Os uniformes de combate da Força Expedicionária
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Os uniformes de combate da Força Expedicionária
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO Maj Int IVAN CHRISTIE BARROS DE ARAUJO Os uniformes de combate da Força Expedicionária Brasileira: Contribuições para atuais e futuras demandas logísticas do Exército Brasileiro. (INTENCIONALMENTE EM BRANCO) Rio de Janeiro 2014 Maj Int IVAN CHRISTIE BARROS DE ARAUJO Os uniformes de combate da Força Expedicionária Brasileira: Contribuições para atuais e futuras demandas logísticas do Exército Brasileiro Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Ciências Militares Orientador: Luiz Henrique G. Plum – Maj Int Rio de Janeiro 2014 A662u Barros de Araujo, Ivan Christie. Os uniformes dos combate da FEB: Contribuições para atuais e futuras demandas logísticas do Exército Brasileiro. / Ivan Christie Barros de Araujo− 2014. 91 f.; 30cm. Trabalho de Conclusão de Curso - Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2014. Bibliografia: f. 89-92. 1. Uniformes dos combate da FEB. 2. Contribuições. 3. atuais e futuras demandas logísticas. I. Escola de Comando e Estado Maior do Exército II. Título. CDD 355. 2 Maj Int IVAN CHRISTIE BARROS DE ARAUJO OS UNIFORMES DOS COMBATE DA FEB: CONTRIBUIÇÕES PARA ATUAIS E FUTURAS DEMANDAS LOGÍSTICAS DO EXÉRCITO BRASILEIRO. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Ciências Militares Aprovado em: ______/________________/______ COMISSÃO EXAMINADORA _____________________________________________________ RAPHAEL MOREIRA DO NASCIMENTO – Cel QMB – Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ___________________________________________________ PAULO VITOR CABRAL MONTEIRO– Ten Cel Eng– Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército _______________________________________________ LUIZ HENRIQUE GONÇALVES PLUM– Maj Int – Membro Escola de Comando e Estado-Maior do Exército À minha esposa, a minha família e a todos que acreditaram em mim e contribuíram de alguma para a realização deste trabalho. AGRADECIMENTOS Ao meu Deus, por ter proporcionado a saúde de meu corpo e de minha alma. À minha esposa Paula e as minhas filhas, por todos os momentos juntos. Aos meus pais, exemplos que norteiam minha vida. Ao Sr. Maj Int PLUM, orientador deste trabalho, pelas observações necessárias, sugestões oportunas e críticas construtivas. Ao Sr. Prof. César Campiani Maximiniano e ao Ten Cel Cosentino instrutores da ECEME, pelos seguros conselhos e pelo exemplo profissional. Aos companheiros do CCEM 2013-2014, em especial ao Maj Júlio César Fidalgo ZARY, grande amigo, orientador e historiador da II GM, que muitos conselhos me deu, sem os quais não teria concluído este trabalho. Aos amigos da ECEME, EsAO e AHEx pelo profissionalismo, companheirismo, simplicidade e dedicação à pesquisa em tela. A todos aqueles que, diretamente ou indiretamente, contribuíram para que esse trabalho fosse concluído. “Pelo altíssimo custo em vidas e sofrimento humano derivados da participação na Campanha da Itália, os brasileiros que lutaram do lado certo em uma guerra necessária para a derrota do nazifascismo merecem que seu valor e sacrifício sejam lembrados”. Cesar Campiani Maximiano OS UNIFORMES DOS COMBATE DA FEB: CONTRIBUIÇÕES PARA ATUAIS E FUTURAS DEMANDAS LOGÍSTICAS DO EXÉRCITO BRASILEIRO Ivan Christie Barros de Araujo Resumo: A declaração de guerra do Brasil contra os países do Eixo, em 1942, deveria ter sido o marco inicial da preparação de uma tropa do Exército para ser empregada além-mar. Após o afundamentos de diversos navios mercantes brasileiros, foi iniciada a mobilização para constituição de uma tropa de caráter expedicionário. Diversos problemas tiveram que ser superados para que se tivesse uma tropa, no valor de uma divisão, teoricamente apta a combater. Entre os problemas, encontravam-se a mobilização de pessoal, a aquisição de armamentos, a modernização da instrução e no caso desse estudo a adaptação dos uniformes às condições do possível Teatro de Operações. Naquele momento, a Missão Militar Francesa ainda não tinha conseguido arraigar importantes aspectos doutrinários no Exército Brasileiro, mesmo após vinte anos de existência. A despeito do envio de uma missão precursora para o Teatro de Operações italiano, os uniformes exclusivamente confeccionados para a FEB não foram adequados para as agruras do combate, especialmente quanto ao rigoroso inverno europeu, em especial frente às altitudes dos Apeninos. Atualmente, o Exército Brasileiro encontra-se com um objetivo de montar, novamente, uma tropa de caráter expedicionário. Desta vez no valor de uma Brigada, que deverá estar apta para ser empregada no ano de 2017. Como os prováveis locais de emprego são regiões onde há clima frio, desértico inclusive com precipitação de neve, torna-se ponto pacífico o desenvolvimento de uniformes adequados para os diversos climas principalmente o frio de modo a não se incorrer novamente nos erros logísticos cometidos durante a Segunda Grande Guerra. Há previsão de alteração nos uniformes de combate do Exército Brasileiro em 2015, mas ressalta-se que agasalhos de frio não fazem parte do rol de novos uniformes, ficando novamente o Exército Brasileiro (EB) à mercê de importações oriundas de exércitos aliados. As Lições aprendidas no passado podem assim facilitar a solução das futuras demandas militares e logísticas do EB. PALAVRAS-CHAVE: Exército Brasileiro, Força Expedicionária Brasileira, Uniformes de Combate, Lições Aprendidas, Futuras Demandas Militares e Logísticas. BATTLE DRESS OF THE BEF: CONTRIBUTIONS TO CURRENT AND FUTURE DEMANDS OF BRAZILIAN ARMY Ivan Christie Barros de Araujo Abstract: Brazil 's declaration of war against the Axis in 1942 , should have been the landmark for the preparation of a troop of the army to be deployed overseas. After the sinking of many Brazilian merchant ships , the mobilization was initiated for establishment of a troop expeditionary character. Several problems had to be overcome in order to accomplish a troop, the value of a theoretically able to fight . Among the problems , were the mobilizations of personnel, arms procurement , and modernization of education and in the case of this study, the adaptation of the uniform conditions as possible theater of operations . At that time , the French Military Mission had not yet achieved important doctrinal aspects rooted in the Brazilian Army , even after twenty years of existence. Despite sending a precursor mission to the Italian theater of operations , the uniforms made exclusively for the FEB were not suitable for the hardships of combat , especially for strict European winter , especially in front of the altitudes of the Apennines . Currently , the Brazilian Army meets with a goal of assembling a troop expeditionary character, this time in the value of a Brigade , which must be able to be employed in the year 2017 again . How likely locations of employment regions are where there is cold climate , including desert snowfall , it is granted that the development of appropriate uniforms for various mostly cold climates so as not to incur again in logistical errors committed during the Second World War . There are anticipated changes in battle dress of the Brazilian Army in 2015 , but it is noteworthy that coats cold are not part of the list of new uniforms , again getting the Brazilian Army (EB) at the mercy of imports from allied armies . Lessons learned in the past may thus facilitate the solution of future military and logistical demands of EB. KEYWORDS : Brazilian Army , Brazilian Expeditionary Force, battle dress, Lessons Learned , Future Military and Logistical Demands . LISTA DE QUADROS QUADRO QUADRO 1 QUADRO 2 QUADRO 3 NOME Pag Classes de Suprimentos na Força Terrestre 27 Quadro com os registros anuais de médias de temperatura e precipitações por cidades: ROMA Quadro com os registros anuais de médias de temperatura e 61 precipitações por cidades: MILÃO 61 Quadro com os registros anuais de médias de temperatura e QUADRO 4 precipitações por cidades: BOLONHA 61 Quadro com os registros anuais de médias de temperatura e QUADRO 5 precipitações por cidades: FLORENÇA Quadro com os registros anuais de médias de temperatura e QUADRO 6 precipitações por cidades: GÊNOVA Quadro com os registros anuais de médias de temperatura e QUADRO 7 precipitações por cidades: VERONA 61 62 62 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT FA EB FAB FEB TO DIE II GM MMF ECEME EsAO AHEx Ap Log Sup Cl PBS IBGE A Op NA VO TOM Km Flak ONU OEA OMC MERCOSUL CPLP ALADI OTCA UNASUL ZOPACAS BRICS PND END PMD EMD LBDN RUE F Expd Associação Brasileiras de Normas Técnicas Forças Armadas Exército Brasileiro Força Aérea Brasileira Força Expedicionária Brasileira Teatro de Operações Divisão de Infantaria Expedicionária Segunda Guerra Mundial Missão Militar Francesa Escola de Comando e Estado Maior Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais Arquivo Histórico do Exército Apoio Logístico Suprimento Classe Peninsular Base Section Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Área de Operações Norte-Americano Verde-Oliva Teatro de operações do Mediterrâneo Quilômetros Flugzeug Abwehr Kanonen - Canhão Artilharia Antiaérea Alemã. Organização das Nações Unidas Organização do Estados Americanos Organização Mundial do Comércio Mercado Comum do Sul Comunidade dos Países de Língua português Associação Latino Americana de Integração Organização do Tratado de Cooperação Amazônico União de Nações Sul-americanas Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul Acrônimo de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul Política Nacional de Defesa Estratégia Nacional de Defesa Política Militar de Defesa Estratégia Militar de Defesa Livro Branco de Defesa Nacional Regulamento de Uniformes do Exército Força Expedicionária SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 14 1.1 PROBLEMA 17 1.2 OBJETIVO 17 1.3 QUESTÕES DE ESTUDO 18 1.4 JUSTIFICATIVA 19 2 METODOLOGIA 20 2.1 20 2.1.2 OBJETO FORMAL DE ESTUDO PROCEDIMENTOS PARA A REVISÃO DA LITERATURA 3 REFERENCIAL TEÓRICO 22 3.1 O TERMO EXÉRCITO 22 3.2 24 O TERMO LOGÍSTICA OS TERMOS LOGÍSTICA MILITAR, LOGÍSTICA MILITAR TERRESTRE E 26 CLASSES DE SUPRIMENTO 3.3 20 3.4 O TERMO UNIFORME MILITAR 27 4 REVISÃO DA LITERATURA 28 4.1 O EXÉRCITO BRASILEIRO ANTES DA FEB E SEUS UNIFORMES 28 4.1.2 UNIFORME DE BRIM CÁQUI DO EB A EVOLUÇÃO DE A DOUTRINA MILITAR E AS MUDANÇAS DE COR 30 4.1.3 4.1.4 DOS UNIFORMES DO EB. 33 REGULAMENTO DE UNIFORMES DO PESSOAL DO EXÉRCITO -1942 34 4.2 PREPARAÇÃO DO BRASIL PARA II GM 40 4.2.1 DESTACAMENTO PRECURSOR DA FEB 40 4.2.2 A PREPARAÇÃO LOGÍSTICA MEDIDAS PARA PADRONIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE SUP CL II DA FEB CADERNO DE ENCARGOS DE MATERIAL DE INTENDÊNCIA 42 4.2.3 4.3 4.3.1 4.3.2 FINALIDADE 48 52 53 ESPECIFICAÇÕES DOS UNIFORMES DE COMBATE E DEMAIS DOS 52 MATERIAIS SUP CL II. 4.4 INDÚSTRIA NACIONAL BRASILEIRA ANOS 1940 53 4.5 CARACTERÍSTICAS DO TO DO MEDITERRÂNEO 55 4.5.1 CARACTERÍSTICAS DO COMBATE EM ÁREA DE MONTANHA CARACTERÍSTICAS DO TERRENO, ALTITUDE, SOLO, E CLIMA NO NORTE ITALIANO CARACTERÍSTICAS DO CLIMA NO TO DA FEB CAMPANHA BRASILEIRA NA ITÁLIA 56 4.5.2 4.5.3 4.5.4 4.5.5 INFLUENCIA CLIMATOLÓGICA DO TO SOBRE O SOLDADO BRASILEIRO 57 59 62 65 4.6 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÕES 68 4.6.1 OS UNIFORMES DE PASSEIO E DE COMBATE DA FEB 68 4.6.2 PROBLEMAS COM UNIFORMES DE COMBATE DA FEB E AS SOLUÇÕES ENCONTRADAS ATUAIS E FUTURAS DEMANDAS LOGÍSTICAS DO EXÉRCITO BRASILEIRO 70 79 5.1.2 ATUAIS DEMANDAS LOGÍSTICAS DO EXÉRCITO BRASILEIRO O ATUAL UNIFORME DE COMBATE E AS FUTURAS DEMANDAS LOGÍSTICAS DO EB 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 86 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 89 5 5.1 78 80 14 1. INTRODUÇÃO De 1939 a 1945, o Mundo esteve em guerra, ocorria então a Segunda Guerra Mundial (II GM). Alemanha, Itália e Japão formaram as “Forças do Eixo“ que desafiaram o mundo em busca de novas conquistas territoriais e políticas. Suas ações abalaram inicialmente o continente europeu e depois se espalharam por todo o mundo, o que levou a formação de diversos Teatro de Operaçõesa (TO). Estados Unidos, Inglaterra, França, União Soviética, Canadá e outros países dentre eles o Brasil passaram então a constituir forças para combater as intenções totalitaristas dos países do Eixo. Nesse cenário, o Brasil enviou para o TO Europeu, mais precisamente para a Itália, a Força Expedicionária Brasileira b (FEB), onde a 1 ͣ Divisão de Infantaria Expedicionária (1 ͣ DIE) foi constituída da seguinte forma: Comando e Estado-Maior, Infantaria Divisionária (RI c) Artilharia Divisionária (03 GO 105 AR d e 01 GO 155 AR e) Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado, Batalhão de Engenharia, Batalhão de Saúde, Companhia de Transmissões, Companhia de Intendência, Pelotão de Polícia, Banda de Música, Depósito de Pessoal e Serviços Gerais. O Brasil decidiu declarar guerra aos países do Eixo em 22 de agosto de 1942, depois de seguidos torpedeamentos de navios mercantes tanto em águas internacionais como da costa brasileira por submarinos alemães e italianos, ocasionando a morte de inúmeros nacionais. Em 1943, o Brasil declarou sua adesão à Carta do Atlântico, levando a uma maior aproximação com os Estados Unidos da América (EUA), vindo então a ocasionar a estruturação da FEB com auxílio material norte-americano. Tais fatos estabeleceram estreitamento dos laços, no campo militar, entre norte-americanos e brasileiros que adotavam, desde 1919 com a vinda da Missão Militar Francesa (MMF), a doutrina militar defensiva e equipamentos de a Área física em que se concentram as forças militares, as fortificações e as trincheiras, e em que se travam batalhas. Parte do Teatro de Guerra necessário a condução das operações militares de vulto e seu apoio logístico para cumprimento de determinada missão. b Força militar brasileira responsável pela participaçãodo Brasil ao lado dos Aliados na Campanha da Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. c RI – Regimento de Infantaria d GO 105 AR – Grupo de Obuses Auto Rebocados, dotados com Obuseiros de calibre 105 mm e GO 155 AR – Grupo de Obuses Auto Rebocados, dotados com Obuseiros de calibre 155 mm 15 diversas origens européias como da França e Alemanha, usados na I Guerra Mundial (I GM). Essa aproximação com os EUA viria a ser estreitada ainda mais, pelo Exército Brasileiro (EB), por ocasião das operações realizadas pela FEB junto às divisões do US Army f, em território europeu, tornando assim necessárias mudanças em equipamentos e conseqüentemente em fardamentos, usados em combate pela FEB. A fim de reconhecer os possíveis TO de operações que a FEB poderia atuar foi constituída uma missão militar brasileira que se representou por um destacamento precursor. Essa missão tinha por finalidade anteceder ao envio da FEB, buscar os entendimentos e ensinamentos necessários para completar a instrução e a preparação da tropa no Brasil, levantar as necessidades de uso de fardamentos diversos bem como equipamentos e também levantar as providências referentes à chegada e instalação da tropa brasileira1. Constituída por oficiais do EB e da Força Aérea Brasileira (FAB), esse destacamento foi primeiramente para o norte da África, iniciando assim o contato as Forças Aliadas em particular dos EUA. Posteriormente, o destacamento foi para a Europa levantando nesse TO aspectos diversos como: condições geográficas, terreno, clima, recursos locais, costumes, moeda, transportes, comunicações e ligações com o exterior, inimigo, cartas, campos de treinamento, uniformes, insígnias e distintivos inimigos e as condições de aclimatação da tropa no TO2. Após o Comando Supremo Aliado g ter escolhido no TO Europeu o local de atuação da FEB, foram envidados esforços para que a preparação da mesma fosse ultimada de forma a ser empregada, o mais rápido possível, como força operativa na Itália. Essa atuação seria de acordo com a doutrina militar, material, fardamento e organização norte-americana. A referida preparação da FEB, iniciada ainda em território brasileiro, não incluía, naquela ocasião, o treinamento para o combate em montanha nem preparativos contra os rigores do inverno europeu, fato este que refletiu necessariamente na composição do equipamento e fardamento (uniformes) da FEB, alvo desse estudo. f US Arm : Exército dos Estados Unidos da América. Comando Supremo Aliado: Mais alto comando dos Aliados da Segunda Guerra Mundial composto por países que se opuseram as Potências do Eixo na Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos, o Império Britânico e a União Soviética eram as principais forças. g 16 Muitos textos de história militar fazem alusão aos armamentos e equipamentos usados pelos soldados durante as batalhas. Porém, menor número de textos faz alusão direta aos uniformes utilizados, seja em batalhas ou nos períodos de repouso. Os uniformes, mesmo quando os soldados não os estavam inteiramente utilizando ainda tinham finalidades. Uma delas continua era a possibilidade de diferenciação entre os militares e não militares, ou seja, fazia a diferenciação entre militares e a população civil. 3 Em Roma, o uso de uniformes era levado tão a sério, que no período republicano, um soldado que fosse encontrado com sua túnica, sem o cinto previsto, poderia ser punido, por ofender a sua aparência militar. Os primeiros registros de uso de uniformes militares pelos romanos datam do Antigo Império, mais especificamente entre os reinos do Imperador Tibério (14 - 37 d.C.) e do Imperador Adriano (117-138 d.C.) e já demonstravam a importância desse assunto para os resultados das batalhas 4. A palavra uniforme deriva das palavras "una" (uma) "forma" (forma). Para um Exército seu significado geral é uma vestimenta com um tecido específico e um corte particular com cores e insígnias, definidos por regulamentos ou tradições. Uniformes militares servem para demonstrar que um grupo de soldados pertence a um mesmo exército ou a um país. Exércitos tanto do passado como do presente fazem com que os seus uniformes se distinguiam dos demais exércitos podendo assim, diferir de acordo com a arma ou força armada tendo todos, porém, aspectos similares5. O uniforme militar reflete também a ordem e a disciplina, clamando pela subordinação, demonstrada nos uniformes pelos diferentes símbolos que denotam a hierarquização do pessoal dentro de um exército 6. Ademais, os uniformes usados em combate, com o passar do tempo, passaram a indicar o nível de preparação de uma Força Armada tanto para tempos de paz como os de guerra. Esses mesmos uniformes devem aprimorar e potencializar as capacidades operacionais de uma Força. Deste modo, essas capacidades estão intimamente ligadas a uma série de exigências que os uniformes de combate devem ter como: padronização, proteção, 17 camuflagem, conforto, durabilidade, funcionalidade, rusticidade, resistência, adaptabilidade a ambientes diversos e etc. 1.1 PROBLEMA Em 16 de julho de 1944 o 1° Escalão da FEB chegou à Itália e passou a incorporar o V Exército Americano h. Em setembro, após a chegada dos demais escalões entrou em combate, enfrentando nos meses seguintes as rigorosas condições do inverno europeu. Dessa forma, o Exército Brasileiro teve que fardar e equipar cerca de 25.000 homens e mulheres que constituíam o efetivo da FEB, desde as condições tropicais de treinamento no Brasil e também para as condicionantes do TO e do inverno europeu, fazendo efetiva a participação do Serviço de Intendência, o que tornou ainda mais evidente a importância da Logística Militar. Tais acontecimentos trouxeram ensinamentos diversos ao EB e valiosas oportunidades de evolução doutrinaria, que se revelam importante até os dias atuais. Diante das assertivas expostas surge o seguinte problema: Em que medida os uniformes de combate brasileiros usados pela FEB atenderam a tropa na defensiva de inverno i e quais os ensinamentos colhidos a partir de então? 1.2 OBJETIVO Para elucidar em que medida tais uniformes usados pela FEB atenderam a tropa, objetivo geral, serão descritos os seguintes objetivos específicos: a. Identificar como era o Exército Brasileiro antes da FEB e os seus uniformes. b. discorrer sobre a preparação do Brasil para a II GM. c. Identificar as principais características do TO em que atuou a FEB. d. Identificar o conteúdo do Caderno de encargos de material de intendência. h V Exército Americano: Foi uma Grande Unidade Exército dos Estados Unidos no Mediterrâneo durante a Segunda Guerra mundial. Foi ativado em 5 de janeiro de 1943 em Qujida, Marrocos Francês e responsável pela defesa da Argélia e Marrocos. Também foi dada a responsabilidade pelo planejamento da parte americana da invasão do continente Italiano. Foi comandado pelo Tenente General Mark W. Clark. i Defensiva de Inverno: Período de estabilização da frente de combate V Exército Americano na Itália. Durou de 13 de dezembro de 1944 a 18 de fevereiro de 1945. 18 e. Levantar o desenvolvimento e o apoio da Indústria têxtil brasileira na década de 1940. f. Identificar os uniformes de passeio usados em combate e os de combate da FEB. g. Analisar os problemas com uniformes da FEB e as soluções encontradas. h. Levantar as demandas logísticas do Exército Brasileiro decorrentes de atuais e futuros TO. i. Propor recomendações. 1.3 QUESTÕES DE ESTUDO Analisando o problema e considerando a adequabilidade dos uniformes de combate da FEB ao TO do Mediterrâneo conjugadas às condições climáticas do inverno europeu, algumas questões de estudo foram formuladas para servir de amparo para decisões atuais e futuras no que tange ao uso e aquisição de uniformes de combate. O estudo em pauta pretende responder às seguintes questões: a. Quais eram os uniformes de combate do EB antes e durante a década de 1940? b. Qual(is) era(m) a(s) doutrina(s) militar(ES) a influenciar o EB até a preparação da FEB? c. Como foi realizada a preparação da FEB? d. Como as características do TO do Mediterrâneo e as condições climáticas influenciaram o soldado brasileiro da FEB? e. Como foi realizada a padronização e confecção dos uniformes da FEB no Brasil e no exterior? d. Qual a adequabilidade dos uniformes de combate FEB ao inverno europeu? f. Quais os principais problemas encontrados com o uso dos Uniformes de combate da FEB no TO do Mediterrâneo durante a defensiva de inverno? g. Quais foram às adaptações e mudanças feitas nos uniformes de combate (fardas, equipamentos e calçados) da FEB e por quais motivos? h. Quais as lições aprendidas? 19 i. Quais as futuras missões que trarão demandas em novos uniformes de combate para o EB? j. Que recomendações podem ser feitas a partir do estudo feito com os uniformes da FEB frente às novas missões e demandas do EB? 1.4 JUSTIFICATIVA A realização desta pesquisa pode ter sua importância para o EB, na medida em que a história e a logística militar servem como plataforma de estudo para os comandantes, pois não há nenhum grande comandante moderno que não tenha sido, em algum grau, um estudante da guerra. Embora possa ser argumentado que a mudança das condições de cada conflito, do armamento, equipamento e fardamentos empregados, não se pode reduzir o valor do estudo das campanhas do passado, bem como de seus fatores conjunturais, pois os problemas fundamentais e os principios da liderança militar não mudam de acordo com avanços tecnológicos7. No mesmo sentido, Clausewitz afirma que “a história militar deve ser consultada com frequência, porque na arte da guerra, a experiência vale mais do que qualquer quantidade de verdades abstratas” 8, ainda mais quando se trata do último conflito armado em que o Brasil participou. Finalizando, para demonstrar a importância do estudo da História Militar: “Todos sabem que as experiências, os feitos, os erros e as glórias da FEB, não dizem mais respeito às pessoas apenas. São patrimônio do País, que precisa incorporar à sua história aquilo que o merecer” 9. Assim, espera-se contribuir para que as histórias e as lições aprendidas em combate com a FEB atinjam mais amplamente o âmbito acadêmico. Por fim, buscar-se-á nesse contexto, utilizar as lições aprendidas para apoiar as decisões logísticas do Exército Brasileiro, frente as suas atuais e futuras demandas militares. 20 2. METODOLOGIA Esta seção tem por finalidade apresentar detalhadamente o caminho que se percorreu para solucionar o problema em questão, especificando os procedimentos necessários para se chegar aos dados da pesquisa bibliográfica, bem como os critérios necessários para a seleção e a obtenção e a análise das informações de interesse, contemplando a fase de pesquisa e a respectiva análise dos dados. Desta forma, para um melhor desencadeamento das idéias, esta seção foi dividida nos seguintes tópicos: objeto formal de estudo e procedimentos para a revisão da literatura 2.1 OBJETO FORMAL DE ESTUDO A intenção deste trabalho é demonstrar em que medida os uniformes de combate brasileiros usados pela FEB atenderam a tropa empregada na defensiva de inverno. Com relação à pesquisa, este trabalho pretende alcançar resultados utilizandose de estudos realizados inicialmente em documentos da época em que este trabalho se dedicou a estudar. Essas fontes primárias da FEB como correspondências, diários, relatórios foram disponibilizados para consulta no Arquivo Histórico do Exército (AHEx). Em relação às fontes secundárias, foram consultados elementos derivados de obras originais, alvo de analise e interpretação das fontes primárias, ou seja, de textos não contemporâneos da IIGM mas com base em fonte primárias. Já as fontes terciárias como bibliografias serviram como diferenciação entre as fontes primárias e secundárias e proporcionaram uma visão mais resumida do material disponível sobre o tema estudado. 2.1.2 PROCEDIMENTOS PARA A REVISÃO DA LITERATURA Para a definição de termos, redação do referencial teórico e estruturação de um modelo teórico de análise que viabilizasse a solução do problema de pesquisa, foi realizada uma revisão de literatura nos seguintes moldes: 21 a. Fontes de busca - Relatórios das unidades integrantes da FEB, disponibilizados pelo AHEX; - Livros e monografias da biblioteca da Escola de Comando e Estado Maior do Exército Brasileiro (ECEME); - Livros e monografias da biblioteca da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército Brasileiro (EsAO); - Artigos científicos, históricos, doutrinários e técnicos publicados em revistas e manuais das Forças Armadas nacionais e internacionais; b. Estratégia de busca para as bases de dados eletrônicas Foram utilizados os seguintes termos descritores: "Exército Brasileiro, Força Expedicionária Brasileira, Logística Militar, Uniformes Militares", respeitando as peculiaridades de cada base de dado. Após a pesquisa eletrônica, as referências bibliográficas dos estudos considerados relevantes foram revisadas, no sentido de encontrar artigos não localizados na referida pesquisa. c. Critérios de inclusão: - Estudos publicados em português e inglês. - Estudos publicados de 1920 a 2013. - Estudos que descrevem a composição e atuação dos soldados, unidades e Grandes Unidades da FEB, do Exército Brasileiro e do Exército dos Estados Unidos das Américas. - Estudos qualitativos que descrevem as características do ambiente do TO do mediterrâneo. d. Critérios de exclusão: - Estudos sem caráter institucional ou de caráter institucional duvidoso. - Estudos qualitativos sem amparo doutrinário. - Estudos que reutilizam dados obtidos em trabalhos anteriores. 22 3. REFERENCIAL TEÓRICO Neste capítulo, serão verificados os principais pressupostos que constituem a base teórica conceitual para entendimento da relação dos termos Exército, logística, logística militar, logística militar terrestre, classes de suprimento e com os uniformes de combate da FEB. Por fim, abordar-se-á o conceito de uniforme militar, termo que aprimora o entendimento da importância dos uniformes usados pela FEB em combate como conceito e também facilita a abordagem das atuais e futuras missões e demandas logísticas do EB. 3.1 O TERMO EXERCITO O termo Exército significa em linhas gerais um conjunto das forças militares de uma nação. É também a reunião de um grande número de tropas sob as ordens de um comandante. Um exército constitui-se também em uma grande unidade militar das forças terrestres. Como o termo "exército" é também usado para designar a totalidade das forças terrestres de um país, as grandes unidades homónimas são ocasionalmente referidas como "exércitos de campanha", "exércitos em operações", "exércitos de área" ou por outros termos alternativos. Em algumas línguas são utilizadas palavras diferentes para designar um exército no sentido de conjunto das forças terrestres nacionais e um exército no sentido de grande unidade. Assim, por exemplo em italiano o primeiro tipo é designado "esército" e o segundo tipo "armata" e em alemão o primeiro é designado "Heer" e o segundo é designado "Armee". Modernamente, as grandes unidades chamadas "exércitos" são normalmente constituídas por vários corpos de exército, podendo ainda agrupar-se em grupos de exércitos. Para o distinguir do exército, no sentido de forças terrestres em geral, cada exército pode ser numerado (ex.: 1º. Exército dos Estados Unidos ou 1º. Exército Panzer) ou receber um nome (ex.: Exército Britânico do Reno ou Grande Exército). Dada a sua dimensão, os exércitos são comandados normalmente por oficiais 23 generais com a maior patente existente nas forças terrestres de um país que, conforme o caso, pode ser a de general, general de exército, coronel-general. Em alguns países, o termo "exército" pode designar uma grande unidade de escalão inferior ao convencional, normalmente aproximando-se mais do corpo de exército. Na Europa dos séculos XVI, XVII e XVIII, um exército constituía qualquer força terrestre em operações sob o comando de um general, com um efetivo que podia ir de apenas alguns milhares de soldados às várias dezenas de milhares. Inicialmente, a maior subdivisão de cada exército era o regimento ou o terço. Com o aumento do número de efetivos dos exércitos e o consequente aumento da dificuldade em os controlar e administrar, foi necessária a sua subdivisão em unidades maiores que o regimento. A primeira dessas unidades a ser criada foi a brigada, ainda no século XVII, a qual agrupava vários regimentos dentro de um exército. No século XVIII, foi criada a divisão, agrupando várias brigadas. Finalmente, no início do século XIX, foi criado o corpo de exército, agrupando várias divisões. Desde então, os exércitos organizam-se genericamente como grandes unidades compostas por um quartelgeneral e estado-maior que controla vários corpos de exército e estes, por sua vez, várias divisões. Hoje em dia, tal como os grupos de exércitos, os exércitos são grandes unidades com caraterísticas muito variáveis entre as diversas forças armadas, no que diz respeito à dimensão, organização e função. Em tempo de paz, só são mantidos pelas forças armadas maiores, normalmente como grandes comandos administrativos. Em tempo de guerra, os exércitos foram sobretudo empregues na Primeira e na Segunda guerras mundiais. 24 3.2 O TERMO LOGÍSTICA O termo logística, embora surgidos em tempos e lugares distintos, complementam-se e dão sentido à definição contemporânea. O primeiro vem da GRÉCIA antiga, onde “logísticos” significava habilidade em calcular. Mais tarde, “logística” era o termo em latim, empregado nos impérios romano e bizantino com o significado de administrador. Mais recentemente, a expressão francesa “mar chal des logis”, estabelecida a partir do reinado de LUIS XIV, designava a autoridade responsável por prover as facilidades de alojamento, fardamento e alimentação nas tropas, nos acampamentos e marchas. Se a origem do termo é controversa, é certo que o homem nunca prescindiu de uma estrutura de apoio à sua subsistência, seja nas jornadas de descobrimento ou nas guerras que marcaram a história da humanidade. Desde os primórdios, quando cada soldado provia suas próprias necessidades, valendo-se geralmente dos saques e pilhagens, até a atualidade, onde sofisticadas estruturas de pessoal e equipamentos dão suporte ao combatente na linha de frente, construiu-se uma verdadeira ciência, responsável por prever e prover os meios necessários a qualquer empreendimento. A noção de um sistema de apoio logístico (Ap Log) regular e organizado vem da SUÉCIA, onde, entre 1611 e 1632, o Rei GUSTAVO ADOLFO reestruturou suas forças, modernizando sua organização com a criação de comboios de elementos de suprimento e manutenção para o Ap Log - os chamados “trens” – que contavam com medidas especiais de proteção. O termo logística, como idéia de ciência de guerra, surgiu na obra do estrategista militar ANTOINE HENRI JOMINI, em 1836. Segundo ele, “a Logística é tudo ou quase tudo, no campo das atividades militares, exceto o combate”. Foi no século XX, no entanto, que as atividades logísticas tomaram grande impulso, em virtude da permanente evolução dos aspectos doutrinários, do material, do equipamento, do armamento, dos sistemas de transporte, dos serviços e da capacitação técnica dos recursos humanos. Dois grandes conflitos armados são marcos referenciais para as atividades logísticas, nesse período: a 2ª Guerra Mundial e a Guerra do GOLFO. O primeiro, pela sua globalidade, projetou o apoio logístico no quadro internacional. O segundo, por sua localização e pelas características 25 especiais do ambiente operacional, exigiu da logística um complexo planejamento e uma execução eficaz, com a utilização das mais avançadas técnicas de administração contemporânea. A estrutura logística estabelecida no País nos três primeiros séculos de nossa história era incipiente, formada basicamente pela lendária Casa do Trem, mais tarde Arsenal do Trem, pelo Real Hospital Militar e Ultramar, hoje Hospital Central do Exército, ambos sediados no RIO DE JANEIRO e uns poucos hospitais, instalados na BAHIA, SÃO PAULO e RIO GRANDE DO SUL. O provimento de fardamento era encargo do comandante, que recebia recursos do erário real. Para a alimentação, a tropa recebia as soldadas - origem do termo soldo - e com elas deviam abastecer-se dos gêneros de subsistência. Mesmo com a vinda da família real em 1808 e com a independência em 1822, foram poucos os avanços no campo da logística. Criaram-se a Real Junta de Arsenais do Exército, o Comissariado Militar e o Quartel-Mestre General, todos os órgãos de execução, com encargos de provimento do material necessário às forças armadas, fosse de intendência, munição, armas, animais ou carretas. Entretanto, ainda não havia órgãos que coordenassem as principais funções da Logística. Só após a Proclamação da República, aparecem os primeiros registros de alterações na estrutura da logística militar terrestre. Em 1896, foi criada a Intendência Geral da Guerra, em substituição ao Quartel-Mestre General, com encargos de direção, gestão e execução, nas áreas financeira e de provimento. Nessa época, o apoio à F Ter, no território nacional, foi dividido pelas Regiões Militares (RM), que passaram a gerenciar a logística para as unidades militares da sua circunscrição. Em 1919, chega ao BRASIL a Missão Militar Francesa que, entre outras realizações, teve participação efetiva no desenvolvimento da logística militar terrestre. Os oficiais franceses, em razão da experiência adquirida na 1ª GM, estavam categorizados a exportar sua doutrina militar, na qual se destacava a importância do suprimento, do abastecimento e do apoio de toda ordem. O Ministro da Guerra da época, o engenheiro PANDIÁ CALÓGERAS, além de convidar a Missão Francesa, determinou a criação de depósitos, hospitais militares e parques de manutenção nas 26 guarnições militares de maior importância, conforme os estudos estratégicos daquele período. Em 1920, foi criado, no Brasil, o Serviço de Intendência que tinha por missão organizar, dirigir e executar os serviços de subsistência, fardamento, equipamento, acampamento, combustível, iluminação e alojamento dos efetivos do Exército Brasileiro. Quando o BRASIL declarou guerra às nações do Eixo em 1942, o aprestamento da Força Expedicionária Brasileira, ainda em território brasileiro, durou cerca de um ano e meio e resultou em mudanças significativas para a Logística e para a Mobilização Nacional. A partir de então, adotou-se uma estrutura logística semelhante à dos norte-americanos. 10 3.3 OS TERMOS: LOGÍSTICA MILITAR, LOGÍSTICA MILITAR TERRESTRE E CLASSES DE SUPRIMENTO. Para um melhor entendimento do tema a ser estudado, torna-se ainda necessário compreender os conceitos de logística militar, logística militar terrestre e de classes de suprimento. Logística Militar é conjunto de atividades relativas à previsão e à provisão de recursos humanos, materiais e animais, quando aplicável, e dos serviços necessários à execução das missões das Forças Armadas (FA). Logística Militar Terrestre entende-se pelo conjunto de atividades relativas à previsão e à provisão de meios necessários ao funcionamento organizacional do Exército e às operações da F Ter. O EB utiliza, para fins de administração e controle de seus suprimentos, o sistema de classificação militar. Esse sistema de Classificação Militar agrupa os itens de suprimento em classes, conforme a finalidade de emprego. É utilizado nas fases iniciais dos planejamentos logísticos e na simplificação de instruções e planos. No âmbito da F Ter são adotadas dez classes de suprimento, conforme descrito na tabela abaixo. 27 QUADRO 1 Classes de suprimentos na Força terrestre Fonte: Manual de Campanha EB20-MC-10.204 Logística, 3ª Edição, 201411. 3.4 O TERMO UNIFORME MILITAR A palavra uniforme deriva das palavras "una" (uma) "forma" (forma). Para um Exército seu significado geral é uma vestimenta com um tecido específico e um corte particular com cores e insígnias, definidos por regulamentos ou tradições. Uniformes militares servem para demonstrar que um grupo de soldados pertence a um mesmo exército ou a um país. Exércitos tanto do passado como do presente fazem com que os seus uniformes se distinguiam dos demais exércitos podendo assim, diferir de acordo com a arma ou força armada tendo todos, porém, aspectos similares12. O uniforme também reflete a ordem e a disciplina, clamando pela subordinação, demonstrada nos uniformes pelos diferentes símbolos que denotam a hierarquização do pessoal dentro de um exército 13. Ademais, os uniformes usados em combate, com o passar do tempo, passaram a indicar o nível de preparação de uma Força Armada tanto para tempos de paz como os de guerra. Esses mesmos uniformes 28 devem aprimorar e potencializar as capacidades operativas de uma Força. Deste modo, essas capacidades estão intimamente ligadas a uma série de exigências que os uniformes de combate devem ter como: padronização, proteção, camuflagem, conforto, durabilidade, funcionalidade, rusticidade, resistência, adaptabilidade a ambientes diversos e etc. 4. REVISÃO DE LITERATURA Para discutir os aspectos mais relevantes desse tema, procurou-se abordar as bases teóricas com destaque para o assunto, Desta forma, esta seção será dividida nos seguintes tópicos: Exército Brasileiro antes da FEB e seus uniformes, preparação do Brasil para II GM, caderno de encargos de material de intendência, indústria nacional brasileira anos 1940, características do TO, análise e discussão de dados atuais e futuras demandas logísticas do exército brasileiro e por fim conclusões recomendações. 4.1 O EXÉRCITO BRASILEIRO ANTES DA FEB E SEUS UNIFORMES No início do Séc. XX, o Exército Brasileiro vinha de duas experiências dolorosas: a Guerra de Canudos (1896-1897) 1916) k, j e a Guerra do Contestado (1912- nas quais armamentos insuficientes, equipamentos e fardamentos inadequados ao ambiente operacional, logística deficiente somados ao espírito de valentia e aventura não bastou para vencer respectivamente jagunços e caboclos em rápidas operações no próprio território nacional, no sertão da Bahia e divisa entre os Estados do Paraná e Santa Catarina. Os armamentos, equipamentos e fardamentos citados não conseguiram dobrar facilmente os sertanejos. O que ocorreria então, no futuro, frente a um inimigo mais bem armado e equipado? 14 j Guerra de Canudos: Campanha de Canudos foi o confronto entre o Exército Brasileiro e os integrantes de um movimento popular de fundo sócio-religioso liderado por Antônio Conselheiro, que durou de 1896 a 1897, na então comunidade de Canudos, no interior do estado da Bahia, no nordeste do Brasil. k Guerra do Contestado : Conflito armado entre a população cabocla e os representantes do poder estadual e federal brasileiro travado entre outubro de 1912 a agosto de 1916, numa região rica em erva-mate e madeira, disputada pelos estados brasileiros do Paraná e de Santa Catarina. 29 Nesse contexto, o Exército Brasileiro, a partir da década de 1920, buscou se reestruturar de acordo com a doutrina militar francesa. Após o término da Primeira Grande Guerra, o Brasil optou por “contratar” uma missão militar, de forma a modernizar a força terrestre. A escolha pelo modelo francês, em detrimento do alemão, ocorreu após intensos debates entre germanófilos e aliadófilos, findando apenas após a vitória francesa na Grande Guerra pela Civilização, ocorrida entre 1914 e 1918.15 A Missão Militar Francesa - MMF permaneceu no Brasil por cerca de vinte anos 1919-1939. Naquele ínterim, o EB incorporou a aviação, modernizou o ensino, criou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, passou a dispor de reservas “teoricamente” treinadas e equipadas, reorganizou a estrutura em grandes unidades, passou a operar um Estado-Maior16, bem como adquiriu armamento, equipamento e também, novos fardamentos. Além disso, a doutrina militar francesa era orientada a guarnecer defensivamente grandes extensões territoriais, esperando que o inimigo tomasse a iniciativa das ações para, posteriormente, realizar um contra-ataque em massa. No entanto, aquela doutrina mostrou-se antiquada em face da nova forma de combate alemã, a Blitzkrieg, que combinava ação de carros e aviões nas brechas inimigas17, haja vista que a França capitulou em apenas algumas semanas, durante a II GM. Tal doutrina militar mostrou-se parcialmente antiquada, também, para o Brasil, pois, além da enorme extensão territorial, as Forças Armadas brasileiras permaneciam desaparelhadas para atender aos imperativos de uma guerra moderna e estranha ao seu povo, pelo menos até aquele momento. O Exército, no início do Séc. XX, tinha um efetivo de aproximadamente 60.000 homens, alocados em diversas partes do território nacional. Os armamentos e equipamentos, além de antiquados, eram também insuficientes e ineficientes18. Destarte, o Exército Brasileiro, durante a década de 1930, não tinha plenas condições de absorver os ensinamentos franceses e de se preparar adequadamente para uma guerra estrangeira, pois resolvia problemas internos de disciplina, revoluções nacionais como a de 1932, bem como enfrentava um novo inimigo: o comunismo, consubstanciado pela Intentona de 193519. 30 Quanto à preparação do EB para um conflito armado, antes da FEB, era considerada insuficiente, em face do pífio desenvolvimento científico e industrial, se comparado com aos Exércitos Europeus e ao Americano. Quanto à doutrina e principalmente no que concerne aos materiais de emprego militar MEM, mesmo com o advento da MMF o Exército Brasileiro estava preparado apenas para lutar a guerra de 1918, e não a de 1939-1945. Tal afirmação deve-se ao fato de que o mesmo, à época, cuidava mais de caprichos como a existência de algumas milhares de baionetas vistosas em desfiles cívicos do que de um programa de reestruturação, reaparelhamento, aquisição ou desenvolvimento de novos equipamentos, uniformes ou mesmo de treinamentos eficazes20. Em relação aos materiais de suprimento classe II l, faltavam cobertores, capotes, fardamento e ferramentas de sapa. Além disso, há o fato de a munição existente nos paióis não sustentar nem uma hora de fogo contínuo, no caso de uma guerra. A munição individual era restrita a apenas 60 tiros por homem, anualmente. Ademais, os serviços de intendência e de saúde eram praticamente inexistentes, e a cavalaria hipomóvel, se fosse empregada, ficaria a pé em quinze dias, pois não dispunha de reservas. O autor referenciado, nesse contexto, nem comentou sobre a inexistência de carros blindados no Brasil, os quais já vinham sendo utilizados desde a Primeira Grande. Guerra. Houve, apenas, a importação de algumas dezenas de carros de combate Renault modelo 17, os quais não foram sequer cogitados de serem enviados à Itália, por estarem defasados em face dos Panzerwagen m alemães 21. 4.1.2 O UNIFORME DE BRIM CÁQUI DO EB Nesse ínterim, início do Século XX, quanto aos uniformes passou a existir uma tendência mundial pelo uso de cores mais sóbrias como o cáqui (FIGURAS 1 e 2), em detrimento de cores vivas como o azul e o vermelho (FIGURA 3). Essa tendência foi seguida de imediato pelo Exército Brasileiro. Os coloridos dos exércitos europeus foram substituídos por vários Exércitos do mundo por trajes com cores como o cáqui, l Suprimentos Classe II : Fardamentos e Equipamentos. Panzerwagen: Veículos blindados m 31 o verde, o bege, o marron e o cinza. Estas novas cores permitiram que os soldados se confundissem mais com o terreno e vegetação, aumentando assim a camuflagem dos soldados durantes as operações, ganhando por fim maior proteção. Porém passou-se a ter maior necessidade de comando e controle, uma vez que as cores mais vivas dos antigos uniformes facilitavam tanto a observação do inimigo como também de seus comandantes. (FIGURA1): Ilustração do Marechal José Pessoa com uniforme cáqui, no início da carreira militar. Fonte: "Marechal José Pessoa: a força de um ideal" 22 32 (FIGURA 2): ESTAMPA N. 207 - 1918: a) Soldado de Cavalaria, uniforme de campanha; b) Cabo de Metralhadoras, idem, c) Oficial comissão Europa, uniforme de uso no estrangeiro, durante a Guerra Européia, d) Capitão de Engenheiros, fardamento de flanela kaki. e) Oficial, uniforme de campanha. (FIGURA 3): Uniformes do Exército Brasileiro, final século XIX. Fonte: Uniformes do Exército Brasileiro-1922 23 33 Dessa maneira, para proporcionar maior proteção contra observação e fogo inimigo, no Brasil, houve adoção do caqui para os uniformes. Com tal escolha porém, passou-se a fazer confusão com os uniformes das forças policiais brasileiras que também adotaram cores semelhantes a dos uniformes usados pelo EB. 4.1.3 A EVOLUÇÃO DA DOUTRINA MILITAR E AS MUDANÇAS DE COR DOS UNIFORMES DO EB. A própria evolução da doutrina de combate exigiu homens bem dispersos e camuflados ao terreno, face ao surgimento de armas mais letais como: o fuzil de maior precisão, a metralhadora, a artilharia pesada e a aviação. Dessa maneira, a partir do início da década de 1930, o EB foi um dos primeiros do mundo a novamente trocar a cor de seus uniformes e a adotar a cor verde-oliva para os uniformes de combate de todas suas tropas (FIGURA 4). Outro objetivo também foi distinguir seu pessoal de elementos de várias forças policiais estaduais brasileiras que usavam também a cor cáqui em seus uniformes. Essa diferenciação das forças policiais estaduais se revelou importante nesse período principalmente quando do enfrentamento entre o EB e as forças constitucionalistas de 1932 que misturou integrantes do próprio EB e forças policiais no combate. Com essa troca da cor cáqui para o verde-oliva, conquistou-se outro objetivo que foi proporcionar uma melhor camuflagem que a oferecida por aquela cor, quando em operações no Brasil. Nascia, também, grande identidade institucional do EB com o tom de verde em questão 24. Nesse ínterim, o fardamento do EB passou a guardar, também, grande semelhança com o aspecto dos uniformes do Exército Alemão. A cor adotada no Brasil apesar de ser o verde-oliva não era fielmente igual. Assim a cor dos tecidos e por fim das fardas não possuíam rigorosa padronização. A qualidade de material influenciava, também, na tonalidade das cores e por muitas vezes o tom cinza, peculiar também ao fardamento alemão, estava presente nos uniformes brasileiros, favorecendo a comparação entre ambos, a partir de então. 34 A única exceção a essa realidade era o uniforme confeccionado com o tecido em brim que não apresentava tom cinza devido a sua padronagem. Cabe ressaltar que os demais tecidos como o gabardine, tricoline e a lã guardaram semelhança com a tonalidade cinza e portanto com os uniformes alemães. Tal característica desses tecidos aliado ao tipo de corte das fardas, futuramente viria a refletir na padronagem e por fim no perfil dos uniformes da FEB. Outro aspecto que levava a uma comparação entre os uniformes brasileiros com os uniformes de passeio ou de combate alemães, nas décadas de 1930 e 1940, era o uso de equipamentos como o talabarte e de botas (FIGURAS 4 e 5). O material nesse período era indicado para as condições apenas do Brasil, quente no verão e frio no inverno. Sendo inadequadas, portanto, para missões fora do clima tropical. (FIGURA 4): Uniforme brasileiro (FIGURA 5): Uniforme alemão Fonte : http://edumilitaria.blogspot.com.br/2010/02/ww2-feb-os-uniformes-mais-bonitos-da2a.html , acessado em 10 março 2014. 4.1.4 REGULAMENTO DE UNIFORMES DO PESSOAL DO EXÉRCITO -1942 A partir evolução da doutrina militar terrestre, e para o Brasil principalmente a partir do início do século XX com o acontecimento dos eventos de Canudos e 35 Contestado, os uniformes do EB passaram por transformações tanto nos tecidos, corte, e cores. A adoção de novas cores como o cáqui e o verde–oliva em detrimento de cores mais vibrantes como o azul e vermelho foram as mais fáceis de serem percebidas e de uma forma geral se por um lado dificultavam o comando e controle facilitavam a camuflagem e a proteção dos soldados frente às novas demandas de combate. Porém outras mudanças ocorreram no tocante aos uniformes de combate do Exército Brasileiro. Tais mudanças foram então padronizadas e difundidas em regulamentos específicos do Exército. O Regulamento de Uniformes do Pessoal do Exército (RUPE), nesse contexto, foi um exemplo desses documentos que alcançaram a finalidade de dar continuidade a nova padronização dos uniformes do EB, na primeira metade do século XX . Aprovado pelo Decreto 10.205 de 10 de agosto de 1942, esse regulamento normatizava dentre outras coisas os tipos de tecidos e as peças de uniformes 25. Estes deviam obedecer aos padrões e modelos existentes no Estabelecimento Central de Material de Intendência. Tal regulamentação passava a idéia de centralização dos padrões adotados para os diversos tipos de uniformes usados tanto por oficiais, cadetes ou praças. Os uniformes usados pelo do EB, na da década de 1940, período justamente anterior a constituição da FEB, estavam previstos no RUPE e seriam estes a princípio que seriam usados pelo Exército em caso de necessidade de declaração de guerra pelo Brasil às Forças do Eixo. Seria assim o regulamento que padronizaria os uniformes da FEB. Esse regulamento elencava, portanto, os seguintes tipos de uniformes: - 1° uniforme; - 2° uniforme; - 3° uniforme; - 4° uniforme; - 5° uniforme; - 6° uniforme; e - 7° uniforme. 36 Os uniformes do RUPE com os respectivos símbolos e insígnias e distintivos da época em suas várias composições tinham as seguintes denominações: Para oficiais, para cadetes e alunos e por fim para praças que eram divididos em subtenentes e sargentos e posteriormente cabos e soldados. Os oficiais, cadetesn e alunos tinham previstos no RUPE utilização do 1° ao 7° uniformes. Para os subtenentes e sargentos, cabos e soldados era previsto o uso do 2° ao 7°. O 1° uniforme era o uniforme de gala com os tipos A (túnica e calça em azul ultramar), tipo B (túnica branca de brim e calça do tipo A) (FIGURA 6). e por fim o tipo C ( casaca e calça preto de gabardine). O 2° uniforme era para serviço externo e tinha a cor cinza. Tinha, também, os tipos A (calça) e B (calção de montaria) (FIGURA 7). Da mesma forma, o 3° uniforme também era destinado aos serviços externos e apresentava túnica e calça na cor branca. O 4° uniforme da mesma forma que o 3° possuía túnica branca e diferenciava-se pela calça na cor cinza. De maneira semelhante ao 2° uniforme esse tinha as variantes tipos A (calça) e B (calção de montaria). (FIGURA 6): 1° Uniforme RUPE (FIGURA 7): 2° Uniforme RUPE Fonte: Regulamento de Uniformes Previstos para o pessoal do Exército Brasileiro, 1940. n Cadete : Aluno da escola militar superior do Exército ou da Aeronáutica. Jovem nobre que aprendia a profissão das armas. 37 O 6° uniforme era de uso facultativo e era constituído de brim mescla azul. Tinha túnica e calça de mescla azul e com relação ao calçado diferenciava-se dos demais por não prever o uso de botinas o e sim borzeguins p . Cabe ressaltar que o último tipo de calçado citado fez parte dos uniformes de combate da FEB, alvo desse estudo O 7° uniforme era o previsto para as atividades de ginástica e desporto . tinha camisa de meia e calção de ginástica ambos na cor branca além de calçado tipo sapato em borracha. O 5° uniforme foi deixado fora da seqüência para estudo separado por se tratar dos uniformes de combate previstos em época anterior e próxima a declaração de guerra pelo Brasil e por ser o uniforme existente para então ser distribuído para emprego pela FEB. Esse uniforme era de brim ou lã e tinha a cor predominante Verde-Oliva. Da mesma forma tinha variantes sendo os tipos A (serviço interno) com capacete comum, gorro sem pala ou boné em gabardine verde-oliva. Esse 5° uniforme apresentava túnica, calote, talabarte, boldrié, luvas, botas, perneiras, esporas e capote (FIGURA 9). O 5° uniforme B (de campanha) era idêntico ao anterior porém com capacete de aço e equipamento Mill”s q (FIGURA 10). A variante tipo C desse uniforme, de uso facultativo. Tinha túnica idêntica ao tipo A com calças em lã ou gabardine, talabarte, boldrié, luvas, botinas inteiriças em verniz com salteiras ou esporinas e capote verde-oliva (FIGURA 11). Por fim, a variante D diferenciava-se dos anteriores apenas por ter tecido em lã em vez de gabardine (FIGURA 12). o Botinas : Botas de combate com cano alto Borzeguins: Nome dado a um sapato de cano médio, com cadarços trançados, também conhecido como "sapato de soldado". Esse calçado foi utilizado, com ou sem perneiras, pelas forças armadas brasileiras até a segunda guerra mundial, quando então foi substituído pelos coturnos. q Mill’s: Tipo de equipamento militar em fardo aberto . p 38 ( Figura 9): 5° Uniforme (A) RUPE (Figura 10): 5° Uniforme (A) RUPE Fonte: Regulamento de Uniformes Previstos para o pessoal do Exército Brasileiro, 1940 (Figura 11): 5° Uniforme (B) RUPE (Figura 12): 5° Uniforme (C e D) RUPE Fonte: Regulamento de Uniformes Previstos para o pessoal do Exército Brasileiro, 1940. 39 O perfil geral desses uniformes inicialmente em muito se assemelhava aos dos uniformes europeus mais especificamente aos dos alemães principalmente se o tecido fosse lã (FIGURA 13). A adequabilidade desses uniformes de combate contemplava inicialmente as condições de clima tropical existentes no Brasil. A possibilidade de emprego em um TO com característica climáticas muito diferentes das do Brasil levaria a uma dificuldade de adaptação do soldado brasileiro, e portanto a uma possível ineficiência operativa da tropa. A aparência (cortes, equipamentos, cor, tonalidade, tecidos, funcionalidade e características) e não a funcionalidade desses uniformes em muito se assemelhava aos do velho continente, o que mais tarde teria influencias para a preparação logística e de uniformes a serem usados pela FEB no TO do Mediterrâneo uma vez que Brasil iria combater ao lado dos americanos e contra as forças alemães. Isso levou o Brasil a uma serie de mudanças e adaptações em seus uniformes de modo que o soldado brasileiro quando do desembarque na Itália em muito se parecia com o perfil dos soldados NorteAmericanos, porém não totalmente, o que ainda gerou problemas. Tendo em vista a situação supracitada, o aprestamento de uma tropa para o deslocamento para além-mar impunha a superação de inúmeros problemas, os quais começaram a ser resolvidos somente pela Portaria Ministerial 47-44, de 9 de agosto de 1943, publicada em Boletim Reservado do Exército a 13 do mesmo mês, na qual foi estruturada a FEB. (FIGURA 13): Uniforme de combate alemão modelo M36-1939, em lã. Fonte : http://edumilitaria.blogspot.com.br/2010/02/ww2-feb-os-uniformes-mais-bonitos-da2a.html , acessado em 10 março 2014. 40 4.2 PREPARAÇÃO DO BRASIL PARA II GM Uma das consequências da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial foi a decisão, do então Presidente Getúlio Vargas, de enviar uma força expedicionária terrestre para combater no Velho Continente. Tal fato veio a se materializar, apenas, em meados de 1944, quando finalmente a Força Expedicionária Brasileira (FEB), no valor de uma divisão reforçada, foi enviada à Europa para combater as forças armadas da Alemanha durante o Terceiro Reich, junto aos demais aliados, entre eles os Estados Unidos da América. Antes, porém, a FEB teve que se preparar e se adestrar para estar em condições de enfrentar as difíceis condições de combate já levantadas pelo destacamento precursor porém, a serem conhecidas realmente durante os combates da guerra mundial. 4.2.1 DESTACAMENTO PRECURSOR DA FEB Como já exposto, o EB antes de atuar com a FEB na Itália, seguia a doutrina militar defensiva francesa, conseqüência da vitória francesa na I GM e que influenciou a contratação da MMF em 1919. Teria a FEB porém, que rapidamente se adaptar à doutrina, armamentos, equipamentos e padrões de uniformes dos EUA, antes de entrar em combate. A fim de melhor preparar a FEB para atuar além-mar, no TO do Mediterrâneo, foi constituído uma missão militar brasileira para levantar dados diversos. O Destacamento Precursor teve a finalidade de reconhecer os possíveis TO de operações que a FEB poderia atuar. Foi constituído por uma missão militar brasileira que tinha por finalidade anteceder o envio das tropas da FEB, buscar os entendimentos e ensinamentos necessários para completar a instrução e a preparação da tropa no Brasil, levantar as necessidades de uso de fardamentos diversos bem como equipamentos e também levantar as providências referentes à chegada e instalação da tropa brasileira26. Constituída por oficiais do EB e da Força Aérea Brasileira (FAB), esse destacamento foi primeiramente para o norte da África em novembro de 1943, iniciando assim o contato as Forças Aliadas em particular dos EUA. Em seguida, em 41 dezembro de 1943 o destacamento foi para a Europa a fim de continuar levantando nesse TOM r ( FIGURA 14 ) aspectos diversos como: condições geográficas, terreno, clima, recursos locais, costumes, moeda, transportes, comunicações e ligações com o exterior, inimigos, cartas, campos de treinamento, uniformes, insígnias e distintivos inimigos e as condições de aclimatação da tropa no TOM27. A partir do levantamento dos aspectos citados acima, a FEB passou a se modernizar para o seu emprego na Europa. Enquanto o resto do Exército permaneceu na mesma situação de antes da guerra, com algumas exceções de armamentos modernos, recebidos dos americanos para a defesa da costa, a criação da FEB e sua preparação acabou por criar uma dicotomia na caserna. A despeito da preparação da FEB, em solo brasileiro, não ter sido inteiramente aproveitada na Itália, ao menos os exercícios físicos serviram para dar um nível de preparo físico confiável à tropa28. Tal fator foi essencial para a adaptação mais rápida dos soldados da FEB às extremas condições de vida principalmente nas montanhas, como será visto mais à frente, apesar de não se ter sido realizado treinamento específico em terreno com altitudes semelhantes a da Itália e nem em clima frio encontrado ao TO do Mediterrâneo. (FIGURA 14): Delimitação do Teatro de Operações do Mediterrâneo (TOM) Fonte: ALLIED FORCES HEADQUARTERS (1949, p. 631) r Teatro de operações do Mediterrâneo (TOM), criado em 10 de dezembro de 1943, foi um Grande Comando Operacional Combinado responsável pela execução das operações militares nas áreas compreendidas entre a porção norte ocidental da África e o sul da Europa. Ele resultou da junção de dois outros Teatros de Operações. 42 4.2.2 A PREPARAÇÃO LOGÍSTICA Antes mesmo de os EUA entrarem em guerra houve um acordo deste com vários países para o fornecimento de equipamentos diversos de emprego militar para uso na II GM por meio de uma Lei de empréstimo e arrendamento de material bélico. O Lend-Lease foi então um programa de em que o Estados Unidos da América forneceu, por emprestimo inicialmente ao Reino Unido, a União Soviética, China, França Livre e posteriormente a outras nações aliadas dentre elas o Brasil, armas e suprimentos de diversas classes, entre 1941 e 1945. O programa foi assinado em lei em 11 de março de 1941, um ano e meio após a eclosão da Segunda Guerra Mundial na Europa em setembro de 1939 e nove meses antes de os EUA entraram na guerra em dezembro de 1941. Formalmente intitulado "Um Ato Para promover ainda mais a Defesa dos Estados Unidos", a lei terminou a "pretensão" de neutralidade dos Estados Unidos, levando-o a guerra assim também como outros países. Um total de $ 50,1 bilhões (equivalente a 647 bilião dólares atuais) no valor de suprimentos foram enviados diretamente: U$ 31,4 bilhões dólares à Grã-Bretanha, U$ 11,3 bilhões dólares para a União Soviética, U$ 3,2 bilhões para a França, e US $ 1,6 bilhões para a China. Para os demais países foi fornecido material diretamente no TO quando do emprego. Nos termos do acordo, o material podia ser usado sem pagar nada até o momento da sua devolução ou destruição. Após a data de encerramento o material que não tinha sido destruido foi vendido com desconto como empréstimos de longo prazo dos Estados Unidos. O Canadá realizou um programa semelhante que enviou US $ 4,7 bilhões em suprimentos para o Reino Unido e para a União Soviética. Este programa foi um passo decisivo se afastando da política nãointervencionista, que tinha dominado as relações externas dos Estados Unidos desde o fim da Primeira Guerra Mundial, e também um marco inicial para o planejamento da preparação logística dos países envolvidos dentre eles o Brasil . 43 O programa Lend-Lease foi um fator crítico para o sucesso dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Entre 1943 e 1944, cerca de um quarto de todas as munições britânicas veio através de Lend-Lease, aeronaves constituíram cerca de um quarto dos embarques para a Grã-Bretanha, seguido por veículos, alimentos, e navios. A URSS era altamente dependente do transporte ferroviário, mas a guerra praticamente encerrou a sua produção de equipamento ferroviário: apenas cerca de 92 locomotivas foram produzidas por eles. Duas mil locomotivas e 11 000 vagões foram fornecidos pelo programa Lend-Lease. Da mesma forma, a força aérea soviética recebeu 18.700 aeronaves, o que correspondeu a cerca de 14% da produção de aviões soviéticos (19% das aeronaves militares). (FIGURA 15) (FIGURA15): Varsóvia 1945, Jeep Willys usado por Primeiro Exército Polonês como parte do programa americano Lend-Lease Fonte:http://edumilitaria.blogspot.com.br/2010/02/ Acessado em 12 maio 2014l. Ainda para se enterder melhor o real dimensionamento do programa LendLease na preparação logística e execução da logística tática dos diversos exércitos envolvidos na II GM pode-se citar que a maioria das unidades de blindados do 44 Exército Vermelho fossem equipados com carros de combate construídos na União Soviética, seu apoio logístico porém foi fornecido por centenas de milhares de caminhões fabricados nos Estados Unidos. De fato, em 1945, cerca de dois terços dos caminhões do Exército Vermelho fora construída nos EUA. Embarques americanos de armamento, munição, rações enlatadas e suprimento classe II como cobertores, meias, cachecois, overboots também foram enormes. Nesse contexto o Brasil foi contemplado com vários tipos de suprimentos dos diversas tipos classes( Quadro 01) tanto em território nacional como já no TO do Mediterrâneo. O Sup Cl II foi distribuído em quantidades para o efetivo da FEB diretamente no TOM a partir tanto do Brasil como da Peninsular Base Section (PBS)s. A FEB, apesar de ter sido criada em fevereiro de 1943, seis meses após a declaração de guerra pelo Brasil, não teve tempo adequado de preparação. O General Mascarenhas reuniu, sob seu comando, a divisão completa apenas em dezembro de 1943. A tropa ficou efetivamente pronta para o treinamento no Rio de Janeiro somente em março de 1944. Nos escalões sucessivos da FEB, o tempo fora ainda mais escasso, o que refletiu em erros diversos durante a fase inicial da campanha inclusive na preparação e execução da logística, tanto no Brasil quanto na Itália. Outros fatores corroboraram para aumentar as dificuldades encontradas pelo General Mascarenhas para deixar a FEB preparada logisticamente e apta ao combate, tais como: as de ordem administrativa, pessoal, logística e de manutenção, o que tornou difícil para ele lidar com a atividade fim, que era a condução da guerra propriamente dita. Há de se considerar que os caminhos para a vitória em uma guerra estão relacionados, também, ao que acontece fora do campo de batalha. Fatores políticos, econômicos e sociais explicam como um exército é constituído e pode, inclusive, explicar como seus líderes os conduzirão para a guerra29. Esses fatores são essenciais para que se entenda as diferenças na preparação da FEB e outros forças s Peninsular Base Section( PBS): Grande instalação logística dos EUA, decorrente do programa LendLease, responsável por realizar suprimento de diversas classes para o TO do Mediterrâneo durante a II GM. 45 atuantes na II GM. A logística da FEB era feita pela feita tanto a partir do Brasil com apoio da Marinha do Brasil e dos EUA, de onde vinham gêneros diversos dentre eles gêneros alimentícios (Sup Cl I) e equipamentos individuais e fardamentos de lã (Sup Cl II) como também da Peninsular Base Section. A Peninsular Base Section (PBS) (Figuras 20 e 21) era uma grande instalação logística do US Army responsável por fornecer suprimentos para todo o TO do Mediterrâneo. Para a FEB a PBS forneceu armamentos, munições, viaturas, fardamentos contra o frio do inverno europeu (Figuras 16 e 17) que o Brasil não tinha capacidade ou conhecimento adequado para produzir além de meias, cobertores, esquis (Figura 17), raquete de caminhada na neve, overshoes(Figura 18), combatboots , usados em reconhecimentos e patrulhas, barracas, óculos escuros (Figura 19) capas de chuva e neve, e agentes químicos, máscaras contra gases e etc.Cabe ressaltar que a logística da FEB foi apoioada pela logísticamente pelos EUA desde o início da declaração de guerra pelo Brasil contra as forças do eixo. Pelo acordo ficou acordado o quê e em que quantidades o Brasil iria produzir e transportar para a Itália que fosse empregado e o quê seria fornecido diretamente no TOM, nesse caso pela PBS a partir de seus depósitos e pontos de distribuição (Figuras 20 e 21). (FIGURA 16) Capas de neve . Fonte: Julio Zary, arquivo pessoal (FIGURA 17) Esquis de neve. Fonte: Julio Zary, arquivo pessoal 46 (FIGURA 18) Overshoes NA Fonte: Julio Zary, arquivo pessoal (FIGURA 19) Óculos escuros NA. Fonte: Julio Zary, arquivo pessoal (FIGURA 20) Localização das Bases Sections no TOM. Fonte: COMMAND AND GENERAL STAFF SCHOOL (1949, p. 4). 47 (FIGURA 21) Depósitos da PBS e seus pontos de distribuição na Itália. Fonte: G-4 Periodc Report, Mediterranean of Operations, Us Army, Quarter ending 30 September 1945. 48 4.2.3 MEDIDAS PARA PADRONIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE SUP CL II DA FEB No Brasil quando da declaração de guerra os uniformes eram regulados pelo RUPE como já exposto (FIGURA 22). Esse regulamento padronizava os uniformes de oficias, cadetes, subtenentes e sargentos, cabos e soldados. Previa os uniformes de gala, os de serviço, de ginástica e os uniformes de combate alvo desse estudo, todos a princípio padronizados pelo Depósito Central de Material de Intendência. De maneira geral esses uniformes diferiam dos padrões de uniformes a serem usados pelo US Army no TO do Mediterrâneo (FIGURA 23), principalmente quando se observam os uniformes usados em combate e também os equipamentos usados como cinto Norte-Americano(NA), cantil, suspensório e capacete. (FIGURA 22) Uniformes Brasil- RUPE (FIGURA 23) Uniforme Norte-Americano Fonte: Brazilian Expedicionary Force in World Ward II 30 Assim, das medidas tomadas no Brasil para se padronizar os uniformes pode-se citar pode-se citar duas principais. Respectivamente em março e em de outubro de 1944, e decorrente de contatos prévios com os EUA foram publicados pelo Serviço de 49 Intendência da Força Expedicionária Brasileira respectivamente o Plano de uniformes da FEB e o Caderno de Encargos de material de intendência, ambos já com moldes e tendências aos padrões NA. Essas publicações especificavam então padrões para uniformes e técnicas fabris bem como industriais de produção fardamentos e equipamentos para a FEB. Há de se ressaltar que o primeiro escalão da FEB desembarcou em solo italiano em julho de 1944 e que as especificações técnicas e industriais do caderno de encargo de material de intendência só foram publicadas no Brasil em outubro do mesmo ano, caracterizando assim um enorme contra-senso logístico para a indústria nacional o que traria reflexos para a FEB. Nesse contexto de medidas tomadas para produção e fornecimento de Sup Cl II, para a FEB surgiu o Plano de Uniformes da Força Expedicionária Brasileira. Esse documento foi o regulamento para o uso dos uniformes da FEB. Foi resultado do decreto 15.100 de 20 de março de 1944 e publicado no diário oficial de 22 março de 1944. Passou a vigorar e a gerar efeitos no EB, a partir de 31 de marco do mesmo ano. Esse regulamento foi o passo inicial para a preparação dos uniformes e equipamentos a serem usados pela FEB no TO do Mediterrâneo. Não mudou totalmente os uniformes já em uso e previstos no RUPE desde 1940, mas trouxe novidades e modificações em uniformes existentes de modo que alguns ou peças de uniformes passaram a ser abolidos, outros tolerados e alguns incorporados de modo a adaptar e melhorar a preparação da tropa expedicionária frente às futuras demandas climatológicas do TO do Mediterrâneo e iniciar assim a mudança de similaridade para o padrão norte-americano, mas não alterou totalmente a semelhança dos uniformes brasileiros com o perfil alemão frente à aproximação do perfil norte-americano. Esse plano regulava que os uniformes previstos seriam simples, cômodos e corretos e que nenhuma peça de fardamento fora das condições do plano poderia ser levado para o TOM, tanto por oficiais ou por praças. Dessa forma os uniformes de combate passaram a ter seguinte constituição: - Uniformes de oficiais de passeio e de combate. - Uniformes de praças de passeio e de combate - Uniformes de cabos e soldados de passeio e de combate 50 Os uniformes de passeio para oficiais tinham os seguinte itens previstos: - 5° uniforme tipo C: Em gabardine verde-oliva tinha o uso com as seguintes peças: gorro tipo americano sem pala, túnica VO claro do mesmo modelo do RUPE sendo porém todo da mesma cor, calça, camisa em tricoline, gravata, cinto externo, luvas, e capote de brim. A partir da previsão desse tipo de fardamento e cobertura teve início aproximação do padrão norte-americano para as fardas usadas pela FEB, sendo que no Brasil continuava valendo o padrão previsto no RUPE, fato que causou grande hostilidade posteriormente dentro do EB, quando do retorno da FEB devido à diferença entre o antigo e novo padrão das fardas. Os uniformes de combate para oficiais tinha os seguintes itens previstos: - 5° uniforme tipo B-1: Blusa de brim VO (Verde-Oliva), calça de brim VO claro, capacete de aço tipo americano, capacete de pano, borzeguins de couro preto, bota natal, botina de combate, pederneiras em lona (FIGURA 24) - 5° uniforme tipo B-2: Blusa de lã VO , calça de lã VO claro, capacete de aço tipo americano, gorro e luvas de lã VO, borzeguins de couro preto, bota natal, botina de combate, pederneiras em lona (FIGURA 25) - Abrigo: Jaquetão de lã VO, capote de brim impermeabilizado ou capa de borracha. Os uniformes de passeio para as praças tinha os seguinte itens previstos: - 5° uniforme tipo C: Em gabardine verde-oliva tinha previsto o uso com as seguintes peças: gorro tipo americano sem pala, túnica VO claro do mesmo modelo do RUPE sendo porem todo da mesma cor , calça, camisa em tricoline, gravata, cinto externo, luvas, e capote de brim. Esse uniforme porém não veio a ser amplamente distribuído entre as praças que usaram o uniforme de brim tipo RUPE como seus uniformes de passeio ou adaptaram os uniformes de combate em lã , usando a túnica cortada no padrão “IKE JACKET” t (FIGURAS 26 e 27 ) t IKE JACKET: Modelo de jaqueta usada pelo General Eisenhower. 51 - 5° uniforme tipo A: Túnica de brim VO, calça de brim VO escuro, cinto em lona com fivela oxidada em metal, gorro em pala de brim, borzeguins de couro preto. Os uniformes de combate para as praças tinha os seguinte itens previstos: - 5° uniforme tipo B-1: Blusa de brim VO (Verde-Oliva), calça de brim VO claro, capacete de aço tipo americano, capacete de pano, borzeguins de couro preto, bota natal, botina de combate, pederneiras em lona(FIGURA 24) - 5° uniforme tipo B-2: Blusa de lã VO , calça de lã VO claro, capacete de aço tipo americano, gorro e luvas de lã VO, borzeguins de couro preto, bota natal, botina de combate, pederneiras em lona (FIGURA 25) . Esse uniforme além de combate poderia ser usado em passeio , sendo adaptado para tal como já descrito anteriormente - Abrigo: Jaquetão de lã VO para subtenente, blusão de lã, capote de brim impermeabilizado. (FIGURA 30) (FIGURA 24): 5° uniforme tipo B-1 Fonte: Julio Zary, arquivo pessoal (FIGURA 25): 5° uniforme tipo B-2 Fonte: Julio Zary, arquivo pessoal 52 (FIGURA 26 ): Uniforme 5° C oficiais “ Ike Jacket “ (FIGURA 27): Blusa modelo DIE (gabardine, lã ou brim VO) . Fonte: Plano de Uniformes da Força Expedicionária Brasileira31 4.3 CADERNO DE ENCARGOS DE MATERIAL DE INTENDÊNCIA 4.3.1 FINALIDADE O Caderno Encargos de materiais de Intendência da FEB foi uma publicação feita em outubro de 1944 pelo Serviço de Intendência da FEB que previa as características e normas técnicas e industriais para produção de Sup Cl II a ser usados pela FEB, na II GM. 4.3.2 ESPECIFICAÇÕES DOS UNIFORMES DE COMBATE E DEMAIS DOS MATERIAIS SUP CL II. O Caderno buscou regular as especificações técnicas têxteis e industriais para a produção de fardamentos, artigos diversos, equipamentos individuais, material de estacionamento, material de embalagem, materiais primas diversas e previa ainda instruções quanto a tais materiais e equipamentos. 53 Em sua publicação número 5, regulava e previu tardiamente a partir de outubro de 1944 a produção de uniformes com padrão mais próximo ao perfil americano. Os uniformes do EB até então apesar de ter regulamento específico, guardavam grande similaridade com os uniformes alemães e que era previsto no RUPE de 1940. As características de alinhamento brasileiro aos EUA, a possibilidade de futuro suprimento logístico a ser recebido pelo acordo Lend –Lease e executado pela Peninsular Base Section, e por fim pelo enfrentamento em combate contra a Wehrmacht revelou a necessidade de se implementar medidas que levassem o EB a modificar o perfil dos uniformes da FEB o que traria impactos para a indústria parque têxtil e fabril nacional. 4.4 Indústria Nacional Brasileira As primeiras fábricas têxteis surgidas no Brasil nas décadas iniciais do século XIX, eram estabelecimentos de pequeno porte e tiveram, em geral, vida efêmera. A produção de tecidos data dos primeiros anos da colonização, o algodão já era conhecido e utilizado pelos indígenas, continuou a ser cultivado pelos portugueses em certas capitanias, dando origem a uma produção têxtil doméstica de alguma importância. No início da I Guerra Mundial (I GM) o Brasil já dispunha de um importante parque têxtil. Assim a I GM pode ser considerada como fator decisivo na consolidação da indústria têxtil brasileira. A limitação da capacidade do país de importar propiciou a oportunidade de crescimento da produção interna no vácuo deixado pelo não-suprimento externo de tecidos. Assim, a interrupção do fluxo de entrada de artigos oriundos do exterior, pela concentração dos países europeus e Estados Unidos no esforço da guerra, funcionou como elemento de estímulo para o crescimento da indústria brasileira. Segundo dados do IBGEu, em 1919, a indústria têxtil contava com 105.116 trabalhadores, o que representava 38,1% do contingente empregado nas indústrias de transformação. Com o fim do conflito na década de 20, novamente arrefeceu a atividade têxtil pela retomada das importações de tecidos diante da dificuldade de competição com os similares estrangeiros que eram vendidos u IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 54 no Brasil a preços inferiores aos que eram cobrados em seus países de origem. Em 1929, a grande crise que se abateu sobre a economia mundial propiciou nova oportunidade de crescimento da indústria brasileira, a exemplo do que havia ocorrido durante a I Guerra. A capacidade de importação foi drasticamente reduzida, levando praticamente todos os países a adotarem políticas de substituição dos importados pela produção interna das mercadorias necessárias a seu abastecimento. Esse processo foi aprofundado pela eclosão da II Guerra Mundial, período em que ocorreram realmente excepcionais alterações na estrutura industrial brasileira. Como os fornecedores tradicionais do Brasil estavam envolvidos no conflito, abriu-se a possibilidade de o mercado interno ser suprido por meio do incremento da produção interna, com o surgimento de muitas fábricas em praticamente todos os setores da atividade manufatureira. No ramo têxtil, as fábricas se ampliaram, passando a operar com mais de um turno de trabalho e produzindo mais para atender o mercado interno e, ainda, exportando para mercados externos importantes, principalmente da Europa e Estados Unidos. O número de operários ocupados no ramo têxtil triplicou no período de 1920 a 1940. A participação do setor no Produto Industrial atingiu 23,1%, o que bem demonstra o nível de pujança alcançado no período. Dessa maneira pode-se depreender que o setor têxtil brasileiro, no período da II GM (1939-1945), com o incremento sofrido e aumento significativo tanto da produção como das exportações de tecidos podia atender plenamente às demandas de brim, gabardine, tricoline, lã e outros tecidos que passaram a ser mais necessários devido à criação da FEB. A necessidade de fardar e equipar a totalidade esse efetivo que tinha uma previsão inicial de aproximadamente entre 60.000 e 100.00 homens mas que efetivamente teve apenas de um quarto desse total, pois o Brasil enviou cerca de 25.334 militares para a Itália, podia então ser atendida pela indústria nacional. No mesmo sentido, pode-se entender que se o parque têxtil nacional passou a exportar para países como EUA e outros da Europa a qualidade do material exportado atendia plenamente às exigências internacionais da época levando a entender que esse setor industrial possuía capacidade tecnológica, qualitativa e quantitativa para suprir diversas demandas quer fosse de ordem interna ou externa. Há de se considerar, no entanto, que se pelo lado da indústria têxtil havia pujança e números favoráveis devido à demanda externa o mesmo ocorreu com o 55 parque setor fabril nacional, mas que somente conseguiu atender tardiamente as especificações técnicas e qualitativas das necessidades em uniformes especificados pelos cadernos e regulamentos da FEB devido a sua publicação tardia uma vez que em outubro de 1944 a FEB já estava em solo italiano às vésperas de batismo de fogo. Todavia, terminado o conflito mundial, novamente o setor retornou à situação anterior. Com a normalização paulatina do mercado internacional, os clientes externos e as exportações caíram a níveis insignificantes. De uma média anual de cerca de 24 mil toneladas de tecidos de algodão exportados no período de 1942 a 1947, caímos para 1.596 toneladas em 1951, que se reduziram a quase nada nos anos seguintes. Os investimentos foram travados e o obsoletismo do equipamento em uso ficou patente no período pós-guerra. 4.5 CARACTERÍSTICAS DO TO DO MEDITERRÂNEO A partir de agosto de 1944, o 5° Exército Americano deparou-se com uma grande barreira montanhosa durante as operações na Itália, país europeu que durante a II GM fez parte do TO do Mediterrâneo (FIGURA 28) juntamente com países como Hungria, Romênia, Bulgária, Albânia, Iugoslávia e Grécia. Essa barreira, chamada de Cordilheira dos Apeninos (FIGURA 29), estende-se desde o mar da Ligúria a noroeste da Itália até o mar Adriático a nordeste. Sua largura é de, pelo menos, cerca de 80 Km, e possui diversas elevações com altitudes superiores a 2.000 m32, o que a tornou, sob todos os aspectos, um formidável obstáculo para o avanço de tropas rumo ao vale do Pó33. Para que a FEB pudesse operar na região, foi necessária, então, a sua adaptação para a guerra de montanha, tendo em vista que a mesma era uma divisão de infantaria regular. 56 (FIGURA 28) Teatro de Operações do Mediterrâneo 1944-1945 Fonte: G-4 Periodc Report, Mediterranean of Operations, Us Army, Quarter ending 30 September 1945. 4.5.1 CARACTERÍSTICAS DO COMBATE EM ÁREA DE MONTANHA A guerra em montanha é realizada em um espectro de combate diferenciado, possuindo características únicas. Os desafios do combate em montanha são assustadores, tendo o frio e a fadiga como fatores constantes 34. Os exércitos necessitam de treinamento e experiência para poderem compreender as peculiaridades dos ambientes de montanha e como essas afetam o combate. Aqueles que executam treinamentos naquele ambiente estão mais habilitados a combater, do que aqueles que não o executam 35. Ressalta-se que cerca de 27% da superfície terrestre é composta por montanhas 36, logo é lícito supor que futuras conflitos ou guerras acontecerão, também, nesse tipo de ambiente. Esse fato, por si só, já torna importante o assunto em pauta para qualquer exército. 57 Um dos casos históricos que se pode levantar para base desse estudo referese ao exército alemão, no período da Segunda Grande Guerra. A Wehrmacht v dispunha de um Corpo de Exército inteiramente apto a combater em terreno montanhoso, sendo denominado Gebirgsjäger. No total, o exército alemão possuía 13 divisões Gebirgsjäger e, ainda, uma divisão Skijäger 37. Embora nem todas as divisões Gebirgsjäger tenham combatido em montanhas durante a guerra, elas demonstraram habilidades superiores, quando usadas naquele tipo de terreno. Por exemplo, a 5ª Divisão Gebirgsjäger marchou aproximadamente 400 Km, cruzando passagens entre montanhas em altitudes acima de 3.000 m, defendendo fortemente as posições na linha defensiva Mestksas38. O Exército americano dedicou, naquela ocasião, especial atenção ao estudo da divisões de montanha alemãs, inclusive, tendo publicado um sobre a guerra 39. No referido estudo, os americanos identificaram como os alemães se comunicavam, realizavam serviços auxiliares, treinavam, atiravam, se vestiam e uniformizavam-se, qual tipo de armamento usavam e como as unidades eram organizadas para o combate em montanha, entre outros. As considerações sobre a guerra em montanha, obtidas na Segunda Guerra, ou mesmo na Primeira, ainda são aplicáveis até hoje, no combate moderno. Cabe ressaltar que a FEB veio a ser empregada, juntamente com o V Exército Americano, em ambiente de montanha durante sua participação no TO do Mediterrâneo, durante a II GM. O emprego da FEB em terreno montanhoso deu-se pelo fato da necessidade de os aliados controlarem as altitudes que dominavam a estrada SS 64, que ligava Pistóia a Bolonha. Com a posse dos referidos picos, entre eles o Monte Castello e Belvedere, os aliados teriam um ponto forte para prosseguir na direção de Bolonha e, conseqüentemente, do vale do rio Pó, manobra que ficou conhecida como a ofensiva da Primavera40. Dessa forma, a FEB necessitou tanto de preparação de seu pessoal como de material para realizar as ações de combate nesse ambiente, o que trouxe necessidades de uniformes, peças de vestuário e v Wehrrmacht : Nome do conjunto das forças armadas da Alemanha durante o Terceiro Reich entre 1935 e 1945. Englobava o Exército (Heer), Marinha de Guerra (Kriegsmarine) , Força Aérea (Luftwaffe) e tropas das Waffen-SS, apesar de não serem da Wehrmacht, eram freqüentemente dispostas junto às suas tropas. 58 equipamentos diferentes da realidade tropical existente no Brasil, porém já conhecida tanto por Norte-americanos como pelos alemãs da Wehrmacht. 4.5.2 CARACTERÍSTICAS DO TERRENO, ALTITUDE, SOLO E CLIMA NO NORTE DA ITÁLIA A Itália possui um relevo variado. Tem altas cordilheiras ao norte, com o ponto culminante, o monte Branco com 4810m. Possui montanhas altas ao longo da península, com os Apeninos que formam o esqueleto da Itália. Também possui planícies, como a do rio Pó e dois vulcões ativos no país, sendo eles o Etna e o Vesúvio. Os Apeninos ou Appennini estendem-se por 1000 km do norte ao sul da Itália ao longo da costa leste, formando a coluna dorsal do país. Deram seu nome à península Apenina ou península Itálica, que forma a maior parte da Itália. As montanhas são verdes e arborizadas, apesar de um lado do pico mais elevado, o Corno Grande (2912 m), ser parcialmente coberto pela geleira mais meridional da Europa. As elevações mais a leste, perto do mar Adriático, são abruptas, enquanto que as do oeste formam uma planície onde se localizam a maior parte das cidades históricas italianas como Siena, Florença e Pisa. Durante a Campanha da Itália, na Segunda Guerra Mundial, os alemães usaram os Apeninos como uma barreira defensiva natural contra o avanço aliado na Itália continental. Primeiro, ao sul entre fins de outubro de 1943 e maio de 1944, numa série de linhas defensivas conhecidas como Linha Gustav. Durante este período se travou a famosa Batalha de Monte Cassino. Após o avanço aliado pelo centro da Itália, a partir da queda de Roma em junho, os alemães mais uma vez utilizando-se dos Apeninos, desta vez dos maciços - setentrionais na divisa das regiões Toscana e Emília-Romanha, a partir de fins de outubro, mais uma vez conseguiram barrar o avanço aliado em direção ao Vale do Pó, através de uma série de linhas defensivas, denominadas de Linha Gótica. Tal barreira defensiva só viria a 59 ser rompida em abril do ano de 1944 e suas características fisiográficas trouxeram implicações nos combates em que a FEB participou no TOM. A Planície do Pó é o nome pelo qual é mais conhecido a região do rio Pó, cujo rio é o maior da Itália, passando por muitas cidades importantes, incluindo Turim, e ainda as proximidades de Milão. Nesta última cidade o rio penetra em uma rede de canais chamados navigli. Perto do fim do seu curso, o rio dá lugar a um grande delta, com centenas de pequenos canais e cinco cursos fluviais principais, chamados Pó di Maestra, Pó della Pila, Pó e Gália Transpadana (ao norte do Pó). Em italiano, o vale é chamado de Pianura Padana (planície Padana). 4.5.3 CARACTERÍSTICAS DO CLIMA NO TO DA FEB O clima no norte da Itália, mais especificamente no TO do Mediterrâneo, local de emprego da FEB na Itália, varia de região para região mas, as estações do ano são bem definidas. O norte italiano onde se encontram cidades como Milão, Turim e Bolonha tem um clima continental, ao sul de a partir da cidade de Florença se encontra o clima mediterrâneo. O clima das áreas litorâneas da península é muito diferente do interior onde as altitudes se elevam em decorrência da cadeia dos Apeninos. Nessas áreas mais elevadas a temperatura, particularmente nos meses de inverno, é bem inferior a verificada junto ao litoral. As áreas mais elevadas são frias, úmidas e recebem freqüentemente precipitação de chuvas e de neve. As regiões litorâneas têm um clima mediterrâneo típico com invernos suaves e verões quentes, geralmente secos. A região onde a FEB atuou foi marcada por um clima frio de montanha, com invernos rigorosos e verões brandos. Monte Castello, por exemplo possui médias regulares entre -12 °C no inverno e +5 °C no verão mas a sensação térmica pode ser inferior ao marcado nos termômetros devido aos ventos e condições de chuva. Há diferenças notáveis nas temperaturas, sobretudo durante o inverno: em certos dias de dezembro ou janeiro pode nevar em Milão com -2 °C, quando em Palermo ou Nápoles as temperaturas são de +5 °C. Em certas manhãs Turim pode amanhecer com -10 °C, quando ao mesmo tempo Roma se encontra com 0 °C. 60 No verão a diferença é mais clara, a costa leste não está tão úmida como a costa ocidental, mas no inverno está geralmente mais fria. Nos meses de inverno os Apeninos, cadeia montanhosa onde a FEB atuou em combate, recebe neve regularmente. FIGURA 29 – Apeninos, no setor do V Corpo de Exército Fonte: CMH Pub 72–34 A Itália é sujeita a condições altamente diversificadas no outono, inverno, primavera, e mesmo no verão quando nas cidades do norte, como Turim, Milão, Pavia, Verona ou Udine podem vir chuvas durante o dia. Já a sul de Florença o verão é tipicamente seco e ensolarado. Entre novembro e março o vale do rio Pó é freqüentemente coberto pela neve, sobretudo a zona central (Pavia e Cremona). A neve é algo comum entre dezembro e fevereiro em cidades como Turim, Milão e Bolonha, no inverno. Milão recebe aproximadamente entre 70 a 80 cm de neve, Pavia 50 cm, Trento 160 cm, Vicenza em torno de 45 cm, Bolonha em torno de 30 cm e Piacenza ao redor de 80 cm. Geralmente o mês mais quente, é agosto no sul, e julho no norte, nesses meses os termômetros podem marcar 42 °C no sul e 33 °C no norte. 61 O mês mais frio é janeiro, com médias no vale do rio Pó de 0 °C, Florença 5 °C/6 °C, Roma 7 °C/8 °C. As temperaturas mínimas podem chegar a -14 °C no vale do rio Pó, -5 °C/-6 °C em Florença, -4 °C em Roma, -2° em Nápoles e em Palermo podem chegar a 1 °C. Quadro de registros anuais, médias de temperatura e precipitações na Itália por cidades. QUADRO 2 : Roma Temp Max Min J 12° 3° F 13° 4° M 15° 6° A 17° 8° M 21° 12° J 25° 16° J 28° 18° A 28° 19° S 26° 16° O 21° 13° N 16° 7° D 13° 5° Chuva Mm J 80 F 70 M 60 A 60 M 50 J 30 J 10 A 20 S 60 O 110 N 110 D 90 QUADRO 3 : Milão Temp Max Min J 6° -3° F 8° -2° M 13° 1° A 16° 4° M 21° 9° J 25° 12° J 28° 15° A 27° 15° S 23° 12° O 17° 6° N 11° 0° D 7° -3° Chuva Mm J 50 F 60 M 80 A 120 M 120 J 80 J 60 A 80 S 60 O 80 N 100 D 50 QUADRO 4 : Bolonha Temp Max Min J 5° -1° F 8° 0° M 14° 3° A 20° 7° M 27° 12° J 27° 15° J 30° 17° A 30° 17° S 26° 15° O 18° 10° N 11° 5° D 6° 0° Chuva Mm J 50 F 40 M 50 A 80 M 70 J 60 J 40 A 40 S 60 O 100 N 70 D 40 QUADRO 5 : Florença Temp Max Min J 9° 1° F 11° 3° M 14° 4° A 18° 7° M 23° 11° J 27° 14° J 30° 16° A 30° 16° S 26° 14° O 20° 9° N 14° 6° D 10° 2° Chuva Mm J 65 F 62 M 70 A 71 M 73 J 57 J 34 A 47 S 83 O 99 N 104 D 80 62 QUADRO 6 : Génova Temp Max Min J 11° 5° F 11° 6° M 13° 8° A 16° 10° M 20° 14° J 23° 17° J 26° 21° A 27° 21° S 24° 18° O 19° 13° N 14° 9° D 12° 6° Chuva Mm J 13 F 10 M 12 A 13 M 14 J 10 J 8 A 9 S 10 O 14 N 13 D 12 QUADRO 7 : Verona Temp Max Min J 5° -1° F 7° 0° M 12° 4° A 17° 9° M 22° 12° J 26° 16° J 28° 18° A 28° 18° S 23° 15° O 17° 10° N 10° 4° D 6° 1° Chuva Mm J 30 F 40 M 60 A 70 M 80 J 80 J 90 A 70 S 70 O 90 N 70 D 60 Fonte: http://www.goldtrip.com.br/clima-italia/, acessado em 15 maio 2014. 4.5.4 CAMPANHA BRASILEIRA NA ITÁLIA Na Itália, a FEB atacou as posições defensivas alemã na Linha Gótica. Nessas posições a tropas brasileiras participaram das batalhas de Monte Castello, Castelnuovo, Collecchio e Fornovo. A maior parte dessas batalhas se desenvolveu nas proximidades ou mesmo em regiões montanhosas, no caso em questão na cordilheira dos Apeninos. A Linha Gótica representou uma das últimas e grandes defesas elaboradas pelos alemães na Segunda Guerra Mundial. A citada linha foi teoricamente construída em uma extensão de 280 Km, essa série de linhas de defesa nazi-fascistas no norte da Itália, partia da região costeira do Mar Tirreno, indo do oeste italiano, nas regiões de Carrara e La Spezia, passava pela cadeia de montanhas formada pelos Apeninos, terminando à leste, nas áreas de Pesaro e Rimini, já na faixa litorânea do Mar Adriático. A finalidade principal da defensiva era retardar ao máximo, e se possível bloquear, os avanços aliados na Campanha da Itália. 63 Monte Castello está situado a 61,3 km a sudoeste de Bolonha a 977 m de altitude, nos Apeninos setentrionais, entre as regiões Toscana e Emília-Romanha, local onde o inverno pode chegar a marcar, em regiões fora de cidades, temperaturas próximas dos - 25°C (negativos). Essa região esteve inserida na 2ª fase da Operação de Rompimento da Linha Gótica, no setor de responsabilidade do IV Corpo e do V exército americano, na Campanha da Itália, a qual o Brasil participou com a FEB . A Batalha de Monte Castelo foi travada já no final da Segunda Guerra Mundial, entre as tropas aliadas onde a FEB estava presente contra as forças do Exército Alemão, que tentavam conter o avanço aliado no norte da Itália. Esta batalha marcou a presença da Força Expedicionária Brasileira FEB no conflito. Os combates se arrastaram por três meses, de 24 de novembro de 1944 (período de inverno) a 21 de fevereiro de 1945 (início da primavera), em pleno frio europeu, fato que afetou negativamente a adaptação dos soldados brasileiros ao combate, uma vez que eram acostumados à temperaturas tropicais e não realizaram adaptação necessária aos combates em localidades de montanha. Em Monte Castello foram efetuados cinco ataques, com grande número de baixas brasileiras devido a vários fatores dentre eles ao despreparo da FEB referente aos fardamentos e equipamentos para enfrentar as condições de combate severas em combate em região de montanha e durante o rigoroso inverno italiano. A Batalha de Castelnuovo foi travada em região da planície do Rio Pó, distante apenas cerca de 90 (noventa) Km de Monte Castello, mesmo numa planície não deixou de apresentar como fator de dificuldade para a FEB por ser menos fria. Próxima a Monte Castello e no contexto da Operação ENCORE, foi desenvolvida entre as tropas aliadas e as forças do Exército alemão, que tentavam conter o seu avanço no Norte da Itália. Sob condições semelhante de clima houve inúmeras baixas devido a má adaptação dos equipamentos e fardamentos ao clima de montanha da região. A Batalha de Montese ocorreu entre os dias 14 e 17 de abril de 1945, como parte da Ofensiva Aliada final da Campanha da Itália, tendo como forças 64 combatentes, de um lado unidades da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária brasileira (1ª DIE), reforçada por alguns carros de combate da 1ª Divisão Blindada Americana; e de outro, tropas do 14º Exército do Grupo de Exércitos C da Wehrmacht. O município de Montese ocupa uma vasta área de colinas que faz fronteira com as Províncias de Modena e de Bolonha, na região de Emília-Romanha. Possuí numerosos rios, uma rica vegetação, bosques e castanhais antigos que rodeiam os povoados medievais. Era considerada uma região de difícil acesso devido às fortificações alemãs construídas durante o período que perdurou a Linha Gótica. As tropas alemãs encontravam-se na posse da região de Montese, tendo como fronteiras as Províncias de Modena e Bolonha. A Batalha de Collecchio foi travada de 26 a 27 de abril de 1945, já fora de áreas montanhosas. Os ataques foram feitos no dia 26 de abril contra a 148º Divisão de Infantaria alemã pelo sudeste e depois pelo nordeste, apesar do inimigo dar sinais de derrota, esse momento viria a marcar a única ação entre carros blindados da história da FEB. Durante a noite, quando choveu torrencialmente os ataques foram suspensos e, ao serem reiniciados, na manhã do dia 27, a 1ª Divisão Expedicionária que estava em Collecchio havia se juntado com mais duas companhias. Pela manhã, a maior parte da cidade estava em poder dos pracinhas. Algum tempo depois, o grupo alemão que resistia foi dominado. Em Collecchio, diferente das batalhas Monte Castello, Castelnuovo e Montese, os brasileiros obtiveram vitória sem nenhuma interferência dos EUA. A Batalha de Collecchio ajudou a romper mais uma parte da Linha Gótica. Os soldados brasileiros aprisionaram mais de 400 alemães, porém sofreram 17 baixas, sendo 16 feridos e um morto. Em ato continuo a FEB partiu para Fornovo di Taro. A Batalha de Fornovo di Taro foi o último grande confronto travado pelo exército brasileiro na Segunda Guerra Mundial, já fora de área de montanha e no início da primavera. 65 (FIGURA 30) Campanha da FEB no TO Mediterrâneo- Itália Fonte: Revista Verde Oliva, Exército Brasileiro, Edição Histórica, Maio-Junho 1995. 4.5.5 INFLUÊNCIA CLIMATOLÓGICA DO TO SOBRE O SOLDADO BRASILEIRO Para que a FEB pudesse operar na região de montanha dos Apeninos, foi necessária, então, a sua adaptação para a guerra de montanha, tendo em vista que a mesma era uma divisão de infantaria regular e não havia recebido nenhum treinamento específico, como o fora com a 10ª DM do US Army. O terreno em questão foi considerado um inimigo de vulto, tanto para os alemães que era constituído pela 232ª Divisão de Infantaria alemã e que também não era tropa especializada em montanha 41. Para efeitos de comparação, a barreira montanhosa localizada ao Sul de Monte Cassino tinha uma largura de apenas 14 Km se comparada aos Apeninos, com elevações que raramente superavam os 1.000 metros, ou seja, a tropa dos EUA 66 empregada era bem menos suscetível aos efeitos da adaptação, como o mal da montanha, e mesmo assim foram necessárias várias investidas para que se conquistasse aquele objetivo. O problema de se conduzir operações ofensivas nas montanhas, que já não é fácil normalmente, seria altamente acrescido quando a chuva começasse a precipitar e o inverno chegasse definitivamente. Em meados de outubro, começaram a cair as primeiras neves, os dias ficaram cinzentos, nublados, e com a visibilidade beirando ao zero. O inverno entre 1944 e 1945 foi o mais rigoroso em décadas na Europa, com temperaturas de cerca de 20°C negativos. As posições defensivas alemãs nos Apeninos começaram a ser construídas enquanto o 5° Exército americano ainda estava em operações mais ao Sul, a cerca de 400 Km de distância, entre agosto e outubro de 1943. A linha defensiva alemã nos Apeninos ficou conhecida, inicialmente, como a Linha Pisa-Rimini, depois Gótica e, a partir de junho de 1944, Verde, tendo sido planejada antes mesmo do desembarque aliado no Sul da Itália, pelo então Comandante do Grupo de Exércitos B, o Marechal Erwin Rommel42. Sob a direção da Organização Todt w, aproximadamente 15.000 italianos, adaptados ao clima e ao inverno local, foram forçados a realizar trabalhos de organização do terreno, tais como: fossos anti-carro, espaldões de obuses, trincheiras e abrigos pessoais43. Quando os aliados chegaram finalmente aos Apeninos, as defesas estavam praticamente prontas. Para se ter uma ideia do efeito do terreno movimentado sobre os soldados brasileiros, os quais não estavam acostumados com aquele tipo de relevo, seguem as palavras ouvidas pelo cabo França, do 1° Regimento de Infantaria: “Nós só conquistamos uma montanha, e ainda faltam aquelas todas...” 44. w Organisation Todt foi um grupo alemão de construção e engenharia fundado durante os anos do Terceiro Reich. Criado por Fritz Todt, foi anexado ao Exército Alemão e estava ativo durante a Segunda Guerra Mundial. O principal papel do grupo era construir as infra-estruturas de comunicações e de defesa. 67 A observação daquele soldado sintetiza os meses de operações da FEB e de todo o V Exército na Itália, pois, mês após mês, brasileiros, americanos, indianos e sul-africanos, entre outros, progrediram em colinas, barrancos, encostas e montanhas no vale do Sercchio, não obstante paralisados pelo rigoroso inverno, o qual estabilizou toda a frente de combate, então nos Apeninos. A partir da neve, a guerra ficou reduzida às atividades de patrulhas na “terra de ninguém”. O próprio comandante do V Exército comentou, ainda em 1945, que, durante o inverno nos Apeninos, os homens da linha de frente não tinham trégua. Eles estavam cansados, mergulhados com neve até a cintura em atividades de patrulha, suportando um clima úmido, com lama escorregadia de gelar os ossos, tornando-se parte da vida diária, sendo que alguns começaram mesmo a esquecer que eles já tinham conhecido outra vida45. A situação das tropas ficava ainda pior do ponto de vista da logística de suprimentos classe II, pelo fato de alguns materiais serem inadequados desde sua concepção e origem e por estarem em situação crítica na cadeia de suprimento. Itens como: sobretudos, overshoes x, meias, cobertores, combat boots e ponchos, como pode ser observado no relatório do G-4 da Peninsular Base Section (PBS), de 9 de janeiro de 1945 foram distribuídos em dezembro de 1944, ou seja, no auge do inverno. Tal fato tornou a adaptação da FEB ao frio ainda mais penosa, diminuindo assim seu poder relativo de combate. Em decorrência da estagnação das operações ofensivas, durante o inverno, ocorreu também aumento das baixas hospitalares, evidenciando influencia negativa do clima climatológica do TOM sobre o soldado brasileiro. Apesar de a PBS já estar voltada, também, para o suprimento da divisão brasileira, pelo menos, desde 19 de setembro de 194446, a adaptação dos brasileiros foi extremamente penosa durante o inverno, cabendo assim exemplificar os problemas logísticos de Sup CL II, segundo o BI 645-Serviço de Intendência da FEB, de 29 de dezembro de 1944 houve ordem de distribuição de 25.000 cobertores, pares de meias e luvas de lã para todo o efetivo da FEB, somente em 29 de dezembro de 1944 em pleno inverno europeu, sendo esse mais um fator a aumentar a influencia negativa do clima do sobre o soldado brasileiro em solo italiano. x Overshoes: Calçado de borracha usado na II GM no período de inverno. 68 4.6 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÕES A presente seção tem por finalidade apresentar e discutir os resultados alcançados pela pesquisa documental para responder aos questionamentos levantados. Após especificação dos procedimentos necessários para se chegar aos dados da pesquisa bibliográfica, levantamento dos critérios necessários para a seleção, a obtenção e a análise das informações de interesse, pesquisa e a respectiva análise dos dados, do embasamento proposto pelo referencial teórico, buscou-se atender aos questionamentos. Desta forma, para um melhor desencadeamento das idéias, esta seção foi dividida nos seguintes tópicos: os problemas com os uniformes de passeio e de combate do Plano de Uniformes da FEB, as soluções encontradas e por fim as atuais e futuras demandas logísticas do Exército Brasileiro. Na seqüência serão apresentadas ainda recomendações e propostas, procurando evidências que permitam determinar se: Existe a possibilidade de repetição dos problemas e das soluções com os uniformes da FEB atualmente por parte do EB frente às atuais e futuras demandas operativas e logísticas? Após a realização da crítica, os dados relativos as pesquisas e aos questionamentos formarão parte da conclusão do trabalho bem como as recomendações futuras. 4.6.1 OS UNIFORMES DE PASSEIO E DE COMBATE DA FEB Os uniformes tanto de passeio como os de combate usados pela FEB tiveram suas origens e especificações iniciadas no RUPE de 1940, reeditadas e corrigidas no Regulamento de Uniformes previstos para a FEB de março 1944 e a posteriormente pelo Caderno de Encargos do Serviço de Intendência da FEB de outubro de 1944 com cunho mais técnico e industrial. Esses três documentos deram ao Sup Cl II e mais especificamente aos uniformes, equipamentos e calçados o perfil e suas características mais conhecidas e já estudadas no presente trabalho. 69 Os uniformes de passeio previsto para oficiais e praças eram de gabardine estes foram usados somente para a finalidade original, sendo, usados eventualmente em combate. Para as praças apesar de existir o equivalente de passeio em gabardine o mesmo não foi amplamente distribuído o que gerou grande desconforte entre os graduados em território italiano frente aos demais exércitos presentes. O uniforme previsto para o passeio era em brim que foi adaptado do RUPE para a FEB e o de lã modificado para passeio, também usado em combate, iniciando assim o processo de transformação e adaptação dos uniformes da FEB, em pleno território italiano. Os uniformes de combate tanto para os oficiais como para as praças eram feitos em brim e em lã. Esses uniformes tanto para oficiais como para as praças também foram adaptados em território italiano por costureiras locais, onde se adaptaram bolsos, costuras foram reforçadas, retiradas partes, adaptados ou diminuídos os tamanhos a fim de torná-los mais operativos nos momentos do combates. Também foram adaptados e oficializados posteriormente o uso de insígnias (FIGURA 31), como meio de identificação e valorização do soldado brasileiro, quando em passeio, fazendo valer o ditado que “A cobra fumou”, uma alusão às dificuldades que a FEB teve para chegar a participar efetivamente da II GM. O uniforme de lã para as praças, além de ter sido adaptado para o uso em passeio, continuou a ser usado em combate devido a proteção que a lã oferecia ao soldado contra o frio do inverno europeu, principalmente nas baixas temperaturas do inverno enfrentadas nas altitudes dos Apeninos. Outro aspecto importante a ser ressaltado foi a questão do perfil dos uniformes tanto de passeio como os de combate que mesmo deixando de ter grande similaridade ou semelhança com os uniformes europeus em especial com os alemães e se aproximando do perfil norte-americano, ainda mantiveram similaridade pelo menos nos tons cinza das fardas de combate. Passaram, portanto, a ter maior proximidade com o padrão norte-americano, tanto que ao desembarcarem na Itália tal fato já começou a ser percebido mas, algumas peculiaridades do antigo perfil (alemão) ainda perdurariam no desenrolar da guerra, sendo portanto um problema para a FEB e sua logística. 70 (FIGURA 31) Insígnia FEB “A Cobra fumou” Fonte: Revista Verde Oliva, Exército Brasileiro, Edição Histórica, Maio-Junho 1995 4.6.2 PROBLEMAS COM UNIFORMES DE COMBATE DA FEB E AS SOLUÇÕES ENCONTRADAS Os uniformes usados pela FEB tiveram duas origens diferentes. Uma era procedência era a nacional onde o Brasil foi o fabricante do fardamento e equipamentos e a outra foi dos EUA sendo fornecido pela PBS já em solo italiano. Inicialmente, os uniformes de fabricação nacional foram distribuídos aos integrantes da FEB, no Brasil, no momento da preparação e antes do embarque com equipamento completo para contemplar assim a tabela de fardamento e artigos diversos da bagagem individual dos oficiais e das praças. Houve também, em território nacional, a fabricação de uniformes em alfaiatarias, por iniciativa própria de muitos integrantes da FEB, seguindo o padrão estabelecido para a FEB, mandaram confeccionar seus uniformes. Já em solo italiano os uniformes distribuídos tinham tanto procedência nacional como dos EUA. Os uniformes previstos pelo RUPE e pelo Plano de Uniformes da FEB apesar de trazerem mudanças ao Sup Cl II, sendo que este último já buscava mudar o perfil anterior para o norte-americano, não previam mudanças significativas naquilo que se esperava para o seu uso em combate no inverno europeu. Aspectos como manutenção da integridade física dos soldados em relação ao frio, durabilidade dos tecidos e costuras, secagem rápida, conforto, tingimento adequado, proteção para os 71 pés proporcionados por meias e calçados apropriados não foram observados regularmente pela tropa em seus uniformes, sendo durante portanto a qualidade dos uniformes um ponto fraco e alvo de constantes críticas. Assim os uniformes tanto de brim como o de lã não proporcionavam proteção eficiente frente às temperaturas baixas do inverno que chegavam aos 25ºC negativos 47. Tal fato levou a necessidade de a PBS a fornecer mais uniformes para o período de inverno fato que gerou grande acúmulo de material em estoque que não foi totalmente distribuído principalmente aos soldados mais a frente da zona de ação por conta da ineficiência do fluxo da cadeia de suprimento gerenciada pela FEB até a ponto da linha, ou seja até às linhas de frente, principalmente durante o inverno, não sendo para tal caso apresentada uma solução. Uma tentativa de reverter tal situação do frio intenso que os pracinhas enfrentaram foi a iniciativa de se produzir capas de inverno no Depósito de Intedência da FEB em Livorno. A iniciativa melhorou a camuflagem porém não foi eficaz contra o frio enfrentado entre dezembro de 1944 e fevereiro de 1945. Tal realidade acabou por levar aproximadamente 5027 soldados da FEB serem retirados da linha de frente e levados a tratamento médico devido a congelamentos e doenças respiratórias. 48 Outro problema verificado e já citado foi a cor verde-oliva dos uniformes feitos em lã e distribuído para a FEB usar no TOM. Esses uniformes tinham a cor verde porém com tonalidade acinzentada. Tal fato levou a erros de identificação entre elementos dentro da própria FEB e com a 10ͣ Divisão de Montanha Norte americana, entre a FEB e a FAB, representada pelo 1° GAv Caça e por fim contra o seu adversário no TOM, o Exército Alemão. Como exemplo dessa confusão, há o relato do Aspirante Aviador Raymundo da Costa CANÁRIO, piloto do 1° GAv Caça Brasileira, que depois de ter sido atingido pelo “flak”y da artilharia alemã. Após ser atingido, saltou de paraquedas e pensou que iria ser capturado por alemães que o viram aterrar. Do alto cerca de 50 metros de altura ele achou ter visto soldados alemães com seus uniformes cinza correrem em sua direção. Só após ter ouvido palavrões em bom português foi que percebeu que y Flak: Estilhaçamento de granada de artilharia antiaérea alemã durante a IIGM. 72 estava entre soldados da FEB que porém usavam uniformes com os citados tons verde acinzentado.49 “O avião fez uma curva descendente, explodindo ao chocar-se com um morro. O piloto, no chão, abandonou o paraquedas e começou a correr, causando-nos estranheza. Imediatamente informamos pelo rádio o acontecido ao Comando da Artilharia Divisionária (AD), acrescentando que ele saltará sobra nossas linhas. Dias depois soubemos tratar-se do Aspirante Raymundo da Costa CANÁRIO do 1° GAv Caça Brasileira, que fora abatido pelo flak alemão. Perguntamos ao bloco de infantaria o motivo daquela corrida, sedo-nos explicado que, ao saltar, viu uma patrulha brasileira. Como nosso uniforme parecia com o dos alemães, julgou haver saltado do lado errado, pondo-se a correr. Soubemos, também, que somente parou quando ouviu um palavrão proferido por um dos nossos pracinhas. “ . 50 Outro exemplo possível dessa confusão entre os uniformes de combate brasileiros e alemães, causada pela similaridade da tonalidade cinza de ambos os fardamentos foi o acontecimento de os soldados da 10 ͣ Divisão de Montanha terem atirado em brasileiros durante, no dia 21 de fevereiro de 1945, durante o ataque a Monte Castello. Tal fato pode ter ocorrido a semelhança do que ocorreu com o piloto brasileiro abatido pois, apesar de todo o esforço em modificar o perfil dos equipamentos e uniformes do EB para o NA, a distância a cor verde-acinzentada dos uniformes de combate tanto brasileiro como dos alemão levava a quem visse de longe a confundir os soldados d FEB com os da Wehrmacht. Para esse problema logístico, tonalidade dos tecidos de lã da FEB, que interferiu nos combates diminuindo a segurança que os uniformes de combate devem proporcionar, não houve relatos documentais de solução. Ressalta-se que se as referidas especificações e normas técnicas para confecção de uniformes da FEB tivessem sidas distribuídas em tempo correto às fábricas de tecido no Brasil, tal problema tivesse sido diminuto ou até mesmo inexistente, uma vez que a indústria nacional no tocante a fabricação de tecido, à época da II GM, vivia momento de pujança no setor, apesar de não se comparar aos modelos industriais dos EUA ou da Europa. 73 Outro problema observado nos uniformes de combate usados pela FEB foi a baixa qualidade dos calçados se observada as condições de emprego da FEB durante o inverno europeu no TOM, em especial nas altitudes e elevações existentes nos Apeninos. Os combat boots e as pederneiras além de pesados não eram resistentes ao frio e a umidade assim como os borzeguins. Seus acabamentos deixavam o frio e a umidade penetrarem nos calçados pelas costuras. Tal fato levou os brasileiros a terem um nível de baixas devido ao pé de trincheira nos mesmos índices que as baixas norte-americanas se comparados os efetivos de 1 ͣ DIE com os Se Americanos no TOM. A solução adotada pelos pracinhas foi a adoção do overshoes, calçados de borracha que deveria ser usados por cima de outros calçados, foram usados diretamente sobre as meias. Adicionava-se a esse tipo de uso do overshoes a colocação de mais meias, tecidos, palha ou jornal dentro desse calçado para evitar a umidade e favorecer dessa maneira o aquecimentos dos pés. Tal solução foi adotada pela FEB como alternativa da má qualidade dos calçados que compunham os uniformes de combate da FEB., para as condicionantes do inverno em regiões montanhosas e com neve. Durante o período em que a FEB esteve presente nos combates na Itália, seus soldados, apesar de terem conhecimento que o regulamento de uniformes previstos para o pessoal da FEB, proibia o uso de peças diferentes das especificadas naquele documento e que também proibia a mistura de roupas civis ao uniforme militar, os militares misturavam peças como echarpes, cachecóis, blusões e paletós aos trajes militares. Esse uso se dava tanto em uniformes passeio como em uniformes de combate. Tal inobservância ocorria devido a pouca proteção contra o frio que os uniformes da FEB ofereceram durante o inverno na Itália. Ressaltasse o comentário de Sir Michael Howard historiador militar e capitão do Coldstream Guards, na Itália, que cita que “os brasileiros tinham os uniformes mais incríveis da II GM, todos diferentes” fato observado em quase a totalidade das fotos de integrantes da FEB, tanto em operações como em momentos de passeio e descanso, onde se percebe uso de diferentes coberturas, fardas e calçados. Apesar do reconhecido bom humor dos pracinhas, tal situação não contribuiu para a manutenção ou elevação ou manutenção do moral dos combatentes brasileiros durante a sua participação na II 74 GM. Essa realidade diminuía os soldados do Brasil em especial os praças que constituíam a maioria do efetivo da FEB (FIGURA 32 e 33 ), frente aos soldados dos demais países presentes no TOM. (FIGURA 32) Uniformes diversos da FEB e mistura com trajes peças civis. FONTE: Júlio Zary, acervo particular (FIGURA 33) Uniformes diversos da FEB FONTE: Júlio Zary, acervo particular Os uniformes distribuídos para a FEB tinham apenas três tamanhos em sua pauta de numeração, sendo eles o grande, o médio, e o pequeno. O corte dos uniformes eram retos e não proporcionavam bom caimento, gerando desconforto. Assim, em território italiano, ocorreu o recortar uniformes com costureiras italianas para: adaptar bolsos, inserir bolsos, diminuir tamanhos de fardas, reforçar costuras, 75 ajeitar golas, encurtar os camisões e assim fazer diferentes acertos nos uniformes de combate de verão e de inverno. Além disso, foi autorizado delo comando da FEB a troca do distintivo Brasil pelo distintivo da cobra fumando. Tal fato aumentou o moral dos pracinhas mas cabe ressaltar que o distintivo não era usado pelo pessoal da linha de frente, por ser um identificador facilmente visto à distância, pela cor amarela. Tais soluções ajudaram a oficiais e praças da FEB a melhor usarem seus uniformes de passeio e combate às situações encontradas na Itália. Outro problema verificado com os equipamento e Sup Cl II que compunham os uniformes da FEB e que completavam o perfil do pracinha e os tornavam mais parecidos com os soldados dos EUA foi a baixa qualidade e o péssimo acabamento de alguns materiais nacionais. Itens como cantis, canecos e marmitas que eram feitos em alumínio não apresentaram resistência adequada. Assim cantis rapidamente ficaram sem tampas pois as mesmas eram feitas de cortiça e não resistiram por muito tempo e o alumínio dos canecos e marmitas era fraco e nada resistente (FIGURA 34). Os equipamento brasileiro como os citados apresentavam baixa qualidade e pouca resistência, deixaram assim a desejar durante a IIGM. A solução encontrada foi a troca pelo material de origem NA em pleno TO e durante as operações em que a FEB participou. (FIGURA 34): Cantil NA (direita) e cantil brasileiro (tampa em cortiça) Fonte: Júlio Zary, arquivo pessoal 76 (FIGURA 35):Túnica combate alemã, modelo M36 (FIGURA36): Túnica combate FEB, modificada Fonte: Wehrmacht Awards Forum (FIGURA 37): Casacão de Lã modelo M 44.-Brasil Fonte: Júlio Zary, arquivo pessoal Fonte: Júlio Zary, arquivo pessoal (FIGURA 38 ): Casacão Alemão de Lã Fonte: Wehrmacht Awards Forum 77 A falta de abrigos, casacos e capas adequados ao frio e a neve e não previstos nos regulamentos de uniformes do Exército Brasileiro nem nos regulamentos da FEB foi um dos maiores problemas encontrados a serem superados pelos integrantes da FEB durante a o período de inverno. A inexistência de casacos e capas de neve, o desconhecimento do uso do material americano como esquis, óculos escuros e coberturas levou ao uso tardio ou inadequado fazendo que o número de baixas aumentasse, durante o inverno, dezembro de 1944 e fevereiro de 1945. Várias soluções foram encontradas dentre elas o uso de jornais nos calçados, uso de roupas civis junto com os uniformes de passeio e combate, mistura de uniformes de passeio com os de combate e uso de casacos ao contrário (FIGURA 39) a fim de obter maior proteção contra o frio. (FIGURA 39): skiparka americano usado ao avesso. Fonte: Júlio Zary, arquivo pessoal 78 5. ATUAIS E FUTURAS DEMANDAS DO EXÉRCITO BRASILEIRO O Brasil ocupa dentro do cenário internacional posição de inegável destaque. No subcontinente sul-americano exerce sua liderança regional por ser o maior país em extensão e território da América do Sul, por ter uma grande economia, grande população, forças armadas treinadas e equipadas, por apresentar grande estabilidade política, bom desempenho industrial, desenvolvimento cientíco-tecnológico bem como sua indústria de defesa. Além disso, é protagonista na produção energia renovável e não renovável, por ter inúmeros recursos naturais em terra e no mar, apresenta grande biodiversidade, é dono de extenso litoral e por fim possui a maior parte da floresta tropical do mundo conhecida como Amazônia. O Brasil, além disso, participa em diversos organismos, fóruns e blocos econômicos internacionais como ONUz, OEAaa, OMCbb, MERCOSULcc, CPLPdd, ALADIee, OTCAff, UNASULgg, ZOPACAShh, BRICSii, que confere ao Brasil grande responsabilidade nas decisões internacionais e na manutenção da paz mundial. Nesse cenário, as Forças Armadas Brasileiras tem sua constituição prevista na carta magna país no artigo 142 da Constituição Federal (CF)jj de 1988. Destinam-se a defesa da pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. O Exército Brasileiro como integrante das Forças Armadas é o segmento terrestre e tem suas missões previstas, assim como das demais FA em diversas legislações como política de Defesa Nacional (PND)kk, Estratégia Nacional de Defesa (END)ll, Política Militar de Defesa (PMD)mm, Estratégia Militar de Defesa (EMD)nn, e Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN)oo, leis e decretos nacionais que z ONU: Organização das Nações Unidas OEA: Organização dos Estados Americanos bb OMC cc Mercado Comum do Sul dd Comunidade dos Países de Língua português ee Associação Latino Americana de Integração ff Organização do Tratado de Cooperação Amazônico gg União de Nações Sul-americanas hh Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul ii Acrônimo de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul jj CF: Constituição Federal 1988 kk PND: Política Nacional de Defesa ll END: Estratégia Nacional de Defesa mm PMD: Política Militar de Defesa nn EMD: Estratégia Nacional de Defesa aa 79 normatizam, prevêem e regulam seu emprego e assim como indicam as atuais e possíveis demandas que o EB irá ter, quando do seu emprego. O EB, portanto, pode cumprir tanto missões internas, dentro do território nacional como missões externas ou seja fora das fronteiras nacionais a fim de garantir a soberania, o patrimônio nacional e integridade territorial, contribuir para a paz e a ordem social bem como cooperar para a paz e a segurança inrenacionais. Além disso deve também, participar da proteção dos interesses brasileiros nos diferentes níveis de projeção externa do país. Diante desse amplo cenário de emprego, surgem inúmeras possibilidades e diversificados ambientes de possível envio de militares ou tropas que deverão estar além de preparadas e instruídas, deverão estar devidamente equipadas e fardadas e de acordo com todas as exigências que um futuro ambiente operativo pode exigir. Nesse contexto, o Brasil necessita de FA preparadas e equipadas para emprego imediato tanto internamente como no exterior, ou seja o EB necessita ter diversas capacidades dentre elas, em um futuro breve, a capacidade expedicionária. 5.1 ATUAIS DEMANDAS LOGÍSTICAS DO EXÉRCITO BRASILEIRO O EB opera em todo o território nacional onde há diferentes regiões com diversificados terrenos e clima. Essa realidade traz consequências para o uso e para o desenvolvimeto de uniformes e equipamentos que devem satisfazer uma série de exigências já citadas anteriormente, além de estar em constante atualização tecnológica. O EB regularmente opera desde as condicionantes da região amazônica onde há vegetação densa de floresta tropical, temperatuas altas e baixas, grande umidade relativa do ar e chuvas costantes como também no cerrado e catinga onde há baixa precipitação de chuvas, baixa umidade e vegetação pequena e retorcida, bem como operar em regiões de montanha e de clima temperado com temperaturas abaixo da média tropical do país. Além dessas regiões, o EB opera também em área urbana onde os grandes centros apresentam exigências ainda maiores de adaptação dos oo LBDN: Livro Branco de Defesa Nacional 80 militares, de seus fardamentos e equipamentos de acordo com a missão, região ou local onde se empregam efetivos do EB. Externamente, o Brasil tem participado de inúmeras em missões humanitárias, de resgate de nacionais, em missões de Paz das Nações Unidas enviando militares das três Forças Armadas para o exterior. O EB, nesse cenário, participa em missões de Paz da ONU em vários continentes com destaque para África com emprego de observadores militares, no Oreinte Médio/Ásia também empregando observadores militares e com maior destaque na América Central onde lidera a MINUSTAH e emprega tropa para a estabilização do Haiti. Nesses diversos locais as exigências de terreno, clima e até mesmo culturais exigem que o EB tire lições, como tirou com o envio da FEB durante a II GM e colha ensinamentos diversoscom destaque para a logística, alvo desse estudo a fim de que se desenvolvam e aprimorem fardamentos e equipamentos que constituem os Sup Cl II compatíveis com as demandas da era da informação. 5.1.2 O ATUAL UNIFORME DE COMBATE E AS FUTURAS DEMANDAS LOGÍSTICAS DO EB Atualmente os uniformes em vigor no EB são regulados pelo RUE (Regulamento de Uniformes do Exército), aprovado pela portaria Nº 806, de 17 de dezembro de 1998. O RUE contém as prescrições sobre os uniformes do Exército Brasileiro em suas disposições gerais e uniformes básicos e especiais, nas peças complementares, insígnias, distintivos e condecorações, regulando sua posse, composição, uso e descrição geral. Os anexos a este regulamento tratam da descrição das peças integrantes dos uniformes e das peças complementares; das prescrições relativas aos uniformes especiais dos estabelecimentos de ensino e dos uniformes históricos adotados por Organizações Militares do Exército Brasileiro. Segundo o RUE, o uso correto dos uniformes é fator primordial na boa apresentação individual e coletiva do pessoal do Exército, contribuindo para o fortalecimento da disciplina e do bom conceito da Instituição perante a opinião pública, não citando, porém, a importância dos uniformes de combate para o resultados de conflitos ou operações. Acrescenta-se ao enunciado acima que com 81 relação aos uniformes de combate o emprego, a previsão e uso correto dos uniformes favorece a manutenção do moral, além de aumentar o poder relativo de combate e higidez da tropa em campanha. O 4° A1 é atualmente o único uniforme de combate usado pelo EB. É de posse obrigatória para oficiais e praças tanto para gênero masculino como feminino e apresenta a seguinte composição: - Boina, gorro com pala camuflado, gorro com pala colorido, gorro de selva ou chapéu tropical camuflado conforme seja determinado; - blusa de combate camuflada; - camiseta meia-manga camuflada; - calça camuflada; - cinto de náilon verde-oliva com fivela preta; e - coturno. O uso do uniforme 4º A1 está previsto para instrução, serviço interno, atividades diárias, formaturas e em combate (FIGURAS 40 e 41). O uso do uniforme 4 º A1 contempla atualmente todos os cenários em que o EB atua bem como os possíveis onde ele poderá futuramente vir a ser empregado, tanto internamente ao Brasil como no cenário internacional, nas mais diversas possibilidades de missões e de emprego da tropa. Isso se constitui em fator limitador da eficiência operativa uma vez que o atual uso do uniforme de combate do EB, 4º A1 foi concebido para uso a partir da década de 1990 e prioritariamente para as condicionantes de clima tropical, sendo, portanto, uma oportunidade de melhoria para as atuais e futuras missões em vista do EB, com reflexos para a logística militar terrestre. Assim, como já citado anteriormente, EB para cumprir tanto missões internas ao território nacional como missões externas a fim de garantir a soberania, o patrimônio nacional e integridade territorial, contribuir para a paz e a ordem social bem como cooperar para a paz e a segurança intrenacionais, além de também, participar da proteção dos interesses brasileiros nos diferentes níveis de projeção externa do país deverá ter fardamentos e equipamentos a altura de operar em qualquer ponto do planeta, nos mais diversos ambientes operativos com os mais 82 diferentes climas e exigências climatológicas. Diante desse amplo cenário de emprego, surgem inúmeras possibilidades e diversificados ambientes de possível envio de militares ou tropas que deverão estar além de preparadas e instruídas, deverão estar devidamente equipadas e fardadas e de acordo com todas as exigências que um futuro ambiente operativo pode exigir. A atual fase de emprego do uniforme de combate do EB em muito se assemelha a realidade em que vivia o EB antes da constituição e envio da FEB para o TOM. O EB em 1940 trocou o regulamento de seus uniformes o que gerou transformações nos seus uniformes inclusive os de combate. Logo depois, em 1943, com a declaração de guerra pelo Brasil aos países do Eixo, houve a constituição da Força Expedicionária para atuar em um TO que poderia ter tanto características desérticas como as do norte da África como as do continente Europeu que tem condições de inverno agravadas pela existência de terreno montanhoso, o que levou a FEB a ter que expedir regulamento próprio de uniformes e a mudar radicalmente o perfil de uniformes a serem empregados na Itália, deixando o EB com dois padrões de uniformes em vigor. Atualmente, se discute a(s)mudança(s) do 4° A1 as vésperas da constituição de uma Força Brasileira com capacidade expedicionária para 2017. Contudo essa realidade ocorre sem avaliar as condicionates das possíveis dos TO ou AOp que o EB poderá vir a atuar bem como os seus reflexos para a constituição de novos fardamentos e equipamentos de combate do EB. O atual 4° A1 está em processo de revisão de sua funcicionalidade e emprego pois apresenta as seguintes características : Negativas: -desbotamento prematuro; -baixa resistência ao rasgo; -desgaste prematuro nas regiões do joelho, cotovelo e fundilho; -secagem demorada; -baixa dissipação de calor; -assaduras; -pouca variedade de tamanhos; -bolsos inferiores da blusa com pouca utilidade, quando se utiliza o cinto NA; 83 -falta de drenagem nos bolsos; -regiões do joelho e cotovelo não oferecem proteção adequada; -desgaste prematuro nas regiões do joelho, cotovelo e fundilho; -cadarço de ajuste da blusa causa má apresentação e atrapalha o movimento; -falta de praticidade dos botões, além da inutilização do bolso, caso os mesmos se desprendam; -fechamento das mangas e golas ineficientes; -falta de bolsos laterais e traseiros na calça; e -falta de bombacha fixa na calça. Positivas: -padrão de camuflagem única para todo o EB; -camuflagem adequada ao ambiente de selva; -símbolo de reconhecimento do EB nacionalmente e internacionalmente -bolso da manga esquerda permite guardar eficientemente e ter fácil acesso a objetos pequenos de uso freqüente; e -pregas nas costas facilitam a abertura dos braços. O novo 4° A1 que já está sendo testado como se observa nos relatórios de desempenho de material (RDM) realizados pelo Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), Companhia de Precurssores Paraquedistas ( Cia Prec/ Bda Inf Pqdt) foram verificados aspectos como rusticidade, conforto, ergometria, facilidade de uso, facilidade de manutenção, acabamento, apresentação e tingimento do novo uniforme de combate apenas para uso em ambientes em que a realidade e características de emprego se assemelham apenas com as do clima tropical. Tal teste não preve a possibilidade de emprego desse uniforme em condições como frio intenso, calor extremo, aridez desértica, precipitação de neve ou resistencia a areia,. Mais uma vez pode se repetir erros do passado com relação a troca de uniformes e equipamentos. Erros que a história já ofereceu ensinamentos de como não se fazer, levando assim recordar os ensinamentos logísticos da Guerra da Triplice Aliança que não foram usados em Canudos e os da FEB que por hora são esquecidos agora frente a busca de capacidade expedicionária do Eb para 2017.. 84 Um dos Uniforme Especiais previstos no RUE é o para uso em região de caatinga (FIGURA 42). Esse uniforme não é previsto para uso em combate pelo RUE e sim para serviço em campanha. Essa pode ser mais uma oportunidade perdida de se avaliar, testar e evoluir na direção de um uniforme de combate do EB para uso em regiões desérticas em futuros TO ou A Op em que o EB venha a operar, principalmente no contimente Africano. Até 2017 o Estado-Maior do Exército, o Departamento-Geral do Pessoal o Departamento de Educação e Cultura do Exército, o Comando Logístico, o Comando de Operações Terrestres e o Departamento de Engenharia e Construção deverão ter realizado estudo de viabilidade, emitido diretriz de implantação, realizado seminário sobre força expedicionária (F Expd), elaborado da nota coordenação doutrinária, aprovado declaração de escopo, elaboração da diretriz de experimentação doutrinária e feito a experimentação doutrinária dessa F Expd. Todas essas fases do processo de implantação serão oportunidades de correção de problemas e de aprimoramento de soluções como o do estudo desse trabalho. Para se obter melhores resultados e realizar economia de recursos financeiros seria interessante que desde já os testes com uniformes de combate a serem usados pelo EB em missões internas e externas já contemplassem os futuros ambientes operativos que a Força poderá vir a ser empregada. Há a possibilidade de missões de paz em países como o Congo ou República Centroafricana onde os atuais uniformes do EB podem ser usados desde já e sem maiores problemas pois as condicionantes se parecem com as condicionantes tropicais do Brasil. Porém há demandas da ONU para países do Oriente Médio como Líbano, Síria onde o uniforme 4° A1 pode vir a ser um fator a mais de desgaste para o combatente brasileiro pois o uniforme de combate do EB oferece baixa proteção tanto contra frio como para o calor de regiões com características climatológicas de deserto. O coturno preto com orifícios laterais servem para a realidade amazônica ou urbana, isso em condições tropicais e não para o calor do deserto com a existência de areia e pedras do deserto, bem como não oferece proteção em condições de clima de baixas temperatura ou com precipitação de neve. 85 Ressaltase por fim que tanto no atual RUE e nos atuais RDM há uma grande e destacada preocupação com a apresentação individual dos uniformes de combate do EB, principalmente com relação ao desbotamento dos tecidos. Tal problema tem sua importância e relevância porém, aspectos que gerem maior conforto, resistência, camuflagem em ambientes diversos (Selva, Urbano, Montanha, Desérto e etc ..) devem ser igualente observados e repensados. (FIGURA 40): Uniforme 4º A1 EB. Fonte: RUE (FIGURA 41): uniforme Fonte: RUE (FIGURA 41): 4º A1 japona de campanha e capuz de lã Fonte: RUE de montanha (FIGURA 42): uniforme Fonte: RUE de caatinga 86 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Caso o Brasil necessite enviar uma força expedicionárias para atuar em local que se assemelhe as condicionantes climáticas que foram encontradas pela FEB (inverno rigoroso, neve e montanhosa) ou em novas condições para emprego do EB em regiões desérticas (calor, areia, frio, baixa umidade, etc..) essas experiências do passado contribuem para que, atualmente, sejam tomadas medidas necessárias para se ter fardamentos adequados, testados, aprovados aos novos ambientes operativos, já licitados, estocados e com previsão de fornecedores credenciados e/ou mobilizáveis. A indústria nacional, na década 1940, tinha condições de fabricar materiais adequados às novas exigências decorrentes das futuras demandas apresentadas pelo TOM. As especificações de material da FEB foram copiadas dos EUA e demoraram a chegar até as fábricas que não produziram material adequado para a FEB, tendo portanto gerado um grande problema logístico para a FEB. Além de ter fabricado tecidos com tonalidade semelhantes aos do inimigo, produzido material sem especificação correta e, portanto, de baixa qualidade ainda eram inadequadas ao inverno europeu. Atualmente a indústria têxtil brasileira possui enorme capacidade tecnológica e parques fabris em condições de atender as diversas demandas que o EB venha a ter em função de suas futuras demandas. A indústria nacional poderá vir a sofrer, porém, concorrência desleal do indústria da RPC pp e isso pode diminuir a qualidade do uniformes fornecidos, futuramente, à tropa brasileira e trazer novos problemas ao EB. Usar o conhecimento de outros países que operam seus Exércitos em áreas com características climatológicas adversas é uma opção que o Brasil poderá fazer, porém como recomendação deverá evitar dependência de material e uniformes de outras nações e outros exércitos acostumados a serem empregados em áreas climatológicas em que o Brasil não atua, assim como ocorreu em relação ao fornecimento de material feito pelos EUA, por meio da PBS, no TOM, II GM. pp RPC : República Popular da China 87 Não há, hoje, em vigor um acordo internacional como o Lend Lease para prover necessidades logísticas em local como o TO do mediterrâneo. Para uma possível área de operações em que uma Força Expedicionária Brasileira, por ventura, possa atuar, torna-se imperiosa a previsão de material adequado às futuras demandas incluindo, nesse contexto, os uniformes ao perfil do soldado brasileiro frente às condicionantes climatológicas da A Op. Não é mais necessário que os uniformes do EB se baseiem em uniformes de outros países como ocorreu na II GM. Deve sim aproveitar os ensinamentos colhidos de suas próprias experiências bem como de outros exércitos tanto em doutrina como no desenvolvimento de materiais dentre eles o dos uniformes e equipamentos, isso para atender nas melhores condições as necessidades da tropa a ser empregada. Os uniformes do EB, com sua atual padronagem de camuflagem VERDE-OLIVA, é reconhecido internacionalmente. Isso garante ao Brasil o reconhecimento de seus soldados nas várias parte do mundo onde é empregado. Isso leva a concluir que a atual padronagem de camuflagem não deve ser trocada por pixel já testada pelo US ARMY e descartada por não trazer resultados significativos quanto as vantagens não recompensantes frente a detecção por instrumentos como ópticos ou eletrônicos pois a observação humana detecta esse camuflado em combate aproximado. A identificação do EB com o VO ocorre desde o início da década de 1930, quando da adoção de novas cores de uniforme. O camuflado VERDE-OLIVA reflete grande identidade do EB. Porém, apresentaria problemas de proteção térmica e visual se usado em áreas muito quentes como as que tem desertos. Por fim, o presente trabalho buscou nas experiências dolorosas da FEB os subsídios para que as atuais e futuras gerações do EB possam superar os novos desafios da era da informaçãoqq. A nova dinâmica das informações trazem reflexos para todos os campos do poder, o quê gera necessidades cada vez mais urgentes para os Estados, que confiam em suas Forças Armadas grande responsabilidade qq Era da informação: Nome dado ao período que vem após a era industrial, mais especificamente após a década de 1980. 88 para solução de conflitos. Dessa maneira o EB deve buscar estar condições de operar nos mais diversos ambientes existentes. Assim, as conclusões desse trabalho procuraram resgatar no passado da FEB o entendimento de experiências bem ou mal sucedidas para em fim gerar recomendações para o atual processo de transformação em que o EB se encontra. Rio de Janeiro, RJ, 15 de julho de 2014. __________________________________________ IVAN CHRISTIE BARROS DE ARAUJO – MAJ INT 89 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 Castelo Branco, Manoel Thomaz. T. O Brasil na II Grande Guerra. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1960. 2 Almeida de Moraes, Antônio Henrique. No Teatro do Mediterrâneo, Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1960. 3 Sumner, Graham. Roman Military Clothing (1) 100 BC - AD 200. Oxford: Osprey Publishing, 2002, p. 3. 4 Academia Militar das Agulhas Negras. História da Doutrina Militar (Da Antiguidade a 2ª Guerra Mundial). 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Ministério da Defesa, Estado- Maior do Exército Brasileiro 3ª Edição, 2014. 12 Rodrigues, José Wasth; Barroso, Gustavo - Uniformes do Exercito Brasileiro, 1730- 1922 : Obra commemorativa do Centenário da Independência do Brasil, Rio de Janeiro : Ministério da guerra, 1922. 13 Pfanner, Toni. Military Uniforms and the Law of War. RICR Mars. IRRC March 2004. Vol 86, nr 853. 90 14 Nascimento, Fernanda de Santos. A Revista a Defesa Nacional e o Projeto de Modernização do Exército Brasileiro (1931-1937). Dissertação de Mestrado em História. Pontífice Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2010. 15 Nascimento, Fernanda de Santos, ibid. 16 Domingos Neto, Manuel. Gamelin, o modernizador do Exército. Ten. Mund., Fortaleza, v. 3, n. 4, jan/jun. 2007. 17 Maximiano, Cesar Campiani, Barbudos, sujos e fatigados: soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial. São Paulo: Grua, 2010. 18 Castello Branco, Manoel Thomaz. ibid. 19 Nascimento, Fernanda de Santos. A Revista a Defesa Nacional e o Projeto de Modernização do Exército Brasileiro (1931-1937). Dissertação de Mestrado em História. Pontífice Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2010. 20 Morais, Berta; et all. In: Depoimento de Oficias da Reserva sobre a FEB. São Paulo: Instituto Progresso Editorial, 1949. 21 Morais, Berta; et all. In: Ibid 22 Câmara, Hiram de Freitas. "Marechal José Pessoa: a força de um ideal" BIBLIEX 1985. 23 Rodrigues, José Wasth; Barroso, Gustavo, Ibid. 24 Naccer, Carlos Alberto, Os Uniformes do Exército Brasileiro, Rio de Janeiro: ECEME, 2002 25 EXÉRCITO BRASILEIRO, Regulamento de Uniformes Previstos para o pessoal do Exército Brasileiro, 1940 26 Castello Branco, Manoel Thomaz. T. ibid 27 Almeida de Moraes, Antônio Henrique. No Teatro do Mediterrâneo, Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1960. 28 Maximiano, Cesar Campiani, Brazilian Expedicionary Force in World Ward II. 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