Jornal Na Luta - Mais Diferenças

Transcrição

Jornal Na Luta - Mais Diferenças
N°6 - 2008 - ANO II
janeiro/fevereiro/março
INFORMAÇÃO E DEFICIÊNCIA
Alegria na Sapucaí
página 10
Passeata
pela
Diversidade
página 4
página 12
Células-tronco:
Momento de decisão
DO PARALAMAS DO SUCESSO
página 10
“Que a nossa esperança não seja perdida
pela burocracia daqueles que não se sensibilizaram com a nossa causa” Herbert Vianna
página 5
CARTAS
NOSSA LUTA
Edição quente como o verão durante o qual foi produzida.
Sempre em busca da variedade de temas relacionados
à deficiência, nós, do “Na Luta”, acreditamos que
conseguimos novamente abranger diversas áreas.
Trazemos ao leitor, nesta edição, assuntos distintos
como o atual debate sobre a utilização de célulastronco embrionárias em pesquisas científicas e a
relação contrastante nos grandes centros urbanos entre
a alegria, expressada mais claramente pelo carnaval, e
a tristeza, resultado da violência.
No campo da ciência, consideramos vitória a
primeira batalha na votação do STF da Ação de
Inconstitucionalidade contra a Lei de Biossegurança,
que permite pesquisa com embriões. Dos onze ministros
do tribunal, dois já declararam oficialmente seu voto a
favor da lei. Outro revelou abertamente sua posição
favorável às pesquisas, o que nos enche de esperanças
de que a razão se sobreporá.
Temos também um depoimento sincero do músico
Marcelo Yuka, que muito gentilmente nos recebeu em
sua casa. Mais uma vítima da violência urbana nas
grandes cidades do Brasil – no caso, o Rio de Janeiro
– Yuka sugere à população reflexão sobre o assunto.
Segundo ele, e nós também concordamos, sentimentos
de vingança resultam exclusivamente em políticas
públicas fascistas.
Já em fevereiro, como todos sabem, teve carnaval. E o
“Na Luta” participou ativamente da folia, acompanhando
pessoas com deficiência que marcaram presença na
grande festa. Prova de que os deficientes querem, podem
e devem, sempre, curtir essa que é a maior expressão
cultural do povo brasileiro.
Nas seguintes páginas, trazemos ainda esporte, música,
cinema, preconceito, movimento de luta, entre outros
temas. Esperamos que gostem.
Ah, só um lembrete: o “Na Luta” é disponibilizado
também em versão on-line, no site dos Paralamas
do Sucesso, de nosso patrono e incentivador, Herbert
Vianna. O interessado pode acessá-lo no endereço
eletrônico http://www2.uol.com.br/paralamas/na_luta/
index.htm.
Caros amigos, sou portadora de deficiência na perna e fiz uma cirurgia no quadril, o que aumentou um pouco a minha limitação. Por isso, estou aprendendo a dirigir para voltar ao meu
trabalho. Ocorre que, no Rio de Janeiro, só existe uma auto-escola com carros adaptados e fica
em outro bairro, ou seja, terei que me deslocar até a Tijuca pra fazer as aulas de direção. E
pasmem: as aulas são mais caras do que para os ditos normais. É mole?
Agora eu pergunto: e se eu não pudesse pagar? E se não tivesse alguém para me levar até lá?
O que eu faria? Ficaria sem ter o direito de dirigir? Como faria para ir ao trabalho, sem ônibus
adaptados?
Porque as auto-escolas não são obrigadas a terem carros adaptados?
Já que os direitos são iguais, aonde fica o nosso?
Que país é este?
Detalhe, eu não vou desistir, mas muitos desistem. É estressante ser portador de deficiência no
Brasil.
Celestina de Oliveira, Rio de Janeiro
EXPEDIENTE
EDITORIAL
2 NA LUTA
Ass: Os Editores
NA LUTA - n° 6 – JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO
2008
Supervisão Editorial , Administrativo e
Comercial:Beatriz Pinto Monteiro
Coordenação da Publicação:
Beatriz Pinto Monteiro
Tel.: 21- 2204-3960
e-mail: [email protected]
Projeto Gráfico e Editoração:
Roberto Tostes Cel 21-9263-5854
Jornalista responsável:
João Menescal: MTB 27988/RJ
Fotos: “Passeata pelos Direitos Humanos” e
“Marcelo Yuka defende educação e cultura contra
violência – Maira Soares/MD
“A maior Delegação brasileira em Jogos
Paraolímpicos” CPB
“Um mundo novo em reabilitação, inclusão e
acessibilidade” Divulgação Reatech
“Arte veículo de expressão, educação e
inserção” Equipe “Na Luta”
“No Ritmo da Alegria” Equipe “Na Luta” e
arquivos pessoais
Demais Fotos: Arquivos Pessoais
Apoio: Mais Diferenças Educação e Inclusão Social
Jornalista matéria Fãs do cidadão Herbert
Vianna- Eduardo Lemos
Jornalista matéria Passeata pelos Direitos
Humanos - Rafael Michalawski
Consultores:
Antônio João Menescal Conde
Jefferson Maia
Lia Likier Steinberg
Teresa Taquechel
Agradecimentos:
Superintendência De Políticas Para Pessoas
Com Deficiência Do Estado Do Rio De JaneiroDistribuição
As matérias e conteúdos deste informativo podem
ser reproduzidos, desde que citada a fonte.
As opiniões expressas são as transcrições literais
dos depoimentos prestados, não representando,
em sua totalidade, necessariamente a opinião e a
linha editorial desta publicação.
Visite também a página da internet:
Site Paralamas Oficial http://www2.uol.com.br/paralamas/na_luta/index.htm
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NA LUTA
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3
4 NA LUTA
Passeata pelos
Direitos Humanos
Texto: Rafael Michalawski
Fotos: Maira Soares/MD
No último dia 01 de dezembro, a Avenida Paulista, em São Paulo,
recebeu a quarta edição da passeata Incluindo Diferenças em Defesa dos Direitos Humanos, organizada pelo Movimento SuperAção
(www.movimentosuperacao.com.br), e que contou, ainda, com
o apoio de algumas ONGs, da rádio 89FM e também do “Na Luta”.
O trabalho começou logo cedo na Praça Oswaldo Cruz.
Dezenas de voluntários e membros do Movimento SuperAção
distribuíam panfletos informativos, enchiam bexigas e cuidavam
dos últimos detalhes técnicos dos dois trio-elétricos que agitariam a passeata. Havia ainda uma barraca onde eram vendidas
camisetas, CDs e squeezes com o emblema do movimento.
Pouco a pouco os participantes foram chegando e
se acomodando. Alguns pegaram carona nas vans que a Prefeitura colocou à disposição do evento. Vale lembrar que estes
veículos integram a frota que oferece o Serviço Atende (Fone:
0800-0155234), cuja tarefa é atender às pessoas portadoras de
necessidades especiais. O serviço oferece transporte para ida a
consultas, exames médicos e outros tratamentos, facilitando a
vida de quem não conta com meios próprios de locomoção.
O público presente era composto por pessoas de diferentes idades. Cadeirantes, idosos, pessoas com muletas e crianças, todos se misturavam e iam, aos poucos, tomando toda a
praça. Muitos eram abordados por membros do Movimento Assino Inclusão (www.assinoinclusao.org), em busca de valiosas
assinaturas para o abaixo assinado que será entregue à Câmara
Federal, conclamando os deputados e senadores a ratificarem a
Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
Um desses direitos diz respeito à acessibilidade. Vítima
do problema, Aparecido Tadeu, 28 anos, ressaltou que “alguns
grandes bancos ainda não possuem caixas eletrônicos com altura apropriados para cadeirantes e pessoas com deficiências
visuais ou auditivas”.
Outro grande problema a ser resolvido é a falta de sensibilidade das pessoas ao lidar com portadores de deficiências.
“No médico do convênio, meu filho é tratado com diferença, sem
consideração nenhuma ao cuidado especial que ele necessita.
Já quando levo meu filho ao médico da AACD ele recebe todo
carinho e dedicação, pois é tratado por pessoas especializadas e
conscientes”, contou a aposentada Rosalina Boerato.
A passeata teve início às dez horas e começou a tomar
a calçada e mais duas faixas da Avenida Paulista, em direção ao
vão livre do MASP. A Polícia Militar e a CET deram todo apoio e
segurança para todos os presentes. Do alto do trio, os organizadores elogiavam as mudanças feitas nas calçadas da Avenida
Paulista, voltadas em especial para os cadeirantes e
pessoas com deficiência visual. Mas ressaltavam que
essas mudanças têm de ser aplicadas em toda a cidade.
A caminhada contou com o apoio do movimento punk. O adolescente Maurício, integrante do
movimento, trouxe uma mensagem contra o preconceito. “Nós apoiamos as causas sociais e acreditamos
que deve haver respeito e união entre todas as partes
da sociedade”. Outro grupo que marcou presença foram os Amantes da Estrada.
O público aumentava a cada quarteirão da
Paulista. Ao passar em frente ao Hospital Santa Catarina, os microfones e a música dos trios foram desligados, em sinal de respeito aos pacientes e médicos
do hospital.
A passeata ganhou um importante apoio. A
OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) confeccionou
e entregou aos presentes a Cartilha dos Direitos das
Pessoas com Deficiência. Segundo Fátima Regina,
membro da Comissão das Pessoas com Deficiência,
“a cartilha é um instrumento de defesa da cidadania
e dos direitos dos deficientes. Essa cartilha também
está disponível em versão Braile para que todos que
necessitam tenham acesso à informação, que é uma
arma em defesa do deficiente contra a discriminação. É mais fácil vencer as barreiras físicas impostas pela deficiência através
dos meios legais, constitucionais, técnicos e tecnológicos do que
superar a muralha do preconceito social”, concluiu.
Contra este preconceito, Regina explicou que “a OAB
trata e coloca a pessoa com deficiência como um ser normal.
Lutamos ainda pela inclusão e acessibilidade dessas pessoas.
Conseguimos exigir das empresas, através de uma lei, que elas
disponibilizem um percentual mínimo de vagas voltadas a pessoas com deficiência”. O acesso à consultoria e aos serviços da
OAB pode ser feito através do site www.oabsp.org.br ou diretamente na sede, localizada na Praça da Sé, 385, no centro de São
Paulo, ou diretamente em cada regional da OAB pelo Brasil.
João Pacheco, um dos organizadores do evento, ressaltou as conquistas obtidas nesses quatro anos do Movimento
SuperAção. “Nesse tempo, foi criada uma secretaria especial, as
calçadas estão um pouco melhores, as autoridades estão um
pouco mais conscientes dos nossos direitos, além da ratificação
da Convenção da ONU”. Sobre o que ainda falta ser feito, Pacheco é enfático. “Educação! Não queremos uma escola especial, queremos uma escola que sirva para todos, com professores preparados e acesso facilitado. Pois, todas essas lacunas na
http://www.maisdiferencas.org.br/
educação, geram dificuldades na concorrência a uma vaga no
mercado de trabalho”.
Durante o percurso, a passeata contou com declarações contra o preconceito social feitas pelo baixista da banda NX
Zero, Caco, e pela cantora country Natália. O ex-baterista do Rappa, Marcelo Yuka, que ficou paraplégico após ser baleado numa
tentativa de assalto, confirmou a importância da passeata. “O
Movimento SuperAção é hoje o mais importante e respeitado do
país, e, de quebra, ainda consegue, uma vez por ano, ocupar a
avenida mais importante da cidade de São Paulo com ações próativas e direcionadas. Não há sentimento de pena. O trabalho
é feito de uma maneira extremamente profissional e consegue
atrair a participação da sociedade”. Yuka, porém, afirmou que
ainda falta muita coisa à sociedade. “Educação e Respeito. Apenas o respeito às leis e à nossa condição poderão sensibilizar as
pessoas e contribuir para a diminuição do preconceito”.
No final, a passeata ainda ganhou o apoio de ativistas
que distribuíam preservativos em comemoração ao Dia Mundial
de Combate à AIDS e de integrantes do movimento pelo Filme
Nacional com Legendas (www.legendanacional.com.br).
Na chegada ao MASP, diversos órgãos da imprensa marcaram
presença, o que confirmou a importância da passeata. Emissoras de televisão (Band, Record, Globo, Cultura), de rádio (Jovem
Pan, Band) e jornais impressos (“O São Paulo”, da Arquidiocese
de São Paulo) realizavam toda a cobertura. O público estimado
pela PM girou em torno de duas a três mil pessoas. Para o ano
de 2008, já está confirmada a realização da quinta edição da
passeata.
Rua João Moura, 1453 - Pinheiros
São Paulo - SP - Brasil Cep 05412.003 - Fone: 55+ (11)3881.4610
CIÊNCIA
NA LUTA
Debates: Célula-tronco
Um tema controverso como a utilização de células-tronco em pesquisas científicas merece uma ampla discussão
por toda a sociedade. Consciente desse fato, “Na Luta” prossegue o debate iniciado em nossas edições anteriores.
Dessa vez, abrimos espaço para o depoimento da Coordenação da Publicação - Beatriz Pinto Monteiro
STF julga em breve Lei de Biossegurança
Tribunal decidirá se aprova ou não pesquisas com células-tronco embrionárias
Por trás do óbvio
No dia 05 de março, a polêmica em torno da utilização de células-tronco embrionárias em
pesquisa teve novo capitulo no STF – Supremo Tribunal Federal.
O capitulo foi suspenso, lamentavelmente, pelo pedido de vistas dos autos pelo Ministro
Carlos Alberto Menezes Direito. De toda forma, foi fantástico não só o voto do Eminente Relator Carlos Ayres Britto, bem como as ponderações feitas logo em seguida pelo Ministro Celso
de Mello e o voto antecipado da Ministra-Presidente. Aliás, devo destacar as excelentes colocações da Ministra Ellen Gracie de que na prática as pesquisas perderam força nos Comitês
de Ética após o ajuizamento da ADI, razão que a fez antecipar seu voto. Assim, acredito que
tão logo o Ministro Direito devolva os autos, a Presidenta deva dar prioridade da pauta para
concluir o julgamento.
Assisti pela TV Justiça ao extenso voto do Relator e, confesso, me emocionei...
Conversando com o Eduardo Grillo declarei, pela primeira vez, essa emoção ao escutar
atentamente o relato do Ministro do STF Ayres Britto que transcendeu, em muito, a questão
meramente jurídica. Logo, me peguei pensando alto se gostaria de voltar a andar, nunca tinha
pensado nisto antes...
A pergunta que me fiz teria virado fumaça se o Eduardo não tivesse sido rápido e direto o
bastante revidando “e a que conclusão chegou?”.
Minha resposta foi absurdamente nova para mim, pois vi que gostaria sim.
Tudo fica parecendo óbvio, uma cadeirante descobrir que gostaria de voltar a andar, mas
não é bem assim.
Ora, se eu apesar de tudo o que hoje sei e falo a respeito, com o “burburinho” das célulastronco embrionárias me peguei pensando na possibilidade de voltar a andar, o que dirão os
recém lesados?
A conversa com Eduardo Grillo não terminou por ai, ao contrario. Dela vieram as questões
que quero deixar como alerta, questões essas que levanto referentes SOMENTE a lesão medular (traumatismos oriundos de acidentes de carros, vitimas de tiro, mergulhos entre outros).
As palavras que vem sendo usadas (doenças, enfermidades entre tantas outras) não cabem a um lesado medular. Lesão medular não é doença e que isso fique claro aos nossos
leitores e que sejam agentes multiplicadores dessa informação. É importante, pois enquanto
as pesquisas não estão concluídas, não sabemos quanto tempo elas levarão, o cadeirante
deve continuar o processo de cidadania plena, viver feliz com direito a acessibilidade, trabalho, felicidade sempre!
Entendo que existem sim doenças (diabetes e câncer, por exemplo) que também poderão vir a ser beneficiadas pelas pesquisas.
O meu receio é que os cadeirantes possam passar a ser vistos como doentes, incapacitados e retrocederem em todas as suas lutas.
A acomodação é a outra questão.
As pesquisas, reitero, não são imediatas. Assim, temo que os lesados medulares, principalmente os recentes, se acomodem tanto no processo de reabilitação como no de inclusão.
Esporte, fisioterapia, terapia ocupacional, reeducação do movimento, consciência corporal e demais terapias não devem ser abandonadas. Pelo contrario, essas práticas devem ser
intensificadas para que a pessoa esteja bem fisicamente e claro, emocionalmente, quando
os resultados vierem.
Ainda sobre acomodação, digo com todas as letras para não ficarem vendo a “banda passar”. Pratiquem o lazer, namorem, trabalhem, estudem, leiam, ouçam musica, sejam felizes.
No mais, torço muito pela liberdade de pesquisa no Brasil. Estou confiante de que a ação
será julgada improcedente e desejo um ótimo trabalho aos pesquisadores.
Beatriz Pinto Monteiro
Coordenadora e supervisora do “Na Luta”
Células-tronco:
Pedido de vista adia decisão, mas três dos 11 ministros do STF já declararam apoio à liberação das pesquisas com embriões
A primeira batalha foi vencida, mas a luta prossegue. Esse é o sentimento da
parcela da sociedade brasileira favorável à utilização de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas, após o início da discussão no Supremo Tribunal
Federal (STF), no dia 5 de março.
O STF começou a julgar a ação de inconstitucionalidade proposta pela Procuradoria Geral da República contra a Lei de Biossegurança, de 2005, que autoriza as pesquisas. Dos 11 ministros do Supremo, apenas dois votaram, sendo
que ambos confirmaram a validade da lei: o relator do processo, ministro Carlos
Ayres Britto, e a presidente da Corte, Ellen Gracie. Mesmo sem ter apresentado
oficialmente seu voto, Celso de Mello também declarou abertamente ser favorável às pesquisas.
A votação foi interrompida quando o ministro Carlos Alberto Direito pediu
vista do processo, alegando que precisaria avaliar melhor o caso. A expectativa,
agora, é de que o caso retorne à pauta até o dia 4 de abril, uma vez que resolução
do STF estabelece que os pedidos de vista devem ser devolvidos em até 30 dias.
Porém, não há punição para quem não devolve o processo dentro desse prazo.
Carlos Britto justificou seu voto favorável às pesquisas alegando que os embriões que serão usados não se tornariam pessoas. O ministro concordou com
posição de cientistas que defendem que a vida só começa com a formação do
sistema nervoso, sendo que embriões não possuem cérebro concluído ou em
formação. Partindo desse pressuposto, ele afirmou que o STF estava diante de
três alternativas: condenar os embriões à prisão nos tubos de ensaio, jogá-los no
lixo ou aproveitá-los em pesquisas que, talvez, no futuro, venham a salvar vidas.
Britto, então, optou pela terceira.
Já ministra Ellen Gracie adiantou o seu voto favorável, mesmo após o pedido
de vista de Direito. Para a presidente da Corte, o atraso no julgamento da matéria,
que já tramita no Tribunal desde maio de 2005, tem desestimulado e atrasado o
trabalho dos cientistas.
Antes da votação, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de
Souza, e o advogado da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
Ives Gandra Martins, defenderam a inconstitucionalidade do Artigo 5º da Lei de
Biossegurança, que autoriza as pesquisas com os embriões. Ambos argumentaram que as células embrionárias já constituem vida, e que seu uso em pesquisas
atentaria contra o princípio constitucional de garantia do direito à vida. Ainda segundo eles, pesquisas com células-tronco adultas já mostraram ser mais efetivas,
o que muitos pesquisadores negam.
Maioria da população favorável – Pesquisa recente do Ibope informou que
75% da população brasileira é favorável, sem restrições, à utilização de embriões
para fins científicos, entendendo que no futuro isso pode apontar benefícios para
pessoas com várias doenças e também para deficientes físicos, como lesados
medulares. Outros 20% dos brasileiros são favoráveis, mas com ressalvas.
Um incansável defensor da causa é o Major-Brigadeiro da Aeronáutica Hermano Paes Vianna, pai do patrono e incentivador do “Na Luta”, Herbert Vianna.
Após assistir à sessão, ele disse estar muito confiante de que o STF aprovará as
pesquisas. “Eu gostei muito da argumentação do relator, Ministro Carlos Ayres
Britto. Foi convincente, correta e honesta. Gostei mais ainda da antecipação do
voto da ministra Ellen Gracie, que demonstrou claramente sua inteligência e visão”, disse Hermano.
O brigadeiro mostrou-se decepcionado com o pedido de vista do ministro
Carlos Alberto Direito, a quem considera um homem inteligente. “Já houve muito
debate sobre o tema. Eu não creio que ele ainda não tenha formado uma opinião”.
Segundo Hermano, o que precisa estar em foco não é determinar quando
começa a vida, mas sim o que fazer com os embriões congelados há mais de três
anos nas clínicas de fertilização e que não serão utilizados. “Jogá-los no lixo é que
seria um crime”, argumentou.
5
6 NA LUTA
Dor é uma porcaria física, emocional e social. Quem está com
dor não consegue pensar em
mais nada. Se não melhorar
logo, começa a dar medo de
que ela nunca mais vá embora,
mesmo que tenha começado há
10 segundos. Quando a dor vira
crônica, o medo e a impotência
transformam a pessoa com dor
em alguém sem humor, e sem
entender como ninguém consegue entender o inferno que é
viver com dor.
Na luta contra a
dor
8 desafios para quem sonha com
uma vida sem dor crônica:
1) Conhecer e entender a sua dor. A dor é um sinal de alerta, uma resposta
bem primitiva a algum tipo de agressão. Com o passar do tempo, a própria
dor às vezes fica mais intensa do que a agressão que a despertou – um estímulo leve pode causar conseqüências enormes. O corpo tem maneiras de
não permitir que pequenos incômodos cheguem à consciência, mas este
sofrimento pode se manifestar de outras formas, muitas vezes através de
uma parte do nosso sistema nervoso autônomo. É preciso se livrar de TUDO
o que nos incomoda. Muita atenção aos detalhes, procurando tudo que
Dor é uma porcaria física, emocional
traz mal estar e incômodo: sapato apertado, etiquetas nas roupas, barulho,
e social. Quem está com dor não consegue
fome, sono – a lista não tem fim!
pensar em mais nada. Se não melhorar logo,
2) Nunca ignorar a dor. Nunca se “acostumar” com a dor, até porque é imcomeça a dar medo de que ela nunca mais vá
possível. Quanto mais rápido a gente reconhece e cuida da dor, menos temembora, mesmo que tenha começado há 10
po ela vai durar e menos danos ela vai provocar. Como um incêndio, que se
segundos. Quando a dor vira crônica, o medo
não for apagado logo no início vai causar um estrago bem maior, minutos ou
e a impotência transformam a pessoa com dor
horas depois. É preciso perceber o corpo de dentro para fora, especialmente
em alguém sem humor, e sem entender como
a reação normal de defesa que a dor provoca, de fazer a pessoa se encolher,
ninguém consegue entender o inferno que é
se curvar, para se proteger de mais agressão.
viver com dor.
3) Assumir o controle. Significa aceitar sua parcela de responsabilidade, per
Sendo médica e sofredora de dor, tive
ceber que ela piora quando a gente não respeita nossas necessidades. Parar
a oportunidade de conversar com inúmeras
de culpar os outros (o patrão que não deixa descansar, o médico que não
pessoas que tem sua vida totalmente estrasabe nada, o stress da vida moderna, etc). E também nunca desistir de engada por ela. Na busca incessante de uma
contrar uma solução. Quer dizer, fazer o que for necessário para melhorar,
solução para meus problemas, percebi que
mesmo que isto signifique modificar-se.
as pessoas têm algumas características em
4) Aceitar a dor. Para poder realmente assumir o controle, é preciso aprencomum. Dor atinge as pessoas que são exider a perdê-lo. Fugir da armadilha de ficar esperando uma cura externa migentes demais consigo mesmas, em geral se
lagrosa, ou reclamando da vida. Aceitar o medo, a frustração, a ansiedade,
esforçando demais para atender às próprias
a raiva – não apenas racionalmente, mas deixar estes sentimentos virem à
expectativas. É uma armadilha terrível, pois a
tona, sem culpa.
pessoa se transforma em vítima de si mesma,
5) Movimentar-se. Para combater a tendência do corpo com dor (e com
exigindo-se conseguir resolver o problema, ou
medo) de se encolher, só existe um tratamento: atividade física regular. Às
pelo menos entendê-lo.
vezes a dor é tão intensa que não
dá para mexer nada. Mas se a pessoa conseguir se imaginar mexendo, com harmonia e prazer, já é
um bom começo. Para se mexer é
preciso ter cuidado, pois um pouco
a mais do que a capacidade real do
corpo pode piorar a dor, ao invés de
diminuí-la – e aí precisa muita coDR. IVAN JORGE RIBEIRO
ragem para tentar de novo, quando
DIRETOR CLÍNICO
a dor melhora um pouco.
CRMSP 18890
6) Descansar. Dormir é fundamental. Durante o dia também precisa
Oxigenoterapia
Hiperbárica
CENTRO MÉDICO HIPERBÁRICO DE SÃO PAULO
PÇA. SEN. LINEU PRESTES, 326 - cep 05434-070
PINHEIROS - SÃO PAULO - SP - TEL:(11) 3815-6067
FAX: 3813-6957 E-MAIL: [email protected]
respeitar os sinais de alerta do corpo, e evitar que a dor comece ou piore. É como um motor de carro, que, se não parar
pra refrescar quando começa a dar sinais de aquecimento,
vai se transformar num monte de lata inútil.
7) Ter boa uma equipe de tratamento. Não é tarefa fácil encontrar o equilíbrio entre a necessidade de repouso e esforço,
o uso de tratamentos clínicos e cirúrgicos. Comunicação é a
chave para um tratamento de sucesso. Para quem tem dor, a
pior coisa é a fatídica pergunta que todos fazem: melhorou?
Nem um pouco? Pessoas com dor crônica muitas vezes têm
medo de contar até para seus médicos que um tratamento
não está funcionando, por causa da frustração que isto causa nos profissionais. E pior, se não melhora com nada e o
médico fica sem opções, ele próprio começa a botar a culpa
no paciente, que, afinal, só sabe reclamar. Sem a integração
entre os profissionais e a família, muito tempo vai ser desperdiçado para que a pessoa com dor aprenda a prestar atenção
em si mesma.
8) Pedir ajuda. Quase impossível pedir isso para uma pessoa
com dor crônica. Outra característica comum é o valor que
damos à nossa independência. Depender dos outros causa
muita dor. E a dor crônica tende a isolar a pessoa de seu círculo social, e vai ficando cada vez mais difícil pedir ajuda.
Não espere que alguém vá entender ou adivinhar que você
está com dor. E, sempre que possível, as pessoas vão fingir
que não estão percebendo, pois é muito frustrante não conseguir ajudar uma pessoa sofrendo. E pare de pensar no sofrimento que sua dor causa a outros, pois pessoas que pensam
demais nos outros, acabam vítimas de si mesmas.
Não tome estes desafios como um ideal inatingível.
Cada gesto conta e ensina um novo caminho de se relacionar consigo mesmo e com os outros. E, principalmente, para
aprender a se respeitar.
E não economize em seus sonhos de uma vida plena, sem sofrimento.
Lia Likier Steinberg
A maior Delegação brasileira
em Jogos Paraolímpicos
Começou a contagem regressiva para os Jogos Paraolímpicos de Beijing 2008, e o Brasil já garantiu 160 vagas para a
competição, que acontecerá entre os dias 6 e 17 de setembro.
Vale lembrar que o programa paraolímpico conta com 20 modalidades, e os brasileiros já garantiram presença em 15. Esta
será, de longe, a maior participação do país na história dos
Jogos.
No atletismo, por exemplo, a expectativa é de um excelente
desempenho dos brasileiros. O Comitê Paraolímpico Internacional (IPC) confirmou que o país terá 48 vagas na modalidade – 31 para homens e 17 para mulheres - o que representa
um aumento de mais de 180% em relação as 17 vagas dos
Jogos de Atenas 2004.
Segundo o presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro
(CPB), Vital Severino Neto, o número de vagas para o Brasil
evidenciam o bom trabalho feito pela entidade em relação ao
atletismo. “Estamos muito felizes com esse anúncio antecipado do IPC. Mostra claramente que a estratégia de desenvolvimento que planejamos e implementamos para a modalidade
está atingindo os resultados desejados, prova inconteste do
sucesso de nosso trabalho. É um número histórico”.
Em relação ao total da vagas no atletismo, o Brasil ficou em
segundo lugar, empatado com a Austrália, e à frente de grandes potências como Estados Unidos (44 vagas), Alemanha (42
vagas) e Grã-Bretanha (36 vagas). À frente do Brasil, só ficou
a China (80 vagas), que sediará os Jogos.
A participação brasileira na natação também será recorde:
vinte e cinco vagas, contra vinte e uma dos Jogos de Atenas.
Na modalidade, o país é 5º no ranking mundial e está lado a
lado de grandes potências como Estados Unidos e Grã Bretanha. Vale lembrar que o Brasil garantiu o maior número de
vagas no masculino (20).
Em Atenas, o Brasil foi representado, no geral, por uma
ABRADECAR desfiliada do CPB
delegação de 98 atletas, em 13 modalidades. Para Beijing,
já houve um aumento no número de atletas superior a 60%,
superando inclusive a meta do CPB, que era de atingir 150
vagas. A expectativa é de que o Brasil conquiste pelo menos o
12º lugar no quadro geral de medalhas, e para isso os atletas
seguem em preparação, em busca de recordes.
7
ESPORTE
NA LUTA
Daniel Dias, atleta de ouro
Meeting internacional - Fechando um ano de grandes competições para desportistas com deficiência, foi realizado, em
dezembro, no Rio de Janeiro, o Meeting Internacional Loterias
CAIXA, que abrangeu provas de atletismo e natação, coroando com novas medalhas e recordes mundiais o ano de 2007.
No atletismo, a estrela brasileira foi Felipe Gomes, que
venceu os favoritos Lucas Prado, também do Brasil, e José
Armando, de Angola, nos 100m rasos da classe T11, para
cegos totais, com o tempo de 11s49. Terezinha Guilhermina
venceu com facilidade os 100m, também da classe T11.
Já na natação, show de André Brasil na piscina do Parque
aquático Maria Lenk. Nos 50m livre S10, ele e o canadense Benoit Huot reviveram o duelo do último Parapan. Mesmo palco
e o mesmo resultado: novamente Andre Brasil no lugar mais
alto do pódio, baixando o seu recorde mundial para 23s95.
Sua marca anterior era 24s07. Nos 100m livre, outra vitória
sobre o canadense e outro recorde mundial, 52s22.
Daniel Dias também brilhou em outro grande desafio da
natação, quando ele e o espanhol Sebastian Rodrigues nadaram os 100m livres da classe S5. O brasileiro não só conquistou o ouro como é o novo dono da melhor marca mundial,
com 1m13s18, superando a antiga marca de Sebastian, de
1m13s39. Daniel também conquistou ouro nos 200m medley
para classe S5, com um tempo de 2m58s24. O recorde da prova é do próprio nadador, 2m54s90.
:
Doeu... Doeu muito...
“ABRADECAR FOI DESFILIADA DO CPB”
Ao ouvir esta frase do professor Menescal Conde, consultor do “Na Luta”, um misto de tristeza e confusão foi o que senti.
Nem tudo no esporte paraolímpico é boa notícia neste início de ano. Isso porque a Associação
Brasileira de Desportos em Cadeira de Rodas
(ABRADECAR), uma das maiores entidades do
desporto para deficientes no país, foi desfiliada do
Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB).
A desfiliação ocorreu após a ABRADECAR ter
sido também desligada da International Wheelchair & Amputee Sports Federation (IWAS). Em
decorrência da saída da IWAS, a associação deixa
de atender os requisitos de filiação ao CPB, segundo o site do CPB, conforme disposto no Parágrafo
1º do Artigo 4 do estatuto da organização.
Ao saber do ocorrido, nossa coordenadora e
supervisora, Beatriz Pinto Monteiro, ex-presidente
da ABRADECAR, fez um desabafo que publicamos ao lado:
“Como assim?” “E agora, como fica?” “Complicado isso, não é?” E mais uma seqüência de perguntas foram se formando.
Não participei do processo e assim não me sinto a vontade para discutir quem está com a razão e nem pretendo esmiuçar filiação na IWAS e
outras questões “burocráticas”, mas como ex-presidente da entidade nacional responsável pelo desporto em cadeiras de rodas não posso deixar de
sentir uma tristeza enorme. Foi como secretária da diretoria de José Gomes Blanco que entrei no “jogo” e com ele aprendi a agir com paixão.
Acredito, e vou defender sempre essa bandeira, que o esporte adaptado é fundamental para todos os segmentos que se referem às pessoas deficientes, desde a reabilitação até os movimentos de luta e assim, deve ter toda a trajetória, passo a passo, toque a toque. Pular etapas é perigoso.
Quando Presidente da ABRADECAR, meu primeiro passo foi ampliar o colégio eleitoral que na época era composto pelas regionais – Norte, Nordeste, Centro-oeste, Sudeste e Sul – passando o mesmo a ser composto pelos clubes. A proposta de mudança que levei à assembléia, e foi aprovada,
foi pensando em um processo de eleição mais amplo e democrático, mas também tinha a vontade de trabalhar mais de perto com a base. E é nela,
na base, que me pego pensando:
“Ok, o CPB assumiu a filiação internacional, mas como ficarão os atletas que não são paraolímpicos? Como ficarão os clubes? Como ficará a
base?” Perguntas que me faço e que espero sirvam de reflexão aos que estão atuando. Espero que o desporto nacional dos cadeirantes não seja
restrito a elite dos atletas pois, entre outros, correremos o grave risco de não ter no Brasil milhares de benefícios oriundos do desporto adaptado
como: conscientização, quebra de estigma, etc.
Difícil, muito difícil...
Beatriz Pinto Monteiro
coordenadora e supervisora do “Na Luta” e ex-presidente da ABRADECAR
8 NA LUTA
EDUCAÇÃO É O QUE A GENTE FAZ:
formação de professores na Educação Inclusiva
O chamado para um trabalho pedagógico com a finalidade de incluir a todos coloca
um grande desafio aos educadores. Agora, não precisamos só mudar para fazer algo
diferente, que movimente o nosso cotidiano de educadores, que nos exija estudos e
aprofundamento profissional. Precisamos encontrar saídas para incluir a todos em nossa
prática profissional de construção do conhecimento.
A inclusão social tem sua formulação mais legítima na equiparação de oportunidades,
o que significa que todas as necessidades de todos os indivíduos devem ser levadas em
conta, com o mesmo grau de importância. Todos os recursos devem ser empregados
de maneira a garantir iguais oportunidades de participação a todas as pessoas, com ou
sem deficiência.
Mudar mentalidades, superar o preconceito e combater atitudes discriminatórias são
objetivos que nos fazem trabalhar com valores de reconhecimento e respeito mútuo,
o que é tarefa para a sociedade como um todo. A escola tem um papel crucial nesse
processo, porque é o lugar onde são exercitadas as regras para o convívio democrático
com a diferença. Se a criança na escola convive com a diversidade, pode aprender com
ela. Somos todos iguais e diferentes! Ser diferente faz parte da condição humana. A diversidade é manifestação do ser único que cada um é. Isso é valor! Isso é condição de
desenvolvimento que estimula o exercício da liberdade e a conquista da autonomia!
Nessa perspectiva e entendendo a educação como o processo de desenvolvimento do
ser humano no sentido da conquista da autonomia, percebemos que o conhecimento
da realidade e o confronto de idéias sobre a forma de transformá-la tornou-se um imperativo para a superação do individualismo e construção de uma nova cultura capaz de
mobilizar para uma reorganização da sociedade em bases mais humanas. Bases mais
humanas onde o direito à participação, ao se fazer ouvir, falar e escolher, ao desenvolverse afetivamente e à própria capacidade de questionar as regras existentes na sociedade
para mantê-las, transformá-las ou propor outras de acordo com a necessidade e o momento histórico, constituem instrumentos importantes para a conquista da autonomia.
Faz parte desse caminho repensar o significado da escola, definindo-a como o espaço
público de discussão de experiências, elaboração do conhecimento necessário para
interpretá-las e articulação das ações coletivas para o encaminhamento dos problemas
e situações. Dá para perceber que somente transmitir informações não basta e por isso
torna-se imperativa a rediscussão do currículo, planejamento e avaliação do trabalho
pedagógico. O X da questão é organizar um currículo e uma metodologia de trabalho
com base num processo de construção social e individual onde as informações sejam
socialmente reconstruídas de acordo com os intercâmbios de culturas e identidades,
conforme valores que o professor promove ou exclui da dinâmica de sala de aula. Para
isso, será preciso deixar de planejar e programar somente para compensar perdas e
dificuldades, ou preparar os alunos para a etapa seguinte de escolaridade: a educação
infantil prepara para a alfabetização, o ensino fundamental prepara para o ensino médio
e o ensino médio prepara para a universidade e para o mercado de trabalho. A criança,
o adolescente, o jovem, o adulto excluídos estão vivos hoje e têm necessidade de compreender o que são, onde estão, o que estão vivendo. Esta é uma perspectiva muito nova
para os professores nos seus processos de formação. A formação dos professores, para
além de treinamento, reciclagem, capacitação, implica na análise do próprio trabalho
tendo como parâmetro as diretrizes educacionais da escola ou rede de ensino da qual
faz parte. O passo mais importante na formação dos professores é o repensar a escola,
as relações professor/aluno, os desejos e expectativas, a informação, o que significa o
conhecimento. Esse é o grande desafio, porque das escolas que aí estão, públicas e privadas, de modo geral, não atendem às necessidades da criança, adolescente ou jovem,
com ou sem deficiência, de hoje. E mais, é preciso tempo e trabalho intenso para a
reformulação desse espaço social.
Equipe Mais Diferenças
Um mundo novo
em reabilitação,
inclusão e
acessibilidade
Apresentar novas tecnologias e lançamentos de produtos, equipamentos e serviços,
inclusive do exterior, para as pessoas com
deficiência ou mobilidade reduzida. Esse
é o objetivo da VII Reatech – Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade, que será realizada
de 24 a 27 de abril, em São Paulo.
Terceira maior feira do mundo no segmento, a Reatech pretende atrair mais de 35
mil visitantes nesta edição, entre pessoas
com deficiências físicas, mentais, visuais,
auditivas e múltiplas, seus familiares e profissionais da área.
“Nosso objetivo é levar ao visitante da Reatech um mundo novo em reabilitação,
inclusão e acessibilidade”, explica Rodrigo
Rosso, diretor da feira. Em 2007, mais de
33 mil visitantes puderam conhecer os últimos lançamentos em soluções tecnológicas, bem como soluções de acessibilidade
para todos os tipos de deficiência.
Além da exposição comercial, a Reatech
2008 terá uma extensa programação de artes cênicas e grupos de dança compostos
por artistas com deficiências, eqüoterapia,
galeria de arte, parque infantil adaptado,
quadras para a prática de esportes, testdrive de carros adaptados, de cadeiras de
rodas motorizadas e scooters, pista de kart
também adaptado, mini-fazendinha com
animais para terapia, além de palestras,
congressos médicos, profissionais e abertos ao público e outras atrações.
Incorporando os conceitos de acessibilidade corporativa e empregabilidade (lei de
cotas), diversas empresas também utilizam a feira como mecanismo de captação
de currículos. Só no ano passado, foram
oferecidas pelos expositores mais de 5 mil
vagas diversas de emprego para pessoas
com deficiências, durante os 4 dias de feira. Um exemplo é o Banco HSBC, que ape-
foto: divulgação
nas em um dia, no ano passado, recebeu
mais de 200 inscrições em seu estande.
Dados oficiais indicam que pelo menos
15% da população brasileira possui algum
tipo de deficiência. Trata-se de um universo superior a 24 milhões de pessoas. Por
ano, o setor de produtos e serviços para
reabilitação movimenta cerca de R$ 1 bilhão no País, sendo R$ 100 milhões só com
vendas de cadeiras de rodas e mais de R$
400 milhões em automóveis e adaptações
veiculares. Estimativas da ONU (Organização das Nações Unidas) e da OMS (Organização Mundial de Saúde) indicam que,
diariamente, mais de 500 pessoas tornamse portadoras de algum tipo de deficiência
no Brasil.
Serviço – A Reatech será realizada no Centro de Exposições Imigrantes - Rodovia dos
Imigrantes Km 1,5 - São Paulo/SP, de 24 a 27
de abril, quinta e sexta das 13h às 21h e sábado e domingo das 10h às 19h. A entrada
é gratuita. Mais informações no endereço
eletrônico www.reatech.tmp.br ou pelo telefone (11) 5585-4355.
Marcelo Yuka defende
educação e cultura
contra violência
9
PERFIL
Foto: Maira Soares/MD
NA LUTA
“Toda pessoa lesada é perigosa, porque sabe que pode sobreviver”. A brilhante frase, de autoria do músico Marcelo
Yuka, está grafitada em um mural em sua casa, na Tijuca, Rio de Janeiro, local no qual recebeu equipe do “Na Luta”
para esta entrevista.
Marcelo, que trabalha na gravação de seu primeiro disco solo, tratou principalmente da questão da violência urbana – motivo pelo qual tornou-se cadeirante. Mas não espere dele, antigo militante das causas sociais, palavras de
vingança. O músico tem plena convicção de que a violência pode ser combatida de forma muito mais eficaz com
educação e cultura. “Nós teríamos muito mais êxito se, na luta contra a violência, nós usássemos, ao invés de munição, educação, cultura e oportunidades”, defendeu.
Ele diz também que a música salvou sua vida e aconselha a todos que tenham algum tipo de deficiência que façam
de tudo para se sentirem pessoas como outras quaisquer. “Eu acho que se sentir deficiente é a pior coisa que há. Nós
temos que fazer de tudo para procurar sermos capazes”. Leia a entrevista:
Na Luta – Na sua opinião, como mais uma vítima da violência
urbana nas grandes cidades brasileiras, porque a criminalidade
atingiu níveis tão altos?
Marcelo Yuka - Não é de hoje que as políticas de segurança pública
voltam-se para proteger os bens e não as pessoas. Porque se a gente
fosse proteger quem mais precisa de proteção, teríamos uma maior
incidência de uma política de segurança pública nos bolsões de violência. E, no entanto, o que nós percebemos é que há mais carros
de polícia e mais policiais na “parte cartão-postal” da cidade. Isso
mostra que a gente ainda não tem uma política de realmente proteger as pessoas. Protege-se quem pode pagar, ou seja, protege-se os
bens. Eu acho que esse ponto de vista é totalmente errôneo. Nós teríamos muito mais êxito se, na luta contra a violência, nós usássemos,
ao invés de munição, educação, cultura e oportunidades. Há muito
tempo que ninguém fala sobre isso, ou se fala não faz. Por incrível
que pareça, combater a violência com bala gera mais votos, mais
mídia. Já o trabalho educacional, que é muito mais efetivo, todavia
é lento, não trazendo votos em curto prazo. O governador Sérgio Cabral, que é uma pessoa muito estudada e esclarecida, por exemplo,
produz uma política de segurança pública que já matou o dobro do
que a administração anterior, no começo do mandato. Os números
são alarmantes. Se você faz operação em um morro que resulta em
três balas perdidas, isso é responsabilidade do estado. Não podemos
aceitar isso como uma espécie de mal necessário. Afinal, o estado
está ali para proteger quem? Será que nós teremos que esperar a
violência tomar conta das áreas mais nobres para que uma atitude
efetiva seja tomada? Infelizmente, eu creio que sim.
Na Luta – E de que maneira você acha que a violência pode ser
combatida?
Marcelo Yuka - Acho que para combater a violência é preciso uma
integração social dessas comunidades mais carentes. Ainda há um
número muito reduzido, por exemplo, de escolas públicas localizadas dentro das comunidades. Hospitais das regiões mais pobres são
sempre os piores. O estado deveria ocupar esses locais com instituições, não com a polícia. Até porque o modelo atual só tem feito
mais e mais vítimas. Só que essas vítimas, por serem pobres, não
tem pressão de mídia. Por isso elas vão sendo sequeladas, assassinadas e nada é feito. Outra sugestão: a legislação ambiental na
Europa obriga as empresas mais poluidoras, além de pagar multas,
a investirem em programas de preservação. Eu acho que o Brasil
poderia aplicar esse modelo às fábricas de armas e de munição,
criando lei que obrigue essas empresas a investirem nas comunidades carentes. Você quer ver outro sintoma de violência no Brasil? O
trânsito. E o grande vilão nesse caso é o álcool. Ora, as pessoas que
têm condições de ter um carro têm um nível de formação suficientemente bom para saber que não podem misturar bebida e direção.
Mas isso ocorre o tempo todo, vitimando milhares de pessoas. A
punição, nesse caso, deveria ser mais severa, pois os infratores têm
discernimento. Só que, mais uma vez, esbarra-se naquele dilema:
você está confrontando quem tem dinheiro para se defender. Essa
justiça tendenciosa é a maior violência existente nesse país.
Na Luta – O que você tem a dizer às pessoas que foram vítimas
da violência urbana?
Marcelo Yuka - Nos últimos anos, a violência atingiu um nível tão
grande que a gente começa a se confundir e pedir, ao invés de justiça, vingança. Eu gostaria que as pessoas que me balearam pagassem, pois nenhum deles foi pego até agora, mas que pagassem
dentro do que está previsto no Código Penal. As leis já existem, é só
fazê-las serem cumpridas. Mas eu fui vítima também de uma injustiça social. Não foram só os assaltantes que fizeram isso comigo,
foi o sistema econômico, foi a irresponsabilidade política e social.
Eu acho que nós temos que ser sempre coerentes. Não podemos
transformar o nosso rancor pessoal em políticas públicas, porque
quando a sociedade está tão doente assim, surgem sempre saídas
que depois a história nos mostra que são fascistas, como redução
de maioridade penal, pena de morte etc. Com uma justiça tendenciosa como a nossa, com a péssima educação oferecida ao povo,
pedir pena de morte? Só os pobres serão mortos. Assim como serão
os pobres que rechearão cadeias com a diminuição da maioridade
penal. Mesmo o traficante tem garantido, pela Constituição, o direito à vida. Nós temos que manter um pouco de sanidade, e não
engrossar esse movimento de vingança.
Na Luta – Como todos sabem, você é muito envolvido com o
trabalho social. Quais as suas novidades na área?
Marcelo Yuka – Eu montei uma nova ONG chamada BOCA, sigla
para Brigada Organizada de Cultura Ativista, e estou me focando
nela. Nosso primeiro projeto é montar uma escola, porque acho que
a educação é um grande problema. A gente conseguiu um espaço
muito bonito para essa escola, na Fundição Progresso, e é para lá
que a gente vai até o meio do ano. Será uma escola de arte digital,
que unirá formação técnica e humana, pois me interessa muito passar aos alunos matérias humanizantes como Filosofia, Ioga, Meditação, Português, História da Arte. Eu quero investir na pessoa. Será
uma escola profissionalizante, para quem tem 2º grau completo,
mas voltada exclusivamente para pessoas carentes. Também tenho
um trabalho junto à população carcerária, realizando projeções de
filmes, etc. Produzo inclusive, com alguns amigos, um jornal voltado
exclusivamente para questões ligadas aos presidiários.
Na Luta – De que forma a arte e a cultura podem ser aliadas no
combate à violência?
Marcelo Yuka – A cultura não é só entretenimento, ela é um reflexo,
um espelho da sociedade. Ela é em si uma crônica da sociedade na
qual a gente vive. Tanto a arte quanto a cultura têm um caráter socializante muito grande, não só de discutir como de propor saídas.
O viés da arte é de bastante credibilidade. Muitas pessoas conseguem entender proposições políticas de uma maneira muito mais
razoável pela arte do que pela própria política partidária. Porém,
muitas vezes, em prol do mercado, isso não é utilizado.
Na Luta – Nós fizemos, em uma edição anterior, entrevista com
os Paralamas do Sucesso, tratando das dificuldades que o conjunto enfrenta na estrada, em virtude de terem um cadeirante
na trupe. E no seu caso? Quais as maiores dificuldades quando
sai para fazer shows?
Marcelo Yuka –Quando as pessoas sabem que sou eu ou o Herbert Vianna quem está indo tocar em determinado lugar, elas se
preocupam em colocar rampas de acesso, criar uma estrutura mínima. Mas eu não sei se isso aconteceria se fosse com pessoas que
não tivessem notoriedade. Em minha opinião, durante as turnês, a
maior dificuldade é com os hotéis. Há vários exemplos de hotéis que
teoricamente seriam adaptados para receber um deficiente, mas
que quando você chega lá o banheiro é totalmente inadequado.
No nosso país também não se respeita muito a coisa do estacionamento para deficientes. Isso é um exemplo de como a sociedade é
mal educada, principalmente a elite. Pois é geralmente em locais de
classes mais altas que se constata maior desrespeito com as vagas
para deficientes.
Na Luta – De que maneira você acha que o poder público tem
lidado com a questão da deficiência?
Marcelo Yuka – Ainda falta muita coisa, como a garantia de
acessibilidade. Mas isso está mudando aos poucos, a meu ver,
pela tragédia. Estamos vivendo uma estratificação social do deficiente físico, porque nós temos cada vez mais pessoas com melhor condição financeira tornando-se deficientes, principalmente
em virtude de acidentes com carros cada vez mais possantes.
E tendo pessoas de classe alta integradas à minoria que são os
deficientes físicos, aumenta-se a pressão social. Só assim o Estado começa a ouvir. Pela primeira vez, por exemplo, estamos
escutando algumas instituições falando no poder de compra dos
deficientes.
Na Luta - A relação dos fãs com você mudou alguma coisa após
o acidente?
Marcelo Yuka – É interessante essa pergunta. Nas minhas músicas, sempre tratei, entre outros temas, da violência social. Eu venho
de uma militância que já passa de quinze anos. Acho que por ter
acontecido o que aconteceu, por eu ter sido baleado e me tornado
cadeirante, a mídia se empenhou em glamourizar as minhas ações,
uma coisa que sempre evitei. Eu não quero ser um coitado nem ser
um herói. Mas para isso você precisa fazer muito esforço, cara. Pois
evitar os dois papéis é muito difícil. Em conseqüência desse trabalho da mídia, a minha relação com alguns fãs ficou quase como
uma relação de culto religioso, sabe? Alguns me cumprimentam
com uma devoção que transcende a coisa do artista. As pessoas fazem questão de dizer que admiram o meu trabalho e me admiram
como pessoa. É claro que eu não vou negar que fiz coisas legais,
tomei posições em prol do bem comum, e isso eu acho que teve
um eco positivo.
Na Luta – Gostaria de deixar algum recado aos nosso leitores ?
Marcelo Yuka - Eu carrego a bandeira de tentar fazer da minha
vida o mais normal possível. Eu não estou achando que o meu final
feliz será a cura, voltar a andar. O meu final feliz será conseguir a
felicidade como qualquer homem. Quando você pratica esporte, sai
de casa, freqüenta os lugares, você está mostrando a si mesmo que
é uma pessoa como outra qualquer. Eu acho que se sentir deficiente
é a pior coisa que há. Nós temos que fazer de tudo para procurar
sermos capazes. A música me salvou várias vezes, e me salva de
novo porque, no fundo, ela é o que eu sou. Por isso, mesmo com as
dificuldades físicas, eu continuo a atuar.
FÃS
Eduardo Lemos
“Certa vez um amigo, fã dos Paralamas apaixonado como eu, escreveu em
um texto sobre o documentário “Herbert de Perto”: “É impressionante como
tudo mudou e, ao mesmo tempo, nada mudou”. Ele se referia ao Herbert, à
banda, à essência das coisas. Mas pode-se também encaixar perfeitamente
esta frase quando se fala de quem gosta dos Paralamas: nós mudamos muito e, ao mesmo tempo, não mudamos.
Depois de tudo o que aconteceu com o Herbert, passamos (unidos, diga-se
de passagem) por muitas coisas que nos fortaleceram, nos transformaram.
Se antes tínhamos fortes ligações emocionais, sensibilidade, amizade e todas estas coisas que fazem parte do “universo paralâmico” (e por isso digo
que não mudamos), agora, a cada dia, tínhamos que lidar com situações e
sentimentos nunca antes vividos. E assim foi quando nos deparamos pela
primeira vez, no programa “Fantástico”, com Herbert cantando em cima de
uma cadeira de rodas. A alegria de vê-lo bem foi imensa, mas, no entanto,
era novidade para a maioria de nós a questão da deficiência física e tudo o
que a envolve: a acessibilidade, tratamentos, preconceito...
Nosso “ponto de vista” foi sendo modificado. Vimos o esforço da produção dos Paralamas em garantir
o maior conforto do Herbert e de cadeirantes espectadores nos shows país
afora, em um país que não garante o mínimo de acesso em ruas, transporte,
locais públicos e privados. Participamos - por meio do Sr. Hermano (o pai)
que mandava informes por e-mail - dos esforços de diversos grupos no difícil
debate - e luta - sobre as células-tronco e de outras alternativas de tratamento, em uma sociedade ainda muito conservadora. Tivemos ainda que combater preconceitos, nossos e dos outros; preconceito de quem não sabe como
é o “mundo aos olhos de quem sofre ao se mover”.
Tudo mudou, nada mudou: aprendemos infinitamente a cada dia, fãs e banda, sem perder a alegria de viver e estar vivo, ter sonhos e motivos pra cantar.
E assim vamos seguindo na luta.”
do cidadão Herbert Vianna
O dia 4 de fevereiro de 2001 ficará marcado na vida de muita gente. Todas
as pessoas que nutriam o mínimo de simpatia pelo cantor e compositor Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, se chocaram e se emocionaram com
o acidente que o deixou paraplégico e que vitimou sua esposa, Lucy Needham
Vianna. Imaginemos, então, como os fãs da banda e de Herbert ficaram após
este dia.
A tristeza inicial, no entanto, logo deu lugar a esperança. Vê-lo “renascer” como ele mesmo definiu o milagre de sua recuperação - nos encheu de alegria
no coração. Mas, junto a isso, nos fez prestar muito mais atenção a um assunto
tão importante e que, muitas vezes, é deixado de lado pela mídia e sociedade:
a questão da deficiência física.
O caso de Herbert Vianna abriu a discussão sobre o assunto. Pessoas que nunca haviam pensado sobre o tema de repente se surpreenderam discutindo-o em
rodas de amigos, no bar, na faculdade, no ponto de ônibus. Assim, perguntamos a quatro fãs “das antigas” de Herbert Vianna o que mudou em suas visões
sobre a deficiência física a partir daquele 4 de janeiro de 2001.
Seguem os depoimentos:
“Após o acidente do Herbert, comecei a prestar mais atenção nas pessoas que possuem deficiências físicas. Seja em observar as dificuldades que elas enfrentam em
ações comuns do dia-a-dia, seja em notar o preconceito que a sociedade ainda
possui.
Percebi, também, que é importante não olhar para essas pessoas com sentimento
de pena, pois isso as ofende.
Passei a enxergá-las como pessoas vencedoras, que precisam de alguns cuidados e adaptações especiais, mas que
podem, e devem, levar uma vida normal, como a de todos nós.
Notei também o trabalho que é realizado por algumas entidades, associações e
veículos de imprensa, que, mesmo sem apoio e sem dinheiro, lutam em prol da
defesa dos direitos das pessoas com deficiência. Torço muito para que a sociedade
aprenda a respeitar os direitos dessas pessoas, e para que nossos governantes ajam
em favor delas, com a criação de leis adequadas e com ações direcionadas para
que elas possam conquistar o espaço que merecem”.
Rafael Michalawski
Deise Cristina Schell
10 NA LUTA
NA LUTA
11
“Com o acidente do Herbert, e principalmente na situação em que ele
comecei a prestar mais atenção nas pessoas que estão na mesma situação
se encontra, como deficiente físico, numa cadeira de rodas,
que a dele. Quando vejo algum “cadeirante”na rua com dificuldades
para se locomover, por culpa de um simples buraquinho na calçada, ou
por não ter uma rampa para descer e atravessar a rua, fico imaginando
o Herbert passando pela mesma situação. Quando vou a show dele,
sempre olho ao redor para ver se há acessos para deficientes, ou coisa
do gênero, atitude que antes não passava em nenhum momento pela
minha cabeça.
Hoje, se abro um jornal, revista ou qualquer coisa que fale a respeito
desse assunto, ainda mais sobre a cura, eu me interesso, leio e ainda
discuto sobre o assunto, coisa que antes eu tenho certeza que não pararia para ler. No meu caso, não sei se o interesse surgiu pelo fato do
acidente em si, por ele ser uma pessoa publica e estar em evidência ou
pelo fato de gostar muito dele e querer que ele melhore a cada dia, e
que não precise passar por tais dificuldades. Por isso quero me informar
das condições atuais dele, mas sei que tais fatos ajudaram e muito na
minha visão em relação a todos que tem esse mesmo problema.
Hoje, eu realmente paro, observo e até tento achar algumas soluções
que na verdade são óbvias, mas que ninguém coloca em prática. Na
realidade, ninguém lembra que ali, na entrada do mercado ou da padaria, pode também ter algum deficiente querendo comprar um pão,
tomar um café como todas as outras pessoas.
Penso nessas coisas hoje, porque tenho um exemplo próximo, uma pessoa que gosto e me preocupo e fico imaginado, será que para as outras
pessoas se conscientizarem de tal fato será necessário que alguém próximo passe por isso?”.
os fãs dos Paralamas, mesmo aqueles que só simpatizavam com o som da banda. No
meu caso, o choque foi enorme, já que desde os meus 9 anos aquele era o cara que eu
mais admirava no mundo – mesmo sem nunca tê-lo visto ou conhecido.
Depois do dia 4 de fevereiro, minha visão e sensibilidade sobre a questão da deficiência
física mudou completamente. Antes, era um problema que me deixava triste, mas nada
que me fizesse saber mais ou fazer algo sobre o assunto. A partir do ocorrido, me vi
lendo e sendo até meio ativista em relação às pesquisas com células-tronco – criei até
uma camiseta, inspirada na da campanha, escrito “Células-tronco esperança”, que logo
depois foi autografada pelo próprio Herbert.
O fato é que desde então venho olhando para as ruas, os shoppings e os transportes
públicos com outros olhos. Não ver uma rampa de acesso ou algo semelhante me faz
pensar em quanto o nosso país é egoísta e mesquinho, deixando de fazer mudanças
relativamente simples e que poderiam ajudar milhões de cidadãos como eu, que se
diferem de mim apenas por usar uma cadeira para se locomover. No resto, temos os
mesmos direitos e sinto que estes não são respeitados como deveriam.
Mas, desde 4 de fevereiro, um sopro de esperança bate em meu coração, ao perceber
a importância que o caso do Herbert teve para a questão. A discussão toma conta das
ruas muito mais do que antigamente; ver um ídolo como o Herbert fazendo shows e
rodando o Brasil e o mundo de cadeiras de rodas só faz crescer a corrente para que a
questão da deficiência no Brasil seja discutida a sério, como são feitas com outras questões. Afinal, “em cima desta rodas também bate um coração.”
Eduardo Lemos
Renata Pedro
“O acidente com o Herbert mexeu com todos
12 NA LUTA
NoRitmodaAlegria
Com muito samba no pé, ou nas rodas,
pessoas com deficiência brincam o carnaval
Fernandinha sambando
Porta-bandeira e mestre-sala da Embaixadores da Alegria
Paul (à direita) e diretoria
O samba, de autoria de Toninho Nascimento e Gaúcho Cortabitart,
dizia assim: “bate o surdão, tamborim, caixa de guerra/que eu festejo
no maior espetáculo da terra”. E foi com esse espírito de celebração
que a Embaixadores da Folia, primeira escola de samba do mundo
voltada às pessoas com deficiência, fez o seu desfile na Marquês de
Sapucaí, no Rio de Janeiro. E caberia muito bem a ela, por exemplo,
o lema da Acadêmicos do Salgueiro: “Nem melhor, nem pior. Apenas
uma escola diferente”.
A mais nova agremiação da cidade, que contou com o apoio do “Na
Luta”, desfilou no sábado de carnaval, abrindo para as escolas do
Grupo de Acesso. E a estreante fez bonito na passarela, com cerca de
800 componentes, 80 ritmistas na bateria, samba contagiante, rainha
de bateria, mestre-sala e porta-bandeira e passistas. Enfim, a mesma
estrutura das escolas tradicionais. Nem a chuva fina que caiu durante
toda a apresentação diminuiu o ânimo de sambistas com síndrome
de Down, cadeirantes, paralisados cerebrais, entre outros.
“Eu acho esse projeto muito importante. As pessoas com deficiência
precisam mostrar a cara, mostrar que merecem muito mais do que
têm”, disse o criador da Embaixadores, Paul Davis. Segundo ele, a
proposta da agremiação é deixar claro que os deficientes têm direito
ao lazer, que eles podem, querem e devem participar da maior festa
popular do Brasil. “A gente fez um desfile com harmonia, com alegria,
e isso é que é carnaval”, afirmou.
Equipe do “Na Luta” participou do desfile, que contou ainda com a
presença do ator Marcos Frota, militante da inclusão das pessoas
com deficiência. As arquibancadas, apesar de ainda não estarem totalmente cheias na ocasião, abrigavam um bom público, que cantou
e sambou com a nova escola de samba do Rio.
“Eu gostaria que todos os deficientes saíssem na escola, mas é impossível (risos). Caso a gente consiga patrocínio, pretendemos colocar todos os integrantes com fantasias, fazer pelo menos um carro
alegórico. Enfim, a esperança é de que o nosso desfile no próximo
ano seja ainda melhor do que esse que passou”, planeja Paul.
Cadeirante, a porta-bandeira Maria Aparecida Guerreiro deu um
show de evolução na Sapucaí. Já tendo participado de muitos desfiles
na Portela, dessa vez ela veio como estrela, carregando o manto da
recém-criada agremiação. “Foi uma experiência muito emocionante.
A Embaixadores é a realização plena de todos os deficientes, pois
estamos mostrando para toda a sociedade do que somos capazes”,
disse.
Seu companheiro, o mestre-sala Lincoln Pereira, não é deficiente,
mas já atuou como coreógrafo da ala dos deficientes da Tradição por
muitos anos. “Tendo oportunidades, as pessoas são capazes de fazer
coisas maravilhosas como esse desfile que vocês acabaram de ver”,
defendeu Lincoln.
Presença marcante ainda em outras escolas – Mas os sambistas com
algum tipo de deficiência não abriram mão de desfilar também nas
escolas tradicionais. E falando em tradição, pensa-se logo na Portela. A
maior campeã do carnaval carioca é a única escola do Grupo Especial
que possui uma ala para deficientes, a “Nós Podemos”. Seus integrantes, com muita alegria, contribuíram para a 4ª colocação da escola,
seu melhor desempenho nos últimos anos.
Com 51 componentes, dos quais 30 deficientes e 21 passistas, a ala veio
com uma belíssima fantasia e muita animação. “Foi o melhor carnaval
do qual eu já participei”, disse Héliton Andrade, cadeirante, presidente
da ala que ele mesmo fundou há quatro anos. “Com o sucesso desse
ano, a meta para 2009 é crescê-la um pouco mais”, disse.
Héliton, porém, lamenta que as outras grandes agremiações do estado não abram espaço para alas de deficientes. Só a Tradição, pioneira, e a Portela, fazem esse trabalho. “Parece até que as outras
comunidades não possuem deficientes. O meu sonho é que todas, no
futuro, tenham alas específicas para esse segmento tão importante
da sociedade”, afirmou.
Ala “Nós podemos” da Portela
NA LUTA
O presidente da ala criticou o pensamento de determinados
diretores de harmonia de escolas de samba que pensam que
pessoas com deficiência podem atrapalhar a evolução de
uma agremiação, fazendo com que ela perca pontos. “Nós
provamos que isso não existe, pois a nossa ala é uma das
mais organizadas e disciplinadas da Portela”, defendeu Héliton, lembrando ainda que, no passado, havia o mito de que
uma cadeira de rodas poderia tirar pontos de uma escola pois,
tendo rodas, contaria como carro alegórico.
Com muito samba no pé, o casal Fernanda Honorato, de 27
anos, e Leonardo Cruz, de 30, eram só alegria. Portadores de
síndrome de Down, os dois desfilaram na Embaixadores da
Alegria e na Portela, demonstrando muito fôlego e energia.
Mais expansiva do que o namorado, Fernanda é a primeira
passista com síndrome de Down em todo o mundo, feito conquistado com seu desfile na Portela. Com total coordenação
e leveza de movimentos, ela provou que merece mesmo ser
chamada de passista. “Carnaval é muito dez! Eu adoro sambar”, disse.
Nos grupos de acesso do Rio de Janeiro, pessoas com deficiência marcaram presença na pioneira ala da Tradição voltada
para o segmento e também na Estácio de Sá, que trouxe à
frente da bateria, como princesa dos ritmistas, a menina Natália Gomes, de 16 anos, também portadora de síndrome de
Down.
O desfile das escolas de samba mirins também foi um belo
evento, principalmente pela participação da Mel do Futuro, que
reúne, prioritariamente, crianças com algum tipo de deficiência. A diretora é Carmem Marins, que resumiu o desfile desse
ano como maravilhoso, resultado de muito ensaio. “Nós pretendemos melhorar no ano que vem, atraindo um maior número de crianças com deficiência”, disse Carmem, lembrando
que os preparativos para o próximo ano já estão começando.
Quem quiser informações sobre como desfilar na Mel do Futuro em 2009 deve ligar para o telefone (21)9858-8161.
Blocos – A diversão não ficou só por conta das escolas de samba não. O carnaval de rua também foi cheio de opções, com
os blocos Senta que eu te Empurro, no Catete, e o Gargalhada, em Vila Isabel, integrados por pessoas com deficiência e
amigos.
E, saindo do Rio de Janeiro, participantes do Grupo Estúdio,
primeira escola municipal de dança em cadeira de rodas do
país, desfilaram na escola de samba Brasil, que foi a vicecampeã do carnaval de Santos, em São Paulo. Foi numa ala
exclusiva para mulheres cadeirantes, todas elas com uma
bem ensaiada coreografia. Parabéns, meninas!
Ziriguidum, agora, só no ano que vem.
13
CARNAVAL
Grupo de Santos
Mel do Futuro
Carnavalescos de Santos
Fernandinha (à direita) e seu namorado comandam a folia
Marcos Frota
Arte
14 NA LUTA
veículo de expressão, educação e inserção
. É assim que o músico e cineasta Bernardo Gebara encara o seu trabalho, seja dirigindo filmes ou compondo trilha sonora para espetáculos como os da Pulsar Companhia de Dança, formada por bailarinos deficientes e não deficientes. “O meu movimento é o de quebrar os rótulos, buscar o melhor de cada arquétipo”, afirmou.
Segundo Bernardo, a questão da diferença, quando tratada artisticamente, causa incômodo, provoca desconforto. “Eu convido as pessoas para irem assistir a um
espetáculo da Pulsar e algumas delas chegam para mim, assustadas e surpresas, dizendo que não sabiam que a apresentação seria de cadeirantes”, disse Bernardo, defendendo a tese de que quem se aproxima do diferente tem a real possibilidade de encontrar o novo.
Como cineasta, seu trabalho também trata de diferenças. Em “Risco”, curta-metragem de 15 minutos, produzido em conjunto com Renato Andrade, Bernardo fez um
ensaio poético sobre um morador de rua do Rio de Janeiro, esquizofrênico, que passa os dias com uma pedra na mão riscando os muros por onde passa. O curta venceu
onze prêmios em festivais por todo o país. Leia a entrevista:
Na Luta – Como músico e cineasta, qual a sua opinião sobre
a função da arte?
Bernardo Gebara - A função da arte é tocar os corações. A arte é
um veículo de linguagem, de levar uma expressão, uma mensagem. Ela é uma forma de educação também, de inserção. Quanto mais genuína for a arte, mais corações ela tocará. Fazer uma
coisa direcionada nunca é bom. É preciso ser verdadeiro.
Na Luta – O seu trabalho, tanto como cineasta quanto na
Pulsar Companhia de Dança, aborda muito o tema das “diferenças”. Qual é a maior dificuldade em se trabalhar as diferenças?
Bernardo Gebara - Eu acho que trabalhar com as diferenças
não é confortável. Por exemplo: ao assistir um filme de comédia descompromissado, você dá as suas gargalhadas e pronto.
Já qualquer filme que tenha algum questionamento, que traga
alguma diferença, mostre o excluído, ele provoca desconforto.
Quando você cria um produto de arte e insere questionamentos
que vão quebrar rótulos e padrões, você põe a sua cara à tapa,
está sujeito à críticas e rejeições. Um cineasta como Fellini, quando coloca no elenco dele pessoas que não são todas bonitinhas,
está quebrando paradigmas. A Rede Globo, por exemplo, tem um
laboratório de rostinhos bonitos, a novela Malhação, que cria os
futuros galãs. Quem não é bonito faz a empregada, o jardineiro
etc. O meu movimento é o de quebrar os rótulos, buscar o melhor
de cada arquétipo. E por isso, também, eu acho que o trabalho do
“Na Luta” é importante, porque ele trabalha com a expressão de
uma minoria na busca da quebra de barreiras.
Na Luta – E você nota muito esse desconforto do público em
lidar com as diferenças ?
Bernardo Gebara - Eu tenho visto na platéia da Pulsar, por exemplo, muitas pessoas que se incomodam, que não dão conta de assistir ao espetáculo, que ficam assustadas. Eu convido as pessoas
para irem assistir e algumas delas chegam para mim, surpresas,
e dizem: “eu não sabia que a apresentação seria de cadeirantes”.
E eu fico pensando: “será que é preciso avisar que é um espetáculo de dança de cadeirantes?”. Mas essa estranheza não é apenas relativa à deficiência. É a questão da minoria. O cérebro da
gente é acostumado a um padrão, e por isso a diferença sempre
vai causar estranheza. Mas na Pulsar a diferença tem trazido a
oportunidade de se encontrar uma estética inexplorada. O trabalho da companhia é importante por causa disso: ela não trabalha
com a inclusão. Ela está é buscando elementos novos dentro da
diferença. Quem se aproxima de uma coisa diferente tem a possibilidade de realmente encontrar o novo.
Na Luta – E como tem sido o seu trabalho na Pulsar?
Bernardo Gebara - A Pulsar é um aprendizado muito grande,
pois a gente convive com pessoas que têm dificuldade. Você vê
que as dificuldades que você reclama no dia-a-dia são pequenas
e superáveis, e que a gente está sempre sendo testado nos nossos
limites, para que busquemos uma força interna. Eu participei de
uma oficina de dança no IMES (Instituto Nacional de Educação
de Surdos), por exemplo, na qual eu fiz a parte musical. Foi muito
legal, porque trabalhar com música para surdos foi um grande
desafio para mim. Foi interessante trabalhar a parte rítmica. A
gente trabalhava com sons de mar, sons rítmicos, sons fortes.
Eu tenho buscado com a arte, tanto no meu trabalho com deficientes como na área de saúde, a possibilidade do exercício
humano.
Na Luta - Fale um pouco sobre o seu trabalho como cineasta.
Bernardo Gebara - A coisa com a filmagem de vídeos, direção
e cinema é na verdade um exercício para mim. Na faculdade, eu
já havia brincado com VHS, por exemplo, tendo feito três vídeos
bem interessantes. Um deles tinha a ver com a área da saúde, no
qual eu falava de arte no inconsciente, trabalho no qual abordei
o lado da psiquiatria, da loucura. Também fiz, nessa época, um
vídeo sobre o Santo Daime e outro sobre o movimento de rua
que resultou no Impeachment de Collor. Já em 2003, eu resolvi
fazer um novo trabalho de vídeo, movido por um insight a respeito de um rapaz de rua, cuja trajetória me interessou. Ele era um
esquizofrênico, que perambulava perto de minha casa. Eu ficava
observando ele, que sempre andava com uma pedra na mão, riscando os muros por onde passava. O nome do filme é “Risco”,
um curta-metragem de 15 minutos.
Na Luta – E o que mais te atraiu no “Mauro”, nome fictício do
personagem do filme?
Bernardo Gebara – O que me atraiu nele foi a invisibilidade. Esse
rapaz me chamou a atenção e me despertou a vontade de fazer
um ensaio poético. Me veio uma frase à cabeça que era: “Na al-
tura da mão, o espontâneo brota do infinito humano”. Essa frase
fala da trajetória desse rapaz, da invisibilidade dele e da minha
necessidade de compartilhar esse fenômeno humano, que estava invisível nas ruas. Na verdade, em seu cotidiano, as pessoas
percebem pouca coisa. O movimento do urbano não permite o
contato do humano. As pessoas andam nas ruas e não se falam,
não se percebem. Acho que existe muita invisibilidade por causa
disso. A velocidade se popularizou. Hoje, tanto nas classes altas
quanto nas baixas, todo mundo vive numa velocidade tão grande
que não permite o contato humano. Eu acho que a sensibilidade
está na pausa, no silêncio. Muitas coisas que vibram em outra
dimensão do urbano não são percebidas. O Mauro me chamou
muito a atenção porque ele fazia uma coisa próxima à arte, era
a forma de expressão dele fazer um risco ou até mesmo mandalas nos muros e paredes. Esse filme praticamente mudou a
minha vida, porque depois dele eu comecei a trabalhar na parte
de áudio de cinema. Mostrei o filme para o diretor Domingos de
Oliveira e fiz uma assistência de direção para ele, fui implementando meu equipamento de música e descobri que eu tenho uma
sintonia muito grande com a área da saúde.
Na Luta – O filme foi exibido em circuito?
Bernardo Gebara - Foi exibido em dezenas de festivais no decorrer de três anos, que é geralmente o período de vida útil de um
filme em festivais. Ganhou onze prêmios, teve exibição na TVE,
TV Cultura, TV Alerj, em tevês do interior de São Paulo etc. Além
disso, eu disponibilizei uma versão condensada dele no Youtube
<www.youtube.com.br>. É só procurar lá por Bernardo Gebara.
Na Luta – E, como cineasta, quais os seus projetos futuros?
Bernardo Gebara - Tenho três projetos de filmes em andamento. O primeiro deles - que estou montando e aguardando apoio,
porque investi muito tempo e dinheiro nesse projeto – trata da
transição de um grupo de doentes mentais de um manicômio
para uma moradia assistida. O vídeo capta a mudança das pessoas que andavam degradadas, de pijamas, em um manicômio
e que de repente estavam se vestindo bem, tornando-se mais
humanas. Um outro curta na área da saúde, um pouco surrealista, abordando a relação de saúde entre um casal, e um terceiro,
uma ficção sobre botequins.
“será que é preciso avisar que é um espetáculo de dança de cadeirantes?”
OPINIÃO
Preconceito,
parasita da alma
Preconceito é um conceito ou opinião formada antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos,
ou seja, uma idéia preconcebida. Esta é a definição dada
pela maioria dos dicionários sobre o que se entende por
preconceito. Partindo dessa primeira definição podemos
afirmar que todas as pessoas têm preconceito sobre tudo
que desconhecem, até porque o cérebro humano não fica
sem respostas. Assim, quando estivermos diante de um objeto ou fato desconhecido, automaticamente faremos uma
avaliação prévia do significado daquele fato ou situação
apresentada, ou seja, estaremos diante de um “pré-conceito”. Portanto, ter preconceito faz parte da natureza humana,
que está em permanente busca de respostas para interpretar aquilo que desconhece.
O que torna um preconceito negativo é quando o agente de
sua formação, por desconhecer ou não saber lidar com determinada diferença humana, passa a discriminar, separar,
apartar ou segregar. Neste momento é que a palavra preconceito assume um significado negativo.
O preconceito é uma posição individual, temporal e situacional, enquanto a discriminação é uma atitude imoral e
sistêmica.
Pessoas com deficiência sofrem preconceito?
É só lembrar que o corpo de qualquer indivíduo é o alvo
das primeiras observações, e por esta primeira impressão é que formamos a nossa opinião (pré-conceito)
sobre o individuo com o qual nos relacionamos pela
primeira vez. Assim, a deficiência, quando visível, pode
levar as pessoas a um impacto negativo, fazendo-as formar igualmente uma opinião negativa daquele individuo
que se apresenta disforme, até por que nós, seres humanos, somos movidos muito mais por nossos medos
interiores do que por atitudes pró-ativas. Qualquer diversidade humana que saia dos padrões com os quais estamos acostumados a taxar de normalidade nos ameaça
internamente, mexe com nossos medos, aquele medo
subliminar da dura realidade que pode nos alcançar
enquanto seres frágeis que somos. Nesse momento
a tendência é a do afastamento, o atravessar a rua, a
vontade de manter a pessoa ou aquela determinada
situação o mais longe possível. Não fazemos por mal,
mas por medo.
Alcançando-se essa fase do preconceito, estaremos diante do perverso processo discriminatório, pois ao colocar a pessoa em uma
situação de inferioridade, lesando sua dignidade, comete-se a injustiça da discriminação. Dentro dessa insana realidade, a igualdade fica prejudicada
e a pessoa discriminada é levada a
prejuízos econômicos, sociais e morais irreparáveis.
A discriminação é uma atitude que na
maioria das vezes ocorre de forma velada, o que a torna covarde e traiçoeira
justamente pela impossibilidade do
individuo discriminado se defender.
Para ilustrar o que dissemos, basta
lembrar do seletivo mercado formal
de trabalho. Este certamente é um
dos ambientes onde as pessoas
com deficiência mais sofrem o preconceito e claro, seguido do processo discriminatório.
O motivo principal dessa colocação reside no fato de
que, não obstante ao reconhecimento de que hoje em
dia exista um ambiente muito mais esclarecido quanto
ao direito das pessoas com deficiência trabalhar, com
exceção, ainda encontramos nas empresas atitudes de
precaução quanto a uma colocação aberta, fora da lei
de cotas.
Elevado número de empresários e profissionais do setor
de desenvolvimento humano, responsáveis pelo processo de seleção de trabalhadores, procura fazer comentários positivos sobre a possibilidade de colocação de
pessoas com deficiência, desde que habilitadas e qualificadas para as funções. No entanto evitam expressar
suas dúvidas e receios, muito embora existam costumeiros preceitos fundados em preconceitos que os levam
a algumas dúvidas, tais como: Pessoas com deficiência
provocam pontos de maior dificuldade na empresa?
Podem surgir situações embaraçosas por tomada de
atitudes inadequadas? Acidentam-se ou adoecem mais
frequentemente? Faltam mais ao trabalho?
Analisando as questões apresentadas, verificamos que
nenhuma delas está baseada na realidade, pois percebe-se que essas dúvidas podem ser aplicadas a todo e
qualquer trabalhador. Em contrapartida, a recíproca é
verdadeira, pois no meio empresarial, com pouco conhecimento sobre o assunto, é comum a afirmativa de
que um trabalhador com deficiência é mais produtivo
e estável, o que também não passa de um preconceito
fundado em crendices popular.
O fato é que, por mais que uma sociedade avance em
novas tecnologias, em reconhecimento dos direitos humanos e sociais e na aplicação da justiça, ainda assim o
germe do preconceito estará agarrado à alma das pessoas, como um parasita silencioso, pronto para agir, destruir e discriminar.
A partir dessa constatação, fazemos as seguintes perguntas: Por que temos preconceitos,
mas não conseguimos admitir? Qual a melhor
forma para lidar com esse sentimento? Será
possível eliminar completamente o preconceito?
Para dar uma resposta positiva a estas questões, acreditamos que os
movimentos de pessoas com deficiência, que nos últimos anos tanto
avançaram na garantia da inclusão
social, possam abrir uma nova frente de ação em prol do combate ao
preconceito.
Geraldo Nogueira
*Vice-Presidente adjunto da Rehabilitation International para América
Latina.
Diretor Técnico da Sec. Mun. Trab.
Emprego do Rio de Janeiro - SMTE
Diretor Jurídico do CVI-Brasil
NA LUTA
Apenas mais
um movimento
Muita coisa acontece no carnaval, umas
boas outras nem tanto. Mas o fato é que a própria
festividade cultural em si já é um evento caracterizado para inovações e extravasamentos. As pessoas, em sua maioria, parecem que entram num tipo
de êxtase antes, durante e após a folia momesca.
Fato é que a pessoa com deficiência até
bem pouco tempo atrás tinha uma participação
bem tímida, como mero espectador nos desfiles,
seja nas escolas de samba ou até mesmo nos blocos. Ainda pior: os que gostavam e queriam assistir aos desfiles dificilmente o conseguiam, dada a
multidão de pé que sempre insiste em ficar a nossa
frente. Bem, mas ainda assim alguns “bravos guerreiros” conseguiam uma vaga em meio a uma ala
qualquer e desfilavam ‘tocando’ sua cadeira ou
outra limitação em meio à multidão de sambistas.
Eu mesmo já saí assim, é um tal de desculpe e dá
licença, que a gente até se dispersa da animação
do desfile. Isso pra não falar das fantasias, que por
serem desenhadas para ‘andantes’ ficam, na maioria das vezes, desconfortáveis para a gente – dessa
vez a que me refiro ter saído assim, a minha roupa
era feita de uma quantidade enorme de penas e eu
fiquei todo enrolado com a mesma!
Mas ainda pior, havia algumas agremiações que sequer nos aceitavam. Já vi caso de rejeição por parte de escola só por ser cadeirante – e
olhem que pagando a fantasia! E, – pasmem, dá
até para rir! – tinha até às vezes aquela ‘desculpa’
de que constava no julgamento de que tudo com
‘rodas’ era alegoria e não podia exceder o número
X. Parece piada, mas é verdade mesmo.
Bom, o importante é irmos registrando o
quanto a “luta” e persistência de alguns foram beneficiando o todo no passar dos tempos. Seja para
desfilar ou mesmo para assistir, pois temos um setor adaptado que se aperfeiçoou com o passar dos
carnavais mediante reivindicações ostensivas por
parte da militância e organizadores. Hoje, ficar lá é
uma verdadeira festa.
Também sabemos como foi importante a
abertura nos dada pela grande G.R.E.S. Tradição,
com a primazia da 1ª ala inclusiva e também coordenada por pessoas com deficiência no carnaval
carioca e brasileiro – isso há 11 anos – hoje outras
vieram com suas alas, onde outros grupos, e até
blocos já estão se configurando.
Realmente essa exposição é muito positiva para nossa imagem numa participação plena
no contexto social, e em se tratando de carnaval
isso se potencializa por ser um evento de grande repercussão. Que bom que a ‘evolução’ está tomando este rumo. Haja vista, a ‘harmonia’ do nosso
empenho.
Então não precisamos mais nos inibir
ante qualquer ‘avenida’, porque o espaço é nosso e
fizemos muito por merecer. A gente não ‘atrapalha’
em nada, e de todo jeito, sambando ou assistindo,
a nossa nota será sempre “DEZ”.
Jefferson Maia
15
16 NA LUTA
Cresce inserção no mercado de trabalho
Ainda há muito a melhorar, mas em 2007 o Brasil bateu recorde na inserção de pessoas com deficiência no mercado. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 22.314 trabalhadores com deficiência foram contratados, com carteira
assinada, no ano passado, o que representa um aumento de quase 12% em relação
a 2006. Os fatores que geraram esse aumento foram a estabilidade do mercado, a
fiscalização do cumprimento da Lei de Cotas por parte do Ministério do Trabalho e
também a conscientização de muitos deficientes quanto à necessidade de qualificação.
Liderando o ranking de contratações está a Região Sudeste, com 12.132 trabalhadores inseridos no mercado, seguida pela Região Nordeste, com 4.704. Foram admitidas, ainda, 2.100 pessoas na Região Sul, 2.036 na Norte e 1.342 na Centro-oeste. Para
elevar ainda mais esse número, o Ministério do Trabalho e o Ministério Público do
Trabalho (MPT) implantarão um projeto de estímulo à qualificação de deficientes
ainda este ano, parte do plano social lançado pelo governo federal em outubro do
ano passado, que prevê investimentos de R$2,4 bilhões em programas voltados à
deficiência até 2010.
O ministério também tem trabalhado para garantir a inserção e permanência de
jovens com deficiência no mercado de trabalho. Entre 2003 e 2007, dos 85 mil jovens
qualificados pelo Consórcio Social da Juventude, 7 mil eram deficientes. Deste total,
pelo menos 4.500 conseguiram emprego após participação no curso.
Vale lembrar que a participação de pessoas com necessidades especiais é garantida pela Lei 8.213/91, conhecida como Lei de Cotas, que prevê, por exemplo, que
empresas com até 200 empregados devem reservar uma cota de pelo menos 2% da
quantidade de vagas para profissionais com deficiência. Para empresas com até 500
funcionários, esse número sobe para 3%; com até mil, 4%; acima de mil, a cota estipulada é de 5%. Empresas que não cumprirem a lei podem pagar multas que variam
de R$1.195,13 a R$119.512,33.
Eleições no COMDEF-Rio
O dia 8 de março foi marcado por um fato histórico para as pessoas com deficiência da cidade do Rio de Janeiro. Isso por conta das eleições dos representantes da Sociedade Civil Organizada para a gestão 2008/2010 do Conselho
Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Rio de Janeiro
(COMDEF-Rio).
O pleito obedeceu à disposição da Lei 4.729, de 20 de dezembro de 2007, que
faculta a paridade entre representantes do Poder Executivo e as Entidades Nãogovernamentais. O objetivo é debater junto com a Administração Pública as
ações concretas de promoção e inclusão da pessoa com deficiência.
Na ocasião, mediante a um público bem significativo, foram eleitos os representantes das respectivas áreas de deficiência – com exceção da área de deficiência
mental, por conta do não comprimento do quorum mínimo de 20 vinte pessoas
habilitadas para a votação, ficando para o dia 29 de março um novo pleito
para os representantes desta deficiência. Também não houve o complemento
de uma das vagas, ficando o caso para posterior resolução.
Foram eleitos, portanto, Tânia Vasconcelos (ADEZO), na área de deficiência física; Ana Cláudia Monteiro (IBDD), para múltipla deficiência; Luis Cláudio Freitas
(ADVRJ), na área de Deficiência Visual. Os votos para Deficiência Auditiva, Paralisia Cerebral, na área Renal Crônico e na área da Ostomia não foram totalizados até o fechamento desta edição.
A eleição foi um feito histórico, porém houve reduzido número de entidades
inscritas para concorrer ao pleito, apesar de o Rio de Janeiro possuir uma gama
de instituições voltadas para as questões que envolvem pessoas com deficiência; Todavia, isso não diminui o mérito e a confiança dos respectivos eleitos que
serão empossados no mês de abril, cabendo aos conselheiros representarem
honrosamente a Sociedade Civil Organizada neste renovado COMDEF-Rio.
PORTAS ABERTAS, SEMPRE, SEM PRECONCEITOS
A Michelin criou em 2002 o programa Performance e Responsabilidade Michelin (PRM). A idéia de sua criação vem de mais longe, dos valores
da Michelin, que englobam o Respeito às Pessoas, aos Clientes, aos Acionistas, ao Meio Ambiente e aos Fatos. Certa de que seus valores
são fundamentais e que o desempenho da empresa não se mede somente através dos resultados econômicos, as ações sociais e ambientais
da Michelin foram formalizadas nesse documento. Ali constam as ações da Empresa para um desenvolvimento sustentável, equilibrado e
responsável.
O Relatório PRM, por ser voluntário, inovador e de longo prazo, ganhou no início do ano, entre mais de 50 candidatos, o troféu de Melhor
Relatório de Desenvolvimento Sustentável de 2007, entregue à Michelin pelos júris do “Trophée du Conseil Supérieur de l’Ordre des ExpertsComptables”, autoridade máxima em desenvolvimento sustentável na França.
Nove temas são considerados prioritários, como a gestão ambiental da Empresa e a contribuição com a mobilidade sustentável. Um desses
temas é a Diversidade nas nossas equipes. Dentro dele foram considerados os eixos de idade, sexo, raça, miscigenação e deficiência, sendo as
prioridades para 2008 na ADS a feminização das equipes e a inclusão de pessoas com deficiência.
O que a Michelin quer com isso é refletir internamente toda essa diversidade do mercado, enriquecendo nosso grupo de funcionários com mais
criatividade, reatividade e flexibilidade através da adesão desses novos talentos. Para isso, já foram colocadas em prática diversas ações. O
primeiro passo foi formar a equipe “Diversidade Michelin América do Sul”, que conta com 14 pessoas de diferentes setores da empresa para
discutir e concretizar ações de inclusão na Michelin.
Assim, o objetivo da Diversidade na Michelin vai além de respeitar as leis de proteção às pessoas com deficiência, ele existe também para
reforçar dentro da Empresa a compreensão das diferenças pessoais e culturais. Ficamos felizes em saber que estamos beneficiando todas essas
pessoas e que também estamos, com isso, ganhando outros benefícios.
Esse foi o início. Para conhecer todas as ações da Michelin que já foram concretizadas para cumprir nosso objetivo e todas as conquistas que já
obtivemos nesse sentido, não deixe de ler nosso comunicado na próxima edição. A Michelin é uma empresa que está de portas abertas, sempre,
sem preconceitos.
NA LUTA
17
Sabendo mais sobre a cegueira
Blind child by Natalie Shau
Diversamente do que poderíamos supor, o
termo cegueira não é absoluto, pois reúne indivíduos com vários graus de visão residual. Ela não
significa, necessariamente, total incapacidade
para ver, mas, isso sim, prejuízo dessa aptidão a
níveis altamente limitadores para o exercício de
tarefas rotineiras.
Em 1966, a Organização Mundial de Saúde
(OMS) registrou 66 diferentes definições de cegueira, utilizadas para fins estatísticos em diversos países. Para simplificar o assunto, um grupo
de estudos sobre a Prevenção da Cegueira da
OMS, em 1972, propôs normas para a definição
de cegueira e para uniformizar as anotações dos
valores de acuidade visual com finalidades estatísticas.
De um trabalho conjunto entre a American
Academy of Ophthalmology e o Conselho Internacional de Oftalmologia, vieram à luz extensas
definições, conceitos e comentários a respeito,
transcritos no Relatório Oficial do IV congresso
Brasileiro de Prevenção da Cegueira (vol-1, págs.
427/433, Belo Horizonte, 1980). Na oportunidade,
foi introduzido, ao lado de ‘cegueira’, o termo ‘visão subnormal’, já incluído no CID-9 (9ª revisão
do Código Internacional de Doenças, efetiva a partir de 1978.
Falamos em ‘cegueira parcial’ (também dita LEGAL ou PROFISSIONAL) quando nos
referimos a indivíduos cuja acuidade visual corrigida nos dois olhos (com óculos ou
lente de contacto) é igual ou inferior a 0.1, bem como aos portadores de campo visual
tubular, restrito a 20 graus ou menos. Nessa categoria estão os indivíduos apenas
capazes de CONTAR DEDOS a curta distância e os que só PERCEBEM VULTOS. Mais
próximos da cegueira total, estão os indivíduos que só têm PERCEPÇÃO e PROJEÇÃO
LUMINOSAS. No primeiro caso, há apenas a distinção entre claro e escuro; no segundo (projeção) o indivíduo é capaz de identificar também a direção de onde provém
a luz.
A cegueira total ou simplesmente AMAUROSE, pressupõe completa perda de visão.
A visão é nula, isto é, nem a percepção luminosa está presente. No jargão oftalmológico, usamos a expressão ‘visão zero’.
A delimitação do grupamento de deficientes visuais se dá, então, por duas escalas:
acuidade visual, aquilo que se enxerga a determinada distância e campo visual, a
amplitude da área alcançada pela visão, sendo o campo visual normal de 180º.
Uma pessoa é considerada cega se corresponde a um dos critérios seguintes: a visão
corrigida do melhor dos seus olhos é de 20/200 ou menos, isto é, se ela pode ver a 20
pés (6 metros) o que uma pessoa de visão normal pode ver a 200 pés (60 metros);
ou se o diâmetro mais largo do seu campo visual subentende um arco não maior de
20 graus, ainda que sua acuidade visual, nesse estreito campo, possa ser superior a
20/200. Esse campo visual restrito é muitas vezes chamado “visão em túnel”, “tubo”
CLASSILUTA
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ou “em ponta de alfinete”, e a essas definições chamam alguns “cegueira legal” ou
“cegueira econômica”.
Nesse contexto, caracteriza-se como
cego aquele que possui uma acuidade visual até 6/60 ou um campo visual de até 10º
e como portador de baixa visão aquele que
possui acuidade visual de 6/60 e 18/60 ou
um campo visual entre 10 e 20º.
Pedagogicamente, delimita-se como cego
àquele que necessita de instrução em Braille (sistema de escrita por pontos em relevo)
e como portador de baixa visão àquele que
lê tipos impressos ampliados ou com o auxílio de potentes recursos ópticos .
Cabe o esclarecimento que a pessoa que
possui visão mono-ocular, ou seja, aquela
que é cega de um dos olhos e possui visão
dentro dos parâmetros normais de acuidade e campo visual, não é considerada como
cega, portadora de baixa visão, tampouco
se enquadra como deficiente visual.
Na área do esporte adaptado e paraolímpico as competições oficiais de atletas com
deficiência visual são efetivadas respeitando-se a classificação internacional da International Blind Sports Federation (IBSA) que
abrange três categorias. Essa Classificação leva em consideração o melhor olho com
a melhor correção óptica possível.
B1) Desde não percepção de luz até percepção luminosa, sem haver contudo qualquer reconhecimento da forma de uma mão em qualquer distância ou direção.
B2) Desde a capacidade de reconhecer a forma de uma mão até a acuidade de 2/60
e/ou campo visual inferior a 5 graus.
B3) Desde acuidade visual de 2/60 até uma acuidade visual de 6/60 e/ou um campo
visual superior a 5 graus e igual ou inferior a 20 graus.
O International Paralympic Committee (IPC), considera, em suas competições oficiais,
os atletas B1, B2 e B3, repectivamente, com a seguinte nomenclatura:
Atletismo:
Provas de Campo – F11, F12 e F13
Provas de Pista – T11, T12, e T13
Natação: S11, S12 e S13
- ENSAIO SOBRE A PROBLEMÁTICA DA CEGUEIRA, editado pela Fundação Hilton Rocha págs. 49/50, Belo Horizonte, 1987)
- CLASSIFICAÇÃO ESPORTIVA DA INTERNATIONAL BLIND SPORTS FEDERATION (IBSA)
- CÓDIGO DE CLASSIFICAÇÃO DO INTERNATIONAL PARALYMPIC COMMITTEE (IPC)
Organização do Texto: Antonio Menescal
DANÇA
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NOTAS
18 NA LUTA
Pesca adaptada no Rio de Janeiro
ra, com a devida autorização da editora original e com uma
Oportunidades de emprego
completa revisão do autor, está sendo re-editada como um
Aconteceu em fevereiro, na Urca, Rio de Janeiro, o XXI
CD facilmente. O interessado em adquirir exemplar desta obra
O Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, em São
Troféu Solidariedade, de pesca adaptada. O evento, que
que tem sido marcante para o melhor posicionamento de pro-
Paulo, está admitindo pessoas com deficiência em diver-
conta com apoio do Clube Barracuda de Desportos, foi
fissionais, da sociedade e das próprias pessoas com deficiência
sos cargos. Há oportunidades para a área operacional
disputado por duplas reunindo um deficiente e um não de-
na grande luta pela inclusão social deve entrar em contato pelo
(limpeza e cozinha), educacional (monitor e educador)
ficiente, sendo que os vencedores foram Laércio Rufino e
e-mail [email protected].
e técnica (auxiliar de enfermagem, psicólogo e assisten-
João Victor Nolasco. Os organizadores, Eduardo Bracony e
Jefferson Maia, já pensam em novidades futuras e divisões
em categorias distintas. Segundo os organizadores e o Clube Barracuda, o objetivo é divulgar, ampliar e regulamen-
te social). Os interessados devem entrar em contato com
Congresso sobre tecnologia de apoio à deficiência
tar em todo o país essa opção do paradesporto acessível a
o setor de Recursos Humanos do órgão, pelo telefone
(11)6696-3200.
Deficientes auditivos serão beneficiados
com recursos do Fust
todas as limitações físico-intelecto-sensoriais. Informações
Autores de trabalhos originais relacionados à defici-
no endereço eletrônico http://www.antares.com.br/cbpds/
ência e interessados no assunto em geral poderão partici-
html/trof_sol.htm
par do V Congresso Iberdiscap. O evento, que acontecerá
Cerca de 800 instituições de apoio a deficientes audi-
em Cartagena de Índias, Colômbia, de 24 a 26 de novem-
tivos serão as pioneiras na utilização dos recursos do Fust
bro, tem como foco tecnologias de apoio à pessoas com
(Fundo para a Universalização dos Serviços de Telecomu-
deficiência. Os interessados podem obter maiores infor-
nicações). Elaborado pelo Ministério das Comunicações, o
mações sobre o congresso no endereço eletrônico http://
programa vai fornecer equipamentos terminais e isentar
iberdiscap.aitadis.org/.
as instituições do pagamento da assinatura básica. Os te-
Fórum debaterá Estatuto dos Deficientes
Entidades e movimentos de pessoas com deficiência
convidam para o Fórum de Debates sobre o Estatuto das
Pessoas com Deficiência, que acontecerá no dia 29 de
março, em São Paulo, capital. O evento acontecerá na Câmara Municipal, Viaduto Jacareí, 100, sala B, 1º subsolo,
das 8h30 às 17h. A realização é da Associação Brasileira
lefones possuem teclado e tela de texto para que os defi-
Movimento Re[ha]bilita na luta pela inclusão social
cientes auditivos se comuniquem. Até dezembro, cerca de
200 instituições serão atendidas.
Primeira clínica de rugby adaptado no Brasil
da Síndrome de Pos-pólio (Abrasp), do Centro de Vida Independente (CVI/Araci Nalin), da Fraternidade Cristã de
As entidades que integram o Re[ha]bilita Rio, AACS, CORBI
Pessoas com Deficiência (FCD/SP) e do Movimento pelos
e SBA, a cada dia, transformam a realidade social de crian-
Aconteceu em fevereiro, no Rio de Janeiro, a 1ª clínica
Direitos da Pessoa Deficiente (MDPD).
ças e jovens deficientes e/ou em situação de risco social.
de rugby adaptado, ministrada pelo atleta do Chicago Be-
Com atendimento clínico e desenvolvimento de atividades
ars, Brian Muniz, da liga profissional de futebol americano
complementares realizados por equipe multiprofissional, o
dos EUA. Por ser uma prática voltada para deficiências de
resultado não é apenas a habilitação ou reabilitação, mas
maior comprometimento, tetraplégicos e similares, o Rio
A Editora FASTER acaba de lançar o livro “Uma Questão
a inclusão e promoção social. Para entrar em contato com
Quad Rugby Clube, organizador do evento, convida aos
de Competência”, de Otto Marques da Silva, em sua versão
o Movimento Re[ha]bilita, o interessado deve ligar para os
interessados, atletas em potencial e profissionais para que ve-
eletrônica.
telefones (21)2455-6953 ou (21)2455-3513. O endereço ele-
nham participar e conhecer melhor este esporte. Maiores infor-
trônico é www.mrr.org.br.
mações com pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone
Boa dica de literatura
Trata-se de uma obra originalmente editada pela Memnon, em 1993 (esgotada no final da Década de 90), e que ago-
(21) 9918-1807.
Parceria de ferro? Não, parceria de Titânio!
A Tokleve fechou contrato de distribuição com a Quickie. A Quickie é umas das maiores empresas mundiais
quando se fala em cadeiras de rodas. Sempre preocupada em trazer para o Brasil o que há de melhor no mercado
de cadeiras de rodas, a Tokleve foi buscar apoio em nível internacional. Primeiramente, a Tokleve traz o modelo
GTi da Quickie para o nosso país. O modelo GTi é fabricado em Titânio, um metal conhecido por sua excelente resistência à corrosão (pode ser comparado, inclusive, à platina) e por sua grande resistência mecânica. As cadeiras
em Titânio são mais leves e mais resistentes, o que permite um andar mais fácil e com mais conforto. A Tokleve
quer inovar cada vez mais e trazer para você qualidade e satisfação!
Paulo César - Diretor Comercial da Tokleve
Leo John - Representante da Sunrise Medical
Marilyn Hamilton - Consultora da Quickie
NA LUTA
Cursos de capacitação no Rio
O Ministério das Comunicações disponibiliza, em sua
Esperança de revolução na área de próteses
página na internet, o software leitor de telas desenvolviA Prefeitura do Rio de Janeiro está abrindo novos cur-
do pelo CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em
Um neurocientista brasileiro conseguir um feito surpre-
sos de capacitação para pessoas com deficiência. Há vagas
Telecomunicações) com recursos do Funtell (Fundo para
endente e que pode gerar uma revolução nas próteses para
para Informática, ascensorista, atendimento informatizado
o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações).
amputados: ele fez uma macaca mover um robô por meio
ao cliente, auxiliar administrativo, telemarketing, serviços
A ferramenta, de grande importância para os deficientes
do pensamento. O autor da façanha chama-se Miguel Ni-
gerais, alimentação saudável, reflexologia, arte em couro,
visuais, pode ser baixada gratuitamente no endereço ele-
colelis, e foi tema de muitas reportagens nos últimos meses
corte e costura, bijuterias e artes em material reciclado.
trônico www.mc.gov.br.
– inclusive no renomado New York Times. A idéia é que, no
Inscrições pelos telefones (21)2242-7700 (ramal 218) ou
2588-9088.
Deficientes visuais terão correspondências
em Braille
Conade elege nova vice-presidente
futuro, uma pessoa com uma perna artificial, por exemplo,
possa movimentá-la utilizando apenas a força da mente.
Nota de falecimento
Os Correios lançaram um serviço de transcrição gra-
O Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Defi-
tuita de correspondências do Braille para a escrita comum
É com muito pesar que comunicamos o falecimento,
ciência (Conade), reunido em sua 56ª Reunião Ordinária,
e vice-versa. Para utilizar o serviço de transcrição, os inte-
em dezembro, de Luiz Antônio Alves, paraplégico, de 56
elegeu, por aclamação, a Conselheira Denise Granja, re-
ressados, cegos ou não, devem postar as correspondências
anos. Luiz era proprietário da LM Criações e Adaptações
presentante do Ministério das Comunicações, como Vice-
em qualquer agência dos Correios do país, para a Central
para Deficientes Físicos, e desde nosso começo acreditou
presidente do Conselho. Denise Granja é advogada da
Braille, que funciona em Belo Horizonte. Será cobrada
no “Na Luta”. Perdemos um grande parceiro. Nossos mais
União, coordenadora geral de assuntos judiciais da Consul-
apenas a tarifa normal de postagem para correspondên-
sinceros pêsames à família, de quem somos amigos.
toria Jurídica do Ministério das Comunicações, intérprete
cia comercial ou não-comercial. Informações pelo telefone
de LIBRAS e Presidente da Comissão de Ética Pública do
0800-5700100.
Ministério das Comunicações.
Pará ganha Centro Ambulatorial
Brasileiro em busca de feito inédito
Nota de falecimento
Com muito pesar, a Confederação Brasileira de Desportos para Cegos (CBDC), na figura de seu presidente,
Foi inaugurado em dezembro, com presença do presi-
David Farias da Costa, comunica o falecimento do Sr. Mar-
O Brasil poderá ter seu primeiro atleta em uma parao-
dente Luiz Inácio Lula da Silva, o Centro Ambulatorial de
co Antonio dos Santos Bertoglio, vítima de um infarto no
limpíada de inverno nos Jogos de Vancouver, em 2010. Isso
Reabilitação Infantil – Sarah Pará, na cidade de Belém. O
dia 14 de fevereiro. Marco Antonio era Diretor da Bengala
porque o carioca Marcos Lima, de 25 anos, cego desde os
novo Centro já está atendendo 150 crianças desde o final
Branca Importação e Comércio LTDA (Porto Alegre/RS), foi
cinco, iniciou um intensivo programa de treinamentos no
de novembro e a previsão é de atender, diariamente, cerca
membro do Conselho Fiscal da CBDC, e atualmente tinha o
esqui. Em janeiro, o atleta participou de uma clínica da mo-
de 400 crianças de até 16 anos portadoras de problemas
cargo de Tesoureiro da União Brasileira de Cegos – UBC e
dalidade, na República Tcheca, iniciando os treinamentos
no desenvolvimento motor ou com lesões cerebrais. Atual-
União Latino Americana de Cegos – ULAC. Lamentamos o
em busca da inédita vaga.
mente, a Rede Sarah possui unidades em funcionamento:
ocorrido e oferecemos aos familiares nossas condolências,
Brasília, Salvador, São Luís, Belo Horizonte, Fortaleza, Rio
bem como nossos mais estimados préstimos.
Leitor de telas disponível para download
gratuito
de Janeiro, Macapá e Belém.
19
20 NA LUTA
Rosália
Mulheres na Luta
Março - Mês das Mulheres
O “Na Luta” quer prestar uma homenagem especial às mulheres que lutam todos os
dias para superar limites, quebrar barreiras, eliminar diferenças e preconceitos.
Não é fácil, não é rápido, não é simples, mas sempre vale a pena.
Com seu exemplo de vida, sua alegria e sua luta, cada uma de vocês colabora para
a construção de um mundo melhor, mais feminino, harmônico e certamente, mais
humano. Parabéns!!
Paula
Renata
Vivi
Débora
Célia
Fátima
Andreia
Beth Caetano
INTERNET
Terezinha
Daniele
Membros da Comunidade “Na Luta” no Orkut participam de enquete!
Nossa Comunidade no Orkut está “bombando”! Fizemos uma enquete com a seguinte pergunta:
“Qual matéria você mais gostou no nº 5 do “Na Luta”?”
Vejam o resultado:
- Debates: Células-tronco
13% dos votos
- Qual a importância das ONGs e entidades no movimento de luta no Brasil
10% dos votos
- Governo Lula destina R$2,4 bilhões para projetos de inclusão até 2010; Fluminense inicia projeto de natação paraolimpica; Criança: Ter e Ser; e Música e Superação - Pianista vence
limitações
7% dos votos cada uma.
Todas as matérias obtiveram votos, confira, nosso endereço é: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=31216821 .
Faremos uma nova enquete sobre as matérias desse sexto número, junte-se a nós e participe!
“Na Luta” também em sua versão integral no site oficial da banda Paralamas do Sucesso, divulgue: http://www2.uol.com.br/paralamas/na_luta/index.htm.

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