Uso e manejo do pau-rainha

Transcrição

Uso e manejo do pau-rainha
Programa de Pós Graduação em Ciências de Florestas Tropicais - CFT
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
Projeto Wazaka’ye
USO E MANEJO DE PAU-RAINHA
PAU
(CENTROLOBIUM
CENTROLOBIUM PARAENSE TUL. –
FABACEAE) NA TERRA INDÍGENA ARAÇÁ, RR
RESUMO DOS RESUTADOS
Dissertação de mestrado
JESSICA LIVIO PEDREIRA
SONIA ALFAIA, orientadora
ROBERT MILLER, co-orientador
co
Roraima, agosto de 2011
FINANCIAMENTO
Este documento foi realizado com recursos do Projeto “FLORELOS - Elos
Ecossociais entre as Florestas Brasileiras: Modos de vida sustentáveis em paisagens
produtivas”, desenvolvido pelo Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN e
possui o apoio financeiro da União Européia. Este documento é de responsabilidade
do autor não podendo, em caso algum, considerar-se que reflete a posição de seus
doadores.
Jessica Livio Pedreira
“Bolsista do Programa Universidades e Comunidades no Cerrado – UNICOM”
FLORELOS/ISPN – Brasília/DF
AUTORIZAÇÕES
Termo de Anuência Prévia
Entregue as lideranças indígenas
Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN/MMA):
Deliberação n.265 de 8 de dezembro de 2010 DOU; Autorização n. 58/2010.
Disponível em: <www.in.gov.br/autenticidade.html> pelo código 00012011012600057
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP/MS):
Parecer 320/2011 referente ao protocolo de pesquisa registro CONEP 16.135
Fundação Nacional do Índio (FUNAI):
Autorização n. 63/2011 processo n. 1434/2010
Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO/ICMBIO):
Autorização n. 21314-3
OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho foi levantar informações sobre o Pau-rainha
(Centrolobium paraense) no que diz respeito ao conhecimento popular indígena, o
crescimento das rebrotas e a germinação. Os objetivos específicos foram:
(1) Registrar as informações sobre uso e manejo dessa espécie e gerar
recomendações para aumentar a disponibilidade dos produtos explorados.
(2) Caracterizar o ritmo de desenvolvimento em altura, circunferência e número
de rebrotas por toco após o corte raso ao longo do tempo, acompanhar a
reocupação da área usando como indicador a área basal das rebrotas e analisar
o sistema de cultivo em que a espécie se insere.
(3) Descrever características dos frutos e o sucesso da germinação da espécie em
condições de viveiro.
O Pau-rainha (Centrolobium paraense Tul – Fabaceae)
O gênero Centrolobium Mart. ex Benth. integra a família botânica Fabaceae e
compreende seis espécies de árvores tropicais com dispersão limitada as Américas
Central e do Sul. É caracterizado principalmente pela presença de glândulas peltadas
alaranjadas que cobrem as folhas e inflorescências e vagens aladas com o núcleo
seminífero recoberto por espinhos. O termo Centrolobium deriva do grego, Kreton:
esporão e Lobium: vagens; lóbulo revestido de espinhos semelhantes a esporas; o
termo espora relaciona-se ao espinho presente na base da ala da sâmara (Figura 1).
Figura 1 – Sâmara: fruto alado de Pau-rainha (C. paraense) recoberto de espinhos.
Entre os indígenas da Amazônia, o Pau-rainha (Figura 2), é conhecido por Myrá
kuatiar (Haverroth, 2005). Expressão que significa pau manchado – provavelmente
referindo-se à resina avermelhada produzida quando a casca é cortada (Kaminski,
2004). No idioma Macuxi é denominado Katan’ye, de acordo com o professor deste
idioma da comunidade Guariba da T.I. Araçá (Professor César Wapixana, comunicação
oral, 2009).
Apresenta os seguintes nomes populares: Pau-rainha (Brasil); Tejeyeque, Tarara
Amarilla (Bolívia); Arariba, Guayacan Hobo (Colômbia); Amarillo, Amarillo de
Guayaquil (Equador e Panamá); Balaústre (Venezuela); Redwood ou Kartang (Guiana);
e Canary wood, Porucupine wood ou Zebra wood (EUA) (Kaminski, 2004).
Miller, R. P.
Pedreira, J.L.
A
B
Figura 2 – A) árvore de Pau-rainha aos 4 anos de idade na capoeira e B) madeira de Pau-rainha
para uso em construção na comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR.
O Pau-rainha ocorre
re naturalmente desde o Panamá, Equador, Venezuela,
Colômbia, Guianas, Suriname, até o extremo norte do Brasil (Figura 3), onde ocorre
somente noss Estados do Pará e Roraima. Em Roraima, ocorre em regiões de baixas
elevações, em solos ácidos e com fertilidade variada e é característico das ilhas de
mata daa savana, das zonas de transição e da floresta ombrófila densa (Kaminski,
2004).
Figura 3 – Distribuição
tribuição geográfica de Centrolobium paraense.. (Imagem: Google Earth, 2010).
As árvores ocorrem no interior ou nas bordas da mata, podem atingir alturas de
30,0 m com diâmetros de até 1,20 m, a coloração da madeira varia de branco-creme
branco
a
amarela (Kaminski,i, 2004). É possível perceber em campo que a coloração da madeira
pode chegar ao vermelho. Alguns indígenas relatam que a cor da madeira varia do
amarelo ao vermelho de acordo com a variedade de Pau-rainha.
Pau rainha. Assim, consideram
que existe mais de um tipo de Pau-rainha,
P rainha, sendo o de madeira clara/amarela mais
mole (menos denso) e o de madeira vermelha o mais duro (mais denso) e resistente (à
ataque de insetos e patógenos).
Em áreas alteradas, a espécie pode ser encontrada formando maciços e as
plantas exibem uma arquitetura característica, com troncos retos e cilíndricos com
copa pequena e arredondada. Em áreas de floresta desmatada, em processo de
regeneração, o Pau-rainha
rainha é apontado como uma das primeiras espécies a se
estabelecer, sugerindo ser uma espécie pioneira
pioneira ou secundária inicial, fundamental
para a re-colonização
colonização de áreas alteradas onde a vegetação original foi suprimida
(Kaminski, 2004).
É uma espécie heliófita, que necessita de exposição à luz solar para realizar os
eventos do ciclo reprodutivo, sendo as plântulas e os indivíduos jovens encontrados
somente na borda da mata ou em áreas desmatadas (Kaminski, 2004). O
florescimento (Figura 4) ocorre durante o período das chuvas; o amadurecimento dos
frutos se dá no período da seca (Kaminski, 2004).
Figura 4 – Inflorescência de Pau-rainha (C. paraense) em área de capoeira na comunidade
Mutamba, Terra Indígena Araçá, RR. Julho/2008.
A polinização das espécies do gênero Centrolobium é feita por insetos
(entomofilia), realizada por abelhas, e a dispersão dos frutos é pelo vento
(anemocoria). A madeira de Pau-rainha não é resistente ao fogo; entretanto, a casca
lenhosa que recobre as sementes pode funcionar como uma forma de resistência ao
fogo e ser responsável pelo surgimento de plântulas de Pau-rainha em grande número
após a queima de uma área (Kaminski, 2004).
O Pau-rainha é um recurso madeireiro de uso tradicional das populações
indígenas da região (PPTAL, 2007). Na T.I. Araçá, as ilhas de floresta representam 20%
da superfície e ocorrem em um relevo relativamente plano e de fácil acesso por
estradas na T.I. Em contraste, em muitas T.I.s da região do Lavrado, o Pau-rainha
ocorre em serras pedregosas e de difícil acesso (Pinho, 2008a). Assim, além do uso
local, o Pau-rainha da T.I. Araçá é solicitado por outras comunidades menos
favorecidas com recursos florestais, aumentando ainda mais a pressão sobre esta
espécie (Pinho, 2008a).
Os usos mais comuns são: combustível, devido ao alto poder calorífico de sua
madeira; construção de casas; como planta medicinal; fabricação de móveis e
artesanato (como pontas de flechas utilizadas na Parixara); cavacos (utilizados como
cobertura para casa), estacas, cabos para ferramentas e extração de corante
avermelhado ideal para tingir e produzir tintas (Kaminski, 2004).
É uma espécie ameaçada pela exploração madeireira na Amazônia e, por isso, é
necessária a adoção de medidas que protejam e promovam a espécie como a
incorporação em sistemas agroflorestais (tal o cultivo de rebrotas nas roças já
realizado pelos indígenas), a utilização da espécie em programas de recuperação de
áreas degradadas e reposição em áreas de ocorrência natural. Estas ações são
importantes para a preservação e conservação da diversidade da espécie.
CAPÍTULO 1
O conhecimento popular sobre Pau-rainha
Pau
(Centrolobium
Centrolobium paraense Tul. Fabaceae) e as implicações para o seu manejo nas “ilhas de matas” na Terra
Indígena Araçá, Roraima
As informações para este estudo foram obtidas pela vivência nas comunidades,
entrevistas aos moradores e pesquisa em material bibliográfico.
b
Entrevistei 26 pessoas em três
comunidades: Mutamba, 11 pessoas;
Guariba, 8 pessoas e Araçá, 7 pessoas.
Dessas pessoas, a maioria sabe fazer roças
e deixa o pau-rainha
rainha rebrotar nos roçados,
ou porque percebe que tem pouco nas
matas ou porque
ue já é um costume.
Tabela 1 - Pessoas que tem o conhecimento prático sobre roças e que deixam rebrotas nos
roçados da Terra Indígena Araçá, Roraima.
Sim
Não
TOTAL
Sabe fazer roça
22
4
26
Cultiva rebrotas
18
8
26
Os usos mais citados para o Pau-rainha foram a construção de casas, construção
de cercados e uso de lenha. Foi interessante que apenas uma pessoa citou um uso
para o pau-rainha
rainha que não estava relacionado a madeira, que foi o uso medicinal. Por
meio da pesquisa, descobri outros usos que não foram citados nas entrevistas:
• consumo das vagens verdes, cruas ou assadas; realizado por indígenas do sul do
Equador (Van den Eynden et al., 2003);
• uso como corante de cor vermelha;
• uso como cavacos (Kaminski, 2004);
2004)
• uso como purificador da
da água ; realizado por indígenas na Colômbia (Sánchez, 2004).
A lista com os 34 usos citados durante as entrevistas segue na Tabela 2.
Tabela 2 - Itens produzidos a partir do Pau-rainha (Centrolobium paraense) na Terra Indígena
Araçá, Roraima.
ITEM
Artefato de arte
Brincos
Cerca
Curral
Estaca de cerca
Haste de cerca
Canteiro
Lenha
Casa
Caibro
Estaca de casa
Telhado
Travessa
Esteio
Linha
Jiral
Móvel
Mesa
Banco
Poste
Prancha
Madeira roliça
Madeira fina
Cabo de machado
Tábua
Talheres
Palheta
Remo para farinha
Caixa
Prensa de mandioca
Remo para canoa
Tabuleta de linha de pescado
O tempo médio que uma casa construída com a estrutura de Pau-rainha dura é
mais ou menos 20 anos. A maioria das pessoas acredita que a madeira de pau-rainha
pode ser tirada do mato em qualquer época, de acordo com a sua necessidade. Mas
existem pessoas que acreditam que dependendo da época, a madeira do pau-rainha
pode ser melhor ou pior. Muita gente também não faz tratamentos na madeira para
ela durar mais, uma vez que o pau-rainha é considerado uma madeira que dura muito
naturalmente. Quem trata a madeira apenas descasca e seca após o corte
Muitas pessoas deixam o pau-rainha se criar sozinho no mato, mas algumas
pessoas tomam alguns cuidados, praticando algumas atividades que tem como
finalidade melhorar os cultivos, sejam as plantas da roça ou o pau-rainha.Veja a
Tabela 3.
Tabela 3. Práticas silviculturais e suas finalidades relatadas pelos indígenas que manejam Paurainha nas roças e capoeiras na Terra Indígena Araçá, RR.
ENTREVISTADO
FINALIDADE
PRÁTICAS
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11 12
Total
2
Fogo
Aceirar
Desenvolver
Amarrar
caídas
Fogo,
desenvolver
Capinar
Proteger do gado
Cercar
1
Desenvolver
Cortar cipós
3
Desenvolver
Desbastar
1
Adubar
Juntar folhas
1
Fiscalização,
fogo
Observar
Desenvolver
Selecionar rebrotas
1
rebrotas
4
2
Total
6
2
2
2
2
1
3
2
1
1
2
2
1
As atividades de coletar sementes e retirar madeira às vezes acontecem nas
mesmas ilhas de mata. Isso significa que essas ilhas tem uma pressão de uso muito
grande e que o pau-rainha ali pode acabar com rapidez se não forem tomadas
algumas atitudes. No mapa a seguir, nas ilhas de mata circuladas ocorre a coleta de
sementes e onde tem duas barras ocorre a extração de madeira. Os números
próximos as ilhas de mata se referem ao número de pessoas que coleta sementes e ao
número de pessoas que retiram madeira dessas ilhas.
Etnomapa – Representação das ilhas de mata onde ocorre a coleta de sementes (circulada) e a
extração de madeira (riscada) e o número de coletores de sementes e extrativistas da
madeira.
O gráfico a seguir, mostra o que as pessoas pensam sobre a quantidade de paupau
rainha que existe em suas comunidades.
A Tabela 4 mostra as variedades de pau-rainha
pau rainha que as pessoas conseguem
identificar nas matas.
CARACTERÍSTICAS
VARIEDADE
Rachador
Entremeado
Amarela
Madeira
Casca
Racha bem (fibras na
mesma direção)
Quebra ao rachar (fibras
em várias direções)
Leve
Casca
inteira Esbranquiçada
(lisa)
Casca com canal Amarelada e
(estriada)
cacho menor
Amarelo a Mediana
vermelho
Vermelha
Dura
Matizada
Dura
Flor
Folha
com
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Quase
cinza
Conclusões
Embora a maioria das pessoas entrevistadas trabalhe em serviços que não estão
diretamente ligados ao manejo das matas, ou agricultura, a proximidade delas com
estes serviços nos permitiu chegar a algumas conclusões básicas sobre o uso e manejo
do Pau-rainha na TI Araçá:
• Embora tenham sido apontadas diversas formas de utilizar a espécie, o
principal uso da madeira de Pau-rainha é nas construções de casas e o uso da lenha.
• O manejo das rebrotas nas roças é praticado pela maioria dos entrevistados,
constituindo uma prática em desenvolvimento; pois, mesmo que haja um costume
passado entre as gerações, o principal motivo para fazê-la é a atual falta de recurso.
• O manejo realizado de rebrotas é intencional e relacionado às idas a roça para
trato das demais plantas agrícolas.
• Entre as práticas silviculturais citadas pelos entrevistados estão: aceirar,
amarrar rebrotas caídas, capinar, cercar a área, cortar cipós, desbastar ou selecionar
rebrotas, juntar folhas e observar a área e as plantas. A seleção de rebrota é a
atividade mais frequente.
• A maioria das pessoas realiza o corte da árvore ou rebrota conforme estes
atingem o tamanho da peça de madeira que necessitam.
• As ilhas de mata da comunidade Guariba são locais importantes para a
conservação do Pau-rainha na Terra Indígena Araçá, pois é nessa comunidade que se
concentram o maior número de coletores; a maior quantidade de recursos, madeira e
sementes e é uma comunidade procurada por pessoas de fora (da comunidade e da
Terra Indígena).
• Pode haver pressão seletiva sobre a diversidade da espécie, pois é possível
identificar variedades de Pau-rainha na mata mais fáceis de abater a partir de
características do seu tronco e das suas flores.
CAPÍTULO 2
Talhadia de Centrolobium paraense Tul. (Fabacea: Faboideae) em sistema
agroflorestal indígena, Terra Indígena Araçá, Roraima: avaliação de crescimento
de rebrotas
As informações para este estudo foram obtidas pela convivência nas
comunidades, pela atividade de acompanhamento do crescimento das rebrotas em
duas áreas de roçados (abertos em anos diferentes) na Ilha do Porco, Comunidade
Mutamba durante julho de 2008 a novembro de 2010. E outras pesquisas.
A seguir tem uma tabela (Tabela 1) que resume informações sobre o cultivo e o
manejo de rebrotas para ter madeira a partir de outras plantas (diferentes de paurainha) e em outras regiões.
Tabela 1 - Informações resumidas sobre a diversidade de sistemas silviculturais baseados no
manejo de rebrotas (talhadia).
PAÍS/REGIÃO
SISTEMA/ESPÉCIES
PRODUTOS
OBSERVAÇÕES
Brasil/Roraima
Sistema indígena com
enfoque no Centrolobium
paraense (Pau-rainha)
Estacas,
caibros, esteios,
lenha
Produção consorciada com plantas
agrícolas. Manejo da regeneração
natural e enriquecimento de capoeira
Brasil/Caatinga
Várias espécies
Lenha
para
cerâmicas
e
indústria
de
gesso; forragem
(rebrota) para
animais
Plantios e manejo da regeneração de
espécies nativas.
Brasil/Ceará
Mimosa
(Sabiá)
Estacas
(moirões)
Nordeste do Ceará produz 2,4 milhões
de estacas/ano
Brasil/várias
regiões
Silvicultura industrial com
Eucalyptus spp.
Madeira para
celulose
e
carvão vegetal
(para
siderúrgicas)
Plantios homogêneos, regeneração por
replantio com mudas ou reforma por
talhadia.
Japão/Kitayama
Silvicultura
com
Esteios
caibros
Plantios; regeneração por semente ou
estacas;
Cryptomeria
(Sugi)
caesalpinifolia
tradicional
e
japonica
capina, incluindo cipós, continuamente
para facilitar a poda. Quase não se faz
desbastes.
Europa medieval
Talhadia com estandartes
Quercus spp. (Carvalhos) e
outras espécies folhosas
Madeira roliça
para
construções,
cercas
Área natural manejada; Madeira colhida
no tamanho apropriado; mosaico de
habitats
Brasil/Sudeste
Talhadia
de
caixeta
(Tabebuia cassinoides)
Madeira
leve
para
lápis,
tamancos, etc.
Ocorre
em
monodominantes.
formações
A Figura a seguir apresenta em destaque uma reflexão sobre como funciona o
ciclo das roças quando existem as rebrotas na roça e em azul o ciclo das roças de
corte-e-queima (coivara).
Essa iniciativa de manejar as rebrotas de Pau-rainha
rainha na Terra Indígena
Indígen Araçá
pode ser entendido como uma ação de gestão ambiental local, em desenvolvimento e
com possibilidade de replicação em outras
outras Terras Indígenas do Lavrado.
Na T.I. Araçá, em alguns casos, as rebrotas do Pau-rainha
Pau rainha são poupadas quando
as roças são abertas para serem aproveitadas no futuro. Nesta situação, a produção
de madeira de rebrotas se inicia no momento da roça e faz parte da produção da roça,
e continua ao longo do tempo, quando a área vira capoeira nova e depois uma mata
mais antiga (capoeirão). As rebrotas seriam um produto da roça, assim como as
plantas agrícolas. O desenvolvimento da regeneração (brotos) ocorre junto ao das
outras plantas, como o milho, mamão, mandioca; até que a roça é abandonada e as
rebrotas ficam na área.
A partir disso,
so, essas plantam fazem parte da capoeira em formação, ajudando a
criar níveis de alturas de plantas na área (estratificar) e enriquecer
enriquece a área pela
produção de frutos (regeneração, atração de fauna) e folhagens (cobertura do solo e
adubação verde), até quee se realize a colheita. A extração pode ser realizada em
diferentes momentos do desenvolvimento da rebrota, ocorrendo geralmente em
função do tamanho adequado ao uso que será dado a madeira.
Os tratos silviculturais são poucos (cipós e capina) e ocorrem em função dos
tratos dados as plantas agrícolas.
Crescimento das rebrotas
É esperado que a maioria do pau-rainha
pau nha rebrote após ser cortado. Já no primeiro
mês as rebrotas nascem, em média 4 por toco, mas até 12 podem aparecer no mesmo
toco. Na área abertaa há dois anos, o número de rebrotas em um toco não interfere no
tamanho dessas rebrotas. Mas depois de 2 anos, se existirem muitas
muitas rebrotas em um
toco,, o crescimento dessas rebrotas vai ser menor.
As plantas cresceram de maneiras diferentes nas duas áreas estudadas. Na área
mais nova, o número de plantas na área aumentou em duas vezes e as rebrotas
cresceram mais que o suficiente para repor a quantidade de madeira que foi cortada
quando a roça foi aberta. Após os dois anos de manejo de rebotas, foi observado um
aumento de 10% no estoque de madeira dessa área. As árvores ainda não são grossas
gros
como as da capoeira (de 4 anos) e o estoque de madeira das rebrotas é quase metade
do estoque de madeira da capoeira. Isso é apresentado na figura a seguir.
Na área mais antiga, o crescimento das rebrotas não foi suficiente para repor a
madeira que foi cortada. Foi produzido apenas metade do estoque de madeira que
tinha antes da abertura do roçado. E foi observado que o número de plantas na área
aumentou em quatro vezes. A madeira que tem nessa área é de rebrotas muito finas
que ainda não servem para caibros,
c
por exemplo.
Remedições periódicas
Os dados do crescimento das rebrotas das duas áreas ao longo dos períodos do
estudo estão nas duas tabelas a seguir.
Área mais jovem.
ÁREA 1
Circunferência (cm)
Altura (m)
JUL
OUT
FEV
JUN
OUT JUL
2008
2009
2010
2010
Mínimo
1,5
3,0
4,3
Máximo
9,5
28,0
Média
4,6
15,8
OUT
Número de rebrotas/toco (n)
FEV
JUN
OUT
JUL
OUT
FEV
JUN
OUT
2010 2008 2009
2010
2010
2010
2008 2009 2010 2010 2010
4,2
4,3
0,08
0,10
0,08
1,70
1,20
1
0
0
0
0
27,5
26,3
29,0 2,57
9,00
9,00
11,00
10,70
6
8
6
8
7
16,8
16,2
17,8 1,25
5,08
5,90
6,07
6,25
2,1
2,5
2,2
2,5
2,3
66
93
64
86
68
Número total de rebrotas na área por período
Área mais antiga.
ÁREA 2
Circunferência (cm)
Altura (m)
Número de rebrotas (n)
JUL
FEV
JUN
OUT
JUL
FEV
JUN
OUT
JUL
FEV
JUN
OUT
2008
2010
2010
2010
2008
2010
2010
2010
2008
2010
2010
2010
2,0
3,0
3,4
3,0
0,50
0,60
1,30
1,20
1
1
1
0
Máximo 20,0
40,0
25,4
27,4
5,70
7,50
10,80
9,00
6
10
11
11
Média
13,1
13,1
13,2
2,64
4,21
5,25
5,05
2.9
3.9
4.3
4.6
66
90
98
101
Mínimo
9,0
Número total de rebrotas no período
Conclusões
•
O sistema de manejo das rebrotas dos roçados indígenas é diferente dos outros
sistemas estudados principalmente porque existe o envolvimento com as plantas da
roça.
•
O manejo das rebrotas pode resultar em maior quantidade de madeira nas áreas de
roçados.
•
As rebrotas crescem muito em altura e em circunferência, e o número de rebrotas no
toco após dois anos é semelhante ao inicial.
•
Sugere-se sejam feitos desbastes, podas e controle de cipós a partir do segundo ano
de desenvolvimento, para as rebrotas manterem o ritmo de crescimento.
CAPÍTULO 3
Características da semente e da germinação de Pau-rainha (Centrolobium paraense
Tul – Fabaceae: Faboideae) espécie florestal semidecídua do norte da Amazônia
As informações deste estudo foram obtidas por pesquisa de campo na Estação
Ecológica Maracá (ESEC Maracá, Roraima) e por pesquisa bibliográfica. Os frutos de
pau-rainha (ouriços) foram coletados na ESEC Maracá e em um trecho de mata na BR174 (RR).
Fiz medições do tamanho de 50 frutos e os valores médio, mínimo e máximo
estão na tabela a seguir.
Tabela 1 - Medidas do núcleo seminífero (parte coberta de espinhos) dos frutos de Pau-rainha
(Centrolobium paraense), coletados na ESEC Maracá, RR, no mês de fevereiro de 2010. (n = 50)
Valores
Comprimento
Largura
Espessura
------------------------mm-----------------
Peso (g)
sementes/fruto
Média
41,8
32,3
25,9
16,825
1,3
Mínimo
36,0
25,0
20,0
10,735
1,0
Máximo
49,0
36,0
32,0
25,136
3,0
Em relação ao peso total do ouriço, as sementes de Pau-rainha representam
apenas 2,5% do total, ou seja, elas são muito menores que o fruto. As sementes que
ficam armazenas mantêm uma pequena quantidade de água em seu interior (10%),
suficiente para germinarem (se forem dadas as condições necessárias) mesmo depois
de oito meses guardadas.
Tabela 2 - Resultado do teste de pureza, número de sementes por quilo e peso de mil
sementes de pau-rainha (C. paraense).
Média
Pureza (%)
2,5
Número de sementes por quilo (n)
3373
Peso de 1000 sementes (g)
297,3
Fiz um teste de germinação com esses frutos, deixando os ouriços de molho em água
por 24 horas (um dia) e 48 horas (dois dias). Esse molho não ajudou as sementes a
germinarem mais rapidamente, pelo contrário. As sementes que ficaram mais tempo no
molho demoraram mais para nascer. Deixar os frutos muito tempo de molho pode “afogar” as
sementes.
Outra tentativa de fazer o pau-rainha germinar mais rápido foi deixar novamente
alguns frutos de molho em água por 24 horas, em outros foi feito um corte lateral no fruto,
retirando o espinho (esporão), e outros frutos foram apenas semeados, sem ficar de molho ou
sem haver corte. Os frutos que foram semeados sem nenhum tratamento começaram a
germinar antes que os outros frutos. Isso mostrou que os tratamentos que eu apliquei nos
frutos não foram positivos, porque não fizeram a germinação aumentar e acabaram
atrasando o início da germinação.
Conclusões
• As sementes de Pau-rainha podem ser armazenadas e semeadas nos próximos meses.
• O pau-rainha germina pouco (até 40% dos frutos em dois meses) e demora para iniciar
a germinação após a semeadura.
• Sementes armazenadas por oito meses em condições de temperatura ambiente e em
sacos porosos (tipo ráfia) ao abrigo da chuva podem germinar após este período.
• Os tratamentos aplicados nos frutos apenas foram significativos quanto ao número de
dias após a semeadura para a primeira germinação, que foi melhor nas amostras do
controle e as que foram abertas lateralmente.
• As sementes coletadas na ESEC Maracá e na BR-174 tem características semelhantes
em relação a germinação.
APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS
2010 – Uso de rebrotas de pau-rainha (Centrolobium paraense Tul – Fabaceae:
Faboideae): uma via para a conservação local da espécie na Terra Indígena Araçá,
Roraima. 61° Congresso Nacional de Botânica. Manaus, AM. (Resumo).
2009 – Manejo do Pau-rainha (Centrolobium paraense Tul – LEGUMINOSAE) nas
roças e capoeiras da comunidade Mutamba, Terra Indígena Araçá, Roraima. VII
Congresso Brasileiro de Sistemas agroflorestais. Luziânia, GO. (Resumo
expandido).

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