modelagem computacional do pavimento ferroviário
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modelagem computacional do pavimento ferroviário
44ª RAPV – REUNIÃO ANUAL DE PAVIMENTAÇÃO E 18º ENACOR – ENCONTRO NACIONAL DE CONSERVAÇÃO RODOVIÁRIA ISSN 1807-5568 RAPv Foz do Iguaçu, PR – de 18 a 21 de Agosto de 2015 MODELAGEM COMPUTACIONAL DO PAVIMENTO FERROVIÁRIO USANDO CONCRETO ASFÁLTICO COMO ALTERNATIVA PARA A CONSTRUÇÃO DA CAMADA DE SUBLASTRO George Wilton Albuquerque Rangel1; Francisco Thiago Sacramento Aragão2; Laura Maria Goretti da Motta3 RESUMO O uso de concreto asfáltico em substituição ao solo granular na construção do sublastro ferroviário vem sendo estudado e se popularizado na Europa, Japão e nos Estados Unidos. Entre as diversas vantagens desta técnica, destacam-se a impermeabilização do subleito, aumentando a vida útil da fundação com a melhor preservação de suas características de projeto, a inexistência do fenômeno de bombeamento de finos do subleito e sublastro para o lastro, o melhor controle de espessura e declividade da camada, além da possibilidade do melhor controle tecnológico dos materiais utilizados, uma vez que na prática os ensaios em misturas asfálticas são mais completos do que os ensaios em materiais granulares para sublastro. Para avaliar diversos aspectos do pavimento ferroviário contendo mistura asfáltica no sublastro, simulações numéricas em três dimensões foram conduzidas neste trabalho usando um software comercial de elementos finitos, o ABAQUS. Nas simulações, foram variadas as espessuras e a rigidez do concreto asfáltico entre valores representativos tipicamente encontrados na literatura. Os resultados preliminares encontrados apontam para a possibilidade de execução de camadas entre 10 e 15 cm, inclusive com aumento da vida útil do pavimento e redução dos custos de manutenção, indicando a eficiência da técnica de substituição de sublastro granular por sublastro de concreto asfáltico em pavimentos ferroviários. Palavras-chave: ferrovia, sublastro, concreto asfáltico, elementos finitos ABSTRACT The use of asphalt concrete to replace the granular soil in the construction of the railway subballast has been studied and popularized in Europe, Japan and the United States. Among the many advantages of this technique, the highlights are the waterproofing of subgrade, increasing the foundation life with better preservation of its design features, the absence of fine pumping phenomenon from subgrade and subballast to the ballast, the best layer thickness and slope control and the possibility of better technological control of materials used, once practice tests on asphalt mixtures are more complete than tests on granular materials subballast. To evaluate various aspects of the track containing asphalt mixture at subballast, numerical simulations in three dimensions were conducted in this study using a commercial finite element software, ABAQUS. In the simulations, were varied the thickness and stiffness of the asphalt concrete using typically values found in the literature. Preliminary results indicate the possibility of execution layers between 10 and 15 cm, increasing the pavement life and reducing maintenance costs, indicating the efficiency of asphalt subballast instead granular subballast track. Key-words: railway, subballast, concrete asphalt, finite element 1 Doutorando e Eng. na VALEC, UFRJ/COPPE, Brasil. Tel: +55 (62) 9942-7259, e-mail: [email protected] Professor Adjunto, UFRJ/COPPE, Brasil. Tel: +55 (21) 3938-7192, e-mail: [email protected] 3 Professora Associada, UFRJ/COPPE, Brasil. Tel: +55 (21) 3938-7197, e-mail: [email protected] 2 INTRODUÇÃO Mais de 150 anos depois de inaugurada a primeira estrada de ferro para cargas comerciais no Brasil, em 1854 pelo Barão de Mauá, muitas inovações tecnológicas foram concebidas nas construções das ferrovias no país. Na via permanente, tem-se como exemplos de evolução a melhoria na resistência dos trilhos, o avanço no sistema de fixação elástica e da tecnologia do concreto, possibilitando a fabricação de dormentes em larga escala em substituição aos dormentes de madeira, ainda muito utilizados. Já em relação as camadas geotécnicas, como lastro, sublastro e subleito, pouco mudou desde meados do século XX. No Brasil, as ferrovias para cargas por eixo maiores que 300 kN continuam sendo concebidas com lastro de pedra britada, como o basalto ou gnaisse, sublastro granular geralmente de cascalho ou mistura solo-brita e subleito com as três últimas camadas de compactação a 100 % do Proctor Normal. O controle tecnológico é baseado principalmente na granulometria, CBR e grau de compactação. Assim como as demais camadas do pavimento ferroviário, o sublastro também funciona como camada estrutural, recebendo esforços oriundos do lastro, atenuando-os e retransmitindo-os para o subleito. Do ponto de vista estrutural, sua utilização torna-se importante uma vez que a distribuição das tensões na via é considerada comprometida quando a absorção da fadiga é insatisfatória, principalmente pela adição de finos no lastro. Logo, a adição do sublastro entre o lastro e o subleito melhora consideravelmente o comportamento do pavimento. A espessura do sublastro vai depender do nível de tensão máximo requerido no subleito e das propriedades intrínsecas dos materiais que compõe as camadas, geralmente variando entre 20 a 30 cm quando granular. Como demais funções do sublastro granular, pode-se mencionar o aumento da durabilidade do lastro, evitando seu contato direto com o material mais fino do subleito e o melhoramento da capacidade drenante do pavimento, evitando que a água que percola no lastro infiltre totalmente no subleito, causando problemas de fundação. O sublastro também proporciona uma plataforma de trabalho, facilitando a movimentação de maquinários ou a instalação de linhas elétricas. A utilização do sublastro de concreto asfáltico (SCA) em substituição ao sublastro granular (SG), proporciona diversas vantagens: a) redução da quantidade de agregados, face a redução da espessura da camada, minimizando problemas de distância de transporte e exploração de jazidas; b) impermeabilização do subleito, conservando propriedades de projeto por mais tempo como a umidade ótima de compactação; c) praticamente inexistência do fenômeno de bombeamento de finos do subleito ou do sublastro para o lastro, reduzindo a colmatação do lastro e assim preservando a drenagem e suas propriedades resilientes; d) possibilidade de melhor controle tecnológico da camada, uma vez que os ensaios básicos para o controle da camada asfáltica geralmente são mais avançados do que os ensaios para camadas granulares, como compressão diametral, creep, fadiga etc. Afim de analisar o comportamento estrutural do pavimento ferroviário possuindo SCA, dentro do regime elástico, foram realizadas simulações computacionais variando a espessura da camada de SCA em relação a uma camada de SG padrão, possuindo 20 cm de espessura, de forma a representar uma via permanente semelhante àquelas que atualmente estão sendo construídas no Brasil (VALEC, 2015). Espera-se assim a definição de uma espessura de SCA que corresponda à camada padrão, possibilitando a futuras pesquisas um ponto de partida para análises de custo e campo no país. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Experiências e vantagens na utilização do SCA Segundo Motta et al. (2014), as misturas asfálticas em vias férreas começaram a ser utilizadas por volta de 1960 e 1980 nos Estados Unidos da América (EUA) e Europa, sejam apenas no sublastro ou na espessura total da superestrutura ferroviária, inicialmente em túneis, pontes e cruzamentos. Para Albalat (2011), desde 1960 os japoneses vêm testando o uso de misturas asfálticas em suas vias, principalmente com o objetivo de melhorar o suporte do lastro, reduzindo a manutenção. No primeiro projeto japonês, foi construída uma camada de concreto asfáltico (CA) com 5 cm de espessura mais 15 cm de SG. Sua principal função era impermeabilizar o pavimento e assim facilitar a drenagem. Os japoneses acreditaram que isso também culminou em redução da tensão que chegava ao subleito, prevenindo a deformação e reduzindo os custos de manutenção. Conforme EAPA (2014), desde 1970 na Itália o CA vem sendo utilizado nas ferrovias de alta velocidade com sucesso. Atualmente existem mais de 1200 km de vias de alta velocidade no país, possuindo SCA com 12 cm de espessura. Como vantagens, constatou-se a menor quantidade de agregados quando comparado com as vias possuindo lajes de concreto (slab-track, geralmente de 20 cm), raras trincas e o ganho no tempo de endurecimento da massa asfáltica para liberação da camada, que é muito menor que o tempo de endurecimento do concreto. Os pontos críticos ocorreram nas regiões com concentrações de tensões, como encabeçamento de pontes e passagem em nível. Di Mino et al. (2012), seguindo os padrões italianos de construção e utilizando modelos viscoelásticos em 2D, mostraram uma redução de 40 % na tensão atuante no subleito, quando utilizado a solução de SCA com 12 cm de espessura. Tal estudo também considerou variações térmicas no pavimento entre 10 e 25 ºC, não havendo interferência significativa no deslocamento vertical no topo do trilho, que no caso ficou em torno de 3 mm. Figura 1. Linha com camada asfáltica (esquerda); Exposição do SCA (meio); Linha com SCA há 47 anos (direita) Fonte: Rose et al. (2011) e Rose e Su (2004) Já a revista Bitume (2005 e 2014), apresenta a linha de testes do TGV (trem de alta velocidade francês) possuindo SCA, construída na França em 2003. Até então a linha padrão do TGV era composta por 30 cm de lastro, sobre 20 cm de SG e 50 cm de calcário granular (Figura 2). Na via com SCA possuindo 3 km, retirou-se os 50 cm de calcário granular, inserindo-se 14 cm de SCA sobre os 20 cm de SG anteriores, gerando uma economia de 5000 m³ de material por km de via. No topo da camada de SG foi aplicado um revestimento superficial betuminoso, a uma taxa de 1,5 kg/m² com agregado fino. A camada de SCA possuía 10,7 m de largura e sobre ela também foi aplicado um revestimento superficial a uma taxa de 0,8 kg/m². Durante 4 anos a linha ficou em testes com sensores de temperatura, aceleração, pressão, deformação e deslocamentos, sendo aberta ao público em Junho de 2007. Atualmente todas as linhas do TGV são construídas com a metodologia apresentada. Figura 2. Pavimento típico do TGV antes e depois da inserção do SCA (esquerda); Camada de SCA sendo construída (direita). Fonte: Bitume (2014) Considerando a tensão vertical em uma análise possuindo lastro com 35 cm de espessura, para Ferreira e Teixeira (2012), uma camada de SCA com 12 cm de espessura equivale a uma de 30 cm de SG. O mesmo valeria para uma camada de SG com 20 cm mais uma asfáltica de 6 cm, mostrando uma equiparação não linear. A eficiência da aplicação do SCA sob a camada de lastro pode ser justificada pelo trabalho de Fang et al. (2013). Os autores simularam uma camada de mistura asfáltica com 15 cm de espessura em diversas partes do pavimento, seja sob os dormentes, sob o lastro ou sob os últimos 70 cm do aterro, a partir da base do lastro. A conclusão foi que a camada de mistura asfáltica sobre o subleito proporciona o melhor desempenho em relação ao deslocamento vertical (em torno de 2 mm), tensão no subleito e deformação na base da camada asfáltica. Ainda segundo a EAPA (2014), dentre as principais vantagens do SCA, tem-se o melhoramento da estabilidade e durabilidade da via, redução da vibração e ruído (principalmente se utilizado asfalto modificado por polímeros), redução da deformação vertical permanente e consequentemente redução da manutenção. A maior rigidez do SCA além de aumentar a rigidez total da estrutura, também proporciona uma melhor distribuição das tensões, reduzindo deteriorações e mantendo por mais tempo a geometria da via. Com uma estrutura mais rígida, haverá a redução das tensões de cisalhamento, consequentemente ocasionando menor fadiga e menor degradação das partículas do lastro. O CA também possui a capacidade de resistir a esforços de tração, fornecendo uma contribuição extra à resistência global do pavimento. Albalat (2011) alerta para a vantagem da utilização do SCA em ferrovias que atravessam regiões densamente populosas. Como a camada asfáltica atenua ruídos e vibrações, a execução de SCA pode ajudar a evitar danos em construções vizinhas, problema comum em regiões próximas às vias férreas. Segundo Bryson e Rose (2009), geralmente os agregados utilizados no SG também servem para a mistura asfáltica e quando a distância de transporte é grande, possivelmente existirá economia financeira na execução do SCA, que na maioria dos casos possui custo elevado em relação ao SG. A quantidade de agregados utilizados na mistura asfáltica chega a ser a metade, ou menos, daquela utilizada no SG. Outra vantagem do SCA é o aumento da rigidez do pavimento, reduzindo desgastes no lastro e aumentando sua vida útil. Utilizando uma extensiva quantidade de dados, uma análise de custos foi realizada por Teixeira et al. (2009). Nela, os autores afirmam que a chave da economia da utilização de SCA está na distância média de transporte (DMT) em função da quantidade de material granular economizado. Uma camada granular pode ter seu preço dobrado quando a DMT varia em torno de 80 km. No caso de um SG construído com DMT em torno de 60 a 80 km, seu custo inicial pode inclusive ser superior ao de um SCA possuindo 12 cm de espessura. Depois da distância de transporte o preço do betume fica em segundo lugar no custo do SCA. No caso estudado, existiu ainda uma economia de lastro em torno de 200 m³/km em virtude das características impermeáveis da camada de SCA, que requer menor inclinação. Conforme Rose e Anderson (2006), até 1985 custos de manutenção em determinado túnel ferroviário com problemas crônicos de acúmulo de água, que giravam em torno de $ 20.000 por ano, caíram para $ 1.000 depois da implantação de SCA, o que pagou seu custo de implantação em apenas 2 meses, inclusive reduzindo interdições da via. Em 20 anos foram economizados mais de $ 600.000, apenas com a implantação de camadas asfálticas em 2 túneis. Posteriormente o SCA também foi utilizado nos encabeçamentos de pontes e passagens em nível, com ótimos resultados. Ainda segundo Motta et al. (2014), nos EUA têm sido observados subleitos com umidade ótima preservada, mesmo em regiões onde há a possibilidade de congelamento do pavimento. Como o SCA ainda está protegido pelo lastro, o envelhecimento da mistura asfáltica é muito mais lento do que em uma rodovia. A deformação permanente e a exsudação do ligante também não são preocupantes, e o aumento de ligante na mistura ainda proporciona maior impermeabilização do subleito. Rose e Bryson (2009) compararam características de pavimentos ferroviários com SCA solicitados por cargas pesadas em pleno funcionamento nos EUA, possuindo entre 12 e 25 anos de idade. Foram obtidas 7 amostras em 4 estados federativos diferentes de forma a variar as condições climáticas e geotécnicas. As camadas asfálticas não possuíam de forma excessiva desgastes, endurecimento e deterioração por fadiga, constatado através de ensaio no reômetro de cisalhamento dinâmico (DSR) em 5 amostras, onde todas apresentaram resultados bem inferiores a 5 MPa. Em aproximadamente 10 anos, 4 de 6 amostras tiveram aumento do módulo de resiliência da mistura asfáltica. As umidades ótimas do subleito ainda possuíam valores próximos daqueles de projeto, com variação em torno de 1 %. Em 9 anos, houve pequena redução do CBR do subleito, principalmente em solos argilosos. Requerimentos para a camada de SCA Conforme EAPA (2014) apesar dos eixos ferroviários possuírem maior peso que os eixos rodoviários, a tensão aplicada pela roda do veículo ferroviário é dissipada no trilho, no dormente e no lastro, chegando à camada asfáltica com uma tensão inferior daquela encontrada no pavimento rodoviário. Em valores aproximados, uma roda com 57,5 kN provocaria no pavimento rodoviário uma tensão no topo da camada asfáltica de 0,8 MPa, enquanto no pavimento ferroviário uma roda com 112,5 kN provocaria uma tensão de 0,25 MPa. Isso corresponde a uma tensão 69 % menor em relação a uma carga 96 % maior. Utilizando uma locomotiva com carga máxima na roda de 160 kN em uma via com lastro de 20 cm de espessura, Bryson e Rose (2009) mediram no topo de uma camada de SCA com 13 cm de espessura picos de tensão entre 90 e 120 kPa. Os autores chegaram à conclusão que a camada de SCA deve possuir entre 12,5 e 15 cm de espessura, podendo atingir 20 cm em áreas onde o subleito possui baixa capacidade de suporte. Nos testes a largura utilizada foi de 3,7 m. Para a aplicação ferroviária, a percentagem de ligante na mistura asfáltica deve aumentar 0,5 % em relação a misturas dimensionadas para rodovias e a percentagem de vazios deve girar em torno de 1 a 3 %, tendo-se então uma mistura mais densa. Albalat (2011), efetuando simulações numéricas do pavimento ferroviário utilizando o modelo de Drucker-Prager para camadas granulares e propriedades visco-elásticas para a camada de SCA em uma linha simétrica com 11 dormentes, concluiu que a camada de SCA deve possuir entre 12 e 14 cm de espessura para garantir um bom comportamento teórico em termos de tensões e deslocamentos. Tal espessura poderia chegar a 9 cm caso fosse realizado um asfalto de boa performance. No entanto, aumentar a espessura da camada de SCA é mais efetivo do que aumentar o módulo de elasticidade do material. Em suas simulações, Fang et al. (2013) consideraram um módulo médio da camada asfáltica igual a 4 GPa. Os autores afirmam que este valor sofre variações conforme a temperatura, frequência de carga, tipo de mistura e do método usado para sua determinação. Rose e Su (2004) encontraram para uma mesma mistura asfáltica, um módulo de 4,8 GPa na primavera, 2,6 GPa no verão, 8,6 GPa no outono e 15,5 GPa no inverno. Ferreira e Teixeira (2012) utilizaram modelo elástico linear e consideraram o módulo da mistura asfáltica igual a 6 GPa. Segundo Bitume (2005), o módulo de rigidez do SCA utilizado nas linhas do TGV deve ser maior que 9 GPa. A resistência à fadiga a 10 ºC e 25 Hz deve ser suficiente para 110 µε a um milhão de ciclos. Variando a rigidez do subleito, Rose e Konduri (2006) encontram diferentes deformações na base do SCA. Em valores aproximados, 300 µε para um módulo de 21 MPa, 200 µε para um módulo de 82 MPa e 150 µε para um módulo de 144 MPa. O sublastro asfáltico deve ser projetado para ser durável, dada a dificuldade de manutenção. Conforme EAPA (2014), o tempo de vida da camada deve superar 50 anos, necessitando de cuidados especiais durante a execução como uma boa compactação e controle de temperatura, problemas comuns em obras. Conforme Rose et al. (2011), a compactação deve estar de 96 a 98 % da densidade máxima, seguindo o padrão Marshall. Testes de especificação devem ser realizados a cada 10.000 m³ executados e a verificação da resposta dinâmica pode ser realizado com 3 testes a cada 100 m, utilizando o Falling Weight Deflectometer (FWD). Rose et al. (2014) mostram que dependendo da rigidez do subleito, a solução de SCA pode dobrar a vida útil, chegando a triplicar, caso o SCA seja usado em conjunto com outra camada de SG. Conforme Rose e Konduri (2006), um pavimento com SCA solicitado por uma roda de 162 kN, possuindo um subleito de módulo em torno de 21 MPa, resultaria em uma vida de serviço em torno de 13 anos. Tal tempo de vida aumentaria para 27 anos com um módulo de 82 MPa e 45 anos para um módulo de 124 MPa. Programas computacionais para a simulação de pavimentos ferroviários Dentre alguns programas específicos para a simulação do pavimento ferroviário, conforme Rose et al. (2014) e Silva (2002), pode-se mencionar o FEART de 1972, GEOTRACK de 1978, ILLITRACK de 1979, KENTRACK de 1984 e o FERROVIA de 1994. A maioria deles foi desenvolvido com base em outros programas já existentes, utilizando o método dos elementos finitos, em uma época onde o avanço tecnológico restringia a geração de uma malha mais complexa. Por serem compatíveis apenas com plataforma MS-DOS, sua utilização atual pode ficar restrita à incompatibilidade do sistema operacional, fazendo com que os programas caiam em desuso. Outro problema encontrado por quem utiliza tais programas é a ausência de manuais específicos, suporte técnico, falta de atualização e uma comunidade forte, onde dúvidas poderiam ser compartilhadas e resolvidas. Por isso, programas mais modernos, genéricos e com uma gama enorme de opções e ferramentas para a simulação do comportamento de materiais estão cada vez mais populares, com evidência para o ANSYS e o ABAQUS, este último utilizado nessa pesquisa. Apesar dos programas atuais serem considerados poderosas ferramentas genéricas, softwares mais antigos ainda têm sua importância, pois como estão consolidados seus resultados servem de parâmetro para corroborar com as simulações realizadas em programas mais recentes. No caso específico do KENTRACK, desenvolvido para simulações do pavimento ferroviário com misturas asfálticas e utilizado com frequência até os dias atuais, possui atualização recente para a versão 4, divulgada no artigo de Rose et al. (2014) e Liu et al. (2014). O KENTRACK pode ser utilizado para simular pavimentos totalmente granulares, com SCA ou com SCA e SG. Considera comportamento linear para o subleito e sublastro. Já para o lastro, considera comportamento linear apenas quando envelhecido, devido a sua compactação. O lastro novo possui comportamento não linear e sua curva segue o modelo k-θ de solos granulares para a determinação do módulo de resiliência. A determinação do módulo dinâmico da mistura asfáltica segue a metodologia Superpave. O cálculo das tensões e deformações no pavimento segue a teoria de Burmister. Há também a possibilidade de análise de danos, seja pela tensão de compressão vertical no subleito, equação (1), ou pela deformação de tração na base do sublastro asfáltico, equação (2), ambas com base no número de ciclos de carga (Liu et al., 2014). (1) Onde, = número de repetições permitidas no subleito; = tensão de compressão no topo do subleito (psi); = módulo do subleito (psi). (2) Onde, = número de repetições permitidas no SCA; = tensão de tração horizontal na base do SCA; = módulo do SCA (psi). As equações (1) e (2) foram desenvolvidas para pavimentos rodoviários, com condições mais severas que no pavimento ferroviário. Por esse motivo sua utilização para previsão do tempo de vida pode resultar em valores conservadores. METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO Para a análise do comportamento do SCA em substituição ao SG, foram realizadas simulações computacionais utilizando o método dos elementos finitos no software comercial ABAQUS 6.14. Ambos os sublastros, SCA ou SG, foram considerados individualmente, não sendo simulados de forma conjunta. Nas propriedades das camadas do pavimento ferroviário, considerouse o exposto na Tabela 1. Tabela 1. Propriedades das camadas do pavimento ferroviário simulado Módulo de Coeficiente de Camada Geometria Principal elasticidade Poisson 2 trilhos 210 GPa 0,3 UIC60 22 placas de apoio metálicas 205 GPa 0,3 2 x 18 x 42,5 cm 11 dormentes de madeira 13 GPa 0,3 18 x 25 x 280 cm Lastro granular 130 MPa 0,2 30 cm Sublastro granular 200 MPa 0,3 20 cm Sublastro asfáltico 3, 6 ou 9 GPa 0,35 5; 7,5; 10; 12,5; 15 cm Subleito 80 MPa 0,3 5m Elementos finitos 21528 704 3090 14306 9458 9458 236450 A seção transversal do trilho foi reproduzida com aproximação real em software CAD, seguindo as normas da VALEC (2015). As mesmas normas foram seguidas para a determinação das dimensões da placa de apoio. O módulo de elasticidade e as dimensões do dormente de madeira seguiram a ABNT NBR 7511 (2013), considerando bitola larga de 1,6 m e espaçamento de 60 cm. As propriedades mecânicas lineares do lastro, sublastro e subleito seguiram àquelas utilizadas por Ferreira e Teixeira (2012), de forma que o módulo de 80 MPa do subleito remete à qualidade mínima necessária para este ser considerado de boa capacidade. Decidiu-se manter o coeficiente de Poisson do CA igual a 0,35, uma vez que para este parâmetro Motta et al. (2014) não encontraram interferência significativa nos resultados de suas simulações quando o variaram de 0,25 a 0,45. O mesmo valor do coeficiente de Poisson foi utilizado por Fang et al. (2013). Mesmo havendo alteração da espessura do sublastro, este sempre possuiu o mesmo número de elementos finitos, sempre havendo dois elementos em longo da sua espessura, Figura 3. Figura 3. Pavimento completo simulado (esquerda); Sublastro padrão (direita) 1,26 140 130 1,24 120 1,22 110 100 50000 150000 250000 Elementos Tensão Deslocamento 1,20 350000 1,3 131 1,28 130 129 1,26 128 1,24 127 1,22 126 125 210000 225000 240000 Elementos Tensão 255000 Deslocamento 1,2 270000 70 1,2 69 1,0 68 0,8 0,6 67 0,4 66 0,2 65 0,0 265000 270000 275000 280000 285000 290000 Elementos Tensão Desl. no topo do sublastro (mm) 150 132 Tensão normal no sublastro (kPa) 1,28 Desl. no topo do sublastro (mm) 1,30 160 Tensão normal no sublastro (kPa) 170 Desl. no topo do sublastro (mm) Tensão normal no sublastro (kPa) A fim de obter maior confiabilidade dos resultados, para a determinação da malha a ser utilizada nas análises paramétricas efetuou-se estudo de convergência (Figura 4), onde variou-se a quantidade de elementos de cada uma das camadas do pavimento até o momento em que não ocorresse variações significativas de tensão e deslocamento em regiões críticas previamente determinadas, com maior discretização da malha na região central, onde o carregamento foi aplicado e consequentemente onde haveriam as maiores magnitudes de valores. As variações das tensões e deslocamentos foram avaliadas no topo da camada de sublastro. Primeiramente apenas com bloco carregado, seguido do bloco mais a placa de apoio e finalmente inserido o trilho, o que explica a redução das tensões e deslocamentos. Procurou-se também a otimização do tipo de elemento finito, sendo utilizado para as placas de apoio o elemento hexahedral C3D8R e para o restante do modelo o elemento wedge C3D6. Deslocamento Figura 4. Estudo de convergência: no bloco (esquerda); bloco mais placa de apoio (centro); bloco mais placa de apoio mais trilho (direita) O subleito, sublastro, lastro e dormentes formaram um mesmo bloco de elementos finitos, com nós compartilhados entre as camadas, o que aumentou de forma significativa o tempo de simulação. As placas de apoio e os trilhos são conjuntos de elementos individuais, ligados entre si ao bloco principal por propriedades de contato específicas do software utilizado. Assim, o trilho foi ligado ao dormente por intermédio da placa de apoio, considerando na parte superior contato perfeito em toda a área do patim do trilho, e na parte inferior contato perfeito em toda a área da placa de apoio sobre o dormente, simulando o grampo de fixação. Essa definição foi estudada previamente pelos autores em relação a uma mola, condição muito utilizada por diversos autores e que simula a fixação. O dormente foi considerado perfeitamente aderido ao lastro, não sendo aplicado critério específico na interface entre esses elementos. Conforme estudos realizados por Ferreira e Teixeira (2012), a consideração de fricção resulta em valores aproximados daqueles quando considerado a adesão perfeita, podendo variar até 10 kPa de diferença na compressão vertical no topo do lastro, o que não é de grande significância dada as incertezas do pavimento ferroviário real. A tensão tende a igualar às demais considerações no topo do subleito. Para todo o modelo foi considerado comportamento elástico linear, de forma que não há diferença de resultados entre diferentes curvas de carga. Logo, um carregamento crescente até 160 kN no intervalo de 1 s foi aplicado no topo de cada trilho, no eixo que passa no centro da placa de apoio e do dormente central, totalizando 320 kN de carga por eixo, simulando uma ferrovia de carga pesada. Para as condições de contorno foram restringidos os deslocamentos nos limites do pavimento simulado, conforme eixo de referência, em apenas uma direção, exceto na parte superior. RESULTADOS Conforme pode ser observado na Figura 5, a maior rigidez do SCA proporciona um menor deslocamento vertical no topo do trilho, chegando a ser 12,4 % menor quando comparado o SG padrão com o SCA de 15 cm de espessura e módulo de 9 GPa, a condição extrema simulada. Já a tração máxima no trilho tem uma redução de aproximadamente 12 % na mesma condição. Figura 5. Deslocamento vertical no topo do trilho (esquerda), para SG = 1,21 mm; Tração no trilho no sentido longitudinal, para SG = 48,12 MPa (direita) A maior variação da tensão vertical na placa de apoio ocorreu na utilização de SCA com 10 cm de espessura, Figura 6. Nas demais espessuras as tensões foram equivalentes ao SG convencional. Compressão vertical na placa de apoio (MPa) 4,05 4,00 3,95 3,90 3,85 3,80 3,75 3,70 3,65 3,60 3,55 3000 4000 SCA 5 cm 5000 6000 7000 Módulo de elasticidade (MPa) SCA 7,5 cm SCA 10 cm 8000 SCA 12,5 cm 9000 SCA 15 cm Figura 6. Tensão vertical no topo da placa de apoio, para SG = 4,06 MPa Compressão vertical no topo do dormente (MPa) 1,32 1,31 1,30 1,29 1,28 1,27 3000 4000 SCA 5 cm 5000 6000 7000 Módulo de elasticidade (MPa) SCA 7,5 cm SCA 10 cm SCA 12,5 cm 8000 SCA 15 cm 9000 Tração no dormente, sentido longitudinal, parte inferior sob apoio do trilho (MPa) Nos dormentes as variações de tensões foram consideradas insignificantes, Figura 7, considerando a resistência usual do elemento. Na tração, com a utilização de SCA, apesar de todas as tensões estarem inferiores daquela com a utilização de SG, a maior variação foi de 90 kPa com SCA de 5 cm de espessura. Na compressão a maior variação foi de 25 kPa para SCA com 15 cm de espessura, mostrando que quanto mais rígida é a base, maiores as tensões normais nas camadas superiores. Todos os valores de tensão são suportados pela madeira. 2,38 2,37 2,36 2,35 2,34 2,33 3000 SCA 5 cm 4000 5000 6000 7000 Módulo de elasticidade (MPa) SCA 7,5 cm SCA 10 cm SCA 12,5 cm 8000 9000 SCA 15 cm Figura 7. Tensão vertical máxima no topo do dormente (esquerda), para SG = 1,29 MPa; Tração máxima no dormente no sentido longitudinal e parte inferior, para SG = 2,42 MPa (direita) As maiores tensões verticais no lastro foram obtidas para as camadas de SCA mais rígidas e espessas, com maior influência da rigidez nas camadas mais espessas, conforme observa-se a inclinação das curvas da Figura 8. Em lastros de má qualidade, com probabilidade de quebra, o aumento da tensão vertical pode se tornar um problema. Em pavimentos ferroviários com SCA deve-se ter uma atenção especial com o lastro. A AREMA (2013) define como limite prático de tensão no topo do lastro 400 kPa. Compressão vertical no topo do lastro (kPa) 166 164 162 160 158 156 154 152 150 148 146 3000 4000 SCA 5 cm 5000 6000 7000 Módulo de elasticidade (MPa) SCA 7,5 cm SCA 10 cm SCA 12,5 cm 8000 9000 SCA 15 cm Figura 8. Tensão vertical máxima no topo do lastro, para SG = 150,46 kPa Todas as tensões verticais no topo do sublastro foram maiores quando utilizado SCA, com grande influência do aumento da rigidez da camada. Nota-se também que tensão na mistura asfáltica é mais sensível ao aumento da rigidez do que do aumento da espessura (Figura 9). Compressão vertical no topo do sublastro (kPa) 250 240 230 220 210 200 190 180 170 160 150 140 130 120 110 3000 4000 SCA 5 cm 5000 6000 7000 Módulo de elasticidade (MPa) SCA 7,5 cm SCA 10 cm SCA 12,5 cm 8000 9000 SCA 15 cm Figura 9. Tensão vertical máxima no topo do sublastro, para SG = 68,62 kPa No caso do subleito, o aumento da espessura da camada de SCA é mais relevante do que o aumento da sua rigidez. Conforme Figura 10, considerando um módulo de 6 GPa, o aumento de 10 cm para 15 cm na espessura da camada de SCA reduziu a tensão vertical máxima no subleito em torno de 13,7 %, enquanto o aumento do módulo de elasticidade de 6 GPa para 9 GPa no SCA com 10 cm reduziu a tensão no subleito em 3,5 %. Compressão vertical no topo do subleito (kPa) 53 51 49 47 45 43 41 39 37 35 3000 4000 SCA 5 cm 5000 6000 7000 Módulo de elasticidade (MPa) SCA 7,5 cm SCA 10 cm SCA 12,5 cm 8000 9000 SCA 15 cm Figura 10. Tensão vertical máxima no topo do subleito, para SG = 46,37 kPa Apesar da distribuição das pressões atuantes entre as camadas, tem-se situações em que a tensão no sublastro ultrapassa a tensão no lastro. No entanto, a tensão que atua no pavimento não pode ser confundida com o estado de tensão em que se encontra o material. A grande rigidez da camada de SCA multiplicada pela deformação em dado ponto da camada (lei de Hooke) resultará em uma maior tensão, sendo essa realmente experimentada pelo material e expressa no gráfico da Figura 11, com maior detalhamento na Figura 12. Em relação ao SG, verifica-se redução de tensão no topo do subleito para camadas de SCA acima de 10 cm de espessura e módulo de elasticidade maiores que 3 GPa. A redução foi de 9,7 % para camadas de 10 cm de espessura e 9 GPa de módulo, e 13,1 % para camadas com 15 cm e módulo de 3 GPa. Aumentando o módulo da camada de 15 cm para 9 GPa a redução da tensão vertical aumentou para 23,3 %. Compressão vertical no topo da camada (MPa) 4,00 Sublastro: 3,60 3,20 2,80 2,40 2,00 1,60 1,20 0,80 0,40 0,00 Placa de apoio Dormente Lastro Sublastro Subleito 1 4,06 1,29 0,15 0,07 0,05 2 4,02 1,27 0,15 0,11 0,05 3 4,01 1,27 0,15 0,16 0,05 4 4,00 1,27 0,15 0,20 0,05 5 4,01 1,28 0,15 0,12 0,05 6 4,00 1,28 0,15 0,18 0,05 7 3,99 1,28 0,15 0,22 0,05 8 3,58 1,29 0,15 0,13 0,05 9 3,57 1,29 0,16 0,19 0,04 10 3,57 1,29 0,16 0,24 0,04 11 3,99 1,29 0,16 0,14 0,04 12 3,98 1,30 0,16 0,19 0,04 13 3,98 1,30 0,16 0,24 0,04 14 3,99 1,30 0,16 0,14 0,04 15 3,94 1,31 0,16 0,20 0,04 16 3,97 1,31 0,17 0,25 0,04 1 Granular, 20 cm, E = 200 MPa 2 Asfalto, 5 cm, E = 3 GPa 3 Asfalto, 5 cm, E = 6 GPa 4 Asfalto, 5 cm, E = 9 GPa 5 Asfalto, 7,5 cm, E = 3 GPa 6 Asfalto, 7,5 cm, E = 6 GPa 7 Asfalto, 7,5 cm, E = 9 GPa 8 Asfalto, 10 cm, E = 3 GPa 9 Asfalto, 10 cm, E = 6 GPa 10 Asfalto, 10 cm, E = 9 GPa 11 Asfalto, 12,5 cm, E = 3 GPa 12 Asfalto, 12,5 cm, E = 6 GPa 13 Asfalto, 12,5 cm, E = 9 GPa 14 Asfalto, 15 cm, E = 3 GPa 15 Asfalto, 15 cm, E = 6 GPa 16 Asfalto, 15 cm, E = 9 GPa Figura 11. Tensão vertical no topo das camadas até a placa de apoio 260 Compressão vertical no topo da camada (kPa) 240 220 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Sublastro: 1 Granular, 20 cm, E = 200 MPa 2 Asfalto, 5 cm, E = 3 GPa 3 Asfalto, 5 cm, E = 6 GPa 4 Asfalto, 5 cm, E = 9 GPa 5 Asfalto, 7,5 cm, E = 3 GPa 6 Asfalto, 7,5 cm, E = 6 GPa 7 Asfalto, 7,5 cm, E = 9 GPa 8 Asfalto, 10 cm, E = 3 GPa 9 Asfalto, 10 cm, E = 6 GPa 10 Asfalto, 10 cm, E = 9 GPa 11 Asfalto, 12,5 cm, E = 3 GPa 12 Asfalto, 12,5 cm, E = 6 GPa 13 Asfalto, 12,5 cm, E = 9 GPa 14 Asfalto, 15 cm, E = 3 GPa 15 Asfalto, 15 cm, E = 6 GPa 16 Asfalto, 15 cm, E = 9 GPa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Lastro 150 148 148 148 150 151 152 153 155 157 156 159 162 159 163 166 Sublastro 69 113 158 201 123 175 224 130 186 237 135 193 245 139 198 248 Subleito 46 52 51 50 49 47 46 46 43 42 43 40 39 40 37 36 Figura 12. Compressão vertical no topo das camadas, lastro, sublastro e subleito Conforme apresentado na Figura 13, camadas de SCA mais finas possuem maior tração em sua base e sua magnitude cresce com o aumento do módulo de elasticidade da mistura asfáltica. Para um módulo de 3 GPa, houve redução na tração de 26,7 % no aumento da espessura da camada de 5 cm para 15 cm, redução de 22,7 % para um módulo de 6 GPa e 19,7 % para um módulo de 9 GPa. Figura 13. Tração máxima na base do sublastro (esquerda); Deformação máxima no sublastro (direita) A deformação máxima no SCA diminuiu com o aumento da rigidez e com o aumento da espessura da camada. De 5 cm para 15 cm de espessura, uma variação de 31,7 %, 27,3 % e 22,9 %, respectivamente para 3 GPa, 6 GPa e 9 GPa. Percebe-se uma tendência ao equilíbrio das deformações máximas com o aumento concomitante da rigidez e espessura. Os valores de tração e deformação encontrados devem ser confrontados com ensaios reais de misturas asfálticas. Pereira (2012) realizou ensaios em diferentes misturas asfálticas dosadas pelo método Superpave com 4 % de vazios. No ensaio de resistência à tração por compressão diametral, foi obtido como menor resistência 2,3 MPa, que comparado com o maior valor de tração encontrado nesse trabalho, 0,95 MPa, constata-se que uma mistura asfáltica atenderia com folga esse quesito. No ensaio de fadiga por compressão diametral e tensão controlada, Pereira (2012) conseguiu a 25 ºC e 1 Hz, aproximadamente 10 mil ciclos de carga a 20 % da tensão de ruptura no ensaio de resistência à tração por compressão diametral. Já no ensaio de fadiga por flexão e deformação controlada a 20 ºC e 20 Hz, o mesmo número de ciclos foi obtido a 300 µε. Os módulos das misturas variaram entre 4,9 GPa, 5,5 GPa, 9,3 GPa e 10,6 GPa, obtidos no ensaio de módulo de resiliência a 25 º C e 1 Hz. O número de ciclos de carga que podem atuar no pavimento antes de atingir a sua viga de fadiga foi calculado com base nas equações (1) e (2) e é apresentado na Figura 14. Verifica-se que a espessura da camada de SCA é mais determinante que sua rigidez para a vida do pavimento. Figura 14. Número de ciclos de carga no subleito com eixo de 320 kN, SG = 8.059.004 (esquerda); Número de ciclos de carga no SCA com eixo de 320 kN (direita) CONCLUSÕES No Brasil o asfalto é produzido em várias as regiões e a grande parte dos profissionais que trabalham na construção de ferrovias acumulam experiências de obras rodoviárias, o que certamente ajudaria na execução, disseminação e aceitação da metodologia de SCA no país. A solução já está consolidada em diversas partes no mundo, melhorando a drenagem, reduzindo custos de manutenção e a exploração de material granular, tratando-se de uma solução interessante também do ponto de vista ambiental, no que se refere à exploração de jazidas naturais de agregados. Com base nos resultados apresentados de tensão no subleito (Figura 12), considerando a menor rigidez analisada de 3 GPa no CA, uma camada de 10 cm de SCA equivaleria a uma camada de 20 cm de SG, no entanto com um aumento de aproximadamente 3.500.000 ciclos de carga em sua vida útil (Figura 14). Já a camada de SCA possuindo 12,5 cm, aumentaria 6.900.000 ciclos de carga em sua vida útil, mostrando ser um custo benefício atraente. Pela experiência e estudos apresentados, recomenda-se a execução de SCA possuindo no mínimo 12,5 cm de espessura, a fim de aproveitar todas as vantagens fornecidas pelo concreto asfáltico, principalmente em regiões com subleito de baixo suporte, garantindo maior durabilidade do pavimento ferroviário. Da mesma maneira não seria recomendado a execução de SCA possuindo menos que 10 cm de espessura, restringindo o estudo de trabalhos futuros entre 10 e 15 cm de espessura. Por se tratar de uma análise elástica linear, recomenda-se em trabalhos futuros a consideração de comportamentos mais complexos dos materiais empregados, o que poderia ocasionar deformações permanentes e consequentemente resultados diferentes dos apresentados, como maiores deslocamentos no topo do trilho e redução da vida útil do pavimento. Recomenda-se também uma análise mais detalhada e comparativa do comportamento do lastro em pavimentos com e sem a solução de SCA, uma vez que o lastro representa uma camada crítica. Comparações entre resultados das simulações e resultados experimentais obtidos em trechos reais também são necessárias para a validação do modelo em território brasileiro, uma vez que as condições climáticas são diferentes daquelas já estudadas extensivamente na Europa, Japão e Estados Unidos. REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNR NBR 7511: dormentes de madeira – requisitos e métodos de ensaio. Rio de Janeiro, 2013. 24 p. Albalat, S. A.; Domingo, L. M.; Sanchis, I. V.; Herráz, J. I. R.; Segarra, A. V. Crumb rubber modified bitumen for sub-ballast layer. 9th World Congress on Railway Research, França, 2011. 9 p. American railway engineering and maintenance-of-way association (AREMA). Manual for railway engineering. Volume 1, Track. 2013. 1478 p. Bitume Info. Sous Les Rails, le Bitume. França, Novembro, 2014. 8 p. Bitume Info. Sous Les Rails, le Bitume. Nº 10. França, Outubro, 2005. 20 p. Bryson L. S.; Rose J. G. 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