Análise dos critérios e percentuais adotados na cobrança de taxas
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Análise dos critérios e percentuais adotados na cobrança de taxas
ARTIGO Análise dos critérios e percentuais adotados na cobrança de taxas de royalties e propaganda no setor de franquias1 Maria Teresa Somma2 O sistema de franchising tem crescido muito nos últimos anos e junto com esse crescimento têm surgido mais problemas no que tange o relacionamento entre franqueador e franqueado. Uma das questões controversas desse relacionamento diz respeito à cobrança das taxas de royalties e propaganda. Embora seja comum a prática da cobrança dessas taxas pelo franqueador, constando inclusive no contrato de franquia, normalmente após os primeiros meses de negócio, os franqueados tendem a achar que estão pagando muito por essas taxas. Diante disso, fica clara a importância de uma análise criteriosa do candidato a franqueado, no que tange aos critérios e percentuais adotados na cobrança dessas taxas. Visando entender melhor os critérios e os percentuais adotados pelos franqueadores no que diz respeito à cobrança de taxas de royalties e propaganda, levando em consideração os diversos segmentos do sistema de franchising, realizou-se uma pesquisa no período de março a maio de 2010 com 594 empresas franqueadoras. Verificou-se que os critérios utilizados para a cobrança da taxa de royalties são: faturamento bruto (FB); faturamento líquido (FL); faturamento (F); compras (C); não cobram (NC) e outros. O quadro 1 apresenta os critérios utilizados na cobrança de royalties por segmento. Quadro 1 - Cobrança de Taxa de Royalties por segmento ROYALTIES FB FL F C FM OUTROS Acessórios pessoais e calçados 17 1 16 5 Alimentação 73 4 3 4 2 13 Bebidas, cafés, doces e salgados 28 2 5 1 8 Beleza, saúde e produtos naturais 45 1 1 5 5 18 Cosméticos e Perfumaria 1 9 1 4 Entretenimento e Lazer 6 2 1 2 Comunicação, informática e eletrônicos 8 1 1 4 Educação e Treinamento 23 2 1 10 1 NC 5 7 3 TOTAL 44 106 47 5 9 - 80 24 11 3 6 17 42 Fotografia, gráficas e sinalização Escolas de Idiomas Móveis, decoração e presentes Construção e imobiliárias Hotelaria e Turismo Limpeza e Conservação Negócios, serviços e conveniência Livrarias e papelarias Serviços automotivos Vestuário 3 10 4 8 4 17 1 1 1 8 1 1 1 3 2 2 4 1 2 2 20 1 3 - 6 37 14 12 7 24 27 3 8 6 1 - 2 2 1 2 30 2 1 3 8 6 6 2 1 1 11 44 5 17 57 TOTAL GERAL 291 8 15 84 24 95 77 594 A pesquisa completa com análise individual dos percentuais cobrados pelos segmentos de franchising encontra-se no livro “Franquia ao alcance de todos”. 2 Atua como consultora na área de expansão de negócios e é autora dos livros “Franquia ao alcance de todos” e “Planejando estrategicamente sua vida profissional”. Como pode ser observado no quadro 1 e gráfico 1, dos 594 franqueadores pesquisados, 291 (49%) cobram a taxa de royalties com base no faturamento bruto; 8 (1,5%) faturamento líquido; 15 (2,5%) faturamento; 84 (14%) compras; 24 (4%) faturamento médio, 95 (16%) adotam outros critérios e 77 (13%) não cobram taxa de royalties. Gráfico 1 – Cobrança de taxa de royalties (%) 13% 16% 48% 4% 14% 2% 3% FB FL F C FM OUTROS NC O gráfico 2 apresenta a cobrança de royalties pelo faturamento bruto por segmento. Gráfico 2 – Cobrança de royalties pelo faturamento bruto por segmento Limpeza e Conservação 71% 69% Alimentação Construção e imobiliárias 66% Negócios, serviços e conveniência 61% Livrarias e papelarias 60% Bebidas, cafés, doces e salgados 59% Hotelaria e Turismo 57% Beleza, saúde e produtos naturais 56% Educação e Treinamento 55% Entretenimento e Lazer 54% 50% Fotografia, gráficas e sinalização Comunicação, informática e eletrônicos 47% Serviços automotivos 47% 39% Acessórios pessoais e calçados Móveis, decoração e presentes 28% Escola de Idiomas 27% 10% Vestuário Cosméticos e Perfumaria 4% Observa-se que os franqueadores preferem cobrar as taxas de royalties com base no faturamento bruto, o que resulta em menos lucro líquido para o franqueado. O segundo critério mais utilizado é a cobrança pelas compras efetuadas (gráfico 3). Gráfico 3 – Cobrança de royalties pelas compras por segmento Móveis, decoração e presentes 57% Cosm éticos e Perfum aria 37% Acessórios pessoais e calçados 36% Vestuário 30% 18% Entretenim ento e Lazer 11% Bebidas, cafés, doces e salgados Construção e im obiliárias 8% Com unicação, inform ática e eletrônicos 6% Beleza, saúde e produtos naturais 6% Alim entação 4% Lim peza e Conservação 4% Negócios, serviços e conveniência 4% Esses dados deixam claro que os segmentos que se destacam pela preferência em cobrar as taxas de royalties pelas compras são: Móveis, decoração e presentes; Cosméticos e Perfumaria; Acessórios pessoais e calçados e Vestuário. Isso ocorre uma vez que nesses segmentos, a maior parte dos franqueadores são os fabricantes dos produtos comercializados. Foi possível verificar nessa pesquisa que um percentual considerável de franqueadores não cobram taxas de royalties, como pode ser verificado no gráfico 4. Gráfico 4 – Não cobrança de royalties por segmento Escola de Idiomas 54% Hotelaria e Turismo 43% Cosméticos e Perfumaria 37% Livrarias e papelarias 20% Vestuário 19% Comunicação, informática e eletrônicos 18% Educação e Treinamento 14% Acessórios pessoais e calçados 11% Alimentação 7% Móveis, decoração e presentes 7% Bebidas, cafés, doces e salgados 6% Beleza, saúde e produtos naturais 6% Serviços automotivos 6% Negócios, serviços e conveniência 5% Verificou-se que os segmentos que mais se destacaram por não cobrarem taxas de royalties são: Escolas de idiomas; Hotelaria e Turismo e Cosméticos e Perfumaria. Isso propicia o crescimento de unidades desses segmentos, uma vez que se trata de um fator que motiva as pessoas a investirem, por acreditarem que terão menos custos, mas esse aspecto deve ser avaliado com cuidado, pois muitos franqueadores preferem cobrar taxas de franquias mais elevadas ao invés de cobrar taxas de royalties. No que tange à cobrança das taxas de propaganda, detectou-se que os critérios adotados são os mesmos que os mencionados na taxa de royalties (quadro 2 e gráfico 5). Quadro 2 - Cobrança de Taxa de Propaganda por segmento PROPAGANDA FB FL F C FM OUTROS NC Acessórios pessoais e calçados 15 3 12 3 4 7 Alimentação 61 4 5 2 3 16 15 Bebidas, cafés, doces e salgados 23 2 3 3 7 9 Beleza, saúde e produtos naturais 37 1 6 4 17 15 Cosméticos e Perfumaria 1 8 1 3 11 Entretenimento e Lazer 6 2 1 2 2 Comunicação, informática e eletrônicos 8 3 6 Educação e Treinamento 19 3 9 11 Fotografia, gráficas e sinalização 2 1 1 2 Escolas de Idiomas 10 2 14 11 Móveis, decoração e presentes 3 5 1 1 4 Construção e imobiliárias 8 1 1 2 Hotelaria e Turismo 3 2 2 Limpeza e Conservação 14 1 1 1 1 1 5 Negócios, serviços e conveniência 25 1 3 1 1 6 7 Livrarias e papelarias 1 1 2 1 Serviços automotivos 7 1 1 6 2 Vestuário 10 1 2 23 2 3 16 TOTAL GERAL 252 10 21 64 24 99 124 TOTAL 44 106 47 80 24 11 17 42 6 37 14 12 7 24 44 5 17 57 594 Gráfico 5 – Cobrança de taxa de propaganda (%) 21% 41% 17% 4% 2% 11% FB FL F 4% C FM OUTROS NC Diante dos dados apresentados no quadro 2 e gráfico 5 é possível observar que das 594 empresas analisadas, 252 (42%) cobram a taxa de propaganda pelo faturamento bruto; 10 (1,5%) pelo faturamento líquido; 21 (3,5%) pelo faturamento; 64 (11%) pelas compras; 24 (4%) pelo faturamento médio, 99 (21%) utilizam outros parâmetros e 124 (21%) não cobram taxa de propaganda. O gráfico 6 ilustra a cobrança de taxa de propaganda pelo faturamento bruto por segmento. Gráfico 6 – Cobrança de taxas de propaganda pelo faturamento bruto por segmento 66% Construção e imobiliárias Limpeza e Conservação 58% Alimentação 57% 57% Negócios, serviços e conveniência 54% Entretenimento e Lazer 49% Bebidas, cafés, doces e salgados 47% Comunicação, informática e eletrônicos Beleza, saúde e produtos naturais 46% Educação e Treinamento 45% 43% Hotelaria e Turismo 41% Serviços Automotivos 34% Acessórios pessoais e calçados 33% Fotografia, gráficas e sinalização Escolas de idiomas 27% 21% Móveis, decoração e presentes 20% Livrarias e papelarias 18% Vestuário Verifica-se claramente que o critério preferido pela maioria dos segmentos é a cobrança das taxas de propaganda com base no faturamento bruto. A cobrança dessa taxa pelo valor das compras efetuadas também tem sido uma opção para alguns segmentos (Gráfico 7), entretanto uma parcela de franqueadores não cobram pela taxa de propaganda (Gráfico 8). Gráfico 7 – Cobrança de taxas de propaganda pelas compras por segmento Vestuário 40% Móveis, decoração e presentes 36% Cosméticos e Perfumaria 33% Acessórios pessoais e calçados 27% Entretenimento e Lazer 18% Construção e imobiliárias 8% Beleza, saúde e produtos naturais 7% Bebidas, cafés, doces e salgados 6% Limpeza e Conservação 4% Alimentação 2% Negócios, serviços e conveniência 2% Observa-se que os principais segmentos que optaram por cobrar a taxa de propaganda pelas compras são os mesmos que praticam esse critério com relação á cobrança da taxa de royalties e os motivos são os mesmos especificados anteriormente. Gráfico 8 – Não cobrança de taxa de propaganda por segmento 54% Comunicação, informática e eletrônicos 46% Cosméticos e Perfumaria 33% Fotografia, gráficas e sinalização 30% Escolas de Idiomas 28% Móveis, decoração e presentes 28% Hotelaria e Turismo 28% Vestuário 26% Educação e Treinamento 21% Limpeza e Conservação 20% Livrarias e papelarias Beleza, saúde e produtos naturais 19% Bebidas, cafés, doces e salgados 19% Acessórios pessoais e calçados 16% Negócios, serviços e conveniência 16% Alimentação Serviços Automotivos 14% 12% Verificou-se que grande parte das empresas dos segmentos de Cosméticos e Perfumaria e Escolas de Idiomas, também não cobram pela taxa de propaganda. Já um percentual grande de empresas do segmento de Comunicação, Informática e Eletrônica, ao contrário do que praticam em relação à cobrança das taxas de royalties, preferem não cobrar pela taxa de propaganda. Detectou-se ainda que o segmento de Fotografia, gráficas e sinalização, foi o que apresentou maior índice de empresas que não cobram taxa de propaganda, situação esta bem diferente do que foi visto anteriormente, uma vez que todas as empresas analisadas deste segmento cobram pela taxa de royalties. Diante de todos os dados apresentados, conclui-se que antes de adquirir uma franquia é imprescindível que o candidato a franqueado analise diversos aspectos com o máximo de cautela e as taxas de royalties e propaganda cobradas pelos franqueadores se enquadram nesses aspectos a serem levados em consideração, uma vez que no momento da compra, o franqueado por estar muito entusiasmado, não consegue dimensionar o efeito que a cobrança dessas taxas pode ocasionar no seu negócio, mas depois de poucos meses da implantação do negócio, ele acaba descobrindo “no bolso” o grau de importância desses itens.