétrica Balbina, no Amazonas. Já
na região central do Brasil, o pico das chuvas
acontece entre fevereiro e março. A gestão das
bacias propicia melhor
uso de recursos e investimentos, pois a eletricidade pode transitar nos
dois sentidos e garantir
um abastecimento perene em todo continente ”,
afirma.
Copa do Mundo – O
maior evento esportivo
do planeta também é um
bom termômetro para
testar o sistema elétrico
brasileiro. O coordenador de Certificação do
CNOS, Plínio de Oliveira (acima), conta que
durante os jogos da Seleção Brasileira de futebol o consumo sobe 11.500 mil MW em
Segurança sem cochilos - Os operadores
e técnicos da Subestação Presidente Dutra,
no Maranhão, bateram o recorde mundial
em segurança no trabalho em 2009: são 21
anos sem acidentes do trabalho com afastamento do serviço. Um desempenho assim traz
mais responsabilidades. Odorico Paulo Vieira
Garcez, operador de tempo real do Centro de
Operação Regional do Maranhão, conta que
se sente realizado com sua profissão, tanto é
que abandonou o jornalismo para ficar com ela,
muito embora viva sob tensão. “É verdade: lidar
com tensões é meu trabalho. Mas alivio-as fazendo trabalhos comunitários voluntários junto
a jovens e idosos. A importância do operador
em tempo real numa regional está na resposta
diante de situações possíveis de causar blecautes. Um controle mal executado no meu
sistema pode comprometer o fornecimento de
energia elétrica em grande parte do País. Não
posso cochilar. Se na saída de uma carga, por
exemplo, eu cometo uma falha entre a média e
a alta tensão, essa carga provoca rejeições na
geradora, em nosso caso, na Usina Hidrelétrica
Tucuruí. Tenho pouco tempo para restabelecer
o fornecimento, principalmente para os grandes
consumidores industriais que precisam manter
os autofornos perenes. Manter as tensões dentro das faixas, com o mínimo de oscilações, é o
que determina a qualidade da energia. E ainda
há multas severas se a indisponibilidade do sistema ultrapassar o tempo previsto nos procedimentos estabelecidos pela Aneel. Um minuto é
o tempo que tenho para dar uma resposta ao
Odorico
e Hamilton:
decisões
rápidas
em tempo
mínimo
corrente contínua
minutos, o equivalente ao que é consumido
pela Região Sul em um único dia.
Quem imaginaria que assistir televisão economiza eletricidade e que o aumento no gasto de energia revela perda de popularidade?
Segundo Plínio, no final da novela das 8h da
noite há picos de até 4.500 MW. “Depois dela
todos vão tomar banho, aparelhos e luzes são
ligados e o consumo sobe. Durante o horário
político, as pessoas vão procurar outra coisa
para fazer e o consumo vai às alturas: quatro
mil MW sobem em segundos”.
E por falar em Copa do Mundo, lembram-se
do Zagalo gritando para a Seleção Brasileira:
“Joga pelas pontas!”. Com a eletricidade é a
mesma coisa, mas é o País inteiro que grita:
“Mais energia nas pontas!”. Ouviram o eco da
torcida e as vitórias foram chegando aos consumidores residenciais, comerciais, industriais
e de serviço público. Mas, como o Garrincha,
jogam muito bem pelas pontas os técnicos dos
centros regionais de operação da Eletronorte
na região amazônica.
De acordo com o superintendente de Engenharia de Operação e Manutenção da Transmissão, Sidney Custódio Santana Junior (abaixo), “com o ONS houve evolução nas formas
de supervisão. Antes tínhamos uma subestação 1, que atendia a uma carga 1; e outra subestação 2 e uma geradora. Havia uma linha
de transmissão unindo essa usina a uma subestação e mais uma linha. Isto é o que chamamos de critério ‘N’ de segurança. Significa
que se perdêssemos essa linha o sistema seria
interrompido. Agora temos o critério ‘N-1’, por
meio do qual é possível manter o atendimento
mesmo que se perca uma linha, uma vez que
outra linha fará o abastecimento”.
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Secretário Nacional de Energia,
Josias Matos de Araújo
corrente contínua
Qual a influência do governo junto ao ONS?
O ONS tem participação junto ao governo no Comitê de
Monitoramento do Setor Elétrico, órgão coordenado pelo
Ministro de Minas e Energia, que conta ainda com a Empresa de Pesquisa Energética – EPE, ANA, Aneel, ANP e
demais órgãos envolvidos. É nesse Comitê que são tomadas as deliberações com relação ao Sistema Interligado Nacional - SIN. O ONS faz os estudos restabelecendo níveis
de armazenamento de reservatório que vêm para o Comitê
deliberar. O Operador tem total independência para operar,
coordenar e verificar as mudanças de regra no setor, pois
é também um órgão fiscalizador do sistema elétrico sob o
ponto de vista de operação. A Aneel, em última instância, é
a fiscalizadora do sistema.
A parcela variável, calculada
pelo ONS, é outra forma
de multar as empresas?
De fato a parcela variável acaba incidindo sobre o faturamento das empresas. Os cálculos são feitos pelo ONS, baseados na saída de atividade do equipamento e de acordo
com o período que ele ficará indisponível. Se um equipamento ficar fora de ação por 20 horas, por exemplo, então
ao ser feito o pagamento da receita anual permitida, o valor
da penalização será automaticamente deduzido da receita
da empresa.
O sistema de transmissão
brasileiro é suficiente para atender
ao crescimento da demanda?
Sim. Mas é necessário que o Brasil continue investindo
no setor. Têm acontecido os leilões, os denominados A-3,
das usinas térmicas; e os A-5, para geração hidráulica. Significa que a partir do momento em que a empresa vence
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ONS, avisando-o da disponibilidade do equipamento para a religação”.
Já para o operador em tempo real, Hamilton
Caldas da Silva, o seu trabalho é especial porque está à frente da atividade-fim da Empresa.
“Só no Maranhão coordenamos nove subestações, além de instruir os operadores locais. Já
vivemos situações de emergência resolvidas
sob a coordenação do ONS para recompor o
sistema. Há três anos perdemos duas linhas
simultaneamente. Ver uma cidade apagada
para nós é algo muito sério. E mesmo que
a culpa não seja diretamente nossa, se não
soubermos administrar esse sentimento, ele
o leilão, ela tem cinco anos para entregar as obras. Para
usinas térmicas, a entrega é prevista para três anos e temos os leilões para se criar reservas energéticas. O Brasil cresce a uma taxa de 4,5% a 5% ao ano; ou seja, é
necessário colocar todos os anos no sistema mais quatro
mil MW. Por isto o Programa de Aceleração do crescimento - PAC já prevê obras vitais como Belo Monte, a
ser leiloada ainda este ano; os projetos do Rio Tapajós,
usinas térmicas e usinas alternativas, como é o caso das
eólicas, com leilão previsto para novembro próximo.
O SIN poderá vir a ser um sistema
internacional na América do Sul?
Queremos estreitar o relacionamento com os países
vizinhos. Estamos negociando com o Peru uma linha de
transmissão entre os dois países e a construção de várias
hidrelétricas no lado peruano, cujo potencial é de 20 mil
MW. Destes, seis mil já podem ser explorados por usinas
de médio porte. Há um estudo sendo feito pela Aneel
para regulamentar o atendimento energético às nossas
áreas de fronteiras. Essas interligações não nos prejudicariam, pois nossas linhas já possuem boa margem de
segurança, fazendo com que as linhas de um sistema
interligado internacional adquiram o mesmo perfil.
A solução para os sistemas
isolados está a caminho?
O objetivo do governo é interligar os sistemas do Acre,
Rondônia, Amapá, Roraima e Manaus, hoje abastecidos
por usinas térmicas na sua quase totalidade. Temos as
hidrelétricas Balbina (AM), Samuel (RO) e Coaracy Nunes (AP), mas o restante é atendido com energia vinda
de usinas térmicas caras, movidas a derivados de petróleo, o que leva as concessionárias, principalmente a Ele-
perdurará. Temos que nos conscientizar que
somos profissionais capacitados e momentos
como esse surgirão, não é um processo fácil.
Mas é bom saber da nossa importância”.
O gerente do Centro Regional, Décio Bueno, lista os principais clientes atendidos no
Maranhão: a distribuidora estadual Cemar e
os eletrointensivos Alumar e Vale. “Hoje o consumo da Alumar é uma vez e meia o consumo
diário de todo o Maranhão, de 800 MW, em
decorrência do processo de eletrólise durante
a fabricação de alumínio, onde 85% do custo
é energia elétrica. Mas o consumo do estado
também tem crescido. Hoje nós temos duas
linhas de transmissão para São Luís, que estão
sendo recapacitadas e expandidas. Os nossos
operadores são muito exigidos, mas a modernização dos equipamentos e sistemas ajuda
na tomada de decisões”.
Décio, à esquerda, e Mauro, à direita: valorizando treinamentos
corrente contínua
tronorte, a terem sérios problemas financeiros. Com
o objetivo de eliminar o problema, a primeira decisão
foi interligar o Acre a Rondônia, e Rondônia a Mato
Grosso, o que será feito ainda este ano. Em 2011 teremos a interligação de Tucuruí com Manaus e Amapá.
Já existem projetos de interligação de Roraima com o
Amazonas. Quando essas providências se tornarem
realidade, reduziremos muito o prejuízo, o que é chamado pela Aneel de custo evitado; ou seja, a cada
linha construída, se evita custo de mais geração térmica. É bom lembrar que o valor aprovado, este ano,
para a conta CCC, pela Aneel, é de R$ 2,5 bilhões.
Ano passado esse valor foi superior a R$ 3,8 bilhões.
Ou seja, já fizemos uma economia em torno de R$ 1
bilhão. Mas a CCC, pela lei atual, só encerrará seus
benefícios no ano de 2023. Na região amazônica, certos locais serão atendidos por sistemas isolados específicos de unidades de células fotovoltaicas, energia
eólica, bioenergia, biomassa, já contempladas pelo
programa Luz para Todos.
Luzes da cidade – Num apagão há dois
momentos periclitantes: quando o problema é
técnico, vem o sentimento de desgaste devido
à responsabilidade pela manutenção. Quando
a falha é humana, o sentimento é pior. “A solução é dialogar com os companheiros e manter
a tranquilidade, lembrando que as próximas
ações devem ser mais cuidadosas, mas não
podemos perder de vista a importância de
tudo que fizemos e que ainda faremos. Nesses
momentos valorizamos ainda mais os treinamentos. E não podemos desvalorizar o profissional, derrubando a sua autoestima, pois não
dá para formar técnicos desse nível da noite
para o dia. E a despeito do erro, temos que
contar com o profissional de mente saudável
e pronto para agir. Por exemplo, minha válvula
de escape para aliviar as tensões é fazer trilha
e mergulhar”, conta Décio.
O gerente da Regional de Transmissão do
Maranhão, Mauro Luiz Aquino dos Santos,
no intuito de reduzir os problemas de comunicação entre os operadores de tempo real,
instalou há alguns anos placas e câmeras de
vídeo para gravar as instruções aos técnicos
durante as trocas de turnos. “Desde então, as
imagens gravadas não só servem como instrução de rotina, mas também se transformaram
em importantes documentos de consulta e de
aprendizado”.
Como as luzes da cidade não podem se
apagar, a energia dos nossos técnicos não
pode esmorecer. Ninguém quer ficar no escuro. Afinal, a escuridão pode nublar a visão dos
homens e roubar o brilho das cidades.
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Hamilton e família
corrente contínua
Mulheres
em tempo real
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Quando elas caíram na real, já estavam casadas
com operadores de tempo real. Aí foi um Deus nos
acuda. Eram homens diferentes: sumiam no meio da
noite para áreas de alta periculosidade. “Nós trabalhamos em subestações!” explicavam eles. Só que
como elas nunca podiam entrar lá, por algum tempo
pensaram que as subestações eram algum tipo de
submundo. “Tá vindo aí um blecaute, tô indo para
uma operação especial!”, gritavam eles lá de fora da
casa, já entrando no carro. “Ahn han, eu ainda vou
descobrir quem é esse ‘black’ e essa tal de ‘out’. É só
faltar a luz que esses dois telefonam pra cá!”, murmuravam as jovens esposas daqueles operários tão apaixonados pelo trabalho de manter acesa as luzes da
cidade. Agora são recordações e as famílias felizes,
com os filhos já criados e encaminhados, juntam-se
para rir, mas no início foi difícil, muito difícil. É o que
dizem elas.
Discussões, risos, lágrimas e abraços: foi assim. Alguns já calvos, outros com os cabelos brancos. Mas o
que nunca mudou entre eles foi a amizade. Arcelino da
Silva Nascimento, José Martins Soares, José Antônio,
Joaquim Carlos Brito, Hamilton Caldas da Silva e Odorico Paulo Vieira Garcez são operadores em tempo real
do Centro de Operações do Maranhão. Sim senhor, e
suas mulheres, ‘operadoras da realidade do tempo’.
Dona Valma Fontes Ribeiro Garcez é casada com
Odorico há 21 anos. O casal tem dois filhos, Marcos
Paulo e André Luiz. Ela conta que foi difícil adaptarse ao sistema de trabalho de turno do marido, pois
impedia que eles participassem de festas, casamentos e encontros de casais. São religiosos e ficava difícil
para ela ser conselheira com um marido que faltava
Odorico e família
muito aos encontros. “Procuro entender a profissão
dele, mas os treinamentos são em locais tão distantes. O André Luiz só conheceu o pai quando tinha
quatro meses. O Odorico estava fazendo um curso
em Tucuruí. Mas olhando para trás, vendo tudo que
construímos, mesmo com tudo que passamos, eu
agradeço a Deus!”.
Já dona Isabel Cristina, casada há 20 anos, a esposa do Hamilton, é mãe do Daniel e da Débora Cristina.
Ela comenta como a rotina de sua família é diferente das demais: “Todo mundo vai ao cinema no final
de semana, a gente não, só na quarta-feira. Este ano
nem fizemos festa de Ano Novo, ele sempre trabalha
nessa data!”. A família conseguiu adaptar-se à rotina
de trabalho do pai, o mesmo não se pode dizer dos
seus cães. Hamilton e Daniel chegaram à conclusão
que é melhor não tê-los para não perdê-los. E Débora
Cristina relata uma triste história: “Já tivemos quatro
cães e foi um fracasso. As duas cadelas morreram
logo, um fugiu e jamais foi encontrado e o outro enlouqueceu. Este último, um fila brasileiro enorme, de
uma hora para outra começou a destruir tudo dentro
de casa, possesso. Tivemos que sacrificá-lo!”.
Hamilton adorava seus cães e seus cães o adoravam; mas agora vai explicar para um cachorro o sistema de turnos da Eletronorte! Já a Débora, que na sua
meninice assistiu tantos cães partirem, sem dúvida
hoje busca na ciência a resposta de tal incompatibilidade do seu lar com o lar dos seres caninos. Está estudando, ao mesmo tempo, veterinária e biologia. “Eu
amo cães!” diz ela com uma ponta de saudade. Mas
dona Isabel retruca. “Que nada, ela quer os coitados
é para dissecar. Aqui cachorro não entra!”.
Eletronorte é a única estatal entre as
25 empresas mais inovadoras do Brasil
“E como é que vocês conseguiram imprimir
essa dinâmica, que parece típica de empresa
privada? Porque isso não é comum.” A pergunta é feita pelo editor da revista Época Negócios,
Marcos Todeschini, em entrevista realizada
em Brasília, da qual participaram Neusa
Maria Lobato Rodrigues, superintendente de
Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico e
Eficiência Energética da Eletronorte, e os empregados João Nilson de Oliveira, de Tucuruí,
e Raimundo Nonato de Oliveira Guimarães,
de Macapá.
As respostas enchem de lágrimas os olhos
do entrevistador e entrevistados. “O amor que
eu tenho pela Eletronorte é uma coisa maravilhosa. Nós, ‘eletrossauros’, somos apaixonados
pela Empresa e esse amor consegue romper
todos os problemas e percalços que temos.
Cada pessoa aqui dentro sabe da importância
do seu papel”, responde Neusa.
“Com o tempo, a gente vai criando amor
pela equipe de trabalho e tem as pessoas
como se fossem parentes, familiares nossos.
Nós desenvolvemos as atividades juntos e, às
vezes, se um colega precisar, ele está à vontade
para ligar, porque me considera como irmão.
Em nossa Divisão nós temos um slogan: o
fácil foi feito, o difícil nós estamos fazendo e o
impossível demora um pouco. E tudo isso vai
alavancar o processo como um todo”, ensina
Guimarães.
João Nilson acrescenta: “Nós fazemos por
amor à Empresa. Queremos ver uma Eletronorte que não para, que continue funcionando
e gerando energia. Como eu tinha isso de
Wady Charone (à direita) recebe prêmio de Kátia Militello e Nelson Blecher
corrente contínua
César Fechine
Divulg
ação
tecnologia
Inovações que transformam
11
corrente contínua
12
inventar coisas para mim, não foi difícil pensar
em como melhorar os processos empresariais.
O principal é o reconhecimento. A Empresa
pede o registro da patente, divulga a inovação
e divide o lucro com o empregado.”
A entrevista foi feita para o Anuário de
Inovação de Época Negócios, que teve edição
lançada em julho de 2009 com a primeira edição do prêmio ‘As empresas mais inovadoras
do Brasil/2009’. A Eletronorte ficou entre as
25 primeiras e foi reconhecida com o prêmio,
uma parceria da revista e o Fórum de Inovação
da Fundação Getúlio Vargas - FGV, juntamente
com o instituto Great Place to Work - GPTW,
e apoio técnico da Fundação Nacional de
Qualidade - FNQ, na categoria Processo de
Inovação.
“Fizemos esse levantamento em parceria
com a FGV para o anuário sobre inovação, que
aborda os fenômenos que estão acontecendo
nas empresas, processos e novos negócios. É
a primeira vez que fazemos esse especial. Os
pesquisadores visitaram as empresas, distribuíram os questionários e recebemos o resultado
com os destaques”, explica o jornalista Marcos
Todeschini (acima, ao lado de João Nilson), 28
anos, com passagens por veículos como Veja,
Exame, 4Rodas e Superinteressante, trabalhando em Época Negócios desde o início deste
ano como editor. “A primeira coisa que chama
a atenção é a Eletronorte ser a única empresa
estatal na pesquisa”, diz o jornalista. Por isso a
pergunta citada no início desta matéria.
Após a premiação, o diretor de Produção e
Comercialização, Wady Charone, afirmou que
um dos fatores mais importantes para uma
organização é manter a equipe motivada. “Um
dos fatores que levam a isso é o reconhecimento, ver o brilho nos olhos dos empregados. Esse
prêmio valoriza a Eletronorte, a única empresa
do governo a ser agraciada, o que aumenta o
nosso desafio para construir, inovar, crescer,
agregar valor e mostrar que podemos fomentar
a inovação.”
O diretor-presidente, Jorge Palmeira, lembra
que o processo de inovação na Eletronorte começou há anos, ou seja, com o programa TPM
e vem se aprimorando. Hoje, com a carteira
de projetos de pesquisa e desenvolvimento,
temos não só no nível interno, mas também
no externo, várias tecnologias e procedimentos
que promovem a inovação, principalmente nos
processos produtivos da organização e nos
diversos pedidos de patentes.”
Investimentos - Desde 2002, a Eletronorte
celebrou contratos de projetos de P&D com
uma rede de universidades e centros de pesquisa sediados em 20 estados, com o envolvimento de mais de 700 pesquisadores. Além
dessa rede de instituições, a Empresa também
executa pesquisas em seu Centro de Tecnologia, em Belém (PA), e no Centro de Pesquisa
do Sistema Eletrobrás - Cepel (RJ).
Atualmente, a Empresa faz a gestão direta
de 205 projetos de P&D e participa de outros
87. Os projetos de inovação já geraram 111
produtos, sendo 22 protótipos, 34 softwares
e 55 métodos. Esses projetos também resultaram em 31 soluções tecnológicas para a
Empresa, sendo 20 na área de geração e 11
na de transmissão.
Os investimentos em inovação não param
de crescer. “O investimento médio da Empresa
é de R$ 10 milhões por ano.
E há R$ 50 milhões provisionados para os próximos três
anos”, informa Álvaro Raineri
(ao lado), gerente dos programas de P&D da Eletronorte.
Mais de R$ 410 mil foram
distribuídos aos empregados
conduzem o processo de inovação; o processo de inovação,
que se inicia com a alocação de recursos e compreende as
etapas de geração de ideias, desenvolvimento e implementação das inovações; e os resultados, evidenciados pelos ganhos
financeiros gerados pelas dimensões anteriores.
“A pesquisa procurou identificar os fatores que conferem
a determinadas companhias diferenciais importantes em
um mercado cada vez mais padronizado”, declarou ao final
do evento de premiação o diretor-geral da Editora Globo,
Frederic Zoghaib (acima). O Anuário de Inovação Época
Negócios contém o perfil das 25 empresas vencedoras e de
como foi feito o estudo que buscou entender os processos
de produção para que as companhias fossem consideradas
continuamente inovadoras. A maneira holística com que
analisa as empresas possibilita ao Fórum de Inovação da
FGV-Eaesp conciliar as modernas visões das práticas de
inovação e da ‘arte de fazer a diferença’.
que desenvolveram projetos inovadores por meio do Prêmio Muiraquitã.
“Tudo isso levou ao aumento do número de pedidos de patentes da Empresa, que chegam hoje a 51 solicitações. Os autores dos projetos ganham
20% sobre o que for comercializado”,
relata Neusa Lobato (ao lado).
Retífica - Na entrevista com os
nossos dois ‘professores pardais’
depreende-se que o dom para a invenção manifesta-se ainda na infância. O auxiliar
técnico de manutenção João Nilson, desde
pequeno inventa coisas e diz que nas empresas em que trabalhou sempre procurou um
corrente contínua
A primeira lista anual de Época Negócios com as empresas
mais inovadoras do Brasil foi formada a partir de uma pesquisa
feita por professores do Fórum de Inovação da Fundação
Getúlio Vargas/ Escola de Administração de São Paulo – FGVEaesp. O Fórum conduz há sete anos estudos a respeito dos
fatores que contribuem para que uma empresa ou instituição
seja permeada por um processo contínuo de inovações, tanto
tecnológicas quanto organizacionais. “O que se busca com a
investigação é uma visão integrada da companhia”, sintetiza
Marcos Vasconcellos, coordenador do Fórum.
Mais de cem empresas se inscreveram para
o prêmio e o levantamento foi resultado de
14 meses de trabalho.
As candidatas preencheram extenso questionário que, no conjunto,
radiografa todos os processos internos, capazes
de levá-las – ou não – à
condição de ‘organização inovadora’. Para se
assegurar da precisão
das informações enviadas, examinadores da
Fundação Nacional da Qualidade – FNQ, juntamente com o
instituto Great Place To Work – GPTW, deram apoio técnico
ao levantamento e visitaram as 35 finalistas.
Cinco dimensões foram analisadas pelos especialistas,
cada uma com peso diferente no cômputo final: o papel
da liderança na definição das estratégias e no incentivo
à criatividade; o meio inovador interno, que estimula a
iniciativa e o envolvimento das pessoas; as pessoas que
Divulgação
Diferenciais importantes
13
jeito para melhorar o trabalho. Na Eletronorte
desde 1984, João Nilson (à direita) tem várias
inovações registradas, como o dispositivo para
a usinagem de eixos mecânicos em tornos de
pequeno porte.
“Os equipamentos disponíveis na Usina
Hidrelétrica Tucuruí não suportavam o diâmetro do anel coletor das máquinas da primeira
etapa, que era maior do que o torno que nós
temos para manutenção. E sem o anel a máquina não gera energia. Nós estamos falando
de uma unidade geradora de 350 MW de
potência, com três anéis, cada, totalizando
36”, detalha.
Para fazer a retífica do anel coletor, a unidade geradora chegava a ficar parada por 30
dias e uma verdadeira operação de guerra era
montada para transportar a peça com mais de
dois metros de diâmetro até São Paulo, por
meio de balsas e caminhão, muitas vezes em
estradas intransitáveis. O custo total evitado
pela Empresa após a utilização do dispositivo
para usinagem é estimado em mais de R$
28 milhões. “Eu pensava: já fiz tanta coisa e
para eu fazer isso não vai custar. Falei para
as pessoas que ia fazer, algumas duvidaram,
corrente contínua
O futuro da inovação
14
O engenheiro Luis Cláudio Silva Frade (foto), chefe
do Departamento de Gestão Tecnológica da Eletrobrás,
está participando de um projeto iniciado em 2008 (estilo
wikipédia), coordenado pelas professoras Anna Trifilova e
Bettina von Stamm, ligadas
ao Innovation Leadership
Forum (ILF), que resultará
na publicação de um livro
sobre ‘O Futuro da Inovação’. O projeto contou
com a contribuição de 350
profissionais de 60 países,
sendo que cerca de 200
foram escolhidos para a
publicação do livro que será
lançado em novembro.
No mês passado, o site
do livro foi lançado na 20th
Conference of The International Society for Professional Innovation Management
(ISPIM), em Viena, na Áustria, e contém um artigo escrito
por Frade, que retrata o pensamento sobre o futuro da
inovação no Brasil. O site traz artigos sobre inovação de
diversas vertentes, países e pessoas e pode ser consultado
no endereço http://thefutureofinnovation.org/.
e eu disse, dá. Quando retifiquei o primeiro
anel o pessoal disse, agora você concluiu a
sua ideia. Eu tinha certeza que ia fazer e fiz”,
diz o coautor de outras inovações.
Após o dispositivo ser criado, o tempo máximo de manutenção dos anéis passou para três
dias, tudo feito na própria Usina. “E o melhor
é que, depois que nós começamos a fazer a
retífica, a máquina parou de dar problema
no anel coletor, aparece uma vez ou outra”,
acrescenta Nilson.
Escavadeira - O paraense Raimundo Nonato de Oliveira Guimarães (abaixo, ao centro)
só foi registrado aos dois anos de idade. “Eu
sou paraense, mas fui para o Amapá com dois
anos e a minha mãe deixou para me registrar
lá porque o meu avô era tabelião. Eu nasci
em Belém, mas sou amapaense”, diz, num
paradoxo compreensível para quem conhece
o imenso ‘nortão’ do País.
Ensaios garantem
confiabilidade
de equipamentos
Técnico industrial de engenharia, Guimarães está há 32 anos na Eletronorte e trabalha na Usina Hidrelétrica Coaracy Nunes, a
primeira hidrelétrica da Amazônia, localizada
no município de Ferreira Gomes (AP). Ele é
outro dos inventores premiados da Empresa.
E pensar que tudo pode ter começado com
uma brincadeira de menino. “Quando eu era
criança, via aquelas pás carregadeiras. Aí eu
peguei uma lata de leite, enchi de terra, furei
do lado, inseri um arame, peguei uma lata de
óleo, daquelas retangulares, cortei de fora a
fora, amarrei um fio e um arame e ela puxava
e ‘basculhava’”, conta.
Hoje, Guimarães é autor de projetos como
o reservatório para uso em máquinas pesadas,
com sistema de retrolavagem, que permite a
laboratório para realizar os ensaios. Os técnicos já realizam
diversas atividades, tais como ensaios de tensão suportável
à frequência industrial, medição de capacitância e fator de
dissipação, medição de descargas parciais e medição de
radiointerferência, limitados ao nível de tensão de 800 mil
Volts em corrente alternada.
Após a entrega do novo laboratório, que está em construção, também serão realizados ensaios de impulso atmosférico
(simulação de uma descarga atmosférica) e ensaios de impulso de manobra (simulação de um chaveamento), em até
2.400.000 Volts. Além de reduzir as despesas operacionais,
o laboratório possibilitará a prestação de serviços para outras
empresas, o que já acontece, por exemplo, com a Alunorte.
“Executar esses ensaios é motivo de orgulho para a equipe
e serve de estímulo à determinação na superação de novas
dificuldades para ajudar a Eletronorte a atingir as suas metas
de ser uma Empresa lucrativa”, finaliza Lídio.
limpeza dos radiadores sem a necessidade de
parada da máquina, entre outros. O projeto
diminuiu significativamente os custos relativos à
perda de produção, com uma economia estimada para a Empresa em R$ 440 mil por ano.
Mas, afinal, como surgem essas inovações?
Guimarães responde: “A inovação cai como
se fosse uma tela, um quadro na frente da
gente. De acordo com os problemas, aquilo
vem na hora. A gente visualiza a solução e
coloca em prática essa percepção. É um dom
e uma aptidão.” E que dependem também
de muito trabalho e observação. O mérito
pelas inovações e melhorias que mudam a
Empresa é, principalmente, de vocês, Guimarães, João Nilson e tantos outros valorosos
empregados.
corrente contínua
O Centro de Tecnologia da Eletronorte, em Belém (PA),
montou um laboratório a céu aberto para ensaios com alta
tensão em buchas de transformadores e reatores de até
500 kV. O laboratório foi montado para propor soluções de
modo a aumentar a confiabilidade das buchas de reatores
e transformadores de potência de alta tensão, armazenados em almoxarifados da Empresa. E após a ocorrência
de três sinistros no biênio 2008/2009 em reatores da
Empresa, causados por avarias originadas nessas buchas.
“Como resultado, foi emitido um relatório sugerindo maior
eficiência e eficácia no armazenamento, padronização da
especificação técnica e a realização de ensaios periódicos
para avaliar o estado das buchas de reserva”, esclarece
Francisco Roberto Reis França, superintendente do Centro
de Tecnologia.
Segundo Lídio Nascimento, gerente da Divisão de Tecnologia de Ensaios, a realização desses estudos pela equipe
interna da Eletronorte evitará um gasto aproximado de R$
1,4 milhão. “A Eletronorte, ao atuar dessa forma, reduz
significativamente a possibilidade de ocorrência de novos
sinistros e, portanto, de multas impostas pelo Operador
Nacional do Sistema - ONS, de valor bastante elevado,
conhecidas como parcela variável.”
A opção por realizar os testes em laboratórios externos
foi descartada em função do custo elevado, além da
complexidade na logística de transporte das buchas, já
que os principais laboratórios se situam nas regiões Sul e
Sudeste do País. Frente a esse novo desafio, a equipe do
processo de ensaios elétricos com alta tensão montou o
15
RESPONSABILIDADE SOCIAL
corrente contínua
16
Waimiri Atroari: etnia
que renasce a cada dia
“Em 1986, quando retomei os contatos
com os índios Waimiri Atroari, após um afastamento de cerca de 12 anos, os encontrei
numa situação muito difícil. Estavam doentes,
tristes, perambulando pela rodovia BR-174,
pedindo carona a caminhoneiros, dependentes de alimentação e doações. Morriam, em
média, 20% ao ano. Podia-se dizer que es-
tavam caminhando para o extermínio. Aquele povo que conheci em 1969, de guerreiros
altivos, defensores do seu território e de suas
vidas, estava triste, aguardando algo que não
sabia exatamente o que era... Ainda não havia demarcação nem definição dos limites de
suas terras”.
A descrição feita pelo consultor indigenista da Eletronorte, José Porfírio Carvalho, não
é apenas a constatação de um especialista
corrente contínua
Érica Neiva
17
Proteção ambiental
preserva espécies
em Balbina
corrente contínua
Arco
e flexa,
o maior
símbolo
do povo
Kinja
18
e estudioso das questões indígenas. São as
palavras de um kaminja, expressão da língua
materna Waimiri Atroari que provém da família
linguística Karib e significa pessoa não-índia,
que há 42 anos acompanha ativamente a vida
da etnia, cujo território se localiza nas regiões
sul do Estado de Roraima e norte do Amazonas. Com a construção da BR-174, rodovia
construída entre 1974 e 1977, que liga Manaus (AM) a Boa Vista (RR) e atravessa a terra
indígena Waimiri Atroari no sentido sul-norte,
a situação piorou. A rodovia trouxe o contato
com o homem branco e doenças como sarampo, malária, verminose
e leishmaniose, matando
inúmeros kinja, autodenominação dos Waimiri Atroari
para si mesmos. Além desse
empreendimento, a vida da
comunidade foi afetada pela
Mineração Taboca, instalada
na parte leste da terra indígena, e pela construção da Usina Hidrelétrica Balbina. Entre
1974 e 1987, a população
Waimiri Atroari foi reduzida
de 1.500 para 374 pessoas
distribuídas em sete aldeias.
Na década de 1980 foram realizados estudos para
identificar o nível de impacto ambiental que o
reservatório de Balbina causaria à terra indígena Waimiri Atroari. O resultado mostrou que
seriam inundados 30 mil hectares. O líder dos
índios, Parwe Mário (acima), lembra-se que,
em 1986, a comunidade passou a exigir me-
Percorrer o Centro de Proteção Ambiental – CPA da
Usina Hidrelétrica Balbina é deparar-se com um universo de cores, sons e imagens vivas. Nos finais de tarde,
essas sensações intensificam-se com a chegada gradativa de araras que realizam performances e provocam
admiração. Após algum tempo, elas saem em revoada,
deixando no céu a impressão de um dia multicor. Nesse
cenário, encontramos a médica veterinária Stella Maris
Lazzarini (na foto, com o peixe-boi), que em 1987 iniciou o trabalho de resgate de fauna em Balbina. Quando o CPA começou a funcionar efetivamente, em 1992,
ela passou a trabalhar no local e hoje é a coordenadora
dos programas ambientais da Usina.
Para a veterinária, apesar da construção da hidrelétrica ter inundado uma floresta primária de terra firme
e impactado várias espécies animais e vegetais, houve
medidas compensatórias importantes como a Reserva
Biológica Uatumã, que preserva intacta uma floresta
com extensão duas vezes maior do que a área alagada
pelo reservatório da Hidrelétrica; o Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos – CPPQA
e o Centro de Preservação e Pesquisa de Mamíferos
Aquáticos – CPPMA. “Além do Programa Waimiri
Atroari e da Reserva Biológica Uatumã, foram preconizados programas ambientais já prevendo o impacto
ambiental de Balbina, com o objetivo de mitigar os impactos negativos da hidrelétrica. São os programas de
mamíferos e quelônios aquáticos que surgiram devido
à interrupção da migração desses animais com a construção do empreendimento”, esclarece Stella.
Em 1986, descobriu-se que cerca de 370 tartarugas
da Amazônia (podocnemis expansa) agruparam-se
didas que mitigassem os danos da inundação.
“Quando soubemos da hidrelétrica procuramos conhecer os impactos e começamos a
cobrar os nossos direitos. Ao serem feitos os
estudos, ficamos sabendo que duas aldeias
seriam alagadas - a Tapypyna e a Taquari.
Em 1988, a Eletronorte implantou o Programa Waimiri Atroari, que trouxe os benefícios
que consideramos os mais importantes para
nosso povo - saúde, educação, fiscalização
e demarcação. A nossa terra foi demarcada,
homologada e registrada em cartório”, recorda
Parwe. É importante frisar que após o contato
com os brancos, como forma de facilitar a co-
Usina não impediu a desova da tartaruga da Amazônia
municação, eles passaram a usar dois nomes,
um indígena e outro em português, a exemplo
de Parwe Mário; antes disso possuíam apenas
o nome indígena.
Anterior à implantação do Programa, como
parte das ações mitigadoras, a Eletronorte se
responsabilizou pelo financiamento da demarcação da área Waimiri Atroari que culminou na
sua homologação em junho de 1989, por meio
do Decreto nº 97.837/89, com uma área de
2.585.911 ha. Na mesma ocasião, no Estado
do Pará, como forma de compensação pelos
impactos causados pela Usina Hidrelétrica Tucuruí, a Eletronorte criou o Programa Paraka-
nã, adotando a mesma filosofia do Programa
Waimiri Atroari.
Invertendo a situação – Fruto de um convênio entre a Eletronorte e a Funai, o Programa Waimiri Atroari é um conjunto de ações
indigenistas e ambientais voltado à valorização cultural, melhoria da qualidade de vida e
preparação dos índios para se relacionarem
de forma igualitária, esclarecida e autônoma
com a sociedade à sua volta. Criado em 1988,
com duração prevista de 25 anos, reúne 96
colaboradores nas áreas de saúde, educação,
proteção ambiental, apoio à produção, docu-
corrente contínua
perto da futura barragem, sem poder subir o rio para desovar nos tabuleiros a montante. Em função disso, foram
criadas praias artificiais para permitir a desova das tartarugas. Hoje o Centro possui 315 quelônios. “As tartarugas
vêm entre os meses de agosto e outubro, encontram as
praias artificiais e desovam em tabuleiros. Os ovos são
cuidados e em janeiro e fevereiro são devolvidos à natureza. É um programa em que rapidamente se pode vislumbrar uma melhoria”, afirma a veterinária. De 1986 a 2008
já foram soltos cerca de 100 mil filhotes de tartaruga no
Rio Uatumã e nos lagos da região.
Em busca da liberdade – Os peixes-boi são outra espécie
impactada pela construção de Balbina, pois são habitantes
naturais do Rio Uatumã. Hoje estão isolados em duas populações – uma está acima da barragem, e talvez fique no
futuro como uma reserva genética da espécie; há também
os que estão abaixo e provavelmente vão acompanhar os
nativos e ganhar o Amazonas.
O CPPMA foi criado para reabilitar esses animais, mas um
dos dilemas é a sua superpopulação. Hoje são 45 peixes-boi,
número considerado excessivo pela veterinária. “No início, o
objetivo era apenas fazer a reabilitação, mas hoje é soltá-los
para aumentar sua variabilidade genética. Mas para isso precisamos de mais apoio do Sistema Eletrobrás para monitorálos por meio de radiotransmissores, experiência que outras
instituições realizam com grande êxito. Gastamos anualmente cerca de R$ 2 milhões com alimentação, mão de obra
e medicamentos para mantê-los. Com a soltura seria R$ 1
milhão por ano. Eles viveriam um tempo no Uatumã e depois
acompanhariam a migração dos nativos”, destaca Stella.
Vários filhotes que estão no Centro tiveram as mães mortas por caçadores que ainda hoje capturam os animais, não
mais pelo valor do couro, mas pela carne. O fato de a espécie
reproduzir em cativeiro não diminui o risco de ser extinta.
“Há filhotes que reabilitamos e conseguiram reproduzir. Agora queremos soltá-los para que se reproduzam na natureza
e a espécie tenha uma chance de sobrevivência. Sabemos
que manter o animal reproduzindo em cativeiro não tira o
perigo de ser extinto”, explica Stella.
19
corrente contínua
mentação e memória, e administração. “O excelente desempenho
dos colaboradores, a boa aplicação
dos recursos e a continuidade das
ações garantem o sucesso alcançado. Os Waimiri Atroari saíram de
um índice de mortalidade de 20%
ao ano para um crescimento de
5,8% ao ano. Hoje sua população
é de 1.330 pessoas”, frisa o gerente do Programa, Marcelo de Sousa
Cavalcante (à esquerda).
A sede do Programa fica em Manaus, mas para as atividades em campo foi
estruturado um centro denominado Núcleo de
Apoio Waimiri Atroari – Nawa que possui múltiplas funções: infraestrutura de apoio, realização de reuniões, treinamentos, e projetos demonstrativos e experimentais. Localizado nas
proximidades da BR-174 com o Rio Alalaú,
o Nawa é um ponto estratégico no apoio às
aldeias e postos de serviço. Existem ainda na
terra indígena escolas, postos de saúde, laboratórios, casas de apoio e postos de vigilância
que dão o suporte necessário às ações do Programa. Todas as instalações citadas, inclusive
as aldeias, contam com energia solar para o
desenvolvimento das atividades.
Para Porfírio Carvalho, idealizador do Programa Waimiri Atroari, o trabalho mudou a
vida dessa comunidade indígena. “Não é um
trabalho qualquer, mas de sentimento, de
amor. Hoje, os Waimiri Atroari são um povo
orgulhoso da sua vida, do seu território e da
sua cultura. Tenho que agradecer à Eletronor-
20
Alfabetização em duas línguas
Porfírio, ao centro, de braços dados com os índios
te que pode se orgulhar de salvar uma etnia.
Como branco, sou o homem mais feliz por
chegar onde chegamos. São pessoas que poderiam não existir, poderiam ter morrido. É um
trabalho em grupo, de dedicação e carinho”,
emociona-se o indigenista.
Educação – “Tenho 32 anos e comecei
a estudar com 12, no início do Programa,
quando conheci a gramática Waimiri Atroari.
A nossa língua materna é chamada de kinja
iara, que significa pessoa verdadeira. Depois
de escrever a língua materna fui aprendendo
aos poucos a falar e escrever o português. Temos uma escola diferenciada. Aprendemos a
nossa língua, depois o português. Temos que
aprender a nossa língua para respeitarmos a
nossa própria identidade. Há o rodízio de ma-
As aulas
não se
limitam
à escola
em disciplinas como ciências, geografia e matemática. É fundamental destacar que, no início
do Programa, não havia professores da etnia, o
que foi acontecendo com a realização de cursos de capacitação e formação. “A importância
da educação é aprendermos para registrarmos
nossa cultura e defendermos nossas terras.
Preparamos os nossos jovens para aprender,
mas para isso não precisam ir à cidade. Tivemos uma oportunidade muito grande com a
força da Eletronorte. Sem essa oportunidade
a educação não ia andar. Essa força é fundamental na formação do povo Waimiri Atroari”,
confirma Tuwadja.
Saúde – O objetivo do Subprograma de
Saúde é garantir boas condições de vida à po-
Irineide, à direita, e parte da equipe de saúde
corrente contínua
térias como ciências, geografia, matemática, e
aquelas que a comunidade julgar importante
conhecermos. Desde menino tinha o sonho de
ser inpany, professor”.
A declaração acima é de Tuwadja Joanico
(ao lado), coordenador de Educação das aldeias do ‘eixo-rio’, e ilustra um pouco o processo educativo implantado com o Subprograma
de Educação, cujo maior objetivo é a alfabetização de todo o povo
Waimiri Atroari na língua
materna, orientados por
princípios básicos da procura contínua por uma
pedagogia e metodologias apropriadas à sua
cultura. Isto significa que
eles têm uma educação
bilíngue com o principio
básico da troca de conhecimentos entre o kinja e o kaminja. É importante destacar que toda a educação reflete a
realidade dos Waimiri Atroari por meio de suas
manifestações culturais, do seu trabalho e da
sua língua. As aulas não se limitam à escola, mas podem ser explorados outros espaços
como recurso didático, a exemplo de caçadas,
pescarias, construção de malocas.
Hoje há 801 alunos nas 22 aldeias, 61,85%
da população. O índice de alfabetização é de
38,66%. Existem 19 escolas, 54 professores
Waimiri Atroari e sete não-índios que auxiliam
21
Funai vivencia últimas demarcações de terras indígenas
Hoje, no Brasil, de acordo com a Fundação Nacional do Índio – Funai, vivem
cerca de 460 mil índios,
distribuídos entre 225 sociedades indígenas, que
perfazem cerca de 0,25%
da população brasileira.
Além desse número, existem entre 100 mil e 190
mil vivendo fora das terras
indígenas, inclusive em áreas urbanas. À Funai cabe
estabelecer e executar a
Política Indigenista no Brasil. O antropólogo e ex-presidente
da Instituição, que hoje coordena a área de Documentação
e Tecnologia da Informação, Artur Nobre Mendes (foto), fala
um pouco sobre a política indigenista brasileira.
corrente contínua
Qual o papel da Funai na atual
política indigenista brasileira?
Além de demarcar a terra, a Funai procura desenvolver
alguns projetos econômicos, de autosustentação, visando
a garantir a segurança alimentar dos índios. A atenção às
questões culturais e educacionais é muito deficiente se compararmos com a demarcação das terras, onde a Fundação
avançou muito. Há tempos a questão da terra era a mais urgente e vital, por isso se concentraram recursos humanos e
financeiros nessa tarefa. Nessa época, a missão era salvar
os índios que estavam se acabando. Com a demarcação de
Raposa Serra do Sol (RR), é o momento de refletir sobre o
que foi feito e canalizar os esforços para garantir a permanência dos índios nessas áreas com qualidade de vida, tentando
construir um conceito de desenvolvimento que seja adequado à realidade indígena.
De que maneira os índios são compensados
com a construção de grandes obras, a exemplo
de usinas e projetos minerometalúrgicos?
No início da década de 1980, começou-se a questionar o
22
pulação Waimiri Atroari, valorizar a medicina
tradicional e repassar conhecimentos das outras formas de medicina. Ao ser implantado, o
Subprograma desenvolveu ações de inquérito
epidemiológico, atendimento médico de urgência a toda a comunidade, vacinação contra
todas as doenças imunopreveníveis, instalação
de banco de dados visando ao monitoramento
do grupo, instalação de postos de saúde para
atendimento primário na terra indígena e mecanismos para atendimento secundário e terciário na cidade.
impacto que as grandes obras trariam ao meio ambiente
e às populações indígenas. Naquela época as terras indígenas não eram demarcadas. Antes dos programas, os
índios recebiam indenizações, mas logo depois o dinheiro
acabava. Os impactos eram potencializados, ao invés de
mitigados. Programas indígenas como o Waimiri Atroari e
o Parakanã mudaram essa realidade.
Qual a importância desses programas
desenvolvidos em parceria com a Eletronorte?
Os programas introduziram medidas mitigadoras que
reduziram os impactos decorrentes da construção de usinas hidrelétricas, com uma filosofia de educação, saúde,
meio ambiente e apoio à produção que modificou a vida
dos índios. Eles viabilizaram a vida dos Waimiri Atroari e
dos Parakanã, que está em total equilíbrio. As pessoas
falam que os programas têm muitos recursos, mas não é
bem assim. Se contabilizarmos o que o Governo Federal
investe nos índios por meio da Funai, ministérios da Saúde, Educação e Desenvolvimento Social, não é mais do
que os programas investem. O investimento não tem que
ser alto, mas bem pensado e aplicado. Nesse momento
de reflexão, esses dois programas têm um papel muito
importante a cumprir, pois podem apontar um caminho.
Eles poderiam ser replicados
em outras etnias indígenas?
Cada caso é um caso. Os índios são muitos diferentes,
a exemplo dos Waimiri Atroari e Parakanã. Eles têm características particulares que determinam algumas diferenças entre um programa e outro. No entanto, o modelo
de gestão, de aplicação dos recursos, pode ser replicado
e aproveitado. E, principalmente, acho que os programas
são inovadores e exemplares na questão do tratamento
indigenista. O diálogo que temos é o fiador do sucesso deles. Se impuséssemos nossa visão, o programa fracassaria, pois os índios não nos aceitariam como interlocutores;
por outro lado se déssemos tudo nas mãos deles, seria
um fracasso, pois repetiríamos os erros que nos propusemos a não repetir, como os cometidos no projeto Carajás,
a exemplo das indenizações financeiras.
Atualmente, a saúde da comunidade está
equilibrada, inclusive não se constatam doenças que são muito comuns em nossa sociedade. “Fazemos o controle de todas as ações de
saúde que são desenvolvidas na terra indígena
Waimiri Atroari, por meio de atividades preventivas dos programas de tuberculose, imunização, malária e doenças crônicas, de acordo
com as normas do Ministério da Saúde. Há
também o programa de saúde bucal com
atendimentos preventivo, curativo e corretivo.
As doenças mais comuns são as verminoses
e as infecções respiratórias. É importante destacar que na comunidade não há hipertensão,
diabetes, doenças sexualmente transmissíveis,
hanseníase ou mesmo tuberculose”, afirma a
médica Irineide Assunpção Antunes.
Na reserva existem 19 postos de saúde e
oito laboratórios. As atividades são realizadas por 21 profissionais
- uma médica, uma enfermeira, uma odontóloga, 18 agentes técnicos
de saúde, um motorista; contando ainda com
o apoio de 39 agentes
técnicos de saúde e 12
laboratoristas indígenas.
“No início todos os laboratoristas eram brancos,
mas depois os primeiros
kinja foram sendo treinados e repassaram os conhecimentos para outras
pessoas da comunidade.
Hoje somos 12 escolhidos pelo nosso povo. O Programa é muito importante, pois trouxe o estudo para que pudéssemos trabalhar e assim proteger nossa gente,
que antes morria muito”, diz o laboratorista
Djawa Rubens (acima).
As atividades produtivas - Projetos de frutíferas e plantas ornamentais; bovinocultura;
coturnicultura - criação de codornas; ovinocultura - criação de carneiros; avicultura - galinha
de corte e de postura; cunicultura - criação de
coelhos; piscicultura; e quelônios - manejo de
tartarugas, criação de jabutis e animais silvestres - são desenvolvidas por um engenheiro
florestal supervisor de produção, três técnicos
agrícolas, cinco agentes operacionais e 45 colaboradores indígenas. Os alimentos produzidos são destinados ao consumo das aldeias,
do Nawa, dos oito postos de vigilância da reserva e das 19 casas de apoio que abrigam os
profissionais da saúde e educação. As mudas
de plantas frutíferas, medicinais e nativas também são levadas para as aldeias.
Esses projetos experimentais e demonstrativos também capacitam os Waimiri Atroari.
Entre eles, está Pikirida Paulistinha, que trabalha nas atividades produtivas desde 2000.
“Comecei como técnico agrícola na produção
de mudas frutíferas e nativas, depois passei
para a área de hortas, avicultura e manejo de
coelhos. Participei de todos os treinamentos
ministrados por técnicos agrícolas. Estou inserido nas equipes que trabalham 15 dias no
Núcleo e 15 na aldeia. Na minha aldeia, trabalho na produção de bananeiras, macaxeira e
melancia. É bom aprendermos e levarmos os
conhecimentos para a comunidade”, esclarece Pikirida.
Para o coordenador das atividades produtivas do Nawa, Antônio Carlos Andrade do
Nascimento, o trabalho ao lado dos índios é
encantador. “Trabalho aqui desde 1989. Sintome da família dos índios. Eles nos emocionam
corrente contínua
Apoio à produção – Antes do Programa, os
Waimiri Atroari viviam a desagregação de seus
processos produtivos, passando para uma dependência alimentar. Agora, os índios voltaram
a realizar seus roçados tradicionais e sua independência alimentar foi resgatada. No entanto,
surgiu a necessidade de manter os sistemas
produtivos ativos e incrementar outros. Assim,
nasceu o Subprograma de Apoio à Produção,
que vem adotando técnicas simples de criações de animais e produções agrícolas.
Antônio
Carlos e
Pikirida:
garantindo
a produção
e repassando
conhecimentos
23
corrente contínua
com sua alegria e companheirismo. É algo
que nos contagia. Todos passam uma energia
muito positiva. Isso faz com que você cresça e
continue junto deles. Aqui é outra vida. Eles vivem realmente em comunidade. É uma união
que não vejo em nosso mundo”, reflete.
Proteção ambiental – Com o objetivo de
manter a integridade do território Waimiri Atroari e garantir o usufruto exclusivo de suas
riquezas naturais foi
criado o Subprograma de Proteção Ambiental. A equipe de
trabalho é composta
por um biólogo, dois
coordenadores
de
área – ‘eixo-rio’ e ‘eixo-estrada’, 18 agentes de proteção, três
agentes operacionais,
55 fiscais índios e dez
não índios. Os fiscais
trabalham nos oito
postos de vigilância
- Trairi, Jundiá, Abonari, Mahoa, Waba
Manja, Ariné, Vicinal I e Vicinal II, região atravessada pela BR -174.
Entre as atividades realizadas estão a vigilância e a proteção ambiental; o controle de
tráfego de veículos na rodovia, no trecho em
que atravessa a reserva; e campanhas de sen-
24
Mingau de buriti, iguaria que alimenta a todos
sibilização por meio de folhetos educativos,
alertando sobre a importância da preservação
ambiental. A BR-174 atravessa a terra indígena Waimiri Atroari em um percurso de 125 km
de extensão, trecho em que a mata se encontra bem preservada devido às ações de proteção ambiental.
Mesmo assim, são comuns os atropelamentos de animais na estrada e a presença do lixo
deixado pelos motoristas que trafegam na BR.
O fiscal de estrada, Alcenir Pereira dos Santos
(à esquerda), conta um pouco da sua rotina
de trabalho: “Saio às 7h para a fiscalização de
carros. Recolhemos o lixo jogado e pegamos
os dados dos animais atropelados. De agosto
de 1997 a maio de 2009, foram 4.723 animais
atropelados, como cobras, cutias, capivaras,
pássaros e até jacarés. A fiscalização é feita
no trecho que corta a reserva. Retiramos, em
média, 500 quilos de lixo por mês. Hoje as
pessoas estão mais conscientes. Abordamos
e explicamos que é uma reserva indígena. Há
campanhas nos finais de semana. Entregamos
panfletos, alertando para a questão do lixo e
dos animais mortos. Costumamos também
distribuir água de coco gratuitamente para os
motoristas como forma de sensibilização, o
que trouxe uma ótima resposta no sentido de
diminuir a quantidade de lixo na rodovia”.
Dia a dia na aldeia – “Na aldeia temos o
costume de dormir por volta de 19h30. Todos
dormem numa grande mydy, maloca. No caso
Me senti numa caverna e não enxergava nada
no mundo dos brancos. Dói muito para quem
nasceu no mato ver o desmatamento e saber
que várias pessoas só querem saber da riqueza da terra, prejudicando a natureza. Foi estranho também quando vi os brancos pagando
pela alimentação. Não circula dinheiro entre
nosso povo. Vivemos do que a natureza nos
oferece”, esclarece Wame.
Apesar da dificuldade de Wame no seu primeiro contato com o mundo dos brancos há
mais de 20 anos, ele continua mantendo relacionamentos quando necessário e sabe da importância de se respeitar as diversas culturas.
“Temos que conhecer culturas diferentes da
nossa. Precisamos saber o que essas pessoas
fazem. Posso viajar, conhecer a cultura deles
e respeitar. Somos indígenas, nascemos no
mato. Devemos saber usar os rios, os recursos
da natureza, a riqueza da vegetação e da fauna. Mas lá fora temos que saber que a cultura
dos brancos é diferente. Às vezes as pessoas
acham que não temos uma cultura rica. Não
posso falar isso da cultura deles, pois estão no
seu espaço”, analisa.
Organização – A reunião mais importante
das lideranças das 22 aldeias Waimiri Atroari é
a de prestação de contas anual que, em 2009,
ocorreu nos dias 18 e 19 de julho, no Nawa.
Reunião
de prestação
de contas,
a mais
importante
do ano
corrente contínua
da minha aldeia, Iawara, são 85 pessoas. Geralmente levantamos às 5h e tomamos banho
de água encanada ou igarapé. As mulheres
acordam mais cedo para preparar a alimentação. Pela manhã comemos mingau de buriti,
açaí ou patoá, uma espécie de palmeira. Depois nos dividimos em grupos para caçar, pescar e ir para a roça. O nosso trabalho é sempre
coletivo. Plantamos banana, abacaxi, mamão,
cana, mandioca, macaxeira e batata. As weri
(mulheres) cozinham e tiram lenha. O artesanato como redes de fibra de buriti, adornos e
panelas de barro é desenvolvido pelas mulheres; já os wykyry (homens) fazem as cestarias
com o arumã. É importante que todos saibam
que nossa vida e alimentação estão ligadas à
natureza. Vivemos de acordo com o que ela
nos oferece”.
Esse depoimento é de
Wame Viana (à esquerda), 42
anos, o primeiro índio Waimiri
Atroari a aprender o português e um dos primeiros da
nova geração a ter contato
com os brancos. Ele conta que foi um choque a sua
primeira viagem fora da reserva indígena: “Quando tive
contato com o mundo fora
da reserva fiquei muito triste.
25
corrente contínua
Vocabulário kinja iara
26
Alguns líderes das aldeias do ‘eixo-rio’ chegam
a viajar 15 horas de barco para estarem presentes. Mas esse esforço parece pouco diante
da alegria e satisfação de abrirem a reunião
cantando o maryba, festa-ritual mais importante da etnia. Os 135 líderes dão boas-vindas
aos 24 não-índios presentes,
e recebem uma cópia da
prestação de contas dos seus
gastos durante 2008.
As reuniões de prestação
de contas acontecem desde
1994. Segundo Warakaxi Zé
Maria (ao lado), da aldeia
Paryry, a reunião é feita para
que haja um controle dos
gastos e um planejamento
dos recursos. “É o momento
de acompanharmos nossos
gastos. Se não fizermos a
prestação de contas não saberemos como está sendo
gasto o nosso recurso para
que possamos economizar. As reuniões são
muito comuns nas nossas aldeias, onde nos
reunimos três vezes por semana. Uma com a
comunidade geral, com jovens e adolescentes
para que eles possam entender que devemos
Conheça o significado e a pronúncia de algumas palavras da língua falada pelos Waimiri Atroari: índio Waimiri
Atroari – kinja (quinhá); mulher – weri
(ueri); homem – wykyry (ukuru); maloca
– mydy (mudu); ritual – maryba (marubá); idosos – txamyry (tiamuru); brancos
– kaminja (caminhá); convite – katyba
(katubá); antepassados – tahkome (takome); guerreiros – itxi iapyna (ithi iapuná); professor – inpany (impanu); flecha
– pyruwa (puruá); língua materna – kinja
iara (quinhá iara).
Mais informações e contatos, nos
endereços www.eletronorte.gov.br
e www.waimiriatroari.org.br.
estar sempre juntos para nos fortalecer. Outra
com as mulheres, e a terceira, que discute a
saúde e educação da comunidade. Temos orgulho da nossa união e vamos nos fortalecer
cada vez mais”, destaca.
Os recursos financeiros dos Waimiri Atroari
provêm da comercialização de artesanato, produtos agrícolas, criação de peixes, galinhas e
carneiros, e também da taxa pelo uso de uma
estrada que dá acesso à Mineração Taboca.
Com os recursos, eles compram utensílios domésticos, roupas, equipamentos de navegação, material de pesca e combustível.
Ao fim dos dois dias de reunião foi a vez da
equipe de trabalho do Programa se reunir e
Maryba – Após a reunião de prestação de
contas, os Waimiri Atroari convidaram todos a
participarem do maryba. No momento do convite, nossa reportagem não conteve a felicidade, pois a cobertura jornalística previa a visita a
duas aldeias, mas a decisão sobre a realização
de rituais festivos cabia somente aos índios.
Na aldeia Iawara, as weri itxi iapyna, mulheres
guerreiras, nos recepcionaram com o símbolo dos Waimiri Atroari empunhado, a pyruwa,
que quer dizer flecha. Elas tomam conta da
aldeia quando os líderes estão ausentes.
Depois da recepção das guerreiras, todos os
85 membros da aldeia pintados com tinta de
jenipapo no corpo, nos aguardavam alinhados
e cantando. Saudamos um a um antes de en-
trarmos na maloca onde aconteceria o ritual. O
canto de um maryba impressiona. A força e a
reverência das vozes provocam a sensação de
que uma cultura milenar se consolida a cada
momento. O canto está plantado no coração e
representa a força de uma identidade que se
fortalece continuamente.
Eles iniciam a manifestação saudando os
convidados e agradecendo à Eletronorte pelo
Programa Waimiri Atroari. Homenageiam os
guerreiros que foram mortos devido aos problemas trazidos com a construção da BR174. A kinja Tamy Paula (abaixo) destaca
que eles precisam ser sempre fortes e que
corrente contínua
fazer uma avaliação das atividades. Para Porfírio Carvalho, toda reunião envolve um esforço
conjunto. “O nosso trabalho é de todos. Se o
trabalho está dando certo é porque todos estamos dando certo. O gesto dos Waimiri Atroari
de cantarem no início e final da reunião é uma
expressão de carinho demonstrada por poucos povos. É bom lembrarmos que esse povo
alegre um dia já foi triste e que a transformação foi resultado de um trabalho de amor e
respeito”, reafirma.
27
No ritual
do Marayba
Kinjas e
Kaminjas
se juntam
numa
grande
roda
Presidente da Eletrobrás foi um dos impulsionadores do
O presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz
Lopes, fala sobre a sua experiência no Programa Waimiri Atroari, quando esteve
na presidência da Eletronorte, e comenta o contexto da implantação da Usina
Hidrelétrica Balbina.
corrente contínua
Jorge Coelho/Eletrobrás
Em que condição
Balbina foi criada?
Muitas pessoas criticam, sem conhecer as
condições em que as decisões sobre a criação de
Balbina foram tomadas. No momento vivíamos uma crise de
petróleo que mudou a história do mundo. Desde que entrou
em operação, em 1989, Balbina já produziu quase 23 milhões de MWh. Isso significa que se fôssemos gerar essa
energia a óleo diesel, teríamos que gastar R$ 10 bilhões.
E ainda teríamos produzido 1,2 milhão de toneladas de
CO2. Esses números credenciariam Balbina como um dos
importantes instrumentos de desenvolvimento, pois assegurou a existência da Zona Franca de Manaus.
Qual das medidas compensatórias pela
construção de Balbina teve grande destaque?
Até pelo meu envolvimento pessoal, foi o Programa Wai-
28
miri Atroari. Na década de 1990 fui presidente da Eletronorte e juntamente com o Porfírio Carvalho impulsionei
o Programa. Fica até suspeito falar. Costumo dizer que
a etnia Waimiri Atroari é a comunidade social do Brasil
que tem a melhor qualidade de vida proporcional à sua
cultura, hábitos e valores. Acho impossível detectarmos
núcleos que têm a mesma organização. O Programa faz
o acompanhamento contínuo da saúde, situação escolar
e demais atividades, mas não perdendo de vista a tradição, a cultura e os valores. Tenho pelo Programa uma admiração que não sei qualificar. É um dos trabalhos mais
perfeitos que já vi na área de tratamento de comunidades
atingidas por empreendimentos hidrelétricos.
Como foi a sua visita à
terra indígena Waimiri Atroari?
Foi emocionante. São surpreendentes as atividades
produtivas ali desenvolvidas, as instalações para cuidar
da saúde. Fomos às aldeias. Vimos a organização em
que vivem, as escolas com professores filhos dos índios
que foram treinados e capacitados ali mesmo na aldeia.
O brasileiro que conhecer aquilo vai mudar a concepção sobre o modo como devíamos tratar as comunidades indígenas.
Seria possível surgir outros programas
semelhantes como forma de compensação pela
construção de novos empreendimentos hidrelétricos?
Existem especificidades. É difícil dizer se teremos
outros programas como este, mas a vontade de dar o
Programa Waimiri Atroari
melhor tratamento possível às comunidades indígenas
está nos genes da Eletronorte e Eletrobrás. Pretendemos
apoiar outras etnias por meio de outros programas. Dificilmente teremos como replicar um Programa Waimiri
Atroari, mas podemos utilizar as mesmas bases em situações diferentes.
Qual a preocupação da Eletrobrás com os índios
que serão afetados por novos empreendimentos?
Ao contrário do que aconteceu com os Waimiri Atroari,
que tiveram de ser deslocados das suas terras, não temos
hoje projetos que alaguem aldeias. Por isso não teremos
que replicar na íntegra o Programa. Mas desejamos implantar uma estrutura que contemple as áreas de educação, saúde, cultura e produção voltada para as etnias
que serão, por exemplo, indiretamente afetadas com a
construção de Belo Monte, por exemplo.
O senhor se sente feliz por
ter ajudado a salvar uma etnia?
Sinto-me muito feliz. Hoje tenho 64 anos e penso que
não tenho esta idade, pois olho para trás e vejo tanta coisa
feita; e olho para frente e vejo que tenho condições de
fazer tantas outras coisas. Olhando para trás, o Programa
Waimiri Atroari é uma das coisas que mais me orgulha,
pois não é uma ação que faça parte da atividade direta
da Eletrobrás. Isso é maravilhoso. O Programa é o exemplo de sucesso maior desse trabalho, por isso tenho uma
amizade inquebrantável com o Porfírio Carvalho. Ele é um
grande parceiro, o grande batalhador do Programa.
Entendendo o maryba – O maryba é uma
festa-ritual que cada aldeia habitualmente promove, convidando as demais a participarem.
Geralmente dura de três a sete dias, período
em que os Waimiri Atroari cantam, dançam,
tocam flauta e chocalho. É também o momento de iniciação das crianças do sexo masculino, de idade entre dois e cinco anos, para
que se tornem bons guerreiros, trabalhadores,
caçadores e pescadores.
Antes do maryba há uma verdadeira preparação do pai do menino que será iniciado.
Ele sai para as várias aldeias levando o katyba,
um convite feito de capim flecheira, que marca exatamente o dia da festa. Deve também,
juntamente com os outros pais que terão filhos iniciados, caçar, pescar e colher alimentos para todos os dias da celebração, além de
confeccionar cestarias, flechas e lanças para
os convidados. Como no maryba várias aldeias
estão reunidas, é também a ocasião dos casamentos e reuniões políticas.
Crianças
alegres
e fortes:
muito mingau
de banana
com tapioca
corrente contínua
sua tradição deve ser passada de pais para
filhos. “Os nossos tahkome, antepassados,
sempre estarão vivos em nossas memórias.
Não somos homens brancos, não bebemos,
não fumamos, nem andamos com dinheiro. Somos índios. Sempre pegamos nosso alimento. Nunca estudamos na cidade.
Aprendemos a falar português aqui na nossa
aldeia. Sempre vamos nos fortalecer e lutar
pelo nosso território”, frisa.
Os homens abrem o ritual cantando e dançando e, em seguida, é a vez das mulheres.
Logo depois, elas oferecem mingau de buriti
e tapioca aos convidados. Neste dia os cantos
contaram histórias dos antepassados, falaram
dos sofrimentos passados, mas, sobretudo,
evocaram a paz e liberdade que os Waimiri
Atroari vivem agora. Ao final do ritual, kinja e
kaminja se juntam numa imensa roda, mostrando que o respeito e a tolerância à diversidade são possíveis e muito saudáveis.
29
corrente contínua
As festas são lideradas pelos cantores,
homens que durante muitos anos aprendem
a dominar todos os cantos do ritual. Esses
cantos falam de todos os aspectos da cultura
Waimiri Atroari, desde a origem das plantas
da roça e dos animais até as estrelas e mitologia em geral. Para o cantor de maryba, Kabaha Paulo (abaixo), que foi iniciado no ritual
por seus pais e recentemente iniciou o seu
filho, é o momento de tornar a criança um
guerreiro forte e com muita saúde.
“Essa é uma tradição do nosso povo. Quando era menino, os
meus pais fizeram o meu katyba para convidar os parentes de
outras aldeias. Caçamos, pescamos, colhemos alimentos e preparamos as comidas para o ritual.
No ano passado houve o maryba
do meu filho. Durante o ritual nos
pintamos, nos enfeitamos com
cocás e trocamos flechas com
os outros guerreiros. Cantamos e
tomamos muito mingau de banana. Os cantos reverenciam a natureza, como as árvores, plantio,
peixe, porco, anta, gavião, tatu e
pássaros”, ilustra Kabaha.
30
Vídeo nas aldeias – “Vamos levantar gente. Quem vai buscar comida para nós? Vamos
sair para a mata e buscar caça para nossos
filhos”. Esse diálogo abre o documentário
Kinja Iakaha – Um Dia na Aldeia. O vídeo de
40 minutos foi realizado durante uma oficina
do projeto Vídeo nas Aldeias, na aldeia Cacau, em 2003. É importante destacar que a
produção, filmagem e direção do filme foram
realizadas pelos Waimiri Atroari. Tiveram auxílio externo somente no processo de legendagem, uma vez que a história é contada na
língua materna kinja iara com legendas em
português. O resultado é o olhar do próprio
índio sobre a sua cultura, que geralmente é
mostrada nos filmes sob a ótica da sociedade
não-índia.
Um dos responsáveis pelo documentário,
Sanapyty Gerôncio (abaixo), aprendeu a filmar com o kinja Wame, em 1988. “Tínhamos interesse em fazer um vídeo do dia a dia
da aldeia, para que as pessoas lá fora pudessem conhecer a nossa vida. Como somos da
própria comunidade, conversamos com os
kinja e pedimos que agissem com espontaneidade. No filme mostramos a pesca, caça,
a coleta das frutas pelas mulheres e o preparo dos alimentos”, explica.
O objetivo do projeto Vídeo nas Aldeias é
possibilitar aos índios que documentem a
sua história, mostrando manifestações culturais co­mo o maryba e as atividades que
desenvolvem no cotidiano. Depois de prontos, os vídeos são exibidos nas televisões das
22 aldeias. Sim! Todas as aldeias possuem
TVs que funcionam com energia solar, mas
não veiculam as programações que estamos
acostumados a ver. O objetivo é apenas exibir
os vídeos feitos pelos Waimiri Atroari. “Queremos uma televisão que mostre a nossa
realidade. Fazemos imagens do nosso dia a
dia, escolhemos as mais importantes e editamos. Depois exibimos em todas as aldeias
para que possamos ter a nossa memória. Os
txamyry, mais velhos, falam que temos que
fazer nossos próprios filmes, pois estes sim
mostram a nossa cultura”.
Empregados cedidos ou aposentados contam sobre a nova
experiência e lembram da época em que estiveram na Empresa
Bruna Maria Netto
Atuar na Amazônia enfrentando adversidades pouco recorrentes nas demais regiões do
Brasil tem suas vantagens. Os engenheiros
e técnicos da Eletronorte, após anos de dedicação na Região Norte, tornam-se aptos a
trabalhar em quaisquer ramos do Setor Elétrico,
agregando novos valores e contribuindo para o
desenvolvimento energético do País. De acordo
com a Superintendência de Gestão de Pessoas da Empresa, há 131 empregados cedidos
a instituições que vão desde empresas de
construção ao Ministério de Minas e Energia,
além daqueles já aposentados que voltaram a
trabalhar. O que eles têm em comum de longe
se limita à competência. O currículo desses
profissionais descreve a passagem pela Eletronorte como um aprendizado para a toda a vida,
acrescido de boas histórias, grandes amizades
e valiosa lembrança na memória.
Fora da Eletronorte, mas ainda por ela –
Quem começa narrando sua trajetória é Warfield
Ramos (abaixo). Warfield é diretor Técnico da
Águas da Pedra, sociedade de propósito específico que tem como acionistas a Neoenergia,
a Chesf e a própria Eletronorte, e é responsável
pela construção do Aproveitamento Hidrelétrico
Dardanelos, em Mato Grosso. Logo, vê-se que
sua indicação ao cargo não foi por acaso, e de
certa forma o engenheiro continua na Empresa.
O motivo não poderia ser outro: Ramos passou
25 anos na Eletronorte, entre os anos de 1975
e 2000. Durante esse tempo, atuou na Diretoria de Gestão Corporativa, como gerente de
divisão, de departamento, superintendente de
Suprimentos e assistente. Na extinta Diretoria
Técnica, trabalhou no gabinete. Já na Presidência, passou pelo Escritório de Coordenação
de Empreendimentos, onde foi coordenador da
Expansão de Tucuruí.
Para o engenheiro, trabalhar na Eletronorte
foi uma experiência de vida: “Aliás, uma excelente experiência. Nessa vida estamos em um
contínuo aprendizado, e posso afirmar que para
mim foi bastante profícuo durante o período que
estive trabalhando diretamente na Eletronorte.
Digo diretamente porque me considero ainda
como um integrante dessa Empresa, agora
representando-a em um de seus novos negócios”, afirma.
A experiência de trabalhar na Eletronorte
rendeu bons frutos. De acordo com Warfield,
“todos os objetivos traçados foram alcançados,
e gostaria de ressaltar que eles obtiveram pleno êxito muito em função do excelente corpo
técnico e funcional que a Eletronorte possui.
Em minha passagem pela Empresa, além de
todo o aprendizado adquirido - que é um bem
que ninguém poderá usurpar-me - fica ainda
um enorme quadro de amizades sinceras, que
também é um bem inestimável”.
O convite para trabalhar na Águas da Pedra
surgiu pela convergência de interesses. Warfield
estava retornando de Fortaleza, onde gerenciou
12 usinas termelétricas da empresa Enguia, do
Grupo Harbi. A Eletronorte estava estruturando
sua participação em Dardanelos e o engenheiro
não pensou duas vezes ao convite de voltar a
trabalhar na Região Norte. “Como diz o dito
popular, foi juntar a fome com a vontade de comer. Para mim foi muito bom, pois assim estou
tendo novamente a oportunidade de conviver
profissionalmente com o corpo técnico da Empresa e estar participando de um dos negócios
corrente contínua
CIRCUITO INTERNO
Corpo técnico da Eletronorte leva conhecimento
a outras instituições do Setor Elétrico
31
da Eletronorte, nada mais é do que continuar
colocando em prática todos os conhecimentos
até hoje adquiridos”, conta Warfield.
corrente contínua
Pelo Sistema Eletrobrás - Esse sentimento
também é compartilhado por Luiz Henrique
Hamman (abaixo), diretor Financeiro de
Furnas Centrais Elétricas e empregado da
Eletronorte desde 1981: “O que sinto falta é
da união de todos frente aos inúmeros desafios enfrentados, mesmo naqueles em que o
sucesso, embora não sendo total, nos propiciou oportunidades de melhoria em nossas
atitudes, ampliando nossos conhecimentos
e habilidades”. Hamman iniciou na Empresa
na área de contabilidade, onde permaneceu
até 1985, quando passou a compor o time do
GAT-CRN, na Coordenação da Comissão de
Serviços Contábeis e Financeiros. Foi em 1988
a primeira vez que Luiz Henrique usaria seus
conhecimentos adquiridos na Eletronorte em
outras instituições, sendo cedido ao governo
do então Território de Roraima para compor a
Diretoria Econômico-Financeira das Centrais
Elétricas de Roraima - CER.
Depois, as conexões foram sendo feitas em
diversas entidades: “Com a absorção do parque
térmico da CER pela Eletronorte, continuei em
Boa Vista como gerente da Divisão Administrativa da recém-criada Regional de Produção
e Comercialização de Roraima, até 1991. Voltando a Brasília, agora no quadro da Diretoria
de Engenharia, trabalhei no Departamento de
Planejamento e, posteriormente, fui gerente da
Divisão de Coordenação de Projetos Eletromecânicos de Geração até 1995, quando compus a
equipe de assistentes especiais da Presidência,
cujo titular era o atual presidente da Eletrobrás,
José Antonio Muniz Lopes. Posteriormente,
ocupei a presidência da Previnorte, depois a
32
Diretoria Financeira da Manaus Energia e da
Companhia Energética do Amazonas”.
Desde abril de 2008, Hamman ocupa a
Diretoria Financeira de Furnas, em consequência do trabalho realizado anteriormente.
Do período de atuação na Eletronorte, ele
conta que adquiriu um conhecimento permanente. “Aprendi a aprender com as oportunidades proporcionadas, tanto nas áreas de administração e contábil, quanto nas de geração,
operação e manutenção”. Aos colegas, deixa
o recado: “Trabalhamos em um setor vital, por
isso extremamente estratégico para a economia
de um modo geral e para a condição de vida e
a sustentabilidade ambiental, sendo, portanto,
um vetor sumamente importante no futuro da
Nação. Fazemos parte dessa importância toda.
Cada um de si e em equipe pode, e deve, se
desenvolver cada vez mais, aproveitando as
oportunidades ensejadas pela Empresa, degrau
por degrau, em prol de um País melhor”.
Da Amazônia à Esplanada dos Ministérios – É
no Ministério de Minas e Energia que o Secretário Nacional de Energia Elétrica lembra
dos 26 anos passados na Eletronorte. Josias
Matos Araújo, engenheiro de operação, relata
que “com certeza trabalhar na Eletronorte foi
muito importante para enfrentar o desafio de
solucionar conflitos, estabelecer políticas e
diretrizes governamentais, que asseguram a
transparência, a isonomia e a continuidade
dos serviços que o Setor Elétrico proporciona
à sociedade brasileira”. O currículo de Josias
na Empresa não deixa de ser admirável: foi
contratado para a Divisão de Estudos Elétricos
do Departamento de Engenharia de Operação,
atuando nas áreas de dinâmica, transitório e
qualidade de energia elétrica. Também teve a
oportunidade de assumir a gerência do Setor
de Ensaios Elétricos do Laboratório Central da
Empresa, em Belém (PA).
“A seguir fui conduzido à Superintendência
de Operação e Manutenção da Transmissão,
sendo que, em 2005, passei a assistente do
Presidente, sendo novamente reconduzido
àquela Superintendência”, cargo em que ficou
até 2008, quando foi convidado para assumir
a Secretaria Nacional de Energia Elétrica. “Assim como a ascensão na Eletronorte, o convite
para integrar a equipe do Ministério de Minas e
Energia foi um acontecimento natural na minha
carreira profissional. Após um período para
avaliar o convite, decidi aceitá-lo encarando
como uma missão de forma a contribuir para
o desenvolvimento do Setor Elétrico do meu
O futuro é de volta para casa - Um companheiro de Josias é Robésio Maciel de Sena,
diretor do Departamento de Monitoramento do
Sistema Elétrico do Ministério de Minas Energia,
cuja carreira na Eletronorte começou em dezembro de 1980. Robésio conta que, 24 anos depois,
alguns fatos ocorridos no Setor Elétrico salientaram a necessidade de melhorar a estrutura do
Ministério. “Com esse objetivo, a ministra Dilma
Roussef, à época, solicitou que a Eletrobrás cedesse empregados das empresas federais, para
compor o quadro ministerial. Na oportunidade
recebi o convite para fazer parte dessa equipe e
desde então estou prestando serviço aqui”.
Na Eletronorte, Robésio (abaixo) iniciou carreira na Regional de Operação de Mato Grosso.
Ele lembra que depois de quatro anos trabalhando na Cemig, em Belo Horizonte, aceitou
o desafio na Eletronorte. “O objetivo era desenvolver profissionalmente, crescer na carreira de
engenheiro, conhecer outros locais e contribuir
para o desenvolvimento do Norte do País. Passados 29 anos, considero que obtive quase tudo
que planejei, aprendi muito no lado profissional
e pessoal. Consegui um patrimônio de forma
honesta, que dá segurança à minha família. Sou
muito grato por tudo que pude obter
nesses anos de trabalho”.
Depois de Mato Grosso, trabalhou no Maranhão e em Brasília,
onde atuou na Divisão de Treinamento e Desenvolvimento, foi
assistente do Diretor de Operação,
passou pela Divisão de Operação e
Manutenção da Geração Hidráulica, encerrando - por enquanto
- a carreira na Eletronorte na
Superintendência de Operação e
Manutenção da Transmissão, em
2005. Para ele, toda a experiência
adquirida na Empresa está sendo
útil no trabalho desenvolvido hoje em dia. “As
atividades daqui têm uma variedade muito
grande e a habilidade, capacitação e experiência adquiridas na Eletronorte estão sendo
fundamentais para a execução delas. Ainda
não conheci nenhum outro local melhor para
trabalhar, aprender, crescer profissionalmente
e ser valorizado e com tantos benefícios”.
Dos tempos de Empresa, Robésio fala do
que mais sente falta, e dá um conselho aos
que continuam na Eletronorte: “O que mais
sinto falta são as relações profissionais, que
são mais informais, a objetividade das ações e
a obtenção de resultados, o trabalho de campo
nas regionais. Quando saímos e conhecemos
outras realidades passamos a reconhecer ainda
mais a grandeza da nossa Empresa, por isso
façam valer esse privilégio de trabalhar na nossa
corrente contínua
País, e usando todos os
conhecimentos técnicos e gerenciais que a
Eletronorte me proporcionou”, afirma.
A experiência na
Empresa foi fundamental para o novo
posto: “A Eletronorte
é e continuará sendo
uma grande escola,
pois sempre ofereceu todas as oportunidades
para o meu crescimento profissional e aperfeiçoamento técnico e gerencial, além de abrir
caminho para a ampliação de meu relacionamento interno e externo. Foram momentos
de grandes desafios, que me impulsionaram
a fazer o melhor pela organização, além de
incentivar aqueles que trabalharam sob minha
orientação a buscar permanentemente o caminho dos melhores resultados. Tudo para que a
nossa Eletronorte se mantenha à frente das demais empresas do Setor Elétrico, conquistando
a credibilidade, disseminando conhecimentos e
tornando a sua marca um símbolo de respeito.
Aprendi que vale a pena acreditar no potencial
das pessoas e com elas fazer acontecer, conquistar resultados e abrir oportunidades para
o crescimento”.
Do que o Secretário (acima) sente mais falta
da época de Eletronorte são as pessoas com
quem conviveu durante anos e que compartilharam os seus conhecimentos e experiências,
fundamentais para o seu crescimento profissional. “Vale ressaltar que, do mais humilde
ao mais letrado, todos, sem exceção, foram
importantes nas conquistas alcançadas durante minha permanência na Eletronorte”. Com
clima de saudosismo, Josias deixa um recado
aos colegas: “Sintam orgulho de trabalhar na
Eletronorte. É uma Empresa que se preocupa
com o bem-estar dos empregados, que busca o
crescimento de todos, abre oportunidades para
a conquista de novos espaços, está ao seu lado
nos momentos mais difíceis de sua vida e de
seus familiares. Tornem-se guardiões e unamse por inteiro para manter a Empresa viva e forte
para as futuras gerações. Vocês representam
na essência o maior tesouro, os líderes mais
importantes que com certeza estarão sempre
lutando por uma organização melhor, respeitada
e referencial de excelência”.
33
Eletronorte”. Talvez por isso, o futuro profissional de Robésio é de volta para a sua ‘segunda
casa’: “Não penso em parar de trabalhar tão
cedo. Enquanto estiver sendo útil no Ministério
vou ficando por aqui. Penso sim em voltar à
Eletronorte, pois acredito que ainda posso contribuir muito. Trabalhar na Eletronorte sempre
me orgulhou e quando você faz o que gosta não
existe diferença entre lazer e trabalho”.
corrente contínua
De Minas para o Norte. Do Norte para Minas
- Jorge Ivanovitch de Sousa (abaixo) é engenheiro de Projeto de Telecomunicações da área de
manutenção de infraestrutura de Telecomunicações da Cemig. Mas não foi sempre que ficou em
terras mineiras. Ele saiu da sua terra natal rumo
a Tucuruí (PA), em 1986. Na Eletronorte, Ivanovitch atuou na área de Suprimentos, a começar
pelo Departamento de Contratos Especiais, no
Grupamento Industrial Tucuruí-Extensão, cuidando da coordenação de contratos das máquinas 9 a 12. “Depois gerenciei a Divisão de Obras
e Licitações e o Departamento de Atendimento
de Suprimento à Geração e Instalação. Quando
fui cedido, estava como assistente do Diretor de
Gestão Corporativa”, conta.
A vida pessoal de Jorge evolui juntamente
com a experiência adquirida na Eletronorte.
“Quando fui do sul de Minas Gerais para a
Eletronorte era casado há pouco tempo e o meu
primeiro filho era bebê. Hoje ele tem 23 anos e
já está formado em engenharia elétrica, como
eu. Minha filha fez o caminho inverso, nasceu
em Brasília e hoje tem 20 anos, cursa nutrição
na Universidade Federal de Minas Gerais. Fui
cheio de planos e sonhos e muitos deles se
transformaram em realidade. Muito do que
sou hoje devo à Eletronorte: tive a felicidade
de trabalhar com grandes mestres – Warfield,
Neiron, Brasil, Xavier, Ronaldo Alves, Almendra,
José Antônio Coimbra, Zenon, Benjamin, Tião
Otaviano, entre tantos outros e procurei aprender muito com eles”, recorda.
34
Porém, o coração desse mineiro apertou e ele
voltou à sua terra: “Eu busquei a cessão para a
Cemig por motivos particulares, uma vez que
minha família reside em Belo Horizonte desde
2001, quando vim cedido para a Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel”. Jorge está
na Companhia há um ano e meio, após oito anos
de trabalho na Agência. Da Eletronorte, obteve
uma ótima experiência em lidar com pessoas e
em gerenciar conflitos. “Desde o início exercitei
esses pontos. Eu me formei profissionalmente
com grandes mestres e aprendi bastante também com as viagens para a Região Norte, que
não conhecia e que me mostraram um País
bem diferente do que já havia vivenciado. Nós
trabalhamos numa das melhores empresas do
Brasil, e apenas quando estamos cedidos é
que verificamos isto mais fortemente. Espero
retornar em breve!”
Filho da Eletronorte - A história de outro mineiro, Zenon Pereira Leitão, também se confunde com a da Eletronorte. Zenon está na Empresa
desde seus 19 anos de idade. O aprendizado
lhe rendeu o cargo de assessor de Relações
Institucionais e Parlamentares da Eletrobrás,
onde está há um ano e meio. “A Eletrobrás
não dispunha de uma assessoria parlamentar
e entendíamos que era uma lacuna. Com a
chegada do presidente José Antonio, em abril
de 2008, e a aprovação da lei que transformou
a holding em uma empresa internacional – somadas ao conhecimento do Presidente acerca
do trabalho realizado na Eletronorte -, foi sugerida a criação da área e ele acatou a sugestão,
entendendo que eu poderia contribuir, o que
muito me honrou”.
Na Eletronorte, o que não faltaram foram possibilidades de crescimento a Zenon, e talvez por
isso sua experiência em outro lugar tenha vindo
apenas depois de 33 anos na Eletronorte: “Eu
nunca havia sido cedido a um órgão externo.
Sempre relutei muito, pois sou muito apegado
à Empresa e às pessoas, mas a experiência
está sendo boa e estou fazendo tudo para bem
representar a Empresa”, afirma Zenon.
Ele lista as áreas por onde passou: “Iniciei
no Departamento de Operação e Manutenção
e depois trabalhei na assessoria da Diretoria de
Operação. Em seguida passei pela Gerência da
Divisão Administrativa da Regional de Transmissão de Mato Grosso e exerci a mesma função na
Regional de Transmissão do Maranhão. De volta
a Brasília, fui gerente da Divisão de Benefícios,
assistente do Diretor de Produção e Comercialização, e diretor de Benefícios da Previnorte”.
corrente contínua
Zenon (acima) ainda voltou a ser assistente
da diretoria, quando, em junho de 2004, foi
designado assessor Parlamentar da Eletronorte.
“Com o apoio de alguns colegas, montamos a
Assessoria Parlamentar onde, em semelhança a
outras grandes instituições, foi possível realizar
um trabalho muito importante, quando passamos a acompanhar a tramitação de projetos de
lei no Congresso Nacional, de interesse do Setor
Elétrico, receber as autoridades, dispensando a
elas um atendimento profissional, o que acabou
contribuindo para o fortalecimento da imagem
da Eletronorte”.
Com a fusão da Assessoria Parlamentar com
a Superintendência de Comunicação Empresarial, Zenon ainda foi coordenador de Comunicação até 2008. O conhecimento da Eletronorte
inspirou a holding: “Estamos aplicando na
Eletrobrás os conhecimentos adquiridos na
Eletronorte, para a estruturação da Assessoria
de Relações Institucionais e Parlamentares,
que atenderá também às demais empresas do
Sistema Eletrobrás”, afirma.
Zenon não se esquece dos personagens
de sua história na Eletronorte: “Tudo que sei
e tenho, devo à Eletronorte, e embora tenha
começado a trabalhar aos 15 anos de idade, a
minha grande experiência foi nessa extraordinária Empresa. Ingressei como nível médio, cursei
administração de empresas e aproveitei todas
as oportunidades, sempre me aperfeiçoando e
trabalhando em várias áreas, inclusive no chão
de fábrica, o que me deu uma experiência muito
importante. A Eletronorte é parte da minha vida.
Deixei muitos amigos, afinal foram 33 anos de
convívio. Sinto muita falta. Por isso, sempre que
possível, procuro almoçar na praça da alimentação onde está instalada a Empresa, para matar a
saudade de amigos que encontro pelo caminho.
Alguns dizem que no trajeto entre o Edifício Varig e o prédio da Eletronorte eu pareço político,
cumprimentando a todos. Digo que sempre fui
assim, não mudarei nunca e fico muito feliz ao
reencontrar os colegas. Me faz muito bem”.
Levando precisão para a holding – Ainda na
Eletrobrás, um dos colegas de Zenon é Moisés
Aben-Athar, que trabalhou exatamente 29 anos
e dois meses como empregado da Eletronorte,
“acrescidos de dois anos como empregado da
Celpa, cedido, até chegar na Eletrobrás, onde
estou há um ano e cinco meses”. Tanta exatidão
não teria outra justificativa senão a profissão
de Moisés, economista. Na Eletronorte, levou
a precisão com números às áreas de logística
e financeira. “Eu tive a felicidade de chegar à
Eletronorte quando tudo ainda era novidade,
desafios e permanente crescimento profissional,
superando, em muito, as minhas melhores expectativas relativas a uma grande empresa, pois
ao mesmo tempo em que aprendia, tinha a oportunidade de repassar os meus conhecimentos
e experiências a tantos outros companheiros, o
que nos fez crescer juntos com a Empresa”.
Moisés conta que a Eletronorte continua
sendo a força motora da sua vida. “O presidente
José Antonio, conhecendo o meu trabalho, fez
o honroso convite para integrar o quadro de
colaboradores da Eletrobrás, e levei todos os ensinamentos e experiências vivenciadas nas mais
diversas áreas de trabalho da Eletronorte. Sem
dúvida alguma, o trabalho e desafios enfrentados durante todo o meu tempo de Eletronorte
estão sendo de enorme valia nas minhas atuais
atribuições, que requerem um conhecimento
profundo do Setor Elétrico brasileiro.
Da Eletronorte, Moisés (abaixo) sente falta
dos desafios típicos de uma grande Empresa.
“Tive a oportunidade de participar de todos os
seus momentos, a partir praticamente da sua
criação e que marcou indelevelmente a minha
vida”. Aos colegas que aqui deixou fica a mensagem: “A Eletronorte marca para sempre a
vida de todos aqueles que têm a felicidade de
integrar o seu quadro de colaboradores, e têm
a oportunidade de desenvolvimento profissional
e social, aliada a uma política de benefícios e
proteção aos trabalhadores, sem precedentes
em qualquer outra empresa”.
35
ENERGIA ATIVA
corrente contínua
36
Para transformar processos, mudar atitudes,
vencer desafios e gerar resultados, duas palavras:
eficiência e crescimento
A competição em leilões de empreendimentos de geração
e de transmissão, a questão da renovação das concessões,
a transformação do Sistema Eletrobrás e a resolução de
problemas estruturais colocam a Eletronorte diante de novos
desafios empresariais. Para alcançar novo patamar de eficiência
operacional e de crescimento, alinhado às iniciativas do
planejamento estratégico, a Empresa está desenvolvendo o
projeto Eficiência e Crescimento, que prevê, entre outras coisas,
a implantação de 111 iniciativas num período de três anos, que
possibilitarão ganhos superiores a R$ 150 milhões por ano.
Confira nesta entrevista com o diretor-presidente da Eletronorte,
Jorge Nassar Palmeira, as informações sobre o andamento do
projeto, os benefícios esperados e como ajudar a alavancar o
desempenho empresarial.
O que vem a ser o projeto
Eletronorte Eficiência e Crescimento?
O projeto surgiu a partir do desdobramento do
Plano Estratégico 2009/2011. Além das medidas
estruturantes do objetivo 3, ficou clara a necessidade de se promover a eficiência dos processos
empresariais, a redução de perdas e custos e o
aperfeiçoamento da gestão, preconizados nos
objetivos 6, 7 e 8. Esse conjunto de medidas é
que possibilitará a obtenção do lucro.
Quais são essas medidas estruturais?
Entre elas, podemos citar a Medida Provisória nº 466, recentemente aprovada, que vai
regularizar a questão dos sistemas isolados, que
vêm causando grandes prejuízos à Eletronorte
ao longo dos anos. Há também a federalização
da Companhia Energética do Amapá – CEA, que
tem uma dívida de cerca de R$ 600 milhões com
a Eletronorte. Uma vez federalizada, passando
para o controle da Eletrobrás, poderemos fazer
um encontro de contas e saldar parte da nossa
dívida com a holding. Depois, o repasse para as
concessionárias estaduais dos ativos de transmissão abaixo de 230 kV. Já fechamos o laudo
do Acre e Rondônia e somente nesses estados
vamos ter uma receita de R$ 300 milhões que
também nos levarão a outro encontro de contas
com a Eletrobrás. Tem ainda a reversão da provisão de Balbina, de R$ 275 milhões. Por sua
vez, a Eletrobrás está fazendo a reavaliação dos
ativos de todas as empresas do Sistema, com
vistas à capitalização, e a Eletronorte poderá
saldar mais uma parte de sua dívida deixando de
pagar juros e correção monetária para começar
a pagar dividendos. Mas temos outras ações
importantes em andamento, que também vão
nos ajudar a conseguir o máximo de eficiência
e crescimento.
O projeto está alinhado ao plano de
transformação do Sistema Eletrobrás?
Qual a importância dele para
todos os atores envolvidos?
Sim, o projeto Eletronorte Eficiência e Crescimento está perfeitamente alinhado ao plano de
transformação da Eletrobrás, seguindo a diretriz
emanada pelo Presidente da República de fazer
da holding uma megaempresa que conquiste o
mundo com a mesma respeitabilidade da Petrobras. Nós já apresentamos o nosso projeto no
âmbito do Conselho Superior do Sistema Eletrobrás- Consise, onde foi bem acatado pelos dirigentes de todas as empresas do Sistema, inclusive
algumas já estão se movimentando no sentido
de programar algo semelhante. O importante é
que vamos produzir resultados financeiros que
sustentarão o nosso crescimento empresarial. A
Eletronorte será um grande ator na expansão do
sistema elétrico brasileiro, notadamente na região
onde vem atuando, a Amazônia, como um consolidador de parcerias para a realização de grandes
empreendimentos de geração e transmissão de
energia elétrica. É fundamental que a Empresa
tenha capacidade financeira para participar de
novos negócios.
ro, ao fazer um empreendimento de grande vulto,
precisamos dos valores de investimento definidos
no Orçamento Geral da União. Sem saber se vamos ganhar ou não um leilão, como orçar valores
vultosos que terão impacto nas contas públicas
via superávit primário? Depois, precisamos de
agilidade. Como Empresa estatal, estamos presos
à legislação e a processos burocráticos com os
quais não conseguimos enfrentar as verdadeiras
batalhas que são os leilões. Em parceria com a
iniciativa privada ganhamos a agilidade necessária. Finalmente, graças ao trabalho das equipes
envolvidas, conseguimos aperfeiçoar o processo
econômico-financeiro. Na verdade, quem ganha
o leilão não é a parte técnica, mas a engenharia
financeira.
O que podem esperar
empregados e gerentes do projeto
Eficiência e Crescimento?
Lançamos o projeto durante as comemorações
dos 36 anos da Eletronorte, no último dia 13 de
agosto, e reforçamos a mensagem: ninguém dê
ouvidos aos mensageiros do apocalipse! Não
haverá demissões, nem punições. Queremos
pedir tranquilidade e trabalho em prol de uma
Empresa melhor. Acabamos de reformular o quadro de pessoal e certamente haverá um plano de
desligamento voluntário, o que já vem ocorrendo
em outras empresas do Sistema Eletrobrás. Mas
tudo para melhorar a eficiência empresarial, sem
nenhuma outra conotação política ou técnica.
Uma novidade criada diretamente pela Diretoria
é a figura do gerente de empreendimentos, que
vai acompanhar a obra do começo até o final,
para garantir a taxa de retorno e principalmente
acompanhar os prazos e não deixar nenhum furo.
Agora, os gerentes são os gestores de todos os processos e precisam ter uma postura diferenciada,
não somente para acompanhar procedimentos,
mas acompanhar custos e prazos essencialmente.
Não dá, por exemplo, para uma obra nossa atrasar
45 meses; ou a Empresa gastar R$ 2,4 mil para
comprar R$ 400. O comprometimento com prazos
e custos deve ser de todos.
Uma mensagem final.
Eu entendo que o projeto Eletronorte, Eficiência
e Crescimento é positivo para todas as partes
interessadas. Para a Eletrobrás, que terá uma
controlada dando resultados em vez de prejuízos. Para os empregados uma Empresa forte,
focada na sustentabilidade. Para a sociedade
brasileira, a garantia de um suprimento de energia
elétrica com mais qualidade. Não é um projeto
desta Diretoria, mas de todos nós, que teremos
uma Empresa blindada contra ações externas,
fortalecida no que tem de melhor. Isto é extremamente importante: entender que esse projeto é
fundamental para garantir o nosso futuro, a nossa
empregabilidade.
corrente contínua
Como estão sendo desenvolvidas
as etapas do projeto?
Como disse, tudo começou com o planejamento
estratégico. Vamos obter o lucro e aumentar o
resultado empresarial equacionando os problemas
estruturais e aperfeiçoando a gestão dos processos. No desenvolvimento do projeto, tivemos uma
primeira etapa, quando comparamos a Eletronorte
com as outras empresas do Sistema Eletrobrás. Por
que umas dão lucro e nós damos prejuízo? Numa
segunda etapa comparamos o negócio de geração
e de transmissão, e a parte corporativa que suporta
o negócio. Verificamos como estamos de produtividade em comparação com as empresas do
Sistema e outras concessionárias de capital aberto.
Numa terceira etapa identificamos as iniciativas e
estamos implementando os planos de ação. Diria
que primeiro fizemos uma fotografia, depois uma
radiografia e agora uma ressonância magnética
para identificar oportunidades de reduzir custos
e aumentar a produtividade.
Houve envolvimento do
corpo funcional da Empresa?
Para quando estão previstos resultados?
Mais de 100 técnicos e 80 gerentes da Empresa têm participado desse processo. Na realidade,
todas as iniciativas vislumbradas como possibilidades de melhoria de gestão e processos foram
formuladas pelo nosso corpo técnico. A consultoria
contratada entra apenas com o apoio metodológico para que consigamos maior velocidade e capacidade de gerar soluções. A Diretoria Executiva
já definiu uma meta de redução de custos e as
13 equipes de melhorias já trabalham iniciativas
para mudar o patamar de produtividade. A meta,
quando todas as iniciativas estiverem implementadas, é de, até 2013, conseguir uma redução de
custos superior a R$ 150 milhões por ano, que
serão destinados ao crescimento da Empresa,
nos investimentos em novos negócios. Na terceira
etapa do projeto estamos detalhando os planos
de ação das 111 iniciativas identificadas pelos
grupos, de modo a colher resultados a partir de
setembro de 2009. Em novembro próximo termina
o trabalho da consultoria e a partir de dezembro
a Empresa toca o projeto sozinha até 2013. Cada
gestor de empreendimento, cada gerente envolvido será responsável pelo compromisso junto
à Diretoria, inclusive com a assinatura de um
contrato de gestão.
Certamente, os resultados dos
planos e do próprio projeto levarão
ao fortalecimento da Empresa
em sua participação em leilões
de geração e transmissão.
Sem dúvida. É importante entender por que a
Eletronorte participa de sociedades de propósito
específico em novos negócios. Não é apenas pelo
desenho do modelo atual do Setor Elétrico. Primei-
37
MEIO AMBIENTE
Um corredor para
a biodiversidade
Avaliação e monitoramento das comunidades de
vertebrados em Tucuruí aponta caminhos promissores
Michele Silveira
corrente contínua
Imagine um corredor com paredes de floresta. Enquanto seus passos amassam as folhas
que cobrem o chão, um rápido macaco cuxiú
pula de uma árvore para outra com a mesma
agilidade com que um jacu se equilibra entre os
galhos das árvores ao seu lado. Apesar da ideia
de um corredor ser muito familiar a qualquer
um de nós, pensar num espaço assim dá uma
sensação de dever cumprido. Pelo menos é o
que devem sentir alguns dos pesquisadores
que, desde 2004, dedicam-se ao projeto “Avaliação e Monitoramento das Comunidades de
Vertebrados na Área de Influência do Reservatório da Usina Hidrelétrica Tucuruí”. O corredor
é uma das propostas indicadas pelo grupo de
pesquisadores e ligaria a Terra Indígena Parakanã à Base 3, uma das áreas onde a pesquisa foi
realizada. “O ideal é que tivéssemos essa conectividade, para que se mantenham as áreas
de preservação efetivamente, constituindo um
corredor para que as espécies se desloquem e
garantam a biodiversidade. É uma ação difícil,
mas possível. É preciso uma articulação com
moradores do entorno do lago de Tucuruí, órgãos ambientais, prefeituras, enfim, uma ação
38
integrada”, explica o analista ambiental da Eletronorte,
Rubens Ghilardi Junior.
Um dos compromissos da
Eletronorte com o processo de licenciamento ambiental da Hidrelétrica junto à
Secretaria de Meio Ambiente do Estado do
Pará, o projeto foi viabilizado entre a Empresa
e o Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG; por
meio da Sociedade Zeladora do MPEG e com a
participação de pesquisadores da Universidade
Federal do Pará - UFPA e do Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia – Inpa. O projeto
representa a consolidação do Subprograma
de Monitoramento, Manejo e Conservação da
Fauna, proposto no processo de licenciamento
ambiental da Usina, e tem permitido o desenvolvimento de pesquisas relevantes sobre a
diversidade, ecologia e conservação da fauna
de vertebrados no sistema formado pelo reservatório, incluindo suas margens e ilhas, estabelecidos, desde 2002, como Área de Proteção
Ambiental – APA do Lago de Tucuruí.
Fauna ameaçada - A macrorregião de Tucuruí é considerada como área prioritária para
conservação. Lá estão espécies que constam
espécie Inia geoffrensis, o chamado
boto-cor-de-rosa. Entretanto,
não há um consenso sobre a presença
do boto-tucuxi, de cor cinza. Mas os moradores a jusante da barragem garantem que ele
aparece por lá.
Durante três anos o projeto investigou e
avaliou o atual estado de conservação de anfíbios, répteis, aves e mamíferos, levando em
consideração as modificações resultantes da
formação do lago de Tucuruí. De acordo com
Ghilardi, os estudos sobre a fauna terrestre se
concentraram nas duas zonas de Preservação
de Vida Silvestre (ZPVS) da APA, localizadas nas
bases de soltura 3 e 4. Já as espécies aquáticas
e semiaquáticas, compostas principalmente
por jacarés, quelônios, botos e aves, foram
estudadas em várias regiões do lago. Também
foram feitas análises das atividades de caça
nas áreas das reservas de Desenvolvimento
Sustentável (RDS) Pucuruí, Ararão e Alcobaça,
além da ocorrência de agentes infecciosos em
carnívoros silvestres, bem como em animais
domésticos, potencial fonte de risco de transmissão de doenças à fauna silvestre.
corrente contínua
na lista oficial do
Ibama, como o cuxiús
(Chiropotes sp), macaco-caiarara (Cebus kaapori), onça-pintada (Panthera onça), ariranha (Pteronura brasiliensis),
tatu-canastra (Priodontes maximus) e as aves
jacamim-de-costas-verdes (Psophia viridis) e
ararajuba (Guaruba guarouba). Até o final da
pesquisa foram identificadas 481 aves, 36 mamíferos de médio e grande porte, 36 anfíbios,
39 répteis terrestres, três jacarés e quatro tartarugas. Inclusive, a margem direita se destaca
por abrigar uma população de Cebus kaapori,
considerada a espécie de mamífero mais
ameaçada da Amazônia. Além disso, a área de
soltura conhecida como Base 4 é considerada
importante refúgio para a fauna de mamíferos.
E os botos? O estudo revelou a presença da
39
corrente contínua
Ainda em 2006, um seminário avaliou os
resultados preliminares do estudo. Reunidos no
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos - NAEA,
em Belém, pesquisadores explicaram que o
inventário de diferentes grupos de fauna resultou na geração de diversos dados que podem
ajudar no estudo dos efeitos causados pela
fragmentação de florestas sobre a diversidade
das espécies. Praticamente todas as equipes do
projeto observaram a presença de atividade de
caça nas áreas estudadas, o que indica a necessidade de maior esforço de conscientização
das comunidades locais.
40
Ilhas - Segundo Rubens Ghillardi, uma das
linhas de pesquisa foi avaliar quais das cerca de
1.700 ilhas do lago seriam mais significativas.
“As ilhas maiores e mais próximas ao continente
são as mais importantes para a manutenção da
biodiversidade e, de posse dessa informação,
sabemos como atuar de forma mais efetiva.
Outra constatação importante foi confirmarmos
que nas duas margens temos espécies diferentes, e por isso é fundamental a manutenção das
duas áreas para a biodiversidade”
O responsável pelo convênio, o biólogo e
coordenador da equipe de Zoologia do Museu
Goeldi, professor Ulisses Galatti, lista os principais objetivos do projeto: indicar o estado de
conservação de anfíbios, répteis, aves e mamíferos em relação às modificações no ambiente
causadas pela formação do lago de Tucuruí;
avaliar a importância das Zonas de Preservação
acorde ainda de madrugada e quem não
durma durante a madrugada. De acordo com
Ulisses, a maior parte dos pesquisadores ficou
alojada na Base 4, a cerca de uma hora de
barco da Usina. “Lá há refeitório, cozinheiro e
alguns quartos. O excedente do pessoal ficava
em barracas montadas na parte externa dos
alojamentos e dormia em redes”. Nas chamadas voadeiras, as equipes fizeram os percursos
até às bases 4 e 3, esta última uma viagem de
três horas. Para as equipes que trabalharam
com tartarugas, jacarés, botos e aves aquáticas, as voadeiras também eram instrumento
diário de trabalho.
corrente contínua
da Vida Silvestre (ZPVS) para a conservação da
fauna local; e estabelecer as bases para um
programa de monitoramento, conservação e
manejo da fauna. Mas do início das pesquisas
até a entrega do relatório final – que hoje tramita
na Secretaria de Meio Ambiente do Pará – foram
anos de pesquisas de campo que renderam
muitas histórias em busca da observação de
uma fauna que, na maioria das vezes, é que
parece observar.
É ainda escuro quando acorda a equipe que
acompanha as aves e mamíferos. E é também
escuro quando o pessoal que trabalha com
anfíbios e répteis sai para campo. Há quem
41
Já no primeiro ano do projeto foram realizadas mais de 40 expedições de campo para
coleta de dados. “Nesse trabalho enfrentamos
dificuldades técnicas, algumas delas relacionadas à identificação das áreas mais apropriadas
para o estabelecimento de pontos de amostragem e instalação de armadilhas”, relata o
pesquisador.
Aprendizado - Para Ulisses é preciso destacar o apoio do Centro de Proteção Ambiental
– CPA, de Tucuruí e da Superintendência de
Meio Ambiente da Eletronorte. Cerca de R$ 1,6
milhão foi investido na condução das atividades.
O projeto tem atraído o interesse de especialistas para a condução de estudos de ecologia e
conservação na área do reservatório de Tucuruí.
Cinco dissertações de mestrado e uma tese de
doutorado, viabilizadas pelo projeto, já foram
concluídas e uma dissertação e uma tese devem ser terminadas nos próximos anos.
O curso de campo ‘Conservação e Ecologia de Populações em Áreas Fragmentadas’,
destinado a alunos de mestrado e doutorado,
foi realizado em 2006 e 2007 como disciplina regular do programa de pós-graduação
em zoologia da UFPA e do MPEG. Esforços
também têm sido direcionados ao repasse
de informações para as comunidades do entorno do reservatório, por meio de palestras e
cartilhas. “A experiência do curso de campo
foi única, principalmente para os alunos, que
tiveram a oportunidade de treinar a pesquisa
científica, desde a formulação de hipóteses,
O primeiro passo na preservação
corrente contínua
Antes da formação do lago de Tucuruí, a chamada
Operação Curupira suscitou discussão sobre seu principal
objetivo: procurar garantir a vida dos animais ilhados no
reservatório, além de colaborar com a consciência de um
espírito conservacionista na região, bem como na implantação de áreas de proteção da fauna. Houve quem criticasse
os custos e a metodologia, e quem afirmasse que os animais resgatados não sobreviveriam em outras áreas.
Numa época em que ainda não havia legislação ou
compensação ambiental, a Operação Curupira promoveu
a discussão sobre estratégias de conservação; estimulou
estudos numa região pouco conhecida em termos biológi-
42
cos e propiciou um campo de estudo aos pesquisadores
que dela participaram.
Foram resgatados cerca de 300 mil animais. Além
das dificuldades logísticas, as equipes enfrentam os
desafios da inexistência de experiência prévia do Setor
Elétrico na Amazônia, um cronograma exíguo para o
planejamento, as grandes dimensões do reservatório e
o pequeno conhecimento da fauna local.
Hoje, 25 anos depois, o projeto Avaliação e Monitoramento das Comunidades de Vertebrados na Área de
Influência do Reservatório de Tucuruí priorizou as áreas
de soltura dos animais resgatados durante a Operação
passando pela metodologia e desenho experimental adequados, até a apresentação final
dos resultados. Tudo isso em uma área que
engloba florestas conservadas e fragmentadas
na mesma região”, afirma Galatti.
A expectativa agora é que o relatório seja avaliado e as novas etapas estabelecidas. “Estamos
aguardando o encaminhamento da Secretaria
para então definirmos se haverá um novo convênio, ou de que forma vamos dar continuidade
a cada uma das ações. As próximas etapas
devem contemplar ações de monitoramento,
com muitas atividades de pesquisa e formação”, explica o biólogo Ralph Kronemberger
Lippi, analista ambiental da Eletronorte. Com
foco também na educação ambiental, o projeto
oferece dados que podem ser aproveitados por
quem tiver interesse na área ou informações
sobre a biologia das espécies.
Chegar até a proposta de consolidação
daquele corredor ecológico não foi uma tarefa
fácil, menos ainda uma teoria individual. Na
opinião do coordenador, o projeto possibilitou
o desenvolvimento de pesquisas relevantes
sobre a diversidade, ecologia e conservação
da fauna de vertebrados presentes no sistema
formado pelo lago de Tucuruí. As bases 3 e 4,
segundo Galatti, são importantes para estudos
de ecologia aplicada como sobre os efeitos da
fragmentação florestal por implementação de
grandes barragens e ecologia de paisagem, entre outros temas que fornecem subsídios para o
estabelecimento de estratégias de conservação
biológica no bioma amazônico.
corrente contínua
Curupira. Nos relatórios da Operação, os primeiros
esboços das ideias que, anos depois, seriam pautadas pela legislação ambiental e consideradas no
relatório final do projeto atual: “Vale salientar ainda,
que os reservatórios, assim que se formam, tendem
a atrair ocupação humana para suas margens, o
que acabará por acarretar devastações na fauna e
flora. Portanto, a simples colocação dos animais nas
margens não lhes garantirá a sobrevivência, a não
ser que as áreas de relocação sejam preservadas.
Essa preservação só será possível pelo manejo das
áreas”. Era o embrião dos corredores.
43
AMAZÔNIA E NÓS
Terezinha Félix de Brito
Entre banzeiros e cachoeiras de inúmeros
rios, ou pelos trilhos da lendária Estrada de
Ferro Madeira-Mamoré, ou ainda pelas belezas
tropicais do Vale do Guaporé, do Forte Príncipe
da Beira, e de muitas outras riquezas culturais
e históricas, Rondônia tornou-se conhecida de
brasileiros e estrangeiros. É preciso se aventurar
para entender sobre essa terra tão rica e de muitos mistérios, de mitos, folclores, lendas, fases,
lutas, superação. Hoje, o Estado de Rondônia
é visto como referencial de desenvolvimento,
principalmente pela construção das usinas
do Complexo do Rio Madeira (Jirau e Santo
Antônio), obras grandiosas do Setor Elétrico
brasileiro.
A história de Rondônia é marcada pela
construção da Estrada de Ferro MadeiraMamoré, que nasceu da necessidade de
permitir o escoamento de produtos ao país
vizinho, a Bolívia, até o Pacífico. Ao longo
de 400 km de distância entre Porto Velho e
Guajará-Mirim, a obra foi construída por meio
do ‘Tratado de Petrópolis’, que colocou fim à
questão do Acre (1899-1902), anexando-o
44
Foto: Isac Pinheiro
corrente contínua
Rondônia:
diversidade,
superação e
desenvolvimento
da Federação que possuíam empreendimentos semelhantes.
Mesmo com toda tecnologia e conforto, a cidade que foi o berço da ‘Ferrovia do Diabo’, como foi
intitulada pelo jornalista Manoel Rodrigues Ferreira, fascinou muita gente e, ao mesmo tempo,
tornou-se motivo de decepção para aqueles que
se aventuraram num lugar até então desconhecido. Há um mito de que cada dormente da obra
equivale à morte de um trabalhador. Atualmente,
o complexo ferroviário é um dos pontos turísticos
mais visitados, atraindo a curiosidade de pesquisadores, estudantes e turistas.
corrente contínua
ao território brasileiro. Com a construção da
ferrovia, em apenas dois anos, a capital Porto
Velho foi considerada uma cidade cosmopolita
no meio da selva e em pleno início do século
XX era comparada com cidades europeias.
Por lá já havia serviço de esgoto e telefone.
Geradores de eletricidade eram responsáveis
pela iluminação pública e, no cais, lâmpadas de arco voltaico permitiam o trabalho
noturno. Foram montadas também fábricas
de biscoitos, de gelo, padarias, lanchonetes,
lavanderias, cinemas, hospitais, banda de
música e tipografia. Eram poucos os estados
45
Fotos: Isac Pinheiro
corrente contínua
Porto
Velho, a
capital
está
rodeada
de rios e
florestas
46
Miscigenação – Entre as décadas de 1960
e 1990, Rondônia recebe um grande número
de migrantes, em decorrência da euforia
econômica estimulada por grandes investimentos do Governo Federal para povoar
a Região Norte. O estado é um verdadeiro
mosaico de diferentes culturas, de muitas
identidades, de miscigenação face à chegada
de brasileiros de todas as regiões, principalmente de São Paulo, Minas Gerais, Rio
Grande do Sul, Paraná e parte do Nordeste,
além da forte descendência indígena. Entre
1960 e 1980, a população cresce quase
oito vezes, passando de 70 mil para 500 mil
habitantes. E somente em 1981, Rondônia
ganha a condição de estado.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística – IBGE, em 2008 a população
foi estimada em 1.493.566 habitantes, o que
representa um crescimento de 2,738% em
relação à contagem de 2007. Pelos números,
Rondônia aparece como o terceiro estado
mais populoso e o mais denso da Região
Norte, possuindo o terceiro melhor Índice de
Desenvolvimento Humano - IDH, o quarto
melhor de educação e a melhor renda de
toda a região.
Os números reforçam também a diversidade
natural. Rondônia tem o privilégio de situar-se
reservas biológicas, três estações ecológicas,
24 reservas extrativistas, duas florestas nacionais, 11 reservas estaduais e 21 reservas
indígenas.
A fauna e a flora formam o mais exótico espetáculo natural. Várias espécies de animais,
vegetação multicolorida e frutos saborosos
fazem parte do ‘cenário’ rondoniense. Ao
todo são 52 municípios, e em todos eles há
sempre algo interessante para ser apreciado
e emoção para quem gosta de aventura. Mas
também há lugares para quem prefere a tranquilidade, como hotéis-fazenda e pousadas
ecológicas.
História - “Azul, nosso céu é sempre azul.
Que Deus o mantenha sem rival; cristalino,
muito puro. E o conserve sempre assim. Aqui
toda a vida se engalana. De beleza tropical;
nossos lagos, nossos rios; nossas matas, tudo
enfim”. A letra do Hino do Estado de Rondônia,
de composição de Joaquim de Araújo Lima, um
dos ex-governadores, quando ainda se chamava Território do Guaporé, mostra a fascinação
de quem tem amor pela natureza.
Agora, se o viajante preferir e tiver curiosidade sobre os monumentos históricos de
Rondônia, tem que dar uma passadinha na
capital, pois quase todos estão concentrados
Rio Madeira,
onde navegam
homens
e vive uma
rica fauna
corrente contínua
na divisa com Amazonas, Mato Grosso, Acre
e Bolívia. Dos mais de 238 mil quilômetros
quadrados, dois terços estão cobertos pela
floresta amazônica. Para quem tem paixão
pela natureza em seu estado mais original, vai
encontrar ali as melhores áreas protegidas da
Amazônia brasileira, por meio de uma rede
de conservação de terras indígenas, florestas
tropicais inundáveis, além de savanas, campos
naturais e pantanais.
Nas reservas extrativistas é possível vivenciar e conhecer os costumes e sabedorias
dos povos da floresta. Nos parques nacionais,
estaduais e municipais são realizados passeios
em trilhas, safáris fotográficos e cruzeiros
fluviais. No total, são dois parques nacionais,
três parques estaduais, três municipais, quatro
47
Monumentos
e a estrada
de ferro
Madeira
Mamoré:
registros
históricos
corrente contínua
em Porto Velho. Como, por exemplo, o Prédio
do Relógio, construído no início do século XX.
Seus belos vitrais mostram os ciclos econômicos da região. Hoje é sede da Fundação
Cultural e do Museu Estadual. A arquitetura
lembra uma locomotiva estilizada. Já a Praça
das Três Caixas D’Água, vindas embaladas
dos Estados Unidos no começo do século
para servir à Estrada de Ferro MadeiraMamoré, é o símbolo oficial da cidade. Ainda
em Porto Velho pode-se conhecer a catedral
do Sagrado Coração de Jesus, construída
em 1927 por padres salesianos, o maior e
mais belo santuário rondoniense. Suas obras
48
internas e o estilo colonial dão um contraste
interessante à paisagem amazônica. Está
localizada no extremo do bairro Caiari.
Mais à frente fica a sede da Prefeitura Municipal, à direita o Colégio Barão do Solimões,
um dos institutos educacionais públicos mais
tradicionais da cidade. Nas proximidades também se encontra o Palácio Presidente Vargas,
sede do Governo do Estado. O prédio, construído em 1949, foi tombado pelo Patrimônio
Histórico. Foi lá que aconteceu a sessão
pública de instalação do Estado de Rondônia.
Já o Mercado Cultural, construído em 1915,
e que funcionava como Mercado Público,
acabou sendo destruído por um incêndio
em 1966, mas recentemente foi reconstruído
com os boxes originais, únicas estruturas que
resistiram ao fogo criminoso. Atualmente, o
prédio é destinado a eventos culturais e venda
de produtos regionais, além de ser o ponto de
encontro de artistas locais.
A 700 quilômetros da capital, um monumento histórico é roteiro certo para turistas
interessados no passado da segurança da fronteira nacional: o Real Forte Príncipe da Beira, à
margem direita do Rio Guaporé, fronteira natural entre Brasil e Bolívia, que chama a atenção
pela arquitetura rústica do século XVIII.
Artesanato e festas - Sob forte influência
indígena, o artesanato local é geralmente
produzido de forma colorida, alegre e bonita,
Foto: Beth Farias
inteira. À margem de rios, lagos e igarapés,
centenas de famílias mantêm o costume
religioso popularmente conhecido como
festejos. As manifestações de fé têm força
devido às crenças em superstições e mitos,
bem como as lendas da cobra grande, da
mãe da mata, do mapinguari, do curupira e
do boto-cor-de-rosa.
As festas mais expressivas ocorrem ao
longo dos principais rios - Madeira, Mamoré e
Festa do
Divino: nos
rios e igarapés
se juntam
famílias
brasileiras
e bolivianas
A ‘biojóia’ rodoniense
corrente contínua
Fotos: Regineth Tavernard
aproveitando todos os detalhes que a natureza
oferece: sementes, penas de pássaros, dentes
de animais, castanhas, galhos, palhas e madeiras. São peças simples, mas que surpreendem
por sua beleza. Atualmente, a ‘biojóia’ rondoniense está sendo amplamente exportada para
diversos países.
Para muitos ribeirinhos, os elementos da
natureza não são apenas cenários, e sim
o modo de se viver de uma comunidade
49
corrente contínua
Guaporé. A religiosidade e a devoção
aos santos padroeiros movimentam
os pequenos distritos, entre eles
Nazaré, Demarcação, São Carlos,
Calama, Prosperidade, Ilha
Grande e Nova Esperança. Ao
contrário das grandes cidades
brasileiras, as procissões nesses lugares são realizadas
à beira dos ‘barrancos’. Judith
dos Santos, de
86 anos (foto
abaixo), participa
até hoje dos festejos do distrito de São
Carlos. Ela fala com
entusiasmo sobre a
devoção que os
moradores desses pequenos
lugarejos têm pelos santos
padroeiros: “Desde que me
entendo por gente estou envolvida nessas festas, que são
extremamente sagradas para
nós ribeirinhos.
Tive dez filhos, e todos
de parto normal, e tenho certeza
que todos eles tiveram a proteção
divina desde o nascimento”.
Já no Vale do Guaporé, a Festa
do Divino Espírito Santo é uma
das maiores e mais importantes,
pois aproxima famílias ribeirinhas
bolivianas e brasileiras. A peregrinação das comunidades que
moram às margens dos rios Mamoré e Guaporé - que fazem divisa
com o Brasil e a Bolívia - mobiliza
principalmente as cidades de Costa Marques,
Pedras Negras, Rolim de Moura do Guaporé,
Pimenteiras, Versalhes, Remanso e Piso Firme, sendo as três últimas na Bolívia.
50
Jerico – Já ouviu falar da Fórmula 1 da
Amazônia? Não? Então imagine um cenário
com arquibancadas, camarotes, bandeirolas e, na pista, muita lama, pilotos cheios
de adrenalina fazendo diversas curvas em
‘supermáquinas’. Jericódromo, esse é o lugar
onde se pratica a Corrida de Jericos Motorizados. Os ‘jericos’ são montados a partir de
peças de modelos diversos. Cada jerico chega
a até 60 km/h e possui força para puxar um
Folharal, personagem exclusivo
do boi-bumbá estadual
caminhão. O esporte inventado por produtores rurais tem público certo, já que a corrida
é realizada todos os anos em comemoração
ao aniversário da cidade de Alto Paraíso. Este
ano a pequena cidade recebeu mais de 30
mil pessoas.
Na capital, a peça o ‘Homem de Nazaré’,
com mais de 300 integrantes, é encenada na
cidade cenográfica Jerusalém da Amazônia, o
Corrida maluca: jericos motorizados chegam a 60 km/h
que acontece há 28 anos em Porto Velho.
Botos que dançam e emprenham donzelas,
iaras que seduzem os homens e os levam
para seus reinos encantados, e o Folharal,
personagem exclusivo do boi-bumbá estadual.
Além de contar com personagens tradicionais
de quadrilha como os doutores da vida e da
cachaça, seringueiro, caçador, personagens
que traduzem a cultura local.
corrente contínua
segundo maior teatro a céu aberto do mundo.
A peça foi criação do Grupo Êxodo, formado por
jovens religiosos que disseminam a arte e a fé
num espaço no meio da floresta. Agora entre todas as manifestações culturais, a que não pode
deixar de ser citada é o Flor do Maracujá.
O mundo fascinante das lendas e mitos
tradicionais da Amazônia são revelados em
dez noites no maior arraial do Norte do Brasil,
51
corrente contínua
De acordo com a professora e historiadora
Yêdda Pinheiro Borzacov, a festa foi batizada
como Flor do Maracujá porque as moças, em
meados da década de 1950, embelezavam
seus cabelos com as exuberantes flores da
fruta, que ali existiam, no terreiro onde a
comunidade dança. “Os moradores nomearam a quadrilha em homenagem às flores
do maracujá, que durante o mês de junho
apareciam em abundância naquela região.
Os rondonienses têm orgulho de realizar uma
das maiores e mais expressivas festas com
manifestações da cultura indígena e nordestina”, afirma Yedda, que foi também uma das
idealizadoras do evento.
52
Culinária - A cozinha rondoniense é farta
em aromas e sabores, devido à multiplicidade
de pratos que acrescentaram peculiaridades
de cada região brasileira e receitas de outros
países. De acordo com Débora Cavalcante,
que trabalhou durante 24 anos na área de
turismo, Rondônia adotou vários pratos de
diferentes lugares. “Nossa gastronomia tem
forte influência do Brasil inteiro, pois aqui foi
um dos lugares que mais recebeu migrantes de
todo o território nacional”, afirma. Os cardápios
dos restaurantes locais acrescentam aos pratos
migrados, ingredientes que a floresta oferece.
Portanto, não tenha medo de se deliciar com
pratos como churrasco, feijoada, caruru, pato
no tucupi, baião de dois, arroz carreteiro, maniçoba, vatapá, tacacá, entre outros.
Mas o forte da culinária rondoniense são os
peixes amazônicos, que têm como traço cultural
característico a técnica de preparo indígena.
Seja de couro ou de escama, de pequeno
ou grande porte, frito, assado, ou cozido, são
inúmeras as receitas, e entre as espécies mais
consumidas estão tucunaré, tambaqui, jatuarana, piranha, dourado, cachara, pacu, sardinha,
pirarara, pirapitinga e o pirarucu. Conhecido
como bacalhau da Amazônia, o pirarucu pode
ser consumido com farinha d’água, temperado
com limão e pimenta de cheiro, pode ser preparado seco, salgado ou fresco, com os mais
variados condimentos nativos.
Já uma das marcas deixadas pelo país
vizinho foi a Salteña. De influência boliviana, a
Salteña é recheada com batata, carne bovina
ou frango, e é o pedido certo em qualquer
barzinho, padaria, lanchonete de escolas e
praças ou feiras das cidades que ligam Porto
Velho a Guajará-Mirim, município que fica na
fronteira com a Bolívia. Saltenã com suco de
cajá é uma delícia!
Aprenda a saborosa
receita do ‘pirarucu
metido a besta’
Ingredientes
(para duas pessoas)
· 500g de pirarucu em lascas (seco)
· 2 batatas
· 1 pimentão
· 2 tomates
· 3 cebolas
· 2 ovos
· Azeitonas verdes
· Ervas de cheiro e urucum
Preparo:
· Deixe o pirarucu de molho durante 12
horas em água fria, trocando de tempo em
tempo. Escorrer.
· Corte a metade da cebola em rodelas e
despeje no fundo da panela de barro.
· Coloque as lascas de pirarucu e distribua, por igual, as rodelas de batata, o
restante da cebola, tomate, pimentão, os
ovos e as azeitonas.
· Regue com tintura de urucum e as
ervas de cheiro.
· Deixe cozinhar com a panela tampada,
por 20 minutos.
· Se necessário, acrescente sal a
gosto.
· Sirva com arroz branco e pirão.
Receita preparada pela chef
Débora Cavalcante, do restaurante
Beiradão, Porto Velho (RO)
Na década de 1980, um poste de
madeira foi fincado na esquina da
Avenida Jatuarana com a Rua Cravo
da Índia, no bairro Cohab Floresta,
em Porto Velho. Até aí tudo bem.
Durante alguns anos era apenas
um entre tantos na cidade. Num ato
silencioso e inusitado, após algum
tempo o ‘poste’ se rebela exigindo
seu espaço, na luta contra fios e
ferragens colocados pelo homem a
serviço do abastecimento da rede de
energia elétrica. Dele surgem galhos
e flores, e sua verdadeira identidade
é descoberta: um ipê-amarelo. Foi
uma surpresa para os moradores
do local, que sensibilizados com
a ousadia da natureza, passaram
a ser verdadeiros guardiões e contempladores do ‘poste-ipê’.
Com o objetivo de preservá-lo,
a Secretaria do Meio Ambiente
solicitou à empresa distribuidora
de energia elétrica estadual que
fosse transferida a fiação para um
poste de concreto, instalado ao
lado da árvore. Hoje, o ipê não é
mais poste, mas ainda é possível
ver no tronco dele a ferragem onde
passava a fiação. Curiosos de vários
lugares já passaram pelo local para
conferir a história do ipê teimoso,
que floresce sempre no final do mês
de julho ou início de agosto, e que
virou uma doce atração na cidade.
“É uma obra da natureza que não
tem explicação”, diz o comerciante
Diocleciano Nogueira, morador do
bairro desde 1985. “Plantei quatro
mudas dele em frente à minha casa
e já enviei também algumas para
fazendas do interior”, conta Diocleciano, que acompanhou a trajetória
da árvore e o seu desejo de viver,
numa grande demonstração de que
a natureza pode até demorar, mas
não falha.
Fotos: Priscila Leite Costa
corrente contínua
O ipê-amarelo
que virou poste,
ou o poste que
virou ipê-amarelo
53
CORREio contínuo
“Meu nome é Willian de Oliveira Marques, sou o atual presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Elétrica da
Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT. Venho buscar informações sobre o recebimento da revista Corrente
Contínua, como me cadastro, o que é necessário para receber. É importante ser dito que esta revista irá circular entre os
acadêmicos da instituição, e seria muito importante que os estudantes tivessem acesso a revistas do setor para ficarem
antenados com as novidades que são frequentes em nossa área. Desde já agradeço”.
Willian de Oliveira Marques - Cuiabá - MT
“Prezado senhor Jorge Palmeira, diretor-presidente da Eletronorte, cumprimentamos vossa senhoria e agradecemos o envio
da revista Corrente Contínua da Eletronorte. Na oportunidade, informamos o nome do novo secretário de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Sr Gilberto Uemura. No ensejo, colocamo-nos à disposição para futuras parcerias”.
Francisca Jane Rios Gonçalves
- Chefe de Gabinete da Seapa
“Cara Érica, somente hoje tive condições de fazer a leitura da matéria referente ao GIT. É gratificante esse contato com
uma história cheia de particularidades que, no dia a dia, parece irrelevante, mas depois de algum tempo tem um significado
todo especial. E tudo isso só é possível pela forma organizada como vocês jornalistas relatam tais fatos. É como fazer uma
viagem ao passado e conseguir enxergar cada momento, com suas paisagens e diálogos específicos. Só há duas coisas
a serem ditas no momento: parabéns pelo trabalho e, acima de tudo, muito obrigado pela oportunidade que me deu, de
passear por uma história gratificante de transformação na minha vida”.
Carlos Olimpio Casseb Quebra
- Regional de Transmissão do Pará - Belém - PA
“Prezada Bruna, recebemos a revista Corrente Contínua referente a maio/junho, que contém a entrevista com o
engenheiro Airton Silveira, da Eletrosul. Apenas uma ressalva, já que o nome saiu grafado errado (Airton Araújo Silveira),
quando o correto é Airton Argemiro Silveira”.
Lucimar Mondini Polli
- Assessoria de Comunicação Social e Marketing da Eletrosul - Florianópolis - SC
“Caro Alexandre, acabo de receber o nº 226 da Corrente Contínua e aproveito para parabenizar a todos vocês da
redação e, em especial Byron de Quevedo, pelo belo trabalho da reportagem sobre as eclusas de Tucuruí. Aqui no sudeste do Pará essa obra é vista como uma urgência, e o tema suscita muito interesse. A reportagem de vocês, inclusive,
fornece dados importantes de pauta para uma abordagem atualizada no nosso jornal Correio do Tocantins sobre o assunto.
Sempre temos colhido boas pautas baseadas no ótimo trabalho desempenhado por vocês. Parabéns e sucesso a todos,
desde a equipe de jornalismo até à de fotografia”.
Patrick Roberto Carvalho
- Editoria do Correio do Tocantins - Marabá - Pará
“Agradeço a doação e o recebimento da revista Corrente Continua, Ano 31, numero 226, maio/junho de 2009. Sua
doação vem ajudando as pesquisas de nossos usuários. Solicito a continuação da doação desta publicação para a Secretaria de Estado de Meio Ambiente – Sema – Núcleo de Documentação e Arquivo”.
Rosa Elena Leão Miranda
- Bibliotecária da Sema - Belém - PA
corrente contínua
“ Senhor diretor-presidente Jorge Palmeira, agradecemos o envio da revista Corrente Contínua, da Eletronorte. Na
oportunidade vimos parabenizá-lo, bem como os demais colaboradores dessa revista”.
Maria Lúcia Cavallari Neder
- Reitora da Universidade Federal de Mato Grosso - Cuiabá - MT
54
“Gostei muito da reportagem Saudades do Guamá, da revista Corrente Contínua número 226 - maio/junho-2009.
Curiosidade: na página 65 consta a receita do biscoito amor-perfeito da D. Naninha. Nos ingredientes fala em um prato de tapioca. Fiz uma consulta a diversos colegas aqui do Tocantins, perguntei qual é o prato da tapioca e ninguém
soube explicar. Poderiam nos esclarecer?”.
Demerval Ferreira da Silva
- Regional de Transmissão do Tocantins
- Palmas – TO
N.R.: trata-se de um prato raso de tapioca, também conhecida como araruta ou polvilho. Equivale a mais ou menos 200g.
Cidade estica garganta
presa respira ar escuro
Casa sobre outras
arranha céu
Ferreiro vai pro alto com
a mão a nuvem cata
Não nós, nós ficaremos
A cuidar do chão, dos
bichos e da mata
Lanças lançadas ao fundo
são facas, facão, estacas
Ouro, diamantes
dos pés se afastam
Maquineiros mergulham
nas terras: ponta de metal
igual redemoinho
Mas não nós, nós ficaremos
A cuidar das pedras e caminhos
Texto: Byron de Quevedo
Foto: Rony Ramos
corrente contínua
fotolegenda
Mundo emprestado aos
bravos tá sofrendo!
Estão indo embora
os astronautas
Pássaros estranhos
luas ultrapassam
Nós não, nós ficaremos
A cuidar dos rios,
lagos e cascatas
55

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