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EMOÇÃO DE CAPA //SETEMBRO “VOU ALI SER CRIATIVO E JÁ VENHO” “Nunca vi tantos workshops de escrita criativa, cozinha criativa, pintura criativa, até a criatividade dos tempos livres! Acho ótimo que as pessoas vão aprender mas depois transportem tudo aquilo para o seu quotidiano. O desafio é sermos criativos em tudo o que fazemos.” Também não é sinónimo de infância, como se o seu apogeu acontecesse nas crianças e depois fosse necessariamente morrendo às mãos das regras dos adultos. Dora Batalim explica o dilema: “É verdade que na infância há uma espontaneidade e um começo de mundo, um olhar mais disponível e mais lavado, que permite um ver com surpresa, sem pré-conceitos. Esse olhar, muitas vezes, parece-nos tão original e diferente porque, sem o vocabulário que os adultos têm, as crianças usam as palavras que sabem, criando metáforas que nos espantam. Como a criança que viu um ovo estrelado, e não sabendo os nomes de gema ou clara, disse: ‘Olha, mamã, dá-me só as nuvens e não o sol.’ Na boca de um poeta seria uma expressão de bastante criatividade, mas para aquela criança era apenas a falta dos tais rótulos.” Ups, e então o que faz um adulto perante esta interpretação tão divertida de um ovo estrelado? Para quem imagina que a criatividade é uma qualidade espontânea, inata e frágil, a tentação de oucas vezes somos tão manter a criança para sempre na criativos como quando ignorância dos termos certos é nos pomos a discorrer enorme. Da mesma forma que os sobre o que significa adultos que são alérgicos a uma ser criativo. E contraforma diferente de ver o mundo ditórios, bem entense apressam a despejar sobre os dido. Ora decidimos mais pequenos toda a informação que é sinónimo de científica que têm acerca dos génio ora concluímos ovos. Dora Batalim recomenda que é um talento, para noutros momentos declauma via intermédia, qualquer POR ISABEL STILWELL rarmos que é um talento que pode ser estimucoisa como “wow, que lindo, palado nas crianças, mas que já não vai a tempo de de que “a criatividade se tornou uma palavra da rece mesmo um sol dentro de uma nuvem, mas acordarmos em nós mesmos. Dora Batalim co- moda, como se fosse uma espécie de resgate de queres saber como se chama?”, sem cortar a meça por ter um nome mágico, que nos faz sorrir, um viver com mais emoção”, explica. Ou seja, possibilidade de olhar segundo várias lógicas. mas quando a conhecemos temosa certeza de está um “bocadinho mal interpretada, associada Porque uma pessoa criativa, verdadeiramente que é uma das fadas que esperamos, um dia, en- a comportamentos e visuais que dão nas vistas”, criativa, explica Dora Batalim, não é infantil, mas contrar. Os olhos muito azuis e o entusiasmo diz, e o “bocadinho” parece uma forma delicada aquela que incorporou as regras e os conceitos, com que fala, dão-nos a certeza de que é a pessoa de dizer “muito”. Para se receber o epíteto de tem a informação, domina a técnica, e com toda criativo, parece assim ser apenas necessário esta bagagem ao seu serviço mantém a magia de certa para falar de criatividade. E é ela que começa por colocar um ponto de atrevermo-nos a pintar o cabelo de cor-de-rosa uma criança, mas vai muito mais longe do que ela ordem: de que criatividade falamos? Está segura e juntar ao look original um cartão de visita que na resolução dos problemas com que se confronta. nos apresente como “artistas”. E é por isso que um criativo pode ser um mateEntão, sim, estaria dada a defini- mático, um carpinteiro, um filósofo ou um coziLEIA-LHE O SEU LIVRO FAVORITO ção de criatividade. Estaria dada, nheiro, pode ter o cabelo cor de laranja ou preto O melhor livro para ler a um filho é um livro que tenha sido mas mal dada, sorri Dora Batalim. asa de corvo, pouco importa. Mas o que será, cerimportante para os pais, porque tem a carga emocional que torna a história única e especial. Mas os contos tradicionais Porque “a criatividade é um cir- tamente, é alguém que faz perguntas, põe em são fantásticos, permitem que a criança se projete neles, não cuito interno – pode muito bem causa o que lhe ensinaram e erra as vezes que for está tudo feito... Não tenha medo que a criança se assuste não estar à vista”. Alguém duvida preciso. Tudo coisas, lembra Dora Batalim, que com o lobo – o Era uma Vez marca a fronteira entre o nosso de que o advogado, no mais cin- a maior parte de nós tem medo de fazer. E é só lugar e esse outro, onde a lógica é diferente. zento dos fatos, pode ser criativo? por isso que não somos mais criativos. P 100 // SETEMBRO 2013 UM OVO ESTRELADO OU UMA NUVEM E UM SOL? A professora Dora Batalim explica que a criatividade começa na forma como olhamos o mundo. REALIZAÇÃO: DIANA BASTOS E MARINA SOUSA. FOTOGRAFIA: PEDRO BETTENCOURT. CABELOS E MAQUILHAGEM: MIGUEL CATRICA. TOP EM ALGODÃO E PELE, RAOUL, NA FASHION CLINIC. CALÇAS EM SEDA E ALGODÃO, SAPATOS EM CAMURÇA E METAL, E PULSEIRA EM RESINA, TUDO CAROLINA HERRERA. CAVALO DE BALOIÇO, TENDA HIPPIE TIPI, CARRO OLD TIMES KARE, CARRINHO DE BONECAS, ROMMIES (BONECAS PRETAS), TUDO NA LIFETIMES KIDSROOMS. A MÁXIMA AGRADECE À LIFETIMES KIDSROOMS TODAS AS FACILIDADES CONCEDIDAS. Formada em Letras, Dora Batalim é mestre em Livros e Literatura para Crianças e Jovens pela Universidade Autónoma de Barcelona, dá aulas na Escola Superior de Educadoras de Infância Maria Ulrich e coordena a pós-graduação em Livro Infantil na Universidade Católica.
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