Sinal verde da China para a carne bovina brasileira Soja e milho

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Sinal verde da China para a carne bovina brasileira Soja e milho
Edição 20 - Maio de 2015
Sinal verde da China para a carne bovina brasileira
O primeiro-ministro da China, Li Keqiang,
desembarcou em Brasília no dia 18 de
maio. E trouxe na bagagem a versão final do documento que as autoridades de
Pequim e de Brasília negociavam há um
ano: o protocolo sanitário.
Na prática, era o instrumento jurídico que
faltava para os pecuaristas brasileiros voltarem a vender carne bovina diretamente para os portos da China continental. O
texto prevê procedimentos para a produção e a fiscalização da carne exportada.
fiscais portuários na China, ainda faltava
publicar o protocolo sanitário.
misso de se esforçarem pelo aumento do
comércio bilateral.
Com a assinatura do ato jurídico, oito frigoríficos de carne bovina voltaram para a
lista dos autorizados por Pequim. São cinco no Estado de São Paulo. Os outros três
estão nos Estados de Goiás, Rio Grande
do Sul e Paraná. Outro frigorífico, de carne de aves, também recebeu o sinal verde para retomar as exportações.
A questão dos organismos geneticamente modificados, os OGMs, também foi
destaque na visita do premiê Li Keqiang
ao Brasil. Segundo nota divulgada pelo
MAPA, “os dois países estudam firmar
um acordo para pesquisarem, em conjunto, produtos transgênicos”.
Pequim barrava a entrada do produto
brasileiro desde 2012. O motivo era um
caso atípico de mal da vaca louca registrado no interior do Paraná – quando o
animal desenvolve, naturalmente, a doença devido à idade avançada.
A expectativa do governo brasileiro é que
esse número chegue a 26 frigoríficos até
o final de junho. Se confirmada, a medida
pode resultar no acréscimo anual de até
US$ 520 milhões nas vendas externas do
setor, segundo dados do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA).
Em julho do ano passado, o presidente chinês, Xi Jinping, anunciou o fim da
restrição durante visita ao Brasil. A notícia foi comemorada pelos pecuaristas e
pelos exportadores brasileiros. O único
problema era que, na prática, o aceno
político não era suficiente. É que, para os
Mas o premiê chinês não desembarcou
em Brasília com boas notícias apenas
para a pecuária brasileira. Os governos
dos dois países acordaram, por exemplo,
em apoiar as negociações internacionais
para a redução dos subsídios agrícolas no
mundo. Também assumiram o compro-
Outro importante resultado da visita de
Li Keqiang ao Brasil foi a decisão de trocar informações sobre as normas para
importação de organismos geneticamente modificados. Exportadores de grãos
reclamam da lentidão dos processos para
aprovação de eventos transgênicos na
China. E o problema pode piorar. É que
Pequim deve dificultar as regras para
aceitar a entrada de OGMs.
O novo regulamento já foi submetido à
consulta pública. Uma das grandes preocupações dos exportadores de grãos é
a inclusão de critérios não científicos nas
decisões dos chineses.
Soja e milho pelo Pacífico
Redução dos custos e do tempo de transporte até os portos chineses. Com esses
dois objetivos, a China pretende financiar
a construção de uma ferrovia que ligará
as regiões agrícolas do Brasil à costa peruana. Segundo nota da Presidência da
República, a obra deverá ter 4,4 mil quilômetros de extensão em território brasileiro. A ideia é que a chamada Ferrovia
Transoceânica permita o embarque de
commodities brasileiras pelos portos do
Pacífico.
tudos de viabilidade da megaferrovia em
breve.
O projeto, entretanto, não deve sair do
papel tão cedo. É que estão na coordenação do projeto, ao menos, três países.
Tampouco será barato - o preço final
pode chegar a US$ 12 bilhões, segundo
estimativas preliminares. Técnicos do
Brasil e da China devem começar os es-
Para viabilizar os investimentos em outras
obras de infraestrutura no Brasil, os governos da China e do Brasil também assinaram acordo para a criação de um fundo de
US$ 50 bilhões. A Caixa Econômica, pelo
lado brasileiro, e o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), serão os gestores
dos recursos.
Turnê pela América do Sul
A visita do premiê chinês ao continente
latino-americano não se restringiu ao Brasil. Após passar por Brasília e pelo Rio de Janeiro, Li visitou três outros países na região
– Peru, Colômbia e Chile.
Em Lima, capital do Peru, a construção da
ferrovia transoceânica também foi assunto
nas conversas entre Li Keqiang e o presidente peruano, Ollanta Humala. Ambos assinaram um memorando de entendimen-
tos que prevê o início dos estudos sobre a
viabilidade do projeto. “O acordo beneficiará o desenvolvimento não só do Peru, do
Brasil e da China – mas de toda a região”,
disse Humala para agência chinesa Xinhua.
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Informativo China
Já o premiê Li assegurou que as obras
de ligação entre o Atlântico e o Pacífico
também respeitarão o meio ambiente e
a biodiversidade da região. “A China respeitará a cultura e as florestas tropicais
da América do Sul”, disse o líder chinês.
Além do megaprojeto, o comércio entre
os dois países também esteve em pauta.
Os governos da China e do Peru assinaram acordo de livre comércio em 2010.
Dois anos depois, os chineses já eram os
principais clientes dos peruanos.
Ocorre que Lima quer incluir novos itens
na pauta de exportação para os parceiros asiáticos. Atualmente, os chamados
produtos tradicionais concentram essas
vendas. É o caso das frutas, dos vegetais
e da lula-gigante.
Apesar da busca pela diversificação, os
produtos agrícolas não devem perder a liderança das vendas peruanas para a China. “A meta é atingir US$ 25 bilhões em
dez anos”, disse Ana Deusta, da Associação dos Sindicatos de Produtos Agrários
do Peru. A representante, entretanto,
alertou que o país precisa aumentar sua
capacidade de produção agrícola.
A Colômbia foi o terceiro destino da passagem de Li Keqiang pela América do Sul.
A visita à capital Bogotá ocorreu entre os
dias 21 e 23 de maio – a primeira de um
líder chinês nos últimos trinta anos.
Li e o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, assinaram 12 acordos. E
os principais temas também foram infraestrutura e agricultura. “Queremos
comprar mais produtos agrícolas da Colômbia”, afirmou o líder chinês durante
coletiva de imprensa. Ele também destacou a intenção de importar mais café do
país sul-americano.
Bogotá e Pequim querem intensificar a
cooperação no segmento agropecuário.
Pretendem, por exemplo, incentivar parcerias entre empresários dos dois países
na produção e no comércio de bens agrícolas. A realização de eventos para promover esses produtos é outro objetivo
dos lideres chinês e colombiano.
O ministro da agricultura da Colômbia
aproveitou a vinda da comitiva chine-
sa para ressaltar o interesse na troca de
germoplasma, melhoramento genético,
produção de arroz e na promoção de investimentos.
Santiago, a capital chilena, foi o último
destino da viagem do premiê chinês à
América Latina. Os chineses também
estão de olho nos projetos de infraestrutura do governo chileno, como a construção de ferrovias e portos. Por isso, devem inaugurar, nos próximos dias, uma
filial do China Construction Bank no país
sul-americano.
A presidente do Chile, Michelle Bachelet, parabenizou o líder chinês pela possibilidade de propor um acordo de livre
comércio com os países da Cooperação
Econômica Ásia-Pacífico.
Bachelet também não poupou elogios à
iniciativa de Pequim de criar o Banco de
Investimento em Infraestrutura da Ásia.
“Uma importante alternativa para as
instituições tradicionais de empréstimo,
como o Fundo Monetário Internacional
e o Banco Mundial”, disse a presidente.
Escala chinesa na Irlanda
Dois dias antes de desembarcar no Brasil,
o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang,
também esteve na Irlanda. E a segurança
alimentar do país mais populoso do mundo foi assunto central entre o líder chinês
e o primeiro-ministro da Irlanda, Taoiseach Enda Kenny.
O resultado do encontro foi a assinatura
de um acordo de cooperação em agricultura. Durante a visita, Li Keqiang afirmou
que a demanda chinesa por alimentos
cresce em termos de variedade, qualidade e segurança alimentar. E que “a Irlanda apresenta uma indústria agropecuária
desenvolvida, com padrões de serviços
bem estabelecidos e conhecimentos
avançados em técnica e gestão”.
sas para o gigante asiático.
Do lado irlandês, a expectativa é pela
retomada das vendas de carnes para a
China. Pequim retirou o embargo que impunha às carnes do país europeu em fevereiro passado. A proibição durou quinze anos. E o motivo era a crise do mal da
vaca louca que havia atingido a pecuária
europeia no final dos anos 1990.
Em coletiva de imprensa, Li também sinalizou a possibilidade de envolver a Irlanda
em acordos com outros países. Para ele,
a Irlanda é a “porta de acesso ao restante
da Europa”. Taoiseach não desperdiçou a
oportunidade e ressaltou a disposição irlandesa em auxiliar empresas chinesas a
ingressarem no mercado europeu.
A Irlanda foi o primeiro país da União Europeia (EU) a receber sinal verde de Pequim para voltar a exportar carne. Além
da proteína animal, laticínios, bebidas e
frutos do mar também são destaques na
lista das principais exportações irlande-
Além de assinarem o acordo de cooperação em agricultura, os premiês da China e da Irlanda também manifestaram
interesse de incentivar o aumento dos
investimentos mútuos e do comércio
bilateral.
China e Rússia anunciam parceria
para a produção de grãos
Os presidentes da China, Xi Jinping, e da
Rússia, Vladmir Putin, criarão um fundo
de investimento específico para projetos de agricultura. O valor inicial será de
US$ 2 bilhões. Os líderes asiáticos anunciaram a nova parceria no dia 8 de maio,
durante as comemorações pelo término
da Segunda Guerra Mundial.
As regiões próximas à fronteira entre os
dois países serão as principais beneficiadas pelo novo fundo. “Com os novos
investimentos, russos e chineses poderão desenvolver a agricultura nas vastas
2
terras aráveis dessa região” – é o que
afirmou Kirill Dmitriev, gestor do projeto
pelo lado russo, ao jornal The Wall Street Journal.
Segundo nota oficial, os gestores pretendem atrair os principais investidores
2
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internacionais. Para convencer os novos
sócios, atrelaram os novos recursos a
outro fundo de investimento sino-russo
e ao governo da província chinesa de
Heilongjiang.
Na prática, o novo fundo agrícola faz
parte dos planos de Pequim de ampliar
as opções de fornecedores de bens agrícolas. A segurança alimentar da maior
população do planeta é um dos pilares
das políticas públicas do país.
Coincidentemente, a parceria de Pequim com os vizinhos russos ocorre
quando alguns concorrentes têm dificuldades para exportar para a China. É o
caso dos Estados Unidos. Há cinco anos,
os norte-americanos embarcavam 97%
das compras chinesas de milho. Hoje,
essa participação é de 90%.
Nos últimos anos, os chineses barraram
a entrada de diversos contêineres de
milho transgênico dos Estados Unidos.
Pequim alegava que ainda não havia
permitido a entrada de determinada
semente transgênica. O impasse levou
agricultores americanos e o fabricante
das sementes para as cortes de justiça
dos Estados Unidos.
Segundo matéria do Wall Street Journal, entretanto, as autoridades chinesas
negam qualquer intenção de reduzir a
participação dos Estados Unidos nas importações de grãos do gigante asiático.
3
Por outro lado, a Rússia responde por
1% das compras chinesas de milho e
de soja. Mas essas vendas podem aumentar. Além do fundo para incentivar
o comércio bilateral de bens agrícolas,
russos e chineses já estudam a possibilidade de criarem uma zona de livre comércio entre duas regiões agrícolas que
compartilham a fronteira entre Heilongjiang, na China, e Amur, no lado russo.
No ano passado, a agricultura também
trouxe empresários dos dois países à
mesa de negociação. E o resultado foi a
compra de 53% do capital do grupo Noble pela maior estatal chinesa do mercado de grãos, a COFCO. Negócio de U$
1,5 bilhão.
Comércio eletrônico chega à zona rural chinesa
O governo chinês vai incentivar o comércio eletrônico de bens agrícolas no país. A
estratégia é parte dos planos de Pequim
para desenvolver o interior do país, predominantemente rural. A falta de infraestrutura no campo dificulta o comércio e
eleva os custos dos produtores chineses.
O governo acredita que a integração entre os serviços de comunicação e transporte terá efeito estimulante à economia
rural.
Informativo China é elaborado
mensalmente pelo Escritório de
Representação da CNA em Pequim, China.
No dia 21, foi lançado o site Dian Dou no
Grande Salão do Povo, em Pequim. A ferramenta é o primeiro portal online de comércio construído especificamente para
os agricultores chineses. O projeto também envolve a construção de armazéns
nas localidades que utilizarem o serviço
eletrônico.
A expectativa das autoridades chinesas
é que as vendas eletrônicas reduzam em
mais de 20% os custos dos produtores
3
com maquinários, sementes, fertilizantes. Além disso, a plataforma também
deverá incentivar o financiamento e ampliar os canais de comercialização.
A plataforma Dian Dou já opera com cerca de dez mil armazéns de serviços. Segundo o jornal China Daily, as transações
online na zona rural, no geral, alcançaram
mais de 100 bilhões de yuans no ano passado. Para 2016, a meta é atingir 460 bilhões de yuans.
CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL
SGAN - Quadra 601 - Módulo K CEP: 70.830-021 Brasília/DF
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