A importância da Meditação na Saúde

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A importância da Meditação na Saúde
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Formação Permanente
Pastoral da Saúde
Entre Irmãos-Diocese de Coxim -Boletim Informativo-Ano 2009- Novembro - III Série - nº 76
A importância da Meditação na Saúde
Pesquisas de instituições respeitadas do
mundo inteiro sugerem que os mais modernos antidepressivos podem, em muitos
casos, ser substituídos – ou pelo menos
complementados – por uma das mais antigas práticas do budismo: a meditação. “Há
vários estudos demonstrando que a meditação é muito útil no tratamento da depressão, da ansiedade e do stress”, afirma Sara
Lazar, neurocientista do Massachusetts
General Hospital, afiliado à Universidade
Harvard.
Nos Estados Unidos, meditar virou uma
mania. Várias escolas de medicina transformaram a meditação em disciplina. Hospitais oferecem espaços e orientação para
tranqüilizar pacientes antes de cirurgias,
pois, de acordo com pesquisas, quem medita necessita de doses menores de
anestesia.
Instrutores ensinam a técnica nas cadeias para tentar reduzir os índices de violência. Funcionários de repartições públicas e
de grandes empresas como o Google e
Hughes Aircraft interrompem o trabalho
para meditar porque, segundo consultores, isso aumenta a produtividade. Entre os
10 milhões de adeptos americanos estão
celebridades como Richard Gere,
Madonna, Goldie Hawn, o cineasta David
Lynch e políticos como AL Gore.
Dois fatores explicam a atual onda de
meditação. O primeiro é o descontentamento do homem moderno diante de uma
rotina de trabalho cada vez mais
desgastante. Meditar é uma boa oportunidade para dar um tempo, desligar, ou,
numa palavra, desacelerar. O segundo fator é o aval que a prática milenar de monges tibetanos tem recebido de gente séria
ligada à ciência ocidental. O
neuroceientista de Wisconsin-Madison,
afirma que a meditação altera as estruturas
cerebrais e muda o padrão de suas ondas,
protegendo contra a depressão, a ansiedade e os efeitos do stress.
Davidson apresentou uma pesquisa feita
com monges tibetanos sobre meditação.
Por meio de imagens de ressonância magnética, demonstrou que a intensidade das
ondas nessa região aumentava mais nos
monges que mais meditavam. “Isso indica
que, aparentemente, é possível exercitar o
cérebro da mesma maneira como exercitamos os músculos”, disse Davidson. “Quem
sabe, um dia, as pessoas praticarão educação mental como hoje se pratica educação
física.”
Outro estudo, coordenado por Sara
LAzar, de Harvard, verificou que a massa
cinzenta de quem praticava a meditação
havia cerca de oito anos era mais densa. De
acordo com esse estudo, para obter tal
efeito não era necessário passar dez horas
por dia meditando, como os tibetanos –
bastavam 40 minutos por dia, em duas
sessões. As diferenças de densidade apareciam nas áreas do cérebro responsáveis
pelo raciocínio, pela atenção e pela tomada de decisões. Sara observou também
uma redução na deterioração natural dos
neurônios provocada pelo envelhecimento. Os
cientistas suspeitam que a meditação, como o
exercício físico, possa ser uma das atividades
capazes de criar novas células cerebrais – o que,
até poucos anos atrás, era tido como impossível.
Trabalhos como os de Sara e Davidson são
inovadores por mostrar indícios concretos de que
a meditação interfere no cérebro. Unindo observações e estatística, outros cientistas também fizeram descobertas interessantes. John Teasdale,
da Universidade de Cambridge, estuda há mais de
dez anos os efeitos da meditação em pacientes
deprimidos. Seus estudos mostram que a prática
reduz pela metade o risco de recaídas da doença –
que, em geral, são cada vez mais graves. Outros
tentam medir os efeitos da técnica por meio de
exames de sangue. “Pesquisas na bioquímica da
depressão têm demonstrado que estados
depressivos são acompanhados não apenas por
uma diminuição nos níveis da substância
serotonina no cérebro, mas também por um aumento na secreção do hormônio cortisol”, afirma
Susan Andrews, psicóloga da Universidade
Harvard especializada em biopsicologia.
Problemas de saúde que freqüentemente possuem fundo emocional, como hipertensão, distúrbios gastrintestinais e dores crônicas, também podem ser amenizados com a meditação, de acordo
com algumas pesquisas. Um estudo da pesquisadora Elisa Cozasa, da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp), comprovou a redução da
ansiedade pela combinação de exercícios de meditação e respiratórios. O consultor de recursos
humanos Roberto Wong, de 57 anos, diz que
sofria com enxaquecas, dores de estômago e nas
costas. “Além de ajudar na saúde física, a meditação desenvolve a autoconfiança”, afirma.
O que torna a técnica da meditação atraente é
uma coincidência de princípios entre a filosofia
oriental e a psiquiatria moderna. Para os monges,
a meditação põe em prática um princípio filosófico – fixar-se no presente, desprender-se do passado e não alimentar preocupações inúteis sobre o
futuro. Para a psiquiatria, os distúrbios que afetam
o maior número de pacientes são caracterizados
pela insistência em remoer frustrações passadas –
caso da depressão – ou pela angústia exagerada
diante do futuro – caso da ansiedade. Em princípio, qualquer um pode aprender a meditar. Resumidamente, basta concentrar toda a atenção num
único pensamento, objeto ou som ao mesmo tempo que se relaxa o corpo.
Na descrição mais comum, meditar é “esvaziar” a mente.
Quem medita tenta aumentar cada vez mais a duração dos intervalos
entre um pensamento e outro. Só assim, segundo os praticantes, é possível
acessar por breves instantes aquilo que o escritor e médico indiano Deepak
Chopra chama de “campo do potencial puro”, momento em que a mente
parece estar totalmente limpa. O pediatra Mauro Tarandach, um dos
defensores do uso clínico da meditação no Brasil, afirma que, nesse estado,
as áreas do cérebro que controlam as emoções, o raciocínio lógico e as
funções fisiológicas mais básicas, como respiração ou digestão, formam
uma espécie de “ponte” elétrica. É esse fenômeno que explicaria, em tese,
como os monges e os faquires conseguem manipular reações do corpo
normalmente automáticas, enfrentando a fome, a dor ou o medo.
“A meditação em nada prejudica o tratamento de depressão e outros
transtornos psiquiátricos”, afirma Uriel Halbreich, diretor de pesquisas
comportamentais e professor da Universidade de Buffalo, em Nova York.
“Certamente ajuda como método de relaxamento em deprimidos e ansiosos. Mas não substitui medicação em casos graves.”
É nesse ponto que a ciência ocidental e a tradição oriental entram em
choque. A eficácia real da prática, segundo muitos especialistas, ainda tem
de ser medida em estudos mais extensos, ainda não realizados. “Nos casos
de depressão e transtorno do pânico, há medicamentos eficazes para 97%
dos casos”, diz o psiquiatra Marcio Bernick, da Universidade de São
Paulo. “Se um paciente me pergunta o que acho de meditação, digo que
aprovo. Mas, se disser que um instrutor o mandou largar o remédio, direi
que isso é irresponsável.” O psiquiatra Joel Rennó Junior, do Hospital das
Clínicas de São Paulo, considera a meditação importante para a saúde
mental, mas suspeita que parte do efeito atribuído a ela se deve a falhas dos
próprios médicos. “Há uma onda de diagnósticos errados de depressão
para quem passa simplesmente por tristeza”, diz Rennó.
Essas considerações são importantes para evitar que a meditação seja
aceita cegamente como uma crença. Embora seja uma prática comum em
várias religiões, o ato em si independe da fé – e essa é uma de suas
principais vantagens.
Qual é a principal conclusão de sua pesquisa? Por meio da meditação,
podemos intensificar os circuitos cerebrais responsáveis por regular as
emoções e a atenção. O mais importante é que o tempo de treinamento, o
número de horas praticadas ao longo da vida, influencia a magnitude da
reação.
Todos os tipos de meditação surtem o mesmo efeito no cérebro? As
diferentes técnicas provavelmente produzem diferentes alterações, isso
precisa ser estudado.
A longo prazo, a meditação pode melhorar o funcionamento das
sinapses nervosas? Praticar meditação por longos períodos parece interferir tanto na conectividade e na funcionalidade do cérebro como em sua
estrutura. Os circuitos alterados, ao que tudo indica, têm um impacto geral
no funcionamento cerebral que beneficia a saúde. Nossa pesquisa sugere
que a resposta à vacina de gripe melhora com a meditação.
Que tipos de doenças a meditação pode curar? Eu não diria que a
meditação cura. A pesquisa mostra que sua prática pode ser um complemento útil para outros tipos de tratamento. Há boas evidências de que a
meditação pode prevenir a reincidência de crises depressivas.
Psicoterapeutas usam há anos a meditação como relaxamento. Qual
a novidade? Não há nada de misterioso a respeito da meditação. O que
muda é que a maioria das pessoas não pratica o exercício cerebral tão
regularmente quanto pratica os exercícios físicos. As pessoas abandonam
qualquer exercício mental depois que se consideram curadas. É importante
persistir na prática.
Exercício de meditação básico – Foque em uma palavra, frase curta, som
ou oração; sente-se em silêncio e numa posição confortável; feche os
olhos; relaxe os músculos, dos pés à cabeça; respire devagar e naturalmente. Ao mesmo tempo, diga a sua frase, som ou palavra silenciosamente,
para você mesmo; tenham uma atitude passiva. Não se preocupe se está
indo bem. Quando outro pensamento vier à mente, retorne com calma a seu
tema de repetição; concentre-se assim por dez a vinte minutos; não se
levante imediatamente. Continue sentado e em silêncio por algum tempo,
permitindo que outros pensamentos retornem. Só então abra os olhos.
Fonte – Boletim ICAPS – Pags. 1 e 2
- Artigo extraído da Revista Época, nº 403
de Fevereiro de 2006.

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