Dor abdominal
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Dor abdominal
Gastroenterologia 3 Semiologia - GESEP DOR ABDOMINAL Dr. Joachim Graf Objetivos 1. Entender a dor, sua origem e os tipos 2. Reconhecer os padrões existentes de dor 3. Identificar os sinais e sintomas associados 4. Desenvolver raciocínio clínico com os dados obtidos 5. Reconhecer um abdome agudo Generalidades Dor em geral é de longe a queixa mais comum que leva o paciente ao médico. É manifestação inerentemente subjetiva, e sua percepção por um individuo não pode ser comparada a de outro. O limiar dessa percepção pode ser mais alto ou mais baixo, dependendo de vários fatores de ordem psicológica, educacional e cultural. A sua compreensão é componente importante no processo de diagnóstico diferencial de inúmeras doenças. No caso do abdome a compreensão da dor pode ser critica para definição do diagnóstico, e conseqüente tomada de atitude medica, que, dependendo do caso deve ser urgente e ativa, ou expectante. Quais s tipos de dor abdominal existentes? São descritos vários tipos de dor, provocadas por mecanismos distintos. Identificam-se as dores viscerais, parietais e referidas Quais os mecanismos que operam na produção da dor abdominal? Os órgãos abdominais apresentam dois tipos diferentes de percepção dolorosa: 1) através das fibras do sistema nervoso autônomo, vindo do intestino e peritônio visceral – a dor chamada visceral e 2) através de fibras do sistema nervoso central, originadas da parede abdominal, incluindo peritônio parietal e porção mesentérica do intestino delgado - a chamada dor somática ou parietal. Como se produz a dor visceral? As dores viscerais se originam de vísceras ocas que apresentam espasmos ou estiramentos; tem caráter de dor aguda, em cólica, com ataques intermitentes de dor que variam em intensidade e com intervalos sem dor, de localização indefinida, próxima a linha média, acompanhada de agitação psico-motora, náuseas, vômitos, palidez e sudorese. O paciente freqüentemente encontra algum alivio se movimentando, mexendo, agachando ou dobrando o tórax sobre o abdome, comprimindo a região, enquanto não tolera bem o repouso. As dores viscerais tendem a se irradiar para regiões que pertencem aos mesmo segmentos neurológicos do órgão acometido. Assim, os órgãos abdominais superiores, inervados pelos segmentos T6 a T8 quando doentes tendem a se manifestar na região xifoideana ou epigástrica e escapular baixa, enquanto o intestino delgado e colo direito, inervado por T9 - T10 tem expressão dolorosa na região periumbilical, e o colo esquerdo, inervado por T11-T12 se manifesta no abdome inferior. E as parietais? As dores parietais se originam primariamente do peritônio parietal incluindo parede abdominal e retroperitoneo, sendo desencadeadas a partir de qualquer forma de injuria dos tecidos; seu caráter varia desde dor surda a cortante, de forma continua, com localização circunscrita, assimétrica. O paciente procura se manter quieto, o refere piora com tosse, espirros, chacoalhos, vibrações e movimentos em geral. Como são originadas as dores referidas? A dor referida é uma sensação dolorosa superficial localizada a distancia da estrutura responsável pela mesma. Tem distribuição metamérica e e fenômeno parece se dever a convergência de impulsos doloroso viscerais e somáticos superficiais e profundos para neurônios nocioceptivos comuns localizados no corno dorsal da medula. Como a pele apresenta inervação nocioceptiva muito mais abundante do que as vísceras internas e estruturas somáticas, a representação talâmica e cortical dessas estruturas profundas é muito menor do que a do tegumento. Na interpretação do cérebro os impulsos dolorosos provenientes das estruturas mais profunda são interpretados como vindas do tegumento com conseqüente localização da dor pelo paciente neste local. Gastroenterologia São exemplos de dor referida a dor epigástrica ou periumbilical, que ocorre nas fases iniciais da apendicite aguda – dermátomo de T6 a T10, e a dor referida a no ombro direito do paciente portador de colecistite, que se deve a participação do nervo frênico na inervação nocioceptiva da vesícula biliar. Para se compreender qual ou quais os mecanismos estão operando na produção da dor é decisivo atentar-se aos atributos da dor, como início, duração, caráter, localização, irradiação, intensidade, qualidade, sintomas associados e fatores de alivio ou piora. Este é um momento critico na avaliação do paciente com dor abdominal, porque em função do entendimento que se obtém dos dados obtidos na história e no exame físico, poderá ser definido uma abordagem clínica, expectante, ou se indicar procedimento cirúrgico emergencial. Especialmente no paciente com dor abdominal aguda, o seu início, sua intensidade e os sinais e sintomas locais e gerais são de importância crucial para distinguir entre o abdome agudo cirúrgico e o clínico. Tal diferenciação pode ser difícil, tendo-se muitas vezes que discutir o caso conjuntamente entre clínico e cirurgião. O que é um abdome agudo? Abdome agudo é definido como dor abdominal severa de etiologia não definida durando várias horas, e que é considerada emergência clínica ou cirúrgica devido aos sinais e sintomas clínicos e efeitos sistêmicos, e que se não tratado evolui com piora dos sintomas e deterioração do estado geral. Quais os sintomas locais do abdome agudo? O sintoma mais importante é dor abdominal, que é o sintoma-guia, e pode ser percebido como cólica ou dor continua. O abdome agudo cirúrgico freqüentemente envolve irritação peritoneal localizada ou generalizada (peritonite) ou sinais de íleo. Os pacientes procuram se manter imóveis e evitar qualquer vibração. Pode ser observado piora da dor com as incursões respiratórias. Na condição conhecida como abdome agudo clínico a dor geralmente não é continua, o paciente não encontra posição de alivio, se contorce, e não existem sinais de irritação peritoneal. Como exemplo, a crise de colelitíase ou íleo mecânico Semiologia - GESEP Quais os sinais locais? Durante o exame físico do abdome, a ausência de ruídos hidroaéreos ou silencio abdominal é observada na peritonite, enquanto no íleo mecânico esses ruídos se tornam muito agudos. O desaparecimento da macicez hepática a percussão sugere pneumoperitôneo por perfuração de alguma víscera. Sinal importante de irritação peritoneal é a défense musculaire ou descompressão dolorosa, uma dor de curta duração porém intensidade aumentada após retirada súbita da mão que está palpando, além de dor a percussão no local de máxima irritação peritoneal. A irritação peritoneal mais intensa geralmente se observa na topografia correspondente ao órgão afetado. Com a evolução do processo e instalação de íleo terminal, a distensão intestinal determina certo relaxamento da parede abdominal, persistindo no entanto dor difusa a palpação. Quais os sinais sistêmicos? São febre, taquicardia, respiração tipo costal, vômitos, soluços, pulso filiforme, língua seca, pletora facial, fascies hipocrática (bochechas colabadas, realce nasal), parada de eliminação de gases e fezes, agitação, suores frios, hipertensão. sede aguda, desidratação. Quais as principais causas de abdome agudo cirúrgico? Incluem: 1) apendicite aguda, 2) perfuração (gástrica, duodenal, diverticulite) 3)colecistite aguda com peritonite, 4) íleo mecânico agudo por hérnia encarcerada, aderências pós operatórias, invaginações, volvulos, corpos estranhos ou obstrução biliar, hérnias umbilical, femoral e inguinal encarceradas, tumores ou estenoses inflamatórias, 5) torsões (cistos ovarianos, tumores genitais, omento), 6) ruptura de trompa de falópio com gravidez ectópica 7)traumatismo abdominal (ruptura de vísceras ocas, baço, fígado, pâncreas) 8)lesões vasculares (oclusão mesentérica, aneurisma da aorta, embolia na bifurcação da aorta) Quais as principais causas de abdome agudo clinico? Incluem pancreatite aguda, gastrite aguda, enterocolite aguda, diverticulite aguda, doença de Crohn reto-colite ulcerativa, colon irritável, colecistolitiase, hepatite aguda, congestão hepática aguda, linfadenite mesentérica, Gastroenterologia pseudo-obstrução intstinal idiopátia, croise abdominal alérgica, perihepatite aguda (síndrome de Fiz- Hugh-Curtis) Quais as causas extra-abdominais que simulam abdome agudo? Podem ser 1) retroperitoneais (rins e vias urinarias, hematoma), 2) torácicas (pneumonia, pleurites, embolia pulmonar, empiema, infarto do miocárdio, pericardite, esofagite, rutura do esôfado, espasmo do esôfago), 3) neurogênicas (neurite, neuralgias, lesões espinais, herpes zoster, tabes dorsalis), 4)metabólicas (porfirias, distúrbios endocrinológicos como feocromocitomas, hiperparatireoidismo, cetoacidose diabética), hemocromatose, hiperlipidemia 5) intoxicações (chumbo, arsênico, tálio), uremia 6) miscelânea (doenças do colágeno, reações de hipersensibilidade como doença do soro, hemólise aguda, lesões da parde abdominal como traumatismo, hemtoma, lesões do quadril como coxartrose. Bibiografia 1. Moradpour D., Bluem E.H. Abdominal pain In: Weinstein W.M.; Hawkey C.J.; Semiologia - GESEP Bosch J. Clinical Gastroenteroly and Hepatology 1aEd 2005 2. Rasslan S., Saad Jr. S., Abdome Agudo in: Coelho J.Aparelho Digestivo Clínica e Cirurgia 1990 3. Vilela Filho, O., Carneiro, D.S.D Dor in: Porto, C.C. Semiologia Medica 4ª ed, 2001
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