Método Famacha para vermifugação de ovinos e

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Método Famacha para vermifugação de ovinos e
Método Famacha para vermifugação de ovinos e caprinos
Luiz da Silva Vieira*
O parasitismo pela verminose gastrintestinal constitui-se em um dos principais
fatores limitantes à exploração de caprinos e ovinos, em consequência do
comprometimento na produtividade do rebanho. Dos vermes que parasitam
caprinos e ovinos, destaca-se o Haemonchus contortus, que parasita 100% dos
animais e representa 80% de suas cargas parasitárias.
O Haemonchus contortus é responsável por um quadro clínico severo de anemia,
sendo o verme que causa maiores danos ao organismo dos animais. As perdas
econômicas são decorrentes da baixa produtividade, geralmente observada no
período seco e da alta mortalidade, que ocorre principalmente na estação chuvosa.
O controle de verminose em caprinos e ovinos é realizado principalmente com o uso
de vermífugos. No entanto, a maioria dos produtores não vermífuga
adequadamente seus rebanhos. Dessa forma, os vermífugos são administrados sem
base técnica, visando apenas a atender a um programa fixo de controle e/ou
quando o rebanho é recolhido, para adoção de outras medidas de manejo.
Consequentemente, tem sido observada uma forte redução na eficácia dos
vermífugos, resultando no aparecimento de resistência parasitária a vários grupos
químicos.
Atualmente, as alternativas de controle são escassas, principalmente na
caprinocultura leiteira, já que os vermífugos que ainda apresentam alguma eficácia,
geralmente não podem ser utilizados em matrizes que produzem leite para
consumo humano, devido à presença de resíduos químicos, sendo que os fármacos
com menor período de carência não são eficazes em função da alta frequência de
resistência parasitária.
A venda mundial de produtos veterinários é da ordem 15 bilhões de dólares anuais,
sendo 27% representada por parasiticidas. No Brasil, o comércio com estes
produtos alcança 42% de um volume de vendas equivalente a 700 milhões de
dólares anuais. O alto consumo de endoparasiticidas é estimulado pela elevada
prevalência dos vermes, facilidade de acesso aos produtos químicos sem prescrição
do veterinário, orientações incorretas, cultura do produtor e a intensa divulgação na
*
Médico Veterinário, Doutor em Parasitologia, Pesquisador da Embrapa-Caprinos, Estrada
Sobral-Groaíras, km 4, Sobral, CE, 62011-970, E-mail: [email protected]
mídia. Diante desse quadro e com a persistência do uso incorreto de drogas, muito
em breve, as fontes de controle químico não apresentarão o mínimo de eficácia, o
que acarretará sérios prejuízos para a produção animal.
Método Famacha
O esquema estratégico preconizado para o controle de verminose em pequenos
ruminantes tem o objetivo de controlar os vermes quando eles estão em menor
número na pastagem, isto é, na estação seca. Este programa a curto prazo tem
proporcionado excelentes resultados, entretanto, quando utilizado por período
prolongado (mais de cinco anos), toda a população de parasitos corre o risco de se
tornar resistente. Considerando o quadro exposto, pesquisadores da África do Sul
desenvolveram o método FAMACHA que tem como objetivo identificar clinicamente
animais com diferentes graus de anemia em decorrência da infecção por H.
contortus, possibilitando o tratamento de forma seletiva e sem a necessidade de
recorrer a exames laboratoriais.
O método FAMACHA se baseia no princípio da relação existente entre a coloração
da mucosa conjuntiva ocular e o grau de anemia, permitindo identificar os animais
capazes de suportar uma infecção por H. contortus (Tabela 1).
No método FAMACHA, recomenda-se medicar o menor número possível de animais.
A mucosa ocular de todos os animais deve ser observada periodicamente para
diagnosticar a necessidade ou não de sua vermifugação. O exame é feito
comparando-se as diferentes tonalidades da mucosa conjuntiva ocular com as
existentes em um cartão guia ilustrativo (Figura 1), que auxilia na determinação do
grau de anemia dos animais. Com base nesse exame, deverão ser vermifugados
apenas os animais que apresentam anemia clínica por verminose (graus Famacha
3, 4 e 5), ficando sem receber medicação aqueles que não mostram sintomas
clínicos, isto é, os que forem classificados nos graus 1 e 2.
Para regiões semiáridas, animais explorados em regime extensivo devem ser
examinados a cada 15 dias no período chuvoso e mensalmente no período seco. Já
para animais mantidos em pastagens irrigadas ou criados em regiões com
precipitação pluviométrica superior 1.000 ml/ano, recomenda-se que o exame seja
feito com intervalo de 10 dias.
A cada exame, os animais que necessitam ser vermifugados deverão receber uma
marcação. Quando o intervalo de exames for de 15 dias, devem ser descartados do
rebanho aqueles animais que necessitem ser vermifugados quatro ou mais vezes,
num período de dois meses. Quando o intervalo dos exames for mensal, devem ser
descartados do rebanho os animais que necessitem ser vermifugados quatro ou
mais vezes num período de quatro meses.
O método FAMACHA não é limitante para grandes rebanhos, já que após o
examinador adquirir uma certa experiência e contando com instalações adequadas
para a contenção dos animais é possível examinar até 250 animais no período de
uma hora. O método vem sendo aperfeiçoado desde o fim da década de 90,
estando atualizado e isento de falhas que possam conduzir a erros de diagnóstico.
O método FAMACHA apresenta os seguintes benefícios em relação à vermifugação
estratégica: permite que haja persistência de uma população sensível no meio
ambiente; mantém a eficácia anti-helmíntica por um período maior e com isso; o
aparecimento de resistência parasitária tende a ser retardado; proporciona uma
economia média de 50% nos custos com a aquisição de vermífugos, reduz a
contaminação por resíduos químicos no leite, na carne e no meio ambiente, permite
a seleção de animais geneticamente resistentes a verminose, além de ser simples,
barato e fácil de ser repassado, inclusive para pessoas com baixo nível de
escolaridade.
O método FAMACHA é uma tecnologia que beneficia diretamente o produtor, uma
vez que apresenta uma relação custo-benefício positiva, além de ser de grande
praticidade. Em virtude destas características, foi difundido rapidamente nas
regiões onde o nematódeo H. contortus é predominante.
Tabela 1 - Anemia em ovinos de acordo com a coloração da mucosa conjuntiva
ocular e volume globular (VG) pelo método do microhematócrito.
* O avaliador deve ser treinado para estimar corretamente a coloração e evitar a divergência de
interpretação no momento do exame clínico.
** A indicação do tratamento antiparasitário no cartão é baseada unicamente na coloração da
conjuntiva.
Figura 1 - Cartão Famacha lançado em 1999, como segunda versão, após
modificações básicas e de conceito.

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