Alguma coisa no ar

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Alguma coisa no ar
Alguma coisa no ar
J. Roberto Whitaker Penteado
Semana passada, levei meu carro, um Pajero IO, para a revisão obrigatória na Mitsubishi.
Assis, o atendente - que já se tornou amigo - foi logo avisando: - Pneus estão ficando carecas.
Uma revisão de carro importado, no Brasil, dificilmente sai por menos de R$ 2 mil, então fui
devagar: - Quanto? - Estão a R$ 499 cada, patrão. Resolvi esperar. Mil reais de pneu... Tem
gente na sua empresa (e na minha) que não ganha isso por mês de salário.
No dia seguinte, passo na Zacharias e resolvi checar. Estavam a R$ 523 - da marca Michelin MUITO melhor que os Bridgestone, segundo o atendente (da Zacharias). Pedi para minha
secretária ligar para o Assis, para fechar o negócio - mas, quando voltei, havia um bilhetinho:
o preço era R$ 530.
Decidi ligar para o Assis logo na segunda-feira, para fazer o preço voltar a menos de R$ 500 ainda que apenas 1 real. Nada feito. - Impossível, patrão, o preço essa semana é R$ 570.
Como 570, se eu liguei para fazer voce voltar aos R$ 499! - Espere um momentinho. Esperei.
Nada feito. Em menos de sete dias, os pneus para o meu carro, na Mitsubishi, aumentaram
42,3%
Outra história. Minha mulher tem mania de iluminação e instala lâmpadas alógenas em lugares
como áreas de serviço. A empregada trouxe-me uma queimada para trocar: um objeto de
vidro leitoso parecendo um pequeno alambique. Fui à loja e apresentei o objeto à moça. Lâmpada alógena, reconheceu. Tenho dois tipos. Essa aqui, Osram, de muito boa qualidade,
custa R$ 21,80... E a outra? - Bom, a outra é chinesa e custa R$ 4,80. Não sei o que o leitor
teria feito. Eu, que me considero consumidor profissional - por dever de ofício - optei por levar
duas chinesas. Ainda assim, ficou por metade do preço da outra.
O que está havendo?
Também por dever de ofício, vou sempre ao supermercado, para fazer as compras da casa e
reunir munição para artigos como esse e discussões com meus amigos que são diretores no
Pão de Açucar, no Zona Sul e no Carrefour (ganho todas). Os aumentos nos produtos mais
corriqueiros - de grandes marcas - estão todos entre 25% e 50% - nada parecido com os
pequenos índices que a imprensa divulga.
Há alguma coisa no ar, "além dos aviões de carreira" - como escreveu o grande Barão de
Itararé. Será a volta da inflação?
PENTEADO, J. Roberto Whitaker. Alguma coisa no ar. JRWP - J. Roberto Whitaker
Penteado, Rio de Janeiro, abr. 2003. Disponível em
http://www.jrwp.com.br/artigos/leartigo.asp?offset=390&ID=144. Acesso em: 9 mar. 2010.

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