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A Nova Prosperidade
Estratégias para a melhoria do bem-estar na África Subsariana
A Boston Consulting Group (BCG) é uma empresa
global de consultoria de gestão e líder mundial em
estratégia de gestão. Criamos parcerias com
clientes dos sectores privado, público e sem fins
lucrativos em todas as regiões para identificar as
suas oportunidades de maior valor, enfrentar os
seus desafios mais críticos e transformar os seus
negócios. A nossa abordagem personalizada
combina o estudo aprofundado da dinâmica das
empresas e dos mercados com uma estreita
colaboração a todos os níveis da empresa cliente.
Desta forma, garantimos ao cliente uma vantagem
competitiva sustentável, organizações mais eficientes e resultados duradouros. Fundada em 1963, a
BCG é uma empresa privada com mais de 78
escritórios distribuídos por mais de 43 países.
Para mais informações, visite bcg.com.
A Tony Blair Africa Governance Initiative (AGI)
trabalha actualmente na Guiné, Libéria, Maláui,
Ruanda, Serra Leoa e Sudão do Sul, tendo novos
países em vista. Funciona a dois níveis: a nível de
liderança política, Tony Blair baseia-se nos seus
dez anos como primeiro-ministro para oferecer aos
líderes o tipo de aconselhamento sobre reformas
que apenas alguém que assumiu um papel de líder
poderá dar. Simultaneamente, as suas equipas,
sediadas permanentemente em cada país, trabalham lado a lado com os seus homólogos, a fim de
colocar em prática os elementos básicos necessários para ajudar os governos a implementar as suas
reformas políticas.
O apoio prático da AGI ajuda os líderes a colmatar
o fosso entre a sua visão para um futuro melhor e
a capacidade do seu governo de alcançá-lo. Isto é
conseguido através do fortalecimento da capacidade do governo de implementar programas que irão
melhorar a vida das pessoas comuns, desde os
serviços públicos e desenvolvimento rural à
criação de infra-estruturas e de emprego.
A Nova Prosperidade
Estratégias para a melhoria do bem-estar na África Subsariana
Craig Baker, Douglas Beal, Tenbite Ermias, Sek-loong Tan, and Andy Ratcliffe
Maio de 2013
EM REVISTA
O bem-estar na África Subsariana está a aumentar
As nações da África Subsariana estão a alcançar impressionantes melhorias no que
toca ao bem-estar, uma medida abrangente do desenvolvimento socioeconómico
de um país. A Boston Consulting Group, em parceria com a Tony Blair Africa
Governance Initiative, utilizou a metodologia SEDA - Sustainable Economic
Development Assessment (avaliação do desenvolvimento económico sustentável)
da BCG para examinar as políticas que estão a orientar esses ganhos.
As nações estão a inovar
Alguns países da África Subsariana estão a utilizar estratégias inovadoras com
notável sucesso. A Etiópia, por exemplo, instituiu um programa de cuidados de
saúde primários, que está a transformar a saúde dos seus cidadãos. O Gana
implementou uma série de reformas comerciais, que têm ajudado o país a emergir
como um centro de investimento regional. E Angola, um país rico em recursos,
melhorou infra-estruturas críticas, um investimento possibilitado por fundos
provenientes do desenvolvimento dos recursos petrolíferos da nação.
A governação é importante
O progresso na melhoria do bem-estar é impulsionado por uma combinação de
quatro factores: um forte compromisso político, a priorização disciplinada dos
principais objectivos, políticas bem elaboradas que reflictam as realidades locais e
sistemas eficazes para a concretização de mudanças.
2
A Nova Prosperidade
A
frica é, muitas vezes, vista como uma região de extremos, tanto com enormes recursos, como com dificuldades persistentes. Nos últimos anos, a procura
desses recursos tem vindo a alimentar um forte crescimento económico. Mas esse
crescimento tem ocorrido entre enormes, e bem documentados, desafios: conflitos,
pobreza e os dois flagelos do VIH e da SIDA, entre outros. Uma análise mais
aprofundada do que está a ocorrer actualmente em África revela uma imagem mais
complexa e optimista.
A Boston Consulting Group, em parceria com a Tony Blair Africa Governance
Initiative (AGI), utilizou a metodologia SEDA - Sustainable Economic Development
Assessment (avaliação do desenvolvimento económico sustentável) da BCG para
estudar a África Subsariana. Em vez de estar focada no PIB per capita, o tradicional indicador do bem-estar geral de um país, a SEDA avalia o bem-estar geral, uma
medida abrangente dos níveis de vida de uma população, que inclui governação,
saúde e estabilidade económica. Esta avaliação aprofundada amplia a visão
tradicional de África, frequentemente centrada na pobreza e na exploração dos
vastos recursos naturais do continente, revelando onde estão a ocorrer os verdadeiros progressos.
A avaliação SEDA torna evidente que existem muitas razões para o optimismo
relativamente a África. Apesar de as nações da África Subsariana ainda possuírem
níveis actuais de bem-estar muito abaixo dos países mais ricos, estão entre as
nações com os maiores ganhos a nível global. Na verdade, uma análise dos países
em todo o mundo com o maior progresso recente em termos de bem-estar demonstrou que 8 dos 30 principais países são da África Subsariana.1
SEDA contribui para a compreensão da mudança
A SEDA proporciona uma janela para a vida e o bem-estar na África Subsariana
(ver quadro “Compreender o bem-estar”). Através da SEDA, examinamos os países
tanto individualmente, como agrupados em três conjuntos: sem acesso ao mar,
costeiros e ricos em recursos. Note-se que não incluímos o Norte de África na nossa
análise global, já que os países desta região estão geralmente numa fase diferente
de desenvolvimento em relação à maioria das nações da África Subsariana, uma
visão apoiada pela SEDA (ver quadro “Norte de África e África Subsariana estão
em diferentes fases de desenvolvimento”, página 5).
Os dados destacaram algumas histórias de sucesso marcantes. Na Etiópia, uma nação
sem acesso ao mar, novas abordagens estão a impulsionar melhorias significativas na
The Boston Consulting Group • Tony Blair Africa Governance Initiative
3
A avaliação SEDA
frisa bem que existem
grandes motivos para
o optimismo relativamente a África.
COMPREENSÃO DO BEM-ESTAR
A Boston Consulting Group estudou a
África Subsariana à luz da metodologia
SEDA da empresa, uma abordagem
que avalia o bem-estar geral de um
país através da medição do bem-estar
da sua população.
Avaliámos o bem-estar geral em dez
aspectos fundamentais: rendimento,
estabilidade económica, emprego,
igualdade de rendimentos, sociedade
civil, governação, educação, saúde,
meio ambiente e infra-estruturas. E
tivemos em consideração não só o
actual nível de bem-estar de um país,
mas também os progressos recentes,
isto é, a forma como o bem-estar
mudou ao longo do mais recente
período de cinco anos para o qual
existem dados disponíveis. Tanto o
actual nível de bem-estar, como os
progressos recentes foram medidos
numa escala de 0 a 100, sendo que 100
representa o nível mais elevado entre
os 150 países analisados pela SEDA.
Também comparámos as pontuações
dos actuais níveis da SEDA com o PIB
per capita, a fim de verificar a relação
entre o bem-estar e a riqueza (ver
gráfico 2). Os países que estão acima da
linha média oferecem níveis mais
elevados de bem-estar do que seria de
esperar dado os seus níveis de PIB,
enquanto que os que estão abaixo da
linha proporcionam níveis mais baixos
de bem-estar do que seria esperado.
Uma análise semelhante pode ser
realizada pela comparação das
pontuações da SEDA para o progresso
recente com o crescimento do PIB, por
forma a verificar como as nações se
comportam em termos de traduzir o
recente crescimento económico em
melhores níveis de vida (para mais
informações, consultar o relatório da
BCG From Wealth to Well-Being:
Introducing the BCG Sustainable
Economic Development Assessment
[Da riqueza ao bem-estar: apresentação
da avaliação do desenvolvimento
económico sustentável da BCG],
Novembro de 2012).
prestação de cuidados primários de saúde às populações rurais. Simultaneamente, as
políticas governamentais no Gana fizeram desse país costeiro um dos centros de
investimento mais atractivos da região, contribuindo para o surgimento de uma
robusta indústria de tecnologias de informação. Para além disso, a estabilização
política em Angola, um país rico em recursos, após décadas de guerra promoveu um
grande progresso, incluindo a reconstrução das infra-estruturas do país.
Estas melhorias ilustram uma verdade incontestável: a governação é importante. Na
verdade, os avanços na governação constituem o maior diferenciador entre os países
da África Subsariana com a maior melhoria nas pontuações da SEDA para o bem-estar
geral e aqueles com a menor melhoria, e isso é igualmente aplicável mesmo ao comparar os aumentos de rendimento (ver gráfico 1). E embora as circunstâncias e os detalhes de cada um desses países sejam únicos, descobrimos que o progresso foi sempre
impulsionado por uma combinação de quatro factores: um forte compromisso político,
a priorização disciplinada dos principais objectivos, políticas bem elaboradas que
reflictam as realidades locais e sistemas eficazes para a concretização de mudanças.
4
A Nova Prosperidade
NORTE DE ÁFRICA E ÁFRICA SUBSARIANA ESTÃO
EM DIFERENTES FASES DE DESENVOLVIMENTO
Antes de levar a cabo este estudo, ponderámos se deveríamos ou não incluir o
Norte de África na nossa análise.
Historicamente, o Norte de África, que
inclui as nações costeiras do Egipto,
Marrocos e Tunísia, bem como a Argélia
e a Líbia, países ricos em recursos, tem
sido cultural e religiosamente diferente
da África Subsariana. Os recentes
desenvolvimentos políticos, incluindo as
mudanças provocadas pela Primavera
Árabe, ampliaram ainda mais essas
diferenças. Para além disso, os níveis do
PIB per capita do Norte de África são,
geralmente, mais elevados do que os
dos países da África Subsariana.
A SEDA sublinha esta divergência. O
Norte de África e a África Subsariana
estão em diferentes fases de
desenvolvimento. A actual pontuação
média do Norte de África para o
bem-estar é o triplo dos países da África
Subsariana. O Norte de África também
supera a África Subsariana nas
avaliações de bem-estar relativamente
a riqueza (ver gráfico 2).
Especificamente, as pontuações para o
Norte de África são mais do dobro das
da África Subsariana em medidas de
rendimento, educação, saúde e infraestruturas. As pontuações da África
Subsariana são mais elevadas para o
ambiente e o emprego, mas todos os
restantes aspectos são comparáveis.
Este relatório centra-se, portanto, na
África Subsariana.
Gráfico 1 | A governação é o maior diferenciador dos recentes progressos entre os países do
quintil superior e do quintil inferior na África Subsariana
Pontuações médias dos recentes progressos para os países subsarianos
do quintil superior, do quintil inferior e no geral1
Pontuação da SEDA para progressos recentes2
100
80
60
+25
+46
40
20
0
Rendimento
Estabili- Emprego Igualdade Sociedade
dade
civil
de rendieconómica
mento
Quintil superior
Quintil inferior
Governação
Educação
Saúde
Ambiente
Infraestruturas
África Subsariana
Fonte: Análise da BCG.
Nota: Os países africanos do quintil superior são Angola, Etiópia, República do Congo, Ruanda, Maláui, Lesoto e Tanzânia. Os países do quintil
inferior são Madagáscar, Eritreia, Senegal, República Centro-Africana, Zâmbia e Mauritânia.
1
Os quintis referem-se às pontuações da SEDA para progressos recentes em África.
2
SEDA significa Sustainable Economic Development Assessment (avaliação do desenvolvimento económico sustentável), uma metodologia da BCG.
The Boston Consulting Group • Tony Blair Africa Governance Initiative
5
Embora em África permaneçam, sem dúvida, significativos desafios, em particular a
corrupção e a instabilidade política, o progresso e a inovação estão realmente a
ocorrer na região. E isso explica porque é que os líderes africanos deixaram de
olhar principalmente para a Europa ou para a América do Norte em busca de
ideias, e estão a aprender com os seus vizinhos e a oferecer, cada vez mais, inspiração política para os países em todo o mundo.
África Subsariana ainda com muitas medidas a implementar,
mas a conseguir grandes avanços
A SEDA esclarece como os países subsarianos estão em termos de desempenho em
relação aos seus pares e a países noutras partes do mundo (ver quadro “Utilização
da SEDA para identificar modelos internacionais a seguir”). Não é de surpreender
UTILIZAÇÃO DA SEDA PARA IDENTIFICAR MODELOS INTERNACIONAIS A SEGUIR
O valor da SEDA não decorre apenas da
sua capacidade de esclarecer como um
determinado país está em termos de
desempenho, mas também de comparar os desempenhos relativos dos países
dentro e entre diferentes regiões. Essa
compreensão permite identificar
executantes fortes e determinar as
melhores práticas adoptadas.
Comparemos, por exemplo, as nações da
África Subsariana ricas em petróleo com
a Indonésia, outro país em
desenvolvimento, que já foi um
importante exportador de petróleo. Na
década de 80 do século passado, a sua
produção de recursos naturais atingiu
um pico de 25% do PIB, com o petróleo a
representar o maior componente dessa
produção. E, embora o PIB per capita da
Indonésia esteja a par com a média para
os países ricos em petróleo na África
Subsariana, o actual nível de pontuação
da SEDA para o país é quase o triplo da
pontuação dessas nações. Compreender
o motivo poderá oferecer importantes
lições para todos os países africanos.
Um factor-chave para a diferença é a
estabilidade económica. Os países
6
subsarianos ricos em petróleo são tão
economicamente estáveis como outros
países em desenvolvimento, mas estão
muito atrás da Indonésia (ver gráfico
na página 7).
Então, o que é que os países africanos
ricos em recursos petrolíferos poderiam
aprender com a Indonésia? Ao longo dos
últimos 30 anos, os líderes indonésios
procuraram activamente diversificar a
economia e construir uma base forte de
procura doméstica de bens, o que
reduziu a volatilidade económica. Entre
1968 e 1998, o governo estabeleceu
políticas de apoio ao desenvolvimento
da produção local. A desvalorização da
moeda nacional, em 1978, impulsionou
a competitividade internacional da
Indonésia, e as reformas reguladoras,
introduzidas pela primeira vez em 1980,
incentivaram a participação privada
na economia.
Resultado: a Indonésia possui agora a 16ª
maior economia do mundo, tendo o
crescimento acelerado nos últimos anos,
para mais de 6% ao ano. Para além disso,
a crescente urbanização e a expansão da
população em idade activa na Indonésia
A Nova Prosperidade
que os países subsarianos possuam actualmente baixos níveis de bem-estar, atendendo aos seus níveis de baixo rendimento. Das 30 nações que actualmente possuem as mais baixas pontuações da SEDA para o bem-estar, 26 são da África
Subsariana e nenhum país na região da metade superior. Os países subsarianos
possuem também pontuações bastante baixas para a maioria dos dez componentes
do bem-estar, incluindo PIB per capita, saúde, educação e governação.
No entanto, talvez o mais surpreendente seja o facto de os países da África Subsariana também terem um mau desempenho quando se trata de converter a sua riqueza
limitada em bem-estar. Uma análise da relação entre riqueza e bem-estar (uma
métrica que ajusta os actuais níveis de bem-estar pelo PIB per capita) constata que
os países subsarianos estão posicionados muito abaixo de outras nações (ver gráfico
2). Por exemplo, quando países ricos em recursos na região são comparados com
deverão impulsionar o crescimento
contínuo nos negócios e na procura dos
consumidores até 2030. Estes feitos
podem servir de guia às nações africanas
que procuram diversificar a sua economia
e construir indústrias sustentáveis.
Indonésia supera países subsarianos ricos em petróleo
na maioria dos aspectos da SEDA
Pontuação da SEDA para nível actual1
100
80
+21
60
40
+22
+36
20
0
+20
Global
Estabilidade Igualdade de Governação
Saúde
Infraeconómica rendimentos
estruturas
Rendimento
Emprego
Sociedade
Educação
Ambiente
civil
Indonésia
Média dos países subsarianos produtores de petróleo
Fonte: Análise da BCG.
Nota: Os países subsarianos produtores de petróleo incluem Nigéria, Angola, Gabão, República do
Congo e Chade.
1
SEDA significa Sustainable Economic Development Assessment (avaliação do desenvolvimento
económico sustentável), uma metodologia da BCG.
The Boston Consulting Group • Tony Blair Africa Governance Initiative
7
Gráfico 2 | Países subsarianos normalmente ficam atrás de outros países no que toca a
transformar riqueza em bem-estar
Pontuação da SEDA para o actual nível
de bem-estar (em 100)1
80
60
Egipto
40
20
Filipinas
Vietname
Quénia
Benim
Togo
0
Níger
Indonésia
Gana
Camarões
Nigéria
Lesoto
Chade
Tunísia
Gabão
Argélia
Marrocos
Líbia
República do Congo
Botsuana
África do Sul
Namíbia
Suazilândia Angola
5.000
10.000
15.000
PIB per capita2
África Subsariana
Sudeste Asiático
Norte de África
Países de outras regiões3
Fonte: Análise da BCG.
Nota: Os dados baseiam-se nas pontuações da SEDA, e a linha baseia-se na análise de regressão.
1
SEDA significa Sustainable Economic Development Assessment (avaliação do desenvolvimento económico sustentável), uma metodologia da BCG.
2
Os níveis do PIB foram limitados a 17.000 dólares (em dólares internacionais correntes), a fim de comparar, de forma mais justa, o desempenho
dos países da África Subsariana com o dos países do Norte de África.
3
As outras regiões incluem a Europa Oriental e a Europa Ocidental; Ásia Oriental, Ásia Central e Sul da Ásia; Médio Oriente, América Latina e
Caraíbas; América. do Norte; e Oceânia.
países do Sudeste Asiático com rendimentos per capita semelhantes, ou mesmo
inferiores, os países da África Subsariana têm globalmente um desempenho insatisfatório em termos de bem-estar.
Mas, obviamente, a história não impõe um destino, e os recentes ganhos em bem
-estar na África Subsariana demonstram um verdadeiro progresso significativo no
continente. A avaliação dos dez componentes do bem-estar demonstra que os
recentes ganhos quinquenais têm sido os mais robustos na saúde e na estabilidade
económica, seguidos da governação e do emprego.
Vários factores estão a conduzir estas melhorias. Em primeiro lugar, o preço das
mercadorias, excluindo o impacto da inflação, triplicou de 2001 para 2011, impulsionando muitos países subsarianos ricos em recursos. Simultaneamente, a região está
mais pacífica do que nunca, já que mais de dez países subsarianos estavam envolvidos em conflitos internos na década de 90 do século passado, enquanto agora
apenas alguns países estão em conflito. Para além disso, as políticas públicas
parecem estar a melhorar, e os indicadores generalizados, como o Índice Ibrahim de
Governação Africana, estão a apresentar ganhos modestos.2
8
A Nova Prosperidade
Contudo, os avanços não são uniformes, e existe uma vasta gama de desempenho.
Alguns países, incluindo a Etiópia, o Ruanda e Angola, estão a conseguir ganhos
impressionantes, enquanto outros apresentam apenas uma melhora limitada.
De que forma a geografia afecta o progresso
Estudar África apresenta desafios significativos. Por exemplo, os dados quinquenais
para alguns dos países da África Subsariana que examinámos eram insuficientes
para uma avaliação SEDA completa. Como resultado, não incluímos todos os países
subsarianos na nossa análise.3 Simultaneamente, a grande diversidade do continente dificulta as comparações, já que cada país possui diferentes activos e desafios. No
entanto, também existem semelhanças com base em características comuns.
Uma forma de descobrir padrões é agrupar países em diferentes conjuntos com
base em características comuns. Para isso, contámos com o trabalho de economistas
especializados em desenvolvimento, incluindo Michael L. Faye e Paul Collier, que,
em estudos separados, encontraram uma ligação entre a geografia e o crescimento
económico em África.4 Utilizámos um conjunto semelhante de características
geográficas para agrupar os países:
••
Sem acesso ao mar. Estes países não possuem uma rota para o mar e têm uma
riqueza de recursos relativamente limitada. Incluem Zimbabwe, Níger, República Centro-Africana, Suazilândia, Uganda, Etiópia, Burundi, Ruanda, Burquina
Faso, Maláui e Lesoto.
••
Costeiros. Os países na costa africana possuem menos recursos naturais, mas
beneficiaram sempre do acesso a mercados externos e a ideias por via marítima.
Incluem Costa do Marfim, África do Sul, Quénia, Senegal, Togo, Namíbia, Gana,
Madagáscar, Tanzânia, Benim, Camarões, Moçambique e Eritreia.
••
Ricos em recursos. Estes países angariam 15% ou mais do seu PIB a partir de
riqueza mineral ou petrolífera. Incluem Nigéria, Angola, Gabão, República do
Congo, Chade, Mali, Botsuana, Mauritânia, República Democrática do Congo,
Guiné e Zâmbia.5
Os estudos de Faye et al. e Collier demonstram que os países sem acesso ao mar
são nações predominantemente agrícolas, vinculadas às economias dos países
vizinhos. São menos propensos a uma actividade comercial intensa e, muitas vezes,
enfrentam dificuldades de crescimento. Por outro lado, as nações costeiras estão
mais expostas a influências e comércio internacionais, sendo mais provável que
desenvolvam economias robustas e diversificadas. Os países ricos em recursos são,
geralmente, definidos pela sua capacidade de gerir de forma eficaz os efeitos
secundários positivos e negativos da sua riqueza de recursos.
A nossa análise da SEDA encontrou também padrões contrastantes no bem-estar
entre estes três grupos. Por exemplo, embora as nações ricas em recursos possuam
o maior rendimento per capita, os países costeiros lideram quando se trata dos
actuais níveis de bem-estar. As nações costeiras são, portanto, melhores a traduzir a
sua riqueza no bem-estar das suas populações. No entanto, os países sem acesso ao
The Boston Consulting Group • Tony Blair Africa Governance Initiative
9
Países costeiros
lideram os actuais
níveis de bem-estar.
Gráfico 3 | Países costeiros têm os mais elevados níveis actuais de bem-estar, mas os países
sem acesso ao mar estão a fazer os maiores progressos
Mediana
Pontuação da SEDA para progressos recentes no bem-estar
Angola
100
Maláui
80
Lesoto Mali
República
Democrática
do Congo
Ruanda
Etiópia
Moçambique
Nigéria
Uganda
Burquina
Faso
60
Níger
Chade Guiné
Burundi
República do Congo
Tanzânia
Quénia
Suazilândia
Namíbia
Camarões
Togo
Benin
Costa do Marfim
Mauritânia
Zimbabué
Zâmbia
República Centro-Africana
Senegal
40
20
Gana
Botsuana
África do Sul
Mediana
Gabão
Eritreia
Madagáscar
0
0
10
20
Sem acesso mar: mediana nível actual ( ) = 11; recent progress = 70
Costeiros: mediana do nível actual ( ) = 17; progressos recentes = 56
Ricos em recursos: mediana do nível actual ( ) = 14; progressos recentes
30 Pontuação da SEDA para o
actual nível de bem-estar (em 100)
= 57
População
Fonte: Análise da BCG.
Nota: SEDA significa Sustainable Economic Development Assessment (avaliação do desenvolvimento económico sustentável), uma metodologia da BCG.
mar apresentaram, em geral, os maiores progressos recentes (ver gráfico 3). Curiosamente, as pontuações da SEDA para países ricos em recursos naturais estão muito
misturadas, particularmente no que se refere aos actuais níveis de bem-estar.
Talvez de maior interesse seja a forma como os países dentro de cada grupo se
comparam uns aos outros. A SEDA indica que alguns países se destacam realmente
em certas medidas, enquanto outros se mantêm em torno da média ou ficam
bastante abaixo desta. O que torna alguns dos valores extremos tão bem-sucedidos?
Para ajudar a compreender esta questão, examinámos um país de cada um dos
grupos: Etiópia, Gana e Angola.
Inovação a nível dos cuidados de saúde na Etiópia
A Etiópia, um país sem acesso ao mar, é um dos países mais pobres do mundo, mas
é também um dos dez melhores no que diz respeito a melhorias recentes no
bem-estar. Esses ganhos são, em grande parte, impulsionados pela melhoria dos
cuidados de saúde, área na qual a Etiópia tem feito mais progressos do que qualquer outro país na África Subsariana (ver gráfico 4).
Na verdade, a Etiópia tem feito mais progressos na área da saúde do que qualquer
outro país do mundo.
10
A Nova Prosperidade
Este progresso é particularmente notável, tendo em conta os antecedentes da
Etiópia em resultados de saúde. Em 2000, a taxa de mortalidade na Etiópia para
crianças menores de cinco anos de idade era mais do dobro da taxa global. O país
foi assolado por tuberculose e malária, e mais de 2 milhões de etíopes foram
infectados com o VIH. A subnutrição e práticas de saúde inadequadas constituíam
sérios problemas. O país predominantemente rural tinha sido mutilado pela guerra
civil, e as estradas ainda eram precárias.
No final da década de 90 do século passado, o governo etíope iniciou um esforço
concertado para abordar estas questões. Criou uma estratégia de desenvolvimento
de cuidados de saúde para um período de 20 anos e, em seguida, apoiou o plano
com recursos reais, duplicando as despesas do governo com cuidados de saúde e aumentando 287 milhões de dólares através de doadores de 2005 a 2010. Enquanto os
governos de outros países em desenvolvimento, muitas vezes, agem quando pressionados pelos doadores, o governo da Etiópia iniciou a acção, definindo a agenda de
saúde e solicitando a colaboração dos doadores para apoiar o esforço. Simultaneamente, o ministério da saúde etíope demonstrou uma liderança forte e responsável
na implementação do plano.
O ponto central do plano de saúde da Etiópia foi o HEP - Health Extension Program
(Programa de Extensão da Saúde), um ambicioso esquema de saúde preventiva
Gráfico 4 | Cuidados de saúde na Etiópia melhoraram significativamente de 2005 a 2010
Pontuação da SEDA para progressos recentes
100
80
60
40
20
0
Mudança na Mudança na taxa Mudança na taxa Mudança nas
esperança
de mortalidade de subnutrição
taxas de
de vida à
de crianças
ou obesidade
imunização
Indicadores
nascença (anos)
com menos
(% da população)
contra o
de cinco anos
sarampo e DPT
(por 1000)
(% de crianças)
Quinquenal
Uma melhoria Redução de 23% Redução de 7% Aumento das taxas
de 3,5 anos
na taxa de
na taxa de
de imunização de
na esperança
mortalidade
subnutrição 18% para sarampo
de vida
de crianças com
ou obesidade
e 8% para DPT
à nascença menos de cinco anos
África Subsariana (média)
Etiópia
Mudança
na densidade
de médicos
(por 1000
habitantes)
Mudança
na densidade
de camas
hospitalares
(por 10.000
habitantes)
Nenhuma
mudança na
densidade
de médicos
Um aumento
de 30 vezes
na densidade
de camas
hospitalares
Intervalo na África Subsariana
Fonte: Análise da BCG.
Nota: SEDA significa Sustainable Economic Development Assessment (avaliação do desenvolvimento económico sustentável), uma metodologia da BCG.
The Boston Consulting Group • Tony Blair Africa Governance Initiative
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destinado a corrigir os problemas de saúde mais graves no país, ao fornecer informações e serviços de saúde à população.
Reconhecendo que 85% dos etíopes vivem em áreas rurais, o governo recrutou,
formou e mobilizou mais de 35 mil trabalhadores HEP de aldeias rurais em seis
anos, e enviou-os para educar os etíopes sobre práticas sanitárias e de saúde
básicas e planeamento familiar. Uma vez que muitas das principais mensagens
eram direccionadas a mães, este novo exército de trabalhadores de saúde foi
constituído inteiramente por mulheres, sendo que cada mulher recrutada recebeu
um ano de formação presencial e trabalho de campo.
Talvez o mais surpreendente tenha sido o intenso enfoque do governo etíope em
executar o plano correctamente. O governo não só recrutou, formou e colocou em
campo os trabalhadores, duplicando o número de postos de saúde rurais entre 2005
e 2008, mas também facilitou a construção de infra-estruturas e implementou
processos para monitorizar o progresso do programa. Como o sistema se expandiu e
os trabalhadores se tornaram mais qualificados, o governo ajudou a desenvolver
planos de carreira, de forma a que estes pudessem ingressar em funções de enfermagem na comunidade.
Os resultados demonstram claramente o impressionante impacto do programa.
Até agora, os trabalhadores HEP educaram 9 milhões de famílias. De 2005 a 2010,
a esperança de vida à nascença aumentou 3,5 anos, e as taxas de mortalidade de
crianças com menos de cinco anos de idade caíram 23%. Embora ainda haja
trabalho a fazer (a saúde etíope só agora está a atingir o nível médio na África
Subsariana), o progresso é notável.
O Gana está a tornarse num destino de
investimento regional.
Estes avanços reflectem o impacto de adaptar programas para enfrentar os desafios
muito específicos de uma nação. O forte compromisso político e a liderança por
detrás do Programa de Extensão da Saúde, juntamente com uma concretização
bem concebida que reflecte as realidades da vida rural, têm sido fundamentais para
o sucesso do programa. A falta de qualquer um desses elementos teria impossibilitado um importante progresso na saúde.
Surgimento do Gana como um centro de investimento
Alguns países africanos estão a surgir como atractivos centros de investimento para
multinacionais e empresas nacionais, e o Gana está sempre próximo do topo da
lista. Sendo um país costeiro com forte estabilidade política, económica e social, o
Gana está a estabelecer-se como um destino de investimento regional.
Não há muito tempo teria sido difícil imaginar este desenvolvimento. No início da
década de 80 do século passado, na sequência de uma recessão económica grave, o
Gana estava em dificuldades. Mas a maré começou a virar no final dos anos 80,
início dos anos 90, com uma série de reformas económicas, tais como a eliminação
de controlos de preços e a desvalorização da moeda, o que ajudou a liberalizar a
economia. Esses avanços foram reforçados pela estabilização do sistema político e
pelo estabelecimento de eleições livres e justas em 1992.
12
A Nova Prosperidade
Gráfico 5 | Gana bem posicionado para se tornar num centro de investimento regional no continente africano
Pontuação da SEDA para o nível actual (em 100)1
80
60
40
20
0
Nível de
escolaridade
Gana
Infra-estruturas
Nível de
governação
Países costeiros (média)
Estabilidade
económica
Dinamismo
económico
Índice composto
África Subsariana (média)
Fonte: Análise da BCG.
Nota: O índice composto foi criado mediante uma ponderação equitativa de cinco pontuações normalizadas (nível de educação, infra-estruturas,
nível de governação, estabilidade económica e dinamismo económico), calculando, em seguida, a respectiva média e normalizando-as novamente
para formar um novo índice de 0 a 100.
1
SEDA significa Sustainable Economic Development Assessment (avaliação do desenvolvimento económico sustentável), uma metodologia da BCG.
Estudar o Gana através da lente da SEDA destaca a transformação do país. Entre os
países costeiros, o Gana tem o maior nível actual de bem-estar e continua a melhorar. Para além disso, quando utilizámos a SEDA para construir uma medida de
índice composto da atractividade de um país como centro de investimento, descobrimos que o Gana ficou bastante acima das médias para os países costeiros e para
a África Subsariana no seu conjunto (ver gráfico 5).
O Gana alcançou essa posição, graças à sua estabilidade e ao estabelecimento de
prioridades políticas muito claras pelo governo ganês. Graças à vasta população do
país que fala inglês e aos custos de trabalho relativamente baixos, os líderes do
governo acreditavam que poderiam atrair corporações multinacionais, especialmente empresas de TI, para as suas costas. A experiência de países como a Índia
tornou evidente que essa abordagem poderia ser transformadora.
Essenciais para este esforço foram os movimentos para tornar o Gana mais favorável às empresas através de uma vasta série de reformas. O governo estabeleceu
tribunais comerciais em 2005, criou zonas económicas especiais e implementou
políticas para fomentar o desenvolvimento de um sistema financeiro robusto. O
novo Credit Reference Bureau, por exemplo, elevou a três o número de agências de
crédito respeitáveis no Gana, abrindo o caminho para mercados de financiamento
mais eficientes. Estas medidas ajudaram a colocar o Gana na quinta posição na
África Subsariana nos rankings Doing Business de 2012 do Banco Mundial, tornando o país num dos locais mais fáceis da região para registar uma propriedade, fazer
cumprir contratos e ter acesso a crédito.
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Para além deste esforço mais amplo, o governo focou-se em cultivar a indústria de
TI desde os primeiros anos do século XXI. O desenvolvimento de normas eficazes
para o sector das telecomunicações foi crucial para garantir um acesso equitativo e
sem restrições ao espectro de radiofrequências e ao cabo de fibra óptica. Em parte
graças a esse esforço, o Gana possui agora os menores custos de Internet móvel na
África Subsariana e cinco competitivas operadoras de telecomunicações no país. O
investimento do Gana no desenvolvimento de uma espinha dorsal de fibra óptica
nacional está praticamente concluído, disponibilizando o acesso à Internet a quase
um terço dos ganeses.
Em simultâneo, o governo tem procurado proactivamente construir uma mão-deobra de TI mais qualificada, apoiando uma ampla gama de estruturas de formação,
incluindo as geridas pela NIIT, uma empresa de formação de TI, o Ghana-India
Kofi Annan Centre of Excellence in ICT, o Ghana Telecom University College e
uma estrutura operada pelo Banco Mundial, centrada na melhoria das
competências de subcontratação de processos empresariais (Business Process
Outsourcing) dos trabalhadores.
Este impulso produziu retornos consideráveis. Grandes empresas multinacionais de
TI, incluindo a IBM, Hewlett-Packard, Google e Huawei Technologies, estabelece-
Gráfico 6 | Angola destaca-se na transformação do crescimento num maior bem-estar
Pontuação da SEDA para
progressos recentes no bem-estar1
100
Angola
República do Congo
Rep. Democrática do Congo
80
Quénia
60
40
Nigéria
0,9
Maláui
0,8
0,7
0,6
0,5
Botsuana
Guiné
Burundi
Zimbabué
África do Sul
Mauritânia
República Centro-Africana
Senegal
20
Etiópia
Gana
Moçambique
Namíbia Uganda
Burquina Faso
Suazilândia
Chade
Costa do Marfim
Ruanda
Lesoto
Coeficiente de
crescimento
para o bem-estar
1
0,4
Zâmbia
0,3
Eritreia
Madagáscar
0
–2,5
0,0
2,5
Sem acesso ao mar
Costeiro
5,0
Rico em recursos
7,5
10,0
12,5
Variação média anual do PIB
per capita2 (%), 2007–2012
População
Fonte: Análise da BCG.
Nota: Os dados baseiam-se em pontuações da SEDA; as linhas para o coeficiente de crescimento para o bem-estar são baseadas numa regressão
linear de todos os países.
1
SEDA significa Sustainable Economic Development Assessment (avaliação do desenvolvimento económico sustentável), uma metodologia da BCG.
2
Os valores extremos 2,5 vezes superiores ao desvio padrão foram limitados aos valores máximos. Os dados do PIB per capita estão em dólares
internacionais correntes.
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A Nova Prosperidade
ram-se no Gana, e muitas empresas nacionais foram desenvolvidas. Simultaneamente, empresas não relacionadas com o sector das TI, incluindo a Unilever,
Toyota, Standard Chartered Bank e Total, também se estabeleceram no Gana. Neste
país ainda existem, sem dúvida, melhorias a implementar em algumas áreas,
especialmente no que toca à educação e a infra-estruturas. Mas o tremendo progresso da nação é inegável: o Gana é agora o terceiro maior receptor de investimento estrangeiro directo na África Subsariana, colocando-o à frente da maioria dos
seus pares costeiros e dos seus vizinhos na África Ocidental.6
A definição de prioridades claras, particularmente a iniciativa de atrair investimento de TI e multinacionais, bem como a sua correcta execução têm estado no cerne
do sucesso do Gana. Esse enfoque, juntamente com os planos e políticas orientados
para alcançar os objectivos do país e a concretização sistemática das infra-estruturas e da formação necessárias, produziu impressionantes avanços económicos.
A transformação de Angola
Pode não ser surpreendente que Angola, o segundo maior produtor de petróleo da
África Subsariana, tenha registado um tremendo crescimento económico. Contudo,
o que pode ser menos evidente são os significativos avanços que o país tem realizado noutras áreas, incluindo na saúde e infra-estruturas, ganhos que excedem
significativamente os de outros países africanos ricos em recursos. Estes avanços
têm ajudado Angola a atingir o mais elevado nível de progressos recentes em
termos de bem-estar entre os países subsarianos, passando a ocupar a segunda
posição a nível mundial, ficando apenas atrás do Brasil.
Para além disso, Angola já percorreu um longo caminho: em 2002, quando a guerra
civil de 30 anos no país chegou ao fim, dois terços da população nacional viviam na
pobreza. No entanto, os recentes progressos de Angola em termos de bem-estar
continuam a exceder os de outros países subsarianos ricos em recursos, que apresentam um crescimento semelhante do PIB per capita (ver gráfico 6).
Três factores-chave possibilitaram os recentes avanços de Angola: a estabilização
bem-sucedida do país a nível social, político e económico após a guerra, o desenvolvimento eficaz do sector petrolífero e um esforço agressivo para reconstruir as
infra-estruturas do país, incluindo investimentos significativos em estradas, caminhos-de-ferro e um importante porto.
Um factor central para a estabilização de Angola foi a reintegração de membros das
forças militares da UNITA, que receberam amnistia por parte do governo após o
cessar-fogo de 2002. O desarmamento e a reintegração de membros da UNITA na
sociedade, em alguns casos nas forças militares e no governo angolanos, evitaram a
continuação da violência.
Para além disso, o governo angolano tem vindo a estabilizar progressivamente a
economia, um esforço que sofreu uma aceleração na sequência da crise financeira
de 2009, com o apoio do Fundo Monetário Internacional. Embora a inflação tenha
subido para três dígitos durante a guerra, hoje é inferior a 10%. O país estabilizou
a sua moeda e estabeleceu um orçamento governamental disciplinado, e o cresci-
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mento dos sectores não petrolíferos tem sido sólido. Para além disso, o reembolso
de 1,8 mil milhões de dólares em dívida aos credores internacionais por parte do
governo restaurou a capacidade angolana de aceder ao tão necessário crédito.
Dez anos após o final
da guerra civil, o nível
de vida angolano
melhorou muito.
Simultaneamente, Angola desenvolveu os seus activos energéticos de forma
eficaz. A produção de petróleo, que passou de 745 mil barris por dia em 2000 para
1,8 milhões de barris por dia actualmente, é responsável por metade do PIB do
país. Através do estabelecimento de parcerias a longo prazo entre empresas
petrolíferas internacionais e a Sonangol, a empresa petrolífera estatal, o governo
ajudou o sector a amadurecer e facilitou a transferência de conhecimento para a
indústria nacional. O desenvolvimento mais amplo da economia angolana foi
igualmente ajudado por requisitos de que determinados produtos e serviços
necessários para a exploração e produção de petróleo fossem provenientes de
empresas angolanas. Em grande medida graças ao sector petrolífero, o PIB per
capita de Angola tem aumentado numa média de 10% ao ano desde 2002. E,
enquanto 65% dos angolanos viviam abaixo do limiar de pobreza em 2002, em
2009 esse número caiu para 36%.
Uma economia estabilizada, juntamente com o crescimento robusto do sector petrolífero, permitiu um grande impulso para a reconstrução do país. Com fundos significativos provenientes de empréstimos chineses garantidos pela exploração petrolífera de
Angola, que é o seu maior fornecedor de petróleo, o governo fez investimentos em
infra-estruturas que totalizam 40 mil milhões de dólares entre 2002 e 2011. Assim,
foram reconstruídas estradas para ligar as principais cidades, restaurados 2700 km de
linhas ferroviárias, e o porto de Luanda, o principal ponto de entrada comercial de
Angola, foi significativamente expandido. A capacidade de produção de electricidade,
um importante motor de desenvolvimento económico, duplicou de 2002 a 2009.
Actualmente, está em curso uma actualização do abastecimento de água e das infraestruturas de saneamento no valor de 3 mil milhões de dólares.
Em apenas dez anos após o final da guerra civil, o nível de vida angolano melhorou
muito. A esperança de vida, que era de apenas 46 anos em 2002, chegou aos 51
anos em 2011. As taxas de mortalidade de crianças com menos de cinco anos
caíram de 25% em 2001 para 19% em 2010. Entretanto, o número de alunos matriculados na escola primária triplicou desde 2001, com uma actual taxa de matrícula
de 80%, reflectindo a estabilidade renovada no seio do país, bem como o impacto
das importantes reformas educativas.
Permanecem certamente desafios, nomeadamente garantir que mais angolanos
beneficiam da crescente riqueza do país proveniente do petróleo. Essa riqueza poderá
ser tanto um fardo, como um benefício: a nossa análise indica que muitos países ricos
em petróleo e gás, na África Subsariana e no Golfo Pérsico, obtêm pontuações da
SEDA mais baixas em termos de bem-estar do que países com níveis semelhantes de
rendimento mas menos recursos. Em Angola, a melhoria geral do nível de vida
ocorreu devido a um enfoque disciplinado nas prioridades de potenciar os activos
petrolíferos do país e reconstruir infra-estruturas críticas, bem como em trazer, de
forma eficaz, os recursos adequados para apoiar esses esforços.
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A Nova Prosperidade
Lições da África Subsariana
As experiências da Etiópia, do Gana e de Angola demonstram claramente que o
sucesso em elevar os níveis de vida depende, em grande medida, de quatro factores
críticos: um forte compromisso político, uma priorização implacável, políticas eficazmente adaptadas às condições locais e uma concretização bem-sucedida. Embora
estes elementos possam parecer óbvios, os resultados deste relatório, da experiência da BCG e do trabalho da Tony Blair Africa Governance Initiative com líderes no
continente sugerem que implementá-los pode ser um desafio.
Um forte compromisso político significa ir além da retórica. Os líderes políticos
devem arriscar e associar as suas reputações a um programa de reformas, investindo verdadeiro capital político e dedicando tempo e recursos para promover a
mudança. As probabilidades de sucesso aumentam quando o programa é apoiado
por uma coligação de líderes, e não apenas alguns indivíduos. Os líderes do governo
na Etiópia, por exemplo, conceberam o Programa de Extensão da Saúde, conduziram-no e evitaram que sucumbisse à pressão de outras partes interessadas.
Uma priorização implacável é um pré-requisito para o sucesso de uma reforma, especialmente quando os recursos são escassos. No Gana, o poder de
estabelecer metas firmes é evidente. O governo destinou dinheiro e mão-de-obra à
construção de indústrias transformadoras, como TI, e, com o tempo, esta priorização trouxe benefícios e atraiu investidores para o sector. Em Angola, por sua vez,
priorizar e fazer pesados investimentos na reconstrução de infra-estruturas críticas
permitiu um rápido progresso.
As políticas mais eficazes estão adaptadas às condições locais. Não existe um
caminho “certo” para o desenvolvimento. O desafio para os líderes é aprender com
o sucesso de outros e, em seguida, aplicar essas ideias ao contexto local. As melhores
reformas apoiam-se nos pontos fortes de um país, reconhecendo a sua história e
cultura. O programa de saúde na Etiópia, por exemplo, foi concebido em torno da
sociedade rural do país e dos desafios específicos de saúde que a população enfrentava. Por sua vez, o Gana potenciou um dos principais pontos fortes, uma população
que fala inglês, para atrair investimentos. E o governo angolano baseou a sua
plataforma de desenvolvimento económico no petróleo, o principal activo do país.
Os programas irão falhar se não houver uma concretização regular e eficaz.
Uma vez clarificadas as prioridades, estas devem ser apoiadas pelos sistemas de
concretização adequados. Na Etiópia, o sucesso dependia da criação de um exército
de profissionais de saúde para proporcionar educação sobre saúde, vacinas e outras
melhorias críticas. Os líderes do governo conceberam uma estrutura de supervisão
global do sistema, estabeleceram um sistema de gestão da informação e capacitaram os líderes para intervir quando a implementação não estivesse a ser cumprida.
Em Angola, levar a cabo actualizações significativas para estradas, caminhos-de-ferro e rede eléctrica implicou um plano bem concebido para garantir que os projectos
fossem postos em prática e monitorizados ao longo do tempo.
Estes factores são fundamentais para o sucesso de qualquer projecto, em qualquer
lugar. Em África, onde os desafios são inúmeros e os obstáculos enormes, a necessidade de enfoque no que realmente importa é ainda maior. As lições da Etiópia, do
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Os líderes políticos
devem arriscar e
associar as suas
reputações a um
programa de reformas.
Gana e de Angola podem servir de inspiração para líderes de outros países africanos, que lutam para elevar o nível de vida e o bem-estar geral dos seus povos.
notes
1. Os oito países africanos, classificados por ordem de progresso recente mais rápido, são Angola,
Etiópia, República do Congo, Ruanda, Maláui, Lesoto, Tanzânia e Nigéria.
2. Ver o 2012 Ibrahim Index of African Governance e o African Governance Report II (2009).
3. Os países africanos excluídos da análise foram a Libéria, Serra Leoa, Gâmbia, Guiné-Bissau, Guiné
Equatorial, Cabo Verde, Comores, Jibuti, Seicheles, Somália, República da Maurícia, Sudão e Sudão
do Sul.
4. Ver, por exemplo, Michael L. Faye et al., The Challenges Facing Landlocked Developing Countries,
Journal of Human Development, Março de 2004; e Paul Collier, Africa: Geography and Growth,
Proceedings, 2006.
5. Ver indicadores do Banco Mundial, 2012.
6. Seguindo a convenção estabelecida pela Organização das Nações Unidas, a nossa definição de África
Ocidental inclui os países do Benim, Burquina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana,
Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo.
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A Nova Prosperidade
Sobre os autores
Craig Baker é sócio e director administrativo no escritório da The Boston Consulting Group em
Londres. Poderá contactá-lo através do e-mail [email protected].
Douglas Beal é sócio e director administrativo no escritório da empresa no Dubai e o responsável
pela área de subtemas de Desenvolvimento Económico da BCG. Poderá contactá-lo através do email [email protected].
Tenbite Ermias é sócio e director administrativo no escritório da BCG em Joanesburgo. Poderá
contactá-lo através do e-mail [email protected].
Sek-loong Tan é director de projectos no escritório da empresa em Melbourne. Poderá contactá-lo
através do e-mail [email protected].
Andy Ratcliffe é o director de estratégia e desenvolvimento da Tony Blair Africa Governance
Initiative. Poderá contactá-lo através do e-mail [email protected].
Agradecimentos
Este relatório e a análise da SEDA subjacente não teriam sido possíveis sem a ajuda de uma série
de organizações, incluindo as Nações Unidas, o African Development Bank Group, o Banco
Mundial, a Secretaria ITES do Ministério das Comunicações do Gana, a Save the Children, o Oxford
Centre For The Analysis of Resource Rich Economies, a Clinton Health Access Initiative, o Instituto
de Desenvolvimento Ultramarino e o African Center for Economic Transformation. Orientação e
informação foram igualmente fornecidas pela Hewlett-Packard, o Banco Privado Atlântico, oSTEC
Consulting e o escritório da Google no Gana.
Os autores gostariam especialmente de agradecer o trabalho de Shaun Chau e João Martins na
preparação e apreciação da avaliação, bem como o conhecimento e a orientação de Enrique
Rueda-Sabater, Alexandre Gorito e James Purnell. Gostaríamos também de agradecer a Sam Hardy
e Dan Hymowitz da Tony Blair Africa Governance Initiative pelas suas contribuições para o
relatório final, e a Amy Barrett pela assistência na elaboração deste relatório.
Por último, gostaríamos de agradecer aos membros das equipas de redacção, editorial e de
produção da BCG, incluindo Katherine Andrews, Gary Callahan, Lilith Fondulas, Kim Friedman,
Abby Garland, Carmen Roche, Sara Strassenreiter e Simon Targett.
Outras informações de contacto
Caso pretenda discutir esta publicação, entre em contacto com um dos autores.
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