açúcar - JM Madeira

Transcrição

açúcar - JM Madeira
Crónica
Máquinas do Tempo,
por Bárbara Gil
Pereira
P. 2
NA RUA
A grande pedalada
de Emanuel Pombo
P. 9
O Palco e o Trono
Natacha Gonçalves
e Rómulo Coelho
Conversa com
(muito) sentido
P. 3
açúcar 05 | Suplemento que não pode ser vendido separadamente do jornal | design açúcar + lustração capa ricardo tadeu barros
talvez a revista mais
doce da madeira
um campeão
quase impossível
henrique rosa gomes
fundada 2015
05
2 | açúcar | SÁB 12 DEZ 2015
divagações de uma mente diluvianamente opípara
máquinas do tempo
“funcionário!
Um capilé CRÓNICA
Bárbara Gil Pereira
por favor! [email protected]
Célere e
com aparas
da caixa de
neve!” De repente , olho em volta e
s
percebo que as máquinas do
tempo realmente existem.
Sentimo-nos uma espécie de
de David Attenbourough atrás
de uma palmeira importada
de Marrocos. Com escaravelho e tudo. Dizem que algumas
pessoas mantêm o corte de
cabelo da década em que se
sentiram melhor consigo
próprias . Há tempos dei por
mim numa espreguiçadeira a
contemplar um senhor com
uma espécie de toupée... Es-
freguei um olho e percebi! Ele
vinha de 1976 ! Madeirense
com casa de férias na praia
das Canteras. Las Palmas,
peseta alta. O bronzeado cor
de Piz Buin com pasta de cenoura. O fato de banho tanga,
inglês despachado . Daquela
época em que casar com uma
estrangeira era logo dois nós
acima no estatuto social. Todo
ele gritava camisa Pierre
Cardin e mocassin bordeaux
mole sem meia. Também
tenho um amigo que veraneia
em 85. As fotografias de perfil
de Facebook são com Rayban
a condizer, a de capa é a de
um voo de asa delta. De 3 em
3 meses partilha as fotografias “daquele” campeonato
de windsurf e da sua mítica
Mistral. Camanel rodeado de
amigos, agora gordos do jipe,
ainda todos cheios de cabelo,
narizes com pasta de creme
protector fluorescente, barriga lisa a galar as peneirentas com os bikinis cavados. O
gordo do jipe ... Em Cascais,
onde vivi 3 anos, tinha muitos
como vizinhos. Vêm de uma
época aparentemente muito
popular para se ficar. 1998.
O gordo do jipe engordou na
cintura e na conta bancária.
Pintou as paredes de amarelo
ocre e estofou-se todo na
defunta Kilo Americano. Bebe
conhaque em copo Atlantis,
o talher Cutipol e a chávena
Vista Alegre. Amarela e azul,
pois claro. Cohiba (cinta mais
visível a 3 km debaixo de
fumo espesso), sapato de vela,
calça vermelha “Deus Pinheiro”. O 98 tem crédito com
o Sr. Joaquim, o antiquário
que lhe poliu as Chippendale. A mulher, uma dessas
peneirentas do bikini cavado,
agora também anafada. 3
filhos de nomes pomposos.
E lá vão eles, felizes no seu
gordo jipe, oblivientes que
o gordo passa os dias no
Pornhub e secretamente tem
uma paixão recalcada pela
caixa do Pingo Doce, (aquela
com as unhas de gel ). 1993
também parece ser bom ano
para se ficar. Numa onda
die young, stay pretty, fuck
the system. O cérebro fritou
sabe-se lá com que condimentos. O corpo, podemos
vê-lo com frequência rodeado
de 3 gerações abaixo. 93 já
não fala. No entanto, para
quem tem 20 anos, conhecer
a banda buédavintage dá-lhe
uma aura de mistério e o
cunho rebelde para a menina
que quer chatear o papá, que
é injusto e mau e deu-lhe um
iPhone 4!!!! Mas ainda na
semana passada, encontrei
uma pessoa que vive em 1965
mas passa férias em 1753!
Estava desgostoso porque o
criado não lhe tinha feito a
vénia ao entrar num estabelecimento comercial, a criada
de casa recusava-se a usar
farda e a dormir nos fundos e,
ainda por cima. veio com uma
conversa de direitos e férias e
segurança social. Uma comédia! Ao nível do Figaro! Que
saudades tinha da Rosa que
lhe chamava menino e em
50 anos tirou um único dia
de férias. Esta tem telemóvel
e carro. O desplante! Devia
ser era como no tempo do
Pai e da Mãe, que se fazia
dos Ilhéus à Sé a cavalo! Uma
rede vá! Para um passeio à
costa Norte. Pobre senhor, ao
que consta ficou tão desconcertado com a situação e
com a humidade, que entrou
por engano no Macdonalds
e gritou “funcionário! Um
capilé por favor! Célere e com
aparas da caixa de neve!”
De modo que , bem vistas as
coisas, o melhor é continuar
em frente. Até porque o tal
senhor foi visto há 3 dias
em 1668 numas rixas com o
Santo Ofício. Aventurou-se
mais para trás, depois da
desilusão que apanhou em
Versailles (guilhotinas, etc.),
então, peste negra e tudo, lá
foi ele porque disseram-lhe
que havia criadagem de jeito.
Mas apanharam-lhe o GPS,
acusaram-no de feitiçaria e
agora anda para lá, em ceroulas e sarilhos. Que venha
2016, aliás, porque para receber o reembolso da TAP para
trás de 1943 deve ser uma
carga de trabalhos.
a
© Martim Leitão
encontrados por Susana de Figueiredo
“S
ou natural da
Roménia, mas vivi
trinta anos em Itália.
Vim para a Madeira
por amor… Apaixonei-me por uma
madeirense, casei-me e já vivo aqui
há cinco anos. A música é tudo
para mim, é o meu estilo de vida, a
minha grande paixão. Adoro tocar
aqui na ilha, ver os sorrisos nas
caras dos turistas que passam.
Por vezes, até balançam o corpo
ao som do samba, do tango, do
blues, da bossa-nova, do jazz.
Sempre gostei de ouvir música,
comecei a tocar aos dez anos, para
grande surpresa dos meus pais,
pois ninguém na família tinha esta
inclinação. O talento é um dom de
Deus e só espero que Ele me deixe
andar por cá muito tempo, sempre
a tocar, sempre a tocar...”. a
SÁB 12 DEZ 2015 | açúcar | 3
o palco e o trono
© Martim Leitão
natacha gonçalves & rómulo coelho
edição
Cláudia Sousa
[email protected]
D
urante uma hora os convidados debateram temas da ordem do dia e refletiram sobre
a realidade madeirense.
Natacha Gonçalves (NG) - Este
percurso na política foi uma
vocação, um sonho?
Rómulo Coelho (RC) - A política nasceu pelo ‘bichinho’. O
meu pai era autarca e comecei
por acompanhá-lo. Foi sempre
um gosto que foi crescendo ao
longo dos anos, e com 15 fui
convidado para a JSD.
NG - Como é que um jovem
abraça uma coisa dessas? Com
nervosismo?
RC- Foi de facto uma descoberta. Chegar à Jota foi como chegar a um sítio onde podia dizer
aquilo que penso, expressar a
minha opinião sobre as matérias, e ter um outro lado, ver o
que as outras pessoas acham
das minhas opiniões e das minhas ações.
NG - Como é que se preenche
uma desertificação massiva dos
jovens em relação à política?
RC - A política, ao longo dos
anos, tem sido extremamente
penalizada. Algumas pessoas não têm trazido nada de
gratificante para a política e
têm, nesse sentido, afastado as
pessoas.
O mundo digital também
afasta o contacto direto com as
pessoas. Cada vez mais estamos em contacto, mas à distância. Se o político não conseguir
conquistar as pessoas fica afastado à partida. A comunicação
é extremamente importante.
NG - Se houvesse os óscares
para os melhores políticos,
quem escolheria como vencedores?
RC- Não existem pessoas imaculadas. Existem pessoas que
fazem e têm um contributo
válido para a sociedade. É preciso não esquecer que política
não é profissão, é um serviço
que prestamos à sociedade.
NG - Há alguém que tenha
influenciado o seu caminho?
RC - Aqui na Região ninguém
pode refutar que o Dr. Alberto
João Jardim fez um trabalho
excecional. Teve aspetos positivos e negativos, mas, acima de
tudo, tinha uma estratégia para
a Madeira e conduziu-a nesse
sentido.
Acho que saiu tarde do espectro político e as pessoas estão a
cobrar os anos maus e estão a
esquecer-se das coisas boas.
NG - Na política o ‘One Man
Show’ não é viável?
RC - Essencialmente, temos
um rosto que representa uma
instituição, mas há um conjunto de pessoas por trás ajuda as
coisas a acontecer. Ninguém
consegue, sozinho, fazer o
mundo.
NG - No teatro e na música
temos mentores. No seu caso,
enquanto político, quem é que
O Palco e o
Trono desta
semana foi
uma conversa
fluida entre
Natacha
Gonçalves,
do lado
das artes,
e Rómulo
Coelho do
lado da
política.
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© Martim Leitão
Rómulo Coelho
afirma com
convicção que “todos
os que têm gosto e
um contributo para
dar à política devem
cá estar”.
Rómulo Coelho
deputado e presidente da
JSD Madeira
Natacha Gonçalves
Cantora, escritora,
relações públicas
Natacha
Gonçalves
gosta de sair
dos moldes
normais.
Precisa do
silêncio surdo
da noite para
criar. O seu
percurso
foi muito
influenciado
pelo pai, o
poeta José
António
Gonçalves,
que lhe deu
“alicerces
concisos”.
o acompanha/acompanhou?
RC - Há várias pessoas. Tenho
pessoas que são mesmo amigas
e que, muitas vezes, nem estão
ligadas à política.
NG - É uma pessoa de convicções e inconformismos?
RC - Sim. Acho que se não demonstrarmos isso, as pessoas
ficam cada vez mais afastadas
[da política].
NG - A presença feminina na
política continua a ser reduzida. Faz-me confusão a situação
das quotas, onde está a mais
valia intelectual da mulher?
RC - Sou contra as quotas. Mas
se questionar se elas eram necessárias, eram. É preciso não
esquecer que termos só 40 anos
de democracia influencia muito
isso. As mulheres têm todas as
competências, como qualquer
homem tem.
NG - Deve respirar política
todos os dias...
RC - Tocou num ponto essencial. Os jovens têm essa façanha de dizer “ah eu não gosto
de política”, mas esquecem-se,
muitas vezes, que ao estarem
sentados num café, ou onde
quer que seja, ao estarem a
falar de um determinado tema
isso é política. As pessoas pensam que a política se cinge a
uma Câmara Municipal, a uma
Junta de Freguesia, ao Governo, mas não é isso. A sociedade
ainda não se apercebeu de que
faz todos os dias política.
NG - Costuma sair à noite?
RC - Quando era mais novo
aproveitava de outra forma.
Atualmente tenho de me resguardar um pouco, e aí entramos na questão da imagem. Se
eu quisesse sair à noite, a uma
discoteca, é claro que as pessoas iriam olhar e pensar “está
sempre aqui e tem responsabilidades”, apontam o dedo, e é
preciso salvaguardar-me.
NG - Ainda toca saxofone? É o
seu escape?
RC - Infelizmente, já não toco.
O percurso que escolhi levou-me a abandonar o saxofone.
Mas a música sempre foi um
escape.
NG – Há um momento em que
tem de se abstrair. O que faz
para preencher esse tempo?
Ou acorda e adormece com a
política?
RC – É preciso criar realmente
esse espaço. É preciso fazer um
“reset” de vez em quando. Gosto da vertente musical.
NG - O que costuma ouvir?
RC - Jazz, Coltrane, Miles Davis, entre muitas outras coisas.
Dos portugueses, gosto muito
de Rui Veloso. E, quando tenho
oportunidade, gosto de assistir
a um bom espetáculo de teatro.
NG - Há espaço para excentricidade na política?
RC - Há. Não há é num sentido
tão visível. Quando nós atuamos ou partimos para determinada matéria, já há um trabalho de casa feito, um trabalho
de bastidores.
NG - Como é que se vê daqui a
uns tempos?
RC - Nunca pensei chegar ao
patamar onde cheguei. Fui
alcançando objetivos, é preciso
ter metas e ambição.
NG - Como é que a ilha acompanha a evolução da mentalidade dos jovens?
RC - Nós temos uma oportunidade que as novas tecnologias
nos trouxeram: neste momento,
na Região, podemos alcançar o
mundo.
Se nós conseguirmos, em ter-
mos de políticas de proximidade e de fomento ao empreendedorismo, cativar os jovens e
criar oportunidades na Região,
eu tenho a certeza de que toda
a essa geração, regressando,
conseguiria trazer patamares
de excelência.
NG - A cidade está direcionada
para uma faixa etária muito
avançada. Não deveria haver
mecânicas para ir contra isso?
RC - Temos de ter noção que
passamos por uma crise financeira. A cultura é sempre o
parente pobre da sociedade, e
é talvez o fator que mais identifica um povo. Devemos olhar
para as dificuldades numa
ótica de oportunidades.
NG - O mundo neste momento
está doente. Que mensagem de
Natal deixa aos leitores?
RC - Nesta altura, toda a gente
é solidária e gosta de contribuir. É preciso não esquecer
que o mundo não se cinge a
um mês.Deixo uma mensagem
de otimismo e esperança. Que
acreditem, de facto, que podemos fazer diferente e melhor,
mas não podemos estar à
espera dos outros. Se todos nós
dermos um contributo para a
sociedade, vamos estar todos a
remar para o mesmo lado.
a
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Como se
faz um
campeão
?
o
d
n
u
m
o
d
Como se faz um campeão do Mundo? Com qualidade, por vezes inata, com dedicação, rigor e muito trabalho. Henrique Rosa
Gomes é tricampeão mundial de jet ski, Conseguiu-o nas classes destinadas aos mais jovens e pensa que é possível voltar a
chegar ao mais alto lugar do pódio, também como sénior. Aos 18 anos, caloiro no curso de Gestão, no ISEG, em Lisboa, sabe
que a sua vida sofreu uma grande volta, mas considera que estará à altura de continuar a enfrentar todos esses desafios.
No entanto, para ser campeão do Mundo é necessário ainda algo mais: meios financeiros que suportem uma temporada
extremamente dispendiosa. Solução: bater de porta em porta à procura de patrocínios. O seu pai, Paulo, assume essa tarefa,
confessa que, por vezes, se sente um pedinte à procura de esmola, mas o próprio atleta também vai à luta. No Natal, terá
uma “barraquinha” no Mercado e, nessa titânica batalha para angariar fundos, até já se meteu no negócio do ferro velho...
REPORTAGEM
David Spranger
[email protected]
S
er campeão do Mundo dá
muito trabalho. Ser campeão
do Mundo três vezes, muito
mais ainda. Requer muita
dedicação, muito treino e
muito espírito de sacrifício.
Os resultados são o reflexo
visível, os feitos são comemorados na devida proporção do acontecimento, mas
há todo um esforço de bastidores, o denominado trabalho invisível, que poucos
terão conhecimento.
Henrique Rosa Gomes tem
18 anos, 10 dos quais passados em cima de um jet ski.
Em 2011 foi bicampeão mundial em classes distintas,
no ano seguinte, voltou a se
sagrar o melhor do Mundo
numa dessas classes e vice-campeão na outra. Cresceu,
e as ambições aumentaram
à medida dessa maturação.
Termina, agora, 2015 na
classe mais exigente da mo-
Henrique Rosa
Gomes tem 18
anos, 10 dos
quais passados
em cima de um
jet ski.
dalidade. “A Fórmula 1 do jet
ski”, conforme o próprio evidencia. Foi o seu “ano zero”,
seguir-se-á mais um ano ainda considerado de estágio,
e no seguinte sim, em 2017,
tentará estar ao nível dos
melhores nesse topo da pirâmide da modalidade.
A sua perícia é essencial,
mas não é suficiente. São
necessários muitos apoios,
sendo que cada temporada
custa entre 30 a 50 mil euros, porém, no mais elevado
patamar, aquele que pretende atacar agora, poderá
ascender aos 100 mil euros.
Percebe-se. Trata-se de uma
modalidade que requer muita logística, que resguarda
uma forte fatia do orçamen-
to para transportes. Mais.
Um jet ski, que lhe permita lutar, minimamente, de
igual para igual com os melhores pilotos do mundo,
com orçamentos 50 vezes
superiores, não entra naquelas contas, e pode custar até
40 mil euros.
Onde ir buscar tanto dinheiro? «Já esteve melhor.
Muito melhor», constata o
jovem piloto. «O meu pai é
que trata disso. Se não houver patrocinadores, é impossível. Eventualmente, iria a
algumas provas. Mas a todas
era impossível. As pessoas
tentam ajudar os desportistas, neste caso os pilotos, da
Região. Há o estatuto de alto
rendimento. Estou nesse es-
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O piloto já tentou recolher ferro velho para vender a sucateiros.
«É uma ideia interessante, e é uma forma de ultrapassar as dificuldades»
tatuto, mas o que nós recebemos nem sequer dá para uma
prova. Nem para as deslocações. É complicado, ainda
mais numa modalidade com
esta.... Com toda a logística
que obriga. Obviamente que
eu entendo que, por exemplo,
uma pessoa do badminton, se
recebesse isto, tinha a época
toda paga. Mas, no jet ski,
não dá para quase nada. «Eu
entendo», acrescenta Henrique Rosa Gomes. «A logística,
a manutenção, a gasolina, o
transporte... Tudo é extremamente caro nesta modalidade. O desporto náutico tem
essa particularidade de ser
um desporto interessante,
mas também tem essa outra
particularidade de exigir outro equipamento desportivo.
Não basta uma bola...», acentua.
Bater De Porta
Em Porta
Os tempos são outros. A
crise está presente, as condições da família são diferentes, conforme reconhece
o próprio progenitor. «Da
parte da família o apoio cada
vez é menor. Eu, pessoalmente, nesta altura enfrento
algumas dificuldades. Colaboramos com o que podemos, apoiamos em alguma
logística em Portugal, mas
para o Henrique continuar na modalidade tem que
conseguir muito mais ao ní-
vel de patrocínios», exalta o
pai, Paulo Rosa Gomes, de 55
anos, provavelmente o dirigente desportivo em exercício há mais tempo na Região.
Foi presidente e fundador
da Associação Regional de
Vela, remo e Canoagem e
da Associação de Jet Ski da
Madeira. Foi sócio fundador,
ainda, de clubes como o CTM
e o Iate Clube de Santa Cruz.
Foi também o primeiro presidente da Federação Portuguesa de Jet Ski, depois de,
em 1992, ter sido dirigente
da Federação Portuguesa de
Vela, sendo ainda, na Madeira, presidente da Associação Náutica. Nesta altura, é
ainda dirigente da Federação Portuguesa de Jet Ski e
integra a Agência do Mar,
Desporto e Turismo, um órgão consultivo do Governo
da República, transversal a
vários ministérios.
Os patrocínios para a atividade desportiva do filho são
angariados quase porta a
porta. Paulo Rosa Gomes explica que os mesmos acontecem apenas por intermédio
do clube ou da associação,
«de forma a emitir recibos
ao abrigo dos benefícios fiscais, de acordo com o n.º 10
do artigo 62».
«Às vezes sinto-me um pedinte. Parece que estou a
pedir esmola», constata com
alguma resignação, referindo, como exemplo, que «há
«Nunca acreditei
que seria
campeão do
mundo naquele
dia»
pessoas que dão patrocínios
na ordem dos 25 ou 30 euros», mas não o revela de forma depreciativa. Muito pelo
contrário, «é sempre uma
ajuda... Vários patrocínios
de 200 ou 500 euros dispersos proporcionam um bolo
razoável. Às vezes, é melhor
assim do que tentar conseguir um grande patrocínio».
No entanto, releva, «temos
alguns patrocinadores desde
o início. Estou-me a recordar,
por exemplo, da Porto Santo
Line, da Empresa de Cervejas
da Madeira... Têm sido fiéis
desde o início desta caminhada. Isso dá-nos algum alento
para que continuemos».
«LÁ VEM ELE OUTRA VEZ...»
A nível de patrocínios, as coisas mudaram imenso nestes
últimos anos. «Se vou a uma
empresa que, há uns anos
atrás, tinha outras condições
e outras rentabilidades, e
agora tem menores, tenho
naturalmente muito mais
dificuldades», reconhece, e
não lhe custa admitir que
«sim, a proporção entre as
portas a que batemos e as
que se abrem será na ordem
de 10 para uma. É necessário
apelar à amizade, à importância», da mesma forma,
aceita que quando bate a
uma porta, do outro lado poderão estar a pensar «lá vem
ele outra vez...»
E a que portas é que se bate?
Às de «algumas empresas ligadas ao meio náutico, e noutras conseguimos patrocínios
através de serviços, no caso
dos transportes, que são essenciais nesta modalidade».
Mas é tudo muito «complexo,
principalmente nos tempos
de hoje, em que a crise bateu
à porta dos portugueses, as
empresas estão também com
algumas dificuldades e aquilo que se conseguia antes, já
com alguma dificuldade, é
ainda mais difícil na atualidade. Temos vindo a conseguir patrocínios mais pela
amizade do que pelo retorno
que destes possa resultar»,
reforça, enaltecendo que
«vivemos numa região com
muita atividade, em várias
áreas, e todas elas precisam,
para além do apoio do governo, também, da esfera privada. Há muita gente a pedir».
Mas, «vamos tentando. O
Henrique é que faz as cartas,
que as assina. Há também
aqueles que eu contacto pessoalmente. Há de tudo um
pouco. Num meio pequeno,
como o nosso, que tem inúmeras atividades, não só no
desporto, a procura de patrocínios é enorme e o bolo não
dá para todos».
Aliás, «os desportos náuticos
sempre tiveram algumas dificuldades. A zona onde se realiza a atividade não é propícia
a um retorno para o patroci-
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«Para chegar a um título mundial neste escalão tenho que trabalhar muito e ter muita paciência.
Os meus concorrentes têm entre os 25 e os 30 anos (...)»
nador. O palco de atividade
é, digamos, fora da visão das
pessoas. Não é um rali, onde
as pessoas assistem na berma
da estrada. Resta-nos, praticamente, a comunicação social
para difundir esses patrocinadores. Logicamente que,
entrando no âmbito internacional, abrem-se portas e é
nisso que temos que apostar.
No próximo ano tentaremos
arranjar patrocínios, ainda de
uma dimensão regional, para
investir num equipamento
melhor, e depois sim, no terceiro ano nesta classe, apostar
nesse equipamento de topo».
VENDER FERRO
VELHO
Por via desta nova realidade,
de maior dificuldade para
reunir apoios, as alternativas para angariação de fundos que possam catapultar
Henrique Rosa Gomes para
o quatro título mundial são
cada vez mais versáteis, e a
imaginação não tem sossego. «Ele próprio [Henrique]
tenta angariar fundos, criando algumas atividades. Este
ano, através da associação
regional, que tem colaborado muito com ele, vai montar uma barraca na noite do
mercado, para angariar fundos», revela. Tentou, ainda,
«recolher ferro velho para
vender a sucateiros. Mas o
ferro também está a custos
inferiores do que já esteve...
É uma ideia interessante e
é uma forma de ultrapassar
as dificuldades. Mas sim, vai
tentando de muitas formas
juntar fundos. Ele vai à luta»,
destaca, com indisfarçável
orgulho.
«A minha mãe é mais piegas. “Tens que estudar, tens
que acabar os estudos...”, o
meu pai é diferente, confia
em mim e sabe que eu sei
o que faço. Ele sabe que eu
sei o que tenho de fazer...»,
já nos havia exaltado Henrique Rosa Gomes, que não
se cansa de elogiar o papel
dos pais em todo este processo: para quem está neste desporto, na maioria dos
casos, os patrocínios são os
próprios pais». Crê que «os
apoios que conseguimos arranjar, não serão no âmbito
de fazer publicidade, mas,
acima de tudo, de ajudar o
desporto e os desportistas da
Madeira. É mais para ajudar,
porque eles sabem que, internacionalmente, não terá
impacto nenhum. Agora, a
Madeira, como destino turístico, sim, fica a ganhar com a
publicidade. Já houve épocas
que os meus pais cobriam
100 por cento do orçamento,
mas, atenção, nunca gastei
o dinheiro que atrás referi.
Foi sempre menos, muito
menos. Já suportaram cerca
de 50 por cento... Esta época
ficou praticamente coberta
por patrocínios. Mesmo que
o meu pai tenha que adiantar algum, recebe depois».
NÃO HÁ CIÚMES
EM CASA
«Os meus
adversários
ficam
espantados por
me verem, tão
novo, envolvido
nestas andanças.
Mas também
sabem que é
nesta idade que
se faz a transição
para a fase
superior»
No quadro familiar entra
também uma irmã. «Não,
não tem ciúmes do que os
meus pais fazem por mim.
Ela joga voleibol. Tem menos três anos que eu, está
no Liceu, no 10.º ano, e dá-me parabéns pelas minhas
prestações». Com esta incursão, foi dado o mote para
levar Henrique Rosa Gomes
a reviver as emoções da
consagração de campeão do
mundo. «É uma sensação
incrível. Quando entrei não
pensei muito nisso. Nunca
acreditei que seria campeão
do mundo naquele dia. O
segundo, no ano seguinte,
sim, já foi pensado. Ainda
para mais, tinha-me classificado em oitavo - só se qualificavam oito - na primeira
manga e andei muito tempo
em quarto/quinto. Os meus
concorrentes deveriam estar a pensar “é este que é o
campeão do Mundo? Este
ano está fraco...”. Acabei a
primeira manga em segundo
e fiquei em primeiro na segunda manga. O desempate
está previsto precisamente
pela classificação da segunda manga. Sagrei-me campeão mundial», sintetiza,
sem qualquer ponta de nostalgia, denotando uma enor-
me confiança que o possa
ser de novo, a médio prazo.
«Sim, é o meu sonho: chegar
ao título mundial nesta classe, em seniores. Ganhar esta
classe... Não há palavras que
descrevam. É o máximo».
Mas sempre bastante ciente do árduo trabalho que o
espera. «Para chegar a um
título mundial neste escalão,
tenho que trabalhar muito e
ter muita paciência. Os meus
concorrentes têm entre os 25
e os 30 anos e, por aqui, já se
percebe o grau de experiência que é necessário ter para
pensar no título. Sou o mais
novo deste campeonato do
mundo. Se ando há 10 anos
nisto, há deles que andam já
há 20 e alguns quase há 30.
O ritmo é outro, as máquinas
são diferentes. É também
uma questão de habituação
e de tentar melhorar. Muitos
deles são profissionais, só
fazem isto na vida, e eu sou
estudante», explica.
ATACAR MARCAS
INTERNACIONAIS
«Prevejo um futuro risonho
pela frente. Mas pronto, há
que ultrapassar esta fase, de
integração neste topo, e, logicamente, é necessário um investimento grande. No fundo,
está a lutar com os melhores
do mundo, que têm orçamentos 50 vezes superiores», diz,
por sua vez, o pai.
Para tal, necessita, então,
8 | açúcar | SÁB 12 DEZ 2015
«Se cair na água, o mais provável é que leve com um jet na cabeça, porque o resto do corpo está debaixo de água.
Aconteceu-me recentemente, na Croácia. Fui parar ao hospital»
de aumentar o leque de patrocinadores. «Em termos
oficiais, teve este ano um
importante patrocínio da Câmara Municipal do Funchal.
Da parte do governo há uma
abertura grande e estamos
a tentar, através da respetiva secretaria regional, ter
mais algum apoio. Destas
sinergias todas, vamos tentar chegar lá», mesmo que
«a nível nacional, tenha
perdido o estatuto de alta
competição, porque mudou
de classe e nesta transição
não tem resultados que lhe
proporcionem esse estatuto», conforme explica o pai,
destacando que «ele usa um
equipamento de segunda
mão, de topo, mas já antigo.
Os outros usam material, investem na modernidade, têm
equipamentos de reserva...»
«Só no terceiro ano nesta
classe ele terá possibilidades
de atacar esses patrocínios a
nível internacional. Modalidades de elite coletivas, como
seja o futebol e outras, estão
a lutar também pelos patrocínios, as modalidades amadoras têm mais dificuldades.
Ele entrou num patamar que
é o topo da modalidade, a fórmula 1 do jet ski, é o piloto
mais novo. Foi já campeão do
mundo três vezes, algumas
também da Europa. É, por
isso, já conhecido em termos
internacionais, e, pela aná-
lise que é feita por pessoas
entendidas na matéria, tem
potencial, tudo indica que a
partir do momento que ele
consiga singrar nesta classe,
logicamente as angariações
de fundos ultrapassarão as
fronteiras da Região. Já se
poderá atacar marcas internacionais», perspetiva Paulo
Rosa Gomes.
Quanto ao filho, constata
que «se tivesse o estatuto de
alta competição em Portugal, que este ano não obtive
- porque o ano passado fui
a poucas provas internacionais -, os professores seriam
obrigados a deixar-me faltar», mas acredita que recuperará esse estatuto este ano
e que, para o ano, «tudo será
mais normal».
LEVAR OS LIVROS
PARA AS PROVAS
A vida mudou bastante para
Henrique Rosa Gomes neste
ano escolar. Aluno de excelência, mudou-se de armas e
bagagens para Lisboa, após
ter ingressado no curso de
Gestão, no ISEG, na capital. O espírito de sacrifício
será maior. Prevê que não
terá tanta complacência dos
professores como tinha no
Funchal, nas constantes ausências por via do apertado
calendário do mundial e do
europeu, mas vai continuar
a prática do jet ski, ao mais
«O sonho não é
ser profissional.
O sonho é fazer
um ano só de jet
ski. Ninguém vive
disto»
alto nível. «Tenho uns amigos que têm um lago, uma
quinta privada com uma boa
lagoa e é lá que treino. Mas
temos também a barragem
de Montargil. É também
bom treinar no mar e, em
Lisboa, há lugares próprios
para isso. Não treino todos
os dias. Isso é impossível de
conciliar com a escola. Também porque estou sozinho e
há muita coisa que passei a
fazer, e tenho menos tempo»,
esclarece. Certo é que «será,
seguramente, mais complicado de conciliar os estudos
com o jet ski», até porque,
conforme faz questão de relevar, «a minha mãe já me
avisou que agora tenho mesmo que levar os livros comigo, quando for para provas
internacionais». Antes, «por
vezes já os levava, mas nem
chegavam a sair da mala...»
«O sonho não é ser profissional. O sonho é fazer um ano só
de jet ski. Isso sim. Ninguém
vive disto. Os “prize money”
são fracos. Ser campeão tem
uma recompensa financeira,
mas não é nada por aí além»,
apresta-se a esclarecer, não
tendo pejo em reconhecer
tratar-se de uma modalidade
bastante perigosa. «Se caíres
na água, o mais provável é
que leves com um jet na cabeça, porque o resto do corpo
está debaixo de água. Aconteceu-me recentemente, na
Croácia. Fui parar ao hospital.
Temos o capacete, mas àquela
velocidade, vale pouco...»
Pese embora o estatuto de
tricampeão do mundo, Henrique Rosa Gomes exibe uma
notável humildade, percebendo que terá que conquistar o seu espaço entre a elite
mundial da modalidade. «Os
meus adversários ficam espantados por me verem, tão
novo, envolvido nestas andanças. Mas também sabem
que é nesta idade que se faz
a transição para a fase superior. Têm-me respeito, porque conhecem o meu passado e os três títulos mundiais
que já conquistei. Eles, com
a minha idade, também não
ganharam nada», enaltece,
mostrando consciência daquilo que o espera no futuro
imediato: «é importante ganhar ritmo. Em quanto mais
provas participar, melhor.
Estou no Campeonato do
Mundo e no Campeonato da
Europa, precisamente com
esse propósito de ganhar ritmo. Não estava a pensar nas
classificações finais, porque
nem fui às provas todas. Esta
é uma fase em que ganhar é
muito difícil, senão mesmo
impossível. Em alguns momentos da corrida, poderá
haver um andamento igual,
mas depois, o ritmo deles,
muito superior, vem ao de
cima».
a
SÁB 12 DEZ 2015 | açúcar | 9
© Martim Leitão
na rua
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t
r
o
p
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“É um e há
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de
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semp agar”
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pre
Emanuel Pombo, 28 anos, praticante de Downhill
Cláudia Sousa
[email protected]
E
manuel Pombo, natural
da Calheta, é um nome reconhecido do Downhill a
nível mundial. Estreou-se
com apenas 12 anos neste
desporto de duas rodas,
quando acabou o clube de
futebol em que treinava.
Entretanto começou a andar de bicicleta com os
seus amigos, por diversão,
e foi aí que espoletou a
sua paixão.“Tudo começou
com o objetivo de fazer coisas mais desafiantes, e, ao
mesmo tempo, superar-nos
a nos próprios”.
Pombo garante que é a superação e a ‘insatisfação
crónica’ que sente pela
procura dos seus limites
que o fazem praticar afincadamente este desporto.
Os treinos variam, durante
a semana, entre uma componente física e uma componente técnica. A prática
deste desporto implica
uma panóplia diversa de
exercícios, tendo em conta,
que a “modalidade em si é
muito completa”.
A parte da manhã é reservada ao treino da bicicleta
de estrada, que dura entre
uma hora e meia a duas
horas, e a parte da tarde é
dedicada ao ginásio.
Mas, nem ao fim de semana este campeão tem descanso. O sábado e o domingo são dedicados ao treino
de bicicleta, sendo que, os
exercícios intensificam-se
à medida que as provas se
aproximam.
A simulação da competição
é importante, principalmente para por em prática
a questão psicológica.
O downhill é complexo,
sob vários aspetos, nomeadamente no que toca à
aquisição das bicicletas,
que têm um preço elevado,
e necessitam de técnicos
especializados para a manutenção das mesmas.
Para além disso, Pombo
refere que nem sempre
é fácil ter uma logística
montada e adequada às
necessidades dos atletas.
“Como esta modalidade é a
descer, nós precisamos de
um meio de transporte que
nos coloque lá em cima,
precisamos sempre de um
veículo, e, por vezes, torna-se difícil gerir isso tudo.”
Este é um desporto que
obriga a lidar com muitos
problemas que vão surgindo no caminho. Por exemplo, cada vez que este praticante de downhill tem de
fazer uma viagem, já está
habituado a ter 50 quilos
de excesso de bagagem. É
um stress acrescido que
tem de digerir em altura
de provas.
É um amante
incondicional
da natureza que
adora viajar, por
isso, optou por
se licenciar em
Turismo, o seu
segundo fascínio.
O desporto
que escolheu
como carreira
apaixona-o pelo
facto das pistas
de competição
nunca serem
iguais. Aos 28
anos confessa
à Açúcar as
peripécias de um
atleta de topo.
© Martim Leitão
10 | açúcar | SÁB 12 DEZ 2015
A Açúcar perguntou a
Emanuel Pombo como se
constrói um campeão de
downhill, ao que este respondeu que é necessário
“ter gosto, objetivos e motivação”, porém, a verdadeira ferramenta por trás
do sucesso deste jovem é
o trabalho. Pombo diz que
não há “dons”, é preciso
treinar muito.
“Pelo facto de eu gostar,
por vezes faço coisas que
para os outros são um sacrifício e para mim não”.
Não obstante, são vários os
desafios que enfrenta diariamente. Há 5 anos, teve
uma lesão muito grave,
que o colocou à beira de ficar condenado a uma vida
numa cadeira de rodas.
Pombo estava no auge da
sua carreira, num desporto
em que não há espaço para
erros, na taça do mundo
em Itália, e, momentos antes da final, ao fazer a sua
última descida de treinos
foi projetado.
“Desconcentrei-me numa
secção bastante rápida, fui
projetado e bati com a cabeça numa árvore e comprimi as vértebras D1, D2
e fraturei a D3. Fiquei em
risco de ficar paraplégico”.
E como é que se percebe,
aos 23 anos, que afinal não
somos invencíveis? Pombo
garante que esta foi a sua
maior batalha, não apenas
no desporto, mas também
na vida. Esteve dois dias
internado em Itália e depois regressou a Portugal.
Só teve a noção real do impacto do acidente quando
o “médico disse que 1 em
cada 1000 ficava numa cadeira de rodas”.
Por sorte, não precisou de
ser operado, porém, durante três meses teve de usar
um colete que o obrigava a
ficar (quase) “estático”.
Um jovem que sempre se
caracterizou por ser enérgico e atlético, e de um
momento para outro ter
de alterar as suas rotinas,
por completo, foi como se
lhe tivessem arrancado a
epiderme.
Pombo diz que este foi um
“processo bastante longo”,
mais a nível psicológico do
que físico. A lesão colocou-o num casulo, fazendo
dele uma pessoa mais introspetiva e prudente.
O médico garantiu que iria
conseguir convalescer a
100 por cento deste acidente, e foi nisso que o jovem
se concentrou. No entanto,
“mentalmente” só conse-
guiu recuperar 3 anos depois do susto.
Para voltar a encarar as
provas não foi fácil. Pombo
teve de “colocar numa balança” se conseguia deixar
o downhill de parte e optar
por viver da sua licenciatura em Turismo, o seu plano
B.
Contudo, o desportista tinha a plena noção de que
não ia ser feliz sem a bicicleta, a sua companheira
de todas as horas. “Não me
conseguia imaginar sem o
downhill”, garante o campeão madeirense.
Quando voltou aos treinos
e à competição o seu objetivo era só um: não se lesionar. O que acabava por
limitar a sua performance.
No entanto, hoje sente que
está, finalmente, a voltar a
todo o seu esplendor.
O jovem garante que esta
experiência, à partida negativa, foi uma lição, que o
ajudou a ser mais ponderado nas provas.
“Depois da lesão tornei-me
mais metódico, analiso
muito mais as situações.
Antes do acidente eu era
mais conhecido por arriscar, e não pensava duas
vezes. O que aconteceu
depois da lesão foi perder
essa confiança”.
Emanuel Pombo, com apenas 28 anos, já conquistou
todos os títulos a nível nacional, foi campeão em todos os escalões por onde
passou.
É a nível mundial que não
se sente “realizado o suficiente”, por isso o que
o motiva neste momento
é chegar ao “ranking dos
20 melhores do mundo”, é
para isso que trabalha diariamente.
Embora ainda nem tenha
ainda 30 anos, tem a consciência de que para o mundo desportivo já não é propriamente novo. “Tenho
adversários mais novos
que têm aquela loucura
que eu também tinha. Eu
agora sou o mais velho.”
O atleta vê a questão da
idade como um “rótulo”, o
que não o deixa, de modo
algum, apreensivo. Com
muita naturalidade, Pombo disse à Açúcar que pretende competir até se sentir bem e em forma. “Se me
sentir bem até aos 40 anos,
irei fazer downhill até aos
40, se me sentir bem só até
aos 30, fico pelos 30. O importante é que esteja motivado e feliz com aquilo que
faço.”
a
SÁB 12 DEZ 2015 | açúcar | 11
horas vagas [ livro, filme, música]
Sandra Sousa
https://estrelasnocolo.wordpress.com/
F
ala-me de um dia
perfeito da autora
americana Jennifer
Niven foi publicado em Portugal pela chancela Nuvem de tinta. Este
livro é contado através da
perspetiva de dois personagens: Finch e Violet. Ambos
são adolescentes que estão
prestes a terminar o secundário e que carregam com
eles mágoas e demónios
pessoais. Violet perdeu a
livro [ Nuvem de tinta ]
Fala-me de um dia perfeito Jennifer Niven
irmã num acidente rodoviário estando com imensas
dificuldades em fazer o luto
e Finch é um jovem estranho e algo rebelde, filho de
um pai conflituoso. O primeiro encontro de ambos é
turbulento e acaba criando
empatia entre ambos, que
com o passar do tempo vai
crescendo e tornando-se
em algo mais forte.
Na leitura que fiz senti que
o livro estava dividido em
duas partes. A primeira parte é quando o leitor está a
conhecer as personagens e
quando elas próprias se estão a conhecer. Ambas sentem-se atraídas. No caso de
Finch essa atração é mais
forte e chega a esbarrar
com o obsessivo e no caso
de Violet é algo mais subtil.
Na segunda parte é quando
ambos se envolvem e quando a leitura torna-se mais
voraz.
Para mim, a chave de ouro
foi sem dúvida o personagem principal: Finch. É um
rapaz que sofre de uma doença mental grave e isso reflete-se no seu quotidiano.
Considerei que a forma
como ele foi construído foi
brilhante e fez com que eu
me apaixonasse por ele,
uma e outra vez. Passei dias
a pensar neste livro depois
de o ter terminado. Foi sem
dúvida uma leitura.
a
Virgílio Jesus
[email protected]
cinema & televisão
aseado numa história verídica tornada
lenda, No Coração
do Mar foca-se nos
acontecimentos antes e depois do naufrágio do baleeiro
Essex pelo gigante e monstruoso Moby Dick, a baleia
branca mais temível de todo
o sempre no Oceano Pacífico.
Deste modo, recria digital-
mente esses momentos, mas
longe dos critérios mais rigorosos transpõe bem a magia
do CGI. Apesar de nem todo o
elenco ter tempo para brilhar
(de lamentar a pequena participação de Ben Whishaw
como Herman Melville), Ron
Howard oferece tensão dramática de Chris Hemsworth e do jovem Tom Holland.
Além disso, o espetador compreende como o cinema é
capaz de se mostrar misericordioso diante de tão atrozes práticas (canibalismo dos
sobreviventes é um exemplo
disso). Elucida ainda o método e instrumentos utilizados
também na Madeira, em relação à caça ao cachalote que
tinha a mesma finalidade.
obert Downey Jr. é
um dos atores do momento em Hollywood,
pode até ser super-herói da Marvel, mas é também o detetive mais conhecido
da literatura. Sequela do filme
de 2009, este é uma das apostas do Canal Hollywood para a
época natalícia e é escolha perfeita, pelo menos porque serve
para descomprimir e perceber
como Holmes resolve quase excentricamente todos os crimes.
Ao seu lado, como não poderia deixar de ser, está Watson
que prepara o seu casamento,
mas alguém ciumento parece
não querer que isso aconteça.
Muito sarcasmo e aventura
preenchem este jogo de mentes, com destaque para o duelo
de xadrez ou para a cena da
floresta, com a câmara lenta
que Ritchie bem sabe utilizar.
Como reflexo do mainstream,
Jogo de Sombras dá vida aos
acontecimentos do final do
século XIX, nomeadamente às
mudanças cosmopolitas (desde a construção do metro de
Londres à da Basílica de Sacré-Coeur, em Paris).
B
R
Ricardo Tadeu
[email protected]
“S
Elizabeth Fraser no video em1984
ong To The Siren
“ é uma canção
escrita por Tim
Buckley e Larry
Beckett, lançada pela primeira vez em 1970 no álbum «Buckley Starsailor» e mais tarde
em «Morning Glory»: The Tim
Buckley Anthology.
A música começou realmente a ganhar vida em 25 de
março de 1968, ao fazer parte
do fecho do último episódio de
uma séria televisiva america-
a
a
No Coração
do Mar
Data de estreia 10 de dezembro
Realizador Ron Howard
Elenco Chris Hemsworth, Benjamin
Walker, Tom Holland, Cillian Murphy, Ben Whishaw, Michelle Fairley
e Brendan Gleeson.
Género Ação/ Aventura/ Biografia.
Sherlock
Holmes
Jogo de Sombras (2011)
Domingo dia 13 / 22h / Canal Hollywood
Realizador Guy Ritchie
Elenco Robert Downey Jr., Jude Law,
Noomi Rapace, Jared Harris e Rachel
McAdams
Género Ação/ Aventura/ Crime
música
Song To The Siren Shuffle Songs
na sobre a vida de um grupo de
Rock n› Roll imaginário, The
Monkees. No entanto, é Pat Boone o primeiro a lançar a versão desta
canção no seu álbum de 1969
“Departure”, antecipando-se a
Starsailor de Buckley. A canção
tornou-se mais famosa que o
próprio Buckley, devido a uma
quantidade de versões feitas
por muitos artistas desde a sua
morte, em 1975.
This Mortal Coil lançam a mú-
sica num single, em 1983, mas
será no ano seguinte, no Álbum «It’ll End in Tears», com
a colaboração de Elizabeth
Fraser e Robin Guthrie, dos
Cocteau Twins, pela editora
4AD Records, uma das maiores e melhores editoras de
música alternativa nos anos
80 e princípios de 90, que passou e ser conhecida em todo
o mundo. Mais tarde, George
Michael, John Frusciante, Robert Plant, Sinead O`Conner
e Half Man Half Biscuit continuaram a dar voz às sereias
de Buckley.
Se, por algum acaso, nunca
ouviu este chamamento, temo
que não conheça o seu significado.
On the floating, shapeless oceans
I did all my best to smile
til your singing eyes and fingers
drew me loving into your eyes
...
a
12 | açúcar | SÁB 12 DEZ 2015
na moda
Festasfelizes!
Laura Capontes
[email protected]
foto ©Laura Capontes
E
stamos oficialmente no mês
dos convívios entre amigos,
colegas de trabalho e família,
jantares, festas, e um dos
grandes problemas que temos é o que vestir? Onde há
tanta imaginação para tantas
festas e jantares marcados? E
como estar sempre bem sem
ter que investir em peças novas a cada festa que houver?
Para estas ocasiões, queremos beleza, sofisticação, e
claro, glamour.
É certo que o inverno parece
das estações em que se torna
mais difícil escolher roupas
para festas, mas a verdade é
que existem ótimas conjugações que se podem fazer
usando roupa quente e,
mesmo assim, manter um
ar sofisticado e com aquele
ar de festa, que é o que se
pretende.
A solução é equilibrar a
ousadia dos visuais com
peças que mantenham a
elegância, mas que sejam
mais discretas. Porque, sim,
estamos a falar de festas, no
entanto, não se esqueça do
meio-termo.
Antes de escolher o que
vestir pense se precisará de
um look informal ou mais
formal.
O importante é sentir-se confiante e confortável, lembre-se sempre que neste tipo
de convívios convém manter
a elegância, por isso, não se
esqueça do que pode evitar:
as transparências demasiado
sugestivas, demasiado brilho,
pernas muito à mostra (opte
por uns collants opacos,
dará um toque de conforto e
sofisticação),decotes, peças
demasiado justas, o conjunto
de escritório (pode ir formal
sem vestir a sua roupa do dia
a dia) e sapatos desconfortáveis (mas também não vá de
ténis). Consegue evidenciar
a sua silhueta sem precisar
de recorrer a este tipo de opções. A sensualidade e o bom
senso sempre aliados!
Quanto às opções de looks
podem ser vestidos, jumpsuits, calças ou saias, tudo
depende da maneira como
vai coordená-los e, acima de
tudo, têm de ser o seu estilo.
Num dia especial, o cabelo, a
maquilhagem e os acessórios
farão toda a diferença, deixe,
por exemplo, a sua carteira
do dia a dia de lado e leve
uma clutch ou opte por um
acessório mais marcante.
Não tenha receio de repetir
algum look, para isso basta
uma mudança de sapatos
(num convívio mais formal
use uns stilettos e para um
informal troque por uns
botins), mude de acessórios e
clutch e estará pronta!
Seja o centro das atenções,
mas não pelas piores razões.
Afinal estas ocasiões são
para disfrutar do momento,
conviver sem preocupações,
sem incómodos e poder
divertir-se a noite toda!
Entre já no espirito natalício
e inspire-se.
Mostre o seu brilho e a sua
autenticidade e seja feliz
neste Natal!
a
SÁB 12 DEZ 2015 | açúcar | 13
feliz com menos
Vinagre, para que te quero?
Débora G. Pereira
www.simplesmentenatural.com
N
uma altura em
que grande parte
das famílias
portuguesas
atravessa dificuldades a nível financeiro
e em que se dá em paralelo
uma crescente preocupação com a saúde e o meio
ambiente, partilho convosco
algumas dicas lá de casa.
Falaremos das utilidades do
vinagre que, apesar de barato e ao alcance de qualquer
um, não é um produto de
qualidade inferior que só é
utilizado em último recurso.
Devido ao seu odor pungente e à sua acidez pronuncia-
da, raramente alguém lhe
fica indiferente. Há, portanto, quem o adore e, claro,
há quem prefira manter a
distância.
O vinagre é obtido a partir
de um processo designado
de fermentação em que a
base é um elemento vegetal
(uvas, ameixa, arroz…). Pode
ser ou não pasteurizado,
adquirir diferentes aromas,
cores e sabores (consoante
o alimento que lhe deu origem), não devendo ser-lhe
atribuído um papel de mero
figurante na alimentação e
limpeza da sua casa. Destaco, no entanto, a importância de utilizar um vinagre
de qualidade na sua alimentação (não pasteurizado e
biológico) e, por outro lado,
o facto de poder economizar
algum dinheiro, comprando
um produto com um preço
mais baixo, quando o objetivo é a limpeza.
Há já alguns anos que
apenas uso vinagre e água
para limpar a casa. Para o
fazer, coloco num recipiente
a água com um pouco de
vinagre e utilizo um pano
para passar por todas as
superfícies, incluindo mesas, balcões, vidros, pias e
chão, eliminando machas e
odores. Para a sanita, utilizo
puro e no que diz respeito
ao vidro, utilizo papel de
jornal que é um excelente
coadjuvante para potenciar
os resultados. Relativamente à higienização de fogões,
tanto os tradicionais como
as mais recentes placas de
vitrocerâmica podem beneficiar deste removedor de
impurezas e abrilhantador
caseiro e natural.
Para dar um toque de brilho
e maciez ao seu cabelo, passar com os dedos, após a lavagem com um sabão natural, uma mistura de vinagre
e água (metade de cada) ao
longo do cabelo sem chegar
à raiz (neste caso funciona
melhor vinagre de maçã
ou de arroz). Depois, lavar
abundantemente com água
e secar normalmente. Ainda
com a função de amaciar, o
vinagre pode ser adicionado
à lavagem de roupa, após a
saída do sabão.
No campo alimentar, além
da confeção de molhos para
salada e desinfeção de vegetais crus, o vinagre pode
substituir, por vezes, os ovos
através da combinação de
bebida de soja e um pouco
de vinagre.
Tendo em conta estas dicas,
contribuí não apenas para
a preservação da sua saúde
e do ambiente, mas também para o seu orçamento
familiar. Relativamente ao
odor típico do vinagre, não
se preocupe, pois em qualquer uma destas utilizações,
o cheiro evapora-se muito
rapidamente e desaparece.
Assim sendo, ninguém vai
descobrir que o seu cabelo
está maravilhosamente
brilhante porque lhe deu
um pouco de tempero. Uma
semana feliz.
a
saúde
Uso do Medicamento – Somos todos responsáveis
Bruno Olim,
Farmacêutico
[email protected]
O
medicamento
veio contribuir
para a melhoria
da eficiência
dos sistemas
de saúde, sendo o medicamento uma das tecnologias
atuais que mais contribui
para o aumento da longevidade e da qualidade de vida.
O medicamento tem por isso
de ser observado como investimento atual e de futuro
na saúde das populações, o
truísmo ”quanto mais saudável é a minha população,
menores serão os gastos
em saúde com a mesma”
aplica-se ao medicamento
em toda a sua extensão, pois
a problemática da sustentabilidade dos sistemas de
saúde resolve-se também
com o aumento da eficiência
do mesmo, através da identificação do potencial não
aproveitado.
A OMS estima que 50%
da medicação não é utilizada corretamente; o IMS
Health, em 2012, quantificou o potencial perdido - a
não adesão à terapêutica
(57%); uso do medicamento
fora de tempo (13%); utilização errada ou sobreutilização de antibióticos
(11%); erros associados à
medicação (9%); utilização
insuficiente de medicamentos genéricos (6%) e gestão
incorreta da polimedicação
individual (4%).
A Poupança estimada pelo
Uso Responsável do Medicamento é de 370 mil milhões
de euros (mais do dobro do
PIB Português), que corresponde a 8% da despesa
mundial que é afeta a custos
de saúde evitáveis.
Todos os intervenientes na
cadeia do medicamento são
responsáveis pelo seu uso
racional, ou seja, desde a
sua produção, autorização
de comercialização, prescrição, dispensa, administração e respetiva utilização
pelo utente. Este é um
conceito importante, pois
a tendência era observar a
não utilização correta do
medicamento como responsabilidade maior e, por
vezes, única do utente.
O Uso Responsável do
Medicamento é definido
pela Federação Internacional Farmacêutica como
o medicamento correto, na
dose e no tempo adequados,
tendo em consideração a
necessidade do individuo, e
com o menor custo possível,
gerando poupanças para o
individuo e para o sistema
de saúde, aumentando obviamente a eficiência.
O farmacêutico pela sua
multidisciplinaridade, pelo
seu superior conhecimento
técnico cientifico, e pela
sua intervenção holística
na cadeia do medicamento,
detém um papel de relevo
no Uso do Medicamento,
não obstante, como definido
pela Federação Internacional farmacêutica, este é
sempre um esforço integrado, que só dessa forma,
com a coordenação entre
os intervenientes na cadeia
do medicamento, será bem
sucedido.
a
14 | açúcar | SÁB 12 DEZ 2015
mais açúcar
Broinhas Natal d’Avó
ingredientes
Preparação
1k de batatas
1k de farinha
700g de açúcar amarelo
1 colher de mel
1 colher de canela
8 ovos
frutas secas
Cozer as batatas e passálas no pass-vit. Misturar a
batata com a farinha, os ovos,
o açúcar amarelo, mel e a
canela. No final misturar as
frutas secas a gosto (eu só
utilizo passas). Dividir em
pequenas porções e levar ao
forno a 180ºc.
Chef pasteleira
Tronco de Natal de chocolate e tangerina
[email protected]
Biscuit de chocolate:
Joana Gonçalves
Eleven | Lisboa
9 gemas 80g açúcar
5 claras
50g açúcar
80g farinha
15g cacau em pó
Bater as gemas com 80g
de açúcar até esbranquiçar.
Numa outra taça bater as
claras em castelo com as
50g de açúcar. Juntar as
gemas às claras e depois a
farinha e o cacau envolvendo
bem. Colocar num tabuleiro
(40x40cm) forrado a papel
vegetal. Levar ao forno préaquecido a 230º durante cerca
de 5 minutos.
Ganache de chocolate e
tangerina:
185g polpa de tangerina
350g chocolate de leite
(35% cacau)
70g manteiga
Glace de chocolate:
100g chocolate negro
(70% cacau)
80g natas
20g manteiga
100g molho de chocolate
Ferver a polpa de tangerina.
Retirar do lume e juntar o
chocolate partido em pedaços.
Envolver a manteiga e
refrigerar
Levar as natas a ferver.
Retirar do lume e juntar
o chocolate partido em
pedaços. Envolver a
manteiga e juntar o molho
de chocolate. Xarope de tangerina:
Montagem: pincelar com
o xarope de tangerina.
Espalhar a ganache e
enrolar como uma torta.
Colocar o tronco sobre uma
rede de pasteleiro. Verter a
glace de chocolate morna
e espalhar com a ajuda de
uma espátula.
70g água
75g açúcar
70g polpa de tangerina
Levar ao lume a água,
o açúcar e o maracujá até
ferver.
a
o londres no funchal por Susana Figueiredo
O
Londres é um
dos
restaurantes
mais
lisboetas que
conheço (fala
a
continental com saudades da terra).
Tem morada na Rua da Carreira, no Funchal, mas podia
perfeitamente pavonear-se
na Av. de Roma, em Carnide, Campo de Ourique, ou
ser descoberto, por acaso,
aninhado numa ruela dos
Restauradores. Tem a acústica própria da despretensão, o volume alto do sangue
latino, temperado com as
favas de vinagrete para comer de palito. Tem as iscas
mais orgulhosas da cidade,
e uma ventrecha de atum
que quase me convertia o
paladar a monogamia. O
Londres tem o Sr que aperta as bochechas a criançada,
que faz conversa amparado
na esquina da nossa mesa.
Tem os turistas devidamente misturados com os de cá,
e, talvez, a única luz fluorescente que não me tira do sério. Porque é fria, mas é de
casa, porque o resto se che-
ga à frente com um requinte
que não é “finesse”, mas verdade à mesa. O Londres que
dá ares de marisqueira de
Lisboa, que tem mãos gentis de bem receber, repentistas, sem protocolo. Mãos
generosas que apertam as
nossas à chegada. Doses
fartas, à altura do coração.
Espaçoso. Honesto. Caseiro.
O Londres é a casa da avó
com muitas mesas e comensais. E a refeição quente a
que apetece sempre voltar.
Porque, sim, os corações
também comem.
a
SÁB 12 DEZ 2015 | açúcar | 15
1
Três características da
sua personalidade que
melhor o definem?
Otimista, ingénua, tímida. boca doce
Sofia Relva
Apresentadora RTP Madeira, cantora e enfermeira
2
13
Que opinião tem dos madeirenses que escondem o
sotaque?
Não tenho um sotaque
acentuado, e isso não me
torna menos madeirense.
Não é o sotaque que nos
define.
A crítica mais construtiva que já lhe fizeram? E a
mais injusta ou absurda?
Todas as críticas que nos
fazem têm que ser vistas
como construtivas, pois
mesmo as menos boas têm
uma lição para extrair.
3
A decisão mais
importante que teve
de tomar?
A escolha da minha carreira profissional, pois é
uma escolha para a vida.
4
A sua dúvida mais
persistente?
Serei boa o suficiente nas
minhas tarefas diárias e
será que consigo inovar e
ser melhor do que ontem?
5
Um arrependimento?
Sinto pena de não ter
convivido mais com o meu
avô paterno, que acabou
falecendo num acidente.
continental
O madeirense é mais resistente e persistente, talvez
por ter noção da insularidade, tem uma entrega e
intensidade maiores.
10
6
Um ato de coragem?
Quando era mais jovem
assisti a um atropelamento,
e avancei para prestar cuidados, não sabia bem o que
fazer, mas senti que salvar
vidas estava no meu sangue.
7
Uma atitude imperdoável?
O que julgo ser mais difícil
de perdoar é quando traem
a nossa confiança, mas
com o tempo as feridas
saram e não devemos
guardar rancor.
8
A companhia ideal para
uma conversa metafísica?
Marie de Hennezel. As suas
obras ajudaram-me a perceber a fragilidade da vida.
9
Qual é a sua maior extravagância?
Adoro tecnologia, e por ser
aficionada acabo comprando equipamentos com
frequência.
Quem são os seus heróis
na vida real?
Todos podemos ser heróis,
desde que o queiramos e
nos deixemos contagiar
pela compaixão
11
Uma doce memória da
infância?
No Natal, ir para a cozinha
com a minha mãe e ajudála a fazer as sobremesas da
Festa. Dizia “Sou a cozinheira da mamã”.
12
O que distingue um madeirense de um
14
Que expressões madeirenses usa com maior
frequência?
Mãozada, Furado, Sola....
15
A quem gostaria de pagar
uma poncha?
Pagava uma Nikita sem álcool à Malala (paquistanesa
Nobel da Paz).
16
5 Segredos da ilha…
Local: Curral das Freiras
Hotel: Royal Savoy
Restaurante: Sabores do
Curral
Atividade ao ar livre: Corrida Poiso /Ribeiro Frio
Loja: Dona Hortênsia
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