Uso e manejo do pau-rainha
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Uso e manejo do pau-rainha
Programa de Pós Graduação em Ciências de Florestas Tropicais - CFT Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA Projeto Wazaka’ye USO E MANEJO DE PAU-RAINHA PAU (CENTROLOBIUM CENTROLOBIUM PARAENSE TUL. – FABACEAE) NA TERRA INDÍGENA ARAÇÁ, RR RESUMO DOS RESUTADOS Dissertação de mestrado JESSICA LIVIO PEDREIRA SONIA ALFAIA, orientadora ROBERT MILLER, co-orientador co Roraima, agosto de 2011 FINANCIAMENTO Este documento foi realizado com recursos do Projeto “FLORELOS - Elos Ecossociais entre as Florestas Brasileiras: Modos de vida sustentáveis em paisagens produtivas”, desenvolvido pelo Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN e possui o apoio financeiro da União Européia. Este documento é de responsabilidade do autor não podendo, em caso algum, considerar-se que reflete a posição de seus doadores. Jessica Livio Pedreira “Bolsista do Programa Universidades e Comunidades no Cerrado – UNICOM” FLORELOS/ISPN – Brasília/DF AUTORIZAÇÕES Termo de Anuência Prévia Entregue as lideranças indígenas Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN/MMA): Deliberação n.265 de 8 de dezembro de 2010 DOU; Autorização n. 58/2010. Disponível em: <www.in.gov.br/autenticidade.html> pelo código 00012011012600057 Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP/MS): Parecer 320/2011 referente ao protocolo de pesquisa registro CONEP 16.135 Fundação Nacional do Índio (FUNAI): Autorização n. 63/2011 processo n. 1434/2010 Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO/ICMBIO): Autorização n. 21314-3 OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho foi levantar informações sobre o Pau-rainha (Centrolobium paraense) no que diz respeito ao conhecimento popular indígena, o crescimento das rebrotas e a germinação. Os objetivos específicos foram: (1) Registrar as informações sobre uso e manejo dessa espécie e gerar recomendações para aumentar a disponibilidade dos produtos explorados. (2) Caracterizar o ritmo de desenvolvimento em altura, circunferência e número de rebrotas por toco após o corte raso ao longo do tempo, acompanhar a reocupação da área usando como indicador a área basal das rebrotas e analisar o sistema de cultivo em que a espécie se insere. (3) Descrever características dos frutos e o sucesso da germinação da espécie em condições de viveiro. O Pau-rainha (Centrolobium paraense Tul – Fabaceae) O gênero Centrolobium Mart. ex Benth. integra a família botânica Fabaceae e compreende seis espécies de árvores tropicais com dispersão limitada as Américas Central e do Sul. É caracterizado principalmente pela presença de glândulas peltadas alaranjadas que cobrem as folhas e inflorescências e vagens aladas com o núcleo seminífero recoberto por espinhos. O termo Centrolobium deriva do grego, Kreton: esporão e Lobium: vagens; lóbulo revestido de espinhos semelhantes a esporas; o termo espora relaciona-se ao espinho presente na base da ala da sâmara (Figura 1). Figura 1 – Sâmara: fruto alado de Pau-rainha (C. paraense) recoberto de espinhos. Entre os indígenas da Amazônia, o Pau-rainha (Figura 2), é conhecido por Myrá kuatiar (Haverroth, 2005). Expressão que significa pau manchado – provavelmente referindo-se à resina avermelhada produzida quando a casca é cortada (Kaminski, 2004). No idioma Macuxi é denominado Katan’ye, de acordo com o professor deste idioma da comunidade Guariba da T.I. Araçá (Professor César Wapixana, comunicação oral, 2009). Apresenta os seguintes nomes populares: Pau-rainha (Brasil); Tejeyeque, Tarara Amarilla (Bolívia); Arariba, Guayacan Hobo (Colômbia); Amarillo, Amarillo de Guayaquil (Equador e Panamá); Balaústre (Venezuela); Redwood ou Kartang (Guiana); e Canary wood, Porucupine wood ou Zebra wood (EUA) (Kaminski, 2004). Miller, R. P. Pedreira, J.L. A B Figura 2 – A) árvore de Pau-rainha aos 4 anos de idade na capoeira e B) madeira de Pau-rainha para uso em construção na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. O Pau-rainha ocorre re naturalmente desde o Panamá, Equador, Venezuela, Colômbia, Guianas, Suriname, até o extremo norte do Brasil (Figura 3), onde ocorre somente noss Estados do Pará e Roraima. Em Roraima, ocorre em regiões de baixas elevações, em solos ácidos e com fertilidade variada e é característico das ilhas de mata daa savana, das zonas de transição e da floresta ombrófila densa (Kaminski, 2004). Figura 3 – Distribuição tribuição geográfica de Centrolobium paraense.. (Imagem: Google Earth, 2010). As árvores ocorrem no interior ou nas bordas da mata, podem atingir alturas de 30,0 m com diâmetros de até 1,20 m, a coloração da madeira varia de branco-creme branco a amarela (Kaminski,i, 2004). É possível perceber em campo que a coloração da madeira pode chegar ao vermelho. Alguns indígenas relatam que a cor da madeira varia do amarelo ao vermelho de acordo com a variedade de Pau-rainha. Pau rainha. Assim, consideram que existe mais de um tipo de Pau-rainha, P rainha, sendo o de madeira clara/amarela mais mole (menos denso) e o de madeira vermelha o mais duro (mais denso) e resistente (à ataque de insetos e patógenos). Em áreas alteradas, a espécie pode ser encontrada formando maciços e as plantas exibem uma arquitetura característica, com troncos retos e cilíndricos com copa pequena e arredondada. Em áreas de floresta desmatada, em processo de regeneração, o Pau-rainha rainha é apontado como uma das primeiras espécies a se estabelecer, sugerindo ser uma espécie pioneira pioneira ou secundária inicial, fundamental para a re-colonização colonização de áreas alteradas onde a vegetação original foi suprimida (Kaminski, 2004). É uma espécie heliófita, que necessita de exposição à luz solar para realizar os eventos do ciclo reprodutivo, sendo as plântulas e os indivíduos jovens encontrados somente na borda da mata ou em áreas desmatadas (Kaminski, 2004). O florescimento (Figura 4) ocorre durante o período das chuvas; o amadurecimento dos frutos se dá no período da seca (Kaminski, 2004). Figura 4 – Inflorescência de Pau-rainha (C. paraense) em área de capoeira na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. Julho/2008. A polinização das espécies do gênero Centrolobium é feita por insetos (entomofilia), realizada por abelhas, e a dispersão dos frutos é pelo vento (anemocoria). A madeira de Pau-rainha não é resistente ao fogo; entretanto, a casca lenhosa que recobre as sementes pode funcionar como uma forma de resistência ao fogo e ser responsável pelo surgimento de plântulas de Pau-rainha em grande número após a queima de uma área (Kaminski, 2004). O Pau-rainha é um recurso madeireiro de uso tradicional das populações indígenas da região (PPTAL, 2007). Na T.I. Araçá, as ilhas de floresta representam 20% da superfície e ocorrem em um relevo relativamente plano e de fácil acesso por estradas na T.I. Em contraste, em muitas T.I.s da região do Lavrado, o Pau-rainha ocorre em serras pedregosas e de difícil acesso (Pinho, 2008a). Assim, além do uso local, o Pau-rainha da T.I. Araçá é solicitado por outras comunidades menos favorecidas com recursos florestais, aumentando ainda mais a pressão sobre esta espécie (Pinho, 2008a). Os usos mais comuns são: combustível, devido ao alto poder calorífico de sua madeira; construção de casas; como planta medicinal; fabricação de móveis e artesanato (como pontas de flechas utilizadas na Parixara); cavacos (utilizados como cobertura para casa), estacas, cabos para ferramentas e extração de corante avermelhado ideal para tingir e produzir tintas (Kaminski, 2004). É uma espécie ameaçada pela exploração madeireira na Amazônia e, por isso, é necessária a adoção de medidas que protejam e promovam a espécie como a incorporação em sistemas agroflorestais (tal o cultivo de rebrotas nas roças já realizado pelos indígenas), a utilização da espécie em programas de recuperação de áreas degradadas e reposição em áreas de ocorrência natural. Estas ações são importantes para a preservação e conservação da diversidade da espécie. CAPÍTULO 1 O conhecimento popular sobre Pau-rainha Pau (Centrolobium Centrolobium paraense Tul. Fabaceae) e as implicações para o seu manejo nas “ilhas de matas” na Terra Indígena Araçá, Roraima As informações para este estudo foram obtidas pela vivência nas comunidades, entrevistas aos moradores e pesquisa em material bibliográfico. b Entrevistei 26 pessoas em três comunidades: Mutamba, 11 pessoas; Guariba, 8 pessoas e Araçá, 7 pessoas. Dessas pessoas, a maioria sabe fazer roças e deixa o pau-rainha rainha rebrotar nos roçados, ou porque percebe que tem pouco nas matas ou porque ue já é um costume. Tabela 1 - Pessoas que tem o conhecimento prático sobre roças e que deixam rebrotas nos roçados da Terra Indígena Araçá, Roraima. Sim Não TOTAL Sabe fazer roça 22 4 26 Cultiva rebrotas 18 8 26 Os usos mais citados para o Pau-rainha foram a construção de casas, construção de cercados e uso de lenha. Foi interessante que apenas uma pessoa citou um uso para o pau-rainha rainha que não estava relacionado a madeira, que foi o uso medicinal. Por meio da pesquisa, descobri outros usos que não foram citados nas entrevistas: • consumo das vagens verdes, cruas ou assadas; realizado por indígenas do sul do Equador (Van den Eynden et al., 2003); • uso como corante de cor vermelha; • uso como cavacos (Kaminski, 2004); 2004) • uso como purificador da da água ; realizado por indígenas na Colômbia (Sánchez, 2004). A lista com os 34 usos citados durante as entrevistas segue na Tabela 2. Tabela 2 - Itens produzidos a partir do Pau-rainha (Centrolobium paraense) na Terra Indígena Araçá, Roraima. ITEM Artefato de arte Brincos Cerca Curral Estaca de cerca Haste de cerca Canteiro Lenha Casa Caibro Estaca de casa Telhado Travessa Esteio Linha Jiral Móvel Mesa Banco Poste Prancha Madeira roliça Madeira fina Cabo de machado Tábua Talheres Palheta Remo para farinha Caixa Prensa de mandioca Remo para canoa Tabuleta de linha de pescado O tempo médio que uma casa construída com a estrutura de Pau-rainha dura é mais ou menos 20 anos. A maioria das pessoas acredita que a madeira de pau-rainha pode ser tirada do mato em qualquer época, de acordo com a sua necessidade. Mas existem pessoas que acreditam que dependendo da época, a madeira do pau-rainha pode ser melhor ou pior. Muita gente também não faz tratamentos na madeira para ela durar mais, uma vez que o pau-rainha é considerado uma madeira que dura muito naturalmente. Quem trata a madeira apenas descasca e seca após o corte Muitas pessoas deixam o pau-rainha se criar sozinho no mato, mas algumas pessoas tomam alguns cuidados, praticando algumas atividades que tem como finalidade melhorar os cultivos, sejam as plantas da roça ou o pau-rainha.Veja a Tabela 3. Tabela 3. Práticas silviculturais e suas finalidades relatadas pelos indígenas que manejam Paurainha nas roças e capoeiras na Terra Indígena Araçá, RR. ENTREVISTADO FINALIDADE PRÁTICAS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Total 2 Fogo Aceirar Desenvolver Amarrar caídas Fogo, desenvolver Capinar Proteger do gado Cercar 1 Desenvolver Cortar cipós 3 Desenvolver Desbastar 1 Adubar Juntar folhas 1 Fiscalização, fogo Observar Desenvolver Selecionar rebrotas 1 rebrotas 4 2 Total 6 2 2 2 2 1 3 2 1 1 2 2 1 As atividades de coletar sementes e retirar madeira às vezes acontecem nas mesmas ilhas de mata. Isso significa que essas ilhas tem uma pressão de uso muito grande e que o pau-rainha ali pode acabar com rapidez se não forem tomadas algumas atitudes. No mapa a seguir, nas ilhas de mata circuladas ocorre a coleta de sementes e onde tem duas barras ocorre a extração de madeira. Os números próximos as ilhas de mata se referem ao número de pessoas que coleta sementes e ao número de pessoas que retiram madeira dessas ilhas. Etnomapa – Representação das ilhas de mata onde ocorre a coleta de sementes (circulada) e a extração de madeira (riscada) e o número de coletores de sementes e extrativistas da madeira. O gráfico a seguir, mostra o que as pessoas pensam sobre a quantidade de paupau rainha que existe em suas comunidades. A Tabela 4 mostra as variedades de pau-rainha pau rainha que as pessoas conseguem identificar nas matas. CARACTERÍSTICAS VARIEDADE Rachador Entremeado Amarela Madeira Casca Racha bem (fibras na mesma direção) Quebra ao rachar (fibras em várias direções) Leve Casca inteira Esbranquiçada (lisa) Casca com canal Amarelada e (estriada) cacho menor Amarelo a Mediana vermelho Vermelha Dura Matizada Dura Flor Folha com - - - - - - - - - - - - Quase cinza Conclusões Embora a maioria das pessoas entrevistadas trabalhe em serviços que não estão diretamente ligados ao manejo das matas, ou agricultura, a proximidade delas com estes serviços nos permitiu chegar a algumas conclusões básicas sobre o uso e manejo do Pau-rainha na TI Araçá: • Embora tenham sido apontadas diversas formas de utilizar a espécie, o principal uso da madeira de Pau-rainha é nas construções de casas e o uso da lenha. • O manejo das rebrotas nas roças é praticado pela maioria dos entrevistados, constituindo uma prática em desenvolvimento; pois, mesmo que haja um costume passado entre as gerações, o principal motivo para fazê-la é a atual falta de recurso. • O manejo realizado de rebrotas é intencional e relacionado às idas a roça para trato das demais plantas agrícolas. • Entre as práticas silviculturais citadas pelos entrevistados estão: aceirar, amarrar rebrotas caídas, capinar, cercar a área, cortar cipós, desbastar ou selecionar rebrotas, juntar folhas e observar a área e as plantas. A seleção de rebrota é a atividade mais frequente. • A maioria das pessoas realiza o corte da árvore ou rebrota conforme estes atingem o tamanho da peça de madeira que necessitam. • As ilhas de mata da comunidade Guariba são locais importantes para a conservação do Pau-rainha na Terra Indígena Araçá, pois é nessa comunidade que se concentram o maior número de coletores; a maior quantidade de recursos, madeira e sementes e é uma comunidade procurada por pessoas de fora (da comunidade e da Terra Indígena). • Pode haver pressão seletiva sobre a diversidade da espécie, pois é possível identificar variedades de Pau-rainha na mata mais fáceis de abater a partir de características do seu tronco e das suas flores. CAPÍTULO 2 Talhadia de Centrolobium paraense Tul. (Fabacea: Faboideae) em sistema agroflorestal indígena, Terra Indígena Araçá, Roraima: avaliação de crescimento de rebrotas As informações para este estudo foram obtidas pela convivência nas comunidades, pela atividade de acompanhamento do crescimento das rebrotas em duas áreas de roçados (abertos em anos diferentes) na Ilha do Porco, Comunidade Mutamba durante julho de 2008 a novembro de 2010. E outras pesquisas. A seguir tem uma tabela (Tabela 1) que resume informações sobre o cultivo e o manejo de rebrotas para ter madeira a partir de outras plantas (diferentes de paurainha) e em outras regiões. Tabela 1 - Informações resumidas sobre a diversidade de sistemas silviculturais baseados no manejo de rebrotas (talhadia). PAÍS/REGIÃO SISTEMA/ESPÉCIES PRODUTOS OBSERVAÇÕES Brasil/Roraima Sistema indígena com enfoque no Centrolobium paraense (Pau-rainha) Estacas, caibros, esteios, lenha Produção consorciada com plantas agrícolas. Manejo da regeneração natural e enriquecimento de capoeira Brasil/Caatinga Várias espécies Lenha para cerâmicas e indústria de gesso; forragem (rebrota) para animais Plantios e manejo da regeneração de espécies nativas. Brasil/Ceará Mimosa (Sabiá) Estacas (moirões) Nordeste do Ceará produz 2,4 milhões de estacas/ano Brasil/várias regiões Silvicultura industrial com Eucalyptus spp. Madeira para celulose e carvão vegetal (para siderúrgicas) Plantios homogêneos, regeneração por replantio com mudas ou reforma por talhadia. Japão/Kitayama Silvicultura com Esteios caibros Plantios; regeneração por semente ou estacas; Cryptomeria (Sugi) caesalpinifolia tradicional e japonica capina, incluindo cipós, continuamente para facilitar a poda. Quase não se faz desbastes. Europa medieval Talhadia com estandartes Quercus spp. (Carvalhos) e outras espécies folhosas Madeira roliça para construções, cercas Área natural manejada; Madeira colhida no tamanho apropriado; mosaico de habitats Brasil/Sudeste Talhadia de caixeta (Tabebuia cassinoides) Madeira leve para lápis, tamancos, etc. Ocorre em monodominantes. formações A Figura a seguir apresenta em destaque uma reflexão sobre como funciona o ciclo das roças quando existem as rebrotas na roça e em azul o ciclo das roças de corte-e-queima (coivara). Essa iniciativa de manejar as rebrotas de Pau-rainha rainha na Terra Indígena Indígen Araçá pode ser entendido como uma ação de gestão ambiental local, em desenvolvimento e com possibilidade de replicação em outras outras Terras Indígenas do Lavrado. Na T.I. Araçá, em alguns casos, as rebrotas do Pau-rainha Pau rainha são poupadas quando as roças são abertas para serem aproveitadas no futuro. Nesta situação, a produção de madeira de rebrotas se inicia no momento da roça e faz parte da produção da roça, e continua ao longo do tempo, quando a área vira capoeira nova e depois uma mata mais antiga (capoeirão). As rebrotas seriam um produto da roça, assim como as plantas agrícolas. O desenvolvimento da regeneração (brotos) ocorre junto ao das outras plantas, como o milho, mamão, mandioca; até que a roça é abandonada e as rebrotas ficam na área. A partir disso, so, essas plantam fazem parte da capoeira em formação, ajudando a criar níveis de alturas de plantas na área (estratificar) e enriquecer enriquece a área pela produção de frutos (regeneração, atração de fauna) e folhagens (cobertura do solo e adubação verde), até quee se realize a colheita. A extração pode ser realizada em diferentes momentos do desenvolvimento da rebrota, ocorrendo geralmente em função do tamanho adequado ao uso que será dado a madeira. Os tratos silviculturais são poucos (cipós e capina) e ocorrem em função dos tratos dados as plantas agrícolas. Crescimento das rebrotas É esperado que a maioria do pau-rainha pau nha rebrote após ser cortado. Já no primeiro mês as rebrotas nascem, em média 4 por toco, mas até 12 podem aparecer no mesmo toco. Na área abertaa há dois anos, o número de rebrotas em um toco não interfere no tamanho dessas rebrotas. Mas depois de 2 anos, se existirem muitas muitas rebrotas em um toco,, o crescimento dessas rebrotas vai ser menor. As plantas cresceram de maneiras diferentes nas duas áreas estudadas. Na área mais nova, o número de plantas na área aumentou em duas vezes e as rebrotas cresceram mais que o suficiente para repor a quantidade de madeira que foi cortada quando a roça foi aberta. Após os dois anos de manejo de rebotas, foi observado um aumento de 10% no estoque de madeira dessa área. As árvores ainda não são grossas gros como as da capoeira (de 4 anos) e o estoque de madeira das rebrotas é quase metade do estoque de madeira da capoeira. Isso é apresentado na figura a seguir. Na área mais antiga, o crescimento das rebrotas não foi suficiente para repor a madeira que foi cortada. Foi produzido apenas metade do estoque de madeira que tinha antes da abertura do roçado. E foi observado que o número de plantas na área aumentou em quatro vezes. A madeira que tem nessa área é de rebrotas muito finas que ainda não servem para caibros, c por exemplo. Remedições periódicas Os dados do crescimento das rebrotas das duas áreas ao longo dos períodos do estudo estão nas duas tabelas a seguir. Área mais jovem. ÁREA 1 Circunferência (cm) Altura (m) JUL OUT FEV JUN OUT JUL 2008 2009 2010 2010 Mínimo 1,5 3,0 4,3 Máximo 9,5 28,0 Média 4,6 15,8 OUT Número de rebrotas/toco (n) FEV JUN OUT JUL OUT FEV JUN OUT 2010 2008 2009 2010 2010 2010 2008 2009 2010 2010 2010 4,2 4,3 0,08 0,10 0,08 1,70 1,20 1 0 0 0 0 27,5 26,3 29,0 2,57 9,00 9,00 11,00 10,70 6 8 6 8 7 16,8 16,2 17,8 1,25 5,08 5,90 6,07 6,25 2,1 2,5 2,2 2,5 2,3 66 93 64 86 68 Número total de rebrotas na área por período Área mais antiga. ÁREA 2 Circunferência (cm) Altura (m) Número de rebrotas (n) JUL FEV JUN OUT JUL FEV JUN OUT JUL FEV JUN OUT 2008 2010 2010 2010 2008 2010 2010 2010 2008 2010 2010 2010 2,0 3,0 3,4 3,0 0,50 0,60 1,30 1,20 1 1 1 0 Máximo 20,0 40,0 25,4 27,4 5,70 7,50 10,80 9,00 6 10 11 11 Média 13,1 13,1 13,2 2,64 4,21 5,25 5,05 2.9 3.9 4.3 4.6 66 90 98 101 Mínimo 9,0 Número total de rebrotas no período Conclusões • O sistema de manejo das rebrotas dos roçados indígenas é diferente dos outros sistemas estudados principalmente porque existe o envolvimento com as plantas da roça. • O manejo das rebrotas pode resultar em maior quantidade de madeira nas áreas de roçados. • As rebrotas crescem muito em altura e em circunferência, e o número de rebrotas no toco após dois anos é semelhante ao inicial. • Sugere-se sejam feitos desbastes, podas e controle de cipós a partir do segundo ano de desenvolvimento, para as rebrotas manterem o ritmo de crescimento. CAPÍTULO 3 Características da semente e da germinação de Pau-rainha (Centrolobium paraense Tul – Fabaceae: Faboideae) espécie florestal semidecídua do norte da Amazônia As informações deste estudo foram obtidas por pesquisa de campo na Estação Ecológica Maracá (ESEC Maracá, Roraima) e por pesquisa bibliográfica. Os frutos de pau-rainha (ouriços) foram coletados na ESEC Maracá e em um trecho de mata na BR174 (RR). Fiz medições do tamanho de 50 frutos e os valores médio, mínimo e máximo estão na tabela a seguir. Tabela 1 - Medidas do núcleo seminífero (parte coberta de espinhos) dos frutos de Pau-rainha (Centrolobium paraense), coletados na ESEC Maracá, RR, no mês de fevereiro de 2010. (n = 50) Valores Comprimento Largura Espessura ------------------------mm----------------- Peso (g) sementes/fruto Média 41,8 32,3 25,9 16,825 1,3 Mínimo 36,0 25,0 20,0 10,735 1,0 Máximo 49,0 36,0 32,0 25,136 3,0 Em relação ao peso total do ouriço, as sementes de Pau-rainha representam apenas 2,5% do total, ou seja, elas são muito menores que o fruto. As sementes que ficam armazenas mantêm uma pequena quantidade de água em seu interior (10%), suficiente para germinarem (se forem dadas as condições necessárias) mesmo depois de oito meses guardadas. Tabela 2 - Resultado do teste de pureza, número de sementes por quilo e peso de mil sementes de pau-rainha (C. paraense). Média Pureza (%) 2,5 Número de sementes por quilo (n) 3373 Peso de 1000 sementes (g) 297,3 Fiz um teste de germinação com esses frutos, deixando os ouriços de molho em água por 24 horas (um dia) e 48 horas (dois dias). Esse molho não ajudou as sementes a germinarem mais rapidamente, pelo contrário. As sementes que ficaram mais tempo no molho demoraram mais para nascer. Deixar os frutos muito tempo de molho pode “afogar” as sementes. Outra tentativa de fazer o pau-rainha germinar mais rápido foi deixar novamente alguns frutos de molho em água por 24 horas, em outros foi feito um corte lateral no fruto, retirando o espinho (esporão), e outros frutos foram apenas semeados, sem ficar de molho ou sem haver corte. Os frutos que foram semeados sem nenhum tratamento começaram a germinar antes que os outros frutos. Isso mostrou que os tratamentos que eu apliquei nos frutos não foram positivos, porque não fizeram a germinação aumentar e acabaram atrasando o início da germinação. Conclusões • As sementes de Pau-rainha podem ser armazenadas e semeadas nos próximos meses. • O pau-rainha germina pouco (até 40% dos frutos em dois meses) e demora para iniciar a germinação após a semeadura. • Sementes armazenadas por oito meses em condições de temperatura ambiente e em sacos porosos (tipo ráfia) ao abrigo da chuva podem germinar após este período. • Os tratamentos aplicados nos frutos apenas foram significativos quanto ao número de dias após a semeadura para a primeira germinação, que foi melhor nas amostras do controle e as que foram abertas lateralmente. • As sementes coletadas na ESEC Maracá e na BR-174 tem características semelhantes em relação a germinação. APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS 2010 – Uso de rebrotas de pau-rainha (Centrolobium paraense Tul – Fabaceae: Faboideae): uma via para a conservação local da espécie na Terra Indígena Araçá, Roraima. 61° Congresso Nacional de Botânica. Manaus, AM. (Resumo). 2009 – Manejo do Pau-rainha (Centrolobium paraense Tul – LEGUMINOSAE) nas roças e capoeiras da comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, Roraima. VII Congresso Brasileiro de Sistemas agroflorestais. Luziânia, GO. (Resumo expandido).
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