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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES CENTRO DE PESQUISA EM COMUNICAÇÃO O VAMPIRO NO CINEMA: Um estudo de caso sobre as ações de comunicação do filme Lua Nova. Ana Gariglio Lima Fernanda Andrade Januzzi Gabriela Pontes Vaz Isabella Cristina Ferreira dos Santos Belo Horizonte 2010 2 Ana Gariglio Lima Fernanda Andrade Januzzi Gabriela Pontes Vaz Isabella Cristina Ferreira dos Santos O VAMPIRO NO CINEMA: Um estudo de caso sobre as ações de comunicação do filme Lua Nova. Projeto Experimental apresentado ao curso de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para a conclusão do curso e obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda. Orientador: Robertson Mayrink Supervisora: Terezinha Cruz Pires. Belo Horizonte 2010 3 RESUMO As estratégias de marketing necessárias para tornar um filme um sucesso comercial envolvem várias etapas, da temática à forma de distribuição da obra. Devido a sua grande importância no imaginário social, a imagem do vampiro foi apropriada pelo cinema. Obras de tema vampiresco mobilizam grandes públicos. A representação cinematográfica desta personagem mudou através dos anos, bem como a sociedade em que está inserida e o público para o qual ela é direcionada. Para o estudo de caso do presente trabalho, usar-se-á o filme Lua Nova (New Moon. EUA: 2009), segundo episódio da Saga Crepúsculo (Twilight Series), para a apresentação das ações de marketing que, com foco na internet, tornaram a marca uma das mais rentáveis do cinema. Palavras-chave: marketing cinematográfico, vampiro, cinema. 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................................05 1. DO TERROR AO ROMANCE, A IMAGEM DO VAMPIRO ATRAVÉS DOS TEMPOS..................................................................................................................................09 1.1 O mito do vampiro e sua importância no imaginário social......................................... 09 1.2 O vampiro no cinema........................................................................................................10 2. O MARKETING NO CINEMA........................................................................................ 31 2.1 Os gêneros..........................................................................................................................32 2.2 O star system...................................................................................................................... 33 2.3 As sessões pré-teste............................................................................................................35 2.4 O cartaz..............................................................................................................................37 2.5 O trailer..............................................................................................................................38 2.6 O rádio e a TV................................................................................................................... 40 2.7 O merchandising................................................................................................................43 2.8 A internet........................................................................................................................... 47 3. LUA NOVA: A CONSTRUÇÃO DE UM BLOCKBUSTER............................................52 3.1 Análise decupada de Lua Nova........................................................................................ 53 3.2 As ações de marketing da Summit Entertainment........................................................... 64 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................. 76 REFERÊNCIAS......................................................................................................................79 REFERÊNCIAS FILMOGRÁFICAS...................................................................................84 5 INTRODUÇÃO A sétima arte gera fascínio em espectadores de todas as idades. As imagens cinematográficas seduzem, principalmente, pela sua característica de oscilar entre o real e a ficção, entre o fantástico e a ilusão. E não é a alienação a responsável pelo encantamento. Saber os segredos por trás de uma obra não impede a contemplação. Até mesmo na era da informação imediata, das possibilidades de conhecimento quase irrestrito, o cinema encanta, mobiliza e gera inquietação. As imagens fantásticas tiram o homem das correntes que o real impõe. Desde o início o cinema tem o poder de fazer o espectador transitar entre a realidade e a ficção dentro da sala escura. É famosa a reação dos expectadores à primeira exibição pública de um filme, feita pelos irmãos Lumière em 1895: Daí a grande importância da platéia ter se assustado naquele 28 de dezembro, durante a projeção do filme L'Arrivèe d'un Train en Gare de la Ciotat, que mostrava uma locomotiva se aproximando de uma estação ferroviária em perspectiva que sugeria que a composição fosse "invadir" a sala de exibição. Consta - mas não se comprova - que muita gente chegou a se levantar de suas cadeiras para "fugir" do trem que chegava, numa reação completamente infantil e ingênua para os dias de hoje, mas que serviu para divulgar ainda mais o novo invento, naquele final de 1895. (SABADIN, 2000, p. 50) O fato ilustra também o tipo de participação do público em determinados filmes. Junto com o cinema nasceu a categorização de filmes em gêneros: drama, comédia, aventura, documentário, western, suspense, ficção científica, terror, entre outros. A cada tipo de filme, o público costuma responder com reações características, participando de forma intensa, dependendo do jogo narrativo praticado. Neste contexto, o gênero terror provoca reações diversas que vão do medo ao fascínio, da recusa inicial a uma intensa participação. A narrativa fantástica atrai as pessoas desde a infância. As histórias que as mães contam antes de dormir e as antigas histórias de terror reafirmam a tradição oral de ouvir, criar e contar histórias. Muitas histórias viram mitos, ou vice-versa. E talvez, na história do fantástico no cinema, não exista mito mais emblemático do que o do vampiro. 6 Mitos de criaturas que bebem sangue estão presentes em quase todas as culturas. Segundo Costa, citado por Ribeiro, São milenares as lendas de seres que sugam sangue e energia em várias culturas. No ano remoto de 600 a.C. na China, há registros de um demônio chamado giangeshi que bebia sangue; também na Babilônia, Assíria, Egito, Grécia e Roma; o “katakhanoso” e o ”baital” do sânscrito, o “upity” russo, o “upiory” polonês, o “urykolaker” grego. São entidades ou lendas autóctones, isto é, surgiam em cada lugar sem possibilidade de uma interinfluência das mais diversas regiões, pois até no Peru pré-colombiano há registros delas: o “canchus” ou “pumapmicos”, que bebiam sangue de jovens adormecidos, assim como sacerdotes astecas que bebiam sangue para ter a energia do sol. (2009, p.2) Em todos eles persiste a idéia de sangue como fonte de vida. O vampirismo encanta, em um primeiro momento, por seu caráter sexual, mas logo surge o cenário da violência, do vermelho vivo, o sangue que representa a vida. O vampiro supera a morte, temida por toda a humanidade. O mito do vampiro esta presente no imaginário das pessoas como um dos temas mais sedutores e cruéis que já existiram. O horror nos atrai porque ele diz, de uma forma simbólica, coisas que teríamos medo de falar de boca cheia, aos quatro ventos; ele nos dá a chance de exercitar (veja bem: exercitar, e não exorcizar) emoções que a sociedade nos exige manter sob controle. (KING, apud RIBEIRO, 2009, p.4) Devido a sua relevância no imaginário social, o mito do vampiro também foi apropriado pelo mundo das imagens em movimento. No o cinema, a imagem do vampiro também sofreu alterações ao longo do tempo. E para a formulação do primeiro capítulo deste trabalho, apresentar-se-á uma trajetória da imagem do vampiro no cinema. O panorama construído pelo grupo para este trabalho foi realizado através da análise de obras que tratam sobre a temática vampiresca no cinema. A escolha destes filmes teve como critério a sua visibilidade no ambiente cinematográfico e seu potencial como referencial para traçarem-se as alterações sofridas pela imagem do vampiro. A imagem do vampiro mudou. E esta alteração vai de encontro à modificação da sociedade na qual está inserido. Assim como qualquer outro personagem, o vampiro está exposto à opinião pública e a necessidade de autoidentificação do espectador. Segundo Morin, O imaginário se estrutura segundo arquétipos: existem figurinos-modelo do espírito humano que ordenam os sonhos e, particularmente, os sonhos racionalizados que são os temas míticos ou romanescos. Regras, convenções e gêneros artísticos 7 impõem estruturas exteriores às obras, enquanto situações-tipo e personagens-tipo lhes fornecem as estruturas internas. [...] A indústria cultural persegue a demonstração à sua maneira, padronizando os grandes temas romanescos, fazendo clichês dos arquétipos em estereótipos. (2007, p. 26) Os arquétipos são importantes para a construção da relação do expectador com o personagem. O vampiro é um arquétipo que exemplifica os medos humanos. A própria escolha do personagem vampiro para uma obra cinematográfica, já constitui uma estratégia para conquistar o público. Mais do que uma forma de arte, o cinema se tornou uma indústria. Suas produções e seus esforços estão intimamente ligados a geração de receita. O filme deixa de ser o produto de uma indústria isolada e passa a ser parte de uma gama de artigos culturais produzidos por grandes conglomerados multinacionais, cujo principal interesse pode estar mais na eletrônica ou no petróleo do que na construção de imagens mágicas para a tela. (ARAÚJO; CHAUVEL, 2004, p.22) A metodologia utilizada para aprofundar o estudo sobre o mito do vampiro e as estratégias de marketing no cinema foi feita com base em uma revisão bibliográfica sobre tais temas. Mas é fato que “[...] o sucesso de um filme não depende apenas da sua qualidade, ou mesmo da sua forma adequada a uma vasta gama de espectadores. O sucesso depende, muitas vezes, da publicidade antes da sua estréia.” (PERESTRELLO, 2008). Por isso torna-se necessário uma investigação sobre os dispositivos responsáveis pela promoção de um filme, configurando-se o segundo capítulo. Apresentar-se-á neste trabalho outro breve panorama, que visa neste caso, contextualizar as estratégias de marketing para o lançamento do filme Lua Nova (New Moon, EUA, 2009) do diretor Chris Weitz. Através de pesquisas sobre artigos e reportagens, além de conteúdos relacionados em comunidades e mídias sociais. Para tal, serão citadas obras relevantes neste sentido, seja por seu pioneirismo ou por sua visibilidade e sucesso. Por fim, tratar-se-á sobre as estratégias e ações utilizadas para o lançamento do filme de temática vampiresca Lua Nova, parte integrante da saga Crepúsculo (Twilight, EUA, 2008). A obra vem se apresentando como uma das franquias cinematográficas mais rentáveis de todos os tempos e responsável por levar milhões de jovens em todo mundo às salas de 8 cinema. Neste caso em específico trataremos das ações voltadas para a divulgação do filme e a importância da internet como mídia democrática de profundo alcance. Assim, pretende-se pesquisar o problema que direcionou a definição deste tema: “Quais as estratégias que ajudaram o filme Lua Nova a se transformar em um sucesso de bilheterias.”. 9 DO TERROR AO ROMANCE, A IMAGEM DO VAMPIRO ATRAVÉS DO TEMPO 1.1. O mito do vampiro e sua importância no imaginário social O vampiro talvez seja uma das crenças mais universais. Em várias civilizações contamse histórias sobre algum tipo de demônio que se alimenta de sangue e representa grande perigo. Ainda que seu nome varie de cultura para cultura, suas histórias guardam semelhanças. As histórias são infindas. O mito do vampiro sempre foi muito presente nas culturas de todo o mundo. E em cada uma delas é possível notar os medos e os contornos aferidos por cada povo em relação à criatura, mas que não deixam de ter uma conexão. Segundo Legros (2007) “Karl Abraham, discípulo de Freud, os assemelha [mitos] aos sonhos coletivos, pois seus motivos apresentam uma analogia muito densa, também sobre o plano formal, com os materiais oníricos1.” (LEGROS, 2007, p. 22). Upierczy ou Upuir é um vampiro polonês ou russo que ataca os humanos com um ferrão instalado na ponta de sua língua. Essas criaturas tinham somente como ponto fraco o fogo e ao serem atacadas com ele explodiam, espalhando animais vis. Para os Ashanti, grupo étnico africano, o Obayifo era uma espécie de bruxo ou bruxa que bebia o sangue de crianças, mas poderia também atacar a plantação, em especial a cultura de cacau. De acordo com a mitologia, Obayifo saia à noite sob o aspecto de uma pessoa ou de uma bola de luz intensa. Histórias chinesas antigas contam sobre uma criatura chamada Ch’Iang Shi ou Jiang Shi, um morto-vivo que se alimentava da energia vital das pessoas. Para se manter a salvo do 1 Adjetivo relativo ao sonho, que se assemelha ao sonho. 10 monstro era necessário jogar uma porção de arroz no chão para distraí-lo. A criatura contaria todos os grãos antes de continuar seu caminho. Assim como suas fraquezas, aspectos e nomes, a origem do vampiro também é muito diversa. Algumas histórias falam sobre Lilith, a primeira mulher de adão. Outros citam Caim ou Judas. Em algumas histórias o vampiro é uma alma que não consegue ter paz entre outros. Strigoi, de origem romena, seria o tipo de vampiro mais conhecido e que deu origem ao famigerado Drácula. A história de Drácula certamente é a mais relevante para este estudo, visto que sua popularidade se deu através do livro de Bram Stoker, posteriormente adaptado para o cinema. Drácula foi inspirado no Conde Vlad Tepes, o Empalador, que governou a Valáquia por três reinados. Drácula, Dracul - dragão, eua - filho, ficou conhecido por criar inúmeras técnicas de torturas. Devido ao seu sadismo, o "filho do dragão" passou a ser chamado também de "filho do diabo", segundo as lendas da época. O conde Vlad conseguiu se tornar um mito em seu próprio tempo. O que chamou a atenção de Stoker para a criação do seu personagem sombrio, levando em conta não somente a biografia de Vlad, mas também a simbologia e as histórias relacionadas ao ser mitológico que o príncipe se tornou. Segundo Mcnally e Florescu, Drácula era de fato um autêntico príncipe da Valáquia do século XV, que foi frequentemente descrito em documentos alemães, bizantinos, eslavos e turcos do seu tempo, e em histórias de horror populares como um governante cruel, egoísta e possivelmente louco. Ele se tornou mais conhecido pela quantidade de sangue que indiscriminadamente derramou, não apenas o sangue dos turcos infiéis – os quais pelos padrões de seu tempo fariam dele um herói – mas pelo de alemães, romenos, húngaros e outros cristãos. Sua mente engenhosa concebeu todas as espécies de torturas físicas e mentais, e sua maneira favorita de matar fez com que se tornasse conhecido pelo nome de “o Empalador”. (1995, p.18) Assim como Drácula, muitos outros vampiros foram transportados ou criados na literatura. Devido a sua importância no imaginário popular, obras que tratam sobre a temática do vampiro obtêm grande interesse do publico. 11 O VAMPIRO NO CINEMA A primeira obra cinematográfica sobre vampiros foi uma produção de 1896. Durava apenas cerca de dois minutos e segundo MacNally e Florescu: “em uma cena um gigantesco morcego voando perto de um castelo medieval de repente se transforma em Mefistóles [...] um cavaleiro medieval chega com um crucifixo e em confronto com ele o diabo desaparece numa nuvem de fumaça”. Ainda segundos os referidos autores, “a maior parte dos primeiros filmes mudos sobre vampiros era sobre ‘vamps’ – mulheres sedutoras que encantavam ou cativavam homens” (1995, p.263). Mas será no Expressionismo alemão que a obra vampiresca tomará contornos importantes para este panorama. Portanto, partir de seu contexto histórico torna-se necessário para o entendimento da relevância de seu papel. No início do século XX, os avanços tecnológicos possibilitaram o aumento das produções cinematográficas, ajudando a popularizar o cinema em vários países, incluindo a Alemanha. A produção cinematográfica alemã obteve um grande crescimento, abrindo as portas do país para a entrada de roteiristas, atores e demais profissionais de outras nacionalidades. A eclosão da 1ª Guerra Mundial interferiu na tendência expansiva da indústria cinematográfica alemã, trazendo uma nova realidade à época. “A indústria beneficiou-se ainda mais com a guerra pela interrupção da importação do filme estrangeiro, que permitiu uma ascensão sem concorrência dos produtores, embora não da qualidade dos filmes.” (NAZÁRIO, 1999, p. 139). A indústria nacional, sob o risco de perder seu público, viu-se obrigada a aumentar sua produção para suprir a demanda que, até então, era em parte atendida por filmes estrangeiros. Aliado ao estímulo na produção alemã, no contexto do pós-guerra, surgiu um estilo artístico 12 bem distinto dos demais já existentes, o Expressionismo. Aparecendo inicialmente na pintura, estendeu-se a várias outras formas artísticas, entre elas a fotografia e o teatro, até chegar ao cinema. A atmosfera na qual o Expressionismo nasceu estava fortemente marcada pelo clima de depressão e desilusão quanto ao futuro da sociedade. “Os alemães haviam desistido de poupar seu dinheiro corroído pela inflação, preferindo gastá-lo em prazeres e diversão, sua indústria cinematográfica conheceu enorme criatividade” (NAZÁRIO, 1999, p. 148). Os artistas acreditavam que se não houvesse uma mudança brusca de postura em relação ao caminho que a humanidade estava trilhando, não haveria forma plausível de viver em coletividade, culminando na sua destruição. O expressionismo atribuiu grande importância à subjetividade do artista. Segundo Nazário (1999), o expressionismo é a arte na qual a forma não nasce diretamente da realidade observada, mas de reações subjetivas à realidade, ou seja, sem se comprometer a exibir e retratar a realidade tal como é, e sim dar visibilidade a um mundo ligado ao sentimento, à alma do autor. O movimento apresentava sempre em sua configuração a presença do mal, com seus diferentes tipos de personagens, tais como criminosos, pessoas monstruosas, perversas, sobrenaturais e demoníacas. As narrativas eram bastante fantasmagóricas e somente o verdadeiro amor poderia trazer a salvação e a proximidade de um fim menos trágico. “A procura do imaterial, do outro mundo que se escondia por trás das aparências, era sustentada por um sentimento religioso levado às raias do misticismo.” (NAZÁRIO, 1999, p. 150). Ainda segundo Nazário, “No cinema, o expressionismo encontrou um terreno fértil, ainda aberto a todo o tipo de experimentação.” (1999, p. 158). A agonia em que viviam os artistas alemães utilizou a arte para extravasar. Assim, usaram a [...] temática do horror regada a preto e branco e muitas viragens (Procedimento químico comum no cinema mudo e preto e branco, que tingia as películas de uma cor) como alicerce para a manifestação da idéia expressionista, escancarando ao mundo os fantasmas inconscientes que agitavam o “eu” alemão. (SIMÕES, 2009, p.12) 13 A intenção de converter o sentimento “[...] de inutilidade, de destruição de valores, marca a diversidade de temas e técnicas na cinematografia do começo da década de 20.” (LAWSON, 1967, p. 67). Fazendo com que a maioria dos filmes tenham uma intensidade negativa. Influenciado pelo gótico medieval2, o movimento veio para contrapor a poética do Impressionismo3, explorando aspectos sombrios, presentes na mente alemã do pós-guerra. A característica mais marcante é a cenografia exacerbada, importada de sua forma teatral. Havia uma grande estilização do mobiliário. Os figurinos e a maquiagem eram muito extravagantes, incluindo olheiras marcadas, traduzindo os questionamentos e as inquietações existenciais, e a interpretação bastante pitoresca, contando com o envolvimento de todo o corpo, de forma expressiva e inconstante. Neste estilo, havia forte presença de simbolismos nas cenas. Por exemplo, as ruas vazias e escuras caracterizam a vida depressiva urbana do pós-guerra; os espelhos, uma porta para o além; as escadas, uma metáfora para os altos e baixos da vida dos personagens, que oscilavam de humor com freqüência; além dos livros, representantes de fontes de sabedoria para abater o mal. Os crimes cometidos involuntariamente por heróis neuróticos, juntamente com interferências sobrenaturais, eram constantes nos enredos expressionistas. A animação de objetos, aliada à completa negação da natureza, proporcionavam ainda mais estranheza às cenas. Para aumentar o desconforto originário da cena e enfatizar o seu usual. O enquadramento clássico e os movimentos de câmera sequenciais do cinema clássico foram substituídos pelos jogos de luz e sombra, pela inexistência de transição de planos e pela interação do personagem com a câmera, representada pelo afastamento e aproximação do ator em relação ao equipamento. Todas essas características eram aliadas do diretor em um processo criativo menos engessado. 2 Estilo artístico europeu que predomina entre meados do século XII e inícios do século XV, período compreendido entre o final do estilo românico e o início do Renascimento. 3 Termo usado para designar uma corrente pictórica que tem origem na França, entre as décadas de 1860 e 1880, e constitui um momento inaugural da arte moderna. 14 O primeiro filme expressionista, O Gabinete do Dr. Caligari (Kabinett des Dr. Caligaride, Alemanha, 1919), de Robert Wiene, surgiu dois anos após o fim da primeira guerra mundial, utilizou diversas características desse movimento, marcando o cinema mudo. “O tratamento da iluminação era elaborado, a luz era direcionada para marcar ainda mais as expressões faciais dos atores e contribuir para a implementação do clima sombrio e soturno.” (SIMÕES, 2009, p.19) Lawson (1967) chama essa época do cinema de “fantasia subjetiva, destacando a agressão e a violência”. Estes filmes de terror mostram aquilo que queremos esconder de nós mesmos, sugerindo que todos possuem um lado ruim. Essa nova maneira de pensar a arte rompeu com as tradições e ajudou a elaborar criticas à sociedade alemã, gerando mudanças políticas, sociais e culturais. Um clássico do expressionismo alemão, lendário na história do cinema, é Nosferatu, Uma Sinfonia do Horror (Nosferatu - Eine Symphonie des Grauens, Alemanha, 1922). Visto como uma das maiores criações da sétima arte, utilizou vários efeitos e estratégias do expressionismo para gerar terror. É o primeiro filme a obter êxito ao tratar da temática vampiresca como inspiração para o cinema, dirigida por Friederich Wilhelm Murnau. A obra foi inspirada na novela "Drácula" do escritor irlandês Bram Stoker. O livro, lançado em 1897, foi classificado por muitos da época como vulgar e sensacionalista, mas se tornou extremamente popular de modo geral e em especial no cinema. Apesar das transformações que ocorreram com a lenda de Drácula, este livro influenciou significativamente grande parte dos filmes de vampiros. O filme Nosferatu, apesar de adaptado do livro de Stoker, sofreu algumas alterações, como o nome do vampiro e a troca de nomes de outros importantes personagens da história original. Murnau foi obrigado a proceder às alterações devido a disputas judiciais com a família do autor do livro que não autorizou a adaptação. Mesmo assim, o filme é muito próximo da obra literária. 15 Nosferatu se passa em Bremen (Alemanha) em 1838. O caráter terror é transparecido na forma de um pesadelo. O estilo quase mórbido pode ser percebido no filme em que “... desfilam pássaros sinistros, casas sombrias, grandes espaços vazios, atmosfera pesada, árvores fantasmagóricas que formam labirintos macabros.” (CORRÊA, 2001). O filme se inicia com um trecho da crônica da grande morte em Wisborg, Domini 1938: Nosferatu- Esta palavra não parece com o som do canto do pássaro da morte da meia-noite? Não ouse dizer esta palavra, pois seus pensamentos entrarão na escuridão das sombras. Sonhos fantasmagóricos invadirão o seu coração e beberá seu sangue. (Nosferatu,1922) Thomas Hutter (Gustav von Wangenheim) e a sua jovem esposa Ellen Hutter (Greta Schröder) vivem nesta cidade. Knock, o agente imobiliário oficial, recebe uma carta com códigos e símbolos e o persuadi a encontrar Conde Orlock (Max Schreck). Aproveitando-se da ambição do jovem, Knock o convence que poderá receber muito dinheiro em troca de um pequeno esforço. O objetivo de Thomas é vender-lhe uma casa em frente a sua. Assim, Hutter viaja “para o país dos fantasmas”. Thomas chega a uma estalagem para jantar. Ao contar que pretende ir ao castelo do Conde Orlock, todos se assustam. Apenas um senhor se aproxima e diz que ele não deveria partir por hora, pois era tarde e os lobisomens rondavam a floresta. Hutter passa a noite na estalagem e descobre o livro: Os Vampiros, Terríveis Fantasmas. Magia e os Sete Sinais da Morte que o ajudará posteriormente. Os aldeões temem a noite, pois ela representa o desconhecido, e diante do terror de Orlock, a morte. Ao pedir aos cocheiros que o levem até o Conde Orlock, logo após o pôr do sol, Hutter recebe logo a resposta: “Pode nos pagar qualquer coisa. Não prosseguiremos de jeito nenhum”. (ALVES 2004) O corretor não desiste e se aventura a chegar ao castelo. Recebido pelo Conde, Hutter janta e curiosamente à meia noite, se corta acidentalmente com uma faca. A perturbação de 16 Orlock é evidente, “o precioso sangue” o desmascara por instantes e o jovem se assusta com seu estranho anfitrião. Na manhã seguinte, nota marcas em seu pescoço e entende que “os fantasmas da noite parecem reviver das sombras do castelo” Ainda na primeira manhã de Hutter na mansão, o conde fecha o dito negócio, mas não antes de se encantar com o retrato de Ellen, elogiando o seu belo pescoço. Thomas se vê prisioneiro do vampiro enquanto no mesmo instante a cobiçada Ellen fica em transe e quase cai da sacada da casa de sua irmã: “desde então, sua alma pressentiu a ameaça do pássaro da morte. Realmente Nosferatu abriu suas asas” (Nosferatu,1922) Orlock segue para a nova morada e Hutter, com o caminho livre, foge para reencontrar Ellen. Enquanto isso, o professor Bulwer explica aos seus estudantes os mistérios da natureza. Ao mesmo tempo, Nosferatu mantém sua influência sobre Knock, fazendo o ser internado como louco, se alimentando de insetos sob o discurso: “sangue é vida”. Hutter consegue retornar para sua amada e por meio do livro Ellen descobre como matar o vampiro. Uma mulher pura deve lhe oferecer de vontade própria seu sangue e mantêlo ao seu lado até o galo anunciar o amanhecer, sacrificar-se. “Ela desejou e realmente aconteceu. A Grande Mortandade acabou no mesmo momento, em que os raios do sol triunfaram sobre o pássaro da morte, ele deixou de existir.” (Nosferatu, 1922) Nosferatu introduziu simbolismos que posteriormente seriam amplamente usados na caracterização do vampirismo. Como uma carruagem que atravessa a floresta densa em um cenário envolto em névoa, cavalos, lobos e aldeões ansiosos, cenas góticas, interpretação carregada dos atores, intensificadas pela pintura em seus olhos e outras, castelos sombrios, procissões e pessoas enlouquecidas pelo surto de peste. Orlock é um vampiro angustiado com sua existência, para ele a imortalidade é na verdade um enorme fardo. A grande temática do filme é a solidão e tem no lado sombrio da vida sua maldição. A angústia do Conde, é explorada como uma redenção. Ele é caracterizado como o mal, a personificação mítica do vampiro. Nosferatu é em si uma figura estranha e aterrorizante. 17 No final do filme nota-se que o “tratamento psiquiátrico se impõe ao terror” (LAWSON, 1967, p. 73), quando a heroína supera o seu medo da criatura. E também oferece certa segurança ao espectador com a morte do vampiro. O caos é o ambiente normal dessas películas. Em algumas delas, indivíduos insanos conquistam a sociedade; em outras, seres brutais impõem uma ordem ditatorial; outras mostram homens e mulheres como vitimas fáceis de forças sobrenaturais; outras, ainda, afirmam o crime e a perversão como inelutáveis atributos da condição humana. (LAWSON, 1967, p. 73) Por essas características, o cinema de horror se manteve, e se mantém ainda hoje, como um dos gêneros mais rentáveis. A necessidade humana do contato com o caos, manteve a viabilidade deste gênero após o inicio da era sonora. No fim da década de 1920, o cinema vinha enfrentando problemas com a falta de lucro dos filmes. “Os homens que controlavam a produção comercial, preocupados com a queda de lucros e exigindo ampla recuperação de seus investimentos, começaram a entrar em conflito com os cineastas interessados exclusivamente pela arte” (LAWSON, 1967, p. 111). Os cineastas não eram a favor do som porque, segundo eles, o dinheiro que seria usado para a tecnologia do som seria tirado da criação. A grande inovação que o cinema apresentou foi a entrada dos filmes sonoros, em 1926. “Os Irmãos Warner, estrangulados por sua exclusão dos meios de exibição, lançaram-se ao filme falado como uma jogada desesperada. No dia 6 de outubro, a Warner lançava The Jazz Singer.” (LAWSON, 1967, p. 121). O filme foi sucesso imediato e com o dinheiro arrecadado a Warner investiu no mercado imobiliário e adquiriu mais de 500 salas de exibição. Com a sonorização, segundo Lawson (1967), os produtores se viram em um dilema. Não era possível ignorar o som, os filmes teriam que usar esse artifício, mas receavam mudar radicalmente a forma narrativa do cinema que já era conhecida e marcada. “O emprego do som como meio automático de suplementação da imagem visual, transformando o cinema numa espécie de falso teatro, haveria de marcar todo o seu desenvolvimento futuro.” (LAWSON, 1967, p. 126). Mas para chegar a mudar a história, o cinema falado passou por alguns percalços justamente por se tratar de uma inovação. Alguns 18 atores não haviam passado pelo teatro, outros ainda eram estrangeiros e não sabiam falar inglês. O próprio ator Bella Lugosi para interpretar Drácula tinha que imitar o som das palavras. Além disso, problemas técnicos também foram enfrentados, como a falta de tecnologia para a captação do som. No início da década de 1930, os problemas com o som estavam sendo resolvidos, principalmente em relação aos seus processos técnicos e mecânicos. “Entretanto, a movimentação da câmera e uma interpretação excelente não conseguiram captar o segredo do som como parte da estrutura cinematográfica.” (LAWSON, 1967, p. 136). O som ainda não conseguia se agregar ao desenvolvimento, muitos filmes foram feitos como apresentações teatrais, com a câmera se movendo pouquíssimas vezes. Ainda não era possível mesclar a estrutura cinematográfica com a fala, ela passa a ser usada como um meio de esclarecer certas situações e descrever os personagens. Isso fez com que a imagem não tivesse mais que suportar todo o peso da ação. Como conseqüência, os estúdios passam a contratar pessoas com experiência no teatro. O primeiro filme sonorizado com a temática vampiresca foi Drácula (Dracula, EUA, 1931) dirigido por Tod Browning, interpretado pelo húngaro Bela Lugosi. Esta versão foi baseada principalmente na peça de teatro escrita por Hamilton Deane para a Broadway, em 1927. Apesar de diferenças como inversão de parentesco e exclusão de alguns personagens, a narrativa contém uma fidelidade a obra de Stoker. “O filme mantém uma aura mágica que fascina e mantém seu status de clássico absoluto do cinema de horror.” (KOLLISION, 2004). A presença de bons protagonistas, e “cenários quase oníricos da primeira parte do filme, mantêm o interesse constante ao longo da obra [...].” (KOLLISION, 2004) Bela Lugosi, com sua atuação, estabeleceu um padrão para o personagem lendário: o vampiro só saia à noite, possuía medo de crucifixos, deixava marcas nos pescoços de suas vítimas, estacas de madeira cravada em seu peito poderiam destruí-lo. Além disso, ele transforma-se em morcego, lobo ou em uma espessa névoa, não se reflete no espelho e sente repulsa por alho. Marcou também por caracterizar o vampiro pela elegância e vestimenta formal. 19 Drácula falava de forma pausada e com um ritmo assustador, lembrando mesmo alguém já meio-morto. [...] A fotografia usa da imagem sinistra de Lugosi. Alguns planos de Drácula só olhando para o público com seu olhar sombrio são comuns, e causaram terror quando exibidos pela primeira vez. (PRADO, 2008). O filme se tornou um dos grandes clássicos do cinema e consagrou Bela Lugosi. Pelo medo de chocar a platéia, houve censura em relação à algumas cenas do filme. Com isso os símbolos do vampiro foram amenizados: não existem no longa os caninos do Conde e o sangue das vítimas. Ainda assim, o personagem causa uma reação considerável no espectador. O vampiro é apresentado em sua figura cruel, alheia ao romantismo e indiferente à necessidade de sugar vidas humanas para perpetuar a sua. Drácula é confiante e manipulador, desfere aos humanos olhares cínicos e sarcásticos. Demonstrando toda a sua superioridade, ele está sempre um passo a frente de suas vítimas. Apenas Van Helsing consegue constranger e antecipá-lo. Em 1958, foi lançado o cultuado filme Drácula, o vampiro da meia noite (The Horror of Dracula, Reino Unido, 1958) de Roy Ward Baker, estrelado pelo ator Inglês, Christopher Lee. Até os dias atuais, “Bela Lugosi e principalmente Christopher Lee são considerados os atores que melhor encarnaram o vampiro Drácula e seus nomes foram consagrados, ficando eternamente ligados a esse famoso personagem do horror” (ROSSATTI, 2010) O maior destaque do filme vai para a interpretação do ator, “encarnando magistralmente o vampiro da noite, dizendo poucas palavras e priorizando as expressões faciais, com seus olhos vermelhos de sangue reproduzindo o ódio e o mal absoluto.” (ROSSATTI, 2010). Christopher Lee, com sua aparência aristocrática, estilo formal e sua altura, contribuiu para o longo sucesso da imagem sinistra de Drácula. O ator está associado ao cinema fantástico e na inesquecível atuação de diversos vilões. As sequências produzidas pela Harmmer Filmes têm grande importância para a filmografia vampiresca. Foi o primeiro filme de vampiros a fazer o uso da cor e a mesclar terror com sensualidade, repleto de imagens e momentos memoráveis. A obra traz vários aspectos que fazem com que o enredo seja interessante, como imortalidade, poder e sexualidade. O filme se 20 passa em 1885 e apesar de conter o nome dos personagens do livro de Bram Stoker, não se prende a essa narrativa. Inicia-se o filme com Jonathan Harker (John Van Eyssen) indo ao encontro de Drácula pelo vilarejo de Klausenberg. Porém, quando chega ao castelo, Harker não nota nada de diferente exceto por não haver pássaros cantando e um súbito frio que sente à medida que entra pelos portões. Ele entra, mas em lugar do vampiro, se depara com uma linda jovem pedindo socorro e se dizendo prisioneira do conde. Quando Drácula aparece, a moça foge. Ele então, educadamente mostra ao bibliotecário seus aposentos e se encanta pela foto de Lucy (Carol Marsh). Sem que Harker perceba, o vampiro o tranca. A bela mulher reaparece, o liberta e alega que Drácula é um homem terrível. Seduzindo o homem, ela se transforma em uma vampira e o morde, mas o conde chega a tempo de salvá-lo. Harker se vê vitima do poder do seu algoz e com medo de se transformar em um vampiro, reza para que alguém ache seu corpo e libere sua alma. Decide acabar com a existência do Conde. Quando vê Drácula e a bela jovem em caixões, crava uma estaca em seu peito, transformando-a em uma mulher muito velha. Após transformar Harker em vampiro, Drácula vai para Londres, à procura de Lucy. Dr. Van Helsing (Peter Cushing), amigo do bibliotecário e especialista em criaturas da noite, mata Harker com uma estaca e vai à procura de Drácula. Descobre formas de matar o vampiro, através de luz do sol, alho e crucifixos. Não consegue salvar Lucy de se transformar em vampira e a mata. Van Helsing persegue Drácula, que tenta enterrar Mina (Melissa Stribling), cunhada de Lucy, viva. O doutor encontra o vampiro e deixa cair sobre ele a luz do sol e com uma cruz transforma Drácula em pó. Enquanto isso, Arthur (Michael Gough), irmão de Lucy, consegue salvar Mina de seu sepultamento em vida. 21 A produtora Hammer, responsável pelo filme, fez no final da década de 1950 ressurgir o cinema de horror, com vários filmes do gênero vampiresco, como As Noivas de Drácula (Brides of Dracula, Reino Unido, 1960) de Terence Fisher, Drácula, O Príncipe das Trevas (Dracula, Prince of Darkness, Reino Unido, 1965) de Terence Fisher, Drácula, O Perfil do Diabo (Dracula Has Risen From the Grave, Reino Unido, 1968) de Freddie Francis, Sangue de Drácula (Taste the Blood of Dracula, Reino Unido, 1970) de Marc Rocco, O Conde Drácula (Scars of Dracula, Reino Unido, 1970) de Roy Ward Baker, Drácula no Mundo da Mini Saia (Dracula AD, Reino Unido, 1972) de Alan Gibson, e Os Ritos Satânicos de Drácula (The Satanic Rites of Dracula, Reino Unido, 1973) de Alan Gibson, todos estrelados por Christopher Lee. Na década de 1970, o mundo cinematográfico estava mudando drasticamente e uma nova geração de diretores como Martin Scorsese, George Lucas, Brian de Palma, Francis Ford Coppola e Steven Spielberg reinventaram os gêneros. Na busca por atrair um grande público jovem, esses diretores que possuíam maior liberdade de criação, deram início aos blockbusters, filmes de sucesso de bilheteria, composto por muita ação e efeitos especiais. Seguindo essa linha, o filme A Hora do Espanto (Fright Night, EUA, 1985) de Tom Holland, inspirou diversos outros filmes nos anos 1980, misturando um estilo juvenil, bom humor e terror, tornando-se um clássico da década, Nos Estados Unidos os teen movies, teen pix ou teen flicks – entre outros termos análogos – constituem uma verdadeira tradição, cujo desenvolvimento se tornou considerável dentro da indústria hollywoodiana a partir dos anos 1950. Naquela época, a juventude norte-americana se consolidava como um lucrativo e promissor mercado, disposto a gastar em variados artigos, como roupas, livros, revistas... e filmes. (BERTÚ, 2007, p. 2) A Hora do Espanto foi um marco entre os filmes relacionados a vampiros, pois além de ter sido um sucesso de bilheteria, transportou a temática vampiresca para o universo dos adolescentes. A trama se baseia em elementos clássicos do universo dos vampiros, como dormir em caixão, medo de água benta e crucifixo. Os vampiros se transformam em morcegos e necessitam de convite para entrar na casa de alguém pela primeira vez. Repleto de vários clichês, o filme conta a historia de Charley (William Ragsdale) que desconfia que seu vizinho seja o culpado por vários assassinatos que estão ocorrendo em sua cidade. Ele confirma suas 22 suspeitas quando testemunha a morte de uma bela mulher pelo seu vizinho que possui garras e dentes afiado. Segundo o diretor Tom Holland, o objetivo do filme era fazer um apanhado com todas as convenções de uma tradicional história de vampiros. Peter Vincent (Roddy McDowall) rouba a cena como um dos personagens mais interessantes. Além de ser o conhecedor de todas as histórias de vampiros, o que move a trama do filme, seu nome é uma mistura de dois clássicos do cinema de horror, Peter Cushing e Vincent Price. A Hora do Espanto abriu as portas para outras obras, como Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, EUA, 1987) de Joel Schumacher, que conta a história de Sam (Corey Haim), um garoto que descobre que seu irmão Michael (Jason Patric) é um vampiro. Com a ajuda de mais dois jovens, “caçadores de vampiros”, ele encontra uma gangue, na pequena cidade de Santa Clara. Sam descobre que a única forma de salvar seu irmão é destruir o vampiro chefe do bando. Os vampiros nesse filme estão ligados a uma rebeldia juvenil, grupos de adolescentes arruaceiros que andam de moto, em alta velocidade, sem capacete, que cultuam o falecido vocalista do The Doors, Jim Morrison, dormem durante o dia e vão a festas à noite. Na década de 1980, não foram produzidos filmes de vampiro somente para o público jovem. Em 1983, foi lançado Fome de Viver (The Hunger. Inglaterra: 1983) de Tony Scott, estrelando Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon. Miriam (Deneuve) é uma vampira que já vive por séculos e para se manter sempre jovem usa a juventude de seus companheiros. É o caso de John (Bowie) que após séculos de vida começa a envelhecer rapidamente. Sabendo que John não terá mais uma vida longa, Miriam começa a pensar quem será o seu próximo companheiro, até que um dia vê a Dra. Sarah Roberts (Sarandon) na televisão e faz a sua escolha. Ela transforma Sarah em vampira. A Dra. tenta lutar contra a sua nova condição, mas não consegue, ela se sente fraca e procura sua criadora para ajudá-la. Mas pouco tempo após a transformação da humana, os antigos amantes de Miriam voltariam para vingar o cárcere no sótão em caixões de madeira e, principalmente, o fato de ter roubado a sua 23 juventude. Eles conseguem sua vingança fazendo com que Miriam envelheça. O filme acaba com Sarah tomando o lugar de sua criadora. Fome de Viver foi um dos primeiros filmes a quebrar a idéia clássica de vampiros: eles não possuem dentes afiados, não dormem em caixões e nem morrem ao sair à luz do sol. Eles conseguem se mesclar muito bem na sociedade, mas pode-se encontrar duas características com grande força nesse filme, a sensualidade e beleza dos vampiros. Miriam é interpretada por Catherine Deneuve, uma das belezas mais frias e estonteantes do cinema. Ela se veste de forma extremamente feminina, sempre de vestido, cabelos longos e louros presos de uma forma elegante, além de ser musicista. Já a personagem de Susan Sarandon, Sarah, é o oposto de Miriam, ela se veste de uma forma mais masculina, sempre de calça e blazer, cabelos curtos e é uma cientista, mas isso não faz com que ela perca a sua beleza e seu charme. Além dessas belas atrizes, temos David Bowie que vive John, com uma beleza enigmática e extremamente sedutora. Outros elementos que suscitam essa idéia de beleza e sedução é o fato de todos os personagens fumarem. Na década de 1980, o cigarro ainda era visto como símbolo de elegância. Miriam e John estão sempre muito bem vestidos com chapéu, vestidos longos e suspensórios. A forma como se portam, a maquiagem e os penteados são dotados de bastante estilo. A decoração da casa onde vivem, com muitas esculturas e móveis mais antigos, não são típicas da década de 1980, mas sim de tempos mais remotos, quando a elegância era muito mais presente do que na época em que o filme é passado. A beleza e o charme dos personagens são os grandes responsáveis pela sedução das vítimas. Além da beleza, outro elemento é o sangue, todo o filme é passado em ambientes escuros, as cores mais presentes são o preto, azul e cores fechadas e pesadas, mas em alguns momentos e circunstâncias é possível perceber a presença de somente uma cor forte, o vermelho. O sangue que aparece no filme se destaca de todo o resto, justamente pelo fato de apresentar uma vivacidade muito grande. Outro elemento que chama a atenção são os lábios de Miriam, sempre vermelhos para realçar a sua beleza e para lembrar do fato de que ela é um vampiro e conseqüentemente se alimenta de sangue. 24 O vampirismo nesse filme é velado, justamente pelo fato de que os personagens de Catherine Deneuve e David Bowie não se encaixam no perfil que o espectador conhece desse personagem. Em nenhum momento, a palavra vampiro é mencionada, mas pelo comportamento apresentado pelos personagens e pela cena da transformação de Sarah, se tem certeza da natureza daquelas belas criaturas. Um dos simbolismos adotados no filme está presente no cordão que Miriam e John usam e posteriormente Sarah. Nele, há o símbolo egípcio para Vida Eterna, esse medalhão possui uma faca que é usada pelos vampiros na hora de se alimentar, essa arma representa para os vampiros a vida eterna, mas para suas presas aquele símbolo representa a morte. Como mencionado anteriormente, a fotografia do filme preza por ambientes mal iluminados, em penumbra, apesar do seu exterior sempre apresentar uma claridade intensa. As cenas passadas dentro da casa de Miriam apresentam uma aura gótica. Há tecidos finos que balançam com o vento e mesmo que esses elementos sejam usados para criar ambientes de escuridão e terror, eles ao mesmo tempo dão à cena uma beleza poética e erótica. Na cena em que Miriam transforma Sarah, a textura dos tecidos e a forma como eles voam fazem com que a imagem ganhe leveza, beleza e muito erotismo. Além da fotografia, outro elemento que vale a pena ser citado é a trilha sonora já que “A música sublinha uma cena e, frequentemente, a valoriza.” (LAWSON, 1967, p. 226). Ela é uma mistura de composições consagradas de Bach, Delibes e Schubert, com músicas contemporâneas. Na primeira cena do filme, a banda Bauhaus toca a música “Bela Lugosi is Dead”, em um ambiente gótico, onde John e Miriam procuram as suas presas da noite. Uma clara homenagem ao ator que viveu a lendária figura de Conde Drácula no cinema. Fome de Viver se apóia em cortes secos para conectar as cenas. Esse artifício é usado para mostrar flashback e desejos dos personagens. “Aqui tocamos de perto na importância básica da montagem. Seu objetivo é mostrar, plasticamente, o desenvolvimento da cena, guiando a atenção do espectador, ora para um, ora para outro elemento isolado.” (PUDOVKIN, 1971, p. 129) 25 O vampirismo é visto de uma forma mais racional, dentro de uma ótica cientifica. É retratado como uma doença na qual um tipo sanguíneo invasor, no caso de Fome de Viver é o sangue de Miriam, trava uma batalha contra o sangue da vitima para a sua dominância. Por ser um tipo de sangue mais forte e resistente à doenças, mesmo sendo muito próximo ao tipo sanguíneo do homem, acaba ganhando a batalha. Pelo fato de não saber o que está acontecendo com o seu corpo e não saber quais são as suas necessidades, o processo de transformação é marcado por muita dor, angústia e fome. O filme ilustra as paixões e aspirações humanas, o homem tem fome de viver e muitas vezes procura isso de forma demasiada e sem se importar com os outros. Também tem muito medo de envelhecer, quer ser jovem e belo para sempre e esses desejos são claramente retratados em Miriam. “A fome de viver aperta o indivíduo, que se vê impelido a buscar e dar continuidade de vida através do sangue, o símbolo perpétuo da vida eterna” (ALMEIDA, 1999). Miriam quer permanecer jovem, mesmo que isso custe a vida de seus companheiros e, para conseguir isso, usa o sangue como uma fonte da juventude. Mas o seu final é trágico, pode-se dizer que por mais que ela tente fugir, o tempo vai alcançá-la. Nos anos 1990, as grandes produções dominavam o cinema e a imagem do vampiro como um ser das trevas causava mais interesse por sua aura galante, que pelo terror. Contrariando a maior parte dos filmes até então lançados, Drácula de Bram Stoker, (Dracula, EUA, 1992) de Francis Ford Coppola, criou um vampiro diferente, mais humanizado, erótico e que sofre pelo amor perdido. A narrativa de Coppola é bastante fiel ao livro Bram Stoker. O roteiro foi desenvolvido baseado nos diários que constituem o livro, como o de Harker. Mesmo com o grande numero de filmes que retratam Drácula, somente nessa obra é abordada a questão da origem do vampiro e do sentido de sua condição. Drácula (Gary Oldman) é mostrado como um príncipe, guerreiro das cruzadas, que luta contra os turcos em 1492 d.c.. Em sua ausência, sua esposa Elizabeta (Winona Ryder) recebe uma falsa carta informando a morte de seu marido. Desconsolada, ela comete suicídio, acreditando que no paraíso encontraria seu amado. 26 Ao regressar, o Príncipe é informado que sua esposa não iria para o céu por ser uma suicida. Se sentindo traído, o outrora cruzado, rejeita a Deus: “Levantarei da minha própria morte para vingar a morte dela, com todos os poderes das trevas!” (Drácula de Bram Stoker, 1992), crava sua espada em uma cruz que passa a jorrar sangue. Recolhe o líquido em uma taça e o bebe dizendo: “O sangue é a vida. E ele será meu” (Drácula de Bram Stoker, 1992). Drácula é transformado em vampiro e consumido pelas trevas. Francis Ford Coppola dirige o filme com liberdade, embora se atenha ao conteúdo da obra literária, e mostra Drácula como uma figura sombria e melancólica, um homem que é profundamente infeliz. Diferentemente do mito e das obras anteriores mais conhecidas, o filme não é completamente monstruoso. A história contém elementos realísticos, com fatos sustentáveis e uma visão única: o deslocamento do terror para a busca pelo amor. O lado monstruoso do Conde Drácula fica claro na morte de Lucy (Sadie Frost), mas ele hesita no momento de transformar sua amada Mina (Winona Ryder) em vampira para segui-lo para sempre: "Não, não posso condená-la! Você é carne da minha carne, sangue do meu sangue" (Drácula de Bram Stoker, 1992). As cenas de medo são minuciosamente executadas, como a sombra do Conde que tem vida própria e a cena em que, medonhamente, ele anda pelas paredes do castelo. Os destaques do filme são a maquiagem, o figurino e os cenários. Drácula apresenta uma aparência pálida e assustadora, as unhas compridas, o olhar quase maníaco, as roupas estranhas e a forma de se portar e agir, doce, mas sempre ameaçadora. Em Entrevista com o vampiro (Interview with the Vampire: The Vampire Chronicles, EUA, 1994) de Neil Jordan, baseada da obra homônima da escritora Anne Rice, a imagem da raça vampira exclusivamente como predadora cruel e indiferente é definitivamente questionada por uma visão existencialista da “maldição da noite”. Segundo Lawson, “Todas essas diferentes formas pretendem demonstrar que a agressão e a violência são aspectos inatos a natureza humana.” (1967, p. 72). Entrevista com o vampiro cumpre dignamente o papel de demonstrar a ambigüidade do ser humano, explicitando a existência dos dois lados: bom e mal. 27 No suspense dirigido por Neil Jordan, com roteiro e acompanhamento da própria Anne Rice, Louis (Brad Pitt) concede uma entrevista a um jornalista na década de 1990. Logo nesta cena, já se nota um dos elementos muito usados em filmes com a mesma temática: a penumbra. O clichê é quebrado quando o personagem de Brad Pitt acende a luz e se revela para o seu entrevistador. Louis se apresenta como um vampiro e a despeito da descrença inicial do repórter, inicia sua história de mais de 200 anos. Louis era responsável por uma grande plantação em Nova Orleans em 1871, quando perde sua mulher e o filho durante o parto. Com a tragédia, se torna destrutivo e ao contá-la analisa o fato da seguinte forma: Não suportava a dor da perda; queria me livrar dela. Queria perder tudo: minha riqueza, minha propriedade, minha sanidade. Mais do que tudo, eu queria morrer. Eu sei agora, eu a atrai. Uma libertação da dor de viver. Meu convite estava aberto a qualquer um. À prostituta ao meu lado. Ao cafetão que seguia. Mas foi um vampiro que o aceitou. (ENTREVISTA com o vampiro, 1994) Lestat (Tom Cruise) começa a observar Louis e sua vontade de encontrar a morte. Nas cenas em que ele o segue não é possível ver seu rosto, ora por estar muito escuro, ora por aparecer somente de costas. Com seu pensamento assassino, morde Louis e finalmente vê-se seu rosto. Ele o deixa entre a vida e a morte, e pergunta: “Ainda deseja morrer ou já experimentou o suficiente?” (Entrevista com vampiro, 1994). A resposta é rouca e demasiado fraca: Suficiente. Lestat drena o sangue de Louis e o troca pelo seu, assim ocorre a morte da parte humana dele, que realiza seu desejo de encontrar a morte em vida. A partir desse momento, Louis começa a perceber algumas mudanças: sua visão fica muito mais aguçada, ele passa a atrair a atenção das pessoas mais facilmente, além de sentir fome e sede que nunca sentira na vida. No momento que ele descobre como deve se alimentar, começa o seu embate existencialista sobre a culpa que sente, tanto por sua nova condição quanto por matar. Louis não acha certo tirar a vida de um ser humano para aplacar os seus desejos, ele é apaixonado e sonhador. Lestat parece compreender e atacar o íntimo de Louis quando sarcasticamente diz: Como você ama essa maldita culpa e justifica suas atrocidades dizendo que O mal é um ponto de vista, Louis. Você é o que é! A dor é terrível para você? Sente-a como 28 nenhuma outra criatura porque és um vampiro. Não quer continuar a sentir dor? Então faça como manda a sua natureza!”(Entrevista com o Vampiro, 1994) A diferença entre Lestat e Louis é gritante. Lestat é um sádico que gosta de ver o sofrimento das pessoas e aproveita cada momento da sua caça, enquanto Louis compadece de suas vitimas. Porém, de certa forma eles se completam, um não pode viver sem o outro, assim como em todas as relações em que os opostos se complementam. A trama se desenrola no momento em que Louis morde a pequena Cláudia (Kirsten Dunst), deixando-a entre a vida e a morte. Atormentado por sua consciência, ele foge desesperado. Lestat o traz de volta e apresenta seu feito: ele impediu que Cláudia morresse, transformando-a em vampira. Por muito tempo, o trio se transforma em uma família feliz. Cláudia é a aprendiz de Lestat com sua sede de sangue sem limites e o refúgio de Louis em sua existência desolada. Mas a menina se torna mulher aprisionada no corpo de uma criança e vive um amor platônico com o próprio Louis. Ela se revolta com sua condição e tenta matar Lestat. Para tentar encontrar outros de sua raça, Claudia e Louis decidem viajar para o velho continente. Durante a viagem, o navio, apesar de estar livres de ratos, sofre uma estranha "praga". Essa passagem do filme é referência a Nosferatu: na viagem para encontrar sua amada Ellen, o Conde mata todos os tripulantes do navio e o fato é atribuído a uma misteriosa praga. Após muito tempo em Paris, eles encontram uma sociedade de vampiros, liderados pelo enigmático Armand (Antonio Banderas) e são convidados a comparecer a uma apresentação no Théâtre des Vampires. As criaturas que encontram são muito diferentes, pelos seus poderes e por parecerem muito mais fortes. Esta sociedade vê os dois visitantes como os representantes do Novo Mundo, um lugar em que nenhuma tradição é respeitada e seguida. Louis enxerga neles, justamente pelo fato de serem mais velhos, uma fonte de conhecimento. O clã forma uma corte que julga Louis e Cláudia pelo pior crime aos olhos dos vampiros: matar alguém de sua própria raça. Ela é condenada a morte e ele é salvo por Armand. Mas após a morte de Cláudia, Louis, o vampiro cheio de princípios, se vinga assassinando todo o clã, deixando vivo apenas Armand. 29 Como Drácula de Bram Stoker, o filme humaniza os vampiros e lhes confere valores e necessidades humanas. “O cinema sempre oscilou entre dois pólos, o de oferecer um novo padrão de representação realista e (simultaneamente) o de apresentar um sentido de irrealidade, um reino de fantasmas impalpáveis.” (GUNNING, 1996, p. 25). Por isso, estes personagens possuem características mais próximas da realidade, como o afeto e companhia, juntamente com a sensualidade e o fascínio dos seres fantásticos. Anne Rice conseguiu, através de sua narrativa, transformar os vampiros em algo mais parecido com os humanos, os personagens dominavam suas vitimas justamente por este fascínio e não pela força. Vampiros que amam, sofrem com o mundo, passam por crises. Ainda que difiram muito em termos de personalidade, são coerentes quanto à beleza. Propositalmente foram escolhidos para o elenco, galãs de Hollywood como Brad Pitt, Tom Cruise e Antônio Bandeiras, assim com a própria Kirsten Dunst, para a angelical Cláudia. Em 1998, inspirado nas histórias em quadrinho da Marvel, surge no cinema Blade – Caçador de Vampiros (Blade, EUA, 1998) de Stephen Norrington. Interpretado pelo ator Wesley Snipes, Blade é um híbrido, meio homem e meio vampiro, pois sua mãe foi mordida momentos antes do parto. Assim, ele se tornou poderoso e imortal, não possuindo as fraquezas dos vampiros, como ser ferido por prata, alho e luz do sol. Blade jurou vingança contra todos os seres da noite, tornando-se o “caça vampiros”. Nessa missão, conta com a ajuda do amigo Abraham Whistler (Kris Kristofferson) e Karen (N ´Bushe Wright) uma mulher que quer voltar a ser normal. O filme teve duas sequências. Em 2003, tem início a saga Anjos da Noite (Underwold, EUA, 2003) de Len Wiseman. Baseado nos Real Player Games, jogos muito populares entre adolescentes e jovens adultos. O filme traz à tona a guerra entre vampiros e lobisomens, chamados de Lycans. Anjos da Noite narra de forma não linear o histórico conflito entre as duas espécies. Com fotografia escura, o filme ganha ares soturnos e góticos, ressaltados pela trilha com guitarras pesadas e pelas roupas pretas dos personagens, atraindo a atenção de jovens de todo o mundo. Anjos da Noite não é um filme de terror, é um filme de ação, com cenas de perseguição e tiroteios. Na trama, vampiros vivem nos dias atuais como em um mundo 30 paralelo, mantendo o segredo sobre sua natureza predadora. Vivem em clãs unidos por laços de sangue, possuem grandes caninos, ficam mais fortes com o passar do tempo. São sensíveis à luz do sol, perambulam pela noite, mantendo distância dos humanos que desprezam, usam armas modernas com munições especiais. Além disso, enfrentam Lycans que conquistaram a capacidade de se transformar independentemente da lua cheia e são vulneráveis a prata. Selene (Kate Beckinsale) é uma vampira guerreira obcecada pela luta contra os lobisomens. Após um embate contra os inimigos em plena estação de metrô, ela observa o interesse estranho que os Lycans demonstraram por um humano, Michael Corvin (Scott Speedman). Alarmada, informa o ocorrido a Kraven (Shane Brolly), atual líder do clã. A despeito das ordens recebidas de ignorar o incidente, Selene captura Michel, sem saber que ele foi mordido por Lucien (Michael Sheen) e que na próxima lua cheia se tornará um Lycan. Outro fato que ela ignora é que se apaixonará pelo novo lobisomem, vivenciando mais uma história de Romeu e Julieta. A guerra ganha novos contornos quando Selene descobre coisas terríveis sobre sua própria origem e os anciões, e se revolta contra seu próprio clã, contando com a ajuda de Michel que se torna um híbrido muito poderoso. Anjos da Noite reafirma o poder dos vampiros desde tempos muito remotos, além de mostrar todo o glamour da vida noturna das criaturas através de festas consideráveis e figurinos magníficos. Assim como o Drácula dirigido por Copolla, Underwold cria sua versão sobre a origem do vampiro. Segundo a história, Alexander Corvinus, governante do Século V, teria sobrevivido a uma praga que devastou sua aldeia e conseguido fazer com que a doença se moldasse a seu favor, se tornando o primeiro verdadeiro imortal. Posteriormente seus dois filhos seriam mordidos, um por um morcego e o outro por um lobo, dando origem às duas espécies. Anjos da Noite - A evolução (Underworld - The evolution, 2006) de Len Wiseman, continua contando a história de Selene e Michael que dessa vez terão que enfrentar Marcus (Tony Curran), o vampiro mais velho e mais forte que também é descendente de Corvinus e quer libertar seu irmão. Selene não confia em Marcus, mas se vê obrigada a contar com ele para alcançar seus objetivos. No início de 2009, foi a vez de Anjos da Noite: A rebelião (Underworld 3: Rise of The Lycans, EUA, 2009), do diretor Patrick Tatopoulos, o terceiro 31 filme da série que retorna no tempo e mostra o início do conflito. A história já conhecida através dos flashbacks dos dois outros filmes é contada de forma mais minuciosa e mostra como Lucian, até então escravo de Viktor (Bill Nighy), se apaixona por sua filha, Sonja (Rhona Mitra). Para impedir o nascimento de um ser mais poderoso, misto das duas raças, Viktor condena a própria filha a morte e a abandona para ser queimada pelo sol ante os olhos do acorrentado Lucian. Em 2008, chega aos cinemas Crepúsculo (Twilight, 2008), da diretora Catherine Hardwicke. O primeiro filme da série de mesmo nome adaptada dos livros de Stephenie Meyer. Os quatro livros da saga já venderam 50 milhões de copias e foram publicados em 43 países (FOLHA Online, 2009). O sucesso do best seller foi um dos fatores mais relevantes para sua adaptação. Crepúsculo traz para o cinema um vampiro diferente, mas que logicamente guarda suas semelhanças com o histórico cinematográfico, se apresentando como um novo marco no caminho percorrido pela imagem do vampiro. Nesta nova saga, recebe contornos muito mais românticos que medonhos. Segundo Ribeiro, Crepúsculo não é um filme de terror. [...] o sobrenatural é um elemento diferenciador do personagem do vampiro, que, nem de longe, ocupa o lugar central. [...] os vampiros gravitam em torno de mulheres. Vemos aí uma nova abordagem do vampirismo. Os [...] personagens deixam de ser monstros aterradores e se transformam nos novos príncipes encantados do milênio. Eles garantem proteção às mulheres amadas, poder e juventude. E, é claro, são produtos midiáticos destinados mais ao público feminino. As belas, portanto, domesticaram as feras. (2009, p.13 / 14) A Saga Crepúsculo foi adotada pelos jovens, principalmente mulheres, romantizando a imagem do outrora monstro através de um vampiro apaixonado. Este público apresenta um grande potencial mercadológico, pois tem mais suscetibilidade ao fantástico, respondendo positivamente à bilheteria e aos produtos relacionados. Os vampiros de crepúsculo são consonantes da nova representação que esta figura recebe na atualidade. Doce, meigo, protetor, bonito, charmoso e heróico. O personagem de Meyer é um príncipe encantado que brilha ao sol e, quase por acaso, é um vampiro. Edward (Robert Pattinson) é considerado por Bella (Kristen Stewart) o homem mais bonito que já 32 existiu. E ainda terá 17 anos para sempre. Além de nunca ter se interessado por nenhuma garota do colégio, ele a salva em varias ocasiões como se fosse o seu protetor. Posteriormente se apaixona por Bella, uma garota comum. Percebe-se que os vampiros deste filme buscam a realidade de qualquer adolescente e ao mesmo tempo uma fantasia. São vampiros inseridos na sociedade. Eles estudam, freqüentam um colégio normal, têm amigos, usam a internet, se vestem e falam como jovens, vivem algumas crises dessa idade como o primeiro amor e vão ao baile da escola, um importante rito de passagem para um humano na cultura americana. Edward assim como Louis, de Entrevista com Vampiro, aborda o caráter angustiante de tirar a vida de um ser humano. Assim, o vampiro de Rice questiona seu criador se seria possível viver somente com sangue de animais. Lestat responde: “Não chamaria de vida, mas de sobrevivência” (Entrevista com o Vampiro, 1994). Da mesma forma, Edward ao explicar seus hábitos alimentares para Bella diz: “Eu compararia isso a viver á base de tofu e leite de soja; nós nos chamamos de vegetarianos, nossa pequena piada privada. Isso não sacia completamente a fome, e nem a sede. Mas torna-nos fortes o suficiente para resistir” (Crepúsculo, 2008). As semelhanças entre os dois protagonistas são muito maiores do que entre os outros personagens apresentados. Ambos não querem transformar ninguém, condenando outrem à “vida” a qual estão presos. Assim, Edward prefere correr o risco de matar sua amada, por talvez não conseguir se controlar, do que transformá-la em vampira. Ainda que difiram em outros pontos, observa-se que assim como os personagens construídos por Stephanie Meyer, John e Miriam (Fome de viver) e Drácula (de Copolla) podem sair à luz do sol. Outra similaridade na história de Drácula de Bram Stoker e Crepúsculo é o amor eterno e incondicional entre um vampiro e uma humana. Novamente os vampiros são sedutores, elegantes, belos e fortes. Suas características fazem com que as presas se sintam atraídas. Talvez as inovações que os vampiros do filme Crepúsculo possuem sejam: a casa em que moram, que diferente do que se espera (fechada e escura) é moderna (feita em vidro, aberta e clara). Há uma forte relação afetiva entre os 33 moradores da casa de Edward, uma família, que posteriormente se estende a Bella. Outro diferencial importante é o controle que eles têm sob o desejo de se alimentar de sangue humano. Carlisle (Peter Facinelli), que é considerado o pai desta família, tem tanto controle sob seus instintos que se torna medico e trabalha em um hospital. Crepúsculo teve o orçamento de US$37 milhões, considerado baixo para os padrões de Hollywood. Justamente por isso, foram usados alguns artifícios para baratear a sua produção. Praticamente todas as cenas foram feitas em externas, com pouco conteúdo filmado em estúdio, menos efeitos especiais, substituídos geralmente por jogos de câmera. O orçamento se reflete novamente na escolha de atores, a maioria é desconhecida. Mesmo com a pequena verba Crepúsculo se tornou um blockbuster, arrecadando mundialmente US$400 milhões (FOLHA Online, 2009). O sucesso do primeiro filme da saga abriu caminho para suas sequências. A exorbitante bilheteria e a repercussão no meio jovem, percebido principalmente na internet, em redes sociais e eventos relacionados tornaram a marca Twilight popular. Seguindo exemplos de Star Wars e outros filmes de sucesso, a marca vem se mostrando um produto amplamente rentável, não só através das bilheterias, como através de produtos. Para conquistar este enorme sucesso é necessária uma competente estratégia de marketing. O conjunto de ações que tornou Lua Nova uma produção cinematográfica de sucesso teve como foco o ambiente virtual. A internet foi a grande aliada no lançamento do segundo filme da saga Twilight. Para entender as ações de marketing que levaram Lua Nova a superar Crepúsculo em bilheterias, torna-se necessário entender um pouco mais sobre o marketing dentro do ambiente cinematográfico. 34 35 O MARKETING NO CINEMA O marketing no cinema engloba diferentes públicos e por conseqüências, diferentes culturas, classes e gostos. No marketing, o primeiro passo é identificar o público- alvo e enquadrar produto e receptor. Seja buscando públicos que respondam positivamente ao produto, seja adequando o produto ao público escolhido. Para aliar lucro ao produtor e satisfação ao cliente, é necessário uma divulgação e um planejamento bem estruturado sobre o produto. O ambiente cinematográfico comporta diferentes tipos de ferramentas que podem ser usadas para a divulgação, como merchandising, cartazes, trailer, internet, rádio, TV, entre outros. O processo que torna um filme um grande sucesso de bilheteria começa muito antes de a primeira cena ser gravada. Antes mesmo da produção do filme ser iniciada, há uma série de ferramentas úteis a este propósito. Os gêneros são as classificações dotadas aos filmes para definir uma segmentação. Cada gênero possui características próprias que vão desde o tipo de enredo ao tratamento da imagem. Com o tempo, alguns modelos são abandonados e outros novos são criados. A própria temática vampiresca, como tratado no primeiro capítulo, transitou entre o gênero terror e o atual romance juvenil. Mudando assim sua imagem, seu tratamento histórico e visual e, consequentemente, seu público. O star system consiste em transformar os atores de um filme em estrelas de cinema. A estratégia que é usada há décadas persiste até os dias atuais. Ainda hoje as pessoas cultuam ídolos e no universo adolescente esta prática se torna ainda mais presente. Proliferam-se revistas, sites e blogs sobre os atores e suas vidas. Todas as ações destas pessoas se tonam notícia, até mesmo as mais comuns e cotidianas. Convidar determinado ator ou atriz para um filme representa em si uma parte da estratégia cinematográfica. Desde o convite realizado a grandes atores, que já possuem certo público cativo, até propor um ator desconhecido para que possa eternizar o personagem. As 36 sessões pré-teste tinham o objetivo de nivelar o filme com as expectativas do público. Transformar a obra em um filme com que o espectador se identificasse, que respondesse a todos os seus anseios. A intenção geral é adaptar a película aos desejos da platéia. A estratégia, usada por vários diretores reconhecidos, como Charles Chaplin e Alfred Hitchcock, servia como um termômetro para o desempenho do filme. A seguir, serão abordadas as principais ferramentas que contribuem para a divulgação de uma obra cinematográfica. 2.1 Os gêneros A classificação dos filmes por gêneros é uma herança de outras formas artísticas que o cinema utiliza, fornecendo uma roupagem e aspectos próprios dessa forma de expressão. Além de ser um aspecto fundamental para a instituição cinematográfica, principalmente para a realidade hollywoodiana. A rotulagem de um filme como western, musical ou gangster, por exemplo, já é o suficiente para indicar ao público o que esperar de tal produção em relação a sua ambientação, estilo e, até certo ponto, ideologia. Independentemente das assinaturas da equipe de produção e direção que o filme tenha. A indústria cinematográfica de Hollywood, na “idade de ouro” do cinema, baseava-se na classificação de gêneros para guiar a sua programação de produção. Os estúdios procuravam investir em uma diversidade de gêneros. Dessa forma, o gasto era segmentado, obedecendo à tendência de adequação ao mercado, atendendo a diversidade de gostos e preferências do público (além de possibilitar a inserção de seus filmes nas salas de cinema que exigiam uma dupla programação). Ao mesmo tempo, os estúdios privilegiavam gêneros específicos dentro de seus investimentos, com o intuito de gerar uma identificação da empresa ao gênero com maior verba de produção. Já vislumbrando adotar uma “estratégia de imagem”. 37 Para fins didáticos, há uma separação de alguns pontos de vista nos estudos sobre os gêneros clássicos de Hollywood; Sistema de produção, Figurativo e Político-ideológico: “Os gêneros clássicos de Hollywood podem ser examinados do ponto de vista do sistema de produção, para compreender a natureza e a complexidade dos processos que determinam a sua afirmação; do ponto de vista figurativo e narrativo, para compreender os mecanismos de funcionamento e as regras de composição, que em parte são comuns a outras formas expressivas com a literatura e o teatro e em parte são peculiares ao cinema; do ponto de vista político-ideológico, para compreender as ligações entre a evolução dos gêneros e a situação histórica e social. Naturalmente as três perspectivas estão estreitamente ligadas entre si e são separadas só por exigência de caráter expositivo.” (COSTA, 1987, p.94) Em relação íntima com os aspectos Figurativos, estão os Narrativos. Os gêneros cinematográficos, assim como os literários (além dos mitos e contos populares), têm em sua configuração elementos marcantes que tendem a sempre estarem presentes. Tornando-se uma espécie de constituintes bastante representativa do gênero ao qual pertencem. A análise das personagens (que auxiliam, e muito, na revelação do gênero) pode servir como base para um estudo da forma narrativa das obras. Para ilustração do aspecto Político-ideológico, é importante a compreensão de que uma obra está sempre atrelada com os acontecimentos da localidade e da época na qual foi constituída. Exemplos são os filmes de western, que reproduzem o expansionismo e colonialismo americano. 2.2 O star system Uma das estratégias mais importantes para o marketing no cinema foi o deslocamento do interesse popular da narrativa para os atores: o star system. Segundo Calil, "Por meio de publicidade, revistas especializadas, colunas de fofocas em jornais, escândalos inventados ou não, criavam-se estrelas da noite para o dia.” (1996, p. 52). É uma fase em que o cinema rende muito dinheiro e com a entrada dos EUA na 1ª Guerra Mundial “Os poderosos interesses de Wall Street começaram a se apoderar de Hollywood.” (LAWSON, 1967, p. 51). Após a Guerra e a Grande Depressão, o cinema busca se aproximar ainda mais do público, 38 com histórias mais introspectivas que viabilizaram o uso da figura do herói, indispensável para o sistema das estrelas, recém criado. O star system foi muito bem acolhido pela audiência. Os proprietários das salas de exibição foram os primeiros a perceberem o poder do sistema. “O contato deles com o público os convenceu que a audiência gostava de certos atores e atrizes e, a partir dessa observação começou o uso da imagem das estrelas na tela.” (T. A.) (HAMPTON, 1970, p.87) 4 Foram eles que notaram que os expectadores formavam alguns hábitos de seleção e de discriminação de filmes. Interesse por personalidades foram acompanhadas por expressões de aprovação ou desaprovação de certos tipos de historias, e logo após os espectadores passaram a selecionar certos cinemas em detrimento de outros pelo tipo de histórias que eram mostradas nos seus pôsteres. (T. A.) (HAMPTON, 1970, p.86).5 A imagem das estrelas mais importantes passa a ser usada para divulgar o filme, fazendo com que a estréia obtivessem filas quilométricas em frente ao cinema. As estrelas despertam a afeição pública, gerando uma relação de conhecimento entre fã e ídolo, fato que nunca havia acontecido. A criação de celebridades passou a ser regra em Hollywood: Se obtivessem sucesso, o produtor poderia ganhar um lucro confortável antes que um competidor lançasse a próxima estrela; e se o ator que viraria uma estrela fosse um fracasso o produtor simplesmente procurava outro que pudesse ser aceito pelo povo. (T. A.) (HAMPTON, 1970, p.90)6 Os estúdios lançavam os filmes e esperavam que fizessem sucesso, segundo Harry Cohn, que trabalhava na Columbia, o estúdio não tinha nenhum poder em tornar uma atriz uma estrela, somente o público poderia fazer isso. Sem saber quais seriam as conseqüências 4 “Their contact with theater patrons convinced them that audiences liked some actors and actresses more than they did others, and from this observation arose the beginnings of star exploitation on the screen.” 5 “Interest in personalities was followed by expressions of approval or disapproval of stories or certain types of stories, and presently people began to select one theater in preference to others because certain classes of stories were advertised on its posters” 6 “If they were successful, the producer might expect to gain a comfortable profit before a competitor outbid him for the new celebrity’s services; and if the proposed star was a ‘flop’ the employer merely hunted around for another player whom the populace might take to its bosom.” 39 da criação do star system, os estúdios mesmo sem intenção, deslocam o poder das mãos dos produtores para as mãos da platéia: “Os fãs exigiam filmes com seus atores, momentaneamente favoritos, e eles não se importavam com quem os produzisse, ou o porque.” (T. A.) (HAMPTON, 1970, p.92). 7 Ainda segundo Hampton (1970), o uso do star system fez com que toda a cadeia do cinema enriquecesse, desde os que produziam os filmes até os que os exibiam, sendo eles pequenos ou grandes. 2.3. As sessões pré-teste Segundo Calil (1996), por volta de 1930 uma das formas de avaliação das produções utilizada pelos estúdios eram as sessões pré-teste. Estas sessões consistiam em exibir ao público os filmes ainda em estágio de copião, isto é, antes que estivesse finalizado. Após a exibição, os espectadores eram convidados a responder um questionário sobre o filme, dando sua opinião sobre a obra. Isso conferia poder ao espectador, partes do filme poderiam ser mudadas caso estas não fossem do seu agrado. Com as respostas em mãos, mudava-se a montagem ou até mesmo refilmava-se uma determinada cena até que a película estivesse de acordo com o gosto popular. Um bom exemplo é o filme de Frank Capra, Lost Horizon (EUA, 1937). Segundo Calil (1996), por algum motivo seu filme não decolava. Para descobrir o problema, Capra gravou a reação da platéia ao assistir ao filme, descobrindo que a história demorava a engrenar. O ritmo lento da produção repelia o público, então Capra decidiu cortar os dois primeiros rolos. Resultado: a bilheteria do filme respondeu positivamente à decisão. Mas apesar do sucesso “[...] dois anos depois, em abril de 1939, Capra escreveu uma carta ao jornal New York Times reclamando da falta de liberdade dos diretores, denunciando a política de intervenção que reinava nos estúdios.” (MAYRINK, 2003, p. 19). Charles Chaplin e Buster Keaton, também observavam a reação da platéia enquanto seus filmes eram exibidos. Eles percebiam que conquistar o público era muito importante, 7 “The fans demanded pictures of their favorites – momentarily favorite – actors and actresses, and they cared not who made the pictures, nor why.” 40 principalmente para a garantia de sucesso na bilheteria. Em alguns casos, mais de uma opção de final era produzida para que, posteriormente, fosse escolhido o mais viável. Segundo Mayrink (2003), no caso de Casablanca (Casablanca , EUA, 1942), do diretor Michael Curtiz, foram escritos três finais: um em que Rick (Humphrey Bogart) fica sozinho, mas não é preso, outro em que ele fica sozinho, mas é preso, e o terceiro em que o par romântico, Rick e Ilsa (Ingrid Bergman), terminam juntos. O primeiro a ser feito foi o final original, em que Ilsa vai embora com seu marido, Vitor (Paul Hendreid), e Rick fica sozinho, mas em liberdade. Na primeira exibição particular do filme, os produtores perceberam que aquela era a cena final e não filmaram as outras duas alternativas, mesmo sabendo que isso contrariava toda a norma hollywoodiana de final feliz. O filme foi submetido ao pré-teste, muitos acharam o final confuso, mas neste caso o filme não foi alterado. Alfred Hitchcock se tornou um sucesso por sua habilidade em lidar com o público e por isso tinha total autonomia na produção e montagem dos seus filmes, mas Mesmo com esta surpreendente autonomia conquistada em Hollywood, Hitchcock resolveu fazer concessões ao público presente na primeira pré-estréia de Topázio (Topaz, EUA, 1969). A maioria das fichas entregues pelos espectadores detectava dois problemas: primeiro, o filme era longo demais. [...] O segundo maior problema aconteceu com a sequência final. (MAYRINK, 2003, p. 63 e 64) Hitchcock fez algumas mudanças no longa: encurtou algumas cenas, comprometendo o entendimento do mesmo, além de mudar o final. Topázio foi o maior fracasso na história do diretor. Após a captação das imagens outras ferramentas são utilizadas para o lançamento do filme. Uma das mídias mais antigas do ambiente cinematográfico é o cartaz. Desde as exibições dos Irmãos Lumiére, já haviam folhas de papel com o nome da obra exibida. Após tantos anos, o cartaz mudou, mas continua sendo uma ferramenta indispensável para a promoção do filme. Além de seu teor informacional, o cartaz se tornou mais um produto, sendo vendido em lojas especializadas. O cartaz cria a iconografia que irá anunciar o filme. Ele é uma espécie de teaser das estréias, responsável por criar o interesse, assim como o trailler. O trailler surgiu com os filmes em séries. A exibição do que aconteceria nos capítulos seguintes incutia no público o 41 desejo de assistir o próximo episódio. Hoje, não só em filmes sequênciais, como o próprio Lua Nova o trailer tem o mesmo objetivo: apresentar uma sinopse criativa, através de imagens, sons e textos que criem a expectativa no público e o leve para o cinema. Além da exibição nos próprios cinemas, os trailers são exibidos muitas vezes na TV. Os comerciais viabilizam que a informação seja difundida a um público maior, não se restringindo apenas aos freqüentadores do cinema. O rádio, muito utilizado antes do desenvolvimento técnico de outras mídias, ainda é um recurso útil. Além da promoção dos próprios filmes, as mídias em geral são usadas para divulgar os produtos relacionados à um longa. Uma forma de aumentar a rentabilidade da marca e promover o filme, são os produtos. Camisetas, bonés, mochilas, bonecos entre outros, figuram na lista de produtos mais comuns. A própria Saga Crepúsculo assina diversos itens. A internet surge como uma ferramenta convergente que agrega mídias. Nela é possível, disponibilizar o cartaz, exibir traileres e spots, vender produtos e ainda criar um relacionamento direto com os fãs. A despeito de seu curto tempo de vida, a web se mostra indispensável para a promoção de um filme para o público jovem na atualidade. 2.4 O cartaz Logo na primeira projeção privada, ocorreu também a primeira ação de marketing no cinema. Consistia na fixação de dois pequenos cartazes All-Type, ou seja, apenas texto, nas janelas do Grand Café do Boulevard des Capucines em Paris. Intitulados “O Cinematógrafo Lumière”, um deles, apresentava o seguinte texto: Este aparelho inventado pelos senhores Auguste e Louis Lumière permite recolher através de uma série de tomadas instantâneas todos os movimentos que durante certo tempo se sucedem na frente da objetiva e reproduzi-los, logo depois, para toda a 42 platéia projetando suas imagens em tamanho natural sobre uma tela. 8 (MUDADO, Fernando Amata; FIGUEIREDO, João Paulo Dias; CHIARETTI, Maria Leite; RODRIGUES, Mariana Nicoletti; CARDOSO, Thais Coelho, 2007) O cartaz se torna, a partir de então, a “cédula de identidade” do filme, constituindo muitas vezes a base de sua divulgação, com layout associado ao filme e que deverá fundamentar as demais peças da campanha. A relevância do cartaz na divulgação do filme comumente está ligado ao modelo star system, priorizando a imagem do astro e sua promoção. Mas o cartaz pode também evidenciar o gênero, apresentando uma frase e uma imagem que o resumem para sintetizar o conteúdo. King é usado por Mudado, Figueiredo, Chiarettti, Rodrigues e Cardoso para realçar o paralelo que há entre o cinema e a sociedade. A trajetória dessa história, reflete também a mudança que ocorre diante da natureza dos espectadores e a forma como estes percebem a sétima arte. Os cartazes cinematográficos representam a interseção de um número de diferentes etapas, como a produção e distribuição, do impulso criativo e da reação espontânea, da celebridade, do poder, entre outras. (MUDADO; FIGUEIREDO; CHIARETTI; RODRIGUES; CARDOSO, 2007, p. 15) O aspecto de convencimento do cartaz guia o caráter de sedução e persuasão necessário à publicidade e propaganda. Mudado, Figueiredo, Chiarettti, Rodrigues e Cardoso buscaram em Almeida reforços para explicar tal aspecto. Segundo a autora o cartaz é uma peça de fácil assimilação por aqueles que trafegam no espaço urbano, sendo parte da sociedade contemporânea. Principalmente por usar elementos de impacto. E assim como nos cartazes publicitários, as peças cinematogrficas tem o forte apelo mercadologico, com o objetivo de venda e aumento de audiência nas salas de cinema. A autora salienta a relevância do cartaz como peça promocional, principalmente no cinema, pois é aberta a possibilidade de divulgar a marca do filme, além de permitir a distribuição de vários exemplares dessa mídia nas salas de exibição, propiciando a criação de um “vínculo de associação e identificação” com o público. Somando a isso, o cartaz de 8 “Lê Cinématographe Lumière”: “Cet appareil, inventé par MM. Auguste et Louis Lumière, permet de recueillir, par dês séries d’épreuves instantanées, tous lês mouvements qui, pendant un temps donné, se sont succédés devant l’objectif, et de reproduire ensuite ces mouvements em projetant em grandeur naturelle, devant une salle entière, leus images sur un écran.” 43 cinema pode ser considerado um produto mercadológico, pois existem várias lojas especializadas e sites que realizam a venda desse material para o cliente final. Quintana, referenciado por Mudado, Figueiredo, Chiarettti, Rodrigues e Cardoso, demonstra que o marketing no cinema tem como função levar o maior número de pessoas possível para as salas de exibição, gerando um lucro cada vez maior. Tal lógica permite ainda que os produtores do filme possam realizar outras obras. Define-se assim o marketing cinematográfico como uma gama de atividades que tem como objetivo levas as obras ao espectador final. 2.5 O trailer Uma importante forma de promoção surge na era dos filmes em série: a prévia dos próximos capítulos, sendo exibida sempre ao final do episódio. Com o tempo, os créditos ficaram cada vez mais longos e as prévias foram transferidas para o início, antes da atração principal. Essa estratégia pode ser encarada como o precursor do trailer, já que nessa época ainda não se sabia o poder publicitário nele contido. Segundo Santos, quem começou com a vontade de divulgar as próximas atrações para o público foram os exibidores. Muito antes dos estúdios, eles faziam algumas experiências como, escolher algumas cenas interessantes e juntá-las. “Em 1916 a Paramount torna-se o primeiro estúdio a oficialmente lançar trailers, entretanto só se preocupava em fazer um esforço extra com seus maiores filmes.” (SANTOS, 2004, p. 59). Em 1919, a produção de trailers abarca todas as suas produções, gerando o interesse de outros estúdios pelo novo suporte, incorporando a sua utilização. Um trailer pode ser chamado de suporte, pois ele é a forma que os estúdios possuem para divulgar seus filmes, “Associando esses significados ao trailer é possível concluir que 44 este é por natureza e definição um anúncio, e anúncio também é entendido como um tipo de propaganda veiculada na mídia eletrônica.” (SANTOS, 2004, p. 52). Mais do que uma propaganda, o trailer exibe uma promessa do que ainda está por vir, já que “A maioria das pessoas vez ou outra comenta um filme baseando-se apenas em seu trailer.” (SANTOS, 2004, p. 55). Ele é visto como um informativo, uma sinopse com imagens e não uma tentativa de venda. Mas o trailer pode ser entendido como uma publicidade institucional, ainda que não se perceba sua intenção de vender o produto, ele vende o conceito do que é o filme. Para que o conceito do filme seja transmitido, são criados dois tipos diferentes de trailers, comumente os que são lançados primeiro são os teasers. O papel dessa versão é fazer com que o público fique curioso. Neles são passados poucos detalhes, mostram-se poucas imagens do filme e são mais simples, tudo para deixar a aura de mistério. E, também, para esconder a má qualidade das imagens, que ainda não estão finalizadas já que eles costumam ser liberados meses ou até um ano antes da estréia. O outro tipo é o trailer convencional que chega a durar até três minutos. Nele, estão contidas cenas já finalizadas, além de maiores informações sobre o filme, chegando ao cinema dois meses, ou até uma semana antes da estréia. Nestes dois formatos, os trailers possuem a mesma estrutura. “Apesar de não ser regra, alguns elementos são constantes nos trailers, dentre eles a apresentação do enredo, narração, música, apresentação dos atores e data de estréia.” (SANTOS, 2004, p. 66). Até o início de 1960, todos os trailers nos EUA eram produzidos por uma mesma companhia, a National Screen Service (NSS), e por isso o material produzido era muito padronizado. Em meados de 1960, o público se torna mais exigente e assim os estúdios buscam formas de inovação para suprir esta demanda. Com o aumento da critica popular, estúdios passam a criar os seus próprios departamentos de elaboração de trailers. Justamente por seu caráter comercial, os trailers também são testados e reeditados. Pensando em aprimorar o alcance que trailers têm sobre o público, são exibidos a um grupo 45 selecionado de pessoas que darão suas opiniões sobre a produção. “Assim como existe teste de audiência para comerciais e filmes, também há para trailers de filmes.” (SANTOS, 2004, p. 54) Como nos filmes, o trailer sofre uma mudança de linguagem, sofrendo a influência estética do videoclipe. Isto aconteceu em 1980, com o surgimento da Music Television os produtores perceberam que a capacidade de observação do público havia aumentado e se desenvolvido rapidamente graças à televisão. As pessoas podiam assimilar uma quantidade maior de informação ao mesmo tempo. “Quando a MTV surgiu com seus cortes acelerados, contribuiu para o aumento da velocidade de edição já iniciado pelos trailers.” (SANTOS, 2004, p. 62). 2.6 O rádio e a TV Em 1937, o estúdio 20th Centntury Fox foi o primeiro a inserir o rádio na promoção de seus filmes. Já o anúncio em televisão foi transmitido pela primeira vez em 1944, com The Miracle of Morgan’s Creek. (The Miracle of Morgan’s Creek 1944, EUA) de Preston Sturges. Com as transmissões regularas de televisão em 1930 e sua popularização, as salas de cinema perderam seu papel principal na comunicação de massa. “Esse efeito foi sentido inicialmente nos EUA, o que causou grande impacto na indústria cinematográfica.” (MATTA, 2008, p.72). Mas apesar da popularização dessa nova mídia causar uma redução significativa no mercado cinematográfico, a mídia televisiva tornou-se uma nova forma de divulgação e 46 exibição dos filmes, aumentando “a importância da distribuição, que agora tinha de atender a demanda de duas mídias.” (MATTA, 2008, p.73) O Oscar, a mais importante premiação cinematográfica, que já ocorria desde 1929, contribuía também para a preservação do star system, reforçado em 1953 pelas exibições através da televisão. Assim, entre a década de 1960 e o início da década de 1970, a aproximação entre cinema e televisão se efetivou [...] a economia cinematográfica de Hollywood soube reagir positivamente ao aparecimento da televisão, conseguindo obter a tempo limites aos radiodifusores para a produção e comercialização de obras (‘syndication financial rule’), e mesmo o impedimento da programação exclusiva de produção própria (‘prime time accessrule’), reservando para si o grosso da oferta de conteúdos audiovisuais. (MATTA, 2008 , p.73). A publicidade dos filmes passava a ser mais criativa e ganhava espaço. Estratégias publicitárias passam a ser usadas para atrair o público ao cinema. Em 1952, William Castle, produtor do filme Macabre (EUA, 1958), fez um seguro de mil dólares contra o risco de alguém morrer de susto ao assistir ao filme. O que Castle fez foi perceber que estratégias de marketing bem usadas poderiam aumentar as bilheterias e por suas ações criativas se tornou uma figura conhecida e importante. Em cada filme, mesmo com o baixo orçamento, o diretor criava um sistema diferenciado para interagir com a platéia. Na produção de A Casa dos Maus Espíritos (House on Haunted Hill, EUA, 1959), o diretor usou um sistema batizado de “Emergo” para assustar os espectadores. O sistema consistia em um esqueleto humano iluminado e movimentado por um sistema de polias, cordas e correias que era arremessado sobre a platéia no momento em que era exibida a cena de um esqueleto humano saindo de um tanque de ácido. Este dispositivo conseguia com maestria fazer o que o cinema 3D da atualidade ainda não consegue, criar a ilusão de que a realidade está sendo invadida pela ficção da tela. Em Força Diabólica (The Tingler, EUA, 1959), o truque usado foi o “Percepto”. As cadeiras vibravam e liberavam pequenos choques elétricos durante as cenas de tensão. E em Treze Fantasmas (Thir13en Ghosts, EUA), já em 1960, o “Illusion-O” era um óculos de papel com lentes coloridas. 47 Por volta de 1970, a indústria cinematográfica teve uma queda de público, levando-a a repensar suas estratégias. As produções outrora massificadas passaram a dois grandes segmentos: os filmes arte, para um público mais exigente e filmes para jovens que originaram os blockbusters. Na segunda metade do século XX, os filmes estreavam em algumas cidades e aos poucos iam sendo distribuídos nos cinemas de outras localidades. “O marketing era quase secundário, e o planejamento de marketing era feito visando o longo prazo, com ajustes sendo efetuados tanto na criação dos anúncios quanto na compra de espaço publicitário, baseados nas reações da platéia às diversas tramas da história.” (DONATAN, 2007, p. 89 e 90). A estratégia era feita para conquistar o público aos poucos, a medida que o filme ia sendo distribuído nas salas. Neste cenário, foi lançado O Poderoso Chefão (The Godfather, EUA, 1972) de Francis Ford Coppola. A mídia para o lançamento foi tradicional, anúncios impressos, mas a estratégia de lançamento foi revolucionária, mudando a forma de distribuição dos filmes. Originalmente, os filmes eram lançados primeiro em salas de classe A que dominavam uma determinada região. Nenhum outro cinema da mesma classe dentro dessa região poderia exibir o filme, o mesmo só era liberado para os cinemas de classes C e B quando saiam de cartaz nos de classe A, mesmo que isso durasse um ano, como poderia acontecer. A Paramount acabou com a divisão, porque para o estúdio isso não era favorável, já que toda a comunicação era feita no lançamento do filme. Ou seja, todo o esforço de comunicação era usado para promover um filme que seria exibido somente em algumas salas, além disso, esse sistema fazia com que o dinheiro fosse arrecadado em pequenas porções durante muito tempo. “Nacionalmente, O Poderoso Chefão teve o que, na época, era um lançamento vastíssimo, em 316 cinemas, com cinqüenta e tantos outros sendo adicionados nas semanas seguintes.” (BISKIND, 2009, p. 169). A estratégia diferenciada fez com que O Poderoso Chefão fosse o primeiro filme a arrecadar uma grande quantia de dinheiro, 86,2 milhões de dólares, na bilheteria doméstica. 48 Além de lançar as bases para os blockbusters, filmes com uma grande quantidade de público e com estréia em vários cinemas simultaneamente. Em 1975, Steven Spielberg reinventa o cinema de espetáculo com o filme Tubarão (Jaws, EUA, 1975). Observando alguns experimentos que a Columbia havia feito na divulgação de seus filmes, com o uso da televisão, a Universal decidiu fazer o mesmo para o lançamento de Tubarão. “O estúdio gastou 700 mil dólares – uma quantia assombrosa, na época – por spots de meio minuto durante o horário nobre. Se tinham alguma dúvida quanto à eficácia da publicidade na televisão, o sucesso do filme acabou com isso.” (BISKIND, 2009, p. 291). Foi ele o precursor do novo Marketing no cinema, ao anunciar excessivamente sobre o filme na TV. Tubarão mudou a indústria para sempre, na medida em que os estúdios descobriram o valor de lançamentos amplos – o número de cinemas cresceria até mil, dois mil e mais na década seguinte – e publicidade maciça na televisão, duas coisas que aumentaram os custos de marketing e distribuição, diminuindo a importância de críticas em veículos impressos, tornando impossível um filme crescer gradual e lentamente, encontrando sua platéia a força da simples qualidade. Mais do que isso, Tubarão despertou o apetite corporativo por lucros rápidos, o que significa que dali para frente os estúdios queriam que todo filme fosse Tubarão. (BISKIND, 2009, p. 291) Segundo Biskind, “O primeiro fim de semana passou a ser tudo para o mercado.” (2009, p. 423). Para que os valores fossem expressivos, os filmes deveriam conter elementos que o público se interessasse em ver, como os efeitos especiais. Porém, este tipo de artifício encarece o orçamento final de uma produção e consequentemente os valores gastos na sua divulgação também aumentaram. Incentivando que o maior número de pessoas se sintam atraídas para assistir o longa na sua estréia. Nessa época, também surgem as possibilidades de relançamentos de filmes, o que viabilizou um novo caminho para o cinema. Depois de três anos era plausível voltar ao cinema e ver um filme diferente. Além disso, abriu as portas para o lançamento de cenas adicionais e distintos finais em VHS e principalmente no DVD, possibilitando o acesso a versão original e a versão do diretor. 49 A Columbia, produtora do filme Contatos Imediatos de Terceiro Grau (Close Encounters of the Third Kind, EUA, 1977) de Steven Spielberg, precisava do filme para o natal, por isso diretor não conseguiu montar o longa da maneira que desejava. Após o sucesso estrondoso da obra, Spielberg procurou a produtora e pediu que o deixassem terminar o filme da forma como havia imaginado. “Eles disseram: ‘Nós damos o dinheiro, um milhão e meio de dólares, mas mostre a nave-mãe por dentro’. Queriam um gancho para a campanha’. – explica o cineasta” (MAYRINK, 2003, p. 70). Essa exigência do estúdio foi feita já pensando no trailer de relançamento do filme, em que foi usado como mote o fato de que o espectador agora seria capaz de ver mais elementos. Ex-executivos de televisão, Diller e Eisner tinham um modo televisivo de pensar que deixaria uma marca indelével no seu processo de produção cinematográfica, focalizando uma única idéia, uma única imagem, para que os filmes pudessem ser devidamente vendidos em spots promocionais. (BISKIND, 2009, p. 421) Posteriormente, o sistema Multiplex, em que existem muitas salas em um mesmo local, “[...] permitiu maior eficiência e eficácia nos lançamentos mundiais dos blockbusters.” (MATTA, 2008, p.74). Essa ampliação possibilitou a transformação do cinema em uma indústria de entretenimento, contribuindo consequentemente para os avanços audiovisuais que viriam suprir a necessidade de técnicas cada vez melhores para os filmes. 2.7 Merchandising Com George Lucas no filme Guerra das Estrelas (Star Wars – Episode IV – A New Hope, EUA), 1977, o marketing no cinema deu um grande salto. Como panorama mercadológico contemporâneo de seu lançamento, pode-se observar que os melhores filmes arrecadavam cerca de $24 milhões e os sucessos do gênero de ficção científica ficavam na casa dos US$16 milhões. Já no ano de lançamento de seu primeiro filme, Star Wars 50 possibilitou a 20th Century Fox dobrar o valor de suas ações em três semanas e arrecadar o montante de US$79 milhões em um ano, em contra partida aos usuais US$39 milhões anuais. Os bluckbusters fizeram subir os custos de produção e os gastos com marketing na indústria incluindo técnicas de merchandising, por exemplo. O grande marco de consolidação de todas essas tendências que re-impulsionaram a bilheteria nas salas de exibição nos EUA foi o lançamento do filme Guerra nas Estrelas, de George Lucas, em 1977. [...] Guerra nas Estrelas foi um divisor de águas para a indústria cinematográfica, mostrando o acerto das estratégias adotadas e sinalizando novos caminhos, como a ênfase em efeitos especiais ou visuais (MATTA, 2008, p.74). Idealizado por um cineasta independente, George Lucas, o filme era muito ambicioso para o seu tempo, tendo a capacidade de atender a mudanças ocorridas nos gostos e pensamentos de toda uma geração. Outro ponto importante a ser ressaltado é que o nicho de foco do filmes era o público jovem que até então não tinha o seu potencial trabalhado e valorizado. Com a intenção de conseguir viabilizar o primeiro filme da saga, George Lucas fechou um contrato com a 20th Century Fox no qual não receberia muito pela direção do longa, mas deteria todos os lucros dos materiais de merchandising do filme que na época eram bastante limitados (camisas e pôsteres) devido aos fracassos de ambiciosas tentativas anteriores. A história inovava na forma de juntar aspectos reais e míticos, sendo capaz de criar suas próprias regras e convicções, dando vida a um mundo único e fantástico, com personagens completos. O perfil de cada personagem foi cuidadosamente desenvolvido e a escolha dos atores era baseada no perfeito encaixe de suas personalidades com as dos respectivos personagens. O que demonstrou mais uma vez o cuidado e visão do cineasta e sua equipe de produção. Os conceitos novos que foram criados dentro do universo do filme, como o da FORÇA, eram inovadores, além de fundamentais para a compreensão da história. Segundo o produtor do filme, Alan Ladd Jr., “O conceito da Força era muito importante na história. A dificuldade é tentar criar um conceito religioso-espiritual que atue de maneira simples, sem muita exposição ou sem parecer sobrecarregar a história.” (STAR Wars Disco Bônus, 2004). 51 Em 1975, George Lucas fundou uma empresa de efeitos especiais para suprir as demandas de Star Wars já que não haviam empresas especializadas nesse setor e os departamentos de efeitos especiais dos estúdios tinham sido desfeitos. “Em parte por causa do custo e em parte porque o gosto e a cultura americana pareciam preferir filmes mais realistas”. (STAR Wars Disco Bônus, 2004). De acordo com a necessidade da história, vários robôs foram construídos para povoar os cenários. No entanto, somente atores reais poderiam dar vida e personalidade aos dois andróides principais do filme, C-3PO e R2-D2. Então para o papel de R2-D2 Lucas encontrou um ator de baixa estatura e muita imaginação, Kenny Baker, e para C-3PO o ator Anthony Daniels foi o escolhido. Outros dois grandes desafios que acabam por se tornar grandes diferenciais para o filme estão ligados à sonorização: a trilha sonora e a sonoplastia. John Williams, famoso compositor de trilhas sonoras, incluindo a de Tubarão, foi contratado por George Lucas. Já os sons que davam mais vida e naturalidade ao mundo fantástico, em muitas das vezes, tinham foram sintetizados e criados de lugares incomuns, pois necessitavam expressar sons não originai e comuns. Com uma expectativa bem negativa da indústria, Star Wars começou a se preparar para sua estréia. A Fox solicitou um trailer para o natal, antes de seu real lançamento no verão. Pelo fato de não terem finalizado o filme, muitas imagens e efeitos especiais não puderam ser usados. Sendo assim, o trailer ficou mais focado em uma apresentação dos personagens e da atmosfera galáctica, deixando toda a carga de efeitos especiais para o próprio filme. As poucas ações de divulgação do filme eram em sua maioria originárias da Lucasfilms. Charles Lippincott, diretor de marketing da empresa, adorava ficção científica e tinha contatos com a base dos fãs desse gênero. Estabeleceu neste público o grande sustentáculo do filme, independentemente de sua aceitação por qualquer outra platéia. Além das licenças para camisetas e pôsteres, Lippincott fez um acordo para um gibi com Stan Lee e Marvel Comics. Ele também convenceu Del Ray a publicar uma versão romantizada do roteiro de George Lucas em novembro de 1976. Em fevereiro do ano 52 seguinte, 500 mil cópias já estavam esgotadas. Mas várias de suas tentativas de licenciamento foram rejeitadas antes do filme ser lançado. Com medo de Star Wars ser esmagado pelas outras produções a estrear no verão, a Fox lançou simultaneamente uma versão cinematográfica de um grande bestseller que era bastante esperada, O Outro Lado da Meia Noite, e somente permitia a exibição deste se exibissem também Star Wars. Como uma grande e satisfatória surpresa, Star Wars foi um sucesso. Leo Braudy, Professor de História Cultural Universidade do Sul da Califórnia afirma que as pessoas começaram a ver o mundo nos termos estabelecidos por Star Wars. Elas diziam ‘Que a Força esteja com você’. Era uma espécie de código que pretendia provar uma conexão entre os que já haviam assistido ao longa. Como já era de se esperar, os maiores fãs da Star Wars eram as crianças e estavam dispostas a tudo para ter cada vez mais perto a experiência do filme. Pelo fato das previsões negativas, havia pouquíssimas mercadorias de merchandising do filme nos primeiros meses de seu lançamento. Somente a Kenner Toys comprometeu-se com a marca, mesmo sem acreditar no sucesso do filme. Seu objetivo era lançar uma linha de brinquedos espaciais coloridos. No entanto, quando Star Wars se tornou uma febre, foram pegos totalmente de surpresa. Sem condições de produzir brinquedos para o Natal, a empresa solucionou o impasse com a famosa campanha da caixa vazia. A idéia era fomentar a ansiedade do público com lindas ilustrações do filme nas caixas dos brinquedos e fornecer em seu interior um certificado dizendo “Adquira este brinquedo em março.” Os licenciamentos não tinham limites. Iam desde colocar o rosto de Luke (Mark Hamill) em caixas de cereais até a produção de álbuns e figurinhas dos personagens de Star Wars. Em entrevista, a atriz Carrie Fisher, que interpretou a Princesa Léia, diz: Vendemos nossa imagem pessoal assim, quando me olho no espelho preciso dar dinheiro ao George. Você realmente só fica famoso quando sai no cartucho das balinhas. Mas você percebe ‘Não sou realmente famosa. A Princesa Léia é. E eu me pareço com ela.’ E devo a George uma boa grana. (STAR Wars Disco Bônus, 2004) As fronteiras haviam sido quebradas, tudo passou a ser possível e imaginável. No segundo filme da saga, por exemplo, o real roteiro foi guardado a sete chaves devido ao medo 53 de vazamento da história. Pouquíssimas pessoas sabiam o que de fato aconteceria com a história, principalmente o fato de Darth Vader (David Prowse) ser o verdadeiro pai de Luke. 2.8 A internet A transformação na indústria cinematográfica é freqüente, tornando cada vez mais complexo seu impacto social, econômico e cultural. Acompanhando essas mutações, o marketing usado para os lançamentos também mudou. A internet, uma das ferramentas mais recentes para a divulgação de filmes, passou a ser mais utilizada. Os grandes estúdios perceberam as potencialidades desse meio com os avanços das telecomunicações e transição digital, gerando uma enorme diversidade de produtos audiovisuais. Esses conteúdos influenciam diretamente o dia-a-dia de milhares de usuários da Internet, que têm à disposição ficção, documentários, projetos experimentais, animações e transmissões ao vivo, o que incentiva a produção/distribuição/exibição de obras realizadas nos mais variados formatos e suportes disponíveis, da película ao vídeo, do computador doméstico às poderosas estações gráficas, do amador ao profissional. (PÉRGOLA, 2010) É fato que a internet é hoje um dos meios mais baratos e eficientes para a distribuição, suas inúmeras vantagens possibilitam integrar procedimentos de produção de cinema, vídeo e televisão. Ela funciona como um banco de dados que fornece informações de todos os tipos. Segundo Donatan (2007), todas as outras mídias, com o surgimento da internet, foram ficando para trás. Filmes dotados de altos orçamentos se tornaram absolutamente comuns em Hollywood. Além dos incríveis gastos, com a produção de efeitos especiais e salários dos atores, havia também o gasto com publicidade. Contrariando essa lógica, Bruxa de Blair (The 54 Blair Witch Project, EUA, 1999), dos diretores Eduardo Sanchez e Daniel Myrick, foi um dos filmes de maior arrecadação de bilheteria, mais de $140 milhões de dólares, com o baixo investimento de $30 mil dólares. Em grande parte esse sucesso se deu ao uso da promoção na, até então praticamente ignorada, internet e sua utilização como meio de comunicação. Antes do lançamento, foram divulgadas supostas histórias a cerca da produção do longa, uma verdadeira lenda, que “vendia” o filme como uma produção real feita por jovens amadores que posteriormente sumiram sem deixar vestígios, exceto o material encontrado meses depois. O site www.blairwitch.com foi criado e disponibilizava uma bem preparada cronologia de supostos fatos que envolviam e davam sustentação aos boatos. Após o período de exibição, o frisson causado por Bruxa de Blair movimentava blogs e sites com especulações sobre a veracidade do filme. E ainda que o uso da internet já houvesse ganhado importância pela grande campanha publicitária com o filme Batman Eternamente (Batman Forever ,EUA 1995) do diretor Joel Schumacher, o investimento neste tipo de mídia, mesmo que relativamente barata, ainda era muito precário. Após Bruxa de Blair, a internet passou a ser atribuída como uma ferramenta interessante e eficaz pelas grandes produtoras. Conquistou espaço entre as mídias e atualmente vem ganhando cada vez mais destaque nas campanhas cinematográficas. Não só como parte da estratégia de lançamento, mas também como centro da convergência das mídias de apoio. A campanha realizada para o filme Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, EUA, 2008), do diretor Christopher Nolan, iniciou com o sucesso de criticas e bilheteria do filme Batman Begins (EUA, 2005), também de Nolan. Logo já circulavam pela internet especulações sobre o roteiro e sobre quem faria o papel do novo coringa. A campanha do Batman - O Cavaleiro das Trevas pode ser resumida em uma palavra: mistério. Foram meses até o visual de Heath Ledger como Coringa ser revelado, e mais meses até os personagens serem definidos, com a inclusão de Duas Caras no elenco. E então começou a campanha viral. [...] Mensagens, jornais virtuais, sites fantasmas e mais "travessuras" do Coringa. (DIAS, 2008). 55 Os responsáveis pela criação de um jogo de realidade alternativa, que foi a principal ferramenta para a divulgação do filme, foram a Warner Bros e a 42 Entertainment, o que tornou a espera por esse filme um grande evento. Uma das primeiras ações foi a divulgação de uma parte do roteiro com diálogos em que com as primeiras letras de cada linha formavam a frase "See you in December.". Pouco mais de um mês depois, o site do filme entrou no ar, mas nele não havia nada, somente a marca de Batman. Alguns semanas depois, ao clicar sobre a figura, a pessoa era direcionada para o site IBelieveinHerveyDent. Um dia depois pessoas foram até uma loja de quadrinhos na Califórnia e espalharam cartas do Coringa, completamente rabiscadas, com a mensagem I Believe in Harvey Dent too. Ao entrar com esta frase na internet o internauta era direcionado ao site do Harvey Dent. Mas em uma versão que havia sido modificada pelo Coringa, ou como André Pereira descreveu, "Coringada". Imitando a maquiagem do personagem o site se encontrava desenhado. Ao colocar o próprio email a pessoa recebia a seguinte mensagem: Eu sempre disse, você realmente não conhece um homem até que você arranque a pele de seu rosto, um pedaço por vez. Juntamente, foram disponibilizadas coordenadas e um link. No site seguinte, ao entrar com as orientações recebidas, um pixel da imagem era removido, revelando uma parte de outra imagem. Ao retirar todos os pixels a primeira imagem de Heath Ledger como Coringa era exibida. Na Comic-Com (feira de quadrinhos realizada todos os anos em San Diego, Califórnia) de 2007, foram entregues notas de US$ 1,00 "Coringadas" que levava as pessoas ao site WhySoSerious, "Lá havia coordenadas, que mostravam a calçada fora do pavilhão onde estava acontecendo a Comic-Con, e uma contagem regressiva, que acabaria no dia seguinte." (PEREIRA, 2008). No horário e local indicado um avião foi avistado com uma faixa que continha um numero de telefone. O número dava inicio a uma caçada na cidade. Pessoas que estavam na rua foram maquiadas de palhaço e receberam máscaras. Uma delas foi "escolhida" para ser sequestrada e morta no lugar do Coringa. Ao termino, as pessoas que acompanhavam a ação pela internet (através do site WhySoSerious) receberam o teaser trailer. Nele não continha nenhuma imagem, mas sim um áudio em que se podia identificar a voz do Coringa e de Bruce Wayne, O Batman, interpretado por Christian Bale. 56 Posteriormente o site WhySoSerious sofreu uma nova atualização: foram colocadas imagens de 49 locais espalhados por todo os EUA. Era solicitado que os seus usuários postassem fotos tiradas segundo a orientação. Ao fim dos envios surgia uma letra para cada foto, formando a frase: The only sensible way to live in this world is without rules9. Colocando a frase em um determinado campo o internauta era direcionado para outro site: Rory'sDeathKiss. Neste eram solicitadas fotos de pessoas vestidas de Coringa. Ao término do prazo de postagem uma mensagem avisava que receberiam um presente no Dia de Ação de Graças: um exemplar do The Gotham Times. A versão online do jornal, além de outros sites virais surgiram, viabilizando encontrar jogos que levariam a outras pistas. Entre elas um email que recrutava palhaços no The Gotham Times. Alguns internautas fizeram denúncias sobre a corrupção em Gotham e receberam uma ameaça telefônica de um policial corrupto. Em dezembro um jogo no WhySoSerious ofereceu àqueles que estavam fora dos Estados Unidos um teaser-poster, que continha uma pista para um novo trailer online. Os que estavam dentro do território americano receberam a chance de ver o prólogo do filme em IMAX. Em 2008 os virais continuaram. Algumas pessoas ganharam um celular do Coringa com uma mensagem que direcionava os seus proprietários a um novo site. O ClownTravelAgency prometia jogos em vários países, incluindo o Brasil. No dia 1º de Abril o jogo foi realizado e os participaram receberam bolsas com uma bola de boliche, cartas e um celular do Coringa. Com o término da caçada um novo site surgiu e ele deveria ser hackeado pelos portadores do celular. Novamente foram feitas ligações ameaçadoras, dessa ver por Jimbo Gordon, que viria a se tornar Comissário. Várias outras ações foram realizadas, mas é possível perceber que todas foram criadas para estabelecer um grau de realidade com os eventos do filme. Outro ponto relevante é que todas as ações são focadas no vilão do filme, o Coringa. 9 A única forma sensata de viver nesse mundo é sem regras. (T.A) 57 Segundo Donatan tanto aqueles que fazem parte da publicidade, quanto aqueles ligados ao entretenimento ainda têm muita resistência em usar as novas tecnologias, como internet, câmera digital e mp3. Porém, o uso da internet está cada vez mais interativo, migrando o poder das empresas para os consumidores. Sua opinião está sendo mais considerada, devido ao surgimento dos blogs e do twitter. A chave para entender a mudança é a transferência de poder: de quem faz e distribui os produtos de entretenimento para quem os consome. Em outras palavras, o poder está migrando dos estúdios de cinema, das redes de televisão, das gravadoras e das agências de propaganda para o sujeito no sofá com o controle remoto, ou para a mulher que compra uma entrada de cinema no multiplex do seu bairro, ou para o adolescente que baixa músicas na internet. O consumidor ganhou poder e liberdade. (DONATAN, 2007, p. 25) Diante dessa realidade vê-se tanto conteúdo sendo produzido para a internet. A propaganda deve ser menos intrusiva, mais convidativa. Levando isso em consideração, a indústria do cinema fornece aos espectadores conteúdo relevante e permite que eles as propaguem e comentem, espalhando as informações e opiniões por toda a rede. Os fãs da Saga Crepúsculo movimentam uma imensa rede de relacionamentos com fotos, notícias e boato. Lua Nova já prometia ser um grande sucesso nos cinemas em seu lançamento no dia 20 de Novembro de 2009, monitorado online por fãs de todo o mundo. De acordo com Donatan os estúdios cinematográficos têm receio de arriscar em novos projetos. Por isso produzem "filmes de franquia", que contam com um grande potencial para continuações. Além de apostarem em histórias já conhecidas e personagens populares. Todos esses quesitos podem ser utilizados para justificar o investimento da Summit na Saga Crepúsculo. Segundo o site da Veja, essa é uma das dez maiores “manias teens” de todos os tempos. “As franquias acabaram ficando conhecidas como o sustentáculo da indústria, pois são elas que têm garantido os lucros dos estúdios. O lucro de uma franquia saudável cobre, com folga, as perdas de meia dúzia de abacaxis.” (DONATAN, 2007, p. 92). Com Twilight a Summit passa a ser a responsável pela franquia mais rentável dos últimos tempos, segundo o The L.A. Times (The New Moon Movie, 2009). 58 3. LUA NOVA: A CONSTRUÇÃO DE UM BLOCKBUSTER Lua Nova é o segundo filme da Saga Crepúsculo, franquia cinematográfica adaptada dos livros homônimos de Stephanie Meyer. Os quatro livros que compõem a Saga já venderam 50 milhões de copias e foram publicados em 43 países (FOLHA Online). De bestseller, Crepúsculo e Lua Nova se tornaram blockbusters. Lua Nova foi lançado nos cinemas no dia 20 de novembro de 2009. O filme teve lançamento mundial, ao contrário de Crepúsculo. Após ser lançado no dia 21 de novembro de 2008, nos Estados Unidos, o primeiro filme da Saga começou a ser exibido nos cinemas brasileiros no dia 19 de dezembro do mesmo ano. Esta diferença entre o lançamento dos dois filmes é significativa. Crepúsculo, produzido com baixo orçamento, teve sua estréia adiantada no Brasil do dia 25 de dezembro, para o dia 19, em função do sucesso de bilheteria que alcançou. Lua Nova foi lançado mundialmente após a execução de uma elaborada estratégia de marketing que teve como apoio principal a internet. Aguardado por milhares de fãs, no Brasil e em todo o mundo, o segundo filme da Saga bateu recorde de bilheteria em seu primeiro dia de exibição. Nos Estados Unidos o filme arrecadou US$72.7 milhões, ultrapassando Batman, o Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, EUA, 2008), dirigido por Christopher Nolan, que havia arrecadado US$67.2 milhões em seu primeiro dia, segundo o site G1. Apenas nas sessões da meia-noite, nos EUA e Canadá, Lua Nova arrecadou US$ 26,3 milhões. O recorde para essa sessão pertencia ao filme Harry Potter e o Enigma do Príncipe (Harry Potter and the Half Blood Prince, Reino Unido, 2009), dirigido por David Yates. Parte do sucesso de Lua Nova na estréia é atribuído ao fato de ser uma seqüência. Após o primeiro filme a continuação da história desperta o interesse dos fãs que acompanham a Saga literária. Cada um dos livros de Stephanie Meyer compõe a história macro do amor (quase) impossível entre Bella Swan e Edward Cullen. O conteúdo fantástico, a temática vampiresca, a história de amor juvenil, entre outros elementos, fazem desta Saga uma 59 referência para os jovens de todo o mundo. Misturando os dilemas e crises enfrentados na adolescência a um mundo surreal e paralelo, onde seres fantástico e humanos coexistem. A estréia do filme Lua nova movimentou os cinemas e reuniu milhares de fãs ao redor do mundo. “Nada se compara a experiência de assistir o filme com os fãs, que sempre gritam e choram, sem medo de demonstrar suas emoções em suas cenas preferidas” (SILVA, 2010). Em Belo Horizonte no dia 20 de novembro de 2009 o fã-clube oficial, Twilightbh, organizou uma seção exclusiva do filme no cinema Cineart do Shopping Cidade. Com aproximadamente 600 membros cadastrados e faixa etária de 14 a 19 anos. O grupo de trabalho desta pesquisa compareceu a esta sessão e debate algumas impressões. Após a exibição do filme, ainda no espaço do Shopping, o Twilightbh, coordenado por Marina Duarte, Fernanda Siepierski e Selhe Moreira, organizou varias ações, recebendo o apoio da distribuidora Paris Filmes e da Editora Intrínseca. Estas atividades proporcionaram momentos interativos, como gincanas e sorteios de brindes relacionados à Saga. Para ganhar artigos os fãs deviam ter conhecer o universo do Crepúsculo e possuir objetos relacionados à Saga, como CDs, DVDs, revistas, livros etc. No dia do lançamento do filme, todos os ingressos para as sessões de Lua Nova estavam esgotados. Eles começaram a ser vendidos no dia 25 de setembro, praticamente dois meses antes da estréia. No Brasil, foram vendidos 297.600 ingressos antecipados, segundo o site O Globo. Filas enormes já se formavam com mais de duas horas de antecedência para o início da sessão. Em algumas salas de cinema, foram exibidas sessões especiais de Crepúsculo antes da estréia do segundo filme. Na sessão do Shopping Pátio Savassi, presenciada pelo grupo, alguns fãs assistiam o primeiro episódio da Saga com um laptop na fila de espera para a sessão de Lua Nova. O público era majoritariamente feminino, em geral com menos de vinte anos. Quase sempre em grupos e comumente portando algum produto relacionado aos filmes, como blusas, chaveiros e bottons. No momento em que a entrada foi liberada, várias jovens, 60 visivelmente ansiosas na fila, dispararam em direção à sala de cinema. Durante toda a sessão, o público continuou reagindo de forma exacerbada. 3.1 Análise decupada de Lua Nova Na abertura de Lua Nova, são apresentadas passagens das fases da lua. Completamente cheia no inicio, a lua começa a minguar, se torna nova e por fim desaparece dando lugar ao título do filme. Segundo o diretor Chris Weitz, em depoimento disponível nos extras do DVD, esta abertura foi pensada de acordo com a reação histérica esperada do público. Para Weitz, nos 30 segundos iniciais nada mais se ouviria nos cinemas do que os gritos das fãs (2009). A narrativa inicia mostrando Bella (Kristen Stewart) sofrendo pesadelos nos quais percebe que irá envelhecer, enquanto Edward (Robert Pattinson) continua jovem para sempre. O medo de envelhecer, mais do que qualquer outra coisa neste momento, é o que a preocupa, visto que está fazendo 19 anos, um a mais do que o vampiro. Este fato pode ser observado através de uma cena bem humorada na manhã de seu aniversario: Bella fica perturbada quando seu pai brinca ao dizer que ela estava velha e com um fio de cabelo branco. A idéia de envelhecer se torna um tormento. E, além de ser uma preocupação freqüente para a personagem, é também um dos mais fortes argumentos para que Edward a transforme em vampira. Na manhã seguinte ao sonho, Bella tira uma foto dos seus amigos e Edward chega. O diretor usa elementos para fazer com que a imagem desse vampiro seja impactante. Edward sai do carro e toda a cena é exibida em slow-motion. Ele vem andando em direção à Bella, 61 com o vento batendo em sua camisa. A música de fundo chega ao clímax e Edward dá um sorriso discreto, como se respondesse aos aplausos do público na sala do cinema. Em cenas como esta, percebe-se a relação que o diretor constrói entre o personagem e o público. Mais que o par ideal de Bella, Edward personifica o príncipe de cada adolescente fã da Saga. Desde a escolha do figurino à forma com que ele aparece em algumas cenas, tudo é rigorosamente planejado para esta identificação. Seduzidas, as jovens guardam pôsteres, desejam produtos, bonecos e todo o tipo de souvenir e informação que as aproximem do ator. Após os suspiros na sala de cinema Edward, finalmente, chega junto a Bella. Jacob Black (Taylor Lautner) aparece em cena e bloqueia Edward completamente, já anunciando o conflito que vai se evidenciar no decorrer da narrativa. Jacob lhe dá um presente: um apanhador de sonhos, propositalmente entregue na escola para causar ciúmes à Edward. Novamente, Jacob encobre o protagonista, desta vez ao levantar o objeto. Além da competição que se inicia entre os dois personagens por causa de Bella, Edward se sente particularmente frustrado e incomodado pelo fato dela não permitir que ele lhe dê presentes. Ao questioná-la sobre o assunto, Bella mostra seu sentimento de inferioridade em relação ao vampiro, respondendo que não tinha nada em troca para oferecer. O romance transborda na resposta apaixonada de Edward: “Bella, você me dá tudo só pelo fato de respirar.” (LUA Nova, 2009). Os dois se encaminham à aula de literatura. Os alunos assistem a uma versão antiga de Romeu e Julieta. De forma simples o diretor retoma (já que este é o segundo filme da trama) a apresentação das personagens secundárias, os amigos de Bella. Com um movimento contínuo da câmera, um travelling, percebe-se a reação de cada um à mesma cena. Em alguns segundos é possível identificar as características de cada personagem por suas expressões. Jessica (Anna Kendrick) se emociona, Ângela (Christian Serratos) reage mais secamente, Eric (Justin Chon) chora e Mike (Michael Welch) cochila. Durante a aula Bella e Edward discutem sobre suicídio. O vampiro diz que inveja a possibilidade humana de terminar com a própria vida, pois para ele seria impossível, devido á 62 sua natureza e resistência física. Incomodado com o barulho da conversa entre os dois, o professor pede a Edward que recite as últimas falas de Romeu: Aqui, sim, aqui mesmo fixar quero meu eterno repouso, da carne lassa do mundo sacudir o jugo das estrelas funestas. Olhos, vede mais uma vez; é a última. Um abraço permiti-vos também, ó braços! Lábios, que sois a porta do hálito, com um beijo legítimo selai este pacto sempiterno com a morte exorbitante. (LUA Nova, 2009) A relação das personagens com a história de Romeu e Julieta é direta. Não que isto houvesse passado despercebido, mas neste momento ela se torna explicita. Mesmo contra a vontade da protagonista, Alice (Ashley Greene) organiza para Bella uma festa de aniversário na casa dos Cullen. Ao chegar à festa Bella ouve de Edward histórias sobre os Volturi, um clã de vampiros muito antigo e poderoso. Próximo ao que se chama realeza, o grupo esconde atrás de seu refinamento um completo desrespeito pela vida humana. Prezam por uma lei que é seguida fielmente: manter a existência dos vampiros em segredo, sob pena de destruição. Para ilustrar a história dos Volturi e o cumprimento da lei, o quadro que eles observam ganha vida, saindo aos poucos da textura de uma pintura para uma cena, como um flashback. Constrangida, Bella recebe os presentes e se corta com um dos embrulhos. Ao sentir o cheiro do sangue, Jasper (Jackson Rathbone), um dos vampiros da família Cullen, não consegue se controlar e ataca Bella. Ao tentar protegê-la, Edward a joga contra uma mesa de vidro provocando um ferimento mais grave. Bella é levada para o escritório de Carlisle (Peter Facinelli), o pai da família Cullen, onde recebe pontos no ferimento. Enquanto é atendida Bella observa uma serie de quadros e gravuras que exemplificam o que a família Cullen pensa sobre os seres que são. Nos quadros, aparecem demônios e criaturas sendo torturadas ou em grande sofrimento. Carlisle conta 63 sobre a felicidade que sente em ajudar as pessoas e seu medo de ser condenado. Nesse momento, Bella entende o motivo de Edward não a transformar em vampira, pois ele acha que tiraria a sua alma. Para Edward, transformá-la seria uma tragédia. Edward, perturbado com o acontecimento da noite anterior encontra Bella e a chama para uma volta na floresta. Durante o passeio, diz que tem que deixar Forks e que a garota não pertence ao seu mundo, que não a quer mais. Pede apenas para que ela não cometa nenhuma imprudência e, em troca, essa seria a última vez que o veria. Seria como se ele nunca tivesse existido. Ao longo das cenas nas quais Edward termina com Bella, o uso da câmera é essencial para a construção do sentimento perturbador. Os ângulos invertidos, a ondulação e a movimentação excessiva causam uma sensação desconfortável. A cada palavra Edward parece mais distante e alto. No diálogo a câmera se torna mais instável quando mostra Bella. Quando ele se aproxima e a toca, a cena se estabiliza para retornar ao desequilíbrio no momento em que Edward se afasta. Edward vai embora e Bella, atordoada, vai atrás dele e se perde enquanto anoitece. Ao tropeçar em um galho, cai e chora até adormecer. A dramaticidade da cena é conferida pela iluminação que demonstra o passar do tempo e pelo movimento circulatório contínuo da câmera, evidenciando o descontrole da personagem. Com a longa ausência de Bella, seu pai Charlie (Billy Burke) mobiliza parte da cidade para procurá-la. Após horas de busca, ela é salva por Sam (Chaske Spencer), da tribo Quileute. Ao retornar com a garota nos braços, Sam é recebido com alívio pelo pai e com desconfiança por Jacob. A cena seguinte caracteriza a passagem de tempo na vida da Bella. A protagonista fica sentada em uma cadeira, sempre na mesma posição, enquanto a câmera gira a sua volta. A cada volta completa se passa um mês. Além da legenda, há mudanças na paisagem da janela e a diminuição dos quadros que decoram o quarto, como se ela estivesse cada vez mais longe do que representa familiaridade e conforto. 64 A expressão de Bella é vazia e apática, a estagnação chega a ser contagiante. Seu rosto sóbrio se torna ainda mais pálido e com olheiras profundas. Os pesadelos se tornam constantes. O filme adquire o tom melancólico e depressivo que o acompanhará por grande parte da trama. Passagens que somam locuções em off de e-mails mandados por Bella para Alice, contando como ela se sente, mostram como a sua vida ficou estagnada durante meses com a ausência de Edward, além do sofrimento e dor que sente pela ausência de toda a família Cullen. Seu pai, preocupado com a situação, decide levar Bella a Jacksonville para morar com a mãe. Temendo deixar Forks, na esperança que Edward volte, Bella diz ao pai que vai ao cinema com Jessica. Após a sessão, Bella decide subir na garupa da moto de um desconhecido. Assim ela descobre que toda vez que está em perigo tem uma alucinação com Edward. Na adaptação cinematográfica, as alucinações são também visuais. No livro, Bella apenas ouve a voz do vampiro, mas no filme ela também o vê. Claramente uma forma de inserir mais cenas do protagonista já que ele está ausente em grande parte da trama de Lua Nova. Na tentativa de se expor novamente ao perigo, Bella compra duas motos velhas e as leva para Jacob consertar. Mesmo tendo 16 anos, Jake mostra mudanças surpreendentes em seu físico. Bella e seu amigo passam muito tempo juntos. Ele faz com que ela se sinta melhor, mais viva, mas não consegue afastar os pesadelos. A passagem do tempo enquanto Jacob conserta as motos é muito semelhante a usada anteriormente, mas o que marca a passagem dos dias nesse caso é a diferença na aparência das motos e das personagens, além da mudança de posicionamento dos atores, criando situações que seriam impossíveis em um mesmo espaço tempo. Jacob conta a Bella sobre Sam e seus “discípulos”, grupo mal visto por ele e seus antigos amigos, que agora são componentes do mesmo. Ele relata sobre o medo que sentia em relação à forma como Sam o olhava. Dando a sensação que o esperando. Bella o aconselha a evitar o líder, Jacob diz que tenta. Nesse momento fica claro a expectativa de que algo relacionado ao bando irá acontecer à personagem. Mesmo para os expectadores que não conhecem a história da Saga, é evidente o tom de suspense da cena. 65 Com a amizade de Jacob, Bella volta gradativamente a sua rotina, inclusive se reaproximando dos seus amigos do colégio. Para demonstrar essa ligação, a música usada na cena em que Bella está com Jake se prolonga até o momento em que ela se junta aos colegas. Enquanto Bella vive suas desventuras amorosas e tenta voltar a sua vida comum, um suposto urso faz vitimas na floresta e o pai de Bella, xerife da cidade, não consegue encontrá-lo. Mike, amigo da escola, convida a protagonista para ir ao cinema. Temendo um encontro a sós com ele, Bella convida mais pessoas. Não contando com os imprevistos de seus amigos, Bella se vê na sessão de um filme, apenas com Jacob e Mike. Durante a exibição, Mike se sente mal e os três saem da sala. Enquanto Mike esta no banheiro, Jacob se declara para Bella e diz que nunca a machucaria ou a decepcionaria. Com a volta do garoto, Jake se mostra excessivamente agressivo e decide repentinamente ir embora. Jacob passa a não atender as chamadas de Bella, levando-a a uma atitude desesperada: ir diretamente a sua casa. Após uma discussão, Bella percebe que Jacob se juntou ao grupo de Sam. Ele diz que o líder está tentando ajudá-lo, pois ele não é mais uma pessoa boa e que ela deveria ir embora. Mesmo dizendo que estava tentando protegê-la e que assim estaria cumprindo a promessa de não machucá-la, Jacob dá a Bella sua segunda grande decepção. Bella fica desolada e decide ir à campina, lugar onde Edward revelou para ela, no primeiro filme, que quando exposto ao sol sua pele brilhava. Mas ao chegar, ela descobre que o local tão especial estava sem vida, não havia mais flores nem a grama verde. A campina refletia o que havia acontecido com o relacionamento entre os dois, ou representa a vida dela depois que o seu namorado foi embora. Em ambos os casos, é como se algo tivesse morrido, a vida já não está mais presente. Bella encontra Laurent (Edi Gathegi) que foi a cidade para fazer um favor a Victoria (Rachelle Lefevre). Laurent deveria constatar se Bella estava ainda sobre a proteção dos Cullen. Victoria achava justo matar a companheira de Edward, já que ele matou o dela. Laurent avança sobre Bella, dizendo estar fazendo um favor, pois Victoria planejou matá-la lenta e dolorosamente e ele o faria rápido. Nesse momento, aparece uma matilha de lobos gigantes que correm em direção ao vampiro. Ele tenta fugir, mas os lobos são mais rápidos e o destroem. Bella não vê 66 a cena. Desesperada, ela chega em casa achando que os lobos são os causadores das mortes na cidade e conta o mal entendido para o pai. À noite, Jacob vai à casa de Bella e tenta fazê-la relembrar da historia que contou enquanto andavam na praia em La Push, cena ocorrida no primeiro filme. Enquanto dorme, ela se lembra: Jacob conta que os Quileutes são descendentes dos lobos. Na manhã seguinte, ela vai até a casa de Jake e encontra o grupo reunido. Alterada, ela bate em Paul (Alex Meraz), um dos membros do grupo. Ele fica nervoso e se transforma em um grande lobo diante de seus olhos. Jacob aparece para salvá-la, assumindo também a forma de lobo. Sam, líder dos Quileutes, pede que levem Bella para a casa de Emily (Tinsel Korey), sua noiva. Bella repara que ela possui uma grande cicatriz no rosto. Mais tarde, Jacob explica os motivos da marca: Sam certa vez ficou muito nervoso, por uma fração de segundos se transformou em lobo e feriu a noiva gravemente. Ela fica sabendo como funciona a matilha: as ordens do alfa (Sam) são obrigatoriamente obedecidas e eles podem ouvir os pensamentos uns dos outros quando estão em forma de lobo. Jacob volta de sua luta com Paul e conversa com Bella. Ele explica que quando os vampiros aparecem na cidade começa uma febre entre os Quileutes, que se transformam em lobos para proteger a tribo. Jacob esclarece que não estão matando as pessoas, mas sim uma vampira de cabelos vermelhos. Eles matam somente vampiros, exceto os Cullen, devido a um acordo feito há muitos anos. Bella conta que a vampira Victoria está na cidade para matá-la. Jacob e os outros lobos passam a protegê-la e ao seu pai. Victoria aparece na floresta no momento em que Charlie e Harry (Graham Greene) estão caçando os lobos, supostos responsáveis pelas mortes. Neste momento, o diretor realça o contraste de cores entre a mata verde e o cabelo vermelho de Victoria. Dessa forma, quando se vê o ponto vermelho em meio às arvores não é necessário mostrar o rosto da vampira, os espectadores inferem a sua presença. Ela ataca Harry que sofre um enfarte e morre. Os lobos iniciam uma perseguição a Victoria. Em toda a sequência, são utilizadas imagens rápidas que alternam para cenas em slow motion, com tomadas aéreas e movimentos 67 de câmera para simular a movimentação das personagens. A caçada termina com a ruiva pulando no mar. Sozinha durante estas caçadas Bella encontra adrenalina saltando de um penhasco para o mar. Ela sobrevive e consegue mais uma alucinação com Edward, mas as ondas fortes fazem com que se afogue. Antes de perder a consciência, ela vê Victoria vindo em sua direção, mas Jacob a salva novamente. Ao levar Bella para casa quando estão quase saindo do carro, Jacob sente um vampiro por perto. Instintivamente, tenta levá-la para fora das fronteiras, já que só poderia protegê-la fora dos limites acordados com os vampiros da família Cullen. Porém, ao ver o carro de Carlisle parado próximo a casa, Bella corre em um impulso de esperança, imaginando que Edward também poderia ter voltado. Na casa, Bella encontra Alice, que pensava que a amiga estava morta. Em sua visão, a irmã de Edward viu Bella pulando do penhasco. Pelo de suas premonições não registrarem lobos supôs o pior. Enquanto as duas conversam, Jacob entra para ver se ela está bem. Mesmo contando para Alice que estava protegendo Bella de Victoria, o lobo e a vampira ficam nervosos e Alice acha melhor esperar do lado de fora da casa. Quando ficam a sós, Jacob e Bella conversam intimamente. Na eminência de um beijo, o telefone toca. É Edward. Jacob atende e responde que Charlie está cuidando de um funeral. Alice volta a casa e diz que teve uma visão de seu irmão. Por achar que Bella estaria morta Edward se dirigia para a Itália atrás dos Volturi. Bella e Alice vão para a Itália. A vampira tem uma visão: Edward pede aos Volturi para matá-lo, mas eles recusam o seu pedido por causa de seu dom valioso, o de ler mentes. Inconformado, Edward decide fazer uma cena, se mostrando para os humanos para ferir o código dos Volturi e alcançar seu desejo. Quando Bella e Alice chegam a Volterra, cidade dos Volturi, se deparam com a comemoração do festival de São Marcos. Todos usam vermelho, a população relembra a 68 expulsão dos vampiros da cidade. Por todo o filme, a cor vermelha foi poupada, sendo usada quase sempre em momentos de perigo, como quando Victória aparece. Assim, quando a cor é explorada ao máximo “[...] temos a sensação de sangue e perigo.” (LUA Nova, 2010). Edward está prestes a se mostrar aos humanos. Bella corre para impedi-lo, enquanto ele anda para o sol seu corpo começa a brilhar como diamante. Segundo Weitz (2010) [...] “os diamantes não dispersam a luz para o exterior, mas as pessoas pensam que sim, então foi isso que fizemos.” Uma criança percebe o vampiro, mas antes que mais pessoas o vejam, Bella o empurra para a sombra em um abraço desesperado. A cena é exibida em câmera lenta, aumentando a dramaticidade e o suspense daquele momento, quando a vida de Edward está em jogo. Achando estar morto, diz ao ver sua amada: “Paraíso”. Ao perceber que Bella está viva, diz que não tentou se matar por culpa, mas por não conseguir viver em um mundo onde ela não exista. Completa dizendo que tudo o que ele disse na floresta era mentira. Bella argumenta que acreditou nas palavras dele porque não fazia sentido ele a amar. Edward então diz que ela é tudo para ele e os dois se beijam para o delírio das adolescentes no cinema. Durante a romântica cena do reencontro do casal principal, aparecem os guardas dos Volturi. Alice surge para acalmar a situação, mas no momento em que Jane (Dakota Fanning) aparece, os três a obedecem, evidenciando o medo e o respeito que todos têm por aquela menina jovem e de olhar terrível. Ao passar pela recepção, são recebidos por uma secretaria humana. Segundo Edward, ela está ali porque espera um dia ser um deles. Ao chegarem a um palácio de pedras, o irmão de Jane se adianta e diz: “Irmã, te mandei atrás de um e volta com dois e meio” (LUA Nova, New Moon, 2009), referindo-se pejorativamente a Bella. Aro (Michael Sheen) de forma educada se diz feliz pela garota estar viva, pois os finais felizes são muito raros. Aro toca na mão de Edward e diz não entender como ele consegue ficar tão perto dela já que seu sangue é tão atraente para ele. Edward explica a Bella que Aro pode ler todos os pensamentos com apenas um toque. 69 Aro acha fascinante o fato de Edward ser um grande telepata, mas não conseguir ler os pensamentos de Bella. Ele decide ver se ela é uma exceção também aos seus dons. Toca em sua mão e não vê nada. Curioso quanto ao dom de Bella e, claramente buscando uma fraqueza na humana, pede a Jane que teste seu poder. Edward tenta impedir, mas Jane diz "Dor" e ele se contorce em agonia ao entrar na frente de Bella e receber o poder da garota. Jane tenta novamente e, para surpresa de Aro, nada acontece. Bella é imune a Jane também. Os outros Volturi alertam que a garota é muito perigosa e deve ser destruída. Aro concorda e chama Felix (Daniel Cudmore), um guerreiro. Edward tenta proteger Bella, entrando em confronto com Felix. O guerreiro Volturi está prestes a matar Edward, Bella se desespera e pede para que ele a mate em seu lugar. Aro acha extraordinário o fato de uma humana trocar a vida por alguém como eles, um vampiro, “um monstro sem alma” (LUA Nova, 2009). Ela replica a Aro que ele não sabe nada sobre a alma de Edward. Aro se diz muito triste, pois Edward não tem a intenção de dar a ela a imortalidade. Nesse momento, Alice diz que Bella será um deles, pois ela mesma a transformará. Alice ergue a mão e o chefe dos Volturi lê seus pensamentos e concorda. Marcus (Christopher Heyerdahl) agradece os três pela visita e diz que os Volturi retribuirão o favor. Enquanto eles vão saindo, Heidi (Noot Seear) chega com varias pessoas em uma excursão. Todos serão mortos pelos Volturi. Bella deixa o castelo envolta nos braços de Edward ao som de gritos. Bella, ao voltar para os EUA, contínua tendo pesadelos, mas agora tem Edward ao seu lado. Ele diz que a única razão para ter ido embora foi para protegê-la e jura não mais falhar. Edward não quer transformá-la. Bella então toma a iniciativa de fazer uma reunião com a família Cullen para que eles decidam sobre a sua imortalidade. Na volta para casa, Jacob aparece para conversar com o casal. Edward o agradece por manter Bella viva. Jacob então lembra Edward do tratado: se ele morder algum humano a trégua entre Quileutes e Cullen termina. Bella alega que esta é uma escolha sua e diz a Jacob que o ama, mas que não a faça escolher, pois ela sempre escolherá o vampiro. Edward e Jacob começam a discutir, este se transforma em lobo. Temendo uma luta, Bella fica entre ambos e 70 pede que parem, pois não poderiam machucar um ao outro sem machucá-la. Esta imagem reforça o triangulo amoroso. Jacob vai embora e o filme termina quando Edward faz uma proposta a Bella: transformá-la com a condição de que seja para sempre e a pede em casamento. Lua Nova, de Chris Weitz, em relação ao filme anterior, Crepúsculo, aprimorou os aspectos técnicos, mostrando uma evolução significativa. O diretor mostrou talento nas cenas de ação, a maioria feitas com uso do slow motion justamente para passar a sensação de rapidez de movimento dos vampiros e lobisomens. Ele também usou planos fechados e câmeras próximas aos rostos, provocando intimidade. No filme Crepúsculo, as cores em destaque foram o azul e o cinza. Em Lua Nova as cores que predominam são o marrom e o vermelho. Essa mudança de cores pode ser entendida pelo fato da história contada no segundo filme ter como protagonista Jacob, um garoto lobisomem que vive em uma floresta indígena. Estes elementos estão muito ligados à terra. Mas em relação às roupas usadas pelos vampiros, e o lugar onde moram, ainda são predominantes as cores azul e cinza. As cenas da cidade de Volterra não foram feitas em estúdio, mas em locações na cidade de Montepulciano, na Itália, pelo seu aspecto medieval. Nestas filmagens, Weitz continua usando cores mais quentes, mas ao entrar na sala em que dos Volturi, as cores frias voltam a reinar. Para dar um ar de nobreza a esse clã, o figurino usado pelos atores lembra roupas antigas, peças inspiradas nas vestimentas dos reis, com ar um pouco mais moderno. Todas as pessoas que aparecem no Festival de São Marcos são figurantes, em nenhum momento foi usada a multiplicação computadorizada. Muitos deles são fãs que foram até a cidade para acompanhar as gravações e conseguiram fazer parte do filme. “Na verdade, apesar de ter recuperado o gênero filme de vampiros, do ponto de vista estético Lua Nova está mais próximo dos grandes melodramas clássicos [...] há um certo tom anacrônico que constitui um ponto a favor do filme.” (MENDES,2009) Bella Swan passa por conflitos mais maduros em relação ao seu romance com Edward Cullen, levando ao fim do relacionamento. O filme desconstrói o mundo sentimental da 71 protagonista. O romance começa a ganhar contornos cada vez mais trágicos, além disso o filme traz referências do livro Romeu e Julieta de William Shakespeare, explorando o amor impossível dos protagonistas. O roteiro é competente, a adaptação perde e ganha detalhes, deixando a história mais cinematográfica. Uma alteração foi muito questionada: as aparições extras de Edward. No livro, nos momentos em que Bella encontra-se em perigo, ela escuta a voz do vampiro em sua mente. Mas no filme, para agradar as fãs que queriam ver mais cenas do galã, a heroína passa a vê-lo, como um espectro que a avisa dos perigos. Elementos do filme que fazem com que a história se aproxime tanto dos adolescentes, são as crises de identidade e a sensação de não pertencimento. Edward se acha um monstro sem alma, tem medo de machucar o amor da sua vida por não conseguir se controlar e não quer transformá-la porque sabe as conseqüências. Bella se sente inferior a Edward. Por não se achar bonita, ela não acredita no seu amor. Jacob passa por uma grande mudança em sua vida ao se descobrir lobisomem, não se vendo mais como uma pessoa boa. O filme foca no relato de Bella sobre a separação do seu verdadeiro amor, sua maturidade e aproximação com Jacob. Os sentimentos da personagem são contados ao longo do filme em narrações em off, relatos de e-mails que Bella envia a Alice regularmente, contando tudo o que se passa em sua vida. Bella tem baixa-estima e a impulsividade característica de um romance idealizado e passional. Com Edward, ela encontra equilíbrio. Em contrapartida, Jacob está em maior sintonia com o universo de Bella, mais objetivo e próximo do contato físico. Bella se vê dividida entre Edward, o amor idealizado, e Jacob, um amor tangível. Durante todo o filme, pode-se ver que a relação estabelecida pela protagonista com os dois pretendentes é distinta. Com Edward, Bella está sempre tensa, não sorri, está sempre preocupada com o que ele pensa e nunca se acha a altura do amor a ela oferecido. Esse é um dos motivos de Bella ter acreditado tão facilmente no que ele diz na floresta quando se despede. Ela sempre se vê em posição de inferioridade, não consegue compreender como 72 alguém como Edward pode amar uma garota tão simples. Além dos diálogos já mencionados, há alguns gestos que exemplificam isso durante o filme: quando Bella imprime a foto do seu aniversário, no qual o casal está retratado, ela dobra a parte em que aparece e cola no álbum somente a foto do seu amado. Edward teme não se controlar e impõe limites ao relacionamento. Sem contato físico, a relação é baseada na amizade e no carinho, ainda que exista o desejo. Com Jacob, Bella se sente mais a vontade e confortável. Eles riem, brincam, é um relacionamento leve, conversam de igual para igual. Jacob é a única pessoa que consegue fazer com que Bella se sinta um pouco melhor quando Edward a abandona. Cada clã da história tem algum objeto que os une e os identifica. A família Cullen tem o seu brasão que todos portam, cada um a sua maneira. Por exemplo, Alice tem uma gargantilha com o símbolo, já Rosalie o usa como um pingente e todos os homens possuem braceletes. Já os Volturi possuem colares com pingentes que lembram um V. A identidade da matilha Quileute é a tatuagem que eles apresentam no braço direito. Todos estes adereços, além de criar uma unidade para cada clã, aumentam a variedade de produtos que podem ser comercializados. 3.2 As ações de marketing da Summit Entertainment O sucesso do primeiro filme da Saga abriu caminho para as sequências. A grande bilheteria e a repercussão no meio jovem, percebida principalmente na internet, em redes sociais e eventos relacionados, tornaram a marca Twilight popular. Seguindo exemplo de Star Wars e outros filmes de sucesso, a marca vem se mostrando um produto rentável, não só através das bilheterias, como através da comercialização de produtos. 73 Por se tratar de uma sequência, para explanar sobre as ações de marketing de Lua Nova, se falará em alguns momentos sobre a Saga como um todo. Muitas ações que compõem a estratégia de marketing estão relacionadas à marca Crepúsculo. A comoção gerada por Lua Nova e a Saga Crepúsculo impressiona. O envolvimento dos fãs com a história é facilitado pelo acesso e vasta utilização da internet. As ferramentas da internet são amplas e múltiplas. As facilidades de compartilhamento de informações geram um acervo surpreendente de conteúdo sobre qualquer assunto. Visto que grande parte dos jovens, público do filme em questão, são usuários da internet, a proliferação de conteúdo relacionado a Saga é incalculável. A disponibilidade para o novo que os jovens possuem facilita a existência da marca em redes até mesmo pouco populares, ou desconhecidas pela produtora. Ainda que a própria Summit não interaja oficialmente com seu público em dadas redes sociais, a marca está presente em um número considerável delas. Ao pesquisar o termo Lua Nova no buscador Google, no dia 27 de maio de 2010, os resultados somam mais de 921.000 páginas relevantes. Usando o termo “Crepúsculo” são mais de 5.580.000 páginas. E os números aumentam ainda mais considerando os termos em inglês, “New Moon”, 76.100.000 resultados e “Twilight”, 99.200.000. Além do site oficial, a rede de computadores tem uma enorme quantidade de sites e blogs que estão relacionados aos filmes e livros, mas que não têm nenhuma ligação com os canais oficiais da Saga. Muitos deles são desenvolvidos por fãs e tem a sua construção baseada na colaboração de outros admiradores. Eles mandam e-mails com notícias e fotos que posam interessar ao blog e que ainda não foram publicados, como matérias, entrevistas dos atores, pôsteres que são lançados em países diversos. Para exemplificar, dois sites não oficiais, um dos EUA, o New Moon Movie, e outro do Brasil, o Foforks. São os países com os dois maiores fã-clubes da Saga no mundo, sendo o americano o maior, ainda que a disparidade seja relativamente pequena. O blog americano escolhido para análise e coleta de informações foi o New Moon Movie. É um site construído coletivamente e os seus moderadores disponibilizam um e-mail 74 para que qualquer um possa mandar informações, fotos, vídeos e outros conteúdos. O site é dividido em seções, entre elas: Eclipse Movie, Amazing New Moon Movie Posters, News from the Vancouver Set of the Eclipse Movie e Eclipse Trailer. Há uma página diferente para cada filme. Quando as notícias sobre um determinado longa, como foi o caso de Crepúsculo, diminuem, essa parte é retirada do ar e se passa a dar mais importância para aqueles filmes que estejam em alta. A página relacionada a Lua Nova recebeu muitas notícias, inclusive após o filme sair de cartaz, como a divulgação da sua indicação para a premiação de cinema organizada pela MTV americana, o MTV Movie Awards. Além de informações, o blog ainda oferece opções de downloads de conteúdos, como o filme, a sua trilha sonora e trilha sonora original. Todos os produtos são licenciados pela Summit, esse conteúdo está disponível para ser baixado dentro do iTunes ou Amazon.com. O Foforks é uma mistura de Forks, nome da cidade da trama e a palavra fofoca. Voltado para a Saga Twilight e assuntos relacionados, nele é criado um verdadeiro universo de conteúdo. O site divulga cartazes, trailers dos filmes, cenas dos bastidores, informações sobre as filmagens, links para a pré-venda de ingressos e dos livros, além de todo o tipo de material promocional relacionado, tanto à Saga, quanto à temática vampiresca. A equipe é formada por colaboradores voluntários que escrevem matérias, editam fotos, criam conteúdo e traduzem o material que não é lançado oficialmente no Brasil. Assim, as ações promovidas pela Summit fora do país chegam ao conhecimento dos fãs brasileiros através da internet. O Foforks se tornou um importante site de referência para os fãs da Saga no Brasil. Além de acompanhar as noticias sobre seus atores, é possível comprar produtos e livros sobre a temática vampiresca ou outros títulos relacionados. O universo criado pelo Foforks é abrangente. O site noticia toda e qualquer ação divulgada sobre os atores, fotos, matérias em revistas e participação em programas da televisão e da internet. O conteúdo é traduzido e disponibilizado com uma velocidade considerável. 75 A estratégia cinematográfica do star system é evidente. Os atores são astros e suas ações tomam proporções impressionantes. Cada passo dos atores é motivo para um post no blog: a chegada ao aeroporto, a corrida matinal, as compras e até mesmo o passeio com o cachorro. Qualquer movimento, por mais cotidiano que seja, pode ser documentado. No Brasil, um ilustrador paulista, Robson Reis, criou a série de tirinhas Twilittle, Crepusculinho. Nas tirinhas, a história ganha outros contornos, é satirizada com muito bom humor. Após ler o primeiro livro da Saga, Reis criou duas tirinhas, nas quais brincava com a história retratada. Na primeira, Edward questiona Bella quanto à sua natureza. Quando Bella responde que considerou kriptonita e aranhas radioativas, Edward responde: ”Tem certeza que a livraria que você procura não é uma Comic Shop?”. Na versão original, ele responde a Bella que essas teorias são sobre super-heróis e ele na verdade pode ser o vilão. Na segunda, a ironia é com o fato da personagem sempre se referir à pele de seu amado com expressões como “mármore branco”. Quando a protagonista diz à Edward “Sua pele é gelada e branca como mármore, forte como concreto, dura como granito”, o galã responde: “Tô me sentindo um piso de banheiro!”. As tirinhas foram enviadas para uma amiga, fã da Saga que o aconselhou a enviá-las para o site Foforks. Mesmo temendo a reação das fãs, Reis enviou e para sua surpresa seu trabalho foi bem recebido. Em pouco tempo, as tiras se espalharam pela internet. Diante do sucesso e a pedido dos fãs, Robson criou mais tirinhas e passou a integrar o grupo que matem o site Foforks, publicando periódicamente. Os personagens de Crepúsculo ganharam nomes adaptados e já possuem personalidade própria. Edward Cullen é Edu Colher, Jacob é Jacó, dentre outros. As tiras seguem, de certa forma, a ordem dos fatos. As histórias retratadas são de cenas dos filmes e de passagens dos livros, mas existem ainda algumas sazonais, como as de temática carnavalesca. s tiras ganharam visibilidade, incluindo matérias sobre o trabalho do autor em sites de notícias e jornais. O sucesso foi tamanho que as tiras se transformaram em revistinhas que já estão em sua segunda edição. Elas são vendidas pelo site do Crepusculinho, assim como 76 bonecos de pano inspirados nos desenhos e material promocional relacionado. As tiras atualmente possuem blog oficial, perfil no Myspace, Twitter, Facebook, entre outros. E mantêm um contato estreito com os fãs. A comunidade virtual no site Orkut já possui mais de 7.000 membros em pouco mais de um ano de existência. Segundo Robson Reis, não há informações oficiais se a Summit sabe a respeito das tirinhas ou se a autora Stephanie Meyer já teve conhecimento. A distribuidora não se manifestou a respeito, mas é fato que estas ações informais também promovem o filme. As tiras que abordam a história do Lua Nova contribuíram para o lançamento do filme, enquadrando-se na categoria dos fanfictions, termo em inglês para o material fictício criada pelos fãs, mas que não tem ligação oficial com a obra original. Assim como os fanmades, a existência e a popularização das tiras de Reis são um exemplo das novas formas de comunicação viabilizadas pela internet. A facilidade de disponibilização de conteúdo online favorece a distribuição de informações e peças, que outrora dependeriam de maiores investimentos financeiros nem sempre possíveis para pequenos artistas. O ambiente colaborativo da web democratiza a circulação da informação e interfere diretamente nas ações de comunicação da atualidade. A internet foi de suma importância na mobilização dos fãs da Saga. Tamanha comoção pode ser atribuída a uma estratégia de marketing bem elaborada, focada no meio digital, mas que não deixou de lado o mundo offline. O cartaz, como explicado anteriormente, é uma importante ferramenta no marketing cinematográfico. Raras são as estratégias de lançamento que não incluem a sua criação e divulgação. Além de incitar o público a assistir a obra, eles são vendidos em lojas especializadas e disponibilizados na internet. O cartaz leva a identidade visual do filme. Através de uma imagem e geralmente de um titulo, o público tem o conceito da obra. O primeiro cartaz/pôster oficial de Lua Nova foi divulgado pela Summit na segunda quinzena de maio de 2009. Nele, Bella aparece próximo a Jacob que está entre ela e Edward, algo bastante significativo para o enredo do filme. Posteriormente, foram lançados mais de 10 cartazes. Entre eles, peças em que figuram os Volturi, os lobisomens da tribo Quilleute e a 77 família Cullen, assim como peças em que personagens importantes aparecem sozinhas como Bella, Edward, Jacob e Jane. Além dos cartazes oficiais divulgados pela Summit, circulam na internet outras peças chamadas de fanmade: criações de fãs da série que, pela qualidade do acabamento e do conceito, chegam a confundir até mesmo sites oficiais. Um deles mostrava uma garota (Bella) vagando por um lugar inóspito e vazio representando o sentimento de desespero e solidão que norteia o filme. Outra peça apresentava Edward envolto em uma neblina soturna e com a camisa aberta, assim como em uma das cenas do filme. Algumas peças envolvem montagens irretocáveis e tratamentos cuidadosos de imagens disponíveis na internet, assim como o uso de fontes e parâmetros iguais aos das peças originais. Em filmes como os da Saga Crepúsculo, peças fanmade se tornaram bastante comuns. Seu público jovem, sedento de informação, com acesso à internet e a programas de edição de imagens, chegam a produzir peças que se espalham rapidamente pela rede. Comumente estas peças são liberadas antes mesmo dos cartazes oficiais. Por se tratar da adaptação de um bestseller, novas edições dos livros foram lançadas, substituindo as capas originais pelos pôsteres dos filmes. Os cartazes originais também foram incluídos como brinde na compra da nova edição do livro. Tão evidente ou mais que o cartaz, é o uso de trailers para a promoção cinematográfica. Como uma das principais formas de divulgação do filme, o trailer teve uma participação expressiva na afirmação da internet como veículo para a divulgação de Lua Nova. Segundo a Folha Online, em matéria publicada no dia 26/11/2009, o trailer da segunda parte da Saga havia batido o recorde de exibição, 32.6 milhões de pessoas haviam assistido o vídeo lançado na internet. A Summit lançou três vídeos diferentes. O primeiro, uma espécie de teaser, composto apenas por pedaços de cenas que seriam responsáveis pelo desenrolar da história e que levariam para o clímax: as cenas filmadas na Itália. As cenas não obedeciam à linearidade da história, mas construíam a narrativa de forma fragmentada. Esse vídeo foi lançado 78 mundialmente na premiação realizada pela MTV Americana, um canal reconhecido pelo seu grande público jovem, o MTV Movie Awards. Para a apresentação deste teaser, foram escalados os três protagonistas: Kirsten Stewart, Taylor Lautner e Robert Pattinson. O segundo trailer foi disponibilizado somente na internet e foi o responsável, principalmente, por apresentar um novo elemento/personagem que surge na trama, o lobisomem. Nele são inseridas cenas inéditas da matilha, mostrando algumas características psicológicas de Jacob. O vídeo também utiliza um elemento que é muito pouco usado nesse suporte, a entrevista. Taylor Lautner fala de seu personagem e apresenta o contexto no qual está inserido, além de fazer algumas considerações sobre o filme, como, Lua Nova estar em um patamar diferente, excitante e com mais ação, comparado ao Crepúsculo. O terceiro e último trailer lançado é o mais completo, mostra como a história irá se desenrolar. Aparecem cenas que fazem parte dos momentos mais importantes do filme, como a separação de Bella e Edward, e o momento em que Edward decide se mostrar aos humanos. As cenas de ação são uma parte importante no enredo, tanto pelo livro ter esse viés quanto pelo fato de querer trazer ao cinema um público mais diversificado. Essa é uma característica levantada em praticamente todas as entrevistas que foram dadas para o lançamento do filme. Todo o elenco sempre ressaltava as cenas de ação, dizendo que esse filme não agradaria somente às mulheres, mas também aos homens. Dentre os três vídeos, o único que foi lançado oficialmente nos cinemas brasileiros foi o último, mas os fãs da Saga Crepúsculo puderam ter acesso facilmente a todos os trailers através da internet. Outra facilidade provocada pela internet é o acesso ao Youtube, site de compartilhamento de vídeo, bastante popular. Nesse espaço, a Summit criou o canal de vídeos direcionados para a segunda parte da Saga, disponibilizando todos os trailers, spots para televisão, montagens com fotos oficiais, clipes da trilha sonora e cenas de bastidores. Ao lançar os trailers no cinema americano, os vídeos foram para o site oficial do filme, permitindo que os fãs tivessem acesso, inclusive viabilizando a inserção deste material em suas próprias páginas nas redes sociais. Além do Youtube, todo os trailers foram 79 disponibilizados na página oficial do MySpace, outro ponto de contato que a Saga oferece aos fãs. O MySpace é um dos mais populares sites de relacionamento social. Seus usuários são predominantemente jovens o que o torna uma importante ferramenta de divulgação para produtos destinados a esse público. O MySpace pode até mesmo substituir o site oficial, por ser um centralizador de conteúdo relevante ao artista e ao público. Passou a ser utilizado para identificar indivíduos interessados não apenas em música, mas também em televisão, rádio e cinema. “Através de uma conta no MySpace Music, é possível disponibilizar para o mundo inteiro, musicas, fotos, agenda, biografia, ficha técnica de integrantes e vídeos.” (Abstrato Design, 2010). O portal oficial da Saga Crepúsculo, Lua Nova, (The Twilight Saga, New Moon), estabelece uma conexão entre todo o universo da Saga e seus fãs, o que o torna o MySpace um parceiro ideal. Além de possuir uma grande variedade de conteúdo disponibilizada em diversos formatos para download. Bastante interativo, possui um espaço para compartilhar interesses, objetivos em comum e experiências através de fórum de discussão. Os fãs podem conferir a descrição das personagens do filme e fazer teste de personalidade relacionada a Saga. Pode ainda adicionar o resultado na sua página do MySpace e compartilhar com seus amigos. O portal possui links para outras páginas da Saga, como Eclipse, Wolf Pack, Volturi e Cullens, além de possibilitar o direcionamento do internauta para o site oficial do Lua Nova O twitter, apesar de ser uma rede social relativamente nova, comporta uma grande parte do público jovem. Uma marca que queira atingir o público adolescente deve estar ligada a este site. A forma como a produtora da Saga Twilight organiza e administra o seu perfil faz com que uma relação de proximidade seja estabelecida. Essa rede de relacionamento pode ser utilizada de diferentes formas, preservando sua característica principal, a da interação, na qual um grande fluxo de mensagens informativas busca atingir pessoas que por sua vez participam e opinam sobre a mesma. O Twitter Oficial 80 do Crepúsculo muda de nome a cada filme lançado e tem como objetivo a distribuição e circulação de matérias e notícias relacionadas. Através dele, torna-se possível observar uma das formas como a Summit Enterteinment divulga essa franquia já popular e como mantém um grau de proximidade com os seus fãs. Em sua rede social, existe a possibilidade do desenvolvimento mais íntimo, informal, entre os distribuidores do conteúdo e seus receptores, através das suas interações. Essa busca pela proximidade com os fãs gera valorização para a marca e informações importantes para o desenvolvimento dos produtos. Funciona, em certos casos, até como uma pesquisa de opinião informal, observando-se a possibilidade de resposta do público através de sugestões, insatisfações e opiniões diversas sobre qualquer assunto relacionado. Os usuários estabelecem uma relação muito próxima com o filme, eles se sentem parte da história ou gostariam que aqueles fatos narrados fizessem parte da sua vida, além de estabelecer um grau de proximidade. Muitos fãs misturam a ficção com a realidade, achando que o ator é exatamente igual à personagem que representa. Essa intenção de proximidade também pode ser percebida pelo tipo de linguagem empregado nos textos postados no twitter, já que todos têm uma carga coloquial e jovem muito grande. O grau de conexão, segundo RECUERO (2009), está relacionado ao número de conexões que se recebe ou se faz. O twitter de Twlight pode ser considerado popular, pois tem um número relevante de usuários conectados, 123.203 pessoas, permitindo um rápido compartilhamento de informações, opiniões e links. Este compartilhamento pode ser realizado tanto pelo conteúdo disponibilizado pela própria Summit, como através do recurso de retwittar. Pode-se perceber que muitos dos perfis seguidos pelo Twitter do Crepúsculo são de blogs ou sites relacionados que, de forma rápida, podem chegar a pessoas com interesses comuns. “Outro fator característico da interação mediada pelo computador é sua capacidade de migração. As interações entre atores sociais podem, assim, espalhar-se entre as diversas plataformas de comunicação, como por exemplo, em uma rede de blogs e mesmo entre ferramentas, como, por exemplo, entre Orkut e blogs." (RECUERO, 2009, p. 36). Dessa 81 forma, percebe-se que o perfil oficial está em uma posição de centralidade, todos aqueles que produzem conteúdos estão ligados. A Summit Enterteinment usa essa rede social de forma inteligente, fala a língua do seu público e ao mesmo tempo dá voz a ele. Assim ela faz com que sua marca e produto sejam expressivos e circulem por toda a rede. No ano de 2009, segundo o Portal R7, o segundo assunto mais comentado foi Lua Nova, perdendo somente para Harry Potter e as Relíquias da Morte (Harry Potter and the Deathly Hollows, EUA), dirigido por David Yates, com lançamento previsto para novembro de 2010. Além das redes sociais nas quais as marcas Lua Nova e Crepúsculo estão presentes, há o site oficial, onde são disponibilizados conteúdos aprovados e controlados pelo estúdio responsável pelo filme. Na página inicial, há a propaganda de lançamento do DVD do Lua Nova, uma vez que esse é o produto que está sendo lançado no momento. Ao lado da tela de exibição, uma janela informa a data de lançamento do próximo filme, Eclipse. Há também um link para a compra de ingressos antecipados online. Acima da janela de exibição da peça publicitária, o internauta tem duas opções: entrar no site oficial do Lua Nova ou entrar no site que contempla todo o universo da Saga. Na opção Official New Moon Site, entra-se em uma página na qual aparece de fundo uma fotografia de Bella, Edward e Jacob. Sobre esta foto, aparecem três ícones, cada um representando os diferentes núcleos sobrenaturais da história. A separação é feita pelos brasões e imagens que representam os Cullen, os Volturi e o bando Quilleute. Ao acessar a página, as imagens representam o grupo dentro da história. No caso da família Cullen, sua casa, no bando Quilleute, a reserva de La Push e nos Volturi, a cidade Volterra. Em cada um desses mundos, o internauta controla a velocidade com que a cena é mostrada. Ao aparecer uma personagem, do lado da imagem aparece um perfil da mesma. Na parte superior da tela, em todas essas páginas, vêem-se opções para navegação. A aba About possui informações sobre os DVD's, filmes e elenco. Na aba Media, há três opções: vídeos, fotos e downloads. Em vídeo, é possível assistir a todos os trailers, spots para televisão, cenas de bastidores e clipes da trilha sonora. Em downloads, pode-se baixar widgets 82 "pequenos aplicativos que flutuam pela área de trabalho e fornecem funcionalidade específicas ao utilizador" (Wikipedia, 2009), papeis de parede das principais personagens e de seus respectivos clãs. Entre as abas, há uma inteiramente dedicada ao download de um aplicativo desenvolvido para Iphone. Ao baixar esse aplicativo no celular, é possível receber notícias, fotos exclusivas, trailers e jogos relacionados. Outra aba que merece atenção especial é a relacionada à compra de produtos originais dos filmes, a Official Store. Nessa opção, o internauta é direcionado para outro site, o Amazon.com. Nele é possível comprar uma variedade enorme de produtos oficiais como roupas, jóias, bijuterias, bolsas, edredons, além de produtos mais comuns, como DVD's e bonecos. Novamente, a Summit se alia a uma grande marca, Amazon.com, para hospedar a loja oficial da franquia. Dessa forma, o site de vendas também ganha ao garantir vendas para um público que faz questão de ter todos os produtos relacionados a seu filme preferido. A lista de produtos relacionados à marca é considerável, vai de linha de maquiagem á guarda chuvas, passando por cadernos, acessórios femininos, notebooks estilizados, móveis, relógios, vários tipos de bonecos, perfumes, coleções de roupas, sapatos, balas e doces além, é claro, de camisetas, chaveiros e outros souvenires mais comuns às obras cinematográficas. Os produtos são inspirados nas personagens, na temática vampiresca e até mesmo nos próprios atores. A Matel, fabricante da boneca Barbie, lançou a linha Barbie Twilight Crepúsculo. Para o lançamento de Lua Nova, além das versões Bella e Edward que já existiam, foi lançado também o boneco Jacob. O Ken Jacob foi criado com o visual da personagem no filme, de cabelos curtos e tatuagem, já com a característica bermuda, sem camisa e com o abdômen definido. A fábrica Toner Dolls Company foi licenciada pela Summit e criou uma linha especialmente inspirada nos atores. Cada boneco custa U$ 125 e está à venda apenas nos Estado Unidos. A NECA também produziu a sua série, incluindo personagens como Alice Cullen, não disponível ainda nas outras marcas. São mais baratos que os outros bonecos já 83 citados, mas também não foram lançados no Brasil, apesar de serem comercializados facilmente na internet. Todo este processo reforça a importância da internet nas estratégias de marketing do filme. A rede mundial de computadores faz com que a maioria dos produtos se torne acessível a fãs por todo o mundo. Através de sites oficiais, redes sociais, blogs, é possível fazer importações direto do fabricante, da distribuidora, ou mesmo através de contatos com outros fãs e moderadores de espaços virtuais. Em entrevista realizada com membros do fã-clube Twilightbh, na estréia exclusiva organizada por eles no Shopping Cidade no dia 20/11/2009, um dos espectadores que estava fantasiado de Edward disse: "É mais pela internet mesmo que eu compro as roupas, e aí as roupas que eu não acho na internet eu procuro foto e um tecido parecido e eu mesmo faço." Um dos produtos mais procurados é o CD que contém a trilha sonora do filme. Importante na sua construção, a trilha sonora também faz parte da estratégia de marketing. Em Lua Nova, se faz presente o rock, um dos ritmos mais ligados ao tema vampiresco. As canções sombrias ou o som de guitarras pesadas interagem com os seres noturnos. Bandas populares foram convidadas a comporem musicas para o filme e playlist foi disponibilizada no iTunes, incluindo a possibilidade de adquirir faixas extras. O anúncio das bandas que fariam parte da trilha foi aguardado com expectativa. Na lista final constam nomes como Lykke Li, Hurricane Bells, Sea Wolf, Alexandre Desplat e a única banda que também participou da trilha de Crepúsculo: Muse. A banda, declaradamente admirada pela autora Sthepanie Meyer, contribui também para Lua Nova com a faixa I belong to you. Uma novidade para a campanha de lançamento do filme Lua Novo, em relação ao lançamento de Crepúsculo, foi a parceria com a Paris Filmes e a Rede Telecine. As duas grandes empresas divulgaram os dois filmes da série. Os anúncios foram feitos em jornais, mobiliários urbanos, revistas, cinemas, spots de rádio e outros. A agência Euro RSCG Contemporânea foi a responsável pela mídia impressa, já a OgilvyInteractive criou as ações 84 para a web. O plano de mídia para a campanha de lançamento contou com anúncios de página simples em revistas como Gloss, Quem, Veja, e Capricho. Os Jornais também foram contemplados, como o Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e o Globo. Na televisão fechada, as chamadas para os filmes passaram nos canais, GNT, SporTV, Multishow, Globo News e Universal Channel. Os spots tiveram grande concentração nas rádios jovens como Mix FM, OI FM e Jovem Pan FM. A utilização de mídia exterior consistiu em painéis simples e eletrônicos espalhados pelas principais cidades Brasileiras em pontos estratégicos. Cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília utilizaram também a imagem dos filmes em bancas de jornal, relógios de rua, painéis de rodovias, busdoors, chamadas em elevadores de prédios comerciais e banners. Nos cinemas das redes UCI e Cinemark, foram veiculados spots de 30”. O canal de televisão Telecine usou mídias alternativas na campanha, como caixas de pizza, cartões-postais e guardanapos personalizados. Fizeram parte das ações Pizza Hut, Disk Cook e Pizzaria Brás. Em Brasília, vinhetas eletrônicas foram exibidas no Cineboteco, Frans Café, Livraria Cultura, shoppings e em elevadores comerciais. Em São Paulo, pôsteres interativos foram colocados nas estações de metrô de Vila Madalena, Consolação, Santa Cruz, São Bento e Tatuapé. A mídia indoor também teve espaço, sendo utilizada nos aeroportos de JK (Brasília), Congonhas (São Paulo), Confins (Belo Horizonte), Cumbica (Guarulhos) e Santos Dumont (Rio de Janeiro). Promoções, anúncios, site e ações em mídias sociais formam o plano para a Internet que a Rede Telecine e a agência de marketing digital OgilvyInteractive desenvolveram em parceria. A campanha contempla banners nos endereços Pay TV News e OI FM e peças que serão veiculadas nos sites Atrativa, Cineclick, Cinemark, Hotwords, Google, MSN, Virgula, UTarget e YouTube. Haverá divulgação direcionada em blogs, comunidades, fóruns e egroups e um game no Twitter, que vai estimular os usuários a escreverem como se fossem vampiros. Os próprios usuários do Twitter vão votar nas melhores frases. (PEREIRA, 2010) 85 O star system foi citado neste trabalho como uma importante ferramenta de marketing. As viagens realizadas pelos atores por vários países para promover o filme são bastante ilustrativas. Os protagonistas Kristen Stewart e Taylor Lautner vieram ao Brasil em 2009 e concederam uma entrevista coletiva no dia 1º de novembro, em São Paulo. Do lado de fora do Hotel Grand Hyatt, onde se hospedaram, centenas de fãs se aglomeravam na esperança ver os ídolos. Alguns admiradores puderam se hospedar no hotel e conseguir autógrafos e fotos, apesar da rígida segurança. Nossos fãs são muito apaixonados, em qualquer lugar aonde vamos. Pelo menos 200 deles passaram a noite aqui em frente ao hotel. É incrível ter esse apoio [...]. A Saga desperta paixão. Aqui ou na Califórnia, tem-se sempre centenas de fãs nos aguardando, contou o ator Taylor Lautner. (SABINO, 2009), Acostumados com a euforia do público, Kristen Stewart contou sobre o contato que tiveram com os fãs de Crepúsculo em junho de 2009 nos Estados Unidos durante a ComicCon de San Diego. Um dos maiores eventos de HQ’s e cultura pop do mundo. “Eram as primeiras cenas e estávamos muito ansiosos em mostrar nosso trabalho para o público, estávamos animados. Poder ver essa reação de perto foi ótimo.” (SABINO, 2009) A atriz afirmou que foi ótimo ver a reação apaixonada das pessoas quando viram as primeiras imagens de divulgação do filme Lua Nova. Com o lançamento dos filmes muitas revistas voltadas para adolescentes apresentaram matérias inéditos. Tais como edições especiais sobre os filmes, os livros, os atores e a temática vampiresca. Estas revistas, bastante populares entre os jovens, trazem curiosidades sobre o set de filmagens, a criação da história e a adaptação para o cinema, entre outros. Um ponto que merece destaque são as matérias relacionadas aos atores da Saga. Próximo ao lançamento do filme as bancas de revista ficaram abarrotadas de edições que expunham os atores. Sejam relacionadas às suas personagens ou à suas vidas pessoais. 86 Diante dos fatos apresentados pode-se dizer que a estratégia de marketing da Summit foi bem executada e bastante efetiva. Do tema vampiresco às ações de marketing, tudo em Lua Nova e na Saga Crepúsculo pretendia o sucesso. Os vampiros de Stephanie Mayer conquistaram o mundo. E em tempo recorde a marca Crepúsculo se tornou uma das mais rentáveis dos últimos tempos. 87 CONSIDERAÇÕES FINAIS O vampiro é uma importante figura presente nas mais diversas culturas. Não surpreende o fato de o cinema ter se apropriado dessa temática. Estes seres da noite são misteriosos e carregam em si uma imensa carga simbólica. Por possuírem uma mitologia tão emblemática, curiosa e completa, o vampiro se tornou um dos personagens mais retratados na ficção cinematográfica. A sua popularidade faz com que a escolha da temática vampiresca já se caracterize por si só uma parte da estratégia que tornou Lua Nova um blockbuster. A imagem do vampiro mudou ao longo dos anos, acompanhando as mudanças da sociedade em que sua figura está inserida. Os antigos vilões, como Nosferatu, foram gradualmente substituídos pelos cavalheirescos vampiros de Stephanie Meyer. Não se pretende dizer que esta substituição foi completa. Existem obras recentes que não romantizam o vampirismo, mas é fato que nenhum outro faz mais sucesso na atualidade que Edward Cullen. Lua Nova é um exemplo de filme feito para dar lucro. Para o roteiro foi escolhido um Best-seller que já havia vendido milhares de cópias em vários países, contribuindo para que o filme se tornasse um sucesso de bilheteria. Lua Nova manteve as ações usadas para a promoção do primeiro longa da Saga e aproveitou a repercussão do mesmo para impulsionar a sua divulgação. Embasado pela existência e pelo conhecimento popular dos livros e do longa que deu início à série, Lua Nova já contava com a expectativa de um público ciente de sua trama. Não 88 era necessário apresentar os personagens, a Saga nem mesmo o enredo. Mais do que Crepúsculo, sua continuação é um filme para fãs. Grande parte do seu público já havia lido os livros e sabia exatamente o que iria acontecer. A expectativa ficava por conta da adaptação. Lua Nova se promoveu inclusive mantendo a divulgação da Saga como um todo. Porém, a continuação foi capaz de superar seu predecessor, indo além de dos US$ 192,8 milhões conquistados por Crepúsculo. Algo historicamente incomum no cinema. O sucesso alcançado por Lua Nova fica evidente em seus números. Apenas nas sessões da meia-noite nos EUA e Canadá, o filme já havia arrecadado US$ 26,3 milhões. O recorde para essa sessão pertencia ao filme Harry Potter e o Enigma do Príncipe. US$ 67,2 milhões foram arrecadados em seu primeiro dia. E nos 133 dias de exibição nos EUA, Lua Nova arrecadou UR$ 296,6 milhões. A quarta maior arrecadação do ano de 2009 e a 34º maior bilheteria de todo os tempos até o fim do ano em que estreou. O Brasil possui o segundo maior fã clube da Saga. No país, Lua Nova conquistou R$ 13,1 milhões no primeiro fim de semana de estréia, obtendo o segundo maior resultado de todos os tempos. Ultrapassando inclusive, filmes detentores de orçamentos gigantescos como 2012 (EUA, 2009), com RS 6, 1 milhões, uma diferença considerável. Totalizando mais de R$ 47.7 milhões, ficando em 4º lugar no ano de 2009. Mundialmente, Lua Nova arrecadou até o fim de abril de 2010, US$ 413,1 milhões. A estratégia de divulgação e promoção de Lua Nova foi bastante eficaz, focada na internet, a ela pode ser atribuída grande parte de seu sucesso. Na rede, foram concentradas as informações que fariam parte dos demais meios de comunicação utilizados. Através da rede mundial de computadores, fãs da Saga, de vários países, puderam acompanhar as diversas ações realizadas pela Summit Enterteinment, ainda que estas não tenham sido lançadas em seu país. A internet funcionou como uma ferramenta bastante democrática para o compartilhamento de conteúdo, promovendo a participação. Os fanmades são um bom exemplo do sucesso e do nível da comoção causada pelo filme. Os cartazes, trailers e demais peças que circulam na web são obras de fãs, que realmente se empenham e empregam tempo e dedicação para criar conteúdo relevante. A 89 exímia qualidade destas peças fica por conta da operação de programas especializados e da utilização de conceitos perfeitamente condizentes com a saga e com o posicionamento do filme. A existência de fanmades como Crepusculinho e a repercussão que o mesmo teve, através da internet, são mais um indício da importância da mesma. Devido ao seu perfil convergente e o fácil compartilhamento de informações na web, sites como o Foforks e o New Moon Movie, podem ser criados e mantidos por fãs. Sendo este tipo de site, inclusive, os maiores responsáveis por potencializar o alcance das ações realizadas pela Summit. Em sites como o Foforks, os jovens brasileiros têm acesso a spots televisivos e matérias de revistas que só são lançados no exterior, traduzidos e comentados. A internet mudou a forma com que o homem se comunica. E o cinema não ficou imune a esta interferência. As estratégias de marketing cinematográfico que visam atingir o público jovem devem contar com a internet como importante ponto de contato para a comunicação nas duas vias, tanto para promover, quanto para entender e “ouvir” o que este público tem a dizer. Com o estudo de caso do filme Lua Nova e os números alcançados por ele pode-se afirmar que a internet mudou substancialmente a forma de fazer publicidade para o público jovem. 90 REFERÊNCIAS ABSTRATO DESIGN. MySpace, psicologia e marketing. 2010. Disponível em: <http://abstratodesign.com.br/newsite/?p=558>. Acesso em: mai. 2010. AD, Grupo. Telecine E Paris Filmes Lançam Campanha Para Crepúsculo. Disponível em: <http://www.luanovatwilight.com.br/page155.html>. Acesso em: mai. 2010. ALMEIDA Marcos T.R. Fome de viver. 1999. Disponível em: <http://www.bocadoinferno.com/romepeige/artigos/fomeviver.html>. Acesso em: nov. 2009. ALVARENGA, Marco Antônio Radice Kol; AMANDO, Fernanda e OLIVEIRA, Maísa Conceição. 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