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Apresentação Oral DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA IMPLEMENTAÇÃO DE PRÁTICAS PREVENTIVAS AO USO DE DROGAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Pedro Henrique Antunes da Costa1; Daniela C. Belchior Mota2; Érica Cruvinel2; Fernando Santana de Paiva3; Telmo Mota Ronzani4 1. Graduando de Psicologia da UFJF, Pesquisador do Centro de Referência em Pesquisa, Intervenção e Avaliação em Álcool e Drogas - CREPEIA; 2. Pesquisadoras do CREPEIA; 3. Professor do Curso de Psicologia da Faculdade Machado Sorinho, Pesquisador do CREPEIA; 4. Professor Adjunto do Departamento de Psicologia da UFJF, Coordenador do CREPEIA Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde; Pesquisa Participativa Baseada na Comunidade; Detecção do Abuso de Substâncias Atualmente, o uso de drogas contribui para um novo perfil no quadro dos problemas de saúde do mundo, repercutindo nos sistemas assistenciais como fator de risco para uma grande variedade de problemas (Carlini & Galduróz, 2005; OPS, 2009; UNODC, 2011). Entretanto, a demanda por práticas de prevenção e tratamento – especialmente nos países em desenvolvimento – ainda não foi atendida (OPS, 2009). Estudos realizados apontam que os mecanismos mais efetivos na redução da vulnerabilidade da população a essas “novas epidemias” são aqueles que operam na prevenção das doenças e na promoção da saúde (Rehm & Monteiro, 2005). Portanto, a abordagem ao uso de drogas deve estar incluída na agenda da saúde pública, com adoção de políticas de saúde que priorizem a redução dos riscos/danos associados ao uso destas substâncias, rompendo com abordagens limitadas somente aos componentes biológicos (Arantes et al., 2008; Machado & Miranda, 2007). Neste contexto, a Atenção Primária à Saúde (APS) aparece como um nível de atenção estratégico para a aplicação das práticas de prevenção ao uso de drogas, por ser a porta de entrada de uma rede de serviços de acesso universal, atingindo a maior parte da população (Brasil, 2006; OPS, 2007). Nesta perspectiva, diversos autores (Kaner et al., 2009; Willians et al., 2011; Swan, Sciacchitano & Berends, 2008) apontam a Screening, Brief Intervention, Referral and Treatment (SBIRT) como importante ferramenta para a implementação e organização de atividades preventivas ao uso de álcool e outras drogas, principalmente nos serviços de APS. A SBIRT é composta pela aplicação do Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test (ASSIST), instrumento de triagem desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) com a finalidade de identificar o padrão de uso e auxiliar o profissional de saúde a definir a estratégia de intervenção mais adequada; e pela Intervenção Breve (IB), uma abordagem de educação em saúde relacionada à prevenção primária ou secundária para usuários de drogas, com foco na mudança de comportamento do paciente, através de um atendimento com tempo limitado e que pode ser realizado por profissionais de diferentes formações (Babor & Higgins-Biddle 2001; Babor, Mcree, Kassebaum, Grimaldi, Ahmed & Bray, 2007; Humeniuk & Poznyak, 2004). Apesar disso, são escassos os estudos sobre a eficácia de tais práticas na APS de países em desenvolvimento, identificando os elementos que promovam resultados positivos na prevenção e/ou redução do consumo de acordo com cada realidade (Willians et al., 2011). A partir disso, o presente trabalho procurou avaliar uma metodologia de implementação da SBIRT na APS de um município brasileiro de pequeno/médio porte, ressaltando desafios e possibilidades para a disseminação em outros municípios brasileiros. Trata-se de uma pesquisa-ação, com coleta de dados e avaliação realizadas através da observação participante (Minayo, 2011). Os dados coletados eram registrados em diários de campo e, posteriormente, relatórios sistemáticos eram gerados. Procurou-se avaliar todo o processo visando a adequação às necessidades locais e determinando fatores que pudessem facilitar ou dificultar sua implantação. Os fatores que dificultaram a implementação das práticas preventivas foram: insuficiência de recursos (humanos, financeiros, infraestrutura); falta de integralidade e intersetorialidade da rede assistencial; ausência de participação dos médicos; formação profissional ainda calcada no saber médico; enfoque na dependência; ausência da gestão de saúde; falta de mobilização e participação da sociedade civil; ausência de um espaço onde a população fosse convidada a participar do planejamento e execuções das políticas públicas. Entretanto, na outra mão, a participação dos agentes comunitários de saúde e enfermeiros na aplicação e organização/planejamento das práticas de SBIRT, além de ações pensadas e concretizadas pelas equipes de saúde, como a realização de práticas educacionais e preventivas nas escolas e grupos de discussão sobre drogas com as comunidades, mostram como é possível a implementação da SBIRT no contexto da APS brasileira. Dessa forma, conclui-se que se faz necessário progredir nas ações de prevenção ao uso de drogas no Brasil como um todo. Estas são ações de médio a longo prazo não podendo ser tratadas buscando resultados imediatistas, apesar da necessidade da gestão, profissionais e população de respostas instantâneas (Ronzani, Mota & Souza, 2009). Para isso a importância de pesquisas-ação que levem em consideração as características inerentes à própria APS e as realidades locais, além da própria metodologia de trabalho (Gonzalez & Saforcada, 2006). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Arantes, R. C., Martins, J. L. A., Lima, M. F., Rocha, R. M. N., Silva, R. C. & Villela, W. V. (2008). Processo Saúde-Doença e Promoção da Saúde: aspectos históricos e conceituais. Rev. APS. 11(2), 189-98. 2. Brasil, Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica. (2006). Política Nacional de Atenção Básica. Brasília, DF. 3. Carlini, E. A., Galduroz, J. C. (2005). II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas no Brasil: Estudo envolvendo as 108 maiores cidades no país. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas: São Paulo. 4. Babor, T. F., Higgins-Biddle, J. C. (2001). Brief Intervention for harzardous and harmful drinking. Geneva: WHO. 5. Babor, T. F., Mcree, G. B., Kassebaum, M. A., Grimaldi, P. L., Ahmed, K. & Bray, J. (2007). Screening, Brief Intervention, and Referral to Treatment (SBIRT): Toward a Public Health Approach to the Management. Substance Abuse. 28 (3), 7-30. 6. González, M. A. & Saforcada, E. (2006). El papel de la psicología en la evaluación del impacto de ciertas políticas públicas de salud. In: Lellis, M. (org). Psicología y Políticas Públicas de Salud (2006). Buenos Aires: Paidó. 7. Humeniuk, R. & Poznyak, V. (2004). Intervenção Breve para o Abuso de Substâncias: Guia para Uso na Atenção Primária à Saúde. Genebra: OMS. 8. Kaner, E. F. S., Dickinson, H. O., Beyer, F., Pienaar, E., Schlesinger, C., Campbell, F., et al. (2009). The effectiveness of brief alcohol interventions in primary care settings: a systematic review. Drug and Alcohol Review. 28, 301–23. 9. Machado, A. R. & Miranda, P. S. C. (2007). Fragmentos da história da atenção à saúde para usuários de álcool e outras drogas no Brasil. História, Ciências e Saúde. 14 (3), 801-21. 10. Minayo, M. C. S. (2011). Trabalho de campo: contexto de observação, interação e descoberta. In: Minayo, M. C. S. (org). Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade (2011). Petrópolis: Vozes. 11. Organización Panamericana de la Salud. (2009). Epidemiología del uso de drogas en América Latina y el Caribe: un enfoque de salud pública. Washington, D. C.: OPS. 12. Organización Panamericana de la Salud. (2007). Renovación de la atención primaria de salud en las Américas: documento de posición de la Organización Panamericana de la Salud/Organización Mundial de la Salud (OPS/OMS). Washington, D.C.: OPS. 13. Rehm, J. & Monteiro, M. (2005). Alcohol consumption and burden of disease in the Americas: implications for alcohol policy. Rev Panam Salud Publica. 18 (4-5), 241-8. 14. Ronzani, T. M., Mota, D. C. B. & Souza, I. C. W. (2009). Prevenção do uso de álcool na atenção primária em municípios do estado de Minas Gerais. Rev. Saúde Pública. 43 (suppl 1), 51-61. 15. Swan, A., Sciacchitano, L. & Berends, L. (2008). Alcohol and other drug brief intervention in primary care. Fitzroy, Victoria: Turning Point Alcohol and Drug Centre. 16. United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC). (2011). World Drug Report 2011. Viena: United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC). 17. Williams, E. C., Johnson, M. L., Lapham, G. T., Caldeiro, R. M., Chew, L.. Fletcher, G. S., et al. (2011). Strategies to Implement Alcohol Screening and Brief Intervention in Primary Care Settings: A Structured Literature Review. Psychology of Addictive Behaviors. 25 (2), 206–14.
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