Explorando tópicos de álgebra com o auxílio do GeoGebra

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Explorando tópicos de álgebra com o auxílio do GeoGebra
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Explorando tópicos de álgebra com o auxílio do GeoGebra
Jorge Cássio Costa Nóbriga
Universidade de Brasília-UnB e Faculdade Jesus Maria José-FAJESU
[email protected]
Luís Cláudio Lopes de Araújo
UniCEUB – Centro Universitário de Brasília
[email protected]
Resumo
Neste minicurso apresentaremos algumas sugestões de atividades que mostram a evolução da
forma de se lidar com representações de situações matemáticas fazendo uso de aspectos
históricos ligados à maneira de se resolver equações de segundo grau. Mostraremos também
como houve uma evolução significativa da Ciência a partir de Viète (1540-1603) com a
inserção de uma representação apropriada para lidar com a matemática. Apresentaremos
exemplos de atividades que exploram tópicos de álgebra através do GeoGebra. Através das
atividades, esperamos que o cursista possa perceber a importância da integração de
representações para a compreensão dos objetos matemáticos. Serão explorados exercícios que
envolvem a resolução geométrica de equações do 2º grau, solução algébrica de equação de 3º
grau e gráfico de funções polinomiais.
Palavras-chave: Álgebra, GeoGebra, Equações.
! Público alvo: Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio
Objetivos
•
Apresentar exemplos de resolução de equações com métodos geométricos através do
Geogebra;
•
Criar um “joguinho de equações” no Geogebra
•
Fomentar um debate a respeito da importância da integração das representações para a
compreensão dos conceitos matemáticos.
Justificativa
Pode-se dizer que um primeiro “postulado” da teoria das Representações Semióticas é
que não se pode ter compreensão em matemática se não se distingue um objeto de sua
representação (DUVAL, 2009). De acordo com o mesmo autor a noção de representação
pode ser vista como a forma de uma informação ser constituída, como uma “codificação da
informação”.
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[...] A especificidade das representações semióticas consiste em serem relativas a um
sistema particular de signos, a linguagem, a escritura algébrica ou os gráficos
cartesianos, e em poderem ser convertidas em representações “equivalentes” em
outro sistema semiótico, mas podendo tomar significações diferentes para o sujeito
que as utiliza. A noção de representação semiótica pressupõe, então, a consideração
de sistemas semióticos diferentes e de uma operação cognitiva de conversão das
representações de um sistema semiótico para um outro. Essa operação tem sido
primeiramente descrita como uma “mudança de forma” (DUVAL, 2009, p. 32).
Podemos exemplificar isso com a situação em que um estudante precisa resolver um
exercício em que dado um gráfico de uma função representado em um sistema cartesiano
ortogonal, tenha que escrever sua respectiva lei de formação da função. O mesmo autor diz
que fazer uso de diversas formas de representar um mesmo objeto, além da língua materna ou
das imagens, tais como tabelas, gráficos, símbolos, diagramas, escritas algébricas, esquemas,
são atividades cognitivas necessárias para a aprendizagem em matemática. A distinção entre
objeto e sua representação é difícil e gera um problema comum no processo de aprendizagem
e ensino da matemática. Para que haja compreensão do conceito é necessário que o estudante
conheça as diferentes representações, as relações entre suas representações, suas condições de
existência e saiba aplicar tal conhecimento em outros contextos.
É importante que o uso da pluralidade potencial das diversas formas de representações
semióticas não seja confundido com o objeto em questão, possibilitando uma aprendizagem
conceitual. Duval (2009, p. 14) afirma que: “toda confusão entre o objeto e sua representação
provoca, com o decorrer do tempo, uma perda de compreensão”. Caso isso aconteça, essas
representações semióticas dos objetos matemáticos seriam secundárias e extrínsecas, pois os
conhecimentos tornam-se rapidamente esquecidos fora do contexto de aprendizagem.
As mudanças nas formas de uma representação revelam ser para muitos alunos nos
diferentes níveis de ensino, muitas vezes, um processo difícil e até mesmo impossível. Como
se a compreensão de um conteúdo ficasse limitada à forma de representação. O modo como o
funcionamento do pensamento e de como o conhecimento se desenvolve está na variedade
dos tipos de signos que podem ser utilizados e não no emprego deste ou daquele tipo de signo.
Desse modo, Duval (2009) diz que os sistemas semióticos devem permitir três atividades
cognitivas inerentes a toda representação: a formação, o tratamento e a conversão.
A formação de representações é a primeira atividade. É uma forma de exprimir uma
representação mental ou evocar um objeto real. Essa formação implica na seleção do conjunto
de caracteres e determinações de um conteúdo percebido, imaginado ou já representado em
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função de possibilidades de representação próprias ao registro escolhido. As outras duas são a
sua transformabilidade em outras representações que conservam seja todo o conteúdo da
representação inicial ou uma parte desse conteúdo. A característica fundamental dos
encaminhamentos em matemática consiste nessa transformabilidade de representações
semióticas dadas ou obtidas no contexto de um problema proposto, em outras representações
semióticas (diferentemente de outros encaminhamentos científicos em física, química, etc).
Trabalhamos apenas com as representações semióticas para transformá-las em outras. Assim,
uma representação semiótica só é interessante à medida que ela pode se transformar em outra
representação, e não em função do objeto que ela representa (DUVAL, 2011, p.52).
Para poder efetuar essas transformações é preciso efetuar implícita ou explicitamente
uma ida e volta constante entre as transformações de um tipo de representação e a de outro.
Portanto, todas podem ter localmente uma função de antecipação ou de controle, sem que
possamos atribuir essas funções respectivamente às representações por montagem
de
unidades ou pela escrita de uma expressão numérica. Duval (2009) diferencia as
transformações que ocorrem dentro de um mesmo registro das transformações que ocorrem de
um registro para o outro. De acordo com ele, o tratamento é uma transformação que se efetua
no interior de um mesmo registro, aquele onde as regras de funcionamento são utilizadas. O
tratamento mobiliza apenas um registro de representação. Por exemplo, ao desenvolver a
expressão 𝑥 + 2 ! de forma que fique 𝑥 ! + 4𝑥 + 4 tem-se um exemplo da função de
tratamento no registro algébrico. Há necessidade de tratamentos diferentes para sistemas
semióticos diferentes. Por exemplo, os tratamentos para efetuar as operações 0,5 + 0,5 =
1 e
!
!
!
+ ! = 1 são diferentes. O tratamento é bastante importante para saber quando duas
representações de um mesmo registro se referem a um mesmo objeto.
A conversão é, ao contrário, uma transformação que se efetua ao passar de um registro
a outro e isso requer então a coordenação dos registros no sujeito que a efetua. Para
exemplificar, voltemos ao estudo das funções. Em geral, tal estudo necessita das seguintes
atividades cognitivas: mudança de registro da língua natural para o registro algébrico em
tabelas, mudança de registro da língua natural para o registro algébrico e explicitação do
gráfico da função em um mesmo sistema de eixos cartesianos de forma que se favoreçam
outras representações, construindo uma relação de comparação com as representações iniciais
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e estabelecendo relações entre as representações (ver figura 1).
Figura 1: Função Quadrática com 3 registros de representação semiótica
Assim, converter as representações produzidas em um sistema de representações de
outro sistema, de tal maneira que estas últimas permitam explicar outras significações
relativas ao que é representado. São exemplos de registros de representação semiótica que
permitem tais atividades a linguagem natural, as línguas simbólicas, gráficos, as figuras
geométricas, etc.
Na conversão do registro algébrico para gráfico é comum focalizar os tratamentos em
um mesmo sistema de registro, enfatizando procedimentos de técnicas algébricas, e somente
após o estudante dominar esses tratamentos realiza-se a conversão para o registro gráfico. É
preciso que o professor priorize, nas atividades a serem ensinadas, a conversão de diferentes
registros de um mesmo objeto de forma alternada e simultânea, para que fique clara a
diferença entre o objeto e sua representação. Em atividades envolvendo o estudo das funções
é comum a conversão do registro algébrico para o gráfico, mas não o contrário.
Para Duval (2009) ao separar as atividades de tratamento e as de conversão, é fácil
notar as dificuldades suscetíveis referentes ao processo de conversão e a importância de
fechamento dos registros. As questões centrais para as aprendizagens intelectuais aparecem na
possibilidade de favorecer a coordenação dos registros. E esta coordenação é simplesmente
causa e consequência da aprendizagem de um conceito. Tal coordenação tem a ver com o que
evidencia a compreensão de um conceito. Nesse sentido, é preciso que a preparação das
5
atividades para os estudantes levem em consideração as três atividades cognitivas: formação,
tratamento e conversão. Assim, neste minicurso mostraremos exemplos de atividades que
integram múltiplas representações para o ensino de álgebra.
Metodologia do minicurso
O minicurso será oferecido para 30 cursistas num laboratório de informática que contenha
pelo menos 15 computadores. Utilizaremos o software educativo GeoGebra e um data-show. O
minicurso terá duração de 3 horas, divididas em 2 dias. Os cursistas receberão um material impresso
que os auxiliará no desenvolvimento das atividades. Elas serão desenvolvidas em duplas e com o
auxílio dos ministrantes.
Atividades
Encontro
Atividades
1
Apresentar aspectos históricos que abordam diferentes formas de se resolver uma
equação quadrática.
Construir, com auxílio do GeoGebra, diferentes formas de resoluções de equações
quadráticas.
2
Explorar a ferramenta “condição para mostrar objeto” para criar “joguinhos de
equações” no Geogebra.
REFERÊNCIAS
DUVAL, R. Semiósis e Pensamento
Humano:
Registros
semióticos e
aprendizagens intelectuais. Traducao L. F LEVY; M.R.A SILVEIRA. 1. ed. São Paulo:
Livraria da Física, 2009.
DUVAL, R. Ver e Ensinar a Matemática de outra forma. Entrar no modo
matemático de pensar: os registros de representações semióticas. São Paulo: PROEM,
2011. v. 1

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