Untitled - Goodreads

Transcrição

Untitled - Goodreads
PROTUBERÂNCIA
O LIVRO DO BLOGUE
VOLUME I
(2006-2009)
Joel G. Gomes
Título: Protuberância: O livro do blogue: Volume I
Autor: Joel G. Gomes
Capa: Joel G. Gomes
(C) Joel G. Gomes 2012
ISBN:
Joel G. Gomes
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TERMINUS NEGATIVO
UM ARTIGO SEM NEXO MAS COM UM TÍTULO
Por volta do século XI (os historiadores vão-me perdoar a
imprecisão) a civilização ocidental vivia um clima de incerteza
e temor em relação ao futuro próximo. Sinais como a peste e
desastres naturais – hoje em dia encarados por nós de forma
mais ligeira – eram vistos pelas gentes de outrora, influenciadas
pela "chegada do Apocalipse" proclamada pelo quadrante mais
(novamente o termo será impreciso) "fanático" da Igreja
Católica, como um castigo pelos nossos pecados.
Passados dez séculos a situação mudou essencialmente no
modo como analisamos as coisas. Não temos a peste, mas temos
a SIDA, a hepatite, cólera, varíola e – a futura nova coqueluche
dos movimentos de solidariedade e contribuições bancárias – a
gripe das aves; os desastres naturais continuam a acontecer
quando têm de acontecer e no que toca aos pecados temos os
reality-shows (esperemos pela punição).
Aviso ao leitor incauto (desprevenido, desatento, etc.):
Mudança do tom do discurso
Os dois parágrafos anteriores (ignorando o Aviso) tiveram
como finalidade transmitir uma ideia tantas vezes dita e redita:
quanto mais as coisas mudam, mais ficam na mesma.
Creio que não é preciso ser-se um génio para se perceber o
que é que eu estou a falar; alguns já falam disso, outros
preferem não admitir nada com medo que a admissão se venha
a transformar em realidade. É, infelizmente, impossível da
minha parte ignorar esta situação. Não consigo fechar os olhos e
fingir que não se passa nada. Admito que possa estar a ser
injusto com alguns de vocês – não gosto de rotular pessoas,
muito menos julgar os grupos pelos indivíduos que os compõem
– mas a vossa indiferença (o que eu interpreto como tal) não me
possibilita outra análise se não esta.
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PROTUBERÂNCIA – Volume I
Como já devem ter percebido, falo do cancelamento don
concerto do Ricky Martin na Índia.
OK, pela vossa reacção vejo que afinal não estavam tão a
par do assunto como eu pensava. As minhas mais sinceras
desculpas se vos julguei precipitadamente.
Em traços gerais, o que aconteceu foi o seguinte: alguém
disse ao Ricky Martin que ele tinha talento (ou foi ele que
acordou um dia com azia e em vez de ir à casa-de-banho
decidiu gravar um disco), depois disso foi um vazio. Há quem
trace um paralelismo entre esse vazio criativo do cantor (no
qual ele lançou vários álbuns) e o regime de intolerância vigente
durante a Idade Média. Não obstante o facto de realmente
naquele tempo as pessoas se matarem umas às outras por
coisinhas de nada (era uma época em que espirrar significava
estar possuído pelo demónio), também foi facto que a
criatividade não abrandou (em alguns zonas até floresceu).
Portanto, comparar a falta de criatividade na Idade Média
com a falta de criatividade do Ricky Martin é um erro; mais que
um erro, é uma ofensa.
E por agora chega de Ricky Martin; vamos mas é falar do
que realmente interessa. Só estou cá há… 5 meses, e quem me
conhece sabe que gosto de preparar o terreno antes de avançar.
Se fosse mais velho e tivesse participado em alguma guerra,
diria que é a minha experiência de batalha a falar. Como não é o
caso, digo que foi a minha experiência de Boavista a falar.
É importante estabelecer uma aproximação cuidada quando
o assunto em questão é tão delicado como este que vos trago.
De tal modo que utilizei o estratagema do início falso, tudo para
que se rissem, sorrissem ou, pelo menos, relaxassem de modo a
encarar o que tenho para vos dizer com outros olhos.
Desta vez não posso usar a expressão "como já devem ter
percebido" porque sei que não perceberam, eu sei que vocês não
sabem – basta-me olhar para as vossas caras para saber que não
sabem – por isso, sem mais delongas, eis o assunto que me
Joel G. Gomes
levou a escrever este artigo:
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PROTUBERÂNCIA – Volume I
AS 333 MEDIDAS DO GOVERNO
PARA COMBATER A BUROCRACIA
Primeiro que tudo uma curiosidade; o dobro de 333 é o 666,
o número da besta, número do fim dos tempos, do Apocalipse.
Não quero traçar paralelismos ou lançar ideias disparatadas
sobre o fim do mundo. No meu ver, sendo o número de medidas
igual a metade do número maldito, isso só pode significar uma
coisa: é meio caminho andado. Mais 333 e chegamos ao fundo
do poço; o que, como disse um economista da nossa praça, "É
bom, porque do poço já não passamos."
Devo dizer que esperava mais orgulho da parte deste
Governo. Mais do que as promessas não cumpridas é isto que
me chateia.
Tudo começou com aquela história das empresas criadas
numa hora. Por esta altura já devem ser 2850 (eram 2849
quando comecei a escrever este artigo; não sei quantas serão
quando estiverem a ler) as empresas criadas através deste novo
sistema. O que não se percebe é o que é que o Governo está a
publicitar:
a) o tempo
b) as empresas
Analisemos os dois casos.
Se for a hipótese b) empresas, é tempo perdido. Há dois
tipos de empresas (grandes empresas) em Portugal; as que
funcionam mal e as que funcionam bem. E quando funcionam
bem o que acontece é isto: os donos vendem-nas a empresários
estrangeiros ou declaram falência e mudam-se para países onde
a mão-de-obra é mais barata ou, caso fiquem em Portugal,
declaram falência e abrem novas empresas com o dinheiro que
não dispunham antes para pagar aos funcionários da antiga
empresa (isto sem contar com as chamadas "ajudas de custo" e
"incentivos ao desenvolvimento empresarial" que o Estado
Português tão criteriosamente distribui.
Joel G. Gomes
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Obviamente,
há
excepções.
Não
podemos
ser
preconceituosos e "pôr tudo no mesmo saco" porque há
empresários que não agem assim; simplesmente pegam no
dinheiro e vão para um sítio onde ninguém os chateie.
Outra hipótese a considerar: o tempo.
Admito que o Governo possa estar contente por fazer algo
significativo como a criação de UMA empresa no período de
uma hora, mas porquê limitar-se a isso? Se a intenção é dar
destaque ao que se consegue criar numa hora, porque não
publicitar com o grau de ênfase que a situação exige, a criação
de desempregos no espaço de uma hora?
Os números não param de aumentar e são ícones
emblemáticos que representam (é um pleonasmo, eu sei) toda
uma política económica e social iniciada não se sabe já por
quem e continuada por este Governo (e passível de ser mantida
pelo próximo).
Portugal devia ter mais orgulho nos seus desempregados e
criar condições para que estes se desenvolvessem.
Espanha conseguiu chegar aos 20% enquanto nós por cá
ainda mal chegámos aos 10%.
Irra! "Samos" portugueses ou não "samos"?
Eu acredito que é possível chegar aos 30%. Basta
empenharmo-nos mais. Se trabalharmos ainda mais por ainda
menos, os nossos empresários enriquecerão mais bem mais
depressa e poderão fechar as portas muito mais cedo do que
esperam. Não sejamos egoístas! 30% de desempregados é um
objectivo nobre a atingir, dignifica-nos como Nação e
mostramos ao mundo que, quando queremos, somos capazes.
PS: Já agora, para quem ainda não sabe, vou-me embora em
breve. Por esta altura hesitei entre ser honesto ou hipócrita.
Sendo assim vou dizer que gostei muito de certas pessoas,
menos de outras e outras ainda continuo a ter dificuldade em
reconhecê-las como tal. A localização geográfica possibilitoume conhecer mais pessoas do Curso de Ciências da
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PROTUBERÂNCIA – Volume I
Comunicação do que do Curso de Arquitectura, mas deixem-me
que vos diga, um vale tanto quanto o outro. Só cá estive cinco
meses mas já conhecia o clima existente. Ambos os lados dizem
que "a culpa é dos outros". Caso não saibam, a culpa é
SEMPRE dos outros, nunca é nossa. Há que aprender com os
erros
e
seguir
em
frente.
Em
relação
aos
alunos/professores/alunos de Ciências da Educação nada a
apontar. Turma do 2º ano, continuem a comprar gomas porque é
bom para as unhas e para o cabelo; turma do 1º ano, o vosso
altruísmo é muito bonito mas não é salutar num clima de
competição.
Uma última pergunta para todos aqueles de CC e de
Arquitectura: para quando um 9 de Novembro na Boavista?
Aqueles com mais cultura geral sabem que dia foi, os outros
vão me perguntar agora:
"Joel, o 9 de Novembro foi o quê?"
E eu responderei:
Joel G. Gomes
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TERMINUS #0
O PORQUÊ DA RIVALIDADE
Em circunstâncias normais, o normal seria fazer um balanço
somente lá para o mês de Outubro – altura em que completaria
um ano na Boavista – contudo, isso só seria possível se ainda lá
estivesse. O que não é o caso. Pelas minhas contas foram seis
meses, o que já não é mau, já dá para fazer alguma apreciação.
Antes de mais, um breve esclarecimento (os que já sabem,
estão à vontade para saltar esta parte, se assim o quiserem): eu
não caí na Boavista de pára-quedas, já lá havia estado cinco
anos antes e só me surpreendi por ver que certas coisas
continuavam na mesma. Eu, porém, mudei bastante no espaço
de cinco anos. De tal modo que, além de aprender a usar uma
faca e um garfo, decidi lançar-me num empreendimento
ambicioso e, disseram-me alguns, ―impossível‖.
As circunstâncias e o tempo – que eu sabia ser escasso –
estavam contra mim. Apesar disso, não desisti e tentei dar o
meu contributo para a resolução deste conflito. Em Espanha
temos os conflitos entre os separatistas bascos e o Governo; em
Israel, temos o conflito israelo-árabe; na Irlanda do Norte, são
católicos contra protestantes. Na Boavista, é CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO contra ARQUITECTURA. E percebe-se
bem o porquê desta rivalidade.
Antes de regressar à Boavista trabalhei quatro anos em Santa
Marta e nunca consegui compreender bem as rivalidades entre
cursos que lá existiam:
ECONOMIA vs. GESTÃO
LÍNGUAS E LITERATURAS MODERNAS vs. TRADUTORES E
INTÉRPRETES
DIREITO vs. RELAÇÕES INTERNACIONAIS
PROTUBERÂNCIA – Volume I
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PSICOLOGIA vs. SOCIOLOGIA
entre outras.
Tendo em conta que CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO e
ARQUITECTURA são duas vertentes do mesmo domínio
científico – ao contrário das anteriores demonstradas –
compreende-se esta questão da rivalidade. Eis alguns dos
motivos:
• As cadeiras comuns
Por vezes alunos do 1º ano de CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO têm aulas com alunos do 2º ano de
ARQUITECTURA numa sala onde mal cabe o 1º ano de
Ciências da Educação 1 . O espaço reduzido conduz a
comportamentos nervosos e, por vezes, erráticos. O chamado
„cabin fever‟.
• A utilização do estúdio de rádio ou de TV
Quantas vezes é eu que não ouvi queixas de alunos do 6º ano
de ARQUITECTURA que precisavam de utilizar o estúdio de
TV para editarem um spot publicitário, que seria inserido numa
maqueta, e não o podiam fazer porque estavam lá alunos do 3º
ano de CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO?
• A utilização da plotter
Às vezes os alunos do 4º ano de CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO, da variante de Jornalismo, querem
imprimir uma plotagem para usar numa reportagem televisiva e
não o podem fazer porque os alunos do 3º ano de
1
A minha ex-posição conferia-me acesso a certos privilégios como,
por exemplo, saber que a turma do 1º ano de Ciências da Educação
era composta por dez alunos).
Joel G. Gomes
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ARQUITECTURA estão lá dia e noite.
Perante situações como estas É PERFEITAMENTE
COMPREENSÍVEL A RIVALIDADE ENTRE ESTES
DOIS CURSOS.
Meus caros, um conselho: sejam superiores à mesquinhice.
Não vale a pena lutarem por um objectivo pobre de valor ou
significado. Quem é que esperam impressionar com as vossas
querelas? E agora estão a pensar „Eu não sou assim.‟ ou „A
culpa não é minha.‟ Errado. A culpa é VOSSA!
Mais importante que apontarem falhas uns aos outros,
faziam melhor em (é uma ideia estúpida, mas eu vou dizer na
mesma), coordenar esforços para a concretização de objectivos
comuns. Dou dois exemplos:
1 - Os alunos de ARQUITECTURA costumam fazer
recolha de imagens, geralmente via fotográfica, dos locais onde
vão ser construídos os edifícios que vão projectar.
Os alunos de CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO (a partir
do 2º ano) fazem recolha de imagens através de vídeo, primeiro
para se habituarem aos aparelhos, depois para a realização de
reportagens.
Eis a minha ideia: quer me parecer que a utilização de
imagens de vídeo oferece mais vantagens que a simples
fotografia; assim, enquanto uns aprendem a filmar e a editar, os
outros podem usar o "bruto" das filmagens para os seus
projectos. Talvez eu fale sem saber.
2 - O 1º ano de CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO fez uma
visita ao Museu de Arte de Contemporânea em Lisboa. Mais ou
menos por essa altura uma turma de ARQUITECTURA (não
me recordo se do 2º ou do 3º ano, lamento) iniciou um projecto
cujo tema era um… Museu de Arte Contemporânea
Suponho que os alunos de CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO tenham elaborado um relatório ou trabalho
PROTUBERÂNCIA – Volume I
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qualquer a propósito da visita (conhecendo o professor que os
levou lá, acredito piamente que sim embora não ponha as mãos
no fogo por isso), assim como acredito que os alunos de
ARQUITECTURA tenham recolhido informações várias
acerca deste tipo de museus (incluindo o museu visitado pelos
―outros‖.)
Novamente, declaro a minha ignorância. Mas aproveito
também para expor duas situações que sei que vos vão chocar.
ALUNOS DO CURSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO A
COMPRAREM CÓDIGOS DO CURSO DE ARQUITECTURA
e
ALUNOS DO CURSO DE ARQUITECTURA A COMPRAREM
DOCUMENTOS DO CURSO DE CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO
DE PROPÓSITO!
Especifico que foi de propósito para não começarem já com
esperanças vãs. 'Se calhar enganaram-se.' Não. Foi deliberado.
Aperceberam-se que naqueles códigos estavam informações
relevantes para a realização dum trabalho, duma apresentação
ou mesmo duma frequência.
A informação deve ser sempre considerada e não descartada
a priori devido à sua origem. Perdoo este tipo de displicência ao
pessoal de ARQUITECTURA, mas ao pessoal de CIÊNCIAS
DA COMUNICAÇÃO só tenho a dizer: a vossa atitude é
estúpida.
Principalmente para aqueles que querem seguir Jornalismo.
Habituem-se às fontes que conseguem arranjar e não àquelas
que gostariam de arranjar. Podem não gostar da pessoa, mas a
informação que essa pessoa vos dá é que importa.
Não discutam sobre que curso é mais difícil. Uns têm
trabalhos e exames e frequências ao longo do ano, os outros vão
a casa uma vez por semana porque não entregar um trabalho
Joel G. Gomes
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pode significar chumbar a uma cadeira e chumbar uma cadeira é
– literalmente – chumbar o ano inteiro.
E notem, eu não tomo partido de nenhuma das partes
envolvidas neste conflito. No entanto, há que pensar: como
seria o mundo hoje em dia se a Alemanha ainda estivesse
dividida?
Sou a favor da existência do Muro de Berlim na Boavista.
Acho bem que tenham escrito a frase por uma razão: é mais
fácil acabar com algo quando esse algo é visível.
Há cinco anos a rivalidade entre CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO e ARQUITECTURA era um fantasma que
ninguém admitia que existia, hoje é real e já não se consegue
esconder.
Quem escreveu a famigerada frase pode tê-lo feito com um
intuito provocatório e de auto-afirmação mas deu,
inadvertidamente, o primeiro passo para combater este
problema. Os meus parabéns a essa pessoa.
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PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #1
ENTRE DOIS MUNDOS
OU… CHAMA-SE A ISTO ‘BATER NO CEGUINHO’
No dia da minha partida de Universidades Autónomas surgiu o
boato de que um novo curso irá juntar-se ao rol de cursos já
leccionados no Pólo da Boavista. (Reparem como consegui
conjugar os termos ‗rol‘ e ‗leccionados‘ na mesma frase, o que,
vistas bem as coisas, não é nada assim tão espectacular para eu
me estar a gabar. Assim vocês vêem os pontos de interesse
existentes na minha vida.) Desconheço se o rumor (ou boato, se
preferirem) tem fundamento e isso é bom pois atesta que é um
verdadeiro rumor. Para quem não sabe, um verdadeiro rumor é
aquele que nós não sabemos se é verdade ou não, por isso é que
é um rumor. Se nós soubéssemos que um rumor é verdadeiro, já
não seria rumor, seria um facto.
Após um parágrafo tão longo, vou escrever um bem mais
curto, mas com muito menos interesse. E pronto, foi isto.
Em relação ao curso, lá está, é um rumor; pode ser verdade,
pode não ser. O que dizem por aí é que irá começar um curso de
Design. (Suponho eu que seja uma licenciatura) Portanto,
coloca-se um problema que eu penso conseguir demonstrar
plenamente recorrendo a um filme.
O filme, de seu título ‗No man‘s land‘, foi o vencedor dos
Óscares de 2001 para Melhor Filme Estrangeiro, e passa-se na
Guerra dos Balcãs. A história é simples e ideal para explicar o
que talvez possa vir a acontecer no próximo ano lectivo no Pólo
da Boavista. Eis o que acontece: um soldado sérvio e um
soldado bósnio ficam encurralados numa trincheira – e agora
vem a parte gira – mesmo no meio do campo de batalha. O
filme é interessante e oferece uma perspectiva diferente, por
vezes divertida, da guerra. E para comparação já chega.
Mas em que medida é que este exemplo se relaciona com o
Joel G. Gomes
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pessoal de Design?
Simples. Onde é que eles serão colocados?
Os materiais utilizados e as técnicas sugerem uma zona de
maior confluência arquitectónica, os possíveis conceitos e a
inserção num contexto profissional indicam mais um ambiente
de forte conteúdo comunicacional. Por isso, em que é que
ficamos?
Antes de responder à pergunta lançada no final do parágrafo
anterior quero que saibam que eu podia escrever frases bem
mais simples, mas não o faço porque tenho pretensões de
erudito. (Embora eu acredite que não hajam muitos eruditos a
conjugar vocábulos como ‗calendário‘, ‗comichão‘, ‗azia‘,
‗zurrar‘ e ‗olheiras‘ numa única construção frásica.
Em suma, a ser verdadeira a vinda desta nova turpe, além da
dúvida já referida da localização, surge mais uma: na semana
das praxes quem vai praxar os caloiros de Design? Uma vez que
ainda não existem veteranos, como é que se fará a sua
integração no ambiente académico? Proponho que se faça assim:
1 – Dividem-se os caloiros em dois grupos (os que chegam a
horas no primeiro dia de aulas e os que chegam quando lhes
apetece)
2 – Os atinadinhos serão praxados pelos outros
3- Não tenho mais nada para dizer, mas achei bem escrever
este terceiro ponto uma vez que não há duas sem três
A grande pergunta que se coloca é: há alguma vantagem
neste novo curso?
Há. Ou, pelo menos, penso que há. Sendo um curso que toca
em áreas comuns à Comunicação e à Arquitectura (ainda que,
por vezes, de forma tosca ou pouco evidente) acredito que isso
possa vir a ser um meio de encurtar as distâncias que separam
estes dois grandes rivais boavisteiros.
Já aqui falei de como deveriam utilizar os conhecimentos de
outros cursos sempre que isso fosse útil. Os exemplos foram
dados no artigo anterior, por isso não os vou repetir. Desta feita,
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PROTUBERÂNCIA – Volume I
cabe acrescentar que a aproximação (a possível aproximação,
isto é) será bastante mais forte e, por conseguinte, menos fraca.
E AGORA UM PEDIDO DE DESCULPAS:
PEDIDO DE DESCULPAS
Venho por este meio pedir desculpas a todos
aqueles que acabaram de ler este artigo e tenham
sentido que não foram alcançados os níveis
adequados de riso, gargalhada ou galhofa
alcançados no artigo anterior. (Espero bem que o
artigo anterior tenha provocado riso, gargalhada,
galhofa ou um simples esgar, caso contrário este
pedido de desculpas torna-se desnecessário e
ridículo.) Por isso, para me redimir, deixo-vos com
uma última piada:
“Porque é que a galinha atravessou a estrada?”
“Bom, antes de considerarmos uma resposta
válida há que analisar toda uma série de
contingências relacionadas com o habitat da dita ave.
Acima de tudo, cabe a nós ponderar se uma eventual
deslocação no espaço geográfico rodoviário, se além
de viável, possui um motivo psicológico ou se se
trata duma mera afirmação pessoal de
independência, uma ânsia de libertação das amarras
do aviário ou----
Merda!!! Porque é que eu não consigo escrever coisas
simples?!
Joel G. Gomes
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TERMINUS #2
ARTIGO 2 EM 1
TEMA 1
No seguimento do artigo anterior, trago-vos esta semana
algo que se enquadra de certo modo no que foi discutido
anteriormente. (Para os que conseguirem dissecar o significado
intrínseco desta frase, não pensem que se trata de mais do
mesmo.) A eventual implementação dum curso de Design fezme pensar em alguns assuntos que muito têm sido discutidos na
praça pública mas dos quais ninguém fala.
A propósito da Marca Portugal, têm sido feitas campanhas,
tem-se investido algum dinheirito na criação e divulgação dum
conceito que se resume ao chavão "O que é nacional é bom." É
verdade, temos coisas boas. Uma coisa boa que temos – li há
uns anos atrás, por isso não sei se a informação está actualizada
– Portugal é o segundo país da União Europeia com maior
índice de corrupção passiva. Podíamos ser o segundo país da
União Europeia com maior índice de corrupção activa, mas isso
implicaria a malta trabalhar. Acredito que esta informação possa
estar desactualizada, uma vez que foi publicada antes da entrada
dos últimos dez países. Ainda assim, é um sinal de orgulho.
Marca Portugal. Qualidade, prestígio, inovação.
É óptimo na teoria e ainda melhor na prática.
Portugal é um país óptimo para viver. E se for um cidadão
não cumpridor da lei há toda uma série de vantagens que lhe
serão auferidas.
1 – O pessoal do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF)
é mal pago; uma compensaçãozinha monetária extra é suficiente
para que um processo de legalização seja concluído
rapidamente sem que certos e determinados procedimentos
sejam devidamente observados.
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PROTUBERÂNCIA – Volume I
2 – Caso não queiram obter a legalização, podem ir para o
Algarve onde o facto de falarem uma língua estrangeira é
sinónimo de bons tratos, regalias e, em alguns casos, preços
mais baixos.
3 – Caso se legalizem e naturalizem, podem ficar sujeitos à
corrupção e ao suborno. Aqui temos o nosso melhor chamariz.
Devido a um pequeno lapso inconstitucional, nós portugueses
não podemos acusar ou julgar quem recebe o suborno, só quem
faz.
A Marca Portugal deve ser difundida e defendida por todos.
É necessário para que o nosso país evolua de forma visível e
considerável. Porém, existe um reverso nisto tudo. Não posso
estar aqui a falar de vantagens e ignorar certas acções que
pouco ou nada contribuem, antes pelo contrário, para o
chamado "desenvolvimento do objectivo traçado".
Em poucas palavras, falo da vinda dos D'Zert ao Rock in Rio
Lisboa. Meus caros, se o objectivo é dar um bom nome a
Portugal, não é assim que vamos conseguir.
Pensem bem: eu estou a dar o meu melhor, estou a divulgar
pontos-chave para a nossa aceitação no estrangeiro e depois
põem os D'Zert num Festival de música internacional (ou
Festival internacional de música). Não se percebe.
TEMA 2
Esta semana regressei por um dia a áreas boavisteiras. Foi
um regresso temporário, com motivos inerentes de visita, que
suscitou reacções várias – algumas de contentamento, outras de
indignação, raiva e, em alguns casos, de aversão. Houve,
inclusive, quem tivesse sentido alguma irritação cutânea, mas
isso foi mais por falta de higiene pessoal, do que propriamente
devido à minha presença. (Julgo eu.) No fundo, senti-me como
se tivesse estado ausente durante duas semanas e tivesse voltado
de visita. Provavelmente por ter sido isso que aconteceu.
Joel G. Gomes
21
Portanto, estive de volta. Não por nada ligado a essa palavra
efémera que é a saudade, mas por outros motivos bem mais
nobres, como arranjar matéria para escrever este artigo.
Tentei escrever qualquer coisa de manhã. Não consegui.
Pensei "à tarde penso melhor". Estava errado.
São neste momento 15:00 e continuo sem inspiração para
nada. E isto preocupa-me. Vocês que me conhecem e me
admiram (os que não me admiram tomara que apanhem uma
indisposição estomacal daquelas bem valentes) sabem que isto é
grave. "O Joel está sem inspiração? Meu Deus, sinto os
alicerces da minha fé a serem abalados por forças além da
minha compreensão!"2
É mau isto acontecer a um rapaz que ainda só tem 26 anos.
Contudo, apesar da minha idade, sou um rapaz prevenido e
como tal preveni-me para uma eventualidade destas. As
próximas frases que se seguem poderão chocar algumas pessoas
e vocês também pelas referências óbvias a sexo e violêncio.
Chamo a atenção para esse facto, colocando as frases em
questão em negrito.
Há quem goste de sexo brutal e violento e de ver filmes
com montes de mortos e sangue e corpos esventrados e
cabeças decepados e sexo com animais e sangue, muito
sangue e há pessoas ainda mais doentes que acham que "O
Crime" é um bom jornal de café. E agora uma referência
ainda mais óbvia a sexo e violência: sexo e violência.
Chega de sexo e violência por agora. (Oh… dizem vocês)
Pronto. Só mais um bocadinho.
Sexo e violência.
Sexo e violência.
Sexo e violência.
Sexo e violência.
2
Adorava que alguém pensasse isto e o dissesse publicamente.
Enaltecer-me-ia o ego.
22
PROTUBERÂNCIA – Volume I
Sexo e violência.
Sexo e violência.
Agora já chega. Vamos passar a uma fase mais calma. Para
os que me perguntaram "O que fazes agora?", "Onde é que
andas agora?", "O que é que andas a fazer agora?" ou outras
perguntas cujo significado se resume a uma curiosidade
interessada ou interesseira acerca dos meus actuais afazeres e o
local onde esses mesmos afazeres continuam a ser exercidos.
Esta é a oportunidade de saberem duma vez por todas o que é
que eu ando a fazer.
Tráfico de mulheres. Só mulheres, drogas não é comigo. E
não é difícil traficar mulheres. É preciso ter atenção ao mercado
e às estações do ano mas, fora isso, não é difícil. Brasileiras no
Inverno e eslavas no Verão. Não tem nada que saber.
Um conselho que me deram e que vou partilhar com quem
estiver no ramo ou pensa entrar no ramo: nunca, mas mesmo
nunca, a sério, encomendar mulheres do leste fora da época
quente. Além de não ter quase saída nenhuma, a mercadoria fica
depois no armazém empatada a ganhar pó.
Isto que eu estou a dizer, pode parecer chocante para alguns
de vocês (para os outros admito que possa mesmo ser), mas é
verdade. Eu próprio tenho dificuldades em acreditar. Mas, não
há como o negar. Mulheres do Leste só vendem no Verão.
Outra actividade à qual eu me tenho dedicado de vez em
quando é o embalsamamento de animais. É chato porque como
não tenho um carro ou uma moto para atropelar os animais,
tenho de utilizar um bastão e agredi-los na cabeça. Isto pode
parecer uma piada de mau gosto, mas garanto que eles têm uma
morte rápida. E os que não têm é apenas por uma questão de
segundos. Além disso, mesmo que tivesse um carro ou uma
moto, como condutor sou uma porcaria e o mais certo era eles
acabarem feitos em merda.
Outra coisa que descobri. Pensavam que vinham cá e não
aprendiam nada? E não são só coisas más. Descobri que atirar
Joel G. Gomes
23
senhoras idosas, as chamada velhinhas, dum 10º andar pode
causar algumas complicações no trânsito. Estamos sempre a
aprender, não é verdade? Menos mal; há pessoal que não
aprende nunca. Há gente muito burra por aí.
24
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #3
O CÓDIGO DE JOEL
Sou um dos 40 milhões que comprou e leu ‗O Código Da Vinci‘.
Confesso que sou e não tenho vergonha de o admitir. Porém,
gostava também de dizer que me mantive um pouco a leste de
toda a polémica gerada pelo livro. Não por concordar ou
discordar do que foi dito, mas por falta de atenção ao que se
passa à minha volta.
Li o livro na sua versão original, antes de ser traduzido para
português, muito antes ainda da ―explosão ideológica‖ a que se
assistiu. Duas coisas que convém dizer a propósito da obra:
primeiro, é um bom policial (embora tivesse gostado mais do
romance anterior ‗Anjos e Demónios‘); segundo, é uma obra de
ficção. E é com esta premissa em mente que devemos encarar o
livro de Dan Brown (como objecto literário) e não nos
deixarmos levar por falsas suposições.
‗O Código da Vinci‘ dá continuidade à personagem principal
utilizado por Brown em ‗Anjos e Demónios‘, Robert Langdon,
professor de Simbologia Religiosa na Universidade de Harvard.
A trama começa quando Langdon é chamado ao Museu do
Louvre (em Paris, para os que não sabem) para examinar um
cenário de crime. Este é o princípio básico duma história que
tentou romper barreiras, alertar consciências. Tentou e falhou.
Sim, eu li o livro e gostei, mas daí ao ponto de o considerar
como verdadeiro vai um GRANDE passo.
Ao longo de mais de quinhentas páginas, Langdon e Neveau
(a ‗Langdon-girl‘ de serviço) vão decifrando enigma após
enigma, código após código. O nível de dificuldade aumenta de
enigma em enigma e lentamente começamos a descortinar a
história que se esconde por detrás de todo aquele secretismo,
qual a verdade que a Igreja Católica tem tentado manter oculta
ao longo de quase dois mil anos.
Joel G. Gomes
25
Os que já leram o livro sabem que verdade é esta (os que não
leram, tivessem lido porque tiveram tempo mais que suficiente):
Jesus era filho de Deus e de uma mulher virgem, percorreu
quilómetros e quilómetros a dizer que devíamos ser bons uns
para os outros, a multiplicar pães, transformar água em vinho, a
ressuscitar mortos, curar cegos e leprosos e a caminhar sobre as
águas. Jesus foi um homem bom, tão bom que os romanos só
tinham uma coisa a fazer: crucificá-lo. Quem pode, pode e
assim foi. Jesus foi crucificado (não sem antes levar umas
valentes chicotadas) e morreu na cruz. Depois (como era filho
de Deus podia-se dar a tais luxos) Jesus ressuscitou e ascendeu
ao Céu onde foi viver para junto do seu pai, que nos criou à sua
imagem e semelhança. (Basta olharmos uns para os outros para
verificarmos isso.)
Volto a dizer: o livro de Dan Brown é um bom policial, mas
cai no absurdo ao tentar fazer passar esta tese como sendo
verdadeira. Monsenhor José Rafael Espírito Santo, Vigário
Geral do Opus Dei em Portugal, diz que a obra de Dan Brown
―não assenta num fundo de realidade‖. Apesar de não partilhar
da mesma convicção religiosa, concordo plenamente com as
afirmações do Vigário. Dan Brown pode ser um bom novelista,
mas cai no mais ridículo dos ridículos ao afirmar que a versão
oficial e mais perto da realidade (no meu ver) defendida pela
Igreja Católica – a de Jesus Cristo ter sido um homem bom, mas
humano, que se apaixonou por uma mulher e teve uma criança
dando origem a uma linhagem que dura há vários séculos – é
falsa.
Brown vai ao extremo, não através de acções ou afirmações
explícitas mas sim, mal dissimuladas de afirmar que a teoria da
evolução das espécies defendida pela Igreja Católica é absurda
e desprovida de qualquer rigor científico.
Pior ainda. A certa altura do livro, uma das personagens
invoca o Génesis. Lembro-me de ter pensado ‗um pouco de
coerência finalmente!‘, mas não foi o caso. Contrariando todas
26
PROTUBERÂNCIA – Volume I
as noções de bom senso, Brown auto-proclama-se Deus e
inventa a sua própria teoria da criação, usando o Génesis como
pano de fundo.
Deus criou Adão e arrancou-lhe uma costela para criar Eva.
Certos indivíduos chamam a isto mutilação e clonagem, Brown
chama-lhe ‗desígnio divino‘. É mentira. Deus é bom e não trata
mal os seus filhos. Só que Adão e Eva, apesar de serem filhos
de Deus, eram indisciplinados e não souberam obedecer às
ordens do pai e o pai à primeira infracção cometida usou da sua
benevolência e expulsou-os de casa. Adão e Eva, irmãos,
vieram para a terra e tiveram dois filhos (chama-se a isto
incesto), um bom e um mau. O mau matou o bom. Adão e Eva
não se ficaram e tiveram mais filhos, rapazes e raparigas.
Fizeram casalinhos e foi cada um para seu lado.
Mesmo que vagamente inspirado na existência da linhagem
defendida pela Igreja Católica, Brown ignora questões de
extrema relevância como doenças congénitas que podem surgir
de vez em quando numa linhagem que dura desde o início da
história da humanidade. Dito de forma simples, dois mil anos
tolera-se, mais que isso é cair no ridículo.
E parece que fizeram um filme baseado no livro. Imagino a
risota que não será naquela cena em que Robert Langdon
(interpretado por Tom Hanks) diz a Sophie Neveau (Andrey
Tautou) que Jesus Cristo ressuscitou depois de ser crucificado.
Querem a minha opinião? Dan Brown teria feito melhor em
dedicar-se à pesca. Talvez assim encontrasse alguma ideia
minimamente verosímil.
Joel G. Gomes
27
TERMINUS #4
ATAQUE ALEATÓRIO AOS BONS COSTUMES
No passado dia 21 deste mês foi organizada uma marcha contra
a fome. O evento ocorreu simultaneamente em 365 cidades de
100 países. Em Lisboa e Porto participaram sete mil pessoas,
com o Alto-Comissário para os Refugiados, o ex-PrimeiroMinistro de Portugal, António Guterres, a encabeçar as hostes
em Lisboa. Ora, convém deixar aqui bem claro o seguinte: uma
marcha contra a fome é uma medida estúpida.
Admito a vossa relutância (ou ignorância) em não aceitarem
esta minha opinião mas, se acompanharem o meu raciocínio,
decerto mudarão de ideia.
Ora vejam:
- Num lado, há um grupo de pessoas que não tem nada para
comer;
- Do outro, há um grupo de pessoas que em vez de oferecer
comida aos primeiros, resolve ir dar um passeio. (Como se isso
fosse encher o estômago dos outros.)
E agora a parte realmente estúpida.
A marcha cansa. Chegados ao fim da marcha, o que é que os
participantes fazem? Comem. Mas não comem um ―lanchinho‖.
Não, como estão cansados, comem um lanche, melhor, um
―lanche reforçado‖. Ou seja, não só não enviam como ainda
consomem mais comida do que se tivessem ficado em casa a
ver a marcha na televisão e a pensar ―Se eu pudesse até tinha
ido‖.
―O objectivo da marcha é angariar fundos para ajudar os
mais carenciados‖, alguém disse. Provavelmente. Não ouvi
ninguém dizer isto, para dizer a verdade; mas este é daquele
tipo de frases que se dizem sempre nestas situações. E angariar
fundos é fácil. Principalmente nestas circunstâncias. Imaginem.
Milhares, vá lá, centenas de pessoas chegam junto dum inocente
PROTUBERÂNCIA – Volume I
28
transeunte e pedem-lhe trocos para matar a fome aos
pobrezinhos. Acredito que muitas pessoas lhes dêem dinheiro
por genuína solidariedade, mas a maioria só o faz porque tem
medo de levar porrada se disser ―não‖ àquela gente toda. Não
que tal vá acontecer, mas nunca é demais prevenir.
Em Lisboa e Porto reuniram 70 mil euros. A dividir por 7000
dá 10 euros a cada um. E agora uma questão sobre a aplicação
directa dessa verba: onde é que eles gastam o dinheiro? São
milhares de pessoas a andar, pessoas que se cansam e ficam
com fome; milhares de pessoas que quando aquilo acabar vão
comer qualquer coisa e só depois é que voltam para casa. Com
que dinheiro é que vocês pensam que eles vão pagar o lanche?
Não se iludam, meus caros. É possível que algum do
dinheiro recolhido seja utilizado num propósito legítimo, mas
não me tentem convencer que TODO o dinheiro recolhido é
para esse fim. Não me tentem convencer que alguém faz o que
quer que seja a troco de nada.
Sabem quem ganha mais com isto? São os cafés e os
restaurantes por este mundo que tiveram que servir lanches,
almoços e jantares a esta gente toda. Sim, porque enquanto cá
lanchávamos, noutros países comia-se pernil de porco com
batata assada, noutros comia-se galinha picante e noutros ainda
pensava-se como seria bom ter qualquer coisa para comer.
***
O Campo Pequeno reabriu e, como não podia deixar de ser,
o espaço foi reinaugurado com uma tourada – ou como eles
dizem, uma ―corrida TV‖.
Um pequeno aparte acerca das tradições. Eis a minha
opinião sobre as tradições: respeitá-las desde que enquadradas
devidamente na realidade que se vive. A tourada, para mim, é
um exemplo duma tradição que teve o seu tempo, mas devia
arrumar as botas, pendurar os trapinhos e seguir viagem.
Joel G. Gomes
29
Não obstante a minha opinião sobre o assunto, dizem que foi
um espectáculo bonito de se ver. Eu não vi, por isso não
comento. A única coisa que vi – e posso comentar – foram os
comentários de vários participantes e do público em geral. Um
senhor toureiro disse que todos – e friso ―todos‖ – estavam com
saudades duma boa tourada. Sinto que ficou a faltar um
comentário da parte do touro. Podíamos ter ouvido um
comentário do género ―Ai que saudades dumas boas farpas no
lombo.‖
Volto a dizer, a tourada é uma tradição obsoleta, mas se não
querem acabar com ela, sejam coerentes e tragam de volta
outras tradições entretanto extintas e que são tão ou mais
interessantes:
- Sacrificar raparigas virgens a vulcões (ou a buracos de
obras mal tapados);
- Queimar pessoas na fogueira por dizerem coisas que não se
deve dizer (como ―É feio queimar pessoas na fogueira‖);
- Escravizar aqueles com menos posses a troco duma falsa
liberdade, deveres aos quais não consegue fugir e direitos
restringidos que implicam cedências de vária ordem
Se é para sermos antiquados, que o sejamos como deve ser.
***
Li uma entrevista com a poetisa Rosa Lobato (de) Faria há
dois dias atrás. Não querendo pôr em causa a obra literária da
senhora quero chamar a atenção para o teor mais bizarro de
certas perguntas e consequentes respostas.
Pergunta o jornalista (não dizia se é homem ou mulher, por
isso generalizo):
“O que é indispensável na sua casa?”
Responde a poetisa, ―O silêncio e a vista.‖
É por isso que eu nunca me considerei poeta. Consigo pensar
em coisas mais essenciais numa casa além do silêncio e da vista;
PROTUBERÂNCIA – Volume I
30
sejam elas: paredes, tecto, canalização, electricidade e outras
coisas que para mim são importantes.
“O que ouve em casa?”
E a resposta, ―Música clássica. Quando escrevo gosto de
músicas que não sugiram imagens.‖
Se calhar nunca ouviu falar dum senhor Ludwig van
Beethoven. E se ele estivesse vivo hoje em dia, aposto que ele
também não ouviria falar dela. Quid pro quo, minha cara.
A fechar, “E o que está a mais em Lisboa?”
―Os carros do lixo à noite! Fazem um barulho
ensurdecedor.‖
Para quem preza o silêncio, concordo que os carros do lixo à
noite ―fazem um barulho ensurdecedor‖. Concordo também que
quem dá preferência à vista em prol de saneamento básico não
se deve sentir muito incomodado se os sacos de lixo na rua
começarem a amontoar-se até chegar a um terceiro andar.
Sim, Rosa Lobato (de) Faria é uma escritora conceituada,
reconhecida e admirada, mas cometeu um deslize. Ou talvez
não. Talvez seja eu que só veja o lado negativo das coisas e
confundi sensibilidade poética com falta de bom senso. Se
calhar fui eu.
***
Em 2050 vai acabar o problema do buraco do ozono na
atmosfera. Não, não vamos ficar sem atmosfera. O que vai
acontecer, segundo dizem, é que o buraco vai se fechar. Dizem
que é por causa da diminuição da emissão de gases para a
atmosfera.
Seja verdade ou não, precisamos de avisar os Estados
Unidos que já não é preciso eles respeitarem o protocolo de
Kyoto. Digam-lhes, coitadinhos, que já podem poluir o planeta
à vontade.
Joel G. Gomes
31
***
Na Universidade de St. Andrews na Escócia, um grupo de
cientistas descobriu que os macacos conseguem juntar vários
sons e articular frases simples. É mais uma característica que
aproxima estes primatas de nós humanos. E eu pergunto: onde é
que querem chegar com isto?
Todas as semanas surgem notícias de algo que os macacos
fazem e que os humanos também fazem (ou ao contrário?) Será
que o objectivo é convencer as pessoas que é praticamente a
mesma coisa? Só vejo uma razão:
“A senhora foi apanhada a ter relações sexuais com um
primata.”
―Ele disse que gostava de mim.‖
“Isso dizem sempre. A senhora não sabe que humanos e
primatas não são compatíveis?”
―É só uma diferença de dois por cento nos genes, senhor
Juiz.‖
32
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #5
ALGUMAS COISAS QUE EU ACHO SUSPEITAS, BIZARRAS,
DESNECESSÁRIAS OU ESTÚPIDAS
Fico farto de tentarem adivinhar o que eu penso sobre isto ou
sobre aquilo. Para acabar com males entendidos aqui fica uma
lista do que eu acho supérfluo:
1. Joggers (acho suspeito pessoas correrem pela rua sem
motivo aparente; cá pra mim fizeram alguma)
2. Colheres em pacote (a ideia é evitar a propagação dos
germes; se assim é, porque não chávenas em pacote?)
3. Um dentista que diz ―Isto não dói nada.‖
4. Um barbeiro com doença de Parkinson
5. Um contabilista com doença de Alzheimer
6. Uma massagista tailandesa com buço
7. Um pivot televisivo com Síndroma de Tourette
8. Um empregado de balcão com manchas de óleo na roupa
9. Cafés onde não se pode entrar com comida de fora (isto é
o mesmo que entrarmos numa loja de roupa e dizeremnos que não podemos entrar com roupa de fora)
10. Livros sobre como tratar de plantas de plástico
11. Tamagochis
12. Políticos que pedem aos contribuintes mais trabalho e
mais impostos e depois baldam-se ao serviço para irem
para almoços no estrangeiro com os amigos e põem a
despesa total na conta do Estado
13. Mulheres que se maquilham excessivamente e dizem que
―o interior é que conta‖
14. Produtores de cinema portugueses residentes em França
que recebem balúrdios do Estado português para fazer
filmes de merda que ninguém vai ver e depois vêm à
televisão do Estado português dizer que o Estado
português não lhes dá apoios nenhuns
Joel G. Gomes
33
15. Pessoas que são donas de agências funerárias e de talhos
16. Pessoas que são donas de restaurantes chineses e de lojas
de animais
17. Pitas que se julgam adultas e capazes de mudar o mundo
após tomarem a sua primeira cerveja às oito da manhã e
vomitarem na casa de banho do café
18. Pessoas que fingem ignorância para falar como
entendidos daquilo que não percebem.
19. Artistas que não sabem explicar as suas obras
20. Candidatos a Procurador-Geral da Republica que são
advogados pessoais do Primeiro-Ministro
21. Planos de retaliação a ataques terroristas não aprovados
por falta de estudo sobre o impacto ambiental
22. Estilistas que fazem campanha a favor das espécies
protegidas usando casacos de peles de espécies
desprotegidas
23. Militantes da extrema-direita que se dizem tolerantes e
não xenófobos
24. Cineastas portugueses que fazem filmes só para o seu
umbigo à custa do dinheiro dos contribuintes e perante
reacções negativas dizem: ―Eu quero é que o público
português se foda!‖
25. Críticos que admiram a qualidade do cinema português e
atribuem as salas vazias à falta de cultura dos portugueses
que não sabem o que é ―arte‖
26. Políticos que mudam de ideologia como quem muda de
gravata.
(Foi a minha homenagem ao comediante George Carlin, que
ainda não morreu mas eu acho que se devem homenagear as
pessoas também quando estão vivas e não só depois de mortas)
(Infelizmente na data em que isto foi editado ele já se foi.)
34
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #6
O MEU PRIMEIRO ARTIGO SOBRE
Em nome da diversidade e da variedade (que são a mesma coisa
ou, pelo menos, coisas parecidas, mas assim a frase fica maior
(isto já sem contar com o que está escrito entre parêntesis))
resolvi ampliar os meus horizontes temáticos. Dirão vocês ―mas
ó Joel, tu que já escreveste sobre touradas, marchas contra a
fome, ‗O Código da Vinci‘, a rivalidade boavisteira entre
Ciências da Comunicação e Arquitectura, tu que nos revelaste
os teus hobbies e outros afazeres, que nos fizeste reflectir sobre
o porquê dos D‘Zert no Rock in Rio, que partilhaste connosco
os teus pensamentos e ideias, que até nos brindastes com
conteúdos de elevado teor sexual e violento, diz-nos: que mais
tens para nos oferecer?‖
Desporto.
É verdade. A partir de agora também vou falar de desporto.
Não sempre, claro. Mas assim de vez em quando, quando não
houver mais ideias lá vai um artigo de desporto. Até porque não
é preciso muito para saber escrever sobre desporto. Duas coisas
que são essenciais: uma fotografia (de preferência colorida) e
um título sonante; para o resto chega a especulação.
Dou um exemplo: o título qualquer coisa como “Rabetinho
nos planos de Ignacio Mendez”, depois a foto do jogador (às
vezes os jornais fazem umas malandrices num daqueles
programas de edição de imagem como colocar o jogador em
questão vestido com o equipamento do Clube que está
supostamente interessado nele) e o texto basta dizer que ―uma
fonte oficial terá dito que…‖ ou ―apesar de ainda não
confirmada, a informação também não foi desmentida‖ e por aí
em diante.
Quando já há certezas, aí vêm as declarações do jogador:
―venho marcar muitos golos‖, ―quero ajudar o grupo de trabalho
Joel G. Gomes
35
a atingir os objectivos traçados‖, ―almejo concretizar propósitos
que enobreçam esta invicta instituição. Pronto, o último
comentário, vá lá, os dois últimos comentários, foram
inventados. Mas se os jogadores de futebol já falam na terceira
pessoa, não há-de faltar muito para começarem a falar bem.
Eu vejo o desporto como uma actividade física. Uma
simples actividade física. Nada que mereça dinheiro, portanto.
Ou, tudo bem que receba algum dinheiro, mas desde que
voluntariamente. Eu não me importo de pagar cotas a um Clube
ou Colectividade onde esteja inscrito – é o meu dinheiro, eu
decido o que fazer com ele – já ver o dinheiro dos impostos
gasto em estádios de futebol que são usados uma vez e depois
passam a ser usados como campo de treinos para equipas
distritais, aí a coisa muda de figura.
Dizem que desporto é saúde, mas eu não percebo a
prioridade entre construir um estádio e construir ou remodelar
um hospital.
Outra coisa que eu não compreendo no mundo do desporto:
as transferências. Porquê tanto alarido sempre que um atleta
muda de um clube para outro? É apenas uma transferência! O
desporto é o único mundo onde mudar de local constitui notícia.
Um amigo meu é PSP. Trabalhava na Amadora, foi transferido
para a Caparica. Houve alguma conferência de imprensa? Não.
E era importante que tivesse havido. Porque ficaríamos a
conhecer quais são as suas ambições numa nova esquadra. Se
quer lutar pela vitória do campeonato ou apenas pela
manutenção na I Liga.
E assim termina o meu primeiro artigo sobre desporto.
Notem como usei da especulação e dum discurso vago e pouco
elucidativo (para não dizer duvidoso) para criar a ilusão vaga de
que sabia do que estava a falar. Resultou? Como diria o sábio,
“Prognósticos, só no fim do jogo”.
36
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #7
A MARCA DA BESTA
Na passada terça-feira, dia 6 de Junho, um pouco por toda a
parte comemorou-se a capicua mais aguardada dos últimos dez
anos: o dia da besta. Alguns de vocês acredito que tenham
dedicado este dia a amaldiçoar vizinhos, patrões, professores ou
qualquer outra figura autoritária de resto respeitada (ou tolerada)
nos restantes dias do ano; outros, menos mentalmente sãos,
acenderam velas, sacrificaram galinhas e fizeram rezas
demoníacas para receber o Anticristo
Lembro-me bem como foi há dez anos atrás. Toda a gente
em tumulto. Uns pais a rezarem para que os seus filhos não
nascessem naquele dia fatídico; outros a fazerem figas
justamente para que os seus rebentos fossem seleccionados pelo
Senhor das Trevas.
É no espírito de agradar a todos esses de capacidades
mentais mais reduzidas que decidi escrever este artigo. Para isso
e também para vos mostrar duas curiosidades sobre o número
666. Ambas exigem uma percentagem de atenção superior a
20%. (Monárquicos, novos democratas e malta assim mais
popular, atenção à DICA3)
A primeira curiosidade requer a consulta dos jornais Diário
de Notícias e Jornal de Notícias do tal dia 6 do 6 do 6. Ambos
pertencem ao mesmo grupo editorial, e o facto de ser Joaquim
Oliveira o proprietário desse grupo já é caso para pensarmos
que algo não está bem. Se juntarmos a isso o facto do 24 Horas
fazer parte do mesmo rol, aí a coisa atinge níveis extremos. Mas
deixemos o sensacionalismo de lado.
3
Falo do jornal distribuído gratuitamente pelo LIDL. Longe de mim
querer ofender pessoas que tanto fizeram pelo país durante o Estado
Novo.
Joel G. Gomes
37
Ora bem, o exercício que vos proponho é o seguinte:
peguem no Jornal de Notícias desse dia e contem todas as
notícias com o algarismo 6 no título (sem contar com a capa)
até somarem 666. Se fizerem bem a sequência registada será: 60;
3,6 e 60. Esta última parcela surge numa notícia de fundo de
página sobre o Ministério da Educação. Agora cliquem no link
http://dn.sapo.pt/2006/06/06/cartoons/bandeira.jpg e vejam
o cartoon publicado pelo Diário de Notícias nesse dia.
Os chamados adoradores de Satã não são propriamente
pessoas instruídas. Muitos aderem a semelhantes práticas por
moda, influência ou simples estupidez. Há, porém, alguns mais
informados que sabem como é que o número 666 se verifica nos
tempos modernos. O número vem na Bíblia, isso é dado
garantido, mas como é que se passa da Bíblia para a realidade?
A resposta é: através do cálculo numerológico.
Mas, antes disso, uma dúvida pertinente. Será o 666 uma
espécie de equivalente ao indicativo fictício 555? Sinto-me à
vontade de lançar semelhantes questões a partir do momento em
que um ex-jornalista dos (extintos) jornais 24 Horas e Tal e
Qual (que não irei revelar como sendo Frederico Duarte
Carvalho) publica um livro (A Mensagem Brown) em que
afirma que há um código secreto (mais um) n‘ O Código da
Vinci que revela que o Santo Graal está escondido em Portugal.
Um pormenor que até tem a sua relevância: o jornalista em
questão descobriu isto tudo porque, aparentemente, quem
traduziu a obra de Dan Brown trocou ‗Oceano Atlântico‘ por
‗Mar Mediterrâneo‘. Vá lá não ter trocado ‗Mar Mediterrâneo‘
por ‗Mar Adriático‘ ou ‗Mar de Bering‘. Imaginem lá por onde
é que os Templários não terão andado. O Santo Graal está num
igloo. A seu tempo farei uma análise mais aprofundada a esta
matéria.
PROTUBERÂNCIA – Volume I
38
Por ora, regressemos à numerologia e ao dia 6 do 6 do 6.
1
A
J
S
2
B
K
T
3
C
L
U
4
D
M
V
5
E
N
W
6
F
O
X
7
G
P
Y
8
H
Q
Z
9
I
R
Eis como a coisa funciona. Pegam-se em nomes de pessoas,
de locais, datas, etc. e depois usa-se uma fórmula super ultra
secreta (que eu não vou revelar porque não me apetece). Cada
letra é trocada pelo número correspondente e depois soma-se
tudo até ficarmos apenas com um algarismo. Na madrugada do
dia 6 começou um incêndio em Viana do Castelo que foi
circunscrito passadas poucas horas. Arderam seis hectares.
Agora vem a parte gira:
V+I+A+N+A+D+O+C+A+S+T+E+L+O
4+9+1+5+1+4+6+3+1+1+2+5+3+6 = 51
5+1 = 6
Ou seja
Local: 6
Data: 6
Área ardida: 6
Por agora estarão a pensar ‗Mas ó Joel tu que até
aparentavas ser um rapaz nada dado a essas coisas que foi que
te aconteceu para estares a perder tempo com isso?‘ A minha
resposta é óbvia:
Joel G. Gomes
39
TERMINUS #8
FARÓFIAS, FAFE E FUTILIDADES
Tenho recebido imensas queixas de leitores descontentes com o
facto de há mais de duas de semanas não publicar nada neste
blogue. É um problema de actualização e a culpa é vossa. Se
não me disserem nada, eu penso que não vale a pena gastar
tempo com isto. Eu sei que isso contradiz a primeira frase, mas
como vocês não estão a ler, paciência. A minha ideia é simples:
se querem um blogue actualizado, ACTUALIZEM-NO VOCÊS!
(ou façam o vosso próprio blogue; é fácil)
A verdade é que estas foram duas semanas um tanto quanto
conturbadas. Felizmente, não necessariamente por motivos
maus. Ou seja, embora tivesse matéria de sobra para analisar, a
minha mente não se conseguia decidir sobre como tratá-los.
Deixemos isso de parte e falemos do grande assunto que fez
os portugueses saírem para as ruas no dia 1 deste mês de Julho:
o aumento da taxa da Euribor.
Contas feitas, este indexante passou de uma média de 2,60%
em Dezembro para 3,15% em Junho, o que significa uma subida
de 21%. Em suma, quem quer comprar casinha, tá bem
lixadinho.
E isto é ainda mais complicado quando o desemprego não
pára de aumentar e a idade da reforma é esticada um pouquito
todos os dias porque alguém que trabalha menos de 10 anos
toda a vida e depois tem direito a uma reforma vitalícia acha
que quem trabalha 40 anos para depois ter direito a uma
reforma também vitalícia anda a brincar e pode trabalhar mais
uns anitos porque ainda tem corpo para isso. Ambos recebem
uma reforma vitalícia. A diferença é que o primeiro reforma-se
antes dos cinquenta e o segundo reforma-se pouco antes dos
setenta. É natural que o primeiro receba mais dinheiro, uma vez
que a sua esperança de vida é muito maior.
40
PROTUBERÂNCIA – Volume I
A vida não está fácil para nós portugueses. Não que esteja
fácil para todos os outros. Há quem esteja pior que nós, há
quem esteja melhor. Mas nem todos podem dizer: passámos às
Meias-Finais do Campeonato Mundial de Futebol!
Sim! As ruas fervilham de alegria e espírito positivo!
Uma mãe com uma criança ao colo, ambos não comem há
dois dias, mas sorriem porque Portugal ganhou o jogo.
O senhor Menezes, 63 anos, sofre duma condição física que
lhe dificulta o desempenho de funções no seu local de trabalho.
Infelizmente para o senhor Menezes, caso este se decida
reformar antes do tempo, terá de escolher entre gastar dinheiro
em comida ou em medicamentos. Por outro lado, segundo o que
o seu médico lhe diz, mais uns anos de trabalho e o senhor
Menezes só terá de se preocupar em ter um fato pronto para
usar no dia do seu funeral.
Um estudante recém-licenciado, procura trabalho na sua área.
Não estando filiado a nenhum movimento ou organização
partidária, decide inscrever-se no Centro de Desemprego como
tendo apenas o 12º. As hipóteses de arranjar trabalho aumentam
exponencialmente. Na sala de espera do Centro de Desemprego,
estão mais cinquenta pessoas que acreditam que uma vitória de
Portugal no Mundial de Futebol vai melhorar a sua vida
exponencialmente. Muitos estão desempregados desde o final
do Euro 2004.
Tentem ver isto de forma objectiva. Não comecem a pensar
já: traidor da Pátria, etc. Pensem como isto era há dez anos.
Lembrem-se como nos costumávamos referir àqueles que
ostentavam a bandeira portuguesa em tudo quanto era sítio.
Nacionalista era o termo mais simpático, outros eram
considerados fascistas ou pior que isso. Hoje em dia quem não
tem a bandeira à vista é que está fora do sistema.
As coisas mudam, não há dúvida, mas eu preferiria que
OUTRAS coisas tivessem mudado. Nomeadamente, o bom
senso dos portugueses que são estúpidos e estão na merda e
Joel G. Gomes
41
convencem-se que o facto de Portugal ganhar um jogo ou
mesmo o Campeonato Mundial de Futebol vai-lhes trazer a
certeza duma vida melhor. Meus caros, abram os olhos: nem
uma esperança vão receber, quanto mais uma certeza.
Não gosto de futebol. Não gosto. Admito que preferiria não
ter Portugal no Mundial. Talvez assim, os noticiários não
fossem algo assim:
“Continuamos em directo de Marienfeld onde a qualquer
momento esperamos ouvir as declarações de Ricardo que se
encontra neste momento no WC. Recordo que Ricardo hoje
comeu caril ao almoço. (…) E parece que a porta vai-se abrir.
E sim! Cá está ele! Ricardo! Ricardo! Como se sente?”
“O Ricardo precisa de mais papel higiénico. Tem aí?”
Faz-se uma reportagem para cada jogador, outra sobre o
próximo jogo, outra sobre o último jogo, outra sobre o treino da
manhã, outra sobre os adeptos em Portugal, outra sobre os
adeptos na Alemanha, outra sobre os adeptos noutros países (e,
quem sabe, no futuro, uma reportagem sobre os adeptos noutros
planetas). No meio, assim como quem não quer a coisa, diz-se
que mais dez fábricas encerraram, os Estados Unidos ameaçam
bombardear o Gana por suspeitarem que existem lá armas de
destruição maciça e o Emplastro está prestes a lançar uma linha
de produtos de beleza.
Nós estamos na merda e ninguém nota. Ninguém quer saber.
O futebol estupidifica-nos e, no entanto, tem em si a capacidade
de nos tornar mais inteligentes. Portugal tem dos resultados
mais baixos em exames de Matemática. Não atinamos com
aquilo. A culpa é dos professores, é dos alunos, é dos programas,
é das escolas; a culpa é de tudo e de todos, mas nunca é de
ninguém. E aqui entra o futebol. Pensem num problema
qualquer com um merceeiro, dois quilos de maçãs, três quilos
de batatas e um troco de 1,27 cêntimos, metam pra lá uma
equação, peçam para calcular as probabilidades das maçãs
serem vermelhas, para elaborar um gráfico circular e vejam
42
PROTUBERÂNCIA – Volume I
quantos alunos acertam. Coloquem o mesmo problema usando
o futebol como base e vão ver a diferença. Não é segredo
nenhum. Pitágoras, o matemático grego, se fosse vivo e
residente em Portugal, seria um tipo muito frustrado.
Ganhámos à Inglaterra. Ficámos contentes, continuámos na
merda.
O presidente da Câmara Municipal de Viseu, também
presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses
disse que o melhor método para lidar com os fiscais ultrazelosos do Governo é ―corrê-los à pedrada‖. São declarações
assumidas como lúcidas, uma ―expressão‖ como disse o próprio
no dia seguinte, e que eu tomo como minhas. Mas o meu alvo
de eleição seria o Zé Povinho otário que janta uma vez por
semana, vive numa barraca sem luz e água com a mulher e oito
filhos, mas poupou dinheiro durante um mês para comprar um
cachecol da Selecção.
E viva Protugal!
Joel G. Gomes
43
TERMINUS #9
VIVA A GUERRA!
Numa perspectiva de entretenimento, educação e serviço
público (três características que a RTP raramente consegue
incluir num mesmo programa) vou falar dum tema que tem
estado na ordem do dia: a ocupação do sul do Líbano pelas
tropas israelitas.
Poderá parecer à primeira vista que o tema proposto não
entretém, não educa e não serve o público; poderá também
parecer que, num blogue deste género, a minha abordagem será
satírica, porventura a roçar o campo do desagradável.
Quanto à segunda parte da oração anterior, asseguro-vos que
serei o mais imparcial possível. Nada contra ou a favor de Israel,
do Hezbollah, dos libaneses ou de quaisquer outros envolvidos
neste caso. Convém dizer isto para que fique clara a minha
imparcialidade. Posso dizer o que me vier à cabeça sem parecer
tendencioso.
Resta então a parte do entretenimento, da educação e do
serviço público.
A guerra não entretém? Se a guerra não entretém porque é
que usam nomes como ―teatro de guerra‖ ou ―cenário de
guerra‖ ou outros, todos eles alusivos ao mundo do...
entretenimento.
A guerra não educa? Se Israel não tivesse invadido o Líbano,
quem é que sequer ouviria falar do Líbano? As únicas vezes que
se ouve falar do Líbano é naqueles concursos tipo ―Herança‖ ou
o ―Um contra todos‖ (peço desculpas por só dar exemplos de
concursos emitidos pela RTP, mas a verdade é que os outros
canais públicos não emitem concursos interessantes); fora isso
não há nada. Agora o Líbano está no centro da acção. E aqui
entra uma questão subtil que é: o estado israelita é apoiado
pelos Estados Unidos, que por sua vez encetaram uma luta
44
PROTUBERÂNCIA – Volume I
contra o terrorismo (vulgo Islão). Acontece que os Estados
Unidos não vão enviar nenhum contingente para o Líbano.
Conclui-se facilmente que o Líbano não tem petróleo. Se não
fosse a guerra quem é que sabia disto?
Resta o serviço público. Que, lamento dizer, não está a ser
cumprido. Isto porque não temos ainda nenhuma conta da Caixa
Geral de Depósitos para ajudar os refugiados libaneses. Ainda
não houve manifestações públicas de figuras do jet-set que se
dizem ―ultrajadas pelo que está a acontecer àquela pobre gente‖
lá no Iraque, perdão, Libéria. Líbano. E pior que isso. Dos
jornalistas enviados para o Líbano nenhum deles (julgo eu)
esteve presente na Alemanha durante o Mundial de Futebol. Se
a intenção é servir o público, a minha sugestão seria enviar para
lá todos esses jornalistas (incluindo aquele que levou com um
saco de mijo 4 em cima há uns anos atrás) e esperar que
levassem todos com um míssil em cima enquanto fazem
comentários como:
“Estamos aqui em directo da capital do Líbano, onde a
qualquer momento esperamos obter mais informações sobre o
que se irá passar nos próximos momentos. Oiço algo a
aproximar-se. Acho que é um –”
BUM!!!!
Isso sim, seria serviço público.
4
Sim, eu escrevi ―mijo‖ em vez de ―urina‖.
Joel G. Gomes
45
TERMINUS #10
PRIORIDADES
Agora cada português tem a sua caixa de correio electrónico.
Depois de cada português ter o seu telemóvel (e na perspectiva
do choque tecnológico) este era o passo natural a ser tomado
pelos responsáveis que governam o nosso país. De futuro –
quem sabe? – talvez vejamos cada família portuguesa a viver
numa casa sem buracos no tecto, com paredes, com água, luz e
gás. Talvez. Mas é melhor vermos pastores a fazer anúncios
para a Netcabo.
Já não sou o primeiro a dizê-lo, mas não custa repetir para
ver se entra nas vossas cabecinhas: quem dorme na rua numa
caixa de papelão precisa da merda duma caixa de correio
electrónico para quê? Ele não tem computador! E mesmo que
tivesse, ia visitar o quê? http://www.sem-abrigos.pt/? Eu passo
horas na Internet. Nunca encontrei fóruns ou salas de chats para
os sem-abrigo. Quantas vezes foram a um Espaço Internet e
viram um sem-abrigo a falar no Messenger ou a fazer uma
busca no Google a ―tipos de caixas de papelão‖ ou ―sítios bons
para dormir na rua‖? Não se vê.
Outra coisa que também quero falar: a publicação das listas
de devedores ao fisco. Acho suspeito – para usar um eufemismo
– terem passado de 4000 para 290. Dizem que certas situações
foram regularizadas. Pensem comigo um pouco. Mas só os que
conseguirem. Acredito em algumas, mas não em todas. 3110
contribuintes resolveram pôr as contas em dia porque o
Governo lhes disse ―Se não pagas, vou dizer a todos que és
feio?‖ Não creio.
E vejam lá se descobrem nessas listas um daqueles nomes,
mesmo que remotamente, ligados a grandes grupos económicos
ou a figuras do jet-set. Eu não vi nada. E duvido que alguém
veja. Lembrem-se do seguinte: há uns meses foi o notícia o
46
PROTUBERÂNCIA – Volume I
facto do fisco ter deixado prescrever uma dívida de 512 mil
euros (mais coisa, menos coisa) do presidente da Vodafone
Portugal. Ao que parece ―esqueceram-se‖. Agora ―corrigiram‖
um erro.
Mas tudo bem. Todos nós temos uma caixa de correio
electrónico e os que não são analfabetos podem enviar as suas
queixas para a conta do Primeira-Ministro (e esperar que ele
não tenha o filtro anti-spam ligado). Todos nós esperamos
manter ou encontrar trabalho. Esperamos equilíbrio e alguma
segurança futura. Mas a balança internacional oscila. É o
aumento dos combustíveis, é o aumento disto, é o aumento
daquilo; é a crise daqui, é a crise de acolá. Fábricas encerram e
deslocam-se para países onde a mão-de-obra é mais barata. É a
lei natural das coisas. Como portugueses, resignamo-nos
indignados. ―A minha vontade era ir lá pra eles verem como é
que é!‖ Só que nunca vamos. A vontade não passa disso mesmo.
―É melhor não. Parece mal.‖
Para reflexão, deixo-vos com o seguinte: houve uma
concentração de Ferraris cá em Portugal. O objectivo do
organizador era reunir no mesmo local o maior número de
Ferraris possível. Tanto quanto sei, qualquer pessoa podia ir,
desde que tivesse Ferrari próprio (alugados ou a leasing não
dava).
O que é curioso nisto é que muitos dos presentes eram na
sua maioria empresários da indústria têxtil. Não duvido que
desses vários tivessem encerrado fábricas por ―questões de
ordem económica‖. Engraçado.
Calma! Não se ponham já com ideias! Parecendo que não, o
Ferrari é um carro dispendioso e um homem tem todo o direito
(para não dizer dever) de tomar opções. Quem gasta dinheiro
num Ferrari topo de gama (incluindo combustível e manutenção)
se calhar não pode continuar com a fábrica de atacadores aberta.
300 Euros para trinta trabalhadores que trabalham 12 horas
durante toda a semana todos os meses é muito.
Joel G. Gomes
47
Carro ou fábrica? O que é que faz mais falta?
O empresário só com fábrica não pode ir de carro às
compras, ao passo que o empresário só com carro não precisa
de levar a fábrica atrás para ir onde quiser.
É tudo uma questão de prioridades. Enviem-me um mail e
depois conversamos.
48
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #11
PELA SEGURANÇA DA NAÇÃO
PRIMEIRA PARTE
A notícia saiu na semana passada num diário bem conhecido
do povo português e falava da aquisição de material técnico ao
exército israelita por parte da Polícia Judiciária para proceder à
vigia de sites e salas de conversação (Messenger, Skype, mIRC,
etc.).
Ao ler esta notícia não pude ficar indiferente e, como bom
cidadão que sou, a primeira coisa que fiz quando cheguei a casa
nesse dia foi ligar-me ao Messenger e mudar a minha
mensagem pessoal para Mensagem especial para qualquer
agente da autoridade que possa estar a ler isto: NÃO TÊM
NADA MAIS INTERESSANTE PARA FAZER, NÃO?
Mas isto, meus caros, não é nada. Vou explicar-vos uma
coisa. A PJ não começou a vigiar as nossas conversas
electrónicas agora, já vigia há mais tempo; só que agora tem
material mais sofisticado ao seu dispor. Do pouco que sei – e é
mesmo pouco – existem programas que disparam alarmes
sempre que são localizados certos termos registados numa lista
especial. Às vezes as escutas são feitas por motivos
profissionais, outras vezes por motivos de recreio. Não quero
julgar aqui ninguém. Sei bem o que é ter um trabalho secante
para fazer e compreendo a acção do agente de escuta que se
serve do Programa de Controlo da Palheta Online (PCPO) como
se este fosse um sintonizador de rádio.
Quando há combinações de compra de droga utiliza-se o
termo ―CD‖. Isto foi-me dito, não sei se é verdade ou mentira.
Uma coisa é certa. O termo ―CD‖ pode ser mesmo CD. Se
algum dia decidirem aceder a salas de conversação mais
obscuras descobrirão que ―CD‖ é também abreviatura de
Joel G. Gomes
49
―cross-dresser‖ (travesti em português). A minha pergunta é
lógica e legítima: do que é que eles andam realmente à procura?
Mais algumas advertências sobre essas salas, caso algum dia
decidam ir lá:
1 – Sempre que um username esteja entre chavetas { } é
porque já tem dono (quem curte de cenas sado-maso sabe do
que eu estou a falar melhor do que vocês ou mesmo eu)
2 – Nomes altamente sugestivos geralmente pertencem a
pessoas do sexo oposto ao que é apresentado. Ex:
NymphoBlonde é geralmente usado por um careca de óculos
(com todo o respeito que os carecas de óculos merecem)
3 – Raparigas de 19 anos são gordas, baixas e têm 60
anos.
4 – Os homens têm todos pénis descomunais (mesmo
aqueles que fazem companhia com o Farinelli).
Compreendo a necessidade duma segurança apertada. Numa
altura em que a ameaça terrorista ameaça pairar sobre o nosso
país não é tempo para brincadeiras. É preciso prevenir.
É claro que não há bela sem senão. Neste caso, o reverso da
moeda são aquelas pessoas que se preocupam muito com a sua
privacidade electrónica mas que, ao mesmo tempo, contam tudo
pessoalmente na condição de que a outra pessoa não conte nada
a ninguém. Se são muitas ou poucas não interessa, interessa é
que nos arriscamos a vê-las desistirem de utilizar a Internet e o
telefone e o telemóvel e isso não augura nada de bom para as
intenções do Governo de promover o choque tecnológico.
SEGUNDA PARTE
Uma semana depois de ter lido a notícia referida no início do
artigo, li uma outra notícia sobre o perigo de violação das
telecomunicações das forças de segurança pública por parte de
50
PROTUBERÂNCIA – Volume I
radioamadores ou mesmo de criminosos.
O que temos aqui é um caso típico de vigias a serem
vigiados. Nada de grave. Estamos em Portugal. Vigiar
conversas privadas de altos funcionários do Estado não vai
revelar nada que não tenha sido já revelado ―por fonte anónimo
do gabinete do adjunto do assessor do Ministério‖ no dia
anterior num tablóide de grande tiragem.
Peço desculpas pelo tipo de vocabulário utilizado, mas temo
que esta mensagem possa estar a ser lida por terceiros. Daí a
minha preocupação em escrever este texto de forma
aparentemente simples, ao mesmo tempo que recorro a técnicas
criptográficas do mais avançado que há.
É claro que há um lado bom em termos as nossas forças de
segurança vigiadas por criminosos. Primeiro, os criminosos
conseguem saber de antemão os movimentos dos agentes da
autoridade e agir em conformidade. Segundo, à medida que as
forças de segurança pública aumentam o seu nível tecnológico,
os criminosos vêem-se obrigados a fazer o mesmo.
Duma perspectiva tecnicista, essas disputas de equipamento
só são boas para o choque tecnológico. O nosso país precisa
duma guerra dessas. E se por acaso calharem a apanhar um
ministro ou uma figura política de alta importância a tecer
comentários jocosos sobre o site da Ana Malhoa, por favor,
sejam amigos e partilhem isso connosco. Temos saudades duma
boa escuta.
Joel G. Gomes
51
TERMINUS #12
A ANTESTREIA DO REGRESSO
Após meses e meses de artigos sobre temas tão diversificados
como a cultura do azoto e a esferovite como solução para as
infiltrações de humidade decidi retornar ao campo temático que
tornou este blogue um dos mais visitados de todos os tempos: o
estragão.
É verdade. Num blogue dedicado ao estragão nada mais
coerente que falar do estr— Ó merda! Já fiz asneira. E agora
como é que se apaga isto? Será aqui? Aorgo rtgjregjrg fnb
bnifth itnbi iunu itibunxti ubxtu ibnxiu bniuxt nbu xnbi uftx
biuxnbi un nefgnziu gtbxtig znbnu ifnbin ibni tynhiu xnbiu
nxftihn xiu hnxiub nxnxobni on hxo itnbxiubni xuntiux ntiun
xiunj+j+d j0w9 duj 035uw a8u<80f>
Voltei à Boavista. Fui numa visita oficiosa e revi umas
pessoas e estive com outras. Apesar de não parecer, gostei de lá
ir, gostei de lá ter estado.
NOTA: Peço desculpas pelo rumo sem nexo e quase
lamechas que este artigo está a tomar, mas aguentem mais um
pouco. Chama-se a isto construir uma piada.
Adeus aos que ficam, olá aos que vão. Ou ao contrário.
Isto foi a construção.
E agora a piada:
Ao contrário é burro com égua.
Incrível! Num só artigo abordei o tema da saudade e passei
de forma completamente lógica para o campo da engenharia
genética e do cruzamento de espécies! Só mesmo aqui!
Para os que não percebem o que é isto do cruzamento de
espécies, eu explico: peguem num frango e juntem-no com uma
dourada. É claro que só isto não chega, há que compor o
ambiente. Umas luzinhas, talvez uns sais, daqueles que fazem
bolhinhas e tal. Ah! E convém o frango ser daqueles tipo
52
PROTUBERÂNCIA – Volume I
galinha d‘água, estão a ver? Depois, esperam nove meses ou o
que for e aproveitam o que sair de lá.
Nunca ouviram aquela expressão ‗não é carne, nem é peixe‘?
Descobri há uns meses atrás que nome se dá a isso.
Crocodilo.
Deu num programa que estava a falar dum restaurante em
Nairobi que servia carne de crocodilo e o gerente dizia que
aquilo sabia a uma mistura de carne e peixe. Não era nem uma
coisa, nem outra. Mas se for só isso, podia ser também salada.
Ou ‗não é água, nem é vinho‘, é o quê? Cerveja, sumo, leite.
E porque é que falei disto? Não faço ideia. Basicamente
porque estou a encalhar. (Mas ainda lúcio, perdão, lúcido o
suficiente para escrever ‗estou‘ e não ‗tou‘). E espero levar
vocês comigo neste encalho
Sim! Eu sou o Cronista de Heimlin! Sigam-me, meus
pupilos!
Ou não.
Ok, quando as aulas começarem, eu faço uma visita oficial.
Mas quero um tapete vermelho à porta. Se não tiverem um,
pode ser aquele encarnado. Eu não sou esquisito.
Joel G. Gomes
53
TERMINUS #13
FILMES ONLINE
Anda por aí a circular um filme chamado ―A Curva‖. Quem
anda pelo YouTube ou por outros sites provavelmente já o viu.
A história do filme, baseada em eventos ocorridos na estrada de
Sintra em 86, é praticamente obscurecida perante a troca de
opiniões gerada pelos internautas. Há quem acredite, há quem
duvide, há quem elogie, há quem critique. Há de tudo para
todos. Mas o que é importante realçar é isto: um filme
português ―amador‖ está a ter mais público do que qualquer
outro filme português feito à custa de subsídios pagos pelos
contribuintes. Dói um bocado.
Graças à Internet temos acesso a muita coisa. Só cabe a nós
escolher. Bom ou mau, a escolha é nossa. É um meio de
divulgação excelente. Em Portugal temos agora ―A Curva‖ e
talvez outros. Dos EUA veio o ―Snakes on a plane‖ (―Serpentes
a bordo‖) com o ―pastor‖ L. Jackson., um filme que ainda antes
de estar concluído já era filme de culto. Aliás, se tomarmos em
consideração que certas partes do filme foram baseadas em
sugestões dadas pelos fãs, percebemos que a Internet não só é
boa para divulgar como também para adquirir sugestões.
É um exemplo a seguir por nós, portugueses. Uma lição para
muitos intelectuais. Temos pessoas capazes de fazer filmes
capazes de atrair público. Está mais que visto. E a referência
aos intelectuais não é negativa. Eu gosto dos intelectuais. Gosto
dos seus hábitos, dos seus cantares e trajes populares. Eu gosto
de cinema artístico. A única coisa que não suporto no reportório
nacional é só ter ao meu dispor filmes que é preciso ter um
doutoramento em Belas Artes para os compreender ou então
filmes que é preciso ser mentalmente descompensado para os
suportar. Quero uma alternativa, um meio-termo. Com as
vantagens que a Internet aufere, é preciso sermos para não
54
PROTUBERÂNCIA – Volume I
aproveitarmos isso.
Por outro lado, há certas complicações que podem surgir de
utilizar a Internet como meio de divulgação de vídeos, sejam
eles profissionais ou amadores. Vejam, por exemplo, a AlQaeda. Se não fossem aqueles vídeos que surgem sempre que
os Estados Unidos vão a eleições ou quando há uma crise
qualquer interna, em que aparece um senhor a anunciar ataques
que nunca chegam a acontecer, o mundo seria diferente. Talvez.
Talvez para pior. Mas pelo menos teríamos por onde escolher.
Joel G. Gomes
55
TERMINUS #14
O OSAMA MORREU?
Estou de luto. E não é para menos. Dizem que o Osama morreu.
E agora? Quem é que nós vamos culpar pelos problemas do
mundo? Quem é que vamos usar como bode expiatório para o
aumento do preço dos combustíveis? Da instabilidade mundial?
Para invadir países?
O mundo mudou quando o Osama se tornou conhecido.
Disso não há dúvidas. Excepto uma. Que mudanças virão com o
seu desaparecimento?
Por favor, não entendam esta pergunta como irónica ou
sarcástica. Isto é muito sério. A culpa é algo muito importante e
ter alguém para culpar é essencial. Quando não há ninguém
culpado ou suspeito, hão-de reparar nisto, não se fala de certos
assuntos. São atirados para a sombra, restos de notícia, de
rodapé. De vez em quando saem alguns bocaditos cá para fora e
ficamos a pensar de novo no assunto e esquecemo-nos do que é
realmente importante.
O mundo seria bem diferente sem certas pessoas, mas não as
podemos remover a todas. E mesmo que o fizéssemos, a sua
marca ficaria; pelo bem ou pelo mal. Depende do interesse.
Costuma-se que é bom manter os amigos por perto e os
inimigos ainda mais perto. No actual esquema da ordem
mundial podemos ver aplicações claras desse lema. Os inimigos
de ontem serão os amigos de amanhã e vice-versa. Não há como
fugir a isso.
O Osama morreu? E depois? Era um homem mau? Digo que
– sem querer soar maniqueísta – era. Mas digo também que não
era o mais mau. O Osama foi ou é fruto daqueles que o criaram.
Quem semeia ventos, colhe tempestades; não é o que se diz? E
o mundo colheu uma bem forte. Ainda sentimos o seu vento.
Talvez ele nunca desapareça. O vento, digo. Quase de certeza
56
PROTUBERÂNCIA – Volume I
vai-se acalmar por uns tempos e surgir com nova força. Com
outra cara como protagonista. É preciso renovar. O velho não
vende, venha o novo.
Faço aqui o meu pedido. Em nome da estabilidade. Se
alguém tem de o fazer que esse alguém seja eu. Quero um novo
terrorista mundial.
(Mas de preferência alguém que não tenha a mania de falar
com o indicador em riste estilo professor do tempo do Salazar.
O mundo ocidental levá-lo-á muito mais a sério se não fizer
figuras dessas.)
Joel G. Gomes
57
TERMINUS #15
CONTRA A VIOLÊNCIA CONTRA
Não há muito tempo testemunhei um caso óbvio de violência
perpetrada sobre uma criança. (Optei por escrever ‗criança‘ em
vez de ‗menor‘ como é hábito, não fossem vocês pensar que eu
me estava a referir a um anão.) Para os que não ficaram em
choque por eu saber conjugar e aplicar correctamente o verbo
‗perpetrar‘, eu continuo.
A violência sobre crianças é um assunto sobre o qual eu não
me costumo debruçar muito, mas a situação foi de tal modo
horrenda que achei obrigatório relatá-la.
Tudo aconteceu num autocarro – por razões de ética e
consciência, não divulgarei o nome da empresa – onde viajavam
uma criança (a vítima), os pais (agressores), uma amiga dos pais
(cúmplice) e uma vintena de passageiros (testemunhas). A
criança não devia ter mais dum ano, se tanto, e os pais,
insensíveis ou irresponsáveis ou imaturos, submetiam a criança
a ritmos alienistas: kizomba. Os pais eram jovens, mas isso não
era desculpa. Que tenham mau gosto para gostar de kizomba é
uma coisa. Obrigar o filho a ouvir é outra completamente
diferente.
Se tivesse bateria no telemóvel tinha ligado para a TVI.
Infelizmente, tal não era o caso e vi-me obrigado a suportar
aquela música própria de antecâmara de tortura. Com uma
diferença relevante: eu possuo filtros, ou seja consigo pensar
noutras coisas e abstrair-me; a criança não. Os pais não a
deixavam. Tanto não que tinham o telemóvel donde ouviam a,
passo a expressão, música praticamente colado à orelha da
criança. Capaz de ela ficar lesada irreversivelmente como os
pais. Isto é ainda mais grave se considerarmos que os genes são
hereditários, ou seja, mesmo sem kizomba, não se avizinha um
futuro risonho, academicamente falando, para esta criança. E
58
PROTUBERÂNCIA – Volume I
daí, posso estar enganado. Pode sempre vir a ser artista de
kizomba ou autor de textos como este que estão a ler (Eu gosto
de me auto-criticar de forma negativa e ofensiva; assim os
outros não o fazem porque, e cito, ―já não tem tanta piada‖.)
E não é que não goste de kizomba, nada disso. Não é não
gostar, é detestar mesmo.
Já me têm perguntado porque é que não gosto de música
africana. E eu não sei o que responder. Porque é que eu não
gosto de música africana? Vamos por partes.
Primeiro que tudo, kizomba e kuduro estão para África,
como o pimba está para Portugal.
Segundo, o que é música africana? África não é um país, são
vários. Não existe música africana, existem músicas de países
africanos. Não dizemos música europeia. Não existe música
europeia, logo não existe música africana.
Peço desculpa se no parágrafo anterior fui demasiado
repetitivo. Por instantes temi que pudesse estar a ser lido por
alguém que goste de música africana. Um recado se tiver sido
esse o caso:
Joel G. Gomes
59
TERMINUS #16
SOBRE CRÍTICA PUBLICADA
Caro visitante, se chegou aqui através duma crítica publicada na
edição número 137 da revista Exame Informática, não pense
que lhe vou dar os parabéns por isso. Bem pelo contrário. Estou
até muito desiludido consigo. Já tenho este blogue há mais de
seis meses e foi preciso uma revista com uma tiragem média de
55 000 exemplares falar dele para ir logo a correr para o
computador mais próximo e visitar um blogue cujos textos têm
um "tom informal mas inteligente"? E para quê? Para agora
estar a ouvi-las. Pois é. A pressa o que dá é nisto. Mas não
desespere. Não veio aqui em vão. Nada disso.
Apesar de não satisfeito com a forma como veio aqui parar,
dou-lhe as boas vindas. Aproveito também para divulgar um
dado importante que os senhores da revista esqueceram-se: o
meu blogue é o blogue chamado PROTUBERÂNCIA mais
visto do mundo. Asseguro-lhe. Pode verificar onde quiser. Não
vai encontrar outro blogue chamado PROTUBERÂNCIA mais
visto que o meu.
Ora isto, parecendo que não, confere algum prestígio e
obriga-me a algum rigor e responsabilidade. Agora já não posso
escrever ―merda por tudo e por nada‖.
(Eu disse que não podia escrever. É um visitante novo que
está a ler isto. Cala-te lá, voz estúpida na minha cabeça.)
Eis algumas opiniões:
“Tá insonsa.”
Jovem marido para jovem mulher após a primeira tentativa
desta de fazer sopa
“(...) peca pela parca exploração (...) [dos] personagens.”
Crítico sem carisma e sem gel de duche
60
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #17
PRAXIS REGRESSUM
OU UM ARTIGO ESTÚPIDO COM UM TÍTULO AINDA MAIS
ESTÚPIDO E INCORRECTO DO PONTO DE VISTA LINGUÍSTICO
Voltei à Boavista no dia 16 deste mês de Outubro. Desta vez, ao
contrário da anterior, foi uma visita oficial; embora,
oficiosamente, as aulas ainda não tenham começado. No papel
já começaram, acontece é que a primeira semana de aulas
coincide com a semana de praxes. E é disso que vos vou falar.
Acho inadmissível que só se possam praxar os alunos do
primeiro ano. As praxes têm como intuito nobre integrar novos
membros em grupos já formados. É por isso que eu acredito que
as praxes devem ser aplicadas também a professores ou
formados recém-chegados à casa.
Querem melhor símbolo de integração no espírito
académico/profissional que verem dois professores enrolados
em papel higiénico a correrem dum lado para o outro à procura
de pauzinhos de giz verde? Que é difícil de encontrar, caso não
saibam.
Imagino um novo porteiro na Boavista e o senhor Felgueiras
a dizer-lhe: ―Agora põe-te de joelhos em cima do balcão e canta.
Vá, Fifi! Canta, porra!‖
Confesso que nunca vi o Felgueiras (deixei o ‗senhor‘ de
parte) a ter ataques de fúria mas, como humano que é, não está
livre disso.
Vi os novos alunos (os de Ciências da Comunicação, porque
o pessoal de Arquitectura não se mete nisso; já explico porquê),
observei-os a comer, a beber, a cantar, a saltar, etc. Não
conhecia nenhum.
Em alguns casos, fiquei triste por isso. É que eu gosto de
conhecer pessoas. Por outro lado, com as figuras que foram
obrigados a fazer – onde é que desencantaram o GI Joe, já agora?
Joel G. Gomes
61
– fiquei contente por nenhum dos novos alunos me conhecer
(nem mesmo de vista). Era o que me faltava era alguém num
oleado branco, cheio de vernizes e brilhantes, virar-se para mim
e dizer para todos ouvirem ―Eh! Eu conheço-te! És o Joel!‖ A
minha imagem – digam que não estou a pensar alto; eu tenho
imagem, certo? – iria ser bastante afectada.
Ao mesmo tempo que se utilizava uma sala para propósitos
nobres como pôr pessoas em poses ridículas a dizer frases de
índole sexual com a desculpa da integração, não muito longe
dali, outro grupo de caloiros tomava contacto com a realidade
que irão conhecer nos próximos quatro anos.
No primeiro artigo publicado neste blogue, falei do Muro de
Berlim. Os veteranos sabem do que eu estou a falar; assistiram à
sua criação (alguns participaram nela). Pelo bem e pelo mal, os
caloiros devem ser informados disso. Ora, ao que consta, a área
para lá do Muro de Berlim está em obras.
Quanto a mim, é por isso que as praxes de Ciências da
Comunicação deste ano não chegaram aos pés das praxes de
Arquitectura. Vejam a comparação: os alunos de Ciências
cantam, dançam, comem alho, brincam com vibradores e não
têm aulas; os de Arquitectura têm aulas e, da maneira que as
salas deles estão, quase que são obrigados a fazer as suas
próprias salas.
É como eu costumo dizer: não há melhor integração do que
aquela que nos põe dentro dos eventos.
Sejam bem-vindos de novo. O Joel saúda-vos.
62
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #18
PELO BEM DAS NOSSAS CRIANÇAS
A SIC portou-se mal. Foi uma menina feia. E por isso a nova
madrasta da comunicação social portuguesa, a Entidade
Reguladora da Comunicação (ERC) decidiu pô-la de castigo.
Isto assim, explicado em linguagem de retardado, até é fácil
de perceber. Mas, mesmo que eu recorresse a alguns dos termos
usados no relatório da ERC como ―Os valores para que
remetem as imagens são degradantes e, não menos importantes,
arcaicos face às preocupações e ideais geralmente identificados
com os da juventude‖ a coisa continuaria a ser mais ou menos
fácil de entender.
A razão por trás deste processo imposto à SIC tem a ver com
a sexonovela ‗Jura‘. Em concreto, com spots autopromocionais
que a SIC terá exibido 5 da referida sexonovela em horário
impróprio. Ao que parece não se pode fazer publicidade a
programas de índole sexual à hora em que as criancinhas estão
em casa a ver a ‗Floribela‘.
Devo dizer que a decisão da ERC me fez (e continua a fazer)
confusão. Por um lado, conheço mais ou menos o Código pelo
qual a ERC se rege e tenho quase a certeza que agiu bem. Por
outro lado, posso dizer que agiu tardiamente e sobre a arraia
miúda, por assim dizer. Sim, a SIC fez alusões a conteúdos
sexuais em horário impróprio. Foi punida por isso. Certo. Mas
não fizeram nada em relação à ‗Floribela‘.
Se nunca fizeram a comparação, não se preocupem; eu façovos a papinha toda. Ora vejam. ‗Jura‘ é uma telenovela sexual
feita para adultos. Por acaso passaram uns spots a horas más.
Agora vou falar-vos da ‗Floribela‘.
5
Se são autopromocionais, não deveriam ser feitos pela própria
sexonovela?
Joel G. Gomes
63
A Floribela é uma telenovela infantil. E vejam que bom é
para as nossas crianças.
Ela fala com fadas, tem os olhos sempre brilhantes e tem
ataques de fúria quando o seu príncipe não admite os seus
sentimentos. E as crianças gostam disto. Elas gostam duma
jovem esquizofrénica, com tendências bipolares que, ainda por
cima, é militante do PPM. E não se esqueçam dos olhos
brilhantes. O que é que ela toma?
Sem dúvida não é um exemplo que eu gostaria de partilhar
um dia com os meus filhos. ―Filho, não chateies o pai. Vai ver a
‗Floribela‘.‖ Nunca. Pode me chatear o tempo que quiser.
E depois temos as músicas e os spots. Os spots da ‗Jura‘ são
nefastos para a mente das nossas crianças? Desviantes? Atenção
à letra do spot da ‗Floribela‘: “para a frente e para trás / para
cima e para baixo” e logo a seguir, com um sorrisinho maroto,
“prontos para mais uma?”
A ‗Floribela‘ é vista por crianças e pré-adolescentes recéminiciados em práticas de auto-satisfação. Mas não é preciso ver
a ‗Floribela‘ para ver um spot sem querer. Os ‗iniciados‘ vêem o
spot, acompanham a letra a pulso e perante a questão ―Prontos
para mais uma‖ eles são capazes de corresponder em tempo
recorde. Ora, isto faz inveja aos mais crescidos. Alguns para dar
uma precisam de tomar um comprimido, quanto mais dar duas.
Se isto não for crueldade da SIC, é desleixo da ERC.
64
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #19
O REGRESSO DO SUPER-MÁRIO
Mário Augusto está de volta aos ecrãs. Aos ecrãs, aos posters,
aos cartazes. Sinceramente, não me lembro do genérico antigo
do ‘35 mm‘, mas porra! O homem ‗tá assim um bocado a puxar
ao egocêntrico. Agora deu-lhe em pôr a cara em tudo quanto é
capa de filme. Não lhe bastava assassinar a língua de quem
entrevista em fundo azul; ainda tem de estragar as capas.
É só por isso que esta ideia das capas me revolta. Se ele
soubesse falar inglês como deve ser ou, pelo menos, como um
aluno do sexto ano, aí tudo bem. Mas não. Tanto tempo nos
Estados Unidos; conhece tanta gente e no fim é o que se vê. Até
o Lauro Dérmio falava melhor inglês que o Mário. Sim, era
uma personagem fictícia, era no gozo, mas pelo menos aí era de
propósito e nós ríamo-nos; com o Mário, o caso é mais para
chorar. Até um mudo fala melhor inglês que ele.
E há quem diga que o Mário não entrevista os seus
convidados pessoalmente. Que o Mário está num sítio, o
convidado noutro e é tudo editado em pós-produção. Quanto a
isso não sei. É verdade que raramente fazem um plano conjunto
a não ser quando se cumprimentam e mesmo aí fica a dúvida.
Basta que nos lembremos do ‗Forrest Gump‘ e daquela cena em
que o Tom Hanks aperta a mão ao Kennedy para que a suspeita
fique atiçada.
Pessoalmente, não me faz qualquer diferença se os
convidados estão lá ou se estão na lua ou onde quer que seja.
Para ser sincero, prefiro que não estejam. Vejam a coisa assim:
até agora só há suspeitas; sinal de que a equipa técnica está a
trabalhar bem. E depois há outra; o programa já vai com alguns
anos. Se os convidados fossem todos entrevistados pelo
Marinho, o programa tinha ficado pelo piloto.
E daí não sei. Afinal de contas, eles são pagos por entrevista.
Joel G. Gomes
65
E são actores. De certeza que conseguem manter um ar mais
sério enquanto falam com o Mário. Eu acho que não seria capaz.
Mas também não sou actor.
Para terminar aqui ficam duas sugestões. Primeiro, um
substituto para o lugar do Mário, caso lhe aconteça alguma
(esperemos que não): o Donaltim. É da SIC e, apesar de andar
sempre com uma mão enfiada no rabo, suspeito que fale melhor
inglês que ele.
Segundo – e esta é mais delicada –, tornar o ‗35 mm‘ mais
popular fazendo uma versão porno. O título seria ‗35 cm‘. Mas
aí não poderia ser o Mário a apresentar. Teria de ser o Jamal. E
poderiam continuar com a cena das fotomontagens. Só que
desta vez seria o Jamal a assumir o lugar principal. Mas como a
tecnologia é boa; talvez se conseguisse encaixar o Mário
nalgum pixel. Antes isso que encaixar um pequeno pixel nele.
Apaga! Apaga! Ai o que eu fui dizer....
66
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #20
UPGRADE POLICIAL
Apesar das apreensões que são feitas e das redes de tráfico que
são desmanteladas, nós portugueses (e eu acima de todos) temos
a mania de considerar as nossas forças policiais obsoletas e
pouco capazes. Podem ser reconhecidas lá fora como ‗boas‘,
‗muito boas‘, até mesmo ‗as melhores‘. Cá dentro não prestam
para nada.
Digo isto sem qualquer reserva porque é verdade. E qual é o
problema aqui? Não tem a ver com o material, não tem a ver
com os recursos, com o dinheiro. Nada disso. Resume-se a uma
palavra: turnos. Os turnos policiais são muito curtos. Em oito
horas não dá para fazer nada.
Eu vejo o ‗24‘ desde que a série começou. E a verdade é que
eles só conseguem acabar com os terroristas porque fazem
turnos de 24 horas. E também porque não fazem pausas. Nos
episódios do ‗24‘ nunca se vê ninguém a ir ao WC6, a comer
uma sandes, a beber café. Não se vê nada. O pessoal está ali
vinte e quatro horas seguidas e estão todos na boa, sempre a
trabalhar. O que é que aquela gente toma? Mais importante que
isso: é legal? E se sim, podemos arranjar isso aos nossos
agentes?
Sei que o ‗24‘ é ficção. Num dia, apaixonam-se, casam-se e
divorciam-se. It‟s life to the fullest ou carpe diem, como dizia o
outro naquele filme dos poetas mortos.
Mas se não são os turnos, há qualquer coisa que está mal na
nossa polícia. E eu acho que sei o que é. Falta-nos criatividade.
Um amigo meu escreveu para o Ministério da Administração
6
Não querendo estragar a surpresa a quem ainda não viu, só para dizer
que na sexta temporada há um personagem que vai ao W enviar
um fax. O realismo acima de tudo...
Joel G. Gomes
67
Interna a sugerir que a polícia usasse hienas amestradas nas
rusgas.
Era uma ideia de génio! Só que eles não aceitaram.
Imaginem. Os polícias entravam num apartamento,
começavam a revistar o apartamento. De repente, a hiena
começava-se a rir – porque é isso que elas fazem – o suspeito
atacava-a e a hiena desfazia-o em pedacinhos. Era uma ideia
boa. Não sei porque não a aproveitam. Talvez por ele ser um
leigo na matéria.
Ainda assim, mesmo sem grandes recursos tecnológicos ao
seu dispor, o polícia bom está sempre preparado para tudo e não
desiste. É um lutador, é um atleta. Infelizmente (ou felizmente)
o policiamento não é visto como um desporto a sério. Por muito
bom que um polícia possa ser, nunca ouvimos falar de
transferências milionárias de agentes duma esquadra para outra.
Quando um novo comandante da GNR assume funções
numa determinada esquadra, não o vemos convocar uma
conferência de imprensa para dizer:
"Estou muito contente por estar aqui e prometo fazer o meu
melhor para evitar que esta esquadra desça de divisão."
68
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #21
MANOEL DE OLIVEIRA A 48 VELOCIDADES
Têm criticado os filmes de Manoel de Oliveira. Eu próprio, em
tempos, subscrevi essas críticas. E sem razão. Diz-se que os
filmes de Manoel de Oliveira são chatos e lentos e sendo ele o
autor, atribui-se a culpa disso a ele.
Nada está mais longe da verdade.
E é em nome da verdade que vou revelar quem é o
verdadeiro responsável pelos filmes de Manoel de Oliveira (e
outros!) serem lentos e chatos. Até porque, convenhamos, é
muita coincidência tantos realizadores portugueses fazerem
filmes tão parecidos.
A culpa será deles?
Não.
A culpa é da tecnologia.
E para aqueles que pensam que sou um conservador, que no
‗antigamente‘ é que era bom, passo a explicar o porquê do meu
descontentamento.
Os clássicos portugueses têm estado a ser reeditados em
DVD. Isso é bom. O que não é bom é continuarem a fazer nas
edições em DVD o mesmo que haviam feito nas edições em
VHS, ou seja, porem os filmes numa velocidade mais lenta que
a original.
Esta é a verdade! Os filmes portugueses estão carregados de
acção!
Só que estão em câmara lenta.
Ou vocês acham que o Estado português iria dar 450 mil
euros (na altura 150 mil contos) a um realizador para ele filmar
uma pedra durante quase cinco minutos? Ou para fazer planos
fixos ainda mais longos que isso?
Chegaram, inclusive, ao ridículo de dizer que houve um
realizador que recebeu dinheiro do Estado para fazer um filme
Joel G. Gomes
69
sem imagem. Mas alguém acredita nisto?
É lógico que não.
Isto acontece porque, muito provavelmente, quem pediu os
subsídios não foi o realizador. É só fazerem as contas.
O subsídio para longas-metragens é de 150 mil ou 450 mil
euros e o de curtas 50 mil. Ora, entre 50 e 150 a escolha é fácil
de fazer, não é?
Vamos reconhecer as longas-metragens portuguesas como
aquilo que elas realmente são: curtas-metragens em câmara
lenta.
Vamos acertar os subsídios e dar aos grandes realizadores
portugueses aquilo que eles realmente merecem. E
aproveitamos para dar o que sobrar à nova vaga de realizadores
que luta nas sombras para fazerem filmes que as pessoas
queiram ver.
70
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #22
TUDO MENOS CINEMA
Dois artigos seguidos sobre o Manoel de Oliveira pode parecer
implicância da minha parte – e se calhar até é – mas julgo que
não. É apenas uma precaução. Como sabem, o senhor já passou
dos noventa e tal anos e, por isso, como eu acredito que ele fez
tanto pelo cinema português como o talhante da minha rua,
resolvi escrever isto antes que ele fosse desta para outra
(decerto, bem mais movimentada comparativamente). Tudo
para que esta não seja uma crítica póstuma.
Passando ao assunto em concreto, há cerca de dois, três
meses li uma crónica no jornal 'Público' escrita por, lá está,
Manoel de Oliveira. Na altura pensei em escrever um artigo
sobre certas ideias que ele havia exposto nessa crónica.
Felizmente para mim o meu gosto pela vida ainda não havia
esmorecido.
Passado todo este tempo, apercebo-me que o meu gosto pela
vida ainda continua por esmorecer mas, ao mesmo tempo,
apercebo-me e assumo que às vezes é preciso fazer sacrifícios
por um bem maior.
Comecemos pelo título. 'Cinema de ontem, cinema de
amanhã'. Eis algo que me assusta. Manoel de Oliveira é tido
como o grande patrono do cinema português e fez tão bem as
suas jogadas que o cinema de amanhã, mesmo já sem ele,
seguirá o mesmo rumo.
Como sabem, o nosso cinema é rico em variedade. Desde
filmes sobre toxicodependentes a pessoas com depressão, a
padres que caem na tentação, a padres toxicodependentes com
depressão que caem na tentação. E no meio podem pôr uma
prostituta arrependida. Ou então fazem um filme de época.
Assim, estilo 'Branca de Neve'. Não se nota, mas é. Dizem.
Gosto de uma coisa nele (Manoel de Oliveira) –
Joel G. Gomes
71
precisamente também o que mais odeio – aos noventa e tal anos
ainda filma. Por esta altura, já perdi a esperança de que venha a
ter acção nos seus filmes. Se não teve nas últimas décadas, não
era agora que ia começar a ter.
Entristece-me é a nova vaga de realizadores – os
apadrinhados – que ainda tem forças para se mexerem e
mudarem o rumo que seguimos desde há muito tempo e, em vez
disso, cedem à inércia para não perderem o apoio que tanto
lubrificante lhes custou.
Outra coisa que admiro em Manoel de Oliveira é a
honestidade. Eu desconfiava e ele, sincero e justo como poucos,
confirmou-o na tal crónica. No último parágrafo, Manoel de
Oliveira escreve: “Curiosamente, da minha parte, faço
sempre um grande esforço para que não aconteça durante a
fabricação de qualquer um dos meus filmes que eu nunca
caia nesse estado de um abstracto, de um pressuposto que
frequentemente leva as pessoas a acreditarem que estão a
fazer cinema. O que, sempre que começo uma nova
filmagem, me leva a dizer para comigo mesmo, e até, por
vezes, a prevenir o chefe operador: vamos fazer tudo o que
for preciso, tudo menos cinema.” É bonito e confirma as
minhas suspeitas. Só precisa é de ter mais divulgação.
Quanto à escrita em si.... bom, os que compreenderam e
apreciaram a crónica são aqueles doutorados ou pseudointelectuais que apreciam e julgam compreender os filmes dos
grandes realizadores portugueses. A eles, peço desculpa pelos
termos usados neste meu modesto artigo. Só espero que a
simplicidade não vos tenha ofendido.
72
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #23
MAS O QUE FOI AGORA? OUTRA VEZ AQUELA CENA DE
CAMARATE?
Acho que já ia sendo tempo de escrever um artigo sobre
Camarate. Confesso que a vontade não era muita, mas agora
tenho uma justificação para o fazer. Do caso em si já muito foi
dito. Portanto dizer coisas como ‗foi tudo uma granda aldrabice‘
ou ‗aquilo foi coisas dos americanos‘ seria ‗chover no
molhado‘.7 Optei por esperar. E a espera valeu a pena.
‗Sô Zé‘, também conhecido no mundo das pessoas normais
por José Esteves (ou será antes José Esteves, também conhecido
por ‗Sô Zé‘?) veio a público dizer que foi ele quem construiu o
engenho explosivo (que raio de ocultista é este que diz tudo
assim à balda; até parece que agora já não lhe podem fazer nada)
que arrebentou (dito em bom português) com o avião onde
viajava o Primeiro-Ministro Sá Carneiro e o Ministro da Defesa
Amaro da Costa.
Até aqui nada de novo, até porque o nome do confessor já
fazia parte do top de suspeitos desde há muito. É tipo aquela
história do pai que pergunta aos filhos quem partiu a janela e os
filhos calados e então o pai volta a perguntar e os filhos nada
até que o pai diz aos que não atiraram uma fisgada ao vidro para
levantarem o braço e depois vai-se a ver e não foi nenhum dos
miúdos na volta se calhar foi a mãe. Pronto, o exemplo não é
dos melhores. Mas há de servir de exemplo para outra coisa.
Julgo eu.
O truque é que o crime já prescreveu. Por outras palavras, já
não o podem acusar. Isto agora teria muito mais impacto (piada
7
Não faço ideia se estas citações pertencem a alguém ou não. Mas são
lugares-comuns tão comuns que é possível que alguém as tenha
dito numa altura ou outra. Pelo sim, pelo não…
Joel G. Gomes
73
não digo, mas impacto certamente) se lá atrás não tivesse
escrito já isso.
Ora, isto pode parecer triste – há até quem diga que é ‗uma
vergonha para a justiça portuguesa‘ – mas do ponto de vista
humorístico é do melhor que se arranja. Primeiro, temos a
referência a ‗justiça portuguesa‘. Segundo, a piada em si do
dizer ‗sou culpado‘ quando já arrebentou a bolha.
Ainda por cima, o próprio ‗Sô Zé‘é uma piada. Não gosto de
julgar as pessoas pelas suas crenças ou aparências, mas olhando
para a foto dele, diria que parece um José Castelo Branco
envelhecido. (Diria, mas não digo porque isso seria de mau
gosto.) A juntar a tudo isto, José Esteves foi Segurança (era o
único que entrava com bombas, os outros ficavam todos à porta
que até se lixavam), foi membro dum grupo terrorista de
extrema-direita (ai onde vão esses tempos…); hoje é vidente
convertido ao Islamismo. Fazia-nos falta uma figura assim há
muito tempo.
Acrescento ainda que, a bem ou a mal, Sá Carneiro e Amaro
da Costa tinham de morrer mais cedo ou mais tarde. Os
conspiradores dizem que era por causa das armas que foram
vendidas pouco depois ao Irão. Os sábios, como eu, sabem que
a única maneira de fazerem um aeroporto Francisco Sá Carneiro
era se Sá Carneiro morresse numa queda de avião. Basta verem
a quantidade de nomes de figuras públicas que baptizam locais
públicos e contar quantos estão ainda vivos.
Para terminar, a minha boa acção do dia, uma correcção a
Leonete Botelho, jornalista do Público: o incidente de Camarate
ocorreu em 1980, não em 2004 como escreveu na peça
publicada a 29 de Novembro deste ano. Mais cuidado para a
próxima. O que a gente precisa menos aí são informações falsas
para desviar a nossa atenção.
E já agora, sabiam que certa pessoa bem conhecida da nossa
sociedade portuguesa, indivíduo ligado ao ramo do imobiliário,
foi visto a perguntar as horas a um sujeito que andou na mesma
74
PROTUBERÂNCIA – Volume I
escola que um actual assessor do Governo? Dizem que tiveram
a mesma professora de Físico-Química, mas isso cá para mim já
é especulação.
Joel G. Gomes
75
TERMINUS #24
VER SEM MEXER
Dizem que os espanhóis vêem bem é com as mãos. Não quer
isto dizer que os espanhóis sejam cegos ou que tenham a sua
anatomia focal desviada do sítio; mas sim que são espertos e
aproveitam-se da fama para ter o proveito.
Eu não sou espanhol – embora tenha uma costela vinda
desse outro lado da Península – por isso não sei o que é isso de
ver com as mãos. Assim, limito-me a fingir que hablo un
poquito de espanhol. Como podem ver, nem escrever espanhol
como deve ser eu sei, quanto mais falar.
E agora, passo ao assunto do da: a frustração.
Gosto de espanholas. Gosto de italianas, brasileiras,
eslovenas, portuguesas, americanas. Pronto. Gosto de gajas.
Mas de gajas como deve ser. Daquelas que um gajo encontra
num daqueles bares onde se pagam 100€ só para entrar. O café
lá nunca é menos de 2€, mas num sítio onde se pagam vinte
contos para entrar o que se quer menos é café. Mesmo quando
há sono. Umas notas em mão certa e o sono desaparece e outras
zonas corpóreas ficam logo pré-dispostas para se animarem.
Quem já frequentou locais como este, sabe o que pode
encontrar lá. Desde o simples mas honesto strip-tease, ao
dispendioso (mas proveitoso) free-for-all. Pelo meio há algo
que, para mim, se qualifica como sinónimo de tortura da mais
vil que existe. Falo do lap-dance.
No strip podemos ter uma gaja boa, no free-for-all outra
ainda melhor; mas a gaja que apanhamos no lap-dance põe logo
as outras duas a um canto.
E o pior é que não podemos fazer nada. Ao mínimo toque
vêem logo dois matulões que nos põem dali para fora num
instante. Não sem antes nos explicarem à custa de várias nódoas
negras e ossos partidos que é para ver sem mexer.
76
PROTUBERÂNCIA – Volume I
Para quem procura diversão, isto é do pior que pode haver.
Além de caro, não se chega a provar nada. No entanto, há
alguns para quem este tipo de práticas, mais do que pela
sexualidade se caracteriza pelo seu lado profissionalmente
engrandecedor.
Refiro-me não às executantes, mas aos clientes.
Nomeadamente o Clero. No meu ver, padre é que é padre é
casto e não tem pensamentos libidinosos. (Pelo menos, não os
deveria ter.) Logo, ter uma gaja toda boa a esfregar-se nele e ele
sem reagir é bom sinal. É sinal que é puro.
Ou não.
Talvez não reaja por não apreciar aquele tipo de iguaria, o
que não augura bons tempos para os putos da catequese.
Uma última nota sobre a questão da castidade dos padres; é
que muita gente confunde castidade com celibato. Não
misturem as coisas. Celibato é não casar, castidade é não
molhar o bico (dito em bom português). Os padres fazem voto
de castidade, não de celibato.
Infelizmente, pelas regras deles, para se comer tem de se
primeiro entrar no restaurante. E isso eles não podem. Podem
comer, mas não podem entrar. Podem conduzir, não podem é ter
carro. Por outras palavras, eles podem consumar o casamento.
Só que não se podem casar. É a paga. Por isso é que alguns
fazem biscates por fora.
Joel G. Gomes
77
TERMINUS #25
AS CASUALIDADES DA GUERRA
Dei por mim a pensar no seguinte: a TVI começou a guerra com
os ‗Morangos com Açúcar‘, a SIC respondeu com a ‗Floribela‘;
a TVI contra-atacou então com a ‗Doce Fugitiva‘.
O meu receio, como decerto devem estar a pensar é óbvio: o
que é que a SIC vai inventar a seguir?
Pior que isso!
Em caso de resposta à altura, o que é que a TVI vai retirar da
sua Caixinha de Programinhos Mágicos?
Ainda não vi a ‗Doce Fugitiva‘, por isso não vou tecer aqui
quaisquer elogios. Objectivamente falando, prefiro dizer que
não presta. É mais seguro, honesto e possível de ser verdadeiro.
Subjectivamente falando, julgo que não irei gostar. Mas não dou
certezas quanto a isso.
Posso, porém, falar sobre os ‗Morangos com Açúcar‘ e a
‗Floribela‘. Posso, mas não vou. Porque não me apetece. É uma
questão de humores. Os humores vêm do estômago e o meu fica
mal-humorado quando penso ou falo sobre estes assuntos.
A questão essencial – não imaginam o quanto eu esperei por
poder introduzir a questão essencial num artigo meu – ainda
está por ser respondida. Temo até que ainda não tenha sido
sequer formulada.
Quem é que assiste aos danos causados por esta guerra?
Quem é que cuida das vítimas?
Pais, filhos, adultos, crianças, adolescentes, idosos. Todos
sem excepção são deixados ao abandono pela implacável
crueldade da guerra das audiências. Enganam-se aqueles que
dizem que isto é servir o público. Errado. Trata-se apenas de
mantê-lo servido. E mal.
Já falei dos efeitos da ‗Floribela‘ e dos ‗Morangos com
Açúcar‘. Agora decido levar a batalha para outro campo. Os
78
PROTUBERÂNCIA – Volume I
pais dos directores da SIC e da TVI deixam os filhos verem os
produtos infantis que eles exibem?
O Francisco Penim tem filhos? Se sim e se ele (ou ela)
gostarem de ver a ‗Floribela‘, com que cara é que ele (o pai)
pode dizer ―Vai trabalhar mandrião!‘ se o filho for telespectador
assíduo da ‗Floribela; cujo lema, recordo, é: ‗rica em sonhos e
pobre em ouro‘. É um pouco como um incentivo à preguiça e à
anarquia. (Aquelas roupas nunca me enganaram, confesso.)
Nenhum pai quer isso.
Um pequeno reparo, se mo permitem, esta situação com o
Francisco Penim foi toda ela fictícia. Chamo a vossa atenção
para isso. Para isso e pasra o facto de que, caso Penim tenha
mesmo um filho, provavelmente ele não estará ainda em idade
legal para trabalhar. Um ponto a meu ver. Preocupo-me com a
integridade física e social das crianças. Só falta outros
começarem a preocupar-se com a sua integridade psicológica e
mental para que as coisas comecem a entrar nos eixos.
Por agora fico por aqui. Sei que muita coisa ficou por dizer,
mas voltarei a este assunto um dia destes.
Joel G. Gomes
79
TERMINUS #26
UMA QUESTÃO DE DISTÂNCIA
Finalmente trago um assunto pertinente para ser discutido
dentro e fora da blogosfera: casas de banho públicas, com
enfoque na distância que vai da retrete à porta. Friso que incluo
na definição de ‗casa de banho pública‘ não só as ‗cabines‘,
como também as de cafés e restaurantes.
Já todos nós estivemos em situações de aperto – no sentido
fisiológico do termo – e chegámos a um local onde
esperávamos encontrar alívio e no fim encontrámos um novo
aperto – desta vez a nível espacial. Esta situação tende a repetirse constantemente. Porque é que ninguém fala disto?
Os ‗gabinetes‘ são demasiado exíguos. Mal dá para uma
pessoa abrir a porta como deve ser. Às vezes chega a ser
necessário pôr os pés em cima da sanita (gosto mais da palavra
‗sanita‘ do que da palavra ‗retrete‘) para que consigamos sair.
E isto no caso de sermos magros. Se formos gordos nem
chegamos a entrar.
É por isso que eu gosto das casas de banho grandes. Aquelas
em que uma pessoa entra e tem espaço até para meter um
roupeiro e uma secretaria – embora fazer isso seja próprio de
alguém com perturbações mentais acentuadas, não me custa
nada dar a dica só para ver até onde vocês vão.
Há, porém, um senão. Novamente, a questão entre a porta e
a sanita. Convém explicar, duma vez por todas, a quem desenha
casas de banho públicas que o facto delas serem espaçosas não
implica que a porta esteja longe da sanita. Particularmente
quando o trinco está avariado e a nossa única defesa contra uma
exposição pública não desejada são a esperança e reflexos
rápidos. E, já agora, um braço grande para que, quando a porta
se começar a abrir, possamos reagir a tempo. Isto é deveras
desagradável; para não dizer exaustivo.
80
PROTUBERÂNCIA – Volume I
Chamo ainda a atenção dos responsáveis para outra coisa: as
luzes automáticas. Não gosto. Ao início, sim senhor, é bonito,
mas depois... É que o automático funciona para os dois lados,
isto é, as luzes tanto acendem automaticamente, como apagam
automaticamente. Muitas vezes nas piores alturas.
Afinal de contas, qual é a finalidade das luzes automáticas?
Que raio de vantagem é que essa invenção trouxe ao mundo? A
meu ver, nenhumas. Ó sim, é muito mais prático entrar na casa
de banho e a luz acender-se sozinha. É quase como um tapete
vermelho e, realmente, poupa-nos imenso trabalho quando
estamos mesmo aflitos. Mas as vantagens ficam por aí.
E isto porquê?
Primeiro, porque os sensores nunca tão colocados como
deve ser. Activam-se quando uma pessoa entra, tudo bem, mas
depois quando um gajo tá sentado a fazer o serviço, tem de estar,
a maior parte das vezes, a mexer os braços, senão é obrigado a
fazer o serviço às escuras.
Que raio de ideia foi esta? Eu vou ali para perder peso
intestinal (só para não escrever ‗cagar‘) não é para dançar.
Figuras tristes já as faço cá fora. Não se posso ter um pouco de
dignidade na casa de banho, onde é que poderei?
E depois há aquelas casas de banho que o sensor só funciona
se tivermos de pé. Se tivermos na sanita podemos até dançar a
―macarena‖ que não há luz pra ninguém.
E isto se forem pessoas altas, ou pelo menos da minha altura.
Se forem mais baixas que isto, não se safam. A não ser que
levem um banquinho.
Eu vi-me uma vez numa situação parecida. Estava sentado e
o sensor estava fora de alcance. Então eu pensei:
‗E se eu regulasse o sensor de modo a que o ângulo ficasse
mais fechado?‘
Assim o pensei, assim o fiz; convencido que estava a fazer
um grande favor, não só a mim mas também a todos aqueles
que tiveram ou poderiam vir a estar naquela mesma situação.
Joel G. Gomes
81
O problema é que o sensor onde eu fui mexer tinha um
alarme. Aquela porcaria começou a apitar duma maneira que até
parecia que eu estava a assaltar um banco.
O gajo do café veio logo ver o que é que se estava a passar e
começou a bater à porta.
―Ó amigo, vamos lá a parar com as mexidelas aí para a gente
não se zangar!‖
E eu ali caladinho. Não que eu tivesse medo dele mas já me
bastava estar um gordo careca do outro lado a ralhar comigo por
eu estar a fazer brincadeiras na casa de banho.
O outro, lá se foi embora, e foi então que eu percebi para que
é que servem as luzes automáticas. Qual a grande, senão a única,
vantagem que elas têm. Não para os utilizadores, mas para os
donos dos cafés.
A conta da luz é baixíssima.
O pessoal, se para ter a luz acesa precisa de estar aos
saltinhos, é pá, caga lá nisso. Mais vale fazer às escuras. E os
gajos poupam dinheiro que é uma coisa parva.
82
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #27
PELA NÃO UTILIZAÇÃO DESPROPOSITADA E INÚTIL DE UM
ESPAÇO VIRTUAL BEM COMO PELA NÃO ACÇÃO INTENCIONAL
DE DANO MORAL E PSÍQUICO DO LEITOR OU POR OUTRAS
PALAVRAS NÃO FAZÊ-LO PERDER TEMPO A COMEÇAR PELO
TÍTULO
Não gosto de pessoas que julgam que qualquer merda que lhes
vem à cabeça é merecedora de passar para a folha de papel ou
para a folha virtual. Acho isso presunçoso, arrogante e estúpido.
Porque é que ninguém lhes diz que fazer os outros perder tempo
com artigos redundantes e sem nexo é pura perda de tempo?
Se isto não é judicialmente punível, pelo menos a nível
social deveria ser. Haja alguém que apanhe essas pessoas e lhes
inflija fortes vergastadas. A não ser que elas gostem. Se for esse
o caso digam que lhes vão bater mas depois não batem.
Ameacem só.
Voltando ao tópico principal, o país já está complicado o
suficiente. Não era preciso vir mais alguém atirar postas de
pescada para a fogueira só porque pensa que tem piada. Alguém
lhe disse que tem? Não creio.
Por tudo isto eu vos digo: olhem bem para dentro de vós e
(se estiver tudo no sítio certo) pensem no seguinte: porque é que
eu perdi tempo a ler isto?
Joel G. Gomes
83
TERMINUS #28
O PRIMEIRO POST DO ANO
– A PROPÓSITO DE…
Talvez a minha ausência algo prolongada vos tenha dado a ideia
(errada) de que havia abandonado a escrita neste blogue. O que
é que querem? Não há tempo para tudo. Não que eu tenha uma
vida super ocupada – sim, eu trabalho – é se calhar mais por
falta de vontade do que propriamente por falta de ideias. As
ideias são até demais, para dizer a verdade. De facto, se tenho
estado ausente este tempo todo, não é por falta de assuntos para
cometer, é sim por ter muito e não saber o que escolher.
Continuamos com o Apito Dourado, com a Casa Pia, passou
o Referendo ao Aborto, o Luz do Samoeiro ou Samouco (ou lá
de onde era), a cena das urgências em Odemira. Alguns casos
sazonais, outros pontuais; nada de importante portanto.
Compreendi então que um regresso não podia ser feito através
de um comentário – por muito bem elaborado e escrito que
possa ser – a assuntos que já fazem parte do quotidiano da nossa
praça pública.
Pensei então sobre que tema seria o ideal para eu analisar
neste post. Após uma profunda e cuidada reflexão cheguei ao
tema fulcral, o tema que de norte a sul junta pessoas numa
acção quase ritualista, de transe. Falo, naturalmente, da recolha
de tampas de plástico.
Quase de certeza já falaram nisto. É mais que provável. Mas
tê-lo-ão feito (aposto) na altura em que a recolha começou, na
altura em que era ‗um gesto bonito‘ (para uns) ou ‗algo
condenado a desaparecer em menos de nada‘ (para outros). O
desafio a que eu me proponho é trazer este assunto de novo à
luz da ribalta e, passados estes anos, analisar que efeitos a
84
PROTUBERÂNCIA – Volume I
tampomania8 teve na população portuguesa.
Convivo regularmente com pessoas que sofrem de
tamponite9 e sei o que o malefício das tampas lhes fez. E digo
malefício sem qualquer hesitação. Eu sei que há um propósito
nobre a orientar tudo isto (dizem), só que à custa disso
esquecemo-nos sempre dos que contribuem para isso. Não nos
lembramos das pessoas que deixaram de consumir álcool para
passar a beber só aguinha e iogurtes líquidos. Hábitos de
alimentação alterados por completo para que alguém receba
uma cadeira de rodas.
Não me entendam mal. Acho bem que se ajude quem precisa,
mas há coisas que não compreendo. Como por exemplo: porque
é que o único plástico aproveitável é o das tampas? As garrafas
também são feitas de plástico. Não podemos reciclá-las também?
E sim. O plástico é reciclado. Mas o único plástico que vai para
as cadeiras (pelo que dizem) é o das tampas.
Tentem lembrar-se de quando a coisa começou. No início só
recolhiam tampas de garrafas de água – as tampas azuis –, só
depois passaram para os iogurtes e refrigerantes e outros
produtos. Se repararem, as pessoas fazem uma cara estranha
quando vêem uma tampa de outra cor que não azul no meio
duma pilha de tampas recolhidas. Cheguei a ver o dono dum
café a chocalhar o garrafão das tampinhas colocado em cima do
balcão para ocultar amarela que alguém lá havia deixado.
Mas voltemos ao tema do plástico. Quantas toneladas é que
eles dizem ser preciso? Uma? Duas? Quatros? Dez? E só à
custa de tampinhas. Sabem quantas tampinhas são precisas para
fazer um quilo? Quinhentas. Pela lógica matemática, para fazer
duas toneladas são precisas um milhão de tampinhas. A
considerar isto tudo como proveniente de garrafas de água, a
coisa deverá rondar os 75 cêntimos por tampinha. Contas feitas,
8
9
Se ninguém registou isto, azar. O termo agora passa a ser meu.
Outra para mim.
Joel G. Gomes
85
estamos a falar dum valor na ordem dos 750 mil euros. Talvez o
preço da cadeira seja mesmo esse mas, também, talvez fosse
possível fazer mais cadeiras se aproveitassem mais plástico.
Digo eu.
Até há pouco julgava que tudo isto não passava duma
manobra orquestrada pelos donos das companhias de sumos,
águas, etc. para vender mais e mais. Vendo as coisas doutra
perspectiva, vejo que talvez a resposta seja mais óbvia que isso
que se, por alguma razão, nos escapou durante todo este tempo
é porque somos estúpidos.
Eis a minha dedução: só recolhem tampas. Não lógico
assumir que é o pessoal que fabrica as tampas que tem algo a
ganhar? E agora vocês interrogam-se: mas as tampas são feitas
no mesmo sítio não são? E eu é que sei? Se as minhas
conclusões vos fizerem algum sentido, talvez sejam; senão,
quem sabe?
A verdade é que isto que eu estou a dizer, faz tanto sentido
quanto aquilo que nos disseram. A diferença é que não peço
nada em troca. Ainda.
86
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #29
SE CALHAR ATÉ É DIFAMAÇÃO OU ENTÃO É MESMO O
SERVIÇO QUE NÃO VALE UM CORNO
Como podem reparar tenho estado ausente. A esse facto devemse compromissos profissionais, excesso de labor doméstico e
falta de tempo. Enfim, tudo razões sem qualquer fundamento.
Tentem ver isto como um serviço. Vocês querem vir cá e ler
artigos actuais e interessantes. Nesse caso, porque é que vêm
aqui? Pergunto-me isso.
Ainda assim, apesar de não perceber porquê, percebo e
calculo que haja quem cá venha pela actualização dos posts.
(Também há quem venha através de pesquisas feitas no google
a ‗Floribela‘ e ‗Doce Fugitiva, mas isso fica prometido para um
próximo artigo.) E é nisso que eu tenho falhado mais. No fundo,
o que eu estou a fazer é prestar um mau serviço e a usar
desculpas esfarrapadas para, lá estar, me desculpar.
Por tudo isto vou mudar de assunto e falar-vos do meu
relacionamento com a Pixmania.
Começou numa manhã de Inverno, fria e chuvosa. Lembrome de ter pensado então ‗se isto fosse uma gaja boa, daqui a uns
dez estaríamos a lembrar-nos deste dia‘. Só que não era uma
gaja boa, era o site da empresa Pixmania. Estávamos no dia 24
de Janeiro do ano da graça do Senhor de 2007 (se digo ‗graça‘ é
porque, provavelmente, o único que se está a rir é Ele) e eu,
qual consumidor incauto, fiz fé nos ditos de qualidade e
satisfação garantida ao cliente. Mais honestidade que esta,
posso dizer que só li nos anúncios da secção ‗Relax‘ do jornal
Correio da Manhã.
Agora entra a parte mais ou menos séria (digo ‗mais ou
menos‘ porque, apesar de rigoroso quanto aos eventos, não
hesitarei em atirar uma boca sempre que a ocasião o justifique;
isto é, em cada parágrafo):
Joel G. Gomes
87
Fiz uma encomenda através do site. Como fui um menino
bonito durante todo o ano de 2006, o Pai Natal ofereceu-me
uma televisão para pôr no quarto. (Iupi!!!) Então eu, como além
de bonito, sou também poupadito (mas não sovina) decidi que
estava mais que na hora de arranjar um aparelho que me
permitisse passar todo o VHS que tinha ainda aproveitável para
DVD e um suporte de parede onde pudesse colocar tanto a TV,
como o tal aparelho.
Abro aqui um parêntesis para dizer que não culpo o google
se os primeiros resultados de uma pesquisa feita a ‗gravador
dvd/vhs‘ reportam ao site da Pixmania. É graças ao google, à
sua organização e aos cliques feitos por acaso que tenho 800
visitas.
Iludi-me pela pesquisa e fiz a tal encomenda: um gravadorleitor DVD/VHS da Samsung e um suporte para vídeo/DVD da
Vogel. Como gosto de fazer as coisas como deve ser, fiz o
pagamento e envio do comprovativo conforme requisitado dois
dias após ter feito o pedido. E fiquei à espera.
Para quem nunca pensou por esta experiência, esperar por
uma encomenda quando já enviámos o dinheiro pode provocar
ansiedade. É como esperar que um familiar volte da Guerra. Por
vezes enviamos o dinheiro para lá, com uma nota para ele
comprar um agasalho e ele depois gasta tudo em meretrizes e
vinho verde. (Não escrevi ‗putas‘ porque podia parecer mal.) O
que nos chega a casa pode não ser o que estávamos à espera.
E assim foi… em parte. Graças a telefonemas sucessivos e
ao reenvio do comprovativo da transferência a partir da loja da
Pixmania em Lisboa consegui ter a encomenda em casa
somente dois dias do prazo para o pagamento ter terminado.
Não vos contei? Fazemos o pedido, enviamos o dinheiro e o
comprovativo e se o comprovativo não chegar lá no prazo de
quinze dias, o pedido é cancelado. Quanto ao dinheiro, não sei.
Há-de ficar por lá.
Felizmente, não foi isso que aconteceu. A encomenda
88
PROTUBERÂNCIA – Volume I
chegou e estava quase tudo como eu desejava. Primeiro senão,
porventura o menos chato, o tal aparelho não trazia instruções
em português. Não que eu precise, mas se tenho direito a ter só
tenho é de ter, nem que seja só para ter na prateleira. O segundo
senão é o que me levou a escreve isto. Falo, claro, do suporte.
Conforme leram mais acima, a minha intenção era comprar um
suporte que desse tanto para a TV como para o gravador. De
preferência, ajustável. O que recebi foi isto:
A foto não ficou com boa resolução
Pensei então, se eu fosse uma tal gaja à espera que o marido
regressasse da guerra, seria uma boa altura para cair nos braços
da histeria e desatar aos gritos com uma vozinha estridente a
fazer lembrar a claque do Nacional da Madeira ―Assassinos!
Assassinos! Cortarem-no todo! Assassinos!‖
Senti-me como os consumidores dos anúncios de serviço
pessoal dos jornais. Lemos a descrição, ouvimos a voz e
fazemos o retrato na cabeça. E depois vai-se a ver e… é o que
todos nós sabemos.
O meu caso foi ainda pior pois tinha uma foto para me guiar
antes de ter feito a encomenda. (O engano não foi só meu, até
funcionários da loja julgaram ser este o artigo.)
É bonito ou não é? Agora comparem:
Joel G. Gomes
89
E esta porcaria amputada custou quase trinta euros. Trinta
euros por uma merda sem estabilidade, sem ajuste e, pelo que
dizem, só compatível com suportes da mesma marca.
No site da Pixmania o suporte para TV da Vogel mais barato
que encontrei custava 41 euros. Fiz o que qualquer pessoa
sensata faria e mandei-os para o raio que os parta. Como? Fui a
um hipermercado e comprei um suporte completo, ajustável em
cima e em baixo. Por quanto? Menos de trinta euros. Oh! Mas
não é possível! E então que fizeste tu depois Joel? Depois disse
à vozinha na minha cabeça para se calar ou os leitores deste
artigo iriam pensar que eu não regulo bem. E depois fui
devolver o suporte.
Antes disso já tinha reclamado – até agora sem resposta.
Entreguei o suporte a 26 de Fevereiro. Só no dia 12 de
Março recebi um mail a confirmar a recepção do artigo para
avaliação. Olhem novamente para isto:
Que merda de avaliação é preciso fazer? Ou está inteiro ou
não está. A não ser que – e aqui é a parte em que se comprova o
que eu disse – eles julguem que o artigo seja um suporte
completo e estejam à espera que chegue o resto. É que se for
esse o caso, não vale a pena esperar porque não vai chegar nada.
Quanto a mim, continuo à espera que me devolvam o
dinheiro ou qualquer coisa para compensar; que alguém do
programa da Fátima Lopes ou do Manuel Luiz Goucha se
aperceba do meu problema e me leve à televisão; ou então
aquela menina do ‗Nós por cá‘. Se calhar preferia isso. Por uma
questão de alinhamento.
Você na TV (TVI): Tonicha + EU + filha violada pelo
90
PROTUBERÂNCIA – Volume I
meio-irmão
Fátima (SIC): Donaltim + EU + Cláudio Ramos
„Nós por cá‟ (SIC): reclamação à TV Cabo + EU + poste
de iluminação na varanda.
Joel G. Gomes
91
TERMINUS #30
PROFESSORES E JUNTAS MÉDICAS:
AFINAL O QUE SE PASSA?
A classe dos professores queixa-se de estar a ser vítima de
injustiças, discriminações, atentados aos direitos fundamentais,
blá blá blá. Essa cambada (que é o mínimo que se pode dizer)
queixa-se, queixa-se e sem razão. Primeiro eram os horários,
depois eram as deslocações (tomara muitos pilotos da TAP
viajarem tanto como certos professores), depois vieram os
programas escolares, os putos delinquentes. Agora, para animar
a festa, são as Juntas Médicas.
Eu já não sou estudante, também não sou professor – esses
problemas passam-me todos ao lado – mas porra! arranjem
outra merdinha para se queixarem. Tudo bem, morreram dois
professores. Só que não se esqueçam. Uma tinha leucemia,
outro tinha cancro. Não é ser má língua ou insensível, mas não
eram propriamente os melhores exemplos de saúde que
andavam aí.
No dia 24 de Julho li no DN a propósito de um terceiro caso
do género, o de uma professora, também com cancro.
Desconheço a situação actual da senhora desde então; sei que a
Junta Médica que avaliou o seu pedido de aposentação, recusou
a aceder. E fez senão bem. É que é preciso ser insensível ou
burro para não ver o bem que estas Juntas Médicas estão a fazer
por estes professores.
É muito simples. Se a Junta Médica os tivesse reformado, o
que teria acontecido? Ficavam em casa, na companhia dos seus,
a viver bem e a sonhar, diriam os mais positivos. A verdade é
que a serem reformados mais cedo, estes professores ficariam
em casa, a pensar no que já não poderiam fazer, no pouco
tempo que tinham, a lamentar-se por decisões mal tomadas e
que já não poderiam corrigir. Ficariam tristes e morreriam
92
PROTUBERÂNCIA – Volume I
depressivos.
Ao trabalharem até quinar, nem dão pelo tempo a passar.
Alguns nem conseguem pensar se estão alegres ou tristes;
continuam a educar os seus alunos. O que é senão nobre.
Além de que, isso de trabalhar até morrer é um acto que
muitos sonham atingir, mas que poucos querem que passe
realmente do sonho. O verdadeiro actor, o verdadeiro artista,
quer morrer no palco, o verdadeiro lutador quer morrer no
ringue, o verdadeiro toureiro quer morrer na arena. Estes
professores têm o privilégio de poderem morrer nas salas de
aula – imaginem o que seria um professor de Expressão
Dramática ao encenar uma morte, soltar o último fôlego. Mais
realista seria impossível – e ainda se queixam.
Isto sem falar que no ‗tempo da outra senhora‘ (a versão
espacial desta expressão será, porventura, na ‗casa da Joana‘?)
ainda continuavam a exercer o seu poder de voto depois de
mortos. Alguns tinham a vida, perdão, tarefa, facilitada. Nem se
precisavam de mexer; já estavam nas urnas, era só votar.
Bons tempos, bons tempos…
(Quis meter-me na pele dum dos sujeitos das Juntas Médicas
que têm tomado estas decisões tão humanistas e respeitadoras
da dignidade profissional. Além do que acabaram de ler, isto
provocou-me também uma azia. Conto que tenha sido por ter
estado tanto tempo na pele de tal espécime e não por qualquer
coisa que tenha comido estragada.)
Joel G. Gomes
93
TERMINUS #31
3 COISAS COM QUE EU NÃO BRINCO E PORQUÊ
No mundo de hoje é preciso sabermos bem distinguir o bem do
mal, o certo do errado. É preciso traçar linhas e sabermos quais
os nossos limites. Em tempos lutaram pela nossa liberdade, o
que, apesar de simpático, não teve grande efeito prático na
elaboração desta pequena lista de três coisas com que eu não
brinco.
1ª coisa com que eu não brinco: Deus
A minha política no que se refere a coisas ―gozáveis‖ é
simples: têm de existir. Deus não existe, logo não brinco com
ele. Alguma piada ou referência que eu faça é apenas porque de
vez em quando vejo Deus como um gambuzino.
2 ª coisa com que eu não brinco: ciganos
Admiro-lhes o espírito de união, o nomadismo e o modo
como se aguentaram ao longo dos tempos. Confesso a minha
ignorância em relação à sua cultura e costumes (tipo usar uma
banheira como horta). Acredito que hajam alguns com espírito
para a brincadeira, mas a diferença de culturas ensina-me a ser
cauteloso e a pensar bem antes de agir. Por isso, não brinco com
eles.
3 ª coisa com que eu não brinco: José Sócrates
Como aspirante a funcionário público que sou, devo pensar
bem antes de dizer o que seja sobre o Senhor Primeiro-Ministro
Engenheiro José Sócrates, não vá dizer algo impróprio sem
querer. Mesmo que fosse trabalhador do sector privado,
continuaria a rezar pela sua alma e a considerar este o melhor
Primeiro-Ministro de sempre.
94
PROTUBERÂNCIA – Volume I
Um grande bem haja para si, Senhor Primeiro-Ministro
Que Deus o tarde o a ter na sua companhia que o mundo
bem precisa de si.
Assina um funcionário público dedicado
P.S.: Sócrates rules! Plato, go fuck yourself!
Joel G. Gomes
95
TERMINUS #32
NOVO FUNDO DE INVESTIMENTO CINEMATOGRÁFICO
Aos anos que andavam a falar disto e até me custa a acreditar.
Será que foi mesmo desta?
No dia 24 de Julho o Ministério da Cultura anunciou a
surpresa que todos aguardavam há três anos. Convenhamos que
em termos de surpresa não terá resultado muito bem, mas a
nível de efeitos positivos foi uma boa nova.
Para quem não sabe o Ministério da Cultura criou um novo
fundo de investimento para o cinema e o audiovisual que vai
deixar de ser atribuído apenas pelo ICAM (Fundo de Apoio
Indiscriminado a Paulo Branco e Outros), passando a ter a
participação da RTP, da SIC (não me lembro se também da TVI,
mas é possível). Em suma, entidades públicas e privadas.
Sublinho aqui a presença das privadas num fundo de
investimento. É o que me faz estar contente. Investimento
privado implica retorno do investimento, o que vai obrigar
muitos cineastas portugueses a deixarem de olhar tanto o seu
umbigo e fazer filmes para o público.
Por outro lado temos a primeira consequência negativa disso
que é começarem a fazer filmes tipo ‗O Crime do Padre Amaro‘
à paposeco. Se é excelente a ideia de ver gajas como a Soraia
Chaves nuas a toda a hora e instante, às tantas tanta oferta
torna-se monótona e perde o interesse.
Não sou contra o cinema de autor – o Manoel de Oliveira
quer fazer um filme? Deixem-no – nem sou contra ―Padres
Amaros‖, ―Sortes nulas‖ ou ―Coisas ruins‖. Há lugar para tudo
e para todos. Façam o que quiserem, mas façam para o público.
O grande problema do cinema português é apenas este: a
bipolarização. São dois extremos tão distintos que quando
vemos um, não acreditamos que existe outro. O que eu quero é
algo que estará algures no meio.
96
PROTUBERÂNCIA – Volume I
E se alguns temem que conceitos como ‗rendimento‘,
‗comercialização‘ ou ‗lucro‘ possam tornar os filmes
desprovidos de vida ou interesse cultural, pensem nos subsídios
que receberam durante anos e no que fizeram pelo cinema
português em Portugal. Lá fora é bom, mas (preto no branco)
que se foda isso. Estamos cá dentro, não é lá fora.
O senhor Paulo Branco, um dos (senão o) produtores
portugueses que mais dinheiro recebeu do Estado para fazer
filmes ao desbarato, aquele que num programa da RTP disse em
directo que o Estado não lhe dava apoios (abro aqui um
parêntesis para dizer que se calhar isso até é verdade; em nome
individual, Paulo Branco nunca recebeu apoio do Estado para
fazer filmes, só através da Madragoa, da Clap Filmes, talvez
também da Medeia, etc., o que é muito pouco realmente)
nenhuns foi o porta-voz dos indignados nessa tal conferência.
Para ele e outros como ele a ideia de fazer filmes que gerem
receitas é um anátema.
O desrespeito que tiveram pelos contribuintes portugueses
que vos sustentaram os ‗tiques‘ vai vos sair caro. Agora é que
vão ver como elas vos mordem!
Joel G. Gomes
97
TERMINUS #33
COLECÇÃO DE VERÃO - LIVROS DE BOLSO DN
ARTIGO A FAVOR
Agraciar o público que lê tão antigo e, ao mesmo tempo,
actualizado matutino com algumas das obras literárias mais
referenciadas da cena nacional e internacional é algo que – a
lógica assim o indica – só podia vir dum jornal com a marca de
qualidade do Diário de Notícias.
A escolha do Verão para lançar esta colecção foi senão uma
escolha mais que sensata. É no Verão que as pessoas mais têm
tempo para ler e a visão de portugueses na praia agarrados a tão
magníficos livros deixa-me com uma lágrima no canto do olho.
Além de que, no Verão, como os dias são mais longos, há mais
luz para ler sem ter de se recorrer a luzes artificiais. Verificamos
assim, da parte do DN, uma clara preocupação em dois aspectos;
a saber, o ambiente e a difícil situação financeira de alguns
portugueses que não fosse por alguns cafés não teriam como
aceder a tão fascinante periódico.
Obrigatório será também referir a dimensão dos livros. São
livros de bolso, sim mas isso não os torna inferiores em nada
em relação a outros de maiores dimensões. Pelo contrário, as
suas dimensões reduzidas permitem guardá-los, inclusive, no
bolso da camisa. No meu caso, no bolso esquerdo. Bem junto
ao coração.
Concluo, dizendo que quando terminar o Verão e, por
conseguinte, esta colecção, será um sacrifício ter de esperar
mais um ano até que seja época de iniciativa tão louvável poder
tornar a acontecer.
98
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #34
COLECÇÃO DE VERÃO - LIVROS DE BOLSO DN
ARTIGO CONTRA
Só podem é ‗tar a gozar com um gajo! É que só podem! Não
bastava andarem a saltar com o ‗Bandeira‘ dum lado pró outro,
agora ainda tiveram a ideia de lançar uma colecção de livros de
bolso todos eles publicados no século passado pela EuropaAmérica. Ainda bem que a porcaria dos livros é de graça. À
qualidade que eles têm, também era abusar.
O primeiro defeito a apontar é a escolha das obras. Quem é o
português típico de praia que vai ler Dante, Balzac ou
Dostoievski? Atenção! Não é dizer que todo o português é burro
ou que só lê Margarida Rebelo Pinto, Rita Ferro, Dan Brown,
Nicholas Sparks, Rodrigues dos Santos ou o que estiver no top
do Modelo & Continente.
Eu sei que há portugueses que lêem estes autores. Para dizer
a verdade, eu próprio leria. E se aqui escrevo no condicional é
precisamente porque a merda da letra é tão pequena que um
gajo tem de pensar bem se vale realmente a pena o esforço.
Essa da letra é outra. As edições da Europa-América já de si
tinham a letra pequena, mas estes exageraram na dose. Os livros
até podem ter sido bem escolhidos, mas só para quem apanhou
a lupa distribuída gratuitamente com o primeiro livro. Quem
não apanhou, azar. Por outro lado, usar uma lupa para ler
aqueles livros à luz do sol, apesar de necessário, pode ter
consequências ardentes.
O que me leva ao próximo defeito a apontar: a estação do
ano. Numa altura em que as gajas mais andam sem roupa, em
que o calor incita à procriação (que este país tanto precisa), o
que é que o DN faz? Espeta-nos com livros do arco da velha
que qualquer Biblioteca Municipal tem (em edições com letra
que se lê) e diz: leiam, eduquem-se. Mais valia terem poupado
Joel G. Gomes
99
as arvorezinhas e pegarem num tronco bem grosso e enfiaremno no recto da senhora dona Europa. Andamos à tanto tempo
vergados que nem iríamos notar.
Ainda bem que só voltam para o ano.
(E acabei por não falar do papel. Aquela porcaria é tão rija
que nem para limpar o cu serve.)
100
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #35
AFINAL EM SANTA COMBA DÃO TAMBÉM HÁ COISAS MÁS
Finalmente condenaram o Cabo Costa. A razão pela qual
escrevo ‗finalmente‘ não é porque tivesse alguma coisa lá
empatada por causa do caso, por conhecer alguma das vítimas e
querer justiça ou por não gostar do sujeito em questão, mas
simplesmente porque acho que ‗finalmente‘ é uma palavra
bonita para começar um artigo com ‗Santa Comba Dão‘ no
título.
Pois é. Não tenho nada, rigorosamente nada, a ver com o
caso, mas estou contente que tenha chegado ao fim. A terra de
onde veio esse Grande Português com voz de homem forte
(daquelas que metem respeito e jamais suscitam dúvidas quanto
à sua pujança) que foi Salazar não merecia ver a sua grande
História manchada por uma figura sinistra, outrora um agente
policial cumpridor da lei.
Por que, senão por Salazar, seria Santa Comba Dão
conhecida? Julgo que se o Cabo Costa fosse o único com o selo
‗made in Santa Comba Dão‘, que mil vezes prefeririam os seus
habitantes serem uma terra insignificante sem quaisquer figuras
de referência. Bem melhor estavam quando eram apenas
conterrâneos daquele que conduziu os destinos de Portugal
durante tantos anos. (Suponho que tenha sido em Santa Comba
Dão que Salazar aprendeu a nobre arte de curtir o couro. Senão
de onde terá vindo o nickname ‗Botas‘?)
O Cabo Costa foi condenado a vinte e cinco anos. A lei não
dá para mais. E é pena. Vinte e cinco anos é pouco. Devia ter
levado vinte e seis ou, vá lá, se quisermos mesmo ser rigorosos,
vinte e sete. Já dava nove anos por cada vítima, era mais fácil
controlar.
Bandido! Andou a gozar com a gente este tempo todo! É
bem feita pra aprender! Assassino! (Estas expressões ficam
Joel G. Gomes
101
sempre bem.)
Já estou farto de dizer isto e não me canso: isto queria era
um Salazar em cada esquina! De preferência que fosse gaja,
limpinha e não cobrasse muito. (Mas agora que passam recibo,
não sei…)
102
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #36
NUNCA ESCREVI UM ARTIGO SOBRE ÓCULOS E ESTE É O
PRIMEIRO
Parece que tenho um dedo que adivinha. No meu penúltimo
artigo referi a letra minúscula com que os livros da colecção de
livros de bolso do DN são impressos. Eu tenho boa vista, graças
a um trabalho bem feito pelos meus pais e não por qualquer
obra e graça do Espírito Santo. É verdade que tenho algum
estigmatismo reduzido na vista esquerda, mas… Bom, não sei
se é reduzido ou não. Pelo menos da última vez que fui ao
oftalmologista era. Agora não sei. Talvez seja tipo as f—
Peço desculpa por me estar a desviar do assunto em análise.
No entanto, esta conversa sobre falta de vista em geral e
oftalmologia em particular tem tudo a ver com o tema deste
artigo.
Como dizia antes, não tenho falta de vista, mas há quem
tenha. E então agora com aqueles que já falei, ainda mais.
No Correio da Manhã do dia 8 de Agosto deparei-me com
uma notícia cujo título era ‗ROUBO DE ÓCULOS‘. Só de
olhar para o título, somei 1+1 (dá 2, para quem não sabe) e
pensei: ‗Já estás!‘ Porém, ao ler a notícia apercebi-me que a
grande parte dos óculos roubados eram óculos de sol. Ainda
assim, o artigo refere que também roubaram armações para
óculos de prescrição médica.
A sorte do DN é que estes roubos não foram provocados por
influência da sua colecção de Verão. Porque, a avaliar pelos
prejuízos, se eu fosse um dos donos das lojas assaltadas, quem
havia de pagar as despesas era o jornal responsável.
Continuando no mesmo artigo, mas fazendo um viragem de
perspectiva, pergunto: de quem foi a culpa dos assaltos? Parte
foi dos ladrões, como é óbvio. Creio, porém, que não será
errado atribuir uma quota de culpabilidade ao responsável do
Joel G. Gomes
103
Centro Óptico de Seia pelo assalto a este local.
Luís, se estiveres a ler isto, eu sei que não fizeste por mal,
mas descobrir os melhores ângulos de instalação das câmaras
não é coisa que demore muito tempo a fazer. Principalmente
num sítio onde se trabalha há já algum tempo e que é suposto
conhecer-se bem.
Vá lá, isso eu até deixo passar. Agora, dizeres que foste
vítima dum crime organizado… Não sou especialista em
assaltos, mas duvido que qualquer acção criminosa que recorra
ao uso duma marreta quando há tantos outros objectos mais
subtis tenha algo de muito organizado por trás.
Desejo-te sorte em recuperares o que é teu, porque calculo
que não tenhas dito o que disseste por maldade. Estavas com a
cabeça quente; o que, dada a talhada que foi, é perfeitamente
compreensível.
104
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #37
SIM, É OUTRA VEZ UM ARTIGO SOBRE A COLECÇÃO DE
VERÃO DE LIVROS DO DN. E DEPOIS?
Antes que comecem já aí a pensar, eu digo-vos já: não estou a
bater no ceguinho. Se escrevo um quarto artigo à volta do
mesmo tema, por alguma razão é. Novamente me debruço sobre
a questão na medida em que continuo a ter um dedo que
adivinha. A vossa atenção agora, por favor.
Trabalho numa Biblioteca Municipal, que se divide numa
biblioteca central e mais três pólos em diferentes freguesias do
concelho. Nestas últimas duas semanas calhou a mim a tarefa
de ir buscar os jornais à papelaria.
Coincidência ou não, no dia em que escrevi o artigo anterior
relacionado com este tema, era suposto ter recebido um livro
com o DN – ―O Último Adeus‖ de Balzac – e não veio, veio só
na sexta.
Era aqui que eu queria chegar. E porquê? Porque este livro já
vem impresso com letra de gente. Só que depois espalharam-se
outra vez ao comprido.
A acompanhar ―O Último Adeus‖ veio o livro respectivo de
sexta, ―O Caso dos Gémeos Desconhecidos‖ de Ellery Queen,
que, mais uma vez, requer o uso de uma lupa para poder ser lido.
No entanto, e é isto que não percebo, o livro que saiu no dia
seguinte, o ―Daisy Miller‖ do Henry James, vinha também
impresso em letra de gente, um pouco mais pequena do que a
do livro do Balzac mas, ainda assim, legível.
Resolvi então pegar nos livros já distribuídos da colecção e
fazer uma pequena avaliação. Eis uma lista (a ordem é
aleatória):
DAISY MILLER, de Henry James
O CASO DOS GÉMEOS DESCONHECIDOS, de Ellery
Queen
Joel G. Gomes
105
O ÚLTIMO ADEUS, de Honoré de Balzac
O SENHOR DA CHARNECA, de Ruth Rendell
A DIVINA COMÉDIA: O INFERNO, de Dante
A MÁQUINA DO TEMPO, de H. G. Wells
OS EUROPEUS, de Henry James
CARTAS DE INGLATERRA, de Eça de Queirós
FREI LUIS DE SOUSA, de Almeida Garrett
Os livros cujos títulos estão a negrito correspondem àqueles
publicados com letra legível. Porque é que uns foram
publicados assim e outros não?
De início pensei que era um caso de bipolaridade ou que lhes
tivesse dado na veneta fazer assim.
Foi após analisar com atenção os dados que possuía que me
deparei com uma terrível conclusão.
Tal como o jornalista do ―24 Horas‖ ou do ―Tal e Qual‖ que
descobriu que conseguia formar a palavra ‗PORTUGAL‘ se
tirasse um ‗P‘ aqui, um ‗o‘ ali, etc., também eu descobri que há
um código secreto implícito nos livros publicados.
Primeiro, há que separar os livros; os que nos interessam são
aqueles com os títulos a negrito.
Peguemos no ‗Frei Luís de Sousa‘ e olhemos com atenção
para a CENA VI do Acto Primeiro. É anunciada a chegada do
senhor. Jorge, Madalena, Maria e Miranda são as personagens
intervenientes. Atenção particular à frase ―Terrível sinal
naqueles anos e com aquela compleição!‖
Saltemos agora para ―O Último Adeus‖, para a página 24, na
qual o magistrado, ―apontando para a desconhecida‖, pergunta
―quem é aquela senhora?‖. O senhor de Grandville responde-lhe
que é a condessa de Vandières, louca ao que parece, regressada
há dois meses.
Uma espreitadela agora ao ―Daisy Miller‖, à capa e à
contracapa, onde podemos observar a figura de Daisy Miller em
106
PROTUBERÂNCIA – Volume I
posições diferentes. Na capa, temos Daisy situada no lado
direito, na contracapa, Daisy está do lado esquerdo. O cenário é
o mesmo, a posição é a mesma.
Porquê, então, a mudança?
Se à primeira vista a relação entre estas três obras não vos
salta à vista, é perfeitamente normal, uma vez que eu também
só reparei nisso passado algum tempo.
Nas duas primeiras obras, temos o caso de uma pessoa que
regressou após um período de ausência. Na terceira, o caso de
uma mulher que é mal vista pelos seus conterrâneos.
Porquê?
Porque é que uma mulher honesta é vista com maus olhos?
Só se não for uma mulher, pensei eu.
Estava descoberto o enigma. D. João, o regressado do Frei
Luís de Sousa na figura do Romeiro, era na verdade a condessa
de Vandières. Faz todo o sentido que após um cativeiro de vinte
anos, D. João não só estivesse um pouco louco como também
decidido a experimentar um tipo de vida alternativo.
O Romeiro/condessa de Vandières foi assim perseguido até
ao fim da sua vida por aqueles que não o aceitavam.
Queimado/a numa fogueira ele/a jurou voltar.
E um dia Daisy Miller nasceu. Mulher por fora, homem por
dentro, esconde o seu terrível segredo numa sociedade que não
a aceita.
Das duas uma, ou é isto que eu acabei de dizer ou então é
mero acaso.
Joel G. Gomes
107
TERMINUS #38
SALVEMOS AS NOSSAS CRIANÇAS! ELAS NÃO MERECEM ISSO!
No final do ano passado abordei o tema da guerra iniciada pela
TVI com a série ‗Morangos com Açúcar‘. A SIC, como se sabe,
respondeu com a ‗Floribella‘. Por sua vez, a TVI contra-atacou
com a ‗Doce Fugitiva‘. Terminei o artigo com uma nota de
apreensão em relação ao que a retaliação da SIC poderia trazer.
Passados oito meses, temos a resposta. ‗Chiquititas‘ (ou
‗Chiquitities‘, como eu carinhosamente a baptizei) é a resposta
(tardia) à ‗Doce Fugitiva‘. Já vi o produto em questão e há
muito a apontar.
Comecemos pelos cenários e pelas perguntas que andam na
cabeça de toda a gente: onde é que o director artístico compra
droga? Será tão barata quanto parece? Antes de vos responder,
deixem-me que vos diga que sou uma pessoa alegre. No entanto,
aquela cor toda, aqueles contrastes; aquilo para mim não é
alegria, são os ácidos que estão cada vez mais baratos.
Ainda não apanhei bem o rumo da história. Primeiro, porque
não vi do princípio; segundo, porque – e eu já tenho a
experiência disso – tenho medo de começar a ver e de me
interessar. Quase que ia acontecendo o mesmo com a
‗Floribella‘ e com os ‗Morangos‘. As gajas são boas, um gajo
começa a ver, entusiasma-se e… pronto, fica agarrado.
Julgo, porém, que não hão de haver muitas coisas que
difiram entre a ‗Floribella‘ e as ‗Chiquititas‘. As ‗Chiquititas‘
têm mais cor. Fora isso, ambas têm crianças parvas, fadas do lar,
mulheres más, mulheres boas, homens bons, homens maus, etc.
Desconheço se há ou não uma árvore mágica, mas desconfio
que um dos putos é capaz de ter uma planta no quarto, daquelas
que se secam as folhas e depois fuma-se e é fixe. Sei também,
ou por outra, desconfio que há gémeos ou, pelo menos, há falta
de dinheiro para contratarem mais uma actriz e então puseram a
108
PROTUBERÂNCIA – Volume I
mesma actriz a interpretar dois papéis.
No entanto, não foram os maus aspectos de ‗Chiquititas‘ que
me levaram a escrever este artigo, foram os bons, que, embora
em menor quantidade, justificam uma cuidada referência.
Sou fã, ou melhor, sou apreciador do ‗Dragon Ball‘. (Fã
alude à compra de cromos e porta-chaves e tatuagens e pins; eu
só vejo os episódios). Ao início não era, não suportava aquilo.
Um dia vi um episódio.
Era a batalha entre o Songoku e o Coraçãozinho de Satã, no
final da série original. Só queria ver quem ganhava. Foi o
suficiente. A batalha ainda mal ia a meio quando comecei a ver
e quando, finalmente, terminou já havia sido ‗capturado‘. O
‗Dragon Ball‘ neste aspecto é como as telenovelas, se nos
distraímos um pouco somos logo apanhados. Porquê este desvio
para o ‗Dragon Ball‘, perguntam vocês. Tem tudo a ver com as
‗Chiquititas‘ e com a personagem Lili.
Um dos aspectos mais difíceis, talvez o mais difícil, de um
filme do ‗Dragon Ball‘ com pessoas é conseguir reproduzir com
exactidão o penteado do Songoku sem ter de recorrer a CGIs.
Ao ver Lili com aquele penteado, eu ouso acreditar que é
possível.
Termino com uma chamada de atenção à actriz Marta
Fernandes que disse à revista ‗Correio da Manhã TV‘ que a
série, e cito, ―trata o mundo dos adultos visto do universo das
crianças. A visão que tenho deste trabalho é que é uma distorção
da realidade adulta que todas as crianças acabam por fazer‖.
Ora, eu já fui criança (e em algumas coisas ainda sou) e não
me lembro de ver o mundo assim. É claro que no meu tempo o
armário dos remédios ficava fechado. E ao senhor director
artístico e aos argumentistas, tentem não deixar as drogas num
sítio onde as crianças tenham acesso. É verdade que se as
crianças começarem a tomar ácidos vão passar a ver o mundo
assim. Só que isso é adaptar a prática à teoria e isso não é
correcto.
Joel G. Gomes
109
TERMINUS #39
AI OS MORANGOS, AI OS MORANGOS…
Os exemplos vêm de cima. A fama subiu-lhe à cabeça.
Duas frases possíveis de se ouvir quando alguém conversa
sobre o caso da detenção do jovem Tomás Santos, actor da série
infantil ‗Morangos com Açúcar‘.
Para os mais atentos, que repararam que eu classifiquei a
série em questão infantil e não juvenil, eu explico o porquê
desta minha opinião. É que, a julgar pelos comportamentos
públicos de alguns deles, não estamos a lidar com adolescentes,
e sim putos.
No caso particular do Tomás, consta que foi detido
juntamente com mais três indivíduos pela PSP de Cascais por,
alegadamente, estarem a tentar sequestrar o condutor do veículo
onde se encontravam.
Isto da linguagem jurídico/jornalística é porreiro porque
graças a ela e a palavras como ‗consta‘, ‗alegadamente‘ e
‗tentar‘ pude dizer que ele é culpado sem que o tenha dito
realmente. Não estou a dizer que seja, mas também não estou a
dizer que não seja. Chama-se a isto o principio Marcelo Rebelo
de Sousa: pode ser, mas também pode não ser.
Voltando ao caso do sequestro, Valdemar o sequestrado,
disse que a razão por detrás do acto era uma dívida antiga que
ele tinha grupo. Estamos a falar de putos com menos de vinte e
cinco anos. Dívidas antigas neste universo etário poderão ser o
quê? Berlindes, pastilhas, gomas? Pessoas com menos de vinte
e cinco anos não têm dívidas antigas. As dívidas só atingem o
estatuto de antigo dos trinta anos para cima.
Se estivéssemos a falar de pessoas com a idade de um Ruy
de Carvalho, a expressão ‗dívida antiga‘ seria extremamente
bem empregue. Como não estamos, eu digo assim: putos dos
morangos, cresçam e apareçam!
PROTUBERÂNCIA – Volume I
110
TERMINUS #40
PEQUENAS COISAS QUE NOS FAZEM GRANDE
CONTRAMÃO – A SEQUELA
O tribunal da Maia proferiu na quinta-feira passada a
―sentença da repetição do julgamento do caso de um veículo
descontrolado que voou para a contramão da A3, em 2005,
esmagando outra viatura e matando a sua condutora.‖
Transcrevi a frase tal qual ela veio no jornal onde li a notícia
(mas não digo qual porque o CM não me paga a publicidade)
porque há nela um elemento em particular que me fez pensar:
hã?!
Falo da expressão ‗voou‘. Se o carro voava, porque é que
não se desviou? Tinha espaço suficiente para isso
Depois, temos a repetição do julgamento. Falemos da
primeira sentença. Dois condutores foram responsabilizados
pela morte…
INTERLÚDIO
na notícia falavam de dois condutores: o
que deu a pranchada e o que deu
pranchada; um deles morreu. Ora, se os
dois foram considerados responsáveis,
qual será a pena da morto? A condenação
eterna?
… da condutora e ―condenados a visitar semanalmente a
unidade de politraumatizados do Hospital de S. João‖.
É bonito o gesto, mas ao mesmo tempo é algo que me
assusta e me indigna. Por um lado, temos um fantasma a
assombrar pessoas que já passaram por muito; por outro, um
tipo que provocou um desastre de viação a andar na boa junto
Joel G. Gomes
111
de pessoal que ficou paraplégico por causa de pessoas como ele
é estar a gozar com quem não mereceu.
Ainda não sei qual o resultado da nova sentença. Quando
souber – e se valer a pena – eu depois digo qualquer coisa.
À ESPERA DO INEM
O caso da mulher que ligou para o 112 a pedir auxílio para o
seu marido e para o seu sogro teve agora o seu desfecho com a
operadora que fez ouvidos de mercador a receber a sua punição.
Punição essa que – concordo com o que a mulher diz – é pouca.
Cinco dias de suspensão são, realmente, muito pouco. Faz todo
o sentido a sugestão dada pela dona Ermelinda. ―Ela devia ser
colocada noutro serviço com menos responsabilidade‖.
Concordo perfeitamente, até porque já se viu que a
responsabilidade desta operadora é pouca ou nenhuma.
APRENDER A NÃO SER GORDO
O termo científico não é ‗gordo‘, é ‗obeso‘, mas eu não sou
cientista. Digo isto já para que não hajam confusões.
A Faculdade de Motricidade Humana, com o apoio da
Câmara Municipal de Oeiras vai lançar o Programa Peso
Comunitário. O que se pretende (em linguagem simples) é
ensinar os gordos a serem menos gordos, os magros a serem
menos magros e os assim assim a ficarem como estão.
Boas intenções, é certo, mas fica-se por aí. E porquê? Por
causa do horário. Atenção a uma coisa: eu acredito que os
responsáveis do Programa tenham a melhor das intenções e das
qualificações, mas eu já estudei em horário pós-laboral e sei
como é que a coisa funciona. A malta sai do trabalho e antes de
ir para as aulas come ‗qualquer coisa‘; antes disso já tomou um
112
PROTUBERÂNCIA – Volume I
‗lanche reforçado‘. Isto, porque chega a casa tarde e já só come
‗uma sopa‘. Mais tarde, antes de ir para a cama, come ‗qualquer
coisita‘ para não ir dormir de estômago vazio.
Comigo é assim, mas assim como eu não sou cientista,
também não sou gordo, por isso não sirvo de exemplo.
CRAVO À PROVA DE ROUBO
Em Évora colocaram códigos com tinta invisível e chips
electrónicos para identificar no caso de furto duma réplica de
um antigo cravo da Universidade de Évora.
Quando li isto a primeira coisa que pensei foi ‗espero que
estejam a falar do instrumento e não da flor (sim, existe um
instrumento chamado ‗cravo‘). Tudo bem que o cravo flor é
importante, por causa do 25 de Abril sempre e tal, mas chips
electrónicos numa flor é exagerar um pouco. É que depois os
chips apitam quando passam nos sensores dos aeroportos. Já
vimos como foi com o Castelo Branco há uns anos atrás. Não
queremos ver mais.
Depois pensei, ‗ainda que seja o cravo instrumento, não será
também um pouco exagerado?‘ Gosto de ver Portugal a utilizar
novas tecnologias para salvaguardar o seu património mas,
convenhamos, quem é que é vai gamar um cravo? (Há quanto
tempo é que não liam a palavra ‗gamar‘?) Aquela porcaria ainda
é grande. Não é propriamente uma harmónica que se meta no
bolso.
Por outro lado, há uns anos atrás na Polónia roubaram uma
ponte. Desmontaram-na durante a noite e transportaram-na em
camiões TIR para depois vender o ferro. Vistas as coisas, se
calhar é melhor prevenir.
Joel G. Gomes
113
TERMINUS #41
DIGAM SIM À PIRATARIA
Mandem à merda o pessoal da ASAE que anda nas feiras a
apreender os filmes dos monhês. Insultem as gentes do IGAC
(já escrito ‗da IGAC‘, devem ser todos hermafroditas se calhar).
Cuspam na cara de todos os funcionários do Ministério da
Cultura, da Administração Interna, etc. Façam cópias de DVDs,
partilhem programas para quebrar protecções. Etc. etc.
Se estou a ser agressivo – bem mais do que é habitual em
mim – incorrecto, passível até de ser processado, creio que as
razões do meu descontentamento são lógicas e pertinentes o
suficiente para merecerem uma tomada de posição radical.
Antes de mais, um esclarecimento que eu acho necessário:
não estou a incentivar à pirataria em geral, (Se bem que o
conceito me traz alguma confusão. Afinal de contas, se uns ténis
‗Naike‘ são piratas e uns ‗Nike‘ são originais, o que dizer, por
exemplo de ‗Coca-Cola‘ e ‗Pepsi‘? Ou talvez de um karaoke.
Será um mau playback razão para chamar a ASAE? Fica para
pensar mais tarde.) apenas à pirataria de DVDs. E porquê só de
DVDs? Passo a explicar.
Esta semana fui às compras a uma grande superfície e
comprei uma boa quantidade deles a um óptimo preço. No
fundo é o que a malta que gosta de filmes quer: arranjá-los bons
e a bom preço.
O que a malta não quer e é leva em quase todos os filmes
LEGAIS que compra de há uns bons tempos para cá é aquele
filme estúpido, cujo teor é: ‗sacar‘ um filme na net é a mesma
coisa que roubá-lo do clube de vídeo ou pontapear uma grávida
de sete meses. A necessidade de haver esse tipo de mensagens,
eu aceito e apoio, mas porra! Façam-nas chegar ao público certo.
Eu acabei de piratear o filme! Não o pirateei! Porque carga
de água é que sou obrigado a ver aquilo? E a palavra correcta é
114
PROTUBERÂNCIA – Volume I
mesmo ‗obrigado‘, porque não podemos saltar para o capítulo
seguinte ou sequer acelerar a velocidade de leitura. Eu sei que o
filme é curto, mas é o meu direito de não o ver que está em
causa.
Aquilo devia vir – isso sim – nos DVDs piratas. Se assim
fosse, talvez a malta não fizesse tantas cópias como faz hoje em
dia. Como imagino que seja difícil convencer as gentes das
feiras a colocarem essa… ‗curta-metragem‘ (chamemos-lhe
assim para não chamarmos ‗bosta‘) nas suas edições – até
porque, do ponto de vista do marketing, não seria muito boa
ideia – vou se calhar optar pela via ilegal.
A não ser que os responsáveis por essa barbárie, ganhem tino,
deixem-se de filmezinhos da treta e comecem mas é a trabalhar
a sério.
E agora uma reflexão final: supondo que tenha havido um
concurso para escolher aquele entre outros filmes, quão maus
eram os outros?
Pensem vocês nisso, pois eu até fico medo só de imaginar.
Joel G. Gomes
115
TERMINUS #42
INDECISÃO
O homem sorriu, um sorriso franco e simples, daqueles que se
vêem muito nos filmes, séries de televisão, outdoors, todo o
local onde a imagem é o que vende, e levantou os olhos para
encarar o espectáculo (o termo aplicado tem as suas reservas)
perante si. Haviam sidas muitas as vezes que ali estivera, mas
hoje, entendia assim, seria diferente.
Hoje iria cumprir a sua missão. Enfrentaria o desconhecido
no seu próprio terreno e aí decidiria qual o caminho a seguir. A
decisão era difícil e dividia-se em quatro pontos opostos.
Informação relativa a cada uma das opções disponíveis era
escassa, em alguns casos nula, e sujeita a erro.
Estava no centro da decisão. O que fazer?
Tinha de encontrar um caminho depressa. De preferência,
um que o obrigasse a prosseguir; não adiantava voltar atrás.
Pensando nisto, olhou para trás. O caminho atrás de si
alterava-se a cada instante. Se dúvidas haviam, esta espreitadela
esclarecera tudo. O realizador deste filme pensara em tudo. As
marcas do seu passado estavam bem presentes atrás de si, quase
como se o perseguissem, mas isso não o assustava. Não tinha
medo do que fizera. Cedo aprendera uma lição que dizia mais
ou menos ―o tempo a seu tempo‖ ou, por outras palavras não
tão sucintas, ―o passado é passado, o presente é presente e o
futuro será apenas o futuro‖. Cada um pertence a si mesmo e é a
sua evolução contínua que constitui o ponto de interesse da vida.
A vida continua e as decisões têm que ser tomadas.
Já não podia ficar ali muito mais tempo. Era tanta a pressão
que gritou para dentro. O homem do sorriso simples que só
aparecia nos filmes e afins estava furioso com a sua inércia, o
seu temor. A sua mente era como um disco de vinil riscado.
Mesmo tendo em conta que a maioria das pessoas da sua idade
116
PROTUBERÂNCIA – Volume I
já não sabiam o que era um disco de vinil. Só os mais
aficionados. Não era o caso dele. Ele, sobre o vinil, ouvira uma
expressão e fixou-a. Hoje em dia era tudo digital. Ou quase tudo.
As pessoas não sabem nem querem saber das suas origens.
Vistas as coisas, ele não era mais do que os outros. Os outros,
porém, haviam chegado ao mesmo impasse no qual ele se
encontrava agora e haviam escolhido o caminho a seguir. Para o
melhor ou para o pior, eles tomaram uma decisão.
Inspeccionou o passado mais uma vez. Atrás de si estavam
figuras de outras eras navegando no oceano da sua visão;
manifestações físicas de pessoas que poderiam ter sido ele.
Contudo, a semelhança não é tudo como se sabe e o tempo de
acção era cada vez menos.
Qualquer um dos caminhos estava livre e era isso que
alimentava a sua indecisão. Não havia qualquer informação
acerca do que poderia ou não encontrar.
A sua cabeça andava às voltas dentro daquele enorme e
intenso turbilhão. O espaço curvava-se sobre si mesmo. O ponto
de partida repetia-se e tornava-se também ponto de chegada.
Espreitou através do espelho do passado e viu então que as
pessoas que o seguiam eram outras. Em breve, também estas
iriam deixar uma vaga para as seguintes. Os outros sucediam-se
sem parar. Apenas ele permanecia naquele local; não sucedia,
nem era sucedido.
A raiva começava a dar lugar ao desespero e a este sucedia o
gozo. Começava a achar piada àquilo e viu a luz que o levou a
tomar a decisão definitiva. Aumentou a velocidade, ligou o
pisca e, após tanto tempo, saiu da rotunda e seguiu em direcção
à auto-estrada.
Nota do autor: Esta e outras histórias, espero eu, estarão um
dia presentes num livro de contos. É só eu acabar de os escrever
e procurar quem os edite.
Joel G. Gomes
117
TERMINUS #43
O ANONIMATO NOS BLOGS
Parece que lá para Setúbal passa-se qualquer coisa por causa
dum blog anónimo cujos textos ultrapassam os limites do
politicamente correcto, chegando mesmo ao insulto. Dizem
também que um funcionário dessa autarquia foi detido por
suspeitas de ser ele o responsável por esse blog.
A qualquer um desses ―factos‖ (coloco as aspas uma vez que
não está provado que seja mesmo este funcionário o autor do
blog) sou totalmente alheio. Porém, ao tomar conhecimento
desta matéria, não podia deixar de me manifestar.
O meu protesto – como sabem sou um gajo do contra – vem,
não em relação aos agentes que procederam à detenção, aos
queixosos, àqueles que querem limitar a liberdade de expressão,
blá blá blá, mas ao autor do blog. O Horácio (vou-lhe chamar
assim para não estar sempre a escrever ―o autor do blog‖, que
isso cansa) é um sujeito medricas e sem tomates.
Ó Anacleto (para o caso de o Horácio se chamar mesmo
Horácio vou usar um nome diferente de cada vez que me referir
a ele), escrever num blog é motivo de orgulho, não de vergonha.
Primeiro, provas ao mundo que sabes escrever; segundo,
demonstras que dominas as novas tecnologias. Não deves ter
medo de deixar as pessoas saberem quem tu és.
Porque, tenta perceber isto Inácia (lembrei-me que o
Barnabé pode afinal ser uma gaja) não partilhares o teu nome
com o resto de nós, além destes apartes estúpidos a que me
obrigo, prova que és uma pessoa vazia e com medo de enfrentar
as suas convicções. Quem quer lutar a sério, vai de cara
destapada. Essa de só aparecer em publico quando as coisas
correm bem para mim não dá.
E supondo que o/a autor(a) seja mesmo um(a) funcionário(a)
público(a) (se ler isto é chato, imaginem o que é escrever), fique
118
PROTUBERÂNCIA – Volume I
ele/ela sabendo que eu também sou. Nunca o escondi. Já estava
na comunidade antes de estar na função e sempre assumi o que
escrevi. Claro que às vezes temo represálias, mas não é por isso
que escrevo no anonimato.
O nosso nome é aquilo que de mais precioso temos e negá-lo
ou escondê-lo só porque temos que um idiota a quem
chamámos idiota se zangue connosco é estúpido.
O truque aqui, Roberta (Roberta é um nome porreiro no caso
do Tancredo ou da Amélia estarem indecisos quanto à sua
orientação), não é esconder ou negar nada, é ser o mais aberto
possível, mas de forma dissimulada. É óbvio que o domínio da
linguagem irónico/satírica não está ao alcance de todos, mas há
que pelo menos tentar escamotear um pouco as coisas.
O segredo é dizer o que se quer, a quem se quer, de modo a
que toda gente perceba o que se está a dizer, mas que ninguém o
possa usar para fins judiciais.
Um conselho: vai ler o Gil Vicente ou o Padre António
Vieira. Pode ser que eles te ensinem alguma coisa.
Joel G. Gomes
119
TERMINUS #44
MONOPÓLIO
Há alturas em que penso não haver nada de novo para falar, que
tudo o que eu faço é reafirmar o óbvio de forma diferente.
Também há alturas em que há tanta coisa por onde escolher que
eu fico à nora e acabo por pegar num tema fraquinho e não dar
enfâse ao que interessa.
E depois há alturas como esta, alturas em que um tema se
evidencia dos demais.
Não é uma notícia de última hora - tem o seu q de antigo mas para muita malta da minha geração é um verdadeiro
símbolo de horas e horas de diversão nos seus tempos de
infância e juventude. Falo, como o título do artigo indica, do
jogo MONOPÓLIO.
Monopólio, esse clássico jogo de tabuleiro que nos ensinou
valores tão úteis numa sociedade de consumo como 'capital',
'luxo', 'imposto', 'banca', 'renda', 'paga!' e, claro 'monopólio'.
Tinha o seu lado social; numa altura em que algumas pessoas
pediam cinquenta escudos para uma sopa, podiamos comprar a
Rua Augusta por quinhentos. Aquilo era jogo para levar dias e
dias até alguém ganhar. Quando a malta estava bem equiparada
era assim. O dinheiro estava sempre a circular.
A razão que me leva escrever um artigo sobre o ‗Monopólio‘
é porque li há umas semanas atrás que uma produtora americana
(só podia), creio que foi a 20th Century Fox, comprou os
direitos de adaptação do jogo ao cinema.
Hã?!
Quem já jogou e tiver um ‗Monopólio‘ em casa, pare de ler e
vá buscá-lo. Já foram? Ok. Agora montem o jogo para… 4
pessoas, e depois de terem tudo no sítio – os peões, o dinheiro
distribuído, os dados, os títulos de propriedade tudo ordenado,
os cartões da ‗Sorte‘ e da ‗Caixa da Comunidade‘ – fechem os
PROTUBERÂNCIA – Volume I
120
olhos um segundo ou dois e tornem a abri-los
Eu fiz esta experiência para ver se conseguia perceber o que
passou na cabeça do gajo que olhou para uma caixa do
‗Monopólio‘ e pensou ‗Olha, isto era capaz de dar um filme
porreiro! Só preciso dum gajo para o realizar. Já sei! Pode ser
aquele tipo do ‗Gladiador‘.‘
Pois é. Ridley Scott é o nome apontado como possível
realizador. E neste caso o termo ‗apontado‘ dá-me a ideia que
foi castigo. ―Vais tu que é pra aprender!‖ Depois de ter feito o
‗Blade Runner‘ não merecia, mas também ninguém o mandou
fazer o ‗GI Jane‘. É assim, Ridley.
Voltemos então ao gajo que teve a ideia de adaptar o
‗Monopólio‘ ao cinema, tomemos como hipótese a ideia ter
surgido quando ele entrou numa loja de brinquedos e olhou para
o jogo –
(PAUSA PARA CONSIDERAÇÃO PERTINENTE (sem
pontuação bem aplicada)
um gajo que tem a ideia de transformar um jogo de tabuleiro
num filme (além de ser parvo) tem de ter dinheiro e idade para
não se rirem dele e o mandarem dar uma volta; o mais certo é
ser um velho gordo e rebarbado, com uma ligeira psique
daquelas mesmo estranhas, tipo aquele que num episódio do
CSI tinha a panca de andar de fraldas; será que queremos gente
assim a frequentar lojas de brinquedos? Não creio.)
Vamos supor agora que em vez do ‗Monopólio‘ ou da loja de
brinquedos, ele tinha passado num parque e visto dois velhos a
jogar às ‗Damas‘ ou ao ‗Dominó‘. Não imagino qual seja o plot
para o filme do ‗Monopólio‘ mas, como guionista que sou,
resolvi pensar num ou mais plots caso o jogo das damas ou do
dominó fossem também adaptados ao cinema.
Eis o que me ocorreu:
DAMAS
Títulos possíveis:
‗Oreo
Vídeo
Fitness
Program‘;
Joel G. Gomes
121
‗Damarado‘; ‗Rio Acima, Rio Abaixo‘; etc.
No caso do jogo das damas achei que aquilo era estilo aula
de step que outra coisa qualquer. Aquele ‗anda para aqui, anda
para ali‘ dá-me ideia disso. Mas é uma aula de step que se
transforma em orgia com as damas a comerem-se todas umas às
outras. É bonito.
Pensei também numa cena tipo western feminista, com
coristas dum lado e squaws do outro. O filme acompanharia o
processo de preparação para a grande batalha. E no fim,
novamente uma orgia com as damas a comerem-se umas às
outras. Ou então uma cena canibalesca. É a ver.
DOMINÓ
Títulos possíveis: ‗A Bicha‘; ‗A Pilha‘; ‗A Parelha‘; etc.
Para um filme sobre o Dominó tem de ser algo passado
numa prisão. Uma cena tipo ‗Expresso da Meia-noite‘ com um
pouco de ‗Porridge‘ à mistura, para a malta se rir um bocado.
Talvez também um pouco de ‗Prison Break‘ que além de estar
na moda tem sempre aquele suspense que a malta curte.
A história, por outro lado, não teria nada a ver com isso, e
iria girar á volta dum prisioneiro de seu número 1:1 que
descobre que está num centro de clonagem e que todos lá têm
um siamês que pode ou não ser um clone. A cena seria também
um musical com os vários clones a desempenharem
coreografias bem bonitas ao som de belos fados.
A certa altura iria surgir um prisioneiro de número 6:6,
conhecido pelos demais como ‗O Carrão‘, que por ser o mais
gordo teria fama e proveito de sodomizar toda a gente.
Estas são as minhas ideias. Sei que são ideias de merda, mas
lembrem-se do que deu origem a este artigo. Lavo as minhas
mãos.
122
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #45
DEIXAR COISAS A MEIO É FEIO E NÃO SE
Tinha outro artigo para escrever em vez deste – ou melhor, tinha
em mente outro artigo para escrever em vez deste – mas com a
finalidade de ser actual vi-me forçado a interromper o meu
fluxo criativo para falar de outro assunto.
Interrupção é, precisamente, a palavra mestra por detrás
deste artigo. Aconteceu no passado dia 26, quarta-feira, no canal
SIC Notícias. Eu, infelizmente, não assisti ao evento; só tomei
conhecimento no dia seguinte na rádio, ao acordar de manhã.
Ainda pensei „isto sou eu a sonhar ainda‟. Não fazia sentido.
Era algo que desafiava as leis da lógica que regem este universo.
O Santana Lopes deixou uma actividade a meio?
Mas onde é que isso já se viu?
Santana Lopes, por nós comuns mortais conhecida pela sua
determinação em levar ideias a cabo, em ser o último a
abandonar o barco, levanta-se da cadeira e sai a meio da
entrevista?
Eu fiquei surpreendido. Para não dizer atemorizado. E não
foi para menos. Boa parte de mim viu-se forçada a reavaliar o
modo como olho para certas coisas. Há certos aspectos da vida
com os quais vou ter forçosamente de interagir de forma
difenrente.
O Santana Lopes deixou uma actividade a meio.
O mundo nunca mais será o mesmo.
E agora a grande pergunta: porque é que o Santana Lopes
fez isso?
Bom, ao que parece houve um pequeno islâmico que chegou
a Portugal na altura que o Santana estava a falar. Não era caso
para tanto. O coitado se calhar só queria saber como ir para o
Martim Moniz e a SIC Notícias foi para lá enquanto não
chegava alguém para o ir buscar. Deve ter sido isso. Já se sabe
Joel G. Gomes
123
que é preciso termos muito cuidado com as crianças hoje em dia
e deixá-las ao abandono é que não.
Vou deixar este tema a meio – em homenagem sentida à
figura que o inspirou – e mudar para outro dentro do mesmo
assunto.
Aquando da sua interrupção, Santana Lopes falava da actual
crise no PSD. Bom, sobre isso, interesso-me tanto como pelo
míldio.
Se bem que o míldio até me interessa na medida em que
posso apanhar uma garrafa de vinho meio fajuta e arranjá-la
bonita (bonita a consequência [sarcasmo?], a garrafa seria
daquelas de tara perdida). Para terminar o tema do míldio, a
vossa atenção na frase anterior à palavra ‗fajuta‘ e à expressão
‗arranjá-la bonita‘; há que reconhecer valores literários quando
eles aparecem que eles não andam aí ao desbarato, hã?
Crise no PSD! Voltemos à batata quente o quanto antes para
eu não me desviar do assunto.
Falando em batata quentNão!
Calma… Vou-me auto-admoestar e depois v
Admoestar é um verbo bo
Eu quero falar da crise do PSD!!!
Ou melhor, não quero, mas tenho.
Qual a outra grande notícia de ontem (quarta-feira, 26
Setembro)? Parece que há 200 eleitores do PSD na Amazónia. E
há quem diga que isso é mau. Com o afastamento que há dos
portugueses em relação aos partidos políticos, foi precisamente
um grupo de índios seminus que veio nos chamar à atenção
sobre os nossos actos.
Pergunta: será q
124
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #46
E AGORA… MAIS UMA ESTÚPIDA IDEIA DAQUELAS QUE SÓ
AQUI!
A Cati tem sido das minhas comentadoras não-residentes mais
activas nestes últimos tempos – a isso se devem os meus
updates mais regulares que o habitual e às saudades que ela
tinha (mas não sabia ou não queria admitir) do seu ex-aluno – e
num dos seus últimos comentários fez uma sugestão que, pensei
eu, não é nada má, não senhor.
No artigo antes do artigo anterior (era para ter sido no artigo
anterior, mas entretanto aconteceu aquele evento cósmico
provocado pelo Santana Lopes na SIC Notícias) analisei a
estúpida adaptação do jogo ‗Monopólio‘ ao cinema. Atenção ao
termo ‗estúpida adaptação‘; nada contra o jogo, eu adoro o jogo,
mas também gosto de pastéis de nata e de estar sentado a ver
televisão. E ninguém fez um filme sobre isso, pois não?
Bom, quanto ao estar sentado a ver televisão, fizeram a
‗Royle Family‘ (que até era uma série porreira porque fazia o
efeito ‗espelho‘: uma família a ver na televisão outra família a
ver televisão).
Voltemos então ao que interessa.
Vocês já não estranham estes apartes que eu faço assim do
nada, pois não? Eu tento ser sintético e não enrolar muito; há
até quem diga que eu faço isto para fugir dos assuntos eJá percebi.
Ok. Qual foi então a sugestão feita pela Cati?
(Não se queixem de eu estar a enrolar tanto. Vocês se
quisessem já tinham ido ler o comentário e pronto.
Esperem!!! Não vão!
Continuem a ler, por favor.
Até porque se forem, depois a cena perde o efeito surpresa.)
Sugestão: uma outra adaptação de jogo de mesa a filme.
Joel G. Gomes
125
A escolha da Cati é lógica e se eu não a considerei antes foi
porque formulei a teoria toda com base no gajo que teve a ideia
de passar o ‗Monopólio‘ para filme em vez de ter entrado numa
loja de brinquedos ter visto dois velhos no jardim a jogar
‗damas‘ ou ‗dominó‘.
Se é importante salientar como consegui escrever tão bem
este parágrafo anterior sem um único sinal de pontuação que
não o ponto a assinalar o fim do mesmo, também é importante
dizer qual o jogo proposto…
MIKADO
Títulos possíveis: ‗Big Trouble in Little China 2 – The
Cuming of the Mary Joe Nuttree Little-Chicken‘ (aka ‗As
Aventuras de Joaquim Bretão nas Gaifanas da Sra. ExVereadora‘); ‗Pointy n‘ Stiff‘ (aka ‗Tesos e Espetáveis‘)
[Para limpar alguma ideia que possa ter ficado em relação a
excesso de referências sexuais lesbianas, irei apostar noutro tipo
de abordagem para este filme.]
The Opressed People‟s Quest Against the Invisible
Threat Perpetrated by an Overwhelming Fear of the
Unknown (aka „O Filme do Jogo dos Pauzinhos‟)
Eis o texto do trailer:
Construíram o seu futuro juntos.
Uma comunidade fechada em si mesma, regida pelas
suas regras. Viviam juntos e felizes até ao dia em que veio
a… guerra!
Um terrível desastre daqueles me‟mo beras e a
comunidade Mikado (aos detentores dos direitos do jogo, não
há crise em usar o nome aqui, ou há? é que escrever a
comunidade do jogo dos pauzinhos não fica bem) viu-se pela
primeira vez frente a frente com o drama, a dor e o
sofrimento.
Outrora, um povo em paz, viviam agora separados,
126
PROTUBERÂNCIA – Volume I
irmão contra irmão, numa eterna guerra sem fim.
Eis então que surge um novo inimigo para combater e
sobre o comando do albino lá da terra, os vários aldeões
unem esforços e formam um exército de retaliação contra a
derradeira ameaça… o conceito de adaptar jogos de mesa a
filme.
Obrigado pela ideia, Cati. Espero que o resultado tenha
ficado ao teu gosto. Vou agora tentar resolver o cubo mágico (o
do Rubik, esse granda maluco como algumas pessoas gostam de
enunciar) e ver se sai daí alguma nova ideia para mais uma
adaptação estúpida.
PARA VER O FABULOSO TRAILER
DESTE ÉPICO FILME É FAVOR
VISITAR O BLOGUE
PROTUBERÂNCIA
Joel G. Gomes
127
TERMINUS #47
PERCEPÇÕES E REALIDADE 2:
O MITO DO ACASO
Tenho uma forma própria de olhar o mundo à minha volta – por
‗própria‘ não digo por principio ‗exclusiva‘ – e o modo como o
tempo e os eventos se sucedem. Não acredito no simples acaso,
no aleatório, mas também não rejo a minha vida por uma
sistema de parâmetros rígidos. Acredito na relação causa-efeito,
acredito em repercussões.
Não acredito em coincidências.
É uma convicção que tenho, sempre tive e que, há dias,
através de breves palavras, foi fortemente abalada.
Alguns, que denotam na minha escrita uma forte
preocupação social, especificamente a nível europeu, estarão a
ter em conta as declarações ‗porreiras‘ proferidas na Cimeira da
União Europeia. Essas pessoas deviam saber de antemão que eu
não me preocupo nem me ocupo de assuntos mundanos.
O causador da oscilação foi algo muito mais forte: a
revelação da verdadeira mãe da Floribella. Nada mais, nada
menos que Teresa Guilherme.
Isto, como podem calcular, deixou-me muito constrangido.
Num ápice senti-me arrependido de todas as piadas que fiz à
conta da ‗Floribella‘, pedi desculpas em pensamento a todas as
pessoas que ao pesquisarem ‗Floribella‘ no Google vieram ter a
este blogue.
Porém, mais ainda que a solidariedade perante alguém que
passa por um momento difícil, o que me deixou mais
transtornado foi o modo como a SIC quebrou o meu sonho. A
Floribella tinha uma árvore como mãe e isso era bonito. A mãe
sempre lhe deu apoio, sombra; quando era época, fruta de
qualidade, para não falar de lenha, madeira para móveis, para
papel, etc. Era uma mãe útil. Com a Teresa Guilherme como
128
PROTUBERÂNCIA – Volume I
mãe o que é que ela vai ter?
É, no fundo, uma paga pelo que eu disse, pelo que eu fiz.
Mas a Floribella não o merecia. Ela até pôs uns implantes. Isso
não conta para nada? É uma causa-efeito do mais evidente que
há, com certeza. Mas não é uma coincidência.
O Santana Lopes, meses depois de ter saído do Governo e de
ter perdido as Legislativas para José Sócrates, publicou
‗Percepções e Realidades‘. No seu livro, Santana descrevia a
conspiração orquestrada contra a sua pessoa para o impedir de
concluir a sua obra. Há um mês e tal atrás, Santana Lopes
abandonou uma entrevista porque foi interrompido. Isso
também não é uma coincidência mas, por acaso, é giro.
Coincidência poderia ser, na semana que antecedeu isto do
Santana, eu ter lido no ‘24 Horas‘ uma ‗notícia‘ sobre o Pacheco
Pereira e uma sua quezília com a TMN – isto não é publicidade
à TMN, até porque eu sou da Vodafone. Ao que parece Pacheco
Pereira perdeu o seu telemóvel num vulcão e exigia à operadora
uma compensação.
Santana Lopes interrompido, Floribella filha da Teresa
Guilherme e o Pacheco a perder o telemóvel num vulcão. Mais
que coincidências, são azares do caraças.
Joel G. Gomes
129
TERMINUS #48
A INSTAURAÇÃO DO ELÁDIO
Portugal tem os ‗Globos de Ouro‘ da SIC, tem (ou tinha) a Gala
Nova Gente, tem pompons e serpentinas, mas não tem uma
cerimónia especial – há cerimónias banais? – SÓ para a
indústria do cinema português.
Dirão alguns que isso é por não termos uma indústria de
cinema em Portugal. Dirão com relativa razão. Não temos
material suficiente para escolher o que de melhor se faz no
cinema português. Pelo menos, não anualmente. Para a coisa
durar mais que dez, quinze minutos teríamos de realizar a
cerimónia de dez em dez anos ou, se ainda acharmos que é
pouco, de vinte em vinte.
Ou então, mudamos radicalmente de estratégia e
comemoramos – podia ter escolhido outro termo, eu sei – o que
de pior se faz. E aí, meus caros, há muito por escolher.
Comecemos pelo boneco, ou mascote se preferirem. Já tenho
o nome: Eládio.
Segui o exemplo americano e fui buscar o nome a uma
figura televisiva bem conhecida do público. Só que, em vez de
usar o nome de um personagem da ‗Rua Sésamo‘, inspirei-me
em alguém cujas referências são, tanto quanto sei, imaculadas:
Eládio Clímaco. É verdade que há muito tempo não o vemos na
televisão como gostaríamos de ver, mas as suas prestações nos
‗Jogos sem fronteiras‘ ainda perduram na nossa memória.
Não sei bem, mas talvez seja mesmo esta a forma certa de
agir. Os americanos escolheram uma figura socialmente
incómoda (o sem-abrigo) para representar um prémio bom. É
lógico que eu fosse escolher alguém como deve ser para
representar um prémio mau. Uma coisa equilibra outra. E tem
de ser alguém como o Eládio ou, pelo menos, alguém com um
nome invulgar. A coisa não teria o mesmo impacto se tivesse
130
PROTUBERÂNCIA – Volume I
escolhido um Jorge Gabriel ou um Mário Crespo. A entrega dos
Jorges ou a entrega dos Mários seriam cerimónias pobres se
comparadas com a entrega dos Eládios ou a entrega dos Isidros.
Imaginem o que seria a cerimónia dos Oscares, se o boneco em
vez de Oscar se chamasse Richard. Todos falariam dos DICK
AWARDS e isso seria bom para prémios de cinema porno, mas
fora isso... não ficaria bem.
Não vou propor candidatos, deixo isso a vosso cargo.
Quando tiver material suficiente fazemos uma cerimónia com
Trinaranjus e tortas Dancake. Vai ser à fartazana.
Joel G. Gomes
131
TERMINUS #49
SACRIFÍCIOS PELA FOME NO MUNDO
Certas pessoas têm a ilusão de que não comer tudo o que se tem
no prato, mesmo que ainda esteja vivo ou fora do prazo de
validade, é crime de extrema gravidade. Eu ouvi várias vezes
essas expressões de reparo sócio-familiares que todos nós
conhecemos desde pequenos. ‗Tanta gente a passar fome e tu é
o que se vê‘, ‗O que tu tens é fartura‘ ou ‗Umas semaninhas no
Biafra e logo vias o que era fome‘, só para citar alguns
exemplos. Ouvia-as muitas vezes; não ligava e continuo a não
ligar.
A minha ideia é simples e, no meu entender, honesta. Ponto
um: há pessoas com fome e isso é chato e tal e quem nos dera
que não fosse sempre assim. (Faço esta ressalva porque se
deixar de haver fome no mundo os alimentos passam a ser
supérfluos, o que vai acabar com o ganha-pão de muita gente.)
O que eu não percebo e contesto é porquê espetarem-me no
prato comida para duas pessoas como se eu fosse um alarve e eu,
por não comer tudo, passo a ser um gajo cruel e insensível?
Eu ficava bem só com metade e a outra metade oferecida a
alguém que precisasse. Não me importaria nada se assim fosse.
E seria um gesto bonito de se ver.
Só que não. É doses individuais para duas pessoas, meias
doses para uma pessoa e não há volta a dar.
Ponto dois. O tamanho das doses não é tão significativo
quanto a qualidade. O que quer isto dizer? Quer dizer que se a
comida estiver bem saborosa, sou gajo para enfardar uma dose
sozinho. Caso contrário, é meia dose e vá lá vá lá.
E mesmo que eu comesse tudo – intragável ou não – mesmo
que eu ingerisse doses de comida para duas, três ou mais
pessoas, e toda a gente visse que eu comia bem e não deixava
comida no prato, em que é isso ajudaria as pessoas que passam
132
PROTUBERÂNCIA – Volume I
fome? (Respondam a esta pergunta imaginando-me como o Mr.
Creosote do ‗Meaning of Life‘ dos Monty Python.)
(Outro aparte: a diferença entre ‗passar fome‘ e ‗passar
férias‘ não está apenas nas duas letras extras, há mais qualquer
coisinha a distinguir.)
O argumento de alguns para esta questão diz que se não
comermos porque não nos apetece estamos a ser injustos e
hipócritas perante aqueles que gostariam de comer, mas não
podem. É uma ideia errada e passo a exemplificar porquê.
Situação #1
Na Somália, uma família de turistas holandeses faz um
piquenique. Os miúdos são arrogantes e meio parvos e não
querem comer as iscas. O pai ralha com os miúdos e invoca o
argumento da hipocrisia. São ouvidas expressões como ‗têm
mais olhos que barriga‘ (mas em holandês).
A mãe defende os filhos dizendo que iscas não é comer de
piquenique, ainda para mais de piquenique holandês e aquilo
descamba numa discussão que termina com o evento.
A família abandona o local e fica lá o tupperware com as
iscas. Duas crianças escondidas atrás dum arbusto aproximamse do local do piquenique e enchem o bandulho à conta das
iscas.
Situação #2
Outra família, daquelas que comem tudo (inclusive os pratos
e os talheres, mesmo que estes não sejam comestíveis) vai fazer
um piquenique, também na Somália. Os pais comem tudo, os
filhos comem tudo. Não fica nada e partem para casa, sentindose todos bem.
Enquanto isso, escondidas atrás dum arbusto, duas crianças
passam fome. Agora tirem as vossas conclusões.
(Desde que uma delas não seja: Isso só resulta se for em
piqueniques na Somália.)
Joel G. Gomes
133
TERMINUS #50
TOCA A GANHAR QUANDO O TELEFONE TOCA
Liliana Aguiar, Patrícia Henrique e Vanessa Palma; a primeira
na TVI, as outras duas na SIC. São estes os nomes que devemos
dar às moças que todas as madrugadas tornam mais agradáveis
as noites de muitos homens com insónias ou com horários de
trabalho trocados. Umas com ar mais inteligente que outras, é
certo, mas se tirarmos o som do televisor o nível de sapiência
fica ela por ela.
Embora saiba que há um gajo no programa da SIC, estou só
a falar das gajas porque há nessa figura masculina muita coisa
que não se percebe. Eu entendo que o objectivo do programa é
manter as pessoas acordadas de madrugada. Se é para isso
podiam fazer como eu fazia quando era imaturo e pouco ciente
dos meus actos e irem tocar às campainhas das portas às tantas
da noite. Dois toques, um dedo para campainha e ‗tá feito.
Faziam mais exercício e chegavam a mais gente. Mais
importante: mostravam determinação e empenho.
De qualquer modo deixei-me disso. Até porque esta semana
as noites já começaram a ficar mais frias. Em vez disso, decidi
optar por usar o telefone. É claro que hoje em dia há mais gente
com telemóvel do que com telefone e que muitos desligam o
telemóvel durante a noite. Porém, com um pouco de paciência e
persistência ainda se consegue incomodar e acordar algumas
pessoas.
Desviei-me do assunto (e sou capaz de me ter denunciado
sem querer). Peço desculpa. Manter o pessoal acordado é o
objectivo. Porque já se sabe que àquela hora, a tentar combater
o sono, o pessoal papa tudo. Principalmente se forem gajas boas
a vender o produto.
Então, pergunto, porquê o… Quimbé?
Notem, eu aceito e compreendo que as mulheres também
134
PROTUBERÂNCIA – Volume I
tenham direito à sua cota parte de acção. Tudo bem. Aceito isso
sem reservas. Só que, falando de nomes mais conhecidos, nós
estamos a ver uma Diana Chaves, ou uma Marisa Cruz e elas
estão a ver um sujeito que faz o Batatinha parecer um professor
catedrático.
Quimbé! Será diminutivo de Joaquim Barnabé? Que raio de
nome é esse? Castigo? É para manter o pessoal acordado? É?
Consegue? À custa de buzinas e campainhas e caretas parvas, lá
se vai safando.
E lá vai convencendo algumas pessoas, que ou partilham do
seu nível mental ou se compadecem com ele, a ligar para lá. No
meu caso liguei duas vezes, mas foi para o Miguel Bombarda e
para o Júlio de Matos a pedir que fizessem uma contagem dos
pacientes. Pensei que ele pudesse estar internado por pensar que
tinha jeito para ser apresentador de televisão. Não era o caso.
O meu problema é que sou a favor da equidade e como esta
funciona nos dois sentidos, o meu medo é que o Quimbé seja
tomado como ponto de referência e em vez de gajas boas a
animar as nossas noites e um Quimbé para as mulheres,
passemos a ter réplicas da palhaça Teté. Sem dúvida que isso
iria manter o pessoal acordado (ou a ter pesadelos) mas, por
favor, NÃO O FAÇAM!!!
Joel G. Gomes
135
TERMINUS #51
COISAS DO MUNDO
Processos contra Deus
Billy Connolly interpretou a primeira pessoa a interpor uma
acção judicial contra Deus (geeks do IMDB corrijam-me se
estiver enganado, s.f.f.).
À ficção seguiu-se a realidade. Primeiro foi um senador
americano, depois foi um recluso romeno. Haverá melhor bode
expiatório que um fulano omnipotente e omnipotente?
Lifting animal
José Castelo Branco quer fazer um lifting ao seu cão. De
alguém que não respeita a sua própria natureza, o que seria de
esperar?
Índia vs. EUA
Na Índia, um homem casou-se com uma cadela e um miúdo
de 10 anos fala onze línguas.
Nos Estados Unidos, um homem comeu 103 hamburgers em
oito minutos e um ministro britânico de origem islâmica foi
detido no aeroporto pelo Departamento de Defesa por suspeitas
de terrorismo após ter tido várias reuniões sobre terrorismo com
esse mesmo departamento.
Coragem vs. Violência
Um miúdo brasileiro de cinco anos deixou-se levar pela
fantasia de ser o Homem-Aranha e arriscou a sua vida para
salvar um bebé de um prédio em chamas.
No Reino Unido, uma ama asfixiou com uma almofada o
bebé que estava à sua responsabilidade.
136
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #52
DAQUI PRA TRÁS
Numa altura em que o cinema português se afasta dos
parâmetros elitistas e cinzentos que o caracterizaram durante
anos e anos, parece que ainda há tempo e lugar para quem teima
em não desistir de fazer o tipo de cinema que não atrai nem
surpreende.
Segundo a ‗Visão‘ nº 777 de 24 de Janeiro de 2008, a
realizadora Catarina Ruivo conta, a propósito do seu novo filme
―Daqui pra frente‖, o que gosta no processo de criação de um
filme. Eis o que ela diz:
“De pensar a estrutura do filme, de encontrar-lhe
a respiração, os planos de união, de optar pelos
takes, de descobrir o fotograma certo(…)”
Até aqui, tudo muito bem. O pior vem a seguir.
“Coragem não é deitar fora os planos que
ficaram mal, mas «ter a humildade de os manter»
porque fazem falta ao filme.”
Eu não sou editor, muito menos realizador, para opinar –
com bases técnicas – sobre essa ideia de aproveitar o que ficou
mal como sinal de humildade. Não considero que o vídeo que
coloquei neste blogue e o vídeo que coloque n‘O OVO
REDONDO sejam exemplos de uma grande destreza técnica.
Por outras palavras, não me posso valer deles para comentar
profissionais da área. Contudo, tive oportunidade de perguntar a
amigos meus, esses sim, profissionais da área o que achavam
disto, e a reacção deles foi de total incredulidade.
Poderá ter sido uma expressão descontextualizada. Poderá
ter sido equívoco da Visão e não da entrevistada e isso seria um
Joel G. Gomes
137
grande alívio. O problema é que a Visão não se costuma
enganar muito. Pode ser que para a semana saia o desmentido e
eu publique um artigo de desculpa. Mas duvido que tenha sido
engano. (Entretanto, já hoje é quinta-feira, já li a nova edição da
revista e não vem lá nada. O Manuel Alegre ficou a 29 mil
votos da Presidência, em vez dos 200 mil referidos. Fora isso,
não vem lá mais nada.)
Como telespectador e, principalmente, como guionista,
acredito que é preciso saber deitar ideias fora sem ter medo.
Aprendi com o Possidónio Cachapa qualquer coisa como
―uma cena são apenas palavras num papel‖. É mais que certo
não estar a citá-lo ipsis verbis, mas isto já foi há uns bons anos e
foi uma frase que ficou apenas na memória e não em papel. No
fundo, é isto: podemos sempre fazer melhor, mas para isso
precisamos de apagar o que fizemos e começarmos de novo.
Isso vale para a escrita, para a montagem, para a realização,
para tudo.
Eis o que é humildade no meu manual:
Deitar fora uma cena – a melhor que eu escrevi e que
serviu como base ao guião – porque não se enquadra
com o resto do guião. Deu origem a uma história
diferente da que estava planeada; mantê-la é estupidez.
Prescindir duma personagem, aquela com as melhores
falas, porque a produção assim o define, ou porque não é
imprescindível para que a história faça sentido.
Manter isso, conservar o que ficou mal, o que não funciona é
apenas arrogância e preguiça.
Façamos uma comparação. Ainda que subjectiva, ajuda a ter
uma ideia.
Por motivos pessoais e profissionais, fui convidado para a
antestreia do filme “Call Girl” do António de PedroVasconcelos. Uma surpresa agradável e um filme que entreteve.
Tem falhas, como todos os filmes têm, sejam portugueses ou
estrangeiros, mas é um filme feito pelo autor para si e para o
138
PROTUBERÂNCIA – Volume I
público; não se limita a satisfazer o ego de quem o faz. Tem a
Soraia Chaves e isso atrai muita gente, mas o resto também não
está nada mal.
Não fui o ver o ―Corrupção‖, nem vi outros ―blockbusters”.
Por opção, mas acima de tudo porque eram prova de uma ideia
que eu já expressei neste blogue: o oito ou oitenta, isto é, o
filme muito inteligente e cinzento e o filme feito de idiotas e
violência desmensurada. Não querendo parecer demasiado
elogiativo, “Call Girl” combina bem o melhor das duas
vertentes; tem equilíbrio.
E se falo do que fui ver e do que não vi, também tenho de
falar do que não quero ver. ―Daqui p‘ra frente‘ surge no topo da
lista. O filme pode ser bom, mas o teaser não me seduziu nada e
aquela entrevista de Catarina Ruivo na Visão tratou de afastar
qualquer curiosidade que eu pudesse ter.
Notas finais sobre esse filme (e facto assumido com orgulho):
a melhor cena do filme é copiada. Não preciso dizer mais nada.
Por fim, sei agradecer quando é preciso e tenho que agradecer
muito a Catarino Ruivo. Tenho estado ausente estes meses todos,
muito por preguiça e falta de tempo mas também,
essencialmente, por falta de tema onde me pudesse concentrar.
Eram muitos e eu não conseguia escolher.
Catarino Ruivo fez essa escolha por mim. Obrigado a ela, e
obrigado também à ‗Visão‘.
Joel G. Gomes
139
TERMINUS #53
A SAÚDE PÕE-ME DOENTE
ARTIGO QUE JÁ SAI TARDE, MAS UMA VEZ QUE JÁ ESTAVA
ESCRITO, TEM DE SER
O tema corrente da sociedade portuguesa é o das urgências.
Como hoje não me apetece escrever muito vou apontar o dedo
sem pensar muito se faz sentido ou não.
Primeiro, as pessoas vão para os SAP (ou iam quando
haviam) às 6, 5 e 4 da manhã para conseguirem uma consulta
para as 11. E nem todos conseguem vaga. E os que conseguem,
às vezes não são atendidos. Porquê?
Porque há uns senhores das agências de viagem que, volta
não volta, vão ao gabinete do senhor doutor mostrar-lhes umas
brochuras eDisseram-me agora que esses senhores não são das agências
de viagem, são da propaganda. É bom. Da próxima vez que
apanhar um deles, tenho de perguntar porque é que deixei de
receber a Dica.
Outro ponto. As pessoas morrem nas ambulâncias a caminho
das urgências.
De quem é a culpa?
Mas como é que querem que o país vá para a frente se, a
qualquer merdinha que aconteça, temos, forçosamente, de
apontar o dedo e dizer 'foi este' ou 'foi aquele'?
Se uma pessoa é atropelada ou baleada ou esfaqueada e o
serviço de urgência mais próximo fica a não sei quantos
quilómetros, qual é o espanto se morrer? Morrer em
ambulâncias a caminho de serviços de urgência não é mais
notícia do que alguém cair dum prédio de sete andares e morrer.
Pelo menos assim parece ser o entendimento do ministro
Correia de Campos, quando teceu aquele comentário em relação
à morte de um idoso (penso que foi no hospital de Aveiro, mas
140
PROTUBERÂNCIA – Volume I
de momento não tenho como ver e é da maneira que me
corrigem). ―Se as suas avozinhas ou bisavós não tivessem
morrido ainda hoje seriam vivas.‖
Como eu compreendo que as pessoas no calor do momento
digam coisas parvas sem pensar (eu sou exemplo disso), aqui
vão mais algumas frases para Correia de Campos (e mais
quiser).
“Se ontem era amanhã, amanhã hoje será ontem” (Esta para
diálogos com o professor Manuel Maria Carrilho)
“Caso possuísse o Anacleto um designador de
personalidade civil baseado em Honório, assumir-se-ia que
esse designador não poderia ser baseado em Inácio.” (Não
faço ideia do que escrevi, nem se está bem ou não, mas deve
estar de acordo com a nova terminologia linguística; indicado
para conversas com Maria de Lurdes Rodrigues)
Finalmente,
“Se a minha mãe tivesse pila, seria o meu pai.” (Frase de
trolha que não tem qualquer relevância na defesa de uma
medida governamental; funciona bem naquelas festas em que
está toda a gente a falar alto e de repente cala-se tudo quando
estamos a dizer uma barbaridade destas.)
Artigo incompleto, insubstancial, mal estruturado, mas eu
disse que não me apetecia escrever.
Joel G. Gomes
141
TERMINUS #54
QUERIDOS, MUDEI OS MINISTROS
ARTIGO QUE SEGUE DA CONCLUSÃO DO ANTERIOR E QUE NÃO
FARIA MUITO SENTIDO SE O OUTRO NÃO TIVESSE SIDO
PUBLICADO
E porque é que não faria sentido? Basicamente, porque vou
explicar porque é que escrevi o artigo anterior. Ora, se eu não
tivesse escrito o artigo anterior, agora ia estar a explicar porque
escrevi o artigo sobre o filme da Catarina Ruivo e, se isto já faz
pouco sentido, assim ainda faria menos. Segundo, vou ter de
começar a usar menos vírgulas, estou a parecer o Saramago, e
eu não quero que isso aconteça,
A verdade é que além de preguiçoso, sou teimoso.
Anteontem de manhã não tinha muita vontade de escrever, mas
tinha de escrever qualquer coisa sobre aquele tal comentário de
Correia de Campos e algo me disse que não podia passar dali. E
quando eu digo que não tinha vontade, não tinha mesmo. Era
mesmo daqueles dias que não dava. Mas escrevi.
Chego a casa, ligo a televisão na SIC Notícias. Remodelação
no Governo. Mau, pensei logo. Tu queres ver que...? Bem
pensado, bem acontecido.
E eu sabia que já não ia a tempo de publicar o último artigo
antes da saída de Correia de Campos. Uma porque tinha de
passar o texto no computador e só viria a acontecer por volta
das onze da noite do dia seguinte. Podia ter feito isso de manhã
e publicado antes da tomada de posse da nova ministra, mas
optei por continuar a ler o livro que me tem entretido desde
Sábado passado ('Dirty job', de Christopher Moore, se vos
interessar).
Sabia também que um artigo possivelmente ofensivo
publicado numa altura em que a pessoa visada já não estaria a
desempenhar o cargo em questão, além de me conotar como
142
PROTUBERÂNCIA – Volume I
calão, preguiçoso, mal informado, poupar-me-ia de eventuais
represálias jurídicas.
Posso dizer que o Presidente da Républica Mário Soares é
gordo e não sabe falar francês. E reforçar o ―é‖, uma vez que
Mário Soares já não é Presidente da Républica.
Ou assim o espero...
E sobre a saída da Ministra da Cultura, acho bem. Aprovou a
nova lei de financiamento do cinema e isso fica-lhe bem e tal,
mas não foi nada planeado de início por ela. Opiniões sobre o
novo homem da Cultura só quando for caso disso.
Joel G. Gomes
143
TERMINUS #55
CONTRAFACÇÕES E AFINS
Não sou o tipo de pessoa que perde muito tempo a ver mails.
Todos os dias verifico a minha caixa de correio mas limito-me a
ler apenas aqueles que considero ter importância. Deixo de
parte os powerpoints, os dos bonequinhos e, basicamente, todos
os fwd: fwd: fwd.
Não uso filtros. O meu filtro é: se começa por
'URGENTE!!!!!' ou 'ISTO ACONTECEU MESMO' ou
'ATENÇÃO'... lixo.
No entanto, no outro dia, recebi um mail e resolvi ler. Tendo
em vista, a mentalidade inerente neste tipo de mensagens,
poderia haver substância cómica para ser extraída. (Pergunta:
quando fazem os forwards (ou os reencaminhamentos) que tal
apagarem o fwd: do campo de título?)
Eis o texto:
ATENÇÃO às novas fiscalizações nas operações
STOP!!!!
Ontem à noite, depois de sair com um grupo de amigos,
fomos mandados parar por uma brigada de trânsito da
BT.
Até certo ponto, achamos normal por se tratar de um fimde-semana e ser costume haver a caça ao condutor com
álcool.
Depois de o condutor soprar no balão, qual o nosso
espanto quando o polícia pergunta se temos leitor de CD
no carro.
Tínhamos leitor de CD e logo a seguir pediu-nos para ver
os CD's que tínhamos no carro, para ver se eram
cópias !!!! Sobre isto, já eu tinha ouvido falar num mail
que recebi recentemente (ver mais abaixo).
O que é incrível é que, depois dos CD's, o polícia
manda-nos sair do carro e começa a olhar para a nossa
144
PROTUBERÂNCIA – Volume I
roupa ! Verídico!
Nisto, chama uma mulher-polícia para junto das minhas
colegas e um outro polícia para junto de nós e... PEDEMNOS PARA VER A ETIQUETA DAS NOSSAS ROUPAS!
Recusámo-nos imediatamente e eles informaram-nos
que, naquela operação Stop, estava incluída uma busca
por contrafacção !!!
Um dos meus colegas tinha um casaco Paul & Shark,
comprado na feira de Espinho, e eles identificaram-no! O
meu colega já contactou o advogado e este informou-o
de que o que os policias fizeram está dentro da lei!
Pelos vistos, quando compramos roupa na feira,
sabemos que estamos a comprar material ilegal e isso é
crime! Estamos a pactuar com uma actuação fora da lei
e por isso sujeitos a coimas por conivência de forma de
delito. Pelo que percebemos, só algumas marcas é que
estão sujeitas a fiscalização, tipo, bolsas Gucci, óculos
Channel, roupas Lacoste, Nike, Gant, Louis Vuitton, etc
etc.
Façam chegar este mail a toda a gente para que todos
saibam
A GNR-BT, nos auto-stops, começou a fiscalizar os CD's
piratas que temos no carro. Se os CDs não forem
originais ou então se não possuímos o original que deu
origem à cópia, (é permitido por lei efectuar UMA cópia
de segurança), a viatura pode ser apreendida e
sujeitamo-nos às respectivas sanções. Retirem
urgentemente os CD's piratas do carro, não vá o diabo
tece-las. Este controlo foi efectuado este fim de semana,
na A1.
Enviado conforme recebido.
O que há a dizer disto? Ora bem, não vou aqui discutir se é
verdade ou não. Pode ser verdade como as colheitas de órgãos
nas lojas chinesas, verdade como o sujeito que acorda numa
banheira sem um rim com um cartão de visitas e um telemóvel,
ou verdade como o sujeito cuja cabeça explodiu porque
Joel G. Gomes
145
misturou mentos com coca-cola.
Importa é perceber a lógica dos eventos.
E eu tenho de dizer isto: nunca percebi o porquê da
perseguição às contrafacções. Será apenas porque o produto tem
uma qualidade inferior e um nome semelhante a outro de
qualidade superior? Será o nome? Será a qualidade? Será
porque um é vendido numa loja com música ambiente e ar
condicionado e outro é vendido numa feira?
Limitando-me ao universo da roupa, quais as diferenças
entre uma peça contrafeita e uma peça das outras? Ambas
seguem um desenho, são feitas de tecido, etc. Será que são
ilegais por usarem o nome como método de venda?
Um produto de qualidade inferior a servir-se do nome de
outro de qualidade superior para vender mais.
Como na música. Quantos e quantos artistas não vemos
como cópias baratas de outros artistas e estes não são
perseguidos nem presos. São contrafacções, mas por terem um
nome diferente ninguém lhes diz nada.
Será apenas o nome?
146
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #56
Ó MEU DEUS!
Deus, Todo-Poderoso, omnipotente, tudo pode, tudo consegue...
Pois sim.
Durante anos vingou essa ladaínha relativa à força e
invencibilidade de Deus. Até vir o Bin Laden e estragar tudo.
Primeiro que tudo, vou salientar o mais importante: ainda
bem que o Bin Laden está vivo! Desde que escrevi aquele artigo
a interrogar-me acerca do futuro do terrorismo após a morte do
seu representante máximo tenho passado noites a fio a pensar
nisso.
É bem verdade que o Bin Laden já voltou há mais tempo e já
fez outras ameaças antes destas últimas, mas se ameaçar o Bush
é mais do mesmo, ameaçar Deus é outra coisa completamente
diferente.
Bin Laden voltou em força. Tipo Stallone aos 60 a fazer um
'Rocky Balboa' e um 'John Rambo'. A diferença é que Bin
Laden tem mais de setenta anos em cada perna e foi-se meter
com um sujeito com fama de ser mais lixado que birmaneses e
boxeurs afro-americanos todos juntos.
Ou assim todos nós pensávamos.
Aparentemente, Deus nada pode contra um gajo de
desfibrilado e tolha na cabeça. Arma-se em bom, atira com
gafanhotos e tal, mas depois...
Típico dos bullies São sempre invencíveis. Até chegar um
gajo e fazer-lhes frente.
Tudo bem que o Bin Laden não fez propriamente frente a
Deus. Fez ao Vaticano. Que é onde mora o representante de
Deus na Terra.
Imagino a reacção imediata às ameaças proferidas pelo líder
da Alcaeda.
―Eminência, o Bin Laden acabou de nos ameaçar. Que
Joel G. Gomes
147
fazemos? Rezamos um Pai Nosso?‖
―Tás parvo? Chama mas é a Guarda do Vaticano.‖
―Mas eles têm um uniforme ridículo.‖
―Exacto. Se têm coragem de andar assim público, não hãode ter medo de mais nada.‖
―Então e Deus?‖
―Deus que vá brincar com os gafanhotos e não se meta com
a mulher dos outros.‖
E pronto. (Esta última frase de Bento XVI foi mal pontuada
de propósito; e também não está muito bem contextualizada,
mas pronto.)
148
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #57
Ó MEU DEUS! II
Bento XVI não confia no poder de Deus. E não é sem razão ao
contrário do que se poderia pensar.
Em Portugal, mais concretamente na Guarda, há uma igreja
sem sinos há bué da tempo (de vez em quando tenho de
escrever a captar público mais jovem) e o Estado, que é o
responsável pela manutenção (porquê, perguntam vocês) não há
meio de resolver o problema.
Eu sei o que é ter a campainha avariada. É uma chatice.
Principalmente se não formos nós a tê-la avariada. Vem a
chunguice toda tocar-nos à porta. E isso é mau. Aquela igreja na
Guarda ao não ter o sino arranjado, não ouve os fiéis. Estes,
sentindo-se ignorados, vão tocar a outra freguesia. É um
problema.
E o padre, o bispo e essa malta pediram ajuda. A quem? Ao
Papa? Já vimos a reacção dele a ameaças feitas por um tipo de
toalha na cabeça. Vão esperando.
Terá sido ao sujeito (com S grande) que criou o Universo e a
Terra e isto tudo e mais alguma coisa em seis dias? Àquele que
engravidou uma gaja à distância? Àquele que tudo pode, tudo
faz e tudo vê?
Qual quê! Pediram mas é às gentinhas da terra. Disse o
Carlin há quase dez anos e continua a ser verdade. ―He's all
powerful, all knowing and all wise. Somehow, just can't handle
money!‖
Joel G. Gomes
149
TERMINUS #58
DOIS TÍTULOS UMA SÉRIE
Título original: THE KING OF QUEENS
Título(s) em Portugal
1 (TVI): O REI DO BAIRRO
2 (SIC COMÉDIA/SIC MULHER): ELE, ELA E O PAI
Título original: CROSSING JORDAN
Título(s) em Portugal
1 (FOX LIFE): A PATOLOGISTA
2 (RTP1): A ENCRUZILHADA
Título original: GHOST WHISPERER
Título(s) em Portugal
1 (SIC): ENTRE VIDAS
2 (FOX LIFE): EM CONTACTO
Título original: TWO AND A HALF MEN
Título(s) em Portugal
1 (RTP) DOIS HOMENS E MEIO
2 (SIC) CONTACTO (COM OS COMENTADORES ZEZÉ
CAMARINHA E JOSÉ CASTELO-BRANCO)
Pergunta: quando uma destas séries é editada em DVD em
Portugal, qual dos títulos é escolhido e porquê?
Ou será que são editadas duas versões da mesma série para
os otários comprarem duas vezes o mesmo produto?
O meu palpite é que são atribuídos nomes diferentes à
mesma série para não acontecer estar a dar a mesma série em
dois canais concorrentes em simultâneo. Ou para quem não
possuir TVCabo aderir ao serviço porque são transmitidas séries
que não estão disponíveis em sinal aberto.
Responda quem souber.
150
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #59
CITAÇÃO DE BLOG
Não tenho por hábito citar totalidades de ideias de terceiros, só
parcialidades. Isto por norma. Como este caso foge à norma,
sinto-me no dever de o fazer. Até porque é uma informação
importante e urge levá-la ao maior número de pessoas possível.
No BLOG DAS COISAS QUE VÃO MUITAS VEZES
DAR AO SEXO li o seguinte artigo:
SEGUNDA-FEIRA, 26 DE NOVEMBRO DE 2007
Hi5 e as Pessoas-Local
Quase todos os dias faço uma visita ao meu
lugarzito no Hi5, gosto de ver as adições de
fotografias e amigos, visitas ao meu perfil,
mensagens, e essas tretas todas que vão
animando aquela imensa base de dados das
'gentes' de todo o mundo. O Hi5 é ainda um bom
modo de conhecer o que as pessoas tomam
como bom ou mau, já que é lá que expõem o que
acham que devem expor, que decidem o que é
bom dar a conhecer ou não e consequentemente
o que é favorável ou não para este pedaço da sua
identidade, que não está presente bem numa
base de dados, como aquelas chatas que devem
existir no estado ou aquela do programa de
facturação. Nada disso, o hi5 é encarado como
um universo digital de relações e posição social,
qual base de dados qual quê!
Bom, mas independentemente do que acho que
os outros acham do Hi5, não consigo perceber
esta proliferação recente, já que tenho tomado
consciência dela nos últimos dias, daqueles seres
que fazem questão que não se possa ver as
Joel G. Gomes
151
informações que introduziu na base de dados.
Mas afinal de contas por que razão é que
quiseram fazer parte dela? Ora se eu não
conhecer o cão, gato ou pintura e personagens
favoritos de alguém que já não vejo há uns anos isto porque é raro olhar para a foto que aparece
na nossa indexação à base de dados e
reconhecer alguém - como é que sei que X ou Y
são a pessoa que procuro? Não percebo também
porque numa sistema como o hi5 que tem como
fundamento a partilha e ligação de amigos e
conhecidos a outros amigos e outros conhecidos,
existe a necessidade de bloquear outras pessoas
de verem o nosso perfil e consequentemente de
encontrar pessoas que poderiamos conhecer ou
querer conhecer e assim consecutivamente.
Acho que essas coisas que vão abundando por lá,
devem querer expressar uma atitude semelhante
aos locais de entrada reservada, que têm uma
placa enorme a dizer 'proibida a entrada' ou algo
de género, que de facto pode ser qualquer coisa
desde que siga o "conceito" de numa forma ou
outra querer fazer questão de dizer que é
importante, de forçar a ideia que se é mais que
qualquer outra coisa.
Acho até que essas entidades que habitam o Hi5,
querem ser outra coisa além de pessoas. Já são
uma espécie de pessoa-local. Querem ser aquele
bar e restaurante que tanto admiram. Querem ser
o local que alberga e protege, com o seu acesso
reservado, outras pessoas. Ou a casa onde a
família retrograda que fecha/prende a filha para
que não tenha contacto com nenhum homem (só
a levam a passear no seu veículo de luxo, nos
'premium'!). E ainda o local que quer de facto
demonstrar que é selecto, ele quer ser selecto
152
PROTUBERÂNCIA – Volume I
onde não faz sentido ser. É o local da piadaretrocesso, aquele tipo de humor que descreve a
rapariga 'pouco-virgem' no confessionário, ou o
canalizador bruto e másculo no convento. É o
argumento num filme pornográfico. E como este,
é despropositado, dispar e desnecessário.
Para essas pessoas-locais cujo egoísmo tenta
fechar as portas de forma a que não tenha
acesso a outras pessoas que podem ser
importantes para mim (e que de outra forma não
encontro), quando queremos estar isoladamente
com os nossos amigos num ambiente só nosso,
não andamos para aí a cantar isso para toda a
gente, porque é daquele tipo de informação inútil
para os 'não participantes'. Se não gostam de
partilhar informações e amigos/conhecidos, nem
usar isso para encontrar pessoas que já não
falam ha muito tempo, o hi5, caso ainda não
tenham reparado, não é bem o sitio para vocês. O
ICQ, MSN ou qualquer outra rede de género é
mais adequado e pelo menos, fazem o favor a
toda a gente de não empatar ninguém.
É tão estranho falar sobre isto como seria tentar
perceber ou explicar o argumento de um filme
pornográfico. Ou não, mas aí já estaríamos na
Twilight Zone.
Publicada por Sr.Cosmos em 4:22
Isto é uma mensagem que vale a pena espalhar por mail.
Não é aqueles powerpoints dos cãezinhos e dos coraçõezinhos e
essas merdinhas fofas. Abram os olhos.
Joel G. Gomes
153
HOMENAGEM A GEORGE CARLIN
"Take care of yourself. And take care of
somebody else."
– George Carlin
George Carlin, famoso comediante norte-americano, faleceu no
passado dia 23 de Junho, vítima de ataque cardíaco. Morreu
com 71 anos, ou como ele gostava de dizer "Sixty nine with two
fingers up my asshole!" Conhecido pelo famoso 'the seven
words you can't say on television' e por muitos outros, o seu
legado ficará para sempre na História do Humor. Num dos meus
primeiros posts, prestei-lhe uma homenagem ainda era ele vivo.
Eis a homenagem póstuma:
FREE FLOATING HOSTILITY
(ou PESSOAS QUE NÃO FAZEM FALTA)
1 - Pessoas que levam as chaves de casa ao pescoço
2 - Pessoas que empatam filas no pronto-a-comer,
perguntando "O que é isto? O que é isto?"
3 - Advogados com o rego do cú à mostra
4 - Pessoas de camisas às bolinhas
5 - Juízes com vestígios de pó branco nas narinas
6 - Homens com mais de 40 anos que usam o boné de lado
7 - Escritores de literatura 'light'
8 - Casais que levam o bebé para restaurantes românticos
9 - Famílias numerosas que acham que os putos não
incomodam ninguém na praia
10 - Mulheres com mais celulite do que pele que acham que
têm corpo para usar fio dental na praia
PROTUBERÂNCIA – Volume I
154
TERMINUS #60
SUGESTÕES DE LEITURA PARA JULHO
Julho vai quase a meio mas ainda há tempo para muito boa
leitura. Aqui ficam algumas sugestões.
O PLANO NACIONAL DE LEITURA PARA ANALFABETOS
COMO ATINGIR PESSOAS DE CABEÇA PEQUENA COM UMA
FISGA
COMO TER GRANDES IDEIAS SEM LER ESTE LIVRO
IMPRESSIONE OS OUTROS SEM DIZER NADA
1001 MANEIRAS DE USAR UM FURADOR
SAIBA O QUE DIZEM DE SI QUANDO NÃO ESTÁ PRESENTE
COMO ALIMENTAR A SUA MANIA DE PERSEGUIÇÃO
UMA LISTA DE TODAS AS PALAVRAS QUE NÃO DEVE DIZER A UM
HOMEM
UMA LISTA DE TODAS AS PALAVRAS QUE NÃO DEVE DIZER A
UMA MULHER
MANUAL DE CONSTRUÇÕES COM UNHAS CORTADAS
COMO SER AMIGO DE TODA A GENTE
SUGESTÕES PARA DOBRAGEM DE GUARDANAPOS
DOMINE A INTERNET A PARTIR DO SEU TELEFONE DE CASA
COMO ESCOLHER O SEU PARTIDO POLÍTICO E NÃO SER
INFLUENCIADO
100 FRASES DE PESSOAS QUE NINGUÉM CONHECE
APRENDA A NÃO SE RALAR
COMPÊNDIO DE TODAS AS DOENÇAS CONTRAÍDAS POR
PESSOAS NASCIDAS NO SÉCULO XX
COMO SUBIR NA VIDA SEM DAR O CÚ E CINCO TOSTÕES
ADOCE A SUA VIDA COM ASPARTAME
110 RECEITAS À BASE DE PETAZETAS
Joel G. Gomes
155
TERMINUS #61
QUINTA DA FONTE
Após centenas de e-mails e cartas recebidas a pedirem, a
exigirem que eu me manifestasse acerca dos acontecimentos
que tiveram lugar na Quinta da Fonte, em Loures, eu continuei
na minha. Disse a todos eles que a minha criatividade não podia
ser encomendada. "Eu escrevo sobre o que me apetece," disselhes. E mantive-me firme.
Até que uma das leitoras resolveu ser um bocadinho mais
persistente e... Enfim, digamos que eu faço isto POR VOCÊS.
Vamos lá então, Quinta da Fonte. Primeiro, não me interessa
quem teve razão, se ciganos ou pretos (ou negros, ou afroportugueses, ou qualquer que seja o termo politicamente
correcto actualmente em vigor). Há sítios onde eles se dão bem,
há sítios onde se dão mal. Aquilo é um bairro social. Fiquei
espantado por uma situação daquelas ter acontecido lá. Nunca
pensei.
A única coisa que posso comentar em concreto sobre este
caso, prende-se com as declarações que ouvi duma abécula, ave
rara, (etc. ad infinitum) que disse no fórum da TSF que "os
ciganos são um povo nómada e nós [sociedade ocidental]
tentamos sedentarizá-lo." Na opinião dessa aventesma em vez
de casas devíamos dar-lhes antes roullotes.
Porque assim não há perigo de, ao mínimo sinal de merda,
zarparem para Espanha.
Obviamente, e isto é o que se deve ter SEMPRE em conta,
apesar das escaramuças que se possam ter tido com ciganos ou
pretos (ou negros, ou etc.) não se pode rotular tudo. Já tive a
experiência de ter sido uma vez confrontado por um cigano que
me confundiu com alguém que apareceu na televisão a dizer
coisas como "os ciganos deviam ir todos prá terra deles."
Quem já teve confusões com eles, sabe que confusões são
156
PROTUBERÂNCIA – Volume I
motivo para espancamento. Tanto faz ser verdade como mentira.
Tentando manter a postura, expliquei-lhe que não podia ser eu
e... ele aceitou. Pediu desculpa, disse que tinha sido erro da
parte dele e foi à sua vida. Cruzei-me com ele algumas vezes,
cumprimentamos-nos com um acenar e seguimos.
Por isso, Quinta da Fonte, Cova da Moura, Chelas,
Laranjeiro, Vale da Amoreira, etc., etc., olhem para esses
bairros, vejam em que condições algumas (nem todas) dessas
pessoas vivem. E mesmo aqueles que têm actividades ilícitas,
considerem o que aconteceu para eles enveredarem por essa
vida.
E digam se a culpa é mesmo deles ou de quem os pôs lá.
(to be replied)
Joel G. Gomes
157
TERMINUS #62
PRIVADAS & PÚBLICAS
Passei por quatro universidades na minha vida – duas públicas e
duas privadas –, estudei numa e trabalhei nas outras três.
Conheço bem o panorama das universidades públicas e privadas.
Ou melhor, conhecia de 1999 até meados de 2006. Depois disso,
parti para outra.
Era, por vezes, demais evidente o nível que distinguia os
alunos de uma e de outra universidade. A privada com prérequisitos académicos mais baixos e mensalidades mais altas
dava espaço aos meninos e meninas de bem, aos ―senhores‖ e
aos ―filhos dos senhores‖. Na pública, entravam por mérito
próprio. Pagavam menos, mas o nível de exigência era diferente.
Não sendo isto uma regra de ouro, eram mais as vezes em que
acontecia assim do que o contrário.
Não estou, portanto, a ser apologético de uma e crítico de
outras, mas era isto que se verificava. A postura dos alunos na
pública era mais humilde do que a dos alunos na privada. Eis
um exemplo (real, não inventado):
Dois alunos, oriundos da mesma escola, da mesma turma,
candidataram-se ao curso de Direito. Um entrou na pública, o
outro na privada. Os dois freaks.
No primeiro ano, continuaram como freaks. No segundo ano,
o que estava na privada, cortou o cabelo e passou a vestir calça
de ganga e camisa. No terceiro ano, andava de fatinho e gravata.
O outro continuou como freak até ao final do curso.
Hoje em dia, anda também de fato, mas é a profissão que
obriga a isso. Exerce advocacia, o outro trabalha num café.
Isto acontecia em Direito, acontecia em Economia, Gestão,
Informática, etc. E agora leio no DN que o decréscimo de
alunos não tem a ver com a descredibilização das universidades
privadas, mas sim com a crescente concorrências das públicas.
158
PROTUBERÂNCIA – Volume I
Em parte, é verdade, mas só em parte.
Tomemos como exemplo alguns dos casos que vieram a
público sobre universidades privadas (alguns não passam de
rumores, mas mencionemo-los na mesma):
Universidade Independente (suspeitas de corrupção,
branqueamento de capitais, falsificação de documentos,
etc.)
Universidade Moderna (associação criminosa, gestão
danosa, apropriação ilícita, corrupção activa e passiva e
falsificação de documentos)
Universidade Autónoma (suspeitas de corrupção, exames
comprados, etc.)
Estes são os casos de que me lembro e que encontrei na net.
Que também possam haver casos assim ou piores nas
universidades públicas, não me surpreende. Surpreende-me é
dizerem que o facto do número de alunos ter diminuído nos
últimos dez anos não tem nada a ver com isto.
Este é um Governo de imagem. Tudo é feito à superfície, a
porcaria varrida para baixo do tapete. Acho que se fosse um
objecto, este Governo seria uma capa para telemóvel. O
telemóvel cai ao chão, fica feito em merda por dentro, troca-se a
capa e, voilá!, fica como novo.
Algumas coisas terão mudado nestes últimos dois anos em
que estive afastado do ambiente universitário. A começar pelo
grau de exigência para entrada na pública. O cenário que eu
descrevia ao início, muito provavelmente, não ocorre nos dias
de hoje.
E isso surpreende alguém?
A mim não.
Fiz o ensino secundário na área de Comunicação. Aprendi as
quatro perguntas principais a que um jornalista tem de
responder quando escreve uma notícia (QUEM, O QUÊ, ONDE
e QUANDO) na minha primeira semana de aulas.
Joel G. Gomes
159
Quando fui trabalhar para a primeira privada, na altura dos
exames finais, apanhei um aluno do 4º ano, curso de Ciências
da Comunicação, vertente de Jornalismo, a fazer cábulas para o
exame final. Só tinha lá uma coisa ―QUEM, O QUÊ, ONDE e
QUANDO‖. Hoje trabalha no 24 Horas. Talvez.
Pagou para entrar, mas era óbvio que não tinha cabeça para
aquilo.
Hoje corre-se o risco de este cenário aconteceu em todas as
universidades. Alunos mal preparados, que entram porque têm
dinheiro para isso, mantêm-se porque têm dinheiro para isso e
acabam porque têm dinheiro para isso.
Começa com algo tão simples e bonito como a subida
miraculosa dos resultados dos exames de Matemática. Num ano
estamos cá em baixo tudo, no ano seguinte ninguém nos agarra.
Alunos super inteligentes? Professores super dinâmicos e
instrutivos? Não sei. Mas imagino que as capas para telemóveis
nos chineses estejam muito baratas.
PROTUBERÂNCIA – Volume I
160
TERMINUS #63
SUGESTÕES DE LEITURA PARA O MÊS DE AGOSTO
Agosto, tempo de notícias parvas. E de bons livros.
DICAS DE BELEZA PARA PESSOAS COM VERRUGAS
RITOS DE ACASALAMENTO DOS BEDUÍNOS
CATÁLOGO PRIMAVERA-VERÃO PARA PESSOAS ANTIPÁTICAS
FALSIFIQUE NOTAS COM LENÇOS DE PAPEL
DIGA NÃO A TUDO
LISTA DE NOMES
HERMAFRODITA
IDIOTAS
PARA
DAR
AO
SEU
FILHO
DICIONÁRIO DE INSULTOS PARA INDIVÍDUOS DE ORELHAS
GRANDES
JOGOS E BRINCADEIRAS EM CAMPOS DE MINAS
O SEU VOTO CONTA
COMO DIZER SEMPRE A FRASE CERTA
1001 FORMAS DE PEDRA DE CALÇADA
BRICOLAGES DE CASA DE BANHO
ENFEITE A SUA SECRETÁRIA COM FOTOGRAFIAS DOS FILHOS
DOS SEUS COLEGAS
A SUA HIGIENE DIÁRIA EM UM MINUTO
ASSUSTE O SEU PARCEIRO COM RESULTADOS DE EXAMES
MÉDICOS
MANUAL DE ACASALAMENTO COM ANIMAIS DE PÊLO BRANCO
TRANSFORME OS SEUS RECEBOS VELHOS EM FLORES DE
PAPEL
UMA LISTA DE TODAS AS FRASES ESCRITAS EM CASAS DE
BANHO PÚBLICAS
TODAS AS PESSOAS PARA QUEM PODE LIGAR ÀS 4 DA MANHÃ
COMO AFUGENTAR TIAS CHATAS
Joel G. Gomes
161
TERMINUS #64
SUGESTÕES (TARDIAS) DE LEITURA PARA SETEMBRO
O tempo é pouco e, infelizmente, só agora é que consegui vir
aqui deixar-vos a lista de livros a ler durante o mês de Setembro.
Para compensar o meu atraso e uma vez que metade do mês já
passou, em vez de vinte levam trinta sugestões. Quem é amigo,
quem é?
SURPREENDA OS SEUS VIZINHOS DURANTE A NOITE
TODOS OS TOQUES DE TELEMÓVEL EM LINGUAGEM SMS
APRENDA A DIMINUIR AS SUAS EXPECTATIVAS
DISFARCE O EXCESSO DE ÁLCOOL ATRAVÉS DE DANÇAS DE
SALÃO
UMA LISTA DE TODAS AS MULHERES QUE NÃO FINGEM
UMA LISTA DE PESSOAS QUE NÃO DÃO TRABALHO A NINGUÉM
UMA LISTA DE PESSOAS QUE NÃO INTERESSAM
O MENINO JESUS JÁ QUER IR ÀS MENINAS
COMO CONSEGUIR BONS DESCONTOS EM TUDO
O MEU ARCO-ÍRIS: MEMÓRIAS DE UM ESTRÁBICO
LISTA DE TODOS OS PREÇOS DE PASTAS DENTÍFRICAS EM
MERCEARIAS DE IDANHA-A-NOVA
100 RECEITAS DE ANIMAIS DOMÉSTICOS
SAIBA SE ESTÃO A GOZAR CONSIGO ATRAVÉS DE AERÓBICA
27 FRASES PARA DIZER QUANDO ENCONTRAR DEUS
UMA ANÁLISE DE TUDO O QUE FOI DITO SOBRE A CONJUNTURA
APRENDA A CONTAR PELOS DEDOS EM TRÊS TEMPOS
DISFARCE O SEU ODOR CORPORAL COM UMA SOLUÇÃO À
BASE DE VINAGRE E CEBOLA
ENCICLOPÉDIA DE MEDICINA ARTIFICIAL
TONS DE CORES QUENTES PARA VERNIZ DE UNHAS
PROTUBERÂNCIA – Volume I
162
O PLANO NACIONAL DE SAÚDE SOB O OLHAR DE JOSEF
MENGELE
APRENDA A NÃO DESISTIR (com prefácio de Pedro Santana Lopes)
TODAS AS PALAVRAS QUE NINGUÉM LEU
SEJA O CENTRO
CORPORAIS
DAS
ATENÇÕES
ATRAVÉS
DE
SONS
COMO USAR BOM SENSO EM DISCUSSÕES COM BÊBADOS
ARMADOS
TODAS AS CAVIDADES CORPORAIS ONDE PODE ESCONDER
DROGA
GINCANA DE MÉDICOS-LEGISTAS
PADRÕES DE PAPEL DE EMBRULHO COM RISCAS
OS ENDEREÇOS DE TODAS AS PESSOAS COM APELIDOS
COMEÇADOS POR 'S'
A RAIZ QUADRADA DE 2 EM 1700 PÁGINAS
PIROPOS DE TROLHA PARA USAR NO CONVENTO
Joel G. Gomes
163
TERMINUS #65
CORRUPÇÃO PARA TODOS
Sofia divide o tempo entre dois
empregos.
De
tarde
trabalha
num
supermercado, à noite num bar de alterne
frequentado por dirigentes desportivos,
autarcas, polícias e juízes. Numa noite,
Sofia recebe uma proposta de um inspector
da Polícia Judiciária, Luís, que reconhece
nela uma certa classe, charme e inteligência
que a destacam de todas as outras
mulheres que habitualmente se encontram
nesses locais. A proposta é simples e
perigosa: Sofia deve dar-se a conhecer a
um dirigente de um clube desportivo da
primeira liga, seduzi-lo, conhecer os seus
segredos. Sofia aceita o desafio, mas aos
poucos começa a pôr em causa o que lhe é
dito pelo inspector. Mas o cerco policial ao
"Presidente" continua, o que o leva a
manter Sofia afastada de qualquer
informação comprometedora. Sofia está
agora disposta a revelar tudo o que sabe.
Mas a verdade tem um preço muito alto.
-- sinopse do filme português
CORRUPÇÃO
Ora bem, isto já vem mais do que tarde, vem tardissímo, mas
eu tenho um problema – aliás, tenho mais do que um, mas para
o caso não interessa – que é ser preguiçoso. E outro que é não
ligar a filmes que não interessam. Eu vi as conversas no
programa da Fátima Lopes sobre a Carolina Salgado, portanto
já sabia de tudo o que ia acontecer no filme. Ou, assim pensava
164
PROTUBERÂNCIA – Volume I
eu. Pois ao ir a uma papelaria e por acaso ver o dvd do filme
'Corrupção' e por curiosidade (mórbida? não tanto, é mais pelo
gozo) pegar para ler e sinopse, constatei que o filme tinha e tem
mais do que eu julgava.
A história está lá como eu tinha ouvido dizer n vezes tanto
na Fátima Lopes como no Manuel Luís, só que ninguém (e aqui
fica o meu reparo a esses senhores críticos sociais) me disse que
o filme ia ser uma fábula da Disney. Ou tentativa de. Pelo
menos é o que parece. Vejam porquê:
Uma mulher ter dois empregos para sustentar as filhas e um
deles ser num bar de alterne, não é a primeira nem há-de ser a
última. Se o emprego diurno for fiscal da ASAE, pronto é mau
exemplo. Mas o alterne, além de poder ajudar as gaiatas quando
for a altura dos exames de Educação Sexual, também aprende a
tirar cervejas e a preparar cocktails. Imagine-se o caso das filhas
irem pelo mesmo caminho, abrem negócio em casa e é só
facturar.
O bar é frequentado por gente importante, entre os quais
dirigentes desportivos, autarcas, juízes, policias. Ora bem, por
definição e por ética, a prostituição de alto nível é onde uma
pessoa pode ir e despejar os seus problemas (e não só) e fica
descansado porque dali não sai. Primeiro sinal de que quem
escreveu o filme nunca pôs os pés numa casa de alterne ou
então era ela que não era capaz de ficar com a boca fechada.
O que remete para a próxima parte da história. Vai lá um
polícia bêbado fazer-lhe uma proposta . E bêbado porquê? ―(...)
Luís [o bófia] (...) reconhece nela uma certa classe, charme e
inteligência que a destacam de todas as outras mulheres que
habitualmente se encontram nesses locais‖ Que locais?
Balcõesdo CitiBank? Repartições de Finanças? Não. Casas de
alterne. Classe, charme e inteligência numa alternadeira? Pode
ter, calma, mas não é coisa que se veja e muito menos diga num
primeiro encontro.
Diálogo romântico pouco provável de acontecer:
Joel G. Gomes
165
―Então és tu a Marlene. Os meus amigos já me tinham
falado de ti.‖
―E tu és o Elias. Lindo nome. Deves ser um garanhão.‖
―Noto em ti uma certa classe, charme e inteligência tão
grandes que sinto que vou arrebentar.‖
―É melhor irmos para o quarto tratar disso.‖
―Se for por trás é mais caro ou é o mesmo preço?‖
E por aí fora. Vêem isto acontecer na vida real? Eu não.
Mas a coisa não fica por aqui. Continua a ser tentativa de
fábula.
Ela ouve a proposta de meter-se com um gajo para lhe sacar
informação e aceita. Aceita ajudar o bófia que não conhece de
lado nenhum, traindo assim os principios que regem toda uma
classe de gente trabalhadora, e a troco de quê? Acaba por ser
descoberta e espancada e ficar de mãos a abanar.
Mas antes do espancamento (que não é nada tão espectacular
como foi o de Leonor Cipriano (ver nota no fim)) ainda deu
tempo para uma bela história de amor entre um senhor do
desporto e uma menina da noite. Momentos de grande ternura e
alguma badalhoquice, como a cena do coelhinho. (Espero que
tenha a cena do coelhinho. Disseram-me que tinha a cena do
coelhinho. Agora se não tem é que é chato que eu até seria
capaz de comprar o filme só para ver a cena do coelhinho.)
Classe, charme e inteligência? Lá paciência para aturar
paneleirices isso ela tem e sobra. Classe, talvez. Dentro do
género é possível que sim. E mesmo charme. Ao fim ao cabo
(que linda expressão!) são tudo aspectos superficiais. Nada
visível a olho nu como a inteligência. E aceitar ajudar fazer a
folha a um gajo que até seria um bom ganha-pão se não o
lixasse, só porque alguém lhe deu um piropo, não evidencia
uma inteligência por aí além.
Porém, ao mesmo tempo que espia, começa a pensar que o
bófia é capaz de não lhe ter contado tudo como deve ser. Hum?
Ponderações? Minha menina, estamos a entrar no campo da
166
PROTUBERÂNCIA – Volume I
Filosofia e isso é terreno muito pantanoso para meninas com
classe. Como até não está a fazer nada de mal e como quem diz
a verdade não merece castigo, o que é que ela resolve fazer?
Contar a verdade. É então que leva o espancamento e o pontapé
no rabo e põe-te a andar.
Estes são alguns dos aspectos que o filme possui que o
impedem de ser uma fábula da Disney. O que seria necessário
para que fosse, de facto, uma fábula?
Mantém-se tudo como está, mas sai o presidente e em vez
disso entra o coelhinho. Temos assim a figura racioanal do filme
e outros animais é tirar-lhes a voz e deixá-los como estão.
Nota referente a há pouco: Leonor Cipriano, a ser verdade o
que dizem, teve dos melhores espancamentos dados pela Polícia
Judiciária. Carolina Salgado (ou Sofia) foi espancada por
grunhos e estes, por muito que tentem, não chegam aos
calcanhares da gente da PJ. E não é por serem dos Super
Dragões ou do Torreense ou do Clube de Xadrez Unidos da
Betesga que são grunhos. São grunhos porque um gajo vestido
de coelho diz-lhes para espancarem uma gaja com classe,
charme e inteligência e eles espancam a gaja em vez de darem
uma paulada no coelhinho e pô-lo no forno a assar. Quem sabe,
se depois do coelhinho não a comiam de sobremesa? Talvez
com a promoção ―Leve com quatro e pague dois‖ a coisa
ficasse por um bom preço. Não pensaram nisso, agora olha.
Joel G. Gomes
167
TERMINUS #66
DISCURSO EM DIRECTO
Se há coisa que gosto de ver são pessoas entrevistadas em
directo darem respostas parvas a perguntas concretas. Não gosto
tanto como gosto, por exemplo, de ovos estrelados, mas gosto.
E se é verdade que às vezes andamos tempos e tempos sem
nenhum caso digno de referência (a não ser de futebolistas, só
que isso é tão habitué que já chateia), quando menos esperamos
aparece um caso como deve de ser.
O caso mais recente data de ontem (dia 27 de Outubro).
Antes da pergunta e da resposta, uma pequena contextualização
para que tudo faça sentido (ou não).
No dia em que se começou a administrar a vacina contra o
cancro do colo do útero (Gardasil), veio a público uma notícia
via CNN que dava conta de cerca de dez mil jovens que
sofreram "efeitos nefastos" (incluindo 21 mortes) após terem
sido administradas com a tal vacina.
Como nós em Portugal somos pessoas sensatas, fomos logo
(quando fomos, refiro-me aos repórteres) pedir explicações à
Direcção Geral de Saúde, que garantiu não haver razões para
alarme. E é lógico que não há. Se não, vejam.
REPÓRTER - Como comenta as notícias da CNN sobre
jovens que morreram ou adoeceram após terem sido injectadas
com Gardasil?
(Isto é uma pergunta que um repórter nunca faria em directo.
Muito longa. Vêem como já estão a aprender?)
GRAÇA FREITAS (a respondona) diz, e cito, "em matéria
de vacinas e medicamentos, a vigilância é apertada, realçando
que ainda não está comprovada uma relação de causa efeito
entre os problemas detectados nas jovens e a Gardasil".
Pronto. Se tivesse ficado por aqui, tudo bem. Era uma
resposta um tanto quanto evasiva. Como o pessoal que fez a
168
PROTUBERÂNCIA – Volume I
avaliação do acidente na linha do Tua dizer que aquilo estava
tudo a cair de podre, agora daí a dizer que isso teve alguma
coisa a ver com acidente, calma lá. O problema é que ela quis
dar um exemplo. Eu nem vou dizer nada. Leiam só.
«Posso ir a um centro de saúde apanhar uma vacina e nas
horas a seguir por acaso parto uma perna, foi na sequência da
vacina, mas não quer dizer que tenha sido causada pela vacina.
Por isso é que os organismos que controlam os medicamentos,
não emitiram nenhuma recomendação, no sentido de se estar
atento»
Querem mais exemplos? Cá vai.
«Posso ir a um matadoro matar um porco e nas horas a
seguir por acaso dar corda ao relógio, foi na sequência da
matança do porco, mas não quer dizer que tenha sido causada
pela matança do porco. Por isso é que os senhores que
controlam os porcos, não emitiram nenhuma recomendação, no
sentido de se estar atento.»
«Posso ir a um parque de diversões comer algodão doce e
nas horas a seguir por acaso elaborar um orçamento para
reparação de uma persiana, foi na sequência do algodão doce,
mas não quer dizer que tenha sido causado pelo algodão doce.
Por isso é que os senhores que adoçam o algodão, não emitiram
nenhuma recomendação, no sentido de se estar atento.»
«Posso ser informado que a vacina que a entidade pela qual
eu sou responsável começou a administrar é capaz de não ser lá
muito boa e nas horas a seguir dar um exemplo que faz de mim
um atrasadinho, foi na sequência de não ter tomado a
medicação, mas não quer dizer que tenha sido causada por isso.
Por isso é que os senhores que mandam na clínica onde resido,
não emitiram nenhuma recomendação, no sentido de se estar
atento.»
Acho que já chega. Bem esteve o W. que quando um repórter
o questionou sobre um assunto pertinente, respondeu "Gostava
que me tivesse enviado essa questão previamente por email."
Joel G. Gomes
169
TERMINUS #67
SOU EU QUE SOU ESTÚPIDO OU?
As pessoas lêem cada vez menos. As estatísticas até são capazes
de dizer que não – não tenho nenhuma à mão neste momento
para confirmar ou desconfirmar – e ao vermos a parafernália de
livros que enchem as estante e expositores das livrarias e
supermercados e os novos autores que brotam como cogumelos
em terreno próprio para cogumelos, quase que acreditamos que
é verdade.
Só que não é.
A verdade – ainda que esta possa ser subjectiva, mas o
blogue é meu e eu é que sei – é que as pessoas lêem menos. E
lêem menos, decerto não em quantidade, porque a oferta é cada
vez mais vasta, mas em qualidade, uma vez que não houve
(nem creio que vá haver) alguém que separe o lixo efémero do
que é realmente literatura. Bem sei que não se deve comentar o
gosto dos outros. E os críticos fazem o quê? Não comentam,
fazem pior, impõem-nos o seu gosto. Criticar é feio, mas se for
pago está tudo bem. É isso?
Para mim, as pessoas lêem mais coisas más agora do que em
qualquer outra altura do passado recente e menos recente. Não
porque queiram – certo e sabido que há os que querem ou não
se importam – mas porque existe uma estupidificação maciça da
sociedade. O tempo é cada vez menos, o dinheiro escasseia.
Quem quer ler bons livros, ou tem tempo e dinheiro para
investir, ou vê-se obrigado a comprar o que está em promoção
nas prateleiras do Modelo. E quando falo em tempo, não é só do
tempo que falo, é de cabeça também. Alguém disse-me uma vez
―É preferível lerem porcaria (literatura light no caso em
particular) do que não lerem nada.‖ Não, não é. Porque quem
vai para a literatura light como primeira opção já dali não sai.
Começa logo na escola com a leitura de histórias mutiladas.
170
PROTUBERÂNCIA – Volume I
Crianças que mal sabem limpar o rabo a analisar
morfologicamente os textos. Bons textos na sua versão original
são reduzidos a excertos. E a acompanhar esses textos vêm
exercícios. Chama-se a isto ―leitura orientada‖.
Sou o trigésimo sétimo (ou oitavo, não sei bem agora) a
dizer que saber analisar um texto é importante, mas não como vi
em certos livros. Num livro do 4º ano do Primeiro Ciclo
encontrei um poema de Eugénio de Andrade. Introduzir poesia
às crianças é nobre, é de saudar, mas há um meio correcto de se
fazer as coisas que não foi o utilizado neste caso.
Depois do poema, na página seguinte, vinha... uma ficha de
leitura. A ideia subjacente aqui é: não basta ler e sentir a poesia,
é preciso esmifrá-la bem esmifrada. As palavras do poeta
podem carregar tantos significados, mas o que é passado é a
interpretação de meia dúzia de iluminados que decifraram o que
o poema quer realmente dizer e impõem essa sua visão.
Primeiro exercício:
Assinala com V para Verdadeiro, F para Falso e T para
Talvez as seguintes frases.
―Talvez‖? Pergunto eu, em vez de ―talvez‖, que dá uma certa
ideia de insegurança, porque não ―Pode ser‖, ―É possível que
sim‖, ―Se calhar‖, ou (a minha preferida) ―Vai na volta...‖
E já agora, Verdadeiro e Falso já está muito visto. Porque
não ―Com certeza‖ e ―Hmmm... duvido‖? Ou ―É pois!‖ e
―Népias, não dá!‖? Há tanto por onde escolher. Inovem, meus
caros.
Segundo exercício:
Dos seguintes desenhos, identifica o que NÃO está
relacionado com o Inverno
E tínhamos um boneco de neve, um velho de ar rezingão e
um camelo.
Se os camelos soubessem escrever, diria que um deles foi
quem elaborou aquele exercício.
Por fim, o terceiro exercício
Joel G. Gomes
171
Descreve em três linhas “o que é para mim o Inverno...”
Ah! Dar liberdade de expressão às crianças! Tão querido!
Depois de um exercício que restringe a interpretação de um
poema a critérios objectivos e outra que cultiva a imbecilidade,
não há nada melhor do que um exercício que promova a veia
criativa. Mas só em três linhas. Criatividade sim, mas com
moderação. A nível pedagógico isto é bestial, perdão, de besta.
Notem bem, sou a favor das crianças lerem textos e depois
analisarem esses textos. Em certos casos, até concordo com as
fichas de leitura. Mas! (friso a exclamação) só se estiverem
relacionadas com o poema em si e não com a generalidade do
tema que o poema aborda. Há uma diferença.
Por outro lado, sou contra a leitura recreativa que é passada
através da escola. Porque não é de leitura recreativa que se trata
na maior parte das vezes. Recreativo é sinónimo de lazer e lazer
exclui fichas de leitura.
Parece que os professores agora não podem passar trabalho
para férias, então sugerem ―leitura de Verão‖. No meu tempo
havia trabalho para férias, não era segredo, e ninguém morria
por isso. Hoje em dia está tudo escamoteado. Gozávamos o
Verão todo e deixávamos aquilo para a véspera e ninguém
morria. No caso da leitura recreativa, como é para entreter, os
próprios pais impõem nos filhos a obrigação de passarem parte
das férias de volta desses textos.
Mais uma vez digo: a leitura deve ser estimulada, não
imposta.
Há dias conversava com alguém sobre isto e essa pessoa
deu-me o melhor exemplo possível para este caso:
―Pedir às crianças que preencham fichas de leitura acerca de
textos que leram nos seus tempos livres, é o mesmo que trancar
as portas do cinema e só deixar o pessoal saair depois de cada
pessoa preencher uma ficha para ver se perceberam o filme ou
não.
A leitura deveria ser estimulada, não imposta. O que se faz é
172
PROTUBERÂNCIA – Volume I
sobrecarregar alunos e professores com cargas horárias
violentas e matérias com poucas ou nenhuma utilidade prática.
Era assim no meu tempo (em parte), mas agora está pior. É o
caso do Inglês no 4º ano. Quando surgiu, fui favor, agora oiço
dizer que no 5º ano começam tudo de novo. Não fui confirmar
isto mas, a ser verdade, porra! Os putos andam lá a aprender o
quê?
É desmotivante. Os alunos que querem (ou melhor, têm de)
ser cumpridores e estudiosos não têm tempo para serem
crianças. Os professores que escolheram essa profissão por
razões nobres não têm como fugir ao que o Ministério da
Educação define como ―conteúdos programáticos obrigatórios‖.
Uns não podem sair para lá da caixa, outros não querem, outros
não deixam. E a criatividade lá vai desaparecendo.
(Atenção que nem tudo o que o Ministério da Educação faz é
mau. Aspectos positivos: a minha professora de Matemática do
8º ano, a minha professora de Geografia do 11º, e mais uma ou
outra mula que andavam por lá. Eram visualmente agradáveis e
até sabiam ensinar. O problema era nós prestarmos atenção ao
que elas diziam. É difícil aprender equações quando a
professora tem um decote até ao pescoço. Mas que é
estimulante, não há dúvidas.)
Isto não vem de agora, mas agora está pior do que nunca. E
parte da culpa é deste Governo de imagem. (O jornal espanhol
El Mundo elaborou uma lista dos vinte homens mais elegantes
de 2008. E José Sócrates ficou em sexto lugar. Querem melhor
exemplo?) Como o são todos em Portugal. É preferível parecer
bonito do que funcionar. Só que nem funciona, nem quando
visto de perto parece bonito.
É a televisão, poderão dizer. Não deixa de ter a sua quota
parte de culpa, mas não é a principal responsável. É o ―Big
Brother‖, é os ―Morangos com Açúcar‖, é o ―Olha quem dança‖.
É o que for, não importa. Eu olho para esses e outros exemplos
como se fossem balas. A cada tiro é uma mini-lobotomia
Joel G. Gomes
173
involuntária que foremos. Só que não são eles que disparam. Os
Directores dos canais dizem que só que mostram o que o
público quer ver. E eu sei que há gente estúpida neste país, mas
tanta assim?
Não gosto de usar expressões como ―sistema‖; parece
paranóia. Só que não consigo deixar de ver uma certa
organização macabra nesta situação toda.
O Governo promove a estupidificação desde os tempos de
escola até à entrada no mercado de trabalho. Começa por ser
muito fácil, depois vai ficando difícil sem rumo certo, até que a
certo ponto a espiral inverte e os critérios deixam de ser os
mesmos. Hoje em dia termos anormalidades como turmas de 1º
e 2º ano misturados, ou 2º e 3º ou 1º e 4º, ou os quatro anos
numa única sala. Porque no entender da senhora Ministra da
Educação, ―chumbar uma criança é anti-pedagógico‖. Além de
dar muito mais trabalho a justificar. Por isso, o nível aumenta e
aumenta a um extremo em que poucos alunos conseguem
acompanhar e assimilar, mas ninguém chumba. Todos passam,
todos sem excepção. E quando chega a hora de ir para a
Faculdade, a única coisa que precisam é pagar a matrícula e a
inscrição. Podem ter média de sete ou oito, interessa é pagar.
Quem não tem dinheiro e não vai para a faculdade, trabalha
e o ritmo é tão intenso, a cabeça é tão bombardeada com o
estado do país, com a economia, o desemprego, que quando
chegam a casa não querem ver nada. Talvez um filmezinho.
Mas uma coisa que não puxe muito pela cabeça. Infelizmente
muitos vão para as telenovelas, para os reality-shows, os talkshows, aquelas coisas que existem para se ver sem olhar, para
encher o tempo. E a estupidificação continua.
Incapazes de pensar por nós próprios, assistimos a notícias
sobre o aumento da criminalidade. Carjacking, homejacking,
tráfico de armas, lenocínio, tráfico de pessoas e bens, TVI. Será
assim tão estranho num sistema que protege os direitos dos
criminosos em relação às vítimas, haverem assim tantos crimes?
174
PROTUBERÂNCIA – Volume I
Não me parece.
E mesmo que isto seja sensacionalismo da minha parte,
mesmo que haja um exagero dos casos aqui apresentados, não
creio que isto seja feito por acaso. A intenção é assustar e
manter as pessoas assustadas. Pessoas estupidificadas desde
crianças, a viverem com medo de serem assaltadas, de serem
despedidas; todas com deveres, poucas com direitos reais.
Na manhã em que comecei a escrever este artigo (demorou
mais tempo do que esperava) anunciaram na TSF a publicação
da lista de credores do Estado. Ouvi isso e pensei logo
'Ninguém vai lá pôr o nome'. Passado este tempo, vejo que não
me enganei. Seria como o caixa de óculos no 1º C ir cobrar os
dez cêntimos que emprestou ao folião do 4º E para este comprar
gomas. Ele até lhe pode pagar, só na brincadeira, mas quando o
outro menos esperar...
Joel G. Gomes
175
TERMINUS #68
MANOEL DE OLIVEIRA E JOÃO CÉSAR MONTEIRO (TUDO NO
MESMO SACO E ATIRADO AO RIO)
Manoel de Oliveira, o mais velho realizador em actividade do
mundo comemorou cem anos. E disse que não se vai reformar.
Ainda.
Às vezes perguntam-me, ―ó Joel, se tu não gostas do senhor,
porque é que te dás ao trabalho de escrever sobre ele?‖ Bom, a
verdade é que nunca me senti atraído pela sua obra
cinematográfica. Pode ser muito boa, bla bla, mas a mim ―não
puxa‖. A título profissional, é mais ou menos isto. Quanto à
parte pessoal, não o conheço, não posso comentar.
Não podia, melhor dizendo.
Há dias li declarações do senhor Manoel de Oliveira, a
queixar-se de que se tivesse de depender do Estado português
para fazer filmes, teria ficado por um ou dois.
Ora bem, eu entendo que o senhor esteja a ficar senil. É a
única desculpa possível e aceitável para tais declarações. Se não
é senilidade, é arrogância.
Não tenho por hábito responder a comentários feitos a posts
anteriores, mas acho que é importante abrir aqui uma excepção
apenas para consolidar o que estou a dizer.
O comentário foi a propósito do post ―TERMINUS 21:
MANOEL DE OLIVEIRA A 48 VELOCIDADES‖ e dizia:
Leiam muito, vejam muito cinema, mesmo que
vos dê seca no inicio, e depois hão de ver que
não querem outra coisa. Ou então, senao
gostarem paciencia.
Considero Manoel de Oliveira e João Cesar
Monteiro os maiores clássicos do cinema
português, e lamento os comentários que se
176
PROTUBERÂNCIA – Volume I
escrevem acerca deles.
Quem não estuda matemática também a detesta.
Mas se esforçar e aprender ficará a gostar.
Pela ordem de ideias dos detractores, também
os clássicos da cultura humanistica seriam para
deitar fora , no entanto são a maior riqueza
espiritual da Humanidade.
Subscrevo que devemos valorizar os clássicos. Quanto a
valorizar Manoel de Oliveira e José César Monteiro, nem pensar.
Quem quiser gostar, é livre de gostar, mas eu não consigo gostar,
ou sequer respeitar chulos (sim, foi mesmo chulos que escrevi)
que sempre receberam dinheiro dos contribuintes para fazer
filmes que não deram lucro nenhum, só despesa e vêm dizer que
―o Estado não nos dá apoio‖ ou ―Eu quero é que o público
português se foda.‖
Eu digo-vos o que é que queria.
É melhor não.
O Paulo Branco, ex-produtor do Manoel de Oliveira, disse
na RTP que o Estado português não investe no cinema
português. Se ele com isto queria dizer ‗bom cinema português‘,
é verdade; investe só nos dele.
Manoel de Oliveira largou o senhor Paulo Branco e passou a
trabalhar com o menino Gonçalo Cadilhe, filho do ex-Ministro
das Finanças do Governo de Cavaco Silva. Será assim tão
difícil para um realizador obter fundos para fazer um filme,
quando o seu produtor é filho de um ex-Ministro das Finanças
do actual Presidente da Republica?
Eu não digo que haja favoritismos (todos sabemos que
nestas coisas somos modelos a seguir), mas dá que pensar.
Também já disse que não sou apologista do filme feito às
três pancadas. Sexo, gaja boa e tiros e explosões; só, não chega.
Gosto de bons filmes. Com ou sem efeitos especiais. Não é
negar a expressão artística do velhinho e amigos e idolatrizar o
Joel G. Gomes
177
comercialismo.
É ter um meio termo.
Que o Estado dê dinheiro a um realizador ou outro, cujo
filme faça um mau resultado junto do publico mas um sucesso
com os críticos, de vez em quando… eu aceito. O que eu não
aceito é que isso seja feito (felizmente a lei já mudou) apenas
porque a pessoa tem nome e já é velhinha e não se pode dizer
não ao velhinho senão dá-lhe o badagaio.
O que se deve fazer é incentivar a indústria, fazer filmes que
façam dinheiro, mas que não deixem de poder ser considerados
obras de arte. Filmes bons, filmes maus, mas que despertem o
interesse das pessoas, que espevitem alguns, que digam ―eu
consigo fazer melhor‖. Força. Façam. Tentem.
É assim tão difícil combinar as duas coisas? ‗A Lista de
Schindler‘, ‗Titanic‘, ‗O Padrinho‘; há infinitos exemplos de
filmes que são considerados obras clássicas do cinema e que,
por incrível que pareça, não foram fracassos de bilheteira.
A frase Yes, we can! está muito na moda entre os nossos
políticos. Que tal começarmos a aplicá-la no cinema também?
(Uma última curiosidade sobre o Manoel de Oliveira: em
França, há uma especialização numa licenciatura de cinema
sobre o senhor. Exactamente. Há pessoas que são especializadas
em Manoel de Oliveira. É fácil identificá-los. Olhem para uma
pessoa; se ela estiver sem se mexer durante dez minutos
seguidos, é bem provável que seja um especialista em Manoel
de Oliveira.)
178
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #69
INTEGRAÇÃO? EVENTUALMENTE HÁ-DE SER
Tenho-me mantido afastado do blogue por várias razões, sendo
a mais premente e honesta a preguiça. Não tem existido falta de
assuntos para comentar – estamos em Portugal – mas certos
eventos não podem passar despercebidos e este é um daqueles
obrigatórios.
Em Barcelos, terra dos galos e de outras coisas, na Escola
Básica de Lagoa Negra em Barqueiros, construíram um
monobloco onde só têm aulas alunos de etnia cigana.
A informação é esta. Sem quaisquer comentários adjacentes.
Só que há sempre opiniões, contra ou a favor. É como o copo;
uns vêem-no meio cheio, outros meio vazio. Eu prefiro vê-lo
como demasiado pequeno.
A medida visa ajudar a integrar as crianças da etnia cigana
junto das outras crianças. Trata-se de um ―projecto que é, a
todos os níveis, excepcional‖, palavras de Margarida Moreira,
directora da D.R.E.N. Esta é a mesma Margarida Moreira que
pôs um processo ao Professor Fernando Charrua por este ter
contado uma piada sobre o Primeiro-Ministro José Sócrates;
portanto, podemos estar descansados que isto não é uma coisa
feita em cima do joelho por mero capricho de poder.
Até porque, é preciso admitir isto, isolar um grupo é, sem
dúvida, a melhor maneira de o integrar no resto da sociedade. É
para isso que servem os bairros sociais.
Quase que arriscaria dizer que era esse o grande objectivo de
Hitler com os campos de concentração, a integração.
Infelizmente para o Adolf, não tinha uma Margarida Moreira à
frente do projecto.
Apesar das minhas palavras tenho que admitir que não sei o
que se passa. O que sei é o que me chega através da
comunicação social e, mesmo a fazer fé na sua imparcialidade,
Joel G. Gomes
179
esta está sempre sujeita a padrões editoriais que diferem de
jornal para jornal, de estação para estação.
Se um caso semelhante, idêntico ou pior, tivesse acontecido
no Sul de Portugal, com um Governo de direita (outro que não
este PS), as vozes que hoje aprovam seriam as vozes que então
criticariam e apontariam o dedo. É por isso que, antes de
começarmos a criticar a medida e a chamá-la de xenófoba, que
devemos pensar o que aconteceria se as circunstâncias fossem
outras.
Pessoalmente não concorda com ela. Seja em que zona for,
seja por quem for. Sejam por motivos étnicos, maior ou menor
dificuldade de aprendizagem, ou outros. Admito que há casos
pontuais que podem necessitar de um abordagem diferente, mas
nunca se deve tomar o todo pela parte.
Em tudo na vida há excepções e se naquela turma de
crianças ciganas há aquelas para quem esta medida é benéfica,
outras há que se sentem discriminadas e postas de parte.
O grande problema, tanto nesta como em tantas outras
situações, continua a ser o de se fazer as coisas sem as explicar.
A intenção até pode ser boa, estar bem estruturada, mas se não
existir diálogo com os visados estes nunca entenderão o que se
pretende.
Em Ditadura decide-se e faz-se e ponto. Em Democracia é
diferente, deveria ser diferente. É por isso que, em jeito de
conclusão, quando penso naquelas crianças ciganas a terem
aulas naquele monobloco, isoladas dos outros alunos, excepto
nos intervalos, penso em como isso é parecido com Portugal na
Europa. De vez em quando brincamos com eles mas, na maior
parte do tempo, estamos no nosso pequeno mundo. Bem
integrados.
180
PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS #70
JÁ SE PODE GOZAR COM A MADDIE
Uma pequena correcção, se me permitem, na verdade não é "já
se pode gozar com a Maddie" e sim "já se pode gozar acerca da
Maddie". Custou mas foi. Eu, posso dizê-lo sem problemas, fui
dos poucos que ao longo destes quase dois anos resisti ao
máximo por não fazer piadas acerca da menina inglesa
desaparecida na praia da Luz.
Por respeito à família (cujo comportamento não foi dos mais
exemplares na matéria) e, acima de tudo, à própria Maddie,
optei por não gozar com ela ou acerca dela enquanto tal não
fosse oficialmente permitido.
E isso finalmente aconteceu.
Da mesma maneira que daqui a algumas semanas irá abrir
oficialmente a época balnear, abriu agora a época oficial para se
gozar com a Maddie.
Porque é que eu digo isto?
Porque os pais da menina pegaram em dinheiro daquele
fundo criado apenas e só para auxiliar na localização dela e
espalharam cerca de dez mil fliers mais não sei quantos
outdoors por todo o Algarve. Ao ter conhecimento disto, a
minha primeira conclusão foi aquela que serviu de base a todo
este artigo. Estão a gozar com isto. Os próprios pais estão a
gozar com o assunto e se, assim é, qualquer um o pode fazer
sem medo de represálias.
A segunda opção, há que considerá-la apesar de pouco
provável, é a de haver alguém em Faro que não tenha ouvido
falar da Maddie, que nunca tenha visto uma fotografia dela.
(Não fosse alguém achar que a Maddie era marroquina ou
etíope; o nome pode induzir em erro).
Tenho que admitir que em tempos considerei esta hipótese.
Maddie, farta de uma vida confortável, foge do apartamento na
Joel G. Gomes
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praia da Luz, vai a pé até uma daquelas aldeias do interior onde
só moram três pessoas mais as cabras, onde não há electricidade,
telefones, televisão (mas há um Magalhães pastor) e passa a
morar aí, fazendo vida da pastorícia.
Daqui a três anos seria tema de reportagem na TVI: "Menina
inglesa desaparecida há cinco anos descoberta em aldeia nos
arredores de Faro. É agora pastora de cabras e gostaria de ter
um telemóvel de terceira geração para falar com os amigos no
hi5 e no Facebook."
Duvido que isso venha a acontecer. Mas se os pais acham
que é possível encontrá-la ao fim de dois anos no local onde
inicialmente desapareceu, pronto. Procurem-na lá. Eu acho, mas
isto sou só eu a dizer, que a Maddie não é uma caneta. Uma
caneta é que nós perdemos, corremos a casa toda à procura e ao
fim de dois, três anos, quando já não andamos à procura dela,
encontramo-la. "Eh pá! Passei não sei quanto tempo à procura
desta caneta e agora encontro-a assim sem mais nem menos!
Maravilha!" Com a Maddie não pode ser assim. Provavelmente.
Ou se calhar até pode. Ainda ninguém pensou nesta hipótese.
E se a Maddie estiver a teimar? Enquanto não a "deslargarem"
ela não volta para casa. Afinal de contas, a Maddie é uma
criança e se há coisa que algumas crianças têm, é teimosia. A
Maddie não será excepção.
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PROTUBERÂNCIA – Volume I
TERMINUS # 71:
"SALAZARISTAS TEMEM INFILTRAÇÃO NEONAZI"
Amanhã (ou hoje, mais propriamente, já que estou a escrever
isto na madrugada do dia 3) comemoram-se os 120 anos do
nascimento de Oliveira Salazar. A iniciativa é organizada pelo
Movimento Salazarista e está a gerar a inevitável polémica.
Depois do presidente daquela Junta de Freguesia, lá em
Viseu, que não viu qual o problema de inaugurar o Largo Dr.
Oliveira Salazar no dia 25 de Abril (e com razão; os americanos
inauguraram a Praça Rainha Vitória no dia 4 de Julho e
ninguém se queixou), aparecem agora os salazaristas que
temem ver a sua festinha inocente e bonita ser infiltrada por
gente da extrema-direita (ligada ao PNR) e, pasme-se, por
neonazis.
Dos nomes ligados a este evento destacam-se Rui Salazar,
sobrinho neto do "Botas", Paulo Rodrigues, ex-secretário
pessoal do Oliveira e João Gomes, porta-voz do site "Salazar, o
obreiro da Pátria" - acrescente-se que um dos actuais
colaboradores de João Gomes é Carlos Paula Pereira, ser
(alguém poderá sentir-se ofendido se me referir a ele como
pessoa) que fez parte das listas do PNR para as Legislativas de
2005). Perante tudo isto, é natural que os Salazaristas tivessem
ficado surpreendidos, quiçá assustados, quando lhes disseram
que poderia haver gente da extrema-direita ou neonazis a tentar
entrar. Isto porque os acepipes tinham sido encomendados à
conta e não iria haver comida que chegasse para todos.
O circo continua.
Em Santa Comba Dão, aconteça o que acontecer, o Salazar
há de ser sempre o menino bonito da terra. Aposto que se
tivesse nascido ou vivido em Lisboa, não teríamos a Avenida da
Liberdade, teríamos a Avenida Salazar.
No já referido site "Salazar, o obreiro da Pátria" está lá uma
Joel G. Gomes
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petição para mudar o nome da Ponte 25 de Abril para Ponte
Salazar. De momento "só" têm duas mil assinaturas, faltam
outras duas mil para o assunto poder ser levado à Assembleia da
Républica. João Gomes (que devia ter um ataque crónico de
diarreia e prisão de ventre ao mesmo tempo por ter o mesmo
apelido que eu) diz que "Não temos pressa. É escusado
apresentar, para já, uma petição destas na AR quando vivemos
num regime totalitário." Eu não quero ser má língua e dizer que
este João tem os fusíveis trocados. Mas... tem.
Tudo isto prova que gostamos daquilo que é nosso, ao
contrário do que dizem, mas só se for mau, estiver morto e/ou
fizer sucesso lá fora.
Se o Hitler tivesse passado em Portugal (e provavelmente
passou, ainda que não oficialmente) e tivesse sido visto por um
miúdo e esse miúdo hoje fosse vivo só que, em vez de miúdo
seria um velho com um dente em dois cantos da boca, numa
aldeia sem água e luz, mas com Internet, e a TVI ou a SIC ou a
RTP descobrissem esse velho e fossem lá falar com ele, para ele
lhes dizer como tinha sido ver o Fuhrer ao vivo, havia de
aparecer alguém, quase certo, uma semana depois no máximo, a
pedir para rebaptizar aquele sítio com o nome do Adolf.
Somos estúpidos a esse ponto.
Em Santa-Clara-a-Velha, a Rua Marechal Carmona parte da
Praça Salazar. Em Santa Comba Dão há o tal Largo; em
Armamar e Carregal do Sal também há ruas e largos dedicados
ao ditador; na aldeia de Castainço, em Penedono, há também
uma rua com o nome Oliveira Salazar. Na Madeira não se
comemora o 25 de Abril, o que é um sinal de elevada coerência
porque não faz sentido assinalar uma data que não lhes diz nada.
Seria como os americanos comemorarem o 10 de Junho.
Eu acho que já é tempo de alguém levar por diante a única
possível para resolver todos estes problemas.
Na Madeira há muito espaço desabitado. Talvez não muito,
mas o suficiente para, digamos, enfiar lá 11 205 pessoas, certo?
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PROTUBERÂNCIA – Volume I
Mesmo que fiquem um bocadinho encafuadas, com jeitinho
cabem lá todas.
Pergunto eu, se os tansos de Armamar, Carregal do Sal,
Santa Comba Dão, Santa-Clara-a-Velha e Castainço querem
tanto viver num Regime Ditatorial ou, como diz João Gomes,
numa sociedade sem partidos e de consenso nacional, porque
não mandá-los todos para a Madeira? Mais os Salazaristas,
claro.
Eu julgo que esta ideia já terá sido pensada por mais alguém
mas, por falta de poder para agir ou porque "parecia mal", ficou
tudo em águas de bacalhau.
É tempo de nos deixarmos de mariquices e ajudarmos esta
gente que só quer honrar os seus queridos ídolos e mandá-los
todos para um sítio onde possam ser felizes.
Ou mandá-los à merda. O que for mais fácil e gratificante.
Por outro lado, e a pensar na falta de espaço, os habitante da
Madeira, dissidentes do Regime que lá vigora, poderiam vir
para o continente ocupar o lugar dos que tinham ido para o
arquipélago. Vistas as coisas, sempre é melhor uma Democracia
bipolar do que nenhuma Democracia.
Uma última questão sobre Carlos Paula Pereira: não acham
irónico o PNR, conhecido pelas suas orientações xenófobas e
homofóbas, ter tido nas suas listas um homem com nome de
gaja?
FIM DO VOLUME I

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